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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Campus Belo Horizonte

MARCOS ANTONIO PEREIRA DE MOURA

NA POEIRA DAS ESTRELAS


volume1

Belo Horizonte
2023

1
Marcos Antônio Pereira de Moura

NA POEIRA DAS ESTRELAS


volume1

Memorial de Formação apresentado à


disciplina “Antropologia”, ministrada no II Núcleo
Formativo do curso de Pedagogia, turno da
tarde, como conteúdo avaliativo proposto para a
disciplina.

Professora: Liliane Souza e Silva.

Belo Horizonte
2023

2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................4
TEORIAS E PRÁTICAS NO SISTEMA SOLAR............................................................6

AS ORIGENS........................................................................................................6

O nascimento no sistema solar.............................................................................6

A infância na terra.................................................................................................7

A herança da consciência ingênua e a lua como legado.....................................7

Alcançando a maturidade, em direção a ação e reação....................................10


OS DESVIOS INTERGALÁTICOS..............................................................................12
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................16
REFERÊNCIAS...........................................................................................................18

3
INTRODUÇÃO

Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? O desejo de compreender
minha origem é tão curiosa quanto a história do pensamento que nem sabia que
existia sobre o universo, é por isso que realizo a disciplina Pesquisa, na ciência da
pedagogia, procurando respostas para questões existenciais, construindo esse
memorial de formação.

De acordo com (SAGAN,1980,P.4) "Acredito que o nosso futuro dependa de


quanto saibamos sobre este Cosmos no qual flutuamos como uma partícula de
poeira em um céu matutino." Expressão que gerou uma de suas máximas “The
cosmos is within us. We are made of star – stuff. We are a way for the universe to
know itself”1, e que agora faço a revisão : “We are in the dust of the stars until we
know each other.”2, pois enquanto não me materializo no estrito e exato termo de
poeira, prevaleço-me nela, vagando de forma insistente em trajetória acadêmica
repleta de percalços, paradas e retomadas.

Explicar o início de tudo é sintetizar a origem de um cosmos pessoal, e assim


olhei para o céu e me senti só, no universo que surge do nada, como enfatizam os
Yanomami. Não advém do politeísmo, nem do monoteísmo. Meu mundo vem do
caos criador. A resposta em aberto se mantém na minha mente que começa a se
expandir violentamente como se fosse uma grande explosão, liberando a matéria de
um Big Bang. E é nela que me apresento com tanta curiosidade, nesse relato
acadêmico. Organizando e registrando as memórias, buscando caminhos de
interesse pela ciência e o seu compartilhamento, através de recursos textuais e
linguísticos, praticando a normalização, na tentativa de ser o mais fiel aos olhos
d'ela, a senhora ciência. De acordo com Gleiser(1997) sobre o surgimento do
universo:

1 “O cosmos está dentro de nós. Somos feitos de matéria estelar. Somos uma
forma do universo se conhecer.”(tradução e interpretação de Marcos Moura).

2 Estamos na poeira das estrelas até nós conhecermos.

4
[...]O universo possui treze bilhões e setecentos milhões de anos,
esse é o modelo do Big Bang, a teoria moderna da criação do mundo.
Ela explica que toda matéria estava comprimida num único átomo.
Daí uma massa densa começou a se expandir violentamente numa
grande explosão, dando início ao tempo, tudo que existe no
universo[...], a lua , as estrelas, os planetas , as plantas , os animais
e até mesmo o ser humano, o aluno que escreve e a professora que
vai corrigir o memorial de formação, em significado de que somos
feitos de matéria liberada desse estrondo.(GLEISER,1997)

É intencional a divisão desse trabalho em três partes, expandindo o tema


geral em TEORIAS E PRÁTICAS NO SISTEMA SOLAR , nesse desenvolvimento, a
parte um, fragmenta-se em AS ORIGENS, são colocações da vida pessoal do autor
desmembrando desde o nascimento no sistema solar, passando à infância no
planeta terra, o atraso por trás da consciência ingênua, alcançando a maturidade na
busca da ação e reação. Na parte dois, OS DESVIOS INTERGALÁTICOS , Tratam-
se dos motivos e justificativas da paralisação nos estudos por um extenso período
de tempo, por fim as considerações finais determinando as perspectivas em torno da
relatividade à anos luz, diz respeito a retomada dos estudos no tempo presente,
cujo prazo é subdivido em incertezas mediante aos movimentos de rotação e
translação da terra, pois estão neles o referencial que marcam e designam a
condição e saúde mental no tempo e no espaço, suprindo o futuro que está por vir.

