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APRESENTAÇÃO POWER POINT DA MONOGRAFIA

“REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA INFLUÊNCIA AMBIENTAL NOS PROCESSOS


TRANSFORMATIVOS POST MORTEM PARA IDENTIFICAÇÃO DE CONDIÇÕES
PROPÍCIAS À CONSERVAÇÃO DE VESTÍGIOS ESQUELETAIS EM SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS” – ESPECIALIZAÇÃO EM ARQUEOLOGIA DA
UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE, 2014
Guilherme Lima
Julho, 2021

Primeiro eu gostaria de agradecer o convite do Julio e de vocês para


apresentar minha monografia. Me dá muita satisfação que vocês considerem este
trabalho pertinente. Esta pesquisa foi feita em 2014, com a orientação da Adriana
Santos, como trabalho de conclusão de curso da especialização em Arqueologia da
UNIVILLE e que espero adiante poder continuar e aprofundar o estudo.
A proposta da pesquisa é uma revisão bibliográfica dos condicionantes
ambientais da preservação de ossos. O objetivo final seria podermos desenvolver
um modelo determinístico da preservação onde: (a) eu pudesse dizer “faça a
prospecção naquela encosta, pois lá há mais chance de você existirem vestígios”; ou
(b) você comparando dois sítios você pudesse dizer: “multiplica por ‘cinco’ o número
mínimo de indivíduos que você identificou em Joinville, pois Campo Alegre tem uma
preservação cinco vezes melhor”.
Adianto, que infelizmente ainda não temos isto.
Esta questão é uma linha de pesquisa, com vários desdobramentos, que
valem a pena explorarmos,

A pesquisa compreendeu (a) uma etapa exploratória, onde procurei sintetizar


um ‘modelo geral’ da decomposição do cadáver; e (b) uma etapa sistemática, onde,
levantei artigos publicados nos quatro anos anteriores que estavam disponíveis de
forma gratuita e integral na plataforma EBSCO e procurei contrastar com o modelo
que tinha elaborado, procurando validá-lo e aperfeiçoá-lo.

Na pesquisa exploratória eu tomei por base quatro livros: um de medicina


legal, dois de paleontologia e um de geologia, e quatro artigos: um de medicina
legal, um de arqueologia e dois de biologia. Como a pesquisa foi feita a sete anos,
me dou a liberdade de acrescentar ainda referência do estudo de arqueologia
experimental da Nicholson, que tive acesso após a monografia.

MODELO GERAL DE DECOMPOSIÇÃO


Quanto ao modelo geral de decomposição cadavérica, a principal referência
das etapas iniciais é da medicina legal, com o objetivo de estimar o momento da
morte. Neste sentido, a decomposição é descrita pelos momentos aproximados dos
comemorativos da morte agrupáveis em fases. São cinco (05) as fases clássicas
são: (a) o cadáver fresco – nas primeiras 24 horas da morte; (b) a fase bolhosa –
quando o cadáver estufa devido a produção de gases pela putrefação bacteriana,
que dura do segundo dia até o final da primeira semana; (c) a decomposição ativa -
quando há uma grande perda dos tecidos moles devido ao ataque por larvas de
insetos, que se prolonga até a terceira semana após a morte; (d) a decomposição
avançada – quando continua a decomposição por bactérias e insetos, o cadáver se
encontra ressecado e com o esqueleto parcialmente exposto, se prolongando por
até dois anos; e, por último (e) os restos esqueletais, quando o esqueleto se
encontra totalmente exposto e, se há ainda algum vestígio de tecido mole, ele se
encontra totalmente dissociado dos ossos. Um cadáver de um adulto, sepultado
numa carneira de cemitério, após três anos se encontra totalmente esqueletizado,
quando é exumado e removido para um ossário da família ou público. Em
Fordlândia, no Pará, o coveiro informa que eles não exumam os ossos,
simplesmente reutilizam as covas a cada dez anos, não se encontrando mais
nenhum remanescente ósseo.
Esta cronologia da decomposição do cadáver não é um método preciso para
estimativa do tempo decorrido desde a morte, sendo uma evidência secundária
em medicina forense. Na apuração legal os principais métodos hoje utilizados são
(a) para as primeiras horas: o esfriamento do corpo (algor mortis) em cerca de um
grau por hora até igualar com a temperatura ambiente; (b) para o período de até
duas semanas depois da morte: a identificação do estágio de desenvolvimento
das larvas de insetos necrófagos [instar]; e (c) para os meses seguintes até a
esqueletização: a sucessão dos tipos de insetos na fauna cadavérica.

Diferente da cronologia, a intensão de um ‘modelo geral’ é destacar os


processos subjacentes. Na pesquisa exploratória identifiquei quatro processos da
decomposição dos tecidos moles e três processos da decomposição dos ossos.

