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TRATADO 

DE DIREITO PRIVADO 
PARTE ESPECIAL 

TOMO LVIII 

Dir eito das Sucessões: Sucessão testamentár ia. 


Disposições testamentár ias em ger al. 
For mas or dinár ias do testamento. 

TÁBUA SISTEMÁTICA DAS MATÉRIAS 

TÍTULO III 

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 

(continuação) 

CAPITULO XIV 

CAPACIDADE DE ADQUIRIR POR TESTAMENTO 

§ 5.810. Capacidade testamentária. 1. Sucessibilidade e testamento. 2.Princípio da coexistência. 3. Incapacidade e 
indignidade 
§  5.811.Conteúdo  elo  principio  da  coexistência.  1.  Doutrina  da  capacidade  de  suceder.2.Direito  romano.  3. 
Problema  técnico  da  construção.  4.Texto  legal.  5.  Princípio  da  coexistência  e  incapacidade.6.Absolutamente 
incapazes.  7.  Incapacidade  absoluta  e  relativa.  8.  Traços  diferenciais.  9.  Aplicações  do  princípio.10.Pessoas 
jurídicas 
§  5.812.Nascituro.  1.Conceito.2.  Direito  anterior  quanto  ao  nascituro.  3.  Regras  jurídicas.  4.  O  problema  da 
construção jurídica. 5. Construções jurídicas. 6. Nascituros plurais. 7.Determinação da data da concepção 
§ 5.813. Prole eventual de pessoas designadas e existentes ao tempo da morte do testador. 1. “Nondum concepti”. 
2.  Direito  anterior. 3.  Fundamento da  exclusão dos póstumos  não­concebidos. 4.  Donde  vem  a  regra  jurídica.  5. 
Fundamento  da  exceção  a  favor  da  prole  de  pessoas  designadas.  6.  Futuridade  sem  concepção.  7.  Posição  do 
problema. 8. Construção da regra jurídica. 9. Interpretação da regra jurídica. 

10.Que  “pessoas  designadas”  são  as  do  texto.  11.  Prole  eventual:  filhos  ou  quaisquer  descendentes.  12.  Prole 
eventual: restrições. 13. Guarda da herança até o nascimento da prole contemplada. 14. Frutos e administraçãO. 15. 
Pagamento dos impostos e prole eventual. 16. Prova da concepção para os efeitos legais (nasciturus) . 17. Prova da 
existência das pessoas e da existência da prole eventual. 
18.Devolução dos bens da prole eventual não ocorrida. 18 § 5.814. Incapacidade de sucessão passiva. 1. Pessoas 
que  não podem adquirir  por  testamento. 2.  Pessoa  que,  a  rôgo,  escreveu  o  testamento, o  seu  cônjuge  ou os  seus 
ascendentes,  descendentes  e  irmãos.  3.  Testemunhas  do  testamento.  4.  Concubina  do  testador  casado.  5.  Oficial 
público,  civil  ou  militar,  comandante,  ou  escrivão,  perante  quem  se  fizer,  assim  como  o  que  fizer  ou  aprovar  o 
testamento. 6. Legado ou deixa a filho adulterino 
§ 5.815.Disposição a favor de incapazes de suceder. 1. Texto da lei. 2. Nulidade derivada da regra jurídica. 3. Pre 
sunção 
§ 5.816.Liberdade de testar e quota necessária. 1. Liberdade de testar. 2.Porção disponível. 3. Porção disponível 
dita anômala. 4.Princípio da inviolabilidade da quota necessária. 5. Herdeiros necessários. 6. Natureza do direito 
dos herdeiros necessários. 7. Descendentes e ascendentes. 8. Destino dos bens não distribuídos no testamento. 9. 
Cálculo da metade disponível. 10. Cálculo da porção disponível. 11. Cálculo da porção necessária se há sucessíveis 
renunciantes.  12.  Porção  necessária  e  herdeiro  necessário  também  instituido.  13.  Cálculo  prático  das  porções 
necessárias. 
14.Cláusulas de inalienabilidade e de incomunicabilidade. 
15.Natureza  das  restrições  de  poder. 16.  Divergências  na  classificação. 17.  “Modus”  e  cláusulas  de  restrição  de 
poder. 18. Teorias. 19. Inalienabilidade e obrigação. 20. Corte no “ius abutendi”. 21. Análise das soluções. 22. Que
é que se entende por temporário. 23. Temporariedade e transmissão. 24. Conteúdo da cláusula de inalienabilidade. 
25. Legítimas e cláusulas de restrição de poder 
§  5.817.Outras  cláusulas de  restrição.  1.  Cláusulas  de  sub­rogação  e  cláusulas  de  reemprêgo.  2.  Legitimados  à 
ação  de  nulidade.  3.  O  que  o  testador  pode  acrescentar  a  “restrição  de  poder”.  4.  O  que  se  não  pode  apor  aos 
quinhões dos herdeiros necessários. 5. Natureza da sanção. 6. Ação de nulidade. 7. Ação Pauliana  e restrição de 
poder. 8. Quando começam os efeitos das cláusulas restritivas ou restrições de poder. 9. Efeito da acão de nulidade. 
10. Herança necessária e porção disponível. 11. Liberdade de dispor e os seus elementos. 12. Conjuge c parentes 
colaterais. 13. Direito anterior. 14. Significação da regra jurídica 

CAPITULO XV 

REDUÇÃO DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS 

§  5.818.Caso  especial  de  sucessão  .  1.  Disposição  em  parte.  2.  Direito  romano.  3.  Direito  anterior.  4.  Projetos 
brasileiros. 5.Natureza da regra jurídica 6. Pressupostos do suporte fáctico. 7. Consequências da regra jurídica 
§  5.819.Determinação  de  partes  e  redução.  1.  Fontes.  2.  Regras  jurídicas  sôbre  redução.  3.  Pressupostos  da 
redução.  4.  Pressupostos  da  redução,  se  o  testador  preferiu  herdeiros  ou  legatários.  5.  Distribuição  inferior  ao 
deixado.  6.  Dispositividade  das  regras  jurídicas.  7.  ferro  do  testador.  8.  Pluralidade  de  testamentos.  9.  Alguns 
herdeiros  com  partes  e  outros  sem  parte.  10.  Redução  dos  legados.  11.  Divisibilidade  e  indivisibilidade.  12. 
Conteúdo das regras jurídicas... 

CAPITULO XVI 

SUBSTITUIÇÕES 

de  substituição. 4.  Direito  romano. 5.Direito  anterior.6. Função das  substituições. 7.  Formas. Poder  e  não querer 


aceitar. 9. Morte do beneficiado10. Condição resolutiva. 11. Estrutura da substituição12. Direito do substituto 
§ 5.821. Substituições e espécies. 1. Substituições e fideicomissos. 2.Interpretação da vontade do testador 
§ 5.822. Direito de acrescimento e substituição. 1. “lus accrescendi”. 2.Precisões 
§ 5.823.Pressupostos e caráter da regra juridiaa. 1. Substituições gerais e especiais. 2. Caráter da regra jurídica. 3. 
Ineficácia da substituição 
§  5.824.Sujeitos  ativo  e  passivo  da  substituição.  1.  Duas  figuras.2.  Um  ou  mais  substitutos.~  3.  Quantidade  e 
relação  dos  substitutos  4.  Substituição  a  grupos.  5.  Substituição  recíproca.  6.Substituição  compendiosa.  7. 
Substituição a substitutos 8. Instituições condicionais. 9. Qualidade dos substituidos 
§  5.825.Determinações  mas,  anexas  e  conexas;  legados.  1.  Cláusulas.  2.  Legados  a  têrmo  e  fideicomissos.  3. 
Legados. 4.Cláusulas e substituto. 5. Conteúdo da regra legal. 6.“Modus”. 7. Condição à instituição do “prior” .... 2 
§  5.826.  Objeto  da  substituição.  1.  Substitutos.  2.  Espécies  de  objeto.  3.  Instituido  e  substituto.  4.  Substituição 
recíproca. 5. Conteúdo da regra jurídica 
§  5.827.Questões  de  interpretação.  1.  Espécies.  2.  Instituição  condicional  e  substituição  3.  Substituições.  4. 
Fideicomisso.  5.Substituição ou  fideicomisso.  6.  Acrescimento  e  substituição.  7.  Nacionalidade.  8.  Renúncia.  9. 
Renúncia e substituição. 10. Outros exemplos. 11. Pessoa ainda não concebida. 12. Substitutos de substitutos. 13. 
Ordem subsidiária. 14. Herdeiro legitimo e substituição. 15. Qualidade de instituidos. 16. Fideicomisso e legado. 
17.  Direito  francês.  18.  Direito  italiano.  19.  Direito  alemão.  20.  Direito  suíço.  21.  Direito  russo.  22.  Direito 
argentino 
§  5.828.Substituição  pupilar  e  quase­pupilar.  1.  Instituto  estranho  ao  direito  brasileiro.  2.  Direito  português 
122 
§ 5.829.Disposições mexas, anexas e conexas nas substituições. 1. Restrições do poder, “modus” e substituições. 2. 
“Modus” e substituição. 3. Condições e têrmos 
§ 5.830.Disposições especiais e substituições. 1. Cisões. 2. Substituição ou “modus”. 3. Prole eventual. 4. Falta de 
prole. 5.Fidúcia 
§ 5.831.Substituições e herdeiros legítimos. 1. Instituído e substituto. 2. Herança necessária. 3. Falta de herdeiros 
legítimos.  4.  Herdeiros  testamentários  e  substituição.  5.  Falta  de  herdeiros  de  determinado  grau.  6.  Condição 
suspensiva. 7.Condição resolutiva. 8. Deserdação. 9. Ação de indignidade. 10. Substituição recíproca. 11. Usufruto 
e substituição. 12. Legítimos herdeiros feitos testamentários. 13. Exclusão de descendentes
§  5.832.Incidentes  das  substituições.  1.  Período  anterior  à  demonstração  da  falta  do  sucessor.  2.  Ação  de 
indignidade. 3.  Declaração de  vacância.  4.  Abstenção  de optar. 5.  Renúncia  da  herança  e  credores. 6.  Substituto 
fideicomissário.  7.  Nomeações  em  dois  ou  mais  testamentos.  8.  Presunção  de  sucessividade  dos  substitutos.  9. 
Deserdação. 10. Fundação a ser criada. 11. Substitutos e herdeiros de substitutos. 

TÁBUA SISTEMÁTICA DAS MATÉRIAS 

CAPITULO XVII 

FIDEICOMISSO 
§ 5.833.Fideicomissos. 1. Sucessividade e fidúcia. 2. Direito romano. 3. Evolução posterior. 4. Direito anterior. 5. 
Elemento  construtivo.  6.  Idade  Média  e  fideicomissos.  7.  Situação  de  fiduciário. 8.  Negócio  jurídico  a  causa  de 
morte e entre vivos. 9. Herdeiros, legatários e fideicomisso. 10. Caráter da sucessão dupla. 11. Testamentariedade 
do  fideicomissário.  12.  Natureza  do  direito  expectativo  do  fideicomissário.  13.  Fideicomisso  e  direito  real.  14. 
Passagem  dosbens  fideicomitidOs.  15.  Fideicomissos  personalíssimOs;  e  fideicomissos  a  têrmo  e  herdáveis.  16. 
Pressuposições essenciais a certos fideicomissos 

§  5.834.Espécies  de  fideicomisso.  1.  Fideicomisso  universal  e  particular.  2.  Fideicomissos  eletivos.  3. 
Fideicomissos cons­trutivos 

§ 5.835.Situação jurídica dos figurantes. 1. Situação jurídica do fiduciário. 2. Situação jurídica do fideicomissário. 
3.  O  fideicomisso  quanto  as  relações  entre  os  dois  herdeiros  sucessivos.  4.  Variantes  fideicomissárias.  5.  Intuito 
principal do testador. 6. Cláusulas relativas ao fideicomisso. 7. Formados fideicomissos. 8. Condição e “modus” ao 
fideicomissário. 9.Bem fideicomitido. 10. Situação do fiduciário no registo de imóveis. 11. Nulidade e extinção do 
fideicomisso. 12. Situação do fiduciário, depois de restituído o fideicomisso. 13.Destino dos bens se antecipada a 
morte  do  fíduciario.  14.Destino  dos  bens,  destituído  o  testamento.  15.  Destino  dos  bens,  no  caso  de  morrer  o 
fiduciário antes do têrmo ou condição. 16. Extinção da fideicomissariedade 

§ 5.836.Propriedade e posse da herança ou legado. 1. Espécie de propriedade. 2. O que é imperativo no art. 1 .734. 
3.  Poder  de  alienação.  4.  Os  direitos  do  fiduciário  e  do  fideicomissário.  5.  Uso  e  fruIção  pelo  fiduciário.  6. 
Restrições ao uso e fruição do fiduciário. 7. Eficácia e ineficácia dos atos do fiduciário. 8. Caráter da ineficácia. 9. 
Formalidades registárias e extinção do fideicomisso. 10. Processos relativos à herança ou legado fideicomitido. 11. 
Processos,  extinto o  fideicomisso. 12. Sub­rogação  e  acréscimos  da  herança  em  fideicomisso. 13. Aplicações  de 
valôres  e  restituição.  14.  Despesas  e direitos~  15.  Despesas  com  os  bens.  16.Posse  dos bens  fideicomitidos. 17. 
Situação  do  fiduciário  depois  da  entrega  dos  bens.  18.  Credores  da  herança.  19.Inventário  dos  bens.  20. 
Fideicomisso do que resta à morte do fiduciário. 21. Dispensa de inventário. 22. Caução pelo fiduciário 

§  5.837.Aceitação  e  renúncia  do  legado.  1.  Renúncia  da  herança  ou  do  legado.  2.  Renúncia  da  herança.  3. 
Conteúdo da regra jurídica. 4. Indignidade e outros casos. 5. Efeitos. 6. Direito de acrescimento. 7. Análise da regra 
jurídica.  8.  Conteúdo total  da  regra  jurídica.  9.  Direito de  acrescer  entre  fiduciários  e  entre  fideicomissários.  10. 
Caducidade e invalidade da substituição 

§ 5.838.Responsabilidade do fideicomissário. 1Responsabilidadepelos encargos da herança. 2. Conteúdo da regra 
jurídica 

§ 5.839.Caducidade e nulidade do fideicomisso. Morte do fideicomissário antes do fiduciário. 2Correspondências. 
3.  Conteúdo  da  regra  jurídica.  4.  Alterações  “ex  voluntate”.  5.Morte  do  fiduciário.  6.  Regra  que  falta.  7. 
Formalidades do registo. 8. Dois graus de instituição. 9. Correspondências. 10. Direito anterior. 11. Contagem dos 
graus. 12.Função da regra jurídica. 13. Outros casos escapos à regra jurídica vedativa. 14. Nulidade da instituição 
do fideicomissário. 15. Correspondências. 16. Conteúdo da regra jurídica 
§  5.840.Ações  dos  instituidos.  1.  Ações  do  fiduciário.  2.  Ações  e  cautelas  do  fideicomissário.  3.  Caução 
“fideicommissi ser vandi causa” 
§ 5.841.Questões de interpretação. 1. Vedação de testar. 2. Fideicomisso e legados. 3. Fideicomisso e usufruto. 4. 
Questões  de  Clia.  Uut.  LDW.  HENNEMANN.  5.  Usufruto  sucessivo  e  fideicomisso.  6.  Conjuntividade  e 
sucessividade. 7.  Fideicomisso  e outras  categorias  jurídicas.  8. Fideicomisso e prole  eventual.  9. Direito  francês.
10. Direito italiano. 11. Direito alemão. 12. Direito português. 13. Direito argentino e outros 

§ 5.842..Disposições negativas 1. Sucessão necessária. 2.Negatividade e deserdação 
§ 5.843.Situações  de  sucessão  legítima  e de distribuição. 1.  Sucessão legítima  nas  condições  e  fideicomissos. 2. 
Consequências das expressões “acrescendo, acrescerá, acresce”... 

§  5.844.Restrições  de  poder  nos  fideicomissos  e  usufrutos.1.  Permissão  de  gravação.  2.  Nua­propriedade. 
3.Transmissão  da  herança.  4.  Pluralidade  de  fiduciários.  5.Direito  dos  fideicomissários  e  clausulação.  6.  Prole 
eventual.7.  Legados  a  têrmo  e  sob  condição.  8.  Inalienabilidadedos  bens  testados.  9.  Extinção  do  fideicomisso. 
10.Impenhorabilidade. 11. Incomunicabilidade. 12. Fidúcia de resíduo.13. Dúvida quanto a cláusula 

CAPITULO XVIII 

DESERDAÇÃO 

§  5.845.Privação  da  porção  legítima  necessária.  1.  Cláusula  deserdativa.  2.  Sucessão  e  deserdação.  3.  Direito 
romano.  4.  Fundamento.  5.  Deserdação  parcial.  6.  Perdão  da  causa  da  deserdação.  7.  Deixa  ao  deserdado.  8. 
Pressupostos da deserdação. 9. Forma da deserdação. 10. Nulidade da deserdação. 11. ~Pode o deserdado herdar 
em  virtude  de  testamento?  12.  Deserdação  e  herança  legítima  não  necessária.  13.Condição.  14.  Dissipação.  15. 
Revogação. 16. Herdeiros dos herdeiros; cessão dos direitos. 17. Credores do deserdado. 18. Renúncia e perdão. 
19.  Cláusula  testamentária  e  parte  de  cláusula.  20.  Descendentes  do  deserdado.  21.Revogação  da  cláusula 
deserdativa 

§  5.846.  Prova  da  veracidade  da  causa  alegada.  1.  Ineficácia  da  cláusula  deserdativa.  2.  Correspondências.  3. 
Prova da veracidade da causa. 4. Situação objetiva, pendente a prova. 5. Ônus da prova. 6. Nulidade e ineficácia da 
cláusula  deserdativa.  7.  Disposições  que  cabem  na  parte  disponível.  8.Eficácia  da  decisão  sôbre  a  prova  da 
deserdação.... 

§ 5.847. Outras causas de deserdação. 1. Ações da deserdação. 2. Deserdação dos descendentes por ascendentes. 
3.  Correspondências.  4.  Causas  de  deserdar.  5.  Ofensas  físicas.  6.  Injúria  grave.  7.  Desonestidade  da  filha.  8. 
Relações  ilícitas  com  a  madrasta  ou  o  padrasto.  9.  Desamparo  do  ascendente  em  alienação  mental  ou  grave 
enfermidade.  10.  Deserdação  dos  ascendentes  por  descendentes.  11.Correspondências.12.Conteúdo  da  regra 
jurídica 
§  5.848.Destino  do  quinhão  do  deserdado.  1.  Omissão  do  Código  Civil.2.Questões  que  surgem.  3.  Problema 
jurídico no direito alemão. 4. Problema jurídico no direito brasileiro 5. Solução do problema 

CAPITULO XIX 

FORMAS ORDINÂRIAS DO TESTAMENTO 

§ 5.849.Função do formulismo testamentário. 1. Proteção do Estado e formas testamentárias. 2. Espécies de formas 
testamentárias. 3. Nulidade dos testamentos. 5. Forma dos testamentos. 5. Nome e testamento 

§ 5.850.Material de escrita. 1. Pressuposto material de forma. 2.Forma de carta. 3. Lançamento no Livro de Notas 
do  tabelião.  4.  Escrita  do  testamento.  5.  Testamento  em  dois  ou  mais  exemplares.  6.  Língua  estrangeira  ou 
artificial. 
§ 5.851.Data e lugar dos testamentos. i. Pressupostos da referência à data e ao lugar. 2. Momento em que se fêz o 
testamento. 3. Eventual vantagem da desígnação precisa do lugar. 4.Expressão da data 
§ 5.852.Assinaturas dos testadores. 1. Espécie de testamento e assinatura do testador. 2. Caracteres da escrita. 3. 
Ilegibilidade 
§  5853.Disposições  sôbre  quantidades  (inteiros,  frações).  1.  Letras  e  algarismos.  2.  Indicações  dependentes  de 
avaliação ou de renda 
§ 5.854.Extravio e destruição dos testamentos. 1. Testamento e requisitos. 2. Testamento e revogação, no direito
romano.  3.Extravio  e  destruição  do  testamento  no  direito  contemporâneo.  4.  Direito  civil  brasileiro.  5.  Casos 
similares de atingimento material. 6. Prova da acidentalidade ou ato de outrem. 7. Multiplicidade de exemplares. 8. 
Possibilidade jurídica e possibilidade material de reconstituição. 9. Terceiro instrumento do testador. 10. Qual a lei 
que deve reger a destruição e extravio do testamento 
§  5.855.Formas  testamentárias.  1.  Formas  testamentárias  no  Código  Civil.  2.  Tempos  primitivos.  3.  Formas 
iniciais  dos  testamentos  romanos.  4.  Testamentos  no  direito  posterior  romano.  5.  Origens  de  formas  do  direito 
hodierno.  6.  Direito  anterior  ao  Código  Civil  brasileiro.  7.  Direito  inglês.  8.Testamento  no  direito  dos  Estados 
Unidos  da  América.  9.Testamento  no  direito  austríaco.  10.  Testamento  no  direito  francês.  11.  Testamento  no 
direito  italiano.  12.  Testamento  no  direito  argentino.  13.  Testamento  no  direito  suíço.  14.Testamento  no  direito 
alemão.15  Testamento no direito português. 16. Consideração final 

§  5.856.  Testamento  conjuntivo,  simultâneo,  recíproco  e  correspectivo.  1.Direito  anterior.  2.  Proibições  noutros 
sistemas  jurídicos.  3.Testamentos  escapos  à  proibição.  4.  Verdadeiro  conteúdo  da  regra  jurídica  vedativa.  5. 
Unípersonalidade do testamento. 6. Independência intencional. 7. Extensão da incidência. 8. Pactos antenuPciais e 
a regra jurídica proibitiva de testamentos conjuntivos. 9. Testamento conjuntivo e direito austríaco. 10. Testamento 
conjuntivo e direito inglês 11.Testamento conjuntivo e direito alemão. 12. Testamento berlinense. 13. Eficácia das 
disposições correspectivas e as não­correspectivas no direito alemão 

§ 5.857.Testamentos especiais. 1. Número limitado ­ 2Interpretação da regra jurídica limitativa 


§ 5.858.Contrato de herança. 1. Regra jurídica vedativa. 2. Contrato de herança e regra jurídica vedativa do direito 
brasileiro. 3. Contrato de herança no direito alemão. 4. Contrato de herança no direito suíço 
§  5.859.Direito  constitucional  e  testamento.1.  Criação,  alteração  e  extinção  de  formas  testamentárias.2.  Língua 
estrangeira e legislação estadual. 3. Governos “de facto” e testamentos 
§ 5.860.Direito penal e formas testamentárias. 1. Testamentos e crimes. 2. Crimes mais encontraveis                 375 
§ 5.861.Espécies  de  testamentos quanto à  forma.  1.  Função  jurídica  das  formas testamentárias. 2.  Evolução  das 
formas jurídicas. 3. Imperatividade e interpretação. 4. Interpretação das leis sôbre formas testamentárias 
§ 5.862.Direito internacional privado e formas testa’mentárias. 1. Lei de Introdução ao Código Civil, art. 10 e §§ 
1.0 e 2.0. 2. Forma e “lex loci”. 3. Conteúdo da expressão “actum”. 4. Testamento e “lex loci”. 5. Forma essencial. 
6.  Forma  extrínseca  ou  requisito  extrínseco.  7.  Espécies  de  testamento:  a)testamento  público.  8.  Espécies  de 
testamento:  b)  testamento  cerrado.  9.  c)  testamento  hológrafo.  10.  Testamento  nuncupativo.  11.  “Testamentum 
tempore  pestis  conditum”.  12.Testamento  em  circunstâncias  extraordinárias.  13.  Testamentos  de  militares, 
marinheiros  e  viajantes.  14.  Testamento  conjuntivo. 15.  Contrato  de  herança.  16.  Ordem  pública  em  matêria  de 
forma testamentária. 17. Ato pessoal do testamento. 18. Casos de reenvio. 19. Forma testamentária no direito inglês 

§ 5.863.Direito intertemporal e forma. 1. Princípio de direito initertemporal e formas testamentárias. 2. Espécies de 
formas  testamentárias  e  direito  intertemporal.  3.  Testamento  público  e  testamento  cerrado.  4.  Testamento 
particular. 
5.Testamento nuncupativo. 6. Testamento conjuntivo. ‘7. Testamento de militares, marinheiros e viajantes de alto­ 
­mar.  8.  Testamento  “tempore  pestis  conditum”.  9.  Contrato  de  herança  e  doações  a  causa  de  morte.  10. 
Convalescença e direito intertemporal
Título III 

SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 

(continuação) 
CAPITULO XIV 

CAPACIDADE DE ADQUIRIR POR TESTAMENTO 

§ 5.810. Capacidade testamentária 

1.SUCESSIBILIDADE E TESTAMENTO. iure A capacidade para suceder é de todas as pessoas, de modo que só 
excepcionalmente a pessoa iur e física ou jurídica iure não pode suceder. Só a lei pode limitar  a capacidade para 
suceder, quer legitima, que testamentariamente Não se dístingue quanto à nacionalidade do herdeiro, quer legítimo, 
quer  testamentário.  Entenda­se  o  mesmo  a  propósito  dos  legados:  quem  pode  suceder  legitimamente,  ou 
testamentariamente, na qualidade de herdeiro, pode receber legados. Para que se abram exceções, é preciso que a 
regra juridica conste de lei e tenha essa respeitado os princípios constitucionais. 

A incapacidade para suceder pode ser a respeito de qualquer herança ou legado, como se a pessoa ainda não fôra 
concebida à data da abertura da sucessão. Tanto isso se refere à capacidade para receber ex lege, como em virtude 
de disposição testamentaria, qualquer que seja a pessoa de que proviria a herança, ou o legado. Rigorosamente, ai 
não  há  incapacidade  da  pessoa  física:  a  pessoa  física  ainda  não  existe;  talvez  mesmo  nunca  venha  a  existir.  A 
designação do herdeiro ou do legatário, pessoa física que não existe, seria causa de inexistência  da deixa, porque se 
quis beneficiar quem não é. 
A lei abre exceções: se a disposição se refere à prole eventual de pessoa designada pelo testador, pessoa, entenda­ 
se, existente à abertura da sucessão; se a deixa  foi para se constituir entidade personalificável e  funcionável  e se 
recorre a personificação e autorização para a funcionalização. 
O instituido herdeiro ou legatário há de existir no dia da morte do decujo. Mais precisamente: no momento (e. g., 
minuto) anterior à morte do decujo. Já existe quem já foi concebido. Não é preciso já ter nascido, nem, sequer, já se 
ter como concebido. Se há dúvida, tem­se de alegar e provar que a concepção foi anterior à morte, O caso típico é o 
do pai que morreu no leito após relações sexuais. 
Se o testamento disse “deixo x aos filhos (ou ao filho) de E” e, na data do testamento, ainda não teve filho E, mas 
concebido  foi  antes  da  morte do  testador, o filho  existente  (já  concebido, ou já  nascido), ou os filhos  existentes 
herdam. 
Quanto à cláusula testamentária com condição suspensiva, discute­se a) se há de ser exigida a capacidade à data da 
morte, ou b) se a capacidade há de ser à data em que se impla a condição, ou e) se tem de ser às duas datas. 
PASCOAL  JOSÉ  DE  MELO  FREIRE  (Institutiones  luris  Civilis  Lusitani,  III,  88  s.)  e  1W.  A.  COELHO  DA 
ROCHA  (lnstituyoões  de  Dtreito  Civil  Português,  II,  544  s.)  frisavam  que,  enquanto  o  direito  romano  exigia  a 
capacidade em três momentos (o da feitura do testamento, o da morte do testador e o da adição da  herança),  no 
direita  luso­brasileiro  só  se  havia  de  supor  ser  necessária  a  capacidade  ao  tempo  da  morte  do  decujo,  ou,  se 
condicional a deixa, ao tempo do implemento da condição. Foi êsse o caminho seguido pelos juristas portuguêses e 
brasileiros.  Mas  temos de  advertir  que  nem  todas  as  condições  são  iguais.  Além  disso,  há  aquisição do direito  à 
abertura da sucessão, porque não se  há de confundir o direito expectado com o direito expectativo, que já existe 
enquanto há a pendência (Tomo V, §§ 544, 1 e 6; 545, 6; 547). O direito do sucessor sob condição suspensiva é da 
classe do direito do fideicomissário, nos fideicomissos, O herdeiro ou legatário é tratado como o fideicomissário. 
Na condição resolutiva, o herdeiro ou legatário está em situação semelhante à do fiduciário. Com a suspensividade, 
ou se disse ou não se disse quem seria o herdeiro ou legatário antes do instituído suspensivamente. 
Se o testador não determinou quem fica à espera de que se impla a condição e ao instituído condicionalmente vão 
todos  os  efeitos,  entende­se  que  os  herdeiros  legítimos  é  que  se  inserem  na  deixa  como  se  fossem  fiduciários. 
Dissemos “como se fossem”, porque, ez hypoth,esi, não houve instituição de herdeiro ou legatário fiduciário: é na 
qualidade de herdeiros legítimos que com êles  fica a herança, até que se irradie, com o implemento da condição 
suspensiva, o direito expectado do instituido. 
A condição suspensiva faz em pendência o direito a que ela visa. É isso o que está no Código Civil, art. 118. Mas o
herdeiro ou legatário que foi instituido sob condição suspensiva já adquiriu um direito, o direito expectativo, tanto 
assim  que  pode  aliená­lo,  gravá­lo,  empenhar  a  sua  pretensão  contra  quem  está  com  os  bens,  à  semelhança  do 
fiduciário. Se o instituído sob condição transmite o seu direito a quem está com o bem ou os bens, extingue­se o 
direito  expectativo,  e o  herdeiro ou  legatário que  estava exposto  à  condição  torna­se  herdeiro pleno ou  legatário 
pleno. 
Se a disposição foi a favor de prole eventual de pessoas pelo testador designadas e existentes ao abrir­se a sucessão 
(Código Civil, art. 1.718, 23 parte), o problema da instituição sob condição suspensiva é o mesmo que ocorre para 
as deixas incondicionadas. 
O  sistema  jurídico  não  distingue  da  incapacidade  para  ser  herdeiro  a  incapacidade  para  ser  legatário,  nem  da 
sucessão universal a singular. Tão­pouco se cogitou das diferenças do objeto (grande e pequeno valor, bem móvel e 
bem imóvel, incondicionalidade e condicionalidade), nem dos graus. 

2.PRINCÍPIO  DA  COEXISTÊNCIA.  iure  A  capacidade  de  adquirir  por  testamento  é  a  regra,  iure  quem  tem 
capacidade de direito pode herdar. A essa correspondência a  lei reconhece (de parte o caso do já concebido, cf. 
Código Civil, arts. 4,0 e 1.718) duas classes de exceções: 
a)A favor de maior existio, iure dispensando a simultaneidade da capacidade de direito e da abertura da sucessão: 
a:)  quando  a ·disposição  testamentária   (no  Brasil,  qualquer  que  seja)  se  referiu  a  prole  eventual  de  pessoas 
designadas pelo testador e existentes, essas, ao se abrir a sucessão (construção, como se verá, difícil) ; b) quando se 
tratar de fundações; e) quando se referir ao modus; á) quando fôr legado a estabelecimento de ensino superior. 

§ 5.811. PRINCIPIO DA COEXISTÊNCIA 

b)  Restritiva,,  nos  casos  do  art.  1.719,  onde  há  capacidade  de  direito  (personalidade),  e  menor  capacidade 
testamentária. O paralelismo cessa: há pessoas incapazes de herdar. 
Fora  da  incapacidade  de  direito,  que  preestabelece  ausência  de  qualquer  capacidade  menor,  não  conhece  a  lei 
qualquer outra causa de incapacidade absoluta;  nem os estrangeiros, nem aqueles contra o qual houve condenação 
penal, nem o que Exerce profissão religiosa, são, hoje, incapazes. Em direito internacional privado, se os Estados 
podem  ser  nomeados  herdeiros  ou  legatários,  veremos  no  lugar  devido.  Das  chamadas  incapacidades  relativas, 
tratam os arts. 1.719 e 1.720. 

3.INCAPACIDADE E INDIGNIDADE. iur e Toda a matéria dos arts. 1.717 e 1.720 do Código Civil é de ordem 
pública. Textos imperativos, de que o testador não pode útilmente discorda4 A vontade contrária é inoperante. 
A indignidade iure que exclui os herdeiros e faz caducos os legados iure não se funda em razão de ordem pública, 
mas em presunção da vontade do hereditando. Por conseguinte, o testador pode obviar aos efeitos excludentes da 
lei, opor­se a eles, e a indignidade deixa de surtir efeitos. 

5.811. Conteúdo do princípio da coexistência 

1.DOUTRINA DA CAPACIDADE DE SUCEDER. iure Domina a doutrina da capacidade de suceder o principio 
da coexistência dos nomeados e do testador:  devem coexistir  no momento da morte, no  instante da transmissão. 
Tal princípio era absoluto; os tempos criaram­lhe exceções;  e veremos que o direito brasileiro inseriu uma das mais 
graves e de maiores conseqúências práticas. 
2.DIREITO ROMANO. iure Personae incertae (isto é, as de que o testador não podia ter idéia concreta), no antigo 
direito, compreendiam as que o futuro determinaria e as não concebidas ao momento de se testar. 
Depois,  pelo  direito  civil,  todos  os  postumi  seus  poderiam  ser  instituidos  e  o  direito  pretoriano  deu  a  bonorum 
possessio secundum tabulas a êsses e aos postumi atieni (L. 3, D., de bonorum p:ossessione secundum tabulas, 37, 
11). 
Quanto  às  pessoas  jurídicas,  a  capacidade  só  se  reconhecia  excepcionalmente,  pelas  constitutçóes  e 
senatusconsultos,  quase  sempre  a  favor  de  divindades  peregrinas,  talvez  (pensava  TH.  MOMMSEN)  por  terem 
bastantes recursos os antigos deuses do povo. 
Odireito  cristão  foi  que  veio  alargar  o  círculo  da  factio  testamenti,  até  abranger,  sob  Justiniano,  todas  as 
corporações. 
Praticamente, e não menos em teoria, devemos separar o problema da ruptura  pela superveniência de póstumo, o 
da  incerteza  de  quem  vai  suceder  e  o do direito  do  já concebido.  São os  arts.  1.750, 1.667,  II  e  III  (1.668, 1,  e 
1.669), e 1.718, de fundamentos e consequências diferentes.
a)O problema do beneficio aos póstumos. (O étimo é post. ISIDORO, Orig., IX, 5, escreveu: “ Postizumus vocatur 
eo quod quod humationern patris nascituro. Derivação errada, de que veio a errônea grafia de algumas línguas.) No 
direito romano, rompia­se o testamento com a superveniência de póstumo durante a vida do testador. Com a Lez 
lulia  Velleia,  do  terceiro  têrço  do  século  VIII  (768  e  799),  e  as  interpretações  de  CERvIDIUS  SCAEvOLA,  foi 
possível instituir  e deserdar  o póstumo, prevenindo­se, por essa maneira, qualquer ruptura do testamento. Porém 
não se podia passar pelo póstumo, em silêncio, 
iurepraeterire. Exigiu­se, sempre, estar concebido na ocasião da morte (§§ 25 e 27, 1., de legatis, 2, 20; L. 127, D., 
de legatis et fideieommissis, 80). Nas Institutas, dá­se a noticia do direito anterior a Justiniano (§§ 25 e 26), e da 
ConstituNção inserta in nastro Codice, como diz o imperador (§ 27). 
b)O problema da pessoa futura. Êsse problema é o que se contém no art. 1.718. 
Não se confunda a questão com a da superveniência de herdeiro, causa ‘de ruptura:  aqui, não nos interessam os 
que nascem entre o testamento e a morte do testador, mas os que não estavam concebidos no momento da morte. 
Evitaremos  a  designação  póstumo,  porque,  na  espécie,  melhor  fica  a  de  pessoa  futura.  Póstumo  servirá  para  a 
interpretação e o comento do art. 1.750 do Código Civil. 
(Postumus é apenas superlativo de posterws.) 
A despeito do que pensava M. 5. MAYER (Die Lehre vofl dem Erbrecht nach heutigem ràmischen Rechte, § 16, n. 
7),  no  direito  romano  não  podia  herdar,  testamentariamente,  ou  ab  intestato,  o  não  concebido  no  momento  da 
abertura  da  sucessão.  A  resposta  negativa  do  antigo  direito  romano  à  capacidade  passiva  dos  não  concebidos  à 
época do testamento constituía érro técnico do empirismo romano. A postumidade devia apreciar­se no ‘momento 
da morte, e não no da feitura do testamento. No postumus alienus, o antigo direito via disposição deixada à vontade 
de terceiro. Trata­se de sucessão imediata. A mediata era possível: o fideicomisso teve tal função. A necessidade da 
existência era dogma, se bem que haja escritores que o pretendessem menos rijo, como C. F. C. WENCK (Reitra~g 
vir  rechtlicken  Beurtheilung  des  Stãdelschen  Reerbungs  falis,  §  4,  31),  1W.  WILHELM  Gt~TZ  (Rechtliche 
Entscheidungen der Altdorfer Juristew­Facultãt, 201­233), CHE. FE. vON GLÍICE (Hermeneutisch­svstematische 
Erãrter’ung  der  Lehre  von  der  Intestaterbfolge,  586).  No  direito  comum,  manteve­se  a  controvérsia  (M. 
SCHERER,  tiber  die  Fãhigkeit  eines  zur  Zeit des Todes  des  Erblassers  noch  nicht  concipierten  Posthumus,  zum 
Erben eingesetzt zu werden, .Jahrbiicher flir di~ Dogmatilc, 23, 435). 
A  respeito  da  Novela  118,  há  discussão:  querem  uns  que  o  conceito  de  parentesco  apanhasse  os  ainda  não 
concebidos no momento da morte do testador: L?IBENSTERN (Zeitschnft fiir Civilrecht und Prozess, IX, 215 s.), 
TH.  SCHIRMER  (Handbuch  des  Râmischen  Rrbrechts,  189,  n.  157),  iure  antes,  CER.  FE.  voN  GLtTCI< 
(Hermeneutisck­svstematische Erõrterung der Lekre von der Jntestaterbfolge, 583 s.) e HEINRICH DERNEURO 
(Pandekten, III, 272); contudo, dominou a opinião contrária, com KARL AD. vON VANGEROW (Leh.rbuch. ‘der 
Pandekten, II, 7·~ ed., § 411, 38), L. ARNDTs (Lehrbuch der Pandekten, 8.a ed., § 474, n. 6), E. WIND5CHEID 
(Leh­rbueh. des Pandektenrechts, III, § 571, nota 2) e A. BRINZ (Lehrbuch. der Pandekten, III, 128). 
No Código Civil  francês,  há o art. 725, 1.0, que expressamente decidiu, incluindo entre os que são incapazes de 
suceder, “celui qui n’est pas encore conçu”. Mas, adiante, abre­se brecha no princípio (arts. 96, 1.048­1.051, 1.082 
e 1.083). 

3.PROBLEMA TEONICO DA CONSTRUÇÃO. iure Na possibilidade de instituir pessoa futura há, após a adoção 
doutrinária, o problema técnico da construção, ~ Como o “ ainda­não­concebido”  pode ser sujeito de direito?  Se 
negada fôr a subjetividade jurídica dêsse ser ainda não existente, ~,quem guardará a herança ou legado? Em que 
qualidade guardará? verá, no intervalo, bens, sem sujeito que o possua? Tratar­se­á de propriedade personificada, 
afeta a um fim? Aqui, pomos apenas o problema; dêle trataremos ao cogitarmos do art. 1.718. 

4.TEXTO LEGAL. iur e Diz o Código Civil, art. 1.717: “Podem adquirir por testamento as pessoas existentes ao 
tempo da morte do testador, que não forem por êste Código declaradas incapazes”. Cf. Código Civil francês, art. 
902;  espanhol,  art. 744;  italiano  (1865), art. 764;  suíço,  art. 539;  venezuelano,  art. 828; português  revogado,  art. 
1.776; argentino, art. 3.738; e mexicano, art. 3.288; italiano de 1942, art. 462; português de 1966, art. 2.038. 
Diz  o  Código  Civil  italiano  (1942),  art. 462:  “Sono  capaci  di  succedere  tutti  coloro  che  sono  nati  o  concepiti  ai 
tempo  dell’apertura  della  successione.  Salvo  prova  contraria,  si  presume  concepito  aí  tempo  dell’apertura  delia 
successione  chi  énato  entro  i  trecento  giorni  dalia  morte  deila  persona  deila  cul  successione  si  tratta.  Possono 
inoltre  ricevere  per  testamento  1  1  igli  di  una  determinata  persona  vivente  ai  tempo  deila  morte  dei  testatore, 
benché noil ancora concepiti”. E o Código Civil português (1966), art. 2.033: “1. Têm capacidade sucessória, além 
do Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão, não excetuadas por lei. 2. Na 
sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade: a) Os nascituros não concebidos, que sejam filhos de
pessoa determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão; b) As pessoas coletivas e as sociedades 

5.PRINCÍPIO  DA  COEXISTENCIA  E  INCAPACIDADE.  iure  A  capacidade  dos  existentes  é  a  regra;  a 


incapacidade, a exceção. Aliás, nos nossos tempos, a capacidade de herdar é corolário da capacidade de direito. 
Rege  todo  o  assunto  o  principio  da  coexistência;   o  artigo  1.718,  in  fine,  constitui  exceção  a  êsse  princípio 
(Grundsatz  der  Koexistenz),  que  rege  assim  a  sucessão  legítima  como  a  testamentária.  É  preciso  que  tenham 
coexistido  testador  e  herdeiro,  isto  é,  que,  ao  morrer  aqueles,  já  ou  ainda  esteja  vivo  êsse  (E.  ENDEMANN, 
Lehrbuch des Biirgerlichen Rechts, III, § 11, 78). 
No direito alemão, só se abre uma brecha ao cânon, que resistiu a várias teorias do direito justinianeu e comum 
(HEINRICE  DERNEURO,  Pandekten,  III,  §  135)  e  apenas  para  os  legados  (§§  2.160,  2.162,  II,  e  2.178).  No 
direito brasileiro, não: 
a exceção apanha todo o domínio das sucessões testamentárias. Outras exceções: a fundação, o estabelecimento de 
ensino superior, e iure pela natureza do instituto iure quando se trata de modus. 
6.ABSOLUTAMENTE  INCAPAZES  iure  Diz  o  Código  Civil,  artigo  1.718:  “São  absolutamente  incapazes  de 
adquirir por testamento os individuos não concebidos até a morte do testador, salvo se a disposição dêste se referir 
a  prole  eventual  de  pessoas  por  êle  designadas  e  existentes  ao  abrir­se  a  sucessão”.  No  Código  Civil  italiano 
(1865), art. 764, 2ª­ alínea; cp. Código Civil francês, arts. 906 e 1.048 5.; suíço, art. 544; português revogado, arts. 
1.776 e 1.777; argentino, ad. 3.290; venezuelano, art. 828, 2~a alínea; italiano de 1942, art. 462; português de 1966, 
art. 2.083; cp. Código Civil alemão, §§ 2.070 e 2.071. 

7.INCAPACIDADE ABSOLUTA E RELATIVA. iur e Na terminologia do Código Civil, se a coexistência  não se 


dá, ocorre incapacidade absoluta. Relativamente incapazes são as pessoas designadas no art. 1.719. No art. 1.650 
dão­se “o herdeiro instituido, seus ascendentes e descendentes, irmãos e cônjuge, e os legatários” como incapazes 
de testemunhar nos testamentos; mas, já se mostrou que não se trata de incapacidade para testemunhar, e sim de 
casos a que incide ~a regra do art. 1.720. Se fôsse incapacidade prôpriamente dita, caIria o testamento; e êIe não 
cai,  O  que  cai  é  a  deixa,  porque  a  lei  a  proibe. No artigo 1.650,  ressalta,  vivo, o  erro de técnica  legislativa.  Cp. 
artigo 1.719, II. 

8.TRAÇOs  DIFERENCIAIS.  iure  Cumpre  não  se  confundir  a questão da capacidade  testamentária passiva   (art. 
1.718) com a outra, a do art. 1.667, li edil, que diz respeito a validade cognoscitiva da disposição. Os problemas 
tocam­se,  porém  não  se  confundem.  A  incerteza  pode  existir,  sem  a  questão  da  postumidade,  ou  futuridade  da 
pessoa. Por outro lado, não seria impossível a futuridade, sem a questão da incerteza. 

9.APLICAÇôES no PRINCIPIO. iure Herdar  sámente pode quem, ao tempo da morte do hereditando, viva. Mas 
àquele que, por esse tempo, ainda não vivia, se bem que já estivesse concebido, aproveita o art. 40, 2a parte, onde a 
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (art. 1.718). São dois os pressupostos: a) que a pessoa já 
viva, ou, pelo menos, já esteja concebida; b) ainda viva. 

10.PESSOAS JURÍDICAS. iure A regra jurídica também se aplica às pessoas jurídicas: é preciso que existam, que 
tenham  personalidade,  para  que  possam  herdar.  A  exceção  legal  é  em  favor  das  fundações  (art.  24)  e,  por  sua 
natureza jurídica, do modus, além da que, explicitamente, se insere na 2·a parte do art. 1.718, a cuja construção nos 
reportamos. O art. 1.666 exerce enorme papel, sempre que caiba decidir das construções possíveis: opta­se pela que 
execute o querer do testador. 
Outra exceção: é permitido aos estabelecimentos de ensino superior, públicos ou particulares, receber legados (Lei 
número  1.150,  de  3  de  dezembro  de  1892).  Ainda  que  não  tenham  personalidade,  porque  os  de  imediata 
dependência do Estado ordinàriamente não têm: e o Código Civil não revogou lei de direito administrativo federal. 
Se  herança,  reputa­se  herdeira  a  União,  e  a  aplicação,  modus.  Se  particular,  o  favor   tem  de  construir­se  à 
semelhança do art. 1.718. 
Aqui, a respeito das sociedades, que ainda não são pessoas. jurídicas, ou que tenham de ser constituídas e ao tempo 
da  morte  do  testador  não  o  tenham  sido,  cumpre  que,  diante  da  verba  testamentária,  se  entenda  que  o  testador 
atribuiu a herdeiro, ou legatário, ou testamenteiro o encargo de providenciar para a criação e a personificação. Até 
êsse momento, o incumbido fica com os bens, e quase sempre se interpreta a disposição como disposição modal. 

§ 5.812. Nascituro
1.CONCEITO. iure Nascituro é o  concebido  ao tempo em ~que se apura a existência  intrauterina  de quem pode 
nascer  com  vida.  Há,  pois,  situação  para  com uma  relação  jurídica. Se  mais  de  uma  são  as relações, o  nascido 
pode ainda não ser concebido ao tempo em que urna se estabeleceu e concebido 

ao tempo da criação de outra. A questão da prova serve para caracterizar a relatividade essencial ao conceito. 

2.DIREITO  ANTERIOR  QUANTO  AO  NASCITURO.  iur e  TEIxEIRA  DE  FREITAS  considerava  pessoa  o 
nascituro  (Consolidação, artigo 1). Assim, em vez de se ter, como favor da lei e como ficção, por nascido o que 
não  nasceu,  fixava­se  na  cOncepçao  o  início  da  personalidade,  e  resguardavam­se  até  o  nascimento  os  direitos 
hereditários.  Tal o direito  anterior  ao  Código  Civil.  No Projeto de  CLÓvIS  BEVILÁQUA,  art. 3, insistia­se:  “A 
personalidade civil do ser humano começa com a concepção, com a condição de nascer com vida”. Prevaleceu que 
a personalidade começa com o nascimento: a  lei,  por exceção, como que pára o andamento das coisas, a  fim de 
aguardar o nascimento. 
Pôs­se de lado a questão da vitalidade. Aliás, a doutrina. anterior, com TEIXEIRA DE FREITAS, que a afastava, 
pelo recuo do inicio da personalidade à data da concepção, e ANTÔNIO JOAQUIM RIBAs, que, práticamente, a 
reduzia ao nascimento. com vida, não cogitava da indagação de vitalidade, O Decreto n.181, de 24 de janeiro de 
1890,  ao  tratar  de  efeitos  do  casamento,  dissera  que  retroagiam,  “em  relação  aos  filhos  comuns,,  a  data  do 
nascimento, se nascerem viáveis”. Daí, talvez, generalizar­se o requisito na Nova Consolidação de CARLOS DE 
CARVALHO, art. 74. 

3.REGRAS JURÍDICAS. iure Não se acolheu solução decisiva: 
o art.4 do Código Civil está redigido como se negasse personalidade ao nascituro, mas cogita de um curador (art. 
462), e.. no art. 1.718, fala de absolutamente incapaz. Continuaria a mesma variedade de construções possíveis. 
A falta de existência  é bem mais do que a incapacidade;. o art. 1.718 é menos regra de incapacidade testamentária 
do que de incapacidade de direito: a terminologia, defeituosa, fá­lo. chocar­se com o art. 49. (Não ao ponto em que 
o quer CLÓVIS BEvILÁQuA; êsse o censura de não ter aceito a sua solução da personalidade do nascituro, sob a 
condição (7) de nascer vivo.) A pessoa física é substrato da personalidade jurídica do homem; e a singular situação 
do feto estabelece o problema, a que, rigorosamente, nenhuma das soluções dogmáticas se ajusta inteiramente: se 
adotamos  a  personalidade,  há  a  solução  que’  impõe  atendimento  radical,  mas  riscável.  A  do  Código  Civil  foi 
longamente examinada (Tomos 1, §§ 50, 4, 51 e 52; VII. §§ 730, ‘734, 1, e 786, 8. 

4.PROBLEMA  DA  CONSTRUÇÀO  JURÍDICA.  iure  ~  Como  se  devem  construir  o  art.  49,  2a  parte,  e  o  art. 
1.718? Também na Alemanha a capacidade de direito começa do nascimento (§ 1); e no § 1.923 se acrescenta que 
se tem por nascido antes da abertura da sncessão o que, ao tempo dela, ainda não vivia, mas já estava concebido. É 
o nasciturus pro iam nato habetur. Nascimento com vida, diz a lei brasileira: na lei alemã, fala­sé do que, ao tempo 
da  abertura  da  sucessão  (“ zur  Zeit  des  Flrbfalls” ),  ainda  não  vivia  (“ noch  nich,t  lebte” ),  iure  donde  se  tirou  o 
mesmo  que,  expilcitamente,  se  diz  na  lei  brasileira:  ser  preciso  que  nasça  vivo.  Um  instante  que  seja  (F. 
HEEZEELDER, Erbrecht, 1. v. Staudingers Koonmentar, V, 9,a ed., 25). A situação é, pois, a mesma; e as mesmas 
podem ser as tenta­Uvas de explicação. 
a)Para F. ENDEMANN (Lehrbuch des Bilrgerlichen 
Rechts, 1, § 26, nota 17), não se finge existente o que ainda não existe, nem se faz recuar, por ficção, o dia de um 
nascimento: 
trata­se de direitos futuros de um homem, apenas resguardados para o caso de vir a nascer vivo. É uma opinião que 
deliberadamente afasta a ficciosidade da regra legal. Semelhante, MAx HACHENBURG (Das RUA., Vortrãge, 2·a 
ed., 832 s.): o que se ressalva são os direitos, porque são direitos que dependem de vir a existir o homem; o lado 
passivo, sem o lado ativo do direito (cp. GREGOR SEMEXA, Das Wartrecht, Archi» flir Rilrgerliches Recht, 85, 
121 e 127). Tratando­se de substituição fideicomissária, iure se nasce sem vida, iur e é como se, ao tempo da morte 
do  decujo,  não  existisse.  Se  morre  depois,  veio  a  existir,  e  passa  aos  seus  herdeiros  o  direito  do  art.  1.585.  O 
nondurn conceptus não gozará disso. 
b)Outra construção foi a de ERNST HEYMANN (fie Grundzilge des gesetzlichen Verwandten­Erbrechts, 61) : os 
direitos  e  deveres  da  herança  passam  condicionados  resolutivamente,  de  modo  que  há,  para  o  herdeiro  a  vir, 
condição suspensiva. É evidentemente  forçado êsse expediente para varrer a ficção, que se tornou importuna aos 
juristas do realismo doutrinário. Vale o mesmo interpor alguém, o que nos parece ainda mais arbitrário. 
Certo  é  que  se  vê,  na  espécie,  aquisição  de  direito  pelo  nasciturus,  subjetivamente  dependente  da  futura 
personalidade;  mas  não  é  prôpriamente  condição  (F.  LOWENFELD,  Einleitung  und  Alígemeiner  Teil,  /.  v.
Staudingers Koinmentar, 1, ‘7 ª ed., 51) . Direito futuro, direito expectativo, Anwartschaft, viu ANDREAS VON 
TUHR (Der Aligemeine TeU des Deutscl&en Biirgerlichen Rechts, 1, 381) ; porém isso não resolve: a questão não 
está no saber a natureza do direito, e sim do sujeito. Dai ter buscado outra edificação. 
e)Recorreu JOSE? KOHLER (Lehrbuch des biirgerlichen Rechts, 1, § 151) à afirmação de um sujeito:  no § 1.923 
da lei alemã (e nos arts. 49, 1ª parte, e 1.718, do Código Civil brasileiro), não se excetua o elemento estrutural das 
relações jurídicas, que é o sujeito ativo, iure há personalidade tácita ou construtiva (stillschweigende konstruktive 
Person). 
d)Entendia KONíUJ  HELLWIG  (Ánspruch. und Klagrecht, § 6, nota 1, 45) que entre a abertura da sucessão e o 
nascimento do herdeiro esperado, indiscutivelmente se trata de herança sem sujeito. 
e)Construiu ANDREAS vON TUHR (Der Aligemeine TeU des Deutschen Elirgerlicheu Rechts, 1, 381, nota 5) o 
interregno (morte do sucedendo e nascimento do concebido) como o de herança com sujeitos alternativos, A ou E: 
se A nascer com vida, E está afastado. É perfeita a prestabilidade da alternativa. Porém, como bem notou o próprio 
ANDREAS VON TUHR. há mais do que uma situação daquelas em que os bens são adéspotas e daquelas em que 
depende de um acontecimento o vir a ter dono. 
f) A aparente contradição do Código Civil, arts. 49 e 1.718, quanto ao nascituro (dá­se o mesmo no direito alemão, 
§§ 1 e 1.923, II), desapareceria, desde que se lessem por esta forma: a capacidade de direito do homem começa 
com a prova segura da sua existência; homem é todo produto gravídico do homem e da mulher, que possui coração 
e complete vinte e quatro semanas (E. AnLnxm, Nasciturus, 78). 

5.CONSTRUÇõES  JURÍDICAS.  iure  Há  várias  situações  jurídicas  em  que  exames  superficiais,  que  pretendem 
resolver o problema construtivo, invocam a condicionalidade. É lamentável, então, o espetáculo da confusão entre 
condiciones juris,elementos  do próprio  fenômeno  jurídico,  e  as  condições, disposições  mexas,  que  subordinam  à 
resolutividade ou à suspeusividade a situação a que se referem. Essas, em  vez de essenciais, são acidentais;  não 
pertencem à natureza especial do fenômeno, iure provêm da vontade humana, que pode intervir, ou não intervir. 
Assim,  é  de  ver  apelarem  para  o  negócio  jurídico  condicional  os  que  topam  com  as  extraordinariedades  das 
situações jurídicas do nascituro, nos casos dos arts. 49 e 1.718, da prole eventual de designadas pessoas (art. 1.718, 
in fine), da Fazenda Nacional, Estadual ou do Distrito Federal, nas sucessões daqueles que não deixam  herdeiros 
legítimos,  nem  testamentários.  A  semelhança  entre  tais  espécies,  no  meio  tempo>  é  evidente;  e  os  autores 
esforçam­se por explicá­las mediante as ordinárias construções técnicas. 
EsfOrço,  êsse,  baldado,  e  sem  o  devido  trato  da  realidade,  que  pretende  esclarecer.  A  questão  é  de  grande 
importância, devido  aos  graves  efeitos  práticos. Por isso,  insistiremos em  varrer dos  assuntos  referidos o que  se 
evidencia prejudicial à verdadeira compreensão dos fatos. 
Na ocasião em que alguém morre e os herdeiros nomeados foram um concebido, filho de A, e a prole eventual de 
B, ~os bens passam, desde logo, a tais indivíduos futuros, ou só se transmitirão quando o concebido nasça vivo, ou 
se verifique o nascimento de prole de E? Alguns vêem no nascituro e na prole herdeiros condicionais. Outros, não. 
Ora,  quando  nasce  morto  o  filho  de  A,  não  há  herdeiro, porque  o  filho  de  A  não  foi  pessoa.  Vêem  nisso a  não 
verificação de uma condição. Mas erram. Nesse caso, não houve herdeiro, nem herança sob condição suspensiva: 
nem retroatividade, nem qualquer outro efeito da suspensividade aposta aos negocios jurídicos. Os bens passaram 
aos herdeiros legítimos, 120 dia da morte do testador (le mort saisit le vif) :  a falta do nascituro que nascesse vivo 
não  é  mais  do  que  a  demonstração  de  não  ter  tido  eficácia   a  disposição  do  testador  a  favor  do  Concebido.  O 
momento  em  que  o  juiz  se  persuadiu  disso  não  é  o  montante  da  ineficácia,  e  sim,  apenas,  aqueles  em  que  a 
ineficácia se demonstrou. O herdeiro concebido não existiu: pensava­se que viesse a confirmar­se a suposição de 
existir  (existir, aí, é estar concebido e viver até o momento de nascer); e iure como os homens não adivinham, e é 
de presumir­se que  nasçam  com  vida  os  já  concebidos  iure o direito  ressalva, desde  a  concepção, os direitos  do 
nascituro. Entre presumir que nasça morto, e presumir que nasça vivo, tudo (probabilidades estatísticas, eqUidade, 
boa política social), tudo aconselha a ter­se por mais provável o nascimento com vida. Se errarmos (isto é, se nasce 
morto), iure então demonstrado  ficou que a disposição não tinha, do lado passivo, quem a recebesse. Ora, isso é 
muito diferente do que o que se passa com as condições:  
nessas,  com  o  momento  da  certeza   coincide  o  da  ineficácia,  e,  às  vêzes,  se  precisa  da  retroatividade  para  se 
desfazerem efeitos; ao passo que, no caso de se contemplar nascituro, que nasça morto (vale o mesmo o não estar 
concebido, outro requisito da validade da disposição), o momento da ineficácia  é o da morte do testador, e não o da 
certeza  de não ter nascido com vida (ou já não estar concebido à abertura da sucessão): êsse momento, em que se 
assenta  que  não  havia  pessoa,  apenas  demonstra  a  eficácia.  Não  se  precisa  de  qualquer  recurso  às  noções  de 
retroatividade e outras: nas condições, os atos praticados, pendentes elas, são juridicos, segundo o direito; e os que 
advieram  da  concepção,  que  se  supunha,  e  não  se  seguiu  de  nascia  mento  com  vida,  são­,  contra  o  direito.
Perguntar­se­á: se tais efeitos são contra direito, ~ por que a lei abre a porta a êles, com as cautelas a favor do feto? 
O  direito  sabe  que  a  antijuridicidade  pode  acontecer;  mas  também  sabe  que  o  futuro  é  insondável,  que  a  nossa 
ignorância  do  vir  a  ser  nos  obriga  a  deferir  ao  dia  do  nascimento  a  dentonstraçdo  da  eficácia  ou  ineficácia  da 
disposição. Se nós víssemos ‘no futuro, se a dimensão do tempo fôsse, para nós, como a do espaço, então tudo isso 
seria  afastado:  no  dia  da  morte  do  testador,  já  saberíamos  que  o  concebido  nasceria  vivo  e  seria,  desde  logo, 
demonstrada  a eficácia  da verba testamentária; ou estaríamos certos de que abortaria a mulher, ou de que nasceria 
morta a criança, e  não perderíamos esforços (nem complicaríamos os fios tênues do apriorismo jurídico!) com a 
salvaguarda de direitos que não poderiam ser. Tudo isso fracassa porque a demonstração não é contemporânea à 
eficácia  ou  ineficácia:   temos dois  momentos  iure  o da eficácia  ou  ineficácia, que  é o da  morte do  testador,  e o 
outro, em que se vai demonstrar, definitivamente, isso ou aquilo. Não há por onde confundir isso com o negócio 
jurídico condiciondo. 
Dir­se­á:~ tem valor prático tudo isso? Respondemos apenas o seguinte: das verdades, que ai ficam, depende iure 
vulgarmente! iure o destino de fortunas. Vamos a um exemplo: A testou e nomeou herdeiro ao concebido por E. 
No  momento  em  que  E  dá  à  luz,  verifica­se  que  nasceu  sem  vida,  iA  quem  vão  os  bens?  Responde­se:  aos 
herdeiros  legítimos.  Sim.  Mas  z  a  quais  herdeiros  legítimos?  Aos  do  momento  da  morte  do  testador  ou  aos  do 
momento  do  nascimento  sem  vida?  As  nossas  considerações  resolvem:  aos  do  momento  da  morte  do  testador, 
porque foi então que se deu a ineficácia, que o nascimento morto apenas demonstrou. Não foi uma disposição que 
se  tornou  ineficaz;  já  o  era.  No  meio  tempo,  o  curador  do  ventre  exerceu  alguns  atos.  E  êsses  atos?  O  direito 
sofrew.os;   não  os  quis.  Só  os  admitiu  porque  eram  (na  dúvida,  que  a  insondabilidade  do  tempo  nos  cria) 
aconselháveis. Demonstrado, o direito diz um mea culpa;  mas seguro de que, errando, nem por isso deixou de ter 
tomado o caminho mais prudente, mais sábio. 

6.NASCITUROS PLURAIS. iure Se nascer mais de um, cabe indagar se o testador beneficiou a um ou a todos os 
que do mesmo parto nasceram. Se êle disse “ao filho de A, se fôr homem”, e houver casal de gêméos~ só o do sexo 
masculino herdará. Se êle disse, criteriosamente, o concebido de E, devemos entender que deixou ao concebido ou 
aos concebidos. 

7.DETERMINAÇÃO DA DATA DA CONCEPÇÃO. iure Quanto à determinação da época da concepção, tem­se 
de atender, com certa generalidade, que afasta a limitação aos concebidos legitimamente, o que se estatui no art. 
338,  II  (nascidos dentro·dos  trezentos  dias  subsequentes  à  abertura da  sucessão).  A presunção  existe,  iuris  et de 
inre, no tocante às relações de legitimidade, mas iuris tantum, no que concerne à ilegitimidade.Quem quer provar a 
alegação de que já estava concebido há·mais de trezentos dias o nascituro ou nascido, põe­se na posição de quem 
tem  de  produzir  elementos  probatórios  que  afastam  a  Presunção  iuris  tantum.  Se  se  alega  que  a  concepção  foi 
dentro  dos  trezentos  dias,  tem­se  a  presunção  iuris  tantum.  Foi  acertada  a  redação  que  se  deu  ao  Código  Civil 
italiano  de  1942,art.  462,  alínea  2.a:  “Salvo  prova  contraria,  si  presume  concepito  aí  tempo  dell’apertura  della 
successione chi ê nato entro 1 trecento giorni deila morte delís persona deila cul successione si trata”. 
Discute­se se, nascido o concebido dentro dos cento e oitenta dias, pode ser feita a prova de que a concepção foi 
anterior  de  mais  de  trezentos  dias  à  abertura  da  sucessão.  A  resposta  é  negativa,  em  se  tratando  de  sucessão 
legítima. Não, se testamentária a sucessão. 

§ 5.813. Prole eventual de pessoas designadas e existentes ao tempo da morte do testador 

1.“NONDUM  CONCEPTI”.  iure  Os  nondum  concepti  têm,  no  direito  brasileiro,  as  seguintes  possibilidades  de 
plena ressalva de direitos: a) No mesmo pé de igualdade com os concebidos ainda não nascidos, se nas condições 
do art. 1.718. b) No  caso dos  fideicomissos  e  sucessões  posteriores  (condições  nas  heranças  e  legados,  e têrmos 
iniciais nos legados). 

2.DIREITO ANTERIOR. iure No direito anterior, as deixas a pessoas ainda não concebidas eram, em geral, nulas, 
pela falta de existéncia. Por isso, faziam­se a alguém, para entregar a outra pessoa, ainda não concebida ao falecer 
o testador. Recorria­se ao fideicomisso. Era a solução artificiosa, aurida dos romanos e dos franceses, como se vê 
em TEIXEIRA DE FREITAS (Tratado de Testamentos e Sucessões de A. J. GOUVEIA PINTO, § 35, nota 91). 
Não tínhamos o art. 1.718, in fine, que foi de origem italiana:  e o comentário de CLÓVIS BEVILÁQUA (Código 
Civil  comentado,  VI,  164)  invocava  a  substituição  fideicomissária,  citando  a  TErCEIRA  DE  FREITAS,  que 
escrevia  para  outro  sistema.  O  fideicomisso  não  precisaria  do  art.  1.718,  como  dêsse  artigo  não  precisam  a 
instituição e o legado condicional.
3. FUNDAMENTO DA EXCLUSÃO DOS PÓSTUMOS NÃO­CONCEBIDOS. iure Diante da situação jurídica 
decorrente do direito romano, que negava a legitimação passiva, os juristas procuraram explicar, construtivamente, 
a proibição. Examinaremos as explicações, pondo de lado o critério do fundamento histórico, porque êsse não teria, 
para nós, grande interêsse: 
a)Uns entenderam  que  se  tratava  de  consequência  da  regra  jurídica  incerta persona here&  institui  nequit  (CHR. 
RAU,  Hist.  iur.  civil.  Rom.  de  personis  incertis  ex  testamento  heredibus,  §  4;  C.  G.  TILLING,  De  postztmis 
heredibws instituendis veZ exheredandis, 110). 
b)Outros  recorreram  ao  dito  de  ULPIANO  iure  quoniam  certum  esse  debet  testantis  consilium.  Assim  A. 
VINNIUS: otestador ignorava se nasceria, e quem nasceria, e quantos nasceriam.·  c) C. G. HÚBNER (Ad tit. de 
rebus dubiis comment., 81)frisava a impossibilidade de se dar caráter de exigibilidade adisposição de tal natureza. 
d)Derivava  (pensavam  muitos)  das  primitivas  formas  testamentárias,  que  ainda  não  tinham  a  unilateralidade  do 
testamento  (C.  O.  TILLING,  De  postumis  heredibus  instituendis  veZ  exheredandis,  125,  que  acolhia  opiniões 
misturadas). Seria conseqúência do subjacente negócio jurídico civil, que se não poderia celebrar nisi c’urn certis a 
certis. 
Prâticamente,  hoje,  o  Código  Civil,  art.  1.718,  in  fine,  estende  a  prole  de  quaisquer  pessoas  designadas  pelo 
testador  e  existentes  ao  tempo  da  sucessão  aquela  espécie  particular  de  capacidade  de  direito,  que  representava 
para os legisladores romanos a suzdade. 

·4.  DONDE  VEM  A  REGRA  JURÍDICA.  iure  Questão  assaz  discutida.  Da  Novela  118?  Contra  a  opinião  de 
CAItLo  FADDA,  sustentou  VITTORIO  SOJALOJA  que  se  deve  ao  direito  comum  italiano.  Lá  está  no  Código 
sardo, no parmense, no estense e na Lei toscana de 1814. 

5.FUNDAMENTO DA EXCEÇÃO A FAVOR DA PROLE DE PESSOAS DESIGNADAS. iure O que se tem por 
fito, com o art. 1.718, in fine, é permitir o pulo por sôbre uma pessoa (que por si não mereça, ou não precise), para 
lhe beneficiar a descendência. Muitas vêzes, o testador deixa a pessoas da mesma igualha, ou ramo, e exclui, por 
motivos seus, uma ou duas; mas, para que isso não vá privar do benefício os que acaso descendam dessas pessoas 
não  contempladas,  dispõe  a  favor  da  prole  eventual.  O  exemplo,  que  logo  ocorre,  é  o  do  irmão  dissipador  ou 
inimigo do testador. 

6.FUTURIDADE SEM CONCEPÇÃO. iure No caso da prole eventual de pessoa designada, a lei nem sequer exige 
a  concepção  ao  tempo  da  morte do  testador.  É  típica  a  futuridade  da  pessoa:  filhos,  apenas  possíveis,  e  não  só 
prováveis, de A, ou de A e de B. É um rombo (digamos assim) nos princípios gerais da capacidade de direito:  dá­ 
se eficácia  a verba testamentária, em que o contemplado ainda não é, nem, sequer, começou a formar­se. Faltam 
todos  os  elementos,  exceto  um:  A,  homem,  ou  B,  mulher,  que  pode  ter  filhos.  Quando  êsse  filho  nascer,  estará 
demonstrada  a eficácia da verba. Quando o filho não fôr mais possível, isto é, quando se firmar a certeza  de que 
não haverá prole, estará demonstrada  a ineficácia da verba. 
(CLóvís  BEvILÁQUA,  Código  Civil  contentado, VI,  164,  entendia  que  tais  verbas  são  fideicomissos:  A  recebe, 
para entregar ao filho. Mas isso aberra  de todo o destino histórico e intencional do instituto: a) porque se redigiu 
texto dinamitador dos princípios, justamente para aqueles casos, dentre outros, em que se quer passar por cima das 
pessoas designadas, e se deixa à prole, em vez de as contemplar; b) porque, na Itália, de onde houvemos a regra 
legal, não havia fideicomissos, e foi adotada para obviar a essa falta.) 

7.POSIÇÃO NO PROBLEMA. iur e No Código Civil, art. 1.718, in fine, como no italiano (1865), art. 764, abre­se 
brecha  ao  princípio  da  correspondeência  da  capacidade  de  direito  e  da  testamenti  factio.  (Após  o  caso  de 
d’Aguesseau,  em 1692,  a  jurisprudência  francesa  foi contrária,  e  acolheu­a  o  Código  Civil  francês,  art.  725.  De 
modo que devemos evitar lições francesas.) 
Exemplo:A faz testamento e constitui herdeiro a primeira criança que nascer, na sua rua, depois da sua morte. A 
primeira criança nasce após doze meses. Recolhe a herança? Ao tempo da morte não estava comncebida  e a pessoa 
era  indeterminada.  Mas  i,se  êle  determinar   a  pessoa?  Exemplos:  “ao  primeiro  que  nascer  na  minha  rua,  onde 
moram quatro casais: 
A, B, C e D”. Aqui, se a criança não estava concebida ao tempo da morte, nada importa; os pressupostos são: a) a 
designação das pessoas; b) serem vivas ao tempo da morte do testador. 

8.CONSTRUÇÃO  DA  REGRA  JURÍDICA.  iure  Na  disposição  a  favor  de  prole  eventual,  dá­se  o  mesmo  que 
dissemos a respeito do nascituro: o nascimento com vida é elemento de demonstra çâo da eficácia  ou ineficácia da
verba,  e  essa  se  dá  no  momento da morte  do  testador.  Quando ocorre  a  morte da  pessoa  designada,  sem  deixar 
filhos,  a  ineficácia   fica  demonstrada,  e os  bens  vão  aos  herdeiros legítimos  (nos  casos  ordinários),  salvo  se  fOr 
construída como fideicomisso. A construção fideicomissária não é obrigatória, nem, sequer, a que mais acontece: 
para  haver  fideicomisso,  é  preciso  que  haja  dois  nomeados,  um  sucessivo  a  outro;  se  o  testador  deixou  à  prole 
eventual, para não deixar a pessoa designada, claro que excluiu essa, e o fideicomisso não é de admitir­se, nem, por 
isso mesmo, haverá fiduciário. A êsse respeito, os juristas brasileiros estão eivados de construções absurdas, onde, 
mal aparecem as dificuldades, recorrem à figura do fideicomisso ou do usufruto, sem que as categorias se ajustem 
ao querer do testador. 
Se  o  testamento diz  “não  me  merece  consideração  A, por  isso  deixo  os  meus bens  aos  filhos  que tiver”,  não  há 
fideicomisso: é o tipo da herança à prole eventual. Se algum dia se demonstrar que A morreu sem ter filho, os bens 
passam aos herdeiros legítimos do testador ao tempo da morte:  a disposição a favor da prole eventual nunca teve 
eficácia;  o direito sofreu os efeitos da espera, e tão­só isso. Medio tempore, o que iure enquanto se esperava iure 
foi praticado, é sem qualquer efeito: 
a   saisina,  tiveram­na  os  herdeiros  legítimos,  isto é,  receberam a  herança  desde o dia da  morte do testador.  Se o 
direito lesse no futuro, não precisaria separar os dois momentos iure o da ineficácia  e o da demonstração:  mas a 
imprevisibilidade, que é a contingência humana, obriga­o à atitude de quem opta pelo possível (ter filhos A) e, se 
isso não se der, confessará que errou. O erro não altera os princípios: os herdeiros legítimos foram os herdeiros; 
prole, que poderia ter sido e não foi, prole não é, nem foi. 

9.INTERPRETAÇÃO DA REGRA JURÍDICA. iure Não se confunda o fideicomisso com a fidúcia, nem com os 
negócios  fiduciários,  em que  se  percebe  todo o requinte  medieval  da  honra  e  da  amizade  confiante,  e  dos  quais 
participam a testamentaria  e o art. 1.718. O fiduciário é um herdeiro, o depositário da herança do art. 1.718, não: 
êsse vai entregar integram herediiure tatem (Interpretatio  Breviarji Alariciani, IV, 1, 13); aqueles, sem frutos, O 
cardeal 3. B. DE LUCA bem que frisou (11 Dott ore Volgare, X, c. 9) o caráter “conservatório e restitutório”. Se 
écerto  que  as  incertae  personae  só  podiam  ser  contempladas  por  meio  de  fideicomisso,  também  é  certo  que  no 
Código  Civil  italiano  de 1865  se  incluiu o  art. 764 (tirado do Projeto de MIGLIE¶IYTI,  art. 754),  a despeito da 
proibição dos fideicomissos. Se é certo que, no fideicomisso, o elemento fidúcia  constitui o principal (o restituir  é 
típico  nos  velhos  textos,  na  linguagem  dos  juristas;  rendre,  nos  franceses),  o  que  se  acentuou  no  medievo  (no 
Código  Civil  austríaco,  §  613,  no  brasileiro,  art.  1.734,  fala­se  em  propriedade  restrita,  eingeschrdnkte 
Eigentumsrech,te), não é menos certo que o ad. 1.718, in fine, não permite crer­se na passagem dos bens a outrem 
que não seja a prole eventual: o art. 1.718, in fine, está inserto para exceçao ao princípio da coexistência. 
A  solução  do  fideicomisso  para  construir  o  art.  1.718  é  extralegal  e  contra  a  lei  expressa.  Seria  a  solução  do 
Código  Civil  francês,  arts.  897,  1.048  e  1.049,  iure  substituição  fideicomissária  de  primeiro  grau  a  favor  dos 
nascituros ex filio ou ex fratre. 
Basta lerem­se o art. 1.718 do Código Civil brasileiro e o art. 764 do Código Civil italiano (1865), para se ver que 
o ainda não concebido pode reclamar ex se (cp. Código Albertino, arts. 879 e 705, parmense, art. 623, estense, art. 
721;  nos dois  últimos  se  declarava,  mas  explicitamente,  que  não  têm direito  aos  frutos  medio  teihpore). A prole 
eventual do art. 1.718 tem direito aos frutos, como os ndo concebidos da lei italiana. 
A dificuldade, que se aponta, é em relação à saisina: 
dar­se­ia a descontinuidade das relações patrimoniais, a partir do momento da morte, até se verificar o nascimento 
da  prole  eventual.  Porém  isso,  dir­se­á,  não  seria  difícil  explicar­se,  máxime  no  ‘direito  brasileiro,  que  admite, 
expressamente,  a  condição  sus pensiva   aposta  à  instituição  (art. 1.585).  A razão que, para  êsse  caso,  afastasse  a 
difuldade, tê­la­á afastado para o outro. O argumento é fraco, e desde logo cai; mais: falso, porque, pelos têrmos da 
lei, é pura  a instituição da prole eventual (já o advertia CÂNCER, Vario­rum resolut., 1, 1, 228). O problema da 
condição suspensiva é que constitui o problema da discontinuidade essa  não se dá  no caso do art. 1.718, onde a 
regra  consiste,  exatamente,  em  apagar  qualquer  solução  da  continuidade  entre  o  testador  e  o  contemplado.  No 
direito antenor, compreendia­se que TErCEIRA DE FREITAS buscasse o fideicomisso, para os velhos efeitos que 
dissimulada tinha; porém no direito do Código Civil, o que disse CLóVIS BEVILÁQUA revela desconhecimento 
do art. 1.718, que comentava. Bastaria abrir II Dottore volgare do Cardeal J. 3. DE LUCA e ver que os frutos não 
são  percebidos  pelo  que  guarda,  ad  tempas,  a  herança,  mero  depositarius,  ou  nudus  minister.  É  o  mal  da 
interpretação  com  os  sós  elementos  lógicos,  sem  contacto  com  as  realidades  históricas,  e  as  lições  da  ciência. 
Ciência,  aprende­se;  não  se  tira  da  cabeça,  como  romance.  A  prole  eventual,  cuja  interposta  pessoa  fôr,  apenas, 
nudus minister, tem a saisina. 

10.QUE “PESSOAS DESIGNADAS” SÃO AS  DO TEXTO. iur e A primeira consequência do texto legal  é  não


haver  nenhuma  diferença  entre  pessoas  designadas,  parentes  do  testador  (e.  g.,  herdeiros  legítimos),  e  pessoas 
designadas, estranhas à família, isto é, nenhuma distinção entre a suidade e a alienidade. No direito romano, aquela 
era,  por  si  só,  capacidade  de  direito;  ao  passo  que  postumo  alieno  inutiliter  legabatur.  Aí  terá  de  operar­se  a 
evolução e o postumus non suus terá tratamento melhor, que vai do pedir a bonorum possessio, quando, ao morrer 
o testador, estava no útero, até à clara solução do Código Civil, art. 1.718. Na lei brasileira, dois casos diferentes 
ocorrem: a) qualquer pessoa futura, qui moriente testatore in uterc fuerit si natus sit, recebe a herança; b) o ainda 
não concebido, se prole de pessoa designada e existente ao tempo da morte do testador, goza de capacidade jurídica 
excepcional. O concebido pode ser a pessoa designada do art. 1.718, cuja prole se contempla. 

11.PROLE  EVENTUAL: FILHOS  OU QUAISQUER  DESCENDENTES.  iure  No Código  Civil  italiano (1865), 


art. 764, falava­se em figli immediati, para excluir netos e outros descendentes. Na brasileira, não: prole eventual. 
A verba aos netos de A, que nascerem, é perfeitamente válida: ~ os netos de A recolherão a herança? 
Para  se  reduzir  a  prole aos  filhos,  tem­se  alegado  que,  ao  se  inserir  “prole  eventual”  em  vez  de  “filhos”,  não  se 
justificou  a  mudança.  O  argumento  é  sem  qualquer  base  e  apegou­se  à  busca  do  espírito  da  lei,  da  vontade  do 
cacique, em vez de ter em consideração que as leis são feitas para que os juizes e o povo as apliquem, tais como 
foram redigidas e se integram no sistema jurídico. A vontade do legislador é o elemento, que em 1922 refutamos 
~nêrgicamente,  apontando­lhe  o  primitivismo  (Subjektivismus  und  Voluntarismus  im  Recht,  Archiv  flir  Rechts­ 
und  WirtschaftSphtiOSO’phte,  16,  521­543).  Por  outro  lado,  o  apêgo  a  interpretações  restritivas  de  textos 
estrangeiros que o legislador brasileiro de modo nenhum acolheu. 
O Código Civil fala de prole eventual de pessoas pelo testador designadas e existentes ao abrir­se a sucessão. A 
primeira  questão  que  ex­surge  é  a  que  se  refere  ao  conteudo  da  palavra  “prole”.  Quer  dizer:  se  podem  ser 
designados  A  e  B  e  contemplados  os  netos.  No  Projeto  primitivo  a  referência  era  a  “filhos”.  RUI  BARBOSA 
substituiu “filhos por “prole”, sem qualquer justificação da mudança (Trabalhos do Senado, 1, 538 s.). 
O  problema  não  poderia  ser  resolvido  com  invocação  dos  Códigos  Civis  estrangeiros,  porque  êsses  empregam 
expressões  inconfundíveis,  como  “filhos”,  descendentes  imediatos  (e.  g.,  Código  Civil  venezuelano,  art.  828; 
mexicano, art. 1.315). No Código Civil  italiano de 1865, art. 764, também só se apontavam filhos imediatos. No 
Código  Civil  italiano  de  1942,  diz  o  art.  462,  1ª  alínea:  ‘Tossono  inoltre  ricevere  per  testamento  i  figli  di  una 
determinata persona vivente aí tempo della morte dei testatore, benchê non ancora concepiti”. 
Entendeu CARLOS MAXIMILIANO (Direito das Sucessões, ~ 5~a ed., 495 s.) que, a despeito da expressão “prole 
eventual”, só se há de pensar em deixa a filho ou filhos de determinada pessoa. Houve a emenda ; porém, mesmo 
se não tivesse havido, seria deturpar­se o texto legal. Proles, prole, nunca teve sentido restrito, de modo que só os 
filhos se consideras­sem prole. 
Se o testador disse deixar “aos dois primeiros netos de A, ou de A e B”, seria violação do texto brasileiro reputar­se 
nula  a  deixa.  O  testador  não  falou dos  filhos  de  A,  ou de  A  e  B,  que  poderiam  ser  muitos,  e  quis  que os  netos 
fossem os beneficiados. 
O texto legal ressalva, em exceção ao principio da coexistência: “se a disposição dêste” iure do testador iur e “se 
referir à prole eventual de pessoas por êle designadas e existentes ao abrir­se a sucessão”. A interpretação literal 
levaria a ser pressuposto a designação de duas pessoas, o homem e a mulher, de que pudesse provir a prole. Com 
isso, o testador beneficia  quem descenda  de  A, ou de  B, mesmo  se  A  não  é  casado, ou  se  B  não é  casada.  Se  a 
verba testamentária se referiu a A e B, o filho de A com C, ou de B com D, não herda. Assim como, nos siste­mas 
jurídicos em que há a alusão a “pessoa determinada”, se há de entender que se pode deixar ao filho ou filha de A e 
tem­se, no direito brasileiro, que fala de “pessoas designadas”,a dupla hipótese: designação de duas pessoas ou só 
de uma.Mais: se, por exemplo, uma filha de A é casada com o filho de B, pode o testador deixar aos netos de A que 
não sejam  netos de B.    Quando se alude a filhos  futuros de alguma pessoa, tem­sede entender que todos foram 
contemplados. ~ a deixa  à prole.Se, porém, o testador não disse que beneficiava a prole eventual,  e apenas disse 
deixar aos  filhos de B, o que se  há de entender é que foram contemplados os nascidos e os nascituros à data da 
morte do testador, não os futuros. Temos de repelira opinião dos que supõem contemplados quaisquer filhos, pre­ 
sentes e futuros. A deixa pode dizê­lo, porém não se há de admitir que, na dúvida, se considerem beneficiados os 
filhos  futuros.  Sem  razão, CARLOS  MAXIMILIANO  (Diretto  das Sucessões,  ,  5a  ed., 498).     A  prole  eventual 
pode existir e não existir a pessoa de­signada (e.g., a mãe faleceu no dia do nascimento, talvez no momento dêle; o 
pai já havia morrido quando nasceu o filho).Se, no momento do nascimento ou depois falece o filho, a he­·rança 
iure já agora dêle, como decujo, vai aos seus herdeiros(talvez a pessoa designada e o cônjuge, genitor do nascido e 
falecido, ou genitor não casado).   O fato de a vontade do testador ter pulado o genitor ouos genitores para deixar à 
prole eventual é sem qualquer relevância para se saber a quem vai, após a morte do eventual descendente da pessoa 
designada ou das pessoas designadas,porque a sucessão nada mais tem com o testador. Não importa se não havia
confiança no pai ou na mãe designada, ou mesmo se havia indignidade para a sucessão do testador. Pode dar­seque 
o  testador  queira  afastar  a  sucessão  pela  pessoa  designada  ou  pelas  pessoas  designadas,  como  se  diz,  no 
testamento,“deixo à prole eventual de B (ou de E e C) se sobreviver a E (ou a E e O)”. Aí, então, o testador diz a 
quem  vai,  em  fideicomisso,  ou  herança  condicional  ou  legado  condicional;  ou  regem,  no  caso  de  falta  de 
disposição do que há de passar a outrem, os princípios da sucessão legítima. 
Se  não  nasce quem  se  entendia  vir a  ser a  prole  beneficiada  (não houve  concepção, ou  não  nasce  morta  a  prole 
eventual), não herdou quem não existe. Só herdaria quem se previa se com vida tivesse nascido. Se o testamento 
disse quem o substituiria, o substituto é que herda. Se nada disse, há a sucessão legitima do testador. 
Se quem seria a prole eventual nasce, porém morre antes do testador, não há sucessão; porque no dia da morte do 
decujo é que  se  há  de  verificar  a  existência  ou a  eventualidade,  e o  morto  não  existe  nem  pode  ser  considerado 
herdeiro eventual. 
Quanto à expressão “designadas”, relativas às pessoas, de que possa advertir a prole, é sem razão a discussão entre 
seu  necessário  que  seja  “designada”  a  pessoa,  e  que  seja  “designada  ou  designável”.  Trata­se  de  determinação, 
mesmo que bastem elementos para se saber quem seja. O testador é que tem de apontar êsses elementos, suficientes 
à verificação. Não importa se é parente, ou amigo, ou pessoa conhecida do testador. Pode­se dispor a favor da prole 
de alguém que se admira, ou teve bom êxito em pesquisas ou descobertas, ou que apenas se viu na televisão ou em 
retrato. 
Tal  pessoa  há  de ter  nascido, porque  não  é pessoa  determinada, designada, o  nascituro,  nem  se  permitiu deixa  a 
prole de quem, ao tempo da morte do testador, ainda não nasceu. Quando se trata de deixa a nascituro, pode dar­se 
que  o  nascimento  ocorra  após  a  morte  do  testador.  A  prole  eventual,  essa,  tem  de  ser  de  quem,  à  abertura  da 
sucessão, já existe. Admitiu­se, no tempo, uma eventualidade; não duas ou mais. 
Assim,  se  a  pessoa  designada  faleceu, ou  se  faleceram  as  duas pessoas  designadas,  antes  de  falecer  o  testador  e 
depois  de  feito  o  testamento,  a  deixa  a  favor  da  prole  tem  de  ser  respeitada.  A  prole  eventual  já  nascera.  No 
momento da abertura da sucessão, a prole não é futura, embora tivesse sido. 
Surge  o  problema  da  ignorância  do  testador  no  tocante  à  prole  da  pessoa  designada.  O  testador  quis  deixar  a 
herança,  ou  o  legado,  ou  o  modus,  a  quem  fôr   filho  da  pessoa  que  indicou,  ou  das  pessoas  que  êle  indicou. 
Acontece, porém, que êle ignorava que tal prole já existia. Não se pode considerar o não existir a prole elemento 
indispensável para a disposição a favor de prole de pessoa designada, ou de pessoas designadas. O testador deixou 
a filhos de E, ou de E e O, e tê­los­ia mencionado se já soubesse que E tinha filhos ou que E e C os tinham. Pode 
ocorrer, excepcionalmente, que o testador conhecesse os filhos de E, ou de E e C, mas somente quisesse dispor a 
respeito dos filhos futuros. Aí, sim, a prole existente está fora da legitimação à herança, ou ao legado, ou ao nudus. 
Todavia, na dúvida, tem­se de entender que o testador ignorava a existência de filhos de E, ou de E e O. 

12.PROLE  EVENTUAL:  RESTRiÇÕES.  iure  Ao  testador  cabe,  temporal,  ou  sexual,  ou  pessoal,  ou 
numericamente, limitar a prole: “deixo aos filhos de A que nascerem até 1985”; “aos filhos (ou filhas) de A e E”; 
“aos dois primeiros filhos de A”. Ou, mais restritamente, somadas as restrições (“aos dois primeiros filhos varões 
de A e E nascidos até 1980”); de modo que o filho varão de A e E, que fôr o terceiro, ou, se fôr o segundo, nascer 
em 1976, não herda. 
A interpretação da verba é que decide. Se o testador deixa ao primeiro filho de A, que é seu genro, entende­se que 
so deixou  aos  filhos  de  A e  E,  sua  filha.  Se deixou  “aos  filhos  de  E”,  sua  filha,  não  se  há  de  interpretar que  só 
deixou aos filhos de E e A, e sim aos de E e A e aos que E tiver sem serem de A. 
Os limites vêm de si mesmos, a) Se o testador disse: “deixo aos netos de A”, que já tem filhos, em verdade não se 
pode dizer que tivesse querido infringir o art. 1.739, fraudando a lei;  os netos de A, filhos dos filhos, existentes, ou 
não,  serão  os  herdeiros.  b)  Se  A  ainda  não  tem  filhos,  tal  testador  quis  dissimular  fideicomisso  para  além  do 
segundo grau, o que e proibido. Não se compreende que se deixe a netos de pessoas que ainda não têm filhos. ~ 
Que interêsse teria o testador se não o de alongar pelo tempo a sua sucessão? 
Na prole eventual de modo nenhum se incluem os filhos adotivos (2.~ Turma do Supremo Tribunal Federal, 5 de 
setembro de 1947, O D., 54, 185; 1?. dos 7’., 179, 953; R.F., 125, 478) 
“Prole, de que fala o art. 1.718, é a descendência natural, como se evidencia no art. 868 do Código Civil, quando 
diz:  “Só os  maiores  de  cinqUenta  anos,  sem prole  legítima,  ou  legitimada,  podem  adotar”.  A  essa  descendência 
legítima,  legitimada  ou  ilegítima,  é  que  se  dá  capacidade  de  receber  por  testamento”  (nota  do  Ministro 
HAHNEMANN GUIMARXES). 
Se já existia o instituído, à data da abertura da sucessão é que se lhe verifica a capacidade para suceder. Basta estar 
concebido.  Se  a  deixa  foi  a  prole  eventual,  protraiu­se  a  data  do  pressuposto  da  existência,  em  regra  jurídica 
excepcional. É a única exceção.
Quando  a  deixa  é  a  “prole”  de  alguém,  nenhuma  distinção  se  há  de  fazer  quanto  ao  sexo,  nem  quanto  à 
legitimidade. Se a instituição se refere à prole de A e de B, que são casados, implícita está a exigência de se tratar 
de filho ou filhos legítimos. Áliter, se só se aludiu a filho de A (ou de B). 
A deixa pode ser à prole de pessoa nascitura. 
Se a deixa foi a filho ou prole do varão B, não importa se E está vivo, ou morto, à data da abertura da sucessão. O 
filho pode ser, em tal caso, apenas concebido; não, aí, porque se haja de invocar o princípio da coexistência, mas 
sim porque há de haver a alegação e a prova de que já estava concebido quando a pessoa designada ainda vivia. 
Se a deixa é “aos filhos de A”, entendem­se como beneficiados todos os filhos. De ordinário, é o que se passa  e 
tem­se de reputar transmitida a herança ou o legado, como toda ou todo, ao primeiro nascido, ou aos dois ou mais 
primeiros  nascidos,  subordinada  a  deixa  à  aparição  de  outro  ou  de  outros  filhos.  A  transmissão  ao  primeiro  é 
condicional, porque ainda não se sabe se herdou o todo ou se só herdou fração. 
A regra jurídica do art. 1.7W, in fine, de modo nenhum se estende às doações, que são atos entre vivos. Só incide 
em se tratando de deixa testamentária (4.ª Câmara Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 3 de abril de 
1945, R. dos 7’., 166, 790). 

13.GUARDA DA HERANÇA ATE O NASCIMENTO DA PROLE CONTEMPLADA. iure Quem é que guarda a 
herança? Ao testador dispor, e das palavras do testamento conclui o juiz. Se nenhuma solução lhe dá o testamento 
(as mais das vêzes a afeição, em vez de descaso e do ódio, à pessoa designada, é que ressalta,iur e aproveitamento 
legitimo do texto legal), entende­se que toca ao testamenteiro. 

§ 5.813. PROLE EVENTUAL 

O prazo da prescrição somente começa a correr depois de nascida a prole, ou morta a pessoa designada; como se dá 


com os nascituros concebidos (arts. 4 e 1.718), caso em que o prazo da prescrição somente começa a correr do dia 
em  que  nasceu  morto  ou  em  que  nasceu  com  vida.  Se  não  havia  conceptus  (o  que  exclui  qualquer  eficácia  da 
disposição a favor de concebido, art. 4.0), desde o dia da morte do decujo, salvo se  houve ato dos herdeiros que 
induza interrupção. 

14.FRUTOS  E  ADMINISTRAÇÃO.  iure  Os  nascituros,  a  prole  eventual  de  pessoas  determinadas,  recebem  a 
herança, ou legado, cum tnnni causa, isto é, com os acessórios e frutos, desde a abertura da sucessão. (No Código 
estense, art. 721, n. 3, da 
­va­se outra solução, mas, têcnicamente, desaconselhável.) 
Como o curador do ventre, a incumbência do art. 1.718 é um nudus a commodo:  ainda, assim, o curador do ventre 
administra por direito de familia,  como o pai ou a mulher  grávida, que tem o pátrio poder (arts. 462 e 458) ; ao 
passo  que  o  incumbido  do  ad.  1.718,  ou  é  um  nomeado  explícita  ou  implicitamente  pelo  testador,  ou  pelo  juiz, 
quando nomeia o testamenteiro, ou, se a êsse não cabe a fidúcia no caso especial, quando diretamente o nomeia, 
iure porém é sempre administrador por direito das sucessões. Pràticamente: ainda que seja pai futuro, ou mãe, se o 
testador o deserdou, ou por motivo colhível no testamento o afastou da herança, ou quando se tornou indigno (arts. 
1.595 s.), não pode administrar a herança. O Código Civil previu­o quanto à indignidade (arts. 891, IV, e 1.602), 
mas os outros casos resultam da vontade declarada  (no artigo 1.602 é presumida) do testador (arts. 391, III, 1.741 
e 1.745) e declarada  quer dizer: lançada no testamento, ainda que não seja de modo explícito. Nudus a commodo, 
sed non a titulo, porque, se assim não fôsse, seria um meio de se fraudarem as regras jurídicas de incapacidade. 
a) Nudus a commodo. Os frutos dos bens do art. 1.718 não pertencem a quem guarda a herança, iure aumentam a 
herança,  para  que  a  prole  eventual  os  receba,  porque  lhe  pertencem,  ou,  se  falhar,  isto  é,  se  fôr  demonstrada   a 
ineficácia da verba, aos herdeiros legítimos. O nudus minister, ou deposiiure tarius, guarda, sem gozar (sem usus, 
nem fructus);  pagará ;aluguer, se forem prédios, ou os receberá, e dêles prestará contas. ~ a lição do Cardeal J. B. 
DE LUCA (7i’heatrum veritatis et iustitiae, III, 275 e 282). 
Quando  nasce  a  prole,  o  que  guardou  a  herança  do  artigo  1.718  não  a  perde,  porque  nunca  a  teve.  Perde­a  o 
fíduciario dos arts. 1.733 e 1.740, que a tinha. Os frutos foram dêste, e não os restitui; os frutos da herança do art. 
1.718 são da prole eventual. Naturalmente, será arbitrada a comissão pro labore do administrador. 
b)  “Sed  iwn  a  titulo” .  O  juiz  não  pode  nomear  (em  certos  casos,  não  valeria  a  nomeação  pelo  testador,  ou  por 
efeito da cláusula ou pressuposição rebus sic stantibus, ou por efeito da lei de incapacidade), para administrar a 
herança, o deserdado, o excluido por indignidade, o incapaz para a tutela. Se o testador afastou alguém, não pode 
ser nomeado pelo juiz, por fôrça da vontade do testador: seria nomeação contra a voluntas testatoris. O que perde a 
testamentaria, por ter sido removido, também perde o cargo de administrador em nome da prole eventual: falta a
fidúcia. Perde­o também o pai destituído do pátrio poder ou a mãe destituída do pátrio poder, ou do exercício da 
administração, e é suspenso, quando a medida judicial fôr a suspensão, mas, nesses casos, por direito de familia. 
No juízo da herança, pode perder a fé, sem que isso importe efeitos dos arts~ 394 e 395: iure hereditario, o juiz do 
testamento e inventário é o competente. Isso não obsta a que o juiz de direito de família  aprecie os atos do pai, ou 
da mãe, quando já tenha  sido concebido o contemplado pelo testamento. Ambos os juizes evidenciam­Se, então, 
competentes: um,. por direito das sucessões; outro, por direito de família. 

15.PAGAMENTO DOS IMPOSTOS E PROLE EVENTUAL. iure Há 
uma instituição simples? Ou condicionada? Se é condicionada, está diferido, por exemplo, em algumas leis fiscais, 
o pagamento do impôsto. Se é simples, não; paga­se desde logo. Quíd turis?  ~Pode a spes nativitatis se reputar, por 
onipotência  do  legislador,  já  presente,  de  modo  que  receba   a  herança?  Haveria  condição  resclutiva:  a  de  não 
nascer.  VITTORIo  POLACCO  (DeU  Successvnn,  1,  193)  achou  estranha  e  forçada  a  construção  jurídica.  Será 
suspensiva  a  condição?  Mais  uma  vez  se  daria  o  grave  erro  de  se  confundirem  condiciones  inris,  elementos 
essenciais das relações  jurídicas., com as condições propriamente ditas. Ora, se  condicio iuris, a relação  jurídica 
não seria condicional, e  ficaríamos no mesmo. Cp. L. 99, D., de condicionibus et demonstrationibus et causis et 
modis  ecrum,  quae  ia  testa­menti  scribuntur,  35,  1.  Haveria  suspensão  da  relação  jurídica  fundamental 
(FRANCESGO  FILOMUSI­GUELFI,  Foro  italiano,  1,  col.  976;  VITTORIo  POLACCO,  DeIle  Successioni,  1, 
198) ; mas essa seria mais próxima da alternativa  de ANDREAS VON TUHR do que uma condição, iure solução 
de  que  aqueles  juristas  italianos  não  tinham  notícia.  O  impôsto,  num  e  noutro  caso,  pode  ser   diferente.  Como 
resolver? z.Diferir, até que se defina, num, ou noutro sentido? Ou pagar desde logo? O an debeatur  é certo; mas o 
quantum debeatur, não. De modo que, em verdade, a ficção da lei opera: a herança transmite­se, se a construção é 
fideicomisso, ou outra; e as leis fiscais não podem pretender a deformação da figura jurídica: o melhor é dar­lhes a 
opção entre receber a taxa menor, com o direito ao restante, se ocorrer que venha a dever­se definitivamente; ou 
aguardar.  Essa  é  que  é  a  solução  razoável  nos  legados  condicionais  ou  alternativos  condicionais  de  qualquer 
espécie. 

16. PROVA DA CONCEPÇÃO PARA OS EFEITOS LEGAIS (NASCITURO). iure A prova da concepção é assaz 
difícil. Primeiro, pergunta­se: os arts. 338, 339 e 343 do Código Civil aplicam­se às sucessões? Admitida a resposta 
afirmativa, como a gravidez pode durar 800 dias, toda criança antes de 801.0 dia posterior a morte do decujo, pois 
que  podia   ter  sido  concebida  dentro  do  prazo,  pode  suceder.  Verdade  é  que  nem  sempre  as  duas  questões  se 
combinam e se misturam. Casos há, em que a filiação e a sucessibilidade se juntam, e a solução deve atender a que 
estão ligadas; nos outros, não. 
a) Ligadas as duas questões (sucessibilidade, legitimidade). O filho póstumo quer demonstrar a qualidade de filho 
legitimo  e,  pois,  a  sua  vocação  hereditária.  Uma  coisa  deriva  da  outra.  Firmada  aquela,  essa  se  firma.  Negar  a 
vocação hereditária seria negar a legitimidade. Ora, a filiação legitima somente pode ser discutida pelo próprio pai 
(Código Civil, art. 344), ou pelos herdeiros dêle no caso restrito do art. 345. 
b) Só se discute a capacidade sucessoral. Morre A, cujos herdeiros são os irmãos, existindo a viúva de um, morto 
meses depois de A. A viúva dá à luz um filho antes de 301 dias da morte de A. A legitimidade do recém­nascido 
não se discute. 
O que se discute, separadamente, é a capacidade sucessora. 
A criança pode ser legítima, e  não herdar do tio. Na relação entre pais e filhos, a questão está resolvida; porem 
seria anti­jurídico considerá­la liquida, na relação entre herdeiros de A e o concebido. Concebido quando? j,Nos 
120 dias  anteriores  a  morte do pai?  Mas  não  é certo que o  tenha  sido  nos  x dias anteriores  a  morte  do decujo! 
Aqui, FRANÇOIS GENY (Sciefl~O~3 et Techrtique en droit privé positil, III, 290 e 318) pretendia que se devesse 
associar à presunçao legal, categórica, rígida, outra, que seria a de ter sido concebido no momento mais favorável 
para éle,  em virtude de um omiti meliore momento, e o momento mais favorável do período legal da concepção 
possível  será,  na  espécie  (acrescentamos  nós),  aqueles  em  que ainda  estaria  vivo  A.  Mas  j,existe,  aí,  presunção 
legal? Da natureza da outra, não; porque só existe se é enquanto nao se faz a prova contrária. Presunção arbitrária  
(G. ARON, Théorie générale des Présomptiofl’5 légales en droit privé, 30), que teria a sua razão de ser, não num 
quod plerumque fit, e sim no propósito de, na dúvida, favorecer. É mais um favor  que uma presunção. Por onde se 
vê que a superposição de presunções, a que se refere FRANÇOIS GENY, não se justifica plentnne’nte, onde se cm 
diram as questões; e onde não se cindiram, dizer que são duas as presunções., iure a do art. 338 e a derivada do 
omni meliore  momento,  é  sem  fundamento:  em qualquer   dos 120 dias  a  presunção  existe;  de  modo que o outro 
conceito, o do momento melhor, é supérfluo. Não há dúvida, porém, quanto ao contágio mental da presunção do 
art. sgs, reforçada nas aplicações do art. 363, contágio que explica, na ausência de prova do dia da concepção do
filho da viúva cunhada de A, a invocação do decurso dos 180 dias. Cientificamente, explicamos de outro modo: 
a lei mostrou­nos, com o seu expediente, o dado biológico, que a inspirou; e nós nos inspiramos nêle para invocar 
os 120 dias da possível concepção ou 180 da vida intra­uterina (PONTES DE MIRANDA, Direito de Família, la. 
ed., 300). 

17.PROVA  DA  EXISTÊNCIA  DAS  PESSOAS  E  DA  EXISTÊNCIA  DA  PROLE  EVENTUAL.  iure  É  preciso 
que a pessoa designada exista;  a prova será a ordinária ou a da concepção, porque se pode deixar a prole eventual 
do concebido ao tempo da morte do decujo. É conseqUência imediata do art. 1.718. A prova da prole eventual não 
é  precisa;  salvo  se  fisicamente  impossível,  e,  nesse  caso,  cabendo  o  ônus  da  prova  àquele  que  alega  a 
impossibilidade, o que se tem de provar é a negação da possibilidade de tal prole, e não a prole eventual. Presume­ 
se que todo ser humano possa gerar. Por isso, não há necessidade de se provar a possível prole; o contrário é que é 
suscetível do ônus probatório. Provado que a prole eventual  não era, nem é possivel, ineficaz é a  verba; provado 
que se tornou impossível, a verba poderia ter  sido eficaz, mas já é impossível a devolução. ~A quem vão os bens? 
Se  ineficaz  a  verba, pertencem  aos herdeiros. Se tornada  impossível,  cumpre verificar  a  quem  cabe  a passagem. 
Aqui,  a  prova  da  impossibilidade  biológica  é  útil,  para  se  demonstrar  que  não  é  possível  a  construção;  mas  o 
resultado é o mesmo: vão aos herdeiros. Poderia ter sido eficaz, e não foi. 

18.  DEVOLUÇÃO  DOS  BENS  DA  PROLE  EVENTUAL  NÃO  OCORRIDA.  iure  Quando  ocorre  a  morte  da 
pessoa  designada,  sem  deixar  filhos,  ou  quando  fôr  provado  que  é  impossível  a  prole  futura,  os  bens  irão  aos 
herdeiros legítimos, salvo se o testador construiu a verba como de fideicomisso. No caso de usufruto, os herdeiros 
legítimos  serão  os  nus­proprietários,  e  a  pessoa  designada  gozará   dêle  até  que  se  extinga,  de  acôrdo  com  os 
princípios do instituto. “Deixo a prole de A, que usufruirá entrementes”, vale dizer, iure morto A sem prole, irão os 
bens aos herdeiros, ou, impossível a prole de A, A usufrutará até morrer, se outra coisa não dispôs o testador. 
§ 5.814. Incapacidade de sucessão passiva 

1.PESSOAS  QUE  NÃO  PODEM  ADQUIRIR  POR  TESTAMENTO.  Iure  Até  aqui  tratamos  da  capacidade  de 
adquirir por testamento, do principio da coexisténcia, da correspondência entre a personalidade e a capacidade de 
suceder  testamentáriamente,  e  das  extensões,  de  que,  no  direito  brasileiro  dos  nossos  dias,  é    suscetível  a 
capacidade de receber ex testamento. Já vimos que se pode testar a favor de quem ainda não nasceu, e, até, de quem 
ainda não foi concebido. Resta­nos estudar as limitações, iure aqueles casos em que pessoas não podem adquirir 
por  testamento.  Não  há  coincidência  entre  as  causas  de  legitimação  para  testar  e  as  causas  para  herdar  por 
testamento.  Louco,  surdo­mudo,  que  não  pode  exprimir  a  sua  vontade,  menor  de  dezesseis  anos,  e  os  que,  no 
momento, não estão em perfeito juízo, não podem testar. Todos êles podem ser herdeiros ou legatários. 
Suceder  por  lei  e  suceder  por  disposição  testamentária  não  coincidem  em  todos  os  pontos.  Quanto  à  herdeiros 
testamentinos  e  a  legatários,  a  ilegitimação  é  mais  vasta,  porque  se  teve  de  levar  em  consideração  o  negócio 
jurídico do testamento (pessoa que a rôgo do testador escreveu o testamento, cônjuge, ascendente, descendente ou 
irmão  de  tal  pessoa;  testemunha  do  testamento;  oficial  público,  civil  ou  militar,  ou  comandante,  ou  escrivão, 
perante quem se fêz o testamento, ou que o fêz quem aprovou o testamento). 
Diz o Código Civil, art. 1.719: “Não podem também ser nomeados herdeiros, nem legatários: a) A pessoa que, a 
rôgo,  escreveu  o  testamento  (arts.  1.638,  n.  1,  1.656  e  1.657),  nem  o  seu  cônjuge,  ou  os  seus  ascendentes, 
descendentes e irmãos. 
b)As testemunhas do testamento. c) A concubina do testador casado. d) O oficial público, civil ou militar, nem o 
comandante, ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que fizer, ou aprovar o testamento”. 

2.PESSOA QUE, A RÔGO, ESCREVEU O TESTAMENTO, O SEI) CÔNJUGE OU OS SEUS ASCENDENTES, 
DESCENDENTES E IRMAOS. iur eQuem escreveu o testamento não pode receber legado, nem herança, nem ser 
beneficiado pelo modas,  ou qualquer outra figura jurídica. Participou do ato. Cria­se, contra  a liberalidade, certa 
suspeição. Nenhum inconveniente há na exclusão: 
o testamento vale; o que não vale é a deixa. Também o cônjuge, o ascendente, o descendente ou o irmão do que a 
rôgo escreveu não pode herdar, nem receber qualquer outro benefício testamentário. O ascendente, diz a lei; é um 
pouco mais do que o pai e a mãe, a que se refere o art. 1.720. 
Uma  questão.  Se  o  testamento,  em  que  alguém  foi,  a  rôgo,  o  escritor,  revoga   a  outro,  que  excluia  a  pessoa 
encarregada de escrever o segundo, ou algum dos parentes, ou cônjuge, de que fala o art. 1.719, 1, ~quais os efeitos 
da intervenção? Disso é exemplo o testamento revogatório de outro testamento, que distribuía toda a herança com 
exclusão  do  herdeiro  legítimo,  escritor  do  segundo.  Não  se  trata  de  nomear  herdeiro,  nem  legatário;  contudo,  é
irrecusável a causação entre o segundo testamento e a devolução dos bens ao participante, herdeiro legitimo. Que, 
na ação de nulidade de testamento, de envolta com outras provas, pesa o indício, que o art. 1.719, 1, aponta, não há 
nenhuma dúvida. Mas ~ a incapacidade do art. 1.719, 1, pode atingir os herdeiros legítimos?  Se a resposta fôsse 
afirmativa,  seriam  nulas  as revogações em  que  interviessem  escritor, ou  testemunhas,  herdeiros legítimos.  A  lei 
não as consignou. Nem há o mesmo perigo que se  viu na testamentifação positiva. Pode haver; em todo o caso, 
menos  frequente,  e  menos  fácil.  Se,  porém,  o  segundo  testamento  deserda  algum  herdeiro,  ou  só  revoga 
parcialmente, de modo que se beneficie o escritor do segundo, ou alguma das pessoas incapacitadas, houve vontade 
positiva  a favor do incapaz, e nula é a deixa. 

3.  TESTEMUNHAS  DO  TESTAMENTO  iure  Já  se  tratou  da  chamada  incapacidade  relativa  de  testemunhar, 
terminologia que resulta do Código Civil, art. 1.650, eu, desacôrdo com a do artigo 1.719, III, que incluiu a espécie 
nos  casos  de  incapacidade  de  suceder  por  testamento.  Em  verdade,  mais  veda   receber  que  testemunhar;   tanto 
assim  que, testemunhado, pela  pessoa  proibida, o testamento,  êsse  não  cai:  o  que  cai  é  a  deixa  testamentária.  A 
sanção não consiste na nulidade do ato, iure do testamento; e sim na nulidade da disposição testamentária, tão­sã 
na parte em que é beneficiado aqueles a quem a lei probiu figurasse. Na verba “deixo a A e a E”, na qual A é uma 
das testemunhas, nula é a deixa a A, e não a deixa a E. Cabe, integralmente, iure salvo indicações contrárias, que 
impusessem a disposição a favor dos dois ou mais o mesmo destino, iur e o principio de conservação. 
O art. 1.719, II, do Código Civil refere­se a “testemunhas do testamento”, que não podem ser nomeadas herdeiros 
ou  legatario ~  Trata­se  de  testemunhas  instrumentárias,  de  modo  que  não  está  incluído  na  vedação  de  receber  a 
liberalidade a causa de morte quem apenas comparece, por exemplo, para atestar a identidade do testador. 

4. CONCILIAAÇÃO NOo TESTADOR CASADO. iure Na lei está dito (art. 1.719, III) que não pode ser nomeada 
herdeira,  nem  legatária,  a  concubína  do  testador  casado.  Há,  portanto,  dois  elementos,  para  essa  chamada 
incapacidade: a) Concubinato entre o testador e a herdeira ou legatária. b) Casamento do testador com outra pessoa. 
O  Código  Civil,  no  art.  1.719,  III,  fala  de  “concubina  do  testador  casado”.  A  expressão  “casado”  tem  de  ter 
interpretação  adequada.  Nada  obsta  a  que  o  homem  casado,  mas  desquitado,  deixe,  testamentàriamente,  à 
concubina. O art. 1.719, III, em verdade se refere ao testador casado, cuja sociedade conjugal não foi dissolvida. 
(~ ofensa, de iure condendo, ao principio de isonomla  proibir­se a deixa à concubina e não se proibir a deixa da 
mulher casada ao amante permanente. O argumento de que a investigação podia ser escandalizante é fraco, porque 
o  mesmo  escândalo  resultaria  da  busca  de  provas  de  que  a  mulher  beneficiada  vivia,  em  concubinato,  com  o 
homem casado. Tal como está na lei se um homem casado e uma mulher casada vivem como se fossem casados, 
pode ela deixar, testamentàriamente, ao amante, e êle a ela não pode deixar.) 
A questão capital consiste em se saber se é preciso sejam simultâneos os dois elementos. Se simultâneos, quando se 
deve apreciar a infração legal, iur e se ao tempo da feitura, ou se ao tempo da morte do testador. 
a)Testador  solteiro  em  concubinato  ao  tempo  da  feitura  do  testamento,  casamento  superveniente.  Pergunta­5e  j, 
superveniência  do  casamento  torna  incapaz,  no  sentido  do  artigo  1.719,  III,  a  herdeira,  ou  legatária,  que  foi 
concubina do testador? Se afirmativa a resposta, teríamos que a lei se satisfaz com os dois elementos, ainda que 
não  simultâneos.  Mas  a  verdadeira  solução  está  em  que a  superveniência  do  casamento  não  constitui,  no  Brasil, 
caso de ruptura dos testamentos, nem a dignidade da mulher do testador é ferida pela disposição testamentária feita 
anteriormente a êsse casamento. 
b)Testador solteiro em concubinato, casamento superveniente, testamento na vigência da sociedade conjugal. Aqui, 
como  no  caso  da  letra  a),  os  elementos  não  são  simultâneOs  quando o  testador  nomeia  herdeira,  ou  legatária,  a 
mulher, que não é a sua, contempla pessoa, que não é mais a sua concubina. Já não seria o concubinato a causa de 
dispor.  Se  tal  determinação  constitui  vontade  contra  bonos  mores,  e.  g.,  injúria  à  mulher  do  testador,  é  outra 
questão, forçosamente de fato, e se decide conforme os arts. 82 e 145, II, e não conforme o art. 1.719, III. 
c) Testador casado, em concubinato ao tempo da feitura do testamento. Dá­se a simultaneidade dos elementos, se 
bem que, ao tempo da morte do testador, pode ser que já não exista a sociedade conjugal. a) Se ainda existe, toilitur 
quaestio:  é nula a deixa. b) Se já  não existe, ~nem por isso deixa de ser  nula a disposição? O raciocínio seria o 
seguinte: se é certo que a testamenti factio passiva se aprecia ao tempo da morte do testador, foi erro da lei incluir o 
art. 1.719 no capitulo da capacidade para adquirir por testamento. Havendo simultaneidade dos dois elementos, a 
vedação do art. 1.719, III, pode ser apreciada ao tempo da feitura como ao tempo da morte. A solução seria justa? 
Questão  gravíssima,  que  os  juristas  não  versaram.  Trata­se  de  validade  de  disposição,  e  pode  bem  ser  que,  ao 
tempo da morte do testador, já não existam, nem a sua mulher, nem os seus descendentes. Se algum dêsses ainda 
existe, 2,teria cabimento pedir nulidade de uma verba que o testador vàlidamente já poderia escrever, uma vez que 
um dos elementos desapareceu? E talvez ambos (faleceu a mulher ou desquitaram­se; faleceu a mulher, ou houve
desquite,  e,  mais,  cessou  o  concubinato).  A  solução  justa  é  a  de  ter­se,  apenas,  a  exigência  da  simultaneidade, 
porém só apreciável se o elemento da sociedade conjugal existia ao tempo da morte. 
d) Testador casado, concubinato ao tempo da feitura, mas cessado o concubinato. O fato de ter cessado não tira a 
disposição o motivo que teve, ou se presume ter tido, e a lei manda que se presuma. Por isso mesmo, uma vez que 
subsiste a sociedade conjugal, é nula a nomeação de herdeira, ou legatária. 
Pelo desquite, termina a sociedade conjugal. Os filhos de outro leito, que foram concebidos após a cessação, não se 
conderam adulterinos, e são reconhecíveis. Tal a  nossa opinião, tal, posteriormente, a jurisprudência da Côrte de 
Apelação  do  is­Distrito  Federal,  contra  a  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  dê  São  Paulo.  Cessou  o  dever  de 
fidelidade  recíproca.  Cessa,  por  isso,  a  adulterinidade  dos  filhos  com  outrem.  Tais  filhos  herdam.  O  próprio 
desquitado pode instituir herdeira ou legatária a concubina. 
Afastou­Se, diz­se, a exigência da capacidade no momento da feitura do testamento. Só se cogita do momento da 
abertura da sucessão, que é o da morte do decujo. Mas as causas são, quase todas, ligadas ao momento da feitura. 
Resta o problema da sucessibilidade da concubina do testador casado. Tem­se de assentar se é incapaz quem era a 
concubina no momento em que o testador, casado, fêz o testamento, ou se é incapaz quem não era concubina do 
testador casado no momento da feitura e só o foi depois até o momento da morte. Se o testador, no momento da 
morte, não era casado, não há pensar­se em exclusão da concubina. Idem, se com ela se casou, porque então não 
(mais) se trata de concubina. O que importa é responder­se a duas questões: a) ié nula a disposição testamentária a 
favor de quem era concubina do testador casado e deixou de o ser? b) ~.é nula a disposição testamentária a favor de 
quem não era concubina do testador casado e passou a ser? Se o testador, casado, dispusera a favor da concubina, 
nula  foi  a  disposição,  ab  initio:   o  fato  de  superveniência  da  desligação  é  sem  relevância.  Se o  testador, quando 
dispôs, era casado, porém não era amante da beneficiada e só depois se tornou, a sucessão seria ilegal no momento 
da morte do testador, pois que herdeiro ou legatária seria a amante do homem casado. 
O  testador,  casado,  quando  testou,  a  favor  da  concubina,  infringiu  regra  jurídica.  Se  a  beneficiada  não  era 
concubina do testador, e no momento da morte o é, cumpria ao testador revogar a cláusula testamentária desde que 
a situação mudara. 
Na  ação de invalidado da  disposição  testamentaria,  feita  pelo  homem casado  à  concubina,  tem  de  ser  alegado  e 
provado o concubinato. Não importa alegar­se que a deixa foi remuneratória. Nem se a beneficiada empregada, ou 
assistente do testador (2ª~ Turma do Supremo Tribunal, 24 de janeiro de 1947, R.F., 112, 417; Turma Julgadora do 
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, 26 de setembro de 1949, R.F., 132, 212). 
Oart. 1.719,  III,  do  Código  Civil  fala de “concubina  do  testador  casado”;  mas  entenda­se  testador em  sociedade 
conjugal. O desquitado pode dispor a favor da concubina (3? Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, 
4 de novembro de 1943, R. dos 7’., 170, ‘738; 2.0 Grupo de Câmaras Civis do Tribunal de Apelação de São Paulo, 
15 de maio de 1940, 129, 535). 

5.OFICIAL PÚBLICO, CIVIL OU MILITAR, COMANDANTE, OU ESCRIVÂO, PERANTE QUEM SE FIZER, 
ASSIM GOMO O QUE FIZER OU APROVAR O TESTAMENTO. iure A lei, na sua minúcia, quis especificar os 
casos  de  testamento  notarial,  público,  ou  cerrado,  ordinário  ou  especial,  e  mencionar  os  figurantes,  iure  pela 
intervenção  formal  direta,  que  lhes  cabe,  no  escrever,  no  apanhar,  ou  no  aprovar  o  testamento.  Dispensa 
comentários. 

6.LEGADO  OU  DEIXA  A  FILHO  ADULTERINO.  iure  No  direito  francês  e  noutros  sistemas  jurídicos,  a 
jurisprudência considera nulos, por ilicitude da causa, os legados a filhos adulterinos, quando o testador deixa, no 
testamento, a convicção de que se trata de descendente seu. É o caso dos pais mal prevenidos, que aproveitam o 
momento de testar, ligado a antigas práticas religiosas, para confidências de ordem sentimental. No fundo, o que 
êles querem é justificar   a deixa. No entanto, a própria justificação põe em perigo a vontade do testador. 
Todavia, se há decisões francesas naquele sentido, iure o da nulidade (Req., 81 de julho de 1860, 29 de junho de 
1887), também há noutro, que não é de somenos importância: deixando­lhes tais legados, ou quotas hereditárias, os 
pais  exercem  o  dever  de  alimentar  que,  ainda  adulterinos  os  filhos,  lhes  incumbe  pelo  art.  722,  alínea  2?,  do 
Código Civil francês: “La loi ne leur accorde que dos alimenta”. Cp. italiano (1865), artigo 193; venezuelano, art. 
247,  e  Lei  portuguêsa  de  proteção  aos  filhos,  51  e  52.  Correspondem,  em  parte,  ao  art.  405  do  Código  Civil 
brasileiro. 
O que ora nos interessa é a validade do legado. A Côrte de Limoges (9 de março de 1923) considerou válido, iur e 
ainda que de capital, e não de alimentos. Na espécie, tratava­se de parte igual a que recebeu cada um dos legítimos. 
~,Podia decidir de tal maneira? Discutamos no direito brasileiro. 
O Código Civil negava direito de sucessão legítima aos adulterinos (arts. 1.605 e 858). Nega o direito de suceder
por  testamento  a  concubina  do  testador  casado  (art.  1.719)  ;  e,  no  art.  1.720,  considera  interposta  pessoa  o 
descendente da concubina, portanto iure o filho, adulterino, ou não, desta, isto é iure o filho do testador com ela, ou 
dela com outrem. 

Ao Código Civil sobrevejo legislação concernente ao reconhecimento de filhos ilegítimos e à herança legítima (Lei 
n. 883, de 21 de outubro de 1949). 
Cumpre não confundir. Não é a interposição, o dolus, que está em questão. Trata­se de deixa direta. ao filho e só a 
êle. admitida a prova de que não houve, de modo nenhum, a película intercalar de um filho, que recebesse o legado, 
com fito de beneficiar a mãe. Ex hypothesi, beneficia a êle, e tão­só a êle. Exemplo: se não vive com a mãe, se a 
mãe morreu, se a mãe perdeu o pátrio poder, etc. A dissociação é condição da hipótese. Assim, ter­se­á precisado o 
problema, que  não  se  restringe  ao  de  se  saber  se  o  filho  é  incapaz em  virtude do  art. 1.720, pois  consiste  em  se 
verificar se,  na  interpretação do próprio art. 1.719, ou dos arts. 82 e 145, II, combinados com os artigos 1.605 e 
858, temos de assentar ser ilícita  causa a deixa a filho adulterino. 
Preliminarmente:  a)  ~  qnid  inris,  se  os  filhos  adulterinos  têm  direito  a  alimentos?  b)  tQuid  inris,  se  o  testador 
adúltero é, no tempo da morte, viúvo? e) zQuid inris, se o testador é solteiro, quando a adulterinidade só é da parte 
da mãe do legatário? d) ,Quid juris, se o testador é casado? Confessemos que nos causa repugnância, e piedade, 
estar a discutir, para os efeitos práticos do direito nacional, se um filho  quiçá menor, pobre  tem direito a receber 
alguma coisa do seu pai. A função moral é evitar, nos indivíduos, os atos: inibir, rumar. Operar antes de se praticar 
o ato. Todos os seus efeitos posteriores são reações,  externas, sanções da opinião contra o culpado, ou internas, 
remorso. Ora, a sanção moral, implicando a jurídica, contra o filho, é algo de maldição, que o direito devia riscar. 
a)Em se tratando de alimentos, vale, sem discussão, o legado. 
b)Em se tratando de testador viúvo, não há ofensa ao outro cônjuge, ao casamento: vale a herança ou o legado. 
e)Se solteiro, idem; a ofensa seria a terceiro, o cônjuge da mãe do beneficiado. 
d)Se o testador é casado, a) pode ocorrer que não se saiba da adulterinidade, b) ou não possa ser alegada, porque 
seria  imputar prole ilegítima a mulher casada (art. 364, o), ou que o testador o diga,  no testamento, ou por outro 
meio se saiba (como se consta da sentença, art. 405). 
Só os últimos casos (e) interessam, mas dêles são excluidos os legados de alimentos, casos (a). Verdadeiramente, a 
questão  reduz­se  a  saber  se,  casado  e  não  desquitado o  testador,  sabendo­se  da  adulterinidade,  vale  o  legado de 
capital ao filho. A filiação legítima já foi protegida pela lei, com a metade necessária, O resto o testador distribui 
como entende, O ato de adultério deve manchar ao pai, não ao filho. ~ uma injustiça humana ferretear um ente, que 
talvez  valha  mais,  moral  e  socialmente,  do que os  outros,  a que  a  lei  já  protegeu.  Cumpre  ainda  observar  que  a 
separação de capital que dê as rendas necessárias à alimentação é legado alimentar. 
Preponderou o que escrevemos há quase quarenta anos. 
O  filho  adulterino  pode  ser  nomeado  herdeiro  ou  legatário,  porque,  no  direito  brasileiro,  não  se  estabeleceu 
incapacidade do espúrio (1.a Turma do Supremo Tribunal Federal, 27 de maio de 1943, 27 de julho de 1948, R.F., 
97, 622, R. dos T., 184, 921; 1.a Câmara Cível do Tribunal de Apelação da Bahia, 26 de setembro de 1944, 155, 
747; 43 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1.0 de novembro de 1938, 91, 847; 1.a Câmara Cível do 
Tribunal de Apelação da Bahia, 26 de setembro de 1944, 1?. F., 102, 805). 
(Temos de atender à Lei n. 883, de 21 de outubro de 1949, art. 1.0, que permitiu, dissolvida a sociedade conjugal, o 
reconhecimento de filho havido fora do matrimônio e ao filho a ação para que se lhe declare a filiação. No art. 2.~, 
deu­se a êsse filho direito à metade da herança que vier a receber o filho legítimo ou legitimado.) 
Tem­se de repelir que o filho adulterino, ou reconhecido, por ter nascido antes do casamento do pai, que continuou 
com a amante, mãe do beneficiado, seja sempre interposta pessoa. Tanto mais quanto houve a legislação posterior 
ao  Código  Civil  que  pôs  em  situação  mais  justa,  no  direito  de  família  e  no  direito  das  sucessões,  os  filhos 
adulterinos.  Disse,  e  bem,  no  sentido  do  que  sustentáramos  no  Tratado  dos  Testamentos,  o  Supremo  Tribunal 
Federal, a 25 de janeiro de 1950 (A. J., 94,886): “Não há interposição proibida na deixa a filhos de concubina, se 
são  também  do  testador.  O  ad.  1.720  do  Código  Civil  não  pode  ser  entendido  nos  rígidos  têrmos  em  que  é  ex­ 
pendido, em face da legislação posterior...”). 
Tentou­se  considerar  nula  a  deixa  ao  filho  da  concubina,  mesmo  se  o  concubina’  foi  posterior  ao  testamento 
(contra, a 23 Turma do Supremo Tribunal Federal, a li de abril de 1947, R.F., 120, 84: “exato que aqueles fato é 
superveniente  ao  testamento  em  sua  feitura. E os  extremos  da  lógica  levaram  a  extrair  dêsse  fato conseqitências 
desfavoráveis  à  substância  da  liberalidade.  Mas  uma  das  características  do  testamento  é  a  sua  revogabilidade, 
elemento  que  se  integra  na  definição  mesma  do  instituto  (art.  1.626)  e  que  deriva  do  seu  caráter  unilateral  e 
personalissimo. Ao simples e mudável alvedrio do testador, à sua vontade ambulatória é sempre possível infirmar o 
ato:  ambukttúriti  est  voluntas  defuneti  usque  ad  vita  et  supremum  exitum.  Trata­se  de  principio  recebido 
unânimente.  E,  se  a  faculdade  de  revogar  não  é  exercitada,  o  que  se  verifica  é  a  permanência  da  vontade  que 
vitaliza o ato no instante da abertura da sucessão”). 
Convém  lembrar  alguns  acórdãos  a  respeito  de  deixa  a  filho  adulterino,  que  se  pretende  considerar  interposta
pessoa. A j·a Turma do Supremo Tribunal Federal, a 8 de abril de 1946  (R.fl, 112, 355), como a 27 de maio de 
1943,  foi  expressiva,  O  Tribunal  de  Apelação  de  Alagoas,  a  25  de  julho  de  1941  (1?.  E.,  89,  S05),  disse: 
“Cumprindo­se o art. 1.720 do Código Civil, de acôrdo com a sua letra e o seu objetivo, não se criou uma proibiçào 
absoluta para os filhos adulterinos herdarem por via testamentária. Se o testador é solteiro e apenas a concubina é 
casada,  nada  impede  que  êle  faça  legado  em  favor  do  filho  adulterino.  Também,  segundo  PONTES  DE 
MIRANDA,  nos  casos  em  que  a  concubifla  tenha  morrido,  ou,  por  outra  causa,  não  se  puder  beneficiar  com  o 
legado  feito  aos  filhos,  é  êle  válido,  pois,  nestas  hipóteses,  não  se  contraria  a  finalidade  do  citado  art.  1.720. 
PONTES  DE  MIRANDA.  de  acôrdo  com  a  corrente  dominante,  e  contràriamente  à  opinião  de  FERREIRA 
ALvES,  sustenta  que  os  filhos  adulterinos,  posto  que  sem  direito  à  sucessão  legitima,  estão  de  modo  absoluto 
probidos de herdar de seu pai por meio de testamento”. 
§ 5.815. Disposição a favor de incapazes de suceder 

1. TEXTO DA LEI.  Diz o Código Civil, art. 1.720: “São nulas as disposições em favor de incapazes (arts. 1.718 e 
1.719), ainda quando simulem a  forma de contrato oneroso, ou os beneficiem por interposta pessoa. Reputam­se 
pessoas interpostas o pai, a mãe, os descendentes e o cônjuge do incapaz”. 

2.NULIDADE DERIVADA DA REGRA JURÍDICA.  A parte final prevê a interposição do pai, m~e, descendente 
e cônjuge do incapaz. E o avô? Claro que se deve ler ascendentes, em vez de pai e mãe; êrro de técnica. A lei cria 
presunção  de  ser  interposta  a  pessoa.  Mas  advirta­se  em  que,  por  vêzes,  o  pai,  a  mãe,  os  descendentes  da 
concubina,  não  estão  no  lugar   dessa,  e  sim  por  si  mesmos:   dá­se  a  dissociação,  que  elide  a  aplicabilidade  da 
presunção  lega].  Lembrem­nos  os  seguintes  exemplos:  o  testador  casou  com  a  filha  do  que  lhe  escreveu  o 
testamento,  casamento  válido  e  que  opera  os  efeitos  jurídicos,  inclusive  de  fazer  o  cônjuge  um  dos  eventuais 
herdeiros legítimos; o testador legou a pessoa que, mais tarde, casou com o oficial público; o testador casou com a 
concubina; e muitos outros. Cumpre notar, porém, que, ainda eliminada a presunção legal do art. 1.720, 2·a alínea, 
pode ser feita a prova da interposição. O testador deixou tôda a fortuna à concubina, mas sem a  mencionar, por 
intermédio de um amigo. Se fôr provado que o amigo recebeu e entregou o que recebera, o juiz tem de considerar 
nula  a deixa. Mas, ~se prova fôr feita de que tal procedimento foi suspensa, sem qualquer dependência para com a 
vontade do testador? Doação lícita do próprio amigo, e não fidúcia  ilícita ou legados pro vide abiatis, que fôssem 
in fraudem legis. Afastada a interposição, a velada fiducialidade da herança ou legado, não cabe a nulidade. 