Figura 1 – Mundo da lua - gravura Maurício Nascimento.

Fonte: site domínio público3, 2023

3 www.dominiopublico.gov.br

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TEORIAS E PRÁTICAS NO SISTEMA SOLAR.

AS ORIGENS.

O NASCIMENTO NO SISTEMA SOLAR.

A origem de Marcos Antônio Pereira de Moura, considerando de macro para


micro universo, no que forma ou concretiza sua matéria e localização nesse espaço,
se apresenta da seguinte maneira: Via Láctea, Sistema solar, Planeta Terra,
Continente Americano, América do Sul, Brasil, Região Sudeste, Minas Gerais, Belo
Horizonte, Região Leste, Bairro Horto, Rua Pouso Alegre, extinta maternidade Santa
Fé. Já no que tange ao tempo , o primeiro fôlego foi no ano de 1978, mês de
fevereiro, semana pós carnaval, madrugada de sábado dia 11, exata e precisa, uma
hora e trinta e cinco minutos, num parto de cesariana.

Segundo MLODINOW(2015): [...] No ano de 1978 em termos de ciência ,


recebiam o prêmio Nobel de Física: Arno Penzias e Robert Woodrow Wilson, pela
confirmação da descoberta da radiação cósmica de fundo em micro-ondas, cujos
experimentos trouxeram as evidências para o modelo cosmológico padrão[...], uma
experiência que concretizava a frequência do som da grande explosão, legitimando
a teoria do Big Bang, mais uma peça do quebra cabeça de nossa origem.

De acordo com GLEISER(1997):[...] Georges Lemaître especulava que no


início o universo não passava de um grande núcleo , ou átomo primordial, era a
condição de seu modelo cosmológico, mas sem os esforços científicos que
trouxessem a luz de um fundamento. Quem de fato elaborou a teoria do Big Bang foi
o cientista Georges Gamow, e o cálculo ficou incumbido ao físico Ralph Alpher, com
seus assistentes[...] , não sendo citados pelos premiados do Nobel de 1978
referenciados acima , com isso a ciência trata-se da importância de seguir seus
métodos , criar somente a teoria e não realizar experimentos para fundamenta-las se
tornam trabalho incompleto.

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A INFÂNCIA NA TERRA.

Na fase do cuidado pós nascimento é que se configuram os vínculos com a


ancestralidade ( pais, avós, avôs maternos, paternos e tios) no caso fui agraciado
em conviver um bom período com todos eles. A primeira infância foi permanente em
termos de local , periferia de Belo Horizonte, numa ocupação intitulada Vila Brasília,
região nordeste, sem saneamento básico, água retirada de poço e levada pela
cabeça de minha mãe que pensava 4, sem eletricidade, ruas não pavimentadas,
transporte coletivo precário, uma educação encontrada " (...)na ruína de uma escola
em construção(…)"5, muito mato e ao lado de um lixão que não era nada espacial.
Família de estudos inconclusos e insuficientes, a genealogia dos sem formação,
mas com um lema matemático do avô materno6 que se perfaz até a geração atual:
" Para quem não tem nada a metade é o dobro."

A HERANÇA DA CONSCIÊNCIA INGÊNUA E A LUA COMO LEGADO.

A década de 1980, me permitiu dar os primeiros passos no universo, não


tinha noção da clássica frase de 1969 "That's one small step for man, one giant leap
for mankind.7. Meu salto não foi tão grande assim, mas permitiu alcançar a Escola
Estadual José de Alencar. Num processo de alfabetização tendencioso, cumprindo
os termos da política educacional.

