Você está na página 1de 180

SUMÁRIO

ARTIGOS David Michael Vetter


Dulce Maria Alcides Pinto
Olga Buarque de Lima Fredrich
Rosa Maria Ramalho Massena
A proposição dos benefícios das ações do Estado
em áreas urbanas: seus determinantes e análise através
de ecologia fatorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 457
Haidine da Silva Barros Duarte
Estrutura urbana do Estado do Rio de Janeiro - uma
análise no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477
James F. Hicks Jr.
Sergio Seelenberger
Metodologia para a identificação de sistemas, pro-
blemas e diretrizes de transporte metropolitano: uma
aplicação na Região Metropolitana do Rio de Janeiro 561

COMUNICAÇõES Maurício de Almeida Abreu


Contribuição ao estudo do papel do Estado na evolução
da estrutura urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 577
David Michael Vetter
A segregação residencial da população econômica-
mente ativa na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, segundo grupos de rendimento mensal . . . . . 587

TRANSCRIÇÃO Maria Helena Beozzo de Lima


Condições de habitação da população de baixa renda
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro . . . . . . . . . 605

BIBLIOGRAFIA Biblioteca Central do IBGE


Bibliografia sobre a Baixada Fluminense e Grande Rio 631

TIPOS E ASPECTOS
DO BRASIL Francisco Barboza Leite
Paraty 635

I SSN 0034-723X

Rev. Bras. Geogr. I Rio de Janeiro I ano 43 I n. 0


4 I p. 455-638 I out./ dez. 1981
Revista brasileira de geografia Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística . -
ano 1, n. 1 (1939, abr./jun.)- . - Rio de janeiro : IBGE, 1939-

Trimestral.
órgão oficial do IBGE.
Inserto : Atlas de relações internacionais, no período je jan./mar. 1967 - out./dez. 1976.
índices : autor-título-assunto, v. 1-10(1939-1948) divulgado em 195:1 sob o título : Revista
brasileira de geografia : índices dos anos I a X, 1939-1948 . - índices anuais de autor-
título-assunto.
ISSN 0034-723X = Revista Brasileira de Geografia.

,1. Geografia- Periódicos. I. IBGE.

IBGE. Biblioteca Central CDD 91J.5


RJ-IBGE/81-44 CDU 91(05)
ARTIGOS

A apropriação dos
benefícios das ações
,
do Estado em are as
urbanas: seus
determinantes e
análise através de
ecologia fatorial
David Michael Vetter *
Dulce Maria Alcides Pinto**
Olga Buarque de Lima Fredrich
INTRODUÇÃO Rosa Maria Ramalho Massena

A rápida concentração de
produção e de população
nas áreas urbanas do Ter-
ceiro Mundo tem gerado grandes
coletivos (tais como transporte,
sistemas de água e esgoto, etc.)
como pelo controle dos custos so-
ciais resultantes dessa concentra-
demandas tanto por bens e serviços ção espacial aumentada (inclusive
* Departamento de Estudos e Indicadores Sociais (DEISO), Superintendência de Estudos
Sócio-Econômicos e Geográficos (SUEGE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IDGE).
** Departamento de Geografia (DEGEO), SUEGE/IBGE.
Agradecemos às valiosas criticas de James Doxsey; no entanto, somos inteiramente respon-
sáveis pelas idéias aqui expressas.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(4): 457-476, out./dez. 1981


457
os custos de poluição, congestiona- seja em uma forma modificada,
mento, doenças contagiosas e altos podem ser usados na análise dessa
índices de criminalidade). Uma apropriação.
vez que a alocação destes bens e As ações do governo compreen-
serviços ou o controle destes custos dem não apenas os investimentos
não podem, de fato, ser efetuados públicos em infra-estrutura como
no mercado, caberia ao Estado também a legislação sobre zonea-
realizá-los. O aumento constatado mento, a renovação urbana e a
no papel que o Estado desempenha política fiscal (a considerar tanto
nas áreas urbanas tem gerado uma os impostos territorial e predial
crescente politização da alocação quanto as taxas sobre os lucros de
de recursos nas grandes cidades 1 . capital em investimentos imobiliá-
E também tem levado muitos a rios). Por benefícios líquidos des-
perguntar: quem recebe os benefí- tas ações designamos a diferença
cios destas ações do Estado e quem entre os benefícios gerados por elas
paga por seus custos? 2 - melhoria dos níveis de consumo
A resposta a estas perguntas é coletivo, redução dos níveis de po-
extremamente importante para a luição ambiental, etc. - e os
determinação dos níveis de condi- custos associados, presentes na
ções de vida ou da renda real (isto forma de tarifas mais elevadas,
é, o controle sobre os recursos es- despesas com serviços, congestio-
cassos da sociedade) dos diferentes namento, poluição ou de outros
grupos sócio-econômicos. Compo- fatores que podem reduzir a qua-
nentes importantes da renda real lidade de vida ou as condições de
de uma família (Harvey 1973) nas vida na área afetada.
áreas urbanas são o acesso por
parte desta às oportunidades de 1 - 'RENDA DA TERRA,
consumo coletivo (como, por exem-
plo, infra-estrutura e serviços pú- SEGREGAÇÃO
blicos) e a sua proximidade dos RESIDENCIAL E
custos sociais (como, por exemplo, APROPRIAÇÃO DOS
altos índices de criminalidade, ser~ BENEFíCIOS
viços públicos deficientes, poluição LíQUIDOS DAS
e congestionamento). Estes com-
ponentes da renda real familiar AÇõES DO ESTADO '3
são especialmente importantes com
relação a países em desenvolvi- A distribuição interpessoal dos
mento, onde tantas famílias vivem benefícios líquidos das ações do
em níveis de subsistência. Estado (ou seja, das ações do poder
Os principais objetivos deste tra- público) depende: a) da locali-
balho são: 1) explorar as relações zação e extensão de sua área de
causais entre as variáveis de modo impacto dentro da área urbana;
a determinar quem se apropria dos b) do efeito desta localização so-
benefícios líquidos das ações do bre a estrutura dos preços na área
Estado; e 2) mostrar em que me- beneficiada, especialmente sobre a
dida os estudos de ecologia fatorial renda 4 da terra (site rent); c) das
seja em sua forma tradicional mudanças na segregação residen-
• Ver Castells (1977).
• Ver Bahl (1973), Harrls (1973), Castells (1977), Harvey (1973), Lineberry (1977), Vetter (1979)
e Vetter, Massena e Rodrigues (1979).
• Esta seção do trabalho (1.0) foi extraída, em grande parte, de Vetter e Massena (1980).
• Neste trabalho a palavra renda será sempre utilizada neste sentido de retorno anual
para um investimento na terra, enquanto o termo rendimento será sempre empregado para
designar a remuneração mensal da família, como o salário de seu trabalho, retenção de lucros
de sua empresa ou profissão, etc.

458
cial, segundo grupos de rendi- tos das tarifas e;ou da renda do
mento 5 , resultantes das modifica- solo urbano. Ou, nas palavras deles,
ções na superfície de renda da "uma melhoria no sistema de
terra, nas tarifas dos serviços pú- transporte coletivo urbano que re-
blicos e nos impostos locais; e d) sulta em uma poupança de dinhei-
da influência desta segregação resi- ro, tempo ou stress, quase nunca
dencial sobre a incidência dos in- beneficia o usuário enquanto usuá-
vestimentos públicos nos períodos rio" (ibidem 1973: 146-147). Se
subseqüentes, uma vez que o poder houver, por exemplo, uma redução
dos diferentes grupos sociais para do tempo de viagem, a companhia
influenciar o governo não é o de transporte normalmente au-
mesmo. menta o preço da passagem para
Com este último elo fechamos maximizar o retorno do capital por
uma cadeia de causação circular: ela investido, no caso de uma em-
as ações do Estado em um dado presa particular, ou para amortizar
período acabam tendo impactos a dívida contraída, no caso de uma
sobre a segregação residencial que, entidade pública. "Qualquer exce-
por sua vez, tem implicações im- dente do consumidor que subsis-
portantes na futura distribuição tisse depois deste aumento seria,
dos benefícios líquidos das ações por sua vez, apropriado pelos pro-
do Estado. prietários da terra sob a forma de
aluguéis (reais ou imputados)
Um modelo capaz de incorporar mais elevados" (ibidem: 143). Des-
esta noção de causação circular ta maneira, se a companhia de
será apresentado a seguir numa transportes urbanos não se apro-
forma simplificada. Mas, antes de priar da melhoria na forma de
chegarmos à discussão deste mo- preços de passagem mais elevados,
delo, procederemos à análise do os proprietários o farão sob a for-
caso do novo sistema de transporte ma de aluguéis mais altos. Por
rápido do Rio de Janeiro - o exemplo, os resultados empíricos
Metrô - a fim de se focalizar, de do estudo de Stern e Ayres com-
uma maneira mais concreta, a na- provam que o aumento relativo da
tureza da cadeia causal a ser ana- renda do solo era maior do que o
lisada. Que grupos vão se apropriar aumento relativo verificado no seu
deste enorme investimento de or- índice de acessibilidade (elastici-
dem muito superior a dois bilhões dade maior do que um). Ou seja,
de dólares? Um investimento em em termos proporcionais a taxa
transporte como este pode resultar relativa de aumento da renda da
em aumentos no preço de passa- terra foi superior ao índice de aces-
gem ou da renda do solo urbano, sibilidade.
os quais são proporcionais ou até Deve-se, contudo, notar que os
superiores aos benefícios percebi- proprietários da terra e imóveis não
dos pelos usuários, reduzindo nesse
último caso seu bem-estar e pro- se encontram exclusivamente nos
vocando o abandono do uso do grupos de rendimentos mais altos.
meio de transporte ou da área por Muitas famílias de rendimento
ele beneficiada. médio possuem suas próprias ca-
sas. Além disso, muitas famílias
Os resultados dos trabalhos de de rendimento mais baixo vivem
Stern e Ayres (1973) comprovam em favelas onde possuem (no sen-
o argumento de que os benefícios tido de posse, ainda que nem sem-
dos usuários resultantes dos inves- pre do ponto de vista jurídico) a
timentos no sistema de transporte casa em que moram, mas não a
seriam neutralizados pelos aumen- terra onde ela foi construída. Mui-

s Ibidem

459
tas outras famílias constroem suas mercado de trabalho competitivo
unidades residenciais em pequenos os empregadores têm que aumen-
terrenos que adquirem com base tar os salários (dos trabalhadores)
em contratos de venda em lotea- para compensar o tempo de via-
mentos populares situados nas gem, o que significa, se os custos
áreas periféricas com pouca ou não são passados aos consumido-
sem nenhuma infra-estrutura ur- res, lucros menores e uma taxa
bana 6 • Assim sendo, ·elas são, tec- menor de acumulação". Em outras
nicamente falando, proprietárias palavras, se poderia dizer que em
da terra ou imóvel, ainda que rece- um mercado perfeitamente compe-
bam muito pouco do Estado na titivo um empregador situado a
forma de serviços públicos. Mesmo grande distância de sua força de
neste último caso, é normalmente trabalho teria de pagar níveis sa-
um agente imobiliário, o incorpo- lariais mais altos do que aquele
rador, que se apropria de uma que se localiza no mesmo bairro.
parte muito grande dos benefícios, Segundo este argumento, uma re-
quando o Estado chega a montar dução no custo do transporte
alguma infra-estrutura. Estes in- devido a melhorias no sistema pro-
corporadores recorrem a várias vocaria uma queda dos níveis sala-
estratégias para levar isto a cabo. riais, e, por isso, faria aumentar
Uma delas é incitar famílias a as taxas de lucro e de acumulação.
construírem nos lotes localizados
a maior distância dos serviços pú- Poder-se-ia, contudo, contra-
blicos e transportes, para tanto até argumentar que este impacto so-
contribuindo com alguns materiais bre os salários dependeria não
de construção. Uma vez estabele- a penas das condições existentes no
cidas, estas famílias podem fazer mercado de trabalho, como tam-
pressão sobre os políticos - verea- bém do mercado em que o empre-
dores ou deputados estaduais - gador negocia as suas mercadorias.
(com a ajuda do incorporador) a Se não houver uma grande reserva
fim de obterem tais serviços. O de mão-de-obra, como no caso de
construtor apropria-se dos benefí- um determinado grupo de traba-
cios da expansão deste sistema na lhadores qualificados, o emprega-
forma de preços da terra mais ele- dor possivelmente não seria capaz
vados para os lotes restantes 7 • de reduzir os níveis salariais. No
Isto nos leva ao exame do ter- entanto, em se tratando de traba-
ceiro e último grupo potencial que lhadores não qualificados e de uma
pode beneficiar-se dos investimen- grande reserva, uma redução do
tos públicos na melhoria do siste- custo de transporte poderia signi-
ma de transporte: o capital. A ficar uma redução dos níveis sala-
forma mais óbvia desta apropria- riais. Por outro lado, se os traba-
ção seria no aumento das tarifas lhadores não são proprietários de
pela entidade investidora. Porém, terra (ou de imóvel), qualquer
mesmo quanto ao caso de uma
empresa pública que não aumente melhoria no sistema de transporte
os preços, o capital poderia se ou outro serviço coletivo pode ser
apropriar dos benefícios na forma apropriada na forma de aluguéis
de uma redução dos níveis sala- mais altos. Foi justamente a apro-
riais, na opinião de muitos auto- priação dos benefícios destes inves-
res8. Harvey (1974:10), por exem- timentos em infra-estrutura que
plo, argumenta que: "em um levou, no passado, a coalizões um

• Para uma discussão acerca desta questão, ver Beozzo de Lima e Este (1979).
1 Singer (1979).
• Para uma discussão mais completa, ver Feldman (1977).