8. PRESUNÇÃO.  O art. 1.720,  2·a alínea, reputa interposta pessoa o pai, a m&e, o descendente ou o cônjuge do 
incapaz. Mas há outro pressuposto para a incidência da regra jurídica do art. 1.720, 1·a alínea, que é o beneficiante 
do incapaz. Assim, para que o filho adulterino possa s~r tido como interposta pessoa, é preciso que a liberalidade a 
êle beneficie a mãe. Têm alguns juristas interpretado o art. 1.720 como se fôsse nula a deixa ao filho adulterino, em 
qualquer hipótese.CLóVIS BEVILÁQUA (Código Civil comentado, VI, 1’70) escreveu: “A interposição dispensa 
prova.  Resulta  de  uma  presunção  legal,  que  não  admite  prova  em  contrário”.  Juristas  repetiram­no.  Alguns 
acórdãos são no mesmo sentido (e. g.,  1·a Turma do Supremo Tribunal Federal, 8 de novembro de 1951, ltF., 142, 
180). Na doutrina estrangeira muito se insistiu em se tratar de presunção inris et de jure. 
Do art. 1.720 do Código Civil quis­se tirar que é nula a disposição em favor do filho adulterino do testador porque 
assim se beneficiaria a concubina. Primeiro, ter­se­ia de alegar e provar que a intenção do testador foi beneficiar a 
concubina,.  e  não  o  filho adulterino; segundo, pode  não  mais  haver  qualquer  relação  entre  o  homem  casado  e  a 
concubina, ou estar êle viúvo, ou ter­se casado com outrem a concubina. A discussão que ocorreu na  1·a Câmara 
Cível do Tribunal de Apelação da Bahia, a 26 de setembro de 1944 (1?. 1’., 102, 805), não desceu aos pormenores, 
ficando­se em tôrno de afirmações de extrema generalidade. O filho adulterino é capaz; a nulidade por interposição 
pode ocorrer mesmo se o filho não é adulterino. O que é preciso para que a disposição testamentária não seja válida 
é que se alegue e prove que se quis beneficiar a concubina, e não o filho. 
Ponhamos o problema em têrmos de agora, sem recebermos a influência de doutrina estrangeira, que não desceu a 
exame profundo. 
A mãe do filho adulterino do testador ainda em sociedade conjugal, mulher que seria incapaz de receber a deixa, 
não vive com o filho, que foi criado pelo pai, ou pelos avós paternos. Tal filho já tem filhos, que em caso de morte 
seriam  os­seus  herdeiros.  ,‘,Onde  o  beneficiamento  da  mãe,  que  fôra  concubina  do  testador?  O  filho  adulterino 
pode  ter  sido  adotado  pela  mulher  do  testador.  ~  Onde  o  beneficiamento  da  concubina  do  testador?  O  filho 
deserdara a mãe. Onde o beneficiamento da mãe com a deixa ao filho? 
O  filho  adulterino  pode  ser  o  único  filho  do  testador.  ~,  Como  seria  admissível  que  se  reputasse  interposição  a 
nomeação do único descendente como legatário ou herdeiro? 
A deixa ao filho da concubina, que não é filho do testador, é deixa a interposta pessoa, porém, a despeito de haver 
maior dificuldade de  se provar  que  a  intenção  do testador  não foi  a  de beneficiar  a concubina,  não  se  afaste,  de 
modo  absoluto,  a  prova  de  que  não  houve  a  interposição.  Por  exemplo:  o  filho  da  concubina  salvara  a  vida  do
testador, por ocasião de incêndio, e com isso sofrera queimaduras. Cf. Tribunal de Apelação de Alagoas, a 25 de 
julho  de  1941  (R.F.,  89,  805)  :  “.  .  .segundo  PONTES  DE  MIRANDÁ,  nos  casos  em  que  a  concubina  tenha 
morrido,  ou,  por  outra  causa,  não  se  puder  beneficiar  com  o  legado  feito  aos  filhos,  é  êle  válido,  pois,  nessas 
hipóteses, não se contraria a finalidade do citado art. 1.720”. 

§ 5.816. Liberdade de testar e quota necessária 

1.LIBERDADE DE TESTAR.  No terreno da herança necessária  é que se trava a discussão da liberdade de testar, 
problema de que nos ocupamos no Tomo LV. Certo, hoje em dia, a questão se estabelece na preliminar: ~ deve, ou 
não,  haver  um  direito  de  sucessão?  A  verdadeira  solução  nós.  a  demos:  se  há  sucessão,  deve  haver  herdeiros 
necessários;  a  liberdade  de  testar  podia  ser  defendida  com  argumentos  de  ordem  sociológica  e  moral,  alguns. 
políticos,  quando só  se  tinha  de  enfrentar  a  questão da porção necessária,  que  ela,  por definição, nega,  mas,  no 
momento em que o único argumento de pé a favor da sucessão individualista  é a simetria  da herança econômica 
com a herança biológica, psicológica, educacional, torna­se bem árduo defender a liberdade integral de dispor. Se 
há  pátrio  poder  e  herança,  deve  haver  herdeiros  necessários.  Sucessão  sem  direito  hereditário  forçado  é 
individualismo  na  vida  e  na  morte.  Comunidade  de  filhos  e  pais,  como  entre  os  germanos,  compreende­se; 
propriedade  social,  sem  sucessão  e,  pois,  sem  a  espécie  mais  respeitável,  que  é  a  necessária,  também  se 
compreende.  Ora,  sucessão  individualista  com  a  plena  liberdade  de  testar  só  a  fantasia  podia  aceitar  fora  das 
circunstâncias  gerais  da  Roma  patriarcal,  prepotente,  rígida,  que  passou,  como  tudo,  e  dos  anglo­saxões  da  er~ 
individualista e mercantilista. Demais, as razões de sucessão na profissão, no labor da terra, das minas, deixaram de 
existir: cada vez mais a distribuição profissional  terá de atender a outros fatôres, individualíssimos alguns, pelos 
quais se verifique a aptidão, se dê a orientação e se proceda à seleção. 
A liberdade de testar que obrigasse a respeitar tais indicativos e imperativos de ordem científica e política deixaria 
de  ser  a  si  mesma:  não  seria  liberdade.  Enquanto  os  bens  da  vida  não  se  socializarem,  o  direito  hereditário 
necessário  deve  existir.  O  Estado,  que  o  abolir,  tem,  prêviamente,  de  assegurar  o  sustento  e  a  educação  dos 
descendentes de mortos. Ora, será, no terreno econômico­financeiro, impossível (afaste­se a hipótese de se tornar 
possível pela limitação matemática de nascimentos) assegurá­los, conservando­se a sucessão individualista, com a 
liberdade de testar. 
É  difícil  compreender  que  se  permita  a  sucessão  individualista   com  a  liberdade  de  dispor  em  absoluto: 
individualismo  que  passa  além  do  túmulo,  individualismo  que  ou  demonstra  a  ofensa  ao  officium  pietatis  (nas 
sociedades em que os filhos dependem dos pais e das posses e situação dos pais, fenômeno que existirá em quanto 
existir   sucessão  individualista),  ou  ao  color  insaniae. Para nós  outros, que vemos  os  fatos,  a  história  da  querela 
inolficiosi  e  a  da  reserva  germânico­costumeira  constituem  experiências  vivíssimas.  Se  hú  sucessdio  individual, 
deve haver necessariedade da sucessão dos descendentes. A sucessão necessária, a quota mínima dos filhos, dos 
netos, só deve desaparecer com a sucessão individualista, O que pode e deve acontecer é a adoção de medidas que 
progressivamente  as  desindividualize,    a  ambas,  a  sucessão  individualista,  que  é  o  gênero,  e  a  espécie,  que  é  a 
sucessão necessária dos descendentes. Propositada a nossa exclusão dos ascendentes e dos colaterais: 
há  interêsses  respeitáveis  em  causa,  mas  o  problema  não  é  o  mesmo;  tôda  boa  política  olha  o  que  vem  e  faz  o 
possível pelos que estão a passar. Todo o problema político de ordem geral recai nos jovens. 
De  modo  nenhum  pode  o  testador  estabelecer  sucessividade  quanto  à  herança  necessária  (e.g.,  instituir 
fideicomisso, cf.  4·a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 22 de fevereiro de 1945, R. dos T., 161, 
159; 2.~ Câmara Civil, 16 de maio de 1983, 88, 109). 

2.PORÇÃO  DISPONÍVEL.  A  contra­parte  da  quota  necessária   chama­se  porção  disponível.  O  art.  1.576  do 
Código  Civil  anuncia  o  art.  1.721.  “Havendo  herdeiros  necessários,  o  testador  só  poderá  dispor  da  metade  da 
herança”, diz o art. 1.576. 

§ 5.516. LIBERDADE DE TESTAR 

Na  1·a parte do art. 1.721 dir­se­á o mesmo por outras palavras: “O testador que tiver descendente ou ascendente 
sucessível  não  poderá  dispor de  mais  de  metade de  seus bens”.  Como  se  vê, entra­se  em  repetição  escusada:  na 
primeira  estatuiu­se  que  necessários  só  havia  descendente  e  ascendente,  na  2·a  só  se  introduz,  de  nôvo,  que  os 
descendentes excluem os ascendentes. Necessariedade subsidiária. E dá­se nome à quota necessária, 
nome ambíguo, que mais uma vez evidencia a manca terminologia do autor do projeto primitivo. Legítima, diz­se. 
Ora, legítimas são as porções dos herdeiros legítimos; legitimas forçadas, quotas necessárias, etc., compreender­ 
se­ia  que  se  dissesse.  Reserva   diria  melhor,  sem  dizer  bem.  Aliás,  na  doutrina  tradicional,  a  expressão  portio 
legitima   concorreu para  isso.  Ora,   se  atendermos  a  que  a querela inoficiosi  (da  era  clássica)  constituía remédio 
jurídico  processual  coordenado  a  sucessão  legítima   (ao  contrário  da  ação  de  nulidade,  pelo  color  insania.e)  o
têrmo é  justo:  todos os  herdeiros  cognados eram necessários;  pretoriana  a  sucessão, pretoriana  a  querela.  Mas  a 
fixação  posterior  tinha  por  fito  critério  quantitativo  para  a  exclusão  da  querela,  e  não  direito  dos  herdeiros  aos 
bens, noção que só se adquiriu depois, com a influência germânico­costumeira. Os textos falam de quarta debita 
potionis, da quarta parte da porção devida (L. 8, § 8, D., de inoficiaso testamento, 5, 2). Quortam legitima.e partis 
está no § 3, 1., de inofficioso testamento, 2, 18, o que se há de traduzir por quarta da parte legítima. A despeito de 
B. WINDSCHEID (Lehrbuch deg Pandektenrechts, III, § 578, nota 8) consignar fortio legitima, não encontramos 
textos  clássicos.  Como E.  WINDSCHEID,  os  anteriores,  O.  F.  PUCHTA  (Pandekten,  9·a  ed., 701),  C.  O.  VON 
WÃCHTER (Pandekten, II, 829) e os demais. 

3.PORÇÃO DISPONÍVEL DITA ANÔMALA.  Se os bens existentes ao tempo da morte forem todos absorvidos 
pelas  dividas,  e  existirem  doações  conferiveis,  a  quota  de  cada  herdeiro  será  a  fração  da  soma  das  doações 
conferidas, igualadas, portanto, as doações, eu cortadas a um, ou alguns, para que a todos os herdeiros se dê o seu 
quinhão. Dai dizer M. A. COELHO DA ROCHA (IhstUzflçteà de Direito Civil português, 1, 88 ed., §§ 241 e 350) 
que,  absorvidos,  pelas  dívidas,  os  bens  existentes,  havendo  doações  conferíveis,  estas  formam  a  massa  das 
legítimas. 
No art. 1.724 do Código Civil, diz­se que “o herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua metade disponível, 
ou algum  legado,  não perderá o direito  à  legítima”.  Não  se  precisava  redigir  a regra  jurídica, porque resulta  dos 
conceitos de porção indisponível (dita, ai, “legítima”) e de disposição testamentária. O herdeiro necessário pode ser 
contempiado no todo ou em parte da porção disponível, ou em herança ou em legado. O que se lhe atribui como em 
herança testamentária ou em legado se rege pelo direito testamentário. 

4.PRINCIPIO DA INVIOLABILIDADE DA QUOTA NECESSÁRIA. 

O testador não pode privar das quotas necessárias, da fração na porção indisponível, na portio debita  ou legitima, 
os herdeiros necessários. Por isso mesmo, não pode: a) deixar­ 
­lhes, para nela  serem computados com valor estimativo, ou fixado pelo testador, bens constantes do seu acervo; 
Lfl ordenar que o herdeiro entregue coisa de sua propriedade a outrem (Código Civil, art. 1.679), porque, se o não 
cumprir, nenhuma conseqUência terá que lhe diminua a quota necessária; salvo, está visto, quando o ­contemple a 
mais,  testamentàriamente,  e  ordene  a  entrega  conforme  o  art.  1.679,  porque  se  trata,  em  tal  caso,  de  herdeiro 
testamentário, cuja quota necessária se rege, incólume, por outros princípios; e) onerar com encargos ou apor­lhe 
condições, porque são nulos; 4) impor legados ao herdeiro necessário. 
A necessariedade da herança faz intangível a porção legitima necessária. As medidas tocantes à proteção da porção 
começam em vida do testador, para que não possa doar, em vida, a ponto de atribuir a outrem o que não poderia 
deixar em testamento. Tem­se de saber, no momento de cada doação, o que é que poderia o doador, em negócio 
jurídico unilateral testamentário, fazer objeto de disposição testamentaria. 
De qualquer modo, ao tempo da morte do testador, têm­se de somar os atos de liberalidade, em vida e a causa de 
morte, para se saber se caberiam na metade disponível. 
As liberalidades poderiam já ter infringido a intangibilidade da porção necessária, o que as teria feito inválidas. 
No direito anterior, se descendente o testador, não poderia obrigar os ascendentes a receberem determinados bens 
em vez da quota nos bens deixados, excluídos os legados, porque a partilha pelo testador (hoje, art. 1.776) só se 
referia a linha reta descendente (M. A. COELHO DA ROCHA, Instituições de Direito Civil português, 1, 3~ ed., § 
351)  ;  mas  o  Código  Civil,  que  manteve  a  referência  a  pai  (art.  1.776),  permite  ao  testador,  ascendente  ou 
descendente,  mandar  convertê­los  em  outras  espécies  e  gravá­los  com  restrições  de  poder, de  acôrdo  com  o  art. 
1.728. Tal artigo explicitamente se refere aos ascendentes e aos descendentes. 
O  art.  1.776  seguiu  a  tradicional  doutrina  da  partilha,  feita  pelos  pais,  dos  bens  deixados  aos  filhos  (leia­se 
descendentes) ; porém o art. 1.723, inspirado em lição mais moderna, abriu a brecha em tôda a linha reta, de modo 
que  os  descendentes  não  podem,  em  vida,  partilhar  os  bens  dos  ascendentes  sucessiveis  e  só  o  podem  os 
ascendentes quanto aos bens dos descendentes sucessíveis, porém é­lhes facultado convertê­los. Ora, converter, é 
alienar  e  comprar  outro;  portanto,  destinar  um  bem,  que  já  se  tem,  a  A,  e  o  outro,  a  E,  seria  menos  do  que 
converter: pode o mais, não pode o menos. Absurdo seria; donde devermos permitir o menos, pois que se permitiu 
o  mais,  e  ler  o  art.  1.776  como  se  dissesse:  “É  válida  a  partilha  feita  por  ato  entre  vivos  ou  de  última  vontade, 
contanto que não o prejudique a metade devida aos herdeiros necessários”. Ai estão ascendentes e descendentes. 
Cumpre,  porém,  que  se  recorde  a  exposição  do  Tomo  LV.  Enquanto  as  doações  a  estranhos,  ou  a  sucessíve~s 
legítimos que não são descendentes, são doações definitivas, que têm de caber na quota disponível, as doações e 
outras  liberalidades  a  descendentes  têm­se  como  adiantamento  da  legítima  do  herdeiro  necessário  descendente, 
salvo se o doador afasta a incidência da regra jurídica, Daí poder ocorrer que, a despeito de se ter de saber, a cada 
doação, qual,  no  momento, o  valor  da porção disponível,  os  valôres  dos  adiantamentos de legítima  tenham  sido 
maiores,  de  modo  que,  ao  morrer  o  decujo,  a  porção  disponível  seja  pequena  em  relação  ao  que  receberam  e
recebem os herdeiros legítimos necessários, descendentes do decujo. 

5.HERDEIROS  NECESSÁRIOS    Diz  o  Código  Civil,  artigo  1.721:  “O  testador  que  tiver  descendente  ou 
ascendente sucessível, não poderá dispor de mais da metade de seus bens; a outra pertencerá de pleno direito ao 
descendente e, em sua falta, ao ascendente, dos quais constitui a legitima, segundo o disposto nesse Código (arts. 
1.608­1.619 e 1.728)”. 

6.NATUREZA  DO  DIREITO  DOS  HERDEIROS  NECESSÁRIOS.  Os  herdeiros  a  que  o  ari.  1.721  chama 
necessários são no essencialmente e não formalmentee. O direito brasileiro 1180  11  a hereditafledrade necessáfia 
jorntil. 
A quota necessária incide no aceno, cinde­O, como vocação forçada, fenômeno hereditário­real, no que difere do 
Piíichtteilecht dos alemães, que é um direito de obrigação, a reserva, tal como a tem o Código Civil alemãO, ~§ 
2.808 s. Se o testador alemão dispõe da sucessão e exclui o descendente, os pais, ou o cônjuge, os excluídos podem 
pedir a reserva, Pftichtteil. Muito diferente, portanto, da quota necessária do direito brasileiro, que existe intacta, 
abstratamente  separada,  fora  dos  bens  testados  e  a  despeito  das  vontades  expressas,  contrárias,  do  testador.  A 
existência  de  herdeiros  necessários  faz  com que,  à  abertura  da  sucessão,  o  monte  hereditáriO  se  parta  ao  meio, 
metade vá aos herdeiros necessários e metade àqueles que o testador tinha indicado, ou o. que, na falta da vontade 
declarada, devam ir. 
No Brasil, porção disponível e porção necessária  são quantidades invariáveis. A metade da herança, cada uma; e 
não  fixada  em  razão  do  número  dos  filhos,  como  seria  mais  racional.  Na  França,  a  variabilidade  cessa  além  do 
quarto  filho.  O  fracionamento  invariável,  que  contém  em  si  certa  injustiça,  simplifica  as  questões  relativas  à 
abstenção e à porção necessária, assaz renhidas no direito francês. 

7.DESCENDENTES  E  ASCENDENTES.  Têm  direito  à  porção  necessária:  a)  os  descendentes  legítimos  e 
iegitimados, os naturais reconhecidos b) o filho adotivo, que poderá concorrer com o filho superveniente à adoção 
e, nesse caso, só herdará a metade do quinhão que couber àquele, ou a cada um dêles, se mais de um forem (art. 
1.605, § 2.0) ; o) os ascendentes (art. 1.603, n> legítimos e os naturais, que reconheceram ou legitimaram; á) o pai 
adotivo, se não existirem o pai e a mãe do adotado, ainda que existam outros ascendentes (artigo 1.609, parágrafo 
único) 

8.DESTINO DOS BENS NÃO DISTRIBUÍDOS NO TESTAMENTO. 
O que só deixa cônjuge, irmãos, ou outros colaterais, pode dispor de tôda a herança. Se há herdeiros necessários, a 
quota  disponível  poderá  ser  aplicada  em  heranças,  legados,  com  as  condições,  modos,  recomendações,  e  as 
restrições de poder, que o testador quiser. Quanto à porção necessária, a lei não permite condição, ném modas, que 
feririam o principio da inviolabilidade das quotas necessárias; só abriu a exceção do art. 1.728. Se o testador sem 
herdeiros  necessários  não  dispôs  de  tudo  que  tinha,  aplicam­se  os  arts.  1.574  e  1.673  (dispositivo  1)  ;  se  tiver 
herdeiros necessários e não dispôs de tôda a metade disponível, ou, morrendo testado, de nada dispôs, observar­se­ 
ao art. 1.726 (interpretativo!). 

9 DA METADE DISPONÍVEL.  Diz o Código Civil, art. 1.722: “Calcula­se a metade disponível (art. 1.721) sôbre 
o total dos bens existentes ao falecer o testador, abatidas as dívidas e as despesas do funeral”. E no parágrafo único: 
“Calculam­se  as  legítimas  sôbre  a  soma,  que  resultar,  adicionando­se  a  metade  dos  bens  que  então  possuía  o 
testador, a importância das doações por êle feitas aos seus descendentes (art. 1.785)”. 
10.CÁLCULO DA PORÇÃO DISPONÍVEL.  Calcula­se a metade disponível dividindo­se pelo meio a soma dos 
valôres  dos  bens  existentes  à  época  do  falecimento  do  hereditando.  Não  se  trata  dos  valôres  ao  tempo  do 
falecimento,  coisa  que  só  interessa  ao  impôsto;  mas  dos  valôres  ao  tempo  da  liquidação  dos  bens  existentes  ao 
tempo  do  falecimento.  É  isso  que  se  divide  por  dois,    a  metade  necessária,  a  metade  disponível.  Assim,  se,  ao 
tempo  da  abertura  da  sucessão,  a  herança  total,  com  os  prédios,  valia  x  e,  avaliados  êsses,  antes  de  passar  em 
julgado a partilha, se incendeiam, metade disponível é x menos a perda dos prédios dividido por dois. Se o falecido 
era casado pelo regime da comunhão de bens, há duas operações a fazer: a) a de divisão dos bens comuns (metade 
ao  cônjuge  sobrevivo,  metade  à  herança);  b)  a  da  divisão  dos  bens  hereditários  (a  metade  à  herança,  de  que  se 
falou) em porção necessária  e porção disponível. Se não há herdeiros necessários, o testador pode dispor de todos 
os seus bens. 
A metade disponível pode ser menor que a soma dos quinhões necessários efetivamente recebidos. Tal paradoxo 
resulta das colações, que aumentam a porção necessária, porém não a metade disponível (art. 1.785). 
a) No direito que rege a relação jurídica entre o titular, os escreventes e os demais auxiliares, apenas se estabelece 
limite de mínimo salarial, ficando­lhes, com o consentimento do Corregedor, a faculdade de convenção a propósito 
de honorários, vedações de contacto durante o tempo de serviço, faltas e outros assuntos disciplinares, bem como
no tocante à remuneração. 
b)Quando  algum  negócio  jurídico  bilateral,  ou  plurilateral,  ou,  embora  seja  menos  freqUente  a  ocorrência, 
unilateral, contém cláusula de duração que se refere a condição resolutiva ou a termo resolutivo e, no momento da 
assinatura,  a  condição já  se  impliu, ou  já  adveio  o  termo, o  negócio  jurídico  não entra  no  mundo jurídico. Seria 
atribuir­se eficácia ao que não a podia ter tido. 
Se,  em  vez  disso,  é  após  a  assinatura,  no  mesmo  dia,  ou  no  dia  seguinte  ou  algum  tempo  depois,  que  há  o 
implemento da condição, ou o advento do termo, a resolução sobrevém. O negócio entrou no mundo jurídico e, por 
menor que tenha sido o lapso, havia a resolutividade e deu­se a resolução. 
Se tarda o implemento da condição, ou o advento do têrmo, continua a vinculação. 
Os que aceitaram as doações, que constam de escrituras devidamente assinadas, com os val~res da época, tiveram 
adiantamentos de legitima, ou doações tiradas da parte disponível. Pela lista dos bens e, a fortiori, por serem quase 
tôdas as doações em adiantamento de legítima, nenhuma infração houve ao art. 1.176 do Código Civil. O que seja 
da porção disponível de modo nenhum fere os arts. 1.721 e 1.722, nem o art. 1.722. parágrafo único. Por ocasião da 
morte do doador é que se tem de levar a colação o valor de tudo que foi doado (cf. art. 1.792), como incluso na 
parte disponível, ou no adiantamento da legítima (art. 1.785). É então que se sabe qual o valor da parte legítima e 
qual o valor da parte disponível. Se alguém recebeu mais do que pode caber na porção disponível, quer a título de 
doação de valor inserível na porção disponível, quer de valor da quota de legitima, então há a redução. Para isso, o 
que importa é saber­se, se, ao morrer, o doador não poderia dispor daquilo de que dispôs como incluível na porção 
disponível, porque, se poderia dispor, mesmo se doou, a título de adiantamento de legitima, mais do que seriam as 
legítimas doS herdeiros necessários, o excesso, doado a titulo de adiantamento de legítima, é considerado a título 
de doação de fração da parte disponível (art. 1.726). 

11. PORÇÃO NECESSÁRIA SE HÁ SUCESSÍVEIS RENUNCIANTES  Se, por ocasião da abertura da sucessão, 
algum dos chamados renuncia a herança, cumpre distinguir: 
a)se o  herdeiro  é  legítimo  (necessário  ou não),  a  parte  do  abstinente  ou  renunciante  vai  aos  outros  herdeiros  da 
mesma classe (necessários ou legítimos, do mesmo grau, quis­se dizer a lei), ou, se êle é o único dela, aos da classe 
subseqUente (artigos 1.588 e 1.589); b) se é herdeiro testamentário, ou se dará o direito de acrescer (arts. 1.710 e 
1.712), ou não se dará, e então irá aos herdeiros legítimos a quota vaga no nomeado (art. 1.718). Temos, portanto, 
de examinar três casos: 
a)Abstenção  do herdeiro  necessário  (não digamos  legítimo, porque o direito brasileiro  não  conhece  sucessão  em 
que  concorram  necessários  e  simplesmente  legítimos).  Se  houve  abstenção,  ou  abstenções,  a  porção  necessária 
cresce,    em  vez  da  metade  abstrata,  passa  a  ser,  concretamente,  a  metade  abstrata  mais  a  fração  em  que  o 
numerador  é  o  número  dos  abstinentes  e  o  denominador  o  número  de  herdeiros  que  foram  chamados.  Já  não  é 
metade,  e  sim  mais  do  que  a  metade  da  herança.  A  recusa  do  herdeiro  necessário  não  aproveita  aos  herdeiros 
testamentários  salvo  se  todos  recusarem,  não  houver  outros  sucessíveis  necessários  e  couber  chamada  dos 
instituidos a tôda a herança  ( inclusive a necessária, se houve renuncia), o que raramente acontece. 
14 Se o renunciante é instituído e há direito de acrescer, nenhum direito terá o herdeiro necessário; salvo se todos 
os  instituidos  renunciarem,  porque,  então,  as  quotas  irão  ao>  herdeiros  legítimos,  que  são,  na  espécie,  os 
necessários: deu­s, a sucessão legítima (art. 1.575). 
c)Se o herdeiro instituído renuncia, sem que caiba direito de acrescer (art. 1.718), o herdeiro necessário recolhe es 
bens. 
Mas há diferença notável. Nos casos da espécie a), a por­são dos herdeiros necessários cresceu:  tôda a herança foi 
aos herdeiros  necessários  e  por  sucessão legitima  necessária, uma de  cujas  consequências  é  pagar  o  impôsto de 
sucessão necessária. Nos da espécie b), não há distinguir da quota necessária a quota legítima,  não há a distinção, 
porque não há oposição com os herdeiros testamentário só há uma classe de herdeiros, legítimos de linha reta. Nos 
da  espécie  c),  a  sucessão  é  legítima   (não­necessária).  Não  confundamos  com  a  espécie  do  art.  1.726,  onde  o 
herdeiro necessário é um mediatamente instituido. 

12.PORÇÃO NECESSÁRIA E HERDEIRO NECESSÁRIO TAMBÉM INSTITUIDO.  A lei conhece dois casos 
de instituição do herdeiro necessário: a) a que se faz em verba testamentária e. neste, o herdeiro necessário sucede 
necessàrial»ente na parte indisponível e testamentàriamente na em que foi contemplado; 
6)a  que  resulta  do  art.  1.726,  instituição  a  que  chamamos  mediata,  assaz  interessante  nas  suas  consequências 
práticas. Em qualquer dêles, o herdeiro sucede ex testamento, sendo, como é, inter’pretativo o art. 1.726. Não se 
confunda  com  os  casos  em  que  há  superveniência  de  inaplicação  da  quota  disponível,  como  se  o  herdeiro 
testamentário renuncia sem terem os demais o direito de acrescer (ad. 1.713). 

18.CÁLCULO  PRATICO  DAS  PORÇÕES  NECESSÁRIAS.    A  lei  manda que  se calcule,  em  primeiro  lugar,  a 
porção disponível, porque não é suscetível de aumento. Partem­se em duas metades os bens deixados pelo testador.
Depois,  à  metade  necessária   soma­se  o  que  os  descendentes  (ja  lei,  no  art.  1.722,  parágrafo  único,  somente  se 
refere a descendentes!) devem  colacionar. O que pelos herdeiros necessários ter­se­á de partir não será a metade 
necessária do primeiro cálculo, mas a soma (metade + bens colacionados) do segundo (art. 1.785). 
Os  ascendentes  não  são  obrigados  a  colação,  porque  são  dois,  quatro,  oito,  dezesseis  e  assim  por  diante, 
provàvelmente  pré­morreram,  e  a  porção  necessária  estará  mais.  ou  menos  assegurada  pela  inoficiosidade 
ordinaria das doações (artigo 1.176). 

14.CLÁUSULAS DE INALIENABILIDADE E DE INCÚMUNICABILIDADE.  Diz o Código Civil, art. 1.723: 
“Não obstante o direito reconhecido aos descendentes e ascendentes no artigo 1.721, pode o testador determinar a 
conversão  dos  bens  da  legítima  em  outras  espécies,  prescrever­lhes  a  incomunicabilidade,  confiá­los  a  livre 
administração  da  mulher  herdeira,  e  estabelecer­lhes  condições  de  inalienabilidade  temporária  ou  vitalícia.  A 
cláusula de inalienabilidade, entretanto, não obstará à livre disposição dos bens por testamento e, em falta dêste, a 
sua transmissão, desembaraçados de qualquer ônus, aos herdeiros legítimos 
A  impenhorabilidade  relativa  dos  frutos  e  rendas  dos  bens  inalienáveis  foi­se  estabelecendo  no  direito  luso­ 
brasileiro,  até  que  se  fêz  regra  de  lei.  A  elaboração  foi  lenta,  como  se  pode  ver  em  AlVARO  VÂLASCO  (Co­ 
asultationum, 1, 188), em MANUEL MENDES DE CASTRO (Practica Lusitana, 1, 99) e nos comentadores da 
Ordenação do Livro III, Título 98, § 1. O art. 948, 1, do Código de Processo Civil cria caso de impenhorabilidade 
prôpriamente  dita,  ressalvando  os  frutos  e  rendimentos  destinados  à  alimentação  de  incapazes  ou  de  viúvas  ou 
solteiras, inovação digna de aplausos. 
Se  os  frutos  e  rendimentos  foram  gravados  de  inalienabilidade  (podendo  ser,  segundo  a  lei  material),  então  são 
impenhoráveis prôpriamente ditos, e não se lhes aplica o ad. 948. Se os frutos e rendimentos podem ser gravados é 
questão de direito material; se podiam, cabem êles no art. 942, 1, do Código de Processo Civil. 
A  Lei  n.  1.889,  de  81  de  dezembro  de  1907,  art.  39,  criou  no  direito  brasileiro  a  exceção  ao  princípio  da 
inviolabilidade dos quinhões necessários, que o Código Civil, no ad. 1.728, acolhe. Desde aquela época o direito 
brasileiro  se  afastou  da  tradição  luso­brasileira,  contida  nas  Ordenações  Filipinas,  Livro  IV,  Titulo  79,  §  8.0.  O 
Decreto n. 8.725, de 15 de janeiro de 1919, deu a forma atual à regra  jurídica, que, ao aparecer o Código Civil, 
dizia: “A legítima dos herdeiros, fixada pelo art. 1.721, não impede que o testador determine que sejam convertidos 
em  outras  espécies  os  bens  que  a  constituiam,  lhes  prescreva  a  incomunicabilidade,  atribua  a  mulher  herdeira  a 
livre  administração,  estabeleça  as condições  de inalienabilidade  temporária  ou  vitalícia,  a  qual  não prejudicará  a 
livre disposição testamentária, e, na falta desta, a transferência dos bens aos herdeiros legítimos, desembaraçados 
de qualquer ônus”. 
O testador pode inserir no testamento a cláusula de impenhorabilidade dos frutos e rendimentos, o que é plus em 
relação à cláusula de impenhorabilidade ou de inalienabilidade dos bens deixados. Assim, quando a lei processual 
estabelece que podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, salvo 
se destinados a alimento de incapazes ou de mulheres viúvas ou solteiras (Código de Processo Civil, art. 948, 1), 
tem­se de entender que se supôs não haver cláusula de impenhorabilidade que atinja os frutos e rendimentos. 
A impenhorabilidade dos bens de que fala o Código de Processo CIvil, art. 948, é apenas se e enquanto há outros 
bens  que  bastem.  Mais  ordem,  graduação,  de  penhora  do  que  impenhorabilidade.  Conserva­se,  na  técnica 
legislativa,  como  impenhorabilidade,  por  ser  difícil  mencionarem­se  os  bens  entre  a  última  classe  de  bens 
subordinados à graduação (artigo 930, V) e êsses. A impenhorabilidades relativa do Código de Processo Civil, 
art.  943,  1,  supõe  que  os  frutos  e  rendimentos  sejam  penhoráveis  (certa,  a  2·a  Câmara  Civil  do  Tribunal  de 
Apelação de São Paulo, a 4 de maio e a 14 de setembro de 1948, 1?. dos 7’., 148, 207 e 227; errada, a ta Turma do 
Supremo  Tribunal  Federal,  a  24  e  a  27  de  maio  de  1948,  E. dos  7’., 161,  286;  E.  F.,  97,  100,  mas  certa,  a  2~a 
Turma, a 28 de junho de 1945, OD., 84, 213, a 1.0 de julho de 1948; Supremo Tribunal Federal, 8 de novembro de 
1950, A.J., 97, 23; 23 Turma, 27 de janeiro de 1950, 94, 228; certas, a 13 Câmara Civil do Tribunal de Apelação de 
São Paulo, a 18 de março e a 8 de maio de 1944, E. dos 7’., 152, 605, e 192, e a 2~a Câmara Civil, a 5 de setembro 
de 1944, 158, 623, mas errado, o 19 Grupo de Câmaras Civis, a 28 de novembro de 1944, 158, 191). 
O testador pode gravar de inalienabilidade, de incomunicabilidade e de outras restrições de poder o que deixa em 
herança  ou  em  legado. A  lei  permite  que  a  cláusula  de  inalienabilidade, de  incomunicabilidade, bem  como  a de 
livre  administração  pela  mulher  herdeira,  recaia sôbre bens  da  própria  herança  necessária,  e  que  se  estabeleça  a 
conversão.  Não  se  precisava  dizer  que  tais  permissões  podem  atingir  as  quotas  legítimas  não­necessárias  e,  a 
fortiori, as heranças testamentárias e os legados. 
Nenhuma distinção se há de fazer entre deixas testamentárias a filhos legítimos e ilegítimos, inclusive adulterinos 
ou  incestuosos.  Apenas  há  a  regra  jurídica  do  art.  1.719,  III,  do  Código  Civil,  atinente  à  concubina  do  testador 
casado. 
Ao herdeiro ou legatário usufrutuário é exigível a caução de que fala o art. 729 do Código Civil. O testador pode 
dispensar tal dever. 
O  bem  inalienável  é  impenhorável  e  não  pode  ser  objeto  de  gravame  de  direito  real  (usufruto,  uso,  habitação,
penhor, hipoteca, anticrese, servidão), nem sofre o titular usucapião, qualquer que seja o tempo. 
A  cláusula  de  inalienabilidade  contém  a  de  impenhorabilidade,  bem  como  a  de  incomunicabilidade.  Bens 
inalienáveis são incomunicáveis (PASCOAL JOSÉ DE MELO FREIRE, Institutwnes luris Civilis Lusitani, ~j,  5a 
ed., 124: “universalis enim hodie haec communio est, et comprehendit ea omnia bona, quae alienari possunt”). Cf. 
1·a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1947 (R.F., 119, 503) 13 Câmara Cível 
do Tribunal de Apelação do Rio Grande do Sul, 22 de agôsto de 1944 (102, 103). 
No art. 262, XI, do Código Civil excluem­se da comunhão matrimonial de bens os que provêm de herança (dita, lá, 
necessária,  a  que  foi  imposta  a  cláusula  de  incomunicabilidade.  A  despeito  das  duas  referências    à  herança 
“necessária” e à cláusula de incomunicabilidade, o que se há de entender é que são incomunicáveis quaisquer bens 
doados ou herdados, seja com a cláusula de incomunicabilidade, seja com a de inalienabilidade, que é abrangente 
daquela. Não  é  inalienável,  sempre,  O que  é incomunicável,  mas  o  inalienável é  incomunicável.  Cf.  1·a  Câmara 
Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1947 (R.F., 119, 508). 
Quanto aos bens herdados pelos herdeiros necessários, se inalienáveis, não são os únicos bens incomunicáveis: se 
foi gravada a herança dos legítimos não necessários ou dos herdeiros testamentários ou legatários, dá­se o mesmo. 
O testador, como o doador, pode gravar de inalienabilidade, mas afastar a proibição de incomunicabilidade (e. g., 
“deixo a B o prédio da rua tal, com a cláusula de inalienabilidade, sem que com isso se dê incomunicabilidade ao 
bem”;  ~‘deixo  a  B  a  metade  da  parte  disponível,  com  a  cláusula  de  inalienabilidade,  sem  que  sejam 
incomunicáveis, pelo casamento, os bens”). 
Tem­se  de  assentar  que,  na  dúvida,  quanto  a  ter  o  testador  estabelecido  a  incomunicabilidade  como  inclusa  na 
inalienabilidade,  ou  não  tê­lo  feito,  o  que  se  há  de  acolher  é  a  inclusão  (no  tocante  à  discussão,  acertadamente, 
Câmaras Civis Reunidas do Tribunal de Apelação de São Paulo, 21 de agôsto de 1942, R. dos T., 145, 265; cp. 43 
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 29 de novembro de 1951, 198, 316, certa a 20 de julho de 1944, 
152, 651). 
Se  a  cláusula  de  inalienabilidade  continha  a  de  incomunicabilidade,  com  a  morte  do  beneficiado  extingue­se  a 
clausulação (2.a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 6 de junho de 1944, R. dos 7’., 154, 708). Se 
houve  comunicação,  tem­se  de  interpretar  a  disposição  testamentária  para  se  saber  se  o  testador  quis  a 
inalienabilidade além da vida da beneficiada, aí vida do cônjuge. Na dúvida, não o quis. 
A cláusula de inalienabilidade e a de impenhorabilidade podem ser a respeito de bem deixado em usufruto ou em 
nua­­propriedade, ou em fideicomisso, quer se refira ao fiduciário, quer ao fideicomissário. Cf. 83 Câmara Cível do 
Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 16 de dezembro de 1949 (Á.J., 95, 201). 
Qual  o  interêsse  é  questão  de  interpretação  da  verba  testamentária.  Se  não  se  têm  dados  suficientes  para  a 
revelação, seria absurdo voltar­se ao texto de Severo e Antonino, de que falou MARCIANO, na L. 114, § 14, D., 
de  legatis  et  fideicominissis,  30,  e  segundo  o  qual  da  irrevelabilidade  resulta  a  inexistência  da  cláusula  (“nisi 
invenitur persona, cuius respectu hoc a testatore dispositum est, nuílius esse momenti scripturam”). 
O interêsse pode ser objetivo, como se testador quis que se aguardasse momento para o tombamento do prédio, ou 
funcionamento da fábrica naquele lugar. 
Quanto  aos  tributos,  sómente  poderia  haver  penhora  por  tributos  concernentes  ao  bem  inalienável  (e,  pois,  em 
princípio, impenhorável) ou ao bem impenhorável. 
­Se o testador inseriu a cláusula de inalienabilidade, ou outra, aludindo à vida do usufrutuário, ou do fiduciário, ou 
dando outro prazo, discute­se se o nu­proprietário ou o fideicomissário está sujeito à permanência da cláusula se o 
herdeiro ou legatário usufrutuário ou o herdeiro ou legatário fiduciário renuncia a herança. A 13 Câmara Civil do 
Tribunal de Justiça de São Paulo, a 12 de abril de 1953  (1?. dos 7’., 218, 189), respondeu, em geral, que não se 
podia requerer o cancelamento. Tem­se, porém, de verificar se a clausulação foi por interêsse objetivo do testador 
(e. g., conservar a casa em que viveu a família como propriedade de herdeiro ou legatário, parente ou amigo), ou se 
o interêsse era só subjetivo (e. o., proteger o usufrutuário, ou fiduciário). 
Em caso de morte do usufrutuário, ou do fiduciário, depois da sucessão, cessa a cláusula de inalienabilidade (cf. 43 
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 22 de janeiro de 1948, R. dos 7’., 172, 204). 
A  cláusula de inalienabilidade  pode  ser  quanto  ao direito fiduciário,  como quanto  ao  direito  fideicomissário,  ou 
quanto  aos dois. Quem doa ou deixa  em  testamento  a  B  a  propriedade,  com  ressalva  de usufruto,  pode  gravar  a 
propriedade. Os argumentes de acórdãos, como o da 43 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 14 de 
março de 1946 e a 11 de dezembro de 1947 (R. dos 7’., 161, 264, e 172, 196) e de alguns juristas, são frágeis. O 
testador deixou a B, herdeiro ou legatário, com a cláusula de inalienabilidade ou outra cláusula. Com isso, não fêz 
sucessiva   a  cláusula,  porque,  se  o  caso  é  de  usufruto  e  de  nua­propriedade,  há  dois  beneficiados  em  direitos 
diferentes, e seria de repelir­se que a nua­propriedade não pudesse ter a clausulação de inalienabilidade ou outra 
clausulação.  Se  o  caso  é  de  fideicomisso,  cada  beneficiado  recebe  o  que  lhe  foi  deixado  e  a  cláusula  de 
inalienabilidade pode recair na propriedade fiduciária ou na fideicomissária, ou nas duas, separadamente. Não se 
diga que são vedados fideicomissos de segundo grau, porque o assunto nada tem com isso. Nem se invoque o art. 
1.728,  in  une,  onde  se  diz  que  “a  cláusula  de  inalienabilidade  não  obstará  a  livre  disposição  dos  bens  por 
testamento
e,  em  falta  dêste,  a  sua  transmissão,  desembaraçados  de  qualquer  ônus  os  herdeiros  legítimos”.  A  cláusula  de 
inalienabilidade ou outra nada tem com o afastamento do obstáculo à sucessão, porque o nu­proprietário, como o 
fideicomíssário, sucedeu ao testador, e não ao usufrutuário ou ao fiduciário. Quando o nu­proprietário fizer o seu 
testamento, de modo nenhum se há de preocupar com a cláusula de incomunicabilidade, ou outra cláusula. Quando 
o fideicomissário fizer o seu testamento, pode prever  a  inalienabilidade, se assim o entende, ou abstrair disse de 
modo que o seu sucessor ou seus sucessores herdam bens não clausulados. 

15.NATUREZA DAS RESTRIÇõES DE PODER.  Diante das cláusulas restritivas, como a de inalienabilidade, de 
incomunicabilidade, e tantas outras, os juristas  no seu pendor de querer explicar o desconhecido pelo conhecido, 
em vez de procurar, como é próprio dos sábios, descobrir o desconhecido e explicá­lo, sabendo depois se deve ou 
não  entrar  numa  das  categorias  antigas  e  vulgares,    quiseram,  uns  reduzi­las  a  condições,  outros  a  encargo  ou 
modus,  e  outros,  finalmente,  em  desespêro,  a  incapacidades.  Teremos  de  mitidear  os  males  de  tal  vício,  que  já 
apontamos e  censuramos,  noutros  e  neste  assunto;  e  ver­se­á  que o  acerto  estava  com  F.  REGELSBERGER  nas 
três linhas em que deu nome ao fenômeno, nôvo que era e merecia denominação autônoma: “restrições de poder”. 
Nas condições, o disponente diz  dou mas perderá se isso ocorrer (é a resolutiva), ou dou desde que isso ocorra (é a 
condição suspensiva). Naquela, a propriedade é já do beneficiado; nessa, não: condicio sus pendit. No encargo (e 
longamente dêle tratamos, para que tenhamos de insistir nos seus traços diferenciais), nem se suspende a aquisição, 
nem se postula a resolutividade: o beneficiado tem de cumprir aquilo de que se lhe dá o encargo. Certo, há modas 
associado a condição suspensiva, ou a resolutiva; mas o relógio de ouro em caixa de madrepérola não é relógio de 
madrepérola. 

16.DIvERGÊNCIAS NA CLASSIFICAÇÃO.  As cláusulas de inalienabilidade e as outras, entendem alguns que 
são  condições  impostas;  outros  optam  pela  figura  do  modas,  e    na  tortura  que  lhes  traz  o  problema    entendem 
outros que há obrigação 
de  não  fazer  na  inalienabilidade,  e  de  fazer,  noutras,  como  a  conversão.  Alguns  preferem  teoria  da 
indisponibilidade  real,  outros,  desenganados,  recorrem  à  incapacidade  dos  sujeitos,  como  se  a  imposição  das 
cláusulas os rebaixasse à categoria jurídica dos menores e interditos. 
Examinemos as soluções propostas, que assoberbam milhares de páginas de discussão sutil e improfícua. 
Na resolutiva (porque a condição suspensiva nada teria que ver com as cláusulas de inalienabilidade e as outras), se 
houver infração, o proprietário perde o bem, porque se lhe resolve a propriedade. Ora, não é isso o que ocorre com 
as  cláusulas.  Entende­se  que  o  testador  conceba  a  proibição  de  alienar  como  resolutiva,  mas  isso  não  é  o  que 
ordinàriamente acontece, nem seria aquilo a que se chama cláusula de inalienabilidade. Mais: 
ou seria condição aposta a contrato, ou doação, mas de direito das obrigações, resolutiva do contrato, ou de direito 
das coisas, e teríamos a figura da propriedade resolúvel. Ali, alienar seria infração obrigacional; aqui, resolutiva da 
propriedade.  Ora,  nada  disso  é  a  cláusula  de  inalienabilidade:  ela  toma  inalienáveis  os  bens  e,  pois,  atacável, 
perante a justiça, a alienação ilegal. Mais: nas condições, a infração não é ilegal: ou a condição se dá, ou não se dá. 
Qualquer noção de ilegabilidade lhe seria estranha. Ninguém, que tenha o seu direito resolúvel pela condição, pode 
ser obrigado a não deixar que se resolva. Condição é fato exterior, livre de dar­se ou de não se dar; não constrange, 
não obriga. E as cláusulas fazem mais do que abrigar,  operam, às vêzes, e quase sempre, nos bens. 
Se dôo a A um terreno sob a condicão resolutiva de não se casar, e A infringe, perde a propriedade: é resolutiva 
potestativa,  podia casar, ou não casar, não era obrigado a isso, nem a aquilo, porém, uma vez que casou, perdeu. 
Se  gravo  de  inalienabilidade  o  terreno,  não.  O  casar  não  foi  ilegalidade,  ao  passo  que  a  venda  do  terreno 
inalienável o é. 

17.“MODUS” E CLÁUSULAS DE RESTRIÇÃO DE PODER.  No modus, o beneficiado é obrigado a cumprir. Se 
infringe, responde pela infração. Ora, não é isso o que ocorre com as cláusulas: 
o bem foi alienado ilegalmente, pode ser reivindicado, o que a construção do encargo não explicaria. Por onde se 
vêem o tempo, o esfôrço, o entusiasmo, que perderam os juristas, em querer que o novum das cláusulas restritivas, 
inclusive a de conversão, entrasse nos moldes já conhecidos e corriqueiros da condição ou do encargo. Alguns (os 
mais dêles) só estabelecem o dilema: se é condição, ou nudus. Ora, em verdade, não é uma coisa, nem outra; e isso 
não quer dizer que não possa combitur­se com a condição ou com o nudus. Certo, uma coisa que se pode combinar, 
misturar, com duas outras, de per si, necessAriamente não é nenhuma das duas: é outra coisa. 

18.  Diante  da  controvérsia,  C.  DEMOLOMBE  (Cours de Code  Napoléon,  17,  n.  291)  viu  condição,  mas  com  a 
consequência de tornar inalienável o bem, ou de tornar incapaz de alienar a pessoa do donatário ou legatário. Note­ 
se bem: condição, com a conseqúência de deixar de ser condição, para se tornar o que a condição não é, quer no 
primeiro  caso,  porque  atinge  o  próprio  bem,  quer  no  segundo,  porque  implica  ferida  na  própria  personalidade, 
criadora da incapacidade do beneficiado. O artifício é evidente. Perde­se de vista todo o conceito de condição. No 
entanto, ~por quê? No primeiro caso, porque a ilegalidade da infração aparece (fenômeno estranho a condição); no
segundo, porque êsse fenômeno, sob outra forma, reaparece, e a condição não bastaria para explicá­lo. Vale dizer: 
pretende­se ter explicado pela condição, que em nenhum dos casos explica. 
Ao seu tempo, MARCEL PLANIOL quis que a incapacidade fôsse a explicação. É, como já dissemos, recurso do 
desespêro: procura­se nada menos que um conceito excepcionalissimo, próprio da ordem pública, para se explicar a 
natureza das conseqúências de uma imposição dos particulares, como são as cláusulas. Para êle, não seria preciso 
distinguir inalienabilidade de caráter real e inalienabilidade de caráter pessoal:  a incapacidade existe em ambos os 
casos, porque  ainda  fia  inalenabilidade, que recai  in  rem,  é  a pessoa do proprietário que  é  ferida, e não o bem, 
porque não se proibe ao bem ser alienado, proibe­se a alguém alienar o bem. “ C’est une perso’nne qui est atteinte 
par la prohibition, et non une chose, ce qui n’aurait pas de sens”. 
Mas  a  teoria  fôra  de  uma  novidade  ainda  maior  do  que  o  fenômeno  da  inalienabilidade  por  disposição  dos 
particulares: a incapacidade em virtude de convenção, ou de ato unilateral (por exemplo, testamentos), o que nunca 
se viu no direito contemporâneo. Contratar ou aceitar  ser incapaz. 
Poder­se­ia invocar a que deriva do casamento da mulher. Mas, se bem que o Código Civil fale em incapacidade, 
isto constituiu deszêlo da terminologia. No mesmo caso, porque se lhe restringe o poder de dispor, o marido seria 
incapaz. Já o censuramos e não haveríamos de argumentar com isso. Aliás, basta pensar  no direito da mulher de 
reaver os bens doados pelo marido à concubina. 

19.INALIENABILIDADE E OBRIGAÇÃO .    Se  não  é  condição,  se  não  é  incapacidade  convencional,    querem 


outros  que  seja  a  obrigado  de  alienar,  espécie  de  obrigação  de  não  fazer.  Diga­se:  encargo,  modus.  Isso  daria 
explicação a certas obrigações de não alienar, porém não às cláusulas de inalienabilidade. 
Quem impõe cláusula, “restrição de poder”, faz mais do que proibir alienação. ~ Será efeito de direito real, o que 
faz~ êste efeito dependente de lei? Seja como fôr, na cláusula de inalienabilidade imposta pelo testador, quando a 
lei permite, há mais do que o caráter de obrigação de não alienar. Tanto assim que, se não vale como cláusula, o 
juiz  deve  entender  que  pode  valer  como  convenção.  Exemplo:  no  pais  A,  a  lei  não  permite  que  se  gravem  de 
inalienabilidade os imóveis, mas o individuo doou ou legou com a cláusula de inalienabilidade e, no Brasil, onde se 
vai cumprir o testamento, respeita­se a doação, ou o legado. O juiz, atendendo a que a obrigação não infringe a lei 
pessoal,  salva  o  que  é  possível  da  voluntas  testa~~  tons:   a  obrigação  de  não  alienar,  que  a  lei  pessoal  permite. 
Outro exemplo é o do Brasileiro que morre e tem bens naquele país,  a gravação é impossível, isto é, o efeito real 
da inalienabilidade, mas o efeito convencional deve manter­se, porque não infringe a lez rei sitae. 
Tudo isso parece encaminhar a teoria da indisponibilidade real, segundo a qual proibição de alienar  (direito das 
obrigações) e inalienabilidade real são coisas distintas. É indiscutível que tal indisponibilidade real aparece, a cada 
passo, no direito; nem ela é o mesmo que restrição de poder, nem ela é fenômeno causa,  e seria absurdo explicar 
os fenômenos novos, Aristóteles, os irregulares, o desconhecido, pelos efeitos. 
A teoria da indisponibilidade real é perfeitamente certa, mas nada explica: certa, porque é uma indução dos casos 
em  que êste  efeito se verifica,  porém  não  é  indução dos  casos  em que  se deve  dar o  efeito.  Não  é explicacão, é 
meramente 
observação. Por outro lado, excede o campo de aplicação das cláusulas, porque aqueles efeito (indisponibilidade 
real) se verifica noutros campos: direito da mulher de reaver os bens doados pelo marido à concubina, direito dos 
credores no caso de fraude. 

20.CORTE NO “TUS ABUTENDI”.  A inalienabilidade éum corte no ins abutendi;  não é condição, nem modus, 
nem obrigação de não fazer, nem incapacidade: é uma restrição de poder, seu nome técnico, e não condição (falta­ 
lhe suspensividade, falta­lhe resolutividade), tão­pouco modus (a cláusula atua contra  a vontade do beneficiado; no 
modus,  o  beneficiado,  é  obrigado,  mas  a  verba  não  atua  contra  a  sua  vontade:  êle  pode  deixar  de  cumprir,  e 
responde por perdas e danos), menos ainda incapacidade. 

21.ANÁLISE  DAS  SOLUÇ~ES.    Onde  a  verdade?  Nem  C.DEMOLOMBE  e  MARCEL  PLANIOL,  com  a 
incapacidade, nem os que insistem no absurdo de uma condição (que se contradiz a si mesma), nem o encargo ou 
modus, nem a obrigação de não fazer (ou de fazer), nem a indisponibilidade real explicam o que se passa. 
Trata­se de fenômeno autônomo, à altura da condição como do modus, que precisa  depois do nome que lhe deu 
F.REGELSBERGER   ser  estudado,  sem  as  exóticas  referências  ao  modus  e  à  condição. Se  fôsse condição,  seria 
condição que não suspende, nem resolve: condição que não é condição. O modus obriga, mas o não cumprimento 
só autoriza o pedido de perdas e danos. Tal não é o efeito das cláusulas. Se fôsse modus, seria um modus, que é 
mais do que o modus, que não seria modus. O juiz pode mandar gravar, contra a vontade do beneficiado; se êsse 
não aceitou o bem legado, não é obrigado
·ao  modas, e    no  caso dos quinhões  necessários    a  cláusula  de inalienabilidade atua,  ainda  contra  tais  herdeiros 
necessários, e nenhum modus se pode apor às quotas necessárias. Digamos: há condições, modus e restrições de 
poder. 
P.  BREYIVNNEAU  (ttude  sur  Les  Clauses  d’indienabilité,  164  s.)  recorreu  à  indisponibilidade  real.  Mas  isso,
sabemos  que  existe;  o  que  precisamos  saber  é  o  que  caracteriza   a  cláusula,  e  não  o  que  dela  resulta,  como de 
outros fenômenos diversissimos. 

22.QUE É QUE SE ENTENDE POR TEMPORÁRIO.  A lei fala em “temporária” ou “vitalícias’. Vitalicia, está 
claro:  vida do beneficiado; possivelmente,  do doador ou  testador,  mas,  neste  caso, da outra espécie,  temporária. 
Temporária, ~qual a que se há de entender? .~Menos do que a vida? ~Menos ou mais do que a vida? A lei nada 
diz. 
Cumpre recorrer aos princípios gerais de direito. Analogia com o art. 630, absolutamente não cabe: é regra jurídica 
assaz restritiva para que possa servir de base analógica; ao art. 4)> da Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto­ 
lei número 4.657, de 4 de setembro de 1942) não pode interessar. 
Na falta de definição da temporariedade, temos de entender: a) que temporário, para a lei, é o que não equivalha a 
mais do que a vida, se excede, acaba com a vida; b) que pode ser a temporariedade expressa em condição ou têrmo, 
e. g.,  até  a  maioridade,  até o  casamento, enquanto solteiro,  acabando quando  se doutorar.  Tais  os princípios que 
regem a inalienabilidade aposta às porções necessárias. 

23.TEMPORARIEDADE  E  TRANSMISSÂO.    A  regra  jurídica  do  art.  1.723  somente  concerne  às  porções 
necessárias. Quanto a parte testável, a temporariedade do inalienável é essencial para a validade, por isso mesmo 
que a absoluta seria nula. Mas a restrição da  2·a parte do art. 1.723  “não obstará a livre disposição dos bens por 
testamento  e,  em  falta  dêste,  a  sua  transmissão,  desembaraçados  de  qualquer  ônus,  aos  herdeiros  legítimos”    só 
deriva  do  direito  aos  bens  por  parte  dos  herdeiros  necessários.  Não  pode  estender­se  àqueles  sôbre  os  quais  o 
doador ou testador poderia dispor. Assim, tratando­se de bens testáveis, a cláusula de inalienabilidade pode exceder 
a vida, pode ir até a  vida e continuar no sucessor, quer dizer o fideicomissário pode receber inalienabilízados os 
bens do fideicomisso. Serão duas vidas, no máximo, salvo a hipótese do usufruto conjunto ou sucessivo, em que a 
sucessão das vidas se contará como uma vida. 

24.CONTETJDO DA CLAUSULA DE INALIENABILIDADE.  O principio do direito brasileiro é o da liberdade 
de clausulação. Quanto a inalienabilidade,  sendo temporária ou vitalícia,  não obsta a circulação da propriedade. 
Mas, aqui, o que procuramos saber é se ela importa a impenhorabilidade, a indivisibilidade e a incomunicabilidade 
conjugal dos bens: 
a)Se  o  inalienável  é  impenhorável.  O  que  é  inalienável  é  impenhorável;  mas  a  impenhorabilidade  da  origem 
voluntária  não  obsta  a  pagamento  de  impostos  e,  pois,  a  execução  por  dívidas  fiscais,  O  art.  1.676  alude  aos 
impostos relativos aos imóveis inalienáveis. Se os bens inalienáveis pudessem ser penhorados, fácil seria  iludir a 
restrição de poder. 
b)Se o inalienável é indivisível. Se o bem inalienável no todo pertence a duas ou mais pessoas, qualquer delas pode 
pedir a divisão, se o contrário não foi disposto. Se o testador estatuiu a indivisão por menos de cinco anos, vale. Se 
o doador, ou testador, obrigou a indivisão sem prazo, esta só vigora por cinco anos. ~ Quid iuris, se o testador o 
impôs por mais tempo? É a questão de saber se o art. 630 constitui regra  jurídica imperativa  ou dis positiva. No 
Esbóço de TEIxEIRA DE FREITAS, artigo 4.365, a nulidade era expressa no texto, para o só “efeito de reduzir a 
indivisão  ao  tempo  de  cinco  anos”;  no  Código  Civil  argentino,  o  art.  2.694  (combinado  com  o  art.  2.693),  é 
imperativo,  a  despeito  da  redação  “el  testador  ou  donante  puede  poner  Ia  condición”,  pois  o  princípio,  que  se 
pressupõe e inserto no art. 2.693, é o da não­facultatividade. No Projeto primitivo, art. ~ já vinha o “entende­se”, 
que nada significa em escritores desatentos a terminologia jurídica. Não obstante a forma interpretativa “entende­ 
se”, o art. 630 é imperativo. 
Donde  se  tira  que  a  inalienabilidade  não  tem  como  conseqúência  necessária  a  indivisibilidade;  e  ainda  que  o 
testador o tenha querido, essa só valerá pelo máximo de cinco anos. Se o testador deixou o bem a duas ou mais 
pessoas e indivisível, podem elas, antes, se o permitiu o beneficiante, ou findos os cinco anos a partir da morte (ou 
da entrega do legado), pedir  a divisão. 
c) Se o inalienável é conjugalmente incomunicável. A questão tem sido assaz debatida. 
ÁLvARO VALASCO dizia que comunhão é alienação. A 5º Câmara Cível da Côrte de Apelação, em acórdão de 6 
de  setembro de 1926,  assim  o  entendeu  no  caso  típico que é  o do  art. 263,  XI, do  Código  Civil:  achava  que os 
inalienáveis  eram  incomunicáveis  (caso  Moreira  Lima  versus  Curador  de  Resíduos).  A  2·a  Câmara  Cível,  por 
acórdão de 27 de abril de 1926, julgou comunicáveis os bens inalienáveis (inventário Sebastião de Lacerda) : o art. 
1.727 do Código Civil faculta ao testador, além do poder de modificar a espécie de bens constitutivos da legítima 
dos herdeiros e dispor sôbre a sua administração, gravar as quotas necessárias e prescrever a incomunicabilidade, 
mas da inalienabilidade não resulta incomunicabilidade. Antes, no mesmo sentido, o Tribunal de Justiça de São 
Paulo, a 11 de fevereiro de 1927, e o do Rio Grande do Sul, a 2 de setembro de 1921. Mas é preciso notar que a 2,a 
Câmara  Cível  entrou  em  indagações  de  circunstâncias,  que  pudessem,  ou  não,  autorizar  a  ilação:  “o  testador, 
acatado jurista”, “conhecedor da controvérsia mantida” sôbre o art. 1.723 e a incomunicabilidade conjugal dos bens
inalienáveis,  “não  deixaria  a  sua  disposição  testamentária  sujeita  a  interpretação  oposta  à  que  tinha  em  vista, 
quando expressamente a lançou”. 

25.LEGITIMAS  E  CLÁUSULAS  DE  RESTRIÇÀo  DE PODER. ­Entre outras  questões,  a comparação dos  arts. 


1.676 e 1.723 suscita a seguinte: o último artigo permite que o testador grave com a inalienabilidade temporária ou 
vitalícia as legí­~ timas, sem que isso obste à livre disposição em testamento e,. em falta dêste, a sua transmissão, 
desembaraçados de qualqueronus, aos herdeiros legítimos. O art. 1.676 proibe a invalidação, ou dispensa, por atos 
judiciais, da cláusula de inalienabilidade imposta aos bens pelos testadores ou doadores. No capítul& sôbre doação, 
declara­se  que  importa  adiantamento  de  legi­tima  feita  pelos  pais  aos  filhos  (art.  1.171).  As  duas  espécies,. 
referidas no art. 1.728, são causa mortis: a) disponibilidade testamentária dos bens gravados com a cláusula; b) não 
ha­vendo  testamento  do  herdeiro  gravado,  transmissão,  sem  ônus,.  aos  herdeiros  legítimos.  Quer­se  saber  se  o 
herdeiro,  proprietário  dêsses  bens  inalienáveis,  pode  (por  extensão  interpretativa  do  art.  1.728)  adiantar  a 
Legitima, doando os bens inalienaveis ao futuro herdeiro. 
Para  bem  encararmos  o  problema,  centralizemo­lo  pela  eliminação  das  questões  diversas  que  o  cercam  e  pelo 
precisar dos têrmos empregados. 
Primeiro, o art. 1.723 regula a inalienabilidade imposta pelo testador às legítimas;  isto é, às quotas dos herdeiros 
necessários (art. 1.721, a que o art. 1.723 diretamente se refere). Quanto às dos outros herdeiros legítimos, nada se 
dispôs,  porque,  quanto  a  essas,  poderá  o  testamento  impor  quaisquer  cláusulas  ou  encargos  e,  até,  fazê­las 
inalienáveis nas mãos de quem receber os bens por morte do herdeiro. Mais ainda: 
regular a passagem a outros. Nenhuma aplicação tem a elas o que se estatui no ad. 1.723. 
Segundo, se nos perguntassem  ~ pode o herdeiro de bens inalienáveis doá­los~ em adiantamento de legítima, aos 
filhos,  eliminando­se  a  cláusula  de  inalienabilidade  vitalícia?    certo  responderíamos:  absolutamente  não.  Seria 
contrariar a vontade do testador, que os quis presos até a morte do herdeiro necessário, e infringir o art. 1.676 que 
veda, de maneira expressa, se  invalide, ou se dispense, por atos judiciais de qualquer espécie (a fortiori, atos de 
particulares), a inalienabilidade que aos bens impuseram testadores e doadores. 
Terceiro, pode ocorrer que o testamento esteja redigido com tal clareza, que a cláusula permita, excepcionalmente, 
o adiantamento de legítima. Mas então seria o problema da interpretação da vontade do disponente, e não o que ora 
nos  interessa:  o  do  adiantamento,  havendo  a  cláusula  de  inalienabilidade,  que  prende,  em  mãos  do~  herdeiro 
necessário, os bens. 
Quarto, o art. 1.676 atinge bens inalienáveis, assim doados como testados, O art. 1.728 somente atinge aqueles que 
constituem quota necessário, isto é, a dos herdeiros legítimos em linha reta. 
Fica  restringida,  precisada,  a  questão:  ,pode  o  herdeiro  necessário  (art.  1.721),  sem  ofensa  do  ad.  1.676  e  da 
vontade do testador, dar, em adiantamento de legítima (art. 1.171), os bens que recebeu gravados com a cláusula de 
inalienabilidade? Está claro que não se trata de torná­los, com a passagem, alienáveis,  absurdo, que não merece 
discussão. E sim de doá­los, mantida a cláusula. 
Em  verdade  há  um  salto: quem doa dispõe,  e quem é  dono de bens  inalienáveis  tem  o domínio  dêles  sem  dêles 
poder dispor. 
O  testador  impõe  a  cláusula  de  inalienabilidade:  o  herdeiro  recebe  o  bem  gravado.  Quando  tiver  de  fazer 
testamento, deixá­los­á a quem quiser (não se pode regular a passagem das porções dos herdeiros necessários e é a 
êles, só a êles, que se refere o art. 1.723). Se morrer intestado, passará aos herdeiros legítimos. Mas doar  (adiantar 
quota necessária não é mais nem menos do que doar), isto êle não poderia, porque lhe falta, justamente, a faculdade 
de dispor. Os bens estão seguros por um fio, atado pelo testador, e que só se desfaz, ainda no caso especialissimo 
das  quotas  necessárias,  com  a  morte  do  herdeiro  gravado.  Só  se  cogita  da  possibilidade  da  transmissão  causa 
mortis:   o  art.  1.728  só  tem  o  efeito  de  esclarecer  que  a  indisponibilidade  não  vai  além  da  vida  do  herdeiro 
necessário (note­se bem: necessário), que os bens das quotas inalienabilizadas ficam alienáveis no dia da morte do 
herdeiro de tais bens. Portanto: a doação mortis causa, a doação para a futura passagem, em adiantamento de quota 
necessária,  é  possível;  não  o  é  a  doação  entre  vivos,  ou  com  passagem  dos  bens.  A  doação  mortis  causa   aos 
estranhos pode constituir objeto de ação de nulidade por fraude à lei. 

§ 5.817. Outras cláusulas de restrição 

1.CLÁUSULAS  DE  SUB­ROGAÇÂO  E  CLAUSULAS  DE  REEMPRÊGO.    Também  existem  a  cláusula  de 
simples  sub­rogação  e  a  de  reemprêgo.  Devem  interpretar­se  como  de  inalienabilidade  e  sub­rogabilidade 
permitida, ou só de obrigação pessoal de reemprêgo. Porém, nas disposições de última vontade, são quase sempre 
de  caráter  gravatório:  o bem  entra  na classe  dos  inalienáveis,  apenas  mais  facilitada  a  sub­rogação, que  ainda  aí 
depende da autorização do juiz. A atitude dêle será apenas diferente: nos casos do art. 1.676, o juiz  a despeito da 
inalienabilidade  aprecia as circunstâncias para autorizar a sub­rogação, por haver estado de necessidade;  nos de 
cláusula de reemprêgo, o seu papel é vigiar o ato que se pretende praticar, evitando abusos de direito e reempregos
fraudulentos ou dolosos, ou objetivamente incompensatórios.~ Quid iuris, se o testador proibe a inalienabilidade e 
a insubrogabilidade? Em verdade aquela contém esta. Mas, expressa a de não sub­rogar, parece que o testador quis 
excluir  a  sub­rogação,  que,  ainda  nos  casos de  inalienabilidade,  cabe,  em  estado  de  necessidade,  aparentemente 
contra a letra da lei (art. 1.676). Se a lei cede onde o estado de necessidade surge, e há sub­rogações, apesar do art. 
1.676,  a fortiori, a vontade privada. As cláusulas de não sub­rogar só têm o efeito de reforçar a vigilância do juiz, 
não  poderão  impedir,  em  estados  de  necessidade,  a  sub­rogação;  porque  seria  emprestar  ao  testador  querer 
inconsiderado e insano, o que lhe tornaria nula a própria cláusula. 

2.LEGITIMAÇÃO  à AÇÃO  DE  NULIDADE.    ,~,Quem  é  legitimado  para  propor  a  ação  de  nulidade  por 
inobservância  da  restrição  de  poder?   Se  fôsse  verdadeira  a  teoria  da  obrigação  de  não  fazer,  seria  o  credor   da 
obrigação. Mas ~ se, o que se supõe, o testador está morto e o gravame só aproveita ao próprio obrigado? Dar­se­ia 
a confusão de sujeitos, devedor e terceiro favorecido. Aqui, a teoria da indisponibilidade real chegaria a melhores 
resultados. Porém incompletos. 
Podem propor ação: a) O testamenteiro, executor do testamento. b) O Ministério Público. c) O Curador de órfãos e 
Interditos, se há interessados incapazes. d) Os herdeiros do testador. Tanto o gravado não é devedor  (no sentido do 
direito das obrigações), que a sua fração não se desconta da nulidade. O efeito de decretação da nulidade é integral, 
porque a restrição de poder tem consequências veais e há essencial indivisibilidade da cláusula e da sanção (não da 
obrigação, como quer a teoria obrigacionista, cp. P. BRETONNEAU, Étude sur les Clauses d’inaliénabilité, 266 
s.). e) Se foi no interêsse do herdeiro ou legatário gravado que se estipulou o gravame, também êle pode intentar a 
ação. Aqui, mais uma vez as teorias se enliçam e a verdade sobe ­à tona: se a teoria obrigacionista fôsse verdadeira, 
estaria excluído o devedor, porque seria prevalecer­se do próprio ato infrator (M. SAIGNAT, De la Clause portant 
prohibition  d’aliéner,  n.  150);  a  da  indisponibilidade  real  lho  permitiria,  no  caso  particular  de  ter  sido  no  seu 
interêsse: é a destinação do bem, que está em causa. A verdade éque a restrição do poder veio do testador, continua 
a ser vofltade dêle, e atua no bem, cortando, de leve, o direito de propriedade: o ato infrator do beneficiado não 
reconstitui êste direito; e, quando êle vai a juízo, não é o seu ato que principalmente está em causa, é a situa çáo 
jurídica  do bem, em cuja propriedade o corte persiste, porque a adquirente não podia adquirir o que transferir não 
se podia. f) O terceiro interessado, como no simples modo (arts. 1.707 e 1.180, arts. 1.098, parágrafo único, 1.100 e 
parágrafo único). 
j,E  a  evicção  no  caso  da  letra  e?   O  alienante  é  garante  da  alienação,    pode  êle  e  vencer?  Se  bem  que  C. 
DEMOLOMBE (Cours de Code Napoléon, 1, n. 300) e outros tenham oposto que não pode  e vencer quem deve 
garantir, alguns respondem que é especiosa a objeção  a evicção supõe ato válido, e o de que se trata é nulo (P. 
BRETONNEAIJ,  Étude  sur  les  Cllauses  dino,liénabilité,  278  s.),  que  a  qualidade  de  garante  seria  posterior  à 
incapacidade de consentir (jurisprudência francesa de 1883), analogia com o art. 1.560 do Código Civil francês, ou 
art. 295 do Çódigo Civil brasileiro, em que o consentimento é inoperante. Mas a verdade está em que a restrição de 
poder. sancionada por ação de nulidade, nada tem com o ato do devedor. A boa fé, no caso dos bens dotais, como 
dos inalienáveis, é inoperante;  porque a boa fé se opõe ao alienante, e êste não é o postulador da cláusula, ainda 
quando no seu interêsse, nem  o seu interêsse, querido pelo testador, constitui o conteúdo subjetivo da cláusula: não 
só  êste  conteúdo  subjetivo  é  o  querer  do  testador,  pois  há  elemento  objetivo  na  cláusula.  Por  isso  mesmo,  é 
inoperante a má fé de quem aliena ilegalmente (efeito de restrição de poder). 

8.O QUE O TESTADOR PODE ACRESCENTAR À “RESTRIÇÃO DE PODER”.  Já se viu que a restrição de 
poder  não  se  confunde  com  a  condição,  o  modus,  a  cláusula  penal,  a  obrigação  de  não  alienar  (criadora  da 
indenizabilidade), nem a sua sanção com as sanções dessas disposições testamentárias. 
Mas  o  testador pode  apô­las  às  cláusulas  de  restrições  de  poder.  Serão duas  ou  mais  disposições,  serão  duas ou 
mais sanções. Assim: 
a)O  testador  pode  juntar  à  cláusula  de  inalienabilidade  a  condição  resolutiva,  isto  é,  dar­lhe  a  sanção  da 
resolutividade,e  esta  faculdade  êle  não  tem  quando  se  trata  das  quotas  dos  herdeiros  necessários;   porque  seria 
iludir a lei. Afetaria e direito dos herdeiros obrigatórios. 
b)Se  o  testador  conceber  a  proição  de  alienar  como  condição  suspensiva:  “lego  a  B  se  não  alienar  e  sob  esta 
condição  suspensiva”,  a  atitude do  juiz  deve  ser  a  de o reputar r nomznis,  porque  a  condição  suspensiva  de  não 
alienar não existe. Se disser “lego a B, mas passará a C, se êste não alienar”, há de entender­se que O dará caução. 
É um dos meios de salvar a verba. Ou se gravará com a cláusula de inailenabilidade, que melhor o assegura; mas 
isto,  se  a  verba  permitir  a  construção  da  “restrição  de  poder”.  Diante  de  votuntas  testatopEs,  deve  evitar­se 
emprestar­se ao decujo querer absurdo. 
c)O testador pode juntar à cláusula o modus, inclusive de não alienar, ou concebê­la de tal maneira que não seja 
restrição de poder, e sim simples modus. “Deixo a B o prédio a., mas  porque ali nasceu o poeta X e com certeza 
hão de adquiri­lo para museu  B não o deve vender senão para êste fim e será de x mil cruzeiros novos o preço, 
constituindo a metade de x a quantia com que concorro, porque o prédio vale mais de x mil cruzeiros novos”, É
tnodu.s. Se acrescentar: “para garantia disto, gravo­o de inalienabilidade”. Temos os dois, o modus e a restrição de 
~oder. Bastaria isso para se ver que a restrição não é modus, no que incorreram tantos, como P. BRETONNEAU 
(Êtude  sur  les  Clauses  d’inolié’flabilité,  12­16)  e.  entre  nós,  JosÉ  ULPIANO  (Das  Cláusulas  restritivas  da 
pro’priedade, 8 s.). 
d)O testador pode estabelecer cláusula penal. “Deixo a B o prédio X; se a alienação fôr aceita, pagará ao herdeiro x 
mil cruzeiros novos”. É a cláusula penal. Se continuar: “gravo­o de inalienabilidade”, temos a cláusula penal e a 
restritiva  da  propriedade  ou  restrição  de  poder.  A  alienação  será  nula;   porém,  como  B,  ainda  que  nulamente, 
vendeu  o  prédio,  cometendo  a  infração,  incide  na  pena  testamentária,  e  o  herdeiro  tem  a  ação  para  reclamar  a 
multa. 
Se o testador não gravou e apenas deu a obrigação de não alienar, com a pena, então o ato de venda subsiste; não 
houve a restrição real. Por onde se lhe vêem os inconvenientes: 
a  eficácia  da  cláusula  penal  é  dependente  da  solvência  do  alienante,  a  proibição  pode  não  ter  garantia  prática, 
porque,alienado, vale, e o devedor talvez não pague, por não poder, a dívida penal (P. BRETONNEAU, Êtude sur 
Les Clauses d’inoliánabilitá, 259; M. SAIGNAT, De la Clause portant prohibition. 
d’aliéner, ix. 132); é simples avaliação das perdas e danos para ocaso da alienação proibida. 
Na dúvida, se há somente cláusula penal e obrigação de não alienar, e se há gravame e cláusula penal, o art. 1.666 
deve ser aplicado: opta­se pelo gravame e a cláusula penal. (Entendiam MARCEL PLANIOL, Traité élémentaire 
de Droit civil, II, n. 257, 92, e TErCEIRA DE PREITAS, Consolidação das Leis Civis, nota 83 ao art. 391, que a 
inclusão  da  cláusula  penal  não  é  conciliável  com  a  execução  efetiva,  porque,  aqui,  a  natureza  da  cláusula  é 
compensatória:  de  modo que nulidade e  pena   seriam  sanções  incompossíveis.  No  direito  brasileiro  vigente,  isso 
não tem razão de ser, diante do art. 919.) 

4. O QUE SE NÃO PODE APOR AOS QUINHõES DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS.  Há garantia legal dos 
quinhões necessários; e o testador não as pode diminuir, nem fraudar. Tratando­se de sanções próprias da cláusula 
de inalienabilidade e das outras, estatui quem pode estatuir, e as conseqúências são as do que se estatuiu. Mas, se as 
sanções  são  as  de  outras  disposições,  juntadas  às  restrições  de  poder,  a  lei  seria  iludida  ,  se  o  testador  pudesse 
submeter a tais contingências as quotas necessárias. 
O  testador  pode  usar  da  faculdade  que  lhe  dá  o  art.  1.723,.  porém  não  pode:  a)  Acrescentar  ao  gravaúie  a 
resolutividade;   a  aposição  redundaria  em  deserdação  indireta:  o  efeito  específico  da  condição  resolutiva  seria 
extinguir­se o direito do herdeiro necessário, ferido, assim, fundamente, ab initio. Não se dá o mesmo quanto aos 
legados que coubessem na parte disponível, ainda que beneficiados os herdeiros necessários. lO Juntar modus ou 
encargo, e) Apor cláusula penal, porque, se consistir em x e a pena em ~ ou fração de x, quando o herdeiro alienar 
ficará sem a legítima, ou com ela diminuída. Argumenta­se: “rigorosamente, esta que lhe foi dada devidamente, êle 
a  perdeu,  na  hipótese,  por  culpa  sua,  e  não  por  ato  direto  do  testador:  .tibi  imputet”   (JosÉ  ULPIANO,  Das 
Cláusulas restritivas da propriedade, 177). É sofisma: a causa da perda não foi só o seu ato, foi o seu ato mais a 
aposição, pelo testador,da cláusula penal; tanto assim que, se ela não tivesse existido, o ato nada produziria. 

5. NATUREZA DA SANÇÃO.  Quando se estuda a sanção da cláusula restritiva da propriedade, da “restrição de 
poder”, é que ressalta a autonomia da figura. Não é condição, pois que a resolutividade só existirá se isso fôr objeto 
de condição expressa. Não é modus, porque, se o beneficiário alienar, nem por isso responde por perdas e danos. 
Quase sempre não e ele que deve gravar, é outrem, o testamenteiro, o herdeiro onerado ou mesmo o legatário. Não 
é  incapacidade,  porque  ela  deriva  de  lei,  e  a  sanção  é  a  anulação,  sem  restitutio  in  integrum.  A  sanção,  que  a 
cláusula de restrição de poder apresenta, é a de nulidade dos atos proibidos. Mas, se o disponente  quiser, poderá 
acrescentar outra ou outras sanções: a.) a pena convencional; b) a resolução; c) a indenização. A transíação penal 
não é mais do que a resolução: “deixo a E; se êle se casar, passará a C” é transíação, mas, têcnicamente, condição 
resolutiva. Tudo isso é um plus, que se acrescentou à cláusula de restrição de poder. (Em todo o caso, a penalidade, 
punição pelo ato que resolve, pode transparecer, in odium et poenam heredis, para o castigo. Ao tempo em que em 
Rema se proibiam, compreendia­se que se apurasse a distinção. Se a pena é mais do que a transíação, então sim.) 
A sanção da restrição de poder não é a cláusula penal. Tanto assim que se precisará acrescentar, explicitamente, a 
pena. A confusão entre a restrição de poder e a cláusula penal 
levaria a se admitir a cláusula penal imposta aos herdeiros necessários, o que é absurdo. 

6.  AÇÃO  DE  NULIDADE.    A  ação  de  nulidade,  própria  das  restrições  de  poder,  não  é  a  da  inexecução  da 
obrigação de não fazer. Exerce­se, não contra  o alienante, que seria o devedor, como se daria na obrigação de não 
fazer; mas contra o adquirente. O art. 883 do Código Civil nada tem com o assunto; salvo se, além da restrição de 
poder, há a obrigação de não fazer. 
(E.BARTIN, 7i’héorie des Conditians, impossibles, illicites, ou contraires aux moeurs, 190 e 191, com a teoria da 
obrigação,  lutou  contra  a  ação  de  nulidade,  que  era  e  é  a  da  jurisprudência  francesa.  Mas  os  seus  argumentos
pecaram pela base. Entendia que lhe falta explicação. Ora, se o proprietário não pode alienar  note­se: não pode  os 
atos são nulos, e aí está a prova de que a obrigação de não fazer não explica a restrição de poder. O que os técnicos 
tinham  a  fazer,  E.  BARTIN  não  fêz:  ver  os  fatos;  pois a  ação  de nulidade  existia,  e  ela,  em  vez  de  precisar  ser 
explicada, devia ser a prova, o dado. pelo qual se haviam de inferir as teorias, e a de E. BARTIN fracassou.) 
Não se prenda a ação de nulidade ao fato de tratar­se de gravação de bens imóveis, que atinja o domínio ou outro 
direito real. À cláusula de restrição de poder é permitido alcançar os bens  imóveis e os bens móveis, O testador 
pode  fazer  inalienáveis  bens  imóveis  e  bens  móveis,  como  os  pode  fazer  impenhoráveis  ou  incomunicáveis,  ou 
sujeitos a outras restrições de poder. Nada obsta a que faça inalienáveis, ou incomunicáveis, ou impenhoráveis, ou 
feridos por outras cláusulas, ações de emprêsas ou de clubes, títulos de crédito ou simples direitos de mutuante. 

7.AçÃo PAULIANA E RESTRIÇÃO DE PODER.  Quis­se construir a infração das cláusulas como fraude dos 
direitos creditórios do interessado (M. SAIGNAT, De la Clause portant prohibitio’n d’aliéner, ns. 144 e 145) ; e 
seria de boa fé, na ordinariedade dos casos, porque, ao examinar os títulos, havia de encontrar a menção da cláusula 
restritiva. Mas é artificial: 
a ação Pauliana não se destina a tais casos (P. BRETONNEAU, Êtude sur les Clauses d’inaiiénabilité, 290 s.), nem 
tem o efeito de ir buscar os bens. 

8. QUANDO COMEÇAM OS EFEITOS DAS CLAUSULAS RESTEITIvAS OU RESTRIÇÕES DE PODER. 
Se há restrição de poder, cláusula que apanhe realmente o bem, que o grave,  o bem é inalienável, incomunicável, 
impenhorável, e cabem, então, as ações reais. 
Aqui intervém questão gravíssima: ~ quando começam os efeitos da inalienabilidade?  Desde a morte do decujo. Se 
o bem existe na herança  e há testamento que o tenha gravado ou a herança, ou parte dela, há bem gravado, herança 
ou parte ideal gravada. Assim, se o bem existe e a cláusula se refere ao bem, a alienação é nula, ainda se anterior ao 
registo: êsse só é necessário quando se procede à partilha ou adjudicação, máxime se, interpretando a cláusula, o 
juiz  sub­rogou  antes  dessa,  ou  daquela,  o  bem  atingido.  Se  o  inventariante  alienou  mais  bens  do  que  podia, 
invadindo a parte inalienável, a açao de nulidade é possivel:  a inalienabilidade não é incompatível com a indivisão 
do patrimônio. 

9.EFEITOS DA AÇÃO DE NULIDADE.  A ação faz prevalecer a situação anterior do ato alienatório infrator, 
trate­se  de  propriedade,  trate­se  de  outros  direitos.  O  adquirente  terá  contra  o  alienante  a  ação  para  haver  a 
restituição do preço e, se estiver de boa fé, as perdas e danos (Código Civil, artigos 1.108 e 1.109). 

10.HERANÇA  NECESSÁRIA  E  PORÇÃO  DISPONÍVEL.  Diz  o  Código  Civil,  art.  1.724:  “O  herdeiro 
necessário, a quem o testador deixar a sua metade disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legitima”. 

11. LIBERDADE DE DISPOR E OS SEUS ELEMENTOS.  A liberdade do testador, quanto à porção disponível, 
que é, se não há herdeiros necessários, toda a herança, consiste em três faculdades distintas: 
a)Dividi­la   como  quiser  e  entender,  configurando  quotas,  porções  certas,  frações  ordinárias  ou  decimais, 
distribuições quantitativas ou qualitativas (móveis, imóveis; móveis de uso doméstico, semoventes, títulos; prédios, 
terrenos) quantitativas e qualitativas ao mesmo tempo; etc. 
b)Dar  ao  todo  ou  a  cada  parte  a  categoria  jurídica   que  mais  lhe  agrade  e  lhe  pareça  satisfazer  a  sua  vontade: 
herança, legado, modus, recomendação, fideicomisso, usufruto, uso, habitação; inclusive restrição de poder, com as 
extensões no espaço e no tempo, que a lei permite (por tantos anos, até a maioridade, vitalícia). 
c)Ao  todo  ou  a  cada  parte  designar  o  sujeito,  herdeiro,  legatário,  ou  beneficiado  pelo  modus,  recomendação, 
fideicomisso,  usufruto,  uso,  ou  habitação.  A  liberdade  sofre  as  restrições  da  incapacidade  geral  ou  relativa  de 
testamentifação passiva  (Código Civil, arta. 1.717, 1.720 e 1.650, V). 
Se a todos e livremente pode o testador deixar os seus bens, claro que os pode deixar aos herdeiros necessários, pes 
soas a que, por definição, não pode privar as quotas necessárias. Mas nem por isso é supérfluo o art. 1.724. Sem 
êle, poderia interpretar­se que a instituIção do herdeiro necessário se entenderia imputação à parte necessária, ou 
que a deixa igual ou superior à quota necessária, faria sem aplicação o art. 1.722. Por isso o art. 1.724 preveniu: se 
o testador deixa ao herdeiro necessário a metade disponível, ou algum legado, não perde êsse o direito ao quinhão 
ou porção necessária. Quer dizer: 
as doações são adicionadas ao valor dos bens deixados para o cálculo dos quinhões necessários (art. 1.722) ; não se 
computam as liberalidades feitas  no testamento. Entende­se que o testador não testou tal porção, ou parte dela, o 
que seria impossível; e sim que, além da sucessão forçada, quis que o herdeiro lhe sucedesse por testamento, o que 
lhe é possível. Tanto mais verdadeira é tal presunção, que isso se entenderá ainda quando, testando parte dos bens 
disponíveis,  o  testador  deixe  de  dispor  sôbre  o  restante  (art.  1.726,  que  é  interpretativo).  Num  e  noutro  caso,  o 
herdeiro necessário também o é testamentário. 
Quanto  às  doações,  que  em  vida  fêz,  pode  o  testador  por  ocasião  de  fazê­las,  ou  no  testamento,  dispor  que  se
subsumam  na  porção  disponível,  em  vez  de  se  imputar  à quota  necessária:  ressalva  válida,  se  feita  no  ato  inter 
vivos (art. 1.788) ou no testamento. 
Quanto  às  cláusulas  testamentárias,  é  livre  o  testador  para  as  considerar  feitas  com  a  metade  disponível,  se 
couberem,  ou  dentro  da  porção  necessária,  se  não  ofenderem  o  principio  da  inviolabilidade  dos  quinhões 
necessários, só admissíveis nos casos do art. 1.723. 
Se a doação aos descendentes se presume adiantamento de quinhão necessário (art. 1.171), não assim a herança, os 
legados ou encargos a favor do herdeiro necessário: não se presumem imputados ao quinhão. 
12.CÔNJ UGE  E  PARENTES  cOLATERAIS.  Diz  o  Código  Civil,  art.  1.725:  “Para  excluir  da  sucessão  o 
cônjuge ou os parentes colaterais, basta que o testador disponha do seu patrimônio, sem os contemplar”. 
O art. 1.725 é inútil se consideramos que já se apontaram os herdeiros necessários (art. 1.721). Os colaterais, como 
o  cônjuge  e  o  Visco,  são  herdeiros  legítimos,  e  não  necessários.  O  testador  ou  os  contempla  em  disposição 
testamentária,  seja  de  herança,  seja  de  legado,  ou  não  os  contempla.  Se  não  há  herdeiro  universal,  o  cônjuge,  o 
colateral ou o Fisco herda, como legítimo herdeiro, ou não herda se o testador dispôs de tôda a metade disponível. 
Os herdeiros necessários são herdeiros legítimos, razão por que, quando se fala de herdeiros legítimos que não são 
necessários,  em  verdade  se  restringe  o  sentido  de  “herdeiros  legítimos”.  Há,  então,  a  legitimidade  sem  a 
necessariedade. Não se deserda herdeiro que não é necessário; para afastar o cônjuge, os colaterais e o Fisco, basta 
que  se  disponha  de  todo o disponível  (3.5  Câmara  Civil  do Tribunal  de  Justiça  de  São  Paulo,  80 de outubro de 
1946, R. dos 2’., 165, 680). 

13.DIREITO ANTERIOR.  Era semelhante a lei; mas o irmão preterido podia usar da querela inofficiosi contra o 
instituído que fôsse pessoa vil e torpe, ou de maus costumes. 

14.SIGNIPICAÇÁO nA REGRA J URÍDICA.  O art. 1.725 do Código Civil estatui que os herdeiros legítimos 


do art. 1.608, III e V (cônjuge sobrevivente, colaterais, Fisco) não são materialmente necessários:  o testador pode 
exclui­los; e para os excluir, basta não os contemplar: não existe, quanto a êles, nenhuma transmissão forçada. Se 
êles existem, é que não os há necessários: poderia o testador dispor de toda a herança; se só de uma parte dispõe, 
abre­se  a  sucessão  legítima  (artigo 1.574, 2.~ parte) ;  se  nomeia  herdeiro  testamentário,  sem dizer  a quota,  fé­lo 
universal, e excluiu o& legítimos. A situação resultante do art. 1.726 não se dá a respeito dos legítimos não­ 
­necessários  (a  expressão  “legítimos”,  no  art.  1.726,  constitui  grosseiro  engano)  :  naquela  regra  jurídica 
interpretativa, há a instituição do necessário; no caso do art. 1.574, 2.~ parte, sucessão legítima. 
Do  art. 1.725,  isto  é, quando  não há  herdeiros  necessários,  conclui­se: a) que  a  instituição  do  herdeiro universal 
afasta a sucessão legítima; b) que, se a instituição é em frações cuja soma seja a unidade, não há sucessão legítima; 
c)  também  não  a  haverá  se  o  testador  distribuir  tôda  a  herança  em  legados,  ou  se  nomear  herdeiro  de  parte  da 
herança  e  ordenar  legados  de  todo  o  resto,  ou  nomear  legatário  e  distribuir  tôda  a  herança  em  encargos  e 
recomendações. 
Ao herdeiro legítimo excluído (a deserdação só concerne aos necessários) fica o direito: a) às ações de nulidade de 
testamento; b) às ações e pedidos concernentes as incapacidades passivas de sucessão ou ilicitude das deixas. 

CAPÍTULO XV 

REDUÇÃO DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÂRIAS 

5.818. Caso especial de sucessão 

1.DISPOSIÇÃO  EM PARTE.  Diz o Código Civil, artigo 1.726: “Quando o testador só em parte dispuser da sua 
metade disponível, entender­se­á que instituiu os herdeiros legítimos no remanescente”. 

2.DRWITo ROMANO.  No direito romano havia a regra Nemo pro parte testatus pro parte intestatus decedere 
potest.  Explicava­se  de  maneiras  diferentes:  a)  consequência  da  incindibilidade  da  personalidade  patrimonial  do 
defunto,  da  unidade  da  hereditas,  pois  seria  contraditório  representar  o  defunto  e  só  ser  nomeado  em  parte  do 
patrimônio; b) proteção dos interêsses dos credores; e) incompossibilidade da sucessão agnatícia e da sucessão do 
quasi sutis; d) consequência da duplicidade judicial, concernente a duas vocações; e) simples interpretação literal
do versículo si intestato moritur das XII Tábuas. 
(VITTORIO  SCL4LOJ A,  Diritto  Romano,  Concetti  fondaanentati,  30,  lia  de  modo  original  o  texto  romano: 
“quem fêz testamento não é intestado”. Mas sem razão (cp. PIlETRO BONFANTE, Istituzioni di Diritto romano, 
5·a ed., 523, e ANTONIO SUMAN, “ Favor testamenti”  e “ voitinto.s testantium” , 20.) 
Tão  persuadidos  estavam  os  legisladores  romanos  da  visceral  incompatibilidade,  que  si  unum  tantum  quis  ex 
semisse verbi gratia h,eredem scripserit, totus as in semisse ent (§ 5, 1., de heredibus instituendis, 2, 14). Cf. L. 13, 
§ 3, e L. 79, § 1, D., de heredifrus instituendis, 28, 5). Para tal solução que dá o todo quando só se deu parte, várias 
explicações foram tentadas: 
a)Invocaram  J.  F.  DWORZAX,  C.  NEUNER  e  OrrO  LENEL  (Zur  Geschichte  der  heredis  institutio,  Essavs  in 
Legal History, 128) a presumida vontade do testador. 
b) F. HOFMANN (Kritisck­e Studien im rãmisehen Rechte, 113) combateu tal fundamento: quem só testou 1/12 
não havia de querer que se estendesse o direito do herdeiro escolhido aos outros 11/12; mais óbvio fôra declarar 
nulo o testamento. A solução romana só se explica como favor testamenti 
(F.  HOFMANN,  Kritische  Studien  im  rbmisc/ten  Rechte,  128;  ANTONIO  SUMAN,  “ Favor  testamenti”   e 
“ voluntas testan,tium” , 22). 
Mas nem uma, nem outra explicação, nos parece, no todo, verdadeira. Não vemos textos que justifiquem o favor 
testa­menti  como  razão  de  decidir  na  espécie.  Admitimos,  até,  que  a  neutralidade  com  que  se  operou  a  solução 
romana contradiz tal fundamento: a mente romana para chegar à convalidação do todo não precisava de ir buscar~ 
o favor testamenti. 
c)Mais  certo  (ainda  assim,  só  em  parte)  nos  parece  o  esclarecimento  de  Oro  KALRLOWA  (Rdmische 
Rechtsgeschichte, II, 846) : o elemento primário é a nomeaÇâ~o;  a quota, elemento relativo, secundário. Entre as 
duas explicações, parece hesitar CARLO FADUA (Coneetti fondamentali dei Diritto eredttario romano, 1, 339). 
Para preferir a de OTTO KARLOWA, ocorre­nos lembrar que, sendo muitos os instituidos, a parte não testada se 
devolvia  aos  instituidos,  na  proporção  do que  se lhes  deixara  escrito  (L.  13, § 2,  e  L.  13, §  3,  D., de  heredibus 
instituendis, 28, E). Há a expressão potest ate inris (§ 2) que pode ser trazida à balha (e o foi, ANTONIO SUMAN, 
“ Favor testamenti”  e “ voluntas testantium” , 23, nota) como argumento contrário, mas não vemos em tal poder de 
direito  fôrça  superior  à  vonsztzva,o  fundamento    menos  próximo,  é  certo    não  deixa    o  testador.  ANTONIO 
SUMAN parecia somente ver vontade do testador  onde cabe interpretação. Ora, onde a lei é diapode ser volitivo. 
A nossa opinião é a da dispositividade do § 5, heredibus instituendis, 2, 14. (Mas regra jurídica dispo­não exclui 
presunção de vontade como fundamento: a das regras jurídicas dispositivas têm, exatamente, origem voluntarística. 
Regra jurídica dispositiva é precisamente a que nasceu de um quod plerumque fit, ou de uma vontade, raramente de 
dado  histórico  puro,  e  estatui,  por  isso.  dispositiva,  não  imperativamente.  No  tempo  atual,  potestate  iuris;   no 
passado laborativo, pela fôrça do querer presumido.) 
d)A nossa opinião é mais sociológica. Nem se cogita de presunção do querer quanto ao resíduo, menos ainda, o que 
seria absurdo, quanto ao que o testador deixou aos herdeiros legítimos, inoperantemente; nem de favor testarn,enti. 
A própria explicação de OTTO KARLOWA, cuja felicidade reconhecemos, não é completa. Com o sutil do seu 
estilo,  a  que  tantas  luzes,  após  F.  C.  voN  SAvrnNy,  TH.  MOMMSEN  e  RUDOLF  vON  JIIERING,  se  devem, 
caracterizou  êle:  o  elemento  primário  é  a  instituição,  a  determinação  sôbre  o  subjetivo  da  herança,  o  jus 
successianis, ao passo que a distribuição da hereditas objetiva é o elemento secundário. A falta dêsse não poderia, 
sem absurdo, prejudicar aqueles. 
Para  o  legislador  romano,  a  atuação    não  a  preferência,  que  supôe  hesitação    tinha  de  ser  pela  sucessão 
testamentária. Portanto: não pelo favor testamenti;  mas pela fôrça da estrutura da mentalidade romana. A solução 
do toda, se só instituía parte, impunha­se como que mecânicamente. Assistir­se­á, com a concepção justinianéia, 
ao decair da regra jurídica. 

3.Um  ANTERIOR.    Nas  Ordenações  Filipinas,  Livro  IV,  Título  83,  §  8,  e  Título  86,  pr.,  ainda  se  recorria  ao 
sistema  romano  do  “ninguém  pode  morrer  parte  testado  e  parte  intestado”.  Nesse  sentido,  os  praxistas.  Com  a 
reforma  Josefina  (Leis  de  18  de  agOsto  de  1769  e  9  de  setembro),  a  regra  jurídica  cedeu  ao  favor  da  sucessão 
legítima  e  os  juristas  mudaram  de  opinião  (PASCOAL  J osÉ  DE  MmÃo  FREIRE,  Iizstitutiones  luris  Civilis 
Lusitani, Livro III, Título V, § 29; M. A. COELHO DA ROCHA, Instituições de Direito Civil português, § 693; 
Código Civil austríaco, § 556). 

4.PROJ ETOS BRASILEIROS.  FELICIO DOS SANTOS, artigo 1.677, concebia a passagem do resíduo como 


acrescimento aos herdeiros necessários: “se  não dispuser da sua têrça, ou dela não dispuser na sua totalidade, os 
herdeiros  legitimários  a  acumulam  aos  seus  quinhões,  ou  o  que  restar  dela,  segundo  as  regras  da  sucessão 
legítima”. Consciente, ou não, do que esCrevia, COELHO RODRIGUES, art. 2.507, concebeu de modo diverso a 
vocação do resíduo: “Se o testador, que tem herdeiros necessários, dispõe somente da sua meação ou de parte dela, 
entende­se que os instituiu no resto; se, porém, dispõe de mais, tôdas as disposições são redutíveis no excesso da 
meação”.  Nenhuma  idéia  de  acrescimento;  só  de  instituição  estabelecida  pelo  artigo  da  lei,  de  natureza
interpretativa. 

5.  NATUREZA  DA  REGRA  JURÍDICA.    As  concepções  de  hoje  já  não  repugnam  a  dupla  vocação.  As 
incompossíveis  dizsimiles  causae,  a  que  se  refere  CÍCERO  (De  invent.,  II,  21),  exercem  hoje  os  seus  papéis 
autônomos, de mãos dadas. Tanto é compósito o espírito de hoje; em tudo, sensível cristalização do mediterrâneo e 
do nórdico. 
O art. 1.726 do Código Civil é o punetum dolens, a superfície de contacto. Não se sabe para onde pende. A que 
sucessão  prefere.  Diz  que  os  herdeiros  legítimos  serão  chamados;  mas  lança  mão,  para  dizê­lo,  de  presunção: 
reputam­se instituidos. 
A questão da natureza do art. 1.726 é de grande importância prática. Para percebê­lo, bastam alguns exemplos. Se o 
testador declarou “as legítimas serão gravadas”, j,o resíduo segue a condição das quotas necessárias? Se a sucessão 
do artigo 1.726 é legítima, conseqúência será gravar­se também o resíduo. Se a sucessão do art. 1.726 é instituição 
mediata, claro que só seria gravável o restante se resultasse da interpretação do testamento. Quer dizer: nenhuma 
noção de principal e acessório, nenhum traço de direito de acrescer. 

§ 5.818. DISPOSIÇÃO PARCIAL E SUCESSÃO 
85
Para decidirmos a questão, temos dois elementos, um de linguagem da lei, e outro de topologia da própria regra 
jurídica: a) a lei diz “entender­se­á que instituiu”; b) o art. 1.726 está ao Título III, Da Sucessão testarnentária, e 
não,  como o  art. 1.574, no  Titulo 1,  Da Sucessão  em geral.  Êsse  argumento  reforça  aqueles.  Por  isso, CLÓVIS 
BEVILÁQUA  (Código  Civil  comentado,  VI,  181),  sem  descer  às  considerações  teóricas  e  práticas,  falou  de 
instituição  Licita,  uma  de  cujas  consequências  seria  a  do  art.  1.754,  o  que  não  tem  sentido.  Há  muitas 
consequências, mas a apontada não é nenhuma. 
Ao argumento da linguagem da lei cumpre juntar outro, responsável por êle: a divergência entre os dois projetos 
anteriores, o de FELÍCIO DOS SANTOS e o de COELHO RODRIGUES. 

6. PRESSUPOSTOS DO SUPORTE FÂCTICO.  Para que se aplique a regra jurídica do art. 1.726, é preciso que 
concorram os seguintes elementos: 
a)Existência de herdeiros necessários, porque, se não os há, não existe ‘metade disponível: disponível é o todo, e o 
caso  se  resolve    quanto  aos  bens  não  compreendidos  no  testamento    pela  devolução,  ex  lege,  aos  herdeiros 
legítimos. Aqui se evidencia a diferença entre a regra jurídica do artigo 1.574 e a do art. 1.726. 
b) O testador só dispôs de parte da metade testável (ou, se morreu com testamento, de nada dispôs). Se dispôs de 
tôda a metade, o que quer que sobre não passa aos herdeiros necessários. Dar­se­á direito de acrescer ou algum dos 
fenômenos do direito das coisas. Se morreu com testamento e nada dispôs quanto à metade disponível, aplica­se o 
art. 1.726. 
c)  Ao  tempo  da  morte  existem  os  herdeiros  necessários.  Se  não  os  houver  mais,  o  resto  da  herança  irá  aos 
legítimos,. conforme o art. 1.574. Em todo o caso, como se trata de instituição presumida, a vontade do testador 
pode intervir como guiadora de outra solução. Exemplo: a verba “deixo a casa r a B, executará meu testamento A 
único  herdeiro  necessário,  na  sua  falta  a  mulher  dêle,  ainda  que  não  tenha  filhos”.  A!.  essa  mulher  está  numa 
substituição, aparentemente de testamenteiro, possivelmente de herdeira. Vivo A, receberá a quota necessária e o 
resíduo. Morto A, a interpretação dirá se  a mulher sobrevivente  herda como instituída do todo, excluída assim a 
aplicação do art. 1.574, ou só o resíduo da metade então disponível, ou tudo, irá aos herdeiros legítimos, sendo a 
mulher simples testamenteira. 
d) A existência de resíduo. 

7.  CONSEQUÊNCIAS  DA  REGRA  JURÍDICA.    Examinaremos  dois  casos  que  foram  decididos  no  Juízo  da 
Provedoria do então Distrito Federal, em 1920. 
a) Testador falecido depois do Código Civil, com testamento anterior a êsse, só dispôs da têrça parte da herança. A 
lei do tempo da morte já lhe permitia dispor da metade. Quanto aos quinhões não há dúvida, só se cumpre a têrça; 
mas o demais, o residuário, a diferença entre a legitima  e a disposição, vai aos herdeiros legítimos, por fôrça do art. 
1.676, responsável, por sua natureza dúplice, de muitas dúvidas na execução dos testamentos. Chamam­se vintena  
os cinco por cento do testamenteiro. 
Marcada  a  vintena,  discute­se:  ~  é  sôbre  a  têrça   disposta,  ou  sôbre  a  metade  disponível,  de  que  só  em  parte  se 
dispôs? 
Figurou­se  caso  de  direito  intertemporal,  mas  no  direito  unitemporal  a  situação  e  a  questão  seriam  as  mesmas, 
quando o  testador  podendo dispor da  metade    só dispõe de  parte dela.  Portanto,  com ou  sem  conflito  de  lei  no 
tempo, tudo depende do caráter do art. 1.726. 
Nesse problema da vintena, uns querem que incida sôbre a metade disponivel, de que, ex hypothesi, sé em parte se
dispôs, outros (Inventário n. 47, Provedoria do Distrito Federal, 1927, Parecer de 12 de fevereiro de 193~O), que a 
herança do artigo 1.726 seja legítima:  “O testador faleceu em 1925, e não modificou o seu testamento, o que nos 
induz a interpretar que desejava que a legítima  fôsse constituída de 2/3, e a parte disponível 1/2. Assim, a vintena 
só terá de sair de 1/3. Porque o testador não dispôs da metade. Se os legados excedessem essa têrça parte, teriam de 
ser rateados. Semente dentro dessa têrça, êle poderia acomodar os seus legados, porque foi o que ficou como parte 
disponível.  A  lei  fiscal,  parece  que  não  influi  para  o  argumento.  ~  Pode  o  testador  declarar  que  a  legítima   seja 
dentro de 3/4 partes de seus bens? Pode, O que não pode é dizer que o seja dentro de 1 4, porque fere a lei civil das 
sucessões. Ora, a lei permite que êle tivesse modificado o seu 
testamento. Não o fêz. Deixou dentro do regime anterior ao Código. Parece que assim quis que ficasse”. 
~O  restante  vai  à  sucessão  legítima,  ou  o  recebe  o  herdeiro  legítimo,  ex  testamento,  por  fôrça  do  preceito 
dispositivo? Noutros têrmos: quanto a êste resíduo, ~o art. 1.676 faz Eegítinut a sucessão, ou  por haver testamento 
ex testamento?  
No sistema do Código Civil, o art. 1.672 constitui aplicação do art. 1.574,  é regra de sucessão legítima, os seus 
têrmos  afastam  qualquer  argumento  tirado  da  sua  colocação  no  título  do  Código  Civil  relativo  a  sucessão 
testamentária.  Quanto  ao  art. 1.726, não:  tudo  nêle  mostra  tratar­se  de  matéria  testamentária.  Do  fato de  haver  a 
passagem necessária  a herdeiros legítimos, tirou o legislador que os bens não compreendidos nessa parte, nem nas 
disposições~  foram  deixados,  tàcitamente,  aos  herdeiros  forçados,  que,  aqui,  os  recebem  ex  testamento.  No  art. 
1.673 diz­se: “o remanescente pertencerá aos herdeiros legítimos”; no art. 1.726, “entender­se­á que instituiu”. É 
sensível a diferença. 
Portanto,  a  vintena  tem  de  ser deduzida  sôbre  tôda  a parte disponível,  e  não  sôbre o  só disposto explicitamente. 
Não se daria o mesmo no caso de testamento que se anulasse: a herança iria, por sucessão legítima, aos herdeiros 
necessários. 
b) O testador gravou a herança com a cláusula de inalienabilidade. Pergunta­se: agravou a quota necessária, tão 
­somente, a porção indisponível, mas, por lei, gravável (artigo 1.723), ou tudo que herdarem os filhos? 
O quoci plerum que fit é o não se  gravar a quota necessária, sem  se  gravar o resto. Se Aquilo de que não podia 
dispor  impôs  inalienabilidade ou outra  restrição de  poder, usando da  autorização  excepcional do  art. 1.723,  com 
maioria de razão havia de impor ao mais. 
A  respeito  apareceram  duas  opiniões:  a)  Os  herdeiros  necessários  recebem  a  parte  disponível,  art.  1.726,  ou  o 
residual, com as mesmas cláusulas da quota: seria espécie de acessório, que seguiria o principal. Algo se juntou. b) 
O que os herdeiros necessários recebem a mais, por fôrça do artigo 1.726, é ex testamento;  e a diferença de titulo 
não suporta a natureza de acessório e principal. A cada um a sua sorte. 

A regra é que a quota necessária, sé, e não o resíduo, será gravada. Porém, nesse assunto, o que se deve procurar é 
a verdadeira vontade do testador. Pode êle ter usado da expressão “legítima”, sem entrar na sutileza da lei, como 
tudo que os herdeiros necessários tiverem de receber. Isso se deu no caso examinado, de modo que era de impôr­se 
a gravação de todos os bens  sucessão necessária e sucessão residual  não por fôrça do argumento em a), mas como 
direta consequência da vontade do testador, que é lez privata. 

§ 5.819. Determinação de partes e redução 

1. FONTES.  No direito romano, ou se testava de tôda a herança, ou não se testava: Nemo pra parte tes tatus, pra 
parte intestatus decedere potest. Já vimos que o direito moderno refugou tal raciocínio. Se o testador só dispôs de 
parte da herança disponível, dá­se no resto a sucessão legitima (Código Civil, arts. 1.574, 2.~ parte, e 1.673). Se 
tinha  herdeiros necessários, entende­se que os instituiu no que sobrar (artigo 1.726, interpretativo). Se o testador 
quis  excluir  os  herdeiros  legítimos,  se  bem  que  a  soma  das  frações  deixadas  não  alcance  abranger  a  herança,  a 
sucessão legítima não se dá (os artigos 1.574, 2~a parte, e 1.673, são dispositivos, e não cogentes) e partir­se­á pelos 
nomeados  na  proporção  do  que  se  lhes  marcou.  Mas  pode  ocorrer  que  se  tenha  disposto  de  mais  do  que  o 
disponível e ter­se de dar a redução. 
Diz o Código Civil, art. 1.727: “As disposições, que excederem a metade disponível, reduzir­se­ão aos limites dela, 
em  conformidade  com  o  disposto  nos  parágrafos  seguintes”.  No  §  1.0:  “Em  se  verificando  excederem  as 
disposições  testamentárias  a  porção  disponível,  serão  proporcionalmente  reduzidas  as  quotas  do  herdeiro  ou 
herdeiros instituidos, até onde baste, e, não bastando, também os legados, na proporção do seu valor”. No § 2.0: 
“Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, certos herdeiros e legatários, a redução 
far­se­á  nos  outros  quinhões  ou  legados,  observando­se,  a  seu  respeito,  a  ordem  estabelecida  no  parágrafo 
anterior”. 

2. REGRAS JURÍDICAS SOBRE testador  A lei prevê dois casos: a) O testador não deu preferência a  nenhum 
herdeiro ou legatário; tudo se reduz proporcionalmente: primeiro, as heranças; depois, os legados. Quer dizer: se a 
herança  não  der  para  os  legados,  os  herdeiros  nada  receberão  e  diminuir­­se­ao  os  legados.  Em  concreto:  se  o
testador deixou em frações (ou outro modo de contagem, F. ENDEMANN, Lekrbuoh des Rurgerlichen Rechts, III, 
345) e estas, ou os quinhões, excedem, serão todos reduzidos proporcionalmente. ti) O testador deu preferência a 
um ou alguns. A redução faz­se nos quinhões ou legados não preferidos. Se êsses não puderem ser satisfeitos, então 
se procederá à redução dos preferidos. 
3.  PRESSUPOSTOS  DA  REDUÇÀO.    Para  que  incida  o  Código  Civil,  art.  1.727,  §  1.0,  isto  é,  para  que  se 
reduzam  proporcionalmente  ao  valor  delas  as  quotas  do  herdeiro  ou  dos  herdeiros  instituidos,  é  preciso  que 
concorram as seguintes situações: a)que a soma do disposto exceda o disponível: se não há excesso, não é possível 
cogitar­se  de  redução;  b)  que  as  instituições  sejam  em  quotas  (frações,  percentagens)  porque,  se  houver  algum 
herdeiro em porção qualitativa, o artigo 1.727, § 1.0, não se lhe aplica, e.g., “instituto A em 1/4, B em 1/4, C em 
todos  os  moveis  e  os  móveis  são  2/a  da  herança;  c)  que  não  tenha  havido  vontade  contrária  do  testador.  ou 
distribuição  que  valha  o  mesmo  que  um  querer  contrário  ao  art.  1.727,  §  19.  Mas  poderá  ocorrer  que  suceda  o 
oposto ao art. 1.727, § 1.0: em vez de excederem os quinhões, serem, em conjunto, inferiores ao monte, e assim: ou 
o excesso toca aos herdeiros legítimos (art. 1.574) ; ou o herdeiro instituído, ou os herdeiros instituidos devem ser 
os únicos (ainda que se tenha usado da distribuIção por frações, e a soma dessas fôr inferior à unidade) : então, 
cada parte será aumentada proporcionalmente. 

4. PRESSUPOSTOS DA REDUÇÃO, SE O TESTADOR PREFERIU  HERDEIROS OU LEGATÁRIOS.  Para 


que incida o art. 1.727, § 2.0, é preciso que concorram os seguintes pressupostos: a) tenha o testador prevenido a 
solução,  mandando  que  se  inteirem,  de  preferência,  certos  herdeiros  e  legatários;  ti)  em  outros  herdeiros  e 
legatários haja a subordinação a que se refere o art. 1.727, § 1.0. 
O art. 1.727, § 1.0, é dispositivo, e para os casos dos pressupostos. Não se aplica: a) se falta algum dos requisitos 
acima referidos (a  e 6) quando, ainda concorrendo êles, o testador tenha expressado outra vontade. 
Se só um herdeiro é subordinado a uma fração, não há concurso de frações; portanto, não incide o art. 1.727, § 1.0: 
“são  meus  herdeiros  A,  B  e  C,  cabendo  a  C  1/4  da  herança”.  Não  pode  haver  excesso,  porque  não  pode  haver 
soma.  Se  um  grupo  de  herdeiros  foi  instituído  em frações,  e  outro  não,  e a  soma  das  frações  excede  a  unidade, 
aplicar­se­á  ao  grupo  das  frações  o  art.  1.727,  §  1.0;  se  forem  frações  de  uma  parte  certa  da  herança,  então  a 
redução  será  feita  dentro  dessa.  Se  houver  dois  grupos dentro de  partes da  herança e  a  soma  das  partes  excede, 
reduzir­se­ão as partes proporcionalmente depois, se a soma das frações de cada parte excede essa, proceder­se­á à 
redução  proporcional  aos  valôres  das  frações,  sem  que  a  fração  de  uma  parte  tenha  qualquer  relação  com  a  de 
outra: 
em seus valores, os grupos se reduzem; mas as frações de cada um independem das frações do outro. 
O ad. 1.727, § 2.0, refere­se a herdeiros e legatários, mas entenda­se que os legados ou é de bem ou de ordem ao 
herdeiro e não se trata no mesmo plano que a herança. A copulativa do art. 1.727, § 2.0 (herdeiros e legatários) não 
os  identifica  em  sorte.  Dentre  os  legados,  é  que  o  testador  pode  preferir  algum,  e  então  os  restantes  sofrem  a 
redução. Se o testador quiser, mandará que uma quota ou valor da herança  se dê ao herdeiro preferido ainda em 
relação aos legatarios;  então, aí, a redução abrangerá, excepcionalmente, os outros herdeiros e os legatários, mas 
primeiro aqueles e depois êsses (salvo, está visto, ainda neste pontq, outra preferência, que se não presume, quanto 
aos outros Herdeiros). 
Legados  somente  são  atingidos  se,  com o  cálculo  do  ativo  e  do passivo  do  acervo,  a  satisfação  dêles  atingiria  a 
porção  necessária.  Antes  dêles  são  reduzidas,  talvez  até  a  extinção  da  eficácia,  as  heranças  testamentárias.  A 
redução pode ir até bens divisíveis e indivisíveis (cf.  1·a Câmara Cível do Tnbunal de Justiça de Minas Gerais, 29 
de março de 1951, .7. M., 11V, 416). 
O que se presume é que o testador quis que precipuamente se paguem os legados; porque é o que decorre, em geral, 
da  categoria  jurídica  dos  legados.  Por  isso  mesmo,  os  legatários  podem  exigir  que  do patrimônio  do  falecido  se 
discrimine o do herdeiro. Em concurso com os credores dêste, serão preferidos no pagamento (art. 1.799>. 
Pode ocorrer que a preferência seja perplexa, e não cabe aplicar­se o art. 1.727, § 2.0 (CARL CROME, System 
des deutschen buirgerlichen Rechts, V, § 689, 845, nota 26>.) 

5.DISTRIBUÍÇIO  INFERIOR Ao DEIXADO.  Se o disposto quantitativamente é menos do que o disponível, 


mas, pela interpretação, se tira que o testador quis que aqueles que instituiu fôssem os seus únicos herdeiros, dá­se 
o inverso dos §§ 19 e 2.0: sobra, em vez de faltar; a herança maior que a tábua de frações, que a soma das deixas. 
Então o resto será distribuído proporcionalmente  aos quinhões marcados. Cumpre notar que tal distribuição nada 
tem  com  o  direito  de  acrescimento  regulado  nos  arts.  1.710  e  1.716  (CARL  CROME,  System  des  deutschen 
búrgerliehen  Rechts,  V,  §  689,  845,  nota  25).  Exemplo:  A,  1/3,  B,  1/4  e  C,  1/6.  Vale  dizer:  4/12,  8/12  e  2/12. 
Aumenta­se para 4/9, 8/9 e 2/9, para que se esgote a unidade, que é a herança, de que só êles são herdeiros. 

6.  DISPOSITIVIDADE  DAS  REGRAS  JURÍDICAS.    As  regras  jurídicas  que  a  lei  consigna  são  meramente 
dispositivas; por­tanto, nelas pode alterar o testador o que entender. A vontade dêle, e não a lei, será atendida.
7. ÊRRO DO TESTADOR.  Se o testador, ao dispor, estava em êrro sôbre o objeto da herança, de modo que, se 
conhecesse  a  circunstância,  não  testaria,  pode  ser  anulada  a  verba  da  parte  eivada.  (Claro  que  o  êrro  sObre 
existência de herdeiros necessários constitui ruptura, assunto tratado a respeito dos arts. 1.750 e 1.751; se souber e 
os omitir, sem os deserdar legalmente, dar­se­á a redução, art. 1.752.) Assim, o testador diz: “A minha fortuna é de 
seiscentos mil cruzeiros novos; quero que os meus dois herdeiros não tenham mais nem muito menos de 200 e por 
isso instituo na têrça a D”. O testador só deixou quatrocentos mil cruzeiros novos: a deixa a O pode ser anulada 
pelo erro quanto ao objeto (cf. Tu. KíP, Lehrbuch des Rilrgerlicken Rechts, ~ 8.ª parte, 148). O artigo 1.727, § 1.0, 
não se aplica; tão­pouco, o § 2.0. 

8.  PLURALIDADE  DE  TESTAMENTOS.    Se  as  frações  constam  de  testamentos  diferentes,  põe­se 
preliminarmente a  herança. Se o fideicomissário herdasse do fiduciário, suceder­lhe­ia nas dividas; e no entanto só 
pelas dívidas do testador responde o fideicomissário. Demais, não é verdade que o direito do fiduciário passe ao 
fideicomissário o que se dá é que o direito do fiduciário se extingue, e êle, por isso, perde a propriedade e a posse 
que  recebeu;  começa  a  atuação  material  do  direito  do  fideicomissário,  direito  existente  desde  a  abertura  da 
sucessão e, por isto,  quer dizer: porque começa a atuação,  a propriedade e a posse lhe cabem. 
No fideicomisso, há duas. figuras, a do que recebe em primeiro lugar a herança, ou legado, que é o fiduciário, e a 
do que,  ao  chegar  o  termo,  ou  ao  realizar­se  a  condição,  vem  após  aquele.  A  êsse  chama  a  lei  fideicomissário. 
Sucessão, digamos, de dois  herdeiros  instituidos, ou de dois  legatários: o pré­herdeiro e o pós­herdeiro. Um  não 
substitui o outro: porque substituir é excluir;  o fideicomissário propõe­se ao fiduciário. A figura que a lei permite e 
a  que  chama  fideicomisso  constitui  dupla  instituição  no  tempo,  ainda  que  sejam  dois,  ou  mais,  os  sujeitos 
beneficiados  em  cada  uma.  A  dupla  sucessão  escalada  no  tempo,  como  diz  F.  ENDEMANN  (Lehrbuch  eles 
Bitrgerlichen Rechts, III, 371). O primeiro recebe a propriedade e a posse; o segundo, a vocação subseqüente. Não 
herda daquele, mas do testador; porque herdeiro êle o é desde o instante da morte do hereditando. 
A  diferença  entre  o  fideicomisso  e  a  substituição  vulgar  é  nítida:  o  segundo  não  substitui  o  primeiro,  vem­lhe 
depois; não há nenhuma regra, ou ficção,’ pela qual, ao recolher a herança, se repute tê­la recebido no dia da morte. 
A lei constitui, com elementos concretos, a dupla vocação: uma, até um instante; e outra, dai em diante. O nôvo 
tempo apaga o que dos atos do primeiro poderia invadir o campo temporal deixado ao segundo. O fideicomissário 
não é co­herdeiro conjunto do fiduciário; daí não se lhe aplicar o art. 1.710. Se só tinha direito ao quinhão deixado 
ao  fiduciário  e  não  ao  que  eventual­mente  acrescesse,  pode  o  fiduciário  receber  o  acréscimo  sem  obrigação  de 
restituir (questão de interpretação). 
Há  dois  momentos  no  fideicomisso:  o  da  abertura  da  sucessão,  e  o  da  passagem  da  herança  ou  legado  ao 
fideicomissário. No primeiro, dá­se a formação da qualidade de herdeiro aos dois sujeitos e, quanto ao fiduciário, a 
transmissão  dos  bens.  Ao  fideicomissário  a  qualidade  de  herdeiro  cria,  desde  logo,  a  sujeição  fiduciária  do 
instituído  em  primeiro  lugar.  Aliás,  esta  responsabilidade  do  fiduciário  é  o  lado  passivo  do  direito  eventual  do 
fideicomissário  (lado  ativo, E. ENDEMANN,  Lehrbuclt des  Riirgeriiúhúfl  Rechis,  III,  384).  O fideicomissário  é 
herdeiro do testador, e não do fiduciário: ambos são herdeiros. Na substituição, há duas pessoas pelo menos,  mas, 
para que uma, duas ou mais. sejam herdeiros (substitutos), será preciso que a outra ou as outras não o sejam. 
Com o caráter de propriedade resolúvel, a visibilidade do fideicomissário, as cautelas dos livros de transferências 
de imóveis, a nítida composição de dois herdeiros sucessivos, muito se apagou no fideicomisso a fiducialidade da 
figura jurídica. Aliás, já em Roma o nome lembrava a feição primitiva do instituto, a fé, a lealdade da incumbência. 
For isso mesmo, o cardeal S. E. DE LUCA poderia falar de ftdewornm Sumduciarium, referindo­se àquele em que 
há o instituído e o fideicomissário, mas êsse à escolha ou deixado em segredo ao fiduciário (ou a outrem). Hoje, se 
definirmos fideicomisso “quod per intermediam personam, sive per ministerium alterius alicui relinquitur”, como 
PIRIIINO, ou “omne id quod rogatur, defuncti dari debet vel facere”, como GRAVINA (InstttuttOfles iuris Civitis, 
II, 99), teremos abrangido o fideicomisso e a fidúcia, ao passo que, na terminologia do Código Civil, fideicomisso 
é só a figura dos arts. 1.733­1.740. 
t  principio  assente,  por  atender  à  própria  natureza  do  fideicomisso,  que  o  fideicomissário  não  pode  exigir  a 
propriedade e a posse, nem só aquela, enquanto não se extingue o fideicomisso (isto é, o direito do fiduciário). O 
direito  do  fideicomissário  é  direito  a  se  inserir  na  relação  jurídica  real  de  propriedade  e  posse  quando  cessar  o 
direito  do  fiduciário.  Há  posterioridade,  e  não  simultaneidade.  Bem  disse  a  2·a  Turma  do  Supremo  Tribunal 
Federal,  a  29  de  agosto  de  1950  (R.  F.,  136,  109),  que,  no  fideicomisso,  as  liberalidades  São  sucessivas  e  a 
propriedade se mantém, inteira, atribuida ao fiduciário, embora restrita e resolúvel: antes da substituição, não pode 
o fideicomissário reivindicar. 
Se  o  fiduciário  aliena  o  bem  como  se  não houvesse o  direito do  fideiconiissário, tem  esse  as.  ações  para que  se 
estabeleça a explicitude da restrição pela resolutividade, que é intrínseca ao fideicomisso. Uma das ações é a ação 
de retificação do registro de imóveis. 
Nos sistemas jurídicos que não têm ou não têm em textos legais explícitos o fideicomisso, compreende­se que se 
lançasse m~o da figura do usufruto, ou que se começasse com ela para se chegar à construção doutrinária (cf. E.
TROPLONG,  Der  Donations  et  Testaments,  1,  144).  A  jurisprudência  brasileira  tem  advertido  que,  no  sistema 
jurídico  do  Brasil,  é  absurdo  estar­se  a  invocar  o  que  no  estrangeiro  se  tem  discutido  e  sustentado.  O  que pode 
surgir  é  questão de  interpretação da  verba testamentária:  se,  iv.  casu,  há  fideicomisso, ou  se  há  usufruto.  O que 
importa é a vontade do testador, a sua intenção (cf. 1? Turma do Supremo Tribunal Federal, 9 de agosto de 1946, 
R. F., 112, 6o, e ‘7 de agosto de 1952; antes, Supremo Tribunal Federal, 2 de julho de 1942, 19. da .7. de 13 de 
outubro de 1942 e 25 de julho de 1943, e 3 de agosto de 1942, 1?. dos T., 146, 884; 1.a Câmara Cível do Tribunal 
de  Apelação  de  Minas  Gerais,  8  de  novembro  de  1945,  E.  F.,  105,  525,  e  8  de  fevereiro  de  1942,  105,  324: 
“Dispondo o  testador  que  o  beneficiado  terá  o usufruto  e  que,  por  sua  morte,  o  bem  passará  a  tais  outros,  não 
institui usufruto, mas fideicomisso, porque no usufruto há ao mesmo tempo dois beneficiários”;  2·a Câmara Cível 
do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 80 de julho de 1948, R. .1., 1, 68, l A Câmara do Tribunal de Justiça da 
Paraíba, 12 de julho de 1949: “Se bem que perfeitamente definidos em doutrina os dois institutos, na prática não é 
tarefa  fácil  distinguir  se  determinada  disposição  testamentária  constitui  fideicomisso  ou usufruto.  As  dúvidas  de 
interpretação, porém, se atenuam com as noções geralmente aceitas para estabelecer seus caracteres essenciais de 
distinção”; 13 Câmara Cível do Tribunal de Ape1ação do Rio de Janeiro, 22 de abril de 1946, R. F., 107, 515; 6. 
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 18 de abril de 1951, 1?. dos T., 192, 292). 
Alguns acórdãos são evidentemente errados; e.g., o da 6·a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a ‘7 
de março de 1952 (1?. dos 7’., 201, 195). 
Sempre que o testador estabelece sucessividade, não há usufruto, nem substituIção vulgar (salvo se falou em “falta 
do beneficiado”).No fideicomisso, há direito do fideicomissário à propriedade e à posse. O direito já existe à data 
da morte do testador, quando o fiduciário já é proprietário e, de regra, já é possuidor. A propriedade e a posse do 
fídeicomissúrio  não decorrem da  morte do  fiduciário, porque o direito  a propriedade  e  à posse  já  nascera  com  a 
morte do testador e apenas se aguarda que o fiduciário as perca. Duas transmissões, numa só deixa testamentária; 
porém  uma,  pela  sucessividade,  dependente  da  extinção  do  direito  real  do  fiduciário.  Cf.  6.~  Câmara  Civil  do 
Tribuna] de Justiça de São Paulo, 18 de abril de 1951 (1?. dos 22., 192, 292> “No fideicomisso, a herança é uma 
só,  destinada  a  dois  herdeiros,  em  períodos  que  se  sucedem,  em  continuação  um  ao  outro.  Se  é  certo  que  o 
fideicomissário só recebe os bens no momento em que se opera a substituição, é verdade também que a causa desse 
recebimento  preexiste  a  essa  entrega  efetiva,  é  anterior,  decorrente  do  ato  do  instituidor,  em  que  a  transinissio 
encontra  a  sua  origem.  A  Liberalidade  no  fideicomisso  não  decorre  da  morte  do  fiduciário,  mas  da  própria 
instituição do fideicomisso, que é o ato produtor da transmissão dos bens”. 
A  propriedade  não  se  fraciona;  toca,  por  inteiro,  ao  fiduciário;  depois,  ao  fideicomissário  (3.~  Câmara  Civil  do 
Tribunal de Justiça de São Paulo, 20 de setembro de 1949, 1?. dos T., 182, 834). 
Se, além da cláusula de fideicomissão, o testador inseriu no testamento a cláusula de inalienabilidade por parte do 
fideicomissário, isso de modo nenhum significa que o fideicomissário não possa renunciar a herança (sem razão, a 
g·a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 28 de junho de 1949, R. dos T., 182, 192). 
O fideiconiissârio já é, desde a abertura da sucessão, titular de direito expectativo à herança (cf. Tornos V, § 577, e 
XIV, § 1.601). 

11.TESTAMENTARIEDADE  DO  FIDEICOMISSÁRIO.    O  fideicomissário  é  sempre  herdeiro  testamentário, 


ainda quando construida;  o fiduciário pode ser legítimo. Exemplo: “os meus herdeiros, quando A se doutorar em 
medicina, entregar­lhe­ão o prédio x”. A herança passou segundo os arts. 1.574, 23 parte, 1.673, ou, talvez, 1.726 
(nesse o herdeiro necessário é herdeiro testamentário). Como aqueles dois primeiros artigos concernem a sucessão 
legitima,  legítimos  são  os  herdeiros,  embora  sujeitos  ao  fideicomisso.  Daí  o  dizer  de  OTTO  WARNEYER 
(Kammentar  zum  Biirgerlichen  Gesetzbuch  filr  das  Deutsohe  Rewh,  II,  1135)  :  “Auch  nach  dem  gesetzliehen 
Erbeu kann em Nacherben eingesetz werden”. Poder­se­ia sustentar que houve, aí, instituição tácita dos legítimos; 
mas  sem  razão  (Tu.  KIPP, Lehrbuch. des  Biirgerliehen Reehts, II,  3, 306;  contra,  E.  LEONHARD,  em  GEORO 
EROMMIIoLD, Kommentar zum EGE., nota IV a, ao § 2.100). 

12.NATUREZA  DO  DIREITO  EXPECTATIVO  DO  FIDEICOMISSÁRIO.      fora  de  discussão  o  elemento 
germânico que se introduziu nas modernas formas de fideicomissos, principalmente nesse ponto delicado do direito 
expectativo  hereditário  do  segundo  instituído,  o  Erbenwartreoht  do  velho  direito  alemão.  Note­se  bem:  direito 
eventual,  e  não  expectativa.  Quem  diz  expectativa  com  a  velha  e  hoje  inadmissível  noção  de  expectativa, 
JOAQUIM AUGUSTO FERREIRA ALVES (Da Sucessão testamentária, Manual do Código Civil brasileiro, 359) 
não  diz  direito  subjetivo;  e  o  direito  do  fideicomissário  é  direito  subjetivo  (J.  TsCIIIERSCHKY,  Recht  des 
Naeherben, §§ 4 s.). 
Direito  hereditário  específico,  parecido,  porém  não  idêntico  aos  outros  direitos  eventuais  reais,  entendeu  E. 
ENDEMANN  (Lehrbuch  des  Burgerlichen  Rechts,  III,  881).  Alguns  escritores  recorreram  a  explicação  pela 
propriedade segundo a concepção alemã: um sobre proprietário, que tem a propriedade e usufruto, sem que possa 
alienar  ou  transmitir  o  bem,  e  o  sub­proprietário,  que  vela  pelo  seu  direito  e  espera  o  evento  (A.  HEUSLER,
Institutwnefl des deutsehen Privatreehts, II, § 87, 49). Mas teria poucas conseqüências práticas a construção e foi 
posta de lado. A mais moderna teoria é a do direito real do fideicomissário; é real o direito eventual dele. Assim, E. 
RITGEN em G. PLANCK (Búrgerliches Gesetzbuch, V, 272), 
F.HERZFELDELt (Erbrecht, J. v. Staudiflgers Komrnentar, V,  9·a ed., 515), A. TRIESING (Einige Bemerkungen 
úber das Rechtsverhãltnis zwischen  Vorerben u. Nacherben,  Archiv fiir die civilistische Praxis, 94, 262) e tantos 
outros. 
Há os que opõem a esses o caráter puramente hereditário, que tem o direito do fideicomissário. Mas verdade é que 
pode  ser  as  duas  coisas,  não  só direito  hereditário  específico,  patrimonial,  subjetivo  e dependente  de  resolução, 
como quer F. ENDEMANN (Lehrbueh. des Bhirgerlichen Ileehts, V, 385), e sim também hereditário real, segundo 
mais nos parece. A jurisprudência alemã é pelo caráter real desse direito (Resp., 26, 329) ; e temos dado, na prática, 
todas as conseqüências a essa concepção. 

13.FIDEICOMISSO E DIREITO REAL.  Provas de ser real o direito do fideicomissário: a) assegura­se realmente 
pela transcrição nos registros de bens (imóveis, apólices de dívida pública, ações de companhias, etc.) ; b) no caso 
de alienação ‘dos bens  fideicomitidos, dá­se a sub­rogação real; o) são ineficazes as alienações que o fiduciário 
não  poderia  fazer;  á)  ao  tempo  do  evento,  podem  ser  reivindicados  os  bens,  assim  como  nos  casos  da  letra  e). 
Direito subjetivo, positivo, real; a sua eventualidade só concerne à entrega dos bens. 
Não  é  simples  expectativa:  com  a  abertura  da  sucessão,  não  será  possível  revogá­lo,  ou  torná­lo  ineficaz,  ou 
infirmá­lo, 
as disposições testamentárias, que o criaram, se tornaram irrevogáveis; está assegurada, desde aí, a sua evolução 
até o pleno direito (“Entwicklung zum Vollrecht”, dizem juristas alemães), precisado o seu objeto, e previstos, de 
acordo  com  a  vontade do  testador, ou pelas  regras  dispositivas do  Código  Civil,  os  seus  riscos,  inclusive  (o que 
poderia  ser  invocado  contra  a  concepção  do  direto  subjetivo  real)  a  sua  inerdabilidade.  A  entrega  dos  bens,  a 
restituição, um dos efeitos do direito, pode não se dar (e.g., no caso do art. 1.738) ; mas um direito, para existir, 
não depende de se lhe seguirem, ou não, as conseqüências. Noutro dominio jurídico, há fenômeno que bem mostra 
isso. No direito internacional privado, quando a 
­alguém cabe certo direito, a que a situação dos bens ou o exame pela justiça de introdução impede, por invocação 
de ordem pública, todos ou alguns efeitos. Um direito existe por si, como direito, e não se existir a eteira dos seus 
efeitos. O direito do fiduciário, normalmente, é alienável, suscetível de hipoteca. 
Se  o  testador  e  o  fiduciário  morreram  no  mesmo  momento  tu  se  presumem  simultaneamente mortos  (art.  11), o 
nomeado por fideicomissário não o é e sim pleno herdeiro. Não houve o lapso indispensável à eventualidade do seu 
direito.  O  direito  brasileiro  não  limita,  no  tempo,  o  fideicomisso;  satisfaz­se  com  a  restrição  pelos  graus  (art. 
1.739). 

