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Cláudia Antico ♣♣
Resumo
O principal objetivo desse trabalho é analisar os deslocamentos pendulares ocorridos
na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP como um indicativo de desigualdades
e da heterogeneidade espacial e social existentes na região. Os movimentos
pendulares foram definidos como deslocamentos diários realizados pela população
ocupada residente na RMSP, entre o município de moradia e o de trabalho. As
principais fontes de dados utilizadas foram as Pesquisas Origem-Destino de 1987 e
1997, elaboradas pela Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô.
A abordagem do tema foi feita em diferentes recortes espaciais – sub-regiões e
municípios – para analisar os tipos de fluxos pendulares estabelecidos nos
diversificados contextos sub-regionais, considerando os movimentos intra-regionais
(entre municípios pertencentes à mesma sub-região), inter-regionias (entre municípios
pertencentes à diferentes sub-regiões) e com o município de São Paulo.
A maior concentração dos deslocamentos pendulares ocorridos no território da RMSP
deu-se em direção ao município de São Paulo, nos dois períodos analisados. Entre
1987 e 1997, juntamente com a manutenção dos fluxos dirigidos à área central
metropolitana e a diminuição dos movimentos em direção aos demais municípios,
observou-se aumento dos deslocamentos pendulares ocorridos entre os municípios da
RMSP, seja em suas dinâmicas intra-regionais ou inter-regionais. A tendência de
crescimento do número de fluxos intra-regionais revela a importância da configuração
e a consolidação de subcentros locais em algumas áreas da RMSP. Destaca-se, assim,
uma acentuada diversificação dos locais de origem e de destino dos fluxos e dos
grupos sociais envolvidos.
∗
Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais , ABEP, realizado em Caxambu -
MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.
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Doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
Esse trabalho está baseado na Tese de Doutorado em Demografia, intitulada Onde Morar e Onde Trabalhar:
Espaço e Deslocamentos Pendulares na Região Metropolitana de São Paulo, defendida pela autora no Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas.
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Deslocamentos Pendulares nos Espaços Sub-regionais da
Região Metropolitana de São Paulo∗∗
Cláudia Antico ♣♣
Introdução
Os dados do Censo Demográfico 20001 revelaram que, no Brasil, 7,4 milhões de
pessoas trabalhavam ou estudavam em municípios diferentes daqueles onde residiam. Esse
tipo de deslocamento era realizado, principalmente, por residentes nos estados de São Paulo e
Rio de Janeiro, que registraram 29,2% (2,1 milhões) e 13,2% (980 mil), respectivamente, do
total do País. A Região Metropolitana de São Paulo – RMSP concentrava 54,8% (1,1 milhão)
dos que trabalhavam ou estudavam fora do município e residiam no Estado, e entre seus
municípios, Osasco (116 mil), São Paulo (114 mil), Santo André (95 mil) e Guarulhos (94
mil), apresentaram os maiores contingentes, caracterizando, assim, esse deslocamento
populacional como um fenômeno urbano concentrado em grandes cidades.
∗
Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu -
MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.
♣
Doutora em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
1
Resultados da Amostra – Migração e Deslocamento – divulgados em 2003.
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A principal fonte de dados utilizada para a análise dos fluxos pendulares da população
pendular foi a Pesquisa Origem-Destino (OD)2, realizada pela Companhia do Metropolitano
de São Paulo – Metrô, em suas edições de 1987 e 1997. Ressalta-se que os movimentos
pendulares abordados no presente trabalho são os deslocamentos diários realizados pela
população ocupada residente na RMSP entre o município de residência e o município de
trabalho.
Divisão de Vetores
Franc isco
Mora to
Santa Is abe l
Fr anco da R ocha Mair ip orã
Ca jamar
Pirapo ra do Cai eir as Ar uj á
Bom Jes us
Gu ar ulh os Gu ar ar ema
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Baru eri
Osasco Po á
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Itap eví Ferr az de
Ja ndi ra Sale sóp o lis
Vas con cel os
Birit iba Mir i m
Varg em Tabo ão S. Caetano Mo j i d as
Gran de da Serra d o Su l Su zano Cruzes
Paul ista Emb u Mauá
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S.B erna rd o Central
d o Cam po Leste
S. L oure n ço
da Se rra Embu Leste - RM
Gu aç u Nordeste
Nordeste - RM
Noroeste
Juqu i ti ba Norte
Norte - RM
Oeste
Oeste- RM
Sudoeste
Sudoeste- RM
Sul
Sudeste
Sudeste -RM
2
A Pesquisa Origem-Destino, realizada tradicionalmente a cada dez anos, desde 1967, coleta dados sobre as
características socioeconômicas da população residente na RMSP e sobre a localização das atividades urbanas,
com o objetivo de identificar os fatores que determinam o padrão das viagens, definido por suas origens,
3
Deslocamentos Pendulares e Expansão da RMSP
O espaço urbano contemporâneo está revestido por uma crescente complexidade e por
múltiplos aspectos, é caracterizado por processos contraditórios e conflitos inerentes,
marcado por transformações nas relações sociais e processos produtivos em escala mundial.