É nesse período que referencio aqui a lua como legado, pois a única
vantagem de se morar ao lado de um lixão, seria encontrar livros velhos de assuntos

4 Pensar para sobrevivência, pois existia os perigos invisíveis, advindas das doenças que tanto
interferia nas questões de cuidado quanto insegurança de que atitude tomar em situações extremas,
pois as políticas públicas de saúde eram precárias.

5 Menção a música Fora da ordem , faixa 1, do LP de mesmo título, do cantor e compositor


Caetano Veloso .

6 O Avô na década de 1930 , no interior leste das Minas Gerais, tinha o ofício de Almocreve, a
pessoa que cuidava da tropa de burros, para transportes em geral de uma cidade a outra. O modo de
vida do Brasil colônia em pleno século XX.

7 Frase do astronauta Neil Armstrong ao se tratar da chegada do homem na lua através da


missão Apollo 11, que levou o homem a lua.”Esse é um pequeno passo para o homem, um grande
salto para a humanidade. "

7
variados e para uma criança no começo de sua alfabetização, qualquer literatura,
principalmente os que retratavam o espaço era algo encantador, o almanaque abril
de 1978 sem capa, mas completo e muitas figuras ampliavam os conceitos da lua,
se tornando o primeiro passo para imaginação, junto dele apresentava outros
assuntos como o nascimento da ciência que minha mãe realizava a leitura mesmo
sem entender, antes de dormir, nesse sentido a ênfase na ciência sobressaia ao
monoteísmo e ao politeísmo se destacando os gregos:

“Desde então os gregos foram os primeiros a entenderem a ajuda do


universo sem interferência ou ajuda da religião. Aristóteles , propôs
um modelo de um mundo simétrico e perfeito, 340 anos antes de
cristo ele propôs que a terra estava no centro do universo, em órbita
circular, em volta dela estava a lua, mercúrio, vênus, sol, marte júpiter
, saturno e finalmente a órbita das estrelas. isso tudo para Aristóteles
era formado por uma substância misteriosa que ele chamou de éter
ou quinta essência. Da lua para baixo era a formação dos 4
elementos: terra, agua, ar e fogo. Poderia então existir
transformações entre eles”.(MLODINOW, 2015, P.286).

A alfabetização, foi longa, pois não frequentei o jardim da infância, do período


dos anos de 85, 86 foram os 2 anos para adaptar a primeira série, o trajeto de
dispersão, devido ao contato direto com o meio de dejetos do ambiente em que
vivia, mais ficava doente e internado no hospital e em casa devido a: Hepatite,
caxumba, sarampo, gripes, pneumonias, bronquites, anemias e muitos vermes,
como áscaris lumbricoides, amebas e Schistosoma mansoni, justamente na
iniciação das letras. Depois de longas pausas, o período de 87, 88 e 89, foi a
sequência da segunda, terceira e quarta série, sempre fui um aluno mediano, mas
encontrei na disciplina de ciências o que mais me interessava, não pelas médias no
histórico, mas pelo grau de incompreensão e entendimento daquele próprio
universo.

Meu avô paterno, me explicava a gravidade de uma maneira muito simples e


bem ingênua, segundo ele tudo que sobe tem que descer, mas foi assim que
comecei talvez a questionar certos paradigmas que até hoje reflito de forma a
conhecer a ciência de maneira espontânea e numa consciência sem compromisso
com mundo, mas atualmente vejo que essa atividade de questionar e descobrir vai
além de uma teoria , é preciso sim realizar experimentos e meu avô sem muito

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entender, seguia o modelo geocêntrico de Aristóteles e eu o heliocentrismo de
Nicolau Copérnico.

De acordo com GLEISER(2001):[...] Aristóteles explicando a gravidade seria


que uma pedra que cai do céu para terra é porque o seu lugar e no chão. concluiu
que quanto mais pesado é um objeto mais rápido cai ao solo. Essa conclusão
errada da gravidade prevaleceu por volta de 1800 anos, até a renascença , quando
Galileu Galilei realizou seus experimentos na torre de Pisa.[...] Essa consciência
sem experimentalismos era aprovada pela igreja que não permitia expandir o
pensamento humano, só o divino.