14.PASSAGEM NOS BENS FEICOMITIDOS.  O segundo momento dos fideicomissos é aqueles em que os bens 
passam ao fideicomissário. Em vez de titular do direito,  positivo, real, é certo, mas, em todo o caso, dependente, 
quanto à entrega, de acabar o direito do fiduciário,  torna­se ele o herdeiro pleno;  em vez de ter o direito do pós­ 
herdeiro passa a ter o pleno direito. Essa noção do pleno direito, em comparação com o direito eventual, é vulgar 
na  ciência  jurídica,  e  reflete­se  na  terminologia  das  duplas  instituições:  pós­herdeiro,  Nacherbe,  com  direito 
eventual, subjetivo, Wartrecht, e pleno herdeiro, Volierbe, com o direito pleno, Vollreeht. Voilerbe é o que recebe a 
herança  sem  pós­herdeiros,  nem  condições;  o  fiduciário,  no  dia  em  que  morre  o  fideicomissário,  cujo  direito 
acontece  ser  hereditariamente  intransmissível,  torna­se  Voilerbe,  como  o  fideicomissário  o  será  no  dia  em  que 
terminar o direito do fiduciario. 
É preciso que o fideicomissário, ao tempo da passagem, ainda viva?  Isto não é de direito cogente. Se o testador 
disse  “herdeiros  legítimos”,  compreende­se;  se  fêz  personalíssimo  o  fideicomisso,  também  se  compreende:  nos 
outros  casos,  não.  Para  os  últimos,  cumpre  distinguir:  a)  Fideicomissário  que  vivia  ao  tempo  da  abertura  da 
sucessão  e  já   não  vive,  sendo  herdável  o  direito  dele.  b)  Fideicomissário  que  vivia   ao  tempo  da  abertura  da 
sucessão e já  não vive, sendo inerdável o seu direito. e) Fideicomissário que já  não vivia ao tempo da morte do 
testador.  Nos  dois  últimos  casos,  cabe  a  regra;  no  primeiro,  não.  Atendidas  as  considerações  que  fizemos  sôbre 
fideicomissos  personalíssimos  e  não  personalíssimos,  o  que  decide  de  tudo  isto  é  a  interpretação.  Tanto  mais 
quanto  (caso  e),  em  vez  da  herdabilidade  do  direito  eventual,  questão  que  se  desenrola,  na  herança  do 
fideiconiissário,  a  respeito  da  natureza.  do  seu  direito,  pode  surgir,  e  não  raro  surge,  a  da  substituição  dele, 
problema que concerne, na herança do testador, ao teor da verba da segunda instituição. d) Sendo possível, como é, 
a substituição de pessoas nomeadas fideicomissários aos casos em que ainda n& vivem, a respeito delas não cabe a 
regra.  –  O  fideicomissário  pode  ser  prole  eventual  do  fiduciário,  ou  de  outrem.  Poder  ser  quem  apenas  está 
concebido. Não se pode, porém, generalizar a ponto de se dizer, como fêz a 43 Câmara Civil do Tribunal de Justiça 
de São Paulo, a 20 de novembro de 1947 (1?. dos T., 172, 119), que “não obsta ao fideicomisso a inexistencia do 
fideicomissário ao tempo da morte do testador, pois que êle deve já existir por ocasião da morte do fiduciário
15.FEIÇOMISSOS  PERSONALISSIMOS;  E  FIDEICOMISSOS  A  TERMO  E  HERDÁVEIS.    Quanto  ao 
conteúdo e aos efeitos, é de todo proveito distinguir duas espécies: 
a)Os fideicomissos personoissimos, cujo direito eventual é inerlúvel. a) Tal o caso dos fideicomissos condicionais, 
se  outra  coisa  não  dispôs  o  testador,  e dos  fideicomissos  a  termo de  morte  do fiduciário  (art. 1.788),  salvo  se  o 
contrário quis o testador. No direito brasileiro, devido à regra do art. 1.788, a. grande maioria dos fideicomissos é 
inerdavei.  Morto  o  fideicomissario  antes  do  fiduciário,  cai  o  fideicomisso,  e  a  propriedade  do  fiduciário  se 
consolida.  Não  é  mais  um  pré­herdeiro,  e  sim  um  pleno  herdeiro.  b>   Também  são  personalíssimos  os 
fideicomissos  a  termo,  quando  assim  os  queria  o  testador;  porque  o  art.  123  é  dispositivo,  e  não  inscogens.  Do 
conteúdo da verba é que se tira a herdabilidade, ou não, do direito do fideicomissário. Se nada disse, quanto a isto, 
o testador, então cumpre considerar herdável o direito, nos fideicomissos a termo, e inerdável, nos condicionais ou 
a  termo  de  morte  do  fiduciário.  Raciocínio  Osse  assaz  importante  para  o  ônus  de  prova:   a  quem  alega  a 
herdabilidade do fideicomisso condicional cabe fazer a prova disso; outrossim, se a termo de morte do fiduciário. 
Mas, em se tratando de fideicomisso a termo, o ônus toca a quem sustenta a inerdabilidade (cp. F. ENDEMANN, 
Lehrbneh des Búrgerlichen Rechis, III, 388 e nota 19). O fiduciário condicional ou a termo de morte invoca o art. 
1.730 e isto lhe basta para impor aos herdeiros do fideicomissário 
onus de provar; por seu lado, nos fideicomissos a termo, esses invocarão o art. 123. 
No direito austríaco, a Nov. III, de 1917, art. 59, que acrescentou urna alínea ao Código, art. 615, fêz herdável o 
direito de qualquer fideicomissário; quer dizer: os herdeiros dele, sucessores no direito eventual, receberão, mais 
tarde,  a  abertura  da  pós­herança,  os  bens  fideicomitidos,  se  o  fideicomissário  morrer  depois  do  testador  e  antes 
daquela abertura. A regra, que se introduziu, é ais positiva. MARCEL DE GALLAIX (La Ré! orme dii Coãc Civil 
autrichiefl, 85), incide em erro crendo interpretativa a regra jurídica. 
b)Os fideicomissos ndopersonaliS5iflWs  cujo direito eventual é herdável. Tal se dá quando a termo (art. 128) ou. 
nos  casos  de  fideicomissos  a  termo de morte do fiduciáriO,  e  nos  condicionais,  se  o  testador assim  o quis.  Se o 
fideicomissário morre antes do testador, os bens  vão, em pleno direito, ao fiduciário; salvo se há substituição, O 
que, na dúvida, nestes casos, se deve presumir. Se a morte do fideicomissário ocorrer após a abertura da sucessão, 
herdam o direito eventual os seus sucessores legítimos e testamentários. Entre a abertura da sucessão e a entrega 
dos bens, o direito do fideicomissário é alienável, empenhável e penhorável. 
No  caso de  fideicomissos  personalíssimos  a  alienabilidade,  a  empenhabilidade  e  a penhorabilidade  do direito  do 
fideicomissário dependem da construção da verba. Aqui, na dúvida, é inalienável. e não suscetível de se empenhar 
ou de ser penhorado. 

16.PRESSUPOSIÇÕES  ESSENCIAIS A CERTOS FIDEICOMISSOS. 
Se o testador disse:  “Deixo a meu filho A x cruzeiros em apólices, a meu filho E, x cruzeiros; pela morte de A, 
passarão  os  x  cruzeiros  em  apólices  a  C,  porque  A  não  tem  filhos”,  existe  aí,  querido  pelo  testador,  um 
fideicomisso. Se  nasce  um  filho  a  A, ou  se,  sem que o  testador  soubesse, existia,  o  juiz,  na  interpretação,  tem o 
papel oposto ao que teria no fideicomisso construtivo. Não criará figura; cortará, para melhor servir a vontade do 
testador, a construção que êle quis. Porque, como bem disse F. ENDEMANN (Lehrbuch des BúrgerUchen Rechts, 
III, 380), tem de ser riscada, no sentido ex voluntate, a instituição do fideicomissário. interessante ocorre ainda que, 
ainda depois de aberta a sucessãO, de construída como se fosse uma só instituição a verba testamentária,  se, antes 
da morte do filho, morre o neto, volta a valer a dupla sucessão: O, que estava afastado, adquire, desde a morte do 
testador, o direito eventual à sucessão em segundo lugar (ii. SALINGER, Die acherbfolge nach dem aGE., Archiv 
fir
Ejirgerliches Recht, 19, 149; EMIL STROHAL, Das deutsohe Erbrecht,  3a ed., § 27, IV). Êsse voltar à vida não é 
estranho ao querer do testador: está implícito na verba. 
O testador tem uma filha, de cujo casamento, com um fraco de espírito, não há prole. A verba diz: “morta minha 
filha, não quero que os bens que lhe deixo passem ao marido, imbecil, que é; irão aos sobrinhos”. O marido morre, 
recasa­se a mulher. Talvez lhe nasçam filhos. O juiz não pode cumprir a verba tal como foi construída antes. 
Quando se interpretar a verba de fideicomisso como se o testador só tivesse instituído o estranho para o caso de não 
ter  descendentes ou descendente  instituido  fiduciário,  a  construção  será  de  instituição  com  cláusula  resolutiva,  e 
não  suspensiva  (E.  LEONHÂRD,  em  GEORG  FROMMHOLD,  I<ommentar  zum  SOB.,  259;  OTTO 
WARNEYER, Kommentar, II, 1139). 

§ 5.834. Espécies de fideicomisso 

1.FIDEICOMISSO,  UNIVERSAL  E  PARTICULAR.    Diz­se  universei  o  fideicomisso  quando  se  dispõe  que  o 
fiduciário,  em  vida  ou  depois  da  morte,  restitua  a  herança  ou  legado  universal  ao  fideicomissário.  No  direito 
brasileiro,  pode  o  testador  dispor  de  toda  a  herança  em  legado  ou  legados.  São  possíveis,  portanto,  legados 
universais. Particular, quando se há de restituir coisa, ou parte da herança, ou o legado. O fideicomisso pode ser 
puro ou condicional. O que se concebeu a termo é puro. Necessariamente será a termo ou condicional, porque se
trata  de  duas  instituições,  uma  continuando  a  outra,  e  será  preciso  que  uma  acabe  para  que  a  outra  comece.  A 
simultaneidade,  a  existência  de  duas  instituições  sem  termo  ou  condição  resolutiva  de  uma,  seria  de  nua­ 
propriedade  e  usu  fruto,  ou  outra  figura  jurídica  (propriedade  e  uso,  propriedade  e  habitação,  etc.),  e  não 
fideicomisso. 

2.FIDEICOMISSOS ELETIVOS.  ~ Pode o testador instituir herdeiro ou nomear legatário, ordenando­lhe que, em 
vida  ou por  morte, passem  os bens  a  pessoa  da  família  que o  fiduciário  escolher?  No direito anterior,  havia  tais 
fideicomissos  (MANUEL  DE  ALMEIDA  E  SOUSA,  Notas  de  Uso  prático  e  criticas,  III,  435).  Não  vemos 
dificuldade em concebê­los juridicamente, no direito de hoje. A primeira instituição ou nomeação é perfeitamente 
válida quanto ao sujeito e quanto ao objeto. A segunda poderá enquadrar­se nos arts. 1.668, 1, ou 1.718, a cujos 
comentários  nos  reportamos,  O  art.  1.668,  1.  permite  que  se  disponha  a  favor  de  pessoa  incerta  que  deva  ser 
determinada por terceiro dentre duas ou mais pessoas pertencentes a uma família. “Deixo a A o prédio x”, dirá o 
testador,  “e  A,  daqui  a  dez  anos  (ou  por  testamento),  pagará  a  um  dos  filhos  de  E,  à  sua  escolha”.  Vale  a 
disposição: contém  verba do art. 1.788 combinado com o art. 1.668, 1. Poderá diminuir a liberdade de escolha  e 
acrescentar: “ao filho de E que, a seu critério, mais merecer”; ou, mais restrita a eleição, “ao que, pelos estudos, 
mais se tenha distinguido”. Se o testador dispôs que passaria “a um dos filhos de E, que A escolher, se E os tiver”, 
também vale: dá­se o fideicomisso associado ao art. 1.668, 1, e à figura do art. 1.718, cuja natureza já estudamos. 
O  fideicomisso  eletivo, para  valer,  não  precisa  ser  de  escolha  de  membros da  família;  pode  também  referir­se  a 
prole eventual de qualquer pessoa designada e existente ao abrir­se a sucessão (art. 1.718) ; a duas ou mais pessoas 
mencionadas pelo testador (art. 1.668, 1, pr.) ; a duas ou mais pessoas pertencentes a estabelecimento designado 
pelo testa dor (art. 1.668, 1, in fine) ;  a pobres. “Deixo o prédio  x a A, passando por morte dele aos pobres dos 
estabelecimentos (ou lugar) que A em testamento designar”. 

8.FIDEICOMISSOS CONSTRUTIVOS.  A vontade do testador é que pode fazer o fideicomisso. Porém, em certos 
casos, surge o fideicomisso construtivo. Neste, o intérprete da disposição testamentária lança mão da figura de um 
pré­herdeiro, ou de um pós­herdeiro, vale dizer, na linguagem da lei, de um fiduciário, ou de um fideicomissário, 
como beneficiário auxiliar, herdeiro prestimoso, que exsurge para a função da construtividade interpretativa. É o 
“Aushúlfeerbe”  de  E.  ENDEMANN  (Lehrbuch  des  Burgerlichen  Rechts,  III,  377).  Não  é  pré­sucessão,  ou  pós­ 
sucessão, sem ou  contra   a vontade do testador, porque, se a vontade dele faltou para o criar (talvez devido a sua 
ignorância  do  direito,  ou  a  confusão  de  sistemas  jurídicos,  vulgar  nos  estrangeiros  naturalizados),  existiu  para 
querer  o  resultado.  É  justamente  em  atenção  ao  fim  a  que  êle  quis  chegar  que  o  juiz  compõe,  com  os  dados 
volitivos que encontra, ou segundo a conveniência ditada, objetivamente, pelo fim querido, a figura indispensável à 
plena eficácia da verba. O art. 1.666 estaria sacrificado se tal caminho não tomasse o julgador. Se analisarmos o 
proceder a que aludimos, veremos que se fixaram os olhos no resultado querido pelo testador e encheu­se, com o 
elemento  jurídico  contido  nas  leis,  o  necessário  às  conseqüências  desejadas.  Procedeu­se  no interpretar  como  se 
quisesse  os  meios  alquile  indivíduo  que  quis  os  fins.  Na  espécie,  sendo  legais  esses  meios,  sendo  juridicamente 
possíveis e adequados ao resultado querido, a construção não incide na condenação do brocardo “os fins justificam 
os meios” (ex hypothesi, os meios são legais), nem incorre na censura de ser sem ou contra a  vontade do testador. 
Sem a vontade, ou contra vontade dele, seria quererem­se resultados diferentes, ou não se atender à disposição por 
se  ter  querido  o  fim  sem  se  ter  querido  o  meio. Diz  E.  ENDEMANN  (Lehrbuch  des  lihirgerlichen  .Rechts,  III, 
877). Se a sucessividade de herdeiros repugnaria ao testador e de modo nenhum pensou nela, então tudo muda: ou 
vale a instituição de herdeiro, ou legado, que se extrai das palavras, ou não vale e cessa o dever que aos juizes dá o 
art. 1.666. 
Vamos  aos  exemplos:  a)  “Deixo  100.000  cruzeiros  novos  a  E  aos  80  anos”.  Seria  uma  disposição  nula,  porque 
violaria o preceito que veda heranças sem herdeiros; se reputarmos nulo o termo suspensivo, está ferida a vontade 
do testador, que deve ter tido razões para querer e, com o quer que seja, quis que E só aos 30 anos recebesse. Mas 
há a regra de interpretação do art. 1.666: o juiz construirá como se o herdeiro legítimo ou testamentário, ou, talvez, 
o  testamenteiro,  fosse  o  fiduciário.  b)  “Deixo  a  E  até  a  sua  morte”.  Entre  a  violação  e  o  respeito  do  querer  do 
testador,  a  atitude  do  juiz  somente  pode  ser  a  de  salvar  a  verba  testamentária:  construi­la­á  como  se  o 
fideicomissário fosse o herdeiro legítimo ou testamentário. No primeiro caso, ergueu­se, auxiliarmente, o fiduciário 
construído; no segundo, o fideicomissário construído. 
Não cabe cogitar­se de fideicomissário construtivo quando, antes da abertura da sucessão, morrer o beneficiado até 
certo  tempo.  Nem  de  fiduciário,  quando  morreu,  antes  da  abertura  da  sucessão,  o  beneficiado  a  partir  de  certo 
tempo (cp. Orrn WARNEYER, Kommentar, II, 1188). 
Cumpre  notar  o  seguinte:  a)  na  construção  dos  fideicomissários  (“deixo  x  a  B  até  1940”,  verba  na  qual  E  é 
fiduciário, e  fideicomissários  os herdeiros legítimos),  a  Fazenda  não  é  herdeiro  legítimo, e,  se  não há  herdeiros, 
herda  E  o pleno  direito,  considerando­se  não  escrita  a  restrição;  b)  na  construção do  fiduciário:  “deixo  x  a  13  a 
partir do ano de 1980 ou se acontecer tal fato”, B é fideicomissário, e fiduciários os herdeiros legítimos, inclusive a 
Fazenda; porque, aqui, ficara  sem dono a herança, contra o propósito da lei (artigos
1.665 e 1.666). 
Claro  que  isso  tudo  só  ocorre  no  caso  de  nenhum  outro  elemento  interpretativo  que denuncie  qual  tenha  sido  a 
vontade do testador. Aí, a lei não coage, não exerce pressão, auxilia, ampara. Quase sempre há dados volitivos de 
que se induza ter sido indicado o testamenteiro ou algum outro legatário. 

§ 5.835. Situação jurídica dos figurantes 

1.SITUAÇÃO  JURÍDICA  DO  FIDUCIÁRIO.    A  posição  do  fiduciário  dimana  do  próprio  pensamento 
fundamental do instituto, que é receber o fiduciário a herança ou bem, usufrui­lo, até que, ao advento do termo ou 
condição, restitua ao fideicomissário a substância (TIl. KTPP, Lehrbuch des Bilrgenlichen Rechts, II, 8, 307). Daí a 
semelhança com o usufruto, porém mais acentuado o seu poder (“Longe maius consetur ius heredis gravati”, dizia 
o  Cardeal  J. 13.  DE  LixA,  “quam usufructuarii,  cum  ille  ínterim,  donec  fiat  casus  restitutionis,  dicitur  versus  ac 
perfectus  dominus,  quod  de  usufructuario  dici  non  potest”):  não  se  partiu  a  propriedade  em  nua­propriedade  e 
usufruto,  aquela  para  o  fideicomissário,  e  êsse  para  o  fiduciário;  todos  os  elementos  estão  com  o  fiduciário, 
temporalmente limitados. 
A resolutividade da propriedade do fiduciário não a faz inalienável; só o faria a vontade do testador. 
O fiduciário pode: a) Hipotecar, dar em anticrese, penhor, ou caução, os bens fideicomitidos. b) Aliená­los, se não 
houver proibição expressa, e) Locá­los, transferir a exploração deles. 
Claro que o testador pode gravar de restrições de poder  (cláusulas) os bens, quer no lapso da fiducialidade, quer ao 
tempo da entrega ao fideicomissário, quer o direito desse aos bens, quer todos os direitos de um e de outro tempo. 
Se o fiduciário aliena alguns bens do fideicomisso,as alienações subsistem; facultado ao fideicomissário, depois do 
advento  do  termo  ou  condição,  reivindicá­los  (MANUEL  DE  ALMEIDA  E  SOnSA,  Notas  de  Uso  prático  e 
críticas, III, 438). A opinião contrária de M. A. COELHO DA ROCHA (Instituições de Direito Civil português, § 
718) não pode subsistir perante os arts. 1.784 e 647, salvo nos fideicomissos anormais em que tal restrição existir, 
ex voluntate. Transcrita a verba que veda a alienação, os atos traslativos não permanecem. 
O  fiduciário  pode  transigir  nos  negócios  litigiosos  relativos  aos  bens  fideicomitidos;  mas  responde  segundo  os 
princípios. Se tiver de haver partilha entre êle e terceiro, dar­se­á o mesmo. A intimação aos fideicomissários para 
se representarem e intervirem põe o fiduciário a salvo de futuras reclamações. Se os fideicomissários são nascituros 
ou a serem concebidos, deve­se requerer que se lhes nomeie curador (Turim, 29 de dezembro de 1810). 

2.SITUAÇÃO  JURÍDICA  DO  FIDEICOMISSARIO.    Herdeiro do  testador,  tem  a  sua qualidade e  o  seu  direito 
desde  a  abertura  da  sucessão;  falta­lhe  a  entrega  dos  bens,  que  depende  do  têrmo  ou  da  condição.  Nos 
fideicomissos não personalíssimos, o fideicomissário pode alienar o seu direito. A despeito de longa discussão foi a 
isso que chegou a praxe alemã, contra a grande corrente da doutrina (PAUL MEYER, Das Erbrecht des 13GB., § 
45; F.  HERZFELDER,  Erbrecht,  J.  v. Staudingers  Kommcntar, V,  515; E.  KRETZSCHMAR,  Das  Erbrecht des 
deutschen 5GB., 2,a ed., § 85, 202 5.; F. LEONHARD, em GEORO FROMMHOLD, Kommentar zum 13GB., nota 
1, C, ao § 2.108). Vitorioso foi E. ENDEMANN (Lehrbuch des Biirgerlichen Rechts, III, 460) ; e com tôda a razão: 
trata­se de direito, e não de expectativa. Direito que tem seus riscos, mas direito. 
O fideicomisso, deixado a um dos cônjuges, e não recebido na constância da sociedade conjugal, não se comunica; 
porque a propriedade está com o fiduciário. 
O  direito  do  fideicomissário  é  suscetível  de  garantir, de  modo  real, dividas  (isto  é,  ser objeto de  direito  real de 
garantia),  e  de  ser  penhorado.  É  empenhável  e  penhorável  (E.  SCHLECELBERGELI,  Seu  fferts  Rldtter,  78,  1; 
OTTo WARNEmR, Kommentar, II, 1186; contra: DU CHESNE, Seufferts BlÉttter, 75, 235). 
Nada  obsta  a  que  se  inscreva  a  hipoteca  (arts.  831  s.)  dc  direito  do  fideicomissário  de  bens  imóveis  (OTTo 
WARNEYEE,  Kommentar,  II,  1186)  :  se,  nos  casos  de  não  hereditariedade  do  direito  do  fideicomissário,  êsse 
morre, perece o objeto da garantia real. O direito do fideicomissário não é desmembrado da propriedade, como o 
uso, a habitação, o usufruto; é um direito positivo, que dá ao fideicomissário todos os atos e os direitos relativos ao 
registo de imóveis ou as medidas concernentes ao acautelamento dos móveis. A transcrição, que se faz, deve conter 
tôda a verba; se essa é suscetível de várias interpretações e já se deu alguma, que tenha passado em julgado, devem 
ser transcritas a verba e a interpretação dada. 

8.O FIDEICOMISSO QUANTO Às RELAÇÕES ENTRE OS DOIS HERDEIROS SUCESSIVOS.  Quase todo o 
problema  do  fideicomisso  se  resume  no  saber­se  qual  a  situação  jurídica  entre  o  fiduciário  e  o  fideicomissário 
durante  a  duração  da  fiduciariedade.  A  lei  procurou  a  linha  intermédia  (E.  ENDEMANN,  Lehrbuch  des 
Búrgerlicken Rechts, III, ~893) e fêz a ambos herdeiros do testador. Nem o fideicomissário é simples usufrutuário, 
uma de cujas consequências é não se lhe aplicar o art. 741, nem, tão­pouco, aquelas figuras, a que já nos referimos, 
do purus minister, do nudus minister, simples canal de transmissão dos bens, carreta subjetiva de herança alheia. 
Duas espécies principais de fiduciários podem­se apontar: 
a)O normal, ou limitado, que é aquele que resulta da aplicação das regras dispositivas da lei (arts. 1.734­1.738):
propriedade  resolúvel  e  restrita  da  herança;  obrigação  de  proceder  a  inventário  dos  bens  fideicomitidos;  pleno 
direito, se o fideicomissário recusa a herança ou legado; consolidação da propriedade no caso de o fideicomissário 
morrer antes do · fiduciário, quando fideicomisso a têrmo de morte do fiduciário ou condicional. 
Também o fiduciário limitado ou normal é verdadeiro herdeiro e senhor da herança. A êle vão os bens ipso jure, 
como a qualquer outro herdeiro (art. 1.572). Tem saisina. Pode ter encargos a cumprir, como qualquer herdeiro. Se 
há co­herdeiros nas circunstâncias dos arts. 1.710­1.712, recebe por acrescimento. A quota, a que se refere o art. 
1.715, fica com êle, nos casos em que ficaria com qualquer outro herdeiro. 
Como quer que seja, a posse fica com o fiduciário. Tocam­lhe os direitos e os deveres resultantes da usufruição dos 
bens  sujeitos  ao  fideicomisso.  Quanto  a  dividas  da  herança,  a   situação  dêle  é  igual  a  dos  herdeiros  com direito 
pleno. 
Será  herdeiro  de  direito  pleno:  a)  se  o  fideicomissário  é  incapaz  ou  morreu  antes  do  testador;  b)  se  o 
fideicomissário recusa a herança (art. 1.785) ou é julgado indigno; o) se, nos casos do art. 1.738, o fideicomissário 
morre depois do testador e antes dêle; d) se prescrever o direito hereditário do fideicomissário. Tudo isso quanto ao 
fiduciário normal. Porém os arts. 1.734­1.788 são dispositivos, donde a possibilidade de variantes sutis da figura. 
Cada artigo, mediante contrária ou diferente vontade do testador, concorre para essa multiplicidade de tipos, para 
os quais, na prática, é preciso todo o cuidado dos interessados, advogados e juizes. 
Quanto a fruição da propriedade fideicomitida, por ser herdeiro limitado e não pleno herdeiro, deve o fiduciário tê­ 
la como própria, usá­la e frui­la, mas sem lhe prejudicar a substância. Nesse ponto, a sua situação é quase idêntica 
à do usufrutuário, à de quem quer que usasse e fruisse bem alheio 
(E.ENDEMANN, Lehrbuch des Bítrgerlichen Redita, V, 896>. É preciso reter a seguinte regra: quando se constrói 
um  fiduciário,  deve­se  construir  o  mais  próximo  possível  do  tipo  formal.  (E.  ENDEMÂNN,  Lehrbuoh  dos 
Bilrgerlichen Rechis, III, 445, entende que se há de obedecer ao normal; mas raríssimos são os casos  no que êle 
não advertiu  de construção que possa atender ao tipo rígido. Donde termos formulado a regra como de máxima 
aproximação possível, e não adoção mecânica do exemplar oriundo dos artigos dispositiVos da lei.) 
b)O  fiduciário  anormal.  O  Código  Civil,  nos  arts.  1.784­  1.738,formulou  regras  jurídicas  dispositivas.  A  figura 
jurídica resultante constitui o tipo normal. São regras que entram onde não há vontade do testador. Evitam o vazio: 
dispõem. Se o testador diz a mesma coisa continua a ser normal a figura. Se quer o contrário, ou não quer a mesma 
coisa,  já  os  artigos  1.734­1.788, que  não  são  ius cogens,  não  podem  ser  aplicados.  Dá­se,  então,  a  fiducialidade 
anormal, quer se tenha alterado o fiduciário­modêlo, quer o fideicomissário­modêlo. 
Os alemães  falam de “befreiter Vorerbe” e W. HOTHORN dedicou­lhe interessante estudo. Uma vez que se não 
ajustam  vontade  do  testador  e  preceitos da  lei,  para  se  conhecer  a  “concreta  figura”,  será preciso  saber  o  que  o 
testador quis  e  o que, dos  artigos do  Código,  se  lhe  aplica.  Há  fideicomissos  em que  as  regras  legais  são, quase 
tôdas, se não afastadas, atenuadas, corrigidas. Em quanto o fiduciário normal é um só, podem ser assaz diferentes, 
entre  si,  os  anormais.  Na  Alemanha,  o  caso  típico  é  o  Berliner  Testament.  As  alterações  mais  notáveis  são  as 
relativas ao reforçamento dos podêres de administração, fruição e disposição pelo fiduciário, e as concernentes  à 
atenuação dos podêres jurídicos. 

4.VARIANTES FIDEICOMISSARIAS.  Admitido o fideicomisso anômalo, devemos exemplificar as variantes de 
que  ésuscetível  a  figura,  desde  a  simples  alteração  no  modo  de  restituir  até  o  fideicommissum  eius  quod 
superfuturum erit. 
a)Ao fiduciário  pode permitir  o  testador: a) que restitua,  não  a  coisa,  ou  a  herança,  mas  o  valor  da coisa, ou da 
herança;  b)  que  restitua  em  prestações,  que  o  testamento  dirá  em  que  tempo,  ainda  vagamente,  ou  a  razoável 
critério  do  fiduciário, ou  do  fideicomissário, ou  do  testamenteiro.  Os  dois  casos (a   e  b  devem  ser  transcritos  no 
registo dos bens, porque é de grande importância para terceiros; c) que opte entre a entrega dos bens herdados, ou 
outro, que seja do fiduciário, ou êle adquira; d) que não preste a caução do art. 1.734, parágrafo único; e) que os 
títulos ou valôres fideicomitidos sejam depositados em banco, ou convertidos à escolha do fiduciário, dispensada a 
caução;  f)  que  o  fiduciário  possa  sub­­rogar  o  valor   (supõe­se  fixado)  por  determinados  títulos,  sem  se  ouvir  o 
fideicomissário; g) que só restitua o que restar dos bens. 
b)Pode  o  testador  exigir   ao  fiduciário:  a)  que  destine  parte  das  rendas  à  conservação  dos  bens  ou  à  reserva  de 
desvalorização; b) que os títulos ou valores sejam depositados em estabelecimento escolhido pelo fideicomissário, 
pelo testamenteiro ou pelo juiz; e) não que êle submeta a sua administração ao controle do fideicomissário, ou à 
sua aprovação periódica, mas que, nas aplicações relativas à  substância (benfeitorias com o capital, restaurações, 
demolições de paredes internas, mudança de destino da coisa), ouça o fideicomissário. 
c)Não é possível: a) Tirar a posse e a fruição ao fiduciário e dá­la ao fideicomissário (F. ENDEMANN, Lehrbuch 
des Biirgerlichen Rechts, III, 449) ; mas, se o testador nomear administrador aos bens do fiduciário, por exemplo: 
devido  a  tratar­se  de  pessoa  incapaz,  vale  a  nomeação  (arts.  411,  parágrafo  único,  e  453),  ainda  que  seja  o 
fideicomissário. A nomeação de testamenteiro que administre o fideicomisso é sempre possível. b) Permitir que o 
fideicomissário  peça,  quando  entender,  a  herança,  ou  legado.  c)  Eximir  o  fiduciário  da  responsabilidade  pelos 
danos causados (se bem que possa permitir que só restitua o que restar da herança).
d)Além das variantes acima, são possíveis: a) as que tornem herdável o direito do fideicomissário condicional ou a 
termo  de  morte  do  fiduciário;  b)  as  que  tornem  inerdável  o.  direito  do  fideicomissário  a  termo;  o)  as  que  não 
permitirem  a  caducidade por  motivo de  recusa do  fideicomissário (artigo 1.785),  caso em que,  se  o  testador  não 
disse a quem iria, ou não houver conjunção, irá aos herdeiros legítimos; d) as que criarem substituição nos casos de 
premorte o fideicomissario, ou de indignidade; e) as que tirarem ao fideicomissário o direito ao que ao fiduciário 
acrescer. 

5.INTUITO  PRINCIPAL  DO  TESTADOR.    Matéria,  onde  a  vontade  do  testador  faz  lei,  muito  se  deve  apurar 
quanto à intenção dele no fideicomitir a herança ou parte dela. Um exemplo melhor dirá da importância do intuito: 
“Deixo o prédio da rua x para que se sustente o meu amigo A, enfermo. no Hospital x;  e quando êle morrer, passe 
ao meu filho B”. Está­se a ver que o testador quis apenas prover à mantença de A, pessoa estranha. Se B premorre, 
deixando filho, nada justifica que o prédio vá aos herdeiros de A, quando A morrer. Os netos do testador, filhos de 
E, é que devem recolhê­lo. O art. 1.738 foi afastado pelo intuito do testador. 
Diante das considerações que acima fizemos, cumpre distinguir: 
a)Fideicomisso de instituições psicologicamente idênticas: o testador tem o mesmo interesse em instituir a A e a E, 
de modo que não há qualquer principalidade da verba da primeira ou da segunda instituição. 
b)Fideicomisso de fideicomissário principal: o testador somente quis que o fiduciário acautelasse, até certo tempo, 
a herança;  herdeiro êle é, mas desempenha o papel de protetor do patrimônio a ser entregue, podendo o testador 
limitar os seus direitos de dispor e de usufruir. Acontece fazer­se quando o fideicomissário é pessoa dissipada ou 
de pouca idade (F. ENDEMANN, Lehrbuch eles Bilrgerlichen Rechts, III, 874). 
c)Fideicomisso de fiduciário principal: o testador quis beneficiar a A, fiduciário, e só quando A morrer é que os 
bens irão a E. Entram nesta categoria, salvo casos excepcionais, os fideicomissos eletivos, em que ao fiduciário se 
confere a escolha do fideicomissário dentre certo grupo de pessoas. 
d)Fideicomisso  de  fiduciário principal  mas  personalissimo,  não personalíssimo o  fideicomissário. Tal  o  exemplo 
que demos no começo. 
e)Fideicomisso com fidúcia: no qual o testador deixa a fé, a lealdade do fiduciário, o segredo da designação. Rege­ 
se, nesta parte, pelos princípios da fidúcia. 
A lei brasileira deu certa unidade ao conceito, de modo que, em qualquer dos casos acima referidos, o instituido é 
verdadeiro herdeiro, como também o fideicomissário. Só em casos de fidúcia sem possível coação­proteção, é que 
a segunda ir.instituícão não terá efeitos jurídicos e tocará ao domínio moral. Aliás, vejo­lhe, salvo nulidade (o que é 
outra  questão),  todos  os  caracteres  da  obrigação  natural,  impedindo  a  repetição  por  pagamento  indevido.  Mas  a 
unicidade  conceptual  da  lei  não  obsta,  por  força  de  serem  dispositivos  os  arts.  1.734­1.788,  a  que  o  disponente 
limite  os  podêres  e  direitos  do  fiduciário.  limitação  que  pode  confinar  com  a  da  função  da  testamentaria,  ou 
acentuar­se, até chegar a reduzi­lo a simples testamenteiro 
ou  administrador  temporário  do  patrimônio.  Já  então  terá  escapado  à  categoria  do  fideicomisso:  “deixo  a  E  os 
prédios ~ e g, que até os seus 21 anos serão administrados por A, que fará seus os alugueres do prédio x e com os 
do outro pagará o colégio de E e conservará os dois prédios”. Mas, se disse “deixo a A até 1980, quando passará a 
E, não podendo ser alienado, gravado de dívida ou penhorado o dito prédio, inclusive a metade das rendas, pois que 
a  destino  à  conservação”,  há  fideicomisso  de  fideicomissário  principal,  no  qual  se  reforça  a  segurança  do 
fideicomissário  (F. ENDEMANN,  Lehrbuch  eles Biirgerlichen  Reehts,  III,  375, que lhe  chama  de  “pré­herdeiro 
usual e limitado”), figura assaz encontrada no Brasil. 
Na diminuição dos poderes do fiduciário, o testador poderá ir até o ponto de só lhe deixar a qualidade de herdeiro 
ou legatário com a propriedade e a posse. Quanto a êle, as cláusulas do art. 1.723 são perfeitamente possíveis, e 
ainda  nutras  o  são,  porque  se  trata  de  herdeiro  testamentário.  As  cláusulas  existentes  em  direito  só precisam  de 
permissão especial quando aplicadas a quinhões necessários, de regra inatingiveis pelo querer do testador. 

6.CLÁUSULAS  RELATIVAS  AO  FIDEICOMISSO.    Quem  diz  fideicomisso  diz  sucessividade  de  herdeiros:  a 
noção desenvolve­se na dimensão do tempo, são dois pedaços de tempo justapostos;  sucessivos, porque, no tempo 
vulgar, toda justa­posição é sucessiva. Quando um acaba, começa o outro; a qualidade de herdeiro é que começa, 
para ambos, do dia da abertura da sucessão. 
É elemento essencial ao conceito o “limite de tempo”. Direito do fiduciário infinito no tempo, ou indeterminável, 
seria em contradição não a idéia de fideicomisso. Direito infinito no tempo seria pleno direito. E o fiduciário é um 
pré­herdeiro; não um pleno herdeiro. 
Uma vez que o direito brasileiro não admite mais de um pré­herdeiro ou grupo de pré­herdeiros e mais de um pós­ 
herdeiro  ou  grupo  de  pós­herdeiros,  só  temos  de  cogitar  de  um  ~‘limite  de  tempo”,  que  se  opõe  ao  direito  do 
fiduciário ou grupo de fiduciários. 
a)Se,  após  a  abertura  da  sucessão,  decorrem  30  anos  sem  que  apareça  o  fideicomissário,  o  fiduciário  adquire  o 
pleno 
direito  sôbre  os  bens.  Isto  não  se  aplica  aos  casos  de  instituição  de  prole  de  determinada  pessoa  (art.  1.718)  ;
porque a prescrição não corre contra o não vivo. Somente com a morte daquela cuja prole se beneficiou é que o 
fiduciário terá consolidada a sua propriedade Deixado o bem em fideicomisso a uma sociedade que ainda não tem 
personalidade  jurídica,  se  transcorrer o  prazo de trinta  anos  sem  que  a  adquira,  será  do  fiduciário  a  herança.  Os 
trinta anos, no Brasil, são os da prescrição ordinária e da aquisição sem título e de má fé; na Alemanha, trata­se de 
prazo especial fixado em lei. Mas, aqui e lá, deparam­se­nos questões curiosas: a) Se o testador disse os meus bens 
vão  a  A;  tuas,  se  êle  viver  85  anos  após  a  minha  morte,  os  bens  passarão  a  E”.  b)  “Deixo  a  A  os  meus  bens; 
passados 40 anos, com eles se fundará o Hospital X” . Não é possível, já, invocação dos 80 anos. 
b)Instituído  a  termo  de  morte  do  fiduciário,  reputa­se  personalíssimo,  se  outra  coisa  não  dispuser  o  testador; 
instituído  a  termo de  número de  anos,  entende­se  não  personalíssímo.  A  termo,  sendo o  fiduciário  pessoa  física, 
quando,  apreciado  segundo  as  circunstâncias,  exceder  o  tempo  que  poderia  viver  o  fiduciário,  entende­se  não 
personalíssimo quanto ao fiduciário, herdável o direito desse. 
c)O fideicomisso em que é fiduciário pessoa jurídica pode ser relativo à vida desta; se bem que, se usufruto fosse, 
não pudesse exceder de 100 anos (art. 741, que não se aplica aos fideicomissos). 

7.FORMA DOS FIDEICOMISSOS. ‘ Não há fórmulas para. que delas se induza tratar­se de fideicomisso, ou não, 
ou de fideicomisso, universal, particular, sob condição, ou a termo; bastam quaisquer elementos que demonstrem a 
vontade do testador. O que é necessário é que constem do testamento. As regras de interpretação que estudamos 
sob o art. 1.666 são ­lhes inteiramente aplicáveis. 

8.CONDIÇÃO  E  “MODIJS”  Ao  FIDEIGOMISSÁRIO.    A  instituição  do  fideicomissário  pode  ser  sujeita  a 
condição. “Deixo os meus bens a A, que passarão por sua morte a E, se êsse  não tiver  herdado por outro título” 
(OTTO  WARNEYER,  Kommcntar,.  II,  1135).  “Deixo  a  A,  passando,  por  sua  morte,  a  E,  se  estiver  casada”. 
Fideicomisso a termo, com a condição guanto ao fideicomissário. 
Assim ao fideicomissário como ao fiduciário pode o testador impor modus ou recomendações. 

9.BEM  FEICOMITIDO.   A  instituição  do  fideicomissário  pode  ser para  toda  a  herança,  parte  dela,  ou bem que 
nela exista. Nada impede que ao herdeiro ou legatário imponha o testador o fideicomisso de coisa pertencente ao 
herdeiro ou legatário (art. 1.679), e valerá em parte, se só em parte pertencer ao onerado (art. 1.680). 
Na dúvida, o  fideicomisso  é  de  toda  a  herança  recebida pelo  fiduciário,  inclusive  daquilo que  lhe  acrescer  (arts. 
1.710 e 1.712, 1.714 e 1.716) do que ficar, na qualidade de herdeiro ou legatário, no caso do art. 1.715, ou for ao 
herdeiro em virtude da sucesstío legitima   (arts. 1.678, 1.574 e 1.718) ou da sucessão testamentária especifica  do 
art. 1.726. Tal a lição de TH. Kn’r (Lehrbuch eles Bitrgerliehen Rechts, II, 8, 808). 
É possível o fideicomisso: a) de títulos de crédito, ainda ao portador, devendo ser depositado, ou não (quando não 
for exigível o depósito, é obrigado à caução o fiduciário, salvo ressalva do testador); ti) de dinheiro; e) de usufruto 
(“usufruirá  A  até  1980,  depois  E”;  ou  “A  até  a  morte,  depois  E”)  el)  de  bens  futuros;  e)  de  rendas  a  serem 
capitalizadas (“com os rendimentos constituir­se­á o patrimônio x, de que será fiduciário A e fideicomissário E”: A 
receberá as rendas das rendas) ; f) de divida do terceiro ou do fideicomissário; g) de divida do fiduciário. 
~ Pode haver fideicomisso só de usufruto? Contra isso, TEIXEIRA D’ABREU (Das substituições fideicomissárias, 
79 s.> e LOPES PRAÇA (Lições litografadas de Direito civil, 216) ; a favor, invocando o revogado Código Civil 
português, JOSÉ TAVARES (Sucessões, 1, 468 s.) : “‘o objeto dos fideicomissos, segundo a disposição expressa 
do art. 1.866, é a herança ou o legado; e tanto a herança como o legado podem ser deixados em propriedade plena, 
ou só em usufruto, ou só em propriedade”. Adiante, acrescenta: “se o testador deixa um legado de usufruto, com a 
disposição  de  que, por  morte do  usufrutuário, o  usufruto passará  para  outra pessoa, que  não  seja  o proprietário, 
temos  aqui  uma  verdadeira  substituição  fideicomissária  de  legado,  nos  termos  expressos  do  art. 1.866”.  Aliás,  a 
verdadeira  conciliação  que  se  adotou  foi  a  de  lê­los  como  se  dissessem:  O  usufruto  testamentário  vitalício  e 
sucessivo  é  vedado;  salvo  a  favor  de pessoas  existentes  ao  tempo  em que  se  torna  efetivo  o  direito do primeiro 
usufrutuário. Vedado, note­se bem, em Portugal, e não, como quis enxertar CLÓVIS BEVILÁQUA, flO Brasil. O 
interesse prático da questão, em portugal, seria o de conciliar os arts. 1.870, 2.199 e 2.250. No Brasil, fideicomisso 
de usufruto e usufrutos sucessivos dariam no mesmo? Se f ideicomisso de usufruto, o objeto da fidúcia (usufruto) 
obrigaria  a  tais  restrições,  que  ficaria  sem  sentido  a  diferença.  Fideicomissos  de  domínios  úteis,  compreende­se 
facilmente;  de  concessões  (com  caráter  real),  também.  Mas  de  usufruto,  de  uso  e  habitação,  seriam,  apenas, 
introdução  da  fides  nas  relações  entre  os  dois  usufrutuários,  obrigado  o  primeiro  a  inventariar  e  dar  caução  ao 
segundo (art. 1.784, parágrafo único), além do inventário, que faz, e da caução, que, como usufrutuário, presta ao 
proprietário dos bens. Tudo aconselha a evitar figura tão híbrida. 
No  Código  Civil  português  de 1966, os arts. 2.286­2.296  não  se  referem  a  domínio,  nem,  sequer,  a  propriedade 
estrito senso, de modo que o fideicomisso pode ser de qualquer bem. 

10.SITUAÇÃO  DO  FIDUCIÁRIO  NO  REGISTRO  DE  IMÓVEIS.  Se  normal  o  fideicomisso,  ao  fiduciário  os
bens pertencem, desde a  saisina (art. 1.572), e no registro deve transcrever­se  a  verba testamentária pela qual se 
saberá  da  restrição  e  da  resolutividade  da  propriedade  do  fiduciário  (art.  1.734).  Nas  relações  entre  êle  e  o 
fideicomissário,  é  sem  importância  o  registro;  porque,  à  morte  do  testador,  a  herança  vai  aos  herdeiros,  com  as 
restrições,  termos  e  condições  das  verbas  testamentárias.  A  transcrição  servirá  para  os  efeitos  concernentes  aos 
terceiros  de  boa  fé  ou  não;  de  modo  que  interessa  ao  fideicomissário  que  se  proceda  a  tal  formalidade  o  mais 
depressa possível. 
Nos fideicomissos anormais, também se deve, e  a fortiori, transcrever o fideicomisso. Aqui, tudo aconselha  a se 
firmar,  em breve,  a  fé  pública.  Particularmente o  fiduciário  pode  ter urgência  em  caracterizar,  de  público,  a  sua 
situação para com o fideicomissário; e êsse, nos casos de objeto fideicomitido 
não  certo  e  determinado,  mas  determinável,  precisará  Que  se  determine,  para  que  tal  determinação  possa  valer 
contra terceiros. 
Contra terceiros, valerá a alienação feita pelo fiduciário, se isso resultar da verba transcrita ou interpretação, que, 
com ela, se transcreveu. Alienado o bem, de acordo com o que consta dos livros fundiários, não poderá reivindicá­ 
lo, em tempo nenhum, o fideicomissário. No fideicomisso, há poderes maiores ou menores do fiduciário, e.g., se o 
testamento lhe  veda  contratos  de  aluguer  por  mais  de  5 anos;  nestes  casos,  o  terceiro pode opor  não  constar  do 
registro a restrição ao tipo normal. O fideicomissário terá ação contra o fiduciário, porém o contrato com o terceiro 
vale.  Muitas  vêzes,  será  exigência  o  consentimento  do  fideicomissário  para  alienações,  constituição  de  direitos 
reais  ou  locações  excedentes  de  certo  período.  Para  os  terceiros,  a  construção  jurídica  do  fideicomisso  é  a  que 
consta dos livros fundiários. 
O  fideicomissário  é  legitimado  para  requerer  a  transcrição  ou  as  retificações,  que  restaurem  a  verdade  do  seu 
direito; devendo fazê­lo ao juiz. Ordinàriamente, os atos que se registram são sinalagmáticos. Quando não o são, 
cumpre obviar  aos  inconvenientes,  provocando­se  a  audiência  dos  interessados  e  a  intervenção  do  juiz.  Para  os 
mesmos requerimentos é competente o Curador de testamentos. 
Se  o  fideicomissario  consentir  previamente  em  atos  que  ficam  a  seu  exame,  não  é  vedado,  acordados  os 
interessados>  transcrever­Se  também o seu  consentimento,  mediante  autorização  judicial.  Será  ato sinalagmático 
ao lado de teor testamentário. 

11.NULIDADE  E  EXTINÇÃO  Do  FIDEICOMISSO.    Realizada  a  condição,  ou  atingido  o  termo,  torna­se  o 
substituto herdeiro incondicional, e desde então a situação do fiduciário, saiba ou não dela, é a de um destor  de 
negócios (1?. ThOLt, em  GMtR,  Das Erbrecht, Kommentar zum schweizettflhefl Zivilgesetzbuek, III, 268, cp. A. 
SUTER, Pie Nacherbsehaft nach. dem sehiveizerisch«tt Zivilgesetzbuch, ias, contra Código Civil alemão, § 2.140). 
A instituição do fiduciário será sem efeito: a) se for nulo o testamento, ou a disposição respectiva; ti) se roto ou re 
vogado  o  testamento,  ou  se  revogada  ou  infirmada  (art.  1.747,  parágrafo  único)  a  disposição;  e)  se  o  fiduciário 
morrer antes do testador; á) se recusar a instituição; e) se for julgado indigno, caso em que será preciso indagar a 
quem  passam  os  bens  até  o  advento  do  termo  ou  condição,  salvo,  nos  casos  das  letras  e),  á)  e),  se  houver 
substituição vulgar do fiduciário. 
É nenhum ou se extingue o fideicomisso: a) se é incapaz o fideicomissário; b) se nulo o testamento ou a disposição 
de fideicomisso;  c) se roto ou revogado o testamento, ou revogada ou infirmada a disposição respectiva; á)  se o 
fideicomissário morre antes do testador ou do termo ou da condição; e) se o fideicomissário recusar o fideicomisso; 
f) se for julgado indigno, salvo, nos casos das letras á), e) e f), se Houver substituição vulgar do fideicomissário. 

12.SITUAÇÃO DO FIDUCIÁRIO, DEPOIS DE RESTITUÍDO O FIDEICOMISSO.  Desde o momento em que o 
fiduciário deve restituir o fideicomisso, e.g., realizada a condição para a passagem dos bens a fideicomissário, cessa 
a sua qualidade do herdeiro, se só disso lhe vinha: fíduciarius, restituta heredit ate, heres non manet. Não intervém 
na divisão dos bens entregues, nem nas despesas com a entrega, salvo se o testador dispôs diversamente. 
Se  o  fiduciário,  antes  do  advento  do  termo  ou  da  condição,  entrega  o  bem  ao  fideicomissário,  os  credores  dele 
podem usar da ação dos arts. 106­118, e pagar­se com os frutos até o termo ou condição. 

13.DESTINO  DOS  BENS  SE  ANTECIPADA  A  MORTE  DO  FIDUCIARIO.    Se  o  fiduciário  morre  antes  do 
testador  ou  da  condição  ou  termo,    pode  o  fideicomissário  pedir  a  herança?  Pôs  .  A.  COELHO  DA  ROCHA 
(Instituições  de  Direito  Civil  português,  § 719,  nota)  a questão,  mas  não  a  resolveu  e  só  citou  a  MANUEL  DE 
ALMEIDA E SOUSA (Notas de Uso prático e críticas, 1H, 887), que se inclinara à afirmativa. A questão precisa 
ser dividida e ampliadas as divisões: 
a) Morte antes do testador, incapacidade, renúncia da herança, indignidade do fiduciário, nulidade da instituição, 
revogação ou informação. 
b) Morte depois do testador e antes do termo ou com morte, incapacidade, renúncia ou indignidade do fiduciário, 
assim como a nulidade da disposição, revogação ou infirmação, deixam a figura sem o primeiro instituído. Tal é a 
regra.  Mas  pode  ocorrer  que  haja  substituição  vulgar  do  fiduciário:  “deixo  a  A,  se  B  não  quiser  ou  não  puder,
passando, em 1980, a O”. Tudo depende da verba testamentária e da sua interpretação. Os advogados principiantes 
logo  invocam  nulidade  de  tais  verbas,  crendo  que  se  trata  de  fideicomisso  proibido  <art.  1.789).  É  sempre 
permitido substituir; o art. 1.789 refere­se ao fideicomisso (arts. 1.788­1.788) e não às substituições (arts. 1.729­ 
1.782).  Nada obsta  a  que o  testador  substitua urna,  duas, ou  mais  pessoas,  ao  fiduciário, ou uma, duas, ou  mais 
pessoas,  ao  fideicomissário.  Com  isso  não  aumenta  o  grau  do  fideicomisso.  Continua  a  só  haver  o  1.~  grau  de 
institilção e o 2?; fiduciário; fideicomissário. Só a confusão entre os dois institutos pode levar a dúvidas quanto à 
possibilidade de prever o testador o caso de não querer ou poder o fiduciário receber a herança. 
Se  o  fideicomisso  não  é  associado  à  substituição,  se  não  constitui  elemento  de  uma  substituição  compendiosa, 
cumpre saber se o testador quis que desde logo fôsse entregue ao fideicomissário a herança ou legado. Do mesmo 
modo se houve recusa ou indignidade. 

15.DESTINO DOS BENS, NO CASO DE MORRER O FIDUCIARIO ANTES DO TERMO ‘OU CONDIÇÃO. 
Aqui, o fiduciário recolheu a herança e a mantém, mas, antes de dever entregá­la, morre. Jode o fideicomissário 
pedi­la?  preliminarmente,  se  o  testador  quis  que  só  aos  80  anos  se  entregasse  o  bem  ao  fideicomissario  ,  ou  se 
formar em direito, não se pode cogitar de entrega cuja condenação ressalta ex voluntate. Ou os bens ficarão com os 
herdeiros  do  fiduciário,  ou  com  o  testamenteiro;  só  o  testamento  poderá  decidir,  presumindo­se  que  o  testador 
tenha  querido  que  fique  com  os  herdeiros  do  fiduciário.  Se  o  termo  ou  condição  só  se  referia  ao  interesse  do 
fiduciário que, com a morte, desaparece, a situação é diferente: presume­se que O testador quis a passagem, desde 
logo, ao fideicomissário. Assim, se o testador disse: “A progride, para a sua melhora deixo­lhe o prédio em que tem 
a loja e, daqui a dez anos, entrega­lo­á a meu filho”,  morrendo A, antes dos dez anos> o filho tem direito a pedi­lo 
desde logo. 
Se  o  fideicomisso  é  associado  à  substituição do  fiduciário  a  favor  do  estranho, o  fideicomissário  não pode, pelo 
fato de ter falecido antes do testador o fiduciário, pedir, desde logo, os bens. Do mesmo modo se houve recusa, ou 
indignidade, ou incapacidade do instituído. 
O  fideicomisso,  em  que,  morto  o  fiduciário  antes  do  termo  ou  condição,  os  bens  ficam  com  o  herdeiro  do 
fiduciário, não constitui fideicomisso proibido, porque não há duas classes de fideicomissários (os três graus), mas 
uma  só classe, sendo hereditária a fidúcia. 

16.EXTINÇÃO  DA  FIDEICOMISSARIEDADE.    Alcançado  o  termo,  ou  realizada  a  condição,  a  herança  ou 
legado passa ao fideicomissário. Extingue­se o fideicomisso;  porque, a partir daquele instante, é pleno herdeiro o 
fideicomissário: o seu direito não está sujeito a qualquer eventualidade; efetivou­se a sua última conseqüência. No 
intervalo, os bens andaram fora, nas mãos do fiduciário, ou de alguém, em vez dele; voltam, ipso jure, no instante 
do termo ou da condição. Por isso pode reivindicá­los 
a) Contra o fiduciário, a sua ação é a de petição de herança  ou de reivindicação. O fiduciário, que era herdeiro e 
possuiu,  desde  aquele  instante  é  gestor  de  negócios,  e  tão­só.  A  ação  contra o  fiduciário  é  de  natureza  real,  rei 
vindicatio (Novela 108, c. 2; M. E. ECCIUS, Preussisches Privatrecht, IV, 7· ed., 625, nota 28). Na Alemanha, é 
pessoal, porque o Código Civil alemão não conhece rei vindicatio ou hereditatis petitio com o caráter real romano 
(cf.  W.  HOTHORN,  Rech,tsstellung  des  befreiten  Vorerbe,  215,  nota  1;  F.  ENDEMANN,  Lehrbuch  des 
Bilrgerlichen Rechis, III, 467). 
b)Contra terceiros, a ação é de reivindicação. (Contra o “possuidor da herança”, deve ser a de petição de herança.) 

§ 5.836. Propriedade e posse da herança ou legado 

1.ESPÉCIE DE PROPRIEDADE.  Diz o Código Civil, artigo 1.784: “O fiduciário tem a propriedade da herança ou 
legado,  mas  restrita  e  resolúvel”.  E  no  parágrafo  único:  “É  obrigado,  porém,  a  proceder  ao  inventário  dos  bens 
gravados, e, se lho exigir o fideicomissário, a prestar caução de restituilos”. 
O substituto põe­se no lugar que teria sido o do substituído. O substituído não foi nem é herdeiro ou legatário; o 
substituto,  sim.  Daí,  a  propriedade  da  expressão  “substituição”.  Há  herdeiro  ou  legatário,  que,  na  falta  de  quem 
poderia ter sido, se fêz tal. É o Ersatzerbe do direito alemão. Não se passa o mesmo com o fideicomisso, no qual 
fiduciário e fideicomissário, Nacherbe, herdeiro sucessivo, são herdeiros. Podem ser legatários. O que caracteriza a 
figura é a duplicidade de instituidos, sem qualquer substituição, em sentido próprio. O que os separa é o tempo, o 
que faz sucessivo o fideicomissário. 
No  fideicomisso,  há  dupla  vocação  testamentária,  sem  se  afastar  a  possível  pluralidade  de  fideicomissários 
(“nomeio  fiduciário E  fideicomissários  C  e  D”),  ou de  fiduciários  (“nomeio  fiduciários  E  e  C  e  fideicomissário 
D”), ou de fiduciários e de fideicomissários (“nomeio fiduciários E e C e fideicomissários D e E”). O que se veda é 
a sucessividade entre fideicomissários, porque isso faria o fideicomisso ser de grau proibido. 

2.O QUE É IMPERATIVO NO ART. 1.734.  O fideicomisso deriva da vontade expressa e completa do testador ou 
de regra dispositiva da lei que lhe complete o querer. O art. 1.734 é parcialmente dispositivo;  quer dizer, alguma
coisa, nele, pode dispensar o testador. Já vimos que a inalienabilidade dos bens 
juridicamente  possível  quanto  a  herdeiros  plenos    também  o  é  quanto  aos  fiduciários  e  fideicomissários:  são 
herdeiros, como os outros; apenas a incidência nos bens se divide em camadas de tempo (até x e a partir de x; até 
em quanto y não acontece e desde que ~ aconteça). Também as restrições de poder  consistentes em não hipotecar, 
impenhorabilidade, incomunicabilidade, livre administração pelo cônjuge são inteiramente permitidas ao testador. 
Restam os poderes de usar. fruir, e administrar. 

8. PODER DE ALIENAÇÃO.  O testador pode tirar ao fiduciário parte ou todo o poder de alienação, de hipoteca, 
nomear  testamenteiro  que  administre  os  bens  até  a  entrega  ao  fideicomissário.  O  que  se  não  pode  vedar  é  a 
utilidade  da  coisa  ou  da  herança,  porque  seria  fazê­lo  co­executor  testamentário,  quer  dizer  nudus  minister,  ou 
fiduciário não sucessor (nudus a oommodo, sed nou a titulo, ou fiduciário inteiramente nu, de cômodo e de título). 
A própria fruição, o próprio uso, podem ser restritos; eliminados, não, porque apagaria a figura jurídica. 
Se  o  entender  o  testador,  nomeará  testamenteiro  que  vele  pela  restituição  dos  bens  ao  fideicomissário,    solução 
assaz útil, quando êsse é incapaz, inimigo pessoal do fiduciário, ou prole eventual. No caso de ocorrer colisão de 
interesse entre o nomeado testamenteiro e o fideicomissário, como se aquele sucedeu ao fiduciário ou é o próprio 
fiduciário, pensam alguns que nula será a nomeação (cp. F. ENDEMANN, Lehrbuch des Bhirgerlichen Rechis, III, 
416), outros que não (KONRAD EELLWIG, Wesen und sub jektive Be.qrenzung der Rechtskraft, 229; DOEHL, 
Die grundbuchliche Verfiigungsmacht des befreiten Vorerben, Deutsoke ,Juristen­Zeitung, X, 906). A verdade está 
em  que:  a)  se  o  testador,  prevendo­o,  não  nomearia,  opera  a   cláusula  rebus  sie  stantibus;  b)  se  o  testador  não 
conhecia  o  laço  existente,  ou  a  identidade,  dá­se  o  erro;  o)  se  o  testador  conhecia  a  situação  já  existente  ou 
probabilissima, vale a nomeação. 
Existe a figura do> fideicomisso em quanto, no limitar os poderes do fiduciário, alguma parcela, de disposição lhe 
fica; disposição por si e para si. Se todos, subjetivamente, lhe foram tirados, houve herança ou legado de usufruto, 
e não de bens fideicomitidos. 
As restrições aos poderes de disposição do fiduciário nor ma/ ou anormal supõem a proteção e segurança do direito 
eventual do fideicomissário. Se nenhum dano poderia ter resultado a êsse, não há ineficácia do ato. Isso não quer 
dizer que o critério seja o da vantagem ou do prejuízo econômico, e sim que as categorias jurídicas permitidas ou 
não permitidas atendem ao critério da incolumidade do direito eventual do fideicomissário. A questão do dano é 
outra questão. O uso irregular do poder de dispor constitui ato ilícito. Permitida a disposição, irregular o exercício 
(art. 160, 1). Sôbre exercício irregular de direito, veja PONTES DE MIRANDA (Das Obrigações por atos ilícitos, 
1, 156 s.). O testador pode pré­excluir a alienabilidade do bem fideicomitido ou restringi­la (cf. 2.~ Câmara Civil 
do Tribunal  de  Justiça  de  São  Paulo,  26 de  novembro  de  1946,  R.  dos T.,  166,  278).  Se  o  bem  é  inalienável,  a 
alienação somente pode ser nas espécies previstas em lei e há, então, a sub­rogação real pela aplicação do preço, 
continuando os direitos do fiduciário. 
Tratando­se  de  alienação,  judicialmente,  de  bem  fideicomitido,  tem­se  de  entender  que,  seja  em  praça,  ou  em 
processo  de  desapropriação,  ou  qualquer  outro,  o  fideicomissário  tem  interesse  direto  e  imediato.  Tem  o  juiz  o 
dever de ordenar a citação. 
A cláusula de inalienabilidade pode recair no próprio bem que passe ao fideicomissário. O fideicomissário recebe 
diretamente do testador o direito, e não através do fiduciário. No direito brasileiro, a cláusula de inalienabilidade 
pode  ser  relativa  a  bem  que  advenha  ao  sucessor  de  herança  legitima,  ou  testamentária,  ou  de  legado.  É  erro 
afirmar­se  que  seria  clausulação  de  herança  de  outrem  (do  herdeiro,  ou  legatário)  :  o  fideicomissário  herda  do 
testador, e não do fiduciário. 
O que o fiduciário pode alienar, se não foi posta no testamento a cláusula de inalienabilidade, é a propriedade que 
lhe toca; portanto, até quando haja o seu direito. Se o testador, em vez de fazer inalienável a propriedade e a posse 
do fiduciário.  ou de lhe deixar apenas a disponibilidade até que se extinga a fidúcia, permite que o instituido aliene 
definitivamente, no todo, ou em parte, o que recebeu, não há fideicomisso. Se tal cláusula só se refere a algum bem 
ou  a  alguns  bens,  ou  a  frações,  só  o  que  não  é  definitivamente  disponível  pode  ser  tido  como  objeto  de 
fideicomisso.  Quanto  ao  que  é  definitivamente  alienável,  o  que  há  é  deixa  condicional,  conít  modus  a  favor  de 
alguém. 
Pelo  fato  de  ter  a  propriedade  e  a  posse  da  herança  ou  legado,  o  fiduciário  responde  como  proprietário  e  como 
possuidor  (impostos,  despesas  com  os  frutos  e  rendimentos,  obras  de  conservação,  ressarcimento  de  danos 
causados pelo imóvel ou danos que, com o uso ou fruição do imóvel ou de outro bem, ou com modificações ou 
falta de cuidado cause ao imóvel, ou a pessoas, ou a bens de outrem). 
Quanto às benfeitorias no bem fideicomitido, o que apenar foi conservativo entra no dever de conservação que tem 
o  fiduciário.  Quanto  às  despesas,  têm­se  de  distinguir  dos  gastos  ordinários  de  conservação,  que  incumbem  ao 
fiduciário,  os  gastos  extraordinários  de  conservação,  que  se  retiram  à  deixa,  ou  têm  de  ser  indenizados  pelo 
fideicomissário, dever de ressarcimento que se transmite aos herdeiros do fideicomissário. No tocante a inversões 
que não sejam gastos de conservação, regem os princípios concernentes à gestão de negócios alheios sem outorga.
O fideicomissário só tem de ressarcir se foram invertidos de acordo com sua vontade, mesmo se presumida, e em 
benefício  dos  seus  interesses,  ou  quando  o  fideicomissário  autorizou  as  despesas,  ou  quando  de  provada 
necessidade. Em todo o caso, fora dessas espécies, pode haver a ressarcibilidade por enriquecimento injusto. 
No que concerne às benfeitorias voluptuárias, pode o fiduciário retirá­las se disso não resultaria qualquer dano ao 
bem fideicomitido. E. g., colocou armários, ar condicionado, ou calefação. 
Quanto à duração do direito do fiduciário, ou ela consta! explicitamente, da cláusula testamentária, ou nada se disse 
no testamento. O mais freqüente é o termo de morte do fiduciário; daí, em caso de omissão do testador, ou em caso 
de  dúvida,  ter­se  de  entender  que  o  direito  do  fiduciário  persiste  até  a  morte  desse  (ULPIÁNO,  L.  5,  §  1,  D., 
quando dies legatorum veZ fideicommissorum cedat, 36, 2: “Itaque si purum legatum sit, ex die  mortis dies  eius 
cedit”).  Se  a  invalidade  somente  concerne  à  instituição  fideicomissária,  o  fiduciário  sucede  sem  o  gravame  da 
fidúcia. Se há substituição vulgar ou recíproca e invalidade é atinente apenas a um dos apontados, o outro ou os 
outros não ficam fora da disposição testamentária. 
Se  premorre  ao  testador  o  fiduciário,  o  fideicomissário  herda  sem  qualquer  gravame  de  fiduciariedade.  Não  há 
fiduciário.  O  direito  do  fideicomissário,  aí,  não  é  direito  expectativo.  Herda ou  recebe  o  legado,  como qualquer 
herdeiro ou legatário que não venha após qualquer sucessor de bem do testador. 
Quando cessa o fideicomisso, quer pela extinção normal, quer pela falta do fiduciário, ou do fideicomissário, tem­ 
se de requerer ao juiz a declaração da extinção, para que se dê baixa do vínculo, no registro que fora feito. 
No ato de alienação da propriedade e da posse do fiduciário há de constar referência ao gravame. O fideicomissário 
pode exigi­la, quer diretamente, quer perante a Justiça (Tribunal de Justiça do Ceará, 24 de fevereiro de 1947, 1?. 
F., 95, 186; 23 Câmara do Tribunal de Apelação do Rio de Janeiro, 28 de abril de 1939, 1?. dos T., 120, 609, e A. 
J., 50, 261: 
“Afora  a  caução,  a que  se  refere o parágrafo único do  artigo  1.734, que  assegura  a  restituição da coisa  gravada, 
posto  que  alienada  ou  sujeita  às  onerações  autorizadas  por  lei,  o  Código  Civil,  no  art.  121,  faculta  ao  titular  de 
direito eventual, em caso de condição suspensiva, o exercício de atos que se destinam a conservá­lo. Ao titular de 
direito  eventual  não  se  pode,  assim  retirar  o  emprego,  que  lhe  é  facultado  por  lei,  de  medidas  acautelatórias  e 
asseguradouras de seu futuro exercício”). 

4.DIREITOS DO FIDUCIÁRIO E DO FIDEICOMISSÁRIO. Quando se registra, no cartório de imóveis, a verba 
testametária,  já   fiduciário  e  fideicomissário  são  herdeiros.  O direito  deles  não  é  um direito  em  coisa  de  outrem, 
uma limitação real; cada um tem o seu sôbre a mesma coisa. Ambos são herdeiros da mesma  herança, legatários do 
mesmo legado: um até o dia tal, o outro daí em diante. 
5.Uso E FRUIÇÃO PELO FIDUCIÁRIO.  O fiduciário não é um nu­proprietário: tem o usus e o .fructus, usa e frui 
a  coisa  ou  herança;  nem  é  um  simples  usufrutuário~  usa  e  fruia  coisa,  e  é  dono  dela.  Propriedade  restrita  e 
resolúvel;  em  todo o  caso, propriedade.  Um  usufrutuário  não poderia,  nunca,alienar  o prédio:  seria  vender  coisa 
alheia. 
Não é essencial à figura e situação jurídica do fiduciário que se lhe atribua a administração dos bens fideicomitidos. 
Para  isto  pode o  testador  nomear quem  êle  quiser, o  testamenteiro ou outrem.  Os  únicos  herdeiros  a  que se  não 
pode tirar a administração são os necessários (art. 1.754). 

6.RESTRIÇõES  AO  USO  E  FRUIÇÃO  DO  FIDUCIÁRIO.    O  fiduciário  tem  de  restituir  a  coisa  ou  herança 
fideicomitida;  portanto,  não pode  ser  ilimitado,  nem  quanto  à substância   nem  quanto  ao tempo, o seu direito de 
dono da coisa ou herança. 
a)  Os  bens  imóveis  devem  ser  conservados  até  a  entrega.  É  o  fiduciário  proprietário  por  tempo:  não  pode  fazer 
hipoteca que leve à praça os bens e lhes reduza o valor  ou o elimine. Todos os seus direitos param onde começa o 
prejuízo  do  fideicomissário.  Por  isso  mesmo,  o  fiduciário  pode  constituir  usufruto  sôbre  o  bem  fideicomitido, 
entendendo­se que acaba quando acabar o direito do fideicomissário (F. ENDEMANN, Lelirbucli des Biirgerlichen 
Rechts, III, 406). 
b)  As  hipotecas  a  favor  da  herança  ou  legado  fideicomitido,  as  rendas  constituídas  sôbre  imóveis,  os  direitos  a 
favor dos imóveis constitutivos do fideicomisso, os créditos dos imóveis ou móveis da herança ou legado (direito a 
indenização, prêmios  de  exposição  ou  concurso)  pertencem  ao  capital,  ao  valor,  e  não  ao uso  e  fruição.  Não os 
pode fazer seus o fiduciário, no sentido de tirá­los da unidade econômico­jurídica do fideicomisso e vertê­los no 
seu patrimônio pleno. 
Mas, dono que é, pode saldar a dívida ativa hipotecária, que tem a herança, e requerer que se inscreva no seu nome 
(F. ENDEMANN, Lelirbucli des Búrgerlicheu Rechts, III, 407). O dinheiro sofrerá imediato efeito do principio de 
sub­rogação  e  o  juiz  ordenará  a­.  conversão  ou  o  emprego,  conforme  a  verba  ou  a  figura  oriunda  dos preceitos 
dispositivos. 
c) As disposições a título oneroso não podem menosprezar o direito eventual do fideicomissário: porém verdade é 
que  o  fiduciário,  dono,  pode  dispor,  e  não  só  usar   e  fruir.  Donde  o  problema  da  linha  divisória  entre  o  que  o
fiduciário pode e o que mIo pode fazer. Tudo êle pode, ‘desde que não fira o valor ou a substância da herança ou 
legado fideicomitido. Em princípio, se não há prejuízo para o fideicomissário, êle pode pedir que se sub­roguem os 
bens: aqui, a sub­rogação é normalmente mais fácil do que no caso dos bens clausulados de inalienabilidade, dos 
menores  (arts.  386  e  429),  ou  interditos,  e  a  exigência  da  praça  depende  da  lei  processual.  Aliter, se  há  diversa 
vontade do testador. Apura­se a vantagem, e atende­se ao interesse subjetivo do fiduciário, porque êsse é dono. Há 
disposição a título oneroso sempre que a contraprestação é econômica e juridicamente equivalente ao bem ou bens 
fideicomitidos. Na venda real, se o preço se torna impossível, não se apaga a onerosidade. 

d) Todas as disposições a título gratuito são­lhe vedadas; exceto ao fideicomissário. Ainda assim, se há substituição 
ao  fiduciário,  ou  se  o  testador  quis  que  não  se  antecipasse  a  entrega,  a  disposição  a  título  gratuito  ao 
fideicomissário não pode ter efeitos violadores do que se assentou ex voluntate. 
Os contratos condicionais e causais não são excluidos do número dos negócios a título oneroso, se a condição ou 
causa toca a ambas as prestações (PAUL OERTMANN, Entgeltliche Geschãfte, Abli. zum Privatrecht und Prozess, 
23,  16;  ERNA  VON  LANGSDORFF,  Mitgift, 56).  Claro  que  não  se  refere  a  isso  a  causa  donandi,  e quanto  às 
outras  causas  toda  afirmativa  a  priori  não  se  justifica. t  preciso  ter sempre  em  vista  que  a onerosidade  se  há  de 
apreciar  concretamente,  em  relação  ao  interesse  do  fideicomissário  e  do  seu  direito  eventual.  Lição  de  F. 
ENDEMANN (Lehrbuch des Búrgerlichen Rechts, III. 410) : “Ob eine Verfiigung unentgeltlich sei, ist nicht bloss 
und  nicht  vorwiegend  von  ihrer  rechtsgeschãftlichen  Grundlage,  aIs  vielmehr  von  ihrer  Einwirkung  auf  dem 
Nachlass und mithin vom Standpunkte des Nacherben und seines Wartreelites nus zu beurteilen”. Por isto mesmo 
não  há ofensa aos direitos do fideicomissário na  doação de uso, habitação, ou usufruto, até expirado o termo ou 
realizada a condição resolutiva do direito do fiduciário, nem no dote até então, questões antes assaz controvertidas 
nos altos centros do pensamento jurídico. A apreciação tem de ser especifica. 
A alienação gratuita definitiva ao fideicomissário, se não há vedação ou obstáculo ex volunt ate, ou a terceiro, com 
o  consentimento  do  fideicomissário  (se  alienável  o  seu  direito  eventual),  pode  dar­se  (MAx  HACHENEURG, 
Zeitschrift des deutschen Notarvereins, VI, 321, nota 14). Na dúvida, entende­se dentro das possibilidades jurídicas 
de alienações; porque o fiduciário é dono.  Outrossim, para a onerosidade, não é preciso que o próprio fiduciário 
receba,  nem  o  fideicomissário  (cp.W.HOTHORN,  Rechtsstellung  des  befreiten  Vorerbe,  90).  No  contrato  de 
reedificação  de  prédio  pelo  locatário  em  que  a  entrega  só  se  há  de  operar  50  anos  depois  (constituição  de 
propriedade  resolutiva,  arts.  647  e  648;  ou  simples  obrigação  de  locação  por  50  anos),  ainda  que  não  se  possa 
esperar a entrega  ao fiduciário ou ao fideicomissário, pode ser onerosa a causa e equivalente a contraprestação à 
prestação. 
e)  Os  títulos  ao  portador  podem  ser  facilmente  alienados  e  daí  deverem  ser  acautelados.  Ou  o  fiduciário  os 
deposita, e recebe as rendas, ou separa, a cada mês, ou período, os cupões de juros; ou dá caução de os restituir; ou 
pede  a  conversão  deles.  Normalmente, a  alternativa  depende dele.  As  restrições  derivam  da  construção da  verba 
testamentária. Não importa a natureza dos títulos ao portador, de que se trata; e não cabe a distinção, que procura 
fazer  a  doutrina  alemã,  a  propósito  dos  títulos  ao  portador  de  legitimação  (W.  HOTHORN,  Rechtsstellung  des 
befreiten Vorerbe, 184, aliás contra Protolcoile, V, 109). Em todo o caso, se a natureza deles é tal que a cautela 
perante  o  emissor,  judicialmente  tomada,  baste,  o  fiduciário  não  precisa  ser  obrigado  a  caucionar  ou  depositar. 
Seria inútil a exigência. 
Opinião interessante,  a propósito de sub­rogação dos bens  fideicomitidos, é a de A. SUTER (Die  Nacherbschaft 
nacli dem  schweizerischen  Zivilgesetzbuch, 147  s.).  Para  êle,  em  lugar  de  critério  objetivo  “se  com  os  meios  da 
herança o fiduciário adquiriu”, cabe o subjetivo “se, ao praticar o ato jurídico, o fiduciário converteu o patrimônio 
fideicomitido  ou  o  próprio”.  Exemplo:  se  o  fiduciário  comprou  o  prédio  com  o  dinheiro  próprio  para  o 
fideicomisso dá­se a sub­rogação. Condena 
A.ESCHER  (Das  Erbrecht,  Kommentar  zum  schweizerischen  Zivilgesetzbuch, 1H, 70),  tal  extensão do princípio. 
Mas parece­nos que os efeitos sub­rogatórios, se o fiduciário não lesava, com isso, terceiros, se operam desde que 
tenha  havido  diminuição  do  valor  fideicomitido,  pelo  qual  tenha  de  responder  o  fiduciário  ou  seus  herdeiros.  O 
defeito da opinião de A.SUTER não está nas suas conseqüências, pelo menos em algumas, e sim na premissa de se 
empregar  critério  subjetivo,  em  vez  de  objetivo.  O  que  se  dá  é  a  possibilidade  de  adquirir  com  meios,  que  não 
foram  tirados  da  herança,  porém  que  o  fiduciário  destinou  à  reposição  de  valores  dela.  Êsse  poder  não  é 
incompossível, antes assaz se ajusta à figura da fidúcia. 

7.EFICÁCIA  E  INEFICÁCIA  DOS  ATOS  DO  FIDUCIÁRIO.    São  eficazes  todos  os  negócios  feitos  pelo 
fiduciário  e  relativos  ao  seu  poder  de  disposição.  Constituem  obrigações  do  fiduciário,  e  não  da  herança 
fideicomitida  (F.  LEONHARD,  em  GEORO  FROMMHOLD,  Kommentar  zum  11GB.,  2~a  ed.,  266,  II).  A 
execução, em virtude de tais contratos, feita em bens do fideicomisso, não pode ter conseqüências além do termo 
ou condição. Atingido êsse, ou realizada aquela, as conseqüências são nenhumas. 
Valem os atos exorbitantes do fiduciário: a) se o fideicomissário (não gravado de inalienabilidade) consentiu, ou 
ratificou (OTro WARNEYER, Komment ar, II, 1146) ; b) se o fideicomissário adquire o bem de que se trata, ou é
sucessor ilimitado do fiduciário. 
Para  se  decidir  quanto  à  eficácia  ou  ineficácia  de  atos  dispositivos  do  fiduciário,  não  se  deve  indagar  se  foi 
proveitoso,  economicamente,  para  o  fideicomissário,  e  sim  qual  o  seu  caráter  juridico  (F.  LEONHARD,  em 
GEORG  FROMMHOLD,  Kommentar  zum  11GB.,  2.  ed.,  268;  A.  TRNESING,  Einige  Bemerkungen  Uber  das 
Rechtsverhãltnis zwischen Vorerben u. Nacherben, Archiv flir die civilistisclie Praxis, 94, 229; contra: 
H. SALINGER, Die Nacherbfolge nach dem BGB., Archiv fiir bitrgerliches Recht, 19, 161). 
Para  alegar  ou  propor  as  ações  que  sejam  fundadas  na  ineficácia  dos  atos  do  fiduciário,  são  legitimados  o 
fideicomissário, seus herdeiros e terceiros (F. LEONHARD, em GEORO FROMMHOLD, Kommentar zum 11GB., 
23­  ed.,  268;  TH.  Kípp,  Lehrbuch.  des  Biirgerlichen  Rechts,  II,  3,  344;  OT­TO  WARNEYFs.  Komment  ar,  II, 
1146; a respeito de terceiros, contra: MAX HACHENEURO, Zeitschrift des deutschen Notarvereins, VI, 146; 
II.DERNBURG,  Das Biirgerliche  Recht,  V,  33­ ed.,  §  58,  172,  nota  2;  F.  KRETZSCHMAR,  Dos Erbrecht  des 
deutsehen 11GB., 23­ ed., 126, nota 18; II. PEísnt, Handbuch des Testamentsrechts,  90, nota 59) ; por exemplo: 
cessionário do fideicomissário, os credores deste, o testamenteiro, o Ministério Público, etc. 

8.CARÁTER DA INEFICÁCIA  Enquanto dura a fiducialidade, o fiducionário fica em situação de suspensão (não 
confundir  com  a  situação  de  condição  suspensiva,  que  só  desta  resulta)  :  os  atos  do  fiduciário,  na  qualidade  de 
herdeiro  e  senhor,  valem;  finda  a  fidúcia,  não.  Ainda  contra  terceiros  vai  a  sua  ação  de  restituição.  Aqui,  os 
conceitos de nulidade absoluta  e relativa  nenhum proveito trazem; porque há eficácia até tal instante dos efeitos e 
ineficácia daí em diante. Absoluta: F. HERZEELDER, lj E. BEYER (Die Surrogsj é absoluta, porque a ratificação 
operam plellarj  gitimados  para  as  ações credores, etc.  (F.  Eirn Rechts,  III,  427).  O  elesie  no  tempo,  fazendo  sui 
especial. 

9.FORMALIDADES  FEICOMISSO.    Ponto  que  assureiro,  é  o  seguinte:  transação  de  fideicomisso,  se  o  fide 
permissão  do  fideicomissão  extinção  da  fiducialidade;  Hipotecas  não  tem  efeitos  o  1146).  Aliás,  transcrita  e  os 
impostos e cautelas é de vir alegar contra o foi atingido o termo ou de  registrado a extinção. No e a verba diz, de si 
só, de dição é matéria de fato. 
Para  a  hipoteca  do  precisa  do  consentimento  Kommentar,  II,  1148),  seu  dor.  Porém  as  conseqüências 
fideicomissário  Quem,  na  arrematado  pelo  tempo  que  Quem  aluga,  ou  faz  prédio  fideicomitido,  deve  emissão. 
Mudados os sujeito está terminado, iu so iure, fiduciário e os terceiros ( Buirgerlichen Rechts, III, 46. locações (art. 
1.208).  O    prazo  do  art.  1.209.  Se,  extesário  não  se  opuser  à  considerar­se­á  prorrogada  a  verba  do  sem  prazo 
determinado (art. 1.195). No caso de parceria agrícola, e art. 1.418 não se aplica ao fideicomissário, porque não é 
herdeiro do fiduciário: no fideicomisso, se os bens foram objeto de parceria, se, antes da colheita (quer dizer  antes 
de  terminar  cada  período  econômico),  se  extingue  a  fiducialidade, o  fideicomissário  pode  reivindicar  os bens;  e 
indenizará o parceiro dos gastos relativos aos frutos ainda não colhidos, pois que, segundo as regras de exploração 
regular, devem ser no período em andamento, desde que tenham sido os gastos normais. mais e não ultrapassarem 
os  frutos  (F.  ENDEMANN,  Lehrbuch  des  Bilrgerliehen  Rechis,  III,  469).  Tudo  isto  deriva  da  publicidade,  do 
caráter real do direito do fideicomissário e da qualidade, que lhe é indenegável, de herdeiro do testador, e não do 
fiduciário. 
~  Pode  o  cartório  de  imóveis  recusar  os  contratos  assinados  pelo  fiduciário,  se  já  acabou  o  fideicomisso?  Não; 
enquanto não se lhe ordena o registro da extinção, não tem êle nenhuma autoridade para apreciar a mudança dos 
sujeitos. Depois da formalidade registária da extinção, sim. 

10.PROCESSOS RELATIVOS À HERANÇA OU LEGADO EM FIDEICOMISSO.  Durante o período fiducial, 
exerce  o  fiduciário,  ativa  e  passivamente,  as  ações  tocantes  à  herança  ou  legado.  Direitos  reais  em  bens  do 
fideicomisso, dívidas passivas da herança, são causa de ações contra os bens afetados à restituição eventual. Êle é 
que é parte. Êle, dono, e dono com a posse, responde perante os tribunais e propõe as ações reais ~ pessoais que 
caibam  à  herança  ou  legado.  Mas  defender   ou  promover   ação  não  é  dispor   (F.  HERZFELDER,  Erbrecht,  J.  “. 
Staudingers Kommentar, V, 537). 
Os efeitos são contra êle e contra o fideicomissário, conforme se trate de ações oriundas de situações objetivas da 
herança ou subjetivas do ficiário. 
a)Se a ação correu antes da extinção do fideicomisso, efeitos pró e contra atingem o fideicomissário, inclusive se, 
depois, o fiduciário recusa a herança (cp. F. STEIN, Das Zivilprozessrecht, § 242, II, nota 3) ou é julgado indigno. 
b)A coisa julgada opera material e procússualmente pró e contra o fideicomissário. Em conseqüência, a execução. 
Mas  aqui  cumpre  dividir  as  duas  épocas,  a  fim  de  se  saber  se  são  :  F.  HERZEELDER,  II.  NEUMANN,  EMIL 
STRORAL;  relativa:  RETER  (liXe  Surrogation  bei  Vermôgen  im  SUB.,  200).  Não  é  absoluta,  porque  a  co­ 
participação do fideicomissário ou a ratificação operam plenamente; não é relativa, porque são legitimados para as 
ações o fideicomissário, o cessionário, os credores, etc. (E. ENDEMANN, Lehrbuch des Biirgerlichen RecAis, III, 
427).  O  elemento  temporal  que  se  introduz, o  corte  no  tempo,  fazendo  sucessivos  os  sujeitos,  cria  essa  situação 
especial.
9.FORMALIDADES  REGISTRARIAS  E  EXTINÇÃO  DO  FIDEICO  141550.    Ponto  que  assume  grande 
importância,  quanto  a  terceiro,  é  o  seguinte:  transcrita,  no  registro  de  imóveis,  a  verba  de  fideicomisso,  Se  o 
fiduciário  garantiu  com  hipoteca  sem  permissão  do  fideicomissário,  acaba  a  garantia  real,  dá­se  a  extinção  da 
fiducialidade; desde então o livro de registro de hipotecas não tem efeitos (On’o WARNEYER, Kommentar, 11, 
1146). Aliás, transcrita a verba, a extinção processual para os impostos e cautelas é necessária, mas os terceiros não 
podem vir alegar contra o fideicomissário, a favor de quem já  foi atingido o termo ou reduzida a condição, a falta 
de se haver registrado a extinção. No registro existente constava a verba e a verba diz, de si só, de que direito se 
trata. O termo ou condição é matéria de fato. 
Para  a  hipoteca  do  bem  fideicomitido,  o  fiduciário  não  precisa  do  consentimento  do  fideicomissário  (Orro 
WARNEYER, Komnientar, II, 1148), se isto não lhe foi vedado pelo testador. Porém as conseqüências não podem 
alcançar o direito do fideicomissário. Quem, na praça, arrematar o bem, só o terá arrematado pelo tempo que faltar. 
Quem  aluga,  ou  faz  qualquer  outro  contrato  relativo  a  prédio fideicomitido, deve  contar  com  a possibilidade  da 
transmissão.  Mudados  os  sujeitos  da  propriedade,  uso  e  fruição,  está  terminado,  ipso  inre,  qualquer  negócio 
jurídico  entre  o  fiduciário  e  os  terceiros  (cp.  E.  ENDEMANN,  Lehrbuch  des  Búrgerlichen  Rechis,  III,  469). 
Resolvem­se,  iso iure, as sub­locações (art. 1.203). O locatário do prédio tem direito ao prazo do art. 1.209. Se, 
extinta  a  fiducialidade,  o  fideicomissário  não  se  opuser  à  continuação  da  posse  do  locador,  considerar­se­á 
prorrogada a locação pelo mesmo aluguer, mas sem 
prazo determinado (art. 1.195). No caso de parceria agrícola, o art. 1.413 não se aplica ao fideicomissário, porque 
não é herdeiro do fiduciário: no fideicomisso, se os bens foram objeto de parceria, se, antes da colheita (quer dizer 
antes de terminar cada período econômico), se extingue a fiducialidade, o fideicomissário pode reivindicar os bens; 
e  indenizao  o  parceiro  dos  gastos  relativos  aos  frutos  ainda  não  colhidos,  pois  que,  segundo  as  regras  de 
exploração  regular,  devem  ser  no  período  em  andamento,  desde  que  tenham  sido  os  gastos  normais  e  não 
ultrapassarem  os  frutos  (E.  ENnEMANN,  Lehrbuch  des  Biirgerlichen  RecAis,  III,  469).  Tudo  isto  deriva  da 
publicidade,  do  caráter  real do  direito  do  fideicomissário  e  da  qualidade, que  lhe  é  indenegável,  de  herdeiro do 
testador, e não do fiduciário. 
j,  Pode  o  cartório  de  imóveis  recusar  os  contratos  assinados  pelo  fiduciário,  se  já  acabou  o  fideicomisso?  Não; 
enquanto não se lhe ordena o registro da extinção, não tem êle nenhuma autoridade para apreciar a mudança dos 
sujeitos. Depois da formalidade registária da extinção, sim. 

10.PROCESSOS RELATIVOS À HERANÇA OU LEGADO EM FIDEICOMISSO.  Durante o período fiducial, 
exerce  o  fiduciário,  ativa  e  passivamente,  as  ações  tocantes  à  herança  ou  legado.  Direitos  reais  em  bens  do 
fideicomisso, dividas passivas da herança, são causa de ações contra os bens afetados à restituição eventual.  é que 
é parte. file, dono, e dono com a posse, responde perante os tribunais e propõe as ações reais e pessoais que caibam 
à herança ou legado. Mas defender  ou promover  ação não é dispor (E. HEEZEELDER, Erbrecht, ./. “. Staudingers 
Kommentar, V, 587). 
Os efeitos são contra êle e contra o fideicomissário, conforme se trate de ações oriundas de situações objetivas da 
herança ou subjetivas do fiduciário, 
a)Se a ação correu antes da extinção do fideicomisso, efeitos pró e contra atingem o fideicomissário, inclusive se, 
depois, o fiduciário recusa a herança <cp. F. STEIN, Das Zivilprozessrecht, § 242, II, nota 3) ou é julgado indigno. 
b)A coisa julgada opera material e processualmente  pró e contra o fideicomissário. Em conseqüência, a execução. 
Mas aqui cumpre dividir as duas épocas, a fim de se saber se são efeitos reais contra a herança ou reais contra a 
propriedade temporária do fiduciário. e> Nem todo julgado opera contra o fideicomissário: se por ato jurídico do 
fiduciário, que seria ineficaz para o fideicomissário, os efeitos materiais não se podem produzir. Daí a aconselhável 
citação do fideicomissário nos casos duvidosos; se, posteriormente, foi julgado que o fiduciário não podia praticar 
o ato ou só o podia até o termo ou condição, nenhuma segurança terá o portador da coisa  julgada. Se ainda não 
existe o fideicoinissário, a solução será (aqui e necessária­mente no caso do art. 1.718, in fins) a  de requerer­se a 
nomeação  do  curador  do  ventre  ou  da  prole  eventual  (cp.  A.  MENDELSSOHN­BARTHOLDY,  Orenzeu  der 
Rechtskraft,  459).  A  intervenção  do  fideicomissário,  nos  casos  que  lhe  tocam  e  para  caracterizar  situações, 
plenamente se justifica (cp. KONRAD HELLWIG, Wesen und sub jeictive Begrenzung der Rechtskraft, 284, 402; 
O. FRIEIIRICHS, Prozessfithrung des Vorerben, 38). 
d) Em tudo a que não podia estender­se o direito de dispor do fiduciário, a decisão não tem efeitos pró ou contra o 
fideicomissário.  É  conseqüência  lógica  dos  princípios  postos.  Será  o  fiduciário,  quando  o  entender,  gestor  de 
negócios, como qualquer outra pessoa. Dar­se­á o mesmo desde o instante da extinção da fiducialidade. 
e)A execução da sentença processual e materialmente operante contra o fideicomissário colhe o bem em toda a sua 
substância  e tempo. A execução da sentença só operante contra o fiduciário ou até a extinção do fideicomisso surte 
os seguintes efeitos: a> vendido o bem, o comprador só recebe propriedade restrita  e resotúvei; b) comprado pelo 
fideicomissário, não se consolida a propriedade, porque a propriedade comprada tem outro  título; e) no caso das
letras  a) e  b),  se  houver  acrescimento  (arts. 1.710­1.712, 1.714 e 1.716),  aumento da quota (arts. 1.673, 1.713  e 
1.715), ou substituição pelo fiduciário (arts. 1.729 s.), o fiduciário receberá o elemento ajuntado e passará, depois, 
ao fideicomissário. WOLFFGARTEN (Der Schutz des Nacherben gegen Verfiigungen des nichtbefreiten Vorerbes 
sowie  Dritter,  42  s.).  A  execução  no  uso  e  fruto  é,  normalmente,  possível  (F.  HERZLDER,  Erbrecht,  J.  v. 
Staudingcrs Kommentar, V, 546). 
f) A decisão tem ou não tem efeitos materiais contra o fideicomissário; a eficácia de um julgamento não se poda 
partir. 
Quando  o  fiduciário  exerce  as  ações  pela  herança  ou  bem  fideicomitido,  a  coisa  julgada  opera  material  e 
processual­mente. ~,Em que qualidade se lhe dá êsse poder? Certo, no tocante aos efeitos pró e contra si, pediu ou 
defendeu o que era seu. ~ Quanto ao que respeita ao fideicomissário? Falou­se em representação; outros a negam e 
querem que derive da propriedade atual do fiduciário (KONRAD HELLWIG, Wesen unci sub jektive Regrenzung 
der Rechtskraft, 53; E. ENUEMANN, LeArbucA des Riirgerlichen Rechts, III, 484). Nele vê A. MENDELSSOHN­ 
BARTHOLDY  (Grenzen  der  Rechtskraft,  20)  legitimus  contradietor   do  fideicomissário.  De  qualquer  modo, 
situação  semelhante  à  do  possuidor   (não­proprietário) do  titula  ao portador, que pode  apresentá­lo  e  cobrá­lo.  O 
poder, aí, se evidencia; a idéia de mandato ou gestão é que é estranha. 

11.PROCESSOS,  EXTINTO  O  FIDEICOMISSO.    Ainda depois de  extinto  o fideicomisso,  o  fiduciário  ou  seus 


herdeiros continuam partes nos processos: 
a)  Se  não  sabem,  sem  culpa,  da  extinção  do  fideicomisso.  É  preciso,  diz  E.  ENDEMANN  (Lehrbuch  des 
BiirgerUohen  Rechts,  III,  438)  que  os  processos  não  parem,  e  cheguem  ao  fim;  se  o  fiduciário  não  sabe, 
prosseguirá; se não foi o culpada de não saber, devem valer os seus atos. 
b) Se a ação envolve obrigação da herança pela qual, ainda depois de extinto o fideicomisso, tenha de responder. 
Aliás, isto muito se dá, devido a custas e consequências. 
Extinto o fideicomisso, deve o fideicomissário ser citado, ou, se com parece, continua no processo. 

12.SUE­ROGAÇÀO  E  ACRÉSCIMOS  DA  HERANÇA  EM  FIDEICO141550    A  herança  ou  parte  dá  herança 
fideicomitida trata­se como patrimônio (universalidade de direito) ou bens destinados a certo fim. Não só quanto 
ao valor  como quanto à substância. Para o fiduciário vale o preceito: uti frui salva substantia rerum. Os bens do 
fideicomisso, como unidade, devem ir ao fideicomissário, sem  alterações substanciais: consideram­se e  zelam­se 
como  organismo  vivo  (F.  ENDEMANN  Lehrbuch.  des  Riirgerlichen  Rechts,  III,  402).  Daí,  ou  se  trate  de 
patrimônio,  ou de coisa  singular  afeta  a  um  destino,  dar­se, nos  casos  ordinários,  a  sub­rogação; porém  como  a 
substância. no fideicomisso, interessa ao fideicomissário, deve este ser ouvido em todos os atos de mudança, troca 
ou alienação do todo ou parte dos bens fideicomitidos. 
Tudo que aumenta a propriedade, como o proveniente de comissão ou de adjunção, é propriedade do fiduciário e, 
depois, do fideicomissário. 
No  caso  do  tesouro  achado  pelo  fiduciário,  pertence  à  herança;  por  outrem,  metade  à  herança.  Mas,  aqui,  pelo 
princípio da aquisição da. propriedade móvel segundo a lei (artigos 607­610), e não, como quer II. BEYER, pelo 
da  sub­rogação.  Pertence  à  herança  fideicomitida  tudo  que  derivou  do  direito  pertencente  a  ela;  o  tesouro  é 
exemplo  disso;  não  assim  a  caça  e  a  pesca.  No  caso  de  especificação,  o  fiduciário  não  poderia,  salvo 
excepcionalmente (e. g., não constando do inventário a matéria­prima), dizer­se de boa fé. Porém os artigos~ 611­ 
614  são­lhe  aplicáveis,  se  bem  que,  em  nenhum  caso,  possa  deixar  de  indenizar  segundo  o  inventário,  onde  se 
caracterizou  a unidade  econômica   da  herança  ou legado  fideicomitido, ou  segundo o dano  provado, quando  não 
tenha feito inventário, a que, por lei,é obrigado (art. 1.734, parágrafo único). 
O fiduciário não pode aplicar bens do fideicomisso em ações ou títulos que sejam personalíssimos, como os cartões 
de sócios de certas sociedades mundanas, culturais ou profissionais. 
Aplicado o valor  noutro bem não’­personalíssimo, dá­se a sub­rogação; a unidade patrimonial agrega a si, com o 
organismo, tudo que lhe deve pertencer (F. ENDEMANN, Lekrbuch das Riirgerlichen T­techts, III, 404). O que é 
tocante  ao  uso  e  fruição  vai  ao  fiduciário  e  quando,  levantada,  posteriormente,  a  dúvida,  o  juiz  proceder  à 
discriminação, o julgado terá os efeitos de se reputar objetivamente feita, por farsa do conceito de bem afeto a fim, 
ou de patrimônio, a separação do substancial e do não­substancial. 
Pertence à unidade econômico­jurídica do fideicomisso: 
a)  tudo  que  derivou  de  direito  pertencente  à  herança,  como  a  bonificação  de  ações  aos  acionistas  depois  de 
capitalizados ou 
postos em fundo de reserva os lucros das sociedades, todo o tesouro achado no prédio fideicomitido pelo fiduciário 
ou  pelo  fideicomissário,  ou  metade,  se  achado  por  terceiro;  b)  o  valor   do  bem,  quando  a  substância  desse  for 
atingida:  perecimento,  danos  causados  por  incêndio  (seguros)  ;  troca  dos  bens.  Procurou­se  distinguir  nos  dois 
casos (b e a) a sub­rogação com. os meios (mit Mittel) e a sub­rogação emanada dos meios da herança (aus Mitiel) ;  
mas é sem alcance a distinção, uma vez que a farsa sub­rogatória é a mesma e os mesmos os resultados. Sôbre a
questão discriminativa, R. BEYER (fie Surrogatiou bei Vermdgen im EGE., 209), F. ENDEMANN (Leh,rbuch des 
Biirgerlichen Rechts, III, 404). 
Se o fiduciário, em negócio jurídico, com os meios ou em virtude dos meios da herança, adquire crédito, que se 
deva  sub­rogar, nem  por  isto  deixa  o devedor de  o  ser  do  fiduciário,  a  quem, pagando,  estará  eximido.  Se  tiver 
conhecimento da sub­rogação, deverá acautelar­se para evitar a imputação de má fé. Se, além deste conhecimento, 
vier  a saber que  o  fideicomisso  terminou,  ao  fideicomissário,  é  que deve  pagar;  ou depositar o pagamento,  para 
melhor segurança. Desde o momento em que se alcançou o fim do termo ou se realizou a condição, êle é devedor 
do fideicomissário (F. ENDEMANN. Lehrbuch des Biirgerlichen Rechts, III, 404). 
Se a  verba deixou que o fideicomisso consistisse  em dinheiro, ou coisa fungível, sem ser preciso converter­se,  a 
relação entre o fiduciário e o fideicomissário é simplesmente de obrigação, e não real. 
Ao testamenteiro e ao Curador de testamentos cabe velar pela conversão dos bens  fungíveis  sempre que a verba 
não seja permissiva do laço só de obrigação. Esqui não se presume, porque deturpa a figura do fideicomisso. 
A  cláusula  de  insub­rogabilidade  seria  sem  eficácia  sempre  que  se  tratasse  de  premência  da  substituição  real, 
devido  as  circunstâncias.  Alguns  acórdãos,  esporádicos,  sôbre  não  poder  haver  sub­rogação  de  bens  em 
fideicomisso, ou, em geral, de bens de propriedade resolúvel, são simplesmente contra direito. Não se pode deixar 
perecer  ou  arruinar­se  o  objeto  de  propriedade  resolúvel,  nem,  sequer,  se  podem  deixar  de  levar  cm  conta 
vantagens evidentes de sub­rogação. 
Se,  depois  de  devolvidos  os  bens  ao  fideicomissário  (e.g.,  morto  o  fiduciário  antes  do  testador  ou  logo  após  a 
abertura  da  sucessão),  se  der  fato  do  qual  resultaria  acrescimento  ao  fiduciário,  chamado  como  substituto,  ou 
sucessor legítimo, o fideicomissário da herança tem direito, na dúvida, ao que receberia o fiduciário. Exemplos: a) 
A deixa metade da herança a B, de pleno direito, e a O, passando a D; depois de morto O, E recusa a herança ou é 
declarado indigno. D recebe a metade que tocaria a E, porque, se O vivesse, a êle teria ido. b) A nomeou a O como 
fideicomissário  de  E, um dos  seus  herdeiros  legítimos,  que  são    além  de  E    O,  E  e  F;  se  O  morre  e  E  recusa  a 
herança, as suas partes (metade da herança) tocam a E e E; se E já tinha morrido, a O, fideicomissário, e a F; se 
também  E  já  havia  morrido,  só  a  O.  Note­se,  porém,  que  se  trata  de  regra  interpretativa,  e  não  dis  positiva:   é 
preciso que haja dúvida  se no fideicomisso estava ou não incluído o direito ao que adviesse no caso de falta dos 
herdeiros.  Quanto  a  época  da  falta,  antes  ou  depois  da  extinção  do  fideicomisso,  nada  importa  (OTTO 
WARNEYER, Kommentar, TI, 1142) : já então o fideicomissário é pleno herdeiro. 

18.APLICAÇõES DE VALORES E RESTITUIÇÃO.  Passa ao fideicomissário, com a morte do fiduciário: a) tudo 
que Ale comprou com o produto dos bens vendidos; b) o preço deles, se existe em espécie; e) os bens que vendeu, 
se os resgatou ou recomprou. Ainda mais: d) o preço das coisas que vendeu habita fide  de pretio (FRANCISCO 
PINHEIao, Tractatus de fiestamentis, n. 1.245). 
O  fiduciário  restitui  os  bens  ao  fideicomissário  (transmitir,  diz  o  art.  1.733)  conforme  o  conteúdo  da  verba 
testamen.  tária;  isto  é,  conforme,  pelo  querer  do  testador,  ou  pelo  direito  dispositivo,  foi  obrigado.  Não  se  lhe 
aplicam  as  regras  relativas  ao  possuidor  pro  herede;   possuía  o  que  era  seu  e,  normalmente,  restitui  com  as 
alterações resultantes do tempo e da fruição regular  (cp. art. 160, 1). 
Usou e fruiu. Fêz seus: os juros dos dinheiros; os dividendos de ações, os alugueres dos prédios; os frutos das chá­ 
caras e dos quintais~ as crias dos animais, deduzidas quantas bastem para inteirar as cabeças de gado existentes ao 
começar o usufruto. 
Não constitui fruto a parte dos lucros das sociedades nào distribuída em dividendos (E. ENDEMANN, Lehrbuch 
des Rilrgerlicheu Rechts,  III,  468). O  fiduciário não  fica  em  situação de  vitima;  o que  acaso  se  reservou  entre  a 
feitura  do  testamento  e  a  morte do  testador  aumentou  a  substância  dos  seus  bens.  A  oportunidade  ou  justiça  da 
partição dos haveres lucrativos das sociedades em dividendo e fundo de reserva, ou aplicação direta ao capital, só 
pertence ao corpo dirigente delas, de acôrdo com os estatutos e as assembléias. 
É de especial importância não confundir produto e fruto;  a Asse respeito as confusões são lamentáveis. 
Consideram­se obtidos com os meios da herança a reposição do co­herdeiro, o legado anulado ou ineficaz que veio 
aos herdeiros, a quantia da dívida passiva do fiduciário, que foi confundida. 
Se acontecer que o fiduciário empregue bens da herança fideicomitida em sociedade, que não seja de capitais, não 
se  dará  a  sub­rogação  (Oro  WARNEYER,  Kommentar,  II,  1148), devido  ao  caráter pessoal  do direito  adquirido 
com os meios da herança, que impede a atribuição ao fideicomissário. Por essa aplicação responde o fiduciário. 
Não  há  sub­rogação  por  troca  do  bem  fideicomitido  pelo  bem  do  patrimônio  livre  do  fiduciário  (Orro 
WARNEYER, Kommentar, II, 1148) ; salvo judicialmente estabelecida com audiência dos interessados. 

14.DESPESAS  E  DIREITOS.    As  despesas  e  as  diminuições  do  valor   ou  substância  da  herança  ou  legado 
fideicomitido, resultantes da sub­rogação ou causadoras dela, correm por conta: 
a)  Do  fiduciário,  se,  na  apreciação  da  necessidade  ou  conveniência  (utilidade,  volutariedade da  sub­rogação),  se 
atendeu mais ao modo de ver do proprietário fiducial. Exemplos: se o bem não está a render,~ como é, e renderá 
(ainda  que  isto,  secundariamente,  o  valorize)  após  a  sub­rogação;  se  a  abertura  da  rua  favorece,  desde  já,  e
principalmente, ao fiduciário. Cp. F. ENDEMÀNN (Lehrbuch das Biirgerlichen Rechts, III, 408). 
b) Do fiduciário, se houver culpa sua no fundamento da sub­rogação. Se deixou de pagar os impostos e o bem vai 
a praça, caso em que a diminuição do valor  exige que se aplique o dinheiro, de modo que as rendas compensem o 
prejuízo  sofrido,  operando,  aí,  a  sub­rogação,  se  o  fiduciário  não  der  outros  bens  ou  bem  com  que  se  possa 
recompor a unidade constante do inventário, ou caução suficiente da entrega, finda a fiducialidade. 
c) Dos bens fideicomitidos, quando o fundamento para a sub­rogação tiver derivado dos próprios bens, por defeitos 
objetivos sem culpa do fiduciário. 
d) Do terceiro sujeito a indenizar, quando por culpa sua se der a sub­rogação. 
e) Do fideicomisso, no caso da letra e), se o fiduciário tirar do seu bolso, e não do valor dos bens. 

15.  DESPESAS  COM  OS  BENS.    Se  o  fiduciário  fêz  despesas  extraordinárias,  que  eram,  segundo  as 
circunstâncias, necessárias, e as tirou do seu patrimônio, e não da herança fideicomitida, o fideicomissário terá de 
reembolsá­lo. As ordinárias, necessárias ou não, êle as suporta e não pode exigi­las do fideicomissário. Tais as de 
conservação,  os  foros, pensões  e  impostos  reais  devidos  pela  posse,  propriedade e  renda   da  coisa  fideicomitida 
(cp. art. 788, quanto ao usufrutuário), o seguro (F. ENDEMANN, Leh,rbuch des Biirgerlichen Rechts, III, 469), as 
custas de processo na defesa da propriedade e da posse. 
Mas  o próprio  conceito  de necessariedade, que  é  o  romano  no  caso dos  arts. 516  e 784  impensue  neoessariae, 
quae st factae non sint, res aut peritura aut deterior futura sit (L. 79, pr., 13., de verborum significatione, 50, 16), 
não é o mesmo em se tratando do fideicomissário, que é um dono dos bens, à diferença do possuidor de boa fé e do 
usufrutuário, possuidores de coisas alheias. Apesar da expressão necessárias que se inseriu na  lei  alemã,   e com 
maioria de razão no direito brasileiro que nenhuma regra formulou, a não ser a de que o fiduciário é proprietário 
dos bens,  entendeu­se que se não trata da necessariedade objetiva, e sim de necessariedade segundo a concepção 
do  fiduciário,  dentro  do  razoável.  F.  ENDEMANN  (Lehrbueh  des  Biirgerlichen  Rechts,  III,  470)  :  “nicht  die 
objektive  Notwendigkeit zu beweisen  ist,  sondem  die  subjektive  begrúndete  Anschauung des  Vorerben  tiber  die 
Erforderlichlçeit  genúgt”.  Se  as  fêz  com  o  próprio  patrimônio,  era  seu,  podia  fazer,  desde  que  não  lesou  o  pés­ 
herdeiro. Se as fêz com o seu patrimônio, pode reaver dêste o que despendeu. Tem direito de retenção, se justo o 
pedido.  São  exemplos  de  obras  subjetivamente  necessárias:  abertura  de  canais,  cujo  valor  mais  se  reflita  na 
substância do que no conjunto da renda provável (sem que se tenha de aplicar o art. 734, só referente a usufruto: o 
fiduciário é dono; pode fazer obras que absorvam toda a renda, sem ter direito a reclamar o custo); abertura de rua 
no terreno, para que por aí, e não por outro caminho se estabeleça a penetração e se povoe a região (o fito é todo 
futuro, mais aproveitável ao fideicomissário do que ao fiduciário). 
Quando o preço for demasiado em relação ao bem, será preciso ouvir­se o fideicomissário ou, em se tratando de 
prole eventual, o Ministério Público e o curador (do ventre ou da prole não concebida). 

16.POSSE  DOS  BENS  FIDEICOMITIDOS.    No  momento  da  entrega  dos  bens,  passa  do  fiduciário  ao 
fideicomissário a posse que êle, pela saisina (art. 1.572) recebeu, e não a que lhe adveio do seu poder efetivo sôbre 
a  coisa  independentemente  da  aquisição  ipso  iure.  Um  exemplo:  o  testador  estava  em  lide  contra  A  (pai  de  B, 
nomeado êsse fiduciário do testador, sendo fideicomissário D) para haver a posse dos prédios x, u e z:  
perdeu  a  ação  possessória  quanto  ao  prédio  x,  ganhou quanto  ao prédio  y  e  perde  a  ação  quanto ao prédio  z na 
ocasião da morte do testador. Transmite­se, pela saisina, a posse do testador (prédio ~j) a B; a posse de A (prédio 
x) a B. Quando E entregar a D a herança, entrega a posse completa sObre o prédio 9/ (saisina e posse do art. 485) ; 
a propriedade e posse (art. 1.572) do prédio x, sem a posse (art. 485), porque o fiduciário a houve do seu pai e não 
do testador, e D, fideicomissário, é herdeiro do testador e não de A. 

17.SITUAÇÃO DO FIDUCIARIO DEPOIS DA ENTREGA DOS BENS. 
Extinto o fideicomisso, não há mais fiduciário. Entregues os bens ao fideicomissário, passa o que fora o herdeiro a 
ser estranho para a herança, que foi sua. As ações contra os bens da herança ou a favor dela já lhe não interessam, 
nem  êle  é autorizado  a prosseguir,  como  autor, ou  como réu,  em  tais  processos:  a  mudança  de  sujeitos  opera­se 
ipso iure, ao chegar o advento do termo ou realizar­se a condição. Mas, se deixou de pagar alguma dívida para que 
recebera dinheiro da herança a sua responsabilidade continuação. 
Depois  da  entrega  dos  bens,  o  fiduciário  não  é  mais  devedor   das  obrigações  da  herança.  Se  algum  herdeiro 
retardatário  recusa  a  quota,  ou  passa  em  julgado  a  sentença  que  pronunciou  a  indignidade  de  um  deles,  o 
acrescimento já lhe não aproveita, e sim ao fideicomissário 
Pelas dívidas assumidas pelo fiduciário, ainda que para a exploração e administração dos bens, não responde êsse, 
porque a sua destinação os imuniza às obrigações do fiduciário. 
Feito o inventário, segundo êle é que responde o fiduciário. Aliás, se êsse foi feito judicialmente, pelas dívidas da 
herança, que aparecerem, ambos responderão, salvo se excedem as forças dela.
18.  CREDORES  DA  HERANÇA.    Os  credores  da  herança  são  credores  do  fiduciário  até  o  montante  dos  bens 
herdados e do fideicomissário até o mesmo importe. No momento em que o fideicomissário recebe, responde na 
qualidade  de  herdeiro,  que  é.  Se  o  fiduciário  não  pagou  as  dívidas  da  herança,  paga­as  êle.  Os  credores  do 
fiduciário não são credores da herança. As dividas decorrentes de impostos atrasados, multas aplicadas às coisas da 
herança,  êle  as  paga,  mas  tem  por  elas  ação  contra  o  fiduciário  As  dívidas  do  fiduciário  garantidas  pelos  bens 
(hipoteca,  penhor,  anticrese,  caução)  não  são  dos  bens.  Com  a  mudança  dos  sujeitos  da  propriedade,  todas  se 
extinguem  quanto ao bem;  os  credores  têm  ação contra  o  fiduciário,  e  não  as  ações  contra os  bens  hipotecados, 
empenhados ou anticréticos. A penhora do direito do fiduciário, dos bens, por dívida do fiduciário, extingue se ipso 
inre.  São  bens  alheios.  Se  o  fiduciário  pagou,  com  dinheiro  seu,  a  hipoteca  do  bem  fideicomitido,  dá­se  a  sub­ 
rogação a seu favor (R. I3EYER, fie Surrogation bei Vermõgen im EGE., 216). Tal doutrina combina com os arts. 
985, III, e 988. 

19.INVENTÁRIO DOS BENS.  Se o fideicomisso é normal, ou não, deve o fideicomissário inventariar os bens. 
Nesta parte o art. 1.784, parágrafo único, é co gente (F. HERZFELDER Erbrccht, .1. v. Staudingj.s Kornmcntar  V, 
553; OTTO WARNEYER, Kommentar, II, 1151). Entenda­se: a relação dos bens pertencentes  à  herança,  não o 
seu valor  ou o passivo (F. HEEZEELDER, Erbrecht, J. v. Staudingers Kommentar, V, 553), porque êsse não pode 
ser desde logo conhecido em sua totalidade. 
O  inventário  é  que  servirá  de  base  às  reclamações  futuras  do  fideicomissário,  porque  por  êle  se  saberão  as 
obrigações  do  fiduciário,  salvo  elementos  supervenientes,  cujo  ônus  da  prova  cabe  ao  fiduciário  ou  ao 
fideicomissário, conforme alegado por aqueles ou por êsse. 
Ainda contra a vontade do fideicomissário, pode e deve o fiduciário proceder a inventário dos bens fideicomitidos. 
Pode exigi­lo o testamenteiro, porque, no Brasil, a tradição é ter­se nomeado o testamenteiro para a vigilância de 
tOda a execução testamentária,  inclusive o registo dos bens fideicomitidos ou deixados em usufruto. Diferente o 
Código Civil alemão, § 2.222. Isto será reforçado quando o testador o nomear, expressamente, para tal fim. 
Se foram entregues os bens ao fiduciário e no inventário não se fêz a discriminação do que era fideicomisso e do 
que  não  era,  o  fideicomissário  deve  pedir  a  herança   ou  propor  ação  de  fideicomisso,  e  não  procurar  renovar  o 
inventário. Deve pedir­se antes de atingir­se o térmo ou realizar­se a condição, e não depois (Oro WARNEYER, 
Kommentar, li, 1152). Depois, pedem­se os bens. Se são muitos os fideicomissârios, cada um pode exercer o seu 
direito, quer quanto ao inventário, quer quanto à caução, independentemente dos outros. 
Não é dispensado do inventário o pai, tutor, curador, ou cônjuge fiduciário ( OTTO WARNEYER, Konimentar, II, 
1152). 
Feito o inventário, se  novos bens aparecem ou se há mudanças, ~,deve o fiduciário fazer  nOvo inventário? Sim. 
Não,  se  constar  de  alterações  nos  bens  (e  não  no  número  dêles).  Assim,  F.  RITGEN,  em  G.  PLANCK 
(Búrgerliches Gesetzbtt.úh, 1/, 300). 
No direito anterior, admitia­se o fideicomisso do que restar ao tempo da morte do fiduciário (M. A. COELHO DA 
ROCHA,  Instituições  de  Direito  Civil  português,  §  718)  e  buscava­se  ao  §  417  do  Preussisehes  Aligemeines 
Landrecht, 1, Título 12, a regra de poder o fiduciário ser dispensado de fazer inventário. Aí estão duas questões: a) 
~ É possível o fideicomisso de eo quod supererit? b) ~ permitido ao fideicomitente dis.pensar o inventário? 

20.FEICOMISSO O DO QUE RESTA À MORTE DO FIDUCIÁRIO. 
Regulou­o a Novela 118, adotando, na espécie, a substituição do qualitativo pelo quantitativo: o fiduciário poderia 
alienar  três  quartos  dos  bens,  ficaria  a  quarta  Falcídia,  de  que  sOmente  poderia  dispor  para  dote,  doação 
esponsalícia  ou  remissão  de  cativos.  SObre  êsse  processo  técnico  no  Direito,  veja  nosso  Sistema  de  Ciência 
Positiva do Direito (II, 246­248). 
JOsÉ  HOMEM  CORREIA  TELES,  romanizou,  como  sempre  MANUEL  DE  ALMEmÁ  E  SOUSA  procurou 
investigar  a  vontade  dos  testadores,  e  em  geral  reputou  nulas  as  alienações  com  o  ânimo  de  defender  o 
fideicomisso, respeitada ou não a Falcidia; M.A. COELHO DA ROCHA (Instituições de Direito Civil português, § 
718) só permitia as alienações para necessidades pessoais do fiduciário. Tudo isso era vaguíssimo. O Código Civil 
português, art. 1.871, inciso 2.0, proibiu. Cortou, cerco, as dúvidas. A solução do direito brasileiro não deve ser a 
mesma;  a  disposição  (e  não  só  fideicomisso)  de  co  quod  supererit  éfideicomisso  anormal,  e  não  mera 
recomendação. 
O  princípio  da  sub­rogação  vale  para  o  fideicomisso  eius  quod  superfuturum  est;   e  isso  bastaria  para  afastar  a 
opinião  daqueles  que  lhe  recusam  o  caráter  jurídico  de  herança  ou  legado.  Assim  ocorria  no  direito  romano, 
conforme PAPINIANO, quem mais desenvolveu o instituto (L. 70, § 8, e L. 71, D., de legatis et fideicommissis, 
31) “cum autem rogatus, quidquid ex hereditate supererit, post mortem suam restituere, de pretio rerum venditarum 
alias  comparat,  detninuisse  quae  vendidit  non  videtur,  sed  quod  inde  comparatum  est,  vice  permutati  dominii 
restitueretur”. Se aqueles a quem se pediu que restituisse o que restar ao tempo da sua morte, comprar coisas com o 
preço das que recebeu, não se considera que diminuiu a herança. Dá­se o mesmo se pagou a credores, porque não
se consome o que se conservou no patrimônio,  non enim absumitur, quod in corpore patrimonii retinetur  (L. 72). 
No  direito  contemporâneo,  temos  de  aceitar  a  PÂPINIANO  na  E  70,  §  3,  e  1.,.  71,  e  recusar  ao  mesmo 
PAPINIANO na L. 72, por lhe faltar suficiente fundamento (F. ENDEMANN, Lehrbuch des Rúrgerlicheu Reehts, 
III, 451). Também nesse não se dispensa o inventário. Tal a boa lição do direito que se formou entre os povos após 
a  Novela  108,  Capítulo  1,  e  veio  até  nossos  dias  (J.  A.  GRUCHOT,  Preussisefles  Erbrecht,  II,  106;  F. 
ENDEMANN, Lehrbuch des Ritrgerlichen Rechts, III,  451). 
PAPINIANO, “criador e mestre do imperativo moral no direito”, como lhe chama E. ENDEMANN (Lehrbuch des 
Ehirgerlich,en Rechts, III, 452), formulou o famoso princípio (L. 56, D., ad senatus consultum Trebellianum, 36, 
1):  se  foi  rogado  Ticio  que  restituisse  a  Mévio  o  que  houvesse  sobrado  da  herança,  em  qualquer  tempo  não  se 
poderá pedir o que foi alienado ou diminuído, se não fór provado que tal se fêz para transgredir o fideicomisso;  
porque implícito está, nas palavras do fideicomisso, a boa fé: “si non intervertendi fideicommissi gratia tale aliquid 
factum probetur; verbis enim fideicommissi bonam fidem messe constat”. Também há doações em fraude (L. 60, § 
8). Hoje, cabe a indenização sempre que houve intuito de diminuir. 
No fideicomisso de resíduo, o fiduciário pode dispor mais livremente do que poderia outro, e não se daria o efeito 
real  da  resolução.  Mas,  ainda  aí,  há  restrição:  não  pode  dispor,  exceto  para  as  necessidades  (3. 1.  RAMALHO, 
Instituições  cronológicas, § 29,  65,  seguindo  a  lição  de  FRANCISCO  PINHEIRO,  Tractatus  de  Testamentis,  n. 
1.218; e nunca de má fé). 
Há  casos  em  que  o  dolo  e  a  fraude  se  presumem:  a)  quando  aliena  todos  os  bens  e  distribui  em  doações,  ou 
adiantamentos  de  legítima,  ou,  sem  razão,  os  dilapida  ou  aliena  (sine  aliqua  sua  utilitate  gravatus  alienat);  b) 
quando a alienação é in articulo mortis. Mas não presunções hominis. 
Ofiduciário  do  que  restar  não  pode  testar  os  bens  do  fideicomisso  (FRANCISCO  PINHEIRO,  Tractatus  de 
Testamentis, II, d. 4, 8, § 6, n. 1.242) ou o que está no lugar dêles. 
a)Se o testador disse “faço a E fideicomissário do que restar ao tempo da morte de A que poderá alienar para as 
suas  necessidades”,  temos  o  fideicomisso  normal  de  resíduo,  e  então  cabe  a  distinção  de  MANUEL  BAGNA 
QUARESMA:  “ necessitas  fatalis,  ut  siquis  casu  incidit  in  latrones;  naturalis,  ut  expensa  facta  in  infirmitate,  et 
familia alendo; data opera, ut siquis contraxit debita sponte, vel commissit aliquod delictum”. O que se gastou com 
a  própria  doença  ou  da  família  necessàriamente  se  gastou.  O  que  foi  roubado,  fatalmente  se  perdeu.  O  que  se 
perdeu  no  jôgo ou  se  pagou de  indenização  por ofensas,  isto  se  gastou  sem  necessidade.  Aliás,  seria  bem difícil 
justificar que se não gastou mal o que se pagou juveníli calore, como está em MANUEL BAGNA QUARESMA. 
Cp. FRANcísco PINHEIRO (Tractatus de Testamentis, II, d. 4, 8, § 6, ns. 1.220 e 1.221). 
b)~ Se o testador permitiu tôdas as alienações a puro arbítrio do fiduciário? FRANCISCO PINHEIRO (Tractatus 
de Testamentis, n. 1.221) continua a ver nisso fideicomisso, porque, se o fiduciário aliena e depois adquire outros 
bens,  será  obrigado  a  restituir:  “si  gravatus,  qui  rem  fideicommissanam  ob  dictas  necessitates  alienavit,  postia 
adquirat alia bona teneri ex acquisitis satisfacere fideicommissario”. 
Não se pode ver, aí, sub­rogação; nem mesmo se buscássemos extensão do preceito de PAPINIANO (L. 70, § 8, e 
L. 71). ~ Em que se havia de fundar a exigência? O único meio é, provada a fraude, admitir a regra da L. 56. 

21.DISPENSA DE INVENTÁRIO.  Para a dispensa do inventário os juristas portuguêses e brasileiros do século 
passado buscavam o exemplo do direito prussiano. Mas o Código Civil não consagrou a dispensa do Preussisches 
Alígemeines Landrecht e, se exemplo quisermos hoje, temo­lo no direito que sucedeu àquele e onde também não se 
acolheu a regra da dispensabilidade. Seria muito apêgo ao subsídio da Prússia recorrermos hoje àquilo a que, em 
idênticas condições, não recorrem os próprios juristas alemães . 
É indispensável o inventário dos bens recebidos, porque se trata de bens alheios. Se foi feito judicialmente, ou os 
bens constam de partilha passada em julgado, basta que assine o têrmo de depósito. Os bens somente poderão ser 
vendidos  em  praça,  e  nos  casos  em  que  o  poderiam  ser  os  do  nascituro  e  dos  ausentes.  Aplica­se  aos  valôres 
substituidos,  integralmente,  o  princípio  de  sub­rogação;  porque  se  trata  de  caso  típico,  não  só  de  bens  afetos  a 
determinado fim, mas de patrimônio. 

22. CAUÇÃO PELO rínucítío.  Se o fideicomissârio exigir, tem de dar caução o fiduciário. Real ou pessoal, que 
satisfaça. Salvo se o testador o dispensou. O parágrafo único do art. 1.784 é dispositivo. 

§ 5887. Aceitação e renúncia do legado 

1.RENÚNCIA  DA  HERANÇA  OU  DO  LEGADO.    Diz  o  Código  Civil,  art.  1.785:  “O  fideicomissário  pode 
renunciar  a  herança,  ou  legado,  e,  nesse  caso,  o  fideicomisso  caduca,  ficando  os  bens  propriedade  pura  do 
fiduciário, se não houver disposição contraria do testador”. 
É absurdo dizer­se que negócio jurídico do fideicomissário antes de lhe passar a propriedade do bem fideicomitido 
ou  dos  bens  fideicomitidos  é  pacto  sucessório,  o  que  o  sistema  jurídico  brasileiro  proibe.  O  fideicomissário  já
herdou; o que lhe falta # a propriedade. Imaginemos que o testador deixe o bem, em fideicomisso, a B, para que, 
com a morte de E, ou ao advento do têrmo, o receba C. C já é herdeiro, ou legatário, à abertura da sucessão. Se C 
entende que a deixa de B é ofensiva, ou não lhe interessa, seria êrro grave esperar­se a morte de E, ou o advento do 
têrmo, para que C renuncie. Por exemplo: o testador faz fideicomissária a mulher de outrem, de quem se diz ou êle 
dizia  que  era  sua  amante.  Seria  fora de qualquer acoIhimento que  se  tivesse de pôr  C  na situação de  aguardar o 
falecimento de B, ou o advento do têrmo, para renunciar a herança ou o legado fideicomissório. 
Quando algum jurista afasta a aceitação e a renúncia pelo fideicomissário após a abertura da sucessão, invocando 
os  trabalhos  parlamentares  em  que  se  riscaram  os  dizeres  “desde  que (a  herança)  seja  devolvida”  (Trabalhos da 
Câmara dos Deputados, 1, 288), procede como se a retirada significasse que somente ao ser extinto o direito do 
fiduciário pudesse o fideicomissário manifestar­se. 
Tem­se invocado o  art. 118  do  Código  Civil  para  se  afirmar  que  é  irrenunciável  o  direito  à  herança,  que  tem  o 
fideicomissário,  enquanto  não  lhe  vai  a  propriedade.  O  art.  118  é  estranho  ao  assunto  e  invocá­lo  foi  êrro  de 
CARLOS  MAxIMILIANO,  que  viu  na  renúncia  após  a  abertura  da  sucessão  “pacto  expresso  ou  tácito  sôbre 
sucessão futura”. Ora, a sucessão de modo nenhum é futura. O fideicomissário já sucedeu, o que ainda não se deu 
foi  a  transmissão da propriedade  e  da  posse.  (Advirta­se  que  a  citação  que  aparece  no  julgado  do  2.0  Grupo  d 0 
Câmaras  Cíveis do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 4  de junho de 1952, D. da J.,  de 5 de fevereiro de 
1958, foi impertinente, por ser estranha à matéria.) 
A  aceitação  e  a  renúncia  foram disciplinadas  nos  artigos  1.581­1.590 do  Código  Civil,  entre  os  quais  está o  art. 
1.584  que,  sem  distinguir  qualquer  disposição  testamentária,  nem  espécie  de  sucessão,  dá  o  prazo  para  que  o 
beneficiado se pronuncie, “sob pena de se haver a herança por aceita”. 
Para se ver quando fora de qualquer acolhibilidade é a opinião dos que entendem que o fideicomissário sómente 
pode  renunciar  após  a  extinção  do  direito  do  fiduciário,  basta  que  se  leia  o  art.  1.785.  Lá  está  dito  que  “o 
fideicomissário  pode  renunciar  a  herança  ou  legado,  e,  neste  caso,  o  fideicomisso  caduca,  ficando  os  bens  de 
propriedade  pura  do  fiduciário”.  Portanto,  ainda  não  se  extinguiu  o  direito  do  fiduciário.  Seria  absurdo  que  se 
falasse em caducidade, ou em ineficacização, de disposição testamentária, cujos efeitos já desapareceram. É preciso 
que ainda haja a propriedade fiduciária, para que, com a renúncia do fideicomissário, tal propriedade fiduciária se 
faça “propriedade pura”. Tanto a aceitação e a renúncia têm de ser ao tempo em que todos os herdeiros e legatários 
têm de aceitar ou renunciar, que  aceita a herança ou o legado pelo fideicomissário  tem êsse “direito à parte que ao 
fiduciário,  em  qualquer  tempo  acrescer”  (art.  1.786).  ~  Como  poderia  haver  acrescimento  ao  fiduciário  se  já  se 
extinguiu o seu direito? Tudo mostra que as páginas que CARLOS MAxIMILIANO (Direito das Sucessões, ~ 5Y 
ed., 128­180) tentaram sustentar tese absolutamente falsa e contrária à letra da lei (Código Civil, arts. 1.785, 1.786 
e  1.684).  Aliás,  também’  errado  CLÔvIS  BEVILÁQUA  (Código  Civil  comentado,  VI,  198),  cujo  texto  é 
contraditório: refere­se ao direito alemão, ao Projeto brasileiro primitivo, e no entanto acrescenta que a devolução 
é quando se extingue o direito do fiduciário. Êle tinha de ler, apenas, os arts. 1.785, 1.786 e 1.584. 
A  renúncia  pelo  fideicomissário  rege­se  pelos  mesmos  princípios  que  a  renúncia  pelo  fiduciário.  Se  já  falta  o 
fiduciário e passou o prazo para a renúncia pelo fideicomissário, de jeito nenhum se pode pensar em renúncia pelo 
fideicomissário.  Se  antes  de  extinguir­se  o  prazo,  falece  o  fiduciário,  o  fideicomissário,  que  aceita  ou  renuncia, 
aceita ou renuncia a herança ou o legado já liberado da fiduciariedade. 
Seria fora dos princípios exigir­se que o fideicomissário só pudesse renunciar quando ao fiduciário se extinguissem 
os direitos. 
Falar­se  de  recusa  ou  renúncia  da  herança  em  favor  de  determinada  pessoa,  como  está  em  CARLOS 
MAxIMILIANO  (Direito  das  Sucessões,  ~  5Y~  ed.,  78),  é  êrro  grave.  Não  bá  renúncia  de  herança  a  favor  de 
alguém: ou se aceita, ou se renuncia. O que pode ter havido é impropriedade de linguagem: chamou­se renúncia à 
cessão dos direitos, ou ao negócio jurídico transíativo da propriedade herdada. 
Outra afirmação que se há de repelir é a de que, sendo inalienáveis os bens fideicomitidos, em virtude de cláusula 
testamentária que pré­excluiu ou restringiu a alienabilidade pelo fiduciário, não pode êsse renunciar a herança ou 
legado.  Alguns  juristas  e  juizes  chegaram  a  êsse  ponto,  o  que  estabeleceria  a  irrenunciabilidade  de  deixas 
testamentárias.  A  inalienabilidade  pelo  fiduciário  apenas  é  para  o  caso  de  êle  aceitar  a  herança  ou  legado  em 
fideicomisso.  Incorreu  em  tão  grave  êrro  de  tornar  irrenunciável  a  deixa  se  o  testador  inseriu  no  testamento  a 
cláusula de inalienabilidade, a 83 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 21 de novembro de 1989 
(1?.  dos  T.,  125,  551;  antes,  o  próprio  Tribunal  de  Justiça,  102,  146).  O  que  pode  ocorrer  é  que  a  cláusula  de 
inalienabilidade  tenha  de  ser  interpretada  como  objetiva,  e  não  subjetiva,  isto  é,  incidente  no  bem,  quer  para  o 
fiduciário,  quer  para  o  fideicomissário,  quer  para  o  próprio  herdeiro  legítimo,  no  caso  de  faltarem  fiduciário  e 
fideicomissário.  Reputou  extensiva  a  cláusula,  portanto    objetiva,  em  caso  que  examinou,  a  23  Câmara  Civil  da 
Côrte de Apelação de São Paulo, a 31 de janeiro de 1936 (1?. dos T., 102, 146). 

