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Paulo Vianna Sant Anna

GÊNEROS LITERÁRIOS EM “A SÍNDROME DE ULISSES”

Paulo Vianna Sant Anna1

Resumo

A proposta deste ensaio é a análise da obra de Santiago Gamboa


“A Síndrome de Ulisses”, quanto ao gênero ou os gêneros literários
utilizados. A partir da observação do “ponto de vista” das
personagens, procurou-se enquadrar as teorias literárias aplicadas
aos gêneros no intuito de se interpretar a obra, não apenas no
campo psicológico, mas também, no campo da crítica. A capa da
obra serviu como mote norteador para este estudo.

Palavras-Chave: Gêneros literários, Teorias literárias,


Crítica

Considerações iniciais

Para se escrever sobre a obra “A Síndrome de Ulisses”, do colombiano Santiago

Gamboa2, creio ser preciso discorrer um pouco acerca da doença que gerou o título de

seu romance, ou seria um texto épico? Bem, vamos por partes. Por ora, se utilizará o

termo “romance”.

Esta doença, a síndrome de Ulisses, proveio, por conseqüência da famosa obra

de Homero (século VIII a.C), “A Odisséia”, onde Odisseu (Ulisses) que, para resgatar

Helena,

“[...] mulher do rei Menelau que fora raptada – Ulisses participou por dez anos
do cerco de Tróia, mas só depois de uma simulação de retirada precedida de um

1
Mestrando no curso de História da Literatura pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Fundação
Universidade Federal do Rio Grande.
2
Santiago Gamboa (Bogotá, 1965) estudou literatura na Universidade Javeriana de Bogotá, na Colômbia.
Mudou-se para a Espanha, onde viveu até 1990 e licenciou-se em filologia hispânica pela Universidade
Complutense de Madri. Em Paris, estudou literatura cubana na Universidade de Sorbonne. Dados
extraídos do livro A Síndrome de Ulisses.
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“presente de grego” (cavalo recheado de guerreiros) os membros da força de
resgate chegaram à vitória. Antes de retornar Ulisses fez um tour pelo Mar
Mediterrâneo que durou outros 10 anos, deparando-se com cavalos que voavam,
animais semi-humanos, deuses e semideuses, monstro, e até uma feiticeira –
Circe – que transformou seus marinheiros em porquinhos. Ausente por duas
décadas, retornou Ulisses ao lar, onde sua esposa o esperava, são e salvo de
todas as perigosas aventuras das quais participou [..]” 3,

teria sido dado, segundo Thales Gouveia Limeira por:

“Mercer Rang às situações em que pacientes fazem viagens desnecessárias


pelos procedimentos da Medicina, deparando-se com várias hipóteses
diagnósticas que lhes são atribuídas, constatando-se ao fim que os “perigos” não
existiam, havendo porém lesões nos bolsos e carteiras” 4.

Partindo-se desta premissa, a obra de Santiago versa, em certos momentos, ora

mais, ora menos acentuadamente a respeito dos sintomas desta síndrome. Seria o caso,

por exemplo, como bem mostra o próprio livro, do personagem Jung, coreano que,

perseguido pela polícia de seu país, procura refugio na cidade de Paris.

A diáspora é o que leva os personagens a se conhecerem e manterem

relacionamentos tanto amorosos como de amizades. Gamboa traz uma variedade de

personagens provindos de diversas partes do mundo e mostra, desta forma que: as

infelicidades, as insatisfações, os preconceitos, as dificuldades econômicas permeiam

todo e qualquer setor da sociedade, em âmbito mundial. Partindo desta perspectiva

diaspórica, procurou-se analisar esta mesma obra relacionando-a com os gêneros

literários.

Confluência de gêneros literários nA Síndrome de Ulisses

3
LIMEIRA, Thales Gouveia. Ulisses, herói de Tróia, deu o nome a uma síndrome. Publicado na Revista
da Associação Médica do Espírito Santo. Set/out 2004. p 1.
4
op. cit. p 1.
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A análise a respeito da construção literária empregada por Gamboa partiu, a

priori, da capa de seu livro. A capa utilizada para a análise foi a da versão brasileira,

onde se tem uma mulher de costas, nua, sentada em uma banheira de um banheiro com

azulejos verdes. A capa que se crê, européia, tem a Torre Eiffel em segundo plano e,

uma estátua no primeiro plano. A capa da edição brasileira traz muitos argumentos para

caracterizar a própria síndrome.

Parte-se de um pressuposto explícito que é a questão da nudez. Ela representa o

ser humano no seu “eu” mais íntimo, sua alma esta “aberta” para as novas sensações e

experiências. No entanto, ao mesmo tempo, esta nudez esconde-se de tudo e de todos,

uma vez que, a mulher, despe-se em seu banheiro, lugar onde a nudez é natural e isenta

de pudores.

Antes, porém, procurou-se analisar as características das personagens que, em

sua maioria, deflagram esta discrepância entre a tentativa racional de sobrevivência em

um país desconhecido, ao mesmo tempo em que buscam agarrarem-se naquilo que para

elas é mais conhecido e seguro: o álcool, o sexo, a vida “politicamente incorreta”.

Permeando estes caminhos, a obra pode ser designada como um romance-épico,

no sentido que ela é constituída, estruturalmente, em partes, caracterizando a épica e, ao

mesmo tempo, açambarca o todo, típico do romance.

Em Conceitos Fundamentais da Poética, Emil Staiger diz que os gêneros

literários estão em completa inter-relação, seja na arte lírica, épica ou dramática, haja

vista que:

“numa obra poética ressalta ora o lírico, ora o épico, ora o dramático, sem que
por isso faltem os demais, nem possam jamais – integrando uma obra de arte
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lingüística – estar totalmente ausentes. Uma mesma frase soará acentuadamente
lírica, épica ou dramática conforme minha entonação”.5

Esta mistura ou justaposição de gêneros dentro da obra literária, é possível ser

percebida nA Síndrome de Ulisses, pois, ora se tem passagens, que são praticamente,

autobiográficas, como a narrativa da personagem Paula, de viagem em um navio ou, a

declaração de Elkin de quando entrou para a guerrilha.

A obra é toda montada em vai e vem, ou seja, ora relata aspectos de personagens

secundários, ora do personagem principal, Esteban. No entanto, as vidas destas

personagens só se desenrolam na presença de Esteban. É ele o fulcro condutor do

enredo geral do “romance”.

Em âmbito de caracterização da personagem, Esteban pode ser assim descrito:

“Focalização homodiegética (em que o narrador participa como agente da


diegese narrada), [...] focalização externa (quando o narrador apresenta somente
o que aparece: fisionomia, vestuário, hábitos, havendo por isso, uma
valorização dos diálogos), [...] focalização restritiva (quando o narrador se atém
ao que determinadas personagens vêem e sabem), [...] focalização interventiva
(quando o narrador intervém com comentários”6.

O narrador principal, Esteban, seguidamente dialoga com o leitor. No entanto é

preciso avaliar bem está hipótese. Como o romance começa remontando a um passado,

em que o narrador diz: “Naquela época, a vida não me sorria”7, subentendesse que o

mesmo esteja relatando a história em que viveu em Paris, na década de 1990, para uma

ou mais pessoas, como bem mostra esta passagem: “Uma manhã, depois de um par de

horas sentado na ducha, escutei um barulho, e quando saí vi que era o telefone. Estão

adivinhando quem era? Exatamente, Victoria”8.


5
STAIGER, Emil. Conceitos Fundamentais da Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 3ed. 1997. p
162.
6
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Editora Ática. 6ed. Série Princípios. p 53.
7
GAMBOA, Santiago. A Síndrome de Ulisses. Trad. Luis Reyes Gil. São Paulo: Editor Planeta. 2006. p
13.
8
Idem. p 305.
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Este processo dialógico, ora pode ser remetido ao leitor real, ora ao virtual, ou

seja, ao narratário, mas, neste caso, suprime-se a questão do narratário, para que a

análise se centre exclusivamente no processo estrutural da obra.

Retornando ao tema das personagens, as demais giram entorno de Esteban que,

mostra para o leitor como os demais imigrantes vivem e vêem a questão diaspórica.