O primeiro processo é a morte clínica que inicia com a (a) parada cardio-
ventilatória. Como o sangue não mais circula o cadáver fica imediatamente pálido
(palor mortis) e sem tônus (flacidez inicial), e após 20 minutos a 3 horas surgem
manchas de sangue (livor mortis) nas partes inferiores do cadáver, que se não for
movimentado após 4 ou 5 horas se tornam fixas com impregnação nos tecidos.
Com a ausência de oxigênio nos tecidos, (b) as mitocôndrias morrem, as
células ficam sem energia [8 vs 38 ATP por molécula de glicose], as proteínas não
são repostas, as funções se desorganizam e as estruturas intracelulares
desintegram-se (autólise). Decorrente disto, os depósitos de cálcio dentro dos
músculos são liberados e os músculos, que ainda tenham depósitos de glicogênio,
se contraem (rigor mortis) com a abertura quase imediata das pálpebras, seguida da
rigidez da mandíbula e, mais notável, cerca 2 a 6 horas após da morte a flexão dos
braços e extensão das pernas. Isto permanece por 36 a 48 horas até que, com o
avanço da decomposição das proteínas musculares, os músculos volta a ficar
flácidos (flacidez secundária). Por este motivo, nos açougues se aplicam choques
elétricos nas carcaças de animais assim que são abatidos, consumindo
imediatamente o glicogênio nos músculos e evitando o rigor mortis.
Apesar de menor implicação arqueológica, estes fenômenos podem estar por
traz da posição em que se encontram remanescentes de cadáveres não contidos.

O terceiro processo da decomposição dos tecidos moles é a putrefação,


determinada pelas bactérias que habitam o nosso corpo, principalmente no intestino.
Estas bactérias penetram o tecido desvitalizado e o consomem liquefazendo-o e
produzindo gazes que se acumulam nas cavidades corporais, dando o aspecto de
inchaço já no segundo ou terceiro dia e perdurando por até duas semanas. Com o
consumo do oxigênio pelas bactérias aeróbicas elas são sucedidas, em torno do
quinto dia, pelas bactérias anaeróbicas, menos eficazes na decomposição [8 vs 38
ATP por molécula de glicose]. A putrefação é capaz de conduzir a esqueletização,
sendo menos eficaz na decomposição de ligamentos, pele e cabelos (maceração).
O quarto processo da decomposição inicial é a necrofagia por animais.
Todos os animais predadores e carniceiros entram aí, inclusive nós, mas destacam-
se os insetos que utilizam a carcaça para o desenvolvimento de suas larvas,
concentradas inicialmente na boca e anus. As larvas precisam de oxigênio para
respirar e ao perfurar a carcaça facilitam a troca de gazes e a saída de líquidos
acumulados propiciando o desenvolvimento de bactérias aeróbicas.

A participação dos insetos na decomposição de uma carcaça é dramática.


Uma carcaça de um filhote de porco exposta aos insetos é totalmente esqueletizada
em dez dias, perdendo cerca de 90% de sua massa. Já as carcaças protegidas por
tela demoraram cem (100) dias, dez vezes mais, para perder 80% da sua massa.

Aqui já temos um primeiro esboço dos determinantes ambientais da


decomposição inicial e, por extensão, da decomposição óssea: (a) a baixa
temperatura pode impedir a predação e, retardando os processos enzimáticos,
interromper a autólise e a putrefação, levando a crio-conservação, como Otzi (com
mais de 5.000 anos); (b) o clima seco ou imersão em turfa pode levar a
dessecação, impedindo a putrefação e levar a mumificação, como o homem de
Tollund (com 1.700 anos); (c) a imersão em água sem circulação de oxigênio
impede a putrefação por bactérias aeróbicas levando a maceração; (d) a exposição
à superfície ou imersão em água com circulação permite a putrefação e,
dependendo (e) da proteção ou não da necrofagia, temos a esqueletização total,
rápida ou não. Por último, (f) sepultamentos profundos, protegidos de escavadores,
permitem apenas a putrefação anaeróbica, permitindo no longo prazo outros
processos conservativos (incarbonação, fossilização).
Deve-se destacar então que o modelo principal de referência é a exposição a
superfície ou enterramento superficial e que não falamos da decomposição tardia do
esqueleto. Antes de abordarmos a fase de decomposição óssea, cabe aqui uma
pequena revisão sobre a histologia do osso.

O osso é um tipo de tecido conjuntivo (como os tendões e ligamentos) onde o


material entre as células (a matriz) ocupa um volume maior do que as células. O
grande diferencial do tecido ósseo é que as proteínas da matriz orgânica,
principalmente colágeno, são mineralizadas, associadas a  hidroxiapatita que
confere ao osso uma grande resistência à compressão e protege o colágeno da
ação de enzimas digestivas de bactérias capazes de digeri-lo (Mayer, 1994; Nielsen-
Marsh et al., 2000 – Apud Colins et al., 2002). Apesar da matriz não ser ‘matéria
viva’, ao contrário do dente, ela é constantemente remodelada pelas células ósseas
que a impregnam. TURNOVER 10 ANOS
Por outro lado, a matriz mineralizada do osso não permite a troca de gases e
substâncias necessárias a sobrevivências das células ósseas. Compensando isto, o
tecido ósseo é bem vascularizado, sendo o osso compacto atravessado por canais
(que aparecem na figura) por onde passam vasos e nervos, enquanto cada célula
óssea dispõe de finos prolongamentos que alcançam a parede destes vasos
possibilitando suas trocas e alimentação.
Mas o osso compacto forma a superfície externa, visível, do osso (o córtex),
enquanto no interior temos o osso esponjoso. O osso esponjoso é organizado em
finas trabéculas dando suporte e proteção ao tecido sanguíneo e gordura (o tutano),
entre estas trabéculas. Finas e cercadas de tecido vascular as trabéculas do osso
esponjo, ao contrário dos ósteons do osso compacto, não têm os canais com vasos
sanguíneos em seu interior.

