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Caderno 6 – Aquecimento Elétrico

O aquecimento elétrico pode se dar de diversas formas, a destacar-se por Efeito Joule e ondas
eletromagnéticas.

● Transferência de Calor: ao ser aquecido, o material adquire energia. Três processos conhecidos: condução,
convecção e irradiação.
a) Condução (direta): Deve haver contato físico direto com a fonte de calor, iniciando a propagação de
calor a partir do ponto de contato. Quanto maior a área de contato, mais rápido a transferência de
calor.
Ex: ferro de passar;

b) Convecção (indireta): A fonte emana energia aquecendo o fluido (geralmente o ar) entre os dois
materiais, posteriormente atingindo o alvo. Pode haver pré-aquecimento/resfriamento.
Ex: forno de cozinha; geladeira; estufas

c) Irradiação: Emissão contínua de energia pela fonte (na forma de ondas eletromagnéticas) aquecendo
o material através da absorção de energia. Processo de extrema rapidez, o mais rápido de todos.
Ex: micro-ondas;

Exemplos em sala 1 (convecção): secagem de arroz em beiras de estradas. Processo barato, porém, com restrições como tempo
de produção.

● Aquecimento utilizando eletricidade


a) Resistivo: se vale da Lei de Joule. Direto e mais conhecido. Baseia-se na passagem de corrente elétrica
pelo material, provocando Efeito Joule. A eficiência depende das características elétricas do material,
a ressaltar a condutividade elétrica. A corrente é o elemento mais importante.
− Bons condutores de eletricidade, no geral, são bons condutores térmicos. Em metais, a
corrente circula na superfície, o dificulta aquecer metais com seção reta grande.
− Para uma mesma corrente, quanto menor a seção reta (bitola) melhor o aquecimento.
− Pode-se utilizar corrente DC ou AC.
Ex: bitola da fiação elétrica depende da carga atendida.

b) Indução: se vale da Lei de Faraday. Indireto. Campos variantes no tempo, correntes e tensões AC.
Material a ser aquecido é envolto por uma bobina percorrida por uma corrente AC, gerando um campo
magnético que faz um caminho fechado por dentro da bobina. Desse modo, correntes parasitas são
induzidas no material, dissipando energia. A eficiência depende da corrente total induzida no material.
− Os materiais a serem utilizados devem possuir altas condutividades elétrica e térmica.
− Quanto maior a seção reta, melhor se dá o aquecimento.
− A corrente induzida possui valor muito menor que a aplicada na bobina, portanto o processo
é lento.
− Somente corrente AC.

c) Dielétrico ou radiofrequência: utilizado em região onde existem ondas eletromagnéticas. As ondas


carregadas com energia atingem o material, que absorve tal energia transformando-a em calor.
− Quanto melhor a condutividade, maior a reflexão. Os materiais a serem utilizados devem ser
dielétricos.
− Profundidade de penetração de onda: varia com o inverso da frequência, inverso da
permeabilidade magnética e da condutividade elétrica. Para blindar material de ondas
eletromagnéticas se trabalha com bons condutores.
− Condução iônica: alimentos possuem água. A onda eletromagnética penetra no alimento,
fazendo com que os íons presentes no material tendam a se alinhar com o campo elétrico
variante no tempo da onda. A movimentação dos íons provoca choques entre eles
promovendo aquecimento.
− Rotação dipolar: as moléculas vibram (giro), atritando uma na outra, gera aquecimento muito
maior que os íons devido ao seu tamanho em relação aos íons.
− Ressonância do material é a faixa onde ele absorve plenamente (mais energia). Para a água,
varia de 18 a 20 GHz.

Exemplo de sala 2: fornos industriais nos EUA operam em 900 MHz. Frequência menor, profundidade de penetração
maior, porém ao diminuir a frequência, aumenta o tamanho do sistema ocasionando um custo maior de implantação.

Figura 01: Processos de Aquecimento: (a) convencional; (b) micro-ondas.