Aqueles, muitas vezes relembram suas lembranças: da infância, da adolescência, de seus

convívios em geral, procurando dar uma resposta ou, o que seria mais afeito, um sentido

para as suas migrações para outros países. Estas declarações ressaltam-se em parte,

desconexas com o todo da obra e fechando-se em si mesmas, dando-lhe um caráter

épico, no entanto, vê-se mais adiante que estas, terminam relacionando-se com aquele

mesmo todo. Daí concordar com Emil Staiger quando diz:

“A obra épica é composta de partes isoladas; mas no estilo problemático o todo


tem que ficar claro antes do poeta determinar natureza e proporção das partes.
[...] Assim poderá ele conseguir relacionamento entre as partes, de modo que na
obra não venha a haver nada supérfluo [...]”9 .

E isto é claramente perceptível dentro da obra, uma vez que, os capítulos podem

ser divididos por personagens. Veja-se um exemplo: os capítulos sete, nove, dezoito

(primeira parte – Histórias de Fantasmas); capítulos um, três e dez na segunda parte

(Imigrantes e Cia), e assim por diante com as demais personagens. No entanto,

concomitantemente a estes “cortes” de seqüência, a obra se justapõe perfeitamente, sem

que haja interrupções no contexto interpretativo para o leitor.

A preocupação do autor, tanto para com o enredo dos personagens como para

com o enredo em geral, faz do romance um híbrido de drama com passagens épicas,

esta, como se acabou de verificar, possivelmente aceitável. Dentro ainda desta

9
op cit. p 133.
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perspectiva concernente ao enredo, Gamboa realçou a questão da diáspora, quando

tratada, pelas personagens, como indagação pertinente aos seus estilos de vida, ou seja,

o fator diaspórico toma contornos que, no íntimo de cada personagem, em sua nudez

mais recôndita, este sentimento de perda de suas origens, conflitos culturais, aflora, de

forma mais ou menos acentuada em cada um.

Dentro deste intuito, em seu romance, Santiago Gamboa traz algo que, como diz

Massaud Moisés:

“No romance, observa-se a simultaneidade dramática: as células dramáticas


interligam-se solidariamente, ao mesmo tempo e, às vezes, num único espaço.
[...] Na verdade, inexistem casos individuais, mas expressões pessoais de
dramas coletivos, porque comum a todos [...], ou porque muitos sofrem o
mesmo drama. [...] Mesmo que, num caso ou noutro, os dramas envolvam
outras pessoas, estas devem conectar-se às figuras principais da narrativa” 10.

Partindo-se da idéia de que o romance nasceu do desejo de uma nova classe que

estava em ascensão, a saber: a burguesia, onde o que estava em questão, dentro da

construção literária era o indivíduo, Gamboa consegue mesclar o drama cotidiano com

os problemas que afetam umas sociedade num todo, Angélica Soares define com

precisão o papel da epopéia e do romance, ambos coadunando com a proposta

trabalhada pelo autor nA Síndrome..., quando relata que:

O sentido do épico, no entanto, se manifesta toda fez que se tem a intenção de


abarcar a multiplicidade dinâmica da realidade em uma só obra, criando-se uma
unidade. [...] E, ao contrário da epopéia, o romance, como forma representativa
do mundo burguês, volta-se para o homem como indivíduo”11.
Deste pressuposto, é pertinente analisar a obra como um influxo de ambos os

focos narrativos, o épico e o romance. Entretanto, pode-se observar a presença do lírico

e do dramático, voltando-se mais uma vez para Emil Staiger citando as palavras de

Schiller que, caracterizando o gênero épico diz que:

10
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária: Prosa I. São Paulo: Cultrix. 20ed. 1967. p 174.
11
op cit. p 42.
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“[...] da estreiteza da cena, da economia das figuras [...] registra [...] uma
tendência do poema para a tragédia, quando além disso aponta a ocupação
íntima do coração, e o interesse patológico – que [...] só podem representar
qualidades líricas – vemos como a epopéia situa-se muito peculiarmente em
relação aos outros gêneros literários, como ela [...] participa do gênero lírico, do
épico e ainda do dramático”12.