Quanto a fase de decomposição óssea, Collins et al. (2002) identifica os três


processos e inter-relacionados de transformação: a dissolução mineral,
principalmente por ácido carbônico formado com a chuva e que, retirando os cristais
de  hidroxiapatita, expõe mais o colágeno a decomposição biológica; a
biodegradação do colágeno, principalmente por enzimas bacterianas
extracelulares, que quebram as longas cadeias da proteína em moléculas menores
que podem ser absorvidas e digeridas. O meio bacteriano é ácido, o que promove a
dissolução mineral focal, formando ‘cáries’ de matriz desmineralizada, onde as
enzimas alcançam o colágeno e o degradam. Por outro lado, as colagenases
bacteriana são menos ativas em solos muito ácidos sendo as bactérias menos
presentes. Nesta situação os fungos detritívoros, mais resistentes ao meio ácido,
predominam, sendo sua biodegradação facilitada pela desmineralização química do
osso do meio ácido (Nicholson, 1996).
Por último, o terceiro processo de decomposição do osso é a deterioração
química das moléculas de colágeno que, com o passar do tempo naturalmente se
decompõe, desfazendo os vários níveis de sua estrutura. A deterioração química se
dá principalmente pela hidrólise do colágeno, da mesma forma que se faz gelatina.
Este processo é também é dependente da temperatura sendo mais intensa a
deterioração quanto maior for a ‘temperatura acumulada’, a ‘história térmica’. A
deterioração química, obviamente, somente ocorre quando o colágeno não foi
previamente biodegradado, implicando que a matriz também não sofreu dissolução
mineral. Para aqueles que não foram apresentados a gelatina é justamente
colágeno hidrolisado em segmentos menores. Com a deterioração química do
colágeno, surgem poros no osso com diâmetro com cerca de 0,03 micrômetros, que
serão preenchidos por minerais percolados do solo adjacente, conduzindo a
formação de fósseis por permineralização e metassomatismo (COLLINS, 2002;
MENDES, 1998, p.36).
Tudo explicado, a acidez do solo e o calor são os vilões da preservação.

Tudo isto é no da decomposição molecular. Mas como isso ocorre no nível


macroscópico e histológico?
Behrensmeyer (1978), em trabalho seminal sobre estimativa populacional da
mesofauna mamífera da savana africana a partir de vestígios dispostos à superfície,
visando estimar do tempo decorrido desde a morte, propôs uma escala de
degradação óssea em seis estágios: 0: integro; 1: rachaduras superficiais finas; 2:
descamação externa do osso cortical; 3: exposição do osso medular; 4: rachaduras
profundas; 5: desintegração.

Nicholson (1996) realizou um trabalho de arqueologia experimental na


Inglaterra, avaliando a decomposição de nove (09) tipos de preparações de
pequenos animais enterradas num estrato entre 35 e 45cm de profundidade, em
quatro (04) tipos de solos, com pH variando de 3,2 a 8,0, por 07 anos, identificou três
(03) tipos de alterações morfológicas nos ossos de diferentes animais:
(a) canais rasos longitudinais do osso compacto do córtex ósseo,
acompanhando a direção dos canais vasculares (canais de Havers) que,
quando abundante, aparentemente coalescem em canais maiores e
depressões circulares, eventualmente isoladas ('encased pigeon' SITIO 10).
Um aspecto importante é que, como na foto, parte dos canais era preenchida
por hifas de fungos, sugerindo que este seja a sua causa, com as hifas
utilizando os canais naturais penetram a profundidade do osso compacto e
mecanicamente rompem as camadas superficiais em lamelas. Os fungos têm
uma resistência maior a ambientes ácidos que as bactérias e, coerentemente,
estas lesões são mais evidente nos ambientes ácidos;

(b) manchas róseas e lilases (as fotos no artigo original são preto e branco e,
portanto, não ilustram esta característica). Enquanto os canais são
característicos dos ossos mais vascularizados de mamíferos, e aves,
penetrando na sua profundidade. Nos ossos de peixe a degeneração se dá
no tecido mais jovem, superficial, formando rachaduras, por onde bactérias
penetram o osso e o tingem de rosa (citando Piepenbrink, 1986). Associada a
estas manchas ocorreram erosões com bordas irregulares e ‘rasgadas’,
diferentes da coalescência dos canais. Esta alteração é mais nítida nos ossos
cosidos [desmineralizados] e ocorre também em ossos de mamíferos e aves;

(c) o último grupo de lesões são as fissuras transversais que surgem com a
dessecação após a exumação dos ossos, como na descrição de ossos
expostos à superfície por Behrensmeyer. Behrensmeyer entendia que este
tipo de lesão seria exclusivo de ossos expostos à superfície identificando
‘remanescentes transportados’, alóctones. Nicholson questiona esta
afirmação já que as lesões surgem após a exumação de ossos enterradoa.
Um aspecto interessante é que as lesões se concentraram na face
superior dos ossos nas amostras em solos mais permeáveis. Este padrão é
explicado por serem estas superfícies que primeiro reagem com soluções
precipitados no solo, neutralizando-as e, assim, protegendo o material subjacente
(NICHOLSON, 1996, citando EVANS e LIMBREY, 1974).
Os três tipos de lesão, com diferentes intensidades, ocorreram nos quatro
sítios estudados, sugerindo tratar-se de um mesmo processo subjacente, apesar da
provável variação da microbiota nos diferentes microambientes1. Deve-se ressaltar
que este estudo compreendeu apenas quatro tipos de solo, porém todos eles
drenados e na mesma região geográfica, submetidos ao mesmo clima, havendo
outras situações a serem comparadas.