A RMSP é marcada pela presença do contraste social, pela constituição de espaços
fragmentados. Em partes específicas de seu território, ocorre o surgimento de áreas
separadas, condomínios fechados, como Alphaville, Tamboré e Granja Viana, que podem ser
considerados exemplos de suburbanização de altas e médias rendas na RMSP, assim como a
expansão da população em condições bastante precárias de vida em áreas centrais e
deterioradas do município de São Paulo. Nesse espaço diferenciado e desigual, as maneiras
como os grupos sociais resolvem a relação habitar-trabalhar, as estratégias utilizadas, tornam-
se diferenciadas, atingindo-os de modo distinto.
A forma de ocupação da RMSP, desde os anos 50, através da expansão das periferias
(Bógus e Taschner, 1986), é indicativa de desigualdades internas nos processos de formação
e transformação espaciais e urbanas, e pode ser observada também através dos níveis de
crescimento populacional mais elevados dos municípios que compõem o entorno
metropolitano do que o município central e do movimento migratório intrametropolitano na
mesma direção. Tais processos, associados à concentração de empregos na área central,
resultam no distanciamento crescente entre os locais de residência e de trabalho, e na
necessidade de longos percursos diários a diferentes parcelas da população metropolitana.
destinos, modos de transporte, motivos e horários. Uma nova edição da pesquisa foi realizada recentemente,
com dados coletados em 2002, parcialmente divulgados.
4
Durante os anos 80 e 90, pode-se observar ainda tais processos com certa intensidade,
consolidando-se a configuração de espaços regionais, destacados como sub-centros locais, em
termos da importância na redistribuição populacional e da localização de empregos. O
fortalecimento dessas áreas afeta os deslocamentos casa-trabalho da população residente na
RMSP, intensificando a diversificação de movimentos e de grupos sociais envolvidos.
3
Estudo sobre a migração intrametropolitana na RMSP na década de 70 (Cunha, 1994) já apontava para a
presença de áreas dinâmicas do entorno metropolitano na recepção dos fluxos migratórios provenientes do
município de São Paulo.
4
Há um certo consenso, atualmente, entre os estudiosos de população, sobre o fato de que os deslocamentos
pendulares não devem ser considerados “migração”, pois os dois fenômenos possuem conceitos distintos. A
migração envolve a mudança de residência e os movimentos pendulares têm como principal característica os
deslocamentos entre diferentes municípios de residência e de trabalho (algumas definições também incluem
município de estudo). A Fundação IBGE, por ocasião da divulgação dos resultados da amostra do Censo
Demográfico 2000, denominou como “deslocamento” o fenômeno que envolve as pessoas que trabalham ou
estudam fora do município de residência. Como já foi citado anteriormente, o presente trabalho aborda os
deslocamentos pendulares realizados diariamente entre diferentes municípios de residência e de trabalho na
RMSP.
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Tabela 1
População Ocupada por Situação de Pendularidade
Região Metropolitana de São Paulo
1987 e 1997
No sentido inverso desse fluxo, ou seja, do município de São Paulo em direção aos
demais municípios da RMSP, a participação sobre o total de movimentos pendulares caiu de
24,4% (235.877 pessoas) em 1987, para 20,4% (260.650 pessoas) em 1997 (Tabela 2).
Tabela 2
População Ocupada Pendular por Tipo de Deslocamento
Região Metropolitana de São Paulo
1987 e 1997
1987 1997
Tipos de Deslocamento
Pendular N° Absoluto % N° Absoluto %
Total 967.076 100,00 1.279.282 100,00
De Outros Municípios p/
o Munic. de SP 463.235 47,90 633.088 49,49
Do Munic. de SP p/
Outros Municípios 235.877 24,39 260.650 20,37
De Outros Municípios p/
Outros Municípios -
Intra-regional 239.895 24,81 326.031 25,49
De Outros Municípios p/
Outros Municípios -
Inter-regional 28.069 2,90 59.513 4,65
Fonte: Pesquisa Origem e Destino 1987 e 1997. Secretaria de Transportes Metropolitanos.
