Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Abstract:
Starting with a reflection about the concept of description, portrayal and photography
and on the ekphrastic process so as to justify the assertions herein comprised, this
analysis focuses on characterizing Emilie as seen by her son Hakim and on how the
ekphrasis is built as such from the reading and the resulting interpretation. Some
features concerning Emilie’s view on Hakim and what he represents to her. The
reflection on the photos she sends Hakim and the descriptive portrayal he supplies helps
to build a definition on Emilie’s shattered personality. These assertions only become
possible by means of the various clues this narrative offers – they unveil the secret of
Hakim’s having been loved as image, spectre and also as bridge to an absent and forever
lost past through a process in which the ekphrasis takes over other imagistic tools.
.
Key-words: ekphrasis, Emilie, Hakim, Milton Hatoum, portrait, photograph, spectre
O propósito desta reflexão tem como objectivo caracterizar Emilie e a sua
relação com o filho predilecto, e através do olhar de Hakim e do processo ecfrástico
resultante das suas leituras das fotografias que a mãe lhe envia e da comunicação que
mantém com esta ao longo de mais de duas décadas, definir a real ligação desta mãe ao
filho. Importante e indissociável desta narrativa a 5 vozes, é o processo mental de
Emilie, na forma como vê o filho introduzindo a ideia de filho como imagem que evoca
outra imagem: a do irmão falecido. Num jogo de ecos de eventos e reflexos que se
cruzam entre capítulos este texto acaba por colocar a myse en abyme ao serviço da
écfrase, sendo o processo de interpretação da mise en abyme em si mesmo uma forma
de interpretação e reverberação ecfrástica.
“[...] uma cena rompeu o torpor do meio-dia. O homem surgiu não sei de onde.
Tinha a aparência de um fauno. Era algo tão estranho naquele mar de mormaço que
decidi dar alguns passos em sua direção. Nos braços esticados horizontalmente, no
pescoço e no tórax enroscava-se uma jibóia; em cada ombro, uma arara, e no resto do
corpo, atazanados com a presença da cobra, pululavam cachos de saguis atados por
cordas enlaçadas nos punhos, nos tornozelos e no pescoço do homem.” (Hatoum,
1991:125-6).
Deste episódio resulta uma associação das câmaras fotográficas a ciclopes que
ilustra o seu estado de entidade fragmentada e também serve de pista de decifração
desta narrativa de Milton Hatoum como fotográfica. O Ciclope que Ulisses enganou,
durante o seu périplo de 10 anos pelo Mediterrâneo, pergunta-lhe como se chama.
Ulisses responde: “Ninguém”. E como esta personagem, tal como Ulisses se encontra
em construção, esta narradora fragmentada, tem como tarefa um percurso de recolha de
testemunhos de Hakim e outros narradores acerca de Emilie para se definir através de
uma viagem que começou em 1954, no território da sua infância, mas que investiga o
tempo que Emilie viveu, anterior a ela e também o que aconteceu durante a sua
ausência. a sua viagem é a recuperação do passado de Emilie, como se para se encontrar
tivesse de redescobri-la ou espelhar-se na matriarca.
“Voltar à casa de Emilie é tocar “a esfera da infância” (Hatoum, 1991: 217),
ressuscitar pedaços de um paraíso perdido e revitalizar-se com o magnetismo de uma
mulher que constitui a força unificante de uma família de seres em trânsito entre dois
espaços geograficamente e culturalmente distintos: o Oriente do Líbano distante e o
Ocidente do Brasil, vivido no norte do Amazonas.” (Martins,2018:72)
Este processo, embora abarque todo o texto, acaba por desviar a atenção para o
filho de Emilie, Hakim. O texto fornece-nos pistas de compreensão da relação entre
Emilie e o filho biológico Hakim.
A análise ecfrástica das várias narrações e descrição fotográfica e imagética
entre o primeiro narrador anónimo, no feminino, e o segundo narrador, filho da
matriarca Emilie, é motivo central de uma viagem de análise que se inicia com um
regresso e remete, para a temática das viagens de regresso às origens em alguma
literatura:
“Não mordi a isca da inovação formal que significa apenas um exercício de estilo. Na
verdade, muita coisa do que se diz inovador é algo que já foi feito. Por exemplo, afirmar
que um texto não linear é inovador é uma piada. A Ilíada não é linear, nenhum romance
de Balzac caminha em linha reta. [...] Quando escrevo, olho para a nossa tradição e para
alguns livros que conheço das literaturas do Ocidente e do Oriente. Vejo a tradição
como um patrimônio da humanidade.” (Hatoum (2006) apud Barreiro,Pires & Pires,
Simões:143)
“Foi necessário esperar pelo dealbar do século XVIII e, de uma forma sistemática, pelo século XIX,
para que o termo fosse associado à descrição de obras de arte, sobretudo no que respeita ao mundo
bizantino. Já nos anos 50 do século XX, Léo Spitzer importou o vocábulo para a literatura comparada,
desvinculando-o da antiga aceção restrita do campo da literatura e da arte antiga. A sua definição
de ekphrasis é clara: «the poetic description of a pictorial or sculptural work of art». A partir
desta data, a atenção dos críticos voltou-se para este exercício de retórica e, ao mesmo tempo,
figura de pensamento; mas foi na década de 90 que o termo ocupou um lugar proeminente no
universo dos estudos literários.” (Tarujo,2018:120-121)
O livro, tal como qualquer obra de arte, é construído como «objecto visível»,
transformando-se em «imagem» mental que por sua vez provoca múltiplas leituras e
evocações no último interlocutor da missiva imagética: o leitor.
“[...]e considerando um objeto descrito real, assiste-se a uma dupla intertextualidade: a que
une o texto escrito a outros e a que o aproxima do seu referente visual. É evidente que esta
situação exige do leitor uma atenção redobrada para que a possa compreender corretamente.
Associado a esta situação considerada dupla, não se pode descurar o efeito que a obra
provoca no recetor. Neste sentido, a ekphrasis terá de ser vista a um nível mais profundo
que a afasta da simples descrição referencial. O fito do poeta não é apenas acumular no seu
poema uma série de informações; pelo contrário, pretende desencadear sensações no
recetor.” (Tarujo,2018:123)
Num mundo e numa época em que o diálogo entre artes se miscigena e a obra é
produto de múltiplas influências, múltiplas «consciências» conceptuais, a sua produção
jamais se desvincula do seu propósito comunicativo, e a sua concretização expõe-na,
tornando-a objecto-imagem, quando esta nos seus fundamentos, na sua génese é já
construída e concebida como tal. Neste processo dialogante, em que tanto leitor – o que
possui o objecto-livro – como o interlocutor no universo textual – lêem e compreendem
o que se está a passar narrativamente com base na sucessão de imagens que resultam da
leitura. Fora da moldura exterior do livro encontra-se uma camada que se sobrepõe ao
conjunto narrativo-ficcional. É o processo de interpretação derivante da sobreposição de
leituras pelo destinatário final que é o leitor. Nenhum texto se escreve mudamente.
Existe para ser visto e esta imensa imagem fragmentada em numerosas partes exige do
leitor a descrição final: enveredar por um processo de revelação, produzindo
entendimento.
“É uma evidência a relação da palavra escrita com o mundo das imagens. Esta aproximação, nem
sempre amigável, perdura desde a Antiguidade. A figura de Horácio é, por isso, incontornável quando
surgem trabalhos consistentes acerca da origem da teoria das relações entre as artes. A sua obra
intitulada Epístola aos Pisões, considerada uma autêntica ars poetica por Quintiliano (inst. or., VIII, 3),
dá realce à correspondência entre a poesia e a pintura.” (Tarujo,0000:124)
Para chegar a Emilie e fazer uma incursão na sua mente considera-se a possibilidade de
transformar Hakim, seu primogénito, em imagem e a partir daí interpretar o que este representa
para a matriarca, partindo de uma questão colocada por Tarujo (2018):
“Que tipo de objetos artísticos poderão ser matéria da ekphrasis? Apenas os que são
representativos de uma realidade ou qualquer outro, como uma ponte, uma coluna, ou
até uma pintura abstrata? Poderemos considerar a descrição de um objeto que pertence
ao mundo natural como ekphrasis?” (Tarujo,2018:121))
“[...] cabe aqui referir que a ekphrasis, pelo menos como a entendemos hoje, não tem de se
referir obrigatoriamente a um objeto artístico real. Não será necessário pesquisar muito para
chegar à conclusão de que o famoso escudo de Aquiles é fruto da fantasia fértil de Homero,
sendo o termo «fantasia» tido no seu sentido etimológico grego (visio em latim).”
