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VOL.

'209 ANO 62 FASOiCULOS '139-'140-741

,,. JANEIRO-FEVEREIRO-MARÇO DE 1965


. ~'

REVISTA
FORENSE
1

~
?O'BLlCAÇAO NAOIONA.L DE DOUTRINA, JURISPBUD1llNOIA E LEGISLA.ÇAO

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ume.i só infração 10 espécies- precisas d~ con- Improcede êsse radicalismo. A questão não
cur~ 1formal e de concurso rea_I de dellto~. é bizantina, de estéreis especulações acadê-
Todavia CARRARA, a despeito de seu 110- micas. Porque elucida, por um prisma dantes
gismo' na conceituação de crime complex~, nebuloso, a atuação virtual das normas. Não
Concurso aparente de normas penais é somente necessária para a dogmática do
aprijsentou um exemplo de aparente concurso direito positivo. Explica - e bastaria isso
de normas: o furto com violênci~ e fratura, como título justificativo - porque, entre nor-
a lesão corporal no estupro. Mas nao penetrou
OSCAR S'.rEVENSON problema da concorrência aparente. mas aparentemente reguladoras de uma rela-
Professor dl3 Direito Penal na Faculdade Naclonal 0 ço jurídico-penal, a aplicabilidade de uma
de Direito ·4, 1 os penalistas germânicos,... até o últi- elimina, ob eam rem, a das demais. Ainda o
mo trintênio do século passado, nao atinavam seu valor se reflete na própria ministração
SUMARIO: Concurso de crim D nO z a questão, ocupando.,se apenas com o con- do magistério penal. Nesse particular, como
Crime progressivo, Princí io es. e z comp exo. Doutrina de CARRARA.
Subsidiaridade. Relacão ~o,;si~etivraegeAmltª apltfo~dbilidade da no?:ma. Especialidade. curso de delitos. H Nesse tema, afinava-se o frisa NÉLSON HUNGRIA, 15 a observância dos
~ • erna zvz ade. Conclusao, ensamento de MITTERMAYER com o de princípios reitores da concorrência aparente
tARRARA, na te~e de que os deJitos cone- de normas impede a intolerável solução de
. 1. A construção cientifica da concorrên- tabelecida por um nexo ideológico de meio xos (para êste, crime complexo) sao caracte- questões concretas pela fórmula do ne bis in
cia apare~te das normas penais data de épo- fim.'! ª· rizados por ações di""?"isivei.s e u1;-idas por cer: idem. Portanto, o problema não suscita ape-
ca aproximada. ta conexão, a constituir um so crime e ate nas curiosidade científica, mas responde a
ii:rata-se ?a sistemática dos princípios, Está n_esse caso o crime complexo tal mesmo o delito continuado. 12 impreterível interêsse prático. 10
merce dos quais determinada norma repressi- como .? primaz do classicismo o conceiiuou.
A_ noçao que ofereceu dessa forma delituosa 5. Nos casos concretos, os problemas re- 9. Na matéria, a operação de determi-
va. tem exclusivid~de de aplicação, diante de lativos à aparente concorrência de nnrmas nar a preeminência de uma norma, diante de
outras que tambem definem como delito 0 difere da embutida no Código italiano de
mesmo fato, correspondente ao comportamen- 193~ (ar\, 84) e em nossa Cód. Penal (ar( 108, se solviam de modo empírico e por mero ra- outras que tipificam a mesma espécie como
to no t~do _ou em part~. Aparente, portanto, a parag. unrno, 1.~ p~ríodo). íJ composto, ou ciocínio dedutivo. delituosa, deve partir de um pressuposto ne-
complexo, o dehto mformado por um fato Já em MERKEL se proporcionam os li- cessário: unicidade do fato, como unidade
concor1encrn. O ~~nfllto de preceitos legais neamentos da teoria. Distinguiu êle do con- simples ou unidade complexa dn comporta-
se ~esolve na un1c1dade de delito pela apli- que tem, por pressuposto, elemento constitu-
caçao de uma só norma. 1 ~ivo ou c1rc;.lnstância agravante, fato ou fa- curso de crimes a simpks concorrência de mento e identidade na caracterização do
. Ainda se empresta à aparência de con- tos de per s1 previstos como crime. leis. conforme expõe, no segundo caso existe fato como delituoso, por uma pluralidade de
fhto a denominação concorrência imprópria um único delito, aparentemente subordinado normas.11
Para CARRARA, no entanto o delito com a essas leis, dentre as quais uma é apenas
conc_ur~o. ideal. impr:óp~io, concurso aparente; pl~xo cons~?.stancia violações ct0 mais de u~ aplicáveJ. rn Isso em três hiuóteses: a) se 10. Inexistindo ês.ses pressupostos, não
ou fwt1mo, ou m1propr10, de normas. 2 Inade- direito, unrncJfüts pm: mera concomit1ncfa. tem lugar a concorrência aparente. Por isso
quada a nomenc!atura. Porque não há con- ou pela con.qxao de me10 a fim, ao ser prati- dÚas normas contiverem o delito de modo al- mesmo, desde logo se descartam da compre-
cur~o, _!llas a primazia ou exclusividade na ternativo; b) fie-uma delas fôr especial; e) se ensão do instituto em aprêço o concurso real
cado ~m crime para facilitar a execução de uma fôr subsidiária em relação a outra. Tal
aphcaçao de um dispositivo legal a certo fa- ou_tro. [) No primeiro caso _ por exemplo e o formal de delitos.
esquema, se bem que impreciso, representava
to, t9rnando-~e inaplicável outra norma em atirar em um e ferir inclusive um terceiro ~ corisiderável progresso.
Porque no primeiro caso há pluralidade
que este por igual se quadre. a ~ 0 que s~cedc é a aberratio ictus. Esta não de fatos e, Obviamente, de normas, em fun-
2. A hipótese não se confunde com a pode con~1derar-se ip.fração complexa, por- . 6. No Brasil, os autores que escreveram ção das quais são êles valorados. No segun-
do ~concurso de crimes. :ê:ste consiste na vio- que em _s1 m~sma, nao se levando em conta durante o vigor do Cód. Penal de 1890 não do, comportamento único, produtivo de duas
laçao de um número plural de -normas ou a sua dIBciplma legal, é concurso de crime se advntiram do assunto. Nem mesmo o su- ou mais ofensas a bens jurídicos penalmente
C?m 1!1-enos exação de sentido, nas repeÜdaS doloso, tentando ou consumado, com delito mo COSTA E SILVA, nos dois volumes, publi- tutelados, com violação, portanto, de mais de
v10laçoes de n1esma norma, tendo de acôrdo culposo. ~-º ~egundo caso, o nome ou o títu- cados em 1930 e 1938, sôbre a Parte Geral uma norma. Não importa que, nessa espécie
com as. s~a~ modalidades, especifico trata- 1~ do del!to e dado pela importância das le- daquele diploma. de delito concursal, a pena cabível seja, com
me~to JUndico. Assim no concurso real de SOfS integ_rantes do delito-meio ou do delito- • 7. As brevrs observacões aQui feitas não determinado aurriento, a cominada para um
dehtos, no concurso formal e no crime conti- -f~~: se igual o título a que correspondem, visam à reconstrução histórica da teoria em dos crimes componentes (afora a hipótese de
nuado. De modo idêntico na aberratio ictus Pl~valece .º nome do crime-fim• se desigual estudo. O objetivo co!imado é de mostrar que ter a prática delituosa obedecido a desígnios
e na aberratio delicti, quando também caud a ~mportâ~cia maior do delito~meio ou d~ a elaboraçbo desta é moderna conquista da autônomos) . .tlsse é apenas o critério de puni-
Sado o evento pretendido. Por conseguinte delito-fim e que a,ssina, com o nome d ciência do direito penal. Uma das contribui- ção adotado pela norma prefinidora do con-
11;0 concurso de delitos há concorrência efe~ ou do outro, qualificação ao crime co~p~ ções mais conspícuas do tecnicismo. curso formal. Mas o coricreto reconhecimen-
tiva, ou real, de normas. xo. 7 Quanto ao crime absorvido, funciona. to dêste se processa pela verificação de que
como agravante, sendo famulativo auxiliar 8. O problema não se encontra equacioM mais normas foram transgredidas por um só
. 3. Os autores, ~lássicos não chegaram a º". acompanhante (pedissequo) do g;,e predo- nado na lei. comportamento. E, assim, tantos os delitos
versar aquela materia de maneira ordenada mma. 8 Alguns lhe negam relevância, afirmando quantas as normas violadas.