Na visão do heliocentrismo em sua raiz, os grandes cientistas, se não tivessem


seus estudos interrompidos por questões religiosas, em que Paulo Freire explana
como consciência fanática8, economizaria mais de 200 anos de avanço na
perspectiva do próprio saber científico:

O polonês Nicolau Copérnico, questionava o modelo de universo


proposto por Aristóteles, a teoria dizia que não era a terra que girava
em torno do sol e sim o contrário. Morreu em 1543, deixando como
legado o seu questionamento. O monge Giordano Bruno , morreu
queimado em 1600 por defender as ideias de Copérnico. Galilei
Galilei, não ficou somente no experimentalismo da queda livre, ele
intrigado com instrumento de potencial militar, apontou a luneta e não
telescópio, conforme a professora Magda Guadalupe dos Santos 9
apontando para o espaço observou o céu, o que viu foi um cosmo
diferente de Aristóteles, mas a questão é que ele teve que ficar o
resto da vida em prisão domiciliar, abjurou, desprezando todas suas
ideias para sobreviver. Entretanto diante de seu método científico foi
rapidamente difundido na Europa, mudando os rumos das ciências.
(DYSON,1998).

8 FREIRE,P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967 .

9 Magda Guadalupe dos Santos. Professora doutora da PUC Minas e da FaE. UEMG.
Pesquisadora de Filosofia e Teorias Feministas.

9
ALCANÇANDO A MATURIDADE, EM DIREÇÃO A AÇÃO E REAÇÃO.

Na década de 90 a novidade científica era a multidisciplinaridade, couberam


em colocar cada disciplina em sua caixinha. O cenário da vila Brasília, foi
progredindo para Bairro Goiânia, mudou muito nesse período, a chegada do asfalto,
agua encanada, iluminação pública, posto de saúde, o problema é que não atendia a
todos. Em relação a escola, como não existia vagas suficientes para matrícula no
ensino fundamental, a alternativa era procurar o colégio mais próximo, sem
resultados, até chegar nos bairros distantes, nisso os recursos para transportes
eram insuficientes, por isso ganhei desde os 12 anos o belo hábito de acordar 5
horas da manhã, preparar tudo e caminhar cerca de 1 hora, para chegar na Escola
Estadual Presidente Dutra, no Horto Florestal. O problema estavam nas distrações
da avenida movimentada, o que implica em atrasos frequentes e tais infrações me
fizeram repetir a quinta série, 3 vezes, pois chegava em casa tarde, pegava uma
caixa de isopor com picolés, no intuito de garantir uma ajuda para família, idas e
vindas nós arredores de postos de gasolina na BR 262.

Em 1992 Comecei por interesse próprio, frequentar o museu de história natural


da UFMG, chamado de Pipiripau no Horto Florestal, principalmente exposições
sobre o assunto de astronomia, com ajuda do professor de ciências, Diogenes,
consegui um exemplar do livro “A harmonia do mundo” , depois da leitura de Kepler,
circulava nas exposições do observatório. O acesso era restrito, mas acompanhava
a história natural. Ao entender o heliocentrismo, as notas melhoraram, os cálculos
matemáticos foram tomando sentido e aí sim consegui sair de uma sequência de
repetições da quinta série e o mais impressionante é que não tinha um sentimento
de dependência com saber, conseguia pensar e imaginar o que estava nos livros, a
escola com suas insuficiências socioeconómicas, só me aproximava para uma
realidade voltada no trabalho, tendo que repensar o que realmente tinha de fazer
para obter dinheiro na manutenção e ajuda na pressão dos que estavam em minha
volta, num modelo orbital em que se transfigurava no balé dos planetas:

Johannes Kepler, necessitava de dados precisos, pois acreditava que


o modelo de Copérnico e Galileu, estavam certos, Tyco Bhrahe, era o
astrônomo que calculou os dados com melhor qualidade, das

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distâncias dos planetas, mas defendia o modelo geocêntrico de
Aristóteles. Entretanto, num determinado período cede a Kepler as
informações que denominavam as distâncias dos planetas, esse
estabelece não só a ordenação dos planetas estando o sol no centro,
como também descobre que as orbitas eram elípticas, surgindo uma
nova astronomia. (GLEISER,1997).