− A permissividade elétrica reflete a capacidade do material em armazenar e dissipar energia


eletromagnética e está relacionada à capacitância e à resistência elétrica.
− A permeabilidade magnética está relacionada à resistência e à indutância do material.
− Ao se tratar de materiais biológicos, a permeabilidade magnética varia bem pouco em relação
ao do vácuo e suas perdas magnéticas são zero, por isso se analisa a permissividade elétrica.
𝜀 = 𝜀 ′ − 𝑗𝜀 ′′ , onde 𝜀 ′ é a parte real representando. 𝜀 ′′ determina o grau de aquecimento.
Quanto maior 𝜀 ′′ ou a tangente de perdas, mais susceptível é o material ao aquecimento por
micro-ondas.
− Fenômeno da avalanche térmica: avalanche térmica é uma temperatura limite que mesmo
após desligar a fonte de micro-ondas, a temperatura continua a subir. Comum em cerâmicas.

Exemplo em sala 3: história do micro-ondas. Inicialmente desenvolvido para uso militar, radares que trabalhavam
pulsadamente. Londres era uma cidade fria, e os habitantes se aproximavam das bases em busca de temperaturas
mais quentes. Os habitantes começaram a apresentar doenças. Tempo de exposição e intensidade do sinal são os
fatores a serem analisados nesse caso.

− 𝜇 = 𝜇′ − 𝑗𝜇′′ , onde 𝜇′ é a parte real relacionada à indutância e à capacidade de armazenar


energia magnética. 𝜇′′ é a parte imaginária e está relacionada à resistência e à capacidade de
dissipar energia magnética.
− A potência gerada por unidade de volume magnético do material dielétrico depende dos
seguintes parâmetros:
𝑃 = 2𝜋𝑓𝐸 2 𝜀0 𝜀𝑟′′ = 2𝜋𝑓𝐸 2 𝜀0 𝜀𝑟′ 𝑡𝑎𝑛 𝑡𝑎𝑛 𝛿

● Secagem
a) Convectivo: Nos processos convencionais, particularmente no convectivos, a umidade superficial é
incialmente eliminada e a água restante difunde vagarosamente para a superfície. No caso convectivo,
há mais água no miolo. Ao aquecer o material, a temperatura passará da superfície do miolo, gradiente
de temperatura apontando para o interior do produto enquanto o gradiente de umidade está
apontando de dentro para fora.
b) Micro-ondas: a onda na velocidade da luz entra no produto com um certo valor e por condução o
calor se propaga para o miolo. No caso do micro-ondas, o ambos os gradientes estão orientados de
dentro para fora, fato esse que ocasiona um processo de secagem muito mais rápido que o convectivo.

Exemplo em sala 4: salada fervida desperdiça os nutrientes e vitaminas do alimento. No micro-ondas ocorre a
inativação das enzimas que iriam deteriorar o alimento, sendo um ponto positivo.
− Aparecimento de pontos quentes: a onda eletromagnética se distribui aleatoriamente no
produto, não sendo uniforme.

● Sistema de Micro-ondas

Alimentação vem de um fio de 127 V, entra em um transformador de 2 enrolamentos apenas e com bitolas de
fios diferentes o fio mais grosso (baixa-tensão) para corrente maior e o mais fino (alta-tensão) corrente menor. O fio
mais grosso aguenta corrente nominal próxima de 20 A. Entre o transformador e a válvula há um estágio dobrador-
retificador de tensão (um capacitor e um diodo retificador) com retificação de meia onda de 4 KV, ainda em 60 Hz. A
saída do fio mais fino é na ordem de 2 KV em 60 Hz. Para elevar a frequência para 2.45 GHz utiliza-se a válvula
Magnetron.