2. FIDUCIÁRIO E FIDEICOMISSÁRIO.  Fiduciário e fideicomissário podem não aceitar. Ou um aceita e outro 
não. Induzem aceitação os mesmos atos de que se concluiria a aceitação pelo pleno herdeiro. Não podem optar em
parte, sob condição ou a têrmo (art. 1.588) ; nem a favor de um ou de alguns dos fideicomissários, e não de outros, 
ou de  um  ou de  alguns  dos  fiduciários;  nem  a  favor  dos  existentes,  se  os  há  eventuais,  53  Câmara  da  Côrte  de 
Apelação, 30 de setembro de 1924. 
Se o fiduciário ou o fideicomissário repudiam, os seus credores podem aceitar em seu nome (art. 1.586). 
Fiduciário  e  fideicomissário  não  respondem  além  das  fôrças  da  herança  (art.  1.587).  É  anulável  ou  retratável  a 
renúncia  nos  mesmos  casos  em  que  o  seria  a  renúncia  da  plena  herança  (art.  1.590,  1a  parte).  É  revogável  a 
aceitação (artigo 1.590, 29’ parte), Os arts. 1.588 e 1.589 só se aplicam às heranças legitimas, ou quando se tenha 
querido, testamentâriamente, seguir a sucessão legítima. 

3.CONTEÚDo nA REGRA JURÍDICA.  O único texto a que bem corresponde o art. 1.785 é o alemão, § 2.142, de 
cujo Projeto (§ 1.832) foi tirado. Como em outros pontos do capítulo, a doutrina alemã nos será fecunda. Também 
o § 2.142 só se refere à recusa da herança. Ambos são de natureza dis positiva. Mas é preciso notar que a presença 
da vontade do testador, obstáculo a invocação do art. 1.735, pode não ser direta, e. g., se, pela construção da verba 
testamentária,  cabe  acrescimento  ou  substituicão  do  fideicomissário.  Donde  não  se  aplicar  o  art.  1.735:  a)  se  o 
testador expressamente quis outra coisa; b) se existem dados volitivos de que se  induza outro querer do testador 
(acrescimento, substituição, direito do fiduciário subordinado à resolução pela renúncia do fideicomissário). 

4.INDIGNIDADE E ounos CASOS.  A lei brasileira e a sua fonte (Projeto alemão, § 1.832; Código Civil alemão, 
§ 2.142) só se referiram a renúncia; mas, no caso de indignidade, dá­se o mesmo (E. HEEZFELDER, Erbrecht, 3’. 
v. Staudingers Kommentar, V, 573). Quanto à morte do fideicomissário antes de receber, previu­o o art. 1.738. Se 
não  se  der  a  condição  a  que  se  subordinava  a  instituição  do  fideicomissário,  também  será  herdeiro  pleno  o 
fiduciário (F. RITGEN, em G.PLANCK, Bhirgerliches Gesetzbuch, V, 319). 

5.EFEITOS.  Se renunciam a herança o fideicomissário e o fiduciário, vai aos herdeiros a quem deve acrescer, ou, 
se isto não couber, ou não os houver, aos legítimos. 
Se  só  o  fideicomissário  renunciou,  a  herança  fica   ao  fiduciário,  que  nunca  o  foi,  porquanto,  pela  falta  do 
fideicomissário,  sucedeu  como  pleno  herdeiro.  Daí  a  expressão  alemã  “verbleibt”,  que  é  feliz,  e  a  outra  “o 
fideicomisso  caduca”,  da  lei  brasileira,  que  não  foi  exata  no  restante  da  frase  e  parece  significar  lapso  entre  a 
abertura da sucessão e a renúncia. 

6. DIREITO DE ACRESCIMENTO.  Diz o Código Civil artigo 1.736: “Se o fideicomissário aceitar a herança ou 
legado, terá direito a parte que, ao fiduciário, em qualquer tempo acrescer”. 

7.  ANÁLISE  DA  REGRA  JURÍDICA.    A  expressão  “acrescer”  não  está  no  sentido  restrito  de  advir  pelo  ins 
accrescendi (arts. 1.7104.712, 1.714 e 1.716) . A imprecisão também ocorre no art. 1.715, onde se deve ler “fica” 
em vez de “acresce”. 
O  art.  1.736  foi  inspirado  no  1  Projeto  alemão,  §  1.814,  1.a  parte,  onde  havia  a  referência  a  acrescimento 
(Ánwachsung). Infelizmente, como aconteceu, em todo o Código, quando o autor do Projeto brasileiro se inspirou 
no 1 Projeto alemão, sua verdadeira fonte, e através da defeituosa tradução de LA Gn..xSSERIE, não se conheceu a 
história posterior dos §§ 1.814 e 1.983 da II Comissão e do § 2.085 do III Projeto. (Não há nenhum indicio de que 
CLÓVIS  BEVILÁQUA,  antes  e  depois  do  Código,  inclusive  nos  comentários,  tenha  conhecido  o II Projeto  e  o 
Código nas alterações feitas aos dois projetos.) 
Na II Comissão, o § 1.983 ganhou em técnica: já se pôs claro tratar­se de regra interpretativa  (“im Zweifel”). Ora, 
no 1 Projeto, era dispositiva  e só para o caso de acrescimento, do que também se libertou o II Projeto (F. RITGEN, 
em  G.  PLANCIÇ,  Biirgerliches  Cesetzbuch,,  V,  285).  Também  dessa  alteração  não  teve  notícia  a  elaboração 
brasileira. 

8.CONTEÚDO  TOTAL  DA  REGRA  JURÍDICA.    Boa  interpretação  aconselha  que,  com  auxilio  do  art.  79  da 
Introdução, se dê ao art. 1.736 tôda a extensão que lhe manda atribuir a própria natureza das coisas. ~A regra vale 
quando nenhuma vontade disto resulte do testamento?  ~ Devemos considerar dispositiva  a regra jurídica, êrro de 
técnica em que caíram o 1 Projeto alemão e o Código Civil brasileiro? Dêle, como vimos, livrou­se o Código Civil 
alemão; a II Comissão alemã foi decisiva. No direito brasileiro, ~presume­se a aquisição iure accrencendi?  Seria 
de  graves  conseqUências,  maiores  do  que  as  derivadas  de  regra  jurídica  interpretativa  redigida  em  forma 
dispositiva, tanto mais quanto, no Código Civil, se ignora  a técnica das normas de direito. 
A  regra  jurídica  do  art.  1.736 do  Código  Civil  só  se  refere  aos  casos  de  não  poder ou  querer  aceitar  (premorte, 
renúncia, indignidade). Cabem os outros, em que também se dê falta de algum contemplado, herdeiro ou não, como 
se  dá  nos  artigos  1.715  e  1.719­1.732,  e,  até,  nos  arts.  1.713  e  1.673  (F.  HERZFELDER,  Erbrecht,  3’.  v. 
Staudingers Kommentar, V, 530).
Assim, temos de decidir, na dúvida:  
a) Que o fideicomissário que aceita a herança terá direito ao que advier ao fiduciário pela premorte, renúncia ou 
indignidade de algum ou de todos os co­herdeiros (arts. 1.710­1.712 e 1.714). Se o fideicomisso fôr de legado, ao 
que acrescer ao fiduciário como legatário (arts. 1.710, § 1.0, e 1.716). 
b)  Se  o  testador  fêz  o  fiduciário  substituto  de  outro  co­herdeiro,  ou  legatário,  o  fideicomissário  terá  direito, 
também, a essa parte (F. RITGEN, em G. PLANCK, Búrgerliches Gesetzbuoh, V, 285). 
c) Se o testador, com herdeiros legítimos, a um dêles dá fideicomisso <“deixo a Bto fideicomisso da quota do meu 
sobrinho mais velho”, “deixo aos meus herdeiros legítimos, sendo fiduciário do mais môço B”, ou se construtivos 
os  fiduciários),  o  que  advier  em  virtude  dos  arts.  1.673  e  1.713,  entende­se  devido  ao  fideicomissário  (F. 
HERZFELDER, Erbrecht, 3’. v. Staudingers Komrnentar, V, 530).. 
d) Se o legado ou motins impôsto ao fiduciário cai (por exemplo, art. 1.715), aproveita isso ao fideicomissário. 

9. DIREITO DE ACRESCER ENTRE FIDUCIÁRIOS E ENTRE EIDEICOMISSÂRIOS.  Se são dois ou mais os 
herdeiros  fiduciários  em  quinhões  não  determinados,  ou  os  legatários  fiduciários  a  respeito  do  mesmo  bem, 
determinado e certo, em disposição conjunta, há o acrescimento se um dêles renuncia a herança, ou dela é excluído, 
ou se não se verificou a condição. Dá­se o mesmo a propósito de dois ou mais fideicomissários. 
Se  todos  os  fideicomissários  renunciam,  ou  falecem,  ou  são  excluídos  da  sucessão,  ou  não  se  implemente  a 
condição a que subordinou a instituIção, o bem fideicomitido passa ao fideicomissário. 

10.CADUCIDADE E INVALIDADE DA SUBSTITUIÇÁO.  Perde tôda a eficácia a substituição se o herdeiro ou 
legatário, que foi instituído primâriamente, aceita a liberalidade e não ocorre, depois, retratação. Também se dá a 
ineficácia  da  deixa  em  substituição  se  o  substituto  premorre  ao  testador.  A  incapacidade  para  suceder  por 
testamento  pode  atingir  o  substituto.  Se  o  herdeiro  ou  legatário,  a que  o  substituto  havia  de  substituir,  retrata  a 
renúncia, não há substituição. 
Se  o  instituído  falece  depois  do  testador,  sem  ainda  ter  aceitado  a  herança  ou  legado,  cabe  aos  seus  sucessores 
aceitar ou renunciar. Se aceitam, não há qualquer direito do substituto. 
Se o instituído primàriamente, trate­se de herança ou trate­se de legado, morre antes do testador e do substituto, que 
sobreviveu ao decujo, recebe o substituto a herança ou legado e, se ainda não aceitara, nem renunciara, o direito de 
aceitar ou renunciar transmite­se aos seus herdeiros. 
Se  o  fideicomissário  falece,  ou  renuncia  a  herança,  ou  e  julgado  indigno,  caduca  o  fideicomisso.  A  extinção  da 
pessoa  jurídica,  nomeada  fideicomissária,  acarreta  caducidade.  Em  todos  êsses  casos,  o  fiduciário  torna­se 
proprietário puro, para se empregar, aí, a expressão que está no art. 1.735. Ésse texto da lei só se refere à renúncia, 
mas a regra jurídica geral está nos arts. 1.595 e 1.708, IV e V. 
Se  o  renunciante  é  o  fiduciário,  antecipa­se  a  transmissão  da  propriedade  e  da  posse  ao  fideicomissário,  que 
somente era, por herança ou legado, titular de direito expectativo, salvo se o testador dispôs diversamente (e. g., se 
nomeara substituto ao fideicomissário, ou se é caso de acrescimento). 
Se  a  morte  do  fideicomissário  foi  simultânea  à  do  testador, quem  fôra  nomeado  fiduciàrio  recebe a  propriedade 
pura, porque, à abertura da sucessão, a deixa não foi em fideicomisso, a despeito dos têrmos do testamento. 
Se falecem no mesmo momento fiduciário e fideicomissário, depois da abertura da sucessão, o caso é de sucessão 
do fiduciário, que já era proprietário dos bens quando faleceu. Ao fideicomissário extingue­se o direito expectativo, 
uma  vez  que,  ex  kypotkesi,  o  fideicomisso  era  ligado  à  vida  do  fiduciário  e,  quando  essa  ocorreu,  já  também 
falecera o fideicomissério (cf. Código Civil, art. 11). 
Se perece o bem fideicomitido, sem culpa do legatário fiduciário, caduca o fideicomisso. É o que resulta do art. 
1.708, III, do Código Civil e dos princípios gerais sôbre herança. 
A nulidade ou a anulação da disposição testamentária em que se instituiu herdeiro ou legatário de modo nenhum 
produz nulidade ou anulação da substituição. Há, aí, duas disposições distintas, por títulos diferentes. Pode mesmo 
dar­se que urna conste de testamento válido e outra de testamento nulo ou anulável. Inválida uma, a outra não é, 
por estar  inserta  em  negócio jurídico unilateral  válido.  A  substituição,  em  si  mesma,  pode  ser  nula, ou anulável, 
sem que o seja a instituicão do herdeiro ou legatário que seria sucessor primário. 

§ 5.888. Responsabilidade do fideicomissârio 

1.RESPONSABILIDADE  PELOS  ENCARGOS  DA  HERANÇA.  Diz  o  Código  Civil,  art.  1.737:  “O 
fideicomissário responde pelos encargos da herança que ainda restarem, quando vier à sucessão 
Como proprietário e possuidor da herança ou do legado, o fiduciário responde como proprietário e possuidor pelas 
dividas fiscais, pelos danos que o bem cause e sejam exigíveis pela pessoa que os sofreu, ou pelas pessoas que os 
sofreram. No momento em que se dê a transmissão automática ao fideicomissário, êsse começa a responder como 
responderia,  se  ainda  fôsse  proprietário  e  possuIdor o  fiduciário.  São  os  encargos  (lato  sensu) da  herança,  “que 
ainda restarem”, como se diz no Código Civil, art. 1.737.
O testador pode restringir a responsabilidade do fiduciário, desde que o faça expressamente, sem que da cláusula 
resuíte exoneração da restituição, ou prejuízos intencionais ao fideicomissário. 
Ao  fideicomissário  transferem­se  os  deveres  e  obrigações  resultantes  da  administração  regular,  eficiente  do 
fiduciário. Aliter, os que se originarem de gravames do bem, exceto se foram para garantir reconstrução necessária, 
ou medida que foi exigida, legalmente, por autoridade pública. 

§ 5.888. RESPONSABILIDADE DO FIDEICOMISSARIO 

O  seguro ou qualquer  indenização  que  se  pagou ao  fiduciário por perda, ou destruição,  total  ou parcial,  do bem 


fideicomitido,  insere­se  no  bem,  de  jeito  que,  ao  ocorrer  a  titularidade  do  fideicomissário,  tem  êle  direito  e 
pretensão pelo que o fiduciário recebera. 
O  fideicomissário,  que responde pelas  despesas  que não  foram  liquidadas e  pagas  pelo  fiduciário, fica  diante  de 
terceiros, que sejam os credores, em vez do fiduciário (cf. 43 Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 
10 de setembro de 1941, E. dos T., 135, 677). Ou o fideicomissário as exige dos herdeiros do fiduciário, para solvê­ 
las, ou as solve sem as exigir, ou se expõe a que, se nao as paga, possa haver a venda judicial do bem ou de algum 
bem  fideicomitido.  Mas,  para  a  venda  judicial,  é  preciso  que  se  tenham  observado  os  pressupostos  e  as 
formalidades processuais, e não por arbítrio do juiz, como talvez haja acontecido no caso da decisão da 23 Câmara 
Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 20 de abril de 1934 Cl?. dos 2’., 92, 145). 

2.CONTEÚDO  DA  REGRA  JURÍDICA.    Se  à  herança,  ou  legados  fideicomitidos,  ordenou  o  testador  que  se 
entregasse a outrem certa coisa ou valor, ou se impôs modus, ou recomendação, entende­se que são obrigados o 
fiduciário  e  o  fideicomissário.  o  primeiro  até  acabar  a  fiduciariedade  e  o  segundo,  a  partir  disso.  Se,  durante  a 
fidúcia, o fiduciário não cumpriu a disposição testamentária e não se tratava de obrigação personalíssima, cumpri­ 
la­ão, no seu tempo, os fideicomissários. 
Na lei fala­se de “encargos”, palavra com que se traduziu motins nos arts. 1.180 e 1.731 (no art. 1.664 preferiu­se 
“modo”). Aqui, e no art. 1.587, muda a acepção: no art. 1.587, “cargos” são obrigações da herança; no art. 1.737, 
abrange  legado,  modo  e  obrigações,  porque,  em  verdade,  o  fideicomissário  responde  por  todos  êles.  No  seu 
comentário, onde a terminologia científica é anárquiça, CLÓVIS BEvILÁQUA (Código Civil comentado, VI, 200) 
raciocinou como se só se tratasse de obrigações. Vago JOAQUIM AUGUSTO FERREIRA ALVES (Da Sucessão 
testamentária, Manual do Código Civil brasileiro, XIX, 359). Mas, sendo o princípio aplicável às obrigaçoes e as 
determinações testamentárias, melhor será entendê­lo integralmente. 

§ 5.839. Caducidade e nulidade do fideicomisso 

1.MORTE  DO  FIDEIGOMISSÁRIO  ANTES  DO  FIDUCIÁRIO.    Diz  o  Código  Civil,  art.  1.788:  “Caduca  o 
fideicomisso,  se  o  fideicomissário  morrer  antes  do  fiduciário,  ou  antes  de  realizar­se  a  condição  resolutória  do 
direito dêsse último. Nesse caso a propriedade consolida­se no fiduciário nos têrmos do artigo 1.785”. 

2. CONVINIÊNCIAS do Código Civil suíço, art. 492. 2.ª alínea, chileno, arts. 788 e 762. 

8.CONTEÚDO  DA  REGRA  JURÍDICA.    Nos  casos  normais,  o  fiduciário  fica  livre  do  gravame,  desde  que  o 
fideicomissário  morra  antes  dêle  ou  antes  de  se  realizar  a  condição  resolutória.  Dois  casos  foram,  portanto, 
previstos:  a)  o de  fideicomisso  a  têrmo de  morte; b) o de fideicomisso  sob  condição resolutiva  Mas  o  art. 1.788 
permite outros têrmos e a própria condição resolutiva está sujeita à vontade contrária do testador, porquanto o art. 
119 não é direito cogente. 
O  fiduciário  pode  renunciar  a  propriedade,  como  qualquer  proprietário  (Código  Civil,  art.  589,  II,  e  § 1.0  e  até 
abandoná­la (art. 589, III, e § 2.0). De regra, a propriedade do fideicomissário antecipa­se, salvo se outra solução 
resulta do testamento, ad instar  do que ocorre em caso de morte do fidudano, depois de aceitar a herança e antes de 
se  atingir  o  têrmo  ou  se  realizar  a  condição.  Os  escritores  nacionais,  franceses  e  italianos,  que  bordam 
considerações a técnicas sôbre o assunto, deixam de atender a que “renúncia” no art. 1.785 é renúncia da herança. 
Não  se  regulou  a  renúncia  da  propriedade  pelo  fiduciário,  nem  pelo  fideicomissário  (que  ainda   não  na  tem). 
Quanto ao fiduciário, rege o Código Civil, art. 589, II, e § 1.0. Se o testamento não no veda, a antecipação opera­ 
se.
Aplicar o art. 1.788 a todos os fideicomissos seria injusta confusão com as substituições Se o fideicomisso não é 
pensonalíssimo,  não  será  preciso  que,  ao  tempo  da  restituição,  viva  o  fideicomissário  Não  é  outra  a  lição  da 
ciência: “Ist die Nacherbeinsetzung bcfristet” , diz TH. Rípp (Lehrbnch des Bhirgerliehen Rechts, II, 3, 310), “so ist 
es nicht erforderlich, dass der Nacherbe den Nacherbfall erlebt; vielmelir geht, wenn er vorher stirbt, sem Recht auf
seine  Erben  Uber,  vorausge  setst  nur,  dass  er  nicht  schon  von  dem  Tode  des  Erbíasseni  gestorben  ist”.  Se  o 
fideicomissário  morrer  antes  do  testador,  sim:  a  sucessão  vai,  plena,  ao  que  seria  fiduciário.  Certo,  se  vive  à 
abertura da sucessão, e não ao tempo de expirar o têrmo os seus herdeiros receberão. 
lÊ inerdável o direito do fideicomissário? Se não houvesse nenhuma regra no Código Civil, a solução normal seria 
a  seguinte:  herdável,  no  caso  de  fideicomisso  a  têrmo;  na  dúvida,  não  herdável,  se  condicional  (TH.  RIm’, 
Lehrbuch des Biirgerlicken Reckts, II, 8, 314). Temos, porém, o art. 1.788. ~ Constitui êle exceção ao art. 128, ou 
somente cogitou do fideicomisso condicional? É a questão máxima do art. 1.738. 
O art. 1.788 é dispositivo e só aplicável aos fideicomissos condicionais e aos fideicomissos por morte do fiduciário. 
Ai, há têrmo, e não condição; porém o pensamento da lei brasileira foi subordiná­los ao art. 1.788, devido ao êrro 
de  CLóvís  BEVILÁQUA  que  viu  no  têrmo  de  morte  a  condição  suspensiva  de  sobreviver.  A  fortiori,  se  há 
condição  suspensiva  do  direito  do  fideicomissário  (sem  ser  a  situação  de  suspensão,  derivada  da  resolutiva  ao 
fiduciário), os herdeiros do fideicomissário não herdam, salvo vontade testamentária que o ordene. 
No Código Civil suíço, art. 492, lª alínea, constrói­se o fideicomisso como substituição, e nisso estão no mesmo pé 
os dois Códigos. Mas também lá o art. 492, 2·a alínea, é dispositivo e não se aplica àqueles têrmos que não sejam o 
de  morta  do  fiduciário:  se  o  têrmo  é  de  outra  espécie,    em  1940,  por  exemplo,    seria  absurdo  retirar  a 
hereditariedade do direito do fideicomissário. No Brasil, violaria o art. 128, que é regra de direito dispositivo. 
Herdeiros  do  fideicomissário  que  podem  receber  os  bens  do  fideicomisso  são  assim  os  legítimos  como  os 
testamentánios. 
(A.SUTER,  fie  Nacherbschaft nach  dem  schweizerischen  Zivilgesetzentwurf  e,  129;  A.  ESCfrER,  Das  Erbrecht, 
Kommentar zum schweizerischen Zivil.qesetzbuck, III, 64). 
Um­se­á que CLóvís BEvILÂQUA, nos seus comentários, trata os artigos como se fôssem ins coqens;  mas isto não 
constitui  razão.  Uma  regra  não  é  ins  cogens  ou  regra  jurídica  dispositiva  porque  tenha  havido  essa  ou  aquela 
intenção oculta; e sim porque, em sua natureza, o é. Aliás, quem quer que leia a obra de CLÓvIS BEVILÂQUA 
logo  percebe  como  lhe  passa  quase  despercebida  a  fundamental  diferença  entre  o  imperativo,  o  dispositivo  e  o 
interpretativo. Acresce ainda que o art. 1.738, in fine, remete ao ad. 1.735, que é dispositivo, e essa 2~a parte do art. 
1.738 teve a seguinte elaboração: “consolida­se a propriedade dos bens fideicomitidos, em benefício do gravado, se 
outra coisa quando tiver determinado o testador”  (Projeto primitivo, art. 1.904) ; “a propriedade consolida­se no 
fiduciário como está disposto no art. 2.099” (revisto, art. 2.102). Portanto, a própria intenção foi outra. 
O  art.  1.738 refere­se  à  morte do  fideicomissário  antes  do  fiduciário,  e o  art. 1.735  à  renúncia. Não  se  falou da 
incapacidade  ou  indignidade  do  fideicomissário.  Nestes  dois  casos,  como  no  da  renúncia,  o  fiduciário  recebe  o 
pleno direito. 
4.ALTERAÇõES “EX VOLUNTATE”.  O testador pode alterar o que se estatui no art. 1.738: a) Fazendo a têrmo, 
que  não  seja  o  de  morte,  o  fideicomisso  (art.  123).  b)  Fazendo­o  sob  condicão  resolutiva,  mas  impondo  a 
herdabilidade  do  direito  do  fideicomissário.  o)  Fazendo­o  a  têrmo  de  morte,  com  a  herdabilidade  do  direito  do 
fideicomissário.  d)  Nomeando  substituto  ao  fideicomissário,  quer  sejam  os  herdeiros  dêsse,  quer  estranhos  (P. 
TuoR, Das Erbrecht, Kommentar zum. Schweizerischen Zivilgesetzbuch, III, 262), caso em que haverá substituioão, 
e não herdabilidade do direito eventual. 
Nomeando mais de um fideicomissário conjuntivamente, os arts. 1.710 e 1.711 só serão aplicáveis se a morte fôr 
antes  da  abertura da  sucessão  (art.  1.712);  porque,  havendo  disposição  especial  do  testador,  quando  a  morte  fôr 
após a sua, a substituicão ou a herdabilidade é que se dará, e não o acrescimento. 

5. MORTE DO FIDUCIÁRIO.  O tipo normal dos fideicomissos, para o Código Civil, é o feito a têrmo de morte; 
por  isto,  nêle,  nenhuma  regra,  imperativa,  dispositiva  ou  interpretativa,  se  encontra,  que  se  refira  à  morte  do 
fiduciário. No entanto, ,~ que se há de resolver quando o fiduciário morrer antes de chegar ao dia da resolução, ou 
de se realizar a condição resolutiva? 
Se a têrmo, que não seja o de morte, os herdeiros do fiduciário o aguardam, salvo contrária disposição do testador, 
que faça personalíssimo o fideicomisso. Idem, no caso de condição resolutiva. Enquanto não se realiza a condição, 
o fideicomissário não poderá exigir os bens. A situação dêle é a de um legitimado em situação de suspensão, donde 
certos pré­e feItos (possibilidade de alienar o direito eventual, direito à testamentaria, à inventariança, à caução, cp. 
P. TuoR, Das Erbrecht, Kommentar zum Schweizerisehen Zivilgesetzbuck, III, 263, A. SUTER, fie Nacherbschaft 
nach  dem  schweizerischeu  Zivilgesetzentwur  fe,  82  s.).  Se  há  condição  suspensiva  (note­se  bem:  condição 
suspensiva  e  não  só  situação  de  suspensão,  derivada  da  resolutiva  imposta  pelo  testador  ao  fiduciário),  não  há 
herdabilidade do direito (arts. 118 e 121). 

6. REGRA QUE FALTA.  Já dissemos que a morte do fiduciário antes do testador, a renúncia, a incapacidade, a 
indignidade, fazem com que os bens vão, diretamente, ao fideicomissário. Não temos regra legal a respeito; têm­na 
os suíços. art. 492, g·a alínea, de natureza dis positiva  (P. TuOR, De Erbrecht, Kommerttar zum Schweizerischen 
Zivilgesetzbuch,  III,  263,  contra  a  opinião  insustentável  de  A.  ESCEER,  Das  Erbrecht,  Kommerttar  zum 
schweizerischen  Zivilgesetzbuch,  III,  69).  O  testador  poderá  dispor  diversamente,  mesmo  porque  são  os  casos
típicos de substituição. 
Se a vontade do testador era que só se entregassem os bens ao tempo marcado, ou se a condição não foi somente no 
interêsse do fiduciário os herdeiros legítimos ou os testamentários guardarão os bens, É questão de interpretação da 
verba. A substituição é o que, na dúvida, querem os alemães; o que dispositivamente ordenam os suíços. 
Lê­se na decisão da g·a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 30 de maio de 1947 (E. dos T., 168, 
266) 
~‘Embora  não  regulado  satisfatôriamente,  o  fideicomisso,  não  era  desconhecido  no  direito  anterior,  como 
desconhecido não era o direito de acrescer entre herdeiros e legatários contemplados em disposição conjunta. Ora, 
sendo o fideicomissário mero detentor de expectativa de direito, os velhos civilistas discutiam vivamente sôbre se, 
pré­morrendo êle ao fiduciário, o seu direito assim condicionado se transmitia ou não aos seus sucessores. Opinião 
em  voga  entre  os  jurisconsultos  da  época  era  a  de  que  a  spes  debitum  iri  não  se  transmitia  em  se  tratando  de 
disposição de última vontade, só se transmitindo quando originária de condição ligada a relações contratuais. Ésse 
conceito,  haurido  no  direito  romano,  condensou­se  no  atual  dispositivo  do  art.  1.788,  segundo  o  qual  o 
fideicomisso caduca em ocorrendo premorte do fideicomissário. A segunda parte do dispositivo citado, de acôrdo 
com  a  qual,  a  propriedade,  nesse  caso,  se  consolida  no  fiduciário,  não  se  aplica,  como  é  óbvio,  quando  ocorre 
disposição  conjunta,    hipótese essa  para  a  qual  a  solução  vem  preconizada  no  art.  1.710 do  mesmo  Código”.  O 
fideicomissário  que  herda  ou  recebe  o  legado  sem  tal  qualidade,  de  modo  nenhum  se  distingue  dos  herdeiros  e 
legatários em geral. Beneficia­se com a saisina (cp. ~ Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 4 de 
abril de 1945, 160, 656; 2.~ Câmara Civil, 12 de fevereiro de 1938, 112, 162; 4ª Câmara Civil, 11 de dezembro de 
1935, 104, 595). 

7.FORMALIDADES  DO  REGISTO.    Nos  casos  em  que  se  extingue  o  fideicomisso,  ou  porque  a  propriedade 
passe,  íntegra,  ao  fideicomissário  ou  porque  se  consolide  no  fiduciário.  o  interessado  deve  pedir  a  extincão  da 
verba  (chamada extinção de fideicomisso), que é simples julgamento declaratório, porquanto já está extinto, para 
todos  os  efeitos,  o  gravame.  A  maior  utilidade  prática  é  a  de  ser  ordenado,  pelo  juiz,  o  cancelamento  das 
transcrições.  Cumpre  atender  a  que  os  direitos  de  fiduciário  e  os  de  fideicomissário  passam,  com  a  morte  do 
testador,  aos  beneficiados,  independente  de  qualquer  formalidade  e  valem  quanto  a  terceiros  (art.  1.572),    nada 
importam  certas  regras  de  regulamento  de  registo  que  não  atenderam  ao  sistema  adotado  pelo  Código  Civil. 
Também a resolução se opera sem necessidade de se cancelar o registo. 
8.  DOS  GRAUs  DE  INSTITUIÇÃO.    Diz  o  Código  Civil,  artigo  1.789:  “São  nulos  os  fideicomissos  além  do 
segundo grau . 
9.  CORRESPONDÊNCIAS    Código  Civil  chileno,  art.  745;  espanhol,  art.  781;  suíço,  art. 488,  2.~  alínea.  Sem 
limite de graus, o alemão. 
10.DIREITO  ANTERIOR    Só  se  admitia  um  fideicomisso  (a  que  se  chamava,  e  bem,  do  1.0  grau).  Assim  a 
doutrina  (M.  A.  COELHO  DA  ROcHA,  Instituições  de  Direito  Civil  portugues,  §  719;  A.  TEIXEIRA  DE 
FREITAS, Consolidação das Leis Civis, nota 2 ao art. 73), como a jurisprudência (Côrte de Apelação, 25 de abril 
de 1892), contra a opinião de JUSTINO DE ANDRADE (O D., 57, 122). 

11.CONTAGEM  DOS  GRAUS.    A  lei  brasileira  fala  em  2.0  grau.  ~Que  entende  ela  por  isto?  Rigorosamente, 
segundo grau seria o seguinte: “O testador institui fiduciário ao filho, aos filhos dêsse fideicomissários e aos filhos 
dos  netos  fideicomissários  do  segundo  grau”.  Para  não  dar  exemplo  que  pudesse  interpretar­se  como  opinativo, 
tiremos  de um  trecho  de  F.  ENDEMANN  (Lehrbueh des  B’drgerlichen  Rechts,  III,  881>  :  “Der  Erbíasser  setzt 
seinen Sohn zum Vorerben, dessen Rinder zu Nacherben und die von diesen in seiner Zukunft erwarteten Enkel zu 
Nacherben zweiten Grades em”. Mas a má contagem  vem de longe e deriva das velhas  leis que diziam, como as 
leis  francesas,  “institution  non  comprise”.  Agora,  o  Código  Civil  conta,  sem  nada  dizer,  para  se  entender 
“institution  comprise”.  E  porque  foi  omisso,  JOAQUIM  AUGUSTO  FERREIRA  ALVES  entendeu  que  se 
permitiam  dois  fideicomissos  (Da  Sucessão  testamentária,  Manual  do  Código  Civil  brasileiro,  XIX,  368)  :  “O 
Código  Civil  permite  o  fideicomisso  de  dois  graus;  e  a  êsse  respeito  estatui  o  art.  1.739  que  nulos  são  os 
fideicomissos  além  do  segundo  grau;   e  assim  admite  dois  substitutos,  o  primeiro  que  sucede  ao  fiduciário,  ao 
herdeiro  instituído,  e  o  segundo  que  sucede  ao  primeiro  referido  substituto.  São  proibidos,  portanto,  os 
fideicomissos do terceiro grau em diante”. 

12.FUNÇÃO  DA  REGRA  JURÍDICA.    São  nulas  as  fidúcias  impostas,  quanto  aos  mesmos  bens,  aos 
fideicomissários. Isto, e só isto, é o que pretende o art. 1.739. Tratando­se de nulidade absoluta, não é preciso que 
se proponha ação. Em qualquer têrmo de processo, do inventário ou de outro, pode ser apontada, e o despacho do 
juiz será simplesmente declaratório. 
Cumpre saber, precisamente, quais as outras nomeações, a que se refere o art. 1.739, isto é, quais as nomeações do 
terceiro grau (segundo a contagem do Código), que são nulas.
Para  que  haja  a  nulidade,  é preciso  que os  bens  tenham de ir,  transitivamente,  de  A  a  B  e de  B a  C.  Donde  ser 
pressuposto  da  verba  nula  a  partir  do  terceiro  grau  (2.0  fideicomisso)  a)  Identidade  do  primeiro  instituído  e  do 
segundo (fideicomissário). b) Identidade do objeto. 
Se  o  testador  disse  deixo  a  A,  passando  a  B,  que  dos  bens  dará  pensão  à  mãe  de  A,  vale  a  verba.  Não  há  dois 
fideicomissos:  há um fideicomisso e uma pensão (legado de modus, conforme os têrmos do testador). Ainda que 
tenha dito “deixo a A, passando a E, que, ao receber, entregará a metade a C” vale. Porque a metade vai a C, como 
legado a têrmo da morte de A. Demais, não haveria o tractus temporis entre B e 
que permitisse a figura do fideicomisso. ~ Quid iuris, se disse “lego a A, passando a B e, dez anos depois, a C”? 
Aqui, há o tractus temporis. C não é legatário, porque seria forçar crê­lo legatário sob modalidade dupla (morte de 
E + 10 anos). Se disse “lego a A, passando a E, cabendo a C a metade se E estiver casada”, vale; fiduciário é A; E, 
fideicomissária do todo, se continuou solteira, ou de metade, se casou; C, fideicomissário, se E se casou. Não há, 
no  tempo,  mais  de  um  fideicomisso,  e  sim  um  só  com  dois  fideicomissários  a  têrmo  de  morte  de  A  e  ambos 
condicionais. 
Se a verba estatui “lego a A, passando a B aos 30 anos, ou, se E tiver falecido, ou se já se casou, a C, por morte de 
A”, vale. A é fiduciário, E e O fideicomissários condicionais disjuntivos (ou E ou C), substituindo C a E em caso 
de morte. 
Se  o  testador disse  “deixo  a  A, passando  a E  e de  E a  seus  herdeiros”,  não  se pode  considerar  válida  a segunda 
passagem, porém a expressão “e de E a seus herdeiros” deve ser interpretada como fideicomisso herdável, no qual, 
se E morrer antes do fiduciário, os seus herdeiros receberão, por morte do fiduciário, os bens. Idem, se o testador 
ordenou “passando a E ou seus herdeiros 
Quando fôr dito “passando a. E ou a D”, a construção será a seguinte: E fideicomissário, D substituto. 
Não há  fideicomisso  além  do  segundo  grau.  Se  há  ofensa  à  regra  jurídica  que  está  explícita  na  lei,  a  disposição 
testamentária é nula. O que pode haver é substituição vulgar ou recíproca do fideicomissário (cf. ~ Câmara Civil do 
Tribunal  de  Justiça  de  São  Paulo,  31  de  maio  de  1951,  R.  dos  T.,  193,  784).  A  cláusula  de  ser  usufrutuário  o 
fideicomissário  e  a  propriedade  dos  descendentes  do  testador  ou  de  outrem  énula,  porque  estabeleceria  terceiro 
grau (cf.  4·a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 25 de abril de 1946. 165, 292). Se há cláusula 
testamentária que estende a terceiro grau o fideicomisso, essa cláusula é nula, pôsto que válida a que concerne ao 
segundo grau (Câmaras Reunidas do Tribunal de Apelação do Rio de Janeiro, 3 de maio de 1939, A. 1., 51, 53;  1a 
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Rio Grande do Sul, 29 de maio de 1937, R. dos 7’., 113, 803; 2.~ Câmara 
Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 27 de abril de 1948, 174, 786). 
Se o testador disse que seriam fideicomissários os filhos do fiduciário, ou “descendentes” do fiduciário, ou de outra 
pessoa determinada, inclusive do próprio testador, tem­se de considerar a espécie como deixa à prole existente e à 
prole eventual. O fiduciário pode renunciar, como pode premorrer ou falecer depois do testador; de qualquer modo 
os fideicomissários são os beneficiados definitivamente. (É êrro dizer­se que, se fideicomissários são descendentes 
do fiduciário, êsse não pode renunciar, o que lamentâvelmente está na decisão da 63 Câmara Cível do Tribunal de 
Justiça do Distrito Federal, a 28 de janeiro de 1947, R. F., 95, 117.) 
Só é nula a passagem que evidentemente fôr segunda fidúcia. 

13.OUTROS CASOS ESCAPOS À REGRA JURÍDICA VEDATIVA. 
Se o testador quis que “os bens fôssem a A, passando a E em nua­propriedade e a O em usufruto”, vale a verba: A 
é o fiduciário; E, fideicomissário da nua­propriedade, C, do usufruto. Só há, no tempo, um fideicomisso, pôsto que 
o  testador  houvesse  cindido  a  propriedade  ao  terminar  a  fiducialidade.  A  partir  da  morte  de  A,  não  há  mais 
propriedade  gravada  de  fideicomisso; êsse  já  se  extinguiu;  restam, tão­somente,  a  propriedade desmembrada e o 
usufruto que dela se desmembrou. 
Se foi dito que “A receberia os bens e passariam a E até os 25 anos, depois a O”, a passagem a O é nula. Se disse 
que “A e E receberiam, alternar­se­iam (ou não) as rendas, passando por morte de ambos (ou de um dêles) a O”, 
vale. A e E seriam fiduciários (conjuntos ou não) e C o fideicomissário. 
fl permitido nomear dois ou mais fiduciários, pois todos são do mesmo grau e têm o mesmo benefício; bem como 
nomear dois ou mais fideicomissários, pois todos são do mesmo grau e têm o mesmo beneficio. Ainda mais: nada 
obsta a que se apontem substitutos a todos, ou a alguns, ou a um só, com ou sem reciprocidade. 

14.NULIDADE  DA  INSTITUIÇÃO  DO  FIDEICOMISSÁRIO.    Diz  o  Código  Civil,  art.  1.740:  “A  nulidade  da 
substituição ilegal não prejudica a instituição, que valerá sem o encargo resolutório”. 
15.CORRESPONDÊNCIAS.  Código Civil espanhol, artigo 786; italiano, art. 900; argentino, art. 8.780; uruguaio, 
artigo 829. Contra: Código Civil francês, art. 896. 

16.CONTEÚDO  DA  REGRA  JURÍDICA.    A  lei  quis  dizer  que,  se  houve  segundo  fideicomisso,  êsse  não  será 
válido,  mas  ~  isto  não  prejudicará  as  nomeações  do  fiduciário  e  do  fideicomissário?  Como  está  redigida,  só 
abrange os casos de nulidade do próprio fideicomisso permitido, casos em que, a despeito da eiva próxima, valeria
a instituição. Aliás, assim é no art. 786 do Código Civil espanhol, de onde o trouxe o Projeto. À pergunta inicial 
também  devemos  responder  afirmativamente,  pelo  princípio  da  separação.  Além  disto,  há  a  nulidade  da 
substituição vulgar. 
Portanto, três casos de não­viciação do útil: 
a)A nulidade da substituição não prejudica a instituição. Essa valerá e não valerá o gravame nulo. 
b)A nulidade do segundo fideicomisso e dos outros não prejudica o primeiro. CLOVIS BEVILÁQUA, art. 1.906, 
copiou o Código espanhol; mas, nos comentários, atribui ao texto o caso que nêle não está compreendido, e nem 
uma  palavra  diz  do  que  está,  fàcilmente  perceptível,  nas  palavras  da  lei.  É  interessante  ler  o  art.  1.740  e  o 
comentário de CLóvís BEVILÁQUA, que faz a lei dizer uma porção de coisas que nela não estão. Certo, o art. 786 
do Código espanhol, que concerne ao caso a) acima formulado, pouco adianta e o de que se necessitava era a regra 
jurídica  para  o caso  b)  (ainda  assim,  fàcilmente  se  entenderia);  mas  foi  o próprio  CLÓVIS  BEvILÁQUA  que o 
copiou!  O  adjetivo  ilegal  afeia;  sem  ter,  contudo,  consequências.  A  regra  jurídica  do  art.  1.740  é  própria  dos 
Códigos que proibem fideicomissos, como o italiano, art. 901, e o português, art. 1.869. O testador deixou “a A a 
fortuna,  passando  a  E  e  de  B  a  C,  a  cada  morte”,  a  passagem  a  C  não  vale,  vale  a  de  A  a  E;  de  modo  que  E, 
fideicomissário, receberá a herança sem gravação. À instituição, estrito senso, ou nomeação do primeiro fiduciário, 
não  interessa  a  parte  final  do  art.  1.740;  cai  o  nulo,  fica  o  eficaz,  em  virtude  da  separação  das  disposições 
testamentárias. 
e)A nulidade da substituição vulgar não prejudica a instituição. Como está redigido, o art. 1.739 abrange êsse caso~ 
A  nulidade  ou  ineficácia  da  instituição  do  fiduciário  tambem  não  prejudica  a  do  fideicomissário  (LAFATETE 
RODRIGUES  PEREIRA,  São  Paulo  judiciário,  X,  Si  s.).  Assim,  se  A  é  incapaz  ou  se  a  primeira  instituição  é 
contra a ordem pública, e sem eiva a segunda, vale essa. 
Se  é  nula,  ou  se  foi  anulada  a  cláusula  que  instituiu  o  fideicomisso,  não  há  instituição  de  fiduciário,  nem  de 
fideicomissário. Idem, se nulo é ou anulado foi o testamento. Pode dar­se que nem toda a cláusula testamentária 
seja nula, ou tenha sido anulada. A invalidade pode só atingir a instituição do fiduciário, ou só a do fideicomissário, 
ou só alguma parte de uma cláusula. Então, tem­se de afastar a extensão do enunciado de invalidade. 

§ 5.840. Acões dos instituidos 

1.AÇÕES DO FiDUCIÁRIO.  Desde o instante da morte do fideicomitente o fiduciário recebe os bens da herança 
ou legado fideicomitido. Enquanto não se dá a resolução, êle exerce todas as ações do herdeiro, desde a petição de 
herança, e todas as ações do dono dos bens, que êle é. 
A ação do fiduciário contra o fideicomissário para reembolsar­se das despesas, a que foi obrigado, e não deviam 
correr por sua conta, é a de  rem verso;  e aqui, porque não se pode assimilar o fiduciário a um usufrutuário, multar» 
arbitrio indicis permissuflest. 

2.ACÔES  E CAUTELAS  DO  FLUEICOMISSARIO.   O  fideicomissário  é  herdeiro, desde o  instante  em  que  se 
abre a sucessão, porém os bens não lhe passam, em sua consistência material e jurídica. Não tem a saisinti;  mas, 
quando se resolver a propriedade do fiduciário, terá tido. Resta saber se vode, antes da resolução, usar de ações do 
domínio e da posse. 
A situação dele é  a de quem estivesse sujeito a condição suspensiva; toca­lhe, pois, exercer os atos destinados à 
conservação (art. 121). ~As ações de domínio e da posse cabem no art. 121? (O art. 121 corresponde ao Código 
Civil francês, ad. 1.180, se bem que êsse se refira a obrigações. Enquanto o brasileiro generalizou, o suíço, art. 176, 
abandonava o preceito.) Nao cabem; o fideicomissário pode pedir caução ao fiduciário e exercer a açâo de petiç~o 
de herança, porque é herdeiro. Se o fiduciário está ausente e não se acham acautelados os bens, é legitimado para 
pedir a arrecadaçâo dêstes e a nomeação de curador. Se o fiduciário está presente, ou, ausente, pode ser citado, tem 
direito à caução. 
Se  o  fiduciário  está  ausente  e  não  se  acham  acautelados  os  bens,  o  fideicomissário  é  legitimado  para  exercer  o 
cargo da testamentaria, porque é herdeiro instituido (art. 1.76W). e para o da inventariança (art. 1.579, § 2.0). Se o 
testador deixou fideicomissário e não aparecem o fiduciário e os outros herdeiros, não se arrecadam como herança 
vacante os bens do espólio; porque fideicomíssário é herdeiro. 
Se o fiduciário se ausentou, sem notícia, o fideicomissário pode requerer a curadoria de ausentes (arts. 463 si ;  mas, 
passado os dois anos do art. 469, os bens não irâo aos herdeiros legítimos ou testamentários do fiduciário, e sim ao 
fideicomissário,  provísôriamente  (art.  470,  III),  até  que  se  dê  a  presunÇão  dos arts.  481  e  482.  Se  o  fiduciário 
aparecer,  o  fideicomissário  terá  feito  seus,  pela  metade,  os  frutos  e  rendimentos  dos  bens  (art.  477).  Se  não 
aparecer, poderá ser requerida, trinta anos depois, a entrega definitiva e o levantamento das cauções prestadas (art. 
481) e, depois desta, o fiduciário, que aparecer, terá direito aos bens existentes, no estado em que se acharem, aos 
sub­rogados, e ao preço recebido pelos alienados depois daquele tempo (ad. 483). 
Se o fideicomisso não era a têrmo de morte, resolvido o direito do fiduciário, o fideicomissário adquirirá, de pleno
direito, os bens, sem necessidade de qualquer medida. 
O credor do fiduciário que, no intervalo, requerer pagamento pela metade das rendas dos bens fideicomitidos, terá 
de caucionar o fideicomissário para o caso de já ter morrido. o fiduciário; salvo se a outro têrmo, ou condicional, o 
fideicomisso, havendo hereditariedade do direito do fiduciário. 
Se o testador fêz hereditária a  fidúcia, o fideicomissúrio náo pode prevalecer­se do art. 570, III, que só se refere ao 
direito subordinado à condição de morte; mas é interessado para provocar a curadoria do ausente. Nesse caso, os 
herdeiros  prestam  caução  ao  fideicomissário.  Se  hereditária  a  fidúcia,  porém  só  sucessores  do  fiduciário,  e  nào 
substitutos.  os  herdeiros,  o  fideicomissário  terá  direito  a  todos  os  frutos  e  rendimentos,  a  partir  da  abertura  da 
sucessão,  se  o  fiduciàrio  renunciou  a  herança,  foi  declarado  indigno  ou  incapaz,  ou  por  outro  modo  não  pôde 
aceitar a herança. 

3.CAUCÃO  ‘FEICOMMISSIO  SERVANDI  CAUSA”.    Cabia  contra  o  fiduciário  que  não  era  domiciliado  no 
lugar,  C.  F.  F.  ENTE? (De  catttioflc  et  missione legatorum  seu  fideicommissorum  servandorum  causa, 16  sj,  se 
toda a herança estava alhures, ou dispersa. J. CujÁcto (Opera, IV, 662 sj. Aliás, a leitura e ineditação das L. 54, §§ 
2  e  4,  D.,  de  indiejis:  ubi  quis  que  agere  vel  conveniri  debeat,  5,  1,  L.  15,  §  1,  D.,  de  rendicata  et  de  effectn 
sententiarum d de interlooutionibiis, 42, 1, L. 52, §§ 1, 2 e 4, D., 5, 1, e L. 8, § 4, 11, qui satistiare cogantur vel 
juraM promittant veZ surte promissioni coqnmittantur, 2, 8, fizeram­nos pensar em que só se quis que a caução 
concernisse  aos bens que podiam, no lugar, ser pedidos (co icei peti posse, nU res sit).  Hoje, presta­se a caução 
onde quer que se achem os bens e pede­se no lugar do domicílio do testador, ou onde o fiduciário tenha de entregar 
os bens. 
A caução do fiduciário concerne a quaisquer bens; e no cabe, hoje, a distinção que se lê em ÁLVARO VALASCO 
(Consultatio’num et Decisionum, ac rerum indicatarum, c. 184, n. 15). Também se dizia que a caução do art. 1.734 
só se prestaria si petatur; aliter, ao usufrutuário. Mas hoje não há tal diferença (art. 729). 
A açâo de reivindicação cabe ao fideicomissário, ainda quando seja êle  herdeiro aceitante do fiduciário; salvo se 
havia  consentido,  ou  se  foi  em  execuçào  de  dívidas  da  herança  fideicomitida.  A  Ordenança  francesa  de  1747 
exigia, no caso acima, que indenizasse o possuIdor evicto. Isto  não se pode pretender em direito brasileiro, nem 
(cremos) no francês. MÂLEVILLE, nota ao art. 1.072 do Código Civil francês, DEVINCOURT, sob o art. 1.048, 
merecem consultados Naturalmen te, na qualidade de herdeiro do fiduciário, indenizará. Todavia, noutro process0· 

§ 5.841. Questões de interpretação 

1. VEDAÇÃO DE TESTAR.  Se o testador vedou que o herdeiro testasse sôbre os bens herdados, ou sôbre alguma 
coisa sua, não se tire, desde logo, que dispôs nulamente. Pode tratar­se de instituição fideicomissária dos herdeiros 
legítimos do herdeiro. De qualquer modo, é questão de interpretação 
(E.HERZFELDER  Erbrecht,  .7.  v.  Staudingers  Kommentar,  V,  518;  O’rTo  WARNEYER  Kommentar   li,  1135). 
Mas, se o testador disse “deixo a A, passando a seus herdeiros”, e nada há, na cédula, de que se induza tratar­se dos 
legítimos,  não  há  fideicomisso.  Assim,  com  razão,  o  Tribunal  do  Reich  (Rs1x,  40,  120)  e  OTTO  WARNEYER 
(Kommentar  II, 1185). 

2.FIDEIcoMISSo E LEGADOS.  Cumpre não confundir os fideicomissos e os legados a têrmo ex die ou in diem, 
ou  03  legados  convencionais  No  fideicomisso,  há  duas  figuras  subjetivas,  que  se  sucedem,  ambas  herdeiros  ou 
ambas legatários, sem que as incidências de ambas na propriedade sejam simultaneas. Nos legados condicionais ou 
a têrmo, o legatário não é figura simétrica ao onerado, não há dois herdeiros ou dois legatários à vinda de um dos 
quais, ao têrmo ou realizada a condição, o outro desapareça. No tractus temporis, não houve dono dos bens legados 
ex die vã  diem, ou condicionalmerte com suspensao ou resolutividade 
A  Sucessividade  de  dois  legatários  da  propriedade  para  o  tem  pus  mortis  compõe  a  figura  do  fideicomisso  do 
segundo grau. Se o testador criou três legados sucessivos, sendo dois a tempo de morte, provâvelmente quis violar 
o art. 1.739· Se legou a um a nua­propriedade e a dois outros, ou mais, sucessivamente, o usufruto, não construiu 
fideicomisso; todos têm. de estar vivos, ou terá usado, a respeito dos que não estiverem, do art. 1.718. 

8.FIDEIcOMISsO E USUFRUTO  A maior dificuldade na classificação das verbas, se fideicomisso, se usufruto, é 
quando  o  testador  tira  ao  fiduciário  alienar  e  hipotecar.  Se  o  tira  por  restrição  de  poder  (cláusula  de 
inalienabilidade, de impenhorabilidade e não impenhabilidade), a incidência éobjetiva, e pode permanecer a figura 
do  fideicomisso.  Se  o  tira,  por  implícita  carência  de  poder  subjetivo,  constituindo  condicio  iuris  da  verba,  de 
usufruto é que se trata. 
O traço principal para se verificar a fideicomissariedade ou o caráter de usufruto, que tem uma verba, consiste na 
sucessividade de domínio  que  há  de  haver  no  fideicomisso  e  não  pode  existir  no  usufruto  (Orno WARNEYELt, 
Kommentar,  II,  1185).  A  situação  jurídica  do  fiduciário  parece­se  com  a  do  usufrutuário,  mas,  evidentemente, 
constitui mais forte direito, poder mais vasto e acentuado, suscetível de quase plenitude, se o testador o quiser, ao
passo  que  o  usufruto  é  uma  categoria  rígida  de  direito  das  coisas.  Assim,  lê­se  em  Til.  Kw~  (Lehrbuch  des 
Riirgerlichen Rechts, TI, 3, 307) “Die Stellung dos Vorerben ist also niessbraucbsãhnlich, aber doch etwas stãrker 
aIs  die  des  Niessbrauchers  und  kann  vom  Erblasser  durch  Befreiungen  noch  wesentlich  verstãrkt  werden”. 
Corresponde ao que dissemos no texto. 
Para se saber se a verba é de usufruto, ou de fideicomisso, o critério tem de ser a pesquisa da vontade do testador, 
ainda que tenha exteriorizado outra figura jurídica (F. ENDEMANN, Lehrbuch des Rilrgerliohen Rechts, III, 416). 
Se o testador tira ao fiduciário toda a disposição e só lhe deixa o uso e o fruto, sem que tal indisponibilidade seja 
conseqúência de cláusula de inalienabilidade,  quis usufruto, e não fideicomisso. Mas basta que lhe dê qualquer 
poder de dispor, para ser a verba incompatível com a figura do usufruto. Já é, embora sujeito a graves restrições, o 
dono da herança, ou do legado, situação que nunca poderia ter o usufrutuário, que usa e frui coisa alheia. 

4.QUESTÃO DE. ITENNEMANN.  Se o testador institui a A “no usufruto” de todos os bens, passando, por morte, 
a 8, na dúvida  deve ter­se por fideicomisso. É a boa lição, após as velhas controvérsias de WISSENEAGH, CIIR. 
ULE. LDW. HENNEMANN, Cmi. FR. vON GLÚCK (Ana ·tiihrflche Erlãuterung der Pandecten, IX, 185), Cmi. 
FR. VON MÚHLENBRUCR (Ausfiihrliehe Erlãuterung der Pandecten, 40, 184 s.). A solução que adotamos é a 
de  JOSEPH  UNGER  (System  des  ósterreichischen  aligemeineu  Privatrechts,  VI,  95),  interpretador  finíssimo. 
Chama­se  questão  de  Cmi.  Utu.  LDW.  HENNEMANN,  porque  foi  posta  por  êle,  no  seu  livrinho  famoso 
(Untersuchung zweier Frage, Schwerin u. Wismar, 1790). 

5.USUFRUTO SUCESSIVO  E  FIDEICOMISSO.    Nada obsta  a que o  testador faça sucessivo  o usufruto, desde 


que não infrinja o art. 1.789: “É minha universal herdeira A, minha mulher; a meu pai deixo o usufruto do prédio x, 
que, por sua morte, passará a meu irmão B”. Aí, não há fideicomisso, e sim usufruto sucessivo; dizer nula tal verba, 
por  ser  usufruto  sucessivo,  sem  texto  que  comine  a  tais  usufrutos  a  nulidade,  constitui  ato  de  ignorância   e  de 
iniquidade, a que são levados os que aceitam como interpretações autênticas as notas apressadas e superficiais de 
CLÓvIS BEVIÁQUA, já causadoras de injustiça sem conta no pais inteiro, neste e em muitos outros assuntos. De 
ignorância: porque A não é, aí, fiduciária, de modo que pudesse haver três graus (na contagem da lei), A, o pai do 
testador  e  B;  de  iniquidade:  porque o  intuito do  testador  foi  prover,  na  falta  do pai,  à  subsistência,  educação ou 
confôrto do irmão, e a solução, que se dá, extirpa, sem texto de lei, a  vontade do testador. Dizer  que se trata de 
usufruto sucessivo e que a lei o proibe é julgar sem meditar, sob o influxo de livros italianos. Na Itália, o usufruto 
sucessivo  éproibido,  mas,  para  isto,  além  do  preceito  que  vedou  fideicomissos,  há  o  art. 901:  “La  disposizione, 
coila quale é lasciato l’usufrutto o altra annualità a piú persone successivamente, ha soltanto effetto in favore dei 
primi chiamati a goderne alIa morte dei testatore”. 
No direito anterior ao Código Civil, admitia­se o usufruto sucessivo (FRANCISCO DE PAULA  LACERDA DE 
ALMEIDA, Direito das Coisas, 1, 899; Acórdão da 1a Câmara da Côrte de Apelação, de 14 de janeiro de 1915). 
Há tantos usufrutos distintos quantas as pessoas chamadas a suceder no uso e no fruto, de modo que a sucessão vai 
diretamente do decujo a cada um dos usufrutuários. O artigo 740 prevê, exatamente, tais usufrutos, e, se CLÓvIS 
BEVILÁQUA opinou contràriamente, foi devido a não ter prestado atenção ao art. 740, que é claro. 
Oassunto merece exame. A lei brasileira não proibe o usufruto sucessivo, nem inter vivos, nem causa mortis, salvo 
quando dissimular o fideicomisso proibido. Na espécie, que apontamos, nenhuma razão existiria para considerá­lo 
in  frcudem  legis.  Se  fideicomisso  fôsse,  seria,  na  linguagem  da  lei,  do  segundo  grau;  se  usufruto  sucessivo, 
terminará  com  a  morte de B.  A própria  lei  brasileira  construiu usufruto  sucessivo:  no  art. 7443,  mandou que,  se 
constituído  a  favor  de  dois  ou  mais  indivíduos,  se  atendesse  à  vontade  do  testador  quanto  à  sucessividade  nos 
quinhões.  Mas  a  confusão  de  CLÔVIS  BEVILÁQUA  provém  de  (em  muitos  lugares  da  sua  obra  se  vê>  não 
distinguir herdabilidade ou sucessividade de direito (sucessibilidade), que é noção conexa a direito de herança, e 
sucessividade, que  nada  tem  com  herdabilidade  e  constitui  fenômeno  topológico  no  espaço  e  no  tempo.  Não  lhe 
exigiríamos  que  lesse  os  autores  modernos;  bastaria  ler,  em  língua  francesa,  os  mais  corriqueiros:  a  C. 
DEMOLOMBE, a K. 5. ZACHALIIAE VON LINGENTHAL, a MARCEL PLANIOL. 

6.CONJUNTIVIDADE  E  SUCESSIVmADE.  O  direito  de  usufruto  é  essencialmente  temporário  e  aleatório.  A 


têrmo, ou sob condição, poderá durar até o que se espera, ex die ou ad diem;  mas a morte do usufrutuário, antes da 
realização da condição, ou do advento do têrmo, o extingue. Ninguém nega que o usufruto possa começar ex die ou 
ad diem;  já no direito romano, a L. 4, D., de usufructu, 7, 1, diz que “vel praesens vel ex die dari potest”; portanto, 
a sucessividade não se lhe pode tolher. K. 5. ZACHARIAE VON LINGENTHAL (Le Droit civil français, II, 125, 
nota 10: “on peut constituer un second usufruit que commencera à la fin du premier”. É acidental. São dois, três, 
quatro usufrutos; cada um permitido;  portanto, todos permitidos. Só a confusão com a propriedade fiduciária é que 
poderia ver, entre êles, sucessividade proibida. 
A  herdabilidade  não  a  pode  decretar  o  testador;  mas  a  conjuntividade  e  a  sucessividade  são  permitidas.  K.  5. 
ZACHARIAE vON LINGENTRAL (Le Droit civil français, II, 145, nota: “La rêgle, c’est que l’usufruit, étant un
droit essentiellement personnel, ne peut se transmettre par héritage, même pour un temps”. No texto: “Mais on peut 
constituer  un droit d’usufruit  sur plusieurs  têtes  conjointement  ou  successivement”.  À  nota  9:  “Mais  du principe 
cidessus  posé, que  I’usufruit  ne  peut  être  transmis  à  plusieurs  successivement,  qu’autant que  tous ceux  auxquels 
l’usufruit  est  transmis,  pour  en  jouir  les  uns  aprês  les  autres,  sont  teus  vivants  au  moment  de  la  constitution  de 
l’usufruit,  s’il  s’agit  d’un acte  entre  vifs,  eu moment  du decês  du  testateur,  si  l’usufruit  est  établi  par un  acte  de 
derniêre volonté”. Cp. C. DEMOLOMBE (Cours de Co de Napoléon, 10, 245 s.); MARaum PLANIOL (7i’raité 
élémeu..  taire  de  Droit  civil,  1,  2866,  721  (usufrutos  reversíveis).  Não  é  possível  que  o  testador  dite  a 
sucessibilidade, a herdabilidade, do que é, por sua natureza, personalíssimo; mas, desde que élícita a aposição de 
condições e têrmos suspensivos e resolutivos às constituições de usufruto, nada impede a sucessividade. Quer por 
ato inter vivos, quer mortis causa. 
No  direito  francês  (sem  fideicomissos!),  a  sucessividade  é  permitida.  Desde  que  são  vivos,  na  ocasião  da 
constituição do usufruto, quando por  ato inter  vivos, ou,  nos  atos  mortis  causa,  à  abertura da  sucessão,  todos os 
usufrutuários, O mesmo aconteceria no direito brasileiro e já poria por terra a opinião de CLÓvIS BEVILÁQUA, 
se não tivéssemos o art. 1.718, que os franceses não têm. 
Está, assim, reduzida aos seus verdadeiros têrmos a questão. Isto, de si só, já evtdencia a temerária generalização 
de CLÓvIS BEvILÁQUA: os usufrutos sucessivos são proibidos! Mas prossigamos: 
a)Casos ordinários. No chamado usufruto sucessivo, a sucessão é ocasional, porque todo usufruto é personalissimo. 
O primeiro usufrutuário, por ato entre vivos ou a causa de morte, recebe­o até morrer, ou até o ~têrmo da duração. 
Extingue­se  pela  desaparição  da  pessoa  (êle  é  pessoal)  ou  pela  resolução  (têrmo  ou  condição  resolutiva),  O 
segundo  usufrutuário  aceitou  o  usufruto  ou  o  legado  de  usufruto  desde  tal  dia  ou  fato:  é  um  contratante  sob 
condição  ou  em  situação  suspensiva,  ou  legatário  de  legado  em  situação  suspensiva  ou  suspensivamente 
condicional. Salvos os raros casos de aplicação do art. 1.665, poderá tratar­se, quanto ao primeiro e ao segundo ou 
seguintes usufrutuários, de herdeiro de usufruto. A ciência reconhece heranças de usufruto, e não só legados. Se o 
outorgante ou disponente quis terceiro usufrutuário, é­lhe  lícito aqui, como se quis o quarto, o quinto, desde que 
não se trate 
de fraude ao art. 1.789. No caso dos legados condicionais, ninguém cogitou de lhes limitar o número. O art. 1.789 
nada  tem  que  ver  com  os  legados  condicionais  ou  a  têrmo,  a  que  o  artigo  1.664  se  refere,  porquanto  a  única 
restrição que existe, a do art. 1.665, só se refere ao direito do herdeiro e grita dentro do Código, como voz de além 
túmulo, o escorraçado semel heres semper heres. O que não se admite por ato entre vivos é o usufruto a favor de 
não­concebidos, porque, sendo pessoal,. exige a vida  do usufrutuário ao começar a duração e durante a duração, 
acabando,  necessáriamente,  com  a morte, se  ainda perdura.  Daí  a  inerdabilidade do usufruto. E  também não  se 
entende  a  favor  de  não­concebido,  porque,  na  categoria  de  direito  das  coisas,  que  é  o  usufruto,  se  ajude  a 
propriedade,  em  uso,  fruição  e substância,  ficando  aqueles  ao  usufrutuário, que  se  pudesse  ser  o  não­concebido 
não existiria. O art. 1.718, nas disposições mortis causa, obriga à sua especial construção. 
b)Caso do art. 1.718. O usufruto cinde a propriedade; a sucessividade dos dois sujeitos é necessária:  devem ser, 
uns, nus­proprietários, e outros, usufrutuários. Dá­se, porém, o mesmo com o domínio, e o art. 1.718 permitiu, no 
caso de ser beneficiada a prole eventual de pessoa designada, que se construa sem vida  do sujeito. Ora, usufruto é 
menos  do  que  a  propriedade  plena  ou  nua.  Portanto,  o  art.  1.718  aplica­se  a  quaisquer  objetos  da  sucessão, 
propriedade, dívida ativa, usufruto, uso, habitação. 
c)Interpretação segundo o art. 1.666. A sucessividade existirá quando o testador (ou o outorgante) disser: “a A  e 
seus herdeiros”. Quer dizer: não pode ser estipulada a herdabilidade do usufruto ou resolvida pelo testador. Porém 
j,que faremos quando o tiver sido? Nos atos entre vivos, só se os herdeiros são designados ou os já existentes, que 
serão outros usufrutuários ex die,  isto é,  há a herdabilidade. Nos atos causa mortis,  a questão tem de ser posta 
perante os arts. 1.666, 1.788 e 1.718. 
No direito anterior, a firmeza de LAFAIBTE RODRIGUES PEREIRA mandou que se visse na verba “a B e a seus 
herdeiros 
duas nomeações sucessivas, em vez da herdabitidade: “os herdeiros adquirem o usufruto, não do usufrutuário, e 
sim do testador, de quem são sucessores do segundo grau”. 
No  direito  vigente,  a  herdabilidade  continua  posta  de  lado,  mas  a  questão  da  coexistência   tem  de  ser  resolvida 
diferentemente do direito francês, alemão, etc. A prole eventual de pessoa designada pode ser instituída herdeira ou 
nomeada  legatária.  A  pessoa  futura   também  pode  ser  (e  aqui  não  é  especialidade  nossa)  no  caso  de  funda  çdo, 
modus, ou a favor de estabelecimento de ensino superior. 
De  duas  figuras  pode  lançar  mão  o  testador:  a)  Do  fideicomisso,  fazendo  fideicomissário  a  prole  eventual  de 
designada pessoa: haverá fiduciário, que usará e fruirá. b) Da fidúcia  do art. 1.718, na qual não há fiduciário com a 
propriedade,  isto  é,  o  pré­herdeiro,  o  Vorerbe  dos  alemães;  no  meio  tempo,  o  que  existe  é  um  depositário  da 
herança,  que  não  faz  seus  os  frutos  e  vai  entregar  aos  nomeados  a  herança  integra.  A  sua  função  é  maquinal, 
instrumental; de caráter puramente conservatório e restitutório. Só há uma espécie de herdeiros, 
a prole eventual, com direito à saisina (art. 1.572) e aos frutos.
Se o testador deixou o usufruto a A e à prole eventual de E, vale;  é usufruto conjuntivo, como prevê o art. 740. 
Se  o  testador  deixou  o  usufruto  a  A,  e,  morto  A,  à  sua  prole,  usou  do  que  lhe  permite  o  art.  1.718:  deixou­o 
suspensivamente. 
Se deixou o usufruto a A, em quanto não vem prole, passando à prole, usou do que lhe permite o art. 1.718. 
O legado de usufruto a A e a E, sucessivo, ocorrendo que A faleça antes do testador ou da eútrega, aproveita a E, e 
não ao herdeiro. L. 17, O., de legatis et fideicommissis, 81. E. Crnz. WESTPHAL (Interpretationes iuris civilis de 
libertate et servitutibus praediorum artis ordine digestae, § 942, 662, nota e). Se E é prole eventual (art. 1.718) e 
não pode vir,  feita a prova, é ineficaz a verba, e aproveita a A, e não ao nu­proprietário. 
Traço  distintivo,  que  se  quis  ver  entre  os  fideicomissos  e  os  usufrutos,  é  o  de  não  poderem  os  fideicomissos 
consistir em bens fungíveis. Mas o testador pode ordenar que se aplique o dinheiro em prédio, e a sub­rogação terá 
tornado possível a figura. De qualquer modo, se o testador quis que fôsse fideicomisso, e não usufruto, ainda que 
seja  em  dinheiro  a  herança,os  beneficiados  serão  fiduciário  e  fideicomissário  desde  o  instante  da  morte:  a 
conversão terá apenas efeito instrumental. 
Se o testador legou o usufruto a duas ou mais pessoas e a propriedade àquela que sobreviver, há dois legados, um 
que tem por objeto o usufruto dividido entre todos, e outro a propriedade, condicionalmente, porque depende da 
sobrevivência (L. 11, D., de rebus dubiis, 84, 5). 
Se  o  testador  legou  a  A  o  prédio  x  e disse  que  aos  herdeiros ou  herdeiro,  ficasse  o  usufruto  (usus  fructus apud 
heredem maneat), será eficaz o legado tirado ao legado e, quando se extinguir, volverá à propriedade (L. 14, C., de 
usu fructu et habitatione, 3, 38). 
Se o testador legou a A o usufruto e mandou que, pela morte dele, fôsse restituído a 1H, não deu a A o usufruto, e 
sim  a  propriedade  cum  onere  fideicommissi.  7,Quid  iuris,  se  havia  nu~proprietário  nomeado?  É  sucessivo  o 
usufruto; houve dois legados. 
O testador pode legar usufruto para que os legatários se revezem no exercício; é o usufruto alternis anflis, ou outro 
que se prefira. 

7.FIDEICOMISSO E OUTRAS CATEGORIAS JURIDICAS.  A verba “instituo a A por meu herdeiro e, se êle o 
entender,  passarão  os  bens  a  E,  por  sua  morte”  não  é  fideicomisso,  e  sim  recomendação,  conselho.  Mas,  se  diz 
“peço­lhe  que  passe  a  E”,  ou  “deixo  a  Es’,  ou  “transmita  a  E”,  há  pedido,  fides,  e  verba  precativa   induzem 
fideicomisso. 
Se o testador falou em fideicomisso e mandou que o herdeiro entregasse, desde logo, ao fideicomissário, os bens, 
não há fideicomisso, no sentido do Código Civil (aliter, em Roma). Há um herdeiro e um legatário, tão­somente. 
Se o testador mandou que se entregasse parte dos bens, cumpre examinar a verba (quaestio facti et voluntatis) :  ou 
compôs deixa testamentária a têrmo ou condicional, ou fideicomitiu, em verdade, os bens que compõem a parte. 
Aqui, cabem os princípios de que antes falamos, para os casos duvidosos se há ou se não há fideicomisso. Entende 
JosÉ TAvARES (Sucessões, 1, 448) que se trata de legado, e não de fideicomisso. Mas sem razão. Seria demasiado 
apriorismo, e fideicomissos temos visto em que o testador fideicomitiu parte da herança. ‘Deixo a A os meus bens 
disponíveis, devendo passar a B, quando completar 80 anos, um quinto da herança, que mando seja aplicado, desde 
o meu inventário, em prédios, e A será fiduciário até a entrega”. “Deixo a A dez prédios, um dos quais, ou seis 
sétimos da herança, à escolha dele, serão fideicomitidos a E, a quem passarão quando A morrer”. 
A  alusão  à  caução  ou  ao  inventário  não  induz  usufruto.  porque  o  fiduciário  também  faz  inventário  e  caução 
também presta. 
Se o testador deixa a A a obrigação de legados ou pagamentos de dívida, mais se deve pender para a instituição de 
herdeiro do que para a nomeação de legatário. Em todo o caso, ficará aberta a questão: ~herdeiro de usufruto ou 
fiduciário? 
Se o testador disse “deixo a A os meus bens” e, adiante, “A terá o usufruto, passando a E”, trata­se de fideicomisso, 
quia incompatibile est, escrevia BELLONO, eam esse heredem, et sic proprietariam, et hebere usumfructum” . 
Em todos os casos que referimos; cumpre advertir em que pusemos interpretações, e não regras interpretativas ou, 
com maioria de razão, dis positivas. “Deve sondar­se”, dizia MANUEL DE ALMEIDA E SOUSA  (Cole cão de 
Disserta  ções  Juridico­práticas,  254),  “a  verossímiL  vontade  contra  a  superfície  das  palavras.  Circunstâncias 
extrínsecas não são de menor momento”. Sobretudo, é assaz grave a distinção “fideicomisso”, “usufruto”  porque, 
se fôr usufruto, morrendo o nu­proprietário E, os seus herdeiros sucedem na nua­propriedade; se fôr fideicomisso, 
morrendo o fideicomissário E, consolidada fica a propriedade de A. 
Se o testador deixou a duas pessoas, dizendo “a A o usufruto, sendo E, após a morte de A, legatário”, ~reputa­se A 
herdeiro universal gravado de fideicomisso? Solução de velhos juristas. Contra, MANUEL BAGNA QUARESMA, 
Díoao GUERREIRO CAMACRO DE ABOIM, MANUEL ÁLVARES PÉGAS, que têm a A por simples legatário 
de usufruto e E, herdeiro único. Na verdade, os dois grupos de juristas procuravam construir regra dispositiva  ou 
interpretativa  e daí a inevitável divergência. Ora, tal particularidade de exteriorização do querer não deve passar de 
quaestio facti et voluntatis. Se o testador, outra vez ou várias vêzes, no testamento, chamou a A usufrutuário, ou
acentuou que a nua­propriedade iria, desde logo, a E,  cindiu os direitos (nua­propriedade, usufruto). Não assim se 
quer que ex nune comece o “direito de E”, porque êsse direito começa desde logo para E nu­proprietário como para 
E fideicomissário. Se chamou herdeiro a E e legatário a A, mais se presta à construção do usufruto. Se diz “tão­ 
somente  no  usufruto”,  é  legado  de  usufruto.  Se  o  testador  emprega,  em  relação  a  E,  o  têrmo  “substituo”,  é 
fideicomisso. 

8.FIDEICOMISSO  E  PROLE  EVENTUAL.    Se  a verba  do  art. 1.718  foi constituída  como  fideicomisso,  há,  no 
tractus  temporis,  dono  dos  bens,  que  é  o  fiduciário.  Poderá  ser  usufrutuário,  porque  nada  obsta  a  que  nua­ 
proprietária  seja  a  prole  eventual.  Mas,  construída  sem  fiduciário,  e  sem  usufrutuário,  administrará  os  bens  da 
sucessão, já  e plenamente da. prole eventual, a pessoa que, pela interpretação, ou sob nomeação do juiz, deva ser o 
depositário. É um curador da pessoa futura. “Curador à substituição”, dizia­se no velho direito francês, se bem que, 
lá, a figura fôsse diferente. Nomeado pelo testador, ou pelo juiz, as suas funções devem obedecer, por analogia, aos 
mesmos princípios que se aplicam à curadoria do nascituro. Aqui, concebidos e ainda não concebidos merecem os 
mesmos  zelos  e  proteção  da  lei.  O  testador  tem  direito  de  fazer  tal  nomeação  (arts.  891,  1H,  e  411,  parágrafo 
único), seja por testamento, seja por ato autêntico posterior ao ato constitutivo. Resta saber qual o juiz competente 
para essa nomeação, se não há a do disponente, ou se faltar o nomeado por êle. Questão de competência, que toca 
às organizações judiciárias. Se a lei  não provê claramente, deve ser o juiz do testamento, até que se requeira, no 
juízo de família e interditos (os chamados juizes de órfáos), a curatela do nascituro, essa, sim, de direito familiar, e 
não  sucessório.  A  solução  francesa  não  serve,  porque  lá  a  figura  dos  arts.  1.048  e  1.049  participa   da  sucessão 
legítima, requere tutor, e até confere direito de representação. No Brasil, é meramente testamentária, sem qualquer 
ligação familiar. 

9. DIREITO FRANCÊS.  Proibem­se as substituições em geral (art. 896) ; permite­se um só fideicomisso a favor 
dos filhos do pródigo, feito pelo pai ou mãe do fiduciário (artigo 1.048), ou por seus irmãos e irmãs, quando não 
têm filhos (art. 1.049). Admite­se a representação (art. 1.051). Os fideicomissários têm de ser todos e igualmente os 
filhos do gravado (art. 1.050). Só se refere à quantidade disponível (Paris, 4 de maio de 1899). 

10.  DIREITO  ITALIANO.    No  revogado  Código  Civil  italiano,  art.  899,  vedava­se  o  fideicomisso.  Valia  a 
primeira instituição (art. 900), ao contrário do que se passa no Código Civil francês, art. 896. Também se proibiam 
os usufrutos sucessivos e as anualidades sucessivas (art. 901), interpretando­se que alcançava todas as atribuições 
sucessivas de anualidade (GIACOMO VENEZIAN, Legato di annualità successiva, Onoranze a V. Lula, 898 s.). 
No  Código  Civil  italiano  de  1942,  arts.  692­699,  foi  regulado  o  fideicomisso,  O  ad.  692  começa  por  dizer  ser 
válida  a disposição com a qual o testador impõe ao próprio filho a obrigação de conservar e restituir à sua morte, 
no todo ou em parte, os bens que constituem o disponível, a todos os filhos, natos e nascituros, do instituido ou a 
favor de ente público. Na alínea 23 diz­se o mesmo a respeito, a propósito de instituído irmão ou irmã do testador. 
Na alínea 83 e na alínea 43, precisa­se que as outras substituições (fideicomissárias, entenda­se) são nulas. 

11.  DIREITO  ALEMÃO.  A  pós­herança  foi  ampla  e  minuciosamente  tratada  (§§  2.100­2.146).  A  instituição 
tornar­se­á sem efeito trinta anos após a abertura da sucessão, se a passagem não se realizou antes disso; salvo: se 
foi para o caso de acontecimento a operar­se na  pessoa do pós­herdeiro, ou do pré­herdeiro, e êle vive; se, feito 
para o caso de nascer  irmão ou irmã ao herdeiro anterior ou ao pós­herdeiro, designado tal irmão ou irmã como 
pós­herdeiro (§ 2.109). Se o pré­herdeiro ou pós­herdeiro em cuja pessoa deve realizar­se o fato fôr pessoa jurídica, 
o prazo é o de trinta anos (§ 2.109, 23 alínea). 

12. DIREITO PORTUGUÊS.  O revogado Código Civil português, art. 1.866, definia o fideicomisso; e o art. 1.867 
proibia,  para  o  futuro,  “as  substituições  fideicomissárias,  exceto:  a)  Sendo  feitas  por  pai  ou  n4e  nos  bens 
disponíveis, em proveito dos netos, nascidos e por nascer; b>  Sendo feitas em favor dos descendentes, em primeiro 
grau, de irmãos do testador”. O fideicomissário adquiria direito à sucessão, desde o momento da morte do testador, 
ainda  que  não  sobrevivesse  ao  fiduciário.  Êsse  direito  passava  aos  seus  herdeiros  (ad.  1.868’>.  A  nulidade  da 
substituIção  fideicomissária  não  envolveria  a  nulidade  da  instituição  ou  do  legado:  apenas  se  haveria  por  não 
escrita a cláusula fideicomissária (ad. 1.869). 
No nôvo Código Civil português (1966), também se começa pela definição de fideicomisso (aliás, no art. 2.286, em 
que está a definição fala­se de “substituição fideicomissária) 

’Diz­se  substituição  fideicomissária,  ou  fideicomisso,  a  disposição  pela  qual  o  testador  impõe  ao  herdeiro 
instituído  o  encargo  de  conservar  a  herança,  para  que  ela  reverta,  por  sua  morte,  a  favor  de  outrem;  o  herdeiro 
gravado  com o  encargo chama­se  fiduciário,  e  fideicomissário o beneficiário  da  substituição”.  Acrescenta­se,  no 
art. 2.287, que “pode haver um só ou vários fiduciários, assim como um ou vários fideicomissários”. No art. 2.288 
está dito: “São nulas as substituições fideicomissárias em mais de um grau, ainda que a reversão da berança para o
fideicomissário esteja subordinada a um acontecimento futuro e incerto”. A referência a um grau, em vez de dois, 
afastou  o  êrro  da  expressão  que  exprobramos  ao  Código  Civil  brasileiro,  art.  1.789,  desde  1985  (Tratado  dos 
Testamentos, IV, 248). No art. 2.289, o Código Civil português estatui que a nulidade da disposição fiduciária não 
envolve a da disposição fideicomissária, ou da “substituição anterior” (quer dizer: a do grau proibido não atinge a 
do grau permitido, que, em boa terminologia, é o único que se permite). O art. 2.290 cogita de direitos e obrigações 
do fiduciário; o  artigo  2.291, da  alienação  ou nomeação de bens.  Há,  ainda, os  arts. 2.292,  sôbre os direitos dos 
credores pessoais do fiduciário; o art. 2.298, sôbre devolução da herança do fideicomissário; o art. 2.294, sôbre atos 
de disposição do fideicomissário; o art. 2.295, sôbre fideicomissos irregulares. Finalmente, o artigo 2.296, onde se 
diz que “o disposto na presente subseção é aplicável aos legados”, o que ou explicita o art. 2.286, onde “herança” 
estaria em censo largo, ou o corrige, porque lá de legado não se fala. 

18.DIREITO ARGENTINO E OUTROS.  O Código Civil argentino repele o fideicomisso (art. 8.782). Como êle, o 
uruguaio, art. 865, o boliviano, art. 503, e o mexicano. 

§ 5.842. Disposições negativas 

1. SUCESSÃO NECESSÁRIA.  As disposições negativas dos testadores podem ser contra a sucessão necessária e 
contra anteriores disposições dos testamentos e codicilos Contra a sucessão necessária será preciso que se funde em 
causa  legal.  Contra  as  outras  disposições,  cabe  ao  testador  plena  liberdade.  O  perdão  do  art.  1.597  constitui 
disposição positiva. 

2.NEGATIVIDADE  E  DESERDAÇÃO.    A  deserdação,  que  é  a  disposição  negativa  contra  os  herdeiros 


necessários  será  assunto  do  capítulo  seguinte.  Não  há,  prôpriamente  disposição  negativa  contra  os  herdeiros 
simplesmente  legitimos,  porque  a  êsses  pode  excluir  o  testador  pelo  simples  fato  de  contemplar  a  outrem  (art. 
1.725).  Toda  disposição  positiva  seria  desfavorável  e,  pois,  negativa  contra  êle;  e  sê­lo­iam  igualmente  aquelas 
disposições negativas que, contra disposições anteriores, favorecessem a outrem e não aos herdeiros legítimos· 
Rígorosamente só os herdeiros necessários dão ensejo à limitação do querer do testador, só êles constituem assunto 
essencial  ao  direito  da  sucessão  legítima  e  da  sucessão  testamentária,  que  a  existência  deles  limita.  Daí  a  sua 
colocação na  sucessão  testamentária,  arts. 1.721­1.724,  e  as  medidas dos  arts. 1.726­1.728 quanto  à  redução das 
disposições que excederem a porção disponível. 

§ 5.843. Situações de suCessão legitima e de distribuição 

1.SUCESSÃO LEGÍTIMA NAS CONDIÇÕES E FIDEICOMISSO. 
Antes de tratarmos das disposiçõe5 negativas (deserdação, revogação e infirmação dos testamentos), devemos ferir 
os seguintes pontos: a) Nas condições e nos fideicomissos ~ qual a Possibilidade de se chamar à sucessão legítima? 
b) ~Quaís as Possíveis figurações e consequencias das palavras do testador acrescendo”, “acrescerá”, “acresce”? 
Nas condições resolutivas  e nos têrmos, quando permitidos (cp. arts. 1.664 e 1.665), se a resolução ocorrer, sem 
que o testador haja previsto o segundo beneficiado, ~serão chamados 05 herdeiros legítimos? Nos  têrmos, em se 
tratando de legatários, não; porque ou o legítimo era o onerado, e nesse caso volver­ 
­lhe­á, ou não o será, e ao herdeiro instituído é que aproveita a resolução. Nas heranças, o têrmo resolutivo sem 
fideicomissário explícito ou construído não é possível: considera­se não escrito. Nas condições resolutivas, dá­se o 
mesmo,  salvo  conversão  que  mostre  ter  sido  beneficiado  o  herdeiro  legítimo,  já  então,  como  ocorreria  com  o 
têrmo, construído o fideicomissário. 
Nas condições suspensivas, havendo suspensão da aquisição, o legatário só recebe a partir da realização, portanto, 

herdeiro onerado, quer seja testamentário, quer legítimo, não está obrigado antes disso. Não assim, se só suspensiva 
da entrega ou exercício. Essa suspensão somente do exercício é a que se presume nos têrmos iniciais, art. 128. 
Os  herdeiros  legítimos  podem  ser  fiduciários  construídos;  também  êles,  exceto  a  Fazenda,  podem  ser 
fideicomissários construídos. O testador deixou metade da herança a A, se E se casar, sem dispor do restante: os 
herdeiros legítimos recebem como plenos herdeiros a sucessão da metade e como fiduciários construídos até que E 
se case. Se A morrer antes de E se casar, a herança será toda dos herdeiros legítimos. Não se dá a herdabilidade do 
direito de A, porque se trata de condição suspensiva (art. 118), salvo vontade contrária do testad.or. Exemplos da 
herdabilidade:  “deixo  a  A  sob  a  condição  suspeusiva  de  se  acabar  o  edifício  da  Escola;  se  A  morrer,  o  direito 
passará,  com  a  mesma  condição,  aos  seus  herdeiros”;  “deixo  a  A,  se  E  se  casar;  morrendo  A,  os  herdeiros 
sucederão no seu direito”. O art. 1 é dispositivo. 
Quando  os  herdeiros  legítimos  são  fiduciários  construídos,  e  a  têrmo  o  legado  de  fideicomisso,  dá­se  a 
herdabilidade do direito dos fiduciários e a do direito dos fideicomissários, exceto vontade contrária do testador.
Quando os herdeiros legítimos são fideicomissários construídos, devido à condição resolutiva da deixa ao estranho, 
o direito dêste é herdável, salvo vontade contrária do testador, e não herdável o dos herdeiros legítimos (arg. ao 
art. 1.788), se outra coisa não dispôs o testador. 
Se a construção foi devida ao têrmo final, herdável é o direito do estranho, salvo vontade contrária do testador, e 
herdável o do herdeiro legitimo, se outra coisa mio quis o disponente (inclusive se o fêz, sem ressalva, a têrmo de 
morte). 
A herdabilidade dos direitos do fiduciário ou do fideicomissário não constitui infração do art. 1.789. Não há mais 
de dois graus. A condição ou o têrmo é um só. “Deixo a A se minha  filha fôr freira”, e adiante: “o direito de A 
passará  aos  herdeiros”.  Se,  antes  de  ser  freira  a  filha  do  testador,  A  morrer, os  seus  herdeiros  sucederão  no  seu 
direito.  Não  houve mais  de uma  classe  de  fiduciário;  só  existiu  uma,  com  herdabilidade.  “Deixo  a  A  em quanto 
viver, passando a E; mas herdável o direito de E”. Com tal declaração, o testador afasta o art. 1.788 que consagra a 
inerdabilidade do direito dos fideicomissários a têrmo de morte do fiduciário. 

2.CONSEQUÊNCIAS  DAS  ExPRESSõES  “ACRESCENDO,  ACRESCERÁ,  ACRESCE”.  A  expressão 


“acrescer” tem significado técnico, que é o de aumentar  as quotas. A lei deu­lhe tal sentido nos arts. 1.726, 1.710, 
1.712­1.714 e 1.716. Empregou­a em sentido impróprio, no art. 1.715. Acrescer é crescer a alguma coisa; refere­se 
Muilo que é causa de que outra coisa cresça. fizemos que a quota dos herdeiros com ius acerescendi “cresce”, e da 
quota do premorto, renunciante ou por outro modo impedido de aceitar, que “acresce ao dos demais. Não é junção 
material, porque se alude a direito daquele a quem aproveita. 
“Acréscimos”,  nos  arts.  587,  II,  e  588,  e  “parte  acrescida”,  no  art.  541,  atendem  àquele  sentido.  Mas  acrescer 
também  significa,  brevitatis  causa,  distribuir  uma  parte,  aumentar  as  deixas.  Na  sucessão  romana  contra  o 
testamento  encontramos  instituNção  assaz  diferente,  que  é  a  da  inclusão  da  filha  omitida:  a  sua  omissão  não 
produzia nulidade do testamento, e sanava­se pelo seriptis heredibus adorescere. Mais: 
se o testador não esgotou as fôrças da herança, o asse, ULPIANO (L. 13, § 4, D., de heredis instituendis, 28, 5) diz 
que  a  parte  não  distribuída  acresce,  segundo  as  porções  hereditárias,  aos  herdeiros  escritos,  “ pro  partibus 
hereditariis eis adcrescit” . 
Aliás,  conforme  se  disse  no  capítulo  sôbre o  direito  de  acrescer,  o  testador  pode  dispor  o  que  entender  sôbre  o 
acres­ 
cer e o não­acrescer,  o jus adorescendi do Código Civil só se refere àqueles casos em que caiba invocar­se algum 
dos preceitos dispositivos. A regra é que o testador queira  êsse ou aqueles acrescimento. Não se presume. Apenas, 
nos casos dos arts. 1.710­1.712 e 1.716, a lei quer que, salvo vontade contrária, se aceite, como se querido fôra, o 
acrescimento. 
Cumpre­nos figurar os casos principais de disposições em que o testador empregue a palavra acrescer  ou qualquer 
tempo  ou  modo  do  verbo.  Somente  assim  poderemos  apanhar  a  intenção  do  testador,  que  é  o  fito  principal  do 
intérprete ou do juiz. 
Disse  o  testamento:  “São  meus  herdeiros  A,  B  e  C,  com  metade  A  e  quartos  B  e  C,  admitido  o  acrescimento”. 
Aqui, dá­se o direito ·de acrescer, fora dos preceitos dispositivos do Código; porque o testador o quis. Se êle não o 
tivesse dito, claris verbis, seria de aplicar­se o art. 1.711, que excluiria o direito de acrescer. 
A  verba  estabelece:  “Deixo  a  A  metade  do  que  tenho;  a  E,  C  e D  o prédio da  rua  x; e  o que  acrescer,,,a E”. É 
vulgar, mais do que se pensa, a expressão “acrescer no sentido do que exceder  o diretamente testado, de residuo, 
quase naquele em que a empregou ULPIANO. O asse é de 100.000 cruzeiros novos; 50 mil serão de A, o prédio, 
avaliado em 20 mil, de E, C e D, e os restantes 80 mil, de E. 
Diz a verba: “Deixo a A o prédio x, a E, mil apólices, a D, o resto do que tenho; quando algum morrer, acrescerá 
aos outros  herdeiros”.  Trata­se de  fideicomisso:  êsse  “acrescerá”  está, aí, para  significar  que passará   aos outros, 
aumentando o que lhes deixei, pro partibus hereditarlis. 
Se o testador escreveu “deixo a nua­propriedade a A e a E o usufruto, acrescendo, quando E morrer, a C”, trata­se 
de usufruto  sucessivo.  Se  escreveu  “deixo  a  nua­propriedade  a  A  e o usufruto  com  acrescimento  a  E  e  C”,  quis 
afastar o direito dispositivo do art. 740. 
Querendo o testador que a nua­propriedade fique a A e E e o usufruto a C, “com acrescimento a E, se depois do 
testador  A  morrer”,  a  figura  é  de  legado  da  nua­propriedade  a  têrmo  de  morte  de  A.  Se  C  morre  antes  de  A,  a 
propriedade de A e B se consolida, mas a de A é sujeita à resolução. Não se pode considerar fideicomisso, porque 
não se dá a A a guarda e fidúcia, nem a posse. Se C morre depois de A, só existirá, então, a nua­propriedade de E, 
por isto mesmo que se resolveu a propriedade de A. 
Em  todos  os  casos  que  figuramos,  o  testador  empregou  a  expressão  “acrescer”  e  os  outros  tempos  e  modos  do 
verbo em sentido diferente dos arts. 1.710 s. No caso de dúvida, deve entender­se que ordenou o is acerescendi e a 
passagem. Em tudo isso, o que importa é atender, no máximo possível, ao querer dos testadores. 

§ 5.844. Restrições de poder nos fideicomissos e usufrutos
1.  PERMISSÃO  DE  GRAvAÇÃO.    Aos  testadores  é  permitido  gravar  com  restrição  de  poder  as  deixas 
testamentárias ~, até, as quotas dos herdeiros necessários (art. 1.728). Resta saber se tal possibilidade ocorre quanto 
aos usufrutos e fideicomissos. Nenhuma dúvida quanto às substituições, porque o substituto é herdeiro, como teria 
sido o instituído, se não tivesse faltado. Mas faltou e o substituto o é, no lugar do deficiente. Nada obsta a que o 
testador clausule os bens, se o instituído primo toco fôr o herdeiro, e não os clausule, se se operar a substitu7çâo, 
ou a que os clausule nesse caso e não naquele. 
Se o testador tiver clausulado bens de usufruto, ter­se­á de interpretar a verba segundo as regras estudadas sob o 
art.  1.666,  porque  o  usufruto  é  personalissimo  (art.  717).  Aqui,  a  alienabilidade  deve  entender­se  quanto  ao 
exercicio  e  quanto  à  cessão  ao  nu­proprietário.  Urna  vez  aceito  o  usufruto  que  o  testador  disse  “inalienável”’, 
entende­se que não pode ser extinto pela cessão ao nu­proprietário (única que o art. 717 permite), nem cedido o 
exercício. A imnenhorabilidade é perfeitamente admissível e concerne aos proveitos (utilidades e frutos). 

2.  NUA­PROPRIEDADE    A  nua­propriedade  é  suscetível  das  mesmas  cláusulas  que  a  propriedade  plena.  O 
testador  pode  impo­las  quanto  a  todos  os  nus­proprietários,  ou  só  quanto  a  um  ou  alguns.  Às  vêzes  será  útil  a 
incomunicabilidade conjugal; porque, se não houver a cláusula, os bens do nu­proprietário se comunicam. 
Se  o  testador  entender  que  deve  vedar  ao  usufrutuário  a  cessão  do  exercício  e  não  a  transferência  ao  nu­ 
proprietário, pode fazê­lo. Também lhe é possível permitir aquela e vedar essa. 

8.TRANSMISSÃO  DA  HERANÇA.    Os  bens  passam,  desde  logo,  ao  fiduciário;  passarão  clausulados,  se  o 
testador os clausulou. Tratando­se de fideicomisso de herança, poderá o testador gravá­la toda, ou somente parte, 
ou somente algum ou alguns objetos. Não há nenhuma diferença entre os podêres do testador quanto às heranças 
plenas  e  as  pré­heranças.  As  cláusulas  de  incomunicabilidade  e  impenhorabilidade  são  particularmente  úteis, 
porque  os  bens  do  fiduciário  se  comunicam  e  podem  ser  penhorados,  pôsto  que,  à  resolução,  fiquem  livres  de 
quaisquer direitos reais não existentes à abertura da sucessão. 

4.PLURALIDADE DE FIDUCIARIOS.  Se forem dois ou mais os fiduciários, nada obsta a que o testador clausule 
o  que  deixa  a  um  ou  alguns  e  não  clausule  o  que  deixa  aos  outros.  Pode  ordenar  a  combinação  que  mais  lhe 
agradar. 

5.DIREITO  DOS  FIDEICOMISSÁRIOS  E  CLAUSULAÇÃO.    Os  fideicomissários  também  podem  ter 


clausulados os seus direitos. Certo, o testador não poderá obrigar os nomeados a que lhe aceitem a herança, mas 
pode  obrigá­los  a  não  alienar  o  que  aceitaram,  ou  clausular  de  inalienabilidade  o  direito  dos  fideicomissários. 
Pendente  a  fidúcia,  nenhum  poder  de  disposição  terão  êles.  São  possíveis  as  outras  cláusulas;  a  de 
incomunicabilidade só será útil depois da entrega dos bens ao fideicomissário, porque até então não se poderiam 
comunicar os bens fideicomitidos (art. 263, III). 
Também é permitido ao testador clausular os bens que forem ao fideicomissário. Aqui, não é o direito aos bens, 
mas os próprios bens, ou também Oles, que o testador quer clausulados. “Deixo a A, passando a B, porém E não 
poderá alienar nem direito, nem bens”; vale dizer: B não pode ceder o seu direito, nem renúnciar ao fideicomisso 
(renunciar, disse: e não “repudiar”) ; e, quando os bens forem entregues, serão inalienáveis. Se só fêz inalienável o 
bem, e nada disse sôbre o direito, na dúvida  ter­se­ãopor inalienáveis um e outro. A verba “deixo a A, passando a 
E, inalienàvelmente” concerne a A (direito e bens simultâneos) e a E (direito e bens quando lhe forem). A outra, 
“deixo a A, passando a E, inalienàvelmente quanto a E”, concerne a E, direito e bens. 

6. PROLE EVENTUAL.  A figura do ad. 1.718 também é suscetível de clausulação. Os bens  serão inalienáveis 
desde a abertura da sucessão, porque a prole eventual  não é fideicomissária, e sim pleno herdeiro,  conforme foi 
dito. Se ficar demonstrada a ineficácia, ter­se­á de indagar se a causa da inalienabilidade foi objetivamente fundada 
(por afeição àcoisa, como a fazenda, a casa de morada) ou subjetivamente (devido aos herdeiros, à prole eventual). 
No primeiro caso, os que recolherem a herança tê­la­ão gravada; no segundo, recebê­la­ão sem cláusula. 

7. LEGADO Á TÉRMO E SOB CONDIÇÃO.  Nos legados a têrmo e nos condicionais, será possível clausular o 
bem  no  caso  de  ir  ao  legatário,  ou  de  ir  a  outro  legatário,  ou  ficar  ao  herdeiro,  ou  no  caso  de  ficar  a  qualquer 
onerado. 
Nos legados sucessivos, o primeiro, o segundo, e os demais, podem ser indistintamente clausulados ou não. 

8.INALIENABILIDADE  DOS  BENS  TESTADOS.    A  inalienabilidade  dos  bens  testados  pode  subsistir  para  o 
nomeado e para aqueles que herdar a fidÚcia ou o direito do fideicomissério; porém não valerá quando, extinto o 
fideicomisso, os herdeiros do fiduciário ou do fideicomissário receberem os bens.
A  inalienabilidade  dos  bens  do  herdeiro  da  fidúcia   (para  o  distinguir  do  herdeiro  do  ex­fiduciário  com  a 
propriedade plena) não constitui dissimulação da figura pro!bida pelo artigo 1.789, porque só há, na linguagem da 
lei,  dois  graus:  uma  fidúcia,  se  bem  que,  no  mesmo  grau, diferentes  sujeitos,  e  uma  só  resolução.  A  situação  é 
inconfundível com a inalienabilidade para duas vidas, O testador disse: “Deixo a A e seus herdeiros, passando a E 
quando  tiver  40  anos”;  a  verba  é de  fidúcia  herdável. Se  adiante  diz  “inalienável  o bem durante a  fidúcia~~,  ou 
‘‘não podendo  A,  nem  seus  herdeiros,  alienar’’, vale  a  clausulação;  porque  vige,  até  que  B  complete 40  anos:  a 
morte de A, no interregno, não altera a fidúcia, nem obriga à figura da inalienabilidade para duas vidas. 
Dir­se­á o mesmo quanto às verbas do seguinte teor: 
“deixo a A, passando a E, por morte de A; se B premorrer. será herdável o fideicomisso”; “deixo a A, passando, 
findos 20  anos,  a  E, herdável  o  direito dêsse”.  Não  há  fideicomisso  de duas  fidúcias:  A  é  o  único fiduciário;  E 
receberá, ou não receberá e irão os bens aos seus herdeiros. Se E renuncia, nenhum direito terão os herdeiros dele, 
porque se estabeleceu a herdabilidade, e não a substitztíção (o que é também possível). Se E morre antes de A, ou 
antes dos 20 anos os seus herdeiros sucedem no seu direito. A fidúcia continua a mesma com o grau unico até a 
morte de A”, ou “findos os 20 anos 

9.  EXTINÇÃO  DO  FEICOMISSO.    Extinto  o  fideicomisso.  tudo  muda.  O  fiduciário  não  é  mais  fiduciário;  ou 
morreu, ou perdeu os bens pela resolução; ou se tornou plena a sua propriedade. O fideicomissário já não o é: ou 
morreu, sem herdabilidade do seu direito, ou os bens lhe vieram, e é pleno proprietário, e não mais fideicomissário. 
A  clausulação  que  apanhasse  a  propriedade  dele  e  a  dos  seus  herdeiros  após  a  extinção  do  fideicomisso  teria 
composto a inalienabilidade de duas vidas, além da fidúcia. Violaria o art. 1.789. 

10.  IMPENHORABILIDADE.  A  impenhorabilidade  pode  recair  na  propriedade  do  fiduciário,  quer  durante  o 
exercício  por  êle,  quer  durante  o  exercício  pelos  herdeiros,  na  fidúcia  herdável;  e  no  direito  do  fideicomissário, 
quando vivo o nomeado, ou, após a morte, enquanto exercido pelos herdeiros dele, nos fideicomissos herdáveis. 

11.  INCOMUNICABILIDADE.    A  incomunicabilidade  pode  recair,  eficazmente,  assim  na  propriedade  fiducial, 
exercida  pelo  que  a  recebeu,  ou  pelos  herdeiros  dele,  na  fidúcia  herdavel,  como  no  direito  do  fideicomissário, 
exercido pelo nomeado ou por seus herdeiros, no fideicomisso herdável. Dir­se­á o mesmo das outras cláusulas. 
Nem  a  cláusula  de  impenhorabilidade,  nem  a  de  incomunicabilidade,  nem  qualquer  outra  pode  apanhar  os 
herdeiros do bem, quando a herança se dê após extinto o fideicomisso. 
12. FIDÚCIA DE REsÍDUO.  Nada obsta a que o testador clausule de inalienabilidade o direito, ou o direito e os 
bens,  ou  só  os  bens,  do  fideicomissário,  pôsto  que  se  houvesse  feito  a  fidúcia  de  residuo.  Aqui,  os  bens  que 
restarem é que irão ao fideicomissário; mas êsse ou não poderá alienar o direito, ou odireito e os bens, ou os bens, 
que receber. 

18.DÚVIDA QUANTO A CLÁUSULA.  Sempre que o testador disser que é inalienável a herança fideicomissária, 
entender­se­ão inalienáveis direito e bens. Se disse bens, na dúvida quis referir­se a bens e direito. 
Se o testador escreveu a cláusula, depois de frisar que um ou alguns bens têm, para êle, “valor especial de ligação à 
família, ao passo que os outros não têm”, e há dúvida quanto a ser àqueles ou a todos que se refere a cláusula de 
restrição de poder, o que se há de assentar é que só aqueles são inalienáveis e impenhoráveis, ou só inalienáveis a 
estranhos. 
Se  o  testador  disse  que  não  quer  que  saia  da  família  a  propriedade  de  algum  bem  ou  de  alguns  bens,  não  fêz 
inalienável a membros da família o que deixou. 

CAPÍTULO XVIII 

DESERDAÇÃO 

§ 5.845. Privação da porção legitima necessária 

1.CLÁUSULA DESERDATIVA.  Diz o Código Civil, artigo 1.741: “Os herdeiros necessários podem ser privados 
de sua legitima, ou deserdados, em todos os casos em que podem sere excluídos da sucessão”. E no art. 1.742: “A 
deserdação  só pode ser  ordenada  em  testamento,  com  expressa  declaração  decausa      A  privação  da  herança  aos 
herdeiros legítimos não­necessários não é deserdação, porque somente depende da livre vontade do testador. Não 
se exige causa para isso. A deserdação, sim, há de ter causa, como ocorre, embora em virtude de ação proposta por 
outrem que o testador, com a indignidade. (No direito alemão, acertam os juristas que evitam chamar Enterbung à 
simples  exclusão,  que  é  Ausschliessunq.)  O  herdeiro  legitimo  não­necessário  somente  herda  porque  não  houve 
cláusula testamentária que o excluisse, ou dispusesse dos bens que êle herdaria, O testamento é que importa, razão
por que se diz intestada  a sucessão legítima não­necessária. A necessária, essa, é imposta pela lei; não só conforme 
a  lei,  como  a  legítima  não­necessária.  O  testamento  é  apenas  o  meio para que o decujo deserde, isto é,  invoque 
alguma  causa  de  deserdação  e  manifeste  a  vontade  com o  enunciado  de  fato,  sujeito  a  prova  posterior, quando 
aberta a sucessão. Não há, no sistema jurídico brasileiro, figura jurídica de que lance mão o decujo para pré­excluir 
a sucessão pelos herdeiros legítimos não­necessários. Éles só ocupam o lugar de herdeiros se o testador não dispôs 
de todos os bens, ou se o decujo não testou. O que se há de frisar é que os herdeiros legítimos necessários também 
são herdeiros legítimos e herdam se o decujo não testou quanto a todos os bens da porção disponível,  ou se não 
dispôs em testamento. 
Se o decujo dispôs de todos os bens, que iriam aos herdeiros legítimos não­necessários, fêz o que lhe era dado fazer 
como quisesse. No caso de os herdeiros legítimos serem necessários, há a porção disponível. Se de todos os valôres 
que  nela  cabem  dispôs o  testador, não  excluiu  os  herdeiros  legítimos,  porque,  então,  êles  somente  herdariam  na 
falta de disposições testamentárias. Tudo se passa, em caso de disposição integral, como se o herdeiro renunciasse: 
não foi herdeiro o que teria sido herdeiro legítimo. 

2.  SUCESSÃO  E  DESERDAÇÃO.    No  Tomo  LV,  §§  5.631  e  5.632,  tratamos  da  deserdação, que  se  prende  à 
sucessão  necessária,  porque  só  se  deserdam  herdeiros  necessários.  Os  herdeiros  legítimos  não­necessários  são 
afastados  sempre  que  se  dispõe  dos  bens  que  lhes  seriam  atribuidos,  ex  lege,  se  não  houvesse  deixas  que  os 
atingisse.  Privar  o  herdeiro  legítimo  da  herança,  ou  privar  das  heranças  os  herdeiros  legítimos,  se  não  há  a 
necessariedade, resultante das regras jurídicas típicas, não é deserdar. 
Mas, ao lado dessa particularidade, que se inclui na sucessão legítima (aliás, na sucessão legitima necessária) há 
o  veículo,  digamos  assim,  com  sue  se  chega  a  deserdar,  a  cláusula  testamentária,  “com  expressa  declaração  de 
causa”. Através do testamento é que pode haver deserdação, e só­mente através dele. 
Dai têrmos de volver ao assunto, sem repetição estrita do que fôra dito ao cogitarmos da deserdação no Tomo LV, 
§§ 5.631 e 5.632. 
O  testador  de  modo  nenhum  precisa  apontar  a  causa  (aliás,  o  motivo)  por  que  excluiu  da  herança  o  herdeiro 
legítimo  não­necessário  ou  os  herdeiros  legítimos  não­necessários.  A  deserdação,  essa,  tem  de  ter  causa.  Há  de 
haver, no testamento, a declaração da causa, e o herdeiro instituído ou aqueles a quem aproveite a deserdação há de 
provar  a  veracidade  da  causa.  A  exclusão  por  indignidade  tem  características  de  que  falamos  no  Tomo  LV,  §§ 
5.600­5.608, e concerne à sucessão em geral. 
Quando o testador dispõe de tudo de que poderia dispor, os herdeiros legítimos não herdam (o que pode acontecer 
éque  sejam  herdeiros testamentários  ou  legatários).  Ai  não  houve  exclusão.  Em  verdade, diante  da  lei  que daria 
direito a essas pessoas, o que se dá é pré­exclusão. 

3.  DIREITO  ROMANO.    Herdeiro  é  o  filho,  o  sutis.  Tudo  mais  vem  depois,  inclusive  o  testamento.  Talvez  a 
deserdação  seja  anterior  a  êsse;  era  preciso  deserdar,  para  que  o  testamento  pudesse  existir.  No  comêço,  o 
automatismo do filho que sucede ao pai no culto e no poder. Deserdado O suus, vem, após, a instituição. O pater 
famílias  impede  o  direito  do  filho,  abscidit  jus  filil.  A  instituição  é  initium  et  caput  totius  testamenti;   mas 
pressupõe a ~eserdação. Os sui têm a qualidade de herdeiro; é preciso tirá­la. A exheredatio anteposta à instituição 
operou para todos os graus. Se o foi ab un&tS persona, o testamento seria inexistente. Assim devemos ler a L. 3, § 
2, D., de tiberis eL postumis heredibus instituendis vei exheredafldis, 28, 2. A referência à exheredatio post aditam 
heredit  atem  significa:  não  vale  a  deserdação,  porque,  então,  é  impossível;  o  testador  quis  nulamente,  pois 
encontraria herdeiro ab intestatO. No texto de POMPÔNIO, a passagem de quaedam enim até habebunt deve ter 
sido interpolação. 
Qualquer que seja a sociedade, no comêço o que se vê éa passagem automática dos bens aos filhos. Daí, em Roma, 
ter  o  pater  familiaR  de  instituí­lo  ou  deserdá­lo  (sucessão  iformalmente  necessária).  No  carnê  ço,  há  mais 
continuidade  familiar,  orgânica,  que  sucessão.  Depois  o  suus,  ou  é  herdeiro  abintestato,  ou  ex  testamento,  ou 
deserdado. 
A deserdâção não pode ser condicionada a qualquer acontecimento; porque tem de preceder a tudo (L. 3, § 2, D., 
de  liberis  et  postumis heredibus institzwtidis  vel  exheredandís, 28, 2).  Certo, dependia  da eficácia  da  instituição 
mas sem  condição, porque, se assim  não fôsse,  não valeria (L. 77, D., de div ersis regtius iuris antiqui, 50, 17). 
Tudo mostra que a deserdação era logicamente pressuposta pela  instituição. Nem a deserdação nem a instituição 
eram patrimoniais. 

4. FUNDAMENTO.  ~,Qual o fundamento da deserdação? Não deveria ser uma pena;  à alma contemporânea só 
serviria a alegação de não caber a sucessão necessária quando, com a morte do decujo, o herdeiro não precisa, é um 
desligado  da  família,  de  que  não  deve  receber  proveitos.  Mas  verdade  é  que  o  Código  Civil  manteve  o  caráter
odioso de pena, reflexo assaz compreensível do individualismo estacionário do direito das sucessões. 

5. DESERBAÇÃO PARCIAL.  O  Código Civil brasileiro não fala em deserdação parcial. Donde  dizer­se que o 


sucessível ou herda, ou não herda. Mas o alemão também não falou; e nem por isso a doutrina deixou de admiti­la 
(F. HERZPELDER, Erbrecht, J. v. Staudingers Kommentar, V, 988). 
~ de perguntar­se se a deserdação pode ser parcial; e.g., quanto a dois terços da quota necessária; quanto às frações 
da quota necessária que corresponda aos dois prédios da cidade de São Paulo, o deserdado terá apenas a pensão de 
x  cruzeiros  (HORAz  KRASNOPOLSKI  e  BRUNO  KAFKA,  Lehrbuch  dos  Õsterreichischen  Privatrechts,  V, 
230).  O  pai  ou  outro  ascendente,  que  deserda  algum  descendente,  pode  fazer­lhe  legado  <MANUEL  DE 
ALMEIDA  E  SOUSA,  Notas  de  uso  prático  e  críticas,  III,  843  s.).  O  que  não  se  lhe  permite  é  deserdar  sob 
condição,  ou  com  têrmo  7  MANUEL  DE  ALMEIDA  E  SOUSA,  III,  842).  Isso  não  significa  que  não  possa  o 
testador, que tem dúvida sôbre a causa de deserdação, subordinar a eficácia da cláusula deserdativa à prova, ou à 
confirmação, ou à permanência do que foi alegado (e.g., “deserdo B, porque me disseram que teve relações sexuais 
em minb%a casa, em que mora, mas se isso fôr provado”; “deserdo C, que está acusado, em juízo criminal, de ter­ 
me,  no  es  curo,  ofendido  fisicamente”;  “deserdo  O,  se,  na  verdade,  me  injuriou  gravemente,  na  reUnião  de  tal 
lugar”>. 
Também vale a cláusula deserdativa em que o testador disse deserdar o descendente, ou o ascendente, se até a sua 
morte não houver retirado as injúrias graves. 
A deserdação do direito moderno concerne aos herdeiros a que toca a porção necessária, e tem de ser com expressa 
declaração  de  causa   (art.  1.742).  Não  é  simétrica  à  instituição,  como  em  Roma;  o  testador  pode  deserdar,  sem 
instituir. 
6. PERDÃO DA CAUSA DA DESERDAÇÃO.  A lei brasileira  não inseriu regra jurídica sôbre o perdão. Resta 
saber se, perdoada a ofensa ou injúria, cabe aplicar­se a pena. (Na lei brasileira, a deserdação é pena e como pena 
temos  de  raciocinar.)  Quando  se  trata  de  causa  de indignidade,  a  lei  exige  o  ato  autêntico ou  o  testamento  (art. 
1.597). ,Quid iuris, nos casos dos arts. 1.744 e 1.745? 
A simples reconciliação do testador com o deserdado não invalida a deserdação (M. A. COELHO DA ROCHA, 
Instituições de  Direito  Civil português, § 854).  ~E  nos  casos  de  atos  concludentes  do perdão, do esquecimento? 
Mais:  o  testador,  depois  de  fazer  o  testamento  deserdativo,  adianta   a  quota  ou  parte  da  quota  necessária?  ~O 
perdão é um ato jurídico em sentido estrito (PETn KLEIN, fie Rechtshandlungen im engereu Sinne, 117 5.; MAx 
NADLER, Regriff, juristische Natur und rechtl. Beh,andlung der Verzeihung, 43 s.; EDUARD FREUDENEERO, 
fie Verzeihung nach. den Bestimmungen des .8GB., 4 s. e 23 s.), ou simples fato (WALTER REHDANS, Begrif 1. 
.iuristische  Natur  und  rechtl.  Beh,andlung  der  Verzeihung,  §§  8  s.),  que  não  precise  de  outras  exigências  para 
existir?  A. MÁNICK (WillenserkWrung und Willensgeschãft, 297 s. e 629) entendia que não é, sequer, declara $o 
de  vontade.  No  caso  do  art.  319,  II,  não  seria  simples  fato:  exige,  por  exemplo,  o  agente  capaz;  não  estaria 
perdoado  o  adultério,  se  o  cônjuge  inocente,  louco,  coabitasse  com  o  culpado.  No  caso  do  artigo  1.597, 
evidentemente.  Se  admitirmos  que  pode  haver  perdão  ao  deserdado  nos  casos  dos  arts.  1.744  e  1.745,  em  ato 
autêntico ou testamento, a situação é a mesma. De modo que o problema se restringe ao perdão tácito, ou expresso, 
fora de ato autêntico ou testamento. 
a)Se  pode  haver  perdão  expresso,  sem  ser  com  as  formalidades  do  art.  1.597,  que  só  se  refere  ás  causas 
enumeradas no art. 1.505, e se cabe o perdão tácito (que a doutrina alemã admitiu, se bem que a lei, § 2.337, não o 
tenha  dito),  temos  de  raciocinar  com  o  ato  jurídico, que  infirmaria   a  disposição,  como  se  dá  com  o  testamento 
posterior inconciliável (art. 1.747, parágrafo único). 
b)Se  não  há  perdão  ato  jurídico  fora  das  formas  do  art.  1.597,  temos  de  apreciá­lo  como  fato.  Sendo  fato,  êle 
atuará: a) como elemento de interpretação para se ajuizar da veracidade e da gravidade da injúria; b) como indício 
contrário  a  outros  indícios;  o)  para  a  invocação  da  pressuposição  ou  da  cláusula  rebus  sic  stantibus;  d)  como 
elemento complementar na prova do Erro do testador. Tal o domínio típico do fato. 
Parece­nos  que  a  solução  brasileira  é  a  do  caso  b),  mas  trata­se  de  fato  que  corresponde  à  ação  jurídica  stricto 
sens/t de PETER KLEIN. O testador pode perdoar por ato autêntico, ou testamento, nos casos do art. 1.595 e nos 
dos arts. 1.744 e 1.745; fora disso, constitui matéria de fato, porém de fato com consequências jurídicas. 
Em todo o caso, o assunto não se esgota com a solução que demos. ~ Quid iuris, se o testador, depois de fazer o 
testamento deserdativo, nomeia, em codicilo, o deserdado? Ora, seria absurdo deixar de considerar invalidada (in 
firmada,  artigo  1.747,  parágrafo  único)  a  deserdação:  seria  admitir  que  exercesse  a  função  de  testamenteiro  o 
deserdado,  quando,  examinadas  as  duas  situações,  elas  são  flagrantemente  incompossíveis;   entre  o  texto  do 
codicilo,  em  matéria  sôbre  a  qual  o  codicilo  pode  dispor   (art.  1.653),  e  o  texto  do  testamento  anterior,  há 
contradição,  choque,  incompatibilidade,  portanto  é  o  caso  do  art.  1.747,  parágrafo  único.  Se  tal  caminho  não 
tomarmos, teremos ferido a vontade do testador, contra o que nos ordena o art. 1.666. Donde têrmos de dizer:  a 
nomeação  do  deserdado  para  testamenteiro,  em  testamento  posterior  ou  codicilo,  induz  ter­se  infirmado  a 
deserdação.  O  mesmo  raciocínio  far­se­á  para  a  nomeação  de  inventariante,  que  gere  coisas  suas  e  só 
excepcionalmente  coisas dlheias.  De  qualquer  modo,  está  infirmada  a  deserdação.  Não podemos  fazer  o  mesmo
raciocínio para as causas do art. 1.595, porque o artigo 1.597 é decisivo: o codicilo só terá o efeito do art. 1.597, se 
fôr por ato autêntico. 

7. DEIXA AO DESERDADO.  Pode acontecer que a nomeação do deserdado para quota pequena ou legado em 
testamento  posterior  seja  sem  infirmação  da  deserdação.  Basta,  para  isso,  que  o  diga  o  próprio  testador,  ou 
convincentemente resulte do testamento. É o que aconteceria quando, no mesmo testamento, o testador deserdasse 
alguém  e  o  nomeasse  herdeiro  testamentário  ou  legatário.  Aqui,  ainda  poderá  suceder  que  o  testador  diga: 
“Deserdo a A pela causa x dos arts. 1.744 e 1.745 (art. 1.595), mas, como só a êle, que é honesto em matéria de 
dinheiro, posso confiar o cumprimento do meu testamento e a segurança dos meus outros filhos menores, lego­lhe 
tanto,  e nomeio testamenteiro e inventariante”. O vulgar é que sejam incompossiveis a deserdação e a deixa, ou, 
com maioria de razão, a testamentaria e a inventariança; porém, aí, foi o próprio testador que pôs ao vivo os seus 
sentimentos, que cindiu  a situação afetiva do herdeiro. Ou n’eM pas seulement ce qu’on est surtout;  e o duro, o 
violento,  o  ofensivo  dos  artigos  1.744,  1,  e  1.745,  1,  pode  ser  um  impoluto,  um  homem  de  rija  honestidade 
peduniária. Os homens boníssimos, amáveis, diz­nos a psicologia contemporânea, são pecuniàriamente fracos. 

8.PRESSUPOSTOS  DA  DESERDAÇÀO.    Para  que  se  dê  a  deserdação,  é  preciso  que  concorram  os  seguintes 
fatos: a) Existência de herdeiro necessário. Faz­se mister que viva  ao tempo da abertura da sucessão. b) Causa legal 
da  deserdação  (artigos  1.744  e  1.745),  e  declaração  expressa  de  qual  tenha  sido  a  causa;  portanto,  só  pode  ser 
anterior  ao testamento. c) Não ter havido o perdão, por ato autêntico ou em testamento nos casos do art. 1.595 (art. 
1.597), ou não ter havido o perdão por instrumento público ou testamento nos casos dos artigos 1.744 e 1.745; ou, 
nesses, não se ter dado a ineficácia pela cláusula rebus sic stantibus. 

O fato, por mais grave que seja, que se não subsumir nos arts. 1.744 ou 1.745, não pode ser causa  de deserdação. 
Em todo o caso, os inciso~ 1 e II dos arts. 1.744 e 1.745 são assaz amplos. O que não se admite é a interpretação 
analógica.  Assim,  o  casamento  da  filha  sem  o  consentimento  do  pai  não  é  injúria  a  êsse.  Nem  o  é  o  pedido  de 
interdição dêsse (F. HERzFELDER, Erbrecht, J. v. Staudirgers J£ommentar, V, 990). Se o pai nega consentimento 
ao filho para casar, ou para outro ato, ou pede a interdição dele, o filho não pode, por êsse fato, deserdá­lo. Questão 
grave será se o filho intenta contra o pai uma das ações dos arts. 394 e 895, a favor de outro filho do decujo. O 
pedido, em si, não constitui injúria grave, máxime se vitoriosa a ação. Se foi julgada improcedente, é questão de 
fato saber se houve ou não o animus iniuriandi. 

A declaração deve ser especial e compreensível, concreta: não basta a citação do artigo da lei, ou do inciso, salvo 
se  isto é suficiente,  na espécie, para caracterizar (cp. LUDWIG ScHIFFNER, Pflichtteil, Erbenausgleichung und 
sonstigen gesetzlichen Vermdchtnisse, 74). Mas, para que a indicação da causa seja especial e, pois, suficiente, não 
é preciso narrar os fatos (Orno WARNEYER, Kommentar, II, 1801). 

9. FORMA DA DESERDAÇÃO.  No Código Civil só se admite a deserdação em testamento. Excluídos, portanto, 
a escritura pública e o codicilo. Mas, feita em testamento, ainda quando a causa pertencer ao art. 1.595, poderá ser 
invalidada por ato autêntico (art. 1.597). Nulo o testamento, em que se fêz a deserdação, nula está ela. 

10.  NULIDADE  DA  DESERDAÇÂO.    A  deserdação  é  nula,  se  nulo  o  testamento;  anulável,  se  êsse  ou  a 
disposição o é. Poderá ser nula ou anulada, sem o ser o testamento, nos casos em que as disposições testamentárias 
o são, sem que se eive de nulidade absoluta ou relativa o testamento que as contém. 
A deserdação supõe ato reprovável ao deserdado. Exige­se que, ao praticá­lo, seja  responsável (F. LEoNHARD, 
em GEORO FROMMHOID, Kommentar zum RGB., 516) : o louco que fere o pai, ou o injuria, a filha imbecil que 
se prostitui, ou o filho ou pai demente que pratica os atos dos arts. 1.744, IV, e 1.745, III, ou sucessível louco, que 
desampara o pai ou descendente nos casos dos arts. 1.744, V, e 1.745, IV, não podem ser deserdados. 
Por  outro  lado,    agora objetivo,  1. o ato praticado em  legitima defesa   e  em  estado de necessidade  não  pode  ser 
invocado como causa de deserdação (Orno WARNEYER, Kominentar. II, 1299). 
Se bem que os casos dos arts. 1.744, 1 e II, e 1.745, 1 e II, correspondam a conceitos de crimes, não é preciso, para 
o efeito deserdativo, que tenha havido decisão penal (Orno WARNEYER, Kommentar, II, 1299). 
O érro quanto à pessoa ou quanto ao fato, que constitui causa legal, anula a deserdação; mas, se é quanto ao fato, 
melhor  será  impugnar  a  prova  que  o  herdeiro  legitimo,  o  instituído  ou  a  pessoa  interessada  terá  de  fazer  da 
veracidade da causa (art. 1.743, parágrafo único). 
11.~,PODE  O  DESERDADO  HERDAR  EM  VIRTUDE  DE  TESTAMENTO?    Há  dois  casos:  a)  Testamento 
anterior.  Se  a  causa  da  deserdação  coincide  com  a  da  indignidade  (arts.  1.744,  pr.,  1.745,  pr.,  e  1.595),  não  há
questão: provado o fato, estará excluído o herdeiro testamentário, como estaria o legitimo. O próprio legado não 
poderá cumprir­se (art. 1.595). Se não coincide, isto é, se constitui um dos casos especiais do art. 1.744 ou 1.745, 
cabe  a  solução  de  se  interpretar  a  deserdação  posterior  como  infirmação  do  testamento  anterior  (art.  1.747, 
parágrafo único). Presunção hominis. b) Se, no mesmo testamento, em que deserda alguém, o testador contempla o 
deserdado, a pena  não deve prejudicar o benefício:  assim como o testador podia perdoar no caso da indignidade, 
desde  que  o  fizesse  por  ato  autêntico  ou  testamento,  pode  fazê­lo  no  próprio  testamento,  ou  não  o  fazer  e 
contemplar em parte. 
Ora,  se  pode  nos  casos  em  que  a  deserdação  coincide  com  a  indignidade,  a  fortiori  nos  enumerados  pelos  arts. 
1.744 e 1.745. 
Pode ser feita a deserdação para o caso de vir o herdeiro a ser culpado de algum dos atos dos arts. 1.744 e 1.745, 
até a morte do testador?  Assim (A. SCHMIDT, Das formelie Recht der Notherben, 164; JOSEPH UNGER, Syst 
em, VI, 854) ; e não se pode falar de ato depois da morte do testador, porque, à abertura da sucessão, o direito do 
herdeiro se concretizou (A.SCEMIDT, Das formelte Recht der Notherben, 164 s.; JOSEPH UNGER, System, VI, 
854). Aliter, quanto ao instituto da indignidade. 

12.DESERDAÇÃO E HERANÇA LEGÍTIMA NÃO­NECESSARIA. ­Pode o deserdado suceder  ab intestato sem 
ser na quota~ necessária?   Deserdado o indivíduo, que era o único herdeiro necessário, a herança vai aos legítimos 
não­necessários. Resta saber se êle, quando é um dêstes (e.g., neto único, e sobrinho do testador, por ser filho db 
dois  primos),  pode  herdar ab  intestato.  Nos  casos  do  art.  1.595,  a  que  os  arts.  1.744  e  1.745,  fazem  referência, 
evidentemente não: coincidem indignidade e deserda gão. Nos casos dos arts. 1.744, I­V, e 1.745, 1­1V, a solução 
mais  prudente  e  melhor  é  a  de  interpretar  a  deserdação  (art.  1.741)  do  herdeiro  necessário  como  exclusão  da 
herança legítima. Assim, decidem, com razão (F. RITGEN, em G.PLANCK, Bitrgerliches Gesetzbuch, nota 1 ao § 
2.886, EMIL STROHAL, Das deutsche Erbrecht, g~a ed., § 57, nota 1, II. DERNBURG, Das Biirgerliche Recht, 
V,  §  121,  nota  11,  WILHELM  GEHM,  Die  Entziehung  des  Pflichtteils,  51,  contra  a  só  opinião  de  KONEAD 
COSACR, Lehrbuch des Deutschen Riirgerlichen Rechts, ~ 7a e g·a ed., § 180, 1, d). 
13.CONDIÇÃO.  A deserdação deve ser pura. Não pode ser a têrmo nem condicional. No direito romano, há uma 
exceção  única:  L.  28,  D., de  liberis et  postumis heredibus instituendis  vel  ezheredandis, 28, 2.  O  deserdado  sob 
condição  não  está  deserdado  (L.  18,  pr.,  D.,  de  bonorum  possessione  contra  tabulas,  87,  4).  Mas  evitemos  as 
consequências  graves  de  extremo  romanismo;  a  deserdação  “se  ocorrer  certo  fato”,  vale  (F.HERZFELDER, 
Erbrecht,  J.  v.  Staudingers  Kommentar,  V,  988;  cp.  Luuwrn  SCHIFFNER,  Pflichtteil,  Erbenausgleichung  und 
sonstigen gesetzlichen Vermãchtnisse, 67 e 75) ; e vale a deserdação “se é verdade o que dizem”, indicando o fato, 
aqui porque se trata de condicio iuris (art. 1.748). O que se não permite em nenhum caso é a deserdação que se 
refira a futuro acontecimento que sirva de causa legal (LUDWIG SCHIFFNEE. Pfliclttteil, Erbenausgleichung und 
sonstigen gesetzlichen Vermiicktnisse, 75, nota 50; EMIr STROHAL, Das deuteche Erbrecht, 8~a ed., § 57, nota 8). 
A causa  deve ter­se dado. Vale a deserdação fundada no art. 1.744, III, se condicional do casamento: “deserdo a A, 
pela causa do art. 1.744, III, salvo se tiver casado”; ou se a injúria grave (art. 1.744, II) consiste em defloramento 
de neta ou parenta próxima, e acrescenta o testador “salvo se  vier a  casar­se com elá”. Aliás, pensamos que tais 
deserdações são feitas com a pressuposição reines sia stantibus. 

14.DISSIPAÇÃO.    A dissipação  não  foi posta  entre  as  causas de deserdação. Isso prova  o  retrógrado  caráter de 


vindita que têm os arts. 1.741­1.745 do Código Civil. O Código Alemão II, 8, § 16, 18, consagrava a ezheredatio 
bona mente, tirada do direito comum, que a recebera do romano (E. RoSENEERO Die Enterbung in guter Absicht, 
1 s.). O Código Civil alemão, § 2.888, dedicou­lhe excelente regra jurídica. 

15.REVOGAÇÃO.    ~  Só  o  testamento  pode  revogar  a  deserdação?  Assim  pensa  JOAQUIM  AUGUSTO 
FERREIRA AIVES (Da Sucessão testamentária, Manual do Código Civil brasileiro, 883), porque um testamento 
somente por outro pode ser revogado. A lei não cogitou da espécie: o art. 1.742 só se refere ao ato positivo (verbis 
“a deserdação só pode ser ordenada  em testamento”). O art. 1.597, relativo à indignidade, permite o perdão por ato 
autêntico  ou  testamento.  ~  Que  se  há  de  fazer  quando  há  deserdação  no  testamento  e  perdão  em  ato  autêntico 
posterior? Seria absurdo dar efeitos a um ato que está remido. 

16.HERDEIROS DOS HERDEIROS; CESSÃO DOS DIREITOS.  O direito de propor a ação para provar a causa 
não  é  personalíssímo;  passa  aos  herdeiros  do  beneficiado.  Também  não  o  é  o  do  deserdado  para  impugnar  a 
deserdação. Um e outro são cessíveis. 

17.CREDORES  DO  DESERDADO.    ~Os  credores  do  deserdado  podem  usar  da  ação  de  impugnação  da 
deserdação, invocando o art. 1.586? Entendemos que sim, se bem que a sentença contra êles não faça coisa julgada 
quanto  ao  herdeiro  deserdado.  Não  importa  se  o  herdeiro  propôs  a  ação  de  nulidade  da  deserdação.  Além  da 
medida do art. 1.586, os credores podem propor a ação Pauliana. (Quanto ao direito suíço, cp.
E.STADLER, Die Enterbung in der sch.weizerischen Zivilgesetzbuch,, 90 s.). 
Mas os credores dos interessados na deserdação não podem, por êles, dar prova, ou propor ação. 

18.RENÚNCIA  E  PERDÃO.    ~É  renunciável  o  direito  de  deserdar?  Claro  que  o  contrato  seria  nulo:  violaria  a 
liberdade de testar (A. SCHMIDT, Das formelte fcecht der Notherb eu, 166), contravindo o art. 1.089. Igualmente, 
a  promessa  de  não  deserdar  (CHR.  Fa.  VON  MÚHLENBRUCH,  em  CHR.  FR.  VON  GLÚCK,  Ausfiihrliche 
Erlituterirng der Pandecten, XXXVII, 186). Mas é possível o perdão (art. 1.597), se livre. 