Há ainda, entre o nível molecular (isótopos, composição) e o nível


macroscópico, o nível histológico, mas este eu não abordei na pesquisa exploratória.

1“In fact, considering external appearance alone many of the features of bone modification appear to
be similar at each of the sites, although the extent of bone loss varied greatly” (NICHOLSON, 1996,
p.524a).
Com a revisão sistemática estes modelos podem ser aperfeiçoados.
Agrupei os conteúdos em três blocos: (a) esqueletização – referente a
decomposição inicial; (b) decomposição das fases inorgânicas e orgânicas do osso –
referente a desintegração óssea; e (c) condicionantes ambientais e decomposição
química.

DECOMPOSIÇÃO INICIAL
# A decomposição óssea é condicionada a esqueletização*
1. O enterramento à 35cm de profundidade reduz a infestação por larvas de insetos
(SIMMONS et al., 2010)
2. o revestimento da carcaça enterrada é um fator de preservação óssea em solos
ácidos arejados (NICHOLSON, 1996)

1. A decomposição inicial apresenta velocidades diferentes segundo os segmentos


do corpo e postura. A estimativa do tempo decorrido desde a morte (TSD) pelo
estágio de decomposição implica ponderar o estágio da decomposição dos
segmentos (DDI ou TBS) (FITZGERALD e OXENHAM, 2009; BACHMANN e
SIMMONS, 2010; SIMMONS et al., 2010, Garcia et al., 2014)
2. Em ambiente seco a vestimenta pode determinar ‘efeito vela’ promovendo a
mumificação dos segmentos mais altos (GARCIA et al., 2014)
3. o estágio da decomposição inicial tem uma correlação melhor com a
‘temperatura ambiente acumulada’ (ADD) do que com o tempo decorrido desde
a morte (TSD) (FITZGERALD e OXENHAM, 2009; BACHMANN e SIMMONS,
2010; SIMMONS et al., 2010)
1. a disparidade entre as temperaturas do microclima do sepultamento e as
medidas regionais prejudica a estimativa do ADD (FITZGERALD e OXENHAM,
2009)
2. o bolo de larvas de insetos alcança temperaturas maiores que o ambiente
(SIMMONS et al., 2010)

1. A preservação de vestígios espelha as condições ambientais desde a sua


deposição (caráter cumulativo da degradação) podendo ser dissociada das
condições ambientais atuais (HUISMAN E MAURO, 2012)
2. ambientes extremos apresentam especificidade dos insetos necrofágicos
(ABALLAY et al., 2011)

DECOMPOSIÇÃO ÓSSEA
Devido a fatores intrínsecos dos ossos (geometria, mineralização, porosidade,
tamanho,...) a preservação do esqueleto não é homogênea havendo uma ‘auto-
seleção’ dos mais bem conservados (DJURIC et al., 2011; NICHOLSON, 1996;
BECKETT et al., 2011)
Micro-variações no ambiente do sepultamento também impactariam na variação da
decomposição em diferentes partes do esqueleto (SZOSTEK et al., 2012
14. a preservação histológica é um indicador da preservação do DNA (COLLINS,
2002)
15. a preservação mineralógica é um indicador da preservação do colágeno
(PENKMAN, 2011)
16. a preservação histológica não pode ser prevista pela aparência macroscópica
(NICHOLSON, 1996) nem pela preservação da fase orgânica (DEVIÈSE et
al., 2010)
17. os ossos compactos mais mineralizados apresentam melhor preservação do
DNA (MUNDORFF et al., 2009)
18. alterações microscópicas não são coincidentes

FATORES AMBIENTAIS
18. a dissolução mineral pela chuva (H2CO3) preserva o colágeno (inferido de
MASPERO et al., 2011):
19. A degeneração química do colágeno é proporcional a história térmica e mais
intensa e proteínas desmineralizadas (inferido de PENKMAN et al., 2011),
sendo em parte devido a transformações expontâneas da isomeria óptica dos
aminoácidos
20. a auto-oxidação do colágeno ocorreria no ar atmosférico (inferido de
MORTENSEN e MATTHIESEN, 2013), porém a sua mineralização seria um
fator protetor (inferido de CAVALLARO et al., 2011) COLEÇÕES ÓSSEAS
21. A decomposição de matérial orgânico é propriciada por agentes oxidantes no
solo: (a) oxigênio atmosférico (OS et al., 2012); (b) sulfatos e os óxidos de
ferro e manganês (OS et al., 2012; BEER et al., 2012; GODFREY et al., 2012;
HUISMAN e MAURO, 2012)
22. São fatores ‘protetores’ anti-oxidantes: (a) umidade do solo (anóxia –
HUISMAN e MAURO, 2012); (b) barreiras no curso de águas subterrâneas
(OS et al., 2012; GELBRICH et al., 2012); (c) características texturais do solo
[não especificadas]; e (d) matéria orgânica (competição na oxidação – OS et
al., 2012; BEER et al., 2012; GODFREY et al., 2012; HUISMAN e MAURO,
2012)
23. Há decomposição de matéria orgânica vegetal em profundidades de até 1,25
metros em floresta tropical (DINAKARAN e KRISHNAYYA, 2010)
24. Há aumento da atividade microbiana do solo até 3,0 metros de profundidade
após inundação (LILIE et al., 2012).
25. Há formação de pátina biológica sobre mármore submerso (CRISCI et al.,
2010) deduzindo-se a possível formação de barreira as trocas em um osso
submerso e o ambiente
Simaril

(a) uma não proporcionalidade entre a preservação de ossos do esqueleto e o


estado de conservação dos ossos remanescentes (brilhantemente mostrado
aqui por mim através do teste de correlação de postos de Pearson – observe
que a escala do eixo y indica um pior estado de conservação quanto maior a
pontuação). O que Collins et al. (2002) refere como uma ‘auto-seleção’ dos
vestígios preservados;
(b) que a diferença da acidez do solo entre os sítios não é capaz de explicar a
variação da preservação dos ossos, mesmo comparando dentre de cada
espécie e preparação. Como podemos observar o comportamento ‘esperado’
(de uma maior preservação quanto maior o pH) na proporção de ossos
preservados de ratos, do arenque assado, do badejo em postas e do bacalhau
cozido, mas não para as demais preparações e espécies. Atribuo a maior
preservação dos ossos do rato e do pombo há sua maior mineralização que os
ossos de peixes. Merece também destaque o efeito do assado (aumentando a
preservação do arenque e do linguado) e do cozimento (reduzindo a
preservação do bacalhau). Uma explicação para o efeito do cozimento com o
efeito destrutivo do calor e água (dissolução mineral).
Há ainda um efeito paradoxal do calor que é a remineralização da hidroxiapatita em
cristais maiores, aumentando sua rigidez, em contraponto a destruição do coláigeno,
aumentando sua friabilidade, representada aqui pela maior durabilidade do arenque
e linguado assados. Sugiro que seria este o efeito observado na defumação e
moquecagem.
Deve-se observar aqui o pequeno tamanho da amostra, mas há consistência nos
resultados, com uma preservação equivalente no solo neutro de jardim e em solo
alcalino. ERRADO?

Feita esta ‘sucinta’ apresentação do modelo geral dos processos de


transformação pós mortem, cabe apresentar a metodologia, os resultados e
conclusões da minha pesquisa, propriamente dita, de revisão sistemática da
literatura recente, confrontando com este modelo.
A revisão sistemática da literatura compreende uma definição prévia da
metodologia de coleta e seleção de artigos, de sua sistematização e dos critérios de
julgamento de sua qualidade, quanto à consistência das conclusões e
generalização. No caso, para a seleção dos artigos fez uma pesquisa de
publicações dos últimos cinco anos, que dispusesse do texto integral na base de
dados do EBSCO e atende-se a estas palavras chave QUAIS. A base de dados da
CAPES foi aventada, mas não pode ser incluída por que tive dificuldades em
manusear o filtro da plataforma, o que trazia muitos artigos impertinentes a pesquisa.
Em seguida, li o abstract dos artigos selecionados pelas ‘palavras chave’ e
exclui aqueles que não abordassem ou o ‘processo bioquímico da decomposição’ ou
os ‘determinantes ambientais da decomposição’. Em verdade nove (09) artigos
foram incluídos fora do critério, abordando a decomposição de madeira (04), o
comportamento da microbiota decompositora do solo (02), o monitoramento da
preservação in situ (03), o desenvolvimento de pátina em material lítico submerso
(01) e a preservação de RNA (01).

Nenhum dos artigos analisados se propõem a uma revisão ampla do


processo de decomposição, mas podem ser referenciadas ao modelo geral, descrito
na pesquisa exploratória – como vou apresentar em seguida – indicando as
questões abertas apontadas por eles.
Os focos dos trabalhos analisados podem ser agrupados em três questões:
(a) estimativa do tempo decorrido desde a morte;
(b) mensuração da transformação óssea como critério de seleção para análise
química e isotópica; ACRESCENTAR SUPER TABELA
(c) monitoramento ambiental de sítios arqueológicos, quanto à preservação dos
vestígios;
Os vários autores não dispõem ou concluem por um modelo determinístico
validado da decomposição, que estime previamente o resultado que obterá na
pesquisa – quanto à possibilidade do seu desenvolvimento futuro, mesmo nos
aspectos específicos de suas pesquisas, os autores se dividem entre otimistas e
céticos.