a) Válvula Magnetron: é o coração do forno micro-ondas. Robusta para choques mecânicos e problemas
elétricos, sua parte fraca é dada por dois ímãs permanentes frágeis a quedas. Na parte de cima dela,
denominada de antenas, há aletas (dissipadores), já que o cobre aquece rapidamente em
temperaturas elevadas podendo danificar a parte elétrica (soldas) e romper a válvula.
− A válvula é hermeticamente fechada e com cavidades ressonantes equivalentes a um circuito
LC, construído de tal modo a ressoar na frequência de 2.45 GHz, com simetria perfeita pois
desvios provocariam fuga da frequência desejada.
− Os 2 KV estão entre o anodo (fora) e o catodo (dentro). Ao aquecer, emite elétrons que são
alinhados de acordo com o campo elétrico por linhas radiais entre o anodo e catodo, indo do
centro para a borda. Os dois imas permanentes estabelecem polo norte e sul, de modo a gerar
um campo magnético na vertical e cargas em movendo na horizontal: Lei de Lorentz
estabelece uma força entre essas cargas em movimento. De acordo com a intensidade do
campo magnético, os elétrons podem voltar ao catodo, uma situação indesejada. O correto
seria entrarem na cavidade e entrar em ressonância, que ocorre quando são enviados para a
cavidade mas não entram no anodo. As cavidades estão ligadas ímpar-ímpar e par-par por
meio de uma “espiral” (conexão elétrica strap ou armadilha).
− A refrigeração a ar não é tão eficiente para maiores potências (sistemas industriais), por isso
é mais comum resfriar à água.

b) Seção de transmissão e acoplamento: A parte de cima possui um trecho denominado de (um guia de
ondas). A função de acoplamento é para o casamento de impedâncias da saída da válvula para a
entrada.

c) Aplicador: A chapa é feita de material transparente à micro-ondas. Aplicadores são todos metálicos
para refletir plenamente a onda eletromagnética no produto.
− Os “buraquinhos” são para saída natural do vapor. Porém há um momento que haverá mais
água nas paredes do que no produto propriamente, perdendo desempenho e eficiência no
sistema. Nos fornos domésticos isso é feito naturalmente, porém para casos industriais é
comum sistema de exaustão, que deve ser cuidadosamente dimensionado.
− A tampa de plástico possui orifícios dimensionados de modo a não permitir que a onda passe
por eles devido ao comprimento de onda.
− Padrão internacional de segurança é 1mW por cm².
− Sistema redundante de segurança: só funciona com a porta fechada, onde as travas são chaves
que ao desconectarem abrem o circuito.
− O controle de potência é eletrônico, fazendo um controle do sinal (ora ligado, ora desligado)
em relação ao tempo.

● Experimentos de Aquecimento
a) Corrente CC:
− Cano de ferro: a bitola muito grande para ser aquecido.
− Banana: também não aqueceu.
− Salsicha: “queimaduras” nas extremidades e cru no meio.
− A banana é um dielétrico e a salsicha também, porém a salsicha possui muito sal em sua
composição.
− Isso é o que ocorre com choques elétricos em humanos, a tendência é ficar preso ao fio.

b) Corrente AC:
− Ação alternada provoca um formigamento. Quanto maior a frequência, menor a percepção
da corrente elétrica.
− A salsicha aquecida teve melhora em relação a uniformidade se comparada ao experimento
em CC, porém ainda há danos nas extremidades.

OBS 1: O aquecimento da salsicha em AC é mais uniforme por do que a CC pois em CC há corrente em apenas um
sentido, enquanto que na AC há dois.

c) Indução:
− Varivolt, a bobina é energizada e o tarugo é colocado no centro. O campo magnético circulará
na região interna da bobina, no caso, no tarugo. Aquecimento satisfatório, pois o material é
um bom condutor.

d) Micro-ondas: existem dois amperímetros ligados na válvula, o miliamperímetro (fundo de escala 1


mA) ligado ao anodo para indicar a corrente de saída da válvula e outro com fundo de escala de 50 A
para indicar a corrente que aquece o filamento no catodo gerando os elétrons a serem captados pela
cavidade.
− Banana: volumes maiores, mais tempo de processamento.
− Salsicha: apesar de não ser perfeitamente uniforme, há uma melhor qualidade do
processamento.

e) Lâmpada incandescente queimada: a lâmpada não “acendeu”, o que houve foi um centelhamento da
lâmpada. A rigidez dielétrica foi rompida entre os dois filamentos, gerando um arco voltaico.

f) Lâmpada fluorescente: o gás fósforo é ionizado na presença de onda eletromagnética acima de 100
MHz. Não pode ficar muito tempo por conta da base de plástico.

g) Sílica-gel azul: é utilizada para absorver umidade. Ao colocar no micro-ondas, retira-se a umidade e
devolve-se a coloração normal. Pode servir como “mapeamento” de regiões no material com maior
incidência de ondas eletromagnéticas.

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