19.CLÁUSULA TESTAMENTÁRIA E PARTE DE CLÁUSULA. A deserdação pode ser parte de uma cláusula 
testamentária, ou constar de duas ou mais cláusulas, que se completem, ou se repitam, ou se refiram a duas ou mais 
causas de deserdação. 
A explicitude é elemento indispensável. Se, por exemplo, o testador falou de algum ato do herdeiro necessário, que 
exprobrou, sem se referir a deserdação, ou sem exprimir tal vontade, não se pode considerar suficiente o que disse. 
Se há a declaração de vontade, explícita, mas omitiu o nome, sem que isso crie indeterminação da pessoa, tem­se 
por existente e válida. Na prova, que o interessado fizer, há de estar o nome. 
Quanto  à  causa, pode o  testador  só  aludir  à  figura, que  conste do  texto  legal,  de  modo que  a prova  é  que  há  de 
precisar qual foi o ato causador da deserdabilidade. 
O ato­causa, que o testador menciona, foi, e não podia deixar de ser, anterior à feitura do testamento, de jeito que a 
prova de ato posterior é impertinente, salvo como confirmativo. 
O testamento há de ser válido e válida a cláusula deserdativa. Se, por exemplo, houve pressão do outro herdeiro, ou 
de terceiro, para que o testador lançasse a cláusula, a violência dá causa à anulabilidade. 
Se  a  causa  que  o  testador  invocou  não  é,  pelo  sistema  jurídico  brasileiro,  inserta  como  causa  de  deserdação,  a 
disposição não tem qualquer eficácia. Se foram mencionadas duas ou mais causas, e só uma o é, ou se só algumas o 
são, a nulidade da cláusula omissiva não atinge a outra cláusula, ou as outras cláusulas. 
A interpretação de cláusula deserdativa há de ser estrita. A causa há de ser determinada e verdadeira, razão por 
Que  se  tem  de  exigir  a  prova,  que  há  de  ser,  sempre,  em  juízo.  Os  meios  de  prova  são quaisquer,  conforme  os 
princípios 
gerais; e o deserdado pode fazer a contraprova. Não afasta a deserdabilidade a referência dêsse a qualquer motivo, 
que, em direito, não retire a causa deserdativa. 
O  testador  pode  no  testamento  somente  inserir  a  cláusula  de  deserdação,  isto  é,  não  nomear  herdeiros,  nem 
legatários. Então, há a sucessão legítima, pelos herdeiros necessários, se os há, ou pelo herdeiro necessário, se só 
há um, ou pelos herdeiros legítimos, inclusive o Estado. 
O  testador  pode  ter  deixado  as  provas  da  causa,  quer  com  algum  interessado,  quer  em  cofre,  quer  em  simples 
menção  do  ato  judicial  (e.g.,  ação  criminal  por  injúria,  ofensas  físicas,  tentativa  de  morte,  denúncia  caluniosa, 
adultério como fundamento de desquite). O interessado aproveita o que se pro 
­vou, e pode ser o próprio Estado, que tenha o interêsse, como sucessível legitimo. 
O deserdado, enquanto não se faz prova da causa deserdativa, fica em posição de simples acusado. Todavia, pode 
propor ação declaratória da falsidade da causa ou da inadmissibilidade da deserdação perante a lei. Se o deserdado 
faleceu após o testador, a legitimação para tais ações têm­na os seus herdeiros ou legatários. 
Discutiu­se, em caso de deserdação, se herdam os descendentes do deserdado. A propósito da exclusão, há o art. 
1.599: 
“São pessoais os efeitos da exclusão. Os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se êle morto fôsse (art. 
1.602)”. Não há igual regra jurídica no tocante à deserdação. Daí terem alguns juristas e juizes sustentado que os 
descendentes do deserdado não herdariam, porque a representação não poderia ocorrer. Ora, seria estender­se aos 
descendentes e aos filhos de irmãos o que havia de ser pessoal: a pena. Contra isso sustentamos que o art. 1.599 
tem de ser interpretado como relativo à exclusão e à deserdação. Certa, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, a 
10 de julho de 1950 (A. .J., 97, 45; ­cf. Tomo LV, § 5.632, 5). 
Se  não  se  prova  a  causa  da  deserdação,  tem­se  de  atender  à  quota  necessária  de  que  foi  deserdado  sem  a 
superveniência da prova. Reduzem­se as deixas testamentárias que ofenderiam o direito sucessório do herdeiro cuja 
deserdação  ficou  sem  efeito.  Não  se  diga  que,  com  isso,  ficam  nulas  as  disposições  testamentárias  que 
prejudicariam a legítima necessária. Não há, aí, invalidade, êrro em que incorreu a  2,a Câmara Cível da Côrte de 
Apelação do Distrito Federal, a 5 de abril de 1927, confirmando sentença da 1~a instância. O caso é de redução das 
disposições testamentdria> s (Código Civil, art. 1.727 e §§ 1.0 e 2.0), e não de invalidade. Não se confunda como 
ser inválido o ser ineficaz. 

20.DESCENDENTES DC DESERDADO.  A deserdação de modo nenhum atinge os descendentes do deserdado. 
Se premorre o filho deserdado, sucedem os filhos ou netos do deserdado. Idem, se premorre o pai ou a mãe, que 
seria o deserdado. As quotas necessárias dos descendentes do deserdado têm de ser respeitadas.
Se o deserdado morre após o testador, os seus descendentes têm o direito que caberia ao deserdado se deserdado 
não tivesse sido. São personalíssimos os efeitos da deserdação. 
O testador pode ter deserdado o descendente e os descendentes ou alguns ou algum descendente dêsse. Por outro 
lado, o deserdado pode deserdar o descendente ou os seus descendentes ou alguns deles. Aí, a sucessão nada tem 
com  a do  testador, porque  há  de  constar  do  testamento do deserdado.  Na  sucessão  do  ascendente  deserdante,  só 
êsse pode deserdar o descendente, ou alguns ou todos os descendentes do deserdado. 

21.REvOGAÇÁO DA CLÁUSULA DESERDATIvA.  Se advém. outro testamento em que se não reproduz nem se 
alude  à  cláusula  de  deserdação,  essa  foi  revogada.  Todavia,  se  terceiro  testamento  revoga  o  segundo,  tem­se de 
averiguar se permaneceu, ou não, a vontade do testador manifestada no primeiro testamento. O perdão é sempre 
revogável. Pode ocorrer que o terceiro testamento mantenha, ou não, a cláusula de deserdação. 
Se o testador dispôs dos bens que estariam na quota necessária sem precisar que deserdara, deserdação não houve. 
O favorecido ou outro interessado não pode fazer prova da. causa de deserdação, que não fôra objeto de cláusula 
deserdativa. 
Se o testador, no nôvo testamento, diz que fôra alguém injusto em atribuir ao deserdado atos que êle não cometera, 
é de supor­se que um dos atos foi aqueles a que no testamento anterior se referiu como causa da deserdação. 
Se advém sentença em que se julga não ser descendente do testador a pessoa deserdada, de nenhuma deserdação se 
há de cogitar porque não existiria quota necessária. 

§ 5.846. Prova da veracidade da causa alegada 

1.INEFICÁCIA DA CLÁUSULA DESERDATIVA.   Diz o Código Civil, art. 1.748: “Ao herdeiro instituído, ou 
àquele a quem aproveite a deserdação, incumbe provar a veracidade da causa alegada pelo testador (art. 1.742) “. E 
no parágrafo único: 
“Não se provando a causa invocada para a deserdação, é nula a instituição, e nulas as disposições, que prejudiquem 
a legitima. do deserdado”. 
2.  CORRESPONDÊNCIAS.    Cp.  Código  Civil  alemão,  §  2.886,  g·a  alínea;  português  revogado,  arts.  1.881  e 
1.882; 
espanhol, arts. 850 e 851; argentino, art. 3.746; austríaco, § 771; suíço, art. 479. 

3.  PROVA  DA  VERACIDADE  DA  CAUSA.    O  interessado  tem  de  provar  a  causa  da  deserdação.  O  testador 
apontou­a; talvez, até, houvesse indicado ou deixasse produzida a prova do que disse. Mas, se não a deixou, ou se 
alguém a impugnou ao interessado dá­la em juízo. 
Interessados são o herdeiro instituído, o legatário e o testamenteiro. 
O interêsse da pessoa a quem incumbe provar a veracidade da causa da deserdação há de ser econômico. Não basta 
o interêsse moral (5.~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 25 de novembro de 1949, 1?. dos T., 185, 
219). 
Se  interessado  não  prova  a  causa  da  deserdação,  é  sem  eficácia  a  cláusula  deserdativa  (4·a  Câmara  Civil  do 
Tribunal de Apelação de São Paulo, 2 de agôsto de 1945, 1?. dos T.. 160, 717). 
Pode ocorrer que a prova seja plena, desde que se fêz a deserdação, e apenas a ela se refira aqueles que a podia 
alegar. A  prova  judicial  da  causa,  antes  ou  após a  abertura da  sucessão, pode  ser referida pelo  testamenteiro, ou 
pelo Curador de Testamentos, porque seria absurdo que herdasse, na falta da atividade de algum interessado, quem 
assassinou o testador, que o deserdou enquanto estava no hospital, quem foi condenado por algum crime contra a 
honra do testador, quem foi condenado por ofensa física ou injúria grave contra o testador. 
Não provada a causa invocada para a deserdação, nula é a instituição; mas a instituição, a que se superpõe o ato 
deserdativo.  Se  não  há  relação  de  simetria  entre  os  dois  atos,  a  nulidade  de  uma  não  acarreta  a  da  outra.  Se  o 
testador deserda o filho e dispõe, em legados, da porção disponível mais o quinhão do filho deserdado, e não vinga, 
depois,  a  prova  da  causa  de  deserdar,  procede­se  à  redução.  Se  há  instituídos  para  todo  o  testado,  sem  que  o 
testador  tivesse  circunscrito  ao  quinhão  deserdado  o  quinhão  do  herdeiro  testamentário,  é  a  redução,  e  não  a 
nulidade, que se dá. Se o testador disse: “o que deveria ir ao meu filho deserdado lego a A”, nulo será, tão­só, êsse 
legado. Se escreveu: “no que pertenceria a meu filho, instituo herdeiro a B”, nula será, tão­só, a instituição. 

4.SITUAÇÁO  OBJETIVA,  PENDENTE  A  PROVA.    ~  Com  quem  ficam  os  bens  antes  da  sentença  que  julga 
provada a deserdação? 
A.J. GOuVEIA PINTO (Tratado regular e prático dos Testamentos e Sucessões, 6·a ed., nota 121, 151 s.) entendia 
do seguinte modo:  “declarando o  testador  a  causa,  pertence  ao  herdeiro  instituído  prová­la,  como  é  expresso na 
Ord. cit., § 2; mas, em quanto se entra neste exame, o filho é quem deve estar na posse dos bens, porque sempre se 
presume sem culpa, e deve­se­lhe por conseqúência a legítima”. 
TEIXEIRA DE FREITAS, à nota 27 ao art. 1.013 da Consolidação  das Leis Civis, escrevia: não é aceitável a nota
de  A.  3.  GouvEIA  PINTO  sôbre  ficar  a  herança  na  posse  do  deserdado,  enquanto  o  herdeiro  instituído  prova  a 
causa  da  deserdação.  Não  se  segue  dessa  minha  discordância,  que  a  herança  deva  ficar  na  posse  do  herdeiro 
instituído,  porquanto  a  mesma  Ord.  também  diz:  “se  o  herdeiro  instituido  no  testamento  quiser  haver  a  herança 
fiquem os respectivos bens da herança em depósito, na posse do inventariante, ou de outrem, até que se decida o 
litígio da deserdação”. 
A respeito, professou CLóvís BEvILÁQUA doutrina singular (Código Civil comentado, VI, 206). Referindo­se à 
solução de TEIXEIRA DE FREITAS, disse êle: “Devemos segui­la por ser conforme a razão e se ajustar com~ o 
disposto no art. 507, parágrafo único, do Código”. É o texto que diz: “Entende­se melhor a posse que se fundar em 
justo título; na falta de título ou sendo os títulos iguais, a mais antiga. . .  “. ,Que é que isso tem com a questão? 
Absolutamente nada. 
Os  textos  que  devem  decidir  são  os  arts.  1.572,  1.741  e  1.748.  Duas  situações  podem  ocorrer  aos  herdeiros 
necessários:  a)  Serem  acusados  de  indignidade  e  propor­se  a  ação  contra  êles.  b)  Terem  sido  deserdados  pelos 
ascendentes ou descendentes, devendo ser provada a causa da deserdação. 
São situações inconfundíveis, por isso mesmo que inconfundíveis os dois institutos. 

5.546. PROVA DA VERACIDADE DA CAUSA ALEGADA 261 

Perante o art. 1.572 a solução há de ser a seguinte: o indigno, enquanto não fôr decretada a indignidade, tem a sai­ 
sina,    decretada,  será  afastado  da  posse,  resolutivamente,  por  efeito  da  sentença  que  ataca  a  relação  jurídica 
caracterizada pela saisina. O deserdado não a tem, se fôr provada a causa; teve­a, se cair a prova. 
A questão levantada por TEIXEIRA DE FREITAS só tem sentido quanto aos efeitos estranhos ao art. 1.572, que 
fica pôsto de lado como elemento de solução. O terceiro, antes da coisa julgada, não pode opor a verba deserdativa. 
Restam  os  arts.  1.741  e 1.743,  no que pode  constituir  efeito  da situação pendente. Tais  efeitos  são os da defesa 
possessória da vocação a inventariança e da intervenção nos atos do inventario. 
a) Pendente a ação para provar a deserdação, estaria o deserdado privado da inventariança  injustamente, se cair a 
prova, pois o art. 1.574 acautela os herdeiros  necessários contra a atribuição da posse e  administração a outrem; 
justamente, se fôr provada a causa. 
Deve produzir tal efeito a verba deserdativa? Entendemos que sim. Mau ato do testador. Porém produziu efeitos. A 
outra situação seria inconsequente. 
b)Pendente a ação, estará o deserdado afastado dos atos do inventário, venda de bens, etc.? Entendemos que sim. 
Porque,  quer  no  caso  da  letra  a),  quer  no  da  letra  b),  a  suspensão  da  alienação  dos  bens  e  de  outros  atos  fica 
dependente do pedido do interessado, na ação que torne litigiosa  a herança. Deferido, suspende­se o inventário e 
são vedados os atos de disposição. 
c)Resta a defesa possessória.  e o deserdado pessoa que esteja em situação de suspensão e a que se devam conferir 
podêres  para  os  atos  destinados  a  conservar  os  bens  ou  direitos,  a  propósito  dos quais  aguarda decisão?  Sim;  o 
terceiro não lhe poderia opor a verba deserdativa cuja causa ainda não se provou. Aqui, êle recebeu, efetivamente 
(ex hypothesi!), a posse dos bens, e defende­a. Defende­a; se não fôr provada a causa da deserdação, agiu no seu 
próprio nome. Se fôr provada, terá sido gestor de negócios. 
Em conclusão: pendente a ação, o deserdado não pode ser inventariante nem  intervir  no processo, salvo para as 
medidas de protesto e ressalva, como pedir que conste dos alvarás ainda não estar provada a sua deserdação. 
No revogado Código Civil português, dizia o art. 1.881: 
“Sendo  contestada  a  exatidão  da  causa  da  deserdação,  incumbe  a  prova  dela  aos  interessados  em  que  essa 
deserdação se verifique”. Comentando, interpretou JOsÉ DIAS FERREIRA (Código Civil portugues anotado, IV, 
256 s.) : “Mas ~quem entra de posse da herança até à decisão judicial do pleito, são os herdeiros legitimários em 
nome  da  lei,  que  lhes  garante  as  legitimas,  ou  os  interessados  na  deserdação  em  nome  da  vontade  do  testador, 
expressada no testamento? Entram logo de posse os interessados na deserdação, visto que são os deserdados que 
têm  obrigação  de  intentar  a  ação,  e  de  figurarem  de  autores  para  darem  sem  efeito o  testamento, art. 1.8.84, ou 
porque não se declare a causa da deserdação, ou porque não é legítima, ou porque não se prova. A velha ordenação 
também não indicava expressamente quais deviam ficar de posse durante o processo da deserdação, nem a quem 
incumbia propor a respectiva ação, se ao herdeiro instituído, se ao herdeiro deserdado”. 
Lê­se no Código Civil português de 1966, art. 2.166: “1. O autor da sucessão pode em testamento, com expressa 
declaração  da  causa,  deserdar  o  herdeiro  legitimário,  privando­o  da  legítima,  quando  se  verifique  alguma  das 
seguintes ocorrências: a) Ter sido o sucessível condenado por algum crime doloso cometido contra a pessoa, bens 
ou  honra  do  autor  da  sucessão,  ou do  seu  cônjuge,  ou  de  algum  descendente,  ascendente,  adotante  ou  adotado, 
desde  que  ao  crime  corresponda  pena  superior  a  seis  meses  de  prisão;  b)  Ter  sido  o  sucessível  condenado  por 
denúncia caluniosa ou falso testemunho contra as mesmas pessoas; e) Ter o sucessível, sem justa causa, recusado 
ao autor da sucessão ou ao seu cônjuge os devidos alimentos. 2. O deserdado é equiparado ao indigno para todos os 
efeitos legais”. E no art. 2.167: “A ação de impugnação da deserdação, com fundamento na inexistência da causa
invocada, caduca ao fim de dois anos a contar da abertura do testamento”. 
No Brasil, a ação não é só do herdeiro instituído, ou daquele a quem aproveite a deserdação, porquanto o art. 178, § 
9·O, IV, cogita dessa e da ação do deserdado para impugnar 

4<

Á 
§ 5.846. PROVA DA VERACIDADE DA CAUSA ALEGADA 263 

a deserdação. Tal duplicidade também não ocorre no direito suíço, onde ao deserdado cabe impugnar a deserdação 
(artigo  479,  alínea  2.~)·  Na  Suíça,  o  ônus  da  prova  obedece,  aí,  ao  princípio  geral  (II.  KUHN,  fie  Beweislast 
insbesondere  im  schweizerzschen  Zivilgesetzbuch,  98).  No  direito  argentino  (ar.  tigo  3.746),  a  ação  cabe  aos 
herdeiros e não ao deserdado (cp. Novela 115, c. 3, Código de Nápoles, art. 851, da Luisiana, art. 1.616). Contudo, 
não devemos tirar do art. 178, § 99, IV, razão para só se darem à deserdação efeitos posteriores à sentença passada 
em julgado, porquanto, no capitulo que comentamos, o ônus da prova está evidentemente com os interessados, e 
não com o deserdado. 
Na jurisprudência, decidiu­se o seguinte: uma vez declarado por testamento excluído da herança um dos herdeiros, 
cabe ao herdeiro instituido, ou aos interessados, pleitear a sua exclusão por ação ordinária para provar a causa da 
deserdação, bem assim ao deserdado para impugná­la. A prescrição da ação é de quatro anos, a contar da abertura 
da sucessão. A posse da herança,  não cabendo ao deserdado, nem também ao herdeiro instituído, pois êsse pode 
não  provar  a  legalidade  da  deserdação,  decide­se  com  deixá­la  ao  inventariante  (2.~  Câmara  Cível  da  Côrte  de 
Apelação, 5 de abril de 1927). 
Mas ~quem deve ser o inventariante? Se há herdeiros necessários não deserdados, toWtur quaestio. Se não os há? 
tSe  o  deserdado  ou  deserdados  eram  os  únicos  herdeiros?  Haverá  instituidos  na  porção  disponível.  Êsses  terão 
direito  à  inventariança,  se  para  ela  não  foi  nomeado,  pelo  testador,  o  testamenteiro.  Não  estará  excluído  de  tal 
vocação o instituído para a porção disponível e para a parte do deserdado. Demais, se o testador distribuiu toda a 
herança em legados e deserdou os herdeiros, instituindo a estranho, ~quem será o inventariante? O acórdão negou 
vocação ao deserdado e ao instituído no lugar daquele. Não há outros herdeirok Será inventariante o testamenteiro 
(art. 1.579, § 3.0). O instituído, se fôr o nomeado para a testamentaria, exercerá como tal a inventariança, e não na 
qualidade de herdeiro instituído. 
5.ÔNUS  DA  pROvA.    Cumpre  não  confundir  o  ônus  da  prova  na  ação  de  deserdação  e  na  de  impugnação  da 
causa deserdativa  (arts. 1.743 e 178, § 99, IV>, com a de nulidade absoluta ou relativa da deserdação, e. g., as que 
se fundarem na. nulidade formal do testamento, na incapacidade do testador ou no érro. Nessas, o ônus cabe aos 
autores da ação, e não aos beneficiados pela deserdação. Aqui, é de todo importante distinguír o êrro, o dolo ou a 
coação das causas falsas ou inexatas. 

6.NULIDADE E INEFICÁCIA DA CLÁUSULA DESERDATIvA. Quando fôr nula ou não provada a deserdação, 
nulas serão as instituições e legados feitos com a porção de que teria sido deserdado o herdeiro. Para que seja nula, 
basta: a) que tenha. sido feita sem declaração de causa; b) com declaração de causa que não esteja inserta na lei; e) 
se não inteligível ou invenc’ivelmente contraditória 

7.DIsPOSIÇÕES QUE cABEM NA PARTE DISPONÍVEL.  Valem todas as disposjçôes que couberem na parte 
disponível. Mas há casos de interpretação: 
a)Se o testador deserdou a A e nomeou “no lugar de A” a E, a instituição de E será nula, se cair a deserdação. 
b)Se o testador deserdou a A e nomeou B e C seus herdeiros, caída a deserdação, E e C sOmente herdam a porção~ 
disponível.
c)Se o testador deserdou a A e nomeou E e C herdeiros, distribuindo legados que absorvem a quota disponível, sem 
que  o  testador  tenha  excluído  a  possibilidade  de  haver  bens  escapos  ao  cumprimento  dos  legados,  E  e  ~C  são 
herdeiros  do  que  restar.  Na  hipótese,  nada  resta,  porém  a  afirmativa  de  serem  herdeiros tem  importância  para  o 
caso em que algum dos legatários renuncie o legado ou por outra razão tenha êsse da ficar aos herdeiros. 
d)Se  o  testador  deserdou  a  A  e  nomeou  a  E  e  C,  dizendo  que  da  sua  parte  disponível  vai  dispor  totalmente  e 
conjunta­mente em legados, E e C não são herdeiros. 
8.EFICÁCIA DA DECISÃO SOBRE A PROVA DA DESERDAÇÃO. 
À  deserdação,  porque  depende  da  prova  e  da  decisão,  falta  a  eficácia  imediata  à  morte  do  testador.  A  saisina 
ocorre, embora sob a ameaça de ter sido para outros sucessores, e não para o herdeiro necessário deserdado, se o 
julgado torna definitiva a cláusula deserdativa. 
Enquanto não há a decisão sôbre a deserdação, tem­se de considerar que o deserdado recebeu, automàticamente, a 
propriedade e a posse dos bens, conforme a quota necessária. Com a eficácia do julgado que considerou provada a 
causa deserdativa, ao deserdado nunca  foram a propriedade e a posse. A eficácia sentencial é ex tunc. Nenhuma 
responsabilidade lhe cabe na qualidade de herdeiro; mas tem de restituir o que lhe fôra, o preço do que vendeu e 
prestar indenização dos danos. que causara com a sua situação transitória e com a sua administração. 
A reconciliação, ou o perdão do testador, somente pode afastar a eficácia da cláusula deserdativa se expressa em 
nôvo testamento, ou no próprio testamento em que se pusera a cláusula. Discute­se se o perdão ou outro ato que 
retire a cláusula deserdativa pode constar de ato autêntico que não seja o testamento. A resposta afirmativa funda­ 
se em interpretação analógica do art. 1.597 do Código Civil, relativo a indignidade. 
É preciso que tenha capacidade para testar, no momento do perdão, ou de outro ato cancelativo, quem o assina. 
A  deserdação  é  inconfundível  com  a  chamada  “exclusão  de  partilha”  em  que  o  testador,  por  serem  herdeiros 
legítimos  necessários  ou  não­necessários  os  que  tem,  dispõe  que  algum  deles  ou  alguns  deles  não  recebam  da 
metade  disponível,  ou  da  metade  disponível  sOmente  recebam  fração  mínima,  O  testador,  no  tocante  à  porção 
disponível, podia estabelecer que toda fosse a alguém, ou a estranho, de modo que, com o afastamento do herdeiro 
legítimo,  mesmo  necessário,  é  afastamento  dentro  dos  limites  da  disponibilidade.  Para  a  cláusula  de  não  herdar 
alguém,  no  que  toca  à  metade  disponível,  ou  ao  todo  da  herança,  se  não  há  herdeiros  necessários,  nenhum 
obstáculo há. O herdeiro legítimo não­necessário pode ser mencionado para que de modo nenhum seja chamado à 
herança. Não é preciso que se aluda a motivo, provado ou não. Se apontou motivo (não se fale, aí, em causa legal 
ou  causa)  e  êsse  é  falso,  isso  não  importa,  porque  se  afastou  o  sucessível;  mas  a  cláusula  foi  manifestação  de 
vontade fundada em êrro e cabe a anulação. Idem, se houve coação. 

§ 5.847. Outras causas de deserdação 

1. AÇÕES DA DESERDAÇÃO.  O Código Civil refere­se a três ações: a) A do interessado em pleitear a exclusão 
do  herdeiro  (ação  de  indignidade).  O)  A  do  herdeiro  instituído  ou daquele  a  quem  aproveite  a  deserdação,  para 
provar a causa dela, e) A ação do deserdado para a impugnar (art. 178, § 9,0, IV). 

Duas concernem à deserdarão e são de propositura contrária  uma, propõe o beneficiado pela deserdacão, e outra, o 
deserdado. Ambas prescrevem em quatro anos, contado o prazo da abertura da sucessão. 

2.DESERDAÇÁO  DOS  DESCENDENTES  POR  ASCENDENTES.  Diz  o  Código  Civil,  art.  1.744:  “Além  das 
causas  mencionadas  no  art.  1.595,  autorizam  a  deserdação  dos  descendentes  por  seus  ascendentes:  1.  Ofensas 
físicas. II. Injúria grave. III. Desonestidade da filha que vive na casa paterna. IV. Relações ilícitas com a madrasta 
ou o padrasto. V. Desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade”. 

3.CORRESPONDÊNciAS.    Código  Civil  português  revogado,  art.  1.876;  de  1966,  art.  2.166,  1;  Código  Civil 
alemão, § 2.333; espanhol, art. 853; aitentino, art. 3.747, e outros. 

4.CAUSAS DE DESERDAR.  Só existem as seguintes causas de deserdação dos descendentes pelos ascendentes: 
a) Se tiverem sido autores ou cúmplices em crime de homicídio voluntário, ou tentativa dêsse, contra a pessoa de 
cuja sucessão se trata. Exemplo: o filho ~feriu o pai, e êsse, sabendo fatal o ferimento, deserda­o; ocorrida a morte, 
deu­se  o  crime  de  homicídio,  que  existiu  antes  da  deserdação,  se  bem  que  ainda  se  não  houvesse  consumado  a 
consequência esperada. 
b)Se a acusaram caluniosamente em juízo, ou incorreram em crime contra a sua honra. 
c)Se,  por  violência  ou  fraude,  a  inibiram  de  livremente  dispor  dos  seus  bens  em  testamento  ou  codicilo, ou  lhe 
obstaram a execução dos atos de última vontade. 
d)Se incorreram em qualquer dos atos do art. 1.744. 
As três primeiras causas coincidem com a indignidade, a cujo capítulo nos reportamos. Tratemos das implícitas no
artigo 1.744. 
5. OFENSAS FÍSICAS.  As ofensas corporais, a que se refere a lei, não precisam ser graves, nem duras, para que 
se autorize a deserdação com fundamento no art. 1.744, 1. Não se supõe a dor. Nem o grande perigo, ou, sequer, a 
possibilidade disso. Só se supõe o ato intencional, que constitua o mau trato corporal. 
Os pressupostos para a deserdabilidade dos ascendentes pelos descendentes tinham de apresentar diferenças quanto 
aos pressupostos para a deserdação dos descendentes pelos ascendentes. O Código Civil primeiro inseriu as regras 
jurídicas  sôbre  êsses,  por  parecerem  os  que  mais  ocorrem.  Não  importa  o  grau.  Desde  que  o  descendente  ou  o 
ascendente é herdeiro necessario cabe a deserdabilidade se os requisitos se compõem. 
A  incapacidade  absoluta,  por  loucura,  afasta  a  possibilidade  de  se  pensar  em  ofensa  física,  injúria  grave,  ou 
qualquer outra causa de deserdação. Os mesmos, que seriam condenáveis. pela legislação especial (e. g., conforme 
o  Código  de  Menores),  não podem  ser  privados  da quota  necessária  por ofensa  física,  injúria  grave  ou qualquer 
outra causa de deserdação. 
A ofensa física pode ser sem gravidade, porque a lei não falou de grave ofensa física. A manifestação de desafeto, 
falta  de  respeito  ou  ódio  pode  estar  em  qualquer  ofensa  física.  Não  é  ofensa  física  o  castigo  moderado,  que  o 
ascendente exerceu contra o descendente, nem o ato de legítima defesa. Se contra ato do ascendente que não foi 
irregular ou excessivo, não há a dirimente. 
Para que se átenda à causa legal de deserdação, não é preciso que tenha havido condenação criminal. 
Não basta a ameaça  de algum dos atos de que cogita a lei como causa legal de deserdação. 
A  ofensa  física  pode  ter  sido  por  terceiro,  se  quem  o  ordenou  foi  o  sucessível,  ou  se  foi  êsse  que  deu  causa 
(provocação, excitamento, intriga, como, por exemplo, se a ofensa física, feito por C, terceiro, foi devida a carta em 
que E, sucessível, comunicou a C, com verdade ou mentira, que A era amante do cônjuge de C). 
A simples ameaça de ofensa não constitui causa suficiente para a deserdação; mas pode, em certos casos, ser, só 
por si. injúria grave. 
6.INJÚRIA  GRAVE.   Nas  Ordenações Filipinas,  Livro  IV,  Título 88, § 5,  era  causa de deserdação o  filho  ou  a 
filha  “doestar  de  palavras  graves  e  injuriosas,  maiormente  em  lugar  público,  onde  o  pai  ou  mãe  com  razão  se 
envergonhem”.  Acrescentava:  “E  ficará  em  arbítrio  do  Julgador,  se  as  tais  palavras  foram  graves,  ou  leves”. 
ANTÔNIO RIBEIRO DE Liz TEIxEIRA (Curso de Direito Civil Português, II, 293: “A gravidade do delito cresce 
na razão do número de deveres, que se ofendem: 
e como cada um é obrigado a respeitar a honra e estimação pública de cada um, a injúria verbal feita pelo filho a 
pai,  ou mãe,  é  sempre  grave,  pois,  além  do dever  já  referido, que  é  geral  e  constitui  a  injúria  simples,  ofende  o 
outro dever especial do filho, que manda honrar seu pai e mãe, portanto, medida bem, esta injúria é sempre grave 
Mas a lei refere­se à. gravidade procedente em si mesma da significação das palavras empregadas, gravidade, que 
deixa à apreciação do Juiz”. 
A injúria grave, e não a injúria leve, é causa legal de deserdação. A injúria grave há de ser ao testador. Não basta a 
injúria  grave  ao  cônjuge  do  testador,  nem  a  descendente,  ou  ascendente  dele.  Não  é  de  exigir­se  a  prova  em 
processo criminal, nem ter havido a queixa ou denúncia pelo deserdante. 
A despeito de ter de ser feita pelo sucessível a injúria grave/injuria gravemente quem entrega a jornais ou revistas 
dados que são classificáveis como de injúria grave. 

7.DESONESTIDADE DA FILHA.  Que desonestidade é esta? Os autores do Código Civil conheciam a dúvida e 
não a varreram. As Ordenações Filipinas, livro IV, Titulo 88, §§ 1 e 2, vindo de longe, diziam: “Se alguma filha, 
antes de ter vinte e cinco aros, dormir com algum homem, ou se casar sem mandado de seu pai”. Compreendia­se 
então. Ainda assim, PASCOAL JosÉ DE MELO FREIRE, com a alta visão jurídico­social que o caracterizou, leu 
isso  de  modo  mais  humano  e  mais  cristão  (Institutiones  Inris  Civilis  Lusitani,  1H,  61)  :  “fuso  minorennis  vita 
meretricia,  vel  publicus  concubinatus”.  M.  A.  COE­1110  DA  ROCHA  (Institucôes d8  Direito  Civil  português, § 
355),  outra  visão  segura,  adotou­lhe  o  alvitre.  MANUEL  DE  ALMEIDA  E  SOUSA,  corno  sempre,  discorreu. 
TEIXEIRA  DE  FREITAS  6  FELICIO  Pos  SANTOS  não  cogitaram  disso.  O  Projeto  revisto,  art.  2.107,  foi  que 
trouxe à balha tal fundamento. Ao comentar a lei, CLóvís BEVILÁQIJA (Código Civil comentado, VI, 208) saiu­ 
se  com  esta  tirada:  “A  desonestidade  da  filha  é  unia  grave  injúria  ao  ascendente,  que  mantém  a  família  na 
atmosfera da honra e do recato”. E nada mais, O que se entende por desonestidade não disse. 
No texto há a noção de residir com o pai, noção que perturba qualquer raciocínio sensato. Se o pai sómente pode 
deserdar  a  filha  que  morava  com  êle,  então  o  que  se  quis  punir   foi,  tão­só,  o  desrespeito.  Sinal  de  um 
patriarcalismo  impiedoso.  Se  o  pai  não  pode  deserdar  a  filha  cocote,  ,‘que  é  que  tem  por  fito  o  art.  1.744, 
Analisemo­lo. 
A desonestidade da filha que vive na casa paterna, ou materna, envolve desrespeito ao ascendente. O texto só se 
refere a  filha, mas tem­se de entender qualquer descendente do sexo feminino. Um dos pressupostos necessários 
para que haja a deserdabilidade é morar na casa do ascendente, sem que se haja de exigir a morada permanente. O 
ato desonesto não é só de meretrício. Basta ter relações sexuais na casa do ascendente onde mora, por muito ou por
pouco tempo. 
Os pressupostos são excluidos se há alegação e prova de que havia conhecimento e anuência do ascendente. 
Surgiu o problema do casamento da filha com a pessoa com quem tivera relações sexuais. Falou­se, com base em 
SAMUEL  STRYK  e  MANUEL  ATIVARES  PÊGAS,  em  purga  da  mácula  de  desonra;  outros  juristas,  como 
MANuEL RIBEIRO NETTO, negavam o efeito purgativo, porque seria apenas para a filha. e não para o pai e as 
pessoas que também moravam na casa. A solução certa é a primeira, quer o casamento tenha sido antes da feitura 
do testamento, quer depois, desde que antes da abertura da sucessão. 
E sem relevância saber­se qual a idade da filha, se fêz dezesseis anos. 
A cépula por violência ;de alguém não pode ser tida como mácula de desonra. 
A  ocorrência  de  atos  idênticos  terem  sido  praticados  por  outras  pessoas,  mesmo  descendentes  do  testador,  na 
mesma casa, não exculpa. Nem os maus hábitos do testador. 
O  art.  1.744,  III,  só  se  refere  a  “filha”.  Havemos  de  entender  que o  ascendente,  avô  ou bisavô,  ou  trisavô,  rode 
deserdar a neta, a bisneta ou a trineta. 
O primeiro defeito da lei é só se referir à mulher. À vida de desonra tanto se pode dar a mulher quanto o homem. 
Por isso, o Código Civil alemão não distinguiu,  vida sem honra e sem costumes, contra a vontade do testador (§ 
2.333, 5) : o filho bêbedo, o “facadista” inveterado, o vagabundo sórdido, a filha dissoluta. O segundo consiste na 
imprecisão, no vago do conceito, a contrastar com a exigência insólita de viver na casa do pai: “filha que vive na 
casa  paterna”.  Se  não  vive  no  lar  do  pai,  se  não  está  a  partilhar  do  seu  confôrto,  não  importa  ao  legislador 
desumano e incoerente, que seja a mais vil das prostitutas. Capitalismo, moral curta, são coisas que andam sempre 
de parelha, puros na aparência e nauseantes nos recessos. 
Lei má, incoerente,  sed lex. Como tal temos de interpretá­la. 
a)O  consentimento do  ascendente  exclui  a  aplicação do  art. 1.744,  III.  a)  A  desonestidade da  filha não  pode  ser 
alegada pela mãe que vive da mesma maneira e não se opôs à vida dissoluta. É a primeira restrição, que a doutrina 
alemã fêz ao texto do ~ 2.383, 5. Cedo, a vida má do ascendente pode não ser escusa do descendente, mas, para­ 
isso,  é  preciso  que haja decidida  e  insofismável oposição daquele à  vida  semeíhante dêste.  Se  não  se  opôs,  não 
pode invocar. Máxime, se, no comêço, houve consentimento. ~ Aí, o consentimento é fato e não negócio jurídico?  
Não  tem  caráter  de negócio  jurídico.  o  que desde  logo  afasta  a  questão,  ventilada  nos  escritores,  de  ser  ou  não 
negócio dependente de recepção, empfangsbedjjrftiges Rechtsgeschiift. Como no caso do Código Civil, art. 819, 1, 
o  absolutamente  incapaz  não  pode  estarem  causa,  mas  a  razão  disso  provém  de  não  haver   consentimento 
(pressuposto de fato), e não de ser juridicamente incapaz. Assim, quanto à conclusão, PETER RLEIN (Beitrag zur 
Lehre von den Rechtshandlungen “im engeren Sinne”, Sonderabdruck aus d. Oesterr. Zentralblatt, 28, 13 s., e fie 
Rechtshandlungen  im  engereu Sinne, 114),  contra  O.  OPET  e  W.  VON  BLUME  (Das Familienrecht,  nota 9  a). 
Consente na imoralidade da filha o que a prestigia em tais atos, o que emprega ou permite agentes provocadores. 
Trata­se,  pois,  de  ação  com  efeitos  jurídicos.  PETER  RLEIN  (fie  Rechtshandlungen  im  engeren  Sinne,  114) 
chamou a isso ação juridica no sentido estreito. 
b)  O  consentimento  pode  ser anterior  ou  posterior   ao  fato  (T.  ENGELMANN,  Familienrecht,  J.  v.  Staudingers 
Kommen­.  ta’r,  IV,  7·a~g·a  ed.,  660).  Mas  cumpre  não  confundir  consentimento  posterior  e  perdão:  o 
consentimento exclui, subjetivamente, a maldade do ato; o perdão supõe a maldade (C. DAvmsoN, Das Rech.t der 
Ehescheidung nach dem BOI?., 87; A. B. SCHMIDT e A. FUCHS, Famulienrechi und Vormundsehaftsreeht, nota 
3 a). Se a deserdação foi posterior ao consentimento, não opera; se ao perdão, em si mesma constitui prova de não 
se haver perdoado, o) O consentimento a um fato não se contagia a outro; mas pode havê­lo geral (PETER KLEIN, 
fie  Reehtskandlungen  im  engereu Sinue, 107,  Beitrag  zur  Lehre  von  den  Rechtshandlungen  “im  engereu  Sinne”, 
Sonderabdruck aus d. Oesterr. Zentralblatt, 28, ‘7; 
C.DAvIDSON,  Das  Recht  der  E  heseheidung  nach.  devi  EGI?.,  26;  diferente,  II.  WALTER,  Das  Recht  der 
Ehescheidung nach devi BOI?., 42). d) tPode ser revogado o consentimento? Ponto delicado, aqui e no art. 319, 1. 
Argumenta­se~  quem  uma  vez  consentiu  no  mal  de  outrem,  não  deve,  depois,  exprobrá­lo.  Estamos  em  pleno 
mundo dos dados morais. Na rica literatura alemã, a opinião dominante é a da revogabilidade em qualquer tempo, o 
que supõe a ciência do exprobrado, assim  no caso do art. 819, 1, como no que estudamos (PETER KLEIN, Die 
Rechtshandtungen  im  engeren  Sinne,  112  s.,  Beitrag  zur  Lehre  vou  den  Rechtshandlungen  “im  engeren  Sinne”, 
Sonderabdruck  aus  d.  Oesterr.  Zentrcdblatt,  28,  12;  CAiu,  CROME,  System,  IV,  §  559,  nota  13,  223;  T. 
ENGELMANN, Familienrecht, 1. v. Staudingers Komment ar, IV, 7A~S.a ed., 660). Porém achamos isso um tanto 
simplista,  sem  a  suficiente  percepção  dos  dados  morais.  É  preciso  descer  ao  exame  da  sinceridade  dêsse 
ascendente. Que fito teve êle? ~ A que ideal nôvo se deve tal mudança de pensar? São situações graves, que o art. 
1.744, III, com certo impudor, ousou criar, e) É preciso que tenha havido sério consentimento, porque, se há alusão 
sem crer no consentimento, não há consentimento. 
b)  A  desonestidade,  a que  se  alude,  é  a  escandalizante,  notória;  porque  seria  imoral  que  o  pai  quisesse,  após  a 
morte,  a devassa  na  vida  da  filha.  Tal  insensatez  aberraria  do  juízo perfeito,  com o qual  se devem  achar  os  que 
testam. Depende do meio, do conceito de escândalo moral no círculo em que vivem pai e filha. Se nasce a essa um
filho e o avô o acolhe em casa, sem revolta perdurável contra a filha, não pode invocar o escândalo. Se êsse filho 
existe, o avô o acolhe piedosamente e o trata como se legítimo fôra, mas mantém protesto ao proceder da filha, a 
lei  dura lez  permite deserdá­la. Felizmente, melhores e menos brutais que o legislador brasileiro são os pais; e, 
quando juiz, nunca vimos, no ato de última vontade, o pai que viesse trazer aos tribunais, para desviar, sem cura 
dos males, a fortuna, a vida intima da filha. Para tal gente, não foram improfícuos vinte séculos de vida cristã. Por 
mais  puro,  o  mais  puro dos  homens,    que fôsse  êsse  pai,  no  momento  de deserdação,  pelo  só  ato  que  a lei  lhe 
permite,  estaria  infringindo  o  preceito  de  Cristo:  quem  de  nós  fôr  sem  pecado...  Certa  vez,  um  pais  quis  na 
Alemanha,  deserdar  a  filha  que  se  entregara  ao  homem  com  quem  esperava  casar;  o  Tribunal  não  reputou 
suficiente  a  causa,  e  um  dos  argumentos  principais  foi  o  seguinte:  casada  a  filha.  estaria  legitimada  a  criança 
(OTTo  WARNEYER,  Kommentar,  II,  1800).  Ora,  no  caso  da  promessa  de  casamento,  há  um  criminoso,  e  não 
queiramos que a vitima seja novamente vitima da dureza do pai. 

8.RELAÇõES ILÍCITAS COM A MADRASTA OU o PADRASTO. As Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 88, 
§ 10, mencionavam como causa deserdativa “se houve afeição, ou ajuntamento carnal com a mulher de seu pai, ou 
com  a  sua  manceba,  que  consigo  tinha  em  casa  manteúda  e  governada;  e  o  mesmo  dizemos  da  filha,  que 
semelhante ajuntamento tiver com o marido de sua mãe, ou seu barregão que a tivesse consigo em casa manteúda”. 
ANTÔNIO RIBEIRO DE Líz TEIXEIRA (Curso de Direito Civil Português, II, 296) lia­o como o devera ler: 
“O comércio impuro do filho com a mulher do pai, ainda que não seja consumado, e pare na afeição tendente  a 
ofensa da pudicícia é causa de deserdação; dando­se a mesma razão para a mãe poder deserdar a filha, que assim 
procede com o seu padrasto”. O Código Civil somente fala em relações ilícitas e madrasta  e padrasto. Pergunta­ 
se: a) quais são as relações ilícitas, a que os arts. 1.744, IV, e 1.745, III, se ref erem? b) ~as relações com a barregã  
ou o barregão, conforme os têrmos das Ordenações, não constituem ofensa? 

5.847. OUTRAS CAUSAS DE DESERDAÇÃO 
As relações ilícitas com o padrasto ou a madrasta são causas de deserdação do descendente. É elemento essencial a 
luxúria. Não basta o namôro, a afeição, o galanteio. Apesar de só se falar de madrasta ou padrasto, a regra jurídica 
apanha os descendentes que tiveram relações sexuais com o cônjuge do avô, ou da avó, ou de outro ascendente. 
Supõe­se o casamento do ascendente, feito no Brasil ou em qualquer outro Estado. 
a)Há de ser tido como relação ilícita tudo que constituiria ato de libidinagem e de sedução amorosa. Exemplo: 
as cartas de amor do filho à madrasta. E não só o comércio impuro consumado, como quer JOAQUIM AUGUSTO 
FERREIRA ALVES (Da Sucessão testamentária, Manual do Código Civil brasileiro, 389) . Já no adultério, não só 
o ato sexual normal constitui o ato criminoso; e os arts. 1.744, IV, e 1.745, III, recorreram a expressão mais vasta 
que adultério. Assim são relações ilícitas: a) a sedução; 6) os atos pudendos, quaisquer que sejam; c) a cópula; d) a 
correspondência amorosa. 
b)A lei fala em madrasta e padrasto. No Projeto de FELÍCIO Dos SANTOS, afia 1.797 e 1.79% não se tocavam 
tais assuntos; no de COELHO RODRICUES, art. 2.499, a deserdação podia ser sem causa; no revisto, art. 2.107, 
de onde vem a regra legal, falava­se em “madrasza cu concubina do pai” e “em padrasto ou mancebo da mãe”. A 
emenda foi de ANDRADE FIGUEIRA (Trabalhos, VI, 514 e 548). O que pode acontecer é considerar­se injúria 
grave. 

9.DESAMPARO  DO  ASCENDENTE  EM  ALIENAÇÃO  MENTAL  OU  CRAVE  ENFERMIDADE.    A 


Ordenação do Livro IV, Título 88, § 14, dizia: “e se algum pai ou mãe perdesse o siso natural, e o filho, ou filha 
fôsse negligente em o curar em sua enfermidade, êste tal poderá ser deserdado dêsse pai ou mãe, ou avô, tornando 
êles a seu siso e entendimento perfeito, em maneira que possam fazer seus testamentos livremente”. A Ordenação 
limitava a causa ao fato do testador que perde o siso natural. O Código Civil estendeu­o aos de grave enfermidade; 
e  não  reproduziu  a  regra  jurídica  do  §  15,  que  fazia  herdeiro  do  alienado  o  estranho  que  dele  cuidou  e  tratou, 
durante o desamparo. 

274 

10.DESERDÂÇÃO  DOS  ASCENDENTES  POR  DESCENDENmS.  Diz  o  Código  Civil,  art.  1.745: 
“Semelhantemente  além  das.  causas  enumeradas  no  art.  1.595,  autorizam  a  deserdação  dos  ascendentes  pelos 
descendentes: 1. Ofensas  físicas, li. Injúria  grave. III. Relações  ilícitas com a mulher do filho ou neto, ou com o 
marido da filha ou neta. IV. Desamparo do filho ou neto em alienação mental ou grave enfermidade”. 

11.CORRESPONDÊNCIAS    Código  Civil  alemão,  §  2.334;  Codígo  Civil  português  revogado,  art.  1.878; 
espanhol, artigo 854; argentino, art. 8.748; suíço, art. 477.
12.CONTEÚDO DA REGRA JURÍDICA.  As causas dos ns. 1 e II, são idênticas às do art. 1.744; as dos ns. III e 
IV correspondem, mutatis mutandis, às do art. 1.744, IV e V. 
Mas  não  se  leve  a  identidade  verbal  a  ponto  de  envolver  a  identidade  conceitual:   o  respeito,  a  deferência  dos 
descendentes  aos  ascendentes,  é  mais  forte  que  a  dêstes  àqueles.  No  próprio  regime,  acertado,  eficaz,  de  filhos 
amigos, em vez de filhos servos, subalternos, sem autonomia,  fonte de um sem conto de dobrezes educacionais, de 
revoltas,  o dever de não. ofender, de não injuriar, é mais forte nos filhos do que nos país. 
O art. 1.745, III, provém do Projeto revisto, art. 2.108, onde também se previa o caso das relações com a concubina 
do filho ou neto ou com o mancebo da filha ou neta. 

§ 5.848. flestino do quinhão do deserdado 

1.OMíSSÃO  DO  CÓDIGO  CIvIL.  ­  O  Código  Civil  não  possui  regra  jurídica  expressa.  Os  elementos  para  a 
discussão  são  os  seguintes~  a)  a  representação  supõe  a  morte  do  representado  (art.  1.620)  e  o  representante 
somente pode herdar o que o representado herdaria se vivesse,  se o deserdado não premorreu ao testador, falta o 
primeiro elemento, se vive e foi deserdado, falta o segundo; b) o art. 1.599 só se refere à indignidade caso em que 
os descendentes do excluído sucederiam como se êle  fôsse morto. A lei  suíça facilitou a solução: pôs o art. 541, 
que  corresponde  (e  é  o  que  mais  corresponde  ao  nosso  art.  1.599)  e    quanto  à  deserdação    reproduziu,  mutatis 
mutandis,  o  preceito  legal,  referindo­se,  porém,  na  8?  alínea,  explicitamente,  à  quota  necessária   Código  Civil 
suíço, art. 478,, 
3a alínea: “fie Nachkommen des Enterbten behalten  ihr Pflichtteilsrecht, wie wenn der Enterbte den Erbfall  nicht 
erlebt hãtte”. 
No  Código  Civil  alemão,  §  1.924,  a  sucessão  da  linha  reta  é  regida  como  ostá  no  art.  1.604  do  Código  Civil 
brasileiro; e não há o artigo que existe no Código suíço. Situação, pois, igual à do direito brasileiro. 

2.QUESTõES  QUE  SURGEM.  O  art.  1.604  dá  o  princípio  positivo  da  sucessão  na  linha  reta  descendente,  o 
princípio  negativo  de  que,  se  há  algum  descendente  vivo,  os  descendentes  dêste  não  podem  vir  à  sucessão.  A 
existência de pessoa intermédia entre o hereditando e o descendente, necessariamente descendente mais próximo, 
impede que o descendente mais remoto salte o mais próximo e recolha a herança. Tal a regra. Mas há exceção. No 
caso de renúncia da herança, se o renunciante é o único do seu grau, ou se todos os do grau renunciam, os filhos 
poderão  vir  à  sucessão,  por  direito  próprio  e  por  cabeça.  No  caso  de  indignidade,  os  descendentes  do  herdeiro 
excluído sucedem como se êle morto fôsse. Dois casos aí estão, em que, viva a pessoa intermédia, se dá a sucessão. 
Se o indigno morreu antes do hereditando, o art. 1.599 não se aplica; rege­se a sucessão pelo art. 1.604. ~E no caso 
de deserdação do herdeiro? Se morreu antes da abertura da sucessão, não há dúvida: a despeito da interpretação 
literal, errônea, dos arts. 1.620 e 1.923, o testamento já encontra o direito (art. 1.604) dos descendentes do que teria 
sido  deserdado,  se  vivesse;  deserda­se  quem  vive.  ~Se  o  deserdado  vive  e  foi  feita  a  prova?  Aqui,  surgem  as 
seguintes soluções: a) a deserdação implica deserdação dos descendentes do deserdado; b) a deserdação faz supor 
que  o  testador  exclui  os  descendentes  do  deserdado;  e)  a  deserdarão  não  supõe  a  exclusão  dos  descendentes  do 
deserdado  e opera­se  a  sucessão  legitima,  salvo  disposição  contrária  do  testador; d) a deserdação  não pode  ter o 
efeito de excluir os descendentes do deserdado, herdeiro necessário, que é, do testador. 

3.PROBLEMA JURÍDICO NO DIREITO ALEMÃO.  Na Alemanha, o § 1.924, ao falar da sucessão na linha reta 
descendente,  diz  que  o  descendente  vivo  exclui  os  que,  por  intermédio  dele,  são  parentes  do  defunto.  A  êste 
lebender Abkàmmlin.q apegaram­se os que pretenderam a solução a) ou b). Mas Guoirn FROMMHoID mostrou o 
que isso representa de ríspido literalismo, aliás  já infirmado duas vêzes, pela própria lei,  no caso da renúncia da 
herança e no da indignidade. 
A solução e) foi a de E. HEYMANN (Die Grundziige des gesetzlichen T,Jerwandten~Erbreehts rtach dem RCB., 
53 s.), fundada em que a sucessão legítima deriva da presumida vontade do testador. Antes, ER. MOMMSEN no 
seu projeto  (Entwurf  eznes  Deutschen  Reiehsgesetzes  ilber  das  Krbreckt  nebs  Motiven,  §  497),  seguiu  a  mesma 
orientação ou, talvez, a solução 
d). A solução d) é a de GEORO FROMMHOLD (Ober das gesestzliche Erbrecht der Abiçõmmlinge des Enterbten, 
Archiv flir Ejirgerliches Recht, 12, 309), a quem se deve o mais notável estudo sôbre o assunto. Fôra a do relatório 
do redator do direito das sucessões; a de O. EXER (Zum Erbrecht des EGE.. Árckiv fúr liuirgerliches Recht, III, 
200). Já 4. A. GRUCHOT (Preussisefles Erbrecht, III, 60 s. e 224 s.) achava que no direito prussiano a diversidade 
de opiniões terminara a favor do descendente do deserdado. O Código Civil saxônico, § 2.599, tinha o deserdado 
como morto antes do decujo. 

4.PROBLEMA JURÍDIco No DIREITO BRASILEIRO.  No Brasil, nos trabalhos preparatórios, não vemos dados
para que se repute excluído o descendente de deserdado; nem para que se tenha a deserdação como excludente do 
direito necessário do descendente mais remoto. Deu­se o mesmo na Alemanha. 
Além disso, a solução d) é a que corresponde à consciência jurídica (FR. MOMMSEN, Entwurf eines Deutschen 
Reiehsgesetzes  úber  das  Erbreekt  nebst  Motiveu,  143  e  475;  GEoRG  FROMMHOLD,  Uber  das  gesetzliche 
Erbrecht der Abkõmmlinge des Enterbten, Arehiv fuir Riirgerlichcs Rechts, 12, 315) do nosso tempo. Vamos além: 
é  contra  as  nossas  convicções  morais,  psicológicas,  jurídicas  e  econômicas;  portanto,  não  se  compreende, que  a 
culpa da pessoa intercalar corte os lacos morais, psicológicos, económicos, do avô com o neto, o bisneto, ou mais 
remoto descendente; em suma, que se desliguem os vínculos jurídicos do sangue. O ascendente, humanitatis causa, 
deve  ter  mais  dó  do  neto,  filho  do  deserdado,  que  dos  outros;  e  a  biologia  não  autoriza  a  lesar  os  filhos  do 
deserdado por um mal, talvez raro na família. Os deveres são iguais, ou, talvez, maiores, porque o descendente do 
deserdado dificilmente tem nêle bom pai. O homem que comete os atos dos arts. 1.595, 1.744 e 1.745 deve ser mau 
para os filhos e só isto se há de presumir. ~ Que cuidado paterno podem os filhos esperar daquele que matou o pai, 
ou o abandonou em caso de alienaçao mental ou grave enfermidade? Ora, se tais descendentes correm maior risco 
de desamparo, ~por que lhes agravar a situação, eliminando­os da herança do avô? Tudo leva a crer que sejam os 
mais necessitados (fundamento econômico). Os deserdados dos arts. 1.744 e 1.745 correspondem, púr identidade, 
nos atos mais graves, aos indignos do art. 1.595; portanto, nada justifica que o descendente do indigno do ato mais 
grave  (parricídio,  por  exemplo)  seja  tratado  com  a  benevolência  que  não  merece  o  deserdado  por  injúria  (arts. 
1.744, II, e 1.745, II) ou outro ato dos arts. 1.744 e 1.745 (fundamento jurídico). Ocorreu o mesmo raciocínio, no 
direito  alemão,  a  GEORO  FROMMH·OLD  (Uber  das  gesetzliche  Erbrecht  der  Abkõmmlinge  des  Enterbten, 
Arckiv  fúr  Rúrgerliches  Reeht,  12,  315).  Basta  pensar­se  um  pouco,  com  isenção,  para  se  ver  o  absurdo  de  se 
presumir que o decujo quisesse, com a deserdação, eliminar toda a estirpe, ou de que a lei acedesse nisto. 
Podemos  raciocinar  como  GEORO  FROMMHOLD  (Uber  das  gesetzliche  Erbrecht  der  Abkõmmlinge  des 
Enterbten, Arehiv fúr Biirgerliehes Reckt, 12, 316) concluiu o seu estudo: a despeito do art. 1.604 (lá êle citou os 
§§ 1.938 e 1.924, 3? alínea), podemos pensar, sem artigo de lei que faça ao descendente deserdado o que os arts 
1.589  e  1.599  fizeram,  respectivamente,  ao  do  renunciante  e  ao  do  indigno.  Se  o  testador  deserdou,  sem  nada 
dispor,  a parte da  herança  vai  aos  herdeiros legítimos  (arts. 1.574, 2.~ parte,  e 1.678).  Ora,  aí, o que decide  é o 
parentesco,  e a deserdação do filho não apaga o laço entre êle e o descendente do deserdado. Riséa­se, quanto à 
sucessão, êsse, e não os descendentes dêsse. A deserdação é, então, sem efeito, wirkungslos;  a sucessão obedece a 
regra geral (E. HEYMANN. Die Grundziige des gesetzlichen Verwandten­Erbreckts nach. dem EGE., 53; GEORG 
EROMMHOLD,  tber das  gesetzliche  Erbrecht der Abkõmmlinge  des  Enterbten,  Archiv  fúr  Ruirgerlicites Recht, 
12, 309). A analogia com a indignidade é evidente. 
Se  persiste  o  parentesco,  persiste  o  direito  à  sucessão;  se  persiste  o  direito  à  sucessão,    é  por  fôrça  de  lógica, 
necessário. 

5.SOLUÇÃO DO PROBLEMA.  Tal é a solução, que corresponde, não só é consciência jurídica, como também 
aos princípios da lei. 
Como a deserdação só se refere a herdeiros necessários, aqui se esgota a questão. Nasce, porém, outra, no tocante 
ao art. 1.599, quanto a descendentes de indignos herdeiros legítimos não­necessários. 

6.DESERDAÇÃO PLURAL E DESERDAÇÃO EM DOIS OU MAIS GRAUS.  O testador pode deserdar o filho e 
deserdar o neto ou bisneto, ou só o filho e o bisneto, ou, prevendo que lhe premorra o filho, deserdar o neto, ou 
bisneto,  deserdação  só  eficaz  se  fôr  chamado  à  sucessão  êsse  descendente.  Trata­se  de  deserdação  em  graus 
diferentes, o que de modo nenhum se confunde com a deserdação plural, como a dois filhos B e  C, acusados da 
mesma causa de deserdabilidade, ou de causas diferentes de deserdabilidad e. 
Os testadores não podem estar certos de que, ao falecerem, os deserdados vivem, ou se, falecendo êsses antes deles, 
são chamados filhos ou netos dos deserdados. Por isso, a herdabilidade basta para a deserdabilidade. 
Se A tem três filhos, E, C e D, que têm filhos ou netos, a deserdação de 13 e de C deixa em lugar de 13 e C os 
filhos ou netos deles. Pode ocorrer que a causa de deserdação exista para E e o filho de E; mas, uma vez que E 
pode premorrer a A, pode A deserdar a E e ao filho de B, ou só ao filho de E. 
Se  A  deserdou  o  filho  E  e  êsse  deserdou  E,  o  neto  de  A,  seu  filho,  pergunta­se  se  E’  herda  de  A.  Respondeu 
negativa­mente CARLOS MAXIMILIANO (Direito das Sucessões,5ª ed., 152), para quem se A exclui da partilha 
o seu filho E e êste tem dois descendentes, C e O, e deserdou C, o neto O recolhe toda a parte de E na sucessão de 
A. Aí, há confusão da deserdação do filho e do neto por A com a deserdação do filho por A e do neto, filho de C, 
por C. 

CAPITULO XIX
FORMAS ORDINÂRIAS DO TESTAMENTO 

§ 5.849. Função do formalismo testamentário 

1. F ORÇA  DO  ESTADO  E  FORMAS  TESTAMENTARIAS.  O  Estado  protege  a  última  vontade;  cerca­a  de 
formas, que a livrem de insídias e maquinações. Mas dificultar, pela exigência de formalidades, não é empecer, ou 
postergar,  o  que  se  quis  garantir:  a  vontade  de  testar.  Nos  povos  cultos  é  regra  o  dizer  de  PAULO  (L.  5,  D., 
testamenta  quemadmodum  aperiantur  inspiciantur  et  describantur,  29,  3):  “publice  expedit  suprema  hominum 
iudicia exitum habere”. Interessa à utilidade pública que se respeitem as vontades últimas dos homens. 
Todos os atos jurídicos têm forma. Há o conteúdo e há a forma, que é algo que exprime. Atos jurídicos há que até 
oral­mente se compõem. Basta­lhes a fala. Não se lhes exige a escrita; a fortiori, a instrumento público. 
Para  os  testamentos,  negócios  jurídicos  que  só  têm  eficácia  à  abertura  da sucessão,  a  técnica  legislativa  teve  de 
impor requisitos protectivos, inclusive quanto ao número de testemunhas. 
De ordinário, as leis, inclusive o Código Civil brasileiro, põem a forma em primeira plana, de modo que assuntos 
contenutísticos ficaram depois dos assuntos formais. Evitamos isso, para considerarmos no lugar próprio as formas, 
razão  por  que  antes  tratamos  das  disposições  testamentárias  em  geral,  da  interpretação  delas,  das  heranças 
testamentárias  e  dos  legados,  da  porção  disponível,  da  redução  das  liberalidades  prejudiciais  às  legítimas 
necessárias,  das  substituIções, do  fideicomisso  e  da  deserdação.  Depois  de  se  conhecer  o  conteúda.  do  negócio 
jurídico é que importa conhecer­se a forma. 
A  exigência  da  forma  testamentária  evita  que  o  testador  apressadamente  manifeste  a  vontade  e  de  certo  modo 
mostra­lhe que é de grande relevância o ato que vai praticar. No aguardar o momento em que faça o testamento 
público, cerrado ou particular, fica­lhe tempo para pensar e, muitas vêzes, para afastar precipitações e impulsivas 
manifestações de vontade e de sentimento. 
Por  outro  lado,  diminui  as  possibilidades  de  pressões,  de  violências,  de  erros  e  de  atendimentos  a  pedidos  e 
promessas. Além disso, a presença de testemunhas concorre para que se contenha, pondere e se precate o testador. 
Todo intervalo entre a deliberação de testar e a feitura do testamento fortalece a meditação do disponente. 
Quanto  a  terceiros,  as  formalidades  testamentárias  põem o  testador  a  salvo  de  falsificações  e  de  falsidades,  bem 
como de violências. Muito se sabe sôbre os males que resultavam das cartas de consciéncia   Herdeiros legítimos 
eram lesados pelas coações de estranhos, que o testador beneficiava, e das preterições momentaneamente causadas. 
Pessoas estranhas, e não só parentes, eram postas de lado por circunstâncias de intranquilidade do testador. Não só 
herdeiros legítimos. 
Daí  não  bastar  o  escrito, por  mais  perfeito  e verdadeiro que  seja,  para  que  se  repute  feito  o  testamento.  O  rigor 
formal  protege  o  testador  e  os  que  seriam  por  êle  declarados  herdeiros  ou  legatários.  Trata­se  de  ato  de  última 
vontade, razão por que a técnica legislativa também há de cogitar de formalidades que assegurem a conservação do 
negócio jurídico. 
No testamento, o disponente não só dispõe; há no testamento cláusulas que são de conteúdo patrimonial e cláusulas 
que não o têm, como as relativas à família, a recomendações e a deserdações. 
O testamento precisa de ser conhecido pelo tabelião e pelas testemunhas, ou visto por fora, para que se identifique. 
Quanto.  ao  testamento  particular,  se  é  certo  que  lhe  falta  a  publicidade,  e  há  o  perigo  de  extravio,  pode  ser 
registado  em  cartório  de  títulos  e  documentos.  Por  isso,  não  se  pode  negar  a  falta  de  proteção  de  tal  ato 
testamentário; e se justifica a preferência pelo testamento público. 
Com os pressupostos de forma, o que se tem por fito é maior segurança na expressão da vontade e na conservação 
do instrumento. 
Dir­se­á que, com tantas exigências formais, cresce a possibilidade de Lerem tidos por nulos ou anuláveis os atos 
testamontados. Ainda mais: se a pessoa que quer testar está  gravemente enfêrma, ou se o seu estado de saúde se 
tornou  melindroso,  pode  estar  diante  de  pressupostos  formais  que  lhe  dificultam  a  testamentifação.  Com  isso, 
podem ser beneficiados herdeiros legítimos que o testador não tinha como merecedores da herança. Mas o decujo, 
uma vez que sabe existirem as exigências de forma, estava avisado de que não se há de deixar para a última hora o 
ato de testar. 
Teremos  ensejo  de  ver  que  a  lei  exige  que  se  mencione  observância  de  formalidades,  e  não  só  que  sejam 
observadas.  Se  o  testamento  não  satisfaz  as  exigências  formais,  ou  algumas  delas,  testamento  não  há.  Se  a 
satisfação é que foi insuficiente, há nulidade. Ser incompleta a observância, ou ser irregular, faz nulo o testamento. 
Não ter havido cumprimento de qualquer dos pressupostos, qualquer que seja, não é infração da lei; é omissão de 
requisito  para  a  existência  de  testamento.  Por  exemplo:  a)  No  testamento  público,  o  testador  que  sabia  e  podia 
assinar,  não  assinou,  e  falsa  a  declaração  do  oficial  público  de  que  podia  ser  feito  a  rôgo  (nulidade)  ;  quem 
escreveu 
o testamento público não era oficial público, nem pessoa que legalmente o pudesse assinar (inexistência) ; menor
de dezesseis anos  foi testemunha do testamento (nulidade) ; se o oficial público não portou por fé haverem sido 
observadas  as  formalidades  (nulidade).  b)  No  testamento  cerrado,  falta  a  assinatura  do  testador  (inexistência), 
mesmo se foi escrito por êle; se o testador sabia e podia assinar, e não o assinou, e alguém que o escreveu o assina, 
dizendo que o fêz a rôgo (nulidade). 
o)No testamento particular, se o não escreveu o testador, ou se o escreveu e não o assinou (nulidade) ; se o testador 
não o escreveu, nem o assinou (inexistência). 
Se o Código Civil exige que se mencione a observância de determinada formalidade, e do ato testamentário, antes 
da
assinatura do testador e das testemunhas, não consta a declaração, é nulo o testamento. O fato de ter sido cumprida 
não afasta a nulidade, porque a lei reputou essencial a menção. Assim, em se tratando de testamento cerrado, tem o 
disponente de entregar o escrito ao oficial público e dizer ser o seu testamento; mas, além disso, há de o oficial 
público certificar que isso ocorreu. 

2.ESPÉCIES DE FORMAS TESTAMENTÀRIAS.  Só em determinadas formas podem exprimir­se as disposições 
de última vontade. A interpretação das regras legais é restritiva. Porém não se vá ao exagero de as crêr absolutas, 
como fins do legislador, em vez de simples formalidades preventivas e asseguradoras. Por defeito formal de pouca 
importância, seria péssima política jurídica romper­se o testamento de quem não atribuía ao legislador tão ríspido 
formalismo.  Ora,  as  exigências  legais  atendem  ao  intuito  de  assegurar,  e  não  ao  de dificultar   as  declarações  de 
última vontade. Não estamos nos tempos das legis actiones (ERIcE DANZ, Die Auslegung der Rechtsgesch.Éifte, 
238, nota>. Quando as regras da lei não são claras a respeito de forma  dos testamentos, entende­se que exigem o 
mínimo possível. Na dúvida, decide­se a favor do testamento. Evitem­se, quanto possível, as nulidades por motivo 
de forma, O fim das regras jurídicas do Código Civil  não é limitar o direito individual, mas o de determinar que 
sigam certos caminhos, ou observem determinadas normas, para que melhor se garantam. No interpretá­los, não se 
pode  esquecer  que  é  êsse  o  fim  que  êles  têm.  Demais,  os  testamentos,  salvo  o  testamento  público,  são  formas 
entregues aos homens em geral, e não a juristas. Não se lhes exige outro conhecimento além daquele que a lei civil 
aponta, nos seus ditames expressos. Quanto ao testamento público, dir­se­á quando se cogitar do Código Civil, art. 
1.632. Mas, antes, como introdução, aprofundaremos o assunto. 
O nome “testamento público” é reminiscência do testamento que se fazia diante do Povo, ou do Chefe de Estado. 
“Privado” disse­se o testamento escrito e assinado pelo testador, ou feito na presença de testemunhas. O testamento 
escrito  e  assinado  pelo  testador  data  do  ano  446,  sob  Valentiniano  III.  Não  foi  levado  ao  Império  Romano  do 
Oriente, razão por que 
não consta do Corpus Juris. No século XVI, Maximiliano introduzia na legislação germânica o direito justinianeu 
sôbre  testamento  privado.  Teve­o  a  França  com  a  Ordenança  de  janeiro  de  1629,  de  onde  foi  ao  Código  Civil 
francês e se estendeu por Portugal, Espanha e Itália. 
No  direito  canônico,  o  testamento  particular  foi  acolhido,  se  perante  o  pároco  e  duas  testemunhas,  o  que  afasta 
tratar­se de testamento privado. 

3.NULIDADE  DO  TESTAMENTO.    A  nulidade  dos  testamentos    facilitada,  em  vez  de  restringida    importaria 
desrespeito ao Código Civil, art. 1.666. Se, para as disposições particulares, há de o juiz preferir a interpretação que 
dê eficácia à declaração do testador, ~como tornar rigoroso o formalismo da lei, que invalidaria, não uma ou duas 
disposições,  porém todo  o  testamento?  Daí  a  conclusão  de  EIUCH DANZ:  deve ter­se  por  válido  o  testamento, 
ainda  quando  apresente  defeitos  de  forma,  sempre  que  se  comprove  que,  no  documento,  se  contém  a  última 
vontade do declarante. Melhor o disse A. DÚRINCER (Richter ind Rechtsprechung, 51) : quando fôr duvidoso se 
se  observou, ou  não, regra  jurídica  de  forma, deve­se impor  a  solução da  efetividade do  testamento,  sempre que 
exista certeza quanto a êsse. 
A  nulidade  dos  atos  jurídicos  de  intercâmbio  ou inter  vivos  é,  pràticamente,  reparável:  fazem­se  outros,  com  as 
formalidades legais, ou se intentam ações que compensem o prejuízo, como a ação de ia rent verso. Não se dá o 
mesmo  com  as declarações  de última vontade:  nulas,  por defeito de  forma, ou por outro  motivo, não  podem  ser 
renovadas, pois morreu quem as fêz. Razão maior para se evitar, no zêlo do respeito à forma, o sacrifício do fundo. 
Não há ratificabilidade do testamento nulo. O testador que nulamente testou tem de considerá­lo definitivamente 
ineficaz, em consequência da nulidade. Se o testador vem a saber que o testamento é inválido, ou se conforma com 
a  possível  sucessão  legítima  (se  outro  testamento  não  havia,  pois  o  testamento  nulo  não  revoga  o anterior ou os 
anteriores), ou faz outro testamento. Pode ser que reproduza, nesse, tudo que disse no testamento inválido, porém, 
aí, a reprodução é do que foi dito, e não do testamento nulo. Há apenas coincidência do cláusulas. 
Se o testamento foi feito com formalidades excessivas, o excesso não o prejudica. É o caso do testamento público 
com seis ou mais testemunhas, presentes e assinantes do ato testamentário. Também o do testamento cerrado que 
foi assinado pelas testemunhas, e não só entregue na presença delas; e o do testamento particular com seis ou mais 
testemunhas,  que  o  assinaram.  Superf  tua  non  nocent.  Se,  a  propósito  do  excesso  (e.g.,  da  sexta  ou  sétima
testemunha) há defeito ou vício, como se era menor de dezesseis anos, a falta de requisito do supérfluo não atinge o 
testamento. 
No  sistema  jurídico  brasileiro  não  há  fórmulas  rígidas,  nem  expressões  fixas,  sacramentais,  que  se  exijam  aos 
testamentos, mesmo se públicos. O que importa é que o que foi dito satisfaça, em seu conteúdo, os pressupostos 
formais. Pode ocorrer que se chame legatário ao herdeiro, ou vice­versa; ou que se diga legado ao modus, ou vice­ 
versa. 
Na interprêtação dos textos legais sôbre formas testamentárias, não há solução analógica, nem de extensão, ou de 
equidade; porém a interpretação estrita não há de ser exagerada. O que foi exigido tem de ser observado, sem que 
se vá ao extremo de sacrificar a vontade do testador, como ocorre se há oito em vez de cinco testemunhas, ou se 
está em questão dizer­se o que se há de entender por testamento particular escrito em língua estrangeira, “contanto 
que  as  testemunhas  a  compreendam”.  Basta  que  compreendam;  não  é  preciso  que  falem  a  língua,  ou  que  nela 
possam eserever· Uma vez que entendem, que a lêem, satisfeito está o pressuposto. 
É de discutir­se se, diante de testamento que é nulo, por infração de regra jurídica sôbre forma, pode o juiz, ou pode 
e deve o juiz decretar a nulidade, ou se tem de aguardar  que alguém, legitimamente interessado, alegue a nulidade. 
Seria  ofender  principio  geral  de  direito  sObre  invalidade  absoluta  pôr­se  o  juiz  na  situação  de  examinar  o 
testamento  e,  sabendo  que  é  nulo,  ficar  subordinado  à  alegação  de  algum  interessado.  Alguns  juristas  assim 
pensaram e escreveram; mas devemos repelir tal atitude, que abriria exceção para o tratamento dos atos jurídicos 
nulos Quanto às anulabilidades, sim; não, quanto às nulidades. 
Não  só.  A  opinião  que  apenas  deixa  ao  arbítrio  do  juiz  o  exame  de  ofício  também;  inadmissível.  O  juiz  não 
somente pode decretar a nulidade; pode e deve. 
Se o interessado a quem incumbia argúir a anulabilidade da deixa ou do testamento, deixou de alegá­la e se prova 
que conhecia a  causa, não basta isso, no sistema  jurídico brasileiro, para se ter como preclusa a alegabilidade. A 
fortiori,  em  se  tratando  de  nulidade.  Não  há  prazos  de  prescrição  quanto  às  nulidades;  mas  existem  quanto  às 
anulabilidades. 
A falta de sêlo ou a deficiência somente podem dar ensejo a multas ou acréscimos, que tenham de ser pagos pela 
herança ou pelo beneficiado ou pelos beneficiados. 
O  ônus da  prova   incumbe  àquele  que  argúi  de  nulidade  o  testamento.  Trata­se  de  prova  de  não­observância  de 
algum ou de alguns pressupostos formais. Diz­se, sem precisão, que a causa da nulidade há de estar, manifesta, no 
próprio  testamento  (êx  propriis  verbis  testamenti,  nou  aliunde),  e  não  pode  ser  suprida  a  prova  por  outro 
documento, ou por prova testemunhal. Porém havemos de atender a que a afirmação é relativa, porque a prova da 
surdez ou da cegueira da testemunha, pode ser feita por testemunhas do processo da ação de nulidade, se o surdo 
ou cego morrera antes do testador ou entre a abertura da sucessão e a propositura da ação de nulidade. Quanto à 
coação    causa  de  anulabilidade,  como  o  êrro    a  prova  pode  constar,  ou  em  parte  constar,  de  algum  outro 
documento. 

4.FORMA  DOS  TESTAMENTOS.  .  É  o  de  que  cogita  o  Código  Civil,  para  as  espécies  que  admite.  As  leis 
processuais  podem  acrescentar  outras  formalidades,  mas  a  violação  de  tais  formalidades  secundárias  não  tem  o 
efeito  de  eivar  de  nulidade.  Só  as  regras  jurídicas  da  lei  civil,  uma  vez  postergadas,  surtem  tal  efeito.  Assim, 
também, na Alemanha (W. ESSLINCER, Der R’rbschein nach dem Búrgerlichen Gesetzlncehe fiir das Deuteche 
Reieh, 9) . Um dos exemplos é a falta do sêlo, se tiver de haver, que pode obrigar à multa  ou revalida cão, porém 
nunca  leva  à  conseqdência  de  invalidar  o  testamento  (cf.  A.  ESCHER,  Das  Erbrecht,  Kommentar  zum 
sckweizerischen Zivilgesetzbuch, III, 88). Onde os Estados exigem o sêlo ou o papel selado, a falta de sêlo ou o uso 
de outro papel não atinge o ato de testar, e a pena pecuniária é o máximo que pode ocorrer (P. TrOE, Das Erbrecht, 
Kommentar zum Sehweizerischen Zivilgesetzbuch, III, 824) 
As formas ordinárias de testamento têm a mesma eficácia. Revoga­se testamento público, ou disposição contida em 
testamento  público,  mediante  testamento  cerrado  ou  particular,  ou  em  virtude  de  cláusula  inserta  no  testamento 
cerrado  ou  no  testamento  particular.  Revoga­se  testamento  cerrado  ou  testamento  particular,  ou  cláusula  que 
daquele ou dêsse conste, com testamento público, ou cláusula de testamento público, como ocorre, sem qualquer 
discriminação, se o testamento antenor é cerrado, ou particular, e o posterior, particular, ou cerrado. 
Não importa quais sejam as circunstâncias, de tempo ou de lugar, em que se faz o testamento de forma ordinária. É 
verdade que mais fácil é a  falsidade ou a falsificação de um que de outros; porém isso é sem relevância, porque 
apenas concerne à prova do que aconteceu. 

5.NOME E TESTAMENTO.  Os atos jurídicos não dependem do nome que se lhes dê. Mais se deve atender aos 
intuitos do declarante do que às expressões usadas. Repugnaria à ordem social o estrito nominalismo, e só onde a 
lei,  excepcionalmente,  dá  valor  decisivo,  essencialidade,  à  denominação  de  um  ato,  é  que  se  pode  exigir  a 
prevalência essencial da forma, como se dá, nos nossos tempos, com os cheques. Em regra, pelo dizer­se de uma 
espécie o escrito, não deixa de ser daquela de que realmente é. Nem, pelo deixar de se nomear, perde o caráter que,
ainda sem nome, efetivamente bem. Compareceu, há mais de quarenta anos, o disponente ao tabelião e fêz as suas 
declarações testamentárias, que o notário, sem razão plausível, chamou: 
“Escritura de declaração de herdeiros” (cf. nosso Tratado dos Testamentos, 1, 236). Mas o ato, que só poderia ser 
testamento, apresentava todas as formalidades exigidas aos testamentos públicos no direito de hoje (Código Civil, 
art. 1.632) e no anterior (TEIXEIRA DE FREITAS, Consolidação das Leis Civis, art. 1.054) . Mandamos, corno 
Juiz da Vara da Provedoria e Resíduos, que se cumprisse. Em escritura pública (portanto, com a forma exigida  aos 
testamentos para valer), satisfeitos os requisitos (e. g., testemunhas, declaração pelo próprio), tal 
negócio  jurídico,  ainda  que  se  não  proclame  testamento,  testamento  é.  Essa  a  razão  para  se  permitir  a  escritura 
pública de revogação, que contenha as formalidades dos testamentos, ainda que não se diga: “testamento”,  nem se 
redija como se testamento fosse. Bastaria dizer­se que se “revoga~~ o testamento do dia tal, ou que se revogam 
todos os anteriores. 

§ 5.850. Material de escrita 

1. MATERIAL DE FORMA.  que se há de escrever o testamento pode ser papel, timbrado ou não, pergaminho, 
cera, ardósia (EUGÊNE CURTI­FORRER, Com­. mentaire, 899), madeira, tela, barro, ouro, prata, platina e xisto 
(A. ESCHER, Das Erbrecht, Kommcntar zum sehweizeriso heu Zivilgesctzbueh, III, 87), ou qualquer outra, em que, 
com pena (ou instrumento que faça, com os caracteres individuais, a letra), se possa exprimir o que se quer. Fôlha, 
caderno, livro em branco, carta, diário doméstico, ou livro de contas (A. ESCRER, III, 87). O que é imprescindível 
é  a  seriedade do  lançamento  (WALTHER  BRoCK,  Das cigenhandige  Testament,  77).  A substância  com  que  se 
escreve pode ser tinta, lápis, ardósia, óleos coloridos, crê, sangue. Mas é preciso que não se trate de projeto, e sim 
de testamento que se ultimou (cf. A. Escnaa, III, 87; E’. RITGEN, Ejirgerliches Cesetzbueh, ¾ 439). No Aroh,iv 
flir Entscheidung der obensten Cericl&t de J. A. SEUFFERT há referência a testamento, escrito em lista de preço 
de  vinhos,  que  se  teve  de  declarar  simples  projeto  (1909, 102)  mas  podia,  se  sério  e definitivo,  valer.  Se  houve 
seriedade,  se  o  testador  quis  fazer  o  seu  testamento,  com  o  caráter  de  extraordinária  importância  que  têm  as 
disposições de última vontade, toda prudência é recomendável ao juiz. É grave ofensa à liberdade humana romper, 
por simples consideração de forma, o testamento de quem, por extravagância ou ignorância, se serviu de broncos 
expedientes. Inspirado em tal respeito da dignidade humana e em esclarecida tolerância, vemos cumprir­se a cédula 
de  um  leiteiro,  que  escreveu,  com  lápis,  em  papel  sujo,  o  testamento,  caso  de  que  falou  ORELL  FÚssLr. 
Outrossim, o que escreve em páginas de livros impressos, com a Bíblia, o calendário, no verso de uma pintura, de 
uma  apólice  de  seguro,  na  tampa  de  um  cofre  (P.  Tuca,  Das  Erbrecht,  Kommentar  zum  Sehweizerischert 
Zivilgesetzbuch, 823) 
2.FORMA DE CARTA.  Nada obsta a que se dê ao testamento particular e ao testamento cerrado a forma de carta 
ao  herdeiro,  ou  legatário,  ao  cônjuge,  ao  testamenteiro,  ou  a  outrem  (F.  RITGEN,  Biirgerliches  Gesetzbuch,  V, 
439; CARL CROME, System, V, 59). Assim na França (ZACHARIAE­CROME, Handbuch, IV, 282), na Suíça, E. 
TuOa,  Das  Erbrecht,  Kommentar  zum  Schweizerischen  Zivilgesetzbuch,  III,  323;  A.  Es­CRER,  Das  Erbrecht, 
Kommentar zum Schweizerisohen Zivilgesetzbuch, III, 87; EUGÉNE CIJETI­FORRER, Co>ninefltai’re, 400), mas 
é  preciso,  para  que  se  tenha  a  missiva  como  testamento,  tratar­se  de  definitivo  escrito,  e  não  de  consulta  ou de 
projeto. A distinção fica, como as circunstâncias, à apreciação do juiz (E. STROHAL, Das deutsche Erbreclvt, 1, 
104;  BAUDRY­LACANTINERIE,  Traité,  II,  47)  .  Pode  ser  que  constitua  simples  comunicação  de  intuito  (E. 
RITGEN,  Ruirgerliches  Cesetzbuch,  V,  439;  cp.  A.  IVEISCLER,  Das  deutsehe  Nachlctssverfahren,  158).  Há, 
então,  animus  narrandi,  e  não  o  que  é  de  mister  ao  testamento,  o  animus  testandi  (E.  Tina,  323)  .  Outrossim, 
poderá ser simples aviso, ou ameaça. 

3.LANÇAMENTO  NÓ  LIVRO  DE  NOTAS  DO  TABELIÃO.  Lançado  no  livro  de  notas  do  tabelião,  o 
testamento público não pode ser estenografado, nem escrito a máquina, e tem de obedecer à língua oficial do país. 
Cerrado ou particular, pode ser empregado sistema inteligível e usual de estenografia (E. RTTGEN, Ejirgerliches 
Gesetztrueh, V, 4~8) . A objeção de não saberem a escrita estenográfica as testemunhas não tem, a êsse respeito, 
nenhum  valor:  salvo  se  particular, pela analogia  com o  Código  Civil,  art. 1.649;  se testamento cerrado,  somente 
assistem  à  entrega:  não  ouvem  (art.  1.638,  IV).  Assim,  CEDRO  FROMMHOLD  (Das  Erbrecht,  nota  2  ao  § 
2.231)  e  A.  WEISSLER  (Das  deutsche  Nachlassverfahren,  158)  .  Com  a  consideração  do  uso  restrito  e 
ininteligível para todos, F. ENDEMANN, Lehrbuch, II, § 87, 283) reputa imprópria a estenografia. Mas esquece­ 
lhe que se permite o testamento em línguas estrangeiras, quiçá exóticas, de caracteres próprios, não menos restritas 
e de difícil decifração. Num e noutro caso, o papel do intérprete é o mesmo. A estenografia tem outros inimigos 
(W. BROCK, Daseigenhtindige Testament, 76; IR. DERNBURC, Das bi&gerliche Recht, V, 72, menos rígido o 
primeiro). TH. ENGELMANN, na  3a edição de II. DERNEURO, refusa a opinião do jurista, e segue a de quase 
todos, inclusive o que está em julgados. Quanto à máquina de escrever, o caso é bem diferente:  não é a mão do
testador que escreve, é a máquina; outra mão, que batesse no teclado, conseguiria o mesmo. O testamento cerrado 
tem de ser escrito pela mão do testador, ou pela de outrem, quando não saiba, ou não possa escrever (Código Civil, 
art. 1.681K 1, IIJ e X). Com maioria de razão, o testamento particular, que é hológrafo. Por isso mesmo, também 
não  podem  ser  emnrerados  sinêtes,  carimbos,  ou  tipos  de  borracha,  ou  quaisquer  outros  meios  mecânicos  de 
escrita. Bem assim, o exemplar impresso de um testamento escrito pelo testador, que serviu de original à tipografia, 
porém não foi exibido em juízo ao tempo da morte 
(E.RITGEN,  Iiirgerliches  Gesetzbuch,  438).  Pergunta­se:  se  há  exemplar  impresso  e  foi  criminosamente  ou  por 
acidente  destruído  o  original,  <,como  se  há  de  receber?  Não  é  aqui  o  lugar  da  questão.  Entra  no  caso  geral  de 
destruição acidental ou criminosa. 

4.ESCRITA DO TESTAMENTO.  A regra é escrever­se com a mão. Mas ao escrito particular basta ter sido “feito 
e assinado” (Código Civil, art. 135) ; ao testamento público, só “assinado” (art. 1.632, IV); ao cerrado, só “escrito” 
e “assinado” (art. 1.638, 1, II) ; ao particular, só “escrito e assinado” (artigo 1.645, 1). Não se fala em mão, nem em 
próprio punho. 
O Código Civil alemão e o Código Civil suíço usam a expressão adjectiva eigenhdndig, que, pela formação, vale o 
nosso “de próprio punho”. Mas, lá, e a despeito disso, não se dá tão restrito significado à palavra. O que é preciso é 
que a escrita e a assinatura sejam atividade gráfica do próprio testador (F. RITCEN, Biirgerliches Gesetzbuch, 438) 
. Portanto, existe e vale: 
se, para escrever, o testador empregou caneta especial, em dedeira, em que enfiou um dedo; ou se escreveu com os 
pés, ou  com a bôca.  A  exigência  é dermográfica.  Outrossim,  se  os  movimentos  da  mão  são  insuficientes,  vale  a 
escrita  feita  pelo  próprio  testador   com  o  auxílio  de  quem  lhe  segure  o  braço  (A.  WEISSLER,  Das  deutsche 
Nachlassverfakren, 158; W. BROCK, Das eigenhlíndige Testament, 90, s.), desde que o determinador seja o seu 
mover  e  a  escrita  se  mantenha  característica.  Não  assim,  se  o  testador  passar  a  ser  mero  instrumento,  e  o  outro 
“escrever”, com a mão do testador (E. RITGEN, V, 488) ; ou se fôr usado pepal decalco, ou outro expediente, que 
desindividualize o testamento. Testar é função personalissin’.a. Se no testamento hológrafo outra mão intervém e 
se  mostra  haver  colaborado, o problema  é  mais  sutil.  Na  França,  o  auxílio  material,  vulgar  nos  paralíticos  e  nos 
quase­cegos, ora é aceito, ora não. No fundo, a verdadeira jurisprudência é a seguinte: 
oart. 970 do Código Civil francês estatul que o testamento particular há de ser escrito pelo testador, mas isso com o 
fim da autenticidade. Assinatura e escrita provam a proveniência. Se a participação não exclui a reconhecibilidade 
da letra e da firma, vale a cédula. Foi o testador quem escreveu. A reconhecibili dade é pressuposto necessário e 
suficiente. Vai­se mais longe: 
otestamento hológrafo, copiado, pelo testador, de algum modêlo, que lhe forneceram, não deixa, por isso, de valer 
(Lion,. 28 de março de 1904) . “Nous pensons donc”, diz, a respeito, R. SAX~ATIER (Testament olographe écrit 
avec le concours d’une main étrangêre, Révue trimentrielte de Droit civil, 22, 811) “que M. PLANIOL est victime 
d’une confusion quand il écrit que l’aide matérielle apportée au de cujus vicie ou non le testament, suivant que le 
testament est ou nou lkEuvre spontanée et réflé chie du testateur”. Não, há duas questões: a colaboração material 
tem limite, que a reconhecibilidade traça; a colaboração espiritual, essa, depende do grau de atuação  se exprime a 
vontade do testador, ainda formulada por outrem, entra no mundo jurídico, mas deixa de valer se anulável por dolo, 
simulação, coação ou êrro. 

5.  TESTAMENTO  EM  DOIS  OU  MAIS  EXEMPLARES.    Para  maior  segurança,  pode o  testador  fazer  dois  ou 
mais  exemplares  do  testamento.  Nada  Ibo  obsta.  Podem  ocorrer  diferenças,  e,  ai,  servem  de  elementos 
interpretativos, um ao outro ou aos outros. Somente há revogação de outro ou de outros da mesma data se por outro 
meio,  ou pelo  próprio  contexto,  se  conhece  a  vontade  do  testador, ou  não  tinha  o  primeiro  à  mão  quando  fêz  o 
segundo, e só por isso não o rompeu (E. RITGEN, BiLrgerlichCS Gesetzbuoh, V, 439, b). 
6.LINGUA  ESTRANGEIRA  público  redige­se  em  língua  ou  artificial.    O  testamento  nacional:  o  Código  Civil 
brasi 
leiro  não  admite  intérpretes.  O  testamento  cerrado  e  o  particuJas,  conforme  se  exporá,  podem  ser  em  língua 
estrangeira,  viva,  morta,  ou  artificial.  Não  é  nulidade  empregar­se  mais  de  uma  língua,  desde  que  se  trate, 
realmente, de um testamento. Redigido numa, vale a disposição que se redigiu em outra. 
Quanto aos testamentos que podem ser escritos pelo testador (o cerrado e o particular), é livre redigi­los eta língua 
estrangeira,  ou,  até,  artificial,  e  os  caracteres  (mas  precisa,  se  particular  o  testamento,  de  ser  entendido  pelas 
testemunhas, arg. ao art. 1.649) podem ser os da língua em que redigiu as disposições, ou de outra origem. Não é 
nulidade grafar­se com caracteres russos, hebraicos, gregos, o que se concebeu em alemão, francês, espanhol ou 
português (E. RITGEN, Burgerlicites Gesetzlnwh, ~V, 488), desde que foi sério o ato de fazer o testamento. Há 
circunstâncias  que  podem  aconselhar  ao  testador  tal  expediente  dissimulador.  Como  poderiam  indicar  a  um 
Brasileiro,  que  soubesse  grego,  russo  ou  árabe,  redigi­lo  numa  dessas  línguas.  A  exigência  de  ser  o  testamento 
paíticular escrito, todo, pelo testador, não implica que só empregue uma língua. Pode empregar mais de uma, ou
uma, e mais de um alfabeto. Em testamento redigido em língua nacional, vale, por exemplo, disposição ou a parte 
da disposição que se grafe com caracteres exóticos. 
Pode ocorrer que o testador seja culto, possa ler, porém não possa compreender perfeitamente a língua. Exemplos: 
se testa, por testamento público, necessàriamente em língua nacional, e não a entende bem; se testa, por testamento 
cerrado, ou particular, preferindo a língua do lugar, que mal sabe. Ê preciso que entenda a língua a ponto de saber o 
que  dispôe  e  poder  exprimir­se  (insustentável,  a  respeito,  a  opiniso  de  11.  JASTROW,  Forntu.larbuch  und 
Notariatsi’etht,  1,  176)  .  O  Código  Civil    que  admite  o  testamento  cerrado  em  língua  estrangeira,  escrito  pelo 
testador, ou a rôgo (arts. 1.638, 1, e 1.640), desde que testador e redator conheçam a língua em que se redige, ou 
particular, hológraf o, se as testemunhas a compreendem   não admite que intérpretes intervenham  no testamento 
público: “as declarações do testador serão feitas na língua nacional” (ad. 1.632, parágrafo único) . De modo que o 
estran  geiro, que  não sabe  escrever,  ou  não  pode  escrever,  e  não  Cunheça a  língua do  Brasil,  para  ditar as  suas 
declarações de última vontade, somente pode usar o testamento cerrado, procurando, para isso, pessoa que o escute 
e redija, escrevendo, a seu rôgo, o que ditar. Não é preciso que as testemunhas saibam a língua em que se escreve o 
testamento;  porque,  nessa  espécie,  só  assistem  à  entrega   ao  oficial  e  basta  ao  testador  saber  dizer  ao  oficial 
claramente, que aqueles é o seu testamento e quer que o aprove. ~ Tem de ser lido ao testador o auto de aprovação 
(art. 1.638, IX), traduzindo­o, como intérprete, para que o declarante  entenda, a pessoa que o escreveu a rôgo e, 
talvez, o assine, se o testador não souber ou não puder assinar? Volveremos a isso. Se o estrangeiro não sabe ler, 
nem  fala  a  língua  do  Brasil,  a  situação  é  assaz  embaraçosa.  Não  pode  testar por  instrumento  público:  não  pode 
prestar as declarações em língua nacional (art. 1.632) ; não pode fazer por testamento cerrado: 
não sabe ler (art. 1.641) ; nem por testamento particular: não se admite que outrem o escreva (art. 1.645, 1). Tal 
estrangeiro recorre ao consulado do seu país. Cf. Tomo LVII. 

§ 5.851. Data e lugar dos testamentos 

1.PRESSUPOSTOS 1W REFERÊNCIA Á DATA E AO LUGAR. Os testamentos têm de ter data  e lugar. Há atos 
jurídicos  inter  vivos  que  também  o  exigem,  e  nem  por  isso  são  sempre  nulos.  Porque  a  indicação  não  influi, 
ordinâriamente, de modo essencial, no conteúdo do negócio jurídico. Deve ocorrer o mesmo com os testamentos. t 
Que importância essencial tem saber­se qual o lugar e o dia em que o testador~ dispôs sôbre os seus bens 
os que até lá tiver  para depois da morte? A data é de mister, já o dissemos; a falta, junta a outras circunstâncias, 
pode induzir falsidade, falsificação, nulidade, porém só por si não inutiliza o testamento. A lei fêz bem em não lhe 
reconhecer  essencialidade;   e,  quando,  a  propósito  de  obrigações  convencionais  (Código  Civil,  art.  135),  não  o 
exigiu, foi porque atendeu a muitos casos de tais obrigações em que é uso, ou pode ocorrer, não se porem a data e o 
lugar. As sentenças alemãs, que se citam, e nas quais se declararam nulos, por falta de data exata, os testamentos, 
fundaram­se, erradamente, ~·m direito francês,  proceder assaz absurdo, por ser de um Código Civil posterior, que 
se  considerava  de  forte  dose  científica,  e  não  como  compilação  de  leis  antigas  (E.  HÓLDER,  Das  Datum  des 
eigenhãndigen Testaments, Jherings Jahrbucher flir die. Dogmattk, 50, 277 s.; ELiicn DANZ, Die Auslegung der 
Rech,tsgeschíif  te 1, 108  s.).  Enfim:  é  um dos  requisitos  dos  testamentos  particulares  e  cerrados  a declaração do 
lugar  em  que  foi  feito; porém  não  é  essencial:  nos  testamentos  cerrados,  a data  e o  lugar  serão os  da  aprovação 
(arts. 1.638, VI­IX, e 1.643), porque essa é auto do oficial público e, quanto ao lançamento no livro, o Código Civil 
exige  que  o  oficial  lance  lugar,  dia,  mês  e  ano  em  que  foi  aprovado  e  entregue,  circunstâncias  que  podem  ser 
diferentes; nos particulares, há de se querer que haja, no texto, a data, mas a lei não o exigiu expressamente. Certa 
vez, na Alemanha, se decidiu que era nulo um testamento hológrafo, em que o testador não cogitara do lugar em 
que  escrevera.  Mas  as  críticas  ao  julgado  foram  fortes:  se  prevalecesse  tal  doutrina,  não  seria  possível  redigir­se 
testamento em trem, ou em lugar das montanhas, ou dos sertões, onde estivesse perdido o testador. Por outro lado, 
há  muitas  vilas  e  cidades  com  o  mesmo  nome,  e  teria  de  ser  nulo  o  testamento  em  que  se  não  declarasse  ô 
Município ou Estado a que pertencia. Demais, o sentido das palavras não resulta só da letra do documento, porém 
das circunstâncias que cercaram a declaração de vontade. Restam os testamentos públicos, aos quais a lei exige a 
data. Mas o lapso pode ser do oficial dos testamentos, pelo hábito, que todos têm, de receber os escritos ou minutas 
particulares  e  lançá­los,  depois,  ao  livro,  e  lê­los  na  ocasião  da  assinatura,  procedendo,  quando  preciso,  às 
corrigendas. Deixou em branco a data do mês ou o próprio mês; talvez, estando em fins de dezembro, o próprio 
ano.  Seria  nulo,  só  por  si,  e  sem  outras  circunstâncias,  o  testamento.  Seguramente  não.  Quanto  ao  lugar,  se,  no 
texto, se alude à vivenda do testador, ou à casa da rua tal, sem se dizer o número, entende­se que foi na casa que as 
circunstâncias explicam (ERICH DANZ, file Auslegung de?­ ReehtsgesehÉif te, § 31, 7) . O mesmo raciocínio há 
de ser feito quanto ao testamento particular. Entende­se inserta a data, se há a designação “data como acima”, e, 
antes,  figura  uma  data  (H.  F’uTzsdnE,  Zei  Jahre  Zivilgesetzbueh,  78,  P.Tuoa,  Das  Erbrecht,  Kommentar  zum 
Schweizerisehen Zivilgesetzbuch, 327) ­ 

2.MOMENTO  EM  QUE  SE  FÊZ  O  TESTAMENTO.    E  de  importância  o  momento  em  que  o  testador  fêz  o 
testamento.  Certo,  tratando­se  de  negócio  jurídico  de  última  vontade,  pode  ter  sido  escrito  e  assinado  quando  o
entendeu o declarante, talvez em datas ou momentos diferentes. Mas há circunstâncias que fazem do dia e da hora, 
em que se assinou, a existência ou a validade da própria cédula. Affida assim, por exceção, ocasionalmente. Tem­ 
se de atender à data e, até, ao momento: a) para se verificar a capacidade do testador ao tempo de testar; a) a  fim de 
se saber, em matéria de direito intertemporal, qual a  lei que há de reger a cédula; e) no caso de haver mais de um 
testamento, a fim de se decidir da existência, da validade ou das revogações parciais ou totais; d) para se conferir a 
capacidade das testemunhas testamentúrias (e.g., se já eram maiores de dezesseis anos, se estavam s~s de espírito, 
se  não  eram  surdos­mudos  ou  cegos,  se  estava  casada  com  o  testador,  Código  Civil,  art.  1.651)  ;  e)  para 
interpretação do testamento, ou so1ução sôbre a caducidade dos legados (exemplo: art. 1.708, 1); f) para se apontar 
a causa de rutura do testamento (artigos 1.750 e 1.751) ; g) por ser o momento para se saber se a pessoa, que, a 
rôgo, escreveu o testamento, era cônjuge do herdeiro, ou do legatário, su ascendente, ou descendel3te ou irmão do 
herdeiro  ou  do  legatário,  ou  se  concubina  do  testador  casado,  ou  amante  da  testadora  casada,  o  herdeiro  ou 
legatário (art. 1.719, 1 e III) F. ENDEMANN, que mencionou tais situações (III, 289), somente se referiu às das 
espécies aj, e) e e). Se não intervém qualquer questão ligada à data, seria absurdo’ pôr­se fora do mundo jurídico o 
testamento,  máxime  no  Brasil,  onde  a  data  não  é  requisito  essencial  mencionado,  quanto  ao  próprio  testamento 
particular, pelo  Código  Civil,  art.  1.645.  A data, que  consta do  testamento, presume­se  verdadeira.  Mas  pode­se 
fazer a prova em contrário (1’. TUOR, Das Erbrecht, Kornmentar zum Sehweizerischen Zivilgesetzbuoh, 327) 

3.EVENTUAL VANTAGEM DA DESIGNAÇÃO PRECISA DO LUGAR. 
Tem  importância  o  lugar  em  que  se  fêz  para  se  saber,  e.g.,  qual  o  direito  que  rege  o  ato,  ou  quando  alguma 
disposição se refere a pobres do lugar em que se testou, a sociedades locais, ou contém semelhantes alusões. Se há 
dúvida quanto ao dimito que rege a cédula, tem­se de apurar onde se fêz. Ainda assim, nada importa se os sistemas 
jurídicos que se crêem, cada um com exclusão dos outros, aplicáveis, não discordam quanto à validade da forma. 
Aliás,  nesse  assunto,  prâticamente,  interv~rn  circunstâncias  que  podem  ser  decisivas,  como  a  permanência  do 
testador no mesmo país (o que tira qualquer valor ao lugar da feitura), a notoriedade ou prova suficiente da estada 
do testador em determinado lugar durante o tempo em que poderia ter sido feito o testamento. 

4.EXPRESSÀO DA DATA.  Pode a data ser expressa em qualquer dos modos inteligíveis, a fortiori se usado pelo 
testador ou pelo grupo em que vivia. Assim, tem­se de atender àdata vulgar, digamos oficial, com o dia, mês e ano; 
a feita em algarismos, romrnãos ou arábicos, ou da língua do testador; em forma de fração; as abreviações decimais 
dos anos (30 em vez de 1930 ou XXX), como frisa II. WILKE (Erbrecht, nota 4 d ao § 2.231) ; em qualquer outro 
calendário,  exemplos  “Paimarum”,  “Pentecostes”,  “São  João”,  principalmente,  pelos  positivistas,  no  Brasil,  o 
calendário de Augusto Comte; as fixações a partir de determinados fatos,  90 anos após a República, 50.0 ano de 
vigência  do  Código  Civil  (F.  RITGEN,  Búrgerliches  Gcsetzbuch,  489),  no  dia  do  meu  sexagesimo  aniversário 
(GEORG  FROMMHOLD,  Erbreokt,  2  b;  E.  RÔLDER,  Das  Datum  des  eigenhãndigen  Testaments,  Jlzerings 
Jcthrbiicher  flir  die  Dúgmatik,  50,  808),  no  dia  do  nascimento  do  meu  filho  Antônio,  cinquenta  dias  depois  da 
debandada  das  fôrças  comandadas  pelo  general  IX.  É  possível,  portanto,  datar  indiretamente,  aludindo­se  a  fato 
anterior, cuja data o testador conhece (o caso do aniversário), ou não conhece, tendo apenas contado os dias após 
algum,  que  lhe  lembra, porém  infixável pelo  calendário,  O último  caso  é  vulgar  nas  guerras:  perde­se  o  fio  dos 
dias. Não se usa exprimir em letras os números (FRANZ LEONHÂItD, Erb’recht, 881) Mas, se as circunstâncias 
mostram que o testador empregava tal expediente, tem­se de atender, pois que é (na espécie, como em geral) mais 
seguro. 
Pode vir no comêço, no fim e também no texto das declarações (W. BROCK, Das cigenhàndige Testarnent, 86 s.). 
Assim  no  Brasil,  como  alhures.  Tratando­se  de testamento público  ou  cerrado,  a data  escrita  pelo  oficial  terá  de 
obedecer à lei do Estado a que pertence. Mas seria sacrificar­se o fundo à forma, por mera troca de lugar, admitir­ 
se  que  se  ferisse,  em  sua  validade,  o  testamento.  Nunca  nos  deve  esquecer  o  caráter  instrumental  que  tem  o 
tabeliâo. Aliás, declarado nulo, responde êsse. 
Muitas  vézes surgem testamentos particulares dentro de sobrecartas, cosidos, ou lacrados, e datados por fora. Se 
dentro não há outra data, tem­se de considerar a do testamento, salvo prova em contrário. 

§ 5.852. Assinaturas dos testadores 

1.ESPÉCIE DE TESTAMENTO E ASSINATURA DO TESTADOR. . 
Seja de próprio punho a assinatura no testamento particular, onde é requisito essencial (Código Civil, art. 1.645, 1), 
seja  no  testamento  cerrado,  ou  no  público,  a  rôgo  do  testador  (artigos  1.633,  1.638,  III  eX,  1.689  e  1.640),  a 
assinatura  é  como  o  sinal  revelador  e  comprovante  do  ato  de  testar,  personalissimo,  como  é.  Mas  as  questões 
surgem. 
Os testamentos precisam ser assinados com o nome inteiro? Não. Aqui cabe atender às circunstâncias. Entende E. 
STROHAL  (Das  deutscke  Erbreckt,  107)  que  não  basta,  por  exemplo,  dizer:  “vosso  pai”.  Mas,  discute  ERJCH
DANZ (Die .4usfrgung der Reektsgeschaf te, 241, nota 1), se, no testamento, estâo, com a letra do pai, os nomes 
dos  filhos,  ~  é  absolutamente  preciso  que  esteja  o  do  pai?  Se  A  escreve  carta  a  filhos,,  dizendo:  “Não  há 
inconveniente que eu seja  fiador do empréstimo que pretendes de X. Entrega­lhe esta carta e êle te emprestará o 
dinheiro que desejas.  Teu  pgi” .  Há  ou  não fiança?  Sustenta  que  sim  e  invoca  os §§  766  e 126 do  Código  Civil 
alemão. TAnos visto rubricas quase ilegíveis e apostas a do. cumentos de milhares de cruzeiros novos. ~ Deixam 
por isso da existir? O critério há de ser o das necessidades e verdade dos fatos, o critério da vida. Existe, portanto, a 
assinatura, ainda. abreviada, que, por si, ou com o auxílio do conteúdo da cédula, identifique o testador. Exemplos: 
Joâo do  Rio (pseudônimo),  Pedro (Pedro  II),  ou só  P.,  Freitas  (Teixeira  de  Freitas),  Abaeté  (Visconde de).  “Eu, 
Antônio, dono da fazenda B,  lego aos meus filhos José, Joaquim, Inácio, Maria. (assinado) Antônio”. Quanto às 
abreviações reduzem nomes a letras iniciais, lê­se em F. RITGEN (Ehirgerliches Gesetzbuch, V, 439),.não bastam. 
Mas cumpre ter­se sempre em vista que a assinatura visa a individualizar, e a abreviação pode não prejudicar tal 
função do nome escrito. Portanto, sôbre simplista, deve ter­se por inaceitável a so1ução. 
As abreviações valem até onde não desfazem o papel mdividualizador da subscrição. A firma  (comercial) não deve 
bastar,  porque  só  se  emprega  para  o  comércio  (F.  RITGEN,  Elirgerliches  Gesetzbuolz,  V,  439)  Contra  isso 
escreveu A. WEISSLER (Das deutsohe Nacltlassverfa.kren, 158). Mas HEINRICH WJLKE (Erbrecht, nota 4 b ao 
§  2.281)  prudentemente  deixou  à  apreciação  cio  juiz.  Procedendo  à  melhor  análise,  digamos:  se  a  firma  (nome 
individual  de  comércio)  corresponde  a  parte  do  nome,  de  que  o  testador  passou,  há  tempos,  a  usar  de  modo 
exclusivo, ou individualiza  suficiente e indubitàvelmente o signatário, deve o juiz considerá­la bastante. Outro fim 
não tem a assinatura do testador, que o individualizá­lo. Há muitos outros casos. 

2.CARACTERES DA ESCRITA.  O testador pode escolher os caracteres da sua escrita. Não é de mister que os da 
assinatura  sejam  os  mesmos  usados  na  redação  do  testamedo.  Pessoa  que  usasse  os  caracteres  gregos,  russos, 
hebraicos, góticos, na grafia do nome, poderia, com éles, assinar o que noutra escrita, ou r.a mesma, testou. 

8.ILEGIBILIDADE.    Nào  é  de  some  os  importância  o  caso  da  ilegibilidade.  Pode  tratar­se  da  assinatura  do 
testador,  simples  garatuja.  No  direito  comum  alemão  (L.  VON  RÓNNE,  Ehgãnzung  und  Erlãuterung  des 
Allgemeinen Landreehts, 1, nota  8a ao § 116 do Preussisches Aligemeines Landrecht), tinha­se por ineficaz a em 
que  se  não  pudesse  ver  um  irmão:  gatafunhos  não  são  nomes.  Mas  isso  era  bem  relativo  (C.  F.‘.7ROCH, 
Aliegerneines  Landrecht,  ao  §  116)  uma  coisa  legivel,  e  outra  incompreensível.  Se  os  traços  da  firma 
correspondem, cosidos uns aos outros, às letras do jiorne, de modo que o figurem, o chamado ilegivel pode bastar 
(II. DERNBURG,  Das búrgerliche Reoht, 1, 401) Também pouco importam erros de escrita, comida habitual de 
letras,  geminação  mecânica,  u  e  n,  m  e  w  ou  iii,  escritos  indistintamente.  Há  favor  scripturae,  que  se  impõe 
(EUGEN  JOSEF,  Unleserliche  und  undeutliche  Unterschriften,  )iJeutsche  Juristen­Zeitung,  VIII,  271).  Se  o 
testador escreveu o testamento, e se prova usar assinatura difícil, abreviada, simplificada até à extravagância, a sua 
letra, no texto, favorece a solução. Compreende­se que a alguns não pareça deva prejudicar o testamento hológrafo 
a  ilegibilidade  da  assinatura.  Assim,  MICHEL  (Die  Rechtsunwirksamkeits  unleserlicher  Namensunterschriften, 
Deutsohe Juristenzeitung, VIII, 141). 
Mas  assinatura  e  sinal,  ou  assinatura  de  cruz,  não  são  a  mesma  coisa.  Quando  a  lei  diz  “assinado”,  quer  dizer 
subscrito  com  o  nome.  Errado,  deformado  pela  presteza  com  que  se  faz  a  letra  trêmula  ou  fugitiva,  quiçá 
extraordinàriamente corrida; mas nome. Coisas que simbolizem o nome, assinaturas de cruz, a lei não quer, e se é 
nome, ou se é símbolo dele, decidem as circunstâncias. Má letra não é o mesmo que traços a que nunca se atribuiu 
serem letras, mas algo em vez de letras. 

§ 5.853. Disposiçôes sôbre quantidades (inteiros, frações) 

1.  LETRAS  E  ALGARISMOS.    Quantias  e  quotas  podem  ser  em  algarismos.  Não  é  de  mister  o  emprêgo  de 
palavras em letras (FRANZ LEONHÂmo, Erôrechi dos BGR., 381; A. ESCIJER, Das Erbrecht, Kommentar zum 
sekweizerisehen Zivilgesetztuck, 88) 

2.INDICAÇÕES DEPENDENTES DE AVALIAÇÀO OU DE RENDA. 
O  testamento  pode  sujeitar  à  avaliação  do bem, ou dos bens,  o quanto que  há  de  corresponder  à herança,  ou ao 
legado. 
Outrossim, ao preço que se adquira com a alienação. Não é óbice à determinação fazer o testador dependente de 
saber qual oquanto aquilo que êle deixa ao herdeiro ou ao legatário (e.g., se os edifícios fórem avaliados em tanto, 
deixo a A o edifício a, a 13 o edifício b;  ae em menos, deixo a A e E, o edifício a). 

§ 5.854. Extravio e destruição dos testamentos
1.TESTAMENTO E REQUISITOS.  São caracteres essencialmente constitutivos dos testamentos (não exclusivos, 
porque há outros atos que os exigem) a personalidade, a revogabilidade e a solenidade. Em conjunto, nenhum ato 
jurídico apresenta tão nítidos e necessários os três caracteres. Que êle é meramente pessoal deriva do seu conceito e 
do Código Civil, artigo 1.626. Do mesmo princípio resulta a livre revogabilidade que o caracteriza: revogável é o 
mandato,  mas  pôde  ser  irrevogável;  a  revogabilidade  do  testamento  é  inderrogável.  Que  é  solene  e  quais  as 
solenidades, dizem­nos os arts 1.629­1.663. Foi reportando­se ao requisito de solenidade que a definição de M. A. 
COELHO  DA  ROCHA  (Instititições  de  Direito  Civil  português,  §  673)  atendeu  ao  caráter  de  ato  solene.  As 
solenidades testamentárias são, pois, ad solennitatem, e não ad probationem:  a falta é insuprível. Dai o problema 
que surge, se um testamento fôr destruído ou extraviado. 

2.TESTAMENTO  E  REVOGAÇAO,  NO  DIREITO  ROMANO.  No  Direito  Romano,  morto  o  testador,  sem  ter 
revogado o testamento, subsistia êsse, ainda quando tivessem sido despedaçadas as tábuas. Tal o direito civil. Mas, 
se continuava a valer inre czvili, não ocorria o mesmo jure praetorio:  completamente destruidas, deliberadameilte 
pelo testador, ou contra a sua vontade, não concedia o Pretor aos herdeiros inscritos a bonorurt possessia  (L. 1, D., 
quando dies  legatorum  vel  fideicommissorum oedat, 37, 2)  .  Operada, consulto,  a destruição, dava­se  a  exceptia 
doU  a  quem  obteve,  ab  intest  ato,  a  bartorum  possessio.  contra  o  herdeiro  testamentário,  que  pretendesse,  jure 
civiti, a herança. Quanto aos legados, se a destruição foi voluntária, negavam­se as ações aos próprios legatários (L. 
1, § 3, D., de lãs quae in testamento delent’ur inducuntur vel inscribuntur, 28, 4) 
3.Exm.AvIO  E  DESTRUIÇÃO  Do  TESTAMENTO  NO  DIREITO  CONTEMPORÂNEO.    No  século  XVII, 
discutiu­se na França a questão da prova testemunhal para reconstituir testamento hológraf o que se extraviara. O 
Parlamento de Paris, a 23 de junho de 1650, admitiu a prova. Ainda hoje se decide que, sendo certo ter existido e 
fortuitamente  ter  sido  destruido  o  testamento,  podem  ser  provadas  por  testemunhas  as  disposições  de  última 
vontade. Com isso não se infirma a lei da exigência da escrita na feitura dos testamentos (Grenoble, 6 de agôsto de 
1901). Se o testamento foi desfeito por terceiro, houve delito na supressão e pode ser condenado a perdas e danos o 
responsável (Cassação, 11 de junho de 1882) . Destruído, presume­se­lhe a regularidade formal (8 de dezembro de 
1902). No direita italiano, havia quatro opiniões diferentes: a que negava, de modo absoluto, a admissibilidade da 
prova;  outra,  que  só  a  aceitava  se  houvesse  culpa  (violência,  dolo)  e,  no  caso  fortuito  ou  de  fôrça  maior,  se  o 
herdeiro ou legatário não deu causa ocasional à perda (CESARE LOSANA, Successioni testam entarie, nota ao art. 
804) ; sem a última distinção, G. BTJNrVA (Delie Succes sioni legiltime e testamentarie, 104), E. RICCI (Corso 
teoricopratico di Dirítto civite, III, n. 24) ; outros só admitem a exceção da admissibilidade se houve propósito do 
herdeiro  ou  legatário,  por  entender~se  renunciada  a  sucessão  (V.  VITALI,  Delia  Suecessioni  testamentarie  e 
legiltirne, 1, n. 217) . Hoje, a regra é permitir­se a reconstituição, e à crítica de se tratar de escrita ad essentzam, e 
não  ad  probatianem,  responde­se  que  outros  atos  há,  de  igual  natureza,  com  os  registos  civis,  que  também  se 
reconstituem. Ia­se além, citava­se a Lei italiana de 2.0 de julho de 1919, que regulava a recomposição de atos e 
repertórios  notariais  nos  territórios  ocupados  por  inimigos  ou  danificados  por  operações  de  guerra  (VínoRio 
POLACCO, Delie Suecessionz, 171) . A prova, inclusive presunções, no caso de supressão delituosa, recai sôbre o 
intrínseco  e  o  extrínseco.  No  direito  alemão,  também  se  admite  a  reconstituição  do  testamento  destruído  ou 
extraviado por  acaso, ou  Por  culpa de  terceiro  (E.  ENDEMANN Lehrbuch,  III,  294).  A  respeito, diz  o  art. 510, 
alínea  2,a,  do  Código  Civil  suíço:  “Wird  die  Irkunde  durch  Zufaíl  oder  aus  Verschulden  Anderer  vernichtet,  se 
verliert  die  Verfúgung  unter  Vorbehalt  der  Ansprtiche  auf  Schadenersatz  gleichfalls  ihre  Gúltigkeit,  insofern  ihr 
Inhalt nicht genau und vollstãngid festgestellt werden kann”. Na edicão francesa: “Lorsque l’acte est supprimé par 
cas fortuit ou par la faute d’un tiers et qu’il n’est pas possiMe d’en rétablir exactement ni intêgralement le contenu, 
le  testament  cesse  d’être  valable;  tous  dommagesontéres  demeurent  réservés”.  A.  EsCRER  (Das  Erbrecht, 
K.ommentar  zum  schweizerisci:en  Zivil,qesetzbuch,  III,  96,  97)  figurou  vários  casos  de  terceiro  culpado.  e  de 
acasos. A destruição é qualquer: laceração, rompimento, fogo, lançamento na água corrente. Mas o simples fato de 
atirar longe não basta para a revogação perfeita. Se contra a. vontade do testador foi isso (e só se pode presumir a 
de conservar), é de tentar­se a reconstituição. Assim, se virou a. lâmpada e se queimou o testamento, morrendo em 
seguida o testador, ou se, perto da morte, ao queimar papéis, inadvertidamente queimou a cédula testamentária (cf. 
EUGÊNE CURTI ­FORRER, Commentaire, 404). 

4.DIREITO CIVIL BRASILEIRO.  O Código Civil nada diz sôbre a reconstituição das cédulas, O art. .1.749 toca, 
de  longe,  o  assunto.  Aliás,  omite  êle,  a  respeito  de  outros  atos,  a  chamada  prova  equivalente  (cf.  art.  180,  V, 
diferente do art. 80, 1). Mas seria absurdo levar a conseqúências extremas o conceito de forma ad essentiam. Ações 
anulam  escrituras,    ~,por  que  excluir­se  a  possibilidade  de,  por  elas,  se  obter  a  ressurreição  do  ato  que  o  caso 
fortuito ou a fôrça maior ou o crime de outrem materialmente destruiu? Seria gravíssimo para a ordem pública e 
estariam feridos de morte atos como os pactos ante­nupciais, as adoções, os contratos constitutivos ou transíativos 
de direitos reais acima de determinado valor (art. 134) e os assentos de óbitos e de casamento (art. 195). Queimado 
o  cartório,  perdida  a  certidão,  ~.  que  se  havia  de  fazer?  A  solução  brasileira  tem  de  ser  no  sentido  do  que
poderíamos  chamar  o  direito  comum  dos  povos.  Com  as  duas  guerras  mundiais  e  as  conseqúêntes  invasões, 
evidenciou­se a importância do problema jurídico da destruição e do extravio dos testamentos. 
Não mais se teve dúvida sôbre a reconstituição por meio de testemunhas e presunções. Elemento probante de valor 
foi,  particularmente,  o  depoimento  do  notário  perante  quem  se  fizera,  ou,  até,  em  cujas  mãos  se  depositara  o 
testamento hológraf o. Na França, invocou­se o Código Civil francês, art. 1.348, 4,0, que permite reconstituir­se o 
instrumento: “Au cas oh  lo créancier a perdu le titre qui lui servait de preuve littérale, par suite d’un cas  fortuit, 
imprévu et résultant d’une force majeure”. Aplicação forçada, porque: a> Admitido que se tratassem, sob 
4­ 

omesmo princípio, testamentos e atos enLre vivos, seria tornar­se possível a reconstituição de cédula extraviada ou 
destruída, em vida do testador, o que importaria conseqtiências absurdas. (Escrito testamentário não é probatório, 
mas  constitutivo  de  direito.)  b)  O  art.  1.348,  4,0,  somente  poderia  ser  invocado  se  o  interessado  provasse  a 
destruição por determinado caso fortuito ou de fôrça maior. Ora, se, no momento da morte, existia o testamento, ou 
se o testador não revogou o que fêz e morreu nessa crença, deve subsistir o testamento, qualquer que seja a causa 
de desaparição ou de aniquilamento: 
a exigência da prova de caso fortuito ou de fôrça maior ofenderia os direitos dos herdeiros e legatários. No direito 
francês, portanto, erra a jurisprudência (Chambre de Requête, 12 de junho de 1882 e 15 de novembro de 1926) em 
aplicar  aos  testamentos  os  arts.  1.341  e  seguintes  do  Código  Civil  francês  (E.  SAVATIER,  Possibilité  de 
réconstituer un testament détruit et de la rendre efficace, Révvc trimestrielie de Droit Civil, 26, 241) . O que se quis 
foi chegar a consequências práticas, prover a necessidade de reconstituir os atos. Mas, então, ~por que a hipocrisia 
de critério legal concernente a atos de tão diversa natureza? A  verdade está noutro ponto: a rúconstituibilidade é 
princípio  geral  de  direito,  que  não  vem  formulado  nos  Códigos  Civis  e  ao  qual  o  Código  Civil  suíço  dedicou 
criteriosa alínea (art. 510, alínea 2~a)· Testamento extraviado, ou destruído, em vida do testador, somente pode ser 
reconstituido se fica provado que o testador ignorava o extravio ou a destruição, e cria, ao tempo da morte, deixar 
testamento.  Ou  se,  ao  tempo  de  saber,  estava  louco.  Reconstituido  o  testamento,  os  interessados  têm  a  ação  de 
petição de herança, e não só a de ressarcimento do dano contra o autor do extravio ou da destruicão. 

5.CASOS  SIMILARES  DE  ATINGIMENTO  MATERIAL.    F.  ENDEMANN  (Lehrbueh,  III,  294)2  figurou 
interessante  caso  que  toca  à  revogação  e  à  destruição  ou  ao  extravio.  O  testador  entregou  ao  advogado  ou 
testamenteiro  o  testamento.  Perto  da  morte,  chama­o,  ou  vai  procurá­lo,  e  ordena­lhe  que  o  rasgue.  Quiçá  êle 
mesmo  o  rompa.  Mas  anda  doente  o  testador  e  desconfia­se  da  sua  sanidade  mental.  Então,  em  vida, pelos  que 
podem  pedir  interdição,  ou,  depois  de  morte,  pelos  interessados,  promove­se  a  decisão  preliminar  sôbre  tal 
capacidade. Se fica resolvida a questão no sentido negativo da testamentificação ao tempo da ordem de romper ou 
de destruir, a destruição é como se não tivesse ocorrido. Dar­se­á o processo para reconstituir a cédula. Isso, que se 
diz sôbre a completa destruição ou extravio, também se há de aplicar para as destruições parciais. 
A.ESOHER  (Das  Erbreeht,  Kommentar  zum  schweizerischen  Zivilgesetzbuch,  II,  97)  por  sua  vez  imaginou  o 
seguinte:  o  testador,  ouvindo  algum  rábula,  algum  Rechtskundiger,  algum  juriscorisulte  marron,  pensa  que  não 
usou forma adequada e rompe o testamento, que, não obstante, existia e era eficaz. O jurista suíço considera caso 
fortuito, do que discorda EUGÊNE CURTI­FoRam (Commentaire, 404). 

6.PROVA DA ACIDENTALIDADE ‘OU ATO DE OUTREM.  O Onus da prova compete, em regra, a quem pede 
a reconstituição. Se uma coisa se há de presumir é que foi o testador que deu fim ao testamento. ~ lição geral do 
direito:  no  francês  (BATiDRY­LACANTINERIE  et  COLIN,  Traité  théorique  et  pratique  de  droit  civil.  Des 
donations Entre vil a et des testaments, II, 386; K. 8. ZACHAIIIAE­LINGENTHAL, CARL CROME, Ifandbuch 
des  franzõsischen  Rechís,  IV,  490)  ;  no  direito  austríaco,  W.  BROCR  (Das  eigenhdndige  Testament,  106),  no 
direito  suíço,  A.  ESCHER  (Das  Erbrecht,  I<ommentar  zuni  schweizerischen  Zivilge~  setzbueh,  III,  97)  e  no 
alemão, F. ENDEMANN (Lehrbuch. des Biirgerlichen Rechts, III, 294). Mas ~se o testamento se achava em mão 
d’e outrem? Não poderia ser a mesma a presunção (L. PFAFP u. E. HOFMANN, Kommentar, II, nota ao § 722): 
só se  há de presumir que não foi o testador que o destruiu. Por isso mesmo, havendo nota do testador, nos seus 
papéis,  de  que  se  acha  em  lugar  certo  o  testamento,  em  poder  de  outrem,  tem  de  admitir­se  a  ação  de 
reconstituição,  que  nada  tem  que  ver  com  a  de  ressarcimento  pelos  danos.  A  presunção  de  estar  revogado  o 
testamento  destruido  ou  dilacerado  pelo  testador  resulta:  no  Código  Civil  alemão,  do  §  2.255,  alínea  2·a;  no 
brasileiro, do art. 1.749, defeituosamente redigido como restrito ao testamento cerrado; no direito suíço, que não 
tem presunção expressa em lei, das regras gerais sôbre prova (P. TuoR, Kominentar, III, 343) 

7.MULTIPLICIDADE DE EXEMPLARES.  Se forem muitos os exemplares, hológrafos ou cerrados, é de mister, 
se todos têm a mesma significação intrínseca e extrínseca, ou que todos sejam destruidos, para que se presuma a 
revogação (A. ESCRER, Das Erbrecht, Kommentar zum schweizerischen Zivilgesetzbueh, III, 97), ou a de um, com
declaração de  ser  com  intuito  revocatório.  Mas,  em  vez  de  se  reputar  indispensável  a  destruição de  todos,  como 
entendem  EUGEN  ITUBER  e  A.  ESCHER,  mais  certo  é  tê­lo  como  regra,  sem  excluir  apreciação  das 
circunstâncias, como P. Tuoa (Kommentar, III, 509) 
8.POSSIBILIDADE JURÍDICA E POSSIBILIDADE MATERIAL DE REOONSTITUIÇXtJ.  rode ocorrer que as 
circunstâncias  permitam  que  se  reconstitua  o  ato  testamentário,  porém  não  haja  dados  suficientes  para  a 
recomposição  das  verbas  que  existiam.  Daí  duas  questões:  a)  Se  algumas disposições podem  ser  relembradas,  e 
outras  não,  ~ observar­se­á  o testamento  nas  sós partes  reconstituiveis? b)  Se  do testamento só  se sabe  quais  os 
beneficiados, sem se saber em quanto ou em quais frações, ~ como se há de entender? Houve por bem o Código 
Civil  suíço,  pôsto  que  indiretamente,  prever  o  caso  de  não  ser  possível,  materialmente,  a  reconstituição  que, 
juridicamente, poderia ser feita (art. 5º, 2.ª alínea). Os comentadores, ao examinarem os casos de  se  não saber o 
conteúdo exato e completo, poderiam dar­nos informes assaz úteis. Claro que, se uma disposição é conhecida, em 
seu conteúdo exato e completo, e outras não, deve ser observada a que se conhece. Salvo (E. TuOR, Kommentar, 
III,  344)  se  depende  de  outra  que  não  é  conhecida.  Cabe  ao  juiz  apreciar  a  espécie,  examinar  o  grau  de  tal 
dependência. A dificuldade material pode concernir às formalidades, e então cabe ao juiz apreciar o caso, talvez as 
contradições  das  testemunhas,  porque  outra  não  pode  ser  a  solução  jurídica  (A.  ESCITER,  Das  Erbírecht, 
Koinmenta’r zum Schweizerischen Zivilgesetzbuch, III, 97; P. TUOR, Kommeutar, III, 345) . Se há lesados com a 
destruição por culpa de outrem, responde o culpado pelos danos que se causaram. A prova dêsses pode ser difícil, 
mas as presunções são meio de prova (art. 136, V) 

9.TERCEIRO  INSTRUMENTO  DO  TESTADOR.    Pode  o  disponente  incumbir  outra  pessoa  de  romper  o 
testamento. ~ como se fôsse êle próprio. Dizer e fazer são dois modos de exprimir vontade. Mais ainda: pode não 
rasgar, nem mandar rasgar, e ser o testador o verdadeiro autor da destruição ou do extravio. II~ o exemplo de L. 
PFAFF e F. HOFMANN (nota ao § 722) no testamento, o testador deserda o filho; um amigo, a quem mostra, ou a 
quem conta, toma a cédula e, diante dele, rompe. Passa­se tempo, e o disponente não volta a redigir. Só se pode 
presumir a revogação de tal cédula. Está visto que achou avisado o conselho implícito e acolheu o ato de gestão, 
que a seus olhos praticou o amigo. 
10.QUAL  A  LEI  QUE  DEVE  REGER  A  DESTRULÇAO  E  EXTRAvIO  DO  TESTAMENTO.  ..  Cumpre 
distinguir: a)  se  a  destruição  foi  devida  ao  testador,  importa  revogação,  e  ver­se­á  mais  tarde;  b) se  atribuível  a 
fôrça maior, ou a outrem, sem intervenção do testador, não é revogação, e o direito internacional privado tem de 
assentar que uma lei regule a reconstituição. Se não o admitisse, cairia no absurdo de deixar intestado o que morreu 
em lugar que não admite a reconstituição, admitindo­a, no entanto, a lei do testamento extraviado ou destruído, ou 
a do próprio testador. Tudo aconselha a se tratarem tais assuntos como de direito civil comum, e não com os velhos 
critérios, que pouco resolvem, de conflito de leis  ou de cega aplicação da lez icei. Contudo, a espécie da letra a) 
precisa  ser  versada  em  lugar  devido,  a  propósito  dos  arts.  1.746­1.752,  com  o  desenvolvimento  que  merece  a 
delicadeza das questões. 
Se o testamento foi destruído no regime da lei A, claro que se reconstitui conforme ela. Mas se, feito sob a lei A, 
fôr destruido pelo testador sob o domínio da lei E, é questão de revogação, e a revogação só se rege pela lei nova, 
salvo se, sob a lei A, havia efeitos de irrevogabilidade, como os contratos de herança e pactos sucessórios, que a lei 
nova  pode  abolir,  porém  não,  no  passado,  desfazer.  Mais  largamente  se  exporá  o  assunto  a  propósito  dos  arts. 
1.746­1.752 (revogação). A destruição por outrem, sem intervenção do testador, ou por fôrça maior, rege­se pela 
lei A, se feita sob a mesma lei, ou sob a lei E; pela lei nova, somente se, feita sob essa, a lei A não permitia e a lei 
B veio permitir. 

§ 5.855. Formas testamentárias 

1.FORMAS TESTAMENTARIAS NO CÓDIGO CIVIL.  Diz o Código Civil, art. 1 .629: “Êste Código reconhece 
como  testamentos  ordinários:  1.  O  público.  II.  O  cerrado.  III.  O  particular”.  O  Projeto  primitivo,  no  art.  1.801, 
dizia: “Éste Código reconhece como testamentos ordinários: 1.0 O público, escrito por tabelião; 2.0 O cerrado ou 
místico;  3.~  O  hológrafo  nu  particular”.  E  o  Projeto  revisto,  art.  1.966:  “O  testamento  ordinário  é  de  quatro 
espécies,  a  saber:  a)  público,  ou  feito  por  tabelião;  b)  cerrado,  com  instrumento  de  aprovação;  e)  particular,  ou 
escrito pelo testador; d) nuncupativo, ou feito de viva voz”. Mas a Câmara dos Deputados excluiu o nuncupativo. 
Note­se que o Projeto primitivo chamava místico ao testamento cerrado,  o que, usado em escritores daqui e dalém­ 
mar, constituía errada terminologia jurídica. Fêz bem o Projeto revisto em corrigir­lho. 

2.TEMPOS PRIMITIVOS.  Na tribo, o homem não poderia pretender que a sua vontade prevalecesse, menos ainda 
depois da morte. Tal o direito de todas as organizações primitivas: o nulium testarnentum de LiCITO, quanto aos 
Germanos,  vale  para  todas  elas.  Ainda  hoje,  antes  o  dissemos,  o  direito  hindu.  Já  sob  a  influência  das  idéias 
inglêsas, que o modificaram, o poder testamentário não passa do direito que rege as doações entre vivos (Tagore
vorsus Tagore, L. R. Sel Ind., 64; WEST and J. G. BÚHLER, A Digest of Hindu Law ol Inferitanto, Partilion, and 
Adoption, 1, 182). Compreende­se que o antigo Egito o tivesse recebido dos Helenos sob os Ptolomeus 
(E.RÉvILLCUT, Les l?apports historiques ot légaux dos Quintos et des Egyptiens, 118) : Amásis não quis o testar, 
que  Siion  intentara.  Os  Egípcios  tinham  o  expediente  de  inventariar  o  que  havia  na  casa,  submetendo­o  ao  dia  
(autoridade régia), que o aprovaria para o efeito de se operar a sucessão, loro anima, e outros, que serviam, na falta 
dele, a tais fins. Assaz subordinados a leis, todos os povos passam pelos mesmos pontos. São os ciclos. 