460
tanto estranhas contra os proprie- renda fundiária, a qual é, confor-
tários 9 • me dizem Vieira da Cunha e
Embora estes investimentos em Smolka (1978: 18), "uma expressão
infra-estrutura urbana, do mesmo do poder da classe dos proprietá-
modo que o controle do uso da rios fundiários consolidada na
terra e a política fiscal local, gerem instituição da propriedade priva-
benefícios líquidos que se acham da". Em um outro trabalho
refletidos nas rendas do solo, eles Smolka (1979:4) destaca o papel
não são, certamente, os únicos fa- de um grupo dentro desta classe
tores a influenciarem a valorização de proprietários, o capital incorpo-
do solo urbano. Outros fatores 10 rador que, "de maneira orgânica,
que não atuam especificamente a articula Estado, construtoras, fi-
nível local têm também grande nanceiras, etc., para a apropriação
efeito sobre tal valorização. Entre de rendas fundiárias na forma de
estes citamos a tradição agrária lucros". Segundo ele, o capital in-
brasileira, o rápido crescimento corporador tem um impacto enor-
urbano, a ineficiência do sistema me sobre a produção do espaço
judiciário (o que significa que os urbano e apropria uma parcela
investimentos em títulos negociá- considerável desta produção na
veis são bem mais arriscados do forma de rendas fundiárias. Em-
que aqueles realizados em terra ou bora não utilizemos esta categoria
imóvel, os quais não perdem o seu neste trabalho, ela apresenta algu-
valor durante o litígio), o trata- mas vantagens na análise da apro-
mento preferencial de lucros da priação, uma vez que destaca o
terra em termos de tributação (a papel importante do incorporador
inexistência até recentemente de e sua ligação com outras esferas
qualquer taxa sobre ganhos de ca- do capital.
pital auferidos da terra) e o pró- A título de encaminharmos
prio sistema financeiro que oferece nossa análise dos impactos distri-
poucas alternativas aos investi- bucionais das ações do Estado,
mentos em terra. De mais a mais, apresentaremos numa maneira
um estudo feito por João Paulo de muito resumida o modelo de cau-
Almeida Magalhães (1978) mostra sação circular proposto por Vetter
que o imenso afluxo de capital ao (1979). Entramos em consideração
mercado imobiliário, ocorrido pos- desta cadeia de causação circular
teriormente à criação do Banco começando pelo elo representado
Nacional de Habitação (BNH), pela ação do Estado, o que se jus-
provocou também um aumento na tifica não somente pelo nosso inte-
demanda por habitação que con- resse pela apropriação dos benefí-
duziu, por sua vez, a um aumento cios líquidos destas ações, mas
nos preços da terra. também pela grande importância
Cumpre observar que o Estado que as mesmas têm na determina-
exerce um controle direto ou indi- ção da estrutura interna da cidade.
reto sobre todos estes fatores, tanto
a nível intra-urbano quanto a nível Tentaremos analisar como este
global. Como o Estado parece usar processo de causação circular de-
este controle para aumentar os termina a estrutura interna da
retornos dos investimentos em cidade e, dessa maneira, a apro-
terra feitos pelos proprietários, é priação dos benefícios líquidos das
evidente o poder político deste ações do Estado. O espaço é sem
grupo. Isto, seguramente, tem a dúvida uma variável importante
ver com a própria natureza da neste processo de apropriação e
9 Ver Edel.
'" Ver Sayad (1977).

461
não simplesmente um receptáculo A segregação residencial com
passivo dele. Como assevera Smith altas concentrações de famílias de
(1974:29), "o espaço cria desigual- alto rendimento significa que estas
dades, uma vez que a localização áreas de alto rendimento têm ní-
de cada novo serviço favorece ou veis altos de demanda agregada
desfavorece os que se acham ao por serviços, notadamente pelos
alcance dele, e, assim sendo, redis- mais especializados (cinemas, buti-
tribui os benefícios e os malefí- que.s, boas escolas particulares,
cios" 11 • A distribuição espacial dos etc.), o que, por sua vez, faz
benefícios líquidos gerados pelas elevar as condições de vida e a
ações do Estado afeta a superfície demanda por habitação na área
das rendas fundiárias (rendas da em questão e, por isso mesmo, os
terra) e outros custos de moradia preços de habitação. A concentra-
na área beneficiada, tais como tri- ção espacial de famílias de alto
butos locais e tarifas (fig. 1). E rendimento faz elevar o status so-
estas mudanças, por sua vez, têm cial do bairro e, portanto, a atração
um impacto sobre a segregação que este exerce sobre tais famílias.
residencial segundo grupos de Além disso, Harvey (1975) levanta
rendimento. outras hipóteses, entre elas a de
Esta segregação residencial sig- que "as áreas residenciais forne-
nifica altas concentrações espaciais cem meios distintos para :interação
de poder político e econômico. As social a partir da qual os indiví-
áreas em que residem famílias com duos derivam seus valores, expec-
níveis de rendimento mais altos tativas, hábitos de consumo, poder
tendem a receber, em termos pro- aquisitivo e estados de cons-
porcionais, mais benefícios líquidos ciência".
das ações do Estado, uma vez Uma vez que a segregação resi-
que estas famílias normalmente dencial num período tem um gran-
têm maior poder político (ou seja, de impacto sobre as ações do Es-
maior capacidade de influenciar tado nos períodos subseqüentes,
decisões públicas em seu favor). voltamos às etapas iniciais de
Estes benefícios são apropriados nossa cadeia causal - a apropria-
ção dos benefícios líquidos das
pelos proprietários da terra na ações do Estado (fig. 1). A con-
forma de rendas fundiárias. Con- centração de maiores benefícios
cordamos plenamente com Smolka líquidos nas áreas de rendimento
em que o incorporador (ou capital mais alto significa maiores rendas
incorporador) apropria-se normal- fundiárias e o enriquecimento dos
mente da maior parcela destes be- proprietários, especialmente dos
nefícios, sendo ele que organiza, incorporadores.
em grande parte, o processo de Este aumento da renda do solo
produção do espaço urbano. pode dificultar ainda mais o acesso
Mas mesmo assim os proprietá- a essas áreas beneficiadas pelas
rios, antes e depois da incorpora- ações do Estado por parte de famí-
ção, normalmente se apropriam de lias de rendimento inferior. Mesmo
uma parcela considerável deste os proprietários moradores de me-
excedente fiscal. Embora haja con- nor rendimento podem ser levados
flitos de interesses dentro da classe a abandoná-las por causa de im-
de proprietários com relação a postos prediais mais elevados e do
quem vai se beneficiar mais, eles aumento de outras despesas. Con-
estão unidos na manutenção do tudo eles recebem uma parcela do
seu direito de apropriação. valor capitalizado dos benefícios

n Citado em Llneberry (1977).

462
FIGURA 1

UM MODELO DE CAUSAÇÃO CIRCULAR DA APROPRIAÇÃO DOS


BENEFÍCIOS LÍQUIDOS DAS AÇÕES DO ESTADO.

AS AÇÕES DO ESTADO GERAM UMA DISTRL


r - - - - - - - - . . ! BUIÇÃO ESPACIAL DE BENEFÍCIOS LÍQUIDOS.

A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE TAIS BENEFICIOS


PROVOCA IMPACTOS SOBRE A SUPERFÍCIE DE!.-----------,
PREÇOS NO MERCADO DE SOLO URBANO.

ESTA SUPERFÍCIE INFLUI SOBRE A SEGREGAÇÃO


RESIDENCIAL DAS FAMÍLIAS, SEGUNDO GRUPOS!.---------!
DE RENDIMENTO.

UMA VEZ QUE O PODER POLÍTICO ESTÁ ESTA CONCENTRAÇÃO ESPACIAL DE-
ALTAMENTE CORRELACIONADO COM O TERMINA TANTO UM NÍVEL DE DEMAN-
PODER AQUISITIVO, ÁREAS ONDE RE-
DA EFETIVA AGREGADA POR SERVI-
..___ SIDEM OS GRUPOS DE ALTO RENDIME~ -
TO TENDEM A RECEBER PROPORCIO- ÇOS (E, POR ISSO, A QUALIDADE

NALMENTE MAIS BENEFÍCIOS LÍQUI- DESTES SERVICOS), COMO O STATUS


DOS DAS AÇÕES DO ESTADO. SOCIAL DA ÁREA.

líquidos das ações do Estado no uma queda em sua condição resi-


momento em que realizam a venda dencial. De grande importância
da propriedade. As famílias não- neste processo de segregação resi-
proprietárias, obrigadas a sair de dencial são as remoções forçadas
domicílios alugados em face destes de famílias de rendimento mais
aumentos no custo de se morar na baixo em virtude da erradicação
área, não recebem compensação e de favelas, da renovação urbana e
muitas vezes acabam sofrendo da desapropriação para projetos

463
públicos, considerando-se que to- relevância e, deste modo, digno de
dos esses fenômenos tendem a maior atenção por parte de cien-
reforçar o padrão da segregação tistas sociais interessados na aná-
residencial segundo nível de ren- lise da estrutura interna da cidade
dimento. e das condições de vida dos dife-
Fatores há que podem interrom- rentes grupos sociais. Esta análise
per ou até reverter este processo não poderia deixar de incluir:
de causação circular, que seriam - a distribuição espacial dos
análogos aos efeitos propulsores benefícios líquidos das ações do
(sp·read effects) - discutidos por Estado que abrangem investimen-
Myrdal (1972), tais como a mobi- tos públicos em infra-estrutura
lização política da população de urbana, planejamento do uso do
baixo rendimento nas áreas menos solo, níveis de serviço, etc.;
favorecidas (favelas e periferia) e - o impacto desta distribuição
medidas que favoreçam a redistri- sobre a valorização do solo ur-
buição da renda, e o acesso mais bano; e
equitativo ao capital financeiro
para construção residencial. É inte- - o efeito desta distribuição
ressante comparar a eficácia com sobre a segregação residencial se-
que os movimentos sociais de po- gundo grupos de rendimento.
pulações menos favorecidas exis- Em suma: temos necessidade de
tentes em outros países têm in- mais conhecimento sobre quem
fluído sobre a alocação de recursos recebe os benefícios das ações do
públicos a seu favor, com o que se Estado e sobre quem paga por seus
constata no Brasil (Santos 1977). custos. Como a ecologia fatorial
Tanto no México como no Peru pode contribuir para esta análise
esses movimentos sociais têm sido é precisamente o tema da próxima
relativamente bem sucedidos em seção.
conquistar o direito de participa-
ção no processo de tomada de
decisão e em obter, através dela, 2 - A ECOLOGIA
mais benefícios por parte do Es- FATORIAL E O
tado (Walton 1978 e Castells 1978). ESTUDO DA
No Brasil, esses movimentos estão, APROPRIAÇÃO DOS
de novo, começando a florescer
com a atual liberalização (Singer BENEFíCIOS
1979). L.íQUIDOS DAS
Em síntese, esta apresentação AÇÕES DO ESTADO
muito sucinta do modelo comprova
a importância das ações do Estado Nesta segunda parte do trabalho
na determinação seja da estrutura mostraremos como os estudos de
interna da cidade seja da distri- ecologia fatorial podem ser incor-
buição interpessoal de melhores porados à análise dos impactos
condições de vida. O resultado distribucionais das ações do Estado
deste processo de causação circular na cidade. Serão aqui postas em
é uma estrutura núcleo/periferia discussão as duas estratégias prin-
em que os grupos de maior poder cipais que visam a levar isto a
aquisitivo e poder político se con- cabo: 1) o emprego das áreas
centram no núcleo, enquanto os sociais definidas pela ecologia fa-
menos poderosos em termos eco- torial tradicional como unidades
nômicos e políticos ficam na peri- espaciais de análise no estudo dos
feria. Por essa razão, acreditamos benefícios líquidos das ações pú-
que o estudo deste processo de blicas; e 2) a inclusão de indica-
apropriação dos benefícios líquidos dores sociais de condições de vida,
das ações do Estado seja da maior de imposto local relativo e de valor

464
da terra urbana, como variáveis e definição de vanaveis, assim
nos estudos em apreço. Ambas as como à definição das unidades de
estratégias serão discutidas e ilus- análise espacial apropriadas. Na
tradas com exemplos tomados à verdade, a facilidade na obtenção
experiência brasileira. das variáveis parece ter sido um
O objetivo principal destas estra- critério importante em muitos es-
tégias é tirar-se o máximo de van- tudos. E algumas variáveis signifi-
tagem dos aspectos positivos dos cativas, tais como níveis de alu-
estudos de ecologia fatorial, redu- guel, não são normalmente incluí-
zindo, ao mesmo tempo, ao mínimo das, ainda que disponíveis.
as fraquezas mais eomumente ci- Através da combinação dos estu-
tadas 12 • As vantagens da ecologia dos de ecologia fatorial com o tipo
fatorial residem na sofisticada de enfoque teórico precedente-
metodologia que nos permite redu- mente discutido, mediante o em-
zir as dimensões de uma matriz prego de uma das duas estratégias
de características para identificar- aqui sugeridas, a maioria destas
mos um número menor de mais fraquezas podem ser reduzidas, se
relevantes fatores que podem ser não completamente eliminadas.
utilizados para a classificação de Tomemos um exemplo: as áreas
áreas sociais. Os estudos de ecolo- sociais definidas em estudos de
gia fatorial revelam a complexi- ecologia fatorial podem servir
dade das estruturas espaciais ur- como unidades de análise espacial,
banas - a riqueza multiestratifi- com vistas ao exame das ações do
cada do tecido social em áreas Estado durante um determinado
urbanas. Eles mostram também período (a década entre dois cen-
que é alta a variação interna den- sos, por exemplo) . No final deste
tro destas unidades de análise - período um outro estudo de eco-
as mesmas não são inteiramente logia fatorial seria feito para se
homogêneas como muitas das teo- verificar os impactos destas ações
rias da estrutura urbana nos leva- do Estado sobre as áreas sociais
riam a crer. situadas na região urbana que esti-
As fraquezas da ecologia fatorial ver sendo focalizada. No te-se como
mais freqüentemente mencionadas este tipo de estratégia de pesquisa
por seus críticos acham-se associa- fornece um instrumental mais di-
das com a sua vantagem principal: nâmico para a análise da estrutura
o seu caráter essencialmente des- espacial urbana. A parte restante
critivo. Como dizem Mlinar e desta seção do trabalho apresen-
Teune (1978: 9), "a ecologia so- tará alguns exemplos de como esta
cial continua sendo, em grande integração entre os estudos de eco-
parte, uma ciência descritiva capaz logia fatorial e outros enfoques
de fornecer relevante informação teóricos pode ser efetuada graças
sobre a mudança social, mas des- ao emprego das duas estratégias
provida de capacidade teórica para anteriormente citadas.
explicá-la". Eles censuram o fato
de que a análise se baseia numa 2 . 1 - A Utilização de Areas So-
espécie estática de análise que ciais Definidas pelos Estudos de
deixa de levar em consideração os Ecologia Fatorial como Unidades
níveis macro que estão produzindo de Análise Espacial
as mudanças na estrutura urbana.
Relacionam-se a estas críticas No levantamento ou na análise
aquelas segundo as quais se tem de dados sobre consumo coletivo,
dado atenção inadequada à seleção investimentos públicos, renda do
12 Para uma discussão pormenorizada daquelas forças e fraquezas, ver Doxsey (1979) ou
Mlinar e Teune (1978).

465
solo urbano ou segregação residen- número de 35. Optou-se pela inclu-
cial é freqüentemente útil agregar- são na análise de todos os distritos
mos as unidades básicas de divul- censitários que compõem a RMRJ,
gação ou coleta (municípios, dis- mesmo daqueles definidos como
tritos ou setores censitários, etc.) rurais. Com efeito, considerou-se
em áreas maiores, porém homogê- que os limites administrativos en-
neas. Os resultados dos estudos de tre zonas rurais e zonas urbanas,
ecologia fatorial são, em geral, em uma área metropolitana, são
bastante valiosos a esse respeito, freqüentemente precárias e que
no sentido de que normalmente muitos dos setores considerados
apresentam as áreas sociais que pelo Censo como rurais contém lo-
são homogêneas com respeito a um teamentos de caráter nitidamente
ou mais fatores definidos na aná- urbano. No estudo original foram
lise. O primeiro fator, a que corres- apresentados resultados obtidos
pende habitualmente o nível sócio- seja pela análise isolada de um ou
econômico, é particularmente útil outro tipo de distrito seja pela com-
a esse respeito. O pesquisador binação dos três tipos de distritos
também pode definir as suas pró- (urbanos não favelas, urbanos
prias áreas utilizando os escores favelas e rurais). Mas o procedi-
fatoriais de cada unidade de aná- mento aqui adotado se limita à
lise em conjunto com outros crité- discussão da análise feita para os
rios, tais como estabilidade tempo- diferentes tipos de distritos toma-
ral, compatibilidade com outros dos em conjunto.
zoneamentos, etc. As variáveis selecionadas para a
Na parte restante da presente análise, por sua vez, foram defi-
seção do trabalho iremos (1) apre- nidas com base em dados do Censo
sentar uma discussão muito sucin- Demográfico de 1970 e medem as
ta acerca da pesquisa de ecologia seguintes dimensões: 1) status
fatorial realizada para a Região sócio-econômico (rendimento men-
Metropolitana (RM) do Rio de .Ja- sal da população economicamente
neiro (Pinto et alii. 1979) e, a par- ativa, grupos de ocupação, nível
tir daí, (2) mostrar como os resul- de instrução, características dos
tados deste estudo já foram usados domicílios); 2) estrutura familiar
em outras análises das condições (composição etária, sex-ratio, fe-
de vida, dos valores da terra e da cundidade, tamanho de família,
segregação residencial. estado civil e participação de mu-
lheres na força de trabalho) ;
2. 1 . 1 - Um Estudo de Ecologia 3) suburbanização ou crescimen-
Fatorial da Região Metropolitana to (estabilidade residencial, imi-
do Rio de Janeiro gração, movimentos pendulares,
densidade). Por falta de dados ade-
No estudo de ecologia fatorial quados, não foram incluídas va-
da Região Metropolitana do Rio de riáveis referentes a características
Janeiro foram empregadas 36 va- étnicas.
riáveis e 271 distritos censitários. Uma análise de componentes
As unidades de observação ado- principais foi efetuada, sendo ex-
tadas estão assim discriminadas : traídos 7 fatores com eigenvalue
distritos urbanos não favelas, em
número de 75, sendo 23 no muni- maior que 1, que foram submeti-
cípio central (regiões administra- dos a rotação varimax. Dos fatores
tivas) e 52 para os demais muni- rotacionados, apenas cinco, que
cípios integrantes da região metro- juntos explicam 63% da variância
politana; as favelas localizadas no total dos dados iniciais, foram con-
município do Rio de Janeiro, num siderados significativos e anali-
total de 161; os distritos rurais, em sados.

466
Os dois primeiros fatores reunem de Janeiro. O texto que se segue
basicamente variáveis que definem irá fornecer uma descrição muito
status sócio-econômico, e explicam sucinta da distribuição espacial
38% da variância total. O terceiro, dos distritos de cada um dos seis
o quarto e o quinto fatores suma- grupos, assim como dos fatores
rizam, respectivamente, aspectos que contribuem para a sua hete-
de mobilidade residencial, padrões rogeneidade in terna.
de familismo e estrutura ocupacio-
nal e, tomados em conjunto, per-
fazem 25 % da variância total. QUADRO 1
A partir dos jactar scores desses Importância relativa dos três níveis
cinco fatores, especialmente os dois sócio-econômicos nos seis grupos
primeiros, os distritos foram agre- definidos no estudo de ecologia
gados em seis grupos. Conforme fatorial da região metropolitana
sumarizado no quadro 1, os seis do Rio de Janeiro
grupos foram definidos em função
do peso de três níveis sócio-econô- NÍVEIS SÓCIO-
micos, tal como delineado pelos GRUPOS SÚCIO ECONÔMICOS
ECONÓMICOS (1)
jactar scores. Os distritos do grupo Alto I Médio I Baixo
1 contêm as proporções mais ele-
vadas de pessoas do nível sócio- 1) Alto ........... .
econômico mais alto. Nos grupos 2 2) Médio-Alto ..... .
e 3, o nível sócio-econômico médio 3) Médio-Baixo ...... ..
4) Baixo-Médio ...................... .
é o mais importante, embora con- 5) Baixo (favelas e áreas da periferia ur-
trabalançado pelo nível mais alto bana escassamente povoadas) ......•
(grupo 2) ou pelo nível mais baixo 6) Baixo (os distritos rurais da franja ur-
bano rural) ........................ .
(grupo 3). Nos distritos do grupo 4,
o nível sócio-econômico baixo é o (1] A letra denota o grau de importância:
que predomina, mas com uma par- a muito importante
b mais ou menos importante
ticipação ainda significativa de c sem importância
elementos de nível médio. Os dois
últimos grupos compreendem os
distritos que concentram a popu- 1) Nível Sócio-econômico Alto
lação de mais baixo nível sócio-
econômico. O grupo 5 congrega, Compõe-se este grupo (represen-
sobretudo, favelas do município tado no mapa 1 pela área escura
central, além de alguns distritos contínua) dos distritos do muni-
urbanos da periferia, geralmente cípio central que apresentam as
com loteamentos populares; o maiores proporções de pessoas com
sexto grupo reúne, essencialmente, melhor padrão sócio-econômico,
distritos rurais. como demonstram as elevadas per-
centagens de população economi-
A um nível de maior detalhe, camente ativa com rendimentos
percebe-se que cada um desses mensais altos, de pessoas com nível
agrupamentos não forma um todo de instrução superior e em ocupa-
homogêneo, ocorrendo diferenças ções de alto status (atividades
seja no que concerne a status sócio- técnico-científicas, administração,
econômico, como também a fami- etc ... ). Os distritos deste grupo
lismo e estabilidade residencial. também são caracterizados pela
O mapa 1 mostra a distribuição boa infra-estrutura urbana e pelo
espacial dos distritos de cada gru- fácil acesso ao centro. Com efeito,
po. Em virtude de suas pequenas o próprio centro nele está incluído,
dimensões, as favelas não foram ainda que a sua população possua
mapeadas, mas apareceriam dentro algumas características distintas
dos limites do município do Rio das dos outros distritos do mesmo

467
grupo, tais como elevado número po, como está refletido na defasa-
de pessoas solteiras, de indivíduos gem entre os factor scores dos
do sexo masculino e de migrante.s distritos que o compõem, as con-
- o que se justifica, em grande dições de vida em termos de acesso
parte, por se tratar de uma área ao trabalho, de serviços públicos
onde a função residencial tem pa- e de infra-estrutura estão, via de
pel secundário e pelo tipo de habi- regra, consideravelmente abaixo
tação nela disponível. A localização daquelas apresentadas pelos dois
de alguns distritos na zona lito- grupos precedentes.
rânea significa não apenas a ame-
nidade da praia como também 4) Nível Sócio-econômico
melhor microclima. Baixo-médio

2) Nível Sócio-econômico Neste grupo reuniram-se distri-


Médio-alto tos que, embora basicamente se
constituam em áreas residenciais
Neste grupo, embora predomine de pessoas de baixo nível sócio-
a faixa de rendimento médio, tam- econômico, ainda contém uma par-
bém está presente um contingente cela significativa de elementcs de
ainda relativamente expressivo de nível sócio-econômico médio. Tais
elementos de rendimento mais alto. distritos estão concentrados prin-
Compreende alguns bairros tradi- cipalmente numa faixa situada em
cionais localizados perto do centro, torno dos três primeiros grupos, e
assim como os subúrbios mais an- neles o padrão de condições de vida
tigos do município do Rio de Ja- é, em geral, bastante baixo (ver a
neiro e, ainda, a ilha do Gover- área indicada por linhas não con-
nador e Niterói (ver a área em tínuas no mapa 1).
linhas entrecruzadas no mapa 1).
Considerados em conjunto, tais 5) Nível Sócio-econômico Baixo
distritos dispõem de uma infra- (com predominância
estrutura urbana relativamente de favelas)
boa e de um acesso bastante fácil
ao centro. Este grupo compreende a maior
parte das favelas do município do
3) Nível Sócio-econômico Rio de Janeiro, assim como áreas
Médio-baixo ainda relativamente pouco povoa-
das da periferia urbana em que o
Predominam neste grupo ele- loteamento popular é a principal
mentos de nível sócio-econômico forma de ocupação. Nestes distritos
médio, mas o nível mais baixo urbanos situados na periferia e em
também se acha fortemente repre- rápido processo de crescimento, os
sentado. Grande parte dos distritos níveis de rendimento são bastante
do grupo estão localizados na área baixos: mais da metade da popu-
suburbana do município central, lação economicamente ativa en-
ma;; também nele estão incluídos contra-se na faixa de até um salá-
distritos pertencentes a municípios rio mínimo. São altas as propor-
adjacentes a Rio e Niterói, bem ções de analfabetos, de jovens, de
como alguns dos principais núcleos famílias grandes e de migrantes,
urbanos da periferia mais remota e a infra-estrutura urbana é aí
(ver a área assinalada, no mapa 1, quase :inexistente.
por linhas retas contínuas). Curio- No que se refere às favelas,
samente, o grupo também inclui observa-se que as mesmas não for-
duas favelas mais antigas e bem mam um todo homogêneo. Em
situadas. Conquanto seja alta a algumas, especialmente aquelas
variância interna dentro deste gru- localizadas na faixa suburbana,

468
REGIÃO METROPOLITANA
RIO DE JANEIRO
ÁREAS SOCIAIS

+
,"'"" ......... .,.
r'
\'\

o
c
o c N
Â
N o A

Wllll Distritos de nível sócio-econômico alto IIIIIJ] Distritos de nivel sÕc!o-econÔmlco médio-alto - - - - Limite do ReoiOo
Metropolitana do
~ Distritos de nível sócio-econômico mSdio-boixo ~ Distritos de nível sócio-econômico baixo-m8dio Rio de Janeiro

CJ ?~s:;~~~~n~ nt:~~t:~~~~f~~~"~;~c~a~~~~os}
6
CJ r~s:~~~~;of~~o~:e d:a n~ve8r1i;:r~~-:~g~~~i)o baixo - · - Limite do Municipio
do Rio de Janeiro

existe uma concentração mais alta 6) Nível Sócio-econômico Baixo


de trabalhadores da indústria de (distritos da franja de
construção civil, estas mesmas uni- contacto urbano/rural)
dades, em geral, acusam índices
elevados de população com rendi- Com poucas exceções, encon-
mentos e nível de instrução mais tram-se neste grupo os distritos
baixos, destacando-se ainda pelo rurais da região metropolitana.
peso de migrantes. Em outras fave- Correspondem a locais de residên-
las a indústria de transformação cia de pessoas de um nível de ren-
constitui a principal fonte de em- dimento muito baixo, ainda que
prego, o que é natural, conside- sejam também relativamente hete-
rando-se que muitas se acham rogêneos. Muitos desses distritos
localizadas em áreas industriais estão no processo de transição do
ou bastante próximas a estas. Fi- rural para o urbano.
nalmente, nas unidades faveladas
situadas nos bairros e nos subúr- 2 .1. 2 - Exemplos do Emprego
bios mais antigos registra-se ligeiro destes Resultados na An!álise da
predomínio de pessoal ocupado nas Apropriação dos Benefícios das
atividades de comércio e serviços, Ações do Estado
e em termos de padrão de fami-
lismo, em relação às demais uni- São discutidos a seguir três
dades faveladas, apresentam tama- exemplos de como os resultados
nho de família, proporção de dos estudos de ecologia fatorial
jovens e taxa de fertilidade menor podem ser utilizados na análise da
e maior participação da mulher na apropriação dos benefícios das
força de trabalho. ações do Estado. No primeiro

469
ex;emplo, Vetter (1980) combina malmente definem as áreas, mas
os resultados do estudo anterior- não tentam analisar as condições
mente apresentado e os conceitos de vida existentes dentro delas.
empregados por Nelson dos Santos Como será discutido posteriormen-
e Bronstein (1978) em seu modelo te, este é um dos possíveis pontos
núcleo/periferia da estrutura in- de contacto entre as pesquisas de
terna do Rio, a fim de alcançar as ecologia fatorial e o desenvolvi-
zonas a serem usadas em seu tra- mento de indicadores sociais.
balho acerca da segregação resi- Outra utilização dos resultados
dencial segundo grupos de rendi- dos estudos de ecologia fatorial
mento. O resultado é a definição reside no emprego dos scores para
de cinco zonas que são relativa- a definição de novas agregações
mente homogêneas em termos de
níveis sócio-econômicos, bem como espaciais para análise. Com rela-
de acesso a boas condições de vida ção ao Município do Rio de Janeiro,
(emprego, serviços públicos, infra- temos dois exemplos desse empre-
estrutura, etc.). Ainda que estas go. O primeiro se encontra no
zonas correspondam aproximada- estudo dos impactos distribucio-
mente às que se encontram nos nais dos investimentos em água e
dois estudos utilizados em sua esgoto, realizado por Vetter, Mas-
formulação, há algumas diferenças serra e Rodrigues (1979). Neste
importantes devido às maiores di- trabalho, os autores recorreram
mensões das unidades de análise aos factor scores do <:)studo ante-
empregadas (regiões administrati- riormente citado para dividir o
vas e municípios). Estas zonas e Município do Rio de Janeiro em
os grupos resultantes do estudo de núcleo e periferia. O núcleo corres-
ecologia fatorial a que elas aproxi- pondeu basicamente aos dois pri-
madamente correspondem são: meiros grupos anteriormente defi-
1- núcleo (grupo 1) ; nidos e a periferia à parte restante
do município; os resultados reve-
2 - zona de transição laram que:
(grupo 2);
3 - periferia imediata - os investimentos nos sistemas
(grupo 3); de água e esgoto estavam mais
4 - periferia intermediária altamente concentrados no núcleo
(grupo 4); do que na periferia;
5 - periferia distante (a parte - o ônus do imposto territorial
restante da região relativo era muito maior na peri-
metropolitana). feria do que no núcleo;
- os valores da terra aumen-
A periferia distante compreende tavam muito mais depressa no
toda a área não incluída nas qua- núcleo.
tro primeiras zonas, inclusive os
núcleos urbanos localizados nesta Em outras palavras: os resulta-
área que são de níveis sócio-eco- dos mostram um nível de apropria-
nômicos mais altos, uma vez que ção dos benefícios líquidos destes
os dados utilizados não permitem investimentos muito mais elevado
a sua desagregação. no núcleo do que na periferia.
Os grupos da ecologia fatorial Esses resultados poderiam natural-
ou estas zonas podem ser utilizados mente ser focalizados à luz do
como as unidades de análise espa- modelo de causação circular já
cial para o estudo de indicadores discutido. Tal estudo poderia ser
sociais ou de outras variáveis. Os levado adiante graças à utilização
estudos de ecologia fatorial nor- de dados tomados ao censo de 1980,