Mesmo sem incentivo algum da instituição de ensino ou da família, encontrei a


necessidade de me apegar a um novo pensamento. Em 1997 Observava do alto do
morro Santa Inês a inauguração da linha do metrô, na estação José Candido da
Silveira, o funcionamento do vagão me instigava sobre a primeira lei de Newton –
Lei da inércia, um corpo em repouso permanece em repouso e um corpo em
movimento move-se em linha reta com velocidade constante, era um estudo de Sir
Isaac Newton na prática, através da professora Beatriz Alvarenga 10 . Segundo
Newton tudo no universo era uma questão de ação e reação de forças e para isso
inventou o cálculo diferencial e integral, no sentido designar a gravidade que faz os
planetas girarem em torno do sol, a lei da gravitação universal. Nesse entendimento
minha lei gravitava mais fora da sala de aula do que na universalidade do ensino na
disciplina de educação para o lar.

A partir de Newton 11 as ciências cresceram a passos rápidos e os meus em


ritmo lento e sem compromisso com a escola, os conteúdos passados ali estavam
desconexos, os materiais didáticos não possuíam uma leitura determinada e nessa
altura por conta do serviço militar obrigatório, passei para o período no ensino
noturno, desconectando e chegando ao desencanto científico e seguindo a cartilha
do primeiro ano do segundo grau e do estilo de vida como recruta. No intuito de
compensar as reprovações, encontrei no ensino supletivo a solução, os livros eram
em volume único, os estudos dirigidos e a consciência que era ingênua passou a se
tornar mágica ( conforme os termos usados na obra de Paulo Freire em “educação
como prática de liberdade.”).

10 ALVARENGA, Beatriz, MÁXIMO, Antonio. Curso de Física Volume 2. São Paulo


Ed.Scipione, 1978.

11 “Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes.”

11
OS DESVIOS INTERGALÁTICOS.

A instrução militar me apresentava caminhos de preparação para uma guerra,


mas nesse confronto nunca alcancei. Hoje na perspectiva platônica da república,
percebo que não existe um exército de um homem só. Seguindo a hierarquia militar
alcancei o posto até Cabo armeiro, montava e desmontava armas e munições, até
que modéstia parte me consideravam um exímio atirador, porém foram estudos e
práticas que não me levaram a lugar nenhum. A identidade coletiva estampada
sobre nosso batalhão, me aproximava cada vez mais do conflito interior. Assim como
entrei, sai, completamente anônimo.

Em 2000, com auxílio de livros e um curso de informática básica do SENAC ,


hardwares e softwares se tornavam cada vez mais obsoletos, a partir dali, montei
sozinho meu primeiro computador, passei na prova do IBGE, fui agente censitário no
senso 2000 (temporário), o que me permitiu Iniciar na era da informática, hoje com
avanço significativo das industrias de tecnologia, tenho ojeriza a máquinas
obsoletas, ou até mesmo a última novidade lançada pelos grandes CEO'S. O
computador me trouxe o ensino fora da escola. Sem ideário de emprego no cenário
pós governo PFL , realizei a prova de concomitância externa no CEFET-MG , curso
técnico mecânica, estudava sério, calculávamos a resistência dos materiais,
trabalhávamos desenhos técnicos, soldas, retífica de motores, Metalografia,
consegui a colocação de estágio na coca-cola, área de máquinas térmicas, foram
dois anos imersos na teoria marxista, sem conhecê-la. Não era permitido
acompanhar a rotação da terra. Sair às 5 da manhã e chegar na madrugada, me
restava menos de cinco horas, e nelas eu dormia. Nesse ritmo não me formei como
técnico e nem como operário.