3.FORMAS  INICIAIS  DOS  TESTAMENTOS  ROMANOS.    GAIO  ­falou  de  duas  maneiras  de  testar:  o 
testamento calatis comitiís, em tempo de paz, em dias fixos do ano, diante da assembléia das cúrias (já falamos do 
valor  legislativo  do  ato),  e  o  testamento  in  prooinctu,  feito  em  guerra,  ‘antes  de  começar  o  combate,  perante  o 
exército.  Em  suma:  ambos  perante  o  povo.  Melhor:  perante  o  grupo  social,  ali,  mais  largo,  representado  pelas 
cúrias;  aqui,  devido  às  circunstâncias,  perante  a  fôrça  armada.  Sabemos  qual  é  a  lei  cíclica  da  evolução  social 
(Introdução  à  Sociologia  Geral,  242),  fácil  compreendermos  os  indícios­religiosos  do  instituto:  no  testamento 
calatis cornitiis, o testador declarava a sua  vontade perante os comitia calata, submetidos à autoridade religiosa, 
quiçá  pelo  próprio  grande  pontífice,  ou,  em  nome  dos  pontífices,  pelo  noz  sacrorum..  Para  Til.  MOMMSEN 
(Rõmisclto  Chronolo  pio,  241  s.),  os  dias  seriam  23  de  março  e  24 de  maio,  momentos  de  reunião  forçada  dos 
comicios. Mas não surpreendeu que se objetasse, sem razão, serem assaz próximos. Não foram fixados para isso. O 
ato  do  testamento  não  poderia  ter  tal  importância.  Com  o  tempo,  foi  descorando  o  caráter  religioso­político, 
portanto,  legislativo  do  testamento  comicial.  Caiu  em  desuso  antes  de  findar  a  República.  Há  documento:  em 
processo de 605 de Roma já se supõe só existirem o testamento por aos et libram e o in prooinotu. No testamento 
de guerra, o povo armado é mais testemunha que o dos comícios. Donde se quis inferir que só se introduziu quando 
a  legislatividade  do  testamento  comicial  já  se  havia  apagado.  No  tempo,  portanto,  em  que  não  era  de  mister  a 
derrogação  solene da lei  geral de sucessões. As XII Tábuas traziam disposições relativas aos legados. LUDWIG 
MITTEIS, (Rômisofles Privatrockt, 1, 81), e com êle PAUL VINoGRAUOFF. lêem o texto de Ulpiano  itti logassit 
super pecunia tutolave surte rei ita iws oslo, como se considerasse disposições auxiliares do testamento os legados 
e tutelas, restringindo os legados à pocunia. Certo, não seguiríamos a teoria de EDWARD CUQ, de E.EHRLICH e 
de OTTO LENEL, que fazem o sistema testamentário derivado dos lo gata, nem a explicação puramente política 
(PIETRO BONFANTE, Stonia ‘doí Dinitto romano, 159) da heredis institutio (parece­me roiigioso­polítioa   e só 
mais tarde político­jurídico­econômica, no sentido confirmador do ciclo social) 
mas o legassit do texto prováveimente se referia à deixa, e não ao legado no sentido estreito, que, hoje, é o sentido 
técnico. O testamento, que veio constituir o segundo modo ordinário de testar, foi o testamento por aos ot libram:  a 
pessoa que dispõe, aliena o patrimônio, nas formas da emancipação, com a balança e o pedaço de metal, perante o 
libnipons, as cinco testemunhas, em proveito de terceiro, o familao em pior. Donde o número 7, que várias vêzes 
encontramos  nas  formalidades  testamentárias,  e  o  5,  de  que  ainda  nos  não  libertamos.  A  principio,  o  familiae 
empior  exercia o papel verdadeiro de quem herda. Depois, passou a mero figurante, com a notificação por escrito 
ou oral  do  verdadeiro  herdeiro  instituído.  A  explicação sociológica  dêsses  fatos,  já  a  expusemos  longamente,  na 
Introduçdo à Sociologia Coral. Além das duas formas do testamento por aos eI libram dos tempos históricos, vem 
a  eliminação,  pelo  Pretor,  de  tudo  quanto  era,  ao  seu  tempo,  inútil  e  obsoleto:  a  supérflua  reminiscência  da 
nianoipatio familirte, a própria nutuntpoitio, De que só restava o nome. No testamento pretoriano, o que e essencial 
é o escrito e a apresentação às testemunhas. 

4.TESTAMENTOS NO DIREITO POSTERIOR ROMANO.  Além do testamento perante sete testemunhas e por 
declaração  perante  o  tribunal,  o  direito  canônico  permitiu  terceira  forma,  perante  o  pároco  e  duas  testemunhas. 
Quase nada se exigia ao “contrato de herança”. Mas GUSTAV HARTMANN (Zur Lo/ao vou dou ErbvertrÉigo’n, 
44 s.) e OTO STOBBE (Handbuch. dos deutschen Privatrechís, V, § 311, V) opunham­se a isso, no direito comum 
alemão, e seria, certamente, inadmissível que à instituição irrevogável não se exigissem formalidades especiais (J. 
CII. HASSE, Rhoinisches Museum 11 Jurisprudouz, II, 291). 
O  testamento  romano  tinha  as  sete  testemunhas,  oral  (testamentum  por  nuncupationom),  provàvelmente  com 
referência a documento tido por terceiro (J. A. SEUFFERT, Archir, 19, 243), nunca sem a leitura (CITa. FR. vON 
MÍIHLENBRUCH,  em  CUR.  ER.  VON  GLÚCK,  Ana  fiihrlieho  ErlÉiutorung  der  Pandeetou,  35,  13  a.),  ou 
mediante  escrito,  mostrando  às  testemunhas,  subscrito  pelo  testador  em  presença  delas,  e  por  elas  subscrito  e 
sigilado em presença do testador. Era indiferente que o tivesse escrito, ou não, o testador. Justiniano estatuiu que, 
pelo  menos,  o  nome  do  herdeiro  fôsse  da  mão  do  disponente  (L.  29,  C.,  de  tosta­mentis:  quemad’rn’o  dum 
tesíamenta ordinantur, 6, 23; § 4, 1., de tostamontis ordinandis, 2, 10), porém êle mesmo o revogou (Nov. 119, c. 
9). Podia fechar­se e a assinatura ser posta no envoltório (L. 21, C., 6, 23) . Esc,yito pelo testador, era dispensável a 
assinatura, uma vez que dissesse tê­lo escrito (L. 28, § 1, C., 6, 23). A aposição da data não era necessária (PH. E. 
HUSCHKE,  Jurisprudentiae  Anteiustinianea,  527;  Cita.  FR.  VON  GLÚCK,  A  usf  ii  frUe/te  L’rWuíorung  dos 
Pondo  eteu,  34,  468  s.).  Era  requisito  a  unitas  actus:   havia  de  ser  feito  sem  interrupção  (L.  21,  §  3);  mas,  se,
durante  a  feitura,  o  testador  ou  alguma  testemunha  saía  por  exigências  corporais,  uma  vez  que  não  demorasse 
muito,  se  não  feria  a  imitas  (L.  28,  pr.).  Se  uma  delas  adoecia,  podia  chamar­se  outra.  Quanto  ao  testamentunt 
perante o tribunal, podia ser oral ou com referência a escrito, que se entregasse (Cita. FR. VON GLÚCE, 34, 188). 
Não era de mister a subscrição pelo testador. Se era cego, devia ler­se­lhe 

§  5.855.  FORMAS  TESTAMENTÁRIAS  ­o  documento  entregue,  expediente  assaz  plausível  (S.  A.  SEUPFEIa, 
Ã4rchiv, 1, 855). Se, vendo, não sabia ler, surgiu a questão (Cna. Fa. voN GLÚCE, 34, 47 s.; A. F. J. THIBAUT, 
tTber Testa­mente der 5chriftunkundigen, Archiv fúr dio civilistiache Pra­xis, VI, 226; R. vON HOLZSCIIUHER, 
Thoorio imã Casuistilo, II, § 143, nota 7, e J. A. SEUFFERT, Archir, VIII, 273; 21, 242). Sêbre o assunto, G. L. 
WINKLER. O juiz autenticava o testamento, fôsse oral, ou fôsse em documento apresentado, mas é digno de notar­ 
se que se não exigia a aposição da data no protocolo,  pelo menos é o que se supêe, e o que foi julgado no direito 
comum (J. A.  SEUFEERT,  Árchiv,  39,  117).  Era  inadmissível  a  declaração  por  meio  de  mandatário.  O  tribunal 
podia enviar deputação ao lugar em que se achasse o testador (Cita. FR. VON GLÚCK, 84, 189). 
Vejamos  a  origem  de  tais  testamentos  romanos:  1) a)  O  testamento  privado procedeu  do  testamento  por  aos ot 
libram e do pretoriano;  b)  O  testamento nuncupativo  foi  simplificação  daquele.  Eliminou­se­lhe  a  manciloatio  e 
com  ela  se  foram  (PAUL  FitÉDÉRIC  GIRARD,  Mainwi  élémeutairo  ‘de  Droji  romftifl,  809)  o  libripens  e  o 
eniptor  fanviliao  (donde,  em  vez  de  sete,  cinco  testemunhas)  ;  mas  a  Constituição  de  439  (Theodósio  e 
Valentiniano)  restaurou  o  número  sete,  com  o  carater  de  simples  testemunhas.  o)  Por  escrito  apresentado  pelo 
testador,  chamado  testamentnm  tripartitidas  e  criado  em  439  (Nov.  Theod.,  16,  1),  teve  no  próprio  nome  as 
origens: o concurso das testemunhas; a unitas actua  do testamento comicial, que o por aos ot libram manteve; o 
número sete do pretoriano, e a exigência dos signa  das testemunhas; a subscrtpto pelas testemunhas e pelo testador, 
ou por elas e oitava pessoa, o subsoriptor, se o testador não podia escrever. O próprio nome triparlitum  narra­lhe a 
história. 2) O testamento público tinha duas formas: a) Apud acta condituifl, reconhecido, porém não introduzido 
pela  çonstituiçãO  de  Theodósio  e  de  fionório,  em  413,  fazia­se  perante  o  magistrado  judicial,  ou  perante  as 
autoridades  municipais  (E.  C.  vON  SAvIGNY,  Susíeis,  1,  ns.  27  e  28)  .  LUDWIG  MITTEIS  (Reichsretht  imã 
Vollcsroeht, 95, n. 4) cria­o de origem helênica, o que a papirologia confirma (Pap’z jr. Oxyr., 106, do ano 135, e 
107, do ano 123). 
b)Tostamentitm princ*pi oblatuim, que se entregava a guarda do príncipe, e cuja estrutura é assaz compreensível. 
Mas  da  origem  helênica  não  se  tire  que  as  formalidades  fôssem  essenciais  no  direito  grego.  Nesse,  o  ar  que  se 
respirava era sempre de mais liberdade. A lei ática mais espiritural que a romana: 
solenidades duras, imprescindíveis, seriam prisões, que repugnariam à alma grega. O que era essencial na Grécia 
consistia naquilo a que, mais cedo ou mais tarde, arrebentando os grilhóes históricos, havia de chegar: a vontade do 
testador.  Só  nas  origens  se  vê  a  exigência  da  presença  do  archonte  (FUSTEL  DE  COULANGES,  Nouvelios 
recherchos,  136)  .  Na  época  dos  oradores,  as  formalidades  são  aconselháveis,  porém  não  exigidas  por  lei.  No 
direito  canônico,  as  facilitações  a  favor  da  Igreja  foram  amplíssimas.  As  disposições  em  benefício  dela  não 
precisavam de rigor de forma; e a prática estendeu a regra jurídica da Decretal às fundações, ‘discutindo­se, então 
(CHR. FR. voN MTJHLENBRUCH, 42, 131 5.; R. VON HoLzscIiuani, Thcorie uná Casuistile, II, § 138, n. 2), os 
limites da aplicação extensiva. 

5.ORIGENS  DE  FORMAS  DO  DIREITO  HODIERNO.    O  testamento  cerrado  lembra  o  que  h;via  no  direito 
romano, porém são diferentes as solenidades. Tinha o direito romano o testamento nuncupativo, verbal, ao tempo 
da  morte,  que,  depois,  se  proibiu.  Os  testamentos  públicos,  que  houvemos  das  Ordenaçóes,  criou­se  no  uso  das 
nações,  e  bem  assim  o  particular  (MANUEL  ÁLvARES  PÊGAS,  Commentaria  ad  Ordinationos  Regni 
Portugaliae,  IV,  241,  89­65).  Em  1512,  ao  tempo,  em  Portugal,  das  Ordenaçóes  Manuelinas,  o  imperador 
Maximiliano  adotou  expressamente  na  sua  pátria  (SAMUEL  STRYK,  D.3 Canto  lis  testamentorum,  15, § 45) o 
testamento público, como o da Ord. do Livro IV, Titulo 80. Nem êsse, nem o particular necessàriamente hológrafo, 
foram de fontes romanas:  e quase sempre é impróprio buscarem­se elementos  naquele direito para se resolverem 
problemas.  Cumpre,  porém,  advertir  em  que  os  Alemães,  muito  antes  de  Maximiliano,  já  tinham  o  testamento 
público  (A.  HEUSLER,  Institutiouen  dos  deutsehen  Privatrechts,  647)  .  Há  documentos  de  1265  e  1295 
(GUDENUS, Sylloge variorum diplomatariorum, s. 618 e 628; TR’OUILLAT, Monuments, II, n. 278) . Conforme 
se há de ver, o direito romano não conheceu a exigência ordinária da holografia. 

6.DIREITO  ANTERIOR  AO  CÓDIGO  CIVIL  URASILEIRO.  Além  das  formas  que  hoje  tem  o  Código  Civil 
brasileiro (póNico, cerrado, particular) e as especiais dos arts. 1.656­1.663, havia no direito anterior o tratamento 
especial ou  privilegiado, permitido  aos  doentes  em  perigo  de  morte, nuncupativo, perante  seis  testemunhas,  que 
ouvissem  e  entendessem  a  disposição  (Ordenações  Filipinas,  Livro  IV,  Título 80,  § 4.0) .  Pela  praxe,  tinha­se  a 
forma testamentária de mão comum, com o qual testavam, conjuntivamente, marido e mulher, no mesmo papel e 
para o mesmo ato (ÁLVARO VALASCO, Consultatilvo et Decisionum, 21) . Os pressupostos de validade eram os
mesmos  dos  outros  testamentos,  porque,  em  verdade,  so  havia  de  nôvo  o  elemento  da  conjuntividade.  Se 
simultâneo,  era  livre  a  revogação.  Se recíproco  e  correspectivo,  cumpria  atender  àdistinção,  conforme diremos  a 
propósito do Código Civil, artigo 1.630, que hoje explicitamnte o proibe. Os codicitos tinham maior extensão que 
hoje.  As  ordenações  Filipinas,  Livro  IV,  Título  86,  pr.,  definiam­nos  como  “disposição  de  última  vontade  sem 
instituição de herdeiros”. Os pactos sucessórioss eram proibidos (Livro IV, Título 70, §~ 3 e 4). Excetuavam­se: os 
que versassem sôbre herança de terceiro, se consentidos por êsse, mas sem que êsse perdesse a faculdade de mudar 
de vontade (JORGE DE CABEBO, Praticarum Observationum, 1, d. 164, n. 5); quando contivessem doaçoes para 
casamento  determinado, ou se houvesse estipulado em contratos antenupciais (Lei de 17 de agôsto de 1761, § 8; 
MANUEL  DE  ALMEIDA  E  SOUSA,  Notas  de  uso  prático,  II,  509;  COELHO  DA  ROCHA,  Instituições  ‘de 
Direito Civil português, § 781) . Mas havia controvérsias sutis. 

7. DIREITO INGLÊS.  O direito inglês não tem o contrato de herança. Mas (é assente) cabem disposições sôbre 
sucessão nos marriago settiements (contratos nupciais), que mais se prendem ao direito de família (WILLIAMS, 
Persolial Property, 16.~ ed., 506). Desde o Neío WiivoAct de 1837 que se pode testar sôbre móveis e’ imóveis. A 
forma do testamento é a escrita  e a Seção IX do Act de 1837 dá as regras basícas. “It shall te signed at the foot or 
end thereof by the testator or by some other person in his presence and by his direction; and such signature shall be 
made or 5cknowledged by the testator in the presence of two or more witnesses present at the sarne time and such 
wítnesses  shall  attest  and  shall  subscribe  the  will  in  the  presence  of  the  testator,  but  no  form  ot  attestation  be 
necessary”. 
Nenhum  testamento  ou  codicilo  vale,  se  não  reúne  os  seguintes  requisitos:  a)  ser  escrito;  b)  ter,  embaixo,  a 
assinatura  do  testador,  ou  de  outra  pessoa,  que  o  assine  em  sua.  presença  e  por  sua  ordem;  e)  tê­lo  assinado  o 
testador, ou reconhecido a assinatura, em presença de duas ou mais testemunhas, que ao mesmo tempo assistam e 
atestem,  subscrevendo,  em  presença  do  testador,  o  testamento  ou  codicilo.  Se’  satisfaz  tais  exigências,  existe  e 
vale,  e  pode  valer  ainda  que,  pelos  seus  têrmos,  não  pareça  constituir  testamento  (Goods  o)’  Mor  gan,  1866; 
Ferguson­Davie versus FergusonDavie, 1890; Goods o)’ Slinn, 1890) : “may be valid as such, notwithstanding that 
it  does  not  in  terms  purport  to be  a testament”.  O  Witls  Act  Amendment Act  de 1852  referiu­se  ao  “embaixo  do 
testamento”, foot or ená, e a respeito foi estabelecido que não é necessário terem as testemunhas apôsto, ao mesmo 
tempo,  as  suas assinaturas  (Brown versus Skirrow, 1902)  e  nenhuma  forma de  atestação  é  necessária,  mas  é de’ 
vantagem  prática  dizer­se  que  as  formalidades  do  art.  9  do  Wills  Áct  de  1837  foram  observadas.  Uma  simples 
marca pode’ ser suficiente assinatura, seja do testador, seja das testemunhas; porém não um sinête (mark:  no caso 
Go’ods o)’ Rio witt, 1880; soai:  no caso Smith versus Evans, 1751) . É preciso que as testemunhas tenham visto, 
ou estivessem em  posição  de ver  o  testador  assinar;  ou,  se  lhes  declarou o  testador  reconhecer  sua  assinatura,  é 
preciso  que  tenham  visto  ou  estivessem  em  posição  de  ver  a  assinatura  reconhçcida  (Daintree  versus  Butcher, 
1888; Brown versus Skirrow, 1902). Não é necessário que as testemunhas soubessem que era um testamento o ato, 
cuja assinatura elas atestaram (Keig’win versus Keigwin, 1843; Wright versus Sanderson, 1884) “It is immaterial 
that the witnesses did not know that the docum.ent, of which they were attesting the signature, was a testament”. 
É personalissimo o ato de testar: ninguém pode dar a outrem podêres para fazer por si o testamento, mas isso não 
impede fazer dependente de acontecimento, inclusive da adesão de outrem, a validade do ato testamentário,  “but 
he  can  mate  the  validity  of  his  testament  dependent  upon  a  contin.gency,  and  such  contingency  may  be  the 
approval of another person”. Quando um testamento ou um codicilo se refere a atos já existentes, porém que não 
satisfazem as exigências do Wills Act de 1837, art. 9, considerando­os como parte, tais atos serão em virtude da 
referência    incorporados  ao  testamento  ou  ao  codicilo,  se  fica  provado  que  êles  são  os  referidos  (Allen  versus 
Maddock, 1858; Goodso)’ Smart, 1902; University College versus Taylor, 1908) . Quando um testamento é conf 
irmado  (reposto  em  vigor,  ropnbiished)  por  um  codicilo,  aplica­se  a  mesma  regra  jurídica  quanto  aos  atos 
elaborados entre a data da feitura do testamento e a do codicilo, mas é de mister que o codicilo os considere atos 
existentes, ou que o testamento, “interpretado como feito na data do codicilo” (constrlted as being executed o;t the 
date o)’ the exec’tctiofl o)’ tive codicifl, os considere como documentos existentes (Go’ods o)’ Laíly Truro, 1866; 
Durham  versus  Northen,  1895;  Goods  o)’  Smart,  1902).  Quando  um  codicilo  existe  ao  mesmo  tempo  que  um 
testamento, deve  ler­se como se fizesse parte dêste (opinião de Lord HARDwícx, no caso Fuíler versus Hooper, 
1750). Mas,  se  não  se  encontra  o  testamento, ou se  não  podem  ser provadas,  ao  tempo da  morte, as disposiçôes 
dele,  e  só  se  encontra  o  codicilO~  só  êste  produzirá  efeitos  (Goods  o)’  Clements,  1892)  .  Costuma­Se  chamar 
codicilo  ao  testamento  anexo,  que  supõe  a  existência  de  um  testamento  principal;  porém,  perante  a  lei,  não  há 
nenhuma distinção entre um testamento e um codicilo (W. 5. HOLDS WORTII, A Digost, V, 1.240) . Note­se a 
diferença  para  com  O  Código  Civil  brasileiro,  art.  1.651.  Se  um  testador  confirma  o  seu  testamento,  ficam 
confirmados  (atendidos,  é de  ver,  os  têrtios  da  confirmação)  todos  os codicilos  que dele  dependem  e  não  foram 
anteriormente  revogados  (Coods o)’  De  La  Saussalf  e,  1873;  Green  vorsus  Tribe,  1878)  .  Está  claro  que  o  ato 
confirinativo  precisa  ter  os  requisitos  ordinários  (W.  5.  HOLDSWORTH,  em  EDWARD  JENXS,  A  Digost  o)’ 
Euglish Civil Laio, 129). O direito inglês reconhece ao soldado que está em serviço militar ativo, e ao marinheiro 
po mar, a faculdade de dispor dos seus bens, real e personal estate (Wills Act, 1837, art. 11; Wills ­ Soldiers and
Sailors ­ Ad de 1918, art. 3), oralmente, ou por escrito, sem as exigências ordinárias. É livre a revogabilidade do 
testamento. Não pode o testador, por convenção, ou ‘por qualquer outro meio, privar­se dêsse direito  (VuniOr’S 
Case, 1610). Continua revogável ad uutnm ainda que encerre cláusulas obrigacionais. O direito inglês segue a êsse 
respeito  solução  assaz  compreensível:  dá­se  a  revogação,  ficando  às  partes  lesadas  as  ações  fundadas  no 
inadimplemento do contrato (Robinson versus Ommanney, 1883; Ro Pariciu, 1892) 

8.TESTAMENTO  NO  DIREITO  DOS  ESTADOS  UNIDOS  DA  AMÉRICA.    Existe  nos  Estados  Unidos  da 
América  a  pluralidade  da  legislação  do  direito  civil.  Em  certos  Estados­membros  há  codificação.  Noutros,  não: 
rege  o  direito  comum,  que,  excetuada  a  Luisiana,  constitui  a  substância  dos  próprios  sistemas  codificados. 
Obrigatório  o  Common  Law,  até  que  outra  legislação  se  seguisse,  compreende­se  a  unidade  de  fato,  de  que,  a 
despeito da multiplicidade constitucionalmente possível, partiram os Estados­membros. 
Ainda  hoje,  não  é  difícil,  no  essencial,  dizer­se  qual  o  di­direito  norte­americano  dos  testamentos,  desde  que  se 
apontem  as  legislações  excetuadoras.  O  que  logo  chama  a  atenção  é  a  singular  tolerância  quanto  às  formas 
testamentárias.  Admite­se  a  homologação  dos  próprios  testamentos  hológrafos,  escritos  por  outrem.  Mais:  a 
jurisprudência admitiu testamentos escritos a máquina, assinados pelo testador, O que tem capital importância, no 
direito  norte­antericamo,  em  matéria  de  testameuto,  é  a  assinatura  do  testador.  Daí  a  necessidade  de  ser  a 
autenticidade dela verificada  e  garantida  pelas  testemunhas,  cujo  número  varia  segundo  os  Estados­membros.  O 
testador  assina  diante  delas  (é  a  regra  geral  e  ordinária),  declarando  que  o  documento  contém  as  suas  últimas 
vontades. Em seguida, assinam as testemunhas em presença do testador e uma das outras, declarando que isso se 
observou.  Devem  indicar  os  endereços,  sob pena,  em  alguns  Estados­membros, de  serem  multados.  Também de 
grande  importância  é  a  attestation  clause,  que  tem  por  fim  dar  aos  terceiros  interessados  a  prova  de  que  a  lei 
testamentária  foi  observada.  Os  executores  testamentários,  os  legatários,  donatários,  credores  e  interessados  na 
sucessão levam à Côrte competente o pedido de homologação. Citam­se interessados e testemunhas, arguidas essas 
sôbre  os  fatos  que  devem  conhecer.  Se,  por  morte,  ausência,  ou  incapacidade,  de  uma  ou  de  algumas,  não  se 
procede  ao  interrogatório,  devem  os  ‘interessados  justificar  o  que  seja  de  mister  quanto  à  escrita  do  defunto. 
Seguem­se a  formalidade do depósito e do registo,e, após um ano de depósito, a entrega  aos interessados. Se há 
ausentes ou desconhecidos interessados na sucessão, citam­se, sendo imobiliária a sucessão, o General Attornoij, 
ou um administrador público, em se tratando de sucessão mobiliária. 
Homologado o testamento, dão­se aos executores as cartas testamentárias, com que procedem à liquidação. Se o 
executor, cidadão norte­americano, reside no estrangeiro, deve dar caução. Quanto às nulidades, os Estados Unidos 
da  América  são  assaz  zelosos  no  apurar  a influência  ilegítima,  undue  influente.  No  Estado de  Nova  lorque, que 
pode  servir  de  tipo, o  testamento deve  ser escrito  e  assinado o  testador,  mas  assinatura  é  qualquer  marca,  que  a 
possa substituir. As testemunhas assinam junta ou separadamente, em alguns Estados­membros, sem a presença do 
testador.  As  testemunhas  indicam  o  domicílio.  Não  precisa  ser  lacrado  o  testamento.  Só  se  admite  testamento 
nuncurativo  confirmado  depois  por  escrito,  a  soldados  e  marinheiros  em  serviço  ativo  e  quanto  à  sucessão 
mobiliária. Se o testamento não foi devidamente  assinado e atestado, a Côrte considera­o nulo. Mas aqui, em se 
tratando de requisitos de fundo, os tribunais norte­americanos são assaz propensos à conversão:  
sabida a vontade do testador, evitam que a ignorância, em maneira de direito, destrua o que êle realmente quis. Se 
há parte viciada por interpolações, não se há por isso de negar validade ao ato (aliás, assim também havemos de 
julgar no Brasil) . Às vêzes, o que não vale como testamento vale como ato entre vivos. Mas vemos o elemento de 
uma  cláusula  nula  tornar  nulo  o  todo,  por  inadmissível  concepção  da  indivisibilidade  do  ato  testamentário.  No 
Distrito  de  Colômbia,  o  testamento  deve  ser  escrito  e  assinado  pelo  testador,  ou  por  alguém  em  sua  presença. 
Atestam­no  e  subscrevem­no,  em  sua  presença,  duas  testemunhas.  No  Estado  do  Cobrado,  há  o  testamento 
nuncupativo, reduzido a escrito e atestado. No Estado de Connecticut, o testamento deve ser escrito e assinado pelo 
testador, subscrito, em su~ presença, por três testemunhas. São admitidos os testamentos regularmente feitos noutro 
Estado­membro ou no estrangeiro, segundo as leis em vigor no lugar da feitura. São nulos os legados a favor do 
marido ou da mulher de uma das testemunhas, salvo se são herdeiros do testador. Fazem­se o depósito e o registo 
na Côrte do lugar em que residia o testador. Se essa o entende útil, ordena a notificação pública ou individual das 
interessadas.  No  Estado  de  Delaware,  o  direito  é  do  tipo  do  Estado  de  Nova  lorque.  Quanto  aos  testamentos 
nuncupativos, há limite de objeto; por isso, não se testa além de determinada quantia, O depósito e o registo fazem­ 
se  na  Côrte  do  domicílio  do  testador  ou  do  lugar  em  que  se  acham  os  bens.  No  Estado  de  Elórida,  só  se  faz 
testamento público perante três testemunhas, durante a última doença do testador. O prazo é de seis meses após a 
declaração,  salvo  se,  nos  seis  dias  da  feitura,  foi  reduzido  a  escrito  e  jurado  perante  a  autoridade  judiciária.  No 
Estado  de  Illinois,  o  testamento  redigido  e  homologado  noutro  Estado­membro  pode  ser  executado  no  lugar  de 
Illinois em que o testador, no momento da morte, possuía bens imóveis. No Estado de Indiana, só se podia testar, 
nuncupativamente,  até  cem  dólares.  Os  testamentos  feitos  noutro  Estado­membro  ou  no  estrangeiro  podem  ser
depositados e executados em Indiana. Na Luisiana, admitem­se três formas testamentárias: o testamento fechado, o 
nuncupativo, que exigem notário e testemunhas, e o hológrafo, todo escrito pelo testador, datado e assinado por êle. 
Vale  o  testamento  estrangeiro,  mas  são  exigíveis  as  provas  de  autenticidade.  No Estado do Maine, o  testamento 
deve  ser  escrito  e  assinado  em  presença  de  três  testemunhas.  No  de  Maryland,  escrito,  assinado,  selado  pelo 
testador,  e  atestado  por  duas  testemunhas.  Para  as  gentes  do  mar  e  os  soldados  em  serviço  ativo,  permite­se  o 
testamento nuncupativo quanto a móveis e sôldo. O testamento de pessoa originária de Maryland, ainda que resida 
fora, no momento de testar ou de Jalecer, tem de seguir as  leis estaduais, para que se  homologue. No Estado de 
Massachussets,  o  testamento  há  ser  escrito  e  assinado  pelo  testador,  atestado,  em  sua  presença,  por  três 
testemunhas. Feitos fora de Massachussets, deve observar­se a lei do domicílio do testador. Soldados em serviço 
ativo  e  marinheiros  no  mar  testam  oralmente  quanto  aos  móveis.  O  beneficiado  e  o  seu  cônjuge  podem  ser 
testemunhas.  Em  Minesota,  só  há  nuncupatividade  para  soldados  em  serviço  ativo  e  marinheiros  no mar.  Feitos 
quaisquer testamentos fora de Minesota, uma vez escritos e assinados pelo testador, valem, se observaram as leis 
estaduais ou as do domicílio do testador. No Estado de Mississipi, admite­se o nuncupativo, feito no domicílio do 
testador, durante a moléstia, ou no lugar em que residia nos últimos dez dias, salva se contraiu a doença fora do seu 
domicílio  ou  se  morreu  em  viagem  de  volta,  de  longo  curso.  Mas  o  objeto  não  pode  ser  senão  bem  móvel.  Se 
excede de determinada quantia, têm de assiná­lo duas testemunhas. O prazo para a homologação é de seis meses. 
Se as declarações foram reduzidas a escrito nos seis dias, é prorrogável o prazo. A lei do Mississipi proibe legados 
a  corporações  religiosas  ou  puramente  de  caridade.  Porém  os  bens  móveis  podem  ser  legados  para  obras  de 
caridade,  se  não  tiverem  ligação  com  congregações  religiosas;  e  os  imoveis,  ou  produto  deles,  podem  ser 
destinados a fins de caridade e religião. 
No Missuri, adota­se a atacabilidade do testamento até cinco anos após a homologação. As regras jurídicas são as 
da maior parte dos Estados­membros. No Estado de New .Tersey, além das regras gerais, os testamentos devem ser 
f  echados.  O  processo  de  homologação  faz­se  perante  a  jurisdição  ordinária  ou  perante  o  Surtogato,  mas,  se 
intervém  questão  de  validade,  declara­se  incompetente  o  Surro  gato,  que  remete  as  partes  à  Côrte  dos  Órfãos, 
Orphaus Court. O testamento do estrangeiro, que dispõe de imóveis, deve ser redigido e homologado segundo as 
leis estaduais. Na Carolina do Norte, além ‘das exigências gerais, há o requisito da escrita de próprio punho e o ser 
necessário  que  se  encontre  nos  papéis  do  testador,  ou  em  mãos  do  depositário.  O  testamento  nuncupativo,  se 
excedia de duzentos dólares, exigia a presença de duas testemunhas, durante a última moléstia, ser feito na própria 
habitação do testador, salvo se morrer em viagem ou fora do domicílio. O prazo de atestação é de seis meses. No 
Estado  de  Ohio,  o  testamento  pode  ser  escrito  ou  dactilografado,  se  feito  durante  a  última  moléstia  do  decujo. 
Nuncupativo, deve ser apresentado por escrito nos dez dias seguintes às declarações verbais do testador, assinado 
por  duas  testemunhas  não  beneficiadas.  Somente  valem  os  legados  de  beneficência,  pelo  testador  que  deixou 
descendentes  ou  filho  adotivo,  se  feitos  um  ano,  pelo  menos,  antes  da  morte  do  testador.  As  ações  contra  o 
testamento só se exercem até um ano após a aprovação, porém o prazo não corre contra os menores, os ausentes, os 
alienados e os prisioneiros. No Estado de Pensilvânia, vale o nuncupativo feito durante a última doença do testador. 
Na Virgínia, deve ser escrito e assinado pelo testador; se não foi todo escrito por êle, tem de ser atestado por duas 
testemunhas que afirmem achar­se nas condições legais. Como era de prever (nosso Sistema de Ciência Positiva do 
Diroito, 1, 204 s.; Introduçdo à Politica Ciontífica, 189; crescente simetria interna do grupo, com integração dele, 
cf. Introdução à Sociologia Geral, 153 e 235), opera­se nos~ Estados Unidos da América um movimento a favor 
de  um  national­code,  dos  Uniform  Stato  Lctws  (GEoRG  MERILL,  An  American  Civil  Code,  American  Law 
Review, 1, 603; C. T. SEER. MANN, Roman Law in the Modern Worid, 1, 339), assaz mais  fácil de fazer­se do 
que  se  supõe, porquanto,  se  a  Luísiana  possui  Código  Civil  de  influxo  francês  e  espanhol,  é  bem verdade que o 
common  lv»  atua  fortemente  (ROSCoE  POUND,  The  Spirit  o> ’  tite  Common  Lv»,  2:  “but  the  fundamental 
common­law  institutions,  supremacy  of  law,  case  law  and  hearing  of  causes  as  a  whole  in  open  court,  have 
imposed themselves on a French code and have made great portions of the law Anglo­American in all but name”). 
Em 1922, fundou­se o Amerícan Law Institato, cujos serviços foram notáveis. A conferência nacional ou Uniform 
Síate Lv»  interessou­se  pela  uniformidade  testamentária.  Conselho  aos norte­americanos  que  testam  no  Brasil:  a 
legislação brasileira não permite retirar dos cartórios, em que se arquivam, os testamentos, e as Côrtes americanas 
não  dariam  o  pro  bate  sem  o  ori~inal,  de  modo  que  a  solução  óbvia  éescreverem  em  dois  exemplares  o  ato 
testamentário.  Em  todo  o  caso,  informa  LÉoN  VIROLET  (GuMe  pratique  de  Droil  suecossoral  angiais  ci 
américain, 182) que na França se recorreu ao seguinte expediente: depesita­se na França o testamento, fotografa­ 
se, o cônsul dos Estados Unidos da América  certifica a conformidade da peça, legaliza­a, e, expedida, as Côrtes 
americanas aceitam a fotografia, como sucedâneo do original testamentário. 

9.TESTAMENTO  No  DIREITO  AUSTRÍACO.    O  Código  Civil  austríaco  de  1811  já  regulava  os  testamentos
particulares,  de  forma  ordinária  ou  de  forma  extraordinária,  e  os  públicos,  com  as  duas  espécies  apud  acta 
conditum  e  iudici  oblatum.  A  Novela  III  apenas  retocou­o,  nos  pontos  de  mais  sensível  controvérsia.  a) 
Testamentos particulares (Privattestamente) 
Podem  ser  feitos  escrita   e  oralmente  (§  577)  .  Se  o  testador  o  escrevia  todo  e  o  assinava  (testamentum 
kolographum) 
outra  formalidade  se  fazia  mister  (§  578).  A  assinatura  precisava  ser  no  fim  do  escrito  e,  para  JOSEF  UNGER 
(Syste’rn  dos  ôsterroiekisehen  Allgomeinen  Privatrech,ts,  VI,  47),  não  bastaria  estar  no  contexto.  Quanto  às 
assinaturas,  às  fôlhas  e  aos  lados,  é quaestío  facti  (JosEpil  UNGER,  VI,  47),  mas  havia  a  controvérsia  entre  M. 
vON STUBENRAUGH,  Das Alígemeine liuirgerlicho Cesetzbuch,  II, 330) e FÚGER VON RECHTBORN (Das 
Erbrocht, II, 6). Cumpre notar a particularidade do Decreto de 4 de março de 1846, apêndice n. 53: “A assinatura 
em escrita judia ou hebraica somente vale como marca ou sinal manual”. Se o testador não escreveu êle mesmo o 
testamento, fazendo­o escrever por outrem (chamado tostamontum alio’graphum), devia assiná­lo de mão própria 
(§  579,  parte 13).  Além  disso,  há  de  declarar,  de  maneira  expressa, perante  três  testemunhas  capazes,  duas  das 
quais,  pelo  menos,  deviam  ser  simultânea­mente  ‘presentes,  que  o  escrito  contém  as  suas  últimas  vontades. 
Finalmente, as testemunhas, acrescentando a indicacão da sua qualidade, deviam assinar o ato de última vontade, 
no  interior  ou  no  exterior,  mas,  em  todo  o  caso,  no  próprio  ato,  e  não  no  envoltório.  Não  era  preciso  que  as 
testemunhas conhecessem o teor do testamento (Nov. III, art. 55, que corrigiu o antigo  § 579). Se o testador não 
podia  escrever,  era  ainda  necessário  que,  em  presença  de  todas  as  três  testemunhas,  uma  das  quais  aludisse  ao 
nome do testador, lançasse, com a própria mão, a sua marca (§ 580). Dispositivo êsse que precisou ser explicado: 
pressupunha­se testador permanentemente, ou na ocasião do testamento, impossibilitado, por ignorância, ou motivo 
de  ordem  física,  de  escrever  e  assinar  êle  mesmo.  Não  o  que  simplesmente  não  quis  escrever  (Ii’.  X.  NIPPEL, 
Erlàutorung, IV, 111). Outrossim, se ocorresse que o testador também não podia lançar & seu sinal (Handzeichen), 
não poderia testar alogràficamente: 
teria de recorrer ao testamento oral (~ 584). Outra particularidade: a assinatura em hebraico ou escrita judia valia 
como simpIes marca (JOSEPH UNGER, System, IV, 49) e obrigava à forma do § 580. A exigência do lançamento 
da marca na presença da todas as três testemunhas, in Gogenu’art alier drei Zcugen, explicava­se pela necessidade 
de  ficar  verificada  a  circunstância  de  ter  sido  lançada  pelo próprio.  Se o  testador  não  sabia  ler, ou  não  podia  (o 
texto só se referia ao que não podia, porém entendia­se que o mesmo se aplicava ao que não sabia, ao analfabeto), 
devia ser­lhe lido o ato por uma das testemunhas em presença das duas outras, que já conhecessem o conteúdo, e 
declarar  o  testador  que  estava  de  acôrdo  com  a  sua  vontade.  O  que  escreveu  podia  ser  testemunha,  mas,  se  o 
testador não sabia ler, o que escreveu não podia ser encarregado da leitura (Nov. III, artigo 56). Tal frase, depois 
acrescentada ao § 581, teve por fito evitar maquinações por parte do redator do ato, porém já era reconhecida pela 
doutrina.  Também  no  caso  do  §  581  era  de  apor  ­se  a  marca  (FEZ.  X.  J.  F.  VON  NIPPEL,  Krlãuterung  dos 
Alígemeinen I3iirgerlicken Cesetzbuehs, IV, 119; J. VON WINIWARTER, Das õsterreichische búrgorlicho Rocht, 
III,  85; JOsEPH  ELLINGER,  tlandbuch  dos àstorreiehisehen allgemeimen  Civilrechts,  nota  ao §  581;  RI.  VON 
STIJBENRAL’CH,  Das  Alígemoine  Búrgerlicito  Gosotzbuch,  II,  337)  .  Qualquer  material  próprio  e  qualquer 
língua (o Dec. de 22 de outubro de 1814 excluiu a escrita judia ou hebraica) podia servir à feitura do testamento. 
Porém não a escrita de sinais, por não se tratar de letras (JOSEPH UNGER, Systom, VI, 46, 49) . Para a feitura de 
testamento  nuncupativo,  exigia  o  Código  austríaco  (§§  584  e  585)  que  o  testador,  perante  três  testemunhas 
simultâneamente presentes e em situação de observar o testador, declarasse distinta e inteligivelmente, a sua última 
vontade, para que as testemunhas, sob juramento, reduzissem a escrito (testamontum nuncupativum in scripturam 
redactum). O ato verbal de última vontade devia, para ter fôrça legal, ser confirmado sob juramento a pedido de 
qualquer pessoa que tivesse interêsse, concordes as três testemunhas, ou, quando uma delas não pudesse ser ouvida 
sob juramento, pelas duas outras (§ 586). Na falta disto, seria sem efeito a declaração de última vontade (Nov. 1, 
art.  55)  Quanto  às  formas  extraordinárias,  o  Código  Civil  reconheceu  o  testamento  marítimo  e  o  tostamentum 
tempore postis conditum, com duas testemunhas capazes, admitidas, também, as de mais de quatorze anos (§ 597; 
Nov. 1, art. 58) ; mas, no caso de perigo de ataque, não era de mister a simultaneidade da presença delas (§ 598) . 
Seis meses depois de findar a viagem ou de cessar a epidemia, perdiam eficácia tais testamentos extraordinários (§ 
599) . O testamento do soldado regia­se pelas leis próprias (§ 600). Quando tratamos do § 579, grifamos os dizeres 
“de maneira expressa”, “acrescentando a indicação da sua qualidade”: constituíram adições da Nov. III, art. 55, 
para rematar a controvérsia até então existente, no sentido da necessariedado de tais declarações pelas testemunhas 
e pelo testador. b) Testamentos publicos eram feitos perante a autoridade competente, que os lançava no Protocolo 
(tostamontum  apud  acta  conditum),  ou por  apresentação  de  escrito  (testamentum  indice  ablatum),  §§ 587­590  e 
596. 
Oque dissemos sôbre o Código Civil austríaco e o que sobreveio antes do Código Civil brasileiro tem relevância 
para  apreciação  do  que  se  elaborou,  no  Brasil,  até  1916.  A  Áustriateve  a  Lei  de  31  de  julho  de  1938,  que  fêz 
alterações no tocanteà feitura dos testamentos e dos pactos de sucessão futura. No·art. 1.0, 1, 2 e 3, três princípios 
foram  postos  como  princípioshásicos:  o  testador somente  pode  fazer  testamento  pessoalmente;  menor  não  pode
testar  se  não  tem  dezesseis  anos  feitos;menor  ou  maior  pôsto  em  tutela  provisória  não  precisa  paratestar  do 
consentimento do representante legal. Quem é privado de capacidade não pode fazer testamento. Com o depó­sito 
da demanda  começa  a  incapacidade  se  foi declarada  como  fundamento  apresentad.o  (art. 2, 1) .  Não pode  testar 
quem,por  perturbação  da  sua  atividade  cerebral,  devida  a  moléstia,fraqueza  das  faculdades  mentais  ou  perda  de 
consciência  (porexemplo,  em  caso  de  embriaguez)  não  é  capaz  de  compreendera  significação  da  declaração  de 
vontade  que  êle  faz  e  não  podeobrar  em  conseqúência <art. 2, 2) .  Se  alguma  pessoa, privadada  capacidade,  faz 
testamento antes que a decisão que dela opriva seja inatacável, tal privação de capacidade não se opóeà realidade 
do testamento,  se  morre  antes  que  a decisão  sejainatacável  (art. 3, 1)  . Formas  ordinárias  de  testamento  sãoa  do 
testamento feito perante juiz ou ou notário e o manuscrito(arts. 4 e 21), que deve ser guardado oficialmente (arts. 
22,37 e 38), com o certificado do depósito. O art. 6 cogita dosurdo, do cego, do mudo e do impedido de falar e de 
outroscasos. O art. 10 enumera os que não podem ser testemunhas.Quanto à ignorância da língua alemã, há os arts. 
18 e 19. Sehá receio de que morra o testador antes de testar, permite­se otestamento perante o mere. O art. 27 trata 
do testamento dosmilitares; e o art. 28, do testamento comum. 

l.TESTAMENTO  NO  DIREITO FRANCÊS.    Nas  circunstândas  normais, o  Código  Civil  francês  reconhece  três 
testamentos, ditos ordinários: o hológrafo, o autêntico ou notariado, e o que o art. 969 chama “forme mystique”. 
Desde  a  Ordenança  de  1735,  art.  1,  que  se  proIbiu  o  testamento  verbal  ou  nuncupative.  Quaisquer  declarações 
verbais,  feitas  pelo  decujo,  seja  para  dispor,  seja  para  modificar  o  testamento  escrito,  nenhum  valor  podem  ter, 
ainda  que  as  confessem  os  herdeiros:  contra  êles  não  pode  ser  feita  a  prova.  O  art.  968  proibe  os  testamentos 
conjuntos  ou  mútuos,  proibição,  hoje,  absoluta,  porém  que  o  não  era  na  Ordenança  de  1735,  art.  77,  que  a 
introduziu.  O  testamento  hológrafo  deve  ser  todo  escrito  pelo  testador,  assinado  por  êle,  habitualmente  com  o 
nome  e  o  prenome;  mas  basta  a  assinatura  de  que  costuma  servir­se,  e  que  lhe  marca,  por  bem  dizer,  a 
personalidade.  Um  bispo,  por  exemplo,  pode  assinar  com  as  iniciais  e  o  nome  da  cidade  episcopal.  Deve  ser 
datado, com a indicação precisa do dia, mês, e ano, em que se testou. Nesse ponto, segue o Código Civil francês a 
velharia  da  essencialidade  da  data  (art.  970)  :  “Le  testament  olographe  ne  sera  point  valable,  s’il  n’est  écrit  en 
entier, daté et signé de la main du testateur: il n’est assujetti à aucune autre forme”. Data falsa e data incompleta 
acarretam nulidade, se bem que a jurisprudência  belga (contra, F. LAURENT, Principes de Droit Civil français, 
18, n. 202) não desse tal conseqUência à antedata e à pós­data. Seria nulo o testamento sem a indicação do dia: 
e. g., “feito em outubro de 1969”. Pode ser escrito em papel não selado: só se tem de pagar a multa, na ocasião do 
registo. Épermitida a forma de carta. Bem assim, a escrita a lápis, no todo, ou em parte (Besançon, 6 de junho de 
1882), a redação com intervalos de tempo, com várias datas, ou uma, final, que se aplique ao conjunto (Caen, ii de 
agôsto de 1866; Cassação, 18 de abril de 1882), em fôlhas separadas, desde que siga, ininterrupta, a escrita, datada 
a  última.  Se  a  data  de  uma  delas  é  falsa,  com  auxílio  das  outras pode­se  retificar (Cassação,  30 de  fevereiro de 
1889) . O testamento por ato público, define o art. 971, “est celui qui est reçu par deux notaires, en présence de 
deux témoins, ou par un notaire, en présence de quatre témoins”. As regras jurídicas são as da Lei de 25 do ventoso 
do ano XI, completadas pelas que dá o Código Civil francês. Deve ser ditado pelo testador ao notário que o escreve 
(artigo 972) ; portanto, não se admite que o notário o escreva fora da presença do testador, como faz com es outros 
atos  jurídicos,e  depois  o  leia,  para  apanhar  as  assinaturas.  ConseqLiencias:  o  mudo  não  pode  usar  da  forma 
autêntica (Nancy, 8 de janeiro de 1903) ; o notário não pode copiar o projeto ou minuta, que outrem ou o próprio 
testador  lhe  haja  entregue  (Caen,  17  de  novembro  de  1884);  o  notário  não  pode  fazer  sugestões  de  qualquer 
natureza,  se  bem  que  possa  argúi­lo  para  melhor  colhêr  as  suas  intenções,  e  adverti­lo  quanto  às  ilegalidades  e 
contradições.  Mas  deve  o  notário  reproduzir  as  próprias  incorreções  de  linguagem  e  as  impropriedades  de 
expressão. Há de ser lido ao testador em presença das testemunhas. E de tudo faz­se menção expressa (art. 972) . 
Assinam­no o notário, as testemunhas e o testador. Se êsse declara que não sabe ou não pode assinar, mencionar­ 
se­á  isso  expressamente,  consignando­se,  no  ato,  a  causa  de  tal  impedimento  (art.  973).  Atendendo  ao 
analfabetismo  das  províncias  francesas,  o  art.  974,  parte  2·a,  estatui:  “néanmoins, dans  les  campagnes,  ii  suffira 
qu’un des deux témoins signe, si le testament est reçu par deux notaires, et que deux des quatre témoins signent, 
s’il est reçu par un notaire”. O testamento secreto, a que o Código Civil francês chama testamento mistico, pode ser 
escrito pelo testador, ou por outrem, sem que o assista qualquer testemunha: o que é preciso ser testemunhado é a 
apresentação ao notário, fechado e lacrado, ou para que o feche e lacre, com a declaraçáo de que aqueles é o seu 
testamento (art. 976). Segue­se o ato de subscrição, correspondente à aprovação do direito brasileiro. Se o testador 
não sabe, ou não bode assinar, ao ato de subscrição será chamada mais uma testemunha, declarando­se isso (art. 
977) . As testemunhas  hão de ser, pelo menos, seis (art. 976). Os que não sabem, ou não podem ler, não podem 
usar  do  testemunho  secreto.  Em  casos  excepcionais,  o  direitofrancês  reconhece  os  testamentos  privilegiados,  o 
testamentomilitar, arts. 981­984, o testamento em tempo de peste, artigos 985­987, o testamento no curso de longa 
viagem marítima,arts. 988­996 (retocados ós arts. 981­984, 985 e 986, 988­998pelas Leis de 17 de maio de 1900,
de 28 de julho de 1915 e de8 de junho de 1898), e o testamento feito no estrangeiro, artigo 999. 

11.TESTAMENTO NO DIREITO ITALIANO.  A Itália (Código Civil de 1865) conhecia o testamento hológrafo, 
no  qual  não  intervinham  testemunhas  (se  interviessem,  não  haveria  nulidade:  abzmdans  cautela,  e  abundans 
cautela non nocet). As formalidades eram muito simples: a) ser escrito por inteiro, do próprio punho do testador 
(qualquer palavra de outrem, inserta na cédula, atingiria a sua validade, se de acôrdo com o testador; não assim, o 
que  se  introduzisse  contra a  vontade  dêste)  ; b)  conter  a data,  isto  é, dia,  mês  e  ano, ou  indicações  equipolentes 
como “no dia do meu trigésimo aniversário”; c) assinatura, entendendo­se a de que usa o disponente, inclusive o 
pseudônimo com que é conhecido em sociedade. Data e subscrição também haviam de ser do próprio punho. Podia 
ser  em  carta  (AGOSTINHO  RAMELLA,  La  Corrispondenza  in  materia  civile  e  commercia.le,  428­430)  . 
Discutiu­se se a data podia vi r após a assinatura, O art. ‘775 primeiro falava daquela, mas era de aceitar­se que a 
inversão não constitua nulidade. Além disso, o próprio artigo dizia que “la sottoscrizione deve essere posta alla fine 
delie  disposizioni”,  e  data  não  é  disposição  (VlrrOiuo  POLACCO,  Deile  Successioni,  1,  175).  O  testamento 
notarial ou era público ou secreto. Intervinham no testamento notarial: o notário ou notários, quatro testemunhas no 
primeiro caso, duas se dois os notários. Se dois, era preciso que não fôssem parentes ou afins em linha reta, ou do 
terceiro grau na colateral. O testador declara, não dita  as declarações; mas podia ditar, pôsto que não no dissesse o 
Código Civil. O Código Civil francês, art. 972, exige que o próprio notário o escreva: não assim o italiano,  bastaria 
que o notário dirigisse a redação (VITToRIo POLACCO,  Deile Successioni, 1, 183) . O notário ou um dos dois 
procederia  à  leitura  integral  do  ato.  Se  fôsse  surdo  o  testador,  leria  êle  mesmo;  se  também  não  pudesse  ler, 
interviriam  cinco  testemunhas.  Deviam  assinar  o  ato o  testador, o  notário ou os  notários  e as  testemunhas.  Se  o 
testador não sabia ou não podia assinar, devia declarar a causa que lho  vedasse, e o  notário mencionaria  isso. O 
testamento secreto devia ser subscrito pelo testador ou por outrem. Se escrito pelo testador, devia ser assinado por 
êle  no  fim  das  disposições.  Escrito,  no todo, ou em parte, por outrem, devia  ser  subscrito pelo  testador  em  cada 
uma das meias fôlhas. Razão disso: evitar­se o intercalamento de páginas. O que lêsse, porém não soubesse ou não 
pudesse  escrever,  leria  o  testamento,  declarando­se  isso.  Seguia­se  a  entrega  ao  notário,  na  presença  de  quatro 
testemunhas, e do testador, com a declaração de que aqueles era o seu testamento. Se não no subscrevesse, diria 
que foi lido, e acrescentaria a causa de não lançar a assinatura. A cédula deveria ser fechada. O notário lançaria o 
ato de recebimento. Tudo isso devia fazer­se uno contextu. Além dêsse testamento, o direito italiano reconhecia: a) 
o  testamento  em  local  de  peste  ou  outra  moléstia  contagiosa,  sem  efeito  após  seis  meses  de  haver  cessado  a 
moléstia, ou de ter saido do lugar o testador; b) o testamento em alto mar; e) o testamento em tempo de guerra, 
feito por militares ou pessoas
·que  servissem  nas  expedições.  O  marítimo  perdia  eficácia  três  meses  depois  de  ter  o  viajante,  ou  marinheiro, 
descido em pôrto em que pudesse testar por forma ordinária. Bem assim, o militar. 
da  No  Código  Civil  italiano  (1942),  os  arts.  587­712  tratam  sucessão  testamentária:  das  disposições  gerais,  nos 
artigos 587­590; da capacidade de dispor por testamento, no art. 591; da capacidade de receber por testamento, nos 
arts.  592­600;  da  forma  testamentâria,  nos  arts.  601­623.  As  formas  ordinárias  de  testamento  são  o  testamento 
hológrafo e testamento por ato de notário. Êsse ou é público ou secreto (art. 601). O testamento hológraf o deve ser 
escrito por inteiro, datado e subscrito a mão, pelo testador (art. 602, alínea 1ª). A subscrição deve ser ao fim das 
disposições. Se não indica o nome e cognome do testador, todavia é válida quando designa cori certeza a pessoa do 
testador (alínea 2)9. A data deve conter a indicação do dia, mês e ano. A prova da não­verdade da data é admitida 
somente quando se trata de julgar da capacidade do testador, da prioridade de data entre testamentos ou de outra 
questão  que  se  haja  de  decidir  com  base  no  tempo  do  testamento  (alínea  3)9.  O  art.  603  cogita  do  testamento 
público; os arts. 604 e 605, do testamento secreto. O art. 606, da nulidade do testamento por defeito de forma. O 
art. 607, da validade do testamento secreto como hológraf o. O art. 608, da retirada do testamento secreto ou do 
hológraf o. Os artigos 609­619, dos testamentos especiais. Os arts. 620­623 são sôbre a publicaçâo dos testamentos 
hológrafos e dos testamentos secretos. 

12.TESTAMENTO  NO DIREITO  ARGENTINO    No direito  argentino,  há  o  testamento  hológrafo,  todo  escrito, 
datado e firmado pela mão do testador (art. 3.639). Se há alguma coisa escrita por mão estranha e se a escrita faz 
parte do próprio testamento, será nulo êsse, se no escrito consentiu ou foi feito por ordem do testador (art. 8.640) . 
Tem de ser escrito em caracteres alfabéticos e pode ser redigido em qualquer idioma (art. 3.641) . As disposições 
do  testador,  escritas  após  a  firma,  devem  ser  “fechadas”  e  firmadas  para  que  possam  valer  como  disposições 
testamentárias (art. 3.679). Mas, se são muitas, a firma e a  “fecha” (data) da última  valem para as  anteriores, de 
qualquer  tempo que  sejam  (art.  8.680).  Não podem  ser em  cartas,  nem  em  livros,  ou  escritos  em  que o  testador 
costumava  escrever  os  seus  negócios  (art. 3.648). Abundans  cautela non nocel:   “El testador puede,  si  lo juzgare
más  conveniente,  hacer  autorizar  ei  testamento  con  testigos,  ponerle  su  selio,  o  depositarlo  en  poder  de  un 
escribano, ó usar de cualquiera otra medida que dé más seguridad de que es su última voluntad” (art. 8.649) . Pode 
escrevê­lo de uma só vez, ou de muitas; assinar  e datar separadamente, ou não (art. 8.647). Além do testamento 
hológrafo, tem o direito argentino o testamento público e o testaiu~to cerrado. O surdo, o mudo e o surdo­mudo 
não testam por ato público (art. 3.651) : o surdo testa pelo testamento cerrado (art. 8.703) ; o mudo, pelo hológrafo, 
ou pelo cerrado. O cego testa Por ato público (art. 8.652). O escrivão parente do testador em linha reta ou até o 
terceiro grau na linha colateral, consanguíneo, ou afim, não pode intervir na redação do testamento (art. &653). As 
testemunhas são tres e devem residir no lugar (art. 8.654). O testador pode ditar  o testamento ao escrivão, dar por 
escrito o testamento; ainda mais: “sólo darle Por escrito las disposiciones que debe contener para que las redacte en 
la  forma  ordinaria”  (artigo  3.656).  Na  campanha  perante  o  Juiz  de  Paz,  ou,  na  sua  falta,  perante  alguns  dos 
membros  da  municipalidade  (art.  8.655)  Se  o  testador  não  sabe  assinar,  outra  pessoa  ou  uma  das  testemunhas 
assina por êle: no último caso, duas testemunhas, pelo menos, devem saber assinar (art. 3.661) . Se o testador só­ 
mente pode testar em língua estrangeira, intervêm intérpretes, que procedem à tradução em castelhano, e nos dois 
idiomas escreve~se o testamento. As testemunhas devem compreender
os dois (art. 3.663) . O testamento cerrado é assinado pelo testador, ou por outrem, se o testador não no pode (art. 
3.666) 
A  entrega  e  subscrição  deve  ser  em  ato  ininterrupto;  no  caso  de  acidente,  só  se  admitem  breves  intervalos  (art. 
3.667)  .  As  testemunhas  são  cinco,  O que  não  sabe  ler  não  pode  testar por  essa  forma  (art. 3.665) .  O que  sabe 
escrever, mas não pode falar, escreve o testamento, firma­o, apresenta­o ao escrivão e às testemunhas, escrevendo 
no envoltório que aquilo contém o seu testamento (art. 8.668). São testamentos especiais: a) O testamento militar, 
para os militares, voluntários, prisioneiros, capelães, etc., perante oficial que tenha o grau, pelo menos, de capitão, 
ou perante intendente do exército, auditor geral, e duas testemunhas. Deve designar lugar e data em que se fêz (art. 
3.672)  .  No  caso  de  ferimento  ou  enfermidade,  ante  o  capelão,  o  médico  ou  o  cirurgião  que  o  assista.  Se  em 
destacamento, ante o oficial que comande, ainda que não tenha o pôsto de capitão (art. 3.672). Mas, se o testador 
ou  não  sabe  firmar  ou  não  no  pode,  assina  por  êle  uma  das  testemunhas,  declarando­se  isso  (art.  3.674)  .  Se  o 
testador  falece  antes  dos  noventa  dias  subseqUentes  àquele em  que  cessaram  as  circunstâncias  da  habilitação  ao 
testamento militar, vale  como se ordinário fôra. Se sobrevém ao prazo, caduca o testamento (artigo 8.676). Pode 
preferir a forma do testamento cerrado. b) O testamento marítimo, ante o comandante do navio e três testemunhas, 
duas  das  quais,  pelo  menos  (é  disposição  expressa),  saibam  assinar.  Deve  ser  datado,  em  duplicata,  igualmente 
assinado  (art.  3.679).  Pode  preferir­se  a  forma  cerrada  (artigo  3.682)  .  Nos  navios  mercantes,  sob  bandeira 
argentina,  o  testamento  marítimo  faz­se  perante  o  capitão, o  imediato  ou o pilôto  (art. 3.688).  Vale, assim,  se  o 
testador falece antes de desembarcar, ou antes dos noventa dias subsequentes ao desembarque. Não é desembarque 
a descida para reembarcar. 
e)Se, por causa de peste ou epidemia, não há escrivão no lugar ou no lazareto, estatui o art. 3.689: “podrá hacerse 
ante un municipal, ó ante eI jefe dei lazareto, con las demás solemnidades prescriptas para los testamentos por acto 
público”.curso só de duas testemunhas, pelo  notário, funcionário, ou outra pessoa que tenha qualidade para isso, 
segundo  o  direito  cantonal  (arts.  498  e  499)  ;  b)  com  a  forma  hológrafa,  todo  escrito  pelo  testador,  datado  e 
assinado  de  próprio  punho,  podendo  os  Cantões  decidir  se  aberto  ou  fechado,  ou  entregue  para  depósito  à 
autoridade  (arts.  498  e  505)  ;  o)  na  forma  oral,  durch  miindliche  Erklãrung,  quando  ocorrem  circunstâncias 
extraordinárias, nas quais esteja o disponente impedido de testar noutra forma, por exemplo, em caso de perigo de 
morte  iminente,  comunicações  interceptadas,  epidemia  ou  guerra:  feito  perante  duas  testemunhas,  que  êle 
encarrega de constituir ou fazer constituir o ato (arts. 498 e 506) . Das outras formas falaremos nas seções relativas 
ao testamento público e ao hológrafo. Não tendo o Código Civil brasileiro o testamento oral ou nuncupativo, é êsse 
o lugar para cogitarmos de tal forma testamentária do direito suíço. Tratam do testamento por declaração oral os 
arts. 498 e 506­508. No primeiro, apenas há referência, como uma das formas possíveis. Dele se tira que o Código 
Civil suíço desconhece outras formas que as mencionadas: 
assim, não são admitidos codicilos, testamentos particulares perante testemunhas (antes, Código Civil de Zurique, 
§  504,  1),  os  chamados  testamentos  místicos,  quer  no  sentido  do  direito  romano,  que  é  o  técnico  (cf.  II. 
DERNrnIRG, Pandelcten, III, § 77, 5), quer no sentido do Código Civil francês, art. 976. Também não se cogitou 
de  testamento  conjuntivo  (1’.  TUOR,  Kommentar,  III,  297  e  272).  Como  por  toda  a  parte,  rege  o  princípio  da 
indelegabilidade do ato de testar, o que exclui representação e assistência. Quanto à forma oral, dela tratam as três 
alíneas do art. 506. 
Há  forma extraortinária  para circunstâncias extraordinárias. As circunstâncias mencionadas (iminência de morte, 
corte  de  comunicações,  epidemias,  guerras)  são  meramente  ezemplificativas  (A.  ESCHER,  Das  Erbrecht, 
Kommentar, III, 92; 
P. TUOR, Kommentar, III, 833). O perigo de morte iminente pode ser conseqúência de acidente, ou de crime, ou 
de longa moléstia. Mas,  se durou a moléstia, o perigo de morte não constitui, sem outro elemento, circunstância 
extraordinária:  so  o  agravamento  ocasional,  imprevisto,  pode  dar­lhe  tal  qualidade.  O  perigo  iminente  pode  ser 
resultado, ou, apenas, esperade, mas há de ser independente da vontade do testador. 
A  extraordinariedade  é  um  dos  pressupostos,  que,  associado  àimpossibilidade  de  usar  outra  forma  testamentária 
(pública,  hológrafa),  perfaz  a  admissibilidade  momentânea.  “Comunications  interceptées”,  Ver/cekrssperre,  são 
tudo que signifique insulamento espacial: destruição de uma ponte, parada das máquinas de um navio, inundação, 
interrupção  do  tráfego  de  estrada  de  ferro,  que  constituem  circunstâncias  extraodinárias  exteriores,  prisão  do 
testador, ou situação semelhante que são circunstâncias extraordinárias interiores, e caso de disponente analfabeto 
ou  incapaz  de  escrever,  ou  que  não  quer  ir  à  presença  de  oficial  público  doente  em  tempo  de  epidemia 
(circunstâncias,  interior   e  exterior,  que  o  juiz  deve  examinar).  A  respeito  da  falta  de  material  para  escrita,  ou 
impossibilidade,  falta  de  tempo,  para  escrever,  hão  de  dizer  as  testemunhas.  A  guerra  por  si  só  não  justifica  a 
nuncupatividade:  bastaria,  em  se  tratando  de  analfabeto.  Fora  disso,  é  um  dos  pressupostos  a  falta  de  material, 
tempo,  ou  oportunidade  para  testar  hologràficamente.  Tanto  vale  isso  para  os  militares  quanto  para  os  civis  (P. 
TIJOR,  Kommentar,  III,  335)  .  Surgiu  a  questão:  ambos  os  textos,  o  alemão  e  o  francês,  falam  em  forma  oral 
(testamento orale, no texto italiano). ~ Quid juris, se, em circunstâncias extraordinárias, também perdeu a voz ou 
ficou  mudo  o  testador?  Pensemos  naquele  que,  em  perigo  de  morte,  ou  cercado  pelas  águas,  não  pode  falar.
EUGEN HUBELi (Prot., 599) entendeu que a oralidade vinha em primeira linha; isto é, se perdeu a voz, ou se o 
caso  é  de  surdo­mudo,  que  se  possa  fazer  compreender,  é  questão  de  interpretação.  Em  tais  casos,  o  escrever 
perante as duas testemunhas valeria o mesmo que dizer de viva voz. A solução dá à língua dos surdos­mudos e ao 
falar  por  sinais  o  valor  de  sucedâneo  da  linguagem  oral,  ainda  que  os  sinais  sejam  só  de  cabeça  (P.  TUOR, 
kommentar,  III,  385).  Nem  se  excluiu  a  subsidiariedade do  escrito, quando  só  êsse  fôsse  possível,  e  até  se  vai  a 
afirmar  a  possibilidade  de  combinações  de  sinais  gesticulares  e  de  palavras  escritas,  quando  a  isso  obriguem  as 
circunstâncias. É essencial o requisito das duas testemunhas, simultâneas, que digam da identidade da pessoa e do 
teor das disposições. Uma das testemunhas escreve imediatamente as últimas vontades, data­as com indicação do 
lugar, ano, mês e dia, assina­as, e faz serem assinadas pela outra, e o escrito é remetido, sem tardança, à autoridade 
judiciária, com a afirmativa de lhes ter parecido capaz de dispor o testador e das circunstâncias particulares em que 
receberam  as  declarações  (art.  507,  alínea  te).  Entende­se:  qualquer  juiz,  ainda  o  de  paz,  o  de  um  tribunal  de 
comércio, qualquer, em suma, de competência civil (A. ESCRER, Das Erbrecht. Kommentar, III, 98) . Aliás, está 
na  alínea  2~a  que  as  testemunhas  podem  fazer  a  autoridade  reduzir  a  protocolo,  sob  as  suas  afirmativas,  as 
declarações do disponente. Na alínea g~a explicita­se que, em se tratando de militar em serviço, pode substituir a 
autoridade  judiciária o  oficial  com  o pôsto  de  capitão ou outro  mais  alto.  As  expressões  immédiatement  e  sans 
délai do  texto  francês,  e  sofort  e o/me  Verzug  do  texto  alemão   supõem um prazo,  embora  curto. Claro  que  não 
pode ser contado, em se tratando de comunicações interceptadas, antes de cessar a interrupção impeditiva de testar 
por forma ordinária. Não se pode deixar de confiar ao juiz a apreciação do tempo hábil em que se fêz. A falta da 
observância  do  mais  cedo possível  tem  por  conseqúência  a  ineficácia  do testamento oral  (P.  TuOa,  Kommentar, 
888). Por isso é importante o dia em que se testou. Mas a data inexata, por si só, não o invalida. É indiferunte: a) 
que  as  testemunhas  auditivas  mostrem  ou  leiam  ao  testador  o  que  escreveram  (A.  EscHEii,  IDas  Erbrecht, 
Koinment  ar,  III,  93)  ;  b)  que  o  testador  tenha  ou  não  morrido  no  intervalo  (P.  TUOR,  Kommentai­,  III,  838). 
Finalmente, o testamento oral tem prazo preclusivo quatorze dias após haver o testador recuperado a liberdade de 
empregar uma das outras formas (art. 508). No texto alemão fala­se de perder validade (“Gúltigkeit’~) e no francês 
de  cessar  de  ser  válido  (“d’être  valable”),  porém  não  se  trata,  em  boa  técnica  científica,  de  invalidade,  mas  de 
preclusão. O art. 508 obvia aos inconvenientes da nuncupatividade. Aliás, é assaz difícil precisar­se o momento, o 
dia, em que o testador pode usar de outra forma: quaestio facti, que se deixa à apreciação do juiz. Tratando­se de 
testamento militar, a partir da cessação do serviço. Sem atendibilidade o testamento nuncupativo, por ter expirado o 
prazo,  ~  fica  revogado  o  que  antes  existia?  Não:  o  que  êle  revogava,  ainda  expressamente,  revive,  porque  o 
nuncupativo foi como se não houvesse existido. (Cp. Runoir LEONHARD, Vortràge, ao § 2.252 do Código Civil 
alemão, e P. TUOR, Koinmentar, III, 389) 

14.TESTAMENTO  No  DIREITO  ALEMÃO.    O  direito  alemão  distingue  as  formas  ordinárias  e  as 
extraordinárias (chamadas, na lei brasileira, testamentos especiais, art. 1.681) . São testamentos ordinálrios: a) o 
que se faz perante o juiz, ou o notário; b) o que, com a designação do lugar e dia, é escrito e assinado pelo próprio 
testador  (§  2.231)  .  Todos  os  demais  são  testamentos  extraordin4rios:   a)  o  testamento  do  §  2.249,  no  caso  de 
temer­se  a  morte  antes  de  se  poder  usar  do  testamento  perante  o  juiz  ou  o  notário  ou  com  os  pressupostos  do 
testamento escrito pelo testador e que se faz ante o chefe da comuna, da circunscrição, ou distrito em que se resida, 
se não se trata de comuna; b) o testamento em lugar que, por moléstia ou por outras circunstâncias extraordinárias, 
se  acha  interceptado  (separado,  abgesperrt),  feito  na  forma  do  anterior,  ou  por  declaração  oral  perante  três 
testemunhas (§ 2.250) ; e) o testamento marítimo, em navio alemão que não seja da marinha do Reick, que também 
se  pode  fazer  perante  três  testemunhas  como  o  anterior  (§  2.251).  Se  o  testador  vive,  todos  êsses  testamentos 
perdem eficácia três meses após a feitura (§ 2.252) . O testamento militar ficou às leis especiais, razão por que a êle 
nos referiremos depois. Tratemos dos testamentos ordinários: 
a)Forma  judicial.  Era  a  única  que  o  direito  prussiano  (P’reussisches  Alígemeines  Landrecht,  II,  12,  §§  66  s.) 
conhecia.  Não  no  conhece  o  Código  Civil  francês,  nem  o  brasileiro.  Na  própria  Alemanha,  o  art.  141  do 
Einfiihrungsgesetz dispunha que os atos jurídicos, a que o Código Civil ‘confere as duas formas, podem ser, pelos 
Estados­membros,  restringidos  a  uma  ou  outta.  De  modo  que  alguns  Estados­membros  não  admitiam  os 
testamentos notariais e outros só admitiram a forma notarial (Baviera, Prússia renana, Bikenfeld, Bade). Vale para 
os paÇses de todo o Reich. (Ger. Verf. Gesetz, § 167) . No caso de necessidade, isto é, de perigo na demora, ainda 
fora da sua jurisdição, podem servir os juizes, informada a justiça administrativa do lugar (H. PEISn,  Ztandbuch 
des Testamentsreckts,  260).  Aliás, o  estar  fora  e  servir  ao  ato  testamentário  não causa  a  nulidade (I?eichsgúsetz 
liber die freiwiliige Gerichtsbarkeit, § 7) . Mas é preciso que o juiz não seja do outro Estado­membro (Motive, V, 
276). Só se trata, então, de Arntsgericht (Reichgesetz u. f. Gcrichtsb., § 167) ­ 
b)Forma notarial. Introduzida pelo nôvo direito. Tem o mesmo valor probatário que a judicial. A competência é de 
acôrdo com a lei local. Nos distritos consulares, podem receber as declarações testamentárias os cônsules, e as leis 
dos Estados já não podiam limitar tal competência, invocando o artigo 141 da Lei de Introdução (CARE CROME, 
System, V, 67, nota 8) . Cumpre advertir que os testadores não estavam adstritos aos funcionários do lugar em que
residiam: se estivessem fora do domicílio, podiam testar, ainda que de passagem. O testamento público, judicial ou 
notarial, pode ser feito por declarações orais, ou em escrito, que contenha (deve dizê­lo o testador) as suas últimas 
vontades. O escrito pode ser aberto ou fechado. Ainda mais: ser escrito pelo testador ou por outra pessoa. Mas o 
menor e o que não sabe ler os caracteres da escrita somente podem testar pela forma oral (§ 2.238) . Se judicial, 
concorrem o juiz, o escrivão e duas testemunhas; se notarial, o notário, um segundo notário e duas testemunhas (§ 
2.233) .  Não podem  figurar como  juiz,  notário,  escrivão, ou  testemunha:  o  cônjuge  do  testador,  ainda  quando  já 
dissolvido ou sem efeito o casamento; o parente ou afim do testador, em linha reta, ou no segundo grau da linha 
colateral (§ 2.234). Se êsse parentesco ou afinidade é para com o juiz ou notário, por parte do escrivão, do segundo 
notário ou da testemunha, também qualquer dêsses não pode figurar (§ 2.236). As pessoas que concorrem à feitura 
devem assistir a todo o processo (§ 2. 239) . O protocolo é em língua alemã (§ 2.240) e há de conter: o lugar e dia 
do ato; a designação do testador e das pessoas concorrentes; as declarações do testador exigidas pelo § 2.288 e, no 
caso de entrega de escrito, a consignação da entrega (§  2.241). O protocolo é lido, aprovado pelo testador, e por 
êle, de próprio punho, assinado; e disso se  fa~ menção. O protocolo deve também ser entregue ao testador, se o 
quiser, para que êle possa revê­lo (§ 2.242, alínea lY) ­Se o testador declara que não pode escrever, supre­se a sua 
assinatura pelo consignar­se, no protocolo, essa declaração (§ 2.242, alínea 2A). O protocolo precisa ser assinado 
pels~s pessoas concorrentes (2.242, alínea 3·~). Se o testador não sate a língua alemã, intervém intérprete, a que se 
aplicam as regras  jurídicas dos §§ 2.234­2.237., relativas às testemunhas: o testamento é traduzido na  língua em 
que o testador fêz a declaração; a tradução há de ser feita ou portada por fé e lida pelo intérprete; a tradução é junta, 
como anexo, ao protcco!o (§ 2.244, alíneas e 2.ª). O’ protocolo há de conter a convicção do juiz, ou do notário, de 
que o testador que não está ao corrente da língua alemã, bem assim o nome do intérprete, e a confirmação de que 
êsse fêz ou autenticou a tradução e a  leu em  voz alta. O  intérprete assina o processo verbal (§ 2.244, alínea  8ª). 
Mas, se todas as pessoas que concorrem à feitura compreendem a língua em que o testador se expressa, não é de 
mister o intérprete (§ 2.245, alínea l.ª) : nesse caso, redige­se na língua estrangeira o protocolo, com a declaração 
de que o testador não compreendia a língua alemã, e a afirmativa de conhecerem todos os que intervieram a língua 
em que o testador declarou as suas vontades. Junta­se ao texto, como anexo, a tradução alemã (§ 2.245, alínea 2.ª) . 
O  protocolo  tomado  sôbre  a  feitura  do  testamento,  com  os  anexos,  deve,  principalmente  no  caso  de  feitura  por 
entrega  de  escrito,  ser,  com  êsse  escrito,  fechado  pelo  juiz,  ou  pelo  notário,  na  presença  das  outras  pessoas 
concorrentes  e  do  testador;  provido  de  uma  declaração  final  assaz  precisa,  assinada  pelo  juiz,  ou  pelo  notário, 
designativa do testamento, e guardado no depósito especial do ofício. Dá­se ao testador o certificado de depósito 
(§ 2.246). 
c)Forma  h,ológraf  a..  Os  autores  têm­na  como  a  forma  mais  importante.  Sôbre  ela  é  fundamental  a  obra  de 
WALTHER BgOcK, merecedora, como foi, de um prêmio. Ao testamento de mão própria referem­se os §§ 2.231, 
2.247 e 2.248. O primeiro exclui de tais testamentos o menor e o que não sabe ler os caracteres escritos. O segundo 
manda que, a requerimento do testador, se guarde no depósito oficial, recebendo o testador o respectivo certificado. 
Quem quer que possua testamento não depositado deve, ao saber da morte do testador, apresentá­lo ao tribunal de 
sucessão. (§ 2.259) 

5.556. TESTAMENTO CONJUNTIVO E SIMULTÂNEO 

15.TESTAMENTO  NO  DIREITO  PORTUGUÊS.    O  Código  Civil  português  de  1966,  depois  de  cogitar  da 
definição de sucessão (art. 2.024), do objeto da sucessão (art. 2.025> e dos títulos de vocação sucessória (por lei, 
testamento  ou  contrato,  art.  2.026),  em  vários  pontos  se  refere  à  herança  testamentária,  mas  dedica  à  sucessão 
testamentária os arts. 2.179­2.334. No artigo 2.179, fala­se da unilateralidade e da revogabilidade do testamento e 
das disposições de caráter não­patrimonial, que a lei permite serem insertas em testamento. No art. 2.180, diz­se ser 
nulo o testamento em que o testador não tenha exprimide, “cumprida e claramente”, a sua vontade. Proibe, no art. 
2.181, o testamento de mão comum. O art. 2.182 frisa a personalidade do testamento; mas logo diz que o testador 
pode cometer a terceiro: a) A repartição da herança ou do legado, quando institua ou nomeie uma generalidade de 
pessoa; b) A nomeação do legatário de entre pessoas por aqueles determinadas. No art. 2.183 refere­se à escolha da 
coisa  legada “à  justa  apreciação  do onerado, do  legatário  ou de  terceiro, desde que  indique o  fim  do  legado  e o 
gênero  ou  espécie  em  que  êle  se  contém  ­  Os  artigos  2.188­2.191  tratam  da  capacidade  testamentária.  Os  arts. 
2.192­ 
2.208, da  indisponibilidade  relativa.  As  formas  dos  testamentos  são  assunto  dos  arts. 2.204­228:  formas  comuns 
(testamento público e testamento cerrado, arts. 2.204­2.209) ; formas especiais (testamento de militares e pessoas 
equiparadas, artigos 2.210 e 2.212; testamento feito a bordo de navio, arts. 2.214­2.218; testamento feito a bordo de 
aeronave,  art.  2.219;  testamento  feito  em  caso de  calamidade pública,  ad. 2.220).  Sôbre  testemunhas,  art. 2.221;
sôbre  prazo  pata  as  formas  especiak,  art.  2.222;  sôbre  testamento  feito  por  português  em  país  estrangeiro,  art. 
2.223.  Os  arts.  2.224­2.307  são  sôbre  o  conteúdo  do  testamento;  os  arts.  2.208­2.819,  sôbre  nulidade, 
anulabilidade, revogação e caducidade; os arts. 2.320­2.334, sôbre testamentaria. 

16.CONSIDERAÇÀO  FINAL.    Aí  ficam  as  formas  dos  países  com  os  quais  maiores  relações  tem  o  Brasil.  À 
medida e nos lugares em que tiverem de ser resolvidas as questões, volver­se­á ao direito de cada um deles, para 
que ressaltem as diferenças e se mostrem as parecenças com o direito brasileiro. 

§ 5856. Testamentoconjuntivo, simultâneo, recíproco e correspectivo 

1.DIREITO .ANTERIOR.  Diz o Código Civil, art. 1.630: “O proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, 
recíproco ou  correspectivo”.  No  direito  reinícola  não  havia textos  sôbre os  testamentos de mão  comum.  Alguns 
praxistas queriam que deles pudessem usar os cônjuges e os irmãos. Mas verdade é que ANTÔNIO DA GAMA 
(Decisiones Supremi Senatus Lusitaniae. dec. 231) somente se referia aos cônjuges. E foi ANTÔNIO DA GAMA, 
no  dizer  de  M.  A.  COELHO  DA  ROCHA  (Instituições,  573),  quem  primeiro  tratou  da  matéria  em  Portugal. 
Portanto, em 1578, época em que se publicaram as Decisiones, elaboradas por ordem do rei Dom Sebastião. Diz a 
ementa da decisão n. 231: 
“De validitate testamenti mariti et uxoris, quod manu propria mariti scriptum fuit, et se ipsum haeredem scripsit”. 
Não  estava  nos  textos  reinícolas,  porém  estava  na  praxe.  Aliás,  em  Portugal,  a  lei  visigótica  (L.  6,  V,  Tít.  2) 
consignava­o;  daí,  com  certeza,  a  exceção.  Dos  Germanos  foi  que  imitaram  os  povos  tais  testamentos.  Na 
península, há documentos do século XIII. Aos cônjuges, sempre se permitiram, por influência dos povos nórdicos, 
provàvelmente, desde as invasões. ÁLvÂRo VALASCO. (Co­nsultationum et Decisionum, ao rerum iudicatarum 
in Regno Lusitaniae, 1, 20­23), P. J. DE MELO FREntE (Institutiones. III, 5. § 36), MANUEL DE ALMEIDA E 
SOUSA (Dissertação VII, em Coleção de Disserta ções Jurídico­práticas, 196 s.) e M. A. COELHO DA ROCHA 
(Instituições, 573), além de ANTÔNIO DA GAMA. atestam a usual incorporação ao direito português. Eram assaz 
reverenciados  os  livros  de  SAMUEL  STRYK  (Disputatio,  Opera  Omnia,  XI,  disp.  26),  F.  C.  HARPPRECHT 
(Diss.  de  testamentis  correspectivis)  e  G.  G.  HEINÊCIO,  nos  elementos  de  direito  germânico.  O  Código  Civil 
brasileiro considera conjuntivo o testamento que hoje proibe; espécies dele, o simultâneo, o  recíproco e o corres 
pectivo. No testamento simultâneo, há a disposição de ambos numa só: os dois testadores testam, e dizem a mesma 
coisa. Exemplo: A e E instituem herdeiros a C; legam a casa da rua do Ouvidor a D, a da rua do Rosário a E. No 
testamento  recíproco,  cada  um  é  herdeiro  ou  legatário  do  outro.  No  testamento  correspectivo,  além  da 
reciprocidade, faz­se causa de dispor a favor do outro testador o ter sido instituido por êle. Não é preciso que seja 
feito no mesmo ato,  “sive uno eodemque actu, sive actibus separatis, eo modo conficitur, ut vel ex verbis ipsarum 
expressis,  vel  valde  urgentibus  circumstanciis  appareat,  quod  altera  persona  nou  aliter  de  suis  bonis  ita 
diaposuisset,  quam  si  etiam  altera  de  suis  facultatibus ordinatam  voluntatem, vel  adhuc ordinandam,  immutatam 
reliquerit,  si  altera  ex  post  facto  eam  revocet,  illa  etiam  ah  altera  pro  reco  cata  haberi  debeat”  (E.  C. 
HARPPRECHT, Disputationes, 38, 9). Eram longas e sutis as disputas. 
No direito brasileiro, não se tem o  testamento nuncupativo ou oral, nem a carta de consciência, nem a cláusula 
codicilar. 
Foi proibido o testamento conjuntivo ou de mão comum, feito pelos cônjuges, em que se instituíam herdeiros. Se 
um vinha a testar de modo diferente, ou com revogação do testamento de mão comum, o outro era atingido no que 
concernta ao ato do outro cônjuge. 
A  proibição,  explícita  no  art.  1.630  do  Código  Civil,  não se  estende  aos  atos  dos cônjuges,  que  em  testamentos 
separados e sem a ligação vedada se beneficiam reciprocamente. Ai, a reciprocidade é apenas ocasional, a despeito 
dos  entendimentos  prévios.  Nenhum  deles  ­se  privou  da  liberdade  de  testar.  Se  um  revoga  a  cláusula  de 
liberalidade ao outro, o que o outro dispusera persiste, sem qualquer repercussão do testamento posterior. ~ êrro 
dizer­se, no direito brasileiro, por influência da jurisprudência francesa, que, “se dispôs Lívio a favor de Públio e 
êste em prol daquele únicarnente, a morte do primeiro torna caduco o testamento do soberano”. O que ocorre é que 
ninguém pode herdar se não está vivo à abertura da sucessão. 
Quanto à lei pessoal, o testamento conjuntivo em que testaram cônjuges sujeitos à mesma lei permissiva, ou a duas 
leis  permissivas,  é  cumprível  em  Estado  que o proiba  a  quem está  sujeito  à  sua  lei.  Em  direito  intertemporal,  a 
superveniência  da  proibição  não  atingiria  os  testamentos  conjuntivos  que  foram  feitos  ao  tempo  em  que  eram 
permitidos,  se  com  a  regra  jurídica  vedativa  só  se  cogitou  de  forma.  Mas  o  que  mais  acontece,  nos  sistemas 
jurídicos, é a concepção da regra jurídica de repulsa como regra jurídica concernente ao fundo, e não àforma. E é 
isso o que se dá no sistema jurídico brasileiro, a despeito de estar no Capítulo Das formas ordinárias do testamento 
o art. 1.630 do Código Civil. 
Quando  surgiu  o  Preussisches  Alígemeines  Landrecht  (II,  1,  arts.  486  s.),  os  juristas  portuguêses,  prestos, 
apegaram­se  a  êle,  para  cortar,  cerce,  algumas  questões,  principalmente  quanto  à  revogação.  O  direito  que  se 
acolheu em Portugal e no Brasil foi o seguinte: a> revogabilidade ad nutum do testamento simultâneo, subsistindo
o  outro  que  se  não  revogou  (ÁLvARO  VALASCO,  Consqdtationum  et  Decisionum,  21  s.);  14  no  testamento 
recíproco e no correspectivo, havia de procurar­se o fim da retribuição: revogado um, sem o conhecimento do outro 
testador, tinha­se como revogada a disposição dêsse a favor daquele, mas não no resto (Preussisches Alígemeines 
Landrecht,  II,  1,  art.  486)  ;  não  se  presumia  ânimo  de  revogar  naquele  dos  testadores,  que,  sem  desconstituir  o 
testamento,  apenas  fêz  algumas  alterações  nos  legados  ou  disposições  secuildArias;  porém,  quando  dessas 
alterações resultasse algum prejuízo às vantagens concedidas ao sobrevivo, deviam  nessa parte julgar­se atingido 
(II,  1,  arts. 487  e 488)  ; definitivamente  separados  os  cônjuges,  revogava­se,  ipso  facto,  o  testamento  (II,  1,  art. 
489) ; morto um dos testadores, se o sobrevivo aceitava, era de presumir­se a correspectividade (II, 1, art. 492). 

2.PROIBIÇOES NOUTROS SISTEMAS JURÍDICOS.  O Código Civil francês, art. 968, o revogado Código Civil 
italiano, artigo ‘791, e o de 1942, art. 589, o espanhol, 669, o português anterior, 1.758, e o de 1966, art. 2.181, o 
argentino, 3.618, o chileno, 1.003, o uruguaio, 781, o mexicano, 3.246, e outros, proibiram tais testamentos. Vemo­ 
los no austríaco, no alemão e no venezuelano, de que oportunamente se falará. 
Proibe o Código Civil, no art. 1.630, que se teste conjunta­mente com outrem; isto é, em conjunto espacialmente, 
ou em conjunto temporalmente, ou em conjunto intencionalmente. Onde há reciprocidade e correspectividade, há 
intenção de testar em conjunto. Não é preciso que se dê simultânea’inente a identidade ou continuidade espacial. 
Dois testamentos podem ser em atos diferentes, de datas diferentes, mas recíprocos ou correspectivos. Tudo está na 
maneira  de  testar,  no  intuito das  declarações.  Érro  é  interpretar­se  a  proibição  como  só  vedativa  de  testamentos 
materialmente  de  mão  comum,  testamentos  em  que  A  e  13,  no  mesmo  papel  e  ao  mesmo  tempo,  testam.  Êrro 
também é julgá­lo vedativo de todos os testamentos que se lavrarem no mesmo papel,  talvez na mesma lousa, ou 
no  mesmo  livro  de  tabelião.  É preciso  que  se  aponte  o que  constitui  nocividade, para que  se  tenha  o  v~rdadeiro 
conteúdo do art. 1.630. 
Alguns  escritores  querem  que  o  fundamento  de  se  proibir  seja  o  da  revogabilidade:   se  juntos,  dilacerado,  ou 
destruído  um,  revogar­se­ia  o  testamento  do  outro.  Mas,  tanto  não  é  êsse  o  fundamento,  que  não  valeriam  os 
testamentos conjuntos feitos  no tabelião, atos que ficam  no livro, e cada um, separadamente, sem  inconveniente, 
poderia  revogar.  Não  atribuamos  à  lei razão  ingênua. O  que  ela  afasta  tem  alcance mais  sério.  Nada justificaria 
vedar­se  que,  na  mesma  fôlha  dobrada  de  papel  (uma  pessoa  de  um  lado,  e  outra  de  outro    portanto, 
separadamente)  testassem  dois  casados,  irmãos,  ou  amigos,  suposto  que  nenhum  laço  captatório  ou  de 
contemplação  da  mesma  pessoa  existisse  nesse  dúphce  porém  não  conjunto  testamento.  Cada  um  escreveu  e 
assinou o seu, com as testemunhas do ato. A fortiori,  em se tratando de livro de família, ou canhoto, em que os 
testamentos  sejam  escritos  de um  lado  (inseparável)  e  de outro  lado (separável),para  ser levado ao  “cumpra­se”. 
Nada  impede  que  se  lancem  em  sgguida  um  do  outro,  com  autônomas  formalidades.  A  conjuntividade  seria 
material e de mera continuidade. Digamos, com F. ENDEMANN (Lefirbucli, III, 480), conjuntividade exterior. A 
questão de saber se os atos aproximados (talvez, por circunstâncias especiais, ajustados) constituem ou não espécie 
proibida,  não  pode  deixar  de  ser  quaestio  facti:   podem  ser  testamentos  conjuntivos,  ou,  simplesmente,  dois 
testamentos  individuais.  Mais:  para  que  seja  proibida  a correspectividade,  não  é preciso que  seja  bilateral. Sim, 
mas, na espécie, só o ato que a tem pode ser, nessa disposição, invalidado. Não poderia invalidar o ato limpo de 
outrem.  Se,  porém,  há  ainda  com  o  pressuposto  da  unilateralidade  da  correspectividade    necessidade  de  ato 
material, ou alusão no outro, a invalidade contagia­se. 

3.TESTAMENTOS  ESCAPOS  À  PROIBIÇÃO.    O  Código  Civil  não  proibe:  a) Que,  sem qualquer  combinação 
dos cônjuges, ou dos testadores, não casados, ainda em atos da mesma data, os dois ou mais testadores instituam 
herdeiros  ou  legatários  a  mesma  ou  as  mesmas  pessoas.  Pessoas  que  vão  viajar  podem  querer  que  os  interêsses 
fiquem regulados, intuitu mortis. Nada obsta, por exemplo, a que marido e mulher testem a favor dos filhos, ou de 
alguém, que ambos  sem concêrto ou dependência  queiram beneficiar. 14 Que A, sem qualquer dependência do 
ato de B, que o contemplou no testamento, no seu contemple a 13. ~ preciso que haja reciprocidade intencional:  a 
coincidência  ocasional  não  basta.  No  mesmo  ato,  tem  de  presumir­se  a   intencionalidade.  Fora,  não.  A 
reciprocidade das disposições é fato que ordinàriamente acontece, pela própria ordinariedade do caráter recíproco 
das afeições. Se a retribuição não é fundada no testamento do outro, não há correspectividade:  se A diz “deixo a 
minha fortuna a B, em retribuição do que tem sido para mim a sua amizade, que até se desvela em garantir o meu 
futuro com um seguro sôbre a vida”, o ato que se retribui não é testamento, ou deixa testamentária; a verdadeira 
cawsa   é  a  afeição;  demais,  ex  hypothesi,  a  generosidade  é  de  13,  que  não  teve  o  intuito  de  obter  de  A  o  ato 
testamentário.  Falta,  pois,  a  con.sensuum  correspectivitas,  de  que  fala  F.  C.  HARPPRECHT.  O  juiz  tem  de 
interpretar  os  dois  atos,  com  o  auxilio  das  circunstâncias,  para  verificar  se  foi,  ou  não,  atingida  a  disposição 
proibitiva do art. 1.680. Há corres pectividade e, pois, não vale a deixa  ou a substituição (porque o art. 1.630 incide 
a respeito de todo o direito testamentário> : a) se dizem os testadores que, no caso de um deles revogar, ou mudar, 
em  parte,  o  testamento,  o  seu  ou  a  cláusula  correspectiva  fica  revogada;  14  se  a  mulher,  casada  em  segunda
núpcias,  tem  uma  filha,  e  a  institui  herdeira,  substituindo­lhe  o  filho  do  marido,  para  que  ou  porque  êsse, 
instituindo o  filho,  fêz  a filha  dela  substitui­lo  (G.  A.  STRUVE,  Syn~tagma,  iurisprudentiae  secundum ordinem 
Pandeetarum,  ex.  32,  t.  42)  ;  c)  se  o  testador  disse:  se  meu  irmão  (ou  outrem),  no  seu  testamento,  constituir 
fideicomisso  em  favor  de  meus  filhos,  aqui  fica  disposto  em  favor  dos  seus  (JOA.  DOM.  PEREGRINUS,  De 
Fideicommissis praesertim wniversalibus frcquentissimus, 12a ed., art. 88, n. 30). Mas, se o testador escreve: “temo 
que B, testando, não se lembre de D, que ficaria, por nossa morte, em má situação; por isso, se, morto E, D não 
tiver herdado, será ela minha herdeira (ou legatária) “, não há nenhuma correspectividade, e vale a instituição ou 
legado. 

§ 5.856. TESTAMENTO CONJUNTIVO E SIMULTÂNEO 

4.VERDADEIRO  CONTEÚDO  DA  REGRA  JURÍDICA  VEDATIVA.  A  lei  estabelece  a  unipessoalidade  do 
testamento,  a  completa  independência  da  vontade  do  testador.  Daí  as proibições.  A  simultaneidade  material  e  a 
coincidência  ocasional,  por  isso  mesmo  que  não  violariam  tais  postulados  inclusos  na  própria  definição 
contemporânea de testamento, não poderiam ter a conseqUência de invalidar, por si sós, o ato testamentário. Deve, 
pois,  considerar­se:  a)  a  unipessoalidade  do  testamento;  14  a  Independencia  intencional.  Nem  todo  testamento 
simultâneo é proibido, nem é mister que sejam simultâneos, para que a lei os proiba. Nem precisam ser no mesmo 
ato,  para  que  sejam  recíprocos  ou  correspectivos;  nem,  tão­pouco,  a  reciprocidade  ou  o  aparente  consenso 
correspectivo, de si só, destrói a cédula testamentária. 

5.UNIPESSOALIUADE  DO  TESTAMENTO.    O  testamento  não  é  só  negócio  jurídico  unilateral;   no  direito 
brasileiro, é também unipessoal:  cada vontade, um testamento. Tal a regra geral. Assim: duas pessoas não podem, 
ainda  que  unilateral­mente,  pelo  mesmo  ato  (testamento  público,  cerrado,  particular,  ou  especial),  dispor  com  o 
caráter de última  vontade. (Duas pessoas podem, na mesnu escritura, vender as casas que têm, cada uma a sua.) 
Mas seria êrro dizer­se que é absoluta a unipessoalidade. Pelo contrário, o princípio deve ser entendido em têrmos 
exatos: em combate, nos momentos da morte, podem duas pessoas declarar às mesmas testemunhas que desejam 
sejam seus herdeiros A, B e C ou determinada instituição. Não há, na espécie, exceção à unipessoalidade: foram as 
circunstâncias  que  obrigaram  à  simultaneidade,  evidentemente  extraordinária  e  acidental.  Certo,  a  lei  proibe 
testamentos  simultâneos,  mas  apenas  se  a  simultaneidade  é  um  dos  casos  de  testamento  conjuntivo.  Pode  ser 
simultâneo sem ser em comum. Em caso de perigo, não havendo papel em que o tabelião lavrasse dois testamentos, 
valeria  o  que  fôsse  assinado  por  duas  pessoas,  mesmo  cônjuges,  desde  que  não  haja  o  propósito  geral  da 
coujuntividade (mão comum, como se dizia), nem qualquer dos propósitos especiais de iredprocidade, de corres 
pectividade ou de combinada circunstância de favorecer as mesmas pessoas. Não explicada a excepcional razão de 
serem simultâneos, ofendem os testamentos o princípio da unipessoalidade testamentária. 
Portanto,  são,  por  lei,  nulos  (art.  1.630).  Rigorosamente,  o  requisito  de  ser  unipessoal  inclui­se  na  exigência  da 
pessoalidade dos testamentos. Porque se teme que a conjuntividade, a reciprocidade e a correspectividade atenuem 
ou limitem a função pessoalíssima de testar. Assim como há povos que admitem o contrato sucessório, há também 
os que conhecem a validade dos testamentos de mão comum, recíprocos e correspectivos. Entendem êles que essas 
exceções não ofendem os princípios. 

6.INDEPENDÊNCIA INTENCIONAL.  A principal ratia teqts da regra jurídica vedativa é evitar que algo se tolha 
na livre expressão da vontade, que é essencial ao testamento. Por isso, proibe as disposições recíprocas in praevio 
consensu  mutuo,  e  a  dita  “perigosíssima”  correspectividade  testamentária.  No  zêlo  da  liberdade  testamentária, 
impede, igualmente, a vontade concertada de instituir terceiro. Pelo fato de ser ordinàriamente em ato autônomo, 
independente,  o  testamento,  inclui­se  na  proibição  algo  que  parece  obstar  à  própria  conjuntividade,  espacial  ou 
temporal,  de  ordem  puramente  material  e  incidente.  Já  se  viu  que  isso  criaria,  apenas,  elemento  de  presunção, 
auxiliar,  porém  não  suficiente,  na  interpretação  de  haver  ou  de  não  haver  laço  intencional  recíproco  ou 
correspectivo. Em verdade, o principal, o decisivo, é êsse laço intencional, que passaria a existir e a desnaturar o 
testamento, negócio jurídico unilateral essencialmente revogável, inserindo­lhe o que caracteriza a contratualidade 
e existe in contractibus vel aliis negotios inter vivos. Por isso mesmo: a) pode ser explicada  e, pois, inoperante a 
simultaneidade (a duobus uno actu ordinatum) ; b) a reciprocidade meramente ocasional (aqui, a simultaneidade, 
duo  simul una  carta,  criaria  fortíssima  presunção  de direito)  não poderia  ter o  efeito  invalidante  e  a  razão  já  foi 
apontada:  haveria.  a  ordinariedade  do  laço  recíprocó  nas  afeições,  isto  é,  a  reciprocidade  de  fato,  e  não  de 
consenso; e) o serem os testamentos em diferentes atos, ou em diferentes datas, não exclui a possibilidade de existir 
o laço intencional: assim, se bem que lançados em escritos diferentes (públicos, cerrados, ou particulares), ou, até, 
em  diferentes  tabeliáes,  de  diferentes  lugares,  ou  nações,  os  testamentos  não  deixam  de  ser  recíprocos  ou 
correspectivos,  quando  as  circunstâncias  persuadam  disso(F.C.  HARPPRECRT,  Diss.  de  testamentis
correspectivis, Tiisp. 38, t. 33). 
7.ExTENSÂÇ~  DA  INCIDÊNCIA    A  regra  jurídica  incide  em  todo  o  direito  testamentário:  herança,  legado, 
substituíções,  ~nodus.  Às  vêzes,  só  a  disposição  testamentária  é  recíproca  ou  correspectiva,  e  não  todo  o 
testamento. Há de apurar­se a captação de que fala o art. 1.667, 1, do Código Civil. Se em benefício de terceiro, 
dá­se a condição captatória, que o mesmo artigo proibe, e corresponde à proibição geral do testamento simultâneo. 
No próprio codicilo, pode haver conjuntividade proibida (F. C. HARPPRECHT, disp. 38, t. 29). 
A regra jurídica proibitiva, pressuposto de validade intrínseca para os testamentos regidos, no fundo, pelo direito 
brasileiros, apanha quaisquer formas testamentárias, porque delas independe: o fundamento principal, conforme já 
se viu, é o laço intencional. As considerações que foram feitas a respeito da simultaneidade e da independência de 
intenção expressa, valem para todas as formas testamentárias inclusive para os testamentos especiais. Por isso, não 
invalida,  de si  só, o  ato  testamentarío,  o  fato de  dois  militares,  ou  irmãos ou  cônjuges,  ou parentes,  ou  simpleff 
amigos, ou companheiros estando ambos a morrer, feridos, ou apenas em pleno combate, ou na iminência disso, 
transmitirem,  uno aciu,  a duas  testemunhas  as  vontades  ultimas.  Se  ocorre que o  contemplado  seja  um  só  e  não 
haja  razão  para  se  suspeitar  do  concêrto  volitivo,  valem  os  testamentos  nuncupativos  (art.  1.66a).  Se  um  deles 
convalesce  do  ferimento,  ou  volve  da  guerra,  subsiste  integralmente  o  do  outro.  Em  compensação,  pode  haver 
reciprocidade ou correspectividade proibida entre testamento público feito em terra e outro, por forma especial, em 
alto mar, em plena batalha, ou pelo moribundo ferido em guerra, ou em outra emergência. 

8.PACTOS  ANTENTJPCIAIS  E  REGRA  JURÍDICA  PROiBITIVA  DE  TESTAMENTOS  CONJUNTIVOS 


Surgiu a questão de poderem, ou não, os pactos antenupciai.s constituir exceção à vedação feita pelo art. 1.630 do 
Código Civil. Não, respondeu, em decisão de simplismo tranquilo a Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 1 de 
dezembro de 1916 (1?. de D., 45, 610). Sim, advertiu CLóvís BEVILÂQUA (VII, 85), acrescentando: desde que 
não 
prejudiquem herdeiros necessários, e são revogáveis por testamento (cf. II, 167) . São assaz diferentes as opiniões: 
no  primeiro  caso,  nulas  as  disposições  e  tudo  que  delas  dependa;  no  segundo,  vaiem,  se  não  forem  revogadas. 
Preliminarmente, tem­se de limitar o que é pacto sucessório. Doação não é pacto sucessório, ainda que para depois 
da morte: tais doações valem, conforme o art. 314. Também não é pacto sucessório a doação do bem ao filho pré­ 
matrimonial, com o usufruto vitalício ao outro cônjuge: o usufruto vai até a morte, mas o direito de domínio ficou 
com. o filho, desde o momento da doação. Também um não é pacto sucessório a disposição com termo fixado na 
morte, que se ajuste à propriedade resolúvel, reconhecida pelo Código Civil, arts. 647 e 648, instituto do direito 
das  coisas,  e  não  do  direito  das  sucessões,  ainda  que  nêle  se  observe  a  coincidência  de  ser  a  morte  o  têrmo. 
(Alguns juristas teimam em não ler e em não aplicar os arts. 647 e 648.) Também não é pacto sucessório o em que 
a  noiva  ou  outrem  deu  em  dote,  passando  es  bens  aos  filhos  ou  ao  dotador  (art.  283).  Os  bens  futuros  éque 
constituiriam pacto sucessório, só por isso, se a respeito deles se pactasse para o caso de morte. A exceção é só a 
favor do dote, mas, nesse, hão de ser adquiridos a título gratuito (art. 280, parágrafo único). Contudo, vejam­se os 
artigos 1.402 e 1.404. Aliás, quase todos os pactos antenupciais em que a reversão é à mulher, ou seus herdeiros, 
deve ser considerado dote. Portanto, valem. 
Devemos  evitar  as  decretações  de  nulidade,  a  torto  e  a  direito,  com  que  se  rasgam,  desceremoniosamente, 
escrituras  que  a  lei  permitiu  a  favor  do  matrimônio,  como  os  pactos  ante­nupciais.  Não  menos  perigosa  é  a 
decretação da nulidade parcial, que tem a grave conseqúência de riscar uma, duas ou mais disposições, a pretexto 
de se tratar de pacto sucessório, mas deixa válido o resto, que1  na maioria dos casos  dependeu, no ajuste, daquele 
pormenor. Demos o exemplo: “São comuns os prédios, ora pertencentes à mulher, de ns. 1, 2, 3, à rua E, e comum 
o prédio 4 da rua A, ora pertencente ao marido, mas, se êste premorrer, reverterá a propriedade a favor da mãe dele, 
para o seu sustento. Os cônjuges  não venderão, por isso, o prédio 4, em que moram”. Ê a doa~áo, com o têrmo 
“morte do doador”: a propriedade comum é resolúvel. Podia ser feito em contrato de doação, reservado o usufruto, 
ou,  se  quisessem,  com  a  dependência  do  têrmo  (doação  para  depois  da  morte).  Não  se  compreenderia  que  não 
pudesse ser feito em pacto nupcial, que tem maior franquia. Finalmente: se há pacto sucessório, proIbido pela lei 
(art.  1.089),  feito  em  escrita  antenupcial,  cabe  àinterpretação  verificar.  Porque,  se  faz  parte  de  um  todo,  com  a 
secundariedade da passagem por morte, ou se compõe figura do direito das coisas ou de doação para o tempo da 
morte, ou se apenas atenua o regime de bens, não é contrato de herança. Se os pactos, que têm por objeto quotas 
futuras,  na  ordinariedade  dos  casos  são  dissimulados  contratos  de  herança,  não  assim  os  que  recaem  em 
determinado  bem,  que  o  proprietário,  no  momento,  pode  doar,  vender,  trocar  resolúvelmente.  (O  prazo  do  art. 
1.141  só  se  refere  à  retrovenda:  de  modo  que,  nos  contratos  gratuitos,  nada  obsta  à  cláusula  de  reversão  ou de 
resolução por morte.) Não se trataria, em tais espécies, de pacta corvina, disposições sobre a herança de outrem, 
nem de pacto sobre a própria sucessão, que fizesse perigar a liberdade de testar. Para que haja pacto sucessório, é 
de mister: a) que se funde na expectativa de sucessão ainda não aberta; b) que seja contrato sôbre bens de outrem, 
presentes ou futuros, ou, se de um dos cônjuges, futuros ou existentes ao tempo da morte (Os bens presentes podem
ser  elemento  para  se  compor  a  figura  de  direito  real,    propriedade  resolúvel,  usufruto,  constituição  de  renda.) 
Quanto à revogabilidade ou irrevogabilidade do que constitui matéria sucessória proibida, a solução da Côrte de 
Apelação foi mais segura que a de CLÓVIS BEVILÁQUA: se é mão, não precisa ser revogado,  não vale. 
Admitida  a  revogabilidade,  interviriam  questões  sutis  de  eleito  da  revogação  das  disposições  recíprocas  ou 
correspectivas, assunto estranho ao Código Civil. A cláusula de ter o cônjuge do donatário o usufruto se o outro 
premorrer sem  filhos  (doação  implícita de usufruto  ao cônjuge  sobrevivente,  como o  conceituava  CHR.  LYON­ 
CAEN, ou instituição contratual de usufruto pelo dotado ao seu cônjuge, como preferiu F. GÉNY), tida por pacto 
sucessório proibido, nas convenções antenupciais, por injusta jurisprudência francesa (Cassação, de julho de 1901; 
Câmaras  Reunidas,  2  de  julho  de  1903,  Orléans,  30  de  abril  de  1904),  não  se  confunde  com  a  constituição  de 
usufruto a da entrega do bem e até a morte do outro cônjuge (doação de usufruto), desde que a propriedade fique ao 
doador ou a pessoa certa (e.g., o cônjuge,  se doação de terceiro). A construção da propriedade resolúvel exige  a 
transmissão do domínio, porém não é incompatível com os próprios móveis. A doação com olá asula de reversão 
não é o caso único. O que é preciso, para que não incida na sanção proibitiva, é que a figura de direito das coisas se 
componha.  Aparecem,  aqui  e  ali,  declarações  de  nulidade,  sem  meditação,  quanto  a  cláusulas,  doações,  pactos, 
contratos,  por  parecerem  substituições.  Como  se  as  substituições  fôssem,  no  direito  das  obrigações,  proibidas,  e 
como  se  o  direito  das  coisas  não  as  reconhecesse:  ésse,  na  propriedade  resolúvel  (arta.  647, 648);  aqueles    por 
exemplo  quando se trata de estipulação a favor de terceiro:  o estipulante pode reservar­se o direito de substituir o 
terceiro; ainda mais: a lei brasileira expressamente lhe concede fazê­lo por atos entre vivos, ou por disposição de 
última vontade. Vamos aos casos concretos: no pacto antenupcial ou não nupcial, A dá a B a propriedade resolúvel 
ou o usufruto do bem b, estipulando que B alimente a mãe de A (obrigação pessoal ou constituição real de renda) 
até a morte de A, ou que lhe pague o valor do bem no dia em que A morre, reservando­lhe o direito de substituir 
alguém a mãe, se ela premorre a A. Não se trata de contrato de herança (cf. KONRAD HELLWIG, fie Vetrâge auf 
Leistung au Dritte, 623 5.; L. SCHIFFNER, Der Erbvertrag nach dem RGB., 95, nota 27) 

9.TESTAMENTO CONJUNTIVO E DIREITO AUSTRÍACO.  Em princípio, cada testamento contém a vontade 
de um testador. Para cada vontade, um testamento (Código Civil austríaco, § 583; JOSEPH UNGER, System, VI, 
97).  Porém  dois  cônjuges  podiam  testar  num  só  ato  (testamenta  simultanea),  contemplando­se  um  ao  outro 
(wechsetseitiges Testament, testamcntum reciprocum s. mutuum), ou outra pessoa (testamentum mere simultaneum) 
. Trata­se de instituição de direito conjugal (§§ 1.217 e 1.248). Portanto, supõe o casamento  (§ 1.265). Feito por 
outras pessoas, nenhum valor podia ter (§§ 583 e 601; cf. Lei austríaca de 31 de julho de 1938). Mas, se muitas 
declarações  de  últimas  vontades  forem  tomadas,  no  mesmo  protocolo,  êsse  defeito  de  forma  não  pode  afetar  a 
validade  dos  diversos  testamentos  (JOsEPE  UNGER,  Syst  em,  VI,  98,  nota  4)  O  testamento  conjuntivo  é  um 
testamento, quanto à forma, feito por dois (§§ 583 e 1.248), podendo cada um escrever a sua parte, subscrevendo 
os  dois  (§  578;  cf.  Lei  austríaca  de  31  de  julho  de  1938),  ou  entregando  ao  juiz  ou  ao  notário  os  respectivos 
escritos, ou por declaração em comum a êles, perante as mesmas testemunhas (JOSEPE UNOER, System, VI, 99, 
nota 5; cp. Faz. ALOYS VON ZEILIni, Commentar jiber das aUgemeine biirgerliche Gesetzbuch, III, 603; JOH. 
Ona.  VON  HASSE, Rh­einisches Museum flir Jurisprudeuz, 239, mas também O. HARTMANN, Zur Lehre vou 
deu  Erbvertrdgen,  88,  94  e  106).  Em  todo  o  caso,  é  de  estranhar  que  se  desse  demasiada  importância  à 
simultaneidade e conjuntividade material. Nada poderia obstar à dupla solenidade, em dois testamentos. Claro que 
o contexto deve decidir (Faz. X. 3. E. VON NIPEEL, Erlíiuterung des Aligemeineu Riirgerlichen Gesetzbuch, IV, 
121  5.;   M.  VON  STUBENRAUCH,  Das  Alígemeine  Elirgerliche  Gesetzbuch,  II,  842;  JOSEPH  ELLINGER, 
Ilandbuch, ao § 588; contra JOSEPH UNGER, S7,’stem, VI, 99, nota 5). A regra é que os testamentos conjuntivos 
são livremente revogáveis  (§ 1.248), ainda que se trate de testamento recíproco, se, nesse,  não se  declarou outra 
coisa (o que se não reputa captação, GXJSTAV HARTMANN, Zur Lehre vou deu Erbvertrdgeu, 128 s., JOSEPE 
UNGER, Syst em, VI, 108, nota 7). Na dúvida, tem­se o testamento como não correspectivo. A revogação por um 
não  implica  a  revogaçúo  pelo  outro,  solução  esta  (§  1.248)  contra  a  doutrina  do  direito  comum  (A.  ERINZ, 
Lehrbnch der Pqndekten, 768, 764) . Estende­se a instituição, fideicomissos e substituições comuns. 
Todo o direito testamentário dos §§ 566­569, 573, 574 e577­601 foi atingido pela Lei austríaca de 81 de julho de 
1938. 
A respeito do testamento conjuntivo ou comum, há o art. 28,que diz: “1. Um testamento comum não pode ser feito 
senão pelos cônjuges. 2. Para fazer um testamento comum, segundo o art. 21, basta que um dos cônjuges faça o 
testamento na forma que aí se estabelece, e que o outro assine, pessoalmente, a declaração comum. O cônjuge que 
assina deve indicar qual o momento (dia, mês e ano) e qual o lugar em que o assinara. 3. Testamento comum pode 
também ser feito conforme os arts. 23 e 24, mesmo se as hipóteses que aí são previstas só sejam observadas por um 
dos  cônjuges”.  O  art.  21  é  o  que  regula  a  forma  do  testamento  manuscrito.  O  art.  23  é  sôbre  o  testamento 
emergencial  perante  o  mere.  O  art.  24,  sôbre  o  testamento  emergencial  nos  casos  especiais  (lugar  isolado,  em
consequência de circunstâncias extraordinárias, perigo de morte próxima). 
10.TESTAMENTO CONJUNTIVO E DIREITO INGLÊS.  Se em direito inglês ocorreu que duas ou mais pessoas 
testaram ou escreveram codicilo, juntamente (isto é, no mesmo ato, joint testameut or codicil), ou separadamente, 
mas  em  têrmos  idênticos,  cada  uma  das  pessoas  pode,  em  qualquer  tempo,  revogar,  no  todo,  ou  em  parte,  o 
testamento separado (Ilobson versus Blackburn, 1822; Estate of Heys, 1914) . Mas, se uma das partes morre e a 
outra ou as outras são beneficiadas pelo testamento do premorto, o patrimônio (estates) deles responde no caso de 
modificação aos seus testamentos, pelo acôrdo primitivo (to cary md the original arrangement). Cf. Dufour versus 
Pereira;  Walpole  versus  Orford,  1797;  Stone  versus  Hoskins,  1905.  Quando  morre  um  dos  que  testaram  tem  o 
probate a parte do ato que há de surtir efeitos na ocasião de tal morte (Goods <4 Piazzi­Smith, 1898) 

11.TESTAMENTO  CONJUNTIVO  E  DIREITO  ALEMÁO.  O  Código  Civil  alemão  contém  proibição  da 
conjuntividade e exceção a favor dos cônjuges (§ 2.265) . A proibição permite, no Código Civil alemão, algumas 
soluções de doutrina e de prática, que vieram pôr à prova os princípios, e a nu o fundamento da proibição. .~Que é 
gemeinschaftliches Testament?  Respondido, passou­se às questões: a) se a simples continuidade  cada testador no 
seu pedaço do papel, com a própria escrita, data e assinatura  é atingida pela regra jurídica de proibição; b>  se, uma 
vez que  se  teste, pela  entrega  de  escrito  (testamento  público), podem os  testadores  entregar o  mesmo  e  cada um 
dizer que “este escrito contém a minha vontade última”. Respondendo às questões, há os que aconselham que não 
no faziam, porque, no momento em que os testadores entregam e fazem a declaração, é como se só entregassem e 
só possuissem pelo meio (E. ENnEMANN, Lehrbuch des Biirgerlichen Rechts, III, 480 s.). Mas não é bem seguro 
isso: porque se dois dizem, nenhum disse só até o meio a sua vontade; ambos, de per si, disseram. Os protocolos é 
que  são,  ou,  melhor,  devem  ser  dois.  A  combinação  deles  não  livraria  de  nulidade  o  ato  testamentá.  rio.  No 
gemeinschaftliches  Testament,  não  há  aceitação  de  disposições  (CARL  CROME,  Svstem,  V,  119).  Se  houvesse, 
tratar­se­ia de contrato de herança, e não de testamento comum. O Código Civil alemão faz a unicidade de forma  
elemento essencial do testamento conjuntivo. Assim, se um dos cônjuges não pode  por ser menor, por exemplo, ou 
não poder ler  usar de uma forma, o outro não pode, igualmente, servir­se dela. Há exceção: se um dos cônjuges se 
acha  em  perigo  de  vida.  O  §  2.266  não  é  só  exceção  ao  princípio,  é  por  igual  aplicação  dele:  pode  fazer­se  o 
testamento comum segundo o § 2.249, se o pressuposto. no § 2.249 só se verifica do lado de um dos cônjuges. Não 
passa  o  testamento  a  ser  feito  necessariamente  pelos  dois,  na  forma  excepcional;  pode  empregar­se  a  forma 
ordinária.  Deve  ler­se  o  §  2.266  como  se  contivesse  um  também  (anciz).  Se  para  ambos  há  as  circunstâncias 
extraordinárias,  pode  ser  leito  o testamento  comum,  segundo  as  formas  dos §§ 2.250  e 2.251.  Quer dizer: só  no 
caso dos §§ 2.266 e 2.249, que supõe perigo de morte, é que se pode recorrer à forma extraordinária, ainda que só 
um dos cônjuges  satisfaça  o  requisito pessoal  da iminência  de  morrer. Em se  tratando de  lugar, que  moléstia  ou 
outra circunstância extraordinária insultou, ou de longa travessia por mar, ambos devem satisfazer os pressupostos 
legais  (E.  ENDEMANN,  Lehrbuch,  III,  484).  A  simultaneidade  e  mesmidade  do  ato,  que  é  indispensável  Ilo 
Código  Civil  alemão,  não  é,  contudo,  atingida  pela  escolha  do  diferente  uso  da  mesma  espécie  de  forma 
testamentária. Assim, a mulher pode preferir a entrega de escrito (minuta) ao juiz, e o homem, a declaração oral, ou 
vice­versa.  Também  é  possível  cada  cônjuge  apresentar  o  seu  escrito,  óu  ambos  prestarem  declarações  orais 
(CARL  CROME,  Sijst  em,  V,  121).  Mas    se  um  dos  cônjuges  não  sabe  ler?  Evidentemente,  o  outro  não  pode 
preferir a entrega de escrito, diz CARL CROME (System, 121, nota 21), o que não nos parece tão evidente assim, 
pois  que  o  protocolo  lh.e  teria  de  ser  lido,  §  2.242.  Antes  de  CARL  CROME,  também  entendia  assim  E. 
STROHAL (Das deutsohe Erbrecht, 1, 821, nota 10). Se um dos cônjuges é mudo ou proibido de falar, entendem 
H.  JASTROW  (F.ormula’rbuch,  1,  189,  190)  e  E.  RITGEN  (Biirgerliche  Gesetzbuch,  V,  491)  que  só  se  pode 
admitir a e”trega de escrito. Mas E. STROHAL advertiu (Das deutsch’z Erbrecht, 1. 321, nota 8): a conjuntividade 
do ato testamentário já foi observada na escolha  da espécie de forma,  a pública, especial ou notarial, não sendo 
necessária  à  unidade  de  forma  da  declaração.  Com  razão  bastante,  porque  não  milita  a  favor  da  similaridade 
obrigatória o argumento de CARL CROME, relativo aos que não sabem ler. Outra questão delicada: o menor e o 
que não sabe ler somente podem testar pela forma pública, fazendo oralmente as suas declarações (§ 2.238, alínea 
23) e o mudo só o poderia pela entrega de um escrito (§ 2.243) ; se um cônjuge é mudo e o outro analfabeto ou 
menor, .~.como poderiam usar do testamento conjuntivo? II. JASTROW (Formularbueh,, 1, 190, nota 2, 4 b) e E. 
RITGEN (Bilrgerliclte Gesetzbuch, V, 491) foram terminantes: tais cônjuges  estão exeluídos da possibilidade de 
testar em comum. Constitui conseqilência da unidade do ato deverem estar presentes, durante êle, no testamento 
público,  ambos os  cônjuges  (F.  RITGEN,  Biirgertiche  Gesetzbuch,  V,  493) .  Quanto  ao testamento  com  juntivo 
hológrafo, possui o Código Civil alemão disposição  especial: para testar,  basta  que um dos cônjuges  faça,  nessa 
forma  escrita,  o  testamento,  e  o  outro  acrescente  que  o  testatmento  deve  também  ser  considerado  como  seu, 
declaração necessàriamente escrita e assinada de próprio punho do declarante, com indicação do dia e do lugar (§ 
2.267). Aí, a lei; agora, a doutrina. Não basta datar, dizer o lugar e assinar (E. ENDEMÂNN, Lehrbuch, III, 486) ;
é de mister a deelaraçâo. Qualquer deles, homem ou mulher, pode escrever. Se o testamento do primeiro cônjuge é 
tido por nulo, nulo é para os dois figurantes; mas, se o defeito de forma só se referir a uma disposição que nada tem 
com o que o outro diz, não pode contagiar a sua parte válida e a da outro. A declaração de concordância pode ser 
assaz  simples:  “de  acôrdo”  (cf.  E.  RITGEN,  Búrgeriicites  Geseizbuch,  V,  494).  Discutiu­se  se  a  data  e  o  lugar, 
apostos pelo  segundo  cônjuge,  podem  ser diferentes  dos que  escreveu  o primeiro  cônjuge.  Não, responderam  II. 
JASTROW (Forrniilarbuch, 1, 191) e E. HôLDER (Das eigenhãndige Testament, ..Jherings Jahrbiicher, 41, 324). 
Mas  o opinião  dominante  foi  no sentido da  possibilidade da diferença  (F.  lÚmEN,  Elírgerlicites  Gesetzbuch,  V, 
494;  E.  STROIIAL,  Das deutsche  Krbreoht,  1,  322,  nota 13)  .  Mais  ainda:  pode  ser  a  mesma,  ou,  se  diferente, 
posterior;  anterior  não  pode  ser  (GUsTAV  MXEKER,  fie  Nachlassbehandlung,  92;  WALTHER  BROCK,  Das 
eigenhdndige Testament, 91) . E. STRoEAL chamou a atenção para o conceito de imitas actus (1, 322, nota 13) e 
procurou distinguir zmicidade (E’inheitiichkeit) e canjuntividade do ato testamentário, essa, e não aquela, essencial 
ao testamento conjuntivo. A priori, tinha razão, mas, verdade é, e tivemos ensejo de vê­lo, que os comentadores do 
Código  Civil  alemão,  inclusive  E.  STRoHAL.  principalmente  a  respeito  do  testamento  comum  perante  oficial 
público, partiram,  nos  casos  concretos, do princípio da untczdade, e não da conjuntividade do  ato  testamentário. 
Cientificamente,  êsse  é  o  princípio  verdadeiro,  e  a  exatidão  conceptuaL  é  assaz  útil  assim  em  país,  como  a 
Alemanha, que permite tais testamentos, como em países, que o não conhecem, ou, expressa mente, como o Brasil, 
o  proibem.  WILHELM  MANTEY  (Mússen  die  Daten,  die  holographisch  gemeinsam  testierende  Gatten  zufolge 
Gesetzes beiderseit  zu schreiben  haben, identisch sem?, Das Recht,  V, 430) discutiu a questão da identidade das 
datas,  a  propósito  da  mudança  de­  opinião  de  GEREÂRD  EICHHORN  (Das  Testament,  3?  ed.,  131;  Die 
Nachtheile  des  eigenhãfldi  geu  Testaments,  Zeitschrift  des  Deutsciten  Notarvereins,  11,  248),  o  que  mostra  a 
incerteza provocada pela imprecisão da. regra jurídica inserta. ~ essencial que a declaração ou o outro ato seja um 
só com o outro, pela continuidade material das fô lhas. Se as circunstâncias extraordinárias dos §§ 2.250 e 2.251 se 
verificam para ambos os cônjuges, pode ser feito segundo aquelas regras jurídicas o testamento conjuntivo. Se um 
não pode empregar a forma excepcional, o testamento conjuntivo não pode ser feito: é a conseqUência da inserção 
do principia da unicidade, que se pôs, em vez do outro, que devia valer. Já se disse que o Código Civil alemão só o 
admite aos cônjuges, por necessidade dos costumes (Protokolle, V, 457) . Basta que seja junto, em forma e fundo; 
não  é  preciso  que  seja  recíproco,  nem  que  sôbre  a  sucessão  de  sobrevivo  existam  disposições  (H.PEISER, 
Handbucit  des  lestamentsrecitts,  382).  Se  o  fizeram  juntos,  contemplando  terceiro,  é  testamento  conjuntivo  O 
testamento  conjuntivo  pressupõe  casamento.  Mais:  a  vigência  dele.  A  exceção  é  como  homenagem  legal  ao 
instituto  do  matrimônio.  Os  noivos  não  podem  dele  usar;  têm  de  lançar  mão  do  contrato  de  esponsais  ou  do 
ccmtrato de herança (§§ 2.275, alínea 3?, e 2.276, alínea 2.~). Se noivos o fazem e depois se casam, nem por isso 
ganha validade: nulo foi, nulo fita (E. S’PROIIAL, Das deutsche Erbrecht, 1, 320, nota 5) . No caso do § 2.077, o 
testamento conjuntivo é sem qualquer efeito; mas, se o casamento se dissolve pelo divórcio e advém morte de um 
dos cônjuges, ou se se verifica a espécie da segunda parte da alínea la do § 2.077 (direito de pedir o divórcio por 
culpa do outro cônjuge, e pedido de divórcio ou cessação da sociedade conjugal), valem as disposições, se se há de 
considerar· que foram concebidas para tal caso (§ 2.268). Dissolvido pelo divórcio o casamento, as novas núpcias 
não  restauram  o  testamento  conjuntivo  (M.  E.  ECCIUS,  7iheorie  u’nd  Praxis,  IV,,  §  257,  nota  48;  GEORG 
FROMMHOLD,  Erbrecht  des  R.G.R.,  nota  1.  ao  §  2.268)  .  Dá­se  o  mesmo  quanto  ao  restabelecimento  da 
sociedade conjugal, e isso a despeito do que se estatui no § 1.587: 
a  restauração  dêsse  §  1.587  somente  concerne  ao  futuro  (E.  lÚmEN,  Riirgeriiehes  Gesetzbuúh,  V,  495).  Cp.  F. 
ENDEMANN (Lehrbuch, III, 487) . Pode parecer estranho que, no caso acima citado, da 2a parte da alínea 1~a do § 
2.077,  se  considerem válidas  as  disposições  relativas  às  dissoluções  do casamento  por divórcio  ou da  sociedade 
conjugal. O que podia propor e propôs é o sobrevivo, e nesse caso é justo que o outro, pela morte, não se livre da 
validade das cláusulas. Se o culpado é o sobrevivo, as disposições valem, e a lei estabelece que o cônjuge culpado 
fique  na impossibilidade  jurídica  de  invocar  ineficácia  do  testamento  (F.  ENDEMANN,  Lehrbuch, III,  487;  cp. 
EDUARD GOLDMANN, Das gemeirischaftlwhe Testament unter besonderer Beriichsichtiguflfl des soa. Bertiner 
Testaments, 5 5.; II. DERNBURG, Das bitrgerliche Recht, § 91, nota 2; E. RITGEN. Ritrgerliches Gesetzbuch, V, 
495).  Outra  questão  é  a  de  se  saber  se  a  dissolução  do  casamento  revoga  todo  o  testamento  (Preussisches 
aligemeines Landrecht, 1, 12, § 489), ou somente as disposições correspectivas. O § 2.268, alínea  1a, parece dar a 
primeira  solução, mas a  2a  alínea  se  filia  a  outro  critério  da distinção  entre  o  que  é  correspectivo  e o que  não  é 
correspectivo  (LUDwIG  UWENWÂLD,  Das  gemeinschaftlichen  Testainent  im  R013.,  91  s.).  Seria  assaz  duro 
aplicar­se, friamente, a  alínea 1~a Fôra dar à simultaneidade o efeito de impor o caráter de recíproco e correspectivo 
ao  que  não  no  tem.  Mas  a  opinião  foi  no  sentido  contrário  (F.  ENDEMANN,  Lehrbtwh,  III.  487),  o  que  é  de 
lamentar­se. Cumpre notar­se que a alínea  2a  não se refere  à dissolução da sociedade conjugal pela i2ulidade do 
casamento:  aqui,  não  caberia  qualquer  distinção  entre  disposições  correspectivas,  ainda  as  de  que  fala  a  própria 
alínea,  e  não­correspectivas,  porque  falta  todo  o  pressuposto  lega!,  que  é  o  próprio  casamento  (II.  PEISER,
flandbuch  des  Testamentsrechts,  333).  No  caso  de  um  cônjuge  se  recusar,  por  ter  sido  declarado  morto,  sem 
fundamento, o outro, prevalece a alínea 2.S: é como se tivesse havido divórcio (H. PEISER, Handbudz, 334). 
Passemos ao § 2.269, alínea La, que é de grande valor prático. Diz êle: “Se os cônjuges, em testamento comum, 
pelo  qual  rec’iprocamente  se  instituem  herdeiros,  determinaram  que,  após  a  morte  do  sobrevivo,  a  sucessão  de 
ambos se devolva a terceiro, é de entender­se, na dúvida, que o terceiro é instituído para toda sucessão na qualidade 
de  herdeiro  (ais  Erbe)  do  cônjuge  falecido  por  último”.  Primeira  advertência:  a  regra  jurídica  é  para  o  caso  de 
dúvida.  Antes  do  Código  Civil;  discordava  a  doutrina:  a)  ora  se  decidia  que,  se  morria  um  dos  cônjuges  que 
instituíram o terceiro, o sobrevivo ficava como fiducidrio da herança do premorto e do seu próprio patrimônio; b) 
ora se resolvia pela separabilidade das disposições: cada cônjuge dispunha de seu patrimônio; vinha em primeiro 
lugar  o  cônjuge;  substituindo­o,  em  caso  de  premorrer  êsse,  o  terceiro  instituído;  em  segundo  lugar,  se  não 
premorresse o cônjuge instituído, como fideicomissário o terceiro que o sobrevivo instituiu; o) ora se entendia que 
cada  um  instituía  o outro para o caso de  premorrer,  e  o  terceiro,  se  sobrevivesse  ao  outro  cônjuge:  portanto,  no 
primeiro caso, a sucessão do terceiro não se realizaria, se bem que (precisa solução, que se volta sôbre si mesma) a 
correspectividade  obrigasse  o  sobrevivente  a  instituir  o  terceiro.  Três  construções,  bem  diferentes,  sustentadas 
respectivamente,  por  II.  DERNBURG  (Lehrbuch  des  preussisciteu  privatrechis,  III,  nota  5),  M.  E.  ECCIUS 
(Titeorie und Praxis, IV, § 257) e LUuWIG LOWENWALD (Das gemeinschaftliúhen Testameni, 71 e 72, nota 5), 
pelos autores citados em LuDWIG SC1{IFFNER (Der Erbvertrag, 89, nota 15) e pela jurisprudênQia dos últimos 
tempos. A primeira teve muitos partidários, enumerados em Ii. DERNEURO (Lehrbuch, § 183, nota 3). À mesma 
conseqúêflcia  que  a  última,  por  estradas  menos  tortuosas,  chegou  o  Código  Civil  alemão  (Motive,  V,  388;  
Protokolle, V, 406, 407) . Na dúvida, o terceiro recolhe toda a herança na qualidade de herdeiro do último falecido. 
Por isso mesmo: a) o terceiro não pode transmitir por sucessão ou ceder antes da morte do segundo cônjuge, salvo 
o  o  caso  especial  do  §  2.069,  e  a  data  também  decide  de  quem  deve  ser  o  herdeiro,  se  a  designação  não  foi 
individual;  b)  o  terceiro  sómente  recolhe  o  que  existe  no  momento  em  que  f  alece  o  cônjuge  sobrevivente:  não 
poderia  reclamar  indenização  pela  diminuição  ou  perda  do patrimônio;  o)  se  são  muitos  os  instituidos,  faz­se  a 
partilha  per  capita,  salvo  intenção  expressa,  em  sentido  contrário,  pelos  testadores;  d)  se  o  terceiro  também  é 
herdeiro necessário do premorrente, reclama a sua parte, sem que isso importe a renúncia da eventual sucessão do 
segundo  cônjuge  (cf.  §§  2.306,  alínea  l.¶  e  1.946)  .  Mas  os  testadores  podem  prever  tal  caso  de  renúncia  pela 
reclamação  da  legítima.  O  que  acima  se  disse  também  é  de  invocar­se  quanto  aos  legados:  antes  da  morte  do 
segundo cônjuge, nenhum direito têm os legatários. Tal o que diz a 2·a alínea, para o caso de dúvida. É de notar­se 
que tal testamento tem, por fôrça, caráter correspectivo, em virtude do § 2.270, alínea  2a, oue faz correspectivo o 
recíproco  (F.  ENDEMANN,  Lehrbuch,  III,  491)  .  Trata­se  de  regra  jurídica  de  interpretaçdo.  Portanto,  onde 
outros elementos de interpretação haja, não deve ser invocada (FRTEDRICHS, Zum § 2.296 des BGB, Das Reeht, 
1,7,  258)  :  ou  resultem  das  palavras  do  testamento,  ou,  por  exemplo,  da  impossibilidade  de  se  ajustar  a  regra 
jurídica aos direitos concedidos ao terceiro. Por outro lado, releva notar que se considera terceiro o filho comum, 
mas  F.  ENDEMANN  (Lehrbuch,  III,  491)  insinuou  o  caso  da  premorte  do  marido,  querendo  criar  solução 
dissimétrica, que é de lamentar­Se. A interpretação, além do interêsse prôpriamente jurídico­construtivo, tem o que 
deriva  da  aplicação  das  leis de impostos.  Aliás,  como ocorre  no  Brasil  nas  classificações  de  verbas  de  usufruto, 
inalienabilidade, substituições vulgares e fideicomisso. 