470
com vistas à verificação dos impac- indicadores sociais como variáveis
tos desta ação do governo sobre: na própria pesquisa fatorial.
- a segregação residencial se- Até certo ponto, isto já foi feito
gundo grupos de rendimento; implicitam~nte, se não explicita-
- a renda agregada em cada mente. Mmtas dentre as variáveis
grupo e tradicionalmente incluídas em es-
tudos de ecolo~ia fatorial (como,
- as condições de vida. por exemplo, mfra-estrutura ur-
Outro exemplo de uma utiliza- bana) podem ser interpretadas
ção destes resultados é o da defi- como indicadores sociais· contudo
nição de zonas para um estudo de têm sido, via de regra: simples~
aluguéis de imóveis e preços de mente utilizadas como indicadores
novas construções (Faissol et alii de status social, em vez de o serem
1978). Neste estudo, os resultados C?mo indicadores das condições de
da pesquisa de ecologia fatorial VIda. Embora Smith (1973) mostre
entravam somente como um input como indicadores de qualidade de
num trabalho que destacava outros vida podem ser combinados em
critérios, inclusive a estabilidade scores compostos através de análise
temporal, as percepções dos usuá- fatorial, ele não relaciona, de um
rios potenciais da estrutura espa- modo claro, este tipo de análise aos
cial do mercado imobiliário (como, estudos de ecologia fatorial. Con-
por exemplo, construtores, firmas forme já se discutiu, no Brasil já
ou entidades de poupança e cré- exist~m alguns esforços para se
dito) e a compatibilidade com as combmar esses dois campos de
regiões administrativas existentes. estudo. O fato de que dois dos au-
Regionalizações realizadas por ou- tores do presente trabalho inte-
tras entidades também foram uti- gram o grupo encarregado do
lizadas, tais como a que se fez para desenvolvimento de indicadores
o Plano Urbanístico Básico (PUB) sociais na Fundação Instituto Bra-
do Rio de Janeiro. sileiro de Geografia e Estatística,
e de que outros dois pertencem a
um grupo que vem se dedicando
2. 2 - A Integração dos Indica- a es~udos de ecologia fatorial, é,
dores desta Apropriação em Estu- em SI ~esmo, um indício de que já
dos de Ecologia Fatorial se esta fazendo uma tentativa de
integração.
A segunda estratégia envolve o
emprego de indicadores sociais de Um exemplo de como tal inte-
condições de vida como variáveis gração poderia ser efetuada encon-
nos estudos de ecologia fatorial. tra-se no trabalho de Vetter e
Doxsey (1979) mostra que "o mo- Massena (1979) acerca da acessi-
vimento de indicadores sociais bilidade física. Neste estudo se
nunca foi inteiramente integrado serve!? da análise fatorial para
nas abordagens de ecologia urba- reduzirem uma matriz de indica-
na", e prossegue argumentando dores:
que "os modelos ecológicos devem - de acessibilidade espacial;
incorporar o bem-estar social e a - da qualidade da infra-estru-
qualidade de vida nos seus planos tura urbana;
de desenvolvimento teórico". Em - de níveis de rendimento;
outras palavras: ao invés de serem - do excedente fiscal;
simplesmente utilizados os resul- - dos valores da terra.
tados dos estudos de ecologia fato-
rial na definição de unidades terri- O primeiro fator sintetiza a cor-
toriais para a análise de indicado- relação principal que os autores
res sociais, seriam empregados os procuram mostrar: rendimento

471
alto, acessibilidade espacial eleva- Estudos de caso sobre o impacto
da, boa infra-estrutura urbana, de tais investimentos seriam par-
elevado excedente fiscal e elevados ticularmente interessantes.
valores da terra. Em suma: este
fator aponta altos níveis de renda
monetária e real e pode ser utili- 3 - CONCLUSõES E
zado em mapeamentos do mesmo SUGESTÕES PARA
modo que se faz nos estudos de ESTUDOS FUTUROS
ecologia fatorial.
Este estudo poderia ter sido No presente trabalho mostramos
desenvolvido de várias maneiras. a importância da apropriação dos
Uma vez que a pesquisa era explo- benefícios líquidos das ações do
ratória, foram utilizadas muito Estado nas áreas urbanas em ter-
poucas unidades de análise espa- mos da distribuição da renda real.
cial. Unidades espaciais menores, Nesta apropriação o espaço é uma
mais homoJêneas, teriam aumen- variável importante no sentido de
tado a relevância e a confiabili- que as localizações determinam a
dade ·2statística dos resultados. área de impacto das ações do Go-
Também poderia ter sido melhor verno, tais como no caso de inves-
dividir as variáveis em dois grupos: timentos ou no de fornecimento de
as que mostrassem os níveis de serviços públicos. Este impacto
renda monetária e as que indicas- influi sobre os níveis de preços que
sem as condições de vida, o exce- podem provocar mudanças na se-
dente fiscal e os valores da terra. gregação residencial segundo gru-
Assim, a análise poderia ter sido pos de rendimento, a qual, por sua
feita utilizando-se a correlação vez, pode afetar as ações do Estado
canônica. Embora os autores fizes- nos períodos subseqüentes àquelas
sem experiências com essa meto- intervenções anteriores.
dologia, ela foi abandonada porque Também afirmamos que duas
os sistemas existentes para a cor- diferentes estratégias podem ser
relação canônica (SPSS, BIOMED) utilizadas para se adaptar a eco-
não calculam duas dentre as mais logia fatorial à análise desta apro-
importantes estatísticas para a priação: 1) o emprego das áreas
interpretação dos resultados- ou sociais definidas em estudos de
seja, a matriz de estrutura do fator ecologia fatorial como a base da
canônico e a redundância de cada análise de indicadores desta apro-
fator, o que torna a análise muito priação; e 2) o recurso à integra-
trabalhosa e demorada. ção de indicadores sociais como
variáveis nos estudos de ecologia
Se os dados sobre o excedente fatorial. Uma combinação de am-
fiscal e os valores da terra forem bas as estratégias também podia
de períodos posteriores aos dos da- ser efetivada, especialmente em
dos sobre rendimento, a análise pesquisas que envolvessem mais
dará uma idéia da dinâmica da do que um período de tempo. Por
situação -investimentos públicos exemplo: as áreas sociais definidas
elevados e impostos baixos nas num período recorrendo-se a indi-
áreas de rendimento mais alto. cadores sociais das condições de
Contudo, é precisamente nesta vida seriam não só utilizadas como
área que futuros estudos poderiam unidades para análise das decisões
concentrar seus esforços. Tem-se do Estado nos períodos subseqüen-
necessidade de um trabalho mais tes como também comparadas com
específico sobre o impacto exercido os resultados de uma segunda eco-
pelos investimentos públicos sobre logia fatorial, ao final de determi-
a estrutura residencial urbana. nado período (que corresponde

472
normalmente a uma década, ten- análise de dados. - a não ser no
do-se em vista a disponibilidade nível mais agregado - e também
dos dados), a fim de se observar demasiadamente numerosos. Esta
mudanças na ecologia social, à luz nova unidade, semelhante a um
das ações do Estado. Esta justa- census tract, possibilitaria muito
posição da distribuição espacial da mais flexibilidade na análise espa-
população segundo grupos sócio- cial. Por exemplo: os tracts pode-
econômicos à dos benefícios líqui- riam ser agrEgados em sub-regiões,
dos das ações do governo (sub- normalmente utilizadas no plane-
traindo-se as externalidades nega- jamento, na administração (tais
tivas das positivas) é uma maneira como distritos escolares, distritos
de mostrar as grandes disparida- destinados à saúde pública, distri-
des quanto ao poder político entre tos policiais, etc.) e na análise dos
estes diferentes grupos no Brasil. programas públicos;
Outras sugestões para análises 3) o estudo mais pormenori-
futuras da estrutura intra-urbana zado dos diferentes atores presen-
compreendem: tes no mercado imobiliário urba-
1) a tentativa de se vincular a no 13 • Há uma falta quase total de
análise de ecologia fatorial com as conhecimento justamente acerca
teorias emergentes de estrutura de como os diversos atores do mer-
urbana e de ações do Estado, tais cado imobiliário atuam para atin-
como aquela que acabamos de gir os seus objetivos.
apresenta r; Acreditamos, em síntese, que a
apropriação dos benefícios dar
2) a definição de uma nova
unidade de análise espacial desen- ações do Estado seja um campo de
volvida no Brasil para facilitar grande importância para estudos
tanto a definição de áreas sociais futuros a serem realizados por
como o estudo das ações públicas. geógrafos. Além disso, este é um
Esta unidade seria menor do que campo no qual sua experiência na
os distritos censitários, porém análise de dados espaciais permi-
maior do que os setores censitários, tiria que eles dessem uma contri-
que constituem unidades para a buição significativa no âmbito dos
coleta de dados. Os setores são grupos multidisciplinares ne~essá­
pequenos demais para permitir a rios às pesquisas nesta área

' 3 Tal estudo já foi proposto por Loba to (1979).

473
BIBLIOGRAFIA

BAHL, R. et alii. - Land Value Increments as a Measure oj the Net Benetits o! Urban Water
Supply Projects. Em HARRISS, (1973: 171-188).

BEHRENS, Alfredo - A Distribuição da Renda Real no Contexto Urbano: O Caso da Cidade


do Rio de Janeiro. Tese de mestrado, EPGE/Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1979.

BEOZZO DE LIMA, Maria Helena e ESTE, Maria das Graças M. - Autaconstrução na Baixada
Fluminense. Trabalho não publicado. DEISO/SUEGE/IBGE, 1979.

CASTELLS, Manual - Problemas de Investigación en Sociologia Urbana. México, Siglo Veint:uno,


1971.

- - - - - C r i s e do Estado, consumo coletivo e contradições urbanas. Em Poulantzas (1977:


159-188).

------Pobreza urbana e organização social: Análise comparativa de movimentos sociais


em assentamentos espontâneos na América Latina. Trabalho apresentado no Seminário
Nacional sobre Pobreza Urbana e DesenvolVimento, Recife, 1978.

CORNELIUS, W. A. e KEMPER, R. V. - Metropolitan Latin America. Latin American Urban


Research. Volume 6, Beverly Hills, Sage, 1978.

DEISO - Departamento de Estudos e Indicadores Sociais - As Condições de Vida da População


de Baixa Renda na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. SUEGE/IBGE, Rio de Janeiro,
1978.

DOXSEY, James - Toward a Developmental Ecology: Lessons from Factorial Models for
Understanding Urban Ecology and Change in Developing Societies. Trabalho não publicado,
1979.

EDEL, Mathew - Marx's Theory of Rent: Urban Aplications. Kapitalistate 4/5 (Summer 1976).

FAISSOL, S. et alii. Estudo de Rezoneamento do Município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:


BNH/PUC-NEURB, 1978.

FELDMAN, Marshall - A Contribution to the Critique of Urban Political Economy. Antipode


9(2): 30-50, September 1977. 1977.

FREDRICH, Olga Buarque de Lima - Ecologia urbana de áreas residenciais em metrópoles


brasileiras: O caso de Recife. Trabalho apresentado na. reunião anual da Associação de
Geógrafos Brasileiros, 1976.

HARRISS, C. Lowell - Government Spending and Land Values: Public Money and Private
Gain, Madison, University of Wisconsin Press, 1973.

HARVEY, David - Social Justice and the City. Baltimore, John Hopkins, 1973.

---- - The Political Economy of Urbanization in Advance Capitalist Societies. Xerox, 1974.

---- - Class Structure in a Capitalist Society and the Theory o! Residential Differentiation,
em Peel, R. et alii (1975).

LINEBERRY, Robert L. Equality and Urban Policy: The Distribution o! Municipal Public
Services. Beverly H1lls: Sage, 1977.

LOBATO, Roberto - Agentes Modeladores e Uso do Solo Urbano na Cidade Capitalista. Trabalho
apresentado no Seminário Franco-Brasileiro sobre Aglomerações Urbanas, Comissão Nacional,
UGI, 1979a.

---- - Processos Espaciais e a Cidade. Revista Brasileira de Geografia - 1979b.

474
MAGALHãES, João Paulo de Almeida - Pesquisa Sobre Evolução de Preços de Terrenos e seu
Impacto na Formação de Preços das Moradias: A Experiência do Município do Rio de
Janeiro. Relatório de ASTEL. Rio de Janeiro, 1978.

MLINAR, Zdravko and TEUNE, Henry (editores) - The Social Ecology ot Change: From
Equilibrium to Develop,ment. Beverly Hllls: Sage, 1978.

MYRDAL, Gunnar - Teoria Econômica e Regiôes Subdesenvolvidas. Rio de Janeiro, Saga, 1972.

PEEL, M. et alii. Process in Physical and Human Geography. London, Helnemann, 1975.

PINTO, Dulce M. A., CRUZ, J. M. e BARCELLOS, M. M. - Ecologia da Area Metropolitana do


Rio de Janeiro. DEGEO/SUEGE/IBGE, Rio de Janeiro, 1979. Xerox.

POULANTZAS, Nicos. O Estado em Crise, Rio de Janeiro, Graal, 1977.

SANTOS, Carlos Nelson dos - Três mov'imentos sociais urbanos no Rio de Janeiro, Revista
de Religião e Sociedade 2, 1977.

---- - e BRONSTEIN, Olga - Metaurbanização: Rio de Janeiro. Revista de Administração


Municipal 25(149), out./dez. 1978.

SAYAD, João - Preço da terra e mercados financeiros. Pesquisa e Planetamento Econômico 7,


1977. pp. 623-662.

SINGER, Paul - O uso do solo na economia capitallsta. Chão n.• 3, 1978.

- - - - - Movimentos de bairros em São Paulo. Trabalho apresentado no Seminário Franco-


Brasileiro sobre Aglomerações Urbanas, Comissão Nacional UGI, Rio de Janeiro, 1979.

SMITH, David M. - The Geography of Social Well-Being in the United States: An Introduction
to Territorial Indicators. New York: McGraw-Hill, 1973.

- - - - - Who Gets What, Where and How: A Welfare Focus for Human Geography, Geography,
59 (november 1974) .