Aulas expositivas era uma verdadeira perda de tempo. A única característica


positiva estava na socialização, até que me indicaram fazer um cursinho, mas como
sempre ajudei em casa, não entrava na minha cabeça a reprodução ou leitura na
frente de um quadro verde de giz da época, as mesmas coisas que já estão
impressas num livro.

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Começar e recomeçar, sempre foi para mim um ato de rotina, realizando alguns
trabalhos freelancer em casa, utilizando a informática a meu favor, nesse período,
para entender o meio acadêmico, em contato com os editais da UFMG para
disciplinas isoladas, resolvi matricular, nas sequenciais de cálculos, em cálculo um ,
entendi a dinâmica da instituição, em dois semestres o contato descomprometido,
pois não era um aluno regular, me fazia refletir a atividade acadêmica e suas falhas,
mas isso ficava só comigo.

Passei a frequentar as aulas de filosofia esporadicamente, para não chamar a


atenção do professor nas chamadas, principalmente nos cursos Stricto senso,
intrigante era que os alunos de mestrado e doutorado só prestavam atenção em si
mesmos. Fui, burlando o sistema até onde pude. Se o professor me questionava na
chamada, dizia que estava resolvendo problemas na secretária, como existia a
tendência do protagonismo, não realizava trabalhos em grupos, e quando chegava
na metade do semestre continuava a fazer as disciplinas isoladas e a melhor
solução com os que estavam ao meu lado era o silêncio, assim frequentei a UFMG
por um ano, não sendo aluno efetivo. Entretanto nunca prejudiquei os professores e
colegas, por isso e que ninguém me questionou com rigor de infração, na eminência
da possiblidade de descobrirem alguma coisa, eu simplesmente faltava algumas
aulas.

Nesse período consegui trabalhar no laboratório do DCC, por alguns meses,


mas sempre na informalidade, como auxiliar de informática, a demanda era grande
através de contatos fui efetivado no departamento de tecnologia da informação do
Centro Universitário de Belo Horizonte, no período de 6 anos, o que consistia
acompanhar os alunos nos laboratórios de ciência da computação, arquitetura,
jornalismo, publicidade e propaganda (ilhas de edição e fotografia), engenharias,
gastronomia(alimentos & bebidas), administração, ciências humanas(história,
direito),geografia, turismo, química, física. Cada laboratório, tinha seu potencial do
saber, nas aulas e projetos e o melhor de tudo sem ter compromisso institucional.

Ficava o dia todo nesses laboratórios, o contato com professores doutores,


mestres, alunos e a própria tecnologia, me fazem hoje repensar a diversidade, O

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público de um laboratório de informática é muito vasto, o perfil é variado, ali
conhecia e tinha tratamento de respeito com pessoas de condições diferentes e
objetivos diversificados como: garotas de programa, lésbicas, gays, ricos, pobres,
doentes, enrustidos, alienígenas, dependentes químicos, retardados, traficantes,
ladrões, comediantes, inteligentes, halterofilistas, Nerds, os que viviam ainda na
idade média, os que estavam na jornada das estrelas, as mocinhas feministas,
veganos, carnívoros, os babacas, playboys, cineastas, artistas e etc... Durante esse
tempo nunca houve reclamação, a minha parte sempre tratava de igual para igual,
talvez a tecnologia permita isso, ou seria a minha leitura da teoria da relatividade de
Einstein:

Newton explicou a gravidade, agindo à distância, mas Albert Einstein


foi que reinventou o conceito, sendo sua grande obra a teoria da
relatividade, uma nova maneira de pensar o tempo , o espaço e a
gravidade. Para ele a gravidade é o resultado da curvatura do
espaço, provocada pela massa dos corpos. Foi em novembro de
1919, astrônomos observaram e registraram o eclipse total do sol na
cidade de Sobral no Ceará, essa data determinou definitivamente a
prova que uma estrela aparecia na posição diferente de origem ou
seja, o espaço se curvava na presença de um objeto com massa, no
caso o sol. Contudo Einstein não queria parar naquele ponto, seu
outro passo era calcular o tamanho do universo, para isso, se
soubesse a massa total conseguiria resolver a equação, porém,
alcançar tal feito, o universo tinha que permanecer estático.
(MLODINOW,2015).

