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A INTEGRALIDADE NA ATENÇÃO À SAÚDE DA POPULAÇÃO:

- Este artigo discute o princípio da integralidade do SUS, cujo objetivo é unir


ações que realizem a saúde como direito e como serviço.
- Integralidade é o eixo organizativo de práticas de gestão das ações, que tem
na garantia do acesso aos níveis de atenção mais complexos seu principal
desafio.
- As práticas de gestão são campo de construção da integralidade, no qual
gestores públicos de diferentes esferas de governo, prestadores privados,
trabalhadores de saúde e sociedade civil organizada devem se unir numa interação
democrática para produzir respostas capazes de contemplar as diferentes demandas e
necessidades de saúde da população.
- Se, por um lado, a organização da nossa sociedade, baseada no capitalismo,
tem favorecido muito progresso nas relações de produção, a sofisticação de tecnologias
em diferentes campos, incluindo a saúde, o mesmo não se aplica às relações
sociais. Pessoas são rotineiramente submetidas a sérios padrões de inequidade e
desrespeito a questões de gênero, raça, etnia e idade. Assim, as políticas
econômicas e sociais adotadas no Brasil nas últimas décadas excluem muitas
pessoas, concentram riqueza e corroem a vida social, aumentando a demanda por
ações e serviços de saúde pública.
- A Constituição Federal, que cria e estabelece diretrizes do SUS, fornece
elementos básicos para as ações brasileiras e a reordenação lógica da saúde, a fim de
garantir as ações necessárias para melhores condições de consumo de todos os
cidadãos.
- Os princípios que orientam o SUS são a integralidade, universalidade e equidade.
Esses três princípios formam "um conceito triplo, entrelaçado” e expressam a luta
por cidadania, justiça e democracia, consolidadas no ideal da Reforma Sanitária
Brasileira.
- A integralidade pode ser vista como um projeto social permeado por ideais de justiça e
solidariedade.
- Assim, a luta pela mudança qualitativa na política de saúde para a construção de um
sistema de saúde com acesso universal, equidade e serviços de boa qualidade se
assemelha à resistência às políticas públicas adotadas nesta última década: uma
política neoliberal que aponta para uma participação cada vez menor do Estado, seja na
política econômica ou na prestação de ações e serviços sociais à população, inclusive
de saúde.
- É possível identificar o surgimento de experiências inovadoras e bem-sucedidas em
diversos estados e municípios brasileiros. Nessas experiências, pode-se identificar
alguns atributos de integralidade, na medida em que revelam o campo das práticas
como locais especialmente onde ocorrem diversas inovações institucionais em
saúde. - Essas inovações são diariamente construídas por interações democráticas
contínuas dos envolvidos dentro de serviços de saúde permeados por valores
emancipatórios de autonomia, solidariedade e direito de escolha dos usuários a
respeito do tipo de cuidado em saúde que desejam.
- O SUS pode ser efetivamente construído no cotidiano dos usuários e trabalhadores,
por meio de padrões diferentes de equidade e integralidade, compostos por práticas
de gestão, saúde e controle social.
- A saúde, como direito à cidadania e como defesa da vida, deve tornar possível que
o sistema de saúde crie novas possibilidades em um movimento renovado de
integralidade e equidade. Torna-se necessário aplicar combinações de forças técnicas,
políticas e administrativas em cada lugar diferente de acordo com as necessidades
dos usuários e a prática dos trabalhadores.

Dimensão da organização dos serviços: integralidade priorizada na


(re)organização dos serviços:
- Essa dimensão diz respeito à necessidade de oferecer acesso a todos os diferentes
níveis de sofisticação tecnológica necessários em cada situação, para que a assistência
possa ser bem sucedida.
- Ouvir as necessidades aumenta a capacidade e as possibilidades da intervenção, por
parte dos trabalhadores da saúde, no que diz respeito aos problemas daqueles que
demandam serviços de saúde.
- Há necessidade de articulação da micro e macropolítica. Para que a integralidade
seja cumprida não depende apenas do espaço único dos serviços, mas também da
articulação entre serviços e ações setoriais e intersetoriais. Isso acontece porque,
dependendo do momento em que o usuário está vivendo, a tecnologia de saúde que ele
precisa pode estar tanto em uma unidade básica de saúde quanto em um serviço mais
sofisticado. Pode ainda depender da cooperação entre outros setores estaduais.
Portanto, o acesso da população a todos os níveis de sofisticação tecnológica seria
condição e ponto de partida para a construção do princípio de integralidade do SUS.
- Ao mesmo tempo, o acesso aos serviços sozinho não é garantia de integralidade,
uma vez que esse princípio depende de outros fatores para se tornar real. Entre esses
fatores está a criação de vínculos entre usuários e funcionários, a melhoria das
condições de vida da população e o estabelecimento da autonomia do usuário em
sua tentativa de ter suas necessidades de saúde atendidas.
- Nesse contexto, a solidariedade deve ser incorporada como um valor institucional e
uma nova prática, já que representa um valor democrático, potencializando a
responsabilidade dos agentes envolvidos na criação e implantação de políticas de saúde,
nas quais a integralidade é prioridade. A integralidade como prioridade nos leva à
dimensão da prática dos trabalhadores em saúde.