N~m m~smo CARRARA, com o seu extraordi~ C_omo se vê, CARRARA cingia no conceito que tudo se reduz à exegese e aplicabilidade 11. No concernente à unidade comple-
nari~ _geni? especulativ<;. Considerou êle como ctg crim_e <;Omplexo entidades heterogêneas a da norma a diversos fatos. 14 xa de comportamento, não é sempre que se
um "'º _del~t9 as violaçoes plurais da autoria a erratiC! ictus~ com ofensa da pessoa visada pode considerá~la pressuposto do concurso
d~ um md1v;duo, quando cometidas com uni- e a hipotese ~€: crimes conexos, ligados po1! 10 CI--IIAROT'l'I, critica à viciosa concepção de aparente de normas. A rigor, seria dispensá-
cidade de fim ou determinação. Quer dizer vinculo teleolog1co ou conseqüencial o casos
CARRARA, partilhada por outros penalistas ("Teoria
vel a observação. Porque essa unidade com-
havendo complexa determinação volitiva, es~ del Reato Mezzo e del Reato Determinato", Roma, 194G,
ambos de concurso efetivo de normaS. ~ pág, 10, n. 0 5). plexa se torna pressuposto quando em con-
11 V. g., Tl'l'1'MANN, "Handbuch der Strafrechsts-
_ l BELING, "Esquema de Derecho Penal" tra<lu . N~sse _particular, a falta de profundez da Wissenschaft", etc., Halle, 1822, vol, I, págs, 19G-l99;
ll"í NÉLSON HUNGRIA1 "Comentários ao Código
,çno _de SOLEll, Buenos Aires, 1944, págs. 133 ' e 135 .- 1nvr.stigaçao doutrinária na época expli B,üDORFF, "Strafgesetzbuch", etc., Berlim, 1871, pá·
Penal"1 Rio, 1949, vol. I, pag. 118.
2 Cf. FROSALI, "Concorso di Norm e estranho amálgama, o êrro de abraçarcªer:: ginas 216--224; BERNER "Trattato di Diritto Penale",
<li Reati" Cità di Cast 11 1937 á e e oncorso tl'ad, lt, de BERTOLA, wfnão, 1887, págs, 252-262. Mes- 16 MAGGIORE, "Diritto Penale, P. Gcn,", vol. I,
no 1· AL'IM e o, , P gs, 72, n. 0 1, e 661 mo STOOSS, apesar de inovador, sõmente cogitou da t. I, pág. 182.
· , ,, ,- ENA (FRANCESCO), ".fülementi rti Diritt~ concorrência delituosa ("Die Grttndz-Uge des Zweize- 17 Para BETTIOL, "Diritto Penale, P, Gen.", Pa-
-~enale , Turim, 1944, págs. 153 e 158· RANIERI "Di ~ CARRARA, "Programma del Corso di Dlritto lermo, 1945, pág. 421, dois pressupostos: unicidade do
T tto Penale, P. Gen.", Milão, 1945 'págs 66 ~ 67~ rlschen Strafrechts", Base!, 1892, vol. I, págs, 417-423).
Crimmale, P. Gen,", Fl01·ença vol I §§ 165-170 < 12 MI'l"l'ERMA YER, "Della Diffe1•enza fra i De- :fato e identidade de lesão. Preferível a opinião do
_VON LIS'I' (SCHMIDT), "Lehrbuch eles. Deutschei~ gtnas 167-170, ' ' ' , Pci· texto, pois o têrmo fato, com que se designa n parte
Strufrechts", Leipzig, 1921 pág 130· FRA~K "D lltti Continuati e Reiterati" em "Scritti Germanici dl
5 Ob. e vol. cits,, § 52, pág. 84. fi-ritto Criminale", trad. it.; 1.a ed., Nápoli, 1862, vo- externa do delito, é compreensivo da comissão e dá
'Strafgesetzbuch für das De-Õtsche' Rei~l~" LeiPzr.i 190~s ?me I, pág, 206, O nome do compilador dessa obra ofensa, ou evento. Portanto, o segundo pressuposto
pág, 23 9; SIEGERT, "Grundzüge des Strafrechts 11i{ O Ob. e vol. cits., icl. Ioc. excogitado pelo autor está incluído no prim0iro, visto
,neuen 8 taate", 1'ilbingen 1934 á 8 60 amosa, F, A, MORI, apareceu na 2,ª edição.
~•Unità e Pluralità di Re~ti", "Pá~u~ ' 1931 e ;fi 1~~•
M
3 Cf. GRISPIGNI, "Diritto Pen~le It~lian:.,' 41950.
7 CARRARA, ob. e vol. cits., § 170, pág, 170,
S Ob. e vol. cits., §§ 168 e 170, págS, 169 e 170.
St 13 MTIJRKEL, "Die Lehre -von Verbrechen und
rafe", Stuttgart, 1912, págs. 332, 342 e 343,
que as expressões lesão e dano são sinônimas (CAR~
NELUTTI, "II Danno e il Reato'", Pádua, 1926, pág. 17
n l 14 V. g., BATTAGLINI, "Dirttto Penale, P, Gen.", et llass,; ROCCO, "Opere Giuridiche", Roma, vol. 1,
vo. I 11 pág, 415, 153, J ' . 9 Cf. Cód, Penal, arts. 44, I, b, e 108 § 2 o ,~1- 1932, págs. 9, n. 0 17, e 280),
t 11na parte, ' ·, •• · o onha, 1937, pág, 285.
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plexo e O progressivo não passa~ de derro-
se representá-lo como duas ou mais 11.. gações quanto ao concurso ~e delltos:30 .
junto com o seg·undo pressuposto, a iden~i ... truturados por fato complexo: o crime com.., :roM·diverg·entes e unidas pelo ponto de par- · Entre parênteses. O ref~r1do penahsta~ arr~.-
dade de previsão legal do fato com llim)o plexo (s. s.) , o progressivo, o coletivo e o .nha~ da enuncia como derrogaçao da concorr~nc1a
punível. Porém, no tema, se fazem ncce__ssa- continuado. 2·2 tidOI- : crime coletivo ou h a bitua1, " delituosa o crime complementar,. oy. seJa, ~
rios esclarecimentos para tolher confusoes, Quejanda ampliação não parece feliz. O Quanto n~~ de comportaffientos idêntic?s fato ao qual, por expressa disp9s1çao _de lei,
De acôrdo om a doutrina, a unidade com- delito complexo e o progressivo, os quais di- ,é ºe cetfdo! com a característica de que Já se aplica uma norma que o :Qr~ve,. se nao pre-
plexa é a aglutinação de comportamentos dis- zem com a aparente concorrência de normas, e r P tur:-m' delitos por si me~mo_s ou se t~r- visto por outra. a1 ExempllficaJ1vamente, o
tintos que a lei disciplina como um só com- são entidades irredutíveis. O crime coletivo constideÜtuosos pela circunstancia da .seque- crime de falsa identidade, nos termos do art.
portamento. Pertencem a essa categoria ge- não se assimila ao crime complexo, por ser ~1a~7 Como exemplo do primeiro ~3:so, o ru- 307 do nosso Cód. Penal. Manifesto se torna
nétí.ca o delito com.plexo, ou composto, o co- congeminação de procedimentos homogêneos. ia. . d segundo o adulter10. A se- que independentemente daquela expressa di~-
letivo, ou habitual, o progressivo e o conti- Menos ainda o crime continuado, que tem a fi.~~lStni, ~eitiração, é ID.octo de ser iD:er,,en~e posÍç.ão de lei, não haveri~ concurso de c_ri-
nuado. natureza de um concurso real de infrações,. q~e ei~m~nto trarisitivo, ou momento dinam1- mes, pois o mesmo fato nao pode. se~ p~nido
12. O nosso Cód. Penal, em paridade vinculadas por arte de benigna ficção legal"'· ~o do" delito habitual. 28 mais de uma vez, dado o ne bis in 1.dem,
com o diploma italiano de 1930, .1s conceitua, Isso ressalta do cotejo entre as modali- . pode-se representá-lo por uma cadeia de pl'incípio imanente do direito penal. Por ou ...
no art. 103, o crime complexo. A saber, o de- dades delituosas em referência. Cumpre afas- tro lado a aplicabilidade de uma das normas
tar do confronto o crime continuado, por ser vários anéis. 20 ,. é afastada em razão do concurso aparente de
lito cujo conteúdo material inclui, como Ele-• Deflui da explanação feita que, entre esse
mentos construtivos ou circunstâncias agra-• unificação de delitos consecutivos que, de ou- ,d lito e o crime compk•xo, intercorre peremp- normas.
vantes, fatos, ou mesmo um fato, em si re- tro modo, permaneceriam independentes. A Quanto aos crimes co~plexo e progres-
evidência, o crime continuado não se relacio- tgria disparidade. Neste, comp_ortamentos e sivo até por virtude daquele principio, ~eu
presentativos de crimes. rn sultados diver,sos que se combinam. em mpa
o Código italiano, à diferença do no.sso, na com o crime complexo. ~e ica figura de delito. No crime coletivo, açoes regiÍne legal não é derrogatório da concorren-
define o crime complexo para os efeitos da Também, a comparação dê.ste com o de- cia de delitos.