Parado estava eu no espaço meu objetivo era tão inerte quanto o cálculo do
tamanho do universo de Einstein. As únicas preocupações eram, me manter e ajudar
em casa, ao ser questionado numa seleção , qual o seu maior defeito? Sem sombra
de dúvidas a resposta seria: fazer o dinheiro render, as questões sociais relativo a
família nunca permitiu excedentes para investimentos, por mais que tenha estudado
matemática financeira, nunca apreciei a maneira de viver de um workaholik (viciado
em trabalho), citado na obra de Max Webber, “A ética protestante e o espírito do
capitalismo”, em que a religião impulsiona o individuo a girar e aumentar o capital. Já
na perspectiva de Karl Max, tenho a certeza que estou numa infinda mais valia.

O erro de Einstein, abriu caminho para a grande descoberta, o


universo está em expansão e não estático, essa grande revelação,
vêm de um observatório do norte de Los Angeles, EUA. O astrônomo
Edwin Hubble, com seu telescópio maior do mundo até 1948, de
ampla tecnologia, descobriu que existem várias galáxias, conjunto de

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estrelas muito distantes, provando que as estrelas estavam se
afastando da terra e nesse movimento o universo estava esfriando,
provando que o universo não poderia estar parado, nesse sentido se
afasta. Algum dia no passado esse emaranhado de poeira já foi
denso, quente e compacto.(GLEISER,1997).

Nesse período a leitura de HAWKING(1989): “O estado estacionário assumia


que a expansão era contínua e infinita, com nova matéria sendo constantemente
criada”, quando tudo parecia estar bem, recebo uma ligação do interior de um
buraco negro, um chamado de urgência para atender minha avó que não estava
nada bem. Assim interrompi minhas atividades, minhas leituras e curiosidades, em
prol do respeito e afetividade que tinha da minha ancestral. Chegando a mais de 500
quilômetros de BH, percebi que não era uma situação de fácil resolução, tive que
traze-la, para o centro urbano e não existia quem o fizesse, ou cuidasse dela, sendo
que até os asilos hoje, para quem não possui recursos é tido como última opção,
quando não se tem família. A senhora que tinha 96 anos, com Alzheimer, me fez
entender o que é a perspectiva humana, extirpando qualquer ideia de preconceitos e
teorias referente a expansão da mente e do universo.

O interesse dessa década era outro, cursos de capacitação no SENAC MG:


cuidador de idosos, nisso tive que realizar o processo de curatela através da
defensoria pública de Minas Gerais, pois meus tios estavam mais doentes que ela.
Curso de Garçom: fui trabalhar como operacional aos sábados e domingos nos
restaurantes de Lourdes, cidade jardim e savassi, o ato de participar da festa sem
ser convidado ou anfitrião é que conduzia minha saúde mental. Muitos me
perguntavam: por apresentar experiência em informática por que estava na área
operacional? a resposta estava na transição tecnológica e nas certificações que não
possuía, o smartphone veio para substituir vários laboratórios, esse texto por
exemplo está sendo todo digitado num aplicativo android no smartphone. Logo a
perspectiva se volta para algo mais concreto e imediato, estava adentrando cada dia
mais na leitura errônea dos existencialistas, corrente filosófica do século XIX, em
pleno século XXI, Soren Kierkegaard, Heidegger e Sârtre, “O ser que possui toda a
responsabilidade por meio de suas ações”.

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O Alzheimer perpetuou na pandemia, os restaurantes fecharam e chegou a pós
pandemia, daí já tinham passados mais de 10 anos, cuidando, trocando fraldas,
transitando em consultas, preparando alimentação, sondas, lutas na justiça para
garantir um salário mínimo para manutenção d’ela. Deveria existir uma BNCC só
para idosos, em que o cuidar e brincar seria a primazia no final da vida.