SMOLKA, Mattlm O. - Preço da terra e valorização Imobiliária urbana: Esboço para o


enquadramento conceitual da questão. Textos para discussão Interna n.• 12, IPEA, Rio de
Janeiro, 1979.

STERN, M. O. e AYRES, R. U. - Transportation Outlays: Who Pays and Who Benetits? In


Harrlss (1973: 117-154).

vmiRA DA CUNKA, P. e SMOLKA. M. O. - Notas sobre a relação en'tre rendas fundiárias e


uso do solo urbano. Fundação de Desenvolvimento Administrativo, 1978.

VETTER, David M. - Quem recebe os benefícios líquidos das ações do Estado nas áreas
urbanas?. Trabalho apresentado no Seminário Franco-Brasileiro sobre Aglomerações Urbanas,
Comissão Nacional, UGI, Rio de Janeiro, 1979.

- - - - - A segregação residencial da população economicamente ativa na região metropolitana


do Rio de Janeiro, segundo grupos de rendimento mensal. Departamento de Estudos e
Indicadores Soclals/SUEGE/ffiGE, 1980. Xerox.

VETTER, David M.; MASSENA, R. M. R. e RODRIGUES, E. F. - Espaço, valor da terra e


eqüidade dos Investimentos em Infra-estrutura urbana: Uma aná!lse do Município do Rio
de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia, 41 (1/2), 1979.

VETTER, David M. e MASSENA, R. M. R. - Quem se apropria dos benefícios líquidos dos


Investimentos do Estado em infra-estrutura urbana? Uma teoria de causação circular. Rio
de Janeiro. 1980. Xerox.

WALTON, John - Guadalajara: Creating a Divided City. In Comellus e Kemper (1978: 25-50).

475
SUMMARY RÉSUMÉ
The increasing role of the State !n urban Le rôle progressif de l'État dans les aires
areas raises the question: Who is rece!ving urbaines entraine la questlon sulvante: qui
the benefits of these State actions and who reçoit les bénéflces des actlons de l'l'l:tat et
is paylng their costs? The principal objectives paie leurs coüts? Les prlnclpaux objectifs de
o f this paper are ( 1) to explore the causal c e travall sont: 1) explorer les rapports de
relaticnships among the variables determining cause, établls entre les variables, pout" détermi-
who appropriates the net benefits of State ner qui s'approprle des bénéflces nets des
actions, and (2) to show how factorial ecology actlons de l'État et 2) montrer comment les
studies in their actual or modified form might études d'écologie factorielle, sous la forme
be used in the study of thls appropriatlon. traditionnelle cu sous une forme modifiée,
Two maln atrategies are suggested for accom- peuvent être util!sées dans l'analyse ele cette
appropriation. Deux stratégles conçues pour
pllshing thls second object!ve: (1) the use
accomplir ce dernier objectlf seront mises en
of the social areas defined in traditional
questlon: 1) l'utilisatlon des aires sociales
factorlal ecology studies as spatial units of que l'écologie factorielle tradltionnelle a définies
analysis in the study of the distribution of comme des unités spatiales d'analyse dans
the net benefits of State actions, and (2) the l'étude de la distribution des bénéfices nets
in tegratlon of social indicators o f these des act:ons publiques et 2) l'inclusion d'indi-
benefits as variables in the factorial ecology cateurs sociaux de ces bénéfices, comme des
studies. variables, dans les études d'écologie factorielle.

476
Estrutura urbana do
Estado do Rio de
Janeiro - uma análise
no tempo*
1 - O PORQUÊ DESTE
ESTUDO- À GUISA
DE INTRODUÇÃO Haidine da Silva Barros Duarte

N os países subdesenvolvidos
de sistema capitalista o
processo de urbanização
e o sistema de cidades refletem as
entre o setor agrário e os setores
urbanos da economia, favorecidos
pelas inter-relações do sistema de
produção. Cabe ressaltar que o se-
formas de crescimento econômico tor industrial é o que mais se
concentrado, onde a alocação dos beneficia dos financiamentos e po-
investimentos vinculada à concen- líticas oficiais e fluxos de capitais
tração do capital tem sido a força externos. Outra característica é o
de auto-sustentação dessas econo- hiperdimensionamento do setor
mias. Nesse processo de formação terciário e neste, de modo parti-
econômica geram-se desequilíbrios cular, a participação das ativida-
sócio-econômicos setoriais e espa- des da administração pública. A
ciais necessários à manutenção do distorção entre os setores da eco-
próprio sistema capitalista. nomia dos países subdesenvolvidos
Os desequilíbrios setoriais envol- tem sido estudada por diversos
vem diferenças de desenvolvimento cientistas sociais, entre eles Samir

• Tese submetida ao corpo docente da coordenação dos programas de pós-graduação de


Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção de grau de mestre em ciências (M. Se.) .

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(4): 477-560, out./dez. 1981 477


Amin que, examinando a evolução tra-se, espolia as fontes de recursos
histórica das formações sociais do descentralizadas, congestiona os
centro e da periferia, chama aten- lugares por ele valorizados, medi-
ção para hipertrofia do terciário. ante atração quase exclusiva dos
O autor mostra que a resposta para fatores de trabalho.
este fenômeno está nas condições A interdependência entre o pro-
de integração das sociedades pré- cesso de desenvolvimento econô-
capitalistas no seio do mercado mico na formação dos sistemas
capitalista internacional, integra- urbanos e o efeito da estruturação
ção que acarreta processos de mar- destes sistemas no desenvolvimento
ginalização e desequilíbrios não só econômico-social tem sido respon-
dos setores como de espaços (Amin, sável pelo conflito estabelecido en-
S. 1976). tre centralização e descentraliza-
Os desequilíbrios espaciais são ção das atividades produtivas,
produtos da estratégia locacional marco fundamental do planeja-
dirigida pelas forças capitalistas, mento urbano e regional. De modo
onde as grandes aglomerações be- geral, o planejamento urbano tem
neficiadas pelas economias de se baseado em políticas que buscam
escala e de aglomeração, tornam-se a estruturação de um sistema de
locais vantajosos à concentração cidades a fim de promover a dimi-
de atividades produtivas vincula- nuição progressiva dos desequilí-
das à concentração de capital. A brios existentes. No entanto, este
presença de um sistema de cidades objetivo tem sido perseguido por
com diferentes níveis de equipa- diretrizes e programas voltados
mento urbano reforça os desequi- para aplicação de medidas pon-
líbrios, uma vez que impõe seleção tuais e casuísticas, sem interferir
na alocação dos investimentos, na estrutura social que eles re-
sendo a infra-estrutura urbana fletem.
fator decisivo na localização da- No Brasil, onde o processo de
quelas atividades. Desse modo, o desenvolvimento econômico repro-
sistema de cidades deve ser enten- duz-se no espaço através da con-
dido como integrante de uma centração das forças produtivas na
estrutura espacial. Os elementos Região Sudeste, que historicamen-
desse .sistema - as cidades - re- te se constitui no centro dominante
fletem o modelo econômico im- da estrutura espacial do País, as
plantado, sendo o processo de políticas de desenvolvimento mais
urbanização a projeção espacial recentes têm oscilado entre aquelas
do processo de desenvolvimento duas direções. Enquanto o PAEG
econômico e social ocorrido. - Plano de Ação Econômica do
O espaço não se organiza alea- Governo Castello Branco - 1964/
toriamente. A evolução do sistema 66 - volta-se para concentração
de cidades correlaciona-se com o espacial dos investimentos em
crescimento das forças produtivas, áreas onde economias de escala e
com a demanda de equipamentos economias externas assegurem
e de serviços, bem como com as maior rentabilidade, o PED -
forças de organização política e Programa Estratégico de Desenvol-
institucional da sociedade. A pro- vimento do Governo Costa e Silva
cura por economias externas con- - 1968/70 recomenda compatibi-
duz a um processo de excessiva lização entre concentração, através
concentração espacial do capital. da estrutura vertical do desenvol-
Quando este é escasso, como nos vimento industrial no Centro-Sul
países subdesenvolvidos, julga-se e descentralização pela horizonta-
multiplicá-lo fazendo-o usufruir lização que beneficia outros pólos
de um máximo de economias exter- regionais fora do Brasil SE. Estas
nas. Resultado, o capital concen- diretrizes foram as mesmas que

478
orientaram a elaboração do Pri- desenvolvimento econômico e so-
meiro Plano Nacional de Desenvol- cial do Estado do Rio de Janeiro
vimento (I PND - 1970-74). como um todo.
Já no Segundo Plano Nacional Este estado, como subunidade
de Desenvolvimento (II PND - do espaço nacional, depende de
1974-76) consta preocupação explí- decisões que se definem em esferaa
cita pelos problemas urbanos cau- superiores. No entanto, o estado,
sados pela excessiva concentração como realidade institucional, dis-
nas regiões-metropolitanas, sobre- põe de aparelho de controle de suas
tudo no Centro-Sul. O II PND inter-relações próprias, não obstan-
enfatiza mecanismos de descentra- te suas vinculações com o todo.
lização e a necessidade de criar e Como .subespaço, objeto de decisões
fortalecer novos pólos de descen- político-administrativas e privadas,
tralização, políticas estas que o estado, em sua autonomia polí-
contradizem as necessidades de tica, apóia-se no planejamento
concentração, características do para controlar e dirigir o processo
modelo vigente. de desenvolvimento.
O debate entre centralização e Uma vez implantado o aparelho
descentralização não está restrito administrativo do novo Estado do
à escala nacional. O mesmo pode Rio de Janeiro, foi elaborado o
ser aplicado em diferentes unida- Primeiro Plano de Desenvolvimen-
des espaciais de uma região consi- to Estadual - I PLAN-RIO. O
derada como desenvolvida, como é I PLAN-RIO prevê a descentrali-
o caso do Sudeste brasileiro. A zação espacial e urbana do desen-
supremacia de São Paulo, sobre- volvimento fluminense visando a
tudo de sua região metropolitana, corrigir os desequilíbrios que a
tem sido sentida como causadora estrutura do estado apresenta, caso
do "colonialismo interno". Como persista o padrão de desenvolvi-
diz Ianni, "como pólo de cresci- mento fortemente concentrado na
mento São Paulo menos difunde região metropolitana. A nova ad-
que atrai os benefícios da indus- ministração, iniciada em março de
trialização. Há uma espécie de 1979, propõe-se, através de seu
colonialismo interno que os pro- Plano de Desenvolvimento Econô-
gramas nacionais e regionais não mico e Social, a manter a política
puderam limitar" (Ianni, 0., 1978, de desconcentração urbana, tam-
p. 33). Muito ligado a este debate bém preconizada pelo Terceiro
de estrutura espacial com vistas a Plano Nacional de Desenvolvimen-
um desenvolvimento mais equili- to, recentemente elaborado pelo
brado está a fusão de duas uni- Governo Federal.
dades da federação. Até que ponto as cidades do
O projeto de fusão entre Rio de estado podem responder às pro-
Janeiro e Guanabara foi colocado posições a que se propõe o
entre outras justificativas como planejamento estadual; em que
marco político de busca de equi- medida o crescimento concentra-
líbrio entre diferentes espaços ins- do na região metropolitana tem
titucionais do País. A nível do novo afetado as cidades da periferia,
são questões que se impõem. O
estado, o crescimento da região planejamento estadual com base
metropolitana encarado como cen- na compreensão do sistema ur-
tro de dominação do espaço esta- bano necessita, mesmo que a nível
dual e as distorções cada vez mais de identificação, do conhecimento
acentuadas entre esta unidade e o das transformações estruturais
restante do território constituem- com vistas à orientação de suas es-
se no objeto real para definição e tratégias. Crescimento não signi-
execução de uma estratégia de fica mudança no processo social.

479
As cidades não são iguais. Desem- marcado por um perfil urbano,
penham diferentes funções na onde o desempenho das cidades
organização social de um espaço varia dentro do sistema espacial.
institucional. As cidades podem Só através das tendências e dos
ser semelhantes em tamanho e processos .sociais identificados po-
função mas terem composição di- de-se ter elementos para um plane-
ferente. jamento, quando este passa a ter
Mudanças ocorridas na estrutura uma preocupação social.
urbana, o processo pelo qual as O estudo a que .se propõe não
cidades crescem e se desenvolvem, tem pretensão, ao nível do empí-
são elementos fundamentais para rico, de compreender toda reali-
compreensão da natureza de um dade estadual, mas sim pela aná-
sistema espacial. Políticas de de- lise de sua estrutura urbana,
senvolvimento urbano só podem ser questionada no tempo, detectar
deflagradas quando se dispõe do mudanças possivelmente ocorridas,
conhecimento do tipo da cidade de modo a que estas possam orien-
quanto à estrutura, tamanho e tar estratégias que visem a dimi-
grau de urbanização. Estudos nuir as disparidades espaciais exis-
cujas conclusões sirvam de base à tentes. A utilização de modelos
implementação de tais políticas simples no decorrer do trabalho
devem detectar, outrossim, cida- pode gerar resultados analíticos
des cujas funções satisfaçam ape- de utilidade para o planejamento
nas as demandas regionais e locais do território estadual. Seus resul-
daquelas que desempenham papel tados poderão, outrossim, contri-
de dominação no crescimento do buir como informações de relevân-
sistema. cia ao desenvolvimento de pesqui-
Assim, chega-se à proposição sas adicionais de natureza teórica
básica deste trabalho que é estu- sobre problemas específicos, bem
dar um subsistema urbano, cir- como apresenta-se indispensável ao
cunscrito a um espaço institucio- prosseguimento de estudos parti-
nal, para discutir os problemas de culares no campo urbano.
urbanização concentrada em espa-
ços desigualmente desenvolvidos
de formação econômica capitalista. 2 - OS PROPóSITOS DO
O objeto real de análise será o ESTUDO: ANÁLISE
sistema de cidades do Estado do DE UM SISTEMA DE
Rio de Janeiro e o modo pelo qual CIDADES NO TEMPO
o processo social, consubstanciado
pelo capitalismo periférico hege-
mônico, afeta a estrutura deste Como foi mencionado na intro-
sistema espacial. Objetivamente, o dução deste estudo, só se pode
estudo visa a detectar através do compreender o sistema urbano
tempo o comportamento da estru- como projeção da sociedade no
tura urbana do Estado do Rio de espaço, onde seus agentes princi-
Janeiro e até que ponto esta reflete pais - os grupos sociais - refle-
mudanças das formas de cresci- tem as relações econômicas, so-
mento econômico e social do esta- ciais, políticas e ideológicas de seu
do. Não apenas a escala espacial é processo de formação. Com base
importante. A escala temporal nesta premissa opta-se, como mé-
torna-se fundamental na medida todo de análise, pela perspectiva
em que, sendo a estrutura urbana histórica para o entendimento da
produto da organização econômica, forma pela qual se estrutura o sis-
social e política do País como um tema urbano do Estado do Rio de
todo, cada momento histórico é ,Janeiro.