nto progressivo mostra que ambos apenas se- ~n mesma espécie, aperfeiçoadoras _çla consu- ora, os fatos ou comporta~entos que se
p· na, incidindo em truísmo. Com acêrto mªação delituOsa. São crimes de açoes homo-
maior, o estatuto pátrio ocupa-se dessa cate- aproximam pela nota comum da unidade agregam no crime complexo 11:erem .ao seu
goria, para fixar condições à ação penal per~ complexa de comportamento. No mais, apar- •gêneas iteradas. ~ocesso executivo. Sem êles nao sena con-
tinente. tam-se um do outro, sem qualquer ponto d& 14 como está patente, não tem cabime:i- rebível êsse delito como um todo. Desde que
Seja como fôr, no crime complexo há contato, semelhança ou analogia. to a tCse de um crime complexo. em acepçao a norma os discrimina cO_!IlO elementos cons:
mais de um evento material, como resultado Consiste o crime progressivo, ou de pas- lata, do que sejam _classes um cru_ne comple: titutivos ou agravantes, nao há fala,r em con
dos comportamentos singulares que se fun- sagem, na comissão de atos de gravidade cres-· :xo em sentido estnto, o progressivo, o cole curso de deli.tos, acaso derrogado. O mesmo
dem no comportamento complexo. Porém, cente contra o mesmo bem jurídico, transi- tivo e O continuado. l!:stes se ~xtremam uns sucede com o delito _progre~sivo, no qual a
dêsses eventos materiais, um apenas se indi- tando-se de uma espécie menos grave para dos outros por notas diferenciais e pec.uUari- violação do bem jurídico .supoe e abrange ftu-
vidua como evento jurídico. O.s outros repre- outra mais grave de delitio. Por essa progres- ctades que os individuam. . .... tra ofensa menos grave que pertence ao er
sentam condições do aperfeiçoamento da obje- são gradual, a prática do delito maior envol- Também carece de fundamento a _9p1niao, criminis. •t' ·
tividade jurídica do crime complexo. Assim, ve necessàriamente a do delito menor, com- defendida por Si\.BATINI, de que o deilto com- Evidenciam-se como crimes uni .anos os
no roubo, a ofensa à liberdade pela grave preendido naquele.24 delitos complexo e progressivo, tanto quanto
ameaça, ou ainda ao mesmo bem jurídico e Conforme a ilustrativa imagem de CICA- 20 SABA1'INI por igual o drnomina de crime fre" o coletivo ou habitual. s2 Porque, em suma,
à integridade física, pelo fmprêgo da vis ab- LA, pode-se representar o crime progressivo ,qtientativo ("Istituzioni", cit., "P. Speciale", v,ol. I, ~~- o co~portamento complexo, ~m que se con-
1
ina 18), CAB.NillLU'T'fl, com a St.:~ noll?:enc aura P _-
soluta, são conseqüências ds,s ações integran- por uma linha engrossada na parte terminal. 25 foal chamou-lhe ol'lme complexo ( Teorrn Generale 9"el cretizam desfecha em uma unica ofensa de
tes de tal crime. E és.ses resultados condicio- Por sua contextura difere êle, visceral- Reato", Pãdua, 1953, pãgs, 314-31.6). pomo, ca eg~rrrs valor constitutivo. Não se pode segmtentá-!os
nam a concretização do evento jurídico ofen- mente, do crime complexo. O comportamen- .do delito coletivo, aponta VON LISZ'I o crime p1° hs: or meio de abstração, para se es imarem,
to que corresponde ao delito menor está im- sional por ocupação, ou a fazer, e o habitual ( Le r ~orno infringentes desta ou daquela norma,
sa ao patrimônio, em conformidade ~om o buch des Deutschen St1'8frecht", a/e de SCHM1DT 't!Be~-
tipo delituoso, descrito em uma única nor- pli~ito, ou compreendido, na execução do lim, 1921, págs. 237 e 238), BELING: 9-elitos co 1e vo , tais ou tais ações que os integram.
ma. 20 mais grave. No crime complexo, entretanto, ou plurais o pt•ofissional, o por industria e o Irnbi-
tual ("EscÍuema de D-crecha Penal", cit., pág. 96),- i 15. Do exposto resulta que é tútlda a ~i-
J:!~st,á-se a ver que, em casos tais incorre os comportamentos componentes são descritos- Ainda se usa a designação crime coletivo_ para sign · ferença entre o concurso de crimes e a apa-
concurso de infrações, Aí se defronta unifi- de forma explícita pela norma que o insculpe~ ficar O delito multitudinário, ou da mul~idao, e, o de-
lito cujo aperfeiçoamento reque~ deter1m1;ado numier~ rente concorrência de normas.
cação integral, absoluta e inscindivel de com- 22 V, g., com diversificaçõe,9 quanto às formas de agentes, como a rixa, no 111.'im;no de tres, e o cr m o concurso de delitos implica efetiva con-
portamentos e resultados. 2 1 Por conseguin- delituosas abrangidas, AMERICANO, "Do Crime Con- <le quadrilha ou bando, no mmimo quatro. Nessa corrênciã de normas. Assim, precisamente, no
tf-,, concorrência aparente de normas, tim.mdo", 1956, pág. 27; CARNELU'l'TI, "Lezioni di última acepção é subespécie do delito unil.ateral, que
Diritto Penale", Milão, 1943, vol. I, págs, 262 e segs,• não pressupõe 'relação jurídica ~ntre os su.1ei1A:s ªiiv~ concurso real. •
13. Devido ao conteúdo vário, que é pe- -0 passivo. Mais ampla a noçao de CICALA, cr m .. O mesmo acontece, conquanto de maneir_a
culiar ao crime complexo 1 alguns autores em-
MORO, ob. cit., págs. 191, 195, 203 et pass. Para DE~
LITALA, o crime contlnuado é variante especial do-
complexo ("II l<'atto nella Teoria Generale del Reato"~ rigido a uma pluralidade de obrigados ( Teoria e
f\
{)Onstituido pela violação do mesmo preceit:? pen_al, mais imperfeita, no concurso formal. A, uni-
pregam êsse nomem juris para designar o Pádua, 1930, pág. 161). Idem CICALA: subespécie do Fatto" etc. cit., págs. 60 e 148) • 1.d d d comportamento que o pecullariza
27' DELüGU, "Teoria del Consenso del Av~nte D 1- ~ os~ufa ~orno é lógico, unicidade d~ evento,
gênero das diversas hipóteses de delitos es-
18 Art. 8'1.
crime complexo ("Teoria del Fatto Penale Illecito Col-
lettivo", Roma, 1942, pág, 23, e n. 0 3 da pág. 16).
Em oposto, LEONE, ob. dt., pág, 371: no crime com-
ritto", Milão, 1936, pág, 2~0: plura~idade dE; açoes que,
tomadas singularmente, nao constituem crime ou que
vale di~er, a subsistência,. de um crime
nas Porém uma parte desse comportamen o
apt-
rn No texto rejeita-se a tese correntia do que o plexo, ao contrário do continuado, há um eus novum.,. têm cada qual delas, caráter delituoso. Idem, LEON~,
delito eon11Jlexo é combinação exclusivarriente de de- distinto das entidades fundidas, um único elemento ob, 'ctt., págs. 157 e 166; PANNAIN, "Manuale di Di_• cor~esponde a uma ofensa, e outra ou o~t~as
litos (v. g•., ANTOLISEI, "Elementi di Dirltto Penale psíquico ele fln1do teleológico e unicidade de evento. ritto Penale" ,· 1950, vol. I, págs. 224 e 225; ~ABATINI, partes a ofensas diversas. P~rtanto, plur1v10-
La Pai·te Generale", Tut'im, s, d., pág. 160; PANNAIN' Segundo LEVI, o crime progressivo é subespécie do "Istituzioni" cit., "P. Gen.", vol. I, plág, 20,1. terial lacões ou pluralidade de crimes. Por canse~
"Manuale dJ DirJtto Penale", Turim, 1950, vol. I, pá: completo (em "Il Codice Penale Illustrato Articolo per 28 Para SABATINI, lug. cit., e emen ·o ma ,
gina 490; GRISPIGNI, ob, e vol. cits., pág. 418, n.º 159, Articolo .. , a/c de CONTI, Milão, 1934, vol. I, pág. 301). MANZINI entendendo que:, o crime habitual só existe Uinte desacertam os que, negand. .o ~o con ...