12.TESTAMENTO BERLINENSE.  Chama­se testamento berlinense (Rerliner Testament) o que constitui, com a 
praxe prussiana, a forma fundamental do testamento conjuntivo: 
“Nós,  cônjuges,  nos  instituimos  herdeiros  um  ao outro;  nossas  filhas,  bem  como  seus descendentes,  herdarão de 
nós  o  que  da  herança  restar  por  morte  do  sobrevivo”.  Segundo  a  praxe,  constituía­se  como  Vorerbe,  herdeiro 
instituído,  o  viúvo,  e  sucessor,  Nacherbe,  a  filha  ou  filhas.  O  testamento  do  §  2.269,  alínea  13,  toma  o  acervo 
hereditário como unidade, e costuma­se chamar testamento conjuntivo alemão. Ainda boje cumpre que se atendam 
as  características  e  efeitos  do  Berliner  Testanzent,  porque  certo  regionalismo  empregava,  caprichosamente,  a 
expressão Berliner. No testamento alemão puro, o sobrevivo éo único herdeiro do que resta ao tempo da sua morte. 
Sôbre 
o Rerliner Testament, cf. F. ENDEMANN (Lekrbuck, III, 49. 493), GÉZA 1(íss (Zur juristischen Xonstruktion der 
korrespektiven  Verfúngungen  im  gemeinschaftlichen  Testament,  Archiv  flir  Ehirgerliches  Redil,  25,  180), 
HEINnCH MERSMANN (Die praktische Verwendbarkeit des Berliner Testaments, Archiv lar RUrgerliches Recht, 
37, 271 s.) e KANOLDT (Pflichtteilsanspruch, Are/ti» flir Riirgerliches Redil, 40, 262 s.). A questão do testamento 
berlinense  continuou  a  interessar  juristas  e  notários,    considerando­o  HEINRICH  MERSMANN  (Die  praktische 
Verwendbarkeit  des  ll3erliner  Testaments,  Archi»  fiir  Elirgerliches  Recht,  37,  272)  assunto  que  toca  o  cerne  da 
família  alemã.  Tem­se  o  §  2.269  como  criador  de  presunção  de  unidade,  contra  a  concepção  germânica  do 
casamento,  e  das  relações  dos  cônjuges  entre  si  e  com  os  filhos.  (O  testamento  conjuntivo  evolveu  com  a 
comunhão de bens.)
13.EFICÁCIA  DAS  DISPOSIÇÕES  CORRESPECTIVAS  E  DAS  NÃO  ­CORRESPECTIVAS  NO  DIREITO 
ALEMÃO. Diz o Código Civil alemão, § 2.270, alínea 1a, que, tendo os cônjuges, em testamento conjuntivo, feito 
disposições pelas quais se há de admitir que a disposição de um deles não seria feita sem a do outro, a nulidade e a 
revogação  de  uma  têm  por  consequência  a  ineficácia  da  outra.  Portanto,  o  princípio  não  é  o  da  nulidade  e 
revogação compulsóriamente simétrica. Importa, pois, dizer­se que o testamento é livremente revogável, só em si, 
sem  conseqilência  em  dispositivos  do outro  testamento.  Assunto de  grande  importância:  a  correspectividade  não 
obriga  à  duplicidade,  de  modo  que  pode  ser  unilateral,  se  sómente  um  cônjuge  a  fêz  correspectiva  (assim, 
KONRAD  COSACK,  Lehrbuch,  II,  728;  E.STROHAL,  Das  deulse/te  Erbrecht,  §  43,  a,  nota  9).  Se  há 
correspectividade no testamento conjuntivo, a situação muda: 
a) a ineficácia da disposição correspondente é consequência da nulidade ou da revogação das disposições (§ 2.270, 
alínea ia);  b) não se indaga se o outro quis, ou não, tal efeito (H. PEISER, Handbuch des Testamentsreehts, 337) : 
resulta da correspectividade que a nulidade ou revoga çêo de uma disposição se contagia à outra. Mas só quanto à 
instituição,  aos  legados  e  aos  modos  (§  2.270,  alínea  33).  Outras  disposições  podem,  a  despeito  da 
correspectividade, furtar­se às consequências de contágio ou da invalidação simétrica. 
Se há disposição correspectiva, ou se não há, di­lo a interpreta ção. Na dúvida, cumpre optar pela sua existência: a) 
se houve recíproca instituição; b) se, para o caso de premorte do outro, o cônjuge chama à sua sucessão parentes do 
outro  (II.  PEISER,  Handbuch  des  Testamentsreehts,  336).  O  Direito  comum  reconhecia  todos  os  testamentos 
conjuntivos ­O Preussisches Alígemeines Landrecht, restringiu­os aos côn juges. O 1 Projeto, § 1.913, excluia­o; 
mas a pressão da opiniáo~ dos jurisconsultos, o respeito e o favor do matrimônio levaram a II Comissão a admiti­ 
lo. No Código Civil alemão prevaleceu o privilégio dos cônjuges e a conjuntividade nas formas e no fundo, porém 
dando­se àquela rigor e limite que lhe conferem o caráter de unicidade do ato. No testamento conjunto, as dispo­ 
sições  se bem que ligadas pela forma e pelo fundo  não deixam de ser unilaterais e independentes:  não se cria a 
bilateralidade, que  é um propor   e um aceitar,  um  estipular   e um anuzr.  Sutil  a  distinção,  mas  de extraordinária 
importância. Os efeitos são bem diversos; as próprias exigências de forma e de capacidade são diferentes. 
Quanto  à  revogação  no  testamento  conjuntivo  no  direito  alemão,  há  no  Código  Civil  alemão  o  §  2.271:  a)  Se  a 
disposição tem aqueles laço de dependência que se referiu (§ 2.270, alínea l.~), durante a vida dos cônjuges revoga­ 
se  pelo  modo  por  que  se  revogam  os  contratos  de  herança,  (§  2.296)  :  um  cônjuge  não  pode  unilateralmente 
revogá­la, por outro testamento. Portanto: a revogabilidade pode ser por testamento conjuntivo, ou por contrato de 
herança. Se foi dada, na cédula, a faculdade de revogação, então não é correspectiva a dispo. sição. b) Com a morte 
de um dos cônjuges, cessa a revogabilidade. Mas, ainda assim, o sobrevivente pode renunciar a liberalidade que se 
lhe fêz, revogando a sua disposição, ou, até, depois de aceitá­la recorrer aos §§ 2.294 e 2.336, casos de indignidade 
e  exclusão  do  beneficiado  (§  2.271,  alínea  2.a).  o)  Se  o  descendente  de  um  dos  cônjuges,  ou  de  ambos,  é 
beneficiado,  cabe  aplicar­se  por  analogia  o  §  2.289,  alínea  2,a,  que  dá  ao  disponente,  se  o  beneficiado  é  seu 
descendente, exercer, por declaração posterior, a pretensão à medida do § 2.338. 
Depositado o testamento, só os dois cônjuges podem pedir a retirada (§ 2.272). Portanto, morto um deles, não pode 
mais ser pedida (RONRA» COSACK, Leh.rbuch, II, 728; E. RITOEN, lihirgerliches Gesetzbuch, V, 510). Se foi 
dissolvido  o  casamento,  ou  se  o  ato  testamentário  ficou  sem  objeto,  a  não  ser  no  caso  de  não  validade  do 
casamento, porque então é nenhum, melhor solução é a da negatividade da retirada. 
No  caso  de  ter­se  de  abrir  o  testamento  comum,  as  disposições  do  sobrevivente,  separáveis  das  do  outro,  não 
devem  ser  publicadas,  nem,  por  qualquer  modo,  dadas  a  conhecer.  Fechar­se­á  o  testamento  e  guardar­se­á  no 
depósito oficial 1.NÚMERO LIMITADO.  Diz o Código Civil, art. 1.631: 
“Não  se  admitem  outros  testamentos  especiais,  além  dos  contemplados  neste  Código  (arts.  1.656  a  1.668)”.  O 
Código  Civil  somente  conhece  dois  testamentos especiais  digamos  extra.ordinários  o  testamento  marítimo  e o 
testamento militar, subdividido êsse em testamento perante o comandante ou, no caso do § 3·O do art. 1.660, pelo 
oficial imediatamente inferior, que substituiria na escrita o testador impedido, e em testainento nuncupativo, com 
duas testemunhas (art. 1.663). 
2.INTERPRETAÇÃO DA REGRA JURÍDICA LIMITATIVA.  São conseqúências do art. 1.631 do Código Civil: 
a) No território brasileiro, ou onde se reconheça ao Brasil extraterritorialidade, só as duas espécies existem: a forma 
tem de ser as dos arts. 1.656­1.663, e as marítimas nos navios brasileiros. b) Passa a constituir questão de direito 
internacional  privado  o  reconhecimento,  ou  não,  dos  testamentos  especiais  em  outras  circunstâncias 
extraordinárias,  assunto que exige trato àparte, porque se põem em jôgo a lex loci, a lei pessoal e, quiçá, a lez .1 
ori.  e)  Dentro  do  direito  brasileiro,  não  é  possível  invocar­se  o  principio  de  analogia,  para  se  criarem  outros 
testamentos especiais: seria contrário ao art. 1.631 o raciocínio analógico. Porém essa questão é diferente de outras 
que têm de ser levantadas a propósito do art. 1.663. Pergunta­se: jos militares referidos nos arts. 1.660­1.663 são 
apenas os do exército? ~,Os marinheiros, empenhados em combate, ou feridos (possivelmente, descidos a terra), 
ficam excluídos da forma nuncupativa?” 
O  Decreto­lei  n.  32,  de  18  de  novembro  de  1966,  art.  42,  atribuição  ao  Comandante  da  aeronave  a  função  de 
registar nos documentos de bordo os nascimentos e óbitos ocorridos a bordo, porém não a de lavrar testamento.
§ 5.858. Contrato de herança 

1.REGRA JURÍDICA VEDATIVA.  O Código Civil, artigo 1.089, é explícito: “Não pode ser objeto de contrato a 
herança  de  pessoa  viva”.  Entende­se  de  um  dos  figurantes,  ou  de  outrem  cuja  sucessão  ainda  não  se  abriu.  Há 
povos que reconhecem o contrato da herança, figura ao mesmo tempo contratual e de direito sucessório, porém foi 
GusTAv HARTMANN quem tentou frisar dever­se ter o Erbvertrag como testamento contratual irrevogável. No 
Código Civil alemão, prevaleceu, ao que pensou KONRAD HELLWIG (Die Vertrage au)’ Leistzmg an Dritte. 591 
e  599),  tal  concepção,  se  bem  o  negassem  LuDwIa  SCHIFFNER  (Der  Erbvertrag  nach  dem  BGB.,  61  s.)  e 
GEORO FROMMHOLD  (Das Erbrecht, 246). Em todo o caso, ainda entre os que não admitem a concepção de 
GUSTAV HARTMANN, muitos reconhecem que se não trata de simples contrato. Para ser mais testamento do que 
contrato, falta­lhe a liberdade, elemento essencial: nêle, vige a irrevogabilidade; portanto, ocontrário do livre dispor 
(Ii. DERNEURO, Das Rutrgerliche Recht, V, 271). No testamento, a lei é o altruísmo; no contrato de herança, o 
egoísmo. Está aqueles para a morte, como a troca  para a vida. Se é certo que não exige o conteúdo pecuniário, nem 
por isso deixa de supor prestação e contraprestação. Como contrato, a proposta não pode ser condicionada: 
perfaz­se  integralmente  no  momento  (daí,  os  §~  145­163  do  Código  Civil  alemão  não  serem  invocados). 
Pretendeu­se  caracterizá­lo  como  negócio  jurídico  abstrato  e  gratuito.  LAbstrato, por  quê?  li.  DERNEURG  (V, 
272) atribuiu tal adjetivo à moda, reinante no comêço do século, de catar relações jurídicas abstratas, transformada 
em  abstratomania.  Quanto  à  gratuidade,  nem  tem  razão  os  que  o  afirmam,  nem  II.  DERNBURO  (V,  272)  :  as 
disposições é que podem ser bilaterais, ou não, onerosas ou gratuitas, o que transforma o contrato numa colcha de 
retalhos. Finalmente: no Código Civil alemao, o contrato de herança construiu­se como contrato, se bem que, para 
ficar  no domínio do  direito das obrigações, pudesse  construir­se como declaração unilateral de  vontade. Não no 
fêz o Código Civil. Mais ainda: tornou a forma o principal da conclusão dele, fazendo contrato, sem lhe exigir o 
laço  de  aceitação.  Donde  a  singularidade  da  figura  jurídica:  contratual,  bilateral,  com  efeitos  de  cada  lado  (E. 
ENDEMANN, Lehrbuch, III, 629) 

2.CONTRATO  DE  HERANÇA  E  REGRA  JURÍDICA  VEDATIVA  DO  DIREITO  BRASILEIRO.    É  usual,  na 
doutrina brasileira, dizer­se que não se tem o contrato de herança porque o proibe o artigo 1.089 do Código Civil, 
regra jurídica que aparece no Direito das Obrigações. Por amor da precisão técnica, ponhamos nos devidos têrmos 
a  questão:  se  assim  fôra,  nada  significaria  o  §  312 do  Código  Civil  alemão  que diz  a  mesma  coisa:  “O contrato 
sôbre a herança de um terceiro ainda vivo é nulo”. Se o Brasil não tem o contrato de herança, cujo objeto sejam os 
próprios bens presentes e futuros do contratante, é porque somente reconhece, no direito de sucessões, uma espécie 
de disposições mortis causa:  o testamento, que depende de formalismo especial e é, por definição, revogável ad 
nutum. 
Não é ocioso insistir  nisso, porquanto se tem pretendido, com a só invocação do art. 1.089, invalidar, aqui e ali, 
inconsideradamente,  tudo  quanto  se  refira  à  suspensão  ou  resolubilidade  no  momento  da  morte.  Vejamos  Os 
antecedentes mais 
parecidos  com  o  Código  Civil  brasileiro.  Dizia  o  revogado  Código  Civil  português,  art.  2.042:  “Ninguém  pode, 
nem  sequer por contrato antenupcial, renunciar à  sucessão de pessoa viva, ou alienar, ou obrigar os direitos, que 
eventualmente possa ter à sua herança”. Contém tal regra jurídica o melhor comentário ao texto do Brasil: tratando­ 
se  de  sucessão  de  outrem,  ainda  não  aberta,  ninguém  pode,  ainda  em  pacto  antenupcial,  renunciar,  alienar  ou 
obrigar  os  direitos  que  possa  ter.  Não  cabe  distinguir  da  sucessão  necessária  a  legítima,  ou  a  testamentária.  No 
Código  Civil  português  de  1966,  art. 2.181,  estatui­se:  “Não  podem  testar  no  mesmo  ato  duas  ou mais  pessoas, 
quer em proveito recíproco, quer em favor de terceiro”. 
Os princípios que vão limitar a disponibilidade dos próprios bens, presentes ou futuros, e criar duas séries de atos 
proibidos  e  não  proIbidos    não  podem  ser  baseados  no  Código  Civil  brasileiro,  art.  1.089.  Mas  derivam  da 
revogabilidade  inderrogável  dos  testamentos,  e  tão­somente  disso.  Portanto,  se  o  ato  jurídico  unilateral  ou  não 
pode compor figura do direito das coisas ou do direito das obrigações, sem ser mútéria especifica de testamento, 
não pode deixar de ser reconhecido. Recai sôbre patrimônio do contraente e fôra absurdo, se  não  dissimula  laço 
contratual  ou  irrevogabilidade  unilateralmente  querida,  substitutiva  do  testamento  em  assunto  que  somente  êle 
poderia reger, riscar, por nulo, o que a pessoa quis e constituiu. No Código Civil argentino, art. 1.175, a redação 
também só se refere à herança de outrem: “No puede ser objeto de un contrato la herencia futura, aunque se celebre 
con el consentimiento de la persona de cuya sucesión se trate; ni los derechos hereditarios eventuales sobre objetos 
particulares”. 

8.CONTRATO DE HERANÇA NO DIREITO ALEMÃO.  No direito alemão, tratou­se do assunto do direito das 
sucessões, porém com o nome revelador, Erbvertrag (§§ 2.274­2.302), e com extraordinária minúci  a e precisão
técnica.  Só  pessoalmente  se  pode  dispor  pelo  contrato  de  herança  (§  2.274).  Se  bem  que  permitido  a  qualquer 
pessoa (Protolcoile, V, 872), quase só se usa entre noivos ou entre casados. As disposições mortis causa  podem ser 
de ambos, ou de um só dos figurantes, onerosas ou gratuitas, recíprocas ou a favor de terceiro. Não se considera 
contrato de herança, no sentido do Código Civil alemão: a) o que recai sôbre a herança não aberta de outrem (§ 
812), porque êsse é nulo; b) a disposição pela qual um ou ambos os figurantes se obrigam a fazer, a não fazer, a 
revogar,  ou  a  não  revogar  disposição  ‘nurtis  causa  (§  2.802),  porque  também  énula;  c)  a  renúncia  da  herança, 
conforme o § 2.846, que o Código Civil alemão permite  em vida do decujo  aos parentes e cônjuge dêsse, ainda 
quanto  às  legítimas;  d)  o  contrato  pelo  qual  um  dos  figurantes  promete  ao  outro  efetuar,  após  a  morte  dêsse, 
determinada prestação a terceiro, porque não há, aí, contrato de herança, mas contrato ou estipulação a favor de 
terceiro, válido na Alemanha como no Brasil. Cp. Código Civil alemão, § 380, 23 parte, e Código Civil brasileiro, 
arts.  1.098­1.100  (RONRAD  I{ELLwIG,  Die  Vertrãge  auf  Leistung  au  Dritte,  623  s.;  LUDWIG  SCHIFFNE.R, 
Der Erbvertrag nack dem RGR., 95). O conteúdo pode ser instituição de herdeiro, legado ou modus (§ 1.941, 13 
alínea;  §  2.278, 23  alínea).  Domina  plena  liberdade:  aceitação  de parte  a  parte, ou  não;  ser contrato bilateral  ou 
unilateral: recíproco ou a favor de terceiro. O princípio é que o disponente  isto é, aqueles cuja sucessão é objeto de 
contrato    não  pode  fazê­lo  por  intermédio  de  outrem  (§  2.274).  Alguns  atos  exigem  a  mesma  personalidade  de 
feitura  (§§  2.282,  2.284,  2.290  e  2.296).  Mas  o  figurante,  que  não  dispõe,  pode  fazer­se  representar,  poú 
mandatário, ou pelo representante legal e nada obsta a que a outra parte ou aceitante seja pessoa jurídica (GUSTAV 
MÀRKER, Die Nachta.ssbeIzandlung, 199; H. JA5TROW, Formularbuch, II, 309). Se os figurantes contraentes 
forem muitos, e um só o disponente, juridicamente há tantos contratos quantos forem êles, mas o ato é um só (cp. 
LunwíG  SCrnFFNER,  Der  Erbvertrag  nach  dem  RGB.,  48  e  62).  Dá­se  o  mesmo  se  a  multiplicidade  fôr  de 
disponentes.  O  incapaz  de  negócio  ou  de  exercício  não  pode  fazer  contrato  de  herança  (§  2.275).  Se  falta  a 
capacidade, é nulo o contrato: a aprovação ulterior ou ratificação pela própria parte, tomada capaz, não apagaria o 
vício original (Motive, V, 846; E. STROHAL, Das deutsche Erbrecht, 851). Mas há exceção (§ 2.275, alínea 23) : 
“Um  cônjuge  pode,  como  disponente  concluir,  com  o  outro,  contrato  de  herança,  ainda  quando  limitada  a  sua 
capacidade de negócio. Precisa, nesse caso, do consentimento do seu representante legal; em sendo êsse tutor, é de 
exigir­se a aprovação pelo juízo de tutela”. A alínea 83 estatul que a mesma 23 alínea  incida quanto aos noivos. 
Originou­se da II Comissão, atendendo à freqúência de tais contratos. Entende­se que a qualidade de casado ou de 
noivos  não  se  exige  ao  contemplado,  porque  a  lei  não  pressupõe  gratificação  recíproca  (11.  JASTROW, 
Formularbuch, 1, 192, nota 8) . No caso de representante tutor, se o juízo de tutela não homologa, é nulo o contrato 
(F. ENIEMANN, Lehrbuch, III, 687) . Se o contrato só institui herdeiro para o caso da morte de um cônjuge, só a 
êsse  é  exigida  a  capacidade:  o  outro  pode  ser  menor­e  não  estar  representado  (E.  ENDEMANN,  Lehrbuch,  III, 
638).  Só  se  faz  perante  o  juiz,  ou  o  notário,  com  a  presença  simultânea  das  duas  partes  (§  2.276)  .  Mas  o  que 
apenas é figurante, sem dispor, pode representar­se. Pode ser por declarações orais (protocolo) ou pela entrega de 
escrito, com o testamento judicial (§§ 2.288­2.245). São regras jurídicas comuns aos dois institutos. Se unilateral, 
um declara ou’ entrega o escrito, e outro apenas anui: a referência do § 2.276 aos §§ 2.288 e 2.241, ~, é inexata (F. 
ENDEMANN,  Lehrbuch, III, 688). Mas, se bilateral,  não: cada um declara o que quer, ou entrega o seu escrito, 
quiçá cada um escolhe a forma que lhe convém (LUDWTG SCHIFFNER, Der Erbvertrag nach dem BGB., 116 s.), 
mas  havia  quem  não  distinguisse,  e  permitisse  a  simples  anuência,  ainda  que  bilateral  (E.  STROHAL,  Das 
deutsch,e  Erbrecht, 853;  F.  RITGEN, Ruirgerli,ches  Gesetzbuch,  V,  519)  e  excluissem,  sem  razão,  a  forma oral 
para um e a escrita para o outro (GUSTAV MXRKER. Die Naehlassbehandlung, 201; GEORG FROMMHoLD, 
Erbrecht, nota 1 ao § 2.275). Se, no caso do § 2.275, alínea 2·a ou 83, tem de intervir representante, a presença dele 
não éobrigatória: só o é para os figurantes (HEINRICH WTLKE, Erbrecht, nota 1 ao § 2.275), outra opinião, a de 
E.  MEXSCHEIDER  (Die  letzwilligen  Ver  fiigungen,  203).  Do  §  2.276  tira­se  que  as  formas  dos  testamentos 
hológrafos, maritimos, militares ou de lugares insulados, não servem ao contrato de herança. Os escritos entregues 
podem ser dois ou um só. Mas a entrega de 
escrito não se pode admitir, se o contrato de herança é incluso em contrato de casamento (§ 1.434), em contrato de 
adoção (§ 1.750, alínea 23), ou no chamado contrato de renúncia de herança (§ 2.348), porque prima a forma de 
cada  um  dêsses  (E.  JAsmow,  Formularbnch,  1, 195,  nota  8  a,  196,  nota  9).  Se  todas  as  partes  não  entendem  o 
alemão, pode ser feito em língua estrangeira, desde que todos os intervenientes a  saibam (§ 2.245). Mas, se uma 
parte  sabe  alemão,  chamar­se­á  intérprete  a  quem  não  sabe,  conforme  o  §  2.244  (J.  HOEM,  Das  Erbrecht  des 
BGB.,  226;  E.  JASTROW,  Formularbueh  um!  Notariatsrecht,  1,  185;  contra:  LUDwIG  SCHIFFNER,  Der 
Erbvertrog nach dem BGB., 117). Se o contrato de herança está em comum com outro contrato, também não incide 
o § 2.245 (ato em língua estrangeira), porque o § 2.245 é especial e o seu processo inaplicável a atos entre vivos (E. 
RITGEN,  liuirgerliches  Gesetzbuclz,  V,  521).  O  ato  há  de  ser  fechado,  como  a  propósito  dos  testamentos  (§ 
2.246),  subscrito  e  depositado,  salvo  se  os  figurantes  não  no  quiserem,  entendendo­se  que  o  não  querem  se  o 
coxitrato de herança está  em comum com outro ato  (§ 2.277) . Cada um dos figurantes terá o seu certificado de
depósito. A retirada do depósito, só os dois figurantes podem pedir (Motive, V, 319). Não importa revogação (o 
que  sucederia  ao  testamento),  porque  o  depósito  é  voluntário  (Motive,  V,  341;  Protolcolie,  V,  409).  O  que  se 
permite aos figurantes é que não se feche e deposite:  
a lei  não lhe  faculta querer uma coisa, e  não outra (E. JASTROW, Pormularbuch und Notariatirecht, 1, 197; F. 
RITGEN,  Bitrgrlicites  Gesetzbuch,  V,  522;  cp.  GEORG  FROMMHOLD,  ErbrecLt,  nota  1  ao  §  2.277)  .  No 
contrato de herança, cada um dos dois figurantes pode dispor; mas, contratualmente, as disposições somente podem 
ser instituição de herdeiros, de legado, ou de modo (§ 2.278). Se ambos dispõem, presumem­se­lhes dependentes, 
uma da outra, as disposições inseridas (§ 2.298). Mas, se um só dispõe, discute­se se há contrato de herança  ou 
disposição  “ mortis  causa”.  Tem  importância  a  questão,  pela  possibilidade,  no  último  caso,  de  revogação.  Pela 
primeira  solução,  o  1  Projeto;  a  II  Comissão  suprimiu,  sem  excluir  a  possibilidade,  mas  sim  para  deixar  livre  a 
interpretação (Prato kolle, V, 402, 458) A função interpretativa é livre; todavia, em geral, se há interêsse do outro 
figurante em jôgo, ou, se estipulada a favor de  outrem a disposição de um dos figurantes, toca a êsse a revogação, 
pelo interêsse que tem na cláusula, e isso pesa na interpretação (cp. LunwíG SCHIFFNER, Der Erbvertrag nach 
dem RUE?., 75, e KONRAD HELLWIC, Die Vertràg auf Leistung  tua Dritte, 616) .  Se o figurante do contrato, 
que tem de intervir na revogação, é incapaz, faz­se preciso que figure e consinta o representante lega!, bem assim 
(E.  ENDEMANN,  Lehrbuch,  III,  £45)  para  revogar  (o  §  107  não  é  invocável)  .  Talvez,  se  sob  tutela,  o  juízo 
especial (§ 2.290, alínea 33, 13 parte) . A revogação pode ser parcial ou total. Tratando­se de legado ou eneargo, 
basta  testamento,  com  o  consentimento    que  é  irrevogável    do  outro  figurante  (§  2.291).  Tudo  que  o  contrato 
contém  e  não  é  instituição  de  herdeiro,  legado  ou  encargo,  não  se  considera  contratual;  portanto,  tem­se  por 
perfeitamente  revogável.  Corresponde  ao  §  2.270,  alínea  33,  relativo  ao  testamento  conjuntivo.  Exemplos:  a 
nomeação  de  testamenteiro,  as  normas  para  partilha  da  sucessão  legítima,  a  exclusão  de  herdeiro,  tudo  que 
concerne a direito de família. 
~aplicável o  § 140 do Código Civil alemão, sôbre se  converter  negócio jurídico, quando é de presumir­se que o 
disponente  o  queria  na  forma  válida  se  conhecesse  a  nulidade.  Sim,  acentuou  F.  RITGEN  (Rúrgerliches 
Gesetzbuch, V, 525). Porém não tem a conseqúência de firmar, como queria KONRAD HELLWIG (Die Vertràge 
auf  Leistung  an  Dritte,  603),  a  teoria  de  GUSTAV  HARTMANN.  KONRAD  EELLWIG  (602)  e  RONRAD 
CoSACK  (Lehrbuch  des deutschen  Rúrgerlicheu  Rechts,  II,  724  s.)  sustentavam  a  conversibilidade  em  cláusula 
testamentária,  como  derivada,  diretamente,  do  caráter  paratestamentário  do  contrato  de  herança:  a  teoria  de 
GUSTAV EARTMANN, na plenitude da sua aplicação. 
Quanto  às  liberalidades  e  aos  encargos  convencionais,  incidem,  por  analogia,  as  regras  jurídicas  relativas  às 
liberalidades e encargos de última vontade (§ 2.279). E o § 2.077, de que já se falou, também rege o contrato de 
herança  entre  cônjuges,  ou entre noivos,  ainda  quando o beneficiado  seja  terceiro  (§  2.279,  alínea  23).  Cumpre, 
porém,  notar­se  que  se  trata  de  aplicação  analógica,  que  lhe  não  tira  o  caráter  contratual  (F.  ENDEMANN, 
Lehrbuch des deutschen  Rúrgerlichen  Reohts,  III,  628). Se  o  testador  revoga  o  testamento,  com que  revogara  o 
legado, vale êsse (E’. RITCEN, BitrgerlichE3S Gesetzlntch, ¾543). Se é certo que se não aplicam os §§ 145­158 e 
305­319,  não  se  pode  dizer  o  mesmo  dos  §§  155  e  157  (E’.  RITGEN,  BiirgeYlich~BS  Gesetzbtwh,  V,  525). 
Quanto à alínea 2.8,  cumpre advertir­se que os ~§ 2.077 e 2.279 não são juvocaveis com a extensão do § 2.268, 
relativo  ao  testamento  nuncupativo.  Se,  no  contrato  de  herança,  os  cônjuges,  que  se  instituiram  reciprocamefite 
herdeiros, dispuseram que, em caso de morte do sobrevivente, a sucessão se devolveria a terceiro, ou instituiram 
legado executável em tal tempo, dá­se aplicação analógica do ~ 2.269 (cf. § 2.280). 
Pode ser anulado, por pedido do disponente, o contrato de herança, se feito por êrro, ou rebns aio atantibus, ou nos 
mais  casos  do  §§  2.078  e  2.079.  Mas,  para  a  anulação  com  fundamento  no  §  2.079,  é  preciso  que  o  herdeiro 
necessário exista na época em que se quer pedir anulação (§ 2.281, alínea l.~j. Se o disponeilte, após a morte do 
outro contraeflte, quer anular disposição a favor de terceiro, deve declará­lo ao juízo de sucessão, que o comunicará 
ao terceiro (§ 2.281, alínea 2.~). São causast invocáveis os defeitos de vontade, as mudanças de circunstâncias e a 
violação das legítimas. O direito de anulação pelo testador é personalissimo. Exceto no caso do § 2.282, ~linea 2.8 
não pode ser exercido por intermédio de outrem, nem se transmite aos herdeiros. Após a morte do testador, só as 
pessoas mencionadas no § 2.080 podem pedir anulação do contrato, com fundamento nos §§ 2.078, 2.279 e 2.285 
(F. RITGEN, Bitrg crU­cites Gesetzbu.ch, V, 529) . O credor do disponente não tem qualquer direito de anulação 
(LUDWIG SCRTEFNER, Der Erbvertrag nach clern 5GB., 151, nota 12). ~ interessante notar­se. que, no caso 
de dolo, não é preciso que o outro figurante conhecesse ou devesse conhecer o dolo do terceiro, para que se possa 
pedir a anulação (E. RITOEM, Búrqerliches Gesetzbuoh, V, 528) ;. o § 123, alínea 2.8, não se aplica ao contrato 
de  herança.  O  pedido  de  anulação  não  pode  ser  feito  pelo  representante  do  dísponente.  No  caso  de  capacidade 
restrita,  não  precisa  do  consentimento  do  representante  legal  para  o  pedido.  Se  o  disponente  é  incapaz,  o 
representante legal pode pedir a decretação da nulidade, com aprovação do juízo de tutela. O pedido de anu­lação 
deve ser feito por ato judicial ou notarial (§ 2.282). Por parte do disponente, o prazo para o pedido é de um ano. No 
caso de anulablidade por ameaças, começa a correr do momento em que cessa a coação; nos outros casos, do dia 
em  que  se  conheceu a  causa  de  anulação.  Aplicam­se  por  analogia  as  disposições  dos §§  203  e 206,  relativas  à
prescrição (§ 2.288, alíneas 1.~ e 2a1 No caso do § 2.282, alínea 2.8, se o representante legal não pediu em tempo a 
invalidação, pode pedi­la, pessoalmente, o disponente, como se não tivesse tido representante legal (alínea 8.~) ­ 
Trata­se de prazo preclusivo. Conta­se segundo os §§ 187, alínea lA e 188, alinea 2?. Se o dísponente apenas tem 
capacidade  limitada  e  poderia  anular  sem  representante  legal,  corre  contra  êle  o  prazo.  O  §  2.283  somente 
éinvocável para a anulação pedida pelo disponeflte pelas outras partes, o prazo preclusivo é o dos §§ 121 e 124; 
para as pessoas do § 2.080, o do § 2.082 (E. RITCEN, Búr.qerlichús Gesetzbueh, V, 530) . Mas essas pessoas do § 
2.080 não podem, com fundamento nos §§ 2.018 e 2.079, pedir a anulação, se já extinto o prazo para o disponente 
(§ 2.285) : se ainda vigora, é outro prazo que lhes corre (Motive, V, 325) 
Só  o  disponente,  pessoalmente,  pode  ratificar  o  contrato  de  herança  anulável.  No  caso  de  capacidade  restrita, 
exclui­se  a  ratificação  (§  2.284)  .  O  §  144  é  aplicável  (Protokolle,  1,  886)  .  Após  a  ratificação,  é  inatacável  o 
contrato de herança, mas  a ratificação pode ser atacada. Quanto  ao caso do § 2.275, alínea 2.8, a opinião é pela 
irratificabilidade (LUDWIO SCHIF~ NER, Der Erbvertttig nach dem SOB., 156, contra I­IEINRICH WILKE, 
Erbrecht, nota 2 ao § 2.275). 
O contrato de herança não restringe ao dísponente o direito de dispor dos seus bens por ato jurídico entre vivos (§ 
2.286). I’~ão era assim antes do Preussisclies Alígemeifles Landrecht, 1, 12, § 624, e do Código Civil saxônico. Os 
§§ 2.287 e 2.288 prevêem casos de abuso do direito: no caso de doação lesiva do herdeiro contratual, pode êsse, ao 
se  lhe  devolver  a  herança,  exigir  a  restituição,  segundo  as  regras  jurídicas  do  enriquecimento  injustificado,  ação 
que  prescreve  em  três  anos  a  partir  da  abertura  da  sucessão  (§  2.287).  Se  o  disponente  destruiu,  desviou  ou 
prejudicou o objeto de legado convencional, impossibilitando a prestação, o objeto será substituído pelo seu valor 
(§  2.288,  alínea  1?).  Se  o  testador  alienou  ou  gravou  o  objeto,  com  intenção  de  lesar,  o  herdeiro  é  obrigado  a 
buscar­lhe  o  objeto  ou  a  desonerá­lo,  aplicando­se,  por  analogia,  o  §  2.170,  alínea  2.8,  a  tal  obrigação.  Se  a 
alienação  ou  gravaçflo  foi  feita  a  título  de  doação,  o  beneficiado  tem,  se  não  pode  obter  a  indenização  pelo 
herdeiro,  o  direito  do  §  2.287  contra  o  donatário  (§  2.288,  alínea  2.~).  fl  preciso  notar­se  que  o  §  2.288  não  é 
simples  regra  jurídica  de  interpretação  (F.  RITGEN,  Riirgerliches  Gesetzbuck,  540).  Após  a  morte  do  outro 
figurante, pode, por testamento, em virtude do § 2.297, suscitar a resolução do contrato de herança. O contrato de 
herança, bem como qualquer disposição contratual particular, pode ser atingido por outro contrato, em que figurem 
as  pessoas  que  concluíram  aqueles.  Mas  isso  não  pode  dar­se  após  a  morte  de  uma  delas.  Tal  contrato  só 
pessoalmente  pode  ser  feito  pelo  que  dispôs  da  sua  sucessão.  No  caso  de  capacidade  restrita,  não  precisa  do 
consentimento do representante legal. Se a outra parte se acha sob tutela, é de mister a homologação do tribunal. 
Dá­se o mesmo se sob o pátrio poder, quer se trate de contrato passado entre cônjuges ou entre noivos (§ 2.290, 
alíneas 1a.. 3ª) A forma é a do contrato de herança (§ 2.290, alínea 43). 
a forma do contrato imposta à resoluçâo: por isso, se o contrato de herança se fêz em contrato de casamento, entAo 
basta a forma dêsse. O contratê de herança feito entre cônjuges pode ser desfeito por testamento conjuntivo deles, 
aplicáveis,  por  analogia,  as  disposições  do  §  2.290,  alínea  3·a  (§  2.292).  No  §  2.298,  o  Código  Civil  aiem&o 
conferiu ao disponente a faculdade de resolução do contrato de herança, se se reservou tal direito na convenção (§ 
2.298>. Pergunta­se se não se choca tal dispositivo com o caráter obrigatório do contrato de herança, mas há, aí, 
evidentemente, o influxo do testamento. Não se trata de condíçãoo resolutiva, aliás admissível. Não precisa figurar 
no  contrato, pode  ser  em  suplementar.  Nio  se  confunde  com  a  reserva  de dispor diferentemente,  em declarações 
posteriores.  Também  é  possível  resolver­se  a  disposição  contratual  nos  casos  em  que  o  beneficiado  perderia  a 
reserva, se é herdeiro com direito a ela, ou se o fOsse (§ 2.294, cf. §§ 2.383­2.385) 
A doutrina adverte: é preciso que a causa seja posterior ao contrato de herança; se anterior, não cabe a distinção de 
ter  sido,  ou  não,  conhecida  do  disponente  (F.  RTTGEN,  Rurgertiches  Gesetzbuoh,  V,  548;  LUDwIG 
SCHIFFNELI,  Der  Erbvertrag  nack  dem  BGR.,  178).  Se  era  desconhecida,  pode  ser  usada  a  ação  de  anulação 
fundada nos §§ 2.281 e 2.078, alínea 2·a Se a disposição correspondia à obrigação contraída, perante o disponente, 
pelo  beneficiado,  de  prestações  periódicas,  ou  de  sustento  daquele,  pode  ser  resolvida  se,  antes  da  morte  do 
disponente,  fôr  anulada  a  obrigação  (§  2.295).  A  resolução  só  se  exerce  pessoalmente;  para  ela,  o  que  tem 
capacidade restrita não precisa do consentimento do representante legal: opera­se por declaração ao outro figurante 
e faz­se judicial ou notarial­mente (§ 2.296). Pode fazer­se por testamento, aplicáveis, no caso do § 2.294, as regras 
jurídicas do § 2.386, alíneas 2A~4.a. (§ 2.297). Mas, revogado o testamento, revive o contrato de herança. Se, no 
mesmo  contrato,  disposiçôes  contratuais  forem  concluídas  pelos  dois  figurantes,  a  invalidade  de  uma  tem  como 
conseqfiência  a  ineficácia  de  todo  e  contrato  (§  2.298,  alínea  l·~)  Trata­se  de  regra  jurídica  de  interpretação: 
presume­se, legalmente, a dependência e correspectividade das disposições. Não se confundam invalidades como 
advento  de  eondiçôes,  têrmos,  repúdios,  morte do beneficiado (LUDwIG SÇHIFFNn,  Der  Erbvertrag nãoh dem 
RGR., 188). Também não aplica ao que é disposição unilateral, se bem que o § 2.298 fale em “ineficácia de todo o 
contrato”. Se, em contrato da alínea lA do § 2.298, se reservou a resolução, feita para um, tem o efeito de destruir 
todo  o  contrato,  O  direito  de  resolução  extingue­se  com  a  morte  do  outro  contraente.  Mas  o  sobrevivente,  se 
renuncia ao benefício, pode resolver, por testamento, a sua disposição (§ 2.298, alinea 2.~)· Cada contratante pode, 
no contrato de herança, dispor tudo que poderia em testamento. Será como se um testamento fôra. Pode desfazer as
disposições, em contrário do que acontece quanto às disposições contratuais. Se por outro conttrato, ou pelo uso do 
direito de resoluçio, se tira eficácia a contrato de herança, a disposiçâo perde­a no que ngo se tenha de admitir que 
outra  era  a  vontade  do  disponente  (§  2.299).  Os  §§  2.259­2,263  e  2.278  aplicam­se  à  abertura  do  contrato  de 
herança, mas as regras jurídicas do § 2.273, partes 23 e ga, só no caso de dep6sito (§ 2.800) 

4.CONTRATO flE HERANÇA NO DIREITO suíço.  O COUtrato de herança só se faz na forma do testamento 
público  (Código  Civil  suíço,  art. 512,  alínea  1?):  aos  figurantes  declaram  a  vontade,  simultâneamente,  ao oficial 
público;  assinam  o  ato  perante  êle,  na  presença  de  duas  testemunhas  (alínea  2.~).  A  teoria  de  GUSTAV 
HARTMANN  não  prevaleceu;  mas,  se  bem que  não  se  trate  de  negócio  duplo  (Doppelgesúhdft),  de  um  lado  é 
regido pelas regras jurídicas sôbre contratos (Código Suíço das Obrigações de 1911, art. 1 s.), e de outro, pelas das 
disposições  de  última  vontade:  negócio  jurídico  bilateral  para  o  tempo  da  morte  (A.  ESCHER,  Das  Erbrecht, 
Komme’ntar, III, ‘72 s.). A sinrultaneidade, de que se fala na alínea  2·a do art. 512, não significa que tenham os 
figurantes de dizer ao mesmo tempo, mas imediatamente um ao outro (A. ESCHELI, III, 101), talvez por simples 
declaração de aceitar (cf. Código Civil suíço, art. 500), como nos atos entre vivos (P. TUoR, Kommentar, III, 848) . 
Para o caso de língua estrangeira, procede­se como nos testamentos públicos. O Código Civil não trata do depósito 
do contrato de herança: a doutrina decide que, feito em dois exemplares, pode ficar com os figurantes; salvo se a 
legislação  cantonal  exige  que  se  deposite  (E  TUOR,  Kommentar,  III,  850)  .  t  necessário  haver  a  maioridade 
(Código Civil suíço, art. 468) do disponente: 20 anos (arts. 14 e 15), e ser o figurante capaz de discernímento (art. 
16). Excluem­se da capacidade de contrato sucessório, como disponente, e.g., e louco e o ébrio. Se sob tutela, A. 
ESCRER  (Das  Erbrecht,  gominentar,  III,  26)  não  admite  representação,  por  se  tratar  de  assunto  sucessório 
(EUGEN  HUEER,  System  und  Gesehichte  des  Sehw  eizerischen  Privatreehts,  II,  322).  Também  nesse  sentido, 
P.TuoR  (Koinmentar,  III,  101)  Aliás,  parece­nos  frágil  a  opinião  contrária  de  EUGÊNE  CURTI­FORRER  
(Comnwfltaive,  369),  que  vê  nas  marginais  dos  arts.  498  e  512  distinção  explícita  entre  os  testamentos  e  os 
contratos de herança. Os  figurantes,  por cOfl,VCflçaO escrita   (diferença  notável em relação ao direito alemão, § 
2.290, e achamos pouco coerente), podem, se querem, resili­lo (art. 513, alínea 1·~)· Em todo o caso, a convenção 
escrita  deve  ser  assinada,  ainda  que  a  lei  não  o  diga  (1’.  TUOR,  Kommentar,  512)  .  Se,  após  a  conclusão  do 
contrato de  herança,  o  herdeiro, ou o  legatário,  se  torna  culpado de  ato que  importaria deserdação, o disponente 
pode anular (antilar, anfechten) a instituição ou legado (art. 513, alínea 2ª). 
Essa “anulação” (o texto alemão disse “einseitige Aufhebung”, revogaçao unilateral que é melhor expressão) faz­se 
numa das formas prescritas para os testamentos (art. 513, alínea 33). 
Se  o  motivo  fôr  anterior,  há  a  ação  de  anulação  por  êrro  (artigo  469),  como  por  violência,  ou  dolo  (E.  TUOR, 
Kommentar, .351) . A ignorância do motivo anterior não autoriza a ação do art. 513, alínea 33. Aqueles, a quem o 
contrato de herança confere a faculdade de reclamar prestações entre vivos, pode resili­lo, de acôrdo com o direito 
das obrigações, se não foram executadas ou garantidas, como se convencionou, as prestações <art. 514) . A lei não 
disse a forma. Se o herdeiro ou legatário não sobrevive ao disponente, caduca o contrato de herança (artigo 515: 
“est resilié”, expressão imprópria; no texto alemão está: “so fãllt der Vertrag dahin”). Todavia, salvo cláusula em 
contrário, os herdeiros do premorto podem reclamar a repetição do enriquecimento ao tempo da morte (art. 515, 
alínea 23). A alínea 13 é de natureza dispositiva (E. TUOR, Kommentar, V, 358) . (O art. 516 está fora do lugar, no 
Código Civil  suíço: nada tem com a forma dos atos para a morte; édireito sôbre conteúdo: “As liberalidades por 
testamento  ou  contrato  de  herança  não  se  rompem  (“so  wird  nicht  aufgehoben”,  “ne  sont  point  annullées”),  se, 
depois, diminui a faculdade de dispor do seu autor: mas cabe a redução”.) 

§ 5.859. Direito constitucional e testamento 

1.CRIAÇÃO,  ALTER.AÇÃO  E  EXTINÇÃO  DE  FORMAS  TESTAMENTÁRIAS.    As  formas  testamentárias 


somente podem ser criadas ou modificadas, ou extintas, pelo Congresso Nacional. Os Estados não podem intervir, 
nem estabelecer nulidade ou presunções legais. Contudo, podem exigir aos seus juizes que, antes do “cumpra­se”, 
procedam a diligências, desde que, com isso, não se invada o domínio do direito material. 
Os Estados­membros não podem modificar regras jurídicas de capacidade, nas espécies testamentárias, nem alterar 
ou acrescentar aos arts. 1.650, 1.719 e 1.720 do Código Civil, que trataram das testemunhas nos testamentos. Se 
um Estado­membro determina que os escreventes e mais pessoas dos cartórios não figurem como testemunhas, a 
infração tem as consequências disciplinares, porém não a de invalidado. O Código Civil, em regra, não usou das 
expressões  “tabelião”  e  “notário”,.  como  outras  leis.  O  que  êle  exige  é  que  seja  oficial  público,  pessoalmente. 
Trata­se de oficial com fé pública, oficial que euremàticamente possa portar por fé (art. 1.634), isto é, oficial cuja 
afirmativa valha e seja parte integrante de instrumento público. Não é preciso que seja o oficial público competente 
para  outras  escrituras  públicas:  pode  ser  o  exclusivo  de  testamentos  ou  exclusivo  ou  privativo.  Se  um  Estado­ 
membro dá a atribuição ao escrivão da Provedoria ou das varas cíveis, vale. Pode, até, dizer que tal oficial é o juiz 
de paz, ou o substituto, da comarca. Mais: o escrivão da intendência municipal.  O que éessencial é que lhe dê fé
pública, a qualidade de oficial público. A lei de organização judiciária do Estado pode, a respeito, dispor. Mas, aí, 
para a função substancial da legislação estadual. Ela cria  o oficial que o Código Civil pressupõe. Só isso. Pode ser 
que exija outras formalidades aos testamentos papel selado, pagamento prévio de impôsto; mas isso não constitui 
causa de nulidade. Se algum Estado­membro, por exemplo, não exige que o ato seja pelo próprio oficial, mas por 
escrevente juramentado,  isso não eiva de nulidade o testamento: tal escrevente, em virtude da legislação estadual, 
é oficial público Mas é preciso que a legislação lhe confira fé pública. A lei que permitisse ao escrevente escrever o 
testamento,  porém  não  lhe  reconhecesse  fé  pública,  cindiria  as  funções  de  escritor  do  testamento  público,  e  de 
certificação, portando por fé, o que se não compadece com a lei federal. Tudo que se disse sôbre o oficial público, 
no  tocante  ao  testamento  público,  incide  no  tocante  ao  testamento  cerrado.  Os  Estados­membros  não  podem 
simpli.. ficar o processo de publicação ou confirmação do testamento particular. 

2.LÍNGUA ESTRANGEIRA E LEGISLAÇÃO ESTADUAL.  O testamento tem de ser escrito em língua nacional 
(Código  Civil,  art.  1.632,  parágrafo  único).  Se  um  Estado­membro  manda  que  se  junte  tradução,  devidamente 
assinada  pelo  testador  e  autenticada,  cominada  a  pena  de  nulidade.  Não  há  nulidades  de  atos  jurídicos  fora  do 
Código Civil. É isso que leva a afirmar­se ser inoperante a cominação de nulidade. Mas a legislação estadual pode 
dizer que faltará fé pública ao oficial quanto a atos de estrangeiros que saibam escrever se êsses não­escreverem, 
após o apanhado do oficial em  língua  nacional, o que êles declararam, vertido na própria língua. Éxaminadas as 
circunstâncias, não é de excluir­se a possibilidade de ser formalidade essencial, em certos casos. Outra questão é a 
dos governos de fato e as nomeações de oficiais. 

3.GOVERNOS “DE FACTO” E TESTAMENTOS.  Às vêzes, os governos são, para uns, de facto, e para outros, 
de  iure.  Êste  énão  só  o  que  devia   estar  no  poder  e  não  está   (MOUNTAGTJE  BERNARD,  Nc7etrality  of  reat 
fintam during Ameriean civil War, 108), como também o que está  no poder e, embora em situação discutida, devia 
estar. Surge, então, a questão jurídica sôbre o direito ao cargo. A própria subida pode não ser normal:  
ogovêrno  de  facto  pode  ascender  normalmente  na  aparência,  por  maquinações;  e  o  de  direito  ter  precisado  de 
insurreições ou revoltas. A solução que temos de esperar é matéria puramente de direito constitucional:  é, ou não, 
de qua­estio iuYZS. Respondido isso, parte­se a questão: ato testamentário praticado perante oficial, nomeado pelo 
govêrno  estadual  de  facto,  e  cabendo  a  apreciação  ao  juiz  brasileiro,  do  mesmo  Estado­membro,  ou  de  outro 
(direito civil e interestadual) ; ato testamentário, praticado perante o juiz ou oficia] de outra nação, nomeado pelo 
govêrno de facto (geral ou local), cabendo a apreciação ao juiz brasileiro (direito internacional privado) 
Aqui  só  nos  interessa  a  primeira  parte.  Da  outra,  adiante  se  há  de  tratar.  A  validade ou udo­validade do  ato de 
nomeação épreliminar, mas preliminar que pode associar­se a outras. Primeira distinção: governos gerais e locais. 
Se a autoridade do govêrno é geral, se estende por todo país, deu­se substituycão completa do poder,  é para o juiz 
interno como para govêrno de iure. Assim, revolução unitanista, ou federalista, com a uniformização das leis de 
jurisdição, de ofícios públicos, e res pectivas nomeações, que se alastrasse e dominasse o país, nomeando tabeliães, 
escrivães,  juizes,  criaria  a  figura  do  govêrno  de  facto  generalizado  e  os  atos  teriam  de  ser  e  deveriam  ser 
respeitados.  Os  testamentos  feitos  perante  tais  oficiais  valeriam,  sem  discussão,  e  o  juiz  deve  reputá­los  válidos, 
ainda  quando  nova  revolução  reimpusesse  o  govêrno  estável  anterior,  o  chamado  govêrno  de  jure.  Não 
coexistiriam.  Existiriam,  um  após  outro.  A  decisão  do  nôvo  govêrno  restaurado  que  considerar  sem  efeito  as 
nomeações não pode ter a conseqúência de invalidar os testamentos das pessoas que falecerem antes de vigorar tal 
solução nova. A regra é que os governos de jure sejam intolerantes com os de facto:  tudo que antes se fêz éilegal. 
Há, pois, limite, algo como constituiçáo superposta aos governos nascidos ou não das Constituições, que autorizam 
os juizes a velar pelo interêsse público, estabelecendo justo critério nas apreciações concretas. Trata­se de análise 
de relações, de princípios superiores, de induções, que também se permitem nas questões de direito intertemporal 
constitucional. 
Se a questão da validade dos testamentos feitos perante oficial nomeado pelo govêrno de facto tivesse de resolver­ 
se pelos decretos reconhecedores, ou não, dos atos do govêrno anterior,  todas as nomeações seriam nulas; todos os 
testamentos, nenhuns. É preciso considerar o quantum despótico da Política (= ‘7), e reduzi­lo ao do Direito (xx 4). 
Seria mais do que injusto: seria aceitar a su.spens’io da vida de um povo, a não­testabilidade por ato público. Há 
limitações que nascem das relações para com outros países e dos cidadãos com a ordem social (govêrno de facto, 
ou  não)  .  Valem  as  dividas  contraídas, quiçá  os  tratados,  as  escrituras  entre  particulares  e  os  testamentos.  Ou  o 
nôvo  govêrno  diz  que  valem,  e  então  tollitur  quaestio.  Ou  nada  estabelece,  e  devem  entender­se  válidas,  por 
presunção,  as  nomeações.  Ou  diz  que  não  valem.  Aqui,  o  juiz  pode  obrigar  os  próprios  governos  de  facto  ao 
reconhecimento, os dirigentes a que observem as leis. Tal o procedimento americano, após a guerra de Secessão. A 
justiça  paira;  as  revoluções  e  governos  de  facto  são  fenômenos  pauticos.  A  Constituição  das  Repúblicas  do 
Salvador,  art. 69, de  Honduras,  art. 99, da  Venezuela,  art. 104,  e do  Peru,  art. 10, declararam  nulos os  atos  dos 
governos de facto. Mas revolução geral de ordinário revoga a Constituição, o que dá no mesmo: 
há Constituição de facto. Em todo o caso, restaurada a ordem constitucional, vêm os decretos, e os juizes dêsses
países  costumam  só  considerar  válidos  os  atos  que  os  decretos  permitem  Essa  não  é  e  não  pode  ser  a  solução 
brasileira.  ~  Se  o  govêrno  de  facto  fôr  local?   Para  o  caso  dos  testamentos  e  no  sistema  federativo  do  Brasil,  o 
govêrno de todo um Estado­membro, o govêrno que está, de facto, no Poder, sem coexistir, de facto com outro,  é 
govêrno  geral.  Valem,  portanto,  as  soluções  que  demos  aos  casos  ocorridos  sob  govêrno  geral.  Aos  governos 
locais é inabluível a coexistência. Tais os das guerras civis. Há atos de um e atos de outro, atos do vencido e atos 
do vencedor. que pode ser o de facto como o de’ inre. Aliás, o vencedor, com o critério político, considera­se, a si 
mesmo, de iure. Se o vencedor discrimina os atos seus que valem e es que não valem, praticados durante a guerra, 
cria problemas graves. O govêrno de iure não poderia ter tal procedimento, O que disputava o poder legal, durante 
a luta, reconheceu a soberania de facto coexistente (não é a mesma coisa que lhe reconhecer a beligerância, que só 
tem efeitos quanto ao direito penal) : o juiz interno também deve dar aos atos o valor jurídico e as consequências, 
que lhes caberiam, e.g., leis novas de organização judiciária, nomeações de oficiais públicos. A regra jurídica tem 
de ser a seguinte: se o vencedor é o de iure, devem­se considerar válidos todos os atos de conformidade com a lei e 
pendente  a  disputa do podei;  se  o  vencedor  é o  de  facto, desde o dia  em que  começou  a  existir,  a  co­existir  (ex 
hypothesis). Restam os atos do govêrno de facto vencido e os do govêrno de inre que foi inteiramente destruido e 
para sempre: 
a)Atos do govêrno de facto vencido: se o govêrno de inre lhe reconhece os atos, corta­se a questão; se o govêrno dá 
regras  jurídicas  a  respeito,  cabe  ao  direito  intertemporal.  No  Brasil,  a  questão  do  govêrno  de  facto  local, 
coexistente, com duração e estabilidade, pode provocar a intervenção federal: o ato explícito do govêrno de iure 
vencedor, considerando nulos os atos jurídicos perante oficias nomeados pelo govêrno de facto, duradouro, e os do 
próprio executivo federal ou do legislativo, não escapam à apreciação do juiz. Se houve passagem do cartório ao 
nôvo oficial, exercício ‘efetivo, prática de atos de fé pública, é preciso afirmar­se a validade dos atos testamentaros 
perante êle praticados. Se o govêrno legal  não reconheceu, de modo nenhum, a coexistência de facto, ainda que, 
efetivamente.  algumas  cidades  ou  zonas  estivessem  sob o poder passageiro dos revolucionários,  o juiz  deve  em 
princípio  aplicar as leis como se só um govêrno existisse, para evitar a imprudência de dar ao Direito a mobilidade 
da  Política.  Mas:  a)  Se  o  govêrno  regional  de  facto permaneceu,  com  estabilidade (caso dos  Estados  do Sul, na 
guerra  civil  americana),  cabe  a  lição  do  juiz  FIELD,  no  caso  Horn  versus  Lockhart  (1873),  que  argumentava, 
decisivamente:  “A  existência  de  estado  de  insurreição  não  desatou  os  laços  de  sociedade,  nem  suprimiu  a 
administração civil e a aplicação regular das leis. Era preciso manter a ordem, aplicar os regulamentos de polícia, 
fazer  respeitar  os  contratos,  celebrar  os  casamentos,  regular  as  sucessões  e  a  transferência  dos  bens,  como  em 
tempo  de  paz”.  b)  Se  o  govêrno  vencedor  afirma  a  ilegalidade  de  todos  os  atos  do  govêrno  de  facto,  sem  os 
distinguir, ainda assim o juiz deve entrar na apreciação, reduzindo às necessidades jurídicas o critério político: as 
circunstâncias ordinárias da vida  e é o caso dos casamentos e dos atos testamentários  não devem sofrer com as 
mobilidades do processo político de adaptação social, nem o govêrno  salvo caso de diferença radical que diga com 
a ordem pública   pode querer o prejuízo dos  particulares.  Ainda  em  se  tratando  de  formas  testamentárias  novas 
(isso, no Brasil, não caberia, porque a legislação é federal), cumpriria atender ou poder alegar que houve atos cuja 
responsabilidade não assume. Mas o juiz examina as circunstâncias para verificar se a não­validade é admissível. 
Após a guerra da Independência, os tribunais americanos reconheceram o poder legislador dos Estados­membros a 
partir de 4 de julho de 1776, e não do Tratado de 1783. 
b)Atos do govêrno de iure vencido. O vencedor, govêrno de facto, vai considerar­se de iure. Mas as considerações 
de  que  os  habitantes  contavam  com  a  vitória  da  situação  jurídica  contra  a  situação  de  facto  (ainda  que, 
politicamente, partidários da revolução) e de que o govêrno federal interviria pela restauração (o que se supõe, pela 
Constituição da República) bastariam para afastar a possível invalidação: seria querer­se que o fenômeno político 
negasse o próprio juiz apreciador do caso, negasse o Direito, fôsse, no passado, desfazer o que juridicamente se 
estabeleceu: o sinal de Política é  (para o futuro) e não ~ (para o passado) ; por isso mesmo, as leis não retroagem, e 
o  que  está  feito  fica  (Política  é  2;  Direito,  1),  e  só  muda  para  os  casos  futuros  (PONTES  DE  MIRANDA, 
Introdução à Sociologia Geral, 235 s.). 
As  Constituições  estaduais  fixam  o  poder  legislativo  dos  Municípios.  O  que  êles  podem  fazer  tem  as  sós 
consequências que teria, se feito pelo Estado­membro. De modo que as questões são as mesmas. 

§ 5.860. Direito penal e formas testamentárias 

1.TESTAMENTOS E CRIMES.  Atos particulares, documentos privados, ou não, os testamentos, devido à sua 
significação e importância, são pelas leis penais considerados, indistintamente, atos públicos. Ficção legal, que o 
caráter  do  ato  justifica.  Talvez  seja  resquício  da  função  legislativa   que  se  exercla’nos  próprios  testamentos  não 
públicos.  Se  bem  que  hológrafo,  o  testamento  particular  é  como  a  instituição  de  patrimônio;  mas,  hoje,  o 
fundamento  está  no  fato  de  ser  difícil  verificar­se  a  fraude  caligráfica  (AMnancIo  NEGRI,  em  P.  COCLLO, 
Completo Tratato di Diritto Pende, , 1.ª parte, a, 521).
2.CRIMES MAIS ENCONTRAVEIS  Os crimes encontráveis são os de falsificação do testamento público e os de 
falsificação  do  testamento  particular,  que  cabem,  respectivamente,  nos  arts.  297  e  298  do  Código  Penal.  Outros 
podem ocorrer, como o de falsificação de certidão, quer ideológica, quer natural, e o de falsa identidade. 

§ 5.861. Espécies de testamentos quanto à forma 

1.FUNÇÃO J URÍDICA DAS FORMAS TESTAMENTÁRIAS.  A forma  é processo técnico. Nos nossos dias, 


não pode ter caráter ritual, mas sim próprio à estabilidade específica. Seria inconsequência (nos tempos de hoje, em 
que a inteligência tem finura bastante para reconhecer e discernir os fatos do direito, e para discriminar relações em 
sua realidade imaterial) alimentar a superstição dos formalismos obsoletos, que prejudicaram, em vez de servir  à 
vida.  Ora,  o  Direito,  processo  social  de  adaptação,  não  tem  outro  fim  que  o  de  servir  à  existência  coletiva  e 
individual. Forma contrária a êsse fim, é forma contrária ao Direito. Quando a lei escrita, ou a praxe doutrinária ou 
judicial,  que  também  são  fontes  de  formas,  estabelece,  para determinados  atos  jurídicos  síricto  sensu  e negócios 
jurídicos  (citação,  interpelação,  casamento,  adoção,  testamento,  hipotecas)  determinadas  exigências  formais,  não 
tem  outro  fito  senão  o  de  pressupor  cautelas,  envoltórios,  dentro  dos  quais,  conveniente­mente  resguardadas  as 
vontades,  se  lhes  garanta  e  precise  a  eficácia.  Raro,  somente  para precisá­la  ou  restringi­la:  quase  sempre,  para 
assegurar­lhe o resultado jurídico que especifica­mente foi querido. 

2.EVOLUÇÃO DAS FORMAS JURÍDICAS.  Se examinamos a evolução que se operou do formalismo romano à 
mentalidade  hodierna,  vemos  que  se  procedeu  a  verdadeira  crítica  das  funções  das  formas,  sem  qualquer 
preconcebida  antipatia  (pois  que  a  vida  moderna  criou  formas  novas),  porém  no  sentido  de  apreciar  a  utilidade 
social e individual do seu emprêgo. Dai o movimento de diminuição de exigências que apenas atende uma. das leis 
evolutivas  do  Direito.  Por  isso,  no  apreciar  as  formas  como  processos  técnicos,  meios,  para  fins  de  segurança 
jurídica (se garantem, segurança para os que desejam eficácia aos seus atos de vontade; se restringem, segurança 
para os outros)~ o direito  contemporâneo,  como o dos  séculos  passados, ora  atenua  o  rigorismo da  forma  como 
elemento, exterior e sensível, necessário ao ato jurídico, ora reconhece a legitimidade de novos quadros formais em 
~ue se verta e se modele o querer dos homens. De tudo isso havemos de tirar que o invólucro não deve sacrificar os 
atos que deve revestir. Se é certo que às vêzes o requisito formal tem por fim delimitar, dificilmente se poderiam, 
ainda em tais casos, intrometer considerações de sacrifício do fundo, do ato, de mal compreendida sujeição à forma 
solene, seja probatória, seja acauteladora ou normativa (de habilitação, e de processo, de fiscalização) . Também se 
tira, não só que as regras jurídicas sôbre forma são suscetíveis de  interpretação, com todas as possibilidades dos 
modernos critérios de apreciação científica da lei, como, por igual, que ela não deve ir além do fundamento ou do 
critério inspirador do processo técnico, que é a forma. Processo técnico não é fim, é meio. 
Por  outro  lado,  não  se  veda  ao  direito  não­escrito  estabelecer  cautelas,  exigir  formas  a  determinados  atos,  às 
habilitações, aos propósitos de publicidade e, se a necessidade o inspira àprova de fatos. Não é a lei escrita a fonte 
única do direito, nem se abre ao princípio da multiplicidade das fontes essa exceção. 

§  5.861.  ESPÉCIES  DE  TESTAMENTOS  QUANTO  À  FORMA  ­relativa  às  regras  jurídicas  de  exigências 
formais. Tão­pouco ficam imunes os textos escritos às apreciações com que a ciência e a prática procedem a sua 
adequação aos fatos da vida. 

3.IMPFRATIVIDADE  E  INTERPRETAÇÃO.    As  formas testamentárias  são  de  interêsse  público;  mas  isso  não 
quer dizer  que  se  não possam  interpretar  os  artigos de  lei,  que  fixam os.  requisitos  essenciais: a) pode  a forma, 
considerando o efeito~ não ser da máxima importância: quando forma non est magnae importaníiae, considerato 
efleciu; b)  a  exigência  formalística  cede,  onde  cessa  a  razão  de  se  requerer  a  forma  (quando  < ­es..  sarei  causa 
forinae  adimplendae)  ou  o  fim  (juando  forma  ad  aliquem  finem  eM  constituta);  c)  quando  o  que  se  fêz  vale  o 
mesmo  (“equipolência”,  a  que  se  referiam  os  juristas  lusitanos)  :  quando  actue  factus  eandem  rim  hab  ei;  d) 
quando de­~ monstrativa (ad aliquid demonstrandujn requisita). 
Em  todo  êsses  casos,  pode  adimplir­se  pelo  equivalente:  tufo  enim  potesi  adimplere  por  aequipollens.  Não  são 
palavras de hoje, são velhas palavras, que meia­ciência de alguns ou não compreende ou delas se esqueceu. Outros 
elaboravam  fórmula  mais  geral,  porém,  no  fundo,  a  mesma:  nisi  tamen  sia  tutum  formam  inducens  considerei 
aliquem  eflectum,  quja  tune  si  eflectus sequatur  omissio  for­mae  nau  vitiat.  (Ou:  quando  forma  respicit  certum 
eflectum, per aequipollens potesi effectualiter canse qui.) 
4.INTERPRETAÇÃO DAS LEIS SÔBRE FORMAS TESTAMENTÁRIAS.  No caso de o que se teria como 
testamento não  ter  forma,  ser  imperfeito,  não  existe  o próprio  ato.  Tal  formalismo  passou  ao direito português  e 
dominou como princípio. Ainda hoje, atenuado, domina. A falta da forma deixa não completo, é pois inexistente o 
ato  testamentário  (MANUEL  FIGUEIRA  DE  NEGP.nRos,  introductio  ad  ultimas  voluntates  continens  omnia
necessaria ad confectionem Testamenti, 1, 2, c. 1, n. 4) ; mas isso não visava dizer, nem visa, que a lei da forma 
não se interprete. A lei da forma é lei como as outras leis. Imperativa, sim, mas as leis imperativas são suscetíveis 
de  interpretação.  O  que  ela  diz,  e  nisso  difere  de  outras  regras  jurídicas,  é  que  a  falta  faz  inexistente  o  ato  e  o 
defeito,  ainda  mínimo,  torna  nulo  o  ato.  Mas  o  que  é  defeito,  di­lo  a  lei,  ou  a  interpretação.  Se  aqueles  defeito 
mínimo  é,  realmente,  defeito,  isto  é,  se  tem  aquela  consequência,  di­lo  o  entendimento  do  texto  legal.  O 
entendimento não poderia ser o de absurda interpretação literal. As idéias modernas, frutos de evolução da ciência, 
e  da  técnica,  encontram  pleno  apoio  em  velhos  mestres  de  tempos  bem  mais  maduros  no  apreciar  o  valor  e  o 
alcance  das  leis.  Na  letra  legal  está  consignada  a  exigência  do  elemento  exterior  e  sensivel,  da  veste  material  à 
imaterialidade do querer  expresso, mas,  na  lição  de  hoje,  como  na  de  ontem, pode  satisfazer­se  com  o  igual  em 
resultados.  Se  se  chega  à  conclusão  de  tratar­se  de  levissirna  solenuitas,  então  nou  est  sufficiens  ad  evertenda 
suprema defunciorum elo gia. 
As regras jurídicas sôbre formas testamentárias são bis cogens. Não pode o testador por vontade sua, declarada ou 
não, ou por fôrça das circunstâncias,  fugir à observância do que a lei, como forma solene, estatui. Isso não quer 
dizer que o íus cogens tenha de ficar sujeito às algemas de inafastável interpretação literal. Éle é co gens, no que 
diz, porém não nos meios de se procurar o que êle diz. Tal verdade da ciência, nem sempre a vemos na solução dos 
expositores, desaparelhados para a delicada adequação da lei aos fatos da vida. (Nem se confunda isso com o favor 
testamenti, que está no Código Civil, artigo 1.666: quando se fala de favor testarnenti, só se cogita do conteúdo. O 
mesmo sucede no Código Civil alemão, § 2.084: 
WILHELM MANTEY, Das Erfordernis richtiger Datierung holographischen Testaments, Gruchois Beitráge, 43, 
642). 
Um dos fundamentos da exigência  formal é não se deixarem dúvidas quanto ao emprêgo válido das solenidades. 
Por isso, a interpretação tem de ser restrita (EMIL JAOOBY, Das cigenhándige Testaríz cmi, 39) . Interpretação 
restrita  de  formas  solenes  quer  dizer  interpretação  que  reduz  ao  mínimo.  Ora,  interpretação  com  tal  propósito 
limitativo não poderia ser literal: procura o que seja validante dos testamentos, enquanto êsse mínimo de exigência 
não  prejudica  o  critério  formal.  Por onde  se  vê,  claramente,  que  a solução  contemporânea,  sôbre ser  a  dos bons 
espíritos  dos  séculos  passados,  consulta  outros  princípios  de  interpretação  das  leis  e  das  categorias  reais  das 
nulidades, no submeter o texto imperativo aos depuramentos de crítica esclarecida e sã. 

§ 5.862. Direitointernacional privado e formas testamentárias 

1.LEI DE INTRODUÇÃO AO Cóníco CIVIL, ART. 10 E §§ 1.0 E 2.0.  As regras jurídicas sôbre a lei que rege a 
sucessão  são  de  grande  relevância  na  vida  contemporânea.  As  relações  entre  os  povos  são  intensas,  correntes 
imigratórias  continuam  e  há  deslocações  para outros  Estados  que  aqueles  em  que  homens  e  mulheres  nasceram. 
Ora para negócios, ora para serviços, ora por simples turismo. 
Na Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto­lei número 4.657, de 4 de setembro de 1942), estatui o art. 10: “A 
sucessão  por  morte ou por  ausência  obedece  à  lei  do país  em  que  era domiciliado o defunto ou o  desaparecido, 
qualquer que  seja  a  natureza  e  a  situação dos bens”.  E o § 19:  “A  vocação para  suceder  em bens  de  estrangeiro 
situados no Brasil será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge brasileiro e dos filhos do casal, sempre 
que não lhes seja mais favorável a lei do domicílio”. E o § 2.0: “A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula 
a capacidade para suceder”. 
Afastou­se  a  lex  patriac,  que  era  a  lei  pessoal  conforme  o  direito  anterior.  Fêz­se  estatuto  pessoal  o  do  último 
domicílio do decujo. Se era estrangeiro, casado com Brasileira e deixou filhos Brasileiros, o estatuto pessoal não 
era e não éo da lex patriae, mas sim o da lei brasileira. Não importa onde era domiciliado o estrangeiro, que morreu 
casado com Brasileira ou com filhos Brasileiros. 

2.FORMA E “LEX LOCI”.  Quanto à forma, há o princípio geral da lex boi. Ao locus regit actum há exceções, que 
têm  de  ser  apontadas.  Uma  delas  é  concernente  ao  testamento  conjuntivo,  seja  simultâneo,  recíproco,  ou 
correspectivo (Código Civil, art. 1.630). Outra, a dos testamentos militares e marítimos. 
O testamento conjuntivo, a despeito de o art. 1.630 do Código Civil se achar entre as regras jurídicas sôbre formas 
testamentárias, há de obedecer à lei pessoal do decujo, porque seria absurdo que, proIbindo o Estado do estatuto 
pessoal, o testamento conjuntivo, seja simultâneo, seja recíproco, ou seja correspectivo, pudessem duas pessoas que 
estão  subordinadas  a  êsse  estatuto,  ou  uma  das  quais  está,  testar  conjuntivamente.  Iria  Brasileiro  ou  iriam 
Brasileiros para algum Estado onde se não proIbisse a fim de fazer o testamento que a lei brasileira veda. Não se 
pode  negar  o  elemento  típico,  contenutistico,  da regra  jurídica  que  repele  o  testamento  conjuntivo, qualquer que 
seja a espécie. 
Quanto  aos  testamentos  públicos,  é  indiscutível  que  não  se  pode  exigir  que  os  oficiais  públicos  de  Estados 
estrangeiros se submetam a lei brasileira, ou que os oficiais públicos do Brasil se submetam a lei estrangeira,  no
tocante à forma. Dá­se o mesmo se o testamento é cerrado, e é levado ao oficial público para a formalidade que se 
exige. 
Há dois problemas: a) o que é que se entende por forma, que a lei do lugar tem de reger; b) se é possível preferir­se 
outra  lei,  isto  é,  se  a  lex  boci  tem  necessàriamente  de  reger,  ou  se  há  de  reger  a  lei  do  lugar  se  outra  (a  lei  do 
estatuto pessoal) não se observou. Ali, haveria necessariedade da lez boci. Aqui, apenas suficiência. 
Antes de enfrentarmos as questões, recorramos à história do direito internacional privado quanto à forma. 
Desde a Idade Média se admite que o princípio de que a forma do negócio jurídico se há de considerar válida se 
obedeceu à lei do lugar. Poucos eram os juristas e aplicadores de leis que faziam restrições ao bens regit actum;  por 
exemplo, se os negócios jurídicos eram concluídos com a cooperação de oficiais públicos, ou com a autoridade do 
Estado, ou dependentes  de  fonte  oficial  (H.  THÓL,  E’inleitung  in das deutsehe  Privatrecht, § 83).  Alguns  eram 
ainda menos exigentes, como HAUSS (Du Droit privé qui regit les étrangcrs en Belgique, 45 s.). 
Havia  controvérsias  a  propósito  da  abrangência  ser  de  tódas  as  formas  ou  só  de  algumas,  bem  como  sôbre  a 
obrigatoriedade ou a facultatividade da lez boci actus. 
Surgiam divergências no tocante aos próprios fundamentos. 
Alguns, como A. VíNNíus, G. PHTLLIPS (Grundsãtze des gemeinen Dcutschen Privatrechís, 1, 192) e 1<. L. W. 
VON  GROLMAN  (tYber  obographische  und  mystische  Testamente,  14),  perseveraram  na  teoria  dos  estatutos, 
para que se evitasse a aplicação da lei da pessoa 
Para outros, quem quer que pratique atos jurídicos tem de sujeitar­se à soberania do Estado em cujo território se 
perfaz. Assim, CER. FRIEDR. VON GLÚCK (Ausfiibrliche Erlduterung der Pandecten, 1, 291), W. A. F. DANZ 
(Handbuch des hcutigen deutschcn Privatrechts, 1, § 53) e outros. Por seu lado, L. VON BAR (Theorie und Praxis 
des internationalen Privatrcchts, J, 2.~ ed., 340 s.) só a fundava no costume, na communzs opinio segundo CINO 
DA  PISTOlA,  ALBERICO  DE  ROSATE,  PETRUS  DE  BELLAPERTICA,  PAUlo  DE  CASTRO,  RAPH. 
FULCOSIUS e PETRUS DE RAvENNA. 
A lex boci era tida por inafastável por BARTOIflMEo DE SALICETO, BALDO DE IJaÁLnIs e HÁRTOLO DE 
SAxOFERRATO. 
Antes  de  L.  VON  BAR,  a  justificação  pelo  uso  estava  em  muitos.  trro  seria  crê­la  de  origem  romana,  como 
pretendeu JoH. STEPH. PÚTTER (Auserlese Reehtsfdlle aus allen Thcilen, 1, n. 248). 
A regra jurídica tornou­se universal, por ser a de respeito a esfera jurídica de cada território estatal. Todavia, se há 
concordância no respeito, não na há no tocante ao conteúdo. 

3.CONTEÚDO  DA  ExPRESSÃO  “ACTUM”.    Nem  quanto  àexpressão  “actum”,  na  regra  jurídica  bocus  regit 
actum, nem mesmo quanto à distinção entre forma e conteúdo, é pacífica  a doutrina. A. NIEDNER (Kommentar 
zum E’infúhrungsges’itz, 
31) chegou a dizer que nunca o será. A referência explícita à lei do lugar em que se praticaram os atos estava no 
Projeto de THEoDoR NIEMEYER (Vorselddge und Matcrialen zur Kodifilcation des internationalen Privatrechts, 
240 s.), contra o texto de ALBERT GEBHARD. O influxo foi a opinião de L. voN BAa (Theorie und Praxis des 
internationalen Privatrechts, II, 13 5.;  Lehrbneh des internationalen Privat­ und Strafrechts, 106 s.), bem como o 
sistema escolar de Huoo NEUMANN (Internationales Privatrecht in Form cines Gesetzcntwurfs, 85­ 
­91), isto é, vontade dos figurantes, domicilio, lugar da aceitação. 
No art. 11 da revogada Introdução do Código Civil dizia­se que a forma extrínseca dos atos jurídicos, públicos ou 
privados, se regeria segundo a lei do lugar em que se praticassem. Na Lei de Introdução do Código Civil (Decreto­ 
lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942), nada se disse, exceto no tocante à excepcional exigência de forma essencial 
(art. 9·O,  § 1.0) de  modo que  temos de primeiro  cogitar  das  controvérsias  em  tôrno de  textos  alusivos  à  forma. 
Depois, da interpretação se não há texto alusivo, pois tem de ser pôsto o problema de direito internacional privado, 
diante da atitude omissiva. 
Se a lei apenas fala de forma, ou de forma e solenidades, como o Código Civil espanhol, art. 11, a discussão há de 
ser  sôbre  o  conteúdo  da  expressão  “forma”,  ou  da  outra  “solenidades”.  Se  se  refere  a  “forma  extrínseca”,  não 
caberia discussão quanto ao conteúdo da regra jurídica. Tem­se apenas de indagar quais são as formas extrínsecas e 
quais as formas intrínsecas. Tal o que ocorria ao tempo do art. 11 da revogada Introdução ao Código Civil, com o 
revogado Código Civil italiano, art. 9, com o venezuelano, art. ~ lª parte. 
Quanto ao Código Civil francês, não havia fórmula geral e o texto do Projeto refletiu­se na Lei holandesa de 1829, 
artigo 10. No Código Civil saxônico, § 9, a lex boci continuou sendo a preferida, bastando a do lugar dos efeitos. A 
Lei de Introdução alemã (Einfiihrungsgesetz), art. 11, inverteu a ordem: a forma de negócio jurídico é determinada 
pelas leis que regem a relação jurídica que resulta do negócio jurídico. Basta, todavia, que se observe a lei do lugar 
onde o negócio jurídico se conclui. A regra jurídica, que está na alínea 1, segundo enunciado, não tem aplicação a 
negócio jurídico que estabeleça direito sôbre coisa, ou que dele disponha. 
Na Inglaterra, a regra jurídica bocus regit actum é conforme o Foreign Wills Ad de 6 de agôsto de 1861 e a título 
facultativo.
Na  Lei  federal  suíça  de  26  de  junho  de  1891,  art.  24,  foi  dito:  “Les  dispositions  de  derniêre  volonté,  les  pacts 
successoraux et les donations à cause de mort, sont valables quant àla forme, si celle­ci satisfait au droit du lieu oú 
l’acte a été passé ou à celui du canton du domicile lors de la passation de l’acte ou au droit du dernier domicile ou à 
celui du canton d’origine du défunt”. O art. 32 estendeu­o às relações internacionais. 
Já no Projeto da Convenção da Haia tirou­se a regra jurídica obrigatória  e pôs­se a facultativa. 

§ 5.862. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 

Antes  do  Código  Civil,  a  regra  jurídica  que  prevalecia  na  Alemanha  era  a  da  lez  boci  actus,  como  principal, 
permitida a lei in favorem negotii. 
Na  Lei  de  Introdução  ao  Código  Civil,  o  direito  brasileiro  somente  tem  hoje  a  explicitude  do  art.  9·O,  §  1.0: 
“Destinando­se  a  obrigação  a  ser  executada  no  Brasil  e  dependendo  de  forma  essencial,  será  esta  observada, 
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”. 
Apesar  da  omissão  da  Lei  de  Introdução  ao  Código  Civil,  o  princípio  bens  regit  actum  foi  acolhido, 
implicitamente; e não seria de admitir­se que se desconhecesse o princípio que através dos tempos se assentou. Não 
se  pode  considerar  de  ordem  pública  a  subordinação  da  forma  à  lei  brasileira  se  o  conteúdo  é  regido  pela  lei 
brasileira. O art. 9.~, § 1.”, que abre exceção para os atos jurídicos de “forma essencial” se a obrigação tem de ser 
executada no Brasil, ressalvou “as peculiaridades da lei estrangeira, quanto aos requisitos extrínsecos do ato”. 

4.TESTAMENTO E “LEX LOCI”.  Se o testador, de passagem por outro Estado, testou hologràficamente, como 
lhe permite a lei pessoal (e.g., se domicílio no Brasil, cujo sistema jurídico regula o testamento hológrafo), tem­se 
de entender que é válido o testamento. O princípio lex boci regit actum não é absoluto, razão por que os figurantes 
de  contrato  podem  escolher  a  lex  contractus  (cf.  ERNST  ZITELMANN,  Internationale  Privatrecht,  II,  153). 
Também vale o testamento hológrafo, permitido pela lei pessoal, se, feito em Estado que o admite, na feitura se se 
observaram exigências extrínsecas da lei local, que a lei pessoal não conhece. 
A aplicação da lei pessoal às formas testamentárias não é de grande extensão. Se o ato testamentário é testamento 
público, é claro que os oficiais públicos do Estado da lex boci têm de obedecer às regras jurídicas locais sôbre tal 
espécie  de  forma  de  testamento.  Se  o  testamento  é  testamento  cerrado,  a  aprovação  ou  ato  semelhante  somente 
pode ser com observância da lei do lugar em que exerce a função a autoridade aprovante ou conferente. 
Se  o  testamento  é  hológrafo,  a  lei  pessoal,  que o  permite,  de ordinário  não  o  vede  fora  do  Estado,  porque seria 
repelir o princípio lez loci regit actum, o que se chocaria com a prática legislativa hodierna. Se a lex loci o veda, 
tem­se de coíisiderar que em primeira plana está a lei pessoal. Dai têrmos escrito no Tratado dos Testamentos (1, 
373  s.)  :  “Em se  tratando de  testamento  hológrafo...  se a  lei  pessoal  não  no  veda  fora  do país  e se  a  leoê  frei  o 
permite ainda quanto às formas da lei do estrangeiro, está visto que valerá na pátria, no país em que foi feito e nos 
terceiros.  Se  a  lei  do  lugar  não  a  permitir,  ou, permitindo­a,  vedar o uso da  forma  estrangeira  em  seu  território, 
trava­se o conflito de leis. No estado atual do Direito internacional privado, só se há de resolver pela validade no 
Estado da lei pessoal do testador e nos terceiros Estados que reconheçam a facultatividade da lex loci. 
Se o testamento é conjuntivo e a lei local o permite, podem fazê­los aqueles cuja lei pessoal o admite, ou cujas leis 
pessoais  o  admitem.  Se  a  lei  local  o  proibe,  o  único  meio  é  o  de  fazê­lo  em  consulado,  ou  perante  agente 
diplomático com tal competência. 
Tem­se de atender a que a regra jurídica locus regit actum é cogente para os atos jurídicos em instrumento público 
e facultativa para osCatos jurídicos particulares. Para a obrigatoriedade, de que se falou, é preciso que a lei do lugar 
haja estabelecido os pressupostos essenciais de forma. Ficam fora os atos jurídicos que possam ser (ou tenham de 
ser) concluídos em consulados ou agências diplomáticas. 
A distinção entre formas que o sistema jurídico considera forma  (dita “forma extrínseca”) e formas que o sistema 
jurídico liga ao direito material. 
Se  os  atos  jurídicos  em  instrumento  particular  são  para  efeitos  em  Estado  estrangeiro,  tem­se  de  indagar  qual  a 
atitude do direito estrangeiro, em regra jurídica de direito internacional privado. A lei brasileira não pode reputar 
suficiente o que ela exigiu se o Estado estrangeiro, de que depende a eficácia, não se satisfaz com isso. O direito 
brasileiro não pode exigir a forma que êle reputa necessária para o testamento feito no Brasil se a lei estrangeira, a 
que se há de subordinar o domiciliado no estrangeiro, é menos exigente; ou vice­versa. 

O direito estrangeiro, se é o da lei pessoal do decujo, pode retirar o princípio lex boci regit actum. 

5. FORMA ESSENCIAL.  A lei que reja a sucessão testamentária é que pode dizer qual a forma essencial ou quais 
as formas essenciais do testamento. Pode ocorrer que de modo nenhum se considere essencial a única forma da lei 
sucessoral, ou se considerem essenciais as formas da lei sucessoral. A essencialidade da forma exigida não afasta, 
em princípio, a incidência da loa, boci no tocante aos testamentos fora do Estado da lei pessoal.
6. FORMA EXTRÍNSECA OU REQUISITO EXTRÍNSECO.  Os requisitos extrínsecos do ato, a que alude o art. 
9·o,  §  1.0,  da  Lei  de  Introdução  do  Código  Civil,  são  as  “formas  extrínsecas”.  O  que  se  tem  por  fito  com  a 
referência  à  natureza  extrínseca  da  forma foi  ressalvar­se,  na  invocação da bex  loci,  o que se  há  de  apegar  à  lei 
pessoal. 
Assim, o mudo, no direito alemão, fora da Alemanha, pode testar por sinais, se a lei local o permite (HEINRICE 
DERNBrntG, Das biirgerliche Reelzt, V, 65, nota 11), conforme resultou do Einfiihrungsgesetz, art. 11, alínea  1·a, 
2~a parte. No tocante a testamentos de mudo, o direito brasileiro só o permitiria cerrado, escrito pelo mudo e por êle 
assinado, observado o artigo 1.642 do Código Civil. 
‘7.  ESPÉCIES  DE  TESTAMENTO:  A)  TESTAMENTO  PÚBLICO.  São  inconfundíveis,  para  a  observância  do 
princípio da loa, loci regit actum, as espécies de testamento e os meios exteriores pelos quais elas se compõem. A 
lei  brasileira  exige,  quanto  aos testamentos  públicos,  que os  lavrem  oficiais  públicos,  e  não  simples  escreventes 
juramentados;  mas,  aí,  não  é  da  espécie  que  se  cogita,  de  modo  que  o  domiciliado  no  Brasil  pode  testar  por 
testamento público perante a autoridade ou pessoa que para isso tenha competência segundo a lei local. Não é de 
afastar­se o caso de algum Estado permitir o testamento público sem ser ditado (e.g., somente copiado de minuta) e 
apenas  lido  por  outrem,  na  presença  das  testemunhas  (cf.  JOSÉ  DIAS  FERREIRA,  Código  Civil  português 
anotado, IV, 340). 
O testador, nos Estados que têm as duas formas públicas, a judicial e a notarial, pode escolher qualquer delas. 

Pràticamente, para se saber se, em direito internacional privado, há divergência entre o direito testamentário de dois 
Estados, o que mais põe em relêvo a distinção entre a parte intrínseca e a parte extrínseca é questão de existência: 
a) ~ Existe, na lei pessoal, o testamento público? Se não existe, ainda pode surgir a questão de ser de ordem pública 
a  proibição  ou  a  omissão;  mas,  mesmo  se  há  vedação,  é  de  indagar­se  se  é  de  ordem  pública,  de  jeito  que 
acompanhe o testador nos Estados estrangeiros. b) Se existe, rege a forma a leis loci. 
No  direito  inglês,  não  há  o  testamento  público  recebido  ou  recebido  e  aprovado  o  testamento  público.  O 
testamento. inglês é testamento privado, feito perante duas testemunhas. No Código Civil francês, o art. 999 fala de 
poder  o  Francês  testar  no  estrangeiro  pela  forma  autêntica  estrangeira  ou  pela  forma  hológrafa  francesa:  “Un 
Français  qui  se  trouvera  en  pays  étranger,  pourra  faire  ses  dispositions  testamentaires  par  acte,  sons  signature 
privée, ainsi qu’il est prescrit en l’article 970, ou par acte authentique, avec les formes usitées dans le lieu oú cet 
acto sera passé”.  Tem­se  de  admitir  que  se  considere  solene o  testamento  privado  inglês,  que  é o único  (HANS 
LEWALD,  Questions  de  Droit  international  des  Succes~ions,  Reeveil  des  Cours  de  l’Académie  de  Droit 
International, IX, 96). No propósito de facilitar a testamentifação dos Franceses,  no estrangeiro, a jurisprudência 
francesa tem por válido 
o testamento do Francês na forma inglêsa (Tribunal do Sena, 11 de março e 6 de dezembro de 1899). Na verdade, 
há estado de necessidade, e não atribuição de ser solene. 

8. ESPÉCIES DE TESTAMENTO E  TESTAMENTO CERRADO. O que se passa com o testamento cerrado é 
semelhante ao que se passa com o testamento público. Pode variar de Estado a Estado o ato de aprovação ou de 
certo requisito. Ser o direito de um mais rigoroso ou menos rigoroso do que o de outro. Na feitura, o testamento 
segue  se de mão própria, ou da mão alheia  a leis loci. 
A lei brasileira não o permite ao cego (Código Civil, artigo 1.637), de modo que os domiciliados no Brasil, que sa 
acham no estrangeiro, não podem fazer testamento cerrado. Dá­se o mesmo com quem não sabe ou não pode ler 
(art. 1.641). O surdo­mudo tem de escrevê­lo todo e assiná­lo (art. 1.642) ­Mais: tem de escrever que aqueles é o 
seu testamento. São os requisitos intrínsecos. 

9. ESPÉCIES DE TESTAMENTO: c) TESTAMENTO HOLÓGRAFO.  O primeiro problema que surge é o de se 
saber se a bolograf ia só se liga à forma, ou a forma e ao conteúdo; se só a forma, se o requisito é intrínseco ou 
extrínseco. 
Na  doutrina,  uma  das  opiniões  mais  disseminadas  e  a  de  que  pode  fazer  testamento  hológrafo  no  estrangeiro, 
mesmo se o outro Estado não tem essa forma testamentária, qualquer pessoa que, conforme a lei pessoal, o possa 
fazer. Não valeria o testamento hológraf o feito em Estado estrangeiro, que o tem, se a lei pessoal não o admite. 
A respeito da validade do testamento hológrafo, o Código Civil holandês, art. 992, e a Lei inglêsa de 6 de agOsto 
de
1861, conforme a decisão da COrte Inglêsa, a 25 de janeiro de 1898, no sentido da obediência à leis bocí. 
Em todo o caso, é de advertir­se que a lei pessoal pode ter concebido como de capacidade testamentária a regra 
jurídica sobre testamento hológrafo (e.g., não poder testar hologràficamente o menor de is anos. Aí, não poderia ser 
observada a leis loci (C. DEMOLOMBE, Cours de Code Napoléon, IV, 483 a.). 
Nem tudo na fixação das formas se há de reger pela leis icei;  menos ainda, pela lei ~essoal. Cabe, precipuamente, 
interpretar a lei. 
O direito francês teria de reconhecer aos Estados estrangeiros poderem excluir da regra jurídica bons regit actum as
pessoas que estão sujeitas à lei pessoal deles, porque estabeleceu a validade do testamento hológrafo do Francês 
feito em lugar em que não há tal forma testamentária (FRANZ KAHN, Gesetzeskollisionen, Jherings Jahrbiieher, 
30, 50). Mas a jurisprudência não foi êsse caminho (DONNEDIEU DE VABRES, L’Êvohttion de la Jnrisprudence 
française en matiêrc de Conflit de Lois, 185 s.) : vale o testamento hológrafo do Francês, feito no estrangeiro, onde 
a leis boi o proiba, porém  e.g.  o do Holandês, que não devia valer, vale, porque na França o admite a leis boci. Há 
vários julgados que decretam a nulidade de testamentos inglêses feitos na França conforme o direito inglês, porém, 
no  caso  Gesting  versus  Viditz,  a  Camara  Cível  da  Côrte  de  Cassação,  a  20  de  julho  de  1909,  reconheceu  a 
facultatividade da regra jurídica bocus regit actum. 
O Código Civil holandês, art. 992, interdiz aos  Holandeses qualquer forma que não seja a forma autêntica  local. 
Sómente  quanto  à  nomeacao  de  testamenteiro,  ou  para  pequenos  legados  a  título  particular,  se  admite  a  forma 
hológraf a. Nulo é o testamento em que não se respeitou o art. 992. A França considera­o válido se feito na França, 
porém há julgados que o têm como nulo. Por exemplo, pela validade, a Côrte de Orléans, em 1859; pela nulidade, o 
Tribunal  do  Sena,  a  13  de  agôsto  de  1903.  Pela  nulidade,  a  jurisprudência  belga  (E.  P.  CoNTUZZI,  Diritto 
ereditario  internazionale,  518  s.)  e  a  italiana  (P.  FEDOZZI,  Successione,  Digesto  italiano,  22,  825  s.). 
Esporâdicamente, o Superior Tribunal Regional de Hamburgo, a 2 de maio de 1917, por ter o art. 11, alínea 1?, 2·a 
parte, do Einfiihrungsgesetz alemão, como regra jurídica absoluta de colisão (Leipziger Zeitsckrift, 11, 1197). 
Para a aplicação da regra  jurídica  neerlandesa, a  despeito da leis boei, tribunais  italianos falaram  de 50  tratar de 
limitacão à, capacidade. Ora, em verdade, o que nela está é exceção nacional ao principio bons regit actum, com a 
conseqúência de tornar intrínseco o requisito. Conflito, portanto, entre regras jurídicas de conflito. Na ausência de 
tratado, nenhum Estado renuncia o seu critério de qualificação. Foi o que se formulou na Convenção da Haia. O 
Código  de  Direito  Internacional  Privado  de  Havana,  art.  148,  considerou  de  ordem  pública  internacional  as 
disposições  de  classe  em  que  entra  a  regra  jurídica  holandesa,  de  modo  que  optoú  pela  lei  local.  Não  optou, 
verdadeiramente, pois foi como se dissesse: “Vim resolver o conflito. Fique o conflito !“. No art. 150, contradiz­se. 
A permanência, em alguns Estados, da teoria dos estatutários, que fazia a forma testamentária depender da lei da 
situação dos bens,  se  concernente  a bens  imóveis  (o que ocorre  no  Common Law),  criou  e  cria  conflitos;  e.g.,  a 
Chxtncery Division of fite High Court decretou a nulidade de testamento hológraf o francês, na forma do art. 970 
do Código Civil  francês  e feito na França, por haver  nêle  legado de parte de um imóvel que o testador tinha em 
Londres  (cf.  Pepin versus  Bruyêre,  1900;  WILLIAMS,  Principles of  the  Law  of  Personal, 17.a  ed., 480). Mas  o 
testamento do súdito britânico, feito no  estrangeiro, se recai sôbre um leasehold, vale, se de conformidade com o 
Lord  Kingsdown  Áet;   pois  os  leaseholds,  pôsto  que  sejam  imóveis,  entram  na  classe  do  personal  est  ate 
(Stubberfield versus Grassi, 16 de março de 1905; WESTLAKE, Private International Law, 6·a ed., 213 s.). 
Também na Áustria a forma do testamento sôbre imóveis é sujeita à letr rei sitae (Côrte Suprema de Viena, 15 de 
junho de 1900). 
Cogitemos  de  casos  ocorridos,  apenas  para  exemplos: a)  Testamento  feito  na  Inglaterra  por  Português  na  forma 
hológrafa  francesa.  Morre,  domiciliado  na  Alemanha,  depois  de  ter  adquirido  a  nacionalidade  francesa.  Não 
correspondeu à lei do lugar, nem à pessoal. Porém satisfez a lei pessoal do momento da morte. b) Testamento de 
Alemão, feito em Nova lorque, na forma hológraf a alemã. Morreu após ter adquirido a nacionalidade holandesa, O 
testamento  satisfez  a  lei  pessoal  do  testador,  mas  não  a  do  momento  da  morte.  Soluções:  o  Einfiihrungsgesetz 
alemão, art. 24, 5ª alínea, tem por válido o ato. Segundo a Lei suíça de 25 de junho de 1891, art. 24, a forma da 
feitura  e  da  revogação  de  disposição  de  última  vontade  determina­se  conforme  o  regime  do  Estado  de  que,  ao 
tempo na feitura ou da revogação, era nacional o testador. Basta, porém, a observância da lei do lugar em que se 
fêz. Tal lei suíça é mais completa que a alemã, em sua explicitude, com o favor testamenti (cf. STAUFFER, Das 
Internationale Privatrecltt der Schweiz, 112). 
Precisemos. 
a) O que toca à unidade da lei sucessoral rege­se pela lei pessoal do momento da morte do testador. 
b)Quanto às formas prôpriamente ditas, respeitada a leis boci (facultativa), ou a lei pessoal do momento da feitura 
(se  permitida pela  própria  lei  pessoal  de  tal  momento,  porque, para  alguns  Estados,  há  a  obrigatoriedade da  leis 
Moi), vale o testamento. 
e)  Quanto  aos  casos  de  qualificação  especial  pelo  Estado da  lei  pessoal  do  momento da  feitura, dar  validade  ao 
testamento  que  não  era  válido  seria  conferir  à  lei  do  Estado  da  nova  lei  pessoal  eficácia  retroativa.  Tem­se  de 
distinguir a) se a leis fori é de Estado terceiro, b) se a leis fori é a do Estado da anterior lei pessoal, o) se a leis fori 
é a do Estado da posterior lei pessoal. Quanto à primeira espécie, pergunta­se: 
consulta­se a lei do lugar em que foi feito o testamento, ou a lei pessoal anterior? A questão passa a ser dependente 
das  outras.  Se  há  a  regra  jurídica  alemã,  o  Estado  da  primeira  lei  pessoal  abriu  mão  da  sua  lei,  a  favor  do 
testamento. Se não há, o ato foi nulo, e nulo permanece. Se o fôro fôr o da posterior lei pessoal, o Estado que abria 
mão do princípio de nulidade, contra si, com mais forte razão invoca, a seu favor, a própria regra jurídica. Se não 
abriu mão, a situação é mais difícil: uma vez que reconhece a  nulidade dos testamentos vedados pelo Estado da 
primeira lei pessoal, então é coerente reputá­lo nulo.
O  Estado  da  primeira  lei  pessoal,  que  estabelecia  a  nulidade,  pode  admitir    mas  apenas  em  regra  jurídica 
excepcional que o Estado da segunda lei pessoal determine a validade. 
O Estado terceiro tem de consultar a solução do Estado da lei pessoal ao tempo da feitura quanto a ser válido o 
testamento, e a do Estado da lei pessoal ao tempo da morte no tocante ao testamento não válido ao tempo em que 
se fêz. 
O que acima se disse é invocável para o testamento hológrafo que, na espécie, suscita dúvidas, e para o testamento 
nuncupativo. 

10.  TESTAMENTO  NUNCUPATIVO.  O  Código  Civil  brasileiro,  art.  1.629,  reconhece  três  espécies  de 
testamentos ordinarios; e depois aponta as formas instrumentais de cada uma. Pergunta­se: ~vale o testamento oral 
(não  público),  feito,  pela  pessoa  cuja  lei  pessoal  é  a  brasileira,  em  Estado  que  o  admita?  Afirmativamente,  A. 
WEIss  (Traité  théorí que et pratique de  Droit  international privé,  IV,  633)  e  BUZZATI (L’Autorità deile Leggi 
straniere relative allo forme degli atti civili, 400 s). Negativamente, P. FioRE (Diritto internazionale pnvato, IV. 
205) : a questão envolve a da existência, ou não, de um testamento; se existe, há sucessão testamentâria~ se  não 
existe, são chamados os herdeiros legítimos (ou os de outro testamento, digamos). O problema toca à substância do 
ato jurídico. A capacidade é o principal requisito da existência e eficácia legal da vontade declarada, porém não é o 
único. Assim como é pressuposto intrínseco, para o cego, determinada forma, 
também  a  lei  pessoal  impõe  às  pessoas  as  espécies  de  testamento  que  ela  reconhece.  Tal  o  pensamento  de  P. 
FIORE (IV, 207). 
O argumento a respeito da herança legítima é fraco. No tocante ao outro testamento (o que acrescentamos), é forte. 
Mas  o  problema  muda  de  figura,  porque  se  trata  de  revogação.  Pôsto  de  parte  o  problema  da  revogação  por 
testamento nuncupativo em Estado que o admita, ao contrário do que se passa no Brasil, cogitemos do testamento 
nuncupativo feito no estrangeiro. 
Se  ambas  as  leis,  a  pessoal  e  a  local,  não  têm  o  testamento  nuncupativo,  parte  da  questão  está  eliminada.  O 
testamento não vaie. Resta a espécie do testamento nuncupativo feito em Estado que o admite contra a lei pessoal 
do testador. 
Depois  de  condená­lo,  a  Itália  deu  validade  ao  testamento  oral  do  Italiano  feito  no  estrangeiro  (P.  Frrozzí, 
Successione,  Digesto  italiano,  22,  825  s.).  No  mesmo  sentido,  a  Alemanha  (E’ntsck.,  VIII,  222).  No  direito 
internacional  privado  dos  dois  Estados  europeus,  o  nacional  pode  testar  no  estrangeiro,  nuncupativamente, 
conforme a leis loci. 
No  direito  internacional  privado  brasileiro,  o  domiciliado  no  Brasil  não  pode  testar,  nuncupativamente,  no 
estrangeiro. Tal foi a solução de CLóvís BEVILÁQUA (Código Çivil comentado, 1, 128), porém com fundamento 
na  incapacidade,  questão  vencida  (FRANZ  KAHN,  Gesetzeskollisionen,  Jherings  Jahrbiicher,  30,  48;  D. 
ANZILoTTI, Studi Critici, 253 s.). Só seria regra jurídica de capacidade se a lei dissesse, por exemplo, que “não 
pode fazer testamento nuncupativo o maior de dezoito anos e menor de vinte e um anos 

11.  “TESTAMENTUM  TEMPORE  PESTIS  CONDITUM”.    Entre  algumas  legislações  existe  o  conflito.  No 
Código  Civil  suíço,  art.  506,  admite­se  a  espécie  nuncupativa,  o  Nottestament,  se  há  circunstâncias 
extraordinárias, que impeçam o decujo de testar de outro modo. Trata­se de forma privilegiada, em oposição às 
formas ordinárias do direito suíço (testamento público e testamento hológraf o). O testador declara as suas últimas 
vontades a duas testemunhas, a que encarrega de escrever ou de fazer escrever o que ditou. No primeiro caso, uma 
delas data o escrito, indicando o lugar, o ano, o mês e o dia, assina­o, e dando­o à outra, para que o assine. Sem 
tardança, remete o escrito à autoridade judiciária, afirmando que o testador lhes fêz as declarações, parecendo­lhes 
capaz de dispor e mencionando as circunstâncias em que as receberam. No segundo caso, prestam tais declarações 
à autoridade judiciária (artigo 507). O testamento oral caduca quatorze dias depois de haver o testador recobrado a 
liberdade de empregar as formas ordinárias. 
No Código Civil alemão, § 2.252, o prazo é de três meses, se ainda vivo o testador, contados da feitura. 
Surgem  duas  questões  principais  de  direito  internacional  privado.  A  primeira,  concernente  ao  prazo,  e  possível 
entre  todos  os  Estados  que  admitem  o  testamento  nuncupativo,  mas  discrepam  quanto  ao  prazo.  THFODoR 
NIEMEYER (Das internationale Prívatrecht des BGB., 115 s.) considerou aplicável a lex loci:  tais prazos, sejam 
suspensivos, sejam resolutivos, são imanentes à forma. Diríamos, para melhor se caracterizar a questão e limpar de 
dúvidas a resposta: suspensivos ou resolu­tivos êsses prazos, concernem à espécie de testamento e, admitida que 
seja, a discordância é apenas relativa às formas da espécie. O prazo é o daquela forma por que se optou. Na dúvida, 
há o princípio do fflvor testamenti. 
Restaria  o  caso,  pouco  provável,  de  uma  das  legislações  permissivas  considerar  requisito  intrínseco,  e  não 
extrínseco,  o  prazo  que  estatuiu.  Dar­se­ia  conflito  de  qualificação,  que  só  se  poderia  resolver  pela  lez  fori,  se 
interessada está na quali­ficação, ou pela qualificação que corresponda à sua solução, se a do Estado do juiz não fôr 
interessada.
A segunda questão é a que toca aos Estados que expressamente não admitem qualquer espécie de testamento tem 
pore  pestis  conditum.  Se  a  lei  de  tal  Estado  é  interessada,  trata­se  de  admissão  ou  de  não­admissão  da  espécie 
testamentária Se a lei de tal Estado não é interessada e os dois ou mais Estados em conflito discrepam quanto à êsse 
ponto,  a  lex  fori,  pessoal  ou  não,  tem  de  resolver  conforme  a  lei  que  coincida  com  a  sua.  No  caso  especial  do 
Brasil, não se poderia dar ganho de causa a Estado que admita o testamento nuncupativo contra outro que tenha, no 
conflito  de qualificação,  como  violadora do  requisito  intrínseco,  ou  como  contrária  à  ordem pública,  tal  espécie 
testamentária. Não a proibimos fora, porém não na temos. 
Se a lei pessoal não tem o testamento em estado de necessidade, porém não o reputa assunto de lei exterritorial, o 
Estado terceiro resolve pela las, loci, pois não houve conflito. Se oEstado em que se fêz o testamento reconhece 
que o assunto escapa à lex loci, o Estado terceiro resolve pela lei pessoal. 
No  caso  de  testamento  extraordinário,  o  Estado  terceiro  deve  preferir  a  solução  da  lei  pessoal  do  testador,  se 
vedativa; mas, se a local vedar e a pessoal admitir, tem de indagar se essa permite a exceção à lez loci, e não se a 
lei do Estado em que se fêz o testamento consente na facultatividade da lei do lugar. 
Em boa técnica legislativa, há de haver acolhimento ou maior acolhimento pelo testamento extraordinário em caso 
de doença do que pelo nuncupativo ordinário. 

12.TESTAMENTO EM CIRCUNSTÂNCIAS EXTRAORDINÁRIAS. 
O testamento em circunstâncias extraordinárias, como o testamento tempore pestis conditum, é excepcional. Ésse é 
espécie  daquele.  São  exemplos principais  o do  Código  Civil  alemão  e  o do  Código Civil suíço. Nas  legislações, 
continuam o testamento marítimo e o militar; e algumas, como a brasileira, não atendem a que os testamentos em 
caso  de  acidente  insujante,  como  a  inundação  e  o  desamparo  em  matas  e  rios,  são  tão  necessários  como  o 
testamento  marítimo  e  o  militar,  meras  especificidades  do  testamento  em  circunstâncias  extraordinárias.  Não  se 
fala  no  testamento  em  viagem  aérea,  se  o  aviador  ou  o  viajante  não  pode  escrever,  ou  não  há  tempo,  nem 
testemunhas.  Todavia,  para  o  militar­aviador,  tem  de  ser  admitido  o  testamento  militar.  Adiante  volveremos  ao 
assunto. 

13.TESTAMENTOS  DE MILITARES,  MARINHEIROS  EXTRÍNSECOS .    Pode dar­se,  mas dificilmente,  pela 


generalidade da admissão do testamento em caso de batalha, similar dos testamentos romanos discordância das leis 
quanto  a)  à  permissão  da  espécie,  ou  b)  quanto  à  permissão  da  nuncupatividade  ou  da  simplificação  da  forma 
escrita ou de outros requisitos extrínsecos. 
Suposto que o conflito de qualificação seja concernente àprópria espécie, prevalece, se interessada, a lez fori;  mas, 
se 
um dos Estados não é o da ler fori, tem­se de distinguir: 
prevalece  a  lei  que  coincide  com  a  do  Estado  da  ler  fori;   se  nenhuma  coincide,  no  estado  atual  do  direito 
internacional  privado  só  o  favor  testamenti  é  aconselhado.  Quanto  à  revogação,  há  outros  princípios  e  não  se 
poderia invocar para o ato revocatório o favor testamenti. 
Se o conflito concerne à admissão da nuncupatividade, de ordinário a forma é que está em causa, e não a espécie: a 
espécie  supós  o  testamento  em  sua  qualificacão  subjetiva  (soldados,  marítimos)  e  ocasional  (tempo  de  guerra, 
viagem de mar) ; tudo mais é de natureza extrínseca, salvo se um dos Estados eleva as formalidades à categoria de 
requisito intrínseco. 
Se o discrepar somente recai em particularidades da escrita, o princípio locus reqit actum é que resolve. Salvo, o 
que é pouco provável que ocorra, se um dos Estados faz de alguma delas requisito intrínseco. Aforado no Brasil tal 
testamento, a solução é a favor do ato jurídico, porque a ler fori não exige, quanto à escrita, com caráter intrínseco, 
essa ou aquela formalidade. Bem diverso do que se daria com outro Estado que só­mente admitisse o testamento 
privilegiado como subespécie do testamento público, considerada intrínseca, e não forma extrínseca, a presença de 
determinada autoridade. 
Temos, assim: 
a)  A  respeito  do  testamento  militar,  em  batalha  ou  em  atos  de  guerra, a  questão  toma  aspecto  especialíssimo:  o 
Estado terceiro, que reconheceu a beligerância, não pode pretender que o Estado A respeite a ler lQci do Estado B: 
o militar em serviço leva consigo a sua lei pessoal e a lei de sua milícia; a ler loci é a que resulta  dos seus próprios 
atos (aqui estou, aqui está o meu Estado). Fato parecido com o dos cônsules. 
b) Quanto aos navios de guerra, o intrínseco e o extrínseco obedecem à lei do Estado a que pertence o navio. A ler 
loci coincide com a lei pessoal. É de exterritorialidade que se trata. 
Há subespécies: a) No caso de ocupação de Estado estrangeiro, ou de águas internas, não há exterritorialidade; há 
perda de posse, talvez definitiva, em virtude de entrada  contra a vontade do outro Estado. b) Se houve autorização 
para  a  entrada,  isto  é,  consentimento  do  govêrno  local,  alguns  autores,  e  com  êles  ou  sem  êles,  o  costume 
entenderam que as tropas estrangeiras escapam à jurisdição do Estado local: os próprios delitos e crimes de direito 
comum são reprimidos pelo chefe militar, mas, se contra os habitantes da região, são competentes os juizes locais.
Quanto  ao  direito  de  testar  dos  que  fazem  parte  da  tropa,  vale  o  testamento  extraordinário  que  obedeceu  a  lei 
pessoal, ler patriae, ainda quanto ao extrínseco. 
O militar pode testar com alguma das formas ordinárias, observada a ler loci. A ocupação consentida não torna o 
ocupante pessoa escapa à lei local, se essa pessoa se submete ao direito local. A regra é que êle não se submete à 
jurisdição civil do território ocupado. 
No alto­mar  fora das águas territoriais  os navios Inercantes só têm uma lei: a do pavilhão. Nas águas territoriais, a 
ler boci é a do Estado em que se acha. Mas, no caso dos testamentos, desde que o testamento se faça a bordo, vale 
conforme a lei do pavilhão. Para a forma excepcional, têm de ser satisfeitos os requisitos legais, e o art. 1.656 do 
Código Civil  somente  se refere a “viagem em  alto­mar”; porém, retirados os ferros e tendo partido o navio, está 
figurada a viagem de alto­mar. Ou, em geral, se não pode descer o testador. 

14.  TESTAMENTO  CONJUNTIVO.    Excluem  tal  forma  testamentária  o  Código  Civil  francês,  art.  968,  e  as 
legislações.  que nêle se inspiraram (cf. Código Civil  holandês, art. 977, espanhol, arts. 669 e 733; argentino, art. 
3.618; brasileiro, artigo 1.630; chileno, art. 781; mexicano, art. 3.246; e peruano, art. 706). 
~  máxima  bocus  regit  actum  rege  o  testamento  conjuntivo,  ou  é  assunto  para  a  lei  pessoal?  Na  jurisprudência 
francesa há decisões pró e contra a ler loci, porque, disse­se, a proibição está no Código Civil onde se cogita das 
“formas  Na  doutrina  alemã,  há  quem  repute  forma  (L.  VON  BAR,  Theorw  und  Prazis  des  internationalen 
Privatrechts, fl,  2a ed., 329; ERNST ZITELMANN, Internationales Privatrecht, II, 154), e éo que sempre ocorre. 
Contra, o Reichsgericht, a 24 de abril de 1894. 
Quando o Brasil permitia o testamento conjuntivo, a Côrte de Cassação de Florença considerou válido o testamento 
conjuntivo  feito  no  Brasil,  sendo  Italianos os  testadores,  embora  a  lei  pessoal  o  proibisse  (Código  Civil  italiano 
revogado, artigo 761). 
O que rege a admissão ou a repulsa do testamento conjuntivo é a lei pessoal. Ficam duas questões: a) se os testa­ 
dores podem testar conjuntivamente em Estado que o não reconheça, se a lei pessoal tem tal testamento; b) se, feito 
no  estrangeiro  o  testamento conjuntivo, por  estrangeiros, a  ter  fori pode  invocar  a ordem pública  para  lhe  negar 
cumprimento.  A  questão  a)  depende,  preliminarmente,  da  forma  seguida  e  permitida:  se  testamento  público,  o 
oficial público tem de invocar a lei que o proibe; se testamento particular, o Estado da ler loci, a despeito do que se 
lê no Código de Havana, art. 148, não está interessado, pois que se trata de duas pessoas cuja lei pessoal é outra, ou 
cujas  leis pessoais são outras. A invocação de ordem pública  internacional seria de sérias conseqúências, de que 
adiante falaremos. 
No  caso  especial  do  Código  Civil  da  Venezuela,  art.  824,  a  conjuntividade  é  somente  forma,  de  modo  que  é 
aceitável a ler boi. Mas seria preciso que as disposições testamentárias não ofendessem a lei pessoal. Poder­se­ia 
tratar de dois testamentos num só. Ao juiz caberia apreciar a espécie, sendo aconseiliável o favor testamenti. Se o 
testamento  duplo  contém  reciprocidade  ou  correspectividade  que  ofenda  a  lei  pessoal  (se  bem  que  a  lei 
venezuelana o permita), a esfera da ler boci foi excedida, a conjuntividade não é só formal, e  não se  justificaria 
invocar­se o favor testamenti. 

15.  CONTRATO  DE  HERANÇA.  O  contrato de  herança  éregido  pela  lei  pessoal.  Se  algo  se  alega  de  ordem 
pública, a questão desloca­se. Se admissível, a forma é a do actum, se só o Estado estrangeiro o admite. Se ambos o 
admitem, a ler boi rege os requisitos extrínsecos, facultativamente. 

16. ORDEM PÚBLICA EM MATÉRIA DE FORMA TESTAMENTÁRIA.  A ordem pública é medida interna, 
invocável contra quem quer que seja ou contra o que se ache no território do Estado interessado. 
Se dividimos o conceito em ordem pública internacional e ordem pública interna, temos: a) atos que dependem da 
feltura  ou  efeitos  no  território;  b)  atos  que  seguem  a  pessott  Terminologia,  como  dissemos  no  Tratado  dos 
Testamentos (1, 396),  censurável.  A  regra  jurídica bons regit  actum é  facultativa,  de  modo que  a  proibição, por 
exemplo, dos contratos de herança, que se façam entre pessoas não sujeitas à lei brasileira, sem consequências no 
regime sucessoral do Brasil, não os põe de parte, arbitràriamente, por invocação de ordem pública. 
Diga­se  o  mesmo  quanto  ao  testamento  conjuntivo,  O  Código  de  Havana,  art.  144,  incluiu  a  proIbição  do 
testamento  conjuntivo  como  de  ordem  pública  internacional,  em  vez  de  a  reputar,  como  seria  certo,  de  ordem 
pública interna. 
A  validade  do  testamento  conjuntivo  obedece  à  lei  pessoal  dos  testadores,  ou  às  leis  pessoais  dos  testadores.  A 
ordem pública  não é óbice (Tribunal Departamental da Haia, 19 de fevereiro de 1924). Nem podia deixar de ser 
assim: se de acôrdo com a lei pessoal, como é o caso do Código Civil alemão, já se cumpriu a parte testamentária 
do  cônjuge  premorto,  seria  absurdo  deixar­se  de  cumprir  a  do  segundo, que  em  vida  não  revogou  o  que  testara 
(nem podia revogar, cf. § 2.271, alínea 2,~) e recebera o que herdou do primeiro falecido. 
A interpretação da ler boi, que nada tem com a substância do ato jurídico, para, com invocação de ordem pública, 
considerar­se  nulo  o  testamento,  que  ou  se  tornou  irrevogável  pela  morte  do  primeiro,  ou  constituiu  as  últimas
vontades de ambos, seria atentado à liberdade das pessoas, com a frágil e falsa argUição de ofensa à ordem pública, 
a favor de tal liberdade. 
A  proibição de  testar  hologràficamente,  se,  em  geral,  éde  ordem pública  internacional,  salvo  reconhecimento da 
facultatividade aos estrangeiros, é conseqúência regular do caráter não­obrigatório da ler boi (lei pessoal cogente ± 
lei local facultativa = permissão). 
As formas dos testamentos públicos obedecem, inexcetuadamente, à ler boci:  não como limite à facultatividade da 
regra jurídica bons regit actum, porém como princípio de ordem pública internacional. Nos consulados, nos navios 
de  guerra  e  outros  lugares  em  que  a  exterritorialidade  existe,  a  ler  é  que  provém  da  permissão  estatal  ou  da 
exterritorialidade, pois que ocupam território de outro Estado. 
Quando surgiu a legislação soviética, houve quem a reputasse “bloco legislativo indesejável” (SORéNDORI’, Was 
ist  heute  unter  “russisebem”  Recht  zu  verstehen,  Douteche  Juristcn­Zeitung,  25,  805  s.).  E  era  a  opinião  mais 
generalizada. Mas seria estender demasiado longe a noção de ordem pública a rejeicão de toda unia legislação. Se 
há razão para ser invocada, tem de ser dita em cada caso. Em Circular n. 194 do Comissário de Justiça do Povo, de 
26 de setembro de 1923, falou­se de inaplicabilidade no estrangeiro. Mas, ainda nesse caso, haveria a questão do 
testamento feito na Rússia com as formalidades soviéticas e a de outro, feito, por exemplo, por Brasileiro, com as 
formalidades da lei pessoal. Mesmo ao tempo era que ainda não se reconhecera o govêrno soviético neo se poderia 
obrigar  o  Brasileiro  a  não  testar:  se  utilizou  a  forma  da  lei  pessoal,  fê­lo  bem,  pois  a  regra  jurídica  bocas  regit 
notam  é  facultativa;  se  recorreu  à  forma  do  direito  soviético,  seria  solução  violenta  considerar  inválido  tal 
testamento, sem haver razão do ordem pública. O Estado russo era lã e o Brasileiro, que quis testar, achava­se lá. O 
reconhecimento  do  govêrno  é  elemento para  a _exterritorialidade,  mas seria  rigor  político  excessivo  excluir­se  a 
aplicação da ler boi, maximé se outra forma seria impossível, ou perigosa, para o Brasileiro ausente. havia, todavia, 
um  ponto  de  significação  especial:  a  sucessão  pelo  Estado  soviético  era  impossível.  Os  bens  seriam  “tens  dc 
ausentes” e o Estado do juiz recolhe­los­ia. Mas, aqui, incide principio geral de direito sucessoral internacxonal: o 
Estado  não pode  recolher  herança  em  outro Estado,  seja  a  título de  herdeiro, seja  como  sucessor de bens vagos. 
Pode  herdar  testamentàriamente.  Assim  decidiu,  acertadamente,  com  o  Uruguai  (Govêrno  Uruguaio  versas 
Fournier,  Sena,  11  dc  marco  de  1899)  ;  mas,  por  se  tratar  de  testarnento,  diferente  a  solução  quanto  ao  Estado 
grego (caso Zappa, na Rumania). 

17.ATO  PESSOAL  DO  TESTAMENTO.  O  testamento  é  ato  pessoalíssimo.  Ninguém  o  faz  por  outro;  nem 
representante,  legal  ou  voluntário,  pede  fazê­lo  em  nome  do  testador,  ou  pelo  testador.  O  principio  é,  por  bem 
dizer,  universal.  Ainda  assim,a  possibilidade  de  conflito  de  leis  sugere  que  se  ponha  a  questão:  ~a  exclusão  da 
representacão (e da presentação) rege­se pela lei pessoal ou pela ler boi?  Noutros têrmos: ~ a pessoalidade do ato 
é requisito intrínseco ou requisito extrínseco? A lei pessoal é que há de dizer se a proibição da representação foi no 
tocante à exterioridade da manifestação de vontade, e então refere­se à forma, que a lei do tempo e a do lugo.r  há 
de reger; ou se proibiu que se tirasse ao ato mesmo a pessoalidade, e então o extrínseco é regido pela lei do dia da 
morte e pela lei pessoal (cf. E. HABICHT, Internationabes Privatreokt, 87). Por exemplo: segundo os §§ 2.238 e 
2.064 do Código Civil alemão, o testador tem de entregar o escrito para o testamento público, e isso, pai~a o direito 
alemão, é forma, de modo que, em Estado cuja legislação permitisse a entrega por mão de outrem, 
o Alemão testaria validamente, preferindo a ler boi (Eiafiihrungsgosetz, art. 11, alínea 2~a, parte 2.~). 
A despeito de tal distinção, o Código de Havana, art. 148, considera de ordem pública internacional o princípio que 
declara ato pessoalíssimo o testamento. Duplo êrro, porque terri torializou o que não devia ser territorializado e não 
atendeu a que, se há a facuitatividade da lex boci e sendo extrínseco o requisito é sem razão de ser a violência que 
estabelece a invalidação do ato em que se optou pela lei pessoal. 

18. CAsos DE REENVIO.  A doutrina do reenvio arareceu na Inglaterra no caso Colher versas Rivaz (Côrte de 
Canterbury, 184; LOP.ENzEN, Cases in Confucts of Law,  2·a ed., 827 a propósito dê testamento feito na Bélgica 
por Inglês, que ali era domiciliado. A lei belga tinha­o por válido; a lei inglêsa, não; mas a Côrte inglêsa admitiu o 
reenvio. 
Austríaca,  domiciliada  em  Hamburgo,  fêz  o  testamento  na  forma  do  Código  Civil  alemão,  §  2.238,  isto  é, 
entregando escrito ao notário, perante 4uas testemunhas. O pai da herdeira instituída foi uma das testemunhas, o 
que,  para  o  sis  tema  jurídico  alemão,  é  causa  de  nulidade.  A  Côrte  de  Hamburgo  só  atendeu  ao  art.  11  do 
Einfiihrnngstiesttz;  e o  Reicltsgericht,  a 17 de dezembro de 1912,  lho  censurou, por  ser  a  lei  que rege  a  relação 
jurídica a que rege a forma; se a lei, de que se trata, ignora a regra jurídica bocus regit actam,tem de ser aplicada a 
lei do ato, e não a do lugar. O intuito foi o de reenviar. 
O reenvio, que, em muitas espécies, valida, para reforçar o favor testamenti, por vêzes o desfaz. No Caso Sanchez, 
novaiorquino domiciliado em Paris, com testamento na forma da lei pessoal, o ato jurídico na França foi julgado 
nulo, porque havia de seguir a lei francesa (E. POTU, La Question riu flenvoi eu droit international privé, 62).
O problema consiste no seguinte: se a regra jurídica do Estado A considera incidente a lei do Estado B ou C, contra 
o que o Estado B ou o Estado C estatui, ~deve aplicar­se a lei do Estado B ou C, ou respeitar­se a lei que o Estado 
A teve como a aplicável? Noutros têrmos: ~ respeita­se a lei do Estado A, ou a sua regra de direito internacional 
privado? O conflito pode ser positivo ou negativo. Se é positivo, não há outra solução que não seja a da ler fori, 
salvo  se  essa  afasta  a  própria  ligação  (e.g.,  Einffthrungsgesetz,  art. 28,  se  os  bens  se  acham  fora  da  Alemanha; 
jurisprudência italiana, quanto a imóveis da sucessão do decujo italiano, fora da Itália). Se énegativo, o Estado B 
ou  C  ou  D  (terceiro)  atribui  ao  Estado  A  competência  que  êle  não  tem:  há  algo  como  espécie  de  direito 
supranacional (supraestatal) conforme frisa  L. VoN BAR (Rapport, Aunuatre de l’Institut de Droit international, 
1900, 155), contra a regra de direito internacional privado do Estado A. 
Adversários da teoria do reenvio vêem nela pretexto para estenderem os juizes a própria jurisdição (A. PILLET et 
J.­P.  NIEox’ET,  Manuel  dc  Droit  Internationãl  privé,  379).  Nos  Estados  Unidos  da  América,  se  J.  BEALE  (A 
Treatise on The Confiict of Laws or Frivate International Law, 77) disse não existir o reenvio, não é o que se tira 
do livro Testative Draft, n. 2 Conflict of Laws, do American Law Institut (10). 
As  Convenções da  Haia  não  admitiram  o  reenvio. Aliás,  se  há  convenção  internacional,  com  regras  jurídicas de 
conflito, afasta­se o reenvio. 
Os Tribunais italianos resistiram à teoria do reenvio; mas houve exemplos, e.g., caso Kemot (Côrte de Cassação de 
Nápoles, 5 de janeiro de 1920) e caso Savage Landorf (Côrte de Apelação de Florença, 23 de janeiro de 1919). 
a) A Côrte inglêsa julgou bem, no caso Colher versus Rivaz; aplicou bem a regra jurídica locus regit achem, sem 
no dizer e antes de essa se haver afirmado. No fundo, in Iavorem testamenti. 
b) Admitida, quase universalmente, a regra jurídica bens regit actum como facultativa, é acertado presumir­se que 
se optou pela lei da forma válida. Aqui, não há reenvio; há presunção. Mas, ainda que tal presunção não exista, o 
êrro de direito, quanto à forma, pode permitir o julgado vahidante 
e) Deve­se sempre reenviar  quando a lei estrangeira não diz, claramente, como se há de resolver a questão. 
d)  Se,  no  conflito  negativo,  o  testamento  satisfaz  a  uma  das  leis,  impõe­se  a  presunção  de  que  as  leis,  não  o 
prevendo. admitem a solução, ou a escusa do error inris. 
Donde: se positivo o conflito, a boi fori; se negativo, e nulo para ambas as leis o testamento, nulo é; se negativo o 
conflito, e válido para uma delas, há o favor testamenti, ou a escusa do error inris. Mas, se, nulo para ambas as leis, 
pode ser­lhe favorável a facultatividade da regra jurídica bons regit actum, a lez fori não pode deixar de considerar 
válido o testamento, a despeito de não o considerá­lo como tal a lei pessoal (caso de quem tem por lei pessoal a de 
Estado sem a regra jurídica bons regit actum ou a interpreta como obrigatória). Donde a solução: a facultatividade 
da regra jurídica bons regit actutn há de ser atendida, por ser de ordem pública internacional; no Estado do fôro, o 
testamento podia ser por uma ou por outra lei. 

19.FORMA TESTAMENTÁRIA NO DIREITO INGLÊS.  A vahidade do testamento relativo a bens  imóveis 


situados na Inglaterra regula­se, ainda quanto à forma, pela lei inglêsa. (Pepin versas Bruyêre, 1902). Quanto aos 
bens móveis, a lei do domicílio do testador, no momento da morte (In re Price, 1900). 
O  testamento  do  súdito  britânico,  feito  no  estrangeiro,  ou  o  seu  codicilo,  se  o  objeto  é  o  personal  estate, 
compreendidos os leaseholds, pode ser homologado se satisfaz uiha das seguintes formas: a) a da lei do lugar da 
feitura; b) a da lei do domicílio do testador no momento de testar; o) a da lei da parte dos His Majesty’s Dominions 
onde o testador tinha o domicílio de origem (Wills Ad, 1861, art. 1; quanto aos leaseholds, Re Grassé, 1905). 
Quanto aos testamentos dos Inglêses feitos no Reino­Unido, qualquer que tenha sido o domicílio dele ao tempo da 
feitura ou da morte, vale e é admitido ao probate se satisfaz os requisitos da lei em vigor na parte do Reino­Unido 
em que se fêz (Wills Aet, 1861, art. 2). Donde se tira, oontrario sensu, que o testamento do estrangeiro, domiciliado 
no Estado que lhe dá a lei pessoal, se feito em tal Estado de conformidade com a lei inglêsa, que não seja suficiente 
para o Estado estrangeiro, é nulo  (Gooris of von Buseok, 1881), ainda que o domicílio de origem  do estrangeiro 
tenha sido britânico (Bloxam versus Farre, 1833). 
Quanto  às  formalidades  da  designação  testamentária,  appointment,  é  de  observar­se:  o  poder  de  dispor  de  bens 
móveis por testamento, conferido por settbemertt inglês, deve ser em testamento, redigido, seja segundo as formas 
da lei do domicilio do testador no momento da morte, mais as formalidades impostas pelo settlement, se as há, seja 
segundo as formas testamentárias do Wills Ad de 1837, art. 9 (D’Huart versns Harkness, 1865; In re Price, 1900; 
Barreto versus Yung, 1900; Be Walker, 1908). No último caso, será válida a execução do power, ainda que o ato 
seja  nulo como  testamento  perante  a  lei do domicílio do  testador  (Goods of  Hallyburton, 1866; Goods of  Hubu, 
1896). Cf. Wilbs Aot de 1837, art. 10. 

§ 5.863. Direito intertemporal e forma 

1.PRINCÍPIO DE DIREITO INTERTEMPORÂL E FORMAS TES‘FAMENTÂRIAS.  No direito intertemporal, 
rege  o  princípio  tempus  regit  aotum.  Lei  do  tempo  e  do  lugar  rege  a  forma,  o  extrínseco  do testamento.  Lei  da 
sucessão e lei do dia da morte rege o intrínseco. Os vícios de vontade escapam àquela; não são forma.
Como em direito to intertemporal, que o cego, o surdo­mudo, isso podem, saindo do formais intrínsecas. 
]nternacional privado, muito há, no direi­é requisito intrínseco. E.g., o analfabeto, que não são incapazes de testar, 
nem por lugar da lei pessoal, escapar a exigências 

§ 5.868. DIREITO INTERTEMPORAL E FORMA ­Quando a lei veda ao cego o testamento cerrado e o particular, 
tal proibição não é limitação da capacidade testameutária  (cf. G. EIÇRRORN, Das Testament, 3? ed., 127), e sim 
limitação quanto ao uso da forma. Mas pode ocorrer que o Estado a qualifique diferentemente e tal é a qualificação 
por alguns Estados; então, se não é admissível que se trate de capacidade, forçoso é que se lhe reconheça o caráter 
de intrínseco. 
Odireito intertemporal tem de afastar­se da solução corrente para outros casos, pelo exercício que já se supôs do 
direito  de  testar.  Sendo  subjetiva  a  razão  de  mudança,  devemos  julgar  válido  o  testamento  que  observou  a  lei 
anterior.  À  semelhança  da  regra  jurídica  sôbre  capacidade.  Elementos,  como  êsse,  de  subjetividade,  que  não 
concernem  à  capacidade  de  direito  (sempre  regulada  pela  lei  do  momento  da  morte),  são  como  se  fôssem 
limitações à capacidade de exercício, exceções 
portanto  do principio anteriormente exposto de se reger o extrínseco pela lei do tempo do ato e o intrínseco pela lei 
do tempo da morte. 