480
Retomando o:s conceitos de o estágio em que cada elemento
Castells "do ponto de vista social está no sistema e como este está
não há espaço senão espaço-tempo no proceso social.
historicamente definido, um espaço Para isso, recorre-se à análise
construído, trabalhado, praticado fatorial como técnica auxiliar para
por relações sociais" (M. Castells detectar algumas estruturas, mes-
- 1977, p. 485). Para este autor mo conscientes de que esta técnica
o espaço do ponto de visto social tem suas limitações. A análise fa-
é uma conjuntura, uma articula- torial é utilizada como meio e sua
ção de práticas históricas concre- interpretação é feita com elemen-
tas e que a especificidade dos tipos tos da análise histórico-estrutural,
de espaço corresponde ao modo de tendo em vista que a urbanização
produção capitalista, caracterizada é reflexo dos processos sociais e
pelo desenvolvimento das forças que estes acontecem no tempo e no
produtivas. espaço de formas diferentes.
A concentração dos investimen- Os dois cortes no tempo não são
to::> produtivos gera transformações em si suficientes, marcam apenas,
nas formas espaciais e necessida- no espaço, um determinado mo-
des de arranjos político-institu- mento do processo social. É a aná-
cionais que afetam, sobremodo, o lise da situação nestes tempos que
papel desempenhado pelas cidades pode, tendo em vista a informação
em conjunturas históricas distin- empírica, avaliar o desenrolar do
tas. Desse modo, entende-se que, processo, isto se ele se mantiver
ao se apoiar na análise histórico- em suas características político-
estrutural, explicam-se as mudall- sociais.
ças ocorridas na estrutura urbana O estabelecimento dos cortes no
do Estado do Rio de Janeiro, em tempo com vistas à cross-section
decorrência das mudanças ocorri- depara-se com problemas de ordem
das nas relações de produção, pro- teórico-conceitual para se definir
curando não se afastar da visão o marco de tempo empírico ou data
globalizante do modo pelo qual a cronológica a ser estabelecida.
acumulação capitalista do País Trata-se de um problema não es-
modela o sistema espacial. pecífico à historiografia geral, mas
Não se pretende fazer apenas que atinge qualquer pesquisa so-
uma análise histórico-estrutural. cial de bases históricas. Como assi-
A prática em planejamento mostra nala Limoeiro Cardoso, há na his-
a necessidade de dimensões empí- toriografia brasileira ausência de
ricas dos elementos de um sistema uma "periodização que se assuma
para avaliação e tomada de deci- na sua fecundidade e nos seus limi-
são. Faz-se necessário estabelecer tes de descrição e explicação"
cortes no tempo, para que análises (Cardoso M. Limoeiro - 1977,
comparativas de estruturas espa- p. 1). Isso leva o pesquisador a fa-
ciais em conjunturas sociais distin- zer uma opção conceitual .'>Obre seu
tas constituam material empírico marco histórico.
indispensável à compreensão do Há discordância entre os dife-
processo responsável pelas estrutu- rentes historiadores e cientistas
ras espaciais detectadas no tempo. políticos ao balizar na história
Os elementos do sistema - as ci- econômica e social do País marcos
dades - precisam 8er dimensiona- precisos, e parece haver suprema-
dos em .seu tamanho, suas estru- cia de uma periodização empírica
turas e em seu grau de urbanização calcada na História Política. Desta
no sistema. Estes atributos podem forma, diferentes autores, ao ana-
ser identificados por uma variável, lisarem e tentarem periodizar o
ou por um conjunto de variáveis crescimento econômico do País,
que, ao nível do empírico, refletem têm apelado para fatores políticos.

481
Entre outros, Ianni (Ianni, O. capitais estrangeiros e na expor-
- 1978), ao analisar o desenvolvi- tação de produtos industrializa-
mento econômico brasileiro basea- dos" (Cardoso, F. H. 1975,
do no que ele chama de industria- p. 48).
lização acelerada, faz apelo às A análise da estrutura do sis-
políticas desenvolvimentistas de tema de cidades não é uma foto-
Vargas e Kubitschek para mostrar grafia estática da .situação nos dois
que a década de 50 constitui-se anos enunciados. A situação de
num marco referencial entre a 1950 é constatada na interrupção
industrialização nacionalista do de um processo que .se originou
período getulista e a fase implan- com a própria fundação da cidade
tada pelo Governo Kubitschek, do Rio de Janeiro. O marco 1970,
baseada na dependência de capi- por sua vez, não interrompe a aná-
tais estrangeiros. lise do .sistema espacial centrado
Fernando H. Cardoso, por sua no sistema urbano, ela prossegue
vez, ao analisar o "modelo brasi- sem as constatações empíricas da
leiro" de desenvolvimento concen- análise fatorial, mas com outros
tra-se nos aspectos sociais e polí- modos de avaliação do processo
ticos do processo. Salienta que "o decorrido nos últimos nove anos.
crescimento econômico (inegável Isto é de fundamental :importân-
no caso brasileiro) não traz em si cia, pois modificações institucio-
mesmo uma tendência à melhor nais e conjunturais ocorreram nos
distribuição de seus frutos. Estes últimos anos e que sem dúvida
distribuem-se de acordo com a devem ter trazido transformações
capacidade de pressão dos distintos no .sistema urbano e, por extensão,
grupos sociais e com os modelos na estrutura espacial.
de participação política, que regu- Não apenas a definição de dife-
lam aquela capacidade de pressão" rentes espaços de tempo da histó-
(Cardoso, F. H. - 1975, p. 70). ria é fundamental para análise de
Baseando-se nas colocações dos um processo de estruturação de um
autores supramencionados, o estu- espaço. A conceituação dos espaços
do considera a década de 40 como considerados e os níveis e escalas
marco empírico do avanço do capi- de análise se apresentam como
talismo na Região Sudeste e o iní- questões de postulação teórica e
cio da década de 50 como final da conceitual a serem consideradas
primeira fase do processo de subs- (Lacoste, Y., sem data).
tituição de importação, quando
completa-se, no País, a linha de O primeiro problema diz respeito
produção nacional de bens de con- à definição do espaço que se cons-
sumo não duráveis. Assim, coloca- titui no universo da pesquisa.
se 1950 como marco histórico do Tendo em vista que o Estado do
processo de crescimento, para o Rio de Janeiro, como qualquer
qual busca-se analisar a estrutura outra unidade, é um sistema aber-
espacial do sistema de cidades flu- to, seria conveniente estender a
minenses. pesquisa aos centros periféricos
localizados nos estados fronteiros,
A escolha do ano de 1970 para a de vez que a posição geográfica e
outra cross-section é explicada pelo
início, no Brasil, de nova forma de o desenvolvimento histórico de sua
crescimento apoiada no aumento economia explica a integração de
das exportações. Como afirma vários espaços à metrópole do Rio
Fernando Henrique Cardoso "esta de Janeiro, ultrapassando seus li-
nova fase da economia brasileira mites político-administrativos. Por
acarreta redefinição do antigo mo- outro lado, a separação político-
delo exportador que passa a ba- administrativa (1840-1975) entre
sear-se na produção associada a o Município do Rio de Janeiro

482
(município neutro, Distrito Fede- Ao lado desses problemas de
ral e Estado da Guanabara) e o ordem teórica e conceitual, e com-
Estado do Rio de Janeiro é mar- plementando-os, surge o problema
cada por distorções entre os níveis estatístico relativo à homogenei-
de desenvolvimento das duas uni- dade e heterogeneidade das distri-
dades administrativas, não obstan- buições a serem analisadas, ,')obre-
te, partes integrantes de mesma tudo quanto à utilização de análi-
região geoeconômica - a Região ses multivariadas.
Sudeste. Em decorrência dessas preocupa-
Desse modo, considera-se como ções de ordem conceitual adotam-
área de estudo o sistema espacial se três níveis de análise, constituí-
correspondente ao atual Estado do dos por diferentes universos de pes-
Rio de Janeiro, assumindo todas as quisa, respectivamente: o estado,
possíveis deformações que os mo- como um todo, o estado sem a
delos aplicados possam vir a con- cidade do Rio de Janeiro e o estado
firmar as preocupações supramen- sem a região metropolitana. Surge
cionadas. Esta opção prende-se ao aqui o problema de definição do
conceito de que o estado como espaço metropolitano. O fato de o
unidade institucional, para im- estudo considerar 1950 como marco
plantação de políticas de planeja- de tempo não permite que se adote
mento e metas de desenvolvimento, a atual área compreendida pela
só pode intervir em seu espaço Região Metropolitana: do Rio de
político-administrativo. Janeiro conforme lei complemen-
Outro problema diz respeito ao tar n.o 20, de 1.0 de julho de 1974,
nível de análise. Retoma-se aqui que inclui 14 municípios. Não
Y. Lacoste, quando afirma que no obstante a inexistência de estudos
plano do conhecimento não existe específicos de delimitação da re-
um nível de análise privilegiado, gião metropolitana para 1950, o
conhecimento acumulado adqui-
sempre ocorrendo ocultação de rido permite estabelecer como re-
fenômenos e de outras estruturas gião metropolitana a área compre-
(Lacoste, Y. - sem data). O sis- endida pelos municípios de: Rio
tema de cidades do Estado do Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Ca-
de Janeiro, analisado como um xias, Nova Iguaçu, São .João de
todo, atingirá um nível de inter- Meriti, São Gonçalo e Nilópolis.
pretação que poderá ocultar estru- A análise das estruturas espa-
turas, escamoteando a realidade. ciais através dos três níveis de
Os mesmos fenômenos ·3m escalas abordagem é elaborada para os
espaciais diferentes podem ser dois momentos do tempo predeter-
conceituados de modo diferente. minados e constituem, assim, a
Esta conceitualização do espaço em dimensão empírica que se entende
diferentes escalas não tem sido como necessária ao conhecimento
levada em consideração em políti- do processo de desenvolvimento do
cas de planejamento regional e se estado como um todo.
constituem em problema funda- A análise a que se propõe o
mental de interpretação geográfica estudo encontra respaldo teórico
de um sistema de cidades. em conceituação do processo de
Outro aspecto de ordem teórica desenvolvimento em sua dimensão
relacionado aos diferentes níveis espacial. As desigualdades encon-
de análise é de que o todo não é tradas nas análises das estruturas
o somatório das partes, daí ser espaciais têm sido interpretadas
necessário retirar do todo subes- segundo diferentes posturas teóri-
paços que poderão funcionar como cas, algumas das quais passíveis
categorias de análises. de dar conta do objeto real deste

483
estudo - o sistema de cidades do teóricos às formações sociais em
Estado do Rio de Janeiro. desenvolvimento. Nos países de
Longe de pretender profunda economia desenvolvida a urbani-
discussão desses postulados concei- zação é paralela à industrialização
tuais e esgotar as teorias sobre o e ao aumento da produção agrícola
tema, o capítulo seguinte procura que, tendo sofrido transformações
abordar as diferentes formulações em suas estruturas, permite libe-
buscando posicioná-las em seus ração de mão-de-obra, sem prejuízo
acordos e/ou contradições. da produtividade. Nos países em
desenvolvimento, ao contrário a
agricultura, salvo poucas exceçÕes
3 - URBANIZAÇÃO E tem crescimento lento, perpetuan~
DESENVOLVIMENTO do baixa produtividade e rentabi-
REGIONAL- lidade. Este fraco crescimento tem
gerado forte emigração, explicada
DIFERENTES pelas estruturas sócio-econômicas
ABORDAGENS do meio rural. A industrialização,
TEóRICO- quando não incipiente, ocorre
CONCEITUAIS nu~a fase ma~s ~vançada do capi-
talismo- capitalismo monopolista
-:- qu.e corresponde à aplicação
Nas formações sociais onde do- mtensiva de tecnologia, não atin-
min~ o sistema capitalista, a pro- gindo um nível de criação de em-
duçao e a disponibilidade da força prego capaz de absorver mão-de-
de trabalho constituem a base da obra regional.
organização do espaço (Castells,
M. 1977) . As redes urbanas se es- Por sua vez, o emprego no setor
truturam em função do dinamismo terciário não acompanha o cresci-
~o. sistema econômico, social e po-
mento demográfico urbano. Desse
lltiCo como um todo. Daí que os modo, ~ urbanização desses países
estudos dos sistemas de cidades ocorre as expensas do processo de
como sistema espacial, busca~ desenvolvimento econômico, po-
apoio teórico nas formulações e dendo ocorrer independentemente
conceituações do processo de desen- da industrialização. Por isso, o
volvimento em sua dimensão es- subdesenvolvimento não deve ser
pacial. visto como etapa anterior intrín-
seca ao processo de desenvolvi-
Contribuições à formulação de mento, mas sim como situação
teorias de desenvolvimento econô- estrutural fruto de seus condicio-
mico e regional têm ampliado a nantes econômicos e sociais.
literatura específica nos últimos
anos. Entretanto grande parte Releva notar que a organização
destas contribuições teóricas, quan- d? espaço envolve grande comple-
do explicitadas, não passam de xidade de fatores, que dificulta a
generalizações que não podem ser especificação de modelos concei-
t~~is para diferentes padrões espa-
qualificadas como teoria científica.
Ciais de desenvolvimento. Não obs-
Por outro lado, não existe ainda
uma teoria que englobe todos tante, tentativas para se chegar a
os problemas do desenvolvimento uma teoria do desenvolvimento
sócio-econômico regional diferen- espacial têm estimulado a elabora-
ciado. ção de bases conceituais e metodo-
lógicas. Enquanto a maioria das
A literatura disponível, na maior formulações calcadas em estrutu-
parte, é concernente ao desenvol- ras desenvolvidas se voltam para
vimento espacial das economias a ten?ência_ ao equilíbrio geral, em
desenvolvidas, o que dificulta a sua dimensao espacial, outras sur-
transposição de seus fundamentos gem em oposição a seus conceitos