O eomportamento compl{)xo, peculiar a essa entidade Contra: RANIERI, "Reato Progressivo e Progressione no ca'"'so de ações indiferentes repetida~, en,~mra d· s_.e- ~urso formal o caráter de concorrenc_ia del!-
clelituo~a, pode ser composto de um comportamento Criminosa", Milão, 1042, pág, 38. qüela como elemento constitutivo do cnme e con iç1o tuosa que é sui ,qeneris, o confinam a te011.a
indiferente em si, conjugado com outro, de natureza 28 O cl'irne continuado importa unificação gerada de punibilidade dos fatos ("Trattato di Dlritto Pena e
delitnm-a. Por ex. o estupro. De acôrdo: PERGOLA, pela vontade da lei, se11clo assim realidade jurídica Italiano" Tlirim 1933, vol. I, pãg, 573). Igualmente da c~ncorrência de normas. 83
"Il Reato", Roma, 1930, págs. 159 e 161, (MASSA RI, "Le Dottrine Generali del Diritto Penale", MASSARI "Teo~ie Generali" cit., pág. 95i Decfasla~o
20 MORO, "Unità e Pluralità cli Reati", Pádua, Nápoles, 1930, pág, 223). restrita eSsa noção. Porémã MdANZI~\j1:{i~~J!' d: Wiri ~7ABA'l'INI "Istituzioni" cit., "P, Gen.", vol. L
1951, pág. 190, n. 0 10; o crime complexo é uma uni" 24 LEVI, ob, e vol. cits,, pág. 301: não seria pos" exato, o papel de condiç o e Pl11 1 1 . . indife- 451 Acertad~mente, porém, aponta como derro"
Cbde legal de desvalores heterogêneos, fundidos 1Jor sível cometer o delito maior sem cometer o menor. ção habitual ou. profissionali q':ian~~i~~s i:~ft~al. Por pág_:, dÔ concurso de delitos o crime continuado.
síntese horizontal, ele modo que, segundo BüNGER, a Idem, RANIERI, "Reato Progressivo" cit., pág, 13. No" rentes de per si, na econonl a eº ento do delito, mas gaçal1 id. a., vol. cit., págs. 72, 106 e retro cits.
lei soma os vários eventos dcrivnclos das rrções sin- ções discrepantes as de SABA'l'INI ("Istituzioni di outro lado, não se dtra\a ~eO ~e ~er qualidade essen- !12 BE'l'TIOL ob e vol. cits,, pág. 406.
gulares delituosas como ev(;!nto unitRrio. Idêntiran10n" Dil'itto Penale, P. G(m,", 1946, vol. I, pág. 469) e de propriedade, mo O nsi ,,. inaceitável a con" 3!J Nesse se~tictO: VON LISZT, ',',Le?rbuch", cit.,
te: LEONE, "Del Reato Abituale, Continuato e Perma- SPIEZIA ("II Reato Progressivo", Udine, 1937, pãgi" cinl }lo elemento ativJAtMi~~t?PrROMALLO ele que á 244' GRISPIGNI, "Dirltto Penale c1t., vol. I, pá«
nente", Nápoles, 1933, pág. 169, Mais acertada a tese na 28), para os quais o crime progressivo está na cepçao de EUGENIO é 1·e do ci-ime complexo p · g. 415' 11 o 151 Contra: HOPFNER: qualificar o caso
do texto, porque nem todos êsses eventos são ofensivos passagem, em sentido extensivo, e não intensivo, da o delito progressivo é uma esp ~ Roma 1930, página gma , • •• u d crimes é questão
do bem ,1urídico patrlmônio, protegido como objeto comissão de um fato para outro de maior ou menor ("Elementi di Dirltto Criminale , , ~~~~inco1~;1iI~~~~ g~ar~i~ª1'in~orttncla prática ("Ein-
substancial do delito e, sim, um dêles tão-sômente. gravidade, 137, n, 0 1). â
De acôrdo: LEONE, ob, cit., pãgs, 43 e 372. 25 CICALA, "Studi e Questioni di Diritto Pem1le", 29 LEONE 1 ob, cit,, P g, 90 ,
21 LEONE, ob. cit,, pfi.gs, 43 e 370. Roma, 1939, pág, 48.
DOUTRINA 31
30 REVISTA FORENSE

vém entre êle e a ofensa da norma primá-


!ª· Como já ficou sublinhado, na con- penalistas. li: que, no tema, sem embar d
J..fo caso da especialidade, as disposi~ões
têm !)Or objeto o mesmo fato, mas a aphc~- ria a relação de espécie para gênero.
correncia aparente de normas a aplicação estudos e debates, ainda não se che ou go os Modalidade do crime subsidiário é o com ..
de uma impede a aplicabilidade de outra. tulad~s pa~íficos e indubitáveis. ... - &Ei uma ilide a da outra, por ser part1-
g a pos- 0 plemcntar, que se concretiza quando o fato 1
Apenas parecença de concurso ç~1arfn1ente válida na espécie. 46 Isso devido
3:osto isso, cumpre examinar os t e os elementos qualitativos nela introduzidos, por imperativo da lei, não seja punível por
à ~or um gráfico represent~-se a concor- fred1tos princípios~ _ql_le plenamente se q~~t~~ outro título delituoso. 50 Assim a subtração
rencia aparente· em dois círculos que se so- 'tcamz. pela espe01f1c1dade e autonomia d
ris qllais modificam a previsão da norma ge- de incapazes (art. 249), de vez que o fato não
breponham, com inteira coincidência ou com- a uaçao de cada qual. a ral J?ondo-se em paralelo as duas normas,
·ctelltifica-se à vista dêsses elementos, a nor- se capitule como seqüestro (art. 148), redução
preens_ões de um pelo outro. -84 Exempli gratia, ,., Note-se ~em que êles governam as rela-- às condições de escravo (art. 149) ou rapto
nos crimes complexo e progressivo, bem como çoes no:m~t1vas que não sejam adstrit ~a especial: de, prefe~·ente aplicabilidade_. É
, que entre elas ha relaçao de genus ad speciem, (art. 219).
no delito complementar. concorrencia deliturnsa. E mostram
A concorrência real de delitos ,se afigura afora as hipóteses desta, uma norma feº~q~t
as ª de sorté que todos os elementos descritos pela A subsidiariedade se diz tácita quando a
norma subsidiária não condiciona, taxativa-
como cí!culos dispostos . e~ separado, o cri- norrna geral se reproduzem na especial. 40
mente, a própria aplicação à insubsistência
me .contmuado como senaçao de círculos tan- ca a um fato, enformado por unidade sim&es
ou complexa de comportamento. o crime individuado pela norn1a princi- do delito principal, ou primário. Dessume-se
gentes entre_ si. O crime coletivo, ou habitual, pal recebe o nome de .genérico e o pela es- da circunstância de achar-se o fato implicado
que, aliás, !,1ªº c~ncerne ao concurso de deliq cipl 18d Relação de es'f)emalidade - Pelo prin- pecial se chama específico. 4 7 neste, como elemento constitutivo, agravante
tos, como .,uces~ao de circulas, representati- o a espemahdade, ,io o mais important
vos do complexidade do seu comportamento a norma especial prefere, na aplicação
P,eculiar, e .colocados todos êles dentro de um norma gera~. Lex specialis dera at en ' ..
i 19. Relação de subsidiariedade Pelo
princípio da subsidiariedade, '1 8 a norma pri-
ou meio prático da respectiva execução.
Nessa conformidade, o crime de dano (art.
circulo un1co. O concurso formal, como cír-
cu;os ~e?antes, com uma parte comum e par-
te., dt~stmtas, _que correspondem aos crimes
:;~~::-n s~:~igJ~~i~neralibus insu¾t; g~ne1':J:~~~
mária prefere a subsidiária. Esta é a que pre-
figura como crime um fato que outra norma
inclui na previsão legal de delito o mais gra-
163) é subsidiário do furto qualificado (art,
155, § 4.0 , I); a violação de domlcillo (art. 150),
do furto ou roubo, com entrada necessária na
De, orige~ romana, êste cânone, em últi- ve como circunstância qualitativa, agravan- casa; o constrangimento ilegal (art. 146), dos
come idos mediante um só comportamento. -85 i1:a ~nallse, e o que se inculpe no Cód P l delitos em que há emprêgo de vis absoluta ou
:patr10. Ta! dispositivo, no entanto cOnc!na te' ou meio prático do proceder. Lex primaria
... 17. A problemática da concorrência apa-
:ren1,e _de n?rmas se consubstancia em cânones d· 1onotaçao entr~ as estatuições do mes~~
Ip orna e .das leis especiais, ou extra va an
derogat legi subsidiariae.
o delito contemplado pela norma subsi-
compulsiva, como o abôrto de coacta (art. 126,
parág, único), a violação violenta de domi-
ou. pr1nc~p10s. ~·eitores, que precisam a norma'.
cu,1a apllcab1hdade tem primazia diante de ~!ª• conferindo primazia às regras desta~ s; diária não só é menos grave do que disposto
na principal, mas dêle difere quanto ao modo.
cílio (art. 150, § 1.0, que ainda manda somar
a pena concreta à correspondente à violên-
outras 1 e:n relação ao mesmo fato. Aliás ês- cavdersas o.
das normas gerais do corpo codifi~
de execução, pois corresponde a uma parte cia); o roubo (art. 157), o seqüestro (art., 148),
s~s prmc1pios se inferem da própria orct'ena- , Na concorrência aparente a norma desta. Nessas condições, a figura subsidiária a extorsão (art. 158), a extorsão mediante
çao penal. seqüestro (art. 159), et coetera.
re~;ald, ou_ específica, reveste s~ntido partic~= está inclusa na principal.