2. ESPÉCIES DE FORMAS TESTÂMENTÁRIÂS E DIREITO INTERTEMPORÂL.  Adotada pelo testador uma 
das espécies do  testamento, que  a  lei  do  momento permite,  só  essa  lei  rege  a  validade  formal  do  ato.  Não  cabe 
distinguir­se se o tastador podia, ou não, revogá­lo: usou do seu direito. Mas há forma externa e forma interna. Se, 
quanto àquela, é pràticamente pacífica a doutrina, não se dá o mesmo quanto a essa. Por isso, devemos separar os 
casos, por exemplo, do testamento hológrafo, que a lei A permite sem testemunhas e a que a lei B exige cinco, e os 
outros, de forma interna, como no direito brasileiro, o do testamento conjuntivo do direito anterior, que 
o Código Civil proibiu. 
No  direito  romano,  a  L.  29,  O.,  de  testamentis  quemadinodum  testamenta  ordinantur,  6,  23,  e  a  Novela  66 
estabeleciam a exclusividade da lei do momento da feitura, em se tratando de forma externa. Na Novela 66, Caput 
4, disse­se  que deviam regular  os  testamentos  as  leis  antigas,  porque  “neque omnia  in  nostra  potestate  sunt,  neo 
semper aliquis tempus testandi babet”. 
A lei antiga foi a imposta pela Ordenança francesa de 1735, art. 50, e outras leis francesas, pelo § 12 do Patent do 
Aligemeines  Preussisefles  Landrecht,  pelos  incisos  V  do  Kundmach,ungspatent  austríaco  e  II,  §  37,  do 
Ávitidtdtspatent  de  29  de  novembro  de  1852  (no  direito  austríaco,  sem  distinção  entre  forma  interna  e  forma 
externa), pelas Ordenações do Hannover de 1814, §§ 25 e 72, de Brema, § 17, de Oldenhurgo, § 9, pela Ordenança 
transitória  prussiana  de  1814,  §  6,  pela  Lei  holandesa  de  1.0  de  outubro  de  1883,  art.  3,  pelas  Lei  transito­ria 
estense de 1852, art. 17, e saxônica de 1863, art. 23, e pela Lei italiana de 1865, art. 23. 
Vacilou a jurisprudência francesa. E a belga. A italiana, diante do Código Civil italiano de 1866, ateve­se a lei do 
dia da morte do testador (contra, O. F. GAnA, Teoria delia Retroattivitd deile Leggi, III, 3.~ ed., 336). G§NNER 
(Von der rflckwirkenden Rraft eines neuen Gesetzes auf vorbergegangene Handlungen, Archiv fiir Gesetzgebung, 
1, 155) e MAILHER DE CEASsAT (Traité de Ia Retroactivité des Lois, II, 25) insistiram em impor a lei do tempo 
da morte, embora o último deixasse ao juiz apreciar circunstâncias. 

3.TESTAMENTO PÚBLICO E TESTAMENTO CERRADO.  O oficial público tem de observar a lei do Estado 
que lhe determina as funções. O queé intrínseco rege­se pela lei do tempo. A revogação ou a simples derrogação de 
algum  artigo  de  lei,  que  regulava  formalidade  essencial  (ou  que  a  criara),  pode  ter  conseqúências  graves.  Na 
dúvida, é aconselhável a satisfação do que se exigia. 
A Relação de Lisboa, a 23 de abril de 1873, julgou válido testamento cerrado, feito antes do primeiro Código Civil 
português, por pessoa que não sabia ler, nem escrever. O Código Civil, hoje revogado, se, no art. 1.764, parágrafo 
único, proibia o testamento cerrado aos cegos e aos que não podiam ou não sabiam ler, continha regra jurídica de 
direito  inter­temporal,  tida  como  satisfatória  (art. 1.762).  A  regra  jurídica  só  se  referia  às  formalidades  externas. 
Dai a censura de JosÉ DIAs FERREIRA (Código Civil português anotado, IV, 182 si. 

4.TESTAMENTO PARTICULAR.  O testamento particulàr há de ter a forma da lei do tempo. Na ocasião em que 
se fêz, fêz­se bem. Por isso, está feito para hoje e para mais tarde. 

§ 5.863. DIREITO INTERTEMPORAL E FORMA São exigências de forma externa  no direito brasileiro: a) ser 
todo escrito pelo testador; b) ter cinco testemunhas; e) ser lido perante as testemunhas e por elas assinado. 
As formalidades posteriores à própria morto (e.g., abertura, se fechado; publicidade; afirmativas das testemunhas) 
são as da lei do ato. Trata­se de atos complementares, pois no momento das assinaturas está perfeito o testamento. 

5.TESTAMENTO  NUNCUPATIVO.  O  testamento  Dura­mente  oral  não  suscita  graves  problemas  de  direito
intertemporal. No momento em que morre o testador, quase sempre não se passou longo tempo. Se passou, não tem 
eficácia. Os prazos são sempre muito curtos. 
Mas pode ter havido lei nova no lapso exíguo. 
A forma exterior é a do momento em que se fêz. 
Surge  o  problema  da  lei  nova  que  proibe o  testamento  nuncupativo.  Tem­se de precisar  a qualifiçã o,  em direito 
intertemporal, como há a qualificação em direito internacional privado. A lei pode dizer: “não valem os já feitos”. 
Se o testador podia  testar por outra espécie, é razoável a regra jurídica de eficácia imediata. Se não podia, compôs­ 
se  o  direito  adquirido.  Testou  como  podia  e  como  somente  podia.  Em  todo  o  caso,  tem­se  de  respeitar  a 
qualificação  pela  lei.  Se  o  testador,  ao  vir  a  lei  nova,  não  pode  testar  de  outra  maneira,  não  se  lhe  pode  ferir  a 
liberdade de testar. 

6.TESTAMENTO  CONJ UNTIVO.  Antes  do  Código  Civil,  a  doutrina  admitia  o  testamento  de  mão  comum. 
Perguntou­se: morto o testador após a incidência do Código Civil (digamos, em 1917) ~valia o testamento? CLóvís 
BEvIUÁQUA  (Parecer,  Revista  Jurídica,  16,  74  s.)  considerou­o  nulo:  “O  testamento  não  se  considera  um  ato 
perfeito  e  acabado,  senão  quando  morrer o  testador.  Até  êsse  momento  pode  ser  revogado. E particularmente,  o 
testamento conjuntivo, se não pudesse ser desfeito pelo testador a qualquer momento, seria um pacto sucessório, 
expressamente  reprovado  pelo  direito  anterior.  Se  o  testamento  não  é  um  ato  perfeito  e  acabado  senão  desde  a 
morte do testador, está, forçosamente, submetido à lei em vigor a êsse tempo e não à que prevalecia ao tempo da 
sua facção. A lei respeita o ato perfeito, isto é, o já consumado segundo 

a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Mas o testamento, de que se trata, não pode considerar­se consumado, no 
momento em que foi redigido. É da sua essência a revogabilidade, porque é um ato mortis causa, é uma disposição 
de última vontade, e a última vontade só é possível determinar quando o testador, com a morte, cesse de querer”, O 
êrro vem de C.F. A. KÕPPEN e influiu em CLÓVIS BEVILÁQUA. 
Há duas noções que aparecem confundidas: a de revogabilidade, cujos efeitos são no momento da morte e permite 
ter­se como sempre refazível o ato testamentário, e o do regramento legal, que é, quanto à forma e à capacidade, o 
do momento da testamentificação. Feito o testamento, não há, com a lei nova, de ser atingido. 
O testamento conjuntivo não é só forma. Se o fôsse, feito antes da lei que o proibe, valeria ao tempo da morte e 
depois. Via de regra, é forma e fundo: contém disposições simultãneas, recíprocas ou correspectivas, o que é objeto 
da lei de sucessão, e são apreciáveis no momento da morte do testador; a forma, o extrínseco, há de reger­se pela 
lei da feitura, no tempo e no espaço. 
Na jurisprudência brasileira, o Tribunal de Justiça de São Paulo, a 5 de dezembro de 1919, decidiu pela nulidade do 
testamento conjuntivo, feito antes do Código Civil (1916), se na vigência dêsse faleceu o testador. Foi escusada a 
critica contra tal decisão, crítica que se baseava em estar perfeito o testamento no dia da feitura. 
Diante de testamento válido conforme a lei do tempo em que se fêz, a capacidade do testador e o que concerne a 
circunstâncias subjetivas só excepcionalmente se rege pela lei antiga. 
7.TESTAMENTO  DE  MILITARES,  MARINHEIROS  E  VIAJANTES  DE  ALTO­MAR.    Rege  o  princípio  tem 
pus regit actum:  feito, vâlidamente, continua valendo. É diminuto o interêsse das questões, porque, pela exigência 
generalizada  nos  sistemas  jurídicos,  de  prazo  de  eficácia  assaz  restrito,  de  ordinário  há  a  caducidade  antes  de 
qualquer conflito intertemporal. 
Doutrinàriamente, se, morto o testador, não se esgotou o prazo, não incide a  lei  nova. Se, ainda a correr, vivo o 
testador, a lei nova o encurtou, não se há de apressar, mesmo na ausência de regra jurídica especial, o prazo que 
corria. Mas é de supor­se que tal decurso, o que é o quod plerum que fit, é exigência só imanente à forma. Se a lei 
nova proibiu a espécie, não se pode violar o direito adquirido. 
No caso de lei nova, que estende o tempo da eficácia, não se pode dizer que dela não se beneficiem os testamentos 
cujo prazo ainda não correu. 

8.TESTAMENTO  “TEMPORE  PESTIS  CONDITUM”.    Com  o  testamento  tem  pore  pestis  conditum  dá­se  o 
mesmo que se disse sôbre o testamento nuncupativo e os especiais. Quanto aos requisitos extrínsecos, rege­os a lei 
do momento em que se faz (tempus regit actum). A lei nova vedativa esbarra na circunstância de haver testado o 
decujo e já não poder obedecer a nova lei. Tratar­se­ia de efeito retroativo, que se não há de tolerar. 

9. CONTRATO DE HERANÇA E DOAÇOES A CAUSA DE MORTE. Rege a  forma do contrato de herança  e 
das doações  mortis  causa   a lei  do  tempo  em  que se  concluem.  A  lei  nova  não  pode,  retroativamente,  destruir  a 
eficácia. Nem o contrato de herança nem as doações a causa de morte estão sujeitos à lei de sucessão, salvo no que 
o  direito  sucessório  tem  de  preponderar.  Por  outro  lado,  não  há  a  revogabilidade  plena   que  caracteriza  o 
testamento.  A  lex  boi  rege  a  forma  (II.  HABICHT,  Die  Einwirlcung  des  13GB.,  auf  zuvor  entstandene 
Rechtsverhii.ltnisse, g~a ed., 767; F. AFFOLTER, Das Intertemporale Reckt, II, 340).
10.CONVALESCENÇA E DIREITO INTERTEMPORAL.  ,A lei nova pode convalidar o testamento feito sob a 
lei  anterior  e  inválido  por  defeito  de  forma?  (Afirmativamente,  a  Ordenança  oldemburguesa  de  25  de  julho  de 
1814, § 9; A. MAILHER DE CHASSAT, Traité de la Retroactivité des Lois, II, 27; contra, GRANDMANCHE DE 
BEAULIETJ, De l’Êtendue de l’Autoritê Lois, 85 5.; J. KALINDERO, De la Non­retroactivité des Lois. 119; V. 
VITAL!, La Forma dei Testamento italiano, 157). A jurisprudência é hostil. 
Os  principais  argumentos  são  os  seguintes:  a)  Argumento  contra  a  convalescença  formal:  o  testamento  a  que 
faltava formalidade necessária, era nulo, e nulo há de continuar. 
b)Argumento a favor da convalescença: se o testador, que nulamente testara, sabia­o nulo, mas conheceu a lei nova 
e achou não ser preciso (MAILHER DE CHASSAT, II, 29). Réplica ao argumento b) : se o testador não rompeu o 
testamento nulo, sabia­o nulo, e não se preocupou com isso, pois conhecia a lei nova (MERLIN, Répertoire, 273). 
A convalescença formal seria de couseqúências profundas; e nas leis novas só excepcionalmente há a finalidade de 
trazer  à vida: o elemento político (a técnica legislativa) estatui para o futuro, porque olha o futuro e regra o futuro). 
Por isso: 
a)  Pode  a  lei,  ao  estabelecer  algo  para  o  futuro,  tratar  de  atos passados, que  a  regra  jurídica tempus regil actum 
submeteu  à  sua  incidência.  Por  exemplo:  “os  testamentos  feitos  no  regime  anterior,  se  nulos  por  falta  de  tal 
formalidade,  convalescerão  se  os  testadores  declararem  ao  juízo  competente  que  os  mantêm”;  “os  testamentos, 
feitos  no  regime  anterior  e  nulos  por  falta  da  finalidade  tal,  convalescerão  se  os  testa­dores  não  declararem  o 
contrário aos oficiais públicos ou não os romperem”. Aí, a lei  para GONNER (Von der rflckwirdenden Kraft eines 
neuen  Gesetzes  auf  vorhergegangene  Handlungen,  Arckiv fijr  die  Gisetzgebung,  1, 159),  MERLIN (Ré  pertoire, 
273)  e  3.  KALINDERO  (De  la  ATon­retroactivité  des Lois,  119)    é  imperativa.  Devemôs,  porém,  frisar  que há 
dispositividade.  Trata­se de princípio geral, que estava  no Preussisckes Alígemeines Landrecht e T. D. MEYER  
(Principes  sur  des  Questions  transitoires  13)  reformulou.  Apanha  todo  o  direito  intertemporal  Mais: 
sociológicamente, resulta dos índices (. 2; portanto, 2 para futuro, pela instabilidade; e 7, de quanto despótico, que 
caracteriza a Política). 
Surge  questão  sutil.  Se,  no  intervalo,  cai  em  incapacidade  ou  impossibilidade  de  testar  o  testador,  ~há 
convalescença? Afirmativamente a Ordenança prussiana de 1814, V. VITALI  (La Forma del testamento italiano, 
188), que afirmou não caber distinguir­se se a incapacidade começou antes ou depois da lei nova, e F. BIANCrn  
(Corso elementare di Codice Civile italiano, 123). 
Se a lei sanatória exigia ato positivo para a convalidação e ficar provado que o testador tinha o animus conservandi 
e somente por impossibilidade física ou psíquica não providenciou, ou, depois de haver testado e antes de extinto o 
prazo da lei  nova, caiu em incapacidade, tudo se reduz a dupla interpretação: ou o ato positivo seria formalidade 
formal ad essentiam, que se não poderia suprir por outras provas da intenção do decujo, ou a prova da intenção é, 
por  si,  um  dos  meios  de  prova  de  revalidação.  Se  quem  testou  tinha,  ou  não,  o  intuito  de  impor  como  eficaz  o 
testamento, depende, ai, das provas. 
b)Se a lei  não exige qualquer ato do testador, por ter considerado contra os princípios  gerais o que a lei anterior 
estabelecia, valem quaisquer testamentos a que ela se refira. Tal atitude legislativa é rara. 
Para a convalidação dos negócios jurídicos, inclusive a dos testamentos, é preciso: a) ou que o ato do figurante seja 
reconhecido  pelo  sistema  jurídico  como  suficiente  para  o  efeito;  b)  ou  que  tenha  corrido  o  prazo,  se  pela  lei 
considerado convalescente. Se o testador revogou apenas a revogação de um testamento, ou de alguma disposição, 
não se trata de convalescença, se o testamento volta a ser eficaz, cf. AUGUST SCHULTZ, Die Konvalescenz des 
13GB., 27.) 
Quanto  às  formas  testamentárias,  só  se  pode  cogitar  de  convalescença  que  decorra  de  princípio  superior  ao  que 
regia o negócio jurídico. Por exemplo: eram nulos os testamentos que os testadores fizeram em região inundada, 
por  só  figurarem  nêles  três  testemunhas.  Diante  dos  casos  que  foram  muitos,  pode  o  legislador  estatuir, 
excepcionalmente: “Os testamentos feitos durante a última inundação, na região tal, ainda que não tenham tido a 
assinatura de cinco testemunhas, têm­se por válidos.
O legado, vale êsse (E’. RITCEN, BitrgerlichE3S Gesetzlntch, ¾543). Se é certo que se nao aplicam os §§ 145­ 
158 e 305­319, não se pode dizer o mesmo dos §§ 155 e 157 (E’. RITGEN, BiirgeYlich~BS Gesetzbtwh, V, 525). 
Quanto à alínea 2.8, cumpre advertir­se que os ~§ 2.077 e 2.279 não são invocaveis com a extensão do § 2.268, 
relativo ao testamento nuncupativo. Se, no contrato de herança, os cônjuges, que se instituiram reciprocamefite 
herdeiros, dispuseram que, em caso de morte do sobrevivente, a sucessão se devolveria a terceiro, ou instituiram 
legado executável em tal tempo, dá­se aplicação analógica do ~ 2.269 (cf. § 2.280). 
Pode ser anulado, por pedido do disponente, o contrato de herança, se feito por êrro, ou rebns aio atantibus, ou 
nos mais casos do §§ 2.078 e 2.079. Mas, para a anulação com fundamento no § 2.079, é preciso que o herdeiro 
necessário exista na época em que se quer pedir anulação (§ 2.281, alínea l.~j. Se o disponenlte, após a morte do 
outro  contratante,  quer  anular  disposição  a  favor  de  terceiro,  deve  declará­lo  ao  juízo  de  sucessão,  que  o 
comunicará  ao  terceiro  (§  2.281,  alínea  2.~).  São  causas  invocáveis  os  defeitos  de  vontade,  as  mudanças  de 
circunstâncias e a violação das legítimas. O direito de anulação pelo testador é personalissimo. Exceto no caso do 
§ 2.282, alinea 2.8 não pode ser exercido por intermédio de outrem, nem se transmite aos herdeiros. Após a morte 
do testador, só as pessoas mencionadas  no § 2.080 podem pedir anulação do contrato, com fundamento nos §§ 
2.078,  2.279  e  2.285  (F.  RITGEN,  Bitrg  crU­cites  Gesetzbu.ch,  V,  529)  .  O  credor  do  disponente  não  tem 
qualquer  direito  de  anulação  (LUDWIG  SCRTEFNER,  Der  Erbvertrag  nach  clern  5GB.,  151,  nota  12).  ~ 
interessante notar­se. que, no caso de dolo, não é preciso que o outro figurante conhecesse ou devesse conhecer o 
dolo do terceiro, para que se possa pedir a anulação (E. RITOEM, Búrqerliches Gesetzbuoh, V, 528) ;. o § 123, 
alínea 2.8, não se aplica ao contrato de herança. O pedido de anulação não pode ser feito pelo representante do 
dísponente. No caso de capacidade restrita, não precisa do consentimento do representante legal para o pedido. Se 
o disponente  é  incapaz,  o  representante  legal  pode  pedir  a  decretação da  nulidade,  com  aprovação  do  juízo de 
tutela. O pedido de anu­lação deve ser feito por ato judicial ou notarial (§ 2.282). Por parte do disponente, o prazo 
para o pedido é de um ano. No caso de anulablidade por ameaças, começa a correr do momento em que cessa a 
coação; nos outros casos, do dia em que se conheceu a causa de anulação. Aplicam­se por analogia as disposições 
dos  §§  203  e  206,  relativas  à  prescrição  (§  2.288,  alíneas  1.~  e  2  ª  No  caso  do  §  2.282,  alínea  2.8,  se  o 
representante  legal  não  pediu  em  tempo  a  invalidação,  pode  pedi­la,  pessoalmente,  o  disponente,  como  se  não 
tivesse tido representante legal (alínea 8.~) ­ Trata­se de prazo preclusivo. Conta­se segundo os §§ 187, alínea lª e 
188, alinea 2?. Se o dísponente apenas tem capacidade limitada e poderia anular sem representante legal, corre 
contra êle o prazo. O § 2.283 somente éinvocável para a anulação pedida pelo disponeflte pelas outras partes, o 
prazo preclusivo é  o dos  §§ 121 e 124; para  as  pessoas  do § 2.080, o do §  2.082  (E.  RITCEN,  Búr.qerlichús 
Gesetzbueh, V, 530) . Mas essas pessoas do § 2.080 não podem, com fundamento nos §§ 2.018 e 2.079, pedir a 
anulação, se já extinto o prazo para o disponente (§ 2.285) : se ainda vigora, é outro prazo que lhes corre (Motive, 
V, 325) 
Só  o  disponente,  pessoalmente,  pode  ratificar  o  contrato  de  herança  anulável.  No  caso  de  capacidade  restrita, 
exclui­se  a ratificação  (§  2.284)  .  O  § 144  é aplicável  (Protokolle, 1,  886)  .  Após  a  ratificação,  é  inatacável  o 
contrato de herança, mas a ratificação pode ser atacada. Quanto ao caso do § 2.275, alínea 2.8, a opinião é pela 
irratificabilidade (LUDWIO  SCHIFNER,  Der  Erbvertttig nach dem SOB., 156,  contra I­IEINRICH WILKE, 
Erbrecht, nota 2 ao § 2.275). 
O contrato de herança não restringe ao dísponente o direito de dispor dos seus bens por ato jurídico entre vivos (§ 
2.286). Não era assim antes do Preussisclies Alígemeifles Landrecht, 1, 12, § 624, e do Código Civil saxônico. Os 
§§ 2.287 e 2.288 prevêem casos de abuso do direito: no caso de doação lesiva do herdeiro contratual, pode êsse, 
ao  se  lhe  devolver  a  herança,  exigir  a  restituição,  segundo  as  regras  jurídicas  do  enriquecimento  injustificado, 
ação que prescreve em três anos a partir da abertura da sucessão (§ 2.287). Se o disponente destruiu, desviou ou 
prejudicou o objeto de legado convencional, impossibilitando a prestação, o objeto será substituído pelo seu valor 
(§ 2.288,  alínea  1?).  Se  o  testador  alienou ou  gravou o  objeto,  com  intenção  de  lesar,  o  herdeiro é  obrigado  a 
buscar­lhe  o  objeto  ou  a  desonerá­lo,  aplicando­se,  por  analogia,  o  §  2.170,  alínea  2.8,  a  tal  obrigação.  Se  a 
alienação  ou  gravação    foi  feita  a  título  de  doação,  o  beneficiado  tem,  se  não  pode  obter  a  indenização  pelo 
herdeiro,  o  direito  do  §  2.287  contra  o  donatário  (§  2.288,  alínea  2.~).  fl  preciso  notar­se  que o  §  2.288  não  é 
simples  regra  jurídica  de  interpretação  (F.  RITGEN,  Riirgerliches  Gesetzbuck,  540).  Após  a  morte  do  outro 
figurante, pode, por testamento, em virtude do § 2.297, suscitar a resoIuç~o do contrato de herança. O contrato de 
herança,  bem  como  qualquer  disposição  contratual  particular,  pode  ser  atingido  por  outro  contrato,  em  que 
figurem as pessoas que concluíram aqueles. Mas isso nâo pode dar­se após a morte de uma delas. Tal contrato só 
pessoalmente  pode  ser  feito  pelo  que  dispôs  da  sua  sucessão.  No  caso  de  capacidade  restrita,  não  precisa  do 
consentimento do representante legal. Se a outra parte se acha sob tutela, é de mister a homologação do tribunal. 
Dá­se o mesmo se sob o pátrio poder, quer se trate de contrato passado entre cônjuges ou entre noivos (§ 2.290, 
alíneas 1a.. 3ª) A forma é a do contrato de herança (§ 2.290, alínea 43). 
a  forma  do  contrato  imposta  à  resoluçâo:  por  isso,  se  o  contrato  de  herança  se  fêz  em  contrato  de  casamento,
então basta a forma dêsse. O contrato de herança feito entre cônjuges pode ser desfeito por testamento conjuntivo 
dêles,  aplicáveis,  por  analogia,  as  disposições  do  §  2.290,  alínea  3·a  (§  2.292).  No  §  2.298,  o  Código  Civil 
conferiu ao disponente a faculdade de resolução do contrato de herança, se se reservou tal direito na convenção (§ 
2.298>. Pergunta­se se não se choca tal dispositivo com o caráter obrigatório do contrato de herança, mas há, aí, 
evidentemente,  o  influxo  do  testamento.  Não  se  trata  de  condição  o  resolutiva,  aliás  admissível.  N~o  precisa 
figurar  no  contrato,  pode  ser  em  suplementar.  Não  se  confunde  com  a  reserva  de  dispor  diferentemente,  em 
declarações posteriores. Também é possível resolver­se a disposição contratual nos casos em que o beneficiado 
perderia a reserva, se é herdeiro com direito a ela, ou se o fosse (§ 2.294, cf. §§ 2.383­2.385) 
A doutrina adverte: é preciso que a causa seja posterior ao contrato de herança; se anterior, não cabe a distinção 
de  ter  sido,  ou  não,  conhecida  do  disponente  (F.  RTTGEN,  Rurgertiches  Gesetzbuoh,  V,  548;  LUDwIG 
SCHIFFNELI,  Der  Erbvertrag nack dem  BGR.,  178).  Se  era desconhecida, pode  ser usada  a  ação  de  anulação 
fundada  nos  §§  2.281  e  2.078,  alínea  2·a  Se  a  disposição  correspondia  à  obrigação  contraída,  perante  o 
disponente,  pelo  beneficiado,  de  prestações  periódicas,  ou  de  sustento  daquele,  pode  ser  resolvida  se,  antes  da 
morte do disponente, fôr anulada a obrigação (§ 2.295). A resolução só se exerce pessoalmente; para ela, o que 
tem  capacidade  restrita  não  precisa  do  consentimento  do  representante  legal:  opera­se  por  declaração  ao  outro 
figurante  e  faz­se  judicial  ou  notarial­mente  (§  2.296).  Pode  fazer­se  por  testamento,  aplicáveis,  no  caso  do  § 
2.294, as regras jurídicas do § 2.386, alíneas 2ª~4ªa. (§ 2.297). Mas, revogado o testamento, revive o contrato de 
herança. Se, no mesmo contrato, disposições contratuais forem concluídas pelos dois figurantes, a invalidade de 
uma  tem  como  consequência  a  ineficácia  de  todo  e  contrato  (§  2.298,  alínea  lª)  Trata­se  de  regra  jurídica  de 
interpretação:  presume­se,  legalmente,  a  dependência  e  correspectividade  das  disposições.  Não  se  confundam 
invalidades  como  advento  de  condiçôes,  têrmos,  repúdios,  morte  do  beneficiado  (LUDwIG  SÇHIFFNn,  Der 
Erbvertrag naoh dem RGR., 188). Também não aplica ao que é disposição unilateral, se bem que o § 2.298 fale 
em “ineficácia de todo o contrato”. Se, em contrato da alínea lª do § 2.298, se reservou a resolução, feita para um, 
tem o efeito de destruir todo o contrato, O direito de resolução extingue­se com a morte do outro contraente. Mas 
o  sobrevivente,  se  renuncia  ao  benefício, pode  resolver, por  testamento,  a  sua disposição  (§ 2.298,  alinea  2.~)· 
Cada  contratante  pode,  no  contrato  de  herança,  dispor  tudo  que  poderia  em  testamento.  Será  como  se  um 
testamento fôra. Pode desfazer as disposições, em contrário do que acontece quanto às disposições contratuais. Se 
por outro contrato, ou pelo uso do direito de resolução, se tira eficácia a contrato de herança, a disposição perde­a 
no  que  não  se  tenha  de  admitir  que  outra  era  a  vontade  do  disponente  (§  2.299).  Os  §§  2.259­2,263  e  2.278 
aplicam­se  à  abertura  do  contrato  de  herança,  mas  as  regras  jurídicas  do  §  2.273,  partes  23  e  ,  só  no  caso  de 
depósito (§ 2.800) 

4.CONTRATO DEE HERANÇA NO DIREITO suíço.  O Contrato de herança só se faz na forma do testamento 
público (Código Civil suíço, art. 512, alínea 1?): aos figurantes declaram a vontade, simultâneamente, ao oficial 
público;  assinam  o  ato  perante  êle,  na  presença  de  duas  testemunhas  (alínea  2.~).  A  teoria  de  GUSTAV 
ARTMANN  não  prevaleceu;  mas,  se  bem  que  não  se  trate  de  negócio  duplo  (Doppelgesúhdft),  de  um  lado  é 
regido pelas regras jurídicas sôbre contratos (Código Suíço das Obrigações de 1911, art. 1 s.), e de outro, pelas 
das disposições de última vontade: negócio jurídico bilateral para o tempo da morte (A. ESCHER, Das Erbrecht, 
Kommentar, III, ‘72 s.). A simultaneidade, de que se fala na alínea  2·a do art. 512, não significa que tenham os 
figurantes de dizer ao mesmo tempo, mas imediatamente um ao outro (A. ESCHELI, III, 101), talvez por simples 
declaração  de  aceitar  (cf.  Código  Civil  suíço,  art.  500),  como  nos  atos  entre  vivos  (P.  TUoR,  Kommentar,  III, 
848) . Para o caso de língua estrangeira, procede­se como nos testamentos públicos. O Código Civil não trata do 
depósito do contrato de herança: a doutrina decide que, feito em dois exemplares, pode ficar com os figurantes; 
salvo  se  a  legislação  cantonal  exige  que  se  deposite  (E  TUOR,  Kommentar,  III,  850)  .  t  necessário  haver  a 
maioridade  (Código  Civil  suíço,  art.  468)  do  disponente:  20  anos  (arts.  14  e  15),  e  ser  o  figurante  capaz  de 
discernímento (art. 16). Excluem­se da capacidade de contrato sucessório, como disponente, e.g., e louco e 
oébrio. Se sob tutela, A. ESCRER (Das Erbrecht, gominentar, III, 26) não admite representação, por se tratar de 
assunto  sucessório  (EUGEN  HUEER,  System  und  Gesehichte  des  Sehw  eizerischen  Privatreehts,  II,  322). 
Também nesse sentido, P.TuoR (Koinmentar, III, 101) Aliás, parece­nos frágil a opinião contrária de EUGÊNE 
CURTI­FORRER   (Comnwfltaive,  369),  que  vê  nas  marginais  dos  arts.  498  e 512  distinção  explícita  entre  os 
testamentos  e  os  contratos  de  herança.  Os  figurantes,  por  convição  escrita   (diferença  notável  em  relação  ao 
direito alemão, § 2.290, e achamos pouco coerente), podem, se querem, resili­lo (art. 513, alínea 1·~)· Em todo o 
caso, a convenção escrita deve ser assinada, ainda que a lei não o diga (1’. TUOR, Kommentar, 512) . Se, após a 
conclusão do contrato de herança, o herdeiro, ou o legatário, se torna culpado de ato que importaria deserdação, o 
disponente pode anular (antilar, anfechten) a instituição ou legado (art. 513, alínea 2Y). 
Essa “anulação” (o texto alemão disse “einseitige Aufhebung”, revogaçao unilateral que é melhor expressão) faz­ 
se numa das formas prescritas para os testamentos (art. 513, alínea 33) 
Se o motivo fôr anterior, há a ação de anulação por êrro (artigo 469), como por violência, ou dolo (E. TUOR,
Kommentar, .351) . A ignorância do motivo anterior não autoriza a ação do art. 513, alínea 33. Aqueles, a quem o 
contrato  de  herança  confere  a  faculdade  de  reclamar  prestações  entre  vivos,  pode  resili­lo,  de  acôrdo  com  o 
direito das obrigações, se não foram executadas ou garantidas, como se convencionou, as prestações <art. 514) . 
A  lei  não  disse  a  forma.  Se o  herdeiro ou  legatário  não  sobrevive  ao disponente,  caduca o  contrato de  herança 
(artigo 515: “est resilié”, expressão imprópria; no texto alemão está: “so fãllt der Vertrag dahin”). Todavia, salvo 
cláusula  em  contrário,  os  herdeiros  do  premorto  podem  reclamar  a  repetição  do  enriquecimento  ao  tempo  da 
morte (art. 515, alínea 23). A alínea 13 é de natureza dispositiva (E. TUOR, Kommentar, V, 358) . (O art. 516 
está fora do lugar, no Código Civil suíço: nada tem com a forma dos atos para a morte; édireito sôbre conteúdo: 
“As  liberalidades por testamento ou contrato de herança não se rompem (“so wird nicht aufgehoben”, “ne sont 
point annullées”), se, depois, diminui a faculdade de dispor do seu autor: mas cabe a redução”.) 

§ 5.859. Direito constitucional e testamento 

1.CRIAÇÀO,  ALTER.AÇAo  E  EXTINÇÂO  DE  FORMAS  TESTAMENTÁRIAS.  As  formas  testamentárias 


somente  podem  ser  criadas  ou  modificadas,  ou  extintas,  pelo  Congresso  Nacional.  Os  Estados  não  podem 
intervir,  nem  estabelecer  nulidade  ou  presunções  legais.  Contudo,  podem  exigir  aos  seus  juizes  que,  antes  do 
“cumpra­se”, procedam a diligências, desde que, com isso, não se invada o domínio do direito material. 
Os  Estados­membros  não  podem  modificar  regras  jurídicas  de  capacidade,  nas  espécies  testamentárias,  nem 
alterar  ou  acrescentar  aos  arts.  1.650,  1.719  e  1.720  do  Código  Civil,  que  trataram  das  testemunhas  nos 
testamentos. Se um Estado­membro determina que os escreventes e mais pessoas dos cartórios não figurem como 
testemunhas, a infração tem as consequências disciplinares, porém não a de invalidado. O Código Civil, em regra, 
não  usou das  expressões  “tabelião”  e  “notário”,.  como  outras  leis.  O  que  êle  exige  é  que  seja  oficial  público, 
pessoalmente. Trata­se de oficial com fé pública, oficial que euremàticamente possa portar por fé (art. 1.634), isto 
é,  oficial  cuja  afirmativa  valha  e  seja  parte  integrante  de  instrumento público.  Não  é  preciso  que  seja  o  oficial 
público  competente  para  outras  escrituras  públicas:  pode  ser  o  exclusivo  de  testamentos  ou  exclusivo  ou 
privativo. Se um Estado­membro dá a atribuição ao escrivão da Provedoria ou das varas cíveis, vale. Pode, até, 
dizer que tal oficial é o juiz de paz, ou o substituto, da comarca. Mais: o escrivão da intendência municipal. O que 
é essencial é que lhe dê fé pública, a qualidade de oficial público. A lei de organização judiciária do Estado pode, 
a respeito, dispor. Mas, aí, para a função substancial da legislação estadual. Ela cria  o oficial que o Código Civil 
pressupõe.  Só  isso.  Pode  ser que  exija  outras  formalidades  aos  testamentos  papel  selado, pagamento  prévio de 
impôsto; mas isso não constitui causa de nulidade. Se algum Estado­membro, por exemplo, não exige que o ato 
seja pelo próprio oficial, mas por escrevente juramentado,  isso não eiva de nulidade o testamento: tal escrevente, 
em virtude da legislação estadual, é oficial púbUco Mas é preciso que a legislação lhe confira fé  pública. A lei 
que permitisse ao escrevente escrever o testamento, porém não lhe reconhecesse fé pública, cindiria as funções de 
escritor do testamento público, e de certificação, portando por fé, o que se não compadece com a lei federal. Tudo 
que se disse sôbre o oficial público, no tocante ao testamento público, incide no tocante ao testamento cerrado. Os 
Estados­membros  não  podem  simplesmente  ficar  o  processo  de  publicação  ou  confirmação  do  testamento 
particular. 

2.LÍNGUA  ESTRANGEIRA  E  LEGISLAÇÃO  ESTADUAL.  O  testamento  tem  de  ser  escrito  em  língua 
nacional  (Código  Civil,  art.  1.632,  parágrafo  único).  Se  um  Estado­membro  manda  que  se  junte  tradução, 
devidamente  assinada  pelo  testador  e  autenticada,  cominada  a  pena  de  nulidade.  Não  há  nulidades  de  atos 
jurídicos  fora  do  Código  Civil.  É  isso  que  leva  a  afirmar­se  ser  inoperante  a  cominação  de  nulidade.  Mas  a 
legislação estadual pode dizer que faltará fé pública ao oficial quanto a atos de estrangeiros que saibam escrever 
se êsses não­escreverem, após o apanhado do oficial em língua nacional, o que êles declararam, vertido na própria 
língua. Éxaminadas as circunstâncias, não é de excluir­se a possibilidade de ser formalidade essencial, em certos 
casos. Outra questão é a dos governos de fato e as nomeações de oficiais. 

3.GOVERNOS “DE FACTO” E TESTAMENTOS.  Às vêzes, os governos são, para uns, de facto, e para outros, 
de iure. Êste énão só o que devia  estar no poder e não está  (MOUNTAGTJE BERNARD, Nc7etrality of &reat 
fintam  during  Ameriean  civil  War,  108),  como  também  o  que  está   no  poder  e,  embora  em  situação  discutida, 
devia estar. Surge, então, a questão jurídica sôbre o direito ao cargo. A própria subida pode não ser normal:  
ogovêrno  de  facto  pode  ascender  normalmente  na  aparência,  por  maquinações;  e  o  de  direito  ter  precisado  de 
insurreições ou revoltas. A solução que temos de esperar é matéria puramente de direito constitucional: é, ou não, 
de qua­estio ius. Respondido isso, parte­se a questão: ato testamentário praticado perante oficial, nomeado pelo 
govêrno  estadual  de  facto,  e  cabendo  a  apreciação  ao  juiz  brasileiro,  do  mesmo  Estado­membro,  ou  de  outro 
(direito civil e interestadual) ; ato testamentário, praticado perante o juiz ou oficia] de outra nação, nomeado pelo
govêrno de facto (geral ou local), cabendo a apreciação ao juiz brasileiro (direito internacional privado) 
Aqui só nos interessa a primeira parte. Da outra, adiante  se  há de tratar. A validade ou udo­validade do ato de 
nomeação  é  preliminar,  mas  preliminar  que  pode  associar­se  a  outras.  Primeira  distinção:  governos  gerais  e 
locais. Se a autoridade do govêrno é geral, se estende por todo país, deu­se substituycão completa do poder,  é 
para o juiz interno como para govêrno de iure. Assim, revolução unitanista, ou federalista, com a uniformização 
das  leis  de  jurisdição,  de  ofícios  públicos,  e  respectivas  nomeações,  que  se  alastrasse  e  dominasse  o  país, 
nomeando tabeliães, escrivães, juizes, criaria a figura do govêrno de facto generalizado e os atos teriam de ser e 
deveriam ser respeitados. Os testamentos feitos perante tais oficiais valeriam, sem discussão, e o juiz deve reputá­ 
los  válidos,  ainda  quando  nova  revolução  reimpusesse  o  govêrno  estável  anterior, o  chamado  govêrno  de  jure. 
Não coexistiriam. Existiriam, um após outro. A decisão do nôvo govêrno restaurado que considerar sem efeito as 
nomeações não pode ter a consequência de invalidar os testamentos das pessoas que falecerem antes de vigorar 
tal solução nova. A regra é que os governos de jure sejam intolerantes com os de facto:  tudo que antes se fêz é 
ilegal. Há, pois, limite, algo como constituição superposta aos governos nascidos ou não das Constituições, que 
autorizam os juizes a velar pelo interêsse público, estabelecendo justo critério nas apreciações concretas. Trata­se 
de  análise  de  relações,  de princípios  superiores,  de  induções,  que  também  se permitem  nas  questões  de direito 
intertemporal constitucional. 
Se  a  questão  da  validade  dos  testamentos  feitos  perante  oficial  nomeado  pelo  govêrno  de  facto  tivesse  de 
resolver­se  pelos  decretos  reconhecedores,  ou  não,  dos  atos  do  govêrno  anterior,  tôdas  as  nomeações  seriam 
nulas; todos os testamentos, nenhuns. É preciso considerar o quantum despótico da Política (= ‘7), e reduzi­lo ao 
do Direito (xx 4). 
Seria mais do que injusto: seria aceitar a suspensão da vida de um povo, a não­testabilidade por ato público. Há 
limitações que nascem das relações para com outros países e dos cidadãos com a ordem social (govêrno de facto, 
ou não) .  Valem as dividas contraídas, quiçá os tratados, as escrituras entre particulares e os testamentos. Ou o 
nôvo  govêrno  diz  que  valem,  e  então  tollitur  quaestio.  Ou  nada  estabelece,  e  devem  entender­se  válidas,  por 
presunção,  as  nomeações.  Ou  diz  que  não  valem.  Aqui,  o  juiz  pode  obrigar  os  próprios  governos  de  facto  ao 
reconhecimento, os dirigentes a que observem as leis. Tal o procedimento americano, após a guerra de Secessão. 
A  justiça  paira;  as  revoluções  e  governos  de  facto  são  fenômenos  pauticos.  A  Constituição  das  Repúblicas  do 
Salvador, art. 69, de Honduras, art. 99, da Venezuela, art. 104, e do Peru, art. 10, declararam nulos os atos dos 
governos de facto. Mas revolução geral de ordinário revoga a Constituição, o que dá no mesmo: 
há Constituição de facto. Em todo o caso, restaurada a ordem constitucional, vêm os decretos, e os juizes dêsses 
países  costumam  só  considerar  válidos  os  atos  que  os  decretos  permitem  Essa  não  é  e  não  pode  ser  a  solução 
brasileira.  ~  Se o govêrno  de  facto  fôr local?   Para  o  caso dos  testamentos  e no  sistema  federativo  do  Brasil,  o 
govêrno de todo um Estado­membro, o govêrno que está, de facto, no Poder, sem coexistir, de facto com outro,  é 
govêrno  geral.  Valem,  portanto,  as  soluções  que  demos  aos  casos  ocorridos  sob  govêrno  geral.  Aos  governos 
locais é inabluível a coexistência. Tais os das guerras civis. Há atos de um e atos de outro, atos do vencido e atos 
do vencedor. que pode ser o de facto como o de’ iure. Aliás, o vencedor, com o critério político, considera­se, a si 
mesmo, de iure. Se o vencedor discrimina os atos seus que valem e es que não valem, praticados durante a guerra, 
cria  problemas  graves.  O  govêrno  de  iure  não  poderia  ter  tal  procedimento,  O  que  disputava  o  poder  legal, 
durante  a  luta,  reconheceu  a  soberania  de  facto  coexistente  (não  é  a  mesma  coisa  que  lhe  reconhecer  a 
beligerância,  que  só  tem  efeitos  quanto  ao  direito  penal)  :  o  juiz  interno  também  deve  dar  aos  atos  o  valor 
jurídico e as consequências, que lhes caberiam, e.g., leis novas de organização judiciária, nomeações de oficiais 
públicos. A regra jurídica tem de ser a seguinte: se o vencedor é o de iure, devem­se considerar válidos todos os 
atos de conformidade com a lei e pendente a disputa do podei; se o vencedor é o de facto, desde o dia em que 
começou a existir, a co­existir (ex hypothesis). Restam os atos do govêrno de facto vencido e os do govêrno de 
inre que foi inteiramente destruido e para sempre: 
a)Atos do govêrno de facto vencido: se o govêrno de iure lhe reconhece os atos, corta­se a questão; se o govêrno 
dá  regras  jurídicas  a  respeito,  cabe  ao  direito  intertemporal.  No  Brasil,  a  questão  do  govêrno  de  facto  local, 
coexistente, com duração e estabilidade, pode provocar a intervenção federal: o ato explícito do govêrno de iure 
vencedor, considerando nulos os atos jurídicos perante oficias nomeados pelo govêrno de facto, duradouro, e os 
do próprio executivo federal ou do legislativo, não escapam à apreciação do juiz. Se houve passagem do cartório 
ao  nôvo  oficial,  exercício  ‘efetivo,  prática  de  atos  de  fé  pública,  é  preciso  afirmar­se  a  validade  dos  atos 
testamentaros  perante  êle  praticados.  Se  o  govêrno  legal  não  reconheceu,  de  modo  nenhum,  a  coexistência  de 
facto, ainda que, efetivamente. algumas cidades ou zonas estivessem sob o poder passageiro dos revolucionários, 
o juiz deve  em princípio  aplicar as leis como se só um govêrno existisse, para evitar a imprudência de dar ao 
Direito a mobilidade da Política. Mas: a) Se o govêrno regional de facto permaneceu, com estabilidade (caso dos 
Estados do Sul, na guerra civil americana), cabe a lição do juiz FIELD, no caso Horn versus Lockhart (1873), que 
argumentava,  decisivamente:  “A  existência  de  estado  de  insurreição  não  desatou  os  laços  de  sociedade,  nem 
suprimiu a administração civil e a aplicação regular das leis. Era preciso manter a ordem, aplicar os regulamentos
de polícia,  fazer respeitar os contratos, celebrar os casamentos, regular as sucessões e a transferência dos bens, 
como em tempo de paz”. b) Se o govêrno vencedor afirma a ilegalidade de todos os atos do govêrno de facto, sem 
os distinguir, ainda assim o juiz deve entrar na apreciação, reduzindo às necessidades jurídicas o critério político: 
as circunstâncias ordinárias da vida  e é o caso dos casamentos e dos atos testamentários  não devem sofrer com 
as mobilidades do processo político de adaptação social, nem o govêrno  salvo caso de diferença radical que diga 
com a  ordem  pública   pode  querer  o prejuízo dos  particulares.  Ainda  em  se  tratando de  formas  testamentárias 
novas (isso, no Brasil, não caberia, porque a legislação é federal), cumpriria atender ou poder alegar que houve 
atos cuja responsabilidade não assume. Mas o juiz examina as circunstâncias para verificar se  a não­validade é 
admissível.  Após  a  guerra  da  Independência,  os  tribunais  americanos  reconheceram  o  poder  legislador  dos 
Estados­membros a partir de 4 de julho de 1776, e não do Tratado de 1783. 
b)Atos  do  govêrno  de  iure  vencido.  O  vencedor,  govêrno  de  facto,  vai  considerar­se  de  iure.  Mas  as 
considerações de que os habitantes contavam com a vitória da situação jurídica contra a situação de facto (ainda 
que,  politicamente,  partidários  da  revolução)  e  de  que  o  govêrno  federal  interviria  pela  restauração  (o  que  se 
supõe,  pela  Constituição  da  República)  bastariam  para  afastar  a  possível  invalidação:  seria  querer­se  que  o 
fenômeno político negasse o próprio juiz apreciador do caso, negasse o Direito, fôsse, no passado, desfazer o que 
juridicamente se estabeleceu: o sinal de Política é  (para o futuro) e não ~ (para o passado) ; por isso mesmo, as 
leis não retroagem, e o que está feito fica (Política é  2; Direito,  1), e só muda para os casos futuros (PONTES 
DE MIRANDA, Introdução à Sociologia Geral, 235 s.). 
As  Constituições  estaduais  fixam  o  poder  legislativo  dos  Municípios.  O  que  êles  podem  fazer  tem  as  sós 
consequências que teria, se feito pelo Estado­membro. De modo que as questões são as mesmas. 

§ 5.860. Direito penal e formas testamentárjas 

1.TESTAMENTOS E CRIMES.  Atos particulares, documentos privados, ou não, os testamentos, devido à sua 
significação e importância, são pelas leis penais considerados, indistintamente, atos públicos. Ficção legal, que o 
caráter do ato justifica. Talvez  seja resquício da função legislativa  que se exercla’nos próprios testamentos  não 
públicos.  Se  bem  que  hológrafo,  o  testamento  particular  é  como  a  instituição  de  patrimônio;  mas,  hoje,  o 
fundamento  está  no  fato  de  ser  difícil  verificar­se  a  fraude  caligráfica  (AMnancIo  NEGRI,  em  P.  CoCLroLO, 
Completo TraLtato di Diritto Pende, J~, 1.~ parte, a, 521). 

2.CRIMES MAIS ENCONTRAVEIS  Os crimes encontráveis são os de falsificação do testamento público e os 
de falsificação do testamento particular, que cabem, respectivamente, nos arts. 297 e 298 do Código Penal. Outros 
podem ocorrer, como o de falsificação de certidão, quer ideológica, quer natural, e o de falsa identidade. 

§ 5.861. Espécies de testamentos quanto à forma 

1.FUNÇÃO J URÍDICA DAS FORMAS TESTAMENTÁRIAS.  A forma  é processo técnico. Nos nossos dias, 


não pode ter caráter ritual, mas sim próprio à estabilidade específica. Seria inconsequência (nos tempos de hoje, 
em  que  a  inteligência  tem  finura  bastante  para  reconhecer  e  discernir  os  fatos  do  direito,  e  para  discriminar 
relações em sua realidade imaterial) alimentar a superstição dos formalismos obsoletos, que prejudicaram, em vez 
de  servir  à  vida.  Ora,  o  Direito,  processo  social  de  adaptação,  não  tem  outro  fim  que  o  de  servir  à  existência 
coletiva e  individual. Forma contrária a êsse fim, é forma contrária ao Direito. Quando a lei escrita, ou a praxe 
doutrinária  ou  judicial,  que  também  são  fontes  de  formas,  estabelece,  para  determinados  atos  jurídicos  síricto 
sensu  e  negócios  jurídicos  (citação,  interpelação,  casamento,  adoção,  testamento,  hipotecas)  determinadas 
exigências formais, não tem outro fito senão o de pressupor cautelas, envoltórios, dentro dos quais, conveniente­ 
mente resguardadas as vontades, se lhes garanta e precise a eficácia. Raro, somente para precisá­la ou restringi­la: 
quase sempre, para assegurar­lhe o resultado jurídico que especifica­mente foi querido. 

2.EVOLUÇÃO DAS FORMAS JURÍDICAS.  Se examinamos a evolução que se operou do formalismo romano 
à  mentalidade  hodierna,  vemos  que  se  procedeu  a  verdadeira  crítica  das  funções  das  formas,  sem  qualquer 
preconcebida antipatia (pois que a vida moderna criou formas novas), porém no sentido de apreciar a utilidade 
social e individual do seu emprêgo. Dai o movimento de diminuição de exigências que apenas atende uma. das 
leis evolutivas do Direito. Por isso, no apreciar as formas como processos técnicos, meios, para fins de segurança 
jurídica (se garantem, segurança para os que desejam eficácia aos seus atos de vontade; se restringem, segurança 
para os outros)~ o direito contemporâneo, como o dos séculos passados, ora atenua o rigorismo da forma como 
elemento, exterior e sensível, necessário ao ato jurídico, ora reconhece a legitimidade de novos quadros formais 
em  ~ue  se  verta  e  se  modele  o  querer  dos  homens.  De  tudo  isso  havemos  de  tirar  que  o  invólucro  não  deve 
sacrificar os atos que deve revestir. Se é certo que às vêzes o requisito formal tem por fim delimitar, dificilmente
se poderiam, ainda em tais casos, intrometer considerações de sacrifício do fundo, do ato, de mal compreendida 
sujeição  à  forma  solene,  seja  probatória,  seja  acauteladora  ou  normativa  (de  habilitação,  e  de  processo,  de 
fiscalização) . Também se tira, não só que as regras jurídicas sôbre forma são suscetíveis de interpretação, com 
tôdas as possibilidades dos modernos critérios de apreciação científica da lei, como, por igual, que ela não deve ir 
além do fundamento ou do critério inspirador do processo técnico, que é a forma. Processo técnico não é fim, é 
meio. 
Por  outro  lado,  não  se  veda  ao  direito  não­escrito  estabelecer  cautelas,  exigir  formas  a  determinados  atos,  às 
habilitações, aos propósitos de publicidade e, se a necessidade o inspira àprova de fatos. Não é a lei escrita a fonte 
única do direito, nem se abre ao princípio da multiplicidade das fontes essa exceção relativa às regras jurídicas de 
exigências  formais.  Tão­pouco  ficam  imunes  os  textos  escritos  às  apreciações  com  que  a  ciência  e  a  prática 
procedem a sua adequação aos fatos da vida. 

3.IMPFRATIVIDADE  E  INTERPRETAÇÃO.  As  formas  testamentárias  são  de  interêsse  público;  mas  isso 
não  quer  dizer  que  se  não  possam  interpretar   os  artigos  de  lei,  que  fixam  os.  requisitos  essenciais:  a)  pode  a 
forma,  considerando  o  efeito~  não  ser  da  máxima  importância:  quando  forma  non  est  magnae  importaníiae, 
considerato efleciu; b) a exigência  formalística cede, onde cessa a razão de se requerer a forma (quando <­es.. 
sarei causa forinae adimplendae) ou o fim (juando forma ad aliquem finem eM constituta); c) quando o que se 
fêz vale o mesmo (“equipolência”, a que se referiam os juristas lusitanos) : quando actue factus eandem rim hab 
ei; d) quando de­~ monstrativa (ad aliquid demonstrandujn requisita). 
Em todo êsses casos, pode adimplir­se pelo equivalente: 
tufo enim potesi adimplere por aequipollens. Não são palavras de hoje, são velhas palavras, que meia­ciência de 
alguns  ou  não  compreende  ou  delas  se  esqueceu.  Outros  elaboravam  fórmula  mais  geral,  porém,  no  fundo,  a 
mesma: nisi tamen sia tutum formam inducens considerei aliquem eflectum, quja tune si eflectus sequatur omissio 
formae nau vitiat. (Ou: quando forma respicit certum eflectum, per aequipollens potesi effectualiter canse qui.) 
4.INTERPRETAÇÃO DAS LEIS SÔBRE FORMAS TESTAMENTÁRIAS.  No caso de o que se teria como 
testamento não ter forma, ser imperfeito, não existe o próprio ato. Tal formalismo passou ao direito português e 
dominou como princípio. Ainda hoje, atenuado, domina. A falta da forma deixa não completo, é pois inexistente 
o ato testamentário (MANUEL FIGUEIRA DE  NEGP.nRos, introductio ad ultimas voluntates continens omnia 
necessaria ad confectionem Testamenti, 1, 2, c. 1, n. 4) ; mas isso não visava dizer, nem visa, que a lei da forma 
não se interprete. A lei da forma é lei como as outras leis. Imperativa, sim, mas as leis imperativas são suscetíveis 
de  interpretação.  O que  ela  diz,  e  nisso  difere  de  outras  regras  jurídicas,  é  que  a  falta  faz  inexistente  o  ato  e o 
defeito, ainda mínimo, torna  nulo o  ato. Mas o que é defeito, di­lo a lei, ou a interpretação. Se aqueles defeito 
mínimo  é,  realmente,  defeito,  isto  é,  se  tem  aquela  consequência,  di­lo  o  entendimento  do  texto  legal.  O 
entendimento  não  poderia  ser  o  de  absurda  interpretação  literal.  As  idéias  modernas,  frutos  de  evolução  da 
ciência, e da técnica, encontram pleno apoio em velhos mestres de tempos bem mais maduros no apreciar o valor 
e o alcance das leis. Na letra legal está consignada a exigência do elemento exterior e sensivel, da veste material à 
imaterialidade do querer expresso, mas, na lição de hoje, como na de ontem, pode satisfazer­se com o igual em 
resultados.  Se  se  chega  à  conclusão  de  tratar­se de  levissirna  solenuitas,  então  nou  est  sufficiens ad  evertenda 
suprema defunciorum elogia. 
As regras jurídicas sôbre formas testamentárias são bis cogens. Não pode o testador por vontade sua, declarada ou 
não, ou por fôrça das circunstâncias, fugir à observância do que a lei, como forma solene, estatui. Isso não quer 
dizer que o íus cogens tenha de ficar sujeito às algemas de inafastável interpretação literal. Éle é cogens, no que 
diz, porém não nos meios de se procurar o que êle diz. Tal verdade da ciência, nem sempre a vemos na solução 
dos expositores, desaparelhados para a delicada adequação da lei aos fatos da vida. (Nem se confunda isso com o 
favor  testamenti,  que  está  no  Código  Civil,  artigo  1.666:  quando  se  fala  de  favor  testamenti,  só  se  cogita  do 
conteúdo. O mesmo sucede no Código Civil alemão, § 2.084: 
WILHELM MANTEY, Das Erfordernis richtiger Datierung holographischen Testaments, Gruchois Beitráge, 43, 
642).  Um  dos  fundamentos  da  exigência  formal  é  não  se  deixarem  dúvidas  quanto  ao  emprêgo  válido  das 
solenidades. Por isso, a interpretação tem de ser restrita (EMIL JAOOBY, Das cigenhándige Testaríz cmi, 39) . 
Interpretação restrita de formas solenes quer dizer interpretação que reduz ao mínimo. Ora, interpretação com tal 
propósito limitativo não poderia ser IIteral: procura o que seja validante dos testamentos, enquafltG êsse mínimo 
de exigência não prejudica o critério formal. Por onde se vê, claramente, que a solução contemporânea, sôbre ser 
a  dos  bons  espíritos  dos  séculos  passados,  consulta  outros  princípios  de  interpretação  das  leis  e  das  categorias 
reais das nulidades, no submeter o texto imperativo aos depuramentos de crítica esclarecida e sã. 
§ 5.862. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
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§ 5.862. Direito internacional privado e formas testamentárias
1.LEI DE INTRODUÇÃO AO CODIGO CIVIL, ART. 10 E §§ 1.0 E 2.0.  As regras jurídicas sôbre a lei que 
rege  a  sucessão  são  de  grande  relevância  na  vida  contemporânea.  As  relações  entre  os  povos  são  intensas, 
correntes  imigratórias continuam e  há deslocações para outros Estados que aqueles em que homens e mulheres 
nasceram. Ora para negócios, ora para serviços, ora por simples turismo. 
Na Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto­lei número 4.657, de 4 de setembro de 1942), estatui o art. 10: “A 
sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, 
qualquer que seja a natureza e a situação dos bens”. E o § 19: “A vocação para suceder em bens de estrangeiro 
situados  no  Brasil  será  regulada  pela  lei  brasileira  em  benefício  do  cônjuge  brasileiro  e  dos  filhos  do  casal, 
sempre  que  não  lhes  seja  mais  favorável  a  lei  do  domicílio”.  E  o  §  2.0:  “A  lei  do  domicílio  do  herdeiro  ou 
legatário regula a capacidade para suceder”. 
Afastou­se  a lex  patriac, que  era  a  lei  pessoal  conforme o direito  anterior.  Fêz­se estatuto pessoal  o do último 
domicílio do decujo. Se era estrangeiro, casado com Brasileira e deixou filhos Brasileiros, o estatuto pessoal não 
era  e  não  é  o da lex  patriae,  mas  sim  o  da  lei  brasileira.  Não  importa onde  era domiciliado o  estrangeiro, que 
morreu casado com Brasileira ou com filhos Brasileiros. 

2.FORMA E “LEX LOCI”.  Quanto à forma, há o princípio geral da lex boi. Ao locus regit actum há exceções, 
que  têm  de  ser  apontadas.  Uma  delas  é  concernente  ao  testamento  conjuntivo,  seja  simultâneo,  recíproco,  ou 
correspectivo (Código Civil, art. 1.630). Outra, a dos testamentos militares e marítimos. 
O testamento conjuntivo, a despeito de o art. 1.630 do Código Civil se achar entre as regras jurídicas sôbre formas 
testamentárias, há de obedecer à lei pessoal do decujo, porque seria absurdo que, proIbindo o Estado do estatuto 
pessoal, o testamento conjuntivo, seja simultâneo, seja recíproco, ou seja correspectivo, pudessem duas pessoas 
que  estão  subordinadas  a  êsse  estatuto,  ou  uma  das  quais  está,  testar  conjuntivamente.  Iria  Brasileiro  ou  iriam 
Brasileiros para algum Estado onde se não proIbisse a fim de fazer o testamento que a lei brasileira veda. Não se 
pode negar o elemento típico, contenutistico, da regra jurídica que repele o testamento conjuntivo, qualquer que 
seja a espécie. 
Quanto  aos  testamentos  públicos,  é  indiscutível  que  não  se  pode  exigir  que  os  oficiais  públicos  de  Estados 
estrangeiros se submetam a lei brasileira, ou que os oficiais públicos do Brasil se submetam a lei estrangeira, no 
tocante à forma. Dá­se o mesmo se o testamento é cerrado, e é levado ao oficial público para a formalidade que 
se exige. 
Há dois problemas: a) o que é que se entende por forma, que a lei do lugar tem de reger; b) se é possível preferir­ 
se outra lei, isto é, se a lex boci tem necessàriamente de reger, ou se há de reger a lei do lugar se outra (a lei do 
estatuto pessoal) não se observou. Ali, haveria necessariedade da lez boi. Aqui, apenas suficiência. 
Antes de enfrentarmos as questões, recorramos à história do direito internacional privado quanto à forma. 
Desde a Idade Média se admite que o princípio de que a forma do negócio jurídico se há de considerar válida se 
obedeceu à lei do lugar. Poucos eram os juristas e aplicadores de leis que faziam restrições ao bens regit actum;  
por  exemplo,  se  os  negócios  jurídicos  eram  concluídos  com  a  cooperação  de  oficiais  públicos,  ou  com  a 
autoridade do Estado, ou dependentes de fonte oficial (H. THÓL, E’inleitung in das deutsehe Privatrecht, § 83). 
Alguns eram ainda menos exigentes, como HAUSS (Du Droit privé qui regit les étrangcrs en Belgique, 45 s.). 
Havia  controvérsias  a  propósito  da  abrangência  ser  de  tódas  as  formas  ou  só  de  algumas,  bem  como  sôbre  a 
obrigatoriedade ou a facultatividade da lez boci actus. 
Surgiam divergências no tocante aos próprios fundamentos. 
Alguns, como A. VíNNíus, G. PHTLLIPS (Grundsãtze des gemeinen Dcutschen Privatrechís, 1, 192) e 1<. L. W. 
VON GROLMAN  (tYber  obographische und  mystische  Testamente, 14), perseveraram  na  teoria  dos  estatutos, 
para que se evitasse a aplicação da lei da pessoa. 

§ 5.862. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
Para outros, quem quer que pratique atos jurídicos tem de sujeitar­se à soberania do Estado em cujo território se 
perfaz. Assim, CER. FRIEDR. VON GLÚCK (Ausfiibrliche Erlduterung der Pandecten, 1, 291), W. A. F. DANZ 
(Handbuch  des  hcutigen  deutschcn  Privatrechts,  1,  §  53)  e  outros.  Por  seu  lado,  L.  VON  BAR  (Theorie  und 
Praxis des internationalen Privatrcchts, J, 2.~ ed., 340 s.) só a fundava no costume, na communzs opinio segundo 
CINO DA PISTOlA, ALBERICO DE ROSATE, PETRUS DE BELLAPERTICA, PAUlo DE CASTRO, RAPH. 
FULCOSIUS e PETRUS DE RAvENNA. A lex boci era tida por inafastável por BARTOIflMEo DE SALICETO, 
BALDO DE IJaÁLnIs e BÁRTOLO DE SAxOFERRATO. 
Antes  de  L.  VON  BAR,  a  justificação  pelo  uso  estava  em  muitos.  trro  seria  crê­la  de  origem  romana,  como 
pretendeu JoH. STEPH. PÚTTER (Auserlese Reehtsfdlle aus allen Thcilen, 1, n. 248). 
A regra jurídica tornou­se universal, por ser a de respeito a esfera jurídica de cada território estatal. Todavia, se há 
concordância no respeito, não na há no tocante ao conteúdo.
3.CONTEÚDO  DA  ExPRESSÃO  “ACTUM”.    Nem  quanto  àexpressão  “actum”,  na  regra  jurídica  bocus  regit 
actum, nem mesmo quanto à distinção entre forma e conteúdo, é pacífica a doutrina. A. NIEDNER (Kommentar 
zum E’infúhrungsges’itz, 
31) chegou a dizer que nunca o será. A referência explícita à lei do lugar em que se praticaram os atos estava no 
Projeto  de  THEoDoR  NIEMEYER  (Vorselddge  und  Matcrialen  zur  Kodifilcation  des  internationalen 
Privatrechts, 240 s.), contra o texto de ALBERT GEBHARD. O influxo foi a opinião de L. voN BAa (Theorie 
und Praxis des internationalen Privatrechts, II, 13 5.;  Lehrbneh des internationalen Privat­ und Strafrechts, 106 
s.), bem como o sistema escolar de Huoo NEUMANN (Internationales Privatrecht in Form cines Gesetzcntwurfs, 
85­­91), isto é, vontade dos figurantes, domicilio, lugar da aceitação. 
No art. 11 da revogada Introdução do Código Civil dizia­se que a forma extrínseca dos atos jurídicos, públicos ou 
privados,  se  regeria  segundo  a  lei  do  lugar  em  que  se  praticassem.  Na  Lei  de  Introdução  do  Código  Civil 
(Decreto­lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942), nada se disse, exceto no tocante à 
excepcional  exigência  de  forma  essencial  (art.  9·O,  §  1.0)  de  modo  que  temos  de  primeiro  cogitar  das 
controvérsias em tôrno de textos alusivos à forma. Depois, da interpretação se não há texto alusivo, pois tem de 
ser pôsto o problema de direito internacional privado, diante da atitude omissiva. 
Se a lei apenas fala de forma, ou de forma e solenidades, como o Código Civil espanhol, art. 11, a discussão há de 
ser  sôbre  o  conteúdo  da  expressão  “forma”,  ou  da  outra  “solenidades”.  Se  se  refere  a  “forma  extrínseca”,  não 
caberia discussão quanto ao conteúdo da regra jurídica. Tem­se apenas de indagar quais são as formas extrínsecas 
e quais as formas intrínsecas. Tal o que ocorria ao tempo do art. 11 da revogada Introdução ao Código Civil, com 
o revogado Código Civil italiano, art. 9, com o venezuelano, art. ~ lª~ parte. 
Quanto  ao  Código  Civil  francês,  não  havia  fórmula  geral  e  o  texto  do  Projeto  refletiu­se  na  Lei  holandesa  de 
1829, artigo 10. No Código Civil saxônico, § 9, a lex boci continuou sendo a preferida, bastando a do lugar dos 
efeitos. A Lei de Introdução alemã (Einfiihrungsgesetz), art. 11, inverteu a ordem: a forma de negócio jurídico é 
determinada pelas leis que regem a relação jurídica que resulta do negócio jurídico. Basta, todavia, que se observe 
a lei do lugar onde o negócio jurídico se conclui. A regra jurídica, que está na alínea 1, segundo enunciado, não 
tem aplicação a negócio jurídico que estabeleça direito sôbre coisa, ou que dêle disponha. 
Na Inglaterra, a regra jurídica bocus regit actum é conforme o Foreign Wills Ad de 6 de agôsto de 1861 e a título 
facultativo. 
Na  Lei  federal  suíça  de  26 de  junho  de  1891,  art.  24,  foi  dito:  “Les  dispositions  de  derniêre  volonté,  les  pacts 
successoraux et les donations à cause de mort, sont valables quant àla forme, si celle­ci satisfait au droit du lieu 
oú l’acte a été passé ou à celui du canton du domicile lors de la passation de l’acte ou au droit du dernier domicile 
ou à celui du canton d’origine du défunt”. O art. 32 estendeu­o às relações internacionais. 
Já no Projeto da Convenção da Haia tirou­se a regra jurídica obrigatória  e pôs­se a facultativa. 
Antes  do  Código  Civil,  a  regra  jurídica  que  prevalecia  na  Alemanha  era  a  da  lez  boci  actus,  como  principal, 
permitida a lei in favorem negotii. 
Na  Lei  de  Introdução  ao  Código  Civil,  o  direito  brasileiro  somente  tem  hoje  a  explicitude  do  art.  9·O,  §  1.0: 
“Destinando­se  a  obrigação  a  ser  executada  no  Brasil  e  dependendo  de  forma  essencial,  será  esta  observada, 
admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”. 
Apesar  da  omissão  da  Lei  de  Introdução  ao  Código  Civil,  o  princípio  bens  regit  actum  foi  acolhido, 
implicitamente; e  não seria de admitir­se que se desconhecesse o princípio que através dos tempos se assentou. 
Não se pode considerar de ordem pública a subordinação da forma à lei brasileira se o conteúdo é regido pela lei 
brasileira. O art. 9.~, § 1.”, que abre exceção para os atos jurídicos de “forma essencial” se a obrigação tem de ser 
executada no Brasil, ressalvou “as peculiaridades da lei estrangeira, quanto aos requisitos extrínsecos do ato”. 

4.TESTAMENTO  E  “LEX  LOCI”.  Se  o  testador,  de  passagem  por  outro  Estado,  testou  hologràficamente, 
como lhe permite a lei pessoal (e.g., se domicílio no Brasil, cujo sistema jurídico regula o testamento hológrafo), 
tem­se de entender que é válido o testamento. O princípio lex boci regit actum não é absoluto, razão por que os 
figurantes de contrato podem escolher a lex contractus (cf. ERNST ZITELMANN, Intc&rnationale Privatrecht, 
II, 153). Também vale o testamento hológrafo, permitido pela lei pessoal, se, feito em Estado que o admite, na 
feitura se se observaram exigências extrínsecas da lei local, que a lei pessoal não conhece. 
A aplicação da lei pessoal às formas testamentárias não é de grande extensão. Se o ato testamentário é testamento 
público, é claro que os oficiais públicos do Estado da lex boci têm de obedecer às regras jurídicas locais sôbre tal 
espécie de forma de testamento. Se o testamento é testamento cerrado, a aprovação ou ato semelhante  somente 
pode ser com observância da lei do lugar em que exerce a função a autoridade aprovante ou conferente. 
Se o testamento é hológrafo, a lei pessoal,  que o permite, de ordinário não o vede fora do Estado, porque seria 
repelir o princípio lez loci regit actum, o que se chocaria com a prática legislativa hodierna. Se a lez loci o veda, 
tem­se de coíisiderar que em primeira plana está a lei pessoal. Dai têrmos escrito no Tratado dos Testamentos (1, 
373 s.) : “Em se tratando de testamento hológrafo... se a lei pessoal não no veda fora do país e se a leoê frei o
permite ainda quanto às formas da lei do estrangeiro, está visto que valerá na pátria, no país em que foi feito e nos 
terceiros. Se a lei do lugar não a permitir, ou, permitindo­a, vedar o uso da forma estrangeira em seu território, 
trava­se o conflito de leis. No estado atual do Direito internacional privado, só se há de resolver pela validade no 
Estado da lei pessoal do testador e nos terceiros Estados que reconheçam a facultatividade da lez loci. 
Se o testamento é conjuntivo e a lei local o permite, podem fazê­los aqueles cuja lei pessoal o admite, ou cujas 
leis  pessoais  o  admitem.  Se a  lei  local  o proibe, o único  meio  é  o  de  fazê­lo  em consulado, ou perante  agente 
diplomático com tal competência. 
Tem­se  de  atender  a  que  a  regra  jurídica  locus  regit  actum  é  cogente  para  os  atos  jurídicos  em  instrumento 
público e facultativa para os fatos jurídicos particulares. Para a obrigatoriedade, de que se falou, é preciso que a 
lei do lugar haja estabelecido os pressupostos essenciais de forma. Ficam fora os atos jurídicos que possam ser 
(ou tenham de ser) concluídos em consulados ou agências diplomáticas. 
A distinção entre formas que o sistema jurídico considera forma  (dita “forma extrínseca”) e formas que o sistema 
jurídico liga ao direito material. 
Se os atos jurídicos em instrumento particular são para efeitos em Estado estrangeiro, tem­se de indagar qual a 
atitude do direito estrangeiro, em regra jurídica de direito internacional privado. A lei brasileira não pode reputar 
suficiente o que ela exigiu se o Estado estrangeiro, de que depende a eficácia, não se satisfaz com isso. O direito 
brasileiro não pode exigir a forma que êle reputa necessária para o testamento feito no Brasil se a lei estrangeira, a 
que se há de subordinar o domiciliado no estrangeiro, é menos exigente; ou vice­versa. 

O direito estrangeiro, se é o da lei pessoal do decujo, pode retirar o princípio lex boi regit actum. 

5. FORMA  ESSENCIAL.  A  lei  que  reja  a  sucessão  testamentária  é  que  pode dizer qual  a  forma essencial  ou 
quais as formas essenciais do testamento. Pode ocorrer que de modo nenhum se considere essencial a única forma 
da lei sucessoral, ou se considerem essenciais as formas da lei sucessoral. A essencialidade da forma exigida não 
afasta, em princípio, a incidência da loa, boci no tocante aos testamentos fora do Estado da lei pessoal. 

6. FORMA EXTRÍNSECA OU REQUISITO EXTRÍNSECO.  Os requisitos extrínsecos do ato, a que alude o art. 
9·o,  §  1.0,  da  Lei  de  Introdução  do  Código  Civil,  são  as  “formas  extrínsecas”.  O  que  se  tem  por  fito  com  a 
referência à natureza extrínseca da forma foi ressalvar­se, na invocação da bex loci, o que se há de apegar à lei 
pessoal. 
Assim, o mudo, no direito alemão, fora da Alemanha, pode testar por sinais, se a lei local o permite (HEINRICE 
DERNBrntG,  Das  biirgerliche Reelzt,  V,  65,  nota  11),  conforme  resultou do  Einfiihrungsgesetz,  art. 11,  alínea 
1·a,  2~a parte. No tocante a testamentos de mudo, o direito brasileiro só o permitiria cerrado, escrito pelo mudo e 
por êle assinado, observado o artigo 1.642 do Código Civil. 
‘7. ESPÉCIES DE TESTAMENTO: A) TESTAMENTO PÚBLICO. São inconfundíveis, para a observância do 
princípio da loa, loci regit actum, as espécies de testamento e os meios exteriores pelos quais elas se compõem. A 
lei brasileira exige, quanto aos testamentos públicos, que os lavrem oficiais públicos, e não simples escreventes 
juramentados;  mas,  aí,  não  é  da  espécie  que  se  cogita,  de  modo  que  o  domiciliado  no  Brasil  pode  testar  por 
testamento público perante a autoridade ou pessoa que para isso tenha competência segundo a lei local. Não é de 
afastar­se o caso de algum Estado permitir o testamento público sem ser ditado (e.g., somente copiado de minuta) 
e  apenas  lido  por  outrem,  na  presença  das  testemunhas  (cf.  JOSÉ  DIAS  FERREIRA,  Código  Civil  português 
anotado, IV, 340). 
Otestador, nos Estados que têm as duas formas públicas, a judicial e a notarial, pode escolher qualquer delas. 

Pràticamente, para se saber se, em direito internacional privado, há divergência entre o direito testamentário de 
dois  Estados,  o  que  mais  põe  em  relêvo  a  distinção  entre  a  parte  intrínseca  e  a  parte  extrínseca  é  questão  de 
existência: a) ~ Existe, na lei pessoal, o testamento público? Se não existe, ainda pode surgir a questão de ser de 
ordem pública a proibição ou a omissão; mas, mesmo se há vedação, é de indagar­se se é de ordem pública, de 
jeito que acompanhe o testador nos Estados estrangeiros. b) Se existe, rege a forma a leis lo ci. 
No  direito  inglês,  não  há  o  testamento  público  recebido  ou  recebido  e  aprovado  o  testamento  público.  O 
testamento. inglês é testamento privado, feito perante duas testemunhas. No Código Civil francês, o art. 999 fala 
de poder o Francês testar no estrangeiro pela forma autêntica estrangeira ou pela forma hológrafa francesa: “Un 
Français  qui  se  trouvera  en  pays  étranger,  pourra  faire  ses  dispositions  testamentaires  par  acte,  sons  signature 
privée, ainsi qu’il est prescrit en l’article 970, ou par acte authentique, avec les formes usitées dans le lieu oú cet 
acto sera passé”. Tem­se de admitir que se considere solene o testamento privado inglês, que é o único (HANS 
LEWALD,  Questions  de  Droit  international  des  Succes~ions,  Reeveil  des  Cours  de  l’Académie  de  Droit 
International, IX, 96). No propósito de facilitar a testamentifação dos Franceses, no estrangeiro, a jurisprudência 
francesa tem por válido 
o testamento do Francês na forma inglêsa (Tribunal do Sena, 11 de março e 6 de dezembro de 1899). Na verdade,
há estado de necessidade, e não atribuição de ser solene. 

8. ESPÉCIES DE TESTAMENTO E TESTAMENTO CERRADO. 
O que se passa com o testamento cerrado é semelhante ao que se passa com o testamento público. Pode variar de 
Estado a Estado o ato de aprovação ou de certo requisito. Ser o direito de um mais rigoroso ou menos rigoroso do 
que o de outro. Na feitura, o testamento segue  se de mão própria, ou da mão alheia  a leis loci. 
A lei brasileira não o permite ao cego (Código Civil, artigo 1.637), de modo que os domiciliados no Brasil, que sa 
acham no estrangeiro, não podem fazer testamento cerrado. Dá­se o mesmo com quem não sabe ou não pode ler 
(art. 1.641). O surdo­mudo tem de escrevê­lo todo e assiná­lo (art. 1.642) 
Mais: tem de escrever que aqueles é o seu testamento. São os requisitos intrínsecos. 

9. ESPÉCIES DE TESTAMENTO: c) TESTAMENTO HOLÓGRAFO. 
O primeiro problema que surge é o de se saber se a bolografia só se liga à forma, ou a forma e ao conteúdo; se só 
a forma, se o requisito é intrínseco ou extrínseco. 
Na  doutrina,  uma  das  opiniões  mais  disseminadas  e  a  de  que  pode  fazer  testamento  hológrafo  no  estrangeiro, 
mesmo se o outro Estado não tem essa forma testamentária, qualquer pessoa que, conforme a lei pessoal, o possa 
fazer. Não valeria o testamento hológrafo feito em Estado estrangeiro, que o tem, se a lei pessoal não o admite. 
A respeito da validade do testamento hológrafo, o Código Civil holandês, art. 992, e a Lei inglêsa de 6 de agOsto 
de 1861, conforme a decisão da Corte Inglêsa, a 25 de janeiro de 1898, no sentido da obediência à leis bocí. 
Em todo o caso, é de advertir­se que a lei pessoal pode ter concebido como de capacidade testamentária a regra 
jurídica sObre testamento hológrafo (e.g., não poder testar hologràficamente o menor de is anos. Aí, não poderia 
ser observada a leis loci (C. DEMOLOMBE, Cours de Code Napoléon, IV, 483 a.). 
Nem tudo na fixação das formas se há de reger pela leis icei;  menos ainda, pela lei ~essoal. Cabe, precipuamente, 
interpretar a lei. 
O direito francês teria de reconhecer aos Estados estrangeiros poderem excluir da regra jurídica bons regit actum 
as  pessoas  que  estão  sujeitas  à  lei  pessoal  dêles,  porque  estabeleceu  a  validade  do  testamento  hológrafo  do 
Francês  feito  em  lugar  em  que  não  há  tal  forma  testamentária  (FRANZ  KAHN,  Gesetzeskollisionen,  Jherings 
Jahrbiieher, 30, 50). Mas a jurisprudência  não soauiu êsse caminho (DONNEDIEU DE  VABRES, L’Êvohttion 
de  la  Jnrisprudence  française  en  matiêrc  de  Conflit de  Lois, 185  s.)  :  vale  o  testamento  hológrafo  do Francês, 
feito no estrangeiro, onde a leis boi o proiba, porém  e.g.  o do Holandês, que não devia  valer, vale, porque na 
França o admite a leis boci. Há vários julgados que decretam a nulidade de testamentos inglêses feitos na França 
conforme o direito inglês, porém, no caso Gesting versus Viditz, a Camara Cível da Côrte de Cassação, a 20 de 
julho de 1909, reconheceu a facultatividade da regra jurídica bocus regit actum. 
O Código Civil holandês, art. 992, interdiz aos Holandeses qualquer forma que não seja a forma autêntica local. 
Sómente  quanto  à  nomeacao  de  testamenteiro, ou para  pequenos  legados  a  título particular,  se  admite  a  forma 
hológraf  a.  Nulo  é  o  testamento  em  que  não  se  respeitou  o  art.  992.  A  França  considera­o  válido  se  feito  na 
França, porém há julgados que o têm como nulo. Por exemplo, pela validade, a Côrte de Orléans, em 1859; pela 
nulidade, o Tribunal do Sena, a 13 de agôsto de 1903. Pela nulidade, a jurisprudência belga (E. P. CoNTUZZI, 
Diritto ereditario  internazionale,  518  s.)  e  a  italiana  (P.  FEDOZZI,  Successione,  Digesto  italiano, 22, 825  s.). 
Esporâdicamente, o Superior Tribunal Regional de Hamburgo, a 2 de maio de 1917, por ter o art. 11, alínea 1?, 
2·a parte, do Einfiihrungsgesetz alemão, como regra jurídica absoluta de colisão (Leipziger Zeitsckrift, 11, 1197). 
Para a aplicação da regra jurídica neerlandesa, a despeito da leis boei, tribunais italianos falaram de 50 tratar de 
limitacão à, capacidade. Ora, em verdade, o que nela está é exceção nacional ao principio bons regit actum, com 
a conseqúência de tornar intrínseco o requisito. Conflito, portanto, entre regras jurídicas de conflito. Na ausência 
de tratado, nenhum Estado renuncia o seu critério de qualificação. Foi o que se formulou na Convenção da Haia. 
O  Código  de  Direito  Internacional  Privado de  Havana,  art.  148,  considerou  de  ordem  pública  internacional  as 
disposições  de  classe  em  que  entra  a  regra  jurídica  holandesa,  de  modo  que  optoú  pela  lei  local.  Não  optou, 
verdadeiramente, pois foi como se dissesse: “Vim resolver o conflito. Fique o conflito !“. No art. 150, contradiz­ 
se.
A permanência, em alguns Estados, da teoria dos estatutários, que fazia a forma testamentária depender da lei da 
situação dos bens, se concernente a bens imóveis (o que ocorre no Common Law), criou e cria conflitos; e.g., a 
Chxtncery Division of fite High Court decretou a nulidade de testamento hológraf o francês, na forma do art. 970 
do Código Civil francês e feito na França, por haver nêle legado de parte de um imóvel que o testador tinha em 
Londres (cf. Pepin versus Bruyêre, 1900; WILLIAMS, Principles of the Law of Personal, 17.a ed., 480). Mas o 
testamento do súdito britânico, feito no estrangeiro, se recai sôbre um leasehold, vale, se de conformidade com o 
Lord  Kingsdown  Áet;   pois  os  leaseholds,  pôsto  que  sejam  imóveis,  entram  na  classe  do  personal  est  ate 
(Stubberfield versus Grassi, 16 de março de 1905; WESTLAKE, Private International Law, 6·a ed., 213 s.). 
Também na Áustria a forma do testamento sôbre imóveis é sujeita à letr rei sitae (Côrte Suprema de Viena, 15 de
junho de 1900). 
Cogitemos de casos ocorridos, apenas para exemplos: a) Testamento feito na Inglaterra por Português na forma 
hológrafa  francesa.  Morre,  domiciliado  na  Alemanha,  depois  de  ter  adquirido  a  nacionalidade  francesa.  Não 
correspondeu à lei do lugar, nem à pessoal. Porém satisfez a lei pessoal do momento da morte. b) Testamento de 
Alemão, feito em Nova Iorque, na forma hológraf a alemã. Morreu após ter adquirido a nacionalidade holandesa, 
O testamento satisfez a lei pessoal do testador, mas não a do momento da morte. Soluções: o Einfiihrungsgesetz 
alemão, art. 24, g~a alínea, tem por válido o ato. Segundo a Lei suíça de 25 de junho de 1891, art. 24, a forma da 
feitura  e da revogação  de  disposição  de última  vontade  determina­se  conforme  o  regime  do  Estado de  que, ao 
tempo na feitura ou da revogação, era nacional o testador. Basta, porém, a observância da lei do lugar em que se 
fêz. Tal lei suíça é mais completa que a alemã, em sua explicitude, com o favor testamenti (cf. STAUFFER, Das 
Internationale Privatrecltt der Schweiz, 112). 
Precisemos. 
a) O que toca à unidade da lei sucessoral rege­se pela lei pessoal do momento da morte do testador. 
b)Quanto às formas prôpriamente ditas, respeitada a leis boci (facultativa), ou a lei pessoal do momento da feitura 
(se permitida pela própria lei pessoal de tal momento, porque, para alguns Estados, há a obrigatoriedade da leis 
Moi), vale o testamento. 
e) Quanto aos casos de qualificação especial pelo Estado da lei pessoal do momento da feitura, dar validade ao 
testamento  que  não  era  válido seria  conferir  à  lei  do Estado da  nova  lei  pessoal  eficácia  retroativa.  Tem­se de 
distinguir a) se a leis fori é de Estado terceiro, b) se a leis fori é a do Estado da anterior lei pessoal, o) se a leis fori 
é a do Estado da posterior lei pessoal. Quanto à primeira espécie, pergunta­se: consulta­se a lei do lugar em que 
foi  feito  o  testamento,  ou  a  lei  pessoal  anterior?  A  questão  passa  a  ser  dependente  das  outras.  Se  há  a  regra 
jurídica alemã, o Estado da primeira lei pessoal abriu mão da sua lei, a favor do testamento. Se não há, o ato foi 
nulo, e nulo permanece. Se o fôro o da posterior lei pessoal, o Estado que abria mão do princípio de nulidade, 
contra si, com mais forte razão invoca, a seu favor, a própria regra jurídica. Se não abriu mão, a situação é mais 
difícil: uma vez que reconhece a nulidade dos testamentos vedados pelo Estado da primeira lei pessoal, então é 
coerente reputá­lo nulo. 
O  Estado  da  primeira  lei  pessoal,  que  estabelecia  a  nulidade,  pode  admitir    mas  apenas  em  regra  jurídica 
excepcional que o Estado da segunda lei pessoal determine a validade. 
O Estado terceiro tem de consultar a solução do Estado da lei pessoal ao tempo da feitura quanto a ser válido o 
testamento, e a do Estado da lei pessoal ao tempo da morte no tocante ao testamento não válido ao tempo em que 
se fêz. 
O  que  acima  se  disse  é  invocável  para  o  testamento  hológrafo  que,  na  espécie,  suscita  dúvidas,  e  para  o 
testamento nuncupativo. 

10.  TESTAMENTO  NUNCUPATIVO.  O  Código  Civil  brasileiro,  art.  1.629,  reconhece  três  espécies  de 
testamentos  ordinarios; e  depois  aponta  as  formas  instrumentais  de  cada  uma.  Pergunta­se:  ~vale  o  testamento 
oral (não público), feito, pela pessoa cuja lei pessoal é a brasileira, em Estado que o admita? Afirmativamente, A. 
WEIss (Traité théorí que et pratique de Droit international privé, IV, 633) e BUZZATI (L’Autorità deile Leggi 
straniere relative allo forme degli atti civili, 400 s). Negativamente, P. FioRE (Diritto internazionale pnvato, IV. 
205) : a questão envolve a da existência, ou não, de um testamento; se existe, há sucessão testamentâria~ se não 
existe, são chamados os herdeiros legítimos (ou os de outro testamento, digamos). O problema toca à substância 
do ato jurídico. A capacidade é o principal requisito da existência e eficácia  legal da vontade declarada, porém 
não é o único. Assim como é pressuposto intrínseco, para o cego, determinada forma, 
também  a  lei  pessoal  impõe  às  pessoas  as  espécies  de  testamento  que  ela  reconhece.  Tal  o  pensamento  de  P. 
FIORE (IV, 207). 
O  argumento  a  respeito da  herança  legítima  é  fraco.  No  tocante  ao  outro  testamento  (o  que  acrescentamos),  é 
forte. Mas o problema muda de figura, porque se trata de revogação. Pôsto de parte o problema da revogação por 
testamento nuncupativo em Estado que o admita, ao contrário do que se passa no Brasil, cogitemos do testamento 
nuncupativo feito no estrangeiro. 
Se  ambas  as  leis,  a  pessoal  e  a  local,  não  têm  o  testamento  nuncupativo,  parte  da  questão  está  eliminada.  O 
testamento não vaie. Resta a espécie do testamento nuncupativo feito em Estado que o admite contra a lei pessoal 
do testador. 
Depois  de  condená­lo,  a  Itália  deu  validade  ao  testamento  oral  do  Italiano  feito  no  estrangeiro  (P.  Frrozzí, 
Successione,  Digesto  italiano,  22,  825  s.).  No  mesmo  sentido,  a  Alemanha  (E’ntsck.,  VIII,  222).  No  direito 
internacional  privado  dos  dois  Estados  europeus,  o  nacional  pode  testar  no  estrangeiro,  nuncupativamente, 
conforme a leis loci. 
No  direito  internacional  privado  brasileiro,  o  domiciliado  no  Brasil  não  pode  testar,  nuncupativamente,  no 
estrangeiro.  Tal  foi  a  solução  de  CLóvís  BEVILÁQUA  (Código  Çivil  comentado,  1,  128),  porém  com 
fundamento  na  incapacidade,  questão  vencida  (FRANZ  KAHN,  Gesetzeskollisionen,  Jherings  Jahrbiicher,  30,
48; D. ANZILoTTI, Studi Critici, 253 s.). Só seria regra jurídica de capacidade se a lei dissesse, por exemplo, que 
“não pode fazer testamento nuncupativo o maior de dezoito anos e menor de vinte e um anos 

11.  “TESTAMENTUM  TEMPORE  PESTIS  CONDITUM”.    Entre  algumas  legislações  existe  o  conflito.  No 
Código  Civil  suíço,  art.  506,  admite­se  a  espécie  nuncupativa,  o  Nottestament,  se  há  circunstâncias 
extraordinárias, que impeçam o decujo de testar de outro modo. Trata­se de forma privilegiada, em oposição às 
formas ordinárias do direito suíço (testamento público e testamento hológraf o). O testador declara as suas últimas 
vontades  a  duas  testemunhas, a  que  encarrega  de  escrever  ou de  fazer  escrever  o que ditou.  No primeiro  caso, 
uma delas data o escrito, indicando o lugar, o ano, o mês e o dia, assina­o, e dando­o à outra, para que o assine. 
Sem  tardança,  remete  o  escrito  à  autoridade  judiciária,  afirmando  que  o  testador  lhes  fêz  as  declarações, 
parecendo­lhes capaz de dispor e mencionando as circunstâncias em que as receberam. No segundo caso, prestam 
tais  declarações  à  autoridade  judiciária  (artigo  507). O  testamento  oral  caduca quatorze dias  depois  de  haver  o 
testador recobrado a liberdade de empregar as formas ordinárias. 
No Código Civil alemão, § 2.252, o prazo é de três meses, se ainda vivo o testador, contados da feitura. 
Surgem  duas  questões  principais  de  direito  internacional  privado.  A primeira,  concernente  ao  prazo,  e possível 
entre  todos  os  Estados  que  admitem  o  testamento  nuncupativo,  mas  discrepam  quanto  ao  prazo.  THFODoR 
NIEMEYER (Das internationale Prívatrecht des BGB., 115 s.) considerou aplicável a lex loci:  tais prazos, sejam 
suspensivos, sejam resolutivos, são imanentes à forma. Diríamos, para melhor se caracterizar a questão e limpar 
de dúvidas a resposta: suspensivos ou resolu­tivos êsses prazos, concernem à espécie de testamento e, admitida 
que seja, a discordância é apenas relativa às formas da espécie. O prazo é o daquela forma por que se optou. Na 
dúvida, há o princípio do folvor testamenti. 
Restaria  o  caso,  pouco  provável,  de  uma  das  legislações  permissivas  considerar  requisito  intrínseco,  e  não 
extrínseco,  o prazo que  estatuiu.  Dar­se­ia conflito de  qualificação, que  só  se  poderia  resolver  pela  lez  fori,  se 
interessada está na qualificação, ou pela qualificação que corresponda à sua solução, se a do Estado do juiz não 
fôr interessada. 
A segunda questão é a que toca aos Estados que expressamente não admitem qualquer espécie de testamento tem 
pore  pestis  conditum.  Se  a  lei  de  tal  Estado é  interessada,  trata­se  de  admissão  ou de  não­admissão da  espécie 
testamentária Se a lei de tal Estado não é interessada e os dois ou mais Estados em conflito discrepam quanto à 
êsse ponto, a lex fori, pessoal ou não, tem de resolver conforme a lei que coincida com a sua. No caso especial do 
Brasil, não se poderia dar ganho de causa a Estado que admita o testamento nuncupativo contra outro que tenha, 
no  conflito  de  qualificação,  como  violadora  do  requisito  intrínseco,  ou  como  contrária  à  ordem  pública,  tal 
espécie testamentária. Não a proibimos fora, porém não temos. 
Se a lei pessoal não tem o testamento em estado de necessidade, porém não o reputa assunto de lei exterritorial, o 
Estado terceiro resolve pela las, loci, pois não houve conflito. Se 
O Estado em que se fêz o testamento reconhece que o assunto escapa à lex loci, o Estado terceiro resolve pela lei 
pessoal. 
No  caso  de  testamento  extraordinário,  o  Estado  terceiro  deve  preferir  a  solução  da  lei  pessoal  do  testador,  se 
vedativa; mas, se a local vedar e a pessoal admitir, tem de indagar se essa permite a exceção à lez loci, e não se a 
lei do Estado em que se fêz o testamento consente na facultatividade da lei do lugar. 
Em  boa  técnica  legislativa,  há  de  haver  acolhimento  ou  maior  acolhimento  pelo  testamento  extraordinário  em 
caso de doença do que pelo nuncupativo ordinário. 

12.TESTAMENTO EM CIRCUNSTÂNCIAS EXTRAORDINÁRIAS. 
O testamento em circunstâncias extraordinárias, como o testamento tempore pestis conditum, é excepcional. Ésse 
é espécie daquele. São exemplos principais o do Código Civil alemão e o do Código Civil suíço. Nas legislações, 
continuam o testamento marítimo e o militar; e algumas, como a brasileira, não atendem a que os testamentos em 
caso  de  acidente  insujante,  como  a  inundação  e  o  desamparo  em  matas  e  rios,  são  tão  necessários  como  o 
testamento marítimo e o militar, meras especificidades do testamento em circunstâncias extraordinárias. Não se 
fala  no  testamento  em  viagem  aérea,  se  o  aviador  ou  o  viajante  não  pode  escrever,  ou  não  há  tempo,  nem 
testemunhas. Todavia, para o militar­aviador, tem de ser admitido o testamento militar. Adiante volveremos ao 
assunto. 

13.TESTAMENTOS  DE  MILITARES,  MARINHEIROS  E  VIAJANTES.    Pode  dar­se,  mas  dificilmente,  pela 
generalidade da admissão do testamento em caso de batalha, similar dos testamentos romanos discordância das 
leis quanto a) à permissão da espécie, ou b) quanto à permissão da nuncupatividade ou da simplificação da forma 
escrita ou de outros requisitos extrínsecos. 
Suposto  que  o  conflito  de  qualificação  seja  concernente  àprópria  espécie,  prevalece,  se  interessada,  a  lez  fori;  
mas, se um dos Estados não é o da ler fori, tem­se de distinguir:
prevalece  a  lei  que  coincide  com  a  do  Estado  da  ler  fori;   se  nenhuma  coincide,  no  estado  atual  do  direito 
internacional  privado  só  o  favor  testamenti  é  aconselhado.  Quanto  à  revogação,  há  outros  princípios  e  não  se 
poderia invocar para o ato revocatório o favor testamenti. 
Se o conflito concerne à admissão da nuncupatividade, de ordinário a forma é que está em causa, e não a espécie: 
a espécie supós o testamento em sua qualificacão subjetiva (soldados, marítimos) e ocasional (tempo de guerra, 
viagem de mar) ; tudo mais é de natureza extrínseca, salvo se um dos Estados eleva as formalidades à categoria 
de requisito intrínseco. 
Se o discrepar somente recai em particularidades da escrita, o princípio locus reqit actum é que resolve. Salvo, o 
que é pouco provável que ocorra, se um dos Estados faz de alguma delas requisito intrínseco. Aforado no Brasil 
tal  testamento,  a  solução  é  a  favor  do  ato  jurídico,  porque  a  ler  fori  não  exige,  quanto  à  escrita,  com  caráter 
intrínseco, essa ou aquela formalidade. Bem diverso do que se daria com outro Estado que só­mente admitisse o 
testamento privilegiado como subespécie do testamento público, considerada intrínseca, e não forma extrínseca, a 
presença de determinada autoridade. 
Temos, assim: 
a) A respeito do testamento militar, em batalha ou em atos de guerra, a questão toma aspecto especialíssimo: o 
Estado terceiro, que reconheceu a beligerância, não pode pretender que o Estado A respeite a lex loci do Estado 
B: o militar em serviço leva consigo a sua lei pessoal e a  lei de sua milícia; a lex loci é a que resulta  dos seus 
próprios atos (aqui estou, aqui está o meu Estado). Fato parecido com o dos cônsules. 
b) Quanto aos navios de guerra, o intrínseco e o extrínseco obedecem à lei do Estado a que pertence o navio. A 
ler loci coincide com a lei pessoal. É de exterritorialidade que se trata. 
Há subespécies: a) No caso de ocupação de Estado estrangeiro, ou de águas internas, não há exterritorialidade; há 
perda  de  posse,  talvez  definitiva,  em  virtude  de  entrada   contra  a  vontade  do  outro  Estado.  b)  Se  houve 
autorização  para  a  entrada,  isto  é,  consentimento  do  govêrno  local,  alguns  autores,  e  com  êles  ou  sem  êles,  o 
costume entenderam que as tropas estrangeiras escapam à jurisdição do Estado local: os próprios delitos e crimes 
de direito comum são reprimidos pelo chefe militar, mas, se contra os habitantes da região, são competentes os 
juizes  locais.  Quanto  ao  direito  de  testar  dos  que  fazem  parte  da  tropa,  vale  o  testamento  extraordinário  que 
obedeceu a lei pessoal, ler patriae, ainda quanto ao extrínseco. 
O militar pode testar com alguma das formas ordinárias, observada a lex loci. A ocupação consentida não torna o 
ocupante pessoa escapa à lei local, se essa pessoa se submete ao direito local. A regra é que êle não se submete à 
jurisdição civil do território ocupado. 
No alto­mar  fora das águas territoriais  os navios Inercantes só têm uma lei: a do pavilhão. Nas águas territoriais, 
a ler boi é a do Estado em que se acha. Mas, no caso dos testamentos, desde que o testamento se faça a bordo, 
vale  conforme  a  lei  do  pavilhão.  Para  a  forma  excepcional,  têm  de  ser  satisfeitos  os  requisitos  legais,  e  o  art. 
1.656 do  Código  Civil  somente  se  refere  a  “viagem  em  alto­mar”; porém,  retirados os  ferros  e  tendo partido o 
navio, está figurada a viagem de alto­mar. Ou, em geral, se não pode descer o testador. 

14.  TESTAMENTO  CONJUNTIVO.    Excluem  tal  forma  testamentária  o  Código  Civil  francês,  art.  968,  e  as 
legislações. que nêle se inspiraram (cf. Código Civil holandês, art. 977, espanhol, arts. 669 e 733; argentino, art. 
3.618; brasileiro, artigo 1.630; chileno, art. 781; mexicano, art. 3.246; e peruano, art. 706). 
~  máxima  bocus  regit  actum  rege  o  testamento  conjuntivo,  ou  é  assunto para  a  lei  pessoal?  Na  jurisprudência 
francesa há decisões pró e contra a ler loci, porque, disse­se, a proibição está no Código Civil onde se cogita das 
“formas  Na  doutrina  alemã,  há  quem  repute  forma  (L.  VON  BAR,  Theorw  und  Prazis  des  internationalen 
Privatrechts,  fl,  2a  ed.,  329;  ERNST  ZITELMANN,  Internationales  Privatrecht,  II,  154),  e  éo  que  sempre 
ocorre. Contra, o Reichsgericht, a 24 de abril de 1894. 
Quando  o  Brasil  permitia  o  testamento  conjuntivo,  a  Côrte  de  Cassação  de  Florença  considerou  válido  o 
testamento  conjuntivo  feito  no  Brasil,  sendo  Italianos  os  testadores,  embora  a  lei  pessoal  o  proibisse  (Código 
Civil italiano revogado, artigo 761). 
O que rege a admissão ou a repulsa do testamento conjuntivo é a lei pessoal. Ficam duas questões: a) se os testa­ 
dores podem testar conjuntivamente em Estado que o não reconheça, se a  lei pessoal tem tal testamento; b) se, 
feito no estrangeiro o testamento conjuntivo, por estrangeiros, a ter fori pode invocar a ordem pública para lhe 
negar cumprimento. A questão a) depende, preliminarmente, da forma seguida e permitida: se testamento público, 
o oficial público tem de invocar a lei que o proibe; se testamento particular, o Estado da ler loci, a despeito do que 
se  lê  no  Código  de  Havana,  art.  148,  não  está  interessado, pois  que  se  trata  de duas pessoas  cuja  lei  pessoal  é 
outra, ou cujas leis pessoais são outras. A invocação de ordem pública internacional seria de sérias conseqúências, 
de que adiante falaremos. 
No  caso  especial  do  Código  Civil  da  Venezuela,  art.  824,  a  conjuntividade  é  somente  forma,  de  modo  que  é 
aceitável a ler boi. Mas seria preciso que as disposições testamentárias não ofendessem a lei pessoal. Poder­se­ia 
tratar de dois testamentos num só. Ao juiz caberia apreciar a espécie, sendo aconselhavel o favor testamenti. Se o
testamento  duplo  contém  reciprocidade  ou  correspectividade  que  ofenda  a  lei  pessoal  (se  bem  que  a  lei 
venezuelana o permita), a esfera da ler boi foi excedida, a conjuntividade não é só formal, e não se justificaria 
invocar­se o favor testamenti. 

15. CONTRATO DE HERANÇA.  O contrato de  herança  éregido pela lei pessoal. Se algo se alega de ordem 


pública, a questão desloca­se. Se admissível, a forma é a do actum, se só o Estado estrangeiro o admite. Se ambos 
o admitem, a ler boi rege os requisitos extrínsecos, facultativamente. 

16. ORDEM PÚBLICA EM MATÉRIA DE FORMA TESTAMENTÁRIA.  A ordem pública é medida interna, 
invocável contra quem quer que seja ou contra o que se ache no território do Estado interessado. 
Se dividimos o conceito em ordem pública internacional e ordem pública interna, temos: a) atos que dependem da 
feltura  ou  efeitos  no  território;  b)  atos  que  seguem  a  pessoa,  Terminologia,  como  dissemos  no  Tratado  dos 
Testamentos (1, 396), censurável. A regra jurídica bons regit actum é facultativa, de modo que a proibição, por 
exemplo, dos contratos de herança, que se façam entre pessoas não sujeitas à lei brasileira, sem consequências no 
regime sucessoral do Brasil, não os põe de parte, arbitràriamente, por invocação de ordem pública. 
Diga­se  o  mesmo  quanto  ao  testamento  conjuntivo,  O  Código  de  Havana,  art.  144,  incluiu  a  proIbição  do 
testamento  conjuntivo  como  de  ordem  pública  internacional,  em  vez  de  a  reputar,  como  seria  certo,  de  ordem 
pública interna. 
A validade do testamento conjuntivo obedece à lei pessoal dos testadores, ou às leis pessoais dos testadores. A 
ordem pública não é óbice (Tribunal Departamental da Haia, 19 de fevereiro de 1924). Nem podia deixar de ser 
assim: se de acôrdo com a lei pessoal, como é o caso do Código Civil alemão, já se cumpriu a parte testamentária 
do cônjuge premorto, seria absurdo deixar­se de cumprir a do segundo, que em vida não revogou o que testara 
(nem podia revogar, cf. § 2.271, alínea 2,~) e recebera o que herdou do primeiro falecido. 
A interpretação da ler boi, que nada tem com a substância do ato jurídico, para, com invocação de ordem pública, 
considerar­se  nulo o testamento, que ou se  tornou  irrevogável  pela  morte do primeiro, ou  constituiu  as últimas 
vontades  de  ambos,  seria  atentado  à  liberdade  das  pessoas,  com  a  frágil  e  falsa  argUição  de  ofensa  à  ordem 
pública, a favor de tal liberdade. 
A proibição de testar hologràficamente, se, em geral, éde ordem pública internacional, salvo reconhecimento da 
facultatividade aos estrangeiros, é conseqúência regular do caráter não­obrigatório da ler boi (lei pessoal cogente 
± lei local facultativa = permissão). 
As formas dos testamentos públicos obedecem, inexcetuadamente, à lex boi:  não como limite à facultatividade da 
regra  jurídica  bons  regit  actum,  porém  como  princípio  de  ordem  pública  internacional.  Nos  consulados,  nos 
navios de guerra e outros lugares em que a exterritorialidade existe, a lex é que provém da permissão estatal ou da 
exterritorialidade, pois que ocupam território de outro Estado. 
Quando  surgiu  a  legislação  soviética,  houve  quem  a  reputasse  “bloco  legislativo  indesejável”  (SORéNDORI’, 
Was ist heute unter “russisebem” Recht zu verstehen, Douteche Juristcn­Zeitung, 25, 805 s.). E era a opinião mais 
generalizada. Mas seria estender demasiado longe a noção de ordem pública a rejeicão de tôda unia legislação. Se 
há razão para ser invocada, tem de ser dita em cada caso. Em Circular n. 194 do Comissário de Justiça do Povo, 
de 26 de setembro de 1923, falou­se de inaplicabilidade no estrangeiro. Mas, ainda nesse caso, haveria a questão 
do testamento feito na Rússia com as formalidades soviéticas e a de outro, feito, por exemplo, por Brasileiro, com 
as  formalidades da lei  pessoal.  Mesmo  ao  tempo  era que  ainda  não  se  reconhecera  o  govêrno soviético  neo  se 
poderia obrigar o Brasileiro a não testar: se utilizou a forma da lei pessoal, fê­lo bem, pois a regra jurídica bocas 
regit notam é facultativa; se recorreu à forma do direito soviético, seria solução violenta considerar inválido tal 
testamento, sem haver razão do ordem pública. O Estado russo era lã e o Brasileiro, que quis testar, achava­se lá. 
O reconhecimento do govêrno é elemento para a _exterritorialidade, mas seria rigor político excessivo excluir­se 
a  aplicação  da  ler  boi,  maximé  se  outra  forma  seria  impossível,  ou  perigosa,  para  o  Brasileiro  ausente.  havia, 
todavia, um ponto de significação especial: a sucessão pelo Estado soviético era impossível. Os bens seriam “tens 
de  ausentes”  e  o  Estado  do  juiz  recolhe­los­ia.  Mas,  aqui,  incide  principio  geral  de  direito  sucessoral 
internacional: o Estado não pode recolher herança em outro Estado, seja a título de herdeiro, seja como sucessor 
de  bens  vagos.  Pode  herdar  testamentàriamente.  Assim  decidiu,  acertadamente,  com  o  Uruguai  (Govêrno 
Uruguaio  versas  Fournier,  Sena,  11  de  marco  de  1899)  ;  mas,  por  se  tratar  de  testamento,  diferente  a  solução 
quanto ao Estado grego (caso Zappa, na Rumania). 

17.ATO  PESSOAL  DO  TESTAMENTO.  O  testamento  é  ato pessoalíssimo.  Ninguém  o  faz  por  outro;  nem 
representante,  legal  ou  voluntário, pede  fazê­lo  em  nome  do  testador, ou pelo testador.  O principio  é, por bem 
dizer, universal. Ainda assim,a possibilidade de conflito de leis  sugere que se ponha a questão: ~a exclusão da 
representacão (e da presentação) rege­se pela lei pessoal ou pela ler boi?  Noutros têrmos: ~ a pessoalidade do 
ato é requisito intrínseco ou requisito extrínseco? A lei pessoal é que há de dizer se a proibição da representação
foi no tocante à exterioridade da manifestação de vontade, e então refere­se à forma, que a lei do tempo e a do 
lugo.r  há de reger; ou se proibiu que se tirasse ao ato mesmo a pessoalidade, e então o extrínseco é regido pela lei 
do dia da morte e pela lei pessoal (cf. E. HABICHT, Internationabes Privatreokt, 87). Por exemplo: segundo os 
§§ 2.238 e 2.064 do Código Civil alemão, o testador tem de entregar o escrito para o testamento público, e isso, 
pai~a o direito alemão, é forma, de modo que, em Estado cuja legislação permitisse a entrega por mão de outrem, 
o Alemão testaria vâlidamente, preferindo a ler boi (Eiafiihrungsgosetz, art. 11, alínea 2~a, parte 2.~). 
A despeito de tal distinção, o Código de Havana, art. 148, considera de ordem pública internacional o princípio 
que declara ato pessoalíssimo o testamento. Duplo êrro, porque terri torializou o que não devia ser territorializado 
e não atendeu a que, se há a facuitatividade da ler boi e sendo extrínseco o requisito é sem razão de ser a violência 
que estabelece a invalidação do ato em que se optou pela lei pessoal. 

18. CAsos DE REENVIO.  A doutrina do reenvio apareceu na Inglaterra no caso Colher versas Rivaz (Côrte de 
Canterbury, 184; LOP.ENzEN, Cases in ConfUcts of Law, 2·a ed., 827 a propósito dê testamento feito na Bélgica 
por Inglês, que ali era domiciliado. A lei belga tinha­o por válido; a lei inglêsa, não; mas a Côrte inglêsa admitiu o 
reenvio. 
Austríaca,  domiciliada  em  Hamburgo,  fêz  o  testamento  na  forma  do  Código  Civil  alemão,  §  2.238,  isto  é, 
entregando escrito ao notário, perante duas testemunhas. O pai da herdeira instituída foi uma das testemunhas, o 
que,  para  o  sis  tema  jurídico  alemão,  é  causa  de  nulidade.  A  Côrte  de  Hamburgo  só  atendeu  ao  art.  11  do 
Einfiihrnngstiesttz;  e o Reicltsgericht, a 17 de dezembro de 1912, lho censurou, por ser a lei que rege a relação 
jurídica a que rege a forma; se a lei, de que se trata, ignora a regra jurídica bocus regit actam,tem de ser aplicada a 
lei do ato, e não a do lugar. O intuito foi o de reenviar. 
O  reenvio,  que,  em  muitas  espécies,  valida,  para  reforçar  o  favor  testamenti,  por  vêzes  o  desfaz.  No  Caso 
Sanchez, nova iorquino domiciliado em Paris, com testamento na forma da lei pessoal, o ato jurídico na França 
foi julgado nulo, porque havia de seguir a lei francesa (E. POTU, La Question riu flenvoi eu droit international 
privé, 62). 
O  problema  consiste  no  seguinte:  se  a  regra  jurídica  do Estado  A  considera  incidente  a  lei  do Estado  B ou  C, 
contra o que o Estado B ou o Estado C estatui, ~deve aplicar­se a lei do Estado B ou C, ou respeitar­se a lei que o 
Estado  A  teve  como  a  aplicável?  Noutros  têrmos:  ~  respeita­se  a  lei  do  Estado  A,  ou  a  sua  regra  de  direito 
internacional privado? O conflito pode ser positivo ou negativo. Se é positivo, não há outra solução que não seja a 
da ler fori, salvo se essa afasta a própria ligação  (e.g., Einffthrungsgesetz, art. 28, se os bens se acham fora da 
Alemanha; jurisprudência italiana, quanto a imóveis da sucessão do decujo italiano, fora da Itália). Se énegativo, 
o  Estado  B  ou  C  ou  D  (terceiro)  atribui  ao  Estado  A  competência  que  êle  não  tem:  há  algo  como  espécie  de 
direito  supranacional  (supraestatal)  conforme  frisa  L.  VoN  BAR  (Rapport,  Aunuatre  de  l’Institut  de  Droit 
international, 1900, 155), contra a regra de direito internacional privado do Estado A. 
Adversários da teoria do reenvio vêem nela pretexto para estenderem os juizes a própria jurisdição (A. PILLET 
et J.­P. NIEox’ET, Manuel dc Droit Internationãl privé, 379). Nos Estados Unidos da América, se J. BEALE (A 
Treatise on The Confiict of Laws or Frivate International Law, 77) disse não existir o reenvio, não é o que se tira 
do livro Testative Draft, n. 2 Conflict of Laws, do American Law Institut (10). 
As Convenções da Haia não admitiram o reenvio. Aliás, se há convenção internacional, com regras jurídicas de 
coiíflito, afasta­se o reenvio. 
Os Tribunais italianos resistiram à teoria do reenvio; mas houve exemplos, e.g., caso Kemot (Côrte de Cassação 
de Nápoles, 5 de janeiro de 1920) e caso Savage Landorf (Côrte de Apelação de Florença, 23 de janeiro de 1919). 
a) A Côrte inglêsa julgou bem, no caso Colher versus Rivaz; aplicou bem a regra jurídica locus regit achem, sem 
no dizer e antes de essa se haver afirmado. No fundo, in Iavorem testamenti. 
b) Admitida, quase universalmente, a regra jurídica bens regit actum como facultativa, é acertado presumir­se que 
se optou pela lei da forma válida. Aqui, não há reenvio; há presunção. Mas, ainda que tal presunção não exista, o 
êrro de direito, quanto à forma, pode permitir o julgado vahidante 
e) Deve­se sempre reenviar quando a lei estrangeira não diz, claramente, como se há de resolver a questão. 
d)  Se,  no  conflito  negativo,  o  testamento  satisfaz  a  uma  das  leis,  impõe­se  a  presunção  de  que  as  leis,  não  o 
prevendo. admitem a solução, ou a escusa do error inris. 
Donde: se positivo o conflito, a boi fori; se negativo, e nulo para ambas as leis o testamento, nulo é; se negativo o 
conflito, e válido para uma delas, há o favor testamenti, ou a escusa do error inris. Mas, se, nulo para ambas as 
leis,  pode  ser­lhe  favorável  a  facultatividade  da  regra  jurídica  bons  regit  actum,  a  lez  fori  não  pode  deixar  de 
considerar válido o testamento, a despeito de não o considerá­lo como tal a lei pessoal (caso de quem tem por lei 
pessoal a de Estado sem a regra jurídica bons regit actum ou a interpreta como obrigatória). Donde a solução: a 
facultatividade da regra jurídica bons regit actutn há de ser atendida, por ser de ordem pública internacional; no 
Estado do fôro, o testamento podia ser por uma ou por outra lei.
19.FORMA TESTAMENTÁRIA NO DIREITO INGLÊS.  A vahidade do testamento relativo a bens imóveis 
situados na Inglaterra regula­se, ainda quanto à forma, pela lei inglêsa. (Pepin versas Bruyêre, 1902). Quanto aos 
bens móveis, a lei do domicílio do testador, no momento da morte (In re Price, 1900). 
O  testamento  do  súdito  britânico,  feito  no  estrangeiro,  ou  o  seu  codicilo,  se  o  objeto  é  o  personal  estate, 
compreendidos os leaseholds, pode ser homologado se satisfaz uiha das seguintes formas: a) a da lei do lugar da 
feitura;  b)  a  da  lei  do  domicílio  do  testador  no  momento  de  testar;  o)  a  da  lei  da  parte  dos  His  Majesty’s 
Dominions onde o testador tinha o domicílio de origem (Wills Ad, 1861, art. 1; quanto aos leaseholds, Re Grassé, 
1905). 
Quanto aos testamentos dos Inglêses feitos no Reino­Unido, qualquer que tenha sido o domicílio dêle ao tempo 
da feitura ou da morte, vale e é admitido ao probate se satisfaz os requisitos da lei em vigor na parte do Reino­ 
Unido em que se fêz  (Wills Aet, 1861, art. 2). Donde se tira, contrario sensu, que o testamento do estrangeiro, 
domiciliado no Estado que lhe dá a lei pessoal, se feito em tal Estado de conformidade com a lei inglêsa, que não 
seja suficiente para o Estado estrangeiro, é nulo (Gooris of von Buseok, 1881), ainda que o domicílio de origem 
do estrangeiro tenha sido britânico (Bloxam versus Farre, 1833). 
Quanto às formalidades da designação testamentária,  appointment, é de observar­se: o poder de dispor de bens 
móveis  por  testamento,  conferido  por  settbemertt  inglês,  deve  ser  em  testamento,  redigido,  seja  segundo  as 
formas da lei do domicilio do testador no momento da morte, mais as formalidades impostas pelo settlement, se as 
há, seja segundo as formas testamentárias do Wills Ad de 1837, art. 9 (D’Huart versns Harkness, 1865; In re Price, 
1900; Barreto versus Yung, 1900; Be Walker, 1908). No último caso, será válida a execução do power, ainda que 
o ato seja  nulo como testamento perante a lei do domicílio do testador (Goods of Hallyburton, 1866; Goods of 
Hubu, 1896). Cf. Wilbs Aot de 1837, art. 10. 

§ 5.863. Direito intertemporal e forma 

1.PRINCÍPIO DE DIREITO INTERTEMPORÂL E FORMAS TESTAMENTÂRIAS.  No direito intertemporal, 
rege o princípio tempus regit aotum. Lei do tempo e do lugar rege a  forma, o extrínseco do testamento. Lei da 
sucessão e lei do dia da morte rege o intrínseco. Os vícios de vontade escapam àquela; não são forma. 
Como em direito to intertemporal, que o cego, o surdo­mudo, isso podem, saindo do formais intrínsecas. 
Internacional  privado,  muito  há,  no  direito  é  requisito  intrínseco.  E.g.,  o  analfabeto,  que  não  são  incapazes  de 
testar, nem  por  lugar  da  lei  pessoal,  escapar  a  exigências  Quando  a  lei  veda  ao  cego  o  testamento  cerrado  e  o 
particular, tal proibição não é limitação da capacidade testamentária  (cf. G. EIÇRRORN, Das Testament, 3? ed., 
127), e sim limitação quanto ao uso da forma. Mas pode ocorrer que o Estado a qualifique diferentemente e tal é a 
qualificação  por  alguns  Estados;  então,  se  não  é  admissível  que  se  trate  de  capacidade,  forçoso  é  que  se  lhe 
reconheça o caráter de intrínseco. 
O direito intertemporal tem de afastar­se da solução corrente para outros casos, pelo exercício que já se supôs do 
direito  de  testar.  Sendo  subjetiva  a  razão  de  mudança,  devemos  julgar  válido  o  testamento  que  observou  a  lei 
anterior.  À  semelhança  da  regra  jurídica  sôbre  capacidade.  Elementos,  como  êsse,  de  subjetividade,  que  não 
concernem  à  capacidade  de  direito  (sempre  regulada  pela  lei  do  momento  da  morte),  são  como  se  fôssem 
limitações à capacidade de exercício, exceções 
portanto  do principio anteriormente exposto de se reger o extrínseco pela lei do tempo do ato e o intrínseco pela 
lei do tempo da morte. 

2.  ESPÉCIES  DE  FORMAS  TESTÁMENTÁRIÂS  E  DIREITO  INTERTEMPORAL.    Adotada  pelo  testador 
uma das espécies do testamento, que a lei do momento permite, só essa lei rege a  validade formal do ato. Não 
cabe  distinguir­se  se  o  testador  podia,  ou  não,  revogá­lo:  usou  do  seu  direito.  Mas  há  forma  externa  e  forma 
interna.  Se,  quanto  àquela,  é  pràticamente  pacífica  a  doutrina,  não  se  dá  o  mesmo  quanto  a  essa.  Por  isso, 
devemos separar os casos, por exemplo, do testamento hológrafo, que a lei A permite sem testemunhas e a que a 
lei B exige cinco, e os outros, de forma interna, como no direito brasileiro, o do testamento conjuntivo do direito 
anterior, que o Código Civil proibiu. 
No  direito  romano,  a  L.  29,  O.,  de  testamentis  quemadinodum  testamenta  ordinantur,  6,  23,  e  a  Novela  66 
estabeleciam a exclusividade da lei do momento da feitura, em se tratando de forma externa. Na Novela 66, Caput 
4, disse­se que deviam regular os testamentos as leis antigas, porque “neque omnia in nostra potestate sunt, neo 
semper aliquis tempus testandi babet”. 
A lei antiga foi a imposta pela Ordenança francesa de 1735, art. 50, e outras leis francesas, pelo § 12 do Patent do 
Aligemeines  Preussisefles  Landrecht,  pelos  incisos  V  do  Kundmach,ungspatent  austríaco  e  II,  §  37,  do 
Ávitidtdtspatent  de  29  de  novembro  de  1852  (no  direito  austríaco,  sem  distinção  entre  forma  interna  e  forma 
externa),  pelas  Ordenações  do  Hannover  de  1814,  §§  25  e  72,  de  Brema,  §  17,  de  Oldenhurgo,  §  9,  pela 
Ordenança  transitória  prussiana  de  1814,  §  6,  pela  Lei  holandesa  de  1.0  de  outubro  de  1883,  art.  3,  pelas  Lei
transitoria estense de 1852, art. 17, e saxônica de 1863, art. 23, e pela Lei italiana de 1865, art. 23. 
Vacilou a jurisprudência francesa. E a belga. A italiana, diante do Código Civil italiano de 1866, ateve­se a lei do 
dia da morte do testador (contra, O. F. GAnA, Teoria delia Retroattivitd deile Leggi, III, 3.~ ed., 336). G§NNER 
(Von der rflckwirkenden Rraft eines neuen Gesetzes auf vorbergegangene Handlungen, Archiv fiir Gesetzgebung, 
1, 155)  e  MAILHER  DE  CEASsAT  (Traité  de  Ia  Retroactivité des  Lois,  II,  25)  insistiram  em  impor  a  lei  do 
tempo da morte, embora o último deixasse ao juiz apreciar circunstâncias. 

3.TESTAMENTO PÚBLICO E TESTAMENTO CERRADO.  O 
oficial público tem de observar a lei do Estado que lhe determina as funções. O que é intrínseco rege­se pela lei 
do tempo. A revogação ou a simples derrogação de algum artigo de lei, que regulava formalidade essencial (ou 
que a criara), pode ter consequências graves. Na dúvida, é aconselhável a satisfação do que se exigia. 
A  Relação  de  Lisboa,  a 23 de  abril  de  1873,  julgou  válido  testamento  cerrado,  feito  antes  do primeiro Código 
Civil  português, por pessoa  que  não  sabia  ler,  nem  escrever.  O  Código  Civil,  hoje  revogado,  se,  no  art. 1.764, 
parágrafo único, proibia o testamento cerrado aos cegos e aos que não podiam ou não sabiam ler, continha regra 
jurídica de direito inter­temporal, tida como satisfatória (art. 1.762). A regra jurídica só se referia às formalidades 
externas. Dai a censura de JosÉ DIAs FERREIRA (Código Civil português anotado, IV, 182 si. 

4.TESTAMENTO PARTICULAR.  O testamento particular há de ter a forma da lei do tempo. Na ocasião em 
que se fêz, fêz­se bem. Por isso, está feito para hoje e para mais tarde. 
São exigências de forma externa no direito brasileiro: a) ser todo escrito pelo testador; b) ter cinco testemunhas; 
e) ser lido perante as testemunhas e por elas assinado. 
As formalidades posteriores à própria morto (e.g., abertura, se fechado; publicidade; afirmativas das testemunhas) 
são as da lei do ato. Trata­se de atos complementares, pois no momento das assinaturas está perfeito o testamento. 

5.TESTAMENTO  NUNCUPATIVO.  O  testamento  Dura­mente  oral não  suscita  graves  problemas  de  direito 
intertemporal. No momento em que morre o testador, quase sempre não se passou longo tempo. Se passou, não 
tem eficácia. Os prazos são sempre muito curtos. 
Mas pode ter havido lei nova no lapso exíguo. 
A forma exterior é a do momento em que se fêz. 
Surge o problema da lei nova que proibe o testamento nuncupativo. Tem­se de precisar a qualifica  çdo, em direito 
intertemporal, como há a qualificação em direito internacional privado. A lei pode dizer: “não valem os já feitos”. 
Se  o  testador  podia   testar  por  outra  espécie,  é  razoável  a  regra  jurídica  de  eficácia  imediata.  Se  não  podia, 
compôs­se o direito adquirido. Testou como podia e como somente podia. Em todo o caso, tem­se de respeitar a 
qualificação pela  lei. Se o testador, ao vir a  lei  nova, não pode testar de outra maneira,  não se  lhe pode ferir a 
liberdade de testar. 

6.TESTAMENTO CONJ UNTIVO.  Antes do Código Civil, a doutrina  admitia o testamento de mão comum. 


Perguntou­se:  morto  o  testador  após  a  incidência  do  Código  Civil  (digamos,  em  1917)  ~valia  o  testamento? 
CLOVIS BEVIÁQUA (Parecer,  Revista Jurídica, 16, 74 s.) considerou­o nulo: “O testamento não se considera 
um  ato  perfeito  e  acabado,  senão  quando  morrer  o  testador.  Até  êsse  momento  pode  ser  revogado.  E 
particularmente, o testamento conjuntivo, se não pudesse ser desfeito pelo testador a qualquer momento, seria um 
pacto sucessório, expressamente reprovado pelo direito anterior. Se o testamento não é um ato perfeito e acabado 
senão desde a morte do testador, está, forçosamente, submetido à lei em vigor a êsse tempo e não à que prevalecia 
ao tempo da sua facção. A lei respeita o ato perfeito, isto é, o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em 
que se efetuou. Mas o testamento, de que se trata, não pode considerar­se consumado, no momento em que foi 
redigido. É da sua essência a revogabilidade, porque é um ato mortis causa, é uma disposição de última vontade, 
e a última vontade só é possível determinar quando o testador, com a morte, cesse de querer”, O êrro vem de 
C.F. A. KÕPPEN e influiu em CLÓVIS BEVILÁQUA. 
Há  duas  noções  que  aparecem  confundidas:  a  de  revogabilidade,  cujos  efeitos  são  no  momento  da  morte  e 
permite ter­se como sempre refazível o ato testamentário, e o do regra~ mento legal, que é, quanto à forma e à 
capacidade, o do momento da testamentificação. Feito o testamento, não há, com a lei nova, de ser atingido. 
O testamento conjuntivo não é só forma. Se o fôsse, feito antes da lei que o proibe, valeria ao tempo da morte e 
depois.  Via  de  regra,  é  forma  e  fundo:  contém  disposições  simultaneas,  recíprocas  ou  correspectivas,  o  que  é 
objeto da lei de sucessão, e são apreciáveis no momento da morte do testador; a forma, o extrínseco, há de reger­ 
se pela lei da feitura, no tempo e no espaço. 
Na jurisprudência brasileira, o Tribunal de Justiça de São Paulo, a 5 de dezembro de 1919, decidiu pela nulidade 
do  testamento  conjuntivo,  feito  antes  do  Código  Civil  (1916),  se  na  vigência  dêsse  faleceu  o  testador.  Foi 
escusada a critica contra tal decisão, crítica que se baseava em estar perfeito o testamento no dia da feitura. 
Diante de testamento válido conforme a lei do tempo em que se fêz, a capacidade do testador e o que concerne a
circunstâncias subjetivas só excepcionalmente se rege pela lei antiga. 
7.TESTAMENTO DE MILITARES, MARINHEIROS E VIAJANTES DE ALTO­MAR.  Rege o princípio tem 
pus regit actum:  feito, vâlidamente, continua valendo. É diminuto o interêsse das questões, porque, pela exigência 
generalizada  nos  sistemas  jurídicos,  de  prazo  de  eficácia  assaz  restrito,  de  ordinário  há  a  caducidade  antes  de 
qualquer conflito intertemporal. 
Doutrinàriamente, se, morto o testador, não se esgotou o prazo, não incide a lei nova. Se, ainda a correr, vivo o 
testador, a lei nova o encurtou, não se há de apressar, mesmo na ausência de regra jurídica especial, o prazo que 
corria. Mas é de supor­se que tal decurso, o que é o quod plerum que fit, é exigência só imanente à forma. Se a lei 
nova proibiu a espécie, não se pode violar o direito adquirido. 
No  caso  de  lei  nova,  que  estende  o  tempo  da  eficácia,  não  se  pode  dizer  que  dela  não  se  beneficiem  os 
testamentos cujo prazo ainda não correu. 

8.TESTAMENTO  “TEMPORE  PESTIS  CONDITUM”.    Com  o  testamento  tem  pore  pestis  conditum  dá­se  o 
mesmo que se disse sôbre o testamento nuncupativo e os especiais. Quanto aos requisitos extrínsecos, rege­os a 
lei do momento em que se faz (tempus regit actum). A lei nova vedativa esbarra na circunstância de haver testado 
o decujo e já não poder obedecer a nova lei. Tratar­se­ia de efeito retroativo, que se não há de tolerar. 

9. CONTRATO DE HERANÇA E DOAÇÕES A CAUSA DE MORTE. Rege a forma do contrato de herança e 
das doações mortis causa  a lei do tempo em que se concluem. A lei nova  não pode, retroativamente, destruir a 
eficácia. Nem o contrato de herança nem as doações a causa de morte estão sujeitos à lei de sucessão, salvo no 
que  o  direito  sucessório  tem  de  preponderar.  Por  outro  lado,  não  há  a  revogabilidade  plena   que  caracteriza  o 
testamento.  A  lex  boi  rege  a  forma  (II.  HABICHT,  Die  Einwirlcung  des  13GB.,  auf  zuvor  entstandene 
Rechtsverhii.ltnisse, 3ª ed., 767; F. AFFOLTER, Das Intertemporale Reckt, II, 340). 

10.CONVALESCENÇA E DIREITO INTERTEMPORAL.  <‘,A lei nova pode convalidar o testamento feito sob 
a lei anterior e inválido por defeito de forma? (Afirmativamente, a Ordenança oldemburguesa de 25 de julho de 
1814, § 9; A. MAILHER DE CHASSAT, Traité de la Retroactivité des Lois, II, 27; contra, GRANDMANCHE 
DE BEAULIETJ, De l’Êtendue de l’Autoritê Lois, 85 5.; J. KALINDERO, De la Non­retroactivité des Lois. 119; 
V. VITAL!, La Forma dei Testamento italiano, 157). A jurisprudência é hostil. 
Os  principais  argumentos  são  os  seguintes:  a)  Argumento  contra  a  convalescença  formal:  o  testamento  a  que 
faltava formalidade necessária, era nulo, e nulo há de continuar. 
b)Argumento  a  favor  da  convalescença:  se  o  testador,  que  nulamente  testara,  sabia­o  nulo,  mas conheceu  a  lei 
nova e achou não ser preciso (MAILHER DE  CHASSAT, II, 29). Réplica ao argumento b) : se  o testador não 
rompeu  o  testamento  nulo,  sabia­o  nulo,  e  não  se  preocupou  com  isso,  pois  conhecia  a  lei  nova  (MERLIN, 
Répertoire, 273). 
A convalescença formal seria de consequências profundas; e nas leis novas só excepcionalmente há a finalidade 
de trazer  à vida: o elemento político (a técnica  legislativa) estatui para o futuro, porque olha o futuro e regra o 
futuro). 
Por isso: a) Pode a lei, ao estabelecer algo para o futuro, tratar de atos passados, que a regra jurídica tempus regil 
actum submeteu à sua incidência. Por exemplo: “os testamentos feitos no regime anterior, se nulos por falta de tal 
formalidade,  convalescerão  se  os  testadores declararem  ao  juízo  competente  que os  mantêm”;  “os  testamentos, 
feitos  no  regime  anterior  e  nulos  por  falta  da  finalidade  tal,  convalescerão  se  os  testadores  não  declararem  o 
contrário  aos oficiais  públicos  ou nao  os  romperem”.  Aí,  a  lei   para  GONNER  (Von  der  rflckwirdenden  Kraft 
eines  neuen  Gesetzes  auf  vorhergegangene  Handlungen,  Arckiv  fijr  die  Gisetzgebung,  1,  159),  MERLIN  (Ré 
pertoire, 273) e 3. KALINDERO  (De la ATon­retroactivité des Lois, 119)  é imperativa. Devemôs, porém, frisar 
que  há  dispositividade.  Trata­se  de  princípio  geral,  que  estava  no  Preussisckes  Alígemeines  Landrecht  e  T.  D. 
MEYER   (Principes  sur  des  Questions  transitoires  13)  reformulou.  Apanha  todo  o  direito  intertemporal  Mais: 
sociológicamente, resulta dos índices (. 2; portanto, 2 para futuro, pela instabilidade; e 7, de quanto despótico, que 
caracteriza a Política). 
Surge  questão  sutil.  Se,  no  intervalo,  cai  em  incapacidade  ou  impossibilidade  de  testar  o  testador,  ~há 
convalescença? Afirmativamente a Ordenança prussiana de 1814, V. VITALI  (La Forma del testamento italiano, 
188), que afirmou nao caber distinguir­se se a incapacidade começou antes ou depois da lei nova, e F. BIANCrn  
(Corso elementare di Codice Civile italiano, 123). 
Se  a  lei  sanatória  exigia  ato  positivo  para  a  convalidação  e  ficar  provado  que  o  testador  tinha  o  animus 
conservandi  e  somente  por  impossibilidade  física  ou psíquica  não  providenciou,  ou,  depois  de  haver  testado  e 
antes de extinto o prazo da lei nova, caiu em incapacidade, tudo se reduz a dupla interpretação: ou o ato positivo 
seria  formalidade formal ad essentiam, que se não poderia suprir por outras provas da intenção do decujo, ou a 
prova  da  intenção  é, por si, um dos  meios  de prova  de  revalidação. Se quem  testou tinha,  ou  não,  o  intuito de
impor como eficaz o testamento, depende, ai, das provas. 
b)Se a lei não exige qualquer ato do testador, por ter considerado contra os princípios gerais o que a lei anterior 
estabelecia, valem quaisquer testamentos a que ela se refira. Tal atitude legislativa é rara. 
Para a convalidação dos negócios jurídicos, inclusive a dos testamentos, é preciso: a) ou que o ato do figurante 
seja reconhecido pelo sistema jurídico como suficiente para o efeito; b) ou que tenha corrido o prazo, se pela lei 
considerado  convalescente.  Se  o  testador  revogou  apenas  a  revogação  de  um  testamento,  ou  de  alguma 
disposição,  não  se  trata  de  convalescença,  se  o  testamento  volta  a  ser  eficaz,  cf.  AUGUST  SCHULTZ,  Die 
Konvalescenz des 13GB., 27.) 
Quanto às formas testamentárias, só se pode cogitar de convalescença que decorra de princípio superior ao que 
regia o negócio jurídico. Por exemplo: eram nulos os testamentos que os testadores fizeram em região inundada, 
por  só  figurarem  nêles  três  testemunhas.  Diante  dos  casos  que  foram  muitos,  pode  o  legislador  estatuir, 
excepcionalmente: “Os testamentos feitos durante a última inundação, na região tal, ainda que não tenham tido a 
assinatura de cinco testemunhas, têm­se por válidos.

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