As interrogações, os medos, as desventuras, as coincidências, as próprias

relações, abruptas, muitas delas, reservam um pouco das angústias destas personagens

em relação ao futuro. Suas incertezas estão latentes em seus gestos, em seus costumes,

em seus modos de encararem a realidade suburbana da Paris do final da centúria

anterior.

Partindo-se desta premissa, é preciso relativizar: as personagens, os gêneros

literários e a própria capa do livro que, por sua vez, harmoniza os três gêneros: lírico,

épico e dramático.

Voltando para a capa, é possível perceber aspectos líricos da obra. A mulher

nua, sozinha em seu banheiro (deduz-se que seja o “seu” banheiro), remete a idéia de

estar em seu momento mais íntimo, onde, só ela poderá penetrar neste mesmo “íntimo”,

não há ninguém “de fora”, perscrutando seus gestos, seus hábitos, seus pensamentos.

Ali está àquela mulher com o “Eu” lírico trazendo à tona seus receios, seus sentimentos,

seus medos, suas lembranças, num processo de fluxo de consciência dela para com ela

mesma. Utilizando-se do conceito de Staiger acerca da caracterização do gênero Lírico,

pode-se fazer um paralelo com a imagem da capa no sentido em que o Lírico:

“chama a atenção que o eu não é apenas duração permanente, ou substância


indefinida, mas conquista-se como individualidade quando se concentra e volta
para si mesmo. [...[ a poesia lírica manifesta-se como arte da solidão, que em
estado puro é receptada apenas por pessoas que interiorizam esta solidão”. 13

12
op. cit. p 116.
13
op. cit. pp 31-49.
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Parece que esta mulher está recordando seus feitos passados, em um estado

nostálgico, em que “o passado [...] é um tesouro de recordação” 14, pois é assim que

segundo Staiger, o Lírico teve ser caracterizado: como uma recordação.

Quanto ao gênero Épico, a gravura nos desvela uma apreciação de uma vida que,

a priori, àqueles que não a conhecem perguntam-se de onde? De onde o quê? De onde

vem está mulher? De onde se construiu este cenário? De onde ela está tomando seu

banho? Ela está se apresentando para o mundo apesar de, naquele momento, ser

formada por partes, ou seja, fora de um contexto mais amplo, totalizante. É ela quem

apresenta as condições em que a obra vai se centrar. Considerando-se a Épica como

uma apresentação, para usar uma definição de Staiger, esta mulher se apresenta como

um organismo que “é uma formação em que cada parte isolada é ao mesmo tempo fim

e meio, por tanto simultaneamente independente e funcional, valendo por si só e no

contexto do todo”15.

Estas condições da obra designam os rumos que as personagens irão tomar ao

longo da narrativa, ora isoladas, ora interagindo juntas.

Quanto ao que tange ao gênero Dramático, retirando-se a ribalta, necessária,

muitas vezes para a encenação dramática, parece estar explícita a idéia da tensão,

caracterizada assim, por Emil Staiger onde,

“o objetivo do poeta não é cada passagem da narrativa, como na Épica, nem a


maneira de desenvolver o tema, como na Lírica, mas a meta a alcançar. Tudo
depende do final no sentido estrito da palavra. [...] O todo e o sentido capital só
se revelam no final”16.

14
Idem. p 55.
15
Ibdem. p 101.
16
Ibdem. pp 130-137.
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Esta parece ser a idéia da capa, em que uma mulher prepara-se para sair do

banho e seguir seu “destino”, seja ele qual for afinal, terá que ter um fim esta sua

procura. Procurar..., é exatamente isto que as personagens fazem dentro da obra, cada

um esta atrás daquilo que, por muitas vezes, nem sabem o que é. Existe apenas uma

certeza entre eles: é preciso sobreviver.

A síndrome de Ulisses, a doença, está descrita com propriedade através da capa,

de certo modo restrito, uma vez que corresponde às personagens do livro, algo que, à

primeira impressão parece óbvio. Restrito porque muitos sintomas estão incrustados ali,

implicitamente. Óbvio pelo fato de ser uma representação simbólica do enredo do

próprio livro.