_São êles em número de quatro: da es e- .ar1.:,a_ o. E aquela cuja previsão e Nessas exemplificações avulta o crime
ciahdade, da. subsidiariedade, da consun Pção maneira d A norma subsidiária exerce função com-
expressa ou elíptica a dr pro uz, de plementar frente à principal, ou primária. complexo, retroestudado. E pela subsidiarie-
e da alternatividade. ral espe · 1· d , a norma ge- dade que se desaplicam as normas de fatos
' " ma izan o-se pelo acréscimo de 1 Aplica-se quando esta não tiver aplicabilidade
Nã~ ~ só o cabimento do processo lógico- mentos.
-sist~matrno e a aplicabilidade de normas Tem, pois, elementos a mais cir::.~ ao fato.
nêle englobados, uma vez aplicável a princi-
pal que o prefine. 51 O agente, pois responde
funQao dê8ses princípios, ou regras que t!~ e::c~rnplo, ~ norma dos arts. 121 § 1 o · h . Deriva daí que o fato tem de ser apre-
Sll;Sc1tado fundas discordâncias entr~ os dou- â1dio _privilegiado), 122 (infanticídi~
0 cr~~ezi exceptum de homicídio) '1
~si~;; o
ciado em concreto, para determinar-se a dis-
posição legal em que se quadra. A aplicabili-
pelo delito complexo, a menos que faltem ex-
tremos dêstc no fato cometido, quando será
tnn~dores. Mas .é igualmente o rol dêles a (hom1c1d10 qualificado) " ante a e 2.1, § 2. punível de acôrdo com as normas subsidiá-
sua indo~e ~ '? aJusta11;ento de um dado f~to dade da norma subsidiária e a inaplicabili- rias violadas. O roubo é a adjunção de trê~
ral do art. 121 (homicídio simplesf~rma ge- dade da principal não resultam da relação
~- um pr1nc1p!o que nao outro, como na eli- delitos: o furto (art. 155), o constrangimento
"'ªº. da tcnta~1va pelo crime consumado e d 0 importa . Clareada . 9: natureza da norma especial, lógica e abstrata de uma com a outra, mas ilegal (art. 146) e a ameaça (art. 147), Não pre-
dehto de perigo pelo de dano. exatif1car a regra da especialidad do juízo de valor do fato em face delas. 49 sente a violência ou a ameaça no fato impu-
FROSALI reduz as regras a duas: a d A norma :special, ou seja, a que adiciÜna elee: A subsidiariedade pode ser expressa ou tado, a autoria delituosa permanece a título
espcc1~hdade e a da subsidiariedade se HAFa mento proprio à definição de crime. previsto tácita. de furto. Não positivada a subtração, a respon~
~ER, as da especialidade e da con~unção B; na norma geral, prefere a esta na 'aplica ão Exproosa, quando declarada formalmen- sabilidade corre por outro dos demais delitos
d AJJER tem por supérflua a da alternatl~i ao f~to corporificado com ê.sse elemento ç te na lei, através de locuções como tais: se subsidiários, enfeixados no crime complexo.
a °, 38
SOLER distingue três modos de re -
1ac 1onarem as figuras pena1·s - quâ,
E de ~ister, na relação de especialidade
os delitos geral e especial sejam concreti-~
o fato não constitui elemento de crime mais
grave ou de outro crime (arts. 249 e 307) ; se 20. Relação consuntiva - Pelo princípio
· , em presença o i'ato não cons-Utui crime mais grave (arts. da consunção, ou absorção, 52 a norma defini-
isto f:, . por subsidl!l,riedade, especialidade ~ ZE: os em, absoluta contemporaneidade, o que 238 e 239); se as circunstâncias evidenciam
et~cluS1v1dade, o~orrendo esta por via alterna- nao se da no crime progressivo e pode dei-
1va ou consunt1va. SB xar de dar-se na consunção. 42 que o agente não quis o resultado nem assu- 50 Inaceitável, pelos argumentos aduzidos no co-
mêço dêste trabalho, "a assertiva de SABA'l'INI (ob. e
v ~ss~s opiniões permitem aquilatar as di ~lém ~ de tudo, a preferência da norma miu o risco de produzi-lo (art. 129, § 3.0 ) , vol. cits., pág. 106), de ser o crime complementar cler-
ergencias que ao propósito reina entre o; 1gpecial so_bre a geral se estabelece in. abstrac-- A transgressão da norma subsidiária é 1·ogação ao concurso de delitos.
, ,:vale dizer, pela comparação das configu- o crime subsidiário, o qual não se confunde 51 Cf., ex abundnutia, SOLER, ob. cit., vol. II,
34 com o crime especifico, porquanto não inter- pág. 161; FROSALI, ob. cit., l)ágs. 348 e 349; SAUER,
DELIT ALA "Concorso di N raçoes abstratas formuladas nas mesmas nor-
3~
. a,
re~~;4·, emâ "Rivi~ta Italiana di IJ1i~W~e P~n~Je1?,Cºisão
P g. 108; GRISPIGNI ob e 1 it ' ";;'ª"· 43
:l!J_sse o critério distintivo do principio
ob. cit., pág. 2,01, Segundo RANIERI, hipótese de con-
sunção (ob. cit., l)ágs. 47 e 70),
gma 416; CHIAROTTI "Teoria d' 1 R t vM, e s., pá, d a e~pecialidade de uma norma diante das 45 RANIERI, ob. cit,, pág. 94 52 Cf. EBERMEYER, LOBE, ROSENBERG, "Straf-
Reato Determinato", c'it., pág. 35 ~ ea o ezzo e del gesetzbuch", edição (le NAGLER e outros, Berlim,
~ma1s, Po!q_ue a preferência tem lugar me~ 40 ANTOLISEI, "Elementi" cit., pág, 158.
1954, vol. I, págs. 561-564, 567 e 568. FALCHI tra"
-85 Cf. DELITALA lug cit, GRIS 47 FALCHI, "La Legge Penale", Pádua, 1943, pá•
vol. cits., pág, 418; CHiARÓTTI,.,lug. cJi.IGNI, ob. e diante um Jmzo valorativo ou interpretação do glna 158; AN'l'OLISEI! ob, e lug, cits., com a sinonímia ta dêsse princívio como "motivo de atracão" (ob.
-.3-6 FROSALI, ob. c~t., págs, 498 e 499 Id caso ctoncreto_ em face das normas aparen- crime especH'ico, ou specializante, SABATINI se pro- cit., pág. 229). Alguns o contestam: MORÓ, ob. cit.,
MORO, ob. cit., pág, 89; AMERICAKO, "Concnr~o A;~ t emen e conflitantes. 44 clama o criador da dição ci•ime específico ("Istituzio· pág, 89; SABATINI - expressão sem conteúdo claro,
rente de Normas", 1958 págs 80 e 81 " nl" cit., vol. I, pág. 103 e n, 0 1). a abarcar hipóteses de delitos complexo, progressivo
48 ANTOLISEI, que s6 admite êsse e o princípio ou continuado, ou outras derrogações elo concurso (]e..
frec~~ ,!ft~T,,~R, ' 'Lehrbtátch" des Schweizerischen Stra- 40 SAUER· ou Ih lituoso ("Istituzioni" cit., vol. I, pág, 107); VON HIP·
8 ' 11m, 194 6 , p gs. 349 e 350. lug. cits.), · ' me or, da eventualidade (ob. e da especialidade, o nomeia principio da absorção: a
8 norma que prevê um fato compreensivo de um menos FEL - enunciação supérflua e indefinida, para casos
1949~ pá:.A:fo~~• "Algemeine Strafrechtslehre", Berlim, 41 As circunstfmcias q lif' • N

tivas, por implicarem aume~\ªO dcat1vas sao quantita, gdrave, previsto em outra, absorve a aplicabilidade ~•eferentes à especialidade ou subsidiariedade, ou mes-
mo, indefinidos (ob. e vol. cits., págs. 525 e 526);
A. 89 8 ü LER, "Derecho Penal Argentino" Buenos tipo simples do delito a pena cominada ao esta ("Elementi" cit., pág. 159). Nessa teoria se amal•
i<lem FROSALI, "Concorso d1 Norme" cit., pág. 604.
ires, 194 0, vol. II, pág. 150, ' gamam a subsidiariedade e a consunção.
como circunstâncias Qu.!iJinff0 »am, prevalentemente, 49 SAUER (ob. cit., págs. 200 e 201) situa a es" Não obstante as críticas, o principio é útil e não se re"
constitutivos do delito quai"r· va,s, porque elementos pecialldacte e a subsidiariedade no que denomina abs" conduz a qualquer dos demais, Quanto ao vocábulo
42 SPIEZ 1 ICa( o, consm1çfio. AMERICANO o rejeita, optando pelo de-
reit und Mehrheit der Verbrechen" Berlim 1901 48 GRI~iA, ob, cit., págs, 59 e 75. trata concorrência de normas, postando a consunção
g~r:1ad.J~
um
~áf con~urso
173 , n,o 16). Devido à' unicidade do 'r:t°d
formal, tem-se dito que êste é
SPIEZIA ob cíf NI,á o~. e vol. cits., pág, 416, n,o 156' em outra categoria, a concorrência concreta. Como se
1
consêgnou no texto, a subsidiariedade é caso de con-
signativo consmnação (ob. cit., pág, 78). :ftste ambí-
guo, por encerrar a idéia de consumar e consumir.