484
básicos. Neste caso incluem-se as Esta corrente de pensadores pre-
formulações que procuram explicar coniza que, no ·êstágio inicial de
a concentração geográfica em fun- desenvolvimento, os sistemas urba-
ção do processo de crescimento nos, por via de regra, são caracte-
econômico concentrado, que nos rizados pela primazia, uma vez que
países de economia dependente são as grandes cidades que ofere-
não conduz à desconcentração es- cem vantagens locacionais para
pacial do sistema. Cabe ressaltar aqueles que detêm o poder de
que isto não quer dizer que nos decisão, se não também que são
países desenvolvidos o processo de elas que dispõem de toda uma
concentração não ocorra. Em ver- gama de serviços, economias exter-
dade, enquanto nesses países a nas, fluxos de capital, dentre ou-
concentração se superpõe a um tros condicionantes.
espaço organizado, que reflete a Segundo os "modernistas", pos-
difusão do desenvolvimento, nos teriormente ocorre a integração
países subdesenvolvidos a concen- espacial através da difusão hierár-
tração se opõe ao espaço periférico quica produzida pelo mecanismo
dependente e desestruturado. de "filtragem", integração esta .:3n-
Por outro lado, as formulações tendida como uma função da ma-
teóricas que, tomadas a partir de turidade econômica. Os "tradicio-
pontos de vista distintos, conver- nalistas", por sua vez, alegam que
gem para necessidade de se alcan- "a primazia das grandes cidades
çar um desenvolvimento espacial significa ".superurbanização", que
equilibrado, admitem, outrossim, leva a uma drenagem "parasítica"
a implementação de políticas de da vitalidade da sociedade e produz
ação com vistas ao desenvolvimen- um estado contínuo de "hiperur-
to econômico e social regional. banização" que só pode ser comba-
tido por estratégias de descentra-
Nelas os objetivos do desenvolvi- lização deliberada" (Berry, B. ·-
mento urbano se confundem com 1971 - p. 51).
os objetivos do desenvolvimento Sem fazer julgamento de valor
regional, considerando as cidades da classificação dualística de Brian
pontos a partir dos quais os efeitos Berry, pode-se, entretanto, cons-
de fluência são transmitidos a cada tatar que é a partir daquelas duas
região. correntes que grande parte de
Brian Berry, ao abordar o papel planejadores e urbanistas parece
das cidades no desenvolvimento ter chegado a um consenso quanto
econômico, parte das discussões à formulação de políticas de desen-
entre duas correntes de pensado- volvimento baseadas em progra-
res: os "modernistas" e os "tradi- mas de descentralização através
cionalistas". Segundo ele, para os da criação de centros de cresci-
modernistas "é necessário a con- mento.
centração contínua do crescimento O objetivo deste capítulo é fazer
econômico nas grandes cidades uma análise das diferentes manei-
para obter economias de escala e ras de abordagens do conceito de
urbanização e suas relações com o
acumular externalidades sob for- desenvolvimento regional, através
ma de custos indiretos e infra- de autores que, utilizando bases
estrutura social e econômica, por- teóricas diferentes, trataram do
que estas, por sua vez, são os tema. A guisa de advertência, ob-
pré-requisitos do crescimento sub- serva-se que os autores seleciona-
seqüente, necessário para propor- dos o foram muito mais pela
cionar os recursos exigidos para divulgação de seus estudos e a
superar as deficiências sociais" aplicação que tiveram em diferen-
(Berry, B. 1971 - p. 81). tes planos de ação de planejamento

485
do que pelas verdades e valores desenvolvimento é necessariamente
neles contidas. não equilibrado" (Hirschman, A.
Dentre as várias aplicações espa- o. - 1961 - p. 276).
ciais de teorias do equilíbrio geral, De acordo com as hipóteses de
têm-se as formulações de Hirsch- Hirschman, Williamson também
man dirigidas para as desigualda- admite nos primeiros estágios de
des regionais do desenvolvimento desenvolvimento diferenças inter-
como uma das mais utilizadas, regionais de renda per capita, e
sobretudo nos estudos de siste- que através da mobilidade interna
mas urbanos na América Latina. dos fatores se dará a eliminação
Hirschman acredita que o processo do dualismo geográfico ou polari-
é necessariamente polarizado em zação espacial (Williamson, J. -
seus primeiros estágios, concen- 1977).
trando-se em pontos de crescimen- Para este autor, "em algum
to (Hirschman, A. O. - 1961). ponto do curso do desenvolvimen-
Para ele o processo é comandado to, algumas ou todas as tendências
por dois tipos de forças: "efeitos desequilibradoras diminuem, cau-
de polarização" (polarization) e sando uma reversão do padrão de
"efeitos fluentes" (trickling down). desigualdade inter-regional. Ao in-
Enquanto os primeiros levam a um vés da divergência dos níveis inter-
desenvolvimento cada vez mais regionais de desenvolvimento, a
acelerado da região mais desenvol- convergência será preponderante,
vida, o que ocorre principalmente com as regiões atrasadas diminuin-
nos primeiros estágios de desen- do o hiato de desenvolvimento
volvimento, os segundos são res- entre elas e as áreas já industria-
ponsáveis pela propagação dos lizadas. O resultado esperado é que
benefícios deste desenvolvimento, a descrição estatística da desigual-
das regiões mais desenvolvidas dade regional tenha a forma de
para as menos desenvolvidas, dimi- um "U" invertido, ao longo do
nuindo os desequilíbrios criados curso do crescimento nacional, o
entre as regiões. momento histórico do máximo de
Segundo Hirschman, podem exis- desigualdade espacial é um tanto
tir obstáculos aos "efeitos fluen- vago, e pode variar consideravel-
tes". Nestes casos, o desenvolvi- mente com a dotação de recursos
mento deve ser induzido a partir e o ambiente institucional de
de políticas dirigidas. "Se as forças cada nação em desenvolvimento"
de mercado, expressas através dos (Williamson, J. - 1977 - p. 62).
efeitos fluentes e de polarização, Outro autor, cujas formulações
resultam na vitória temporária dos se voltam para tendência de equi-
últimos, a política econômica in- líbrio espacial, é John Friedman.
tervencionista entrará em cena Quando analisa o caso da Vene-
para corrigir a .situação. Realmen- zuela, John Friedman (Friedman,
te, a política econômica decerto J. - 1966) sugere que o desenvol-
terá uma influência decisiva no vimento urbano-industrial se faz
decorrer de todo o processo". "A sentir dos centros maiores aos cen-
necessidade de emergência de pon- tros menores através do processo
tos de desenvolvimento ou pólos de transmissão do progresso, dan-
de desenvolvimento, no curso do do-se a interação do espaço eco-
nômico, um dos objetivos do desen-
processo desenvolvimentista, indica volvimento. O desenvolvimento de
que a desigualdade internacio- um sistema espacial deste tipo é
nal e inter-regional do crescimento realizado a partir da8 !'egiões
é condição concomitante e inevi- "core" que organizam a dependên-
tável do próprio desenvolvimento. cia da "periferia" através de sis-
Assim, no sentido geográfico, o temas de abastecimento, distribui-
486
ção de bens e serviços e da admi- d.ade de trocas de informação no
nistração. A "periferia", por sua sistema, constitui.-se em tendência
vez, se constitui em área de emi- que induz à difusão física das re-
gração demográfica e de capitais giões. "core" existentes, ao enfra-
para a região "core". quecimento de sua ordem hierár-
As proposições de Friedman, quica, ao aparecimento de novas
consubstanciadas em sua teoria regiões "core" na periferia e à
do desenvolvimento polarizado gradativa incorporação de g;andes
(Friedman, J. - 1972), colocam o partes da periferia em um ou mais
desenvolvimento como um processo sistemas da "core".
descontínuo e cumulativo de ino- Friedman. p_arte do princípio de
vação, vinculado às relações da que as condiçoes favoráveis às ino-
"dependência-autoridade" que in- vações são encontradas no sistema
tegram o centro e a periferia em de cidades. Admite a existência de
um sistema espacial. ' uma correlação histórica entre o
A teoria "geral do crescimento tam.anh_? da cidade e a rápida ur-
polarizado", de J. Friedman, apoia- bamzaçao de um lado, e a inovação
da no espaço concreto, caracteriza- de outro, e que a modernidade de
se por sua amplitude, estenden- todo o período é gerada em um
do-se à estrutura institucional e meio urbano e difundido através
cultural da sociedade. Friedman do sistema urbano. Pressupõe que
tem como propósito formular uma o processo de desenvolvimento con-
teoria de processo de desenvolvi- duz, através da difusão da moder-
mento em sua dimensão espacial nização, a uma estrutura equili-
através das relações entre as teo~ brada da hierarquia de cidades.
ri.as <:!_e muda~ça social e de orga- Admite, no entanto, que nem todos
mzaçao espacial. Para ele o desen- os sistemas urbanos dispõem das
volviment<;> oc?r~e através de pro- con:Iições necessárias para as ino-
v~ç~s. Suas proposições são apli-
cessos assmcromcos, nos quais as
c~~eis. somente em sistemas espa-
forças inovativas aparecem ou são
CiaiS mtegrados (USA, Suécia e
injetadas nas estruturas tradicio-
nais preexistentes. O processo tem Alemanha Ocidental) onde o dua-
~ismo entre a "core" e a "periferia"
origem em reduzido número de
pontos onde um elevado potencial e de pequena conseqüência. Nos
de integração lhe confere os atri- paíies em processo de industriali-
butos necessários para se transfor- zação as relações. de autoridade-
marem em ''centros de mudanças" dependência constituem para o
(região "core"). A partir destes autor condições fundamentais do
centros dá-se o processo de difusão desenvolvimento e, conseqüente-
das inovações para áreas de menor mente, também de um cres-
interação potencial ("periferia"). cimento econômico sustentado.
Friedman coloca as regiões Considerando que a inovação se
"core" como subsistemas territo- difunde pelo sistema de "filtra-
rialmente organizados das socieda- gem" (filtering) através da hie-
rarquia urbana, dos centros maio-
des que possuem alta capacidade res aos menores, a efetivação do
para mudanças inovativas, e as processo de difusão depende da
regiões "periféricas" como subsis- capacidade dos centros em incor-
temas cujo desenvolvimento é de- pora: inovações. Esta capacidade é
terminado principalmente pelas fu?ça? da. organização empresarial
instituições da região "core", em e mstltucwnal da localidade, bem
relação às quais mantêm uma rela- como de sua estrutura social.
ção de dependência substancial. A J:>.s formulações propostas por
probabilidade de inovação, colo- Fnedman e Hirschman, embora
cada como função da probabili- baseadas em pontos de vista dis-

487
tintos, consideram o sistema urba- de cidades por Boudeville (Boude-
no como determinante do desen- ville, .J. - 1972).
volvimento regional. Nos países em Para Perroux, um "pólo de
desenvolvimento, no entanto, a desenvolvimento" é um vetor de
propagação do desenvolvimento forças econômicas, onde um con-
pelo processo de difusão tem sido junto de indústrias experimenta,
questionada pela falta de evidên- num tempo determinado, taxas de
cias empíricas. Enquanto as con- crescimento maiores que as taxas
cepções supramencionadas estão de crescimento nacional do setor.
dirigidas diretamente para as desi- O crescimento destas indústrias,
gualdades regionais do desenvolvi- por sua vez, geram e fazem crescer
mento, outras teorias foram con- outras atividades econômicas e
cebidas vinculadas à noção de propaga benefícios do crescimento
"pólos de crescimento". a suas áreas de influência, através
Os postulados destas teorias dos sistemas de comunicações.
consideram que a descentralização Admite que o crescimento não sur-
e a desconcen tração só ocorrem ge simultaneamente em todo o
mediante intervenção no processo conjunto da economia. A propaga-
através de medidas indiretas im- ção é feita a partir dos "pontos ou
postas ao prosseguimento do pro- pólos de crescimento" através de
cesso espontâneo. Dentre essas vias variáveis, com intensidades e
medidas, a criação de "centros de efeitos diversos (Perroux, F. -
crescimento" se apresenta como a 1975).
mais aceita, e se apóiam em teorias Perroux constata "efeitos de dis-
sobre o processo de concentração paridades inter-regionais". "Geo-
econômica, pertencentes. à escola graficamente concentrado, o pólo
francesa de economia espacial. industrial transforma o seu meio
Elas procuram explicar o papel geográfico imediato e, se tem poder
dinâmico da cidade. Levam em para tanto, toda a estrutura da
conta as relações que existem entre economia nacional em que se situa.
a produtividade e especialização Centro de acumulação e concen-
com o processo de urbanização. tração de meios humanos e de
Sustentam que a conseqüência capitais fixos e definidos chama a
espacial da especialização é a con- existência de outros centros de
centração. Dessa forma, o desen- acumulação e concentração de
volvimento é a causa da concen- meios humanos e capitais fixos
tração, ao mesmo tempo que o definidos" (Perroux, F. - 1975 -
ritmo de crescimento da economia p. 108). No entanto, o autor obser-
é determinad.J por novas tecnolo- va, posteriormente, que "existe
gias -produtividade crescente - hoje um conflito entre espaços eco-
que são geradas na cidade. nômicos de grandes unidades
Para a escola francesa a política econômicas (empresas, indústrias,
adotada para corrigir a polarização pólos) e os espaços politicamente
geográfica está ligada ao planeja- organizados dos estados nacionais.
menta do setor industrial. Dentre Os primeiros não coincidem com
seus principais representantes cita- os segundos, o seu crescimento de-
se Perroux e seus seguidores cujas pende das importações, exporta-
proposições são do tipo de equilí- ções, centros de abastecimento e
brio geral. A importância crescente mercados exteriores ao território
do conceito de "pólo de desenvol- nacional" (Perroux, F. 1975 -
vimento" originalmente vinculado p. 109). Desse modo, a teoria dos
à definição de espaço econômico pólos de crescimento em países
abstrato de F. Perroux é relacio- subdesenvolvidos deve ser encara-
nado, posteriormente, ao sistema da com vistas à situação de depen-

488
dência que caracteriza seu sistema Para ela, os "efeitos propulsores"
de produção capitalista. não contribuem para o estabeleci-
Contrárias a essas aplicações mento de equilíbrio do sistema
espaciais de teorias relativas à social, apesar de evidências empí-
tendência de equilíbrio geral, se ricas mostrarem que os "efeitos
opõem formulações que dela se propulsores" são funções do nível
afastam ao contestarem seus fun- de desenvolvimento de um país,
damentos básicos. Trata-se de pos- sendo mais fortes nos países mais
tulações voltadas para explicação ricos e mais fracos nos mais
do processo de concentração como pobres.
intrínseco às economias de modo No caso dos países subdesenvol-
de produção capitalista, gerando vidos, o autor salienta a fraqueza
contradições, não no sentido dua- dos "efeitos propulsores". O livre
lístico, mas no sentido globalizante jogo de forças do mercado em paí-
de que a •3conomia capitalista ses pobres funciona mais podero-
caracteriza-se por contradições samente no sentido de criar desi-
econômicas e sociais, que não se gualdades regionais e de ampliar
reproduzem no espaço de modo as existentes.
equilibrado. Na realidade, o pro- Ele reconhece, no entanto, que
cesso de crescimento não é contí- o processo pode ser sustado, que
nuo nem homogêneo no espaço.
as desigualdades poderão ser cor-
Primeiramente, colocam-se as rigidas na medida em que se im-
contribuições de Myrdall, que for- plementem políticas de integração
mulou o mecanismo de causação nacional e/ou regional. Porém a
circular cumulativa que vai de necessidade crescente de recursos
encontro à tendência natural de para aplicação destas políticas ten-
um equilíbrio inerente ao sistema de a acentuar o princípio de cau-
social. Sua teoria nega o desapare- sação circular cumulativa. No ·:!aso
cimento dos desequilíbrios regio- específico dos países subdesenvol-
nais. "O sistema não se move vidos, Myrdall salienta que a es-
espontaneamente entre forças na cassez de recursos leva à não cana-
direção de um estado de equilíbrio, lização dos mesmos para as regiões
mas, constantemente, se afasta menos favorecidas.
dessa posição" (Myrdall, G. -
1965 - p. 34) . Myrdall admite Hirschman considera a análise
"efeitos regressivos" e "efeitos pro- de Myrdall bastante depressiva.
pulsores" que correspondem aos Chama atenção para o fato de
"efeitos de polarização" e "efeitos Myrdall deixar de reconhecer o
fluentes" de Hirschman. Os "efei- aparecimento dos pólos de desen-
tos regressivos" (backwash eftects) volvimento, bem como a inevitável
consistem na atração exercida por diferença de desenvolvimento entre
uma região sobre outra, atração de as regiões. Salienta, outrossim, que
fluxos de população e investimen- a preocupação de Myrdall "com o
tos, como para localização de ativi- processo de causação cumulativa
dades comerciais, estabelecimentos impede-o de ver a emergência das
de prestação de serviços, dentre forças patentes que promovena
outros. Os "efeitos propulsores" sempre um circuito, uma vez que
(spread effects), ao inverso, seriam o movimento da polarização Norte-
a propagação do centro de expan- Sul1, no âmbito de um país, pros-
são econômica para outras regiões, siga por algum tempo" (Hirsch-
vinculada ao processo de acumu- man, A. - 1961 - p. 281).
lação de causação circular, função Outros autores procuram expli-
da demanda para seus produtos. car o processo de urbanização
1 Para o autor, Norte é a região desenvolvida e Sul a menos desenvolVida.