(Tarujo,2018:123)
Sobretudo quando esse observador, neste caso Emilie, se caracteriza por atribuir
significados a objectos ou seres em seu redor e se serve da sua capacidade de criar
cenários a que se associa, por exemplo, no caso da tartaruga Tálua, mimetizando-se com
esta. Sálua, tão longeva quanto Emilie, que foi apropriada pelo seu olhar, provavelmente
desde que a neta Soraya Ângela desenhou na sua carapaça o seu nome
(Hatoum,1991:17), e é entendida como duplo de Emilie. É a própria Emilie que se
funde com a tartaruga, como representação de si:
“Uma manhã encontrei-a sentada perto do tanque, esfregando com palha de aço a carapuça
de Sálua e tapando com cera de abelha as fissuras e buracos provocados pelas colisões com
outros animais e pelas brincadeiras perversas de filhos, netos e enteados; depois ela lustrou
o casco com uma flanela embebida em resina de madeira e largou o quelónio na prainha de
areia que terminava no tanque habitado por dezenas de filhotes. Sem olhar para mim,
exclamou: “Sálua é meu espelho vivo.” (Hatoum,1991:200)
“[...] o sujeito, que outrora possuía uma identidade unificada e estanque, passa por um
processo de fragmentação, constituído por várias identidades às vezes contraditórias e não
resolvidas. As identidades configuram diferentes direcções, implicando que as
identificações estejam em constante deslocamento.” (Martins,2018:71)
A maior parte da narração de Hakim não omite factos ocorridos: mas estes não
são «julgados» pela emissão de juízo de valor em relação a Emilie, mas a
«visualização» final, pelo receptor final, permite, como numa fotografia, ou numa janela
que se abre, ver efectivamente e ajuizar, e finalmente concluir. Sem que o narrador
Hakim defina uma leitura posterior à sua própria leitura, esta é fornecida à narradora
anónima como testemunho, para que esta possa recuperar tanto os anos em que esteve
ausente, como a vida de Emilie antes de esta a ter adoptado, e assim, fornecer toda a sua
recolha, feita de várias maneiras ao irmão biológico que reside em Espanha.
Neste caso, todo o processo narrativo em Relato de um Certo Oriente, apela à
perspicácia mental e visual do leitor: em Hakim o nomear se transforma num acto
reflectido, calculado e não inocente, assim como o contrário: narrar, sem dizer, um
processo que pode ocultar definições e juízos de valor, conscientes ou não, jamais
pronunciados “textualmente”.
“Segundo Virgínia Woolf, um escritor sempre se questionará sobre a melhor forma de fazer
transportar o Sol para a sua página, ou como conseguir que o leitor veja a Lua enquanto ela
se eleva no horizonte, apenas com recurso a uma ou duas palavras, conseguindo um efeito
máximo, mas com recursos mínimos.” (Tarujo,2018:119)
No Livro de Ester, texto bíblico, que data do tempo em que a palavra era de
ouro, sólida e efectiva e materializante, ir apenas ver o rei, sem nada pedir em troca,
significou apropriação imediata pelo olhar e gesto estratégico. A protagonista desta
narração, no meio de várias que foram chamadas pelo rei, que banira a primeira
mulher,Vasti, por desobediência, não podendo valer-se apenas da beleza, vale-se do
despojamento material e consegue, por lhe ser permitido visitar-olhar o rei apropriar-se
deste (e do reino). Todas as pretendentes eram convidadas a ver o rei Assuero e como
compensação podiam pedir o que desejassem: todas pediam algo material. Apenas Ester
aproveita o momento para não pedir, dirigindo toda a sua atenção para Assuero, dirige o
«o olhar» e este sente-se «visto» e assim Ester se distingue das outras e, pela economia
de construção de um discurso estratégico de intenções que não é verbalizado, torna-se
rainha.