As publicações se ocupam extensamente com a explicitação metodológica,


indicando a especificidade de cada pesquisa dentro de um campo muito amplo de
estudo.
A maioria dos trabalhos analisam amostras pequenas em contextos bem
específicos, indicando a escassez de recursos e prejudicando a generalização da
conclusão. Foram:
 oito (08) amostras de cabelo em Wilson (2010);
 três (03) carcaças em Aballay (2011);
 duas (02) carcaças em Fitzgerald (2009);
 uma única carcaça em Garcia (2011) e em Desrosiers (2012);
 um único cadáver em Parks (2011) e no estudo de caso de Bucheli
(2010);
 duas (02) múmias em Granite e Bauerochse (2014);
 cinco (05) esqueletos em Devièse et al. (2010);
 três (03) esqueletos em Szostek (2011);
 um único osso arqueológico em Maspero et al. (2011);
 uma única lâmina de material ósseo em Reiche et al. (2010);
Exceção notáveis são
 os experimentos de Bachmann e Simmons (2010) e Simmons et al. (2010)
com 84 carcaças de coelhos distribuídos em quatro grupos de estudo;
 a análise de 95 ossos arqueológicos por Hollund et al. (2010) de
procedências variadas não especificadas;
 a análise de amostras de osso de 76 indivíduos (três amostras de cada) de
12 espécies diferentes por Beckett et al. (2011);
 a análise de 470 opérculos de 74 sítios por Penkman et al. (2011);
 a análise de DNA de 3.589 fragmentos humanos de vítimas do atentado ao
World Trade Center, por Mundorff et al. (2009);
Mesmo estudos envolvendo decomposição da madeira, bioquímica do solo e
formação de pátina, sofreram em regra as mesmas limitações. Foram:
 O desenvolvimento de patina oito (08) peças cerâmicas, três (03) peças de
mármore e outras vinte e quatro (24) peças de rocha submersas no estudo
de Crisci et al. (2010);
 A análise do solo por dois anos em cinco pontos de coleta no santuário de
Shoolpaneswar na Índia por Dinakaran e Krishnayya (2010);
 A análise da composição de quatro (04) amostras de madeira [sendo duas
(02) arqueológicas] por CAVALLARO et al., 2011;
 A análise da decomposição de madeira submersa em sete (07) condições
controladas [reproduzidas quatro (04) vezes cada] por Gelbrich et al.
(2012);
São exceções
 Monitoramento da oxidação de trinta e sete (37) amostras de madeira, de
diversas procedências, em exposição por Mortensen e Matthiesen (2013);
O monitoramento de sítios, apesar do maior volume de dados, são estudos de
caso.
 A análise geológica de três (03) sítios arqueológicos na Holanda por Os et
al. (2012);
 O sítio de Bryggen in Bergen na Noruega por Beer et al. (2012) com 38
pontos de coleta [sem duração explicitada];
 O sítio de Schokland na Holanda de 1999 a 2012, por Huisman e Mauro
(2012), compreendendo quatro sítios e cinquenta e oito (58) pontos de
coleta;
 A comparação pré e pós-enchente da região de Newington na Inglaterra,
por Lillie et al. (2012), compreendendo catorze (14) pontos de coleta para
análise de redox e outros 72 piezométricos;
Há duas publicações ainda que não referem à dados amostrais:
 uma revisão da literatura sobre a preservação do RNA por Fordyce et al.
(2013); e
 uma avaliação qualitativa dos dez anos do projeto multicêntrico RAAR de
preservação in situ, envolvendo (06) subprojetos, por Godfrey et al. (2012).
Confrontando estes trabalhos quanto às fases e processos de decomposição,
temos primeiro a importância da necrofagia por insetos, destacada por Payne
(1966)
Um primeiro ponto é que a decomposição inicial apresenta velocidades
diferentes em diferentes segmentos. Isto é referido na bibliografia dos trabalhos
(FITZGERALD e OXENHAM, 2009; BACHMANN e SIMMONS, 2010; SIMMONS et
al., 2010) e exemplificada no processo de mumificação de uma carcaça de porco
acompanhada por Garcia et al. (2014). Neste caso em ambiente árido e protegido do
ataque de insetos, a carcaça em posição ‘sentada’, após três meses, a porção
superior mumificou, a porção média continuava a putrefazer e a inferior saponificou.
Garcia atribui as diferenças a distribuição dos líquidos na carcaça, determinada pela
posição. Apesar do evidente interesse forense na decomposição inicial seria um
fator de explicação da decomposição dos ossos (NICHOLSON, 1996) de interesse
arqueológico.
Em função da decomposição diferenciada dos segmentos a estimativa do
tempo decorrido desde a morte (TSD) implica ponderar o estágio da
decomposição dos segmentos (FITZGERALD e OXENHAM, 2009; BACHMANN e
SIMMONS, 2010; SIMMONS et al., 2010 – pontuação total do corpo (TBS) ou índice
do grau de decomposição (DDI)). Mesmo assim este estágio ponderado da
decomposição não é proporcional ao tempo cronológico, já que os processos de
necrofagia, putrefação e autólise, na decomposição inicial, são afetados pelo calor e
umidade. É encontrada uma melhor correlação do estágio de decomposição
com ‘temperatura ambiente acumulada’ (ADD). Entretanto esta correlação não é
linear (há uma variação na velocidade em que se alcançam os sucessivos estágios
de decomposição)
Os mesmos autores destacam que haver uma grande disparidade entre as
temperaturas do microclima do sepultamento e as medidas regionais.
Como já referi, Nicholson (1996) observa que enquanto a decomposição de
pequenos animais é muito afetada pelas condições do ambiente do sepultamento,
os remanescentes de animais maiores podem representar seu próprio ambiente2.
Simmons et al. (2010), trabalhando com carcaças de coelhos em ambiente
temperado da Inglaterra, observaram geração de calor pelas larvas de insetos,
alcançando temperaturas intra-abdominais das carcaças 5 e 10ºC superiores à
temperatura ambiente, o que indicaria certa independência da atividade larval em
relação à temperatura ambiente.

