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Um dos principais desafios da improvisação no Brasil talvez seja fazer as crianças e os jovens,
as novas gerações, se apaixonarem por ir ao teatro, e se sentirem parte do espetáculo, das
estórias, dos personagens. Sentir que são colaboradores, e não apenas observadores. Um tipo
único de evento, que tem uma magia própria, diferente de assistir um video no YouTube, uma
série no Netflix, ou jogar um videogame. Apesar de compartilhar algumas semelhanças com a
interatividade dos jogos de videogame. O aspecto lúdico do brincar de contar estórias, imaginar
mundos, jogar brincadeiras de faz-de-conta, de forma despretensiosa, e em contato direto com
outras pessoas, corpo-a-corpo, cara-a-cara, sem a mediação de celulares, perfis sociais - um
dos grandes desafios da improvisação é relembrarmos o que é brincar de verdade, imaginar,
sonhar, numa era de consumo digital de apps.
Pode ser uma experiência positiva para as crianças. Sentimos que parte da geração mais nova,
que já nasce dentro da cultura do smartphone, internet e redes sociais, talvez não tenha muita
prática (ou esteja perdendo o interesse) em brincadeiras como: contar estórias, fazer de conta,
inventar jogos de brincar. Temos a sensação de que essa parte da infância e pré-adolescência já
tem uma concepção de brincadeira ligada intrinsecamente ao celular, aos aplicativos, e uma
concepção de brincadeira como "coisa a ser consumida", comprada, utilizada, que já está pronta
para o consumo, e não para ser inventada, junto com amigos e amigas. Então parte crucial desse
tipo de experiência do brincar, do criar, da criatividade infantil fica um pouco atrofiada nesse
sentido. Sentimos que a prática do IMPRO com as novas gerações possa ser uma forma de
estimular a reconexão e redescoberta com o mundo do impossível, do transcendental, do grátis,
do inútil. Desde cedo as crianças estão imersas e engolidas por um mundo prático, material,
econômico/capitalista, utilitário. O IMPRO pode ajudar a desaprender essas coisas. E ajudar a
aprender outras. O Keith Johnstone fala que gostaria de ter aprendido algumas habilidades
sociais, por exemplo: como flertar? como se enturmar numa festa? como fazer uma nova amiga?
como interagir melhor com as pessoas? Como se comunicar melhor com as pessoas? Como falar
em público? Como se comportar quando se está num palco, sendo observado por muita gente? O
IMPRO é uma “life skill” (habilidade de vida, habilidade social). Pode ser uma prática interessante
de se ter na escola. (o que já ocorre em alguns lugares dos EUA e Canadá)
(Curiosidade: estarmos iniciando um processo de elaborar um espetáculo infantil de improvisação,
com todos esses questionamentos ainda ressoando no grupo).