GER, "SÍraf;echt'" p rfe~u78 el97499, n.º 16, in fine; Mn:z'. Adequado, mas dissonante, o vocábulo consn:ttt.ição,
a . concçirrêncm aparente de crimes (VON LISZT 44 GRISPIG.N m, , págs. 471 e 472 corr nela concreta. Nesse sentido MEZGER - hn
ob. c1t,, pag, 240 e n,o 5). ' einzelncn (ob. cit., pág. 474). Mais conveniente: consunção.
págs. 471 e 492, I, ob. e lug, clts,; MEZGER, ob, .cit.,
'.32 REVISTA FORENSE
DOUTRINA 33
<dora de um crime, cuja execução atravessa No crime progressivo sobreleva-se a im-
fases em si representativas de delito previsto port§.ncia do princípio da absorção. Desapli- , . tle· utensílios para o fabrico de moeda 21. Relação alternativa - Pelo princí-
-em outra, exclui, por absorção, a aplicabiliw ca-se a norma previsora do delito menos graM ~'taT0 \ 1 papéis públlcos (arts. 291 e 294) fica pio da alternatividade, a aplicação de uma
-dade desta, bem como de outras que incrimi- ve, através do qual se transitou para a obje- bsOilvléia pela prática dêsses crimes (arts. norma a um fato exclui a aplicabilidade de
nem fatos anteriores e posteriores do agente, tividade jurídica da entidade delltuosa mais :a9 e 293). A destruição do produto ~o furto outra que também o prevê como delito.
efetuados pelo mesmo fim prático. Lex consu- grave. Assim, como crimes progressivos a se- elo autor dêste, para assegurar-se 1mpuni-
1nens deroga.t legi consumpíae. dução (art. 217) e o estrupo (art. 213), bem Se, no caso concreto, reconhecido que a
~ade,I se consome na atividade de, furt~r. O conjunção carnal se enquadra na figura da
O .delito configurado pela nor-ma cansun- como os delitos precisados nos arts. 214, 215 e mo ocorre se o fato sucessivo e reahzado
tiva é complexional, poi.s encerra ou suben,.
tende estruturalmente, espécies delituosas au-
216, se cometidos contra mulher em menori-
dade e não depravada, absorvem a corrupção
:a~a utlização do fato_ ~ntece~ente.
P,reçoniza-se a pun1çao autônoma do Pº!.-
no . sedução (art. 217), descabe atribuir ao agen-
te crime de estupro (art. 213) ou posse sexual
-tôno~as. Porque primárias as normas que os de menores (art. 218). Não se reunindo no media:ó.te fraude (art. 215). O inverso é curi-
·inscrevem. fato os requisitos daquelas formas criminosas
te contravencional de ar!fla, i:sada e?J-_ cn- almente verdadeiro.
_1es contra a vida ou a integridade f1s1ea. 60 Agora uma aplicação da alternatividade,
Como a norma consuntiva impede a apli- permanece o delito de corrupção. ' ~ontudo há mister distinguir. Se o J?º:te de
-cação da norma consunta, por abrangê-la, 153 Só a consunção fundamenta, de modo armas é ocasião propiciadora da pra!ica de fora, própriamente, do âmbito da concorrên-
o aperfeiçoamento do crime previsto naquela cabal, o problema da aplicabilidade de nor- delito, há concurs? ,r~al da co~travençao cor- cia aparente. lilsse proceder pode denominar-
•absorve o delito definido nesta, excluindo-lhe msa em tema do crime progressivo. 56 tespectiva e hom1c1d10 ou lesao corporal. Se -se de alternatividade extensiva.
a concretização. Os fatos absorvíveis, enunciados nas nor- todavia, o agent~ ~e premune de ar~a para Vejamos. O comportamento executivo é
O princípio em exame supõe, entre as mas sujeitas à absorção, podem classificar-se tl.gir sucede a h1potese do antefato 1mpuni- realmente diverso, aos crimes contra o mes-
11ormas e, a fortiori, entre os delitos, relação em três grupos: a) do fato conjugado; b) do vel. 'porque êsse fa~o se liga inti?la~e~te ao mo bem protegido, l!lstes, no entanto, se re-
de rnagis para minus, de continente para con- antcfato (ou ante fa.ctum); e) do pós-fato :rrocedl.mento ulter10r, como me10 1nd1spen- lacionam como espécies cognáticas, dentro de
teúdo, de todo e parte, de inteiro e fração. (ou i,ost factiim). ,1 sável, exigido pelo mes~o. fim, }'anto o !ato um gênero ou divisão dêste, Por alternativi-
Normas e crimes que se escalonam como em Acima se focalizaram os fatos conjuga- ant:cedente como o prmmpal sao come,tiqos dade extensiva, a aplicação de uma dentre
círculos concêntricos, dos quais o maior é a dos, inclusive no atinente ao crime complexG>. :na dependência de motivo e para um unico as normas, definidoras dêsses delitos, ao fa-
norma consuntiva, com o tipo delituoso nela Resta passar-se revista ao antefato · e ao resultado final. ai Cumpre reconhecer que to cometido, impede a das demais. Um exem-
·espelhado. Donde relação de absorvividade de pós-fato. e.ssa ilaç§,o, de rigorosa !ógic~, desatende. ao plo de SOLER, por êle oferecido como de
um comportamento complexo e compreensivo Trata~se do fato ou fatos anteriores ou recle,mo da Justiça. Porem somente de 7ure pura alternatividade, ilustra a extensão do
,qua.nto a fatos que lhe São aderentes de mo- posteriores à execução de determinado deli- condendo 1 através ~e dispositivo legal expres- princípio: o apoderamento de uma coisa é
-do natural e íntimo, segundo o id quod ple- to, mas previ~tos como infrações por outra ~o que ma.nde punir o antefato do porte de furto ou é apropriação indébita. ·67 TI:m harmo-
711,maue accidit. norma, os quais o agente perpetra em virtude 1u·mas se atenderá, no caso, às necessidades nia com o nosso direito penal constituído, a
Por isso, o delito consumado absorve o da n1esma e única qualidade. da repressão. permanência ou estada ilícita de uma coisa
crime de tentativa. Equivoca-se MORO ao A norma ou normas que os inscreveu co- Alguns rejeitam a teoria do ante e pós- alheia móvel em poder do agente ou é furto
afirmar que s, impunidade da tentativa, nes- 1::º delito deixa de apreciar-se, dada a preva- •"fato. MAGGIORE admite apenas a consunção ou apropriação indébita. Nesse particular não
fü~ caso, nada tem com a concorrência apa- lencia da norma consuntiva. do antefato, anuindo em que o furto absór- se está tomando em conta a particularidafle
-rente, argumentando que o dolo, se consu- Torna .. se, pois, impunível, ou melhor, um ve a posse de chave falsa, Mas, a seu ver, o de que o furto se perfaz pela subtração e a
mado o delito, cobre a tentativa, cuja confi~ indiferente penal o ante ou pós-fato. É o que pós-fato ou é um indiferente para a lei ou apropriação indébita, pela prática de atos de
·gurabilidade desaparece, como as lesões cor- se dá em dois casos: a) quando a norma con- enseja concurso real de infrações, -62 PANNAIN senhor sôbre a coisa de que se tenha posse.
porais produzidas na comissão de homicídio. 54 suntiva explicita ou implicitamente o consi- se opõe à teoria, concluindo que ela nada O furto investe contra a posse, e a apropria-
Ora, a falta de dolo sàmente pode operar por dera necessário para a consumação delituo- tem com a consunção. oa SPIEZZIA identifi- ção indébit-a, contra a propriedade. 68 Po-
via subjetiva, isentando de pena. Na hipóte- sa; b) ou quando constitui acontecimento or- -ca-a., por sua vez, com a doutrina do crime rém ambos atentam contra o mesmo objeto
se, a não-configurabilidade, reconhecida por dinário, o id quod plerumque accidit como a progrrnsivo. o-i FALCHI nomeia "motivo de específico e pertencem ao gênero das ofen-
MORO, não resulta da as.si.milacão do dolo venda da coisa furtada. 58 Assim, v. g:,
a com- continência" ao fenômeno da consunção, pa- sas ao patrimônio.