São dois os pontos a serem analisados neste caso. Em primeiro lugar, as

situações de isolamento, de incertezas, de fuga do presente estão latentes dentro da obra,

enquanto que, através da capa isto fica subentendido, uma vez que, ao estar de costas, a

figura feminina parece dizer que não está com coragem de se mostrar para este

“admirável novo mundo”, para usar a expressão de Aldus Huxley, o que, por sua vez,

está muito bem representado dentro da obra pelas personagens que escolheram uma vida

suburbana em face de encarar as armadilhas da sociedade parisiense típica.

Em segundo lugar, a intimidade em que se encontra o ser humano (da capa),

agora visto como representação do todo, em relação à humanidade, esta parece esconder

suas lembranças, suas indagações, seu passado, no mais amplo sentido, ou seja,

sentimentos e recordações que por ora emergem à tona, neste lugar onde ninguém lhe

será inoportuno. Lugar onde poderá refletir e avaliar suas ações e suas insatisfações

enquanto indivíduo deslocado de sua pátria. Um momento de pura reflexão do Eu para

comigo mesmo.
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Considerações finais

Na análise da obra “A Síndrome de Ulisses” de Santiago Gamboa, salta aos

olhos a condição em que seres diaspóricos buscam meios de colaborarem uns aos outros

de forma que isso possibilite suas respectivas sobrevivências.

A rapidez com que o enredo se desenvolve, mostra claramente esta angústia, esta

ansiedade que o indivíduo imigrante tem de se alojar e se adaptar às novas condições de

vida, às novas necessidades, a novos desejos e novas ambições.

Mais uma vez, relacionando a obra com os três gêneros literários, esta nuova

vita das personagens, parece ser a coadunação destes três gêneros, embora em alguns

casos, quanto às mesmas, nem todas deixam transparecer explicitamente as suas

inquietações e medos.

A obra, em geral, com as suas inter-relações, fortemente dialógicas, vão fazendo

com que o enredo se torne um misto de sentimentos que, como na literatura e nas artes

em geral “não existe uma obra puramente lírica, épica ou dramática”, o mesmo acontece

com os seres humanos que não possuem o poder de escolha para sentirem apenas aquilo

que desejam. O ser humano está carregado de todos os sentimentos e sensações ao

mesmo tempo, porém, algumas se revelam mais que outras.

A Síndrome de Ulisses, por fim, será enquadrada definitivamente como um

romance, para deixá-lo melhor caracterizado. Entretanto, não foge da miscelânea que

envolve os gêneros literários. Eles estão aí bem espalhados, dentro de um plano social e

psicológico.

Quanto aos aspectos que lhe dão características diferentes dos demais tipos de

prosa, Walter Benjamin mostra que: “o que distingue o romance de todas as outras
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formas de prosa – contos de fada, lendas e mesmo novelas – é que ele nem procede da

tradição oral nem a alimenta. Ele se distingue, especialmente, da narrativa”17.

É claro que está se falando aqui de vários tipos de prosa, dentre as quais a novela

poderia aparecer dentro da obra de Santiago Gamboa, haja vista que, muitos

personagens iniciam e terminam uma ação ao longo do enredo. Mas por ora, basta a

análise da justaposição entre os gêneros literários e a interpretação da capa do livro,

para podermos compreender um pouco mais este romance moderno.

Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. O Narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In:


Magia e técnica, arte e política: Esnaios sobre literatura e história da cultura. Obras
Escolhidas Vol. 1.Trad. Sergio Paulo Rouanet. s/l: Brasiliense. 1985. p 201.
GAMBOA, Santiago. A Síndrome de Ulisses. Trad. Luis Reyes Gil. São Paulo: Editor Planeta.
2006. 375p.
LIMEIRA, Thales Gouveia. Ulisses, herói de Tróia, deu o nome a uma síndrome. Publicado na
Revista da Associação Médica do Espírito Santo. Set/out 2004. 2p.
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária: Prosa I. São Paulo: Editora Cultrix. 20ed. 1967.
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Editora Ática. 6ed. Série Princípios. 85p.
STAIGER, Emil. Conceitos Fundamentais da Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 3ed.
1997. 199p.

17
BENJAMIN, Walter. O Narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica,
arte e política: Esnaios sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas Vol. 1.Trad. Sergio Paulo
Rouanet. s/l: Brasiliense. 1985. p 201.

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