Estes estudos, como regra, analisam a decomposição de carcaças expostas à


infestação por insetos (ABALLAY et al., 2011; BACHMANN e SIMMONS, 2010;
FITZGERALD e OXENHAM, 2009; PARKS, 2011). Simmons et al. (2010), no estudo
comentado, verificaram o enterramento a 35cm de profundidade como fator
protetor da infestação, retardando a decomposição. Citando também outro trabalho
do grupo, os autores também referem que a perturbação do sepultamento prejudica
a atividade dos insetos, retardando a decomposição.
Por outro lado, Aballay et al. (2011) apontam a especificidade regionais das
espécies de insetos necrofágicos em ambientes extremos, envolvidos na
decomposição inicial no deserto de altitude da Patagônia andina. Neste ambiente
seco a colonização efetiva da carcaça é feita por espécies de moscas vivíparas, que

2“(...) larger animal remains (...) may create their own local burial environment to a much greater
extent” NICHOLSON, 1996, p.523
ao invés de pôr ovos, depositam larvas que, ao penetrarem ativa e rapidamente na
carcaça, evitam a sua dessecação.

O remanescente ósseo é uma fonte de informação do indivíduo vivo na


medida inversa de sua transformação. As transformações dos ossos após a
morte afetam de forma diferente as características do osso.
Enquanto a preservação histológica é um indicador da preservação do
DNA (COLLINS, 2002, citando COLSON et al., 1997) enquanto a preservação
mineralógica é um indicador da preservação do colágeno (PENKMAN, 2011 –
lembrem que o colágeno mineralizado é mais resistente a biodegradação). A
preservação histológica não pode ser prevista pela aparência macroscópica
(NICHOLSON, 1996 – lembrem da ‘auto-seleção’) nem pela preservação da fase
orgânica (DEVIÈSE et al., 2010 – a estrutura histológica é um indicador da
preservação da estrutura molecular, mas não ao contrário). Em escala de tempo
muito menor, Mundorff et al. (2009) identificou que melhor preservação do DNA
em ossos compactos mais mineralizados, mesmo nos pequenos, com
implicações na seleção de amostras forenses.

Estas diferenças na intensidade da decomposição são atribuídas


caraterísticas intrínsecas do osso envolvendo a relação da superfície exposta e o
volume do tecido, como o tamanho, porosidade, características histológicas e a
geometria de regiões específicas nos ossos, mas também a densidade óssea,
características mineralógicas da hidroxiapatita (DJURIC et al., 2011; NICHOLSON,
1996; BECKETT et al., 2011) determinadas pela espécie animal, idade, sexo, grau
de nutrição, doenças e fraturas.
Szostek et al. (2012) sugere também que variação na decomposição óssea
em pequenas distâncias numa mesma peça deva-se a diferenças sutis no
sedimento do sepultamento. Nicholson (1996) dispensou instrumentos mais
precisos para medida do pH no seu estudo, ponderando que o pH do solo varia
muito segundo a umidade e aeração, tendo encontrado diferenças de mais de uma
(01) unidade de pH dentro da mesma quadrícula.
Beckett et al. (2011) indica cautela na extrapolação para humanos de
estudos da transformação óssea feitos com ossos de animais visto as
diferenças mineralógicas entre espécies de mamíferos.
Há diferenças de preservação mesmo dentro de um único ósteon
(REICHE et al., 2010), como mostram estas fotografias microscópicas utilizando
diferentes faixas na espectrometria infravermelha onde as diferentes transformações
são focais e não apresentarem uma exata sobreposição. Um ponto a destacar é a
concentração da incorporação de carbonato do ambiente em torno do canal de
Havers, que serviria como dutos para as trocas hídricas com o ambiente.
Vários indicadores são propostos para a diagênese óssea
compreendendo aspectos específicos da transformação pós mortem.

Quanto aos processos envolvidos na decomposição óssea, a maior


preservação do colágeno durante a dissolução mineral, preservando a estrutura
secundária e primária, por ácidos fracos (MASPERO et al., 2011) sugere que seja
este o efeito do ácido carbônico (H2CO3) na desmineralização induzida pela chuva.
Além das reações químicas, a degeneração química do colágeno
compreende a mudança espontânea da isomeria óptica dos aminoácidos
(PENKMAN et al., 2011) que altera a sua conformação tridimensional implicando na
deterioração estrutural da proteína. A mudança da isomeria óptica é proporcional a
temperatura ambiente acumulada (história térmica) mas ocorre mais rapidamente no
colágeno desmineralizado. Então o colágeno se preserva no início mas deteriora
mais rápido no final.
Finalmente deve-se considerar na decomposição química a ‘auto-oxidação’
do colágeno exposto ao ar ambiente, reação observada em madeira arqueológica
(MORTENSEN e MATTHIESEN, 2013). Neste aspecto a impregnação mineral
protege a madeira arqueológica, aumentando a temperatura mínima necessária para
iniciar a sua decomposição sem, entretanto, alterar as suas características
intrínsecas (CAVALLARO et al., 2011). Enquanto esta impregnação é um processo
transformativo na madeira e nos tecidos moles, o colágeno ósseo é ‘naturalmente’
mineralizado.

Quanto aos condicionantes ambientais da decomposição de vestígios


orgânicos, nos trabalhos analisados são apontados
 sessenta e três (63) fatores ambientas;
 quarenta e dois (42) destes fatores são objeto de análise empírica;
 vinte e três (23) destes fatores são incluídos em apenas dois trabalhos
(HUISMAN e MAURO, 2012; BEER et al., 2012).