-da tentati.va pelo dolo do crime~ consumado 1rn_ É _o que exaustivamente comprova HANif!lRI ra êle assente nas idéias de continente e con- P0la alternatividade extensiva, a norma
mas da circunstância de que, aplicada uma'. (ob, c1t.,_pags. 44 e 48), Êsse autor distingue do cl'ime teúdo. 05 E aventa outra causa derrogatória, que tipifica o furto derroga, no tratamento
norma, outra se torna inaplicável. prog_ress1vo a progressão criminosa, que ocorre quando, o motivo de atração, a funcionar nos casos de uma espécie concreta, a norma represso-
O crime de perigo é absorvido pelo de praticado um delito, volta 61e a ser cometido pela
sucess!va corn..issão de outro que o compreende (cf. id,, do ante e pós-fato. '6º ra da apropriação indébita, e vice-versa.
dano, ou lesão. 55 ob., pags, 58, 81 e 84). Por ex.: na passagem elas vias Ora, pois. A teoria em aprêço, nada obs- SimHarmente, valorado um fato como
de fato para lesão corporal; do seqüestro para redu- tantes as incertezas de tratadistas e as con- furto_. não .pode seu autor, mercê dêsse fato,
53 RANIERI: o cnráter da norma consuntiva é ção a condição anfüoga à de escravo, etc. Assinala o
consumir a outra que nela está contida ("Reato Pro- ,Jurista que a progressão não é derrogatória do con- traditas de alguns, é fértil em conseqüências responder simultâneamente por outro delito
gressivo" cit,, pág, 48), curso dos delitos, mas diz respeito à concoreência apa- doutrinárias. Ao demais, valiosa, por afas- contra o patrimônio. Inclusive pelo crime, aliás
54 MORO, ob. cit,, pág. 109. Pela consução: NÉL- rente, . sendo-lhe aplicável o princípio ela absorçãa tar perplexidades que certo.s casos d~sper- de caráter preparatório, da supressão ou al-
BON HUNGRIA, ob. cit., pág, 420; RANIERI, ob. c.tt., (ob. cit., págs, 92·96), Para o pena.lista, o delito com•
-pág. 72; MEZGER, ob. cit., pág. 473; MEYER-ALU plementar se resolve em progi:essão criminosa (pági• tam nos pretórios. teração de marca em animal. E, ainda, pelo
FELD, "Lehrbuch des Deutschen Strafrechts", Leipzig, na 85). Indemonstrável a assertiva, SABATJNI impug- delito de dano, se o agente houver destroça ..
1922, pág. 236. Pela snbsidiariedade: FALCHI, ob. cit., na a teoria dfl progressão criminosa: não difere con• do a coisa durante ou após a subtração.
pág. 229; FLORTAN, "Furte Generale c1.e1 Dlritto Pe• ceitualmente do crime progres8ivo, sendo modo por 59 RANIERI, ob. e vol. cits., pág. 91. V, g., con-
nale", Milão, 1934, vol. I, pág. l.91; JIMÉ::--:rEZ DE quo êste se efetua ("Istituzi.oni" cit., vol. I, ptigs, 470 forme ZIMMERL, a venda ou apenhamento da res A alternatividade extensiva alcança de-
e 471). Procede a objeção. fm·tiva pelo ladrão no propósito de efetivar a van•
ASúA, "La Ley y el Delito", Caracas, s. d., .pág, 175·
5! EBERMEYER, LOBE, ROSENBERG: "Neben- terminadas hipóteses de crimes eqfüpolentes
SAUJTIR, ob. dt., pfi~. 201; VON LISZT, ptigs. 239 e 240: tagem visada com o furto (" Aufbau eles Strafrechtssys- não congêneres. so
EBERMEYER, LOBE, ROSENBERG, ob, cit., vol. I, tat, Vortat, Nachtat" (ob, e vol. cits., pág. 561). Qual tems", Ti.ibingen, 1930, págs:. 110 e 111). Para êsse
págs, 560 e 561; LISZT, DELAQ.UIS, KOHLRAUSH, adverte o autor, essas categm:ias são genéricas, po- autor, a não criminosidacte elo pós-fato em si decorre Fixemos a noção dêstes. São infrações em
·"Straf,g;eset7.buch für dfls Deutsche Reirh", Berlim, dendo aparecer na conc01•rência, quer ele normas, quer de tuna consideração pré-jurídica, a ausência de qual-
1928, pág. 103; BASILEU GARCIA, "Instituições de Di• ele delitos. Mas, na doutrina, quando se fala em ante quer Prejuízo social (lug. ·cit., em especial n. da pá- que se relevam elementos comuns de estreita
reito Penal", Sllo Paulo, l.952, vol. I. pág, 501 (ele ou p'Js-fato, tem•se em mente um dos modos de opB• gina :l.10), afinidade e até de identidade substancial. Por
modo dubitativo). Como acentua MEZGER, a preva• rar-se a consunção. 60 ARI FRANCO: subsiste a contravenção do por• vêzes, o contato está na atividade executiva
lência de uma norma sôbre outra, na consunção, resul- 58 SOLER, ob. e vol. cits., pág. 154, Para
ta de uma relação ele valor entre ambas, que, entre- SCHOENKE, a primeira agressão ao bem ,iuridk.o in•
te de armas pelo i-éu, embora absolvido, salvo os casos ou, então, no seguimento desta ou no objeto
tlAe leg:ítima c1efe11a e estado de ner>essWacte ("Porte de
tanto, se aprecia tão-só pela forma de caso concreto dividun a norma prevalente, com a punição, portanto, 1·ma Fator de Criminalidade", 1940, pág, 29).
(ob. cit., págs. 472 e 473). do p6s-foto, nwsmo na hipótese de ser aquela menos
rlelituosa ou pas.c;ível de pena menor, de modo que o Cll RANJERJ, ob. cit., pág, 91.
155 NÉLSON HUNGRIA, ob. e vol. cits., pág. 121; 07 FALCHI, ob. e lug, cits.
SOLER, ob. e vol. cits., pág. 1.51; MEYER, ob e vol. furto de alimento, o pequeno furto por carência ou o 02 MAGGIORE, "Principi", cit., voL I, pâg. 186,
furto familiar excluem a fraude que os assegura, ape- Cl3 PANNAIN, "Manuale" cit., pág. 167.
08 ISOLDI, "TI Diritto Penale Haliano (Dall'ori-
cits,, pág. :l 51; MEYER-ALLFELD, ob. cJ_t., págs. 238 gine all'epoca presente)", Ostiglia, 1914, pág. 71,
e 23'7; LISZT, ob. cit., pág, 240; FRANK, ob. cit., P~· sar da g-r0vidade maior desta (SCHOENKE-SCHROE- Cl4 SPIEZIA, ob, cit., ptigs. 42 e 74, n. 0 :1.2, MORO:
gina 213, Pela subsidiarieclade: SPlEZIA, ob, cit., pa- DEfü, "Strafgesetzbuch", Berlim, 1957, pág, 393), O ante e pós-fato é forma rla progressão c:'.'iminosa 69 A dição usual é "crimes não-congêneres". In•
gina 72' FROSALI, ob. cit,, págs, 498 e 499; BETTIOL, ("Unità 8 Pluralità de R(iati", f'i1",, pág, 110), Contra: satisfatório o designativo. Em regra, são não-congê-
,ob. cit,,' pág. 420; MEZGER, ob. cit., p{ig, 475; EB~R· gina 111; HAEGER, "Die Stellung des § 49a im Sys- R ANITI:RI, ob. e vol. cits., pág. 91. neres os grupos de delitos elencados nas partições da
MEYER LOBE ROSENBERG, ob. e vol. cits., pág. oGO; tem des Reichsstrafgesetzbuchs", Berlim, 1903, pági- parte especial do Código, umas em relação às outrfls,
·w:mLZEL, "Das' Deutsche Strafrecht", Berlim, 1949, pá• na 3'79, G5 FALCHI, ob. cit., pág. 229. Daí o acréscimo do têrmo eqiiipolontes, para exatifi•
BCI FALCHI, ob, e lug, cits. car•Se o conceito em vista.