489
concentrada, característica dos ou inexistência de uma rede urba-
países subdesenvolvidos, sob for- na de interdependência funcional
mulações teóricas diferentes. Teo- no espaço. Na realidade, grande
rias de urbanização e de dependên- parte das cidades desempenham
cia constituem temas de discussão apenas funções predominantemen-
entre planificadores latino-ameri- te político-administrativas, comer-
canos como resposta às visões cialização do excedente agrícola e
globais de dependência econômica, atendimento das necessidades mí-
desenvolvidas nos últimos vinte nimas da população, não tendo
anos. ainda o papel que lhes cabe como
Para CastelLs, o espaço latino- centros geradores de empregos e
americano é considerado como "a absorção dos fluxos migratórios,
articulação das formas espaciais "dado que a migração para as
derivadas dos diferentes tipos de cidades não responde a uma de-
dominação que marcaram a histó- manda de mão-de-obra, mas sim à
rica do continente" (Castells, M. busca de maior probabilidade de
- 1977 p. 61). A dependência polí- sobrevivência em um meio mais
tica e econômica da América diversificado, o processo não pode
Latina aparece como principal deixar de ser acumulativo e dese-
elemento explicativo do comporta- quilibrado" (Castells, M. - 1977
mento social, bem como do pro- - p. 58).
cesso de urbanização. Paul Singer, ao contestar Cas-
Tendo como ponto de partida tells para quem a "dependência" é
teórica "a hipótese de que a rela- o principal fator das distorções da
ção entre sociedade e espaço (ou urbanização da América Latina,
seja a urbanização) é função da afirma que a urbanização latino-
organização particular dos modos americana está correlacionada com
de produção que coexistem histo- o desenvolvimento das forças pro-
ricamente (com predomínio de um dutivas e de que "é preciso não
deles) em uma formação social assimilar os desníveis que se ori-
concreta, assim como da estrutu- ginam da superconcentração ur-
ração interna de cada um dos ditos bana aos que decorrem da concen-
modos de produção" (Castells, tração do capital" (Singer, P.
Mannuel - 1977 - p. 54), o pro- 1973 - p. 73).
cesso de urbanização da América Basicamente, discorda de se
Latina só pode ser entendido a par- "imputar ao imperialismo as con-
tir da especificação histórica e tradições do capitalismo em si".
regional do esquema geral de aná- "É preciso notar que a tendência
lise da urbanização dependente. à superconcentração urbana, en-
"A urbanização na América Latina tendida como concentração de
não é o reflexo de um processo de atividades e de população em uma
modernização, senão a expressão, ou poucas unidades, em detrimento
a nível das relações sócio-espaciais, do resto da rede urbana, acima
da acentuação das contradições das requisitos da tecnologia, ~uma
sociais inerentes a seu modo de contradição que o capitalismo
desenvolvimento, determinado por apresenta em países desenvolvidos
sua dependência específica dentro tanto quanto em países subdesen-
do sistema capitalista monopolis- volvidos" (Singer, P. - 1973 -
ta" (Castells, M.- 1977- p. 78). p. 74).
Para Castells, a urbanização Para ele, o fato de a industriali-
dependente provoca uma concen- zação com máxima economia de
tração nas aglomerações dominan- capital tender a se concentrar num
tes, em geral nas capitais políticas, reduzido número de pólos urbanos
e uma distância considerável entre não torna a rede urbana truncada
elas e o resto do país e a ruptura e inarticulada. Para Singer, o que

490
se dá é o crescimento de algumas concerne ao crescimento do setor
cidades e a decadência de outras, financeiro e de bens de produção.
e que a "decadência de partes in- Tratando-se de setores de localiza-
ternas da rede urbana resulta da ção eminentemente urbana, as
dinâmica do desenvolvimento capi- condições exigidas pelo modelo
talista das forças produtivas e nada adotado conduzem cada vez mais
tem a ver com uma desintegração à concentração urbana na medida
da economia nacional em virtude em que o retorno imediato aos lu-
da dependência do capital mono- cros encontra resposta no núcleo.
polista internacional" (Singer, P. Aceita-se, então, o conceito de que
- 1973- p. 76). a urbanização dos países subdesen-
Acredita-se que a história do volvidos é, de fato, dependente do
desenvolvimento econômico e so- processo de crescimento econômico
cial dos países subdesenvolvidos concentrado, fruto da própria di-
está ligada à diversos tipos e for- nâmica do sistema capitalista em
mas de dependência através das seu processo de acumulação de
quais se organizam suas socieda- .:::apitai.
des. Não se pode, em vista disso, A decadência da economia agro-
separar a estrutura social, e sua exportadora e a escassez de :incen-
projeção no espaço, da formação tivos ao setor agrícola têm provo-
histórica e econômica. cado expulsão da mão-de-obra no
O problema da dependência foi sentido rural-urbano, criando exce-
bastante explorado pelas formula- dentes de mão-de-obra que redu-
ções cepalinas sobre o subdesenvol- zem sistematicamente o custo de
vimento como etapa, colocam-no reprodução da força de trabalho
como parte simultânea do processo urbana. As forças produtivas con-
histórico de desenvolvimento. Den- centram-se nos grandes centros
tre as principais contribuições des- urbanos. Na maioria das cidades
sa corrente de pensadores, cita-se a carência de infra-estrutura eco-
Sunkel, para quem desenvolvimen- nômica e social e de mercado
to e subdesenvolvimento são estru- consumidor não atrai investimen-
turas distintas, porém interdepen- tos, não criando mercado de tra-
dentes e que a diferença entre balho local. A migração rural-
ambas é dada pela capacidade urbana é reforçada pela migração
endógena de crescimento das es- urbana-urbana. Fortifica-se a pri-
truturas desenvolvidas (dominan- mazia urbana, aumenta a defasa-
te) a qual se contrapõe o caráter gem entre o núcleo e os demais
induzido do crescimento subdesen- centros, reforçando o modelo de
volvido (dependente). Superar o crescimento urbano concentrado.
estado de dependência constitui-se, No processo de organização do
para Sunkel, no problema funda- espaço tem-se que considerar o
mental para o desenvolvimento de papel do Estado. O Estado, como
uma formação social subdesenvol- agente modelador de espaço, in-
vida (Sunkel, O. - 1971). tervem ·em sua organização através
Nesse ponto concorda-se com da redistribuição de recursos e
Sunkel, tendo em vista serem in- investimentos em infra-estrutura
dispensáveis mudanças estruturais econômica e social. Como mostra
para que o rompimento da depen- Milton Santos (Santos, M. - 1979)
dência ocorra na realidade. En- o Estado age tanto como elemento
quanto permanecerem as estrutu- de concentração quanto de disper-
ras econômicas, sociais e políticas são. A concentração é realimenta-
reinantes no continente latino- da pela concentração de infra-
americano, o processo de expansão estruturas, suporte das estruturas
capitalista continuará dependente monopolistas, enquanto a disper-
do exterior, especialmente no que são é favorecida pela implantação

491
de equipamentos soc1a1s e distri- o número de consumidores. As ci-
buição de benefícios. dades intermediárias não podem
Segundo Milton Santos, o Esta- criar atividades modernas em rela-
do, ao financiar os equipamentos ção à dimensão de seu mercado
coletivos, atua no processo de potencial, porque a atividade em
urbanização na medida em que questão já existe na metrópole, em
assume os custos associados à re- condições que tornam a competi-
produção da força de trabalho. No ção difícil senão impossível" (San-
entanto, estando a reprodução da tos, M. - 1979 - p. 262).
força de trabalho vinculada às exi- Concorda-se com Milton Santos
gências da reprodução do capital. em que a distribuição •2spacial das
assiste-se limitação do processo de atividades modernas e as relações
dispersão. diretas entre as cidades do sistema
Há constatações empíricas no com a metrópole resultam num
que concerne à concentração de desmantelamento da rede urbana
que a medida que o poder estatal em sua concepção tradicional. A
reforça sua infra-estrutura de tendência de concentração de ati-
transporte, as cidades de nível vidades nos espaços metropolitanos
inferior passam a se conectar dire- limita as possibilidades de desen-
tamente com a metrópole, que tem volvimento das cidades da peri-
sua hegemonia reforçada. Desse feria.
modo, as condições de acessibili- Chega-se, neste ponto de teori-
dade adquirem :maior importância zação sobre urbanização e desen-
superando as distâncias físicas. A volvimento, à concepção de que, na
melhoria das condições de acessi- realidade, a concentração das for-
bilidade aumenta a capacidade de ças produtivas gera um crescimen-
competição da grande aglomeração to urbano em grandes regiões
em detrimento dos centros urba- metropolitanas, conduzindo a des-
nos da periferia. níveis cada vez mais acentuados
Como Milton Santos observa, a da rede urbana. O distanciamento
baixa integração do sistema de econômico, social e cultural entre
transportes condiciona a posição o núcleo de concentração e o res-
de comando dos centros regionais tante da rede de cidades conduz
como polarizadores da produção e à analogia ao que Francisco de
distribuidores de bens e serviços. Oliveira admite ser o centro da
O aumento de ligações com a me- teorização sobre região, isto é, a
trópole assegura a distribuição tendência de homogeneização mo-
direta da produção industrial nela nopolista do espaço econômico
concentrada, transformando os num sistema capitalista de produ-
centros regionais em cidades inter- ção. Num sistema econômico de
mediárias, ocorrendo mudanças no base capitalista existe uma ten-
tipo de relações com a região cir- dência para a completa homoge-
cunvizinha. Graças à difusão da neização da reprodução do capital
rede de transporte, as cidades e de suas formas, sob a égide do
regionais tem suas áreas de influ- processo de concentração e centra-
ência restringidas, independente- lização do capital" (Oliveira, F. -
mente da importância de sua 1977 - p. 27).
população. "As cidades locais tem Pode-se, também, considerar que
possibilidades limitadas de criar se afastando do conceito de urba-
atividades modernas por causa do nização como fenômeno espontâ-
tamanho reduzido de seu mercado neo, vê-la, através do processo
e também por causa do caráter histórico, como conduzida pelas
monopolístico de certas atividades forças produtivas e formas de pro-
regionais de comércio cujo efeito dução. A tendência de concentra-
sobre os preços reduz ainda mais ção da produção permanece domi-

492
nante. Tem-se que considerar o de crescimento, tendem a um redi-
poder político das firmas sobre mensionamento do núcleo, bem
o espaço. A fluidez necessária para como permite o crescimento con-
que as firmas tenham lucros é ofe- centrado em centros regionais fa-
recida pelo núcleo, sendo crescente vorecidos por condições de acessi-
a tendência de concentração. As bilidade, sem que este crescimento
cidades da periferia, atreladas ao se propague pelas cidades hierar-
desenvolvimento de acumulação de quicamente a eles subordinados
capital, se constituem em suporte .segundo uma estrutura hierárqui-
ao consumo capitalista. ca articulada. Isto porque, não
Cidades da periferia podem apre- havendo mudanças de estrutura,
sentar índices de crescimento que, estes centros continuam cada vez
quando analisados isoladamente mais dependentes dos núcleos.
do núcleo dominante, podem ex- Estas colocações de ordem teó-
pressar transformações estruturais rica deverão ser constatadas ao
que conferem maior complexidade nível do empírico quando se fizer
ao espaço periférico. Estes índices a análise do sistema urbano do
não pressupõem em si indícios de Estado do Rio de .Janeiro. Para que
um processo de descentralização. isso seja feito deve-se lançar mão
Mudanças podem ocorrer acompa- de uma metodologia operacional
nhadas pelo fortalecimento das que dê conta dos propósitos e aten-
estruturas dominantes. Quando se da as considerações teóricas. Uma
inclui o núcleo no objeto em aná- opção deve ser feita ao nível ope-
lise, a aparente complexidade se racional.
dilui em face do extraordinário
poder concentrador do processo
produtivo. Dentro de um processo 4 - A OPÇÃO
"espontâneo", a tendência é a de OPERACIONAL
uma diferenciação funcional e so- SUA JUSTIFICATIVA
cial cada vez mais significativa CONCEITUAL
entre o centro e a periferia.
Desse modo, chega-se à concep- A opção pelo emprego da análise
ção de que num espaço fortemente fatorial num estudo que pretende
polarizado por uma região metro- dar conta da compreensão de um
politana, o distanciamento entre o sistema urbano, dentro de um con-
núcleo por ela representado e as texto em que o processo social é
cidades da periferia confere a estas analisado em dois momentos do
um posicionamento caracterizado tempo, merece uma explicação
pela homogeneização. quase que a nível de justificativa.
Acredita-se que o padrão espa- Os estudos das dimensões urba-
cial, resultante do processo de nas têm sido realizados segundo
crescimento econômico concentra- diferentes níveis de resolução. So-
do, dificilmente sofrerá mudanças bretudo nos Estados Unidos, tais
dentro do sistema econômico vi- estudos remontam à década de