Dimensão dos saberes e práticas dos trabalhadores da saúde:


- Nessa dimensão está a capacidade de integrar o acolhimento aos serviços de saúde.
Entendendo a saúde como o direito de ser, com o respeito às diferenças, as relações
com etnia, gênero ou raça, pessoas com deficiências, patologias e necessidades
especiais.
- Significa tratar, respeitar, acolher o ser humano durante seu sofrimento, que, em
grande parte, resulta de sua fragilidade social. Entende-se como ação integral como
efeito a ação de interação positiva entre usuários, profissionais e instituições,
representadas por atitudes como tratamento respeitoso, com qualidade, acolhimento
e produção de vínculos.
- A integralidade é concebida como um termo plural, ético e democrático. O diálogo
é um de seus elementos constituintes.
- A integralidade está aqui sob o comando de um processo de construção social, que
tem na ideia de inovação institucional um grande potencial para sua realização, uma
vez que seria baixa a criação de novos padrões institucionais. Estes podem ser
considerados como experimentos que podem proporcionar relações mais horizontais
entre seus participantes – gestores, profissionais de saúde e usuários – no que diz
respeito à produção de novos conhecimentos com base na prática dos agentes de
saúde.
- consideram a saúde o direito de ser como respeito
- Nesse sentido, a integralidade é um dispositivo político que critica o conhecimento, o
saber e poder hegemônicos – principalmente o biomédico – buscando produzir novos
arranjos sociais e institucionais de saúde a partir das práticas cotidianas.
- A integralidade tem sido definida como as ações em defesa da vida das pessoas.
Há uma insuficiência de "modelos ideais" historicamente utilizados no planejamento da
gestão da saúde, e uma demonstrada incapacidade para atender às necessidades de
saúde da população que são marcadas por um alto nível de subjetividade,
imprevisibilidade e complexidade. Nesse sentido é preciso inventar novos modos de
atender às necessidades em saúde da população.
- As práticas cotidianas, quando tomadas como fonte de criatividade e crítica, podem
potencializar ações emancipatórias do conhecimento científico, na produção
moderna do conhecimento humano. Poderíamos nomeá-lo de "conhecimento do povo",
conhecimento local, descontínuo, sem senso comum, que não encontra refúgio na
ordem racional de nossa sociedade capitalista.
- Há nesse saber a possibilidade de fazer novas reflexões sobre a diversidade e
pluralidade de objetos e estratos de investigação em saúde especialmente os centrados
nas práticas.
- A prática não pode ser concebida como um mero espaço para a verificação de ideias,
mas um campo rico para se chegar a novas teorias, mais poderosas – em suma,
um campo de reflexão capaz de fortalecer a gestão, atribuindo assim seções
transversais inovadoras.
- Nessas "seções transversais" há um certo tipo de prática de aplicação de políticas
governamentais que se chama gestão compartilhada . Uma forma de fazer política
baseada no compromisso político e ético de implementar integralmente a
integralidade na saúde da população.

Dimensão das políticas governamentais formuladas com participação populacional


- Essa dimensão está relacionada à capacidade da política governamental de
organizar o sistema de saúde, com destaque para novas proposições e
desenvolvimento de novos arranjos descentralizados, decisivos, solidários, visando a
participação dos sistemas de saúde locais.
- Essas práticas são conhecidas como gestão compartilhada em saúde e podem ser
definidas como um espaço institucional para a construção de práticas envolvendo
diversos agentes de saúde, por meio do estabelecimento de dispositivos de decisão
conjuntos e permanentes em diferentes níveis do sistema.
- Uma visão que é compartilhada entre os sujeitos, seja na adoção ou na criação de
novas tecnologias de gestão para o cuidado integral.
- Novas tecnologias de gestão devem ser construídas a partir de um ponto de vista
democrático e emancipador, cujas principais ferramentas devem ser o controle
social e a participação política dos usuários, trabalhadores e gestores.
- Nesse sentido, deve-se pensar na formação contínua do SUS e recuperar a dialética
existente entre "saúde e democracia" que permeou a implementação da Reforma
Sanitária Brasileira rumo ao ideal de uma sociedade justa e igualitária, que defende uma
reforma baseada nos princípios integralidade.
- Há grande importância da descentralização, da universalidade e atenção integral,
como princípios que expressam o processo de consolidação da obtenção do direito à
saúde como questão de cidadania.
- A integralidade vem da união organizacional de práticas de gestão, uma ação social
resultante da interação democrática entre os agentes em suas práticas cotidianas de
saúde em diferentes níveis de atenção, cujo principal objetivo é o acesso aos níveis de
saúde mais sofisticados.

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