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34 REVISTA FORENSE

material dos delitos. 70 A apropriação indébi- De acôrdo, por conseguinte, corri o prin-
ta e o furto se reproduzem nas duas varia- cipio da alternatividade, se um funcionário
ções do peculato doloso (art. 312 e§ 1.0 ), que responder por peculato, não se poderá respon-
é um ou outro dêsses delitos, qualificado pe- sabilizá-lo por outro crime contra o patri-
la condição pessoal de funcionário da parte mônio, em razão do mesmo fato (alternativi- O mérito do ato administrativo
do sujeito ativo. O estelionato e outros cri- dade pràpriamente dita). Se se aplicar a um
mes contra o patrimônio, desde que o obje- fato a norma descritiva do favorecimento
JOSFl CRF.TJ<JLLA JúNIOR
to material do fato seja coiss. móvel, tangen- real, deperecerá em absoluto a aplicação da Professor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba
ciam, por êsse ponto, com o peculato. De que reprime a receptação (alternatividade ex-
igual jeito a receptação dolosa (art. 180), tensiva), E assim nos demais casos supra.
com o favorecimento real (art 349). Por atos SUMÃRIO: Acepções do vocábulo "mérito". Importância da fixação doi
Penalistas combatem, como ocioso e des- 1 con,ceito. o umérito" nos negócios jurídicos privados. O "mérito" do ato admi-
idênticos do comportamento plurissubsisten- propositado, o principio da alternatividade. l nistrativo. Conceito amplo e restrito do "mérito". LegaUdade e mérito. O binô-
te, a extorsão (art. 158) se relaciona, com a SPIEZIA averba-o de vazio de conteúdo e inú- j mio oportunidade-conveniéncia. Colocação axiológica do "mérito". Discriciona-
concussão, praticada, porém, mediante gra- til, entendendo que foi gerado para apenas riedade, vinculação e mérito. Casos concretos. Interd'ição ao Poder Judiciário
ve ameaça e pelo escopo de vantagem econô- resolver in concreto as colisões entre furto e do exame do mérito do ato administrativo. Conclusões.
mica (art. 316); o constrangimento ilegal estelionato, dêste delito e a apropriação in-,
(art. 146), com a violência arbitrária (art. débita, ou desta com furto. n MAGGIORE o
322) e a coação no curso do processo (art. tacha de insustentável e destituído de justi- 1. Acepções do vocábulo "mérito'' - Ao No âmbito do direito administrativo, o tal
344); a injúria (art. 140), com o desacato ficação. 12 Critica-o RANIERI, para quem os contrário de inúmeras palavras que levam pa- sentido também não está ausente, porque cum-
(art. 331); o seqüestro (art. 148), com o exer- casos apontados de alternatividade desfecham ra os diversos setores a que se aplica o co- pre lembrar que, nesta disciplina, há uma
cício arbitrário ou abuso de poder (art. 350), no concurso formal ou se .solucionam à luz nhecimento humano alguma coisa de seu parte processual - o processo administrativa
~te. Percebe-se com facilidade que algumas da subsidiariedade e da consunção. ni Para sentido corrente, servindo, nesse caso, para - e, neste, o mérito não deixa de ser o con-
dessas espécie.~ corporizam o crime complexo. BASILEU GARCIA, a matéria não interessa auxiliar o entendimento do têrmo técnico, teúdo da lide, a própria substância do que se
Nessa hipótese, podem resolver-se à luz do ao concurso de leis. 't4 usado pelo especialista, outras existem que, no debate.
princípio da subsidiariedade. Em outras, pelo Sem embargo dessas objeções, justifica- âmbito das ciências particulares, em nada Nesta parte, não há dúvida: o Poder Ju-
da consunção, -se o principio da alternatividade. Até mesmo concorrem para o referido esclarecim,ento. ne~ diciário pode examinar o mérito, porque esta
Sem embargo disso, a exatificação da nor- serve como prova de exação dos resultados a cessitando, pois, de prévia conceituação, ali- palavra está empregada no sentido proces~
ma preeminente se logra, em todos os casos que se chega no emprêgo dos demais princí- cerce indispensável para futuras pesquiEas. suai, abrangendo tudo que se refira à apura-
mencionados, pela regra da alternatividade, Está no segundo caso o vocábulo mérito 1 ção da legalidade do ato, editado com apoio
pios reitores da aparente concorrência de no processo.
propriamente dita ou extensiva. O ângulo vi- normas penais. ou mereciniento, empregado no âmbito do di-
sual desta não coincide à justa com o critério reito processual civil e no setor do direito Considerado em relação ao ato adminis-
que preside aos princípios da subsidiariedade ardmini.strativo, exigindo, em ambos os casos trativo, difere, entretanto, o entendimento do
e da consunção. 7.1 Ob. cit., pág, 80. e, especialmente, neste último campo, defini- mérito ou merecimento, sendo de rigor, então
72 "Principi" cit., vol. I, pág. 18G. ção precisa para que as ulteriores ilações não colocar de lado qualquer conceituação admi-
70 Talvez ampliando ésse entendimento, KOEH- 73 "Manuale" cit., vol. I, pág. 87. I<lem, ANfBAl.
tragam conseqüências prejudiciais ao cidadão, tida normalmente no âmbito do processo ci-
LER explica pela alternatividade a elisão do crime de BRUNO, "Direito Penal", Rio, P. Geral, vol. I, pág. 269, vil, para enfrentar aspecto todo particular,
perigo diante do delito de dano ("Deutsches Stra- n. 0 22. no delicado terreno. das liberdades públicas.
frechts, Alg. Teil", Leipzig, 1917, pág. 570). 74 "Instituições" cit,, vol. I, t. II, pág. 512, nôvo, com características próprias, inconfun--
No campo do processo, "mérito é o fundo díveis.
do litígio, ou seja, a pretensão que o autor Aqui surgem as hesitações, que se agra--
deduz em Juízo através do pedido. É a pró- vam com a tendência ainda existente de trans_.
pria substância da situação litigiosa que se portar para o campo do direi'to administrati~
contém no processo de conhecimento", 2 em vo os institutos e a terminologia de outros ra-
contraposição às questões preliminares ou mos do direito. Até alguns de nossos mais
prejudiciais, situadas na antecâmara ou ves- graduados juízes incidiram no êrro de trans-
tíbulo do processo; "é o conteúdo substancial ferir para a técnica administrativa constru-
da lide, isto é, o conteúdo do contraditório ções e têrmos processuais, com gravíssimas
com base em regras de direito substantivo, conseqüências sôbre direitos subjetivos públi-
por oposição às questões de cunho meramen- cos dos administrados.
te processual". B Recairá, pois, nossa indagação sôbre o
"O mérito é então um elemento constan- conceito do mérito do ato administrativo, que
te e principal. Existe em tôda demanda e cen- é todo especial e que, fixado definitivamente,.
trafüm as pretensões das partes. Só excepcio- acarretará implicações básicas, decorrentes da:.
nalmente o juiz deixará de examiná-lo". 4 Isso demarcação, deixando-se de lado a noção pro-·
f~is~mos, no terreno do prooesso, .comum aos cessual do mérito, que, com a devida ressalva,.
vanos ramos da ciência do direito. pode estar presente na parte adjetiva do di-
reito administrativo.
1 Mérito yem do latim meritu(m), acusativo do 2. Importância da fixação do conceito -
nome neutro meritmn, 1, substantivo que ·significa: sa• Da compreensão ampla ou restrita que se der
1árlo, ganho, paga, serviço, ato (conduta) que ,iustifica
nlgo, Em alguns casos, tem outros sentidos, mas não ao vocábulo mérito decorrerá maior, menor
-i 0 s~ntido que lhe dá a processualística. Consagram os
ou rn:nhuma parcela de possibilidade de revi-
clic10nários o sentido de "qualidade do que é djgno de
lo uvor ou prêmio, aptidão, superioridade" (CALDAS são do ato administrativo pelo Poder Judi-
A0 LETE), Apenas na expressão promoção por mé• ciário. Ora, a ausência de definição prévia do
ritQ, l)or merecimento, está conservada a acepção cor• mérito tem dado origem, entre nós, a diver-•
rente do têrmo, .
't Jpos:m FREDERICO MARQUES, ','Institulções de
gênctas, fàcilmente sanáveis mediante traba-
Dlre i l roces1mal Civil", 1959, III, 29 . lho corajoso e comum de indagação termino-
3 SEABRA FAGUNDES, "Dos recursos ordinários lógica.
em matéria civil", 1946, págs. 252-260, e "Conceito de
Mérito Administrativo", in "Rev. de Direito Adminis•
trativo", XXIII, 5. 5 UMBERTO BORSI, no início do século ainda
4 SITlABRA FAGUNDES, "Conceito de Mérito no define o mérJto como "a substância, o conteúdo' do ato
Dlrelto Administrativo", ln "Rev, de Dir. Adroinistra- e designa_ttvo das qualidades a tal conteúdo referen~
11Vo", 1:xrn, 5. tes" ("Primo 'frattato", de ORLANDO, 1915, II, 2.ª, 34.

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