Apesar indicarem vários fatores ambientais como determinantes da


decomposição orgânica, as publicações não explicitam uma cadeia causal entre
eles. Esta relação é obviamente objeto das modelagens matemáticas da degradação
de vestígios arqueológico, entretanto os autores apontam que vários parâmetros
do modelo norueguês não são diretamente verificáveis sendo inferidos e
sujeitos a ajustes para melhor correlação com os resultados do monitoramento
ambiental como o fluxo de água subterrânea e a liberação de metano (BEER et al.,
2012).
Um fator complicador da análise de preservação in situ de sítios
arqueológicos é a dissociação entre as condições ambientais presentes e a
qualidade de preservação de vestígios resgatados (HUISMAN e MAURO, 2012).
Esta diferença é atribuída ao caráter cumulativo da degradação exigindo a
estimativa das condições pretéritas ou a extrapolação da pequena duração dos
estudos experimentais (insight meu).
Dos fatores ambientais da decomposição são destacados:
(a) a umidade do solo como um fator protetor mais significativo do que o nível
do lençol freático, entendendo-se aqui serem ambos indutores das condições
anóxicas (HUISMAN e MAURO, 2012);

(b) condicionamento da umidade do solo por barreiras no curso de águas


subterrâneas e características texturais do solo (OS et al., 2012) – mais que
a hidratração, seria mais importante da desmineralização a troca desta água,
determinante da extração dos minerais dissolvidos propiciando mais
desmineralização.

(c) a ação de agentes oxidantes, o oxigênio molecular entre eles, na degradação


de vestígios. Assim, condições anóxicas são mais propícias a preservação
(OS et al., 2012; BEER et al., 2012; GODFREY et al., 2012; HUISMAN e
MAURO, 2012) e a matéria orgânica no solo age como fator protetor dos
vestígios ao reagir com os agentes oxidantes – isto seria o tecido mole como
agente protetor e mesmo o solo rico em matéria orgânica;

Entre os agentes oxidantes no solo são destacados


(a) oxigênio molecular (OS et al., 2012) – quanto mais poroso for o solo e mais
próximo da superfície for o depósito, maior a decomposição e pior a
preservação;

(b) os sulfatos e os óxidos de ferro e manganês (OS et al., 2012);

(c) o sulfeto de ferro (‘pirita’ – FeS2) é apontada (BEER et al., 2012; HUISMAN e
MAURO, 2012) por, ao oxidar-se, formar ácido sulfúrico que acidifica o
ambiente além de formar novos cristais ao reagir com carbonatos presentes
no solo;

Mais alguns destaques são a grande capacidade do solo tropical em


decompor matéria orgânica vegetal em profundidades de até 1,25 metros
(DINAKARAN e KRISHNAYYA, 2010) e o aumento da atividade microbiana até
três (3,0) metros de profundidade no período imediatamente posterior à
inundação (LILIE et al., 2012).
Os trabalhos analisados não abordam a decomposição óssea em ambiente
aquático, porém, a difusão do oxigênio pela circulação hídrica é um fator
importantes na decomposição bacteriana da madeira submersa (GELBRICH et al.
(2012) além da alcalinidade.
Outro aspecto do ambiente aquático é a formação de pátina biológica
(comunidade de algas, esponjas e anelídeos) sobre peças de mármore submerso
(no sul da Itália) e que possivelmente ocorreria sobre osso neste ambiente. No
experimento de Crisci et al. (2012) após um (01) ano de submersão observam-se
pátinas localizadas e profundas (20 e 150 µm de espessura e penetrando até 1,5
mm no mármore). Em material arqueológico observa-se uma pátina homogênea,
grossa e pouco profunda (20 µm a 5 mm penetrando até 0,1 mm de profundidade
com desagregação da rocha em vários pontos). A pátina biológica, assim, poderia
tanto ter um papel desagregador do osso como poderia agir como uma barreira as
trocas com o ambiente, como ocorre com o tecido mole em sepultamentos em solo.

CONCLUSÕES
Os trabalhos estudados coadunam com o ‘modelo geral’ proposto, porém
apontam especificidades não esclarecidas. O modelo geral deve ser visto como
tal: um conjunto de princípios comuns, razoavelmente evidenciados, porém sem
poder explicativo para situações concretas específicas. Assim, o estado da arte da
identificação de condições propícias à conservação de vestígios esqueletais em
sítios arqueológicos é incipiente.
Segundo a revisão feita, é mais provável encontrarem-se remanescentes
ósseos em ambientes anaeróbicos e sem influência pluvial, idealmente em
sepultamentos protegidos da necrofagia. Entretanto, esta indicação genérica e
pouco operacional para direcionar a prospecção em campo.
O aperfeiçoamento do modelo depende pesquisas que esclareçam
separadamente os diferentes processos envolvidos na decomposição como também
modelem a interação entre eles, permitindo maior confiabilidade na sua aplicação na
curadoria in situ e ex situ. Inclusive estudos de revisão bibliográfica sistemática,
delimitando mais o objeto e ampliando o período das publicações.
Da revisão, levanto quinze ‘especificidades’ não esclarecidas pelo modelo e
pela revisão bibliográfica realizada.
OBRIGADO !

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