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Resumo
Introdução:
Neste ensaio, procurou-se retratar que não foi exatamente assim que ocorreu no
interior do Estado. A cidade utilizada como exemplo para o respectivo ensaio foi
Camaquã. Dentro deste recorte se fez outro, direcionando-se o foco para o general José
Antônio Netto, conhecido pela alcunha de Zeca Netto.
Este ensaio está dividido em dois períodos, sendo o primeiro voltado para as
diretrizes que atraíram as minorias em prol do “republicanismo castilhista” e, no
segundo, buscam-se justificativas, dentro, já do governo Borges de Medeiros - governo
este que ficou conhecido pelo continuísmo, por seguir os preceitos de seu antecessor,
Júlio de Castilhos - da dissensão do general Zeca Netto para com o mesmo.
1
Mestrando em História da Literatura pelo Programa de Pós-Graduação em Letras (FURG) - Rio Grande,
RS.
Paulo Vianna Sant Anna
Antes, porém, de entrar na análise, propriamente dita, da forma de governo
republicana positivista de Júlio de Castilhos, é preciso discorrer acerca de quem foi José
Antônio Netto, tanto em sua vida pessoal como política.
Júlio Prates de Castilhos procurou basear o seu governo a servir para o bem
público que
2
LOPES, João Máximo. Subsídios para a História de Camaquã: Os 80 Anos da Revolução de 1923.
Camaquã: NPHC. 2003. p 26.
3
Op. Cit. p 36.
4
Op. Cit. p 37.
5
RODRÍGUEZ, Ricardo Vélez. Castilhismo: Uma filosofia da República. Caxias do Sul: UCS.1980.
160p. p 81.
Paulo Vianna Sant Anna
E, para Castilhos o “bem público” transcendia ao material e ao individual,
posições estas defendidas pelos liberais, pois:
A oligarquia gaúcha, não era contra a forma republicana de governo; o que não
aceitava era a forma como era aplicado o positivismo comtiano em seu governo que se
baseava no “projeto de Constituição apresentado à Assembléia Nacional Constituinte
pelo Apostolado Positivista do Brasil”, que:
6
Op. Cit. p 116.
7
Op. Cit. p 82.
8
PINTO, Celi Regina J. Positivismo: Um Projeto Alternativo (RS: 1889-1930). Col. Universidade Livre.
Porto Alegre: L&PM. 1986. 111p. p 23.
9
Op. Cit. pp. 36-37.
Paulo Vianna Sant Anna
O governo de Castilhos começa a divergir do Apostolado Positivista, já no que
se refere aos dois poderes. Quanto a isso, ele substitui os dois poderes por “três órgãos
governamentais – o presidente, a Assembléia dos Representantes e a magistratura.”10
No entanto, nem todos os republicanos foram tão eufóricos com os rumos que o
Estado estava tomando nas mãos de Júlio de Castilhos, com se verá a seguir.
Dentre estes insatisfeitos, pode-se colocar o general Zeca Netto que, apesar de
pertencer à elite rural da cidade de Camaquã e, portanto, divergindo da proposta inicial
do PRR, que era a de atrair as minorias (comerciantes, advogados, farmacêuticos), no
caso de Camaquã, apoiou Borges de Medeiros até a candidatura de Fernando Abott em
1907 que, por ser “amigo e admirador que era do Dr. Fernando Abott, [...] por
13
ANTONACCI, Maria Antonieta. RS: As Oposições & A Revolução de 1923. Série Documenta. n.8.
Porto Alegre: Mercado Aberto. 1981.120p. p 23.
14
Op. Cit. p 24.
15
Op. Cit. p 40.
16
Op. Cit. pp 46-47.
Paulo Vianna Sant Anna
generosidade acompanhei-o”17. Conforme nos relata João Máximo Lopes em seu livro
“Subsídios à História de Camaquã”, parece trazer à tona alguns dos motivos que
levaram Zeca Netto a transladar para a oposição a Borges de Medeiros:
É mister ressaltar que tais argumentos aqui expostos, talvez não sejam por ora
satisfatórios, visto que, há um outro fator relevante a ser considerado, que está no fato
do governo não acatar as exigências aspiradas pelos pecuaristas gaúchos a respeito do
gado e do charque, onde, a não tarifação da importação do gado uruguaio infligia
grandes perdas aos rendimentos dos mesmos, pois, segundo Antonacci:
17
NETTO. Ruy Castro. Memórias do General Zeca Netto. Porto Alegre: Martins Livreiro. 1983. 169p. p
61.
18
PINTO, Celi Regina J. Positivismo: Um Projeto Alternativo (RS: 1889-1930). Col. Universidade Livre.
Porto Alegre: L&PM. 1986. 111p. p89.
Paulo Vianna Sant Anna
“Ao progressivo esvaziamento da alternativa representada por Borges
de Medeiros como mediador entre os pecuaristas e o governo federal,
foram radicalizando-se as posições destes em relação ao governo do
PRR. E, ao não serem atendidos no seu pedido de créditos especiais –
última vez em que se dirigiram a Borges com solicitações de amparo –
os criadores gaúchos romperam com o governo republicano.” 19
A vida política que Zeca Netto levou, a partir deste momento, foi mais tranqüila,
tendo participações breves no campo da política, atendo-se mais ao convívio com a
família e as lides campeiras, vivendo entre sua fazendo no Uruguai e Camaquã até a sua
morte em maio de 1948.
Conclusão:
19
ANTONACCI, Maria Antonieta. RS: As Oposições & A Revolução de 1923. Série Documenta. n.8.
Porto Alegre: Mercado Aberto. 1981.120p. p 54.
20
NETTO. Ruy Castro. Memórias do General Zeca Netto. Porto Alegre: Martins Livreiro. 1983. 169p. p
64.
21
Op Cit. p 42.
Paulo Vianna Sant Anna
Os acontecimentos políticos que ocorreram na última década do século XIX e
nas três primeiras décadas do século seguinte, mostraram que a forma republicana de
governo instaurada no RS, não estava definitivamente, consolidada, a despeito de alguns
períodos de aparente tranqüilidade.
Parece claro que esta tranqüilidade de fato não houve, uma vez que os
adversários de Castilhos e, posteriormente, de Borges, estavam articulando entre si
táticas políticas para uma reviravolta no comando do governo.
Neste contexto, o general camaqüense, José Antônio Netto, deixou claro o seu
desagrado para com este mesmo governo, visto que, apesar de ter sido membro do PRR,
não coadunou com as idéias centralizadoras do mesmo e junto a isso, o fato de ser
grande estancieiro e criador de gado, defendeu seus interesses até o último instante.
Descontente com os rumos que tomavam seu Estado retira-se, para retornar anos mais
tarde e, com outros propósitos; políticos? sim, mas agora em escala bem menor.
Referências Bibliográficas: