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Para pensar problemas ou problemáticas da atualidade em relação ao impro

Para pensar no contexto impro e Brasil

Para imaginar futuros

12.Como vocês avaliam a cena de improvisação no Brasil, especialmente no Rio?

No Rio, e no Brasil também, a cena de improvisação é relativamente pequena, comparando com


as matrizes (Europa, EUA), por diversos fatores, inclusive econômicos, sociais, políticos. Existem
grupos que se apresentam regularmente em São Paulo, Minas Gerais.
No Rio, tirando o trabalho pioneiro da Cia. Teatro do Nada, diversos outros grupos surgiram desde
os anos 2000, e geralmente com um formato relativamente semelhante de espetáculo, de tom, de
pegada. 
Especificamente no Rio, algo bastante influenciado pelo trabalho do Z.É, Zenas Emprovisadas,
que teve sucesso nesse período inicial, acabou ficando como uma referência para as gerações
mais novas. Então a tradição do teatro besteirol carioca e do stand-up comedy também trouxe
influências, inclusive confundindo a cabeça de muitos, que não sabem exatamente qual a
diferença entre improvisação (Impro) e stand-up. Um (o Impro) é criado na hora, através de um
treinamento que desenvolve a espontaneidade, a habilidade narrativa, a criatividade em grupo, o
outro (stand-up) é baseado em rotinas escritas de esquetes humorísticas, geralmente com apenas
um comediante em cena. 
O trabalho que fazemos com a Cia Baby Pedra e o Alicate também é de explorar caminhos pouco
vistos, ou caminhos híbridos, como improvisação e bonecos, máscaras, animação com luz negra,
improvisação corporal, sonora-musical, sem deixar de contar estórias, sem deixar de ter esse
apelo e conexão com o público. É explorar o Impro que não finca o lastro no humor besteirol
carioca, nem nos formatos curtos como Z.É nem no stand-up. É basicamente um retorno aos
fundamentos do Impro, e uma grande exploração de possibilidades teatrais, sonoras, interativas.
Criar imagens e sons, algo que acaba se perdendo caso a improvisação seja tratada apenas
como um jogo de piadas. Aprofundar e refinar as relações entre os personagens que surgem nas
cenas improvisadas.
Vemos que o Impro deve se espalhar mais, por lugares que não imaginávamos, ganhar outros
frutos, já híbridos, já misturados, já "descolonizados" talvez. O brasileiro já é um improvisador por
natureza. Um ser que se adapta. Que se flexibiliza. Mas os tempos andam muito duros, muito
violentos, de uma violência real, cotidiana, e imaginária. O IMPRO pode ser uma prática de paz,
de entendimento, de conciliação para as novas gerações. Uma prática de brincadeira, de
espontaneidade, que cria laços genuínos entre as pessoas, entre as coisas.

13.Quais os maiores desafios da improvisação no Brasil?

Um dos principais desafios da improvisação no Brasil talvez seja fazer as crianças e os jovens,
as novas gerações, se apaixonarem por ir ao teatro, e se sentirem parte do espetáculo, das
estórias, dos personagens. Sentir que são colaboradores, e não apenas observadores. Um tipo
único de evento, que tem uma magia própria, diferente de assistir um video no YouTube, uma
série no Netflix, ou jogar um videogame. Apesar de compartilhar algumas semelhanças com a
interatividade dos jogos de videogame. O aspecto lúdico do brincar de contar estórias, imaginar
mundos, jogar brincadeiras de faz-de-conta, de forma despretensiosa, e em contato direto com
outras pessoas, corpo-a-corpo, cara-a-cara, sem a mediação de celulares, perfis sociais - um
dos grandes desafios da improvisação é relembrarmos o que é brincar de verdade, imaginar,
sonhar, numa era de consumo digital de apps.
Pode ser uma experiência positiva para as crianças. Sentimos que parte da geração mais nova,
que já nasce dentro da cultura do smartphone, internet e redes sociais, talvez não tenha muita
prática (ou esteja perdendo o interesse) em brincadeiras como: contar estórias, fazer de conta,
inventar jogos de brincar. Temos a sensação de que essa parte da infância e pré-adolescência já
tem uma concepção de brincadeira ligada intrinsecamente ao celular, aos aplicativos, e uma
concepção de brincadeira como "coisa a ser consumida", comprada, utilizada, que já está pronta
para o consumo, e não para ser inventada, junto com amigos e amigas. Então parte crucial desse
tipo de experiência do brincar, do criar, da criatividade infantil fica um pouco atrofiada nesse
sentido. Sentimos que a prática do IMPRO com as novas gerações possa ser uma forma de
estimular a reconexão e redescoberta com o mundo do impossível, do transcendental, do grátis,
do inútil. Desde cedo as crianças estão imersas e engolidas por um mundo prático, material,
econômico/capitalista, utilitário. O IMPRO pode ajudar a desaprender essas coisas. E ajudar a
aprender outras. O Keith Johnstone fala que gostaria de ter aprendido algumas habilidades
sociais, por exemplo: como flertar? como se enturmar numa festa? como fazer uma nova amiga?
como interagir melhor com as pessoas? Como se comunicar melhor com as pessoas? Como falar
em público? Como se comportar quando se está num palco, sendo observado por muita gente? O
IMPRO é uma “life skill” (habilidade de vida, habilidade social). Pode ser uma prática interessante
de se ter na escola. (o que já ocorre em alguns lugares dos EUA e Canadá)
(Curiosidade: estarmos iniciando um processo de elaborar um espetáculo infantil de improvisação,
com todos esses questionamentos ainda ressoando no grupo). 

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