Na década de 2020, se concretiza o fim da existência, ela alcança a poeira das


estrelas, aos 108 anos, em mim a experiência que a morte faz parte da vida,
detalhe que ao menos nessa missão intergaláctica foi cumprida.

Meses depois, volto a alguns livros, me inscrevo para o Enem e assim tenho
uma nova perspectiva em querer estudar novamente. Encontrei na Ciência da
Pedagogia um caminho, a sociedade repleta de preconceitos, pois ao me debater
em uma sala de 98% de mulheres, conduzo-me com todo respeito, não entendendo
muitas coisas, pois estou a continuar sendo um aluno mediano e com mais um
desafio novamente no Alzheimer só que agora com meu pai. A relatividade se
projeta, sendo admirada, as plataformas e canais como: Spacex, Blue Origin, o
acompanhamento das sondas estelares, os chineses no espaço, os Russos não
mais, tudo isso permite querer descobrir as origens e a existência, e mais que isso,
compartilha-las.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Enfim, esse árduo trabalho, teve como objetivo formalizar na estrutura de


memorial de formação, as experiências escolares, sua condução extensa, conforme
as tendências pedagógicas, interesses, desinteresses, falhas e lacunas do aluno e
talvez das instituições; Construídas por uma educação sazonal, esporádica e sem
tamanho compromisso, pois devido as circunstâncias, não teve pretensão num
estudo regular, minha maior dificuldade na universidade é cumprir a emaranhada
grade de disciplinas. De certo modo aos poucos vou, procurando me adaptar, a esse
universo e modo de vida filosófico e tradicional, o ensino que procura me elevar ao

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grau que possui duas faces, tendo que optar ao mercado ou a pesquisa.

Entendo que a conciliação de tantas leituras conexas e algumas desconexas


com fatores externos prejudicam o processo na educação. Cheguei a pensar que
não daría conta e até mesmo em desistir novamente. Devido aos vícios de leituras e
interpretações adquiridos no decorrer do tempo e ainda existe o preconceito da
sociedade. Até o momento realizo uma troca justa entre os professores e colegas, o
que me faz retomar ao menos supor um dia a circunstância de talvez alcançar a
iniciação científica, sei que a vereda é longa e muito tenho a percorrer, quem saiba
esse relato um dia possa servir para refletir e questionar outros caminhos que
envolvam a ciência mesmo que seja no intuito a compartilhar com as novas mentes.

O mercado de trabalho, é outro aspecto a ser condicionado no decorrer dos


períodos seguintes, em termos do preconceito, que dificulta a concretização dos
estágios. A experiência com trabalho de monitor na disciplina Estudos Filosóficos
com o professor Daniel Cardoso, me trouxeram a reflexão do que posso contribuir
realmente no contexto acadêmico.

Nesse sentido o que espero no presente, é melhorar minha leitura, aperfeiçoar


a escrita e nisso realizar mais trabalhos com ênfase e propriedade, retomando aos
poucos o interesse pela ciência, cujo o total objetivo é poder algum dia compartilhar
e contagiar as mentes avidas do amanhã, o questionamento do universo, gerando
um significante e significado cada vez mais pautado na curiosidade, fazendo
alcançar de longe a poeira das estrelas, agora com maior precisão, refazendo e
estudando teorias e experimentos, na perspectiva ampla, questionadora e
tecnológica nos espelhos do telescópio espacial James Webb.

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REFERÊNCIAS

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HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. São Paulo: Círculo do Livro,
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MLODINOW, Leonard; CARINA, Claudio. De primatas a astronautas: a jornada do


homem em busca do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. 391 p. ISBN
9788537814673 (broch.).

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS. Pró-Reitoria de


Graduação. Sistema Integrado de Bibliotecas. Orientações para elaboração de
trabalhos científicos: projeto de pesquisa, teses, dissertações, monografias, relatório
entre outros trabalhos acadêmicos, conforme a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). 3. ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2019. Disponível em:
www.pucminas.br/biblioteca. Acesso em: 29 de Junho de 2023.

SAGAN, Carl. Cosmos. 5a ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1980 xvi, 364p. ((Coleção
Astronomia))

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