Cia do Metropolitano de São Paulo - Metrô. Tabulações Especiais - Fundação Seade.
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Pode-se observar que a maior parte desse tipo de fluxo era realizado entre municípios
vizinhos pertencentes à mesma sub-região (movimento pendular intra-regional),
representando 24,8% (239.895 pessoas) do total de movimentos pendulares metropolitanos,
em 1987, e 25,5% (326.031 pessoas) em 1997 (Tabela 2).
Mapas 2 e 3
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Entretanto, observa-se uma proporção variada e diferenciada entre os municípios que
compõem cada sub-região, e a grande maioria daqueles que registraram proporções acima de
40%, mantiveram percentuais acima desse patamar. Assim, os maiores destaques foram
apresentados por alguns municípios situados em diferentes sub-regiões: Norte (Caieiras,
Franco da Rocha e Francisco Morato), Sudoeste (Taboão da Serra, Embu e Itapecerica da
Serra), Leste (Ferraz de Vasconcelos, Poá e Itaquaquecetuba), Oeste (Osasco, Carapicuíba,
Jandira e Itapevi) e Sudeste (Diadema, Santo André, Mauá, Rio Grande da Serra) (Mapas 2 e
3).
8
Gráficos 1, 2 e 3
Norte
1987 1997
8% 8% 11%
5%
84% 84%
Sudoeste
1987 1997
10%
10% 6% 9%
84% 81%
Leste
1987 1997
34% 26%
56%
63% 11%
10%
9
Gráfico 4 - Sub-região Norte Gráfico 5 - Sub-região Leste
70 e + 70 e +
60-64 60-64
50-54 50-54
Homens Homens
40-44 40-44
Mulheres Mulheres
Idade
Idade
30-34 30-34
20-24 20-24
10-14 10-14
0-4 0-4
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Percentual Percentual
70 e +
60-64
50-54
Homens
40-44
Mulheres
Idade
30-34
20-24
10-14
0-4
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Percentual
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Mapas 4 e 5
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As principais características dos movimentos pendulares ocorridos nas sub-regiões
Sudeste e Oeste são os números absolutos mais significativos de ocupados pendulares da
RMSP, e a elevada participação do movimento pendular intra-regional (Gráficos 7 e 8).
Gráficos 7 e 8
Sudeste
1987 1997
43% 43%
56% 53%
1% 4%
Oeste
1987 1997
24%
34%
2%
62%
74% 4%
70 e + 70 e +
60-64 60-64
50-54 50-54
Homens Homens
40-44 40-44
Mulheres
Idade
Mulheres
Idade
30-34 30-34
20-24 20-24
10-14 10-14
0-4
0-4
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Percentual
Percentual
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A sub-região Nordeste possui um dos fluxos pendulares numericamente mais
importantes da RMSP, com concentração e predominância do deslocamento do município de
Guarulhos em direção ao município de São Paulo. Apesar de também possuir um
significativo ritmo de crescimento populacional, combinado a estrutura etária mais jovem,
diferencia-se das demais sub-regiões com tais características, por apresentar características de
dinamismo econômico mais intensas e tendências de adensamento de empregos. Entretanto,
mesmo configurando-se como um sub-centro local, apresentou a menor participação do
movimento intra-regional no total de seus deslocamentos pendulares, comparando-se com as
demais sub-regiões da RMSP (Gráfico 11).
Gráfico 11
1987 1997
4% 7% 6% 8%
89% 86%
70 e +
60-64
50-54
Homens
40-44
Mulheres
30-34
20-24
10-14
0-4
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Percentual
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Considerações Finais
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Referências Bibliográficas
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MONTALI, L. “Região metropolitana de São Paulo: expansão e heterogeneidade” In: IV
Encontro Nacional da ANPUR, 1991.
VERAS, M. P. B. Novos olhares sobre São Paulo: notas introdutórias sobre territórios,
espaços e sujeitos da cidade mundial. Revista Margem: Revisitando o Brasil, São Paulo:
EDUC: 1997.
VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln
Institute, 2001.
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