“Chegando pois a vez de Ester [...] para ir ao rei coisa nenhuma pediu [...] E ela
alcançou perante ele graça e benevolência, mais do que todas as virgens: e pôs a coroa
real na sua cabeça, e a fez rainha em lugar de Vasti.” (Vários,1968:527)
Através das fotografias que envia ao filho escreve um diário visual que este
interpreta, vivendo a experiência familiar à distância de momentos efémeros que
expõem mudanças, emoções e revelações não verbalizadas em que tem a tarefa de unir
os retratos que são momentos e mensagens para criar um fio evolutivo da vida familiar
em Manaus, e desfragmentar a zona de silêncios entre cada retrato que lhe é enviado:
“Cada família constrói, através da fotografia, uma crónica de si mesma, uma série
portátil de imagens que testemunham a sua coesão” (Sontag, 2012: 17), assim como
cada ser humano que, na modernidade, coleciona peças de si, em forma de imagem para
se certificar que conservará a memória em acervo.
“A literatura, hoje, é uma arte para poucos. E quando você escreve, deve saber que o
diálogo com o leitor faz parte de uma história, de um processo.” (Hatoum (2006) apud
Barreiro,Pires & Pires, Simões: 142-143)
“Chegou também com um pouco de esperança, pois tio Emílio, discreto e comedido,
evitou falar a verdade ao sobrinho. [...] e implorou a presença dele antes do pôr-de-sol
daquela sexta-feira. Tio Hakim concordou sem insistir em falar com Emilie, sabendo
que a mãe andava meio surda [...].” (Hatoum,1991:37)
“A outra fotografia, tão diferente daquela, enquadrava Emilie no centro do pátio cercado
por um jardim de Delícias. Quase tudo naquela imagem me remetia à tarde já remota em
que lhe anunciei minha decisão de partir. Identifiquei o mesmo vestido de seda pura com
florões negros bordados à mão, que se ajustava ao seu corpo ainda esbelto, e também ao
luto que lhe impunha a morte recente do marido. [...] Ao olhar para a foto, era impossível
não ouvir a voz de Emilie e não materializar seu corpo no centro do pátio [...] Porque era
a revelação de um momento real e de uma situação palpável o que mais me impressionava
na fotografia. [...] A voz e a imagem me fazem recordar um mundo de desilusões, onde
um rosto sombrio se cobre com um véu espesso enunciando uma morte que já iniciara.”
(Hatoum, 1991, p. 105).
Esta descrição, entendida como imagem, permite-nos ver outra Emilie, porque
“a fotografia proporciona um sistema único de revelações, ou seja, que nos mostra a
realidade como nunca a tínhamos visto mostrar a realidade” (Sontag, 2012: 119,
sublinhado da autora). Tal como afirma o duplo fragmentado de Emilie, a primeira
narradora deste romance, sobre a sobreposição de lutos:
“Talvez, por isso, o pesar doloroso que nos envolve, não sabemos discernir se é fruto
da perda de alguém ocorrida ontem ou há muito tempo, de modo que outros corpos
sem vida reaparecem com intensidade na nossa memória, ampliando o seu horizonte
melancólico.” (Hatoum,1991:206)
Neste caso a encenação e o ritual são proporcionados pela última fotografia de Emir,
que foi tirada por Gustav Dorner, o último a falar com Emir em vida e que por
desfocagem, uma vez que se mimetiza com a sua câmara, sendo o seu olhar um olhar de
ciclope:
“Observava a flor entre os dedos de Emir, e talvez por isso tenha me escapado sua
expressão estranha, o olhar de quem não reconhece mais ninguém. Lembro que o
convidei para almoçar no restaurante francês; ele apenas emitiu um som apagado,
palavras enigmáticas que eu interpretei como uma recusa ao convite; mas percebi que
ele queria se desvencilhar de mim e do mundo todo, que a orquídea a brotar de sua
mão era o motivo maior de sua existência. [...] Emir se esquivava de tudo, ele tinha
um olhar meio perdido, de alguém que conversa contigo, te olha no rosto, mas é o
olhar de uma pessoa ausente. Além disso, aqueles passeios me intrigavam, caminhar
pelas ruas das pensões baratas, do hotel dos Viajantes, caminhar sem parar, sem ver
ninguém [...] A vida de Emir parecia se reduzir a esses passeios matinais [...]”
(Hatoum, 1991, p. 61-2).
“Depois falava no teu tio Hakim, que ficou homem sem que ela conhecesse o rosto do
homem, pois saíra de Manaus com pouco mais de vinte anos, e desde então enviara-
lhe retratos e cartas, mas tudo isso vale menos que uma rápida troca de olhar. Me
mostrava um retrato de Hakim e perguntava: «Não é a cara do Emirzinho?» E meio
afobada, meio aflita, ela mesma respondia: «Se parecem como duas pérolas de um
mesmo colar». (Hatoum,1991:202)
“Nos três últimos dias, de terça a quinta, me contou uma enxurrada de sonhos em que
sempre participavam Emir e Hakim, depois me pedia para ler as cartas do filho
ausente, enquanto ela mirava os retratos de ambos no álbum aberto repousado no colo.
O irmão, morto ainda jovem, era muito parecido ao filho que foi morar no sul; e
olhando para as duas fotos juntas, a semelhança chegava a incomodar: pareciam sorrir
o mesmo sorriso. Comentando os sonhos, ela repetia com uma voz crédula: «Quantas
vezes não nos encontramos, os três dentro de um barco descendo o rio ao encontro do
mar». e quase todos os sonhos repetiam um só, que ela tornava a contar, sempre
contemplando os retratos e me dizendo, pedindo: «Leia Hindié, leia as cartas de
Hakim.»” (Hatoum,1991:203)
“Nada mais havia a fazer senão entregar-se sem pena e receio à dor que ele
dissimulava com esforço, compartilhou com os outro o luto e a saudade, só que de
uma maneira exagerada, quase feroz, a ponto de deixar Hindié Conceição tremendo da
cabeça aos pés [...] Fiquei tão surpresa com a reação de tio Hakim, que não notara a
chegada de amigos de Emilie, atraídos pela claridade, pelas portas escancaradas e pela
voz de um filho que magnetiza a atenção dos outros ao evocar sua mãe.”
(Hatoum,1991:39)
A sua tendência para a evasão e ilusão levam à crença de que Emilie sabe o que
está a fazer. Do mesmo modo que se desdobra em dois idiomas, que se desdobra como
mãe extremosa e permissiva, mas desdenha os netos indesejáveis que resultam da
violação das empregadas pelos seus «inomináveis» filhos, do mesmo modo que usa dois
pesos e duas medidas para lidar com questões praticas do quotidiano como alimentação
familiar e alimentação de trabalhadores.
“[...] para Hakim, Emilie possuía dois mundos dentro de si: o mundo visível, a sua
Manaus; eo mundo que latejava em sua memória, o seu Líbano. E entre eles se dividia.
Vagava rotineiramente pelos lugares da memória e da memória saía para adentrar no
espaço- tempo do seu presente.” (Silva,2017:44)
“Tive a mesma curiosidade [...] desde sempre. Perguntei várias vezes à minha mãe por
que o relógio e, depois de muitas evasivas, ela me pediu que repetisse a frase que eu
pronunciava ao olhar para a lua cheia. Devia ter uns três anos quando apontava para o
céu escuro e dizia «é a luz da noite.» Foi a explicação oblíqua que Emilie encontrou
na minha infância para não falar de si.” (Hatoum,1991:42)
Francismar Barreto, Maria Isabel Edom Pires, Mônica Kalil Pires, Sara Freire Simões
(2006). “Entrevista com Milton Hatoum”. Estudos de Literatura Brasileira
Contemporânea, nº. 28. Brasília, julho-dezembro de 2006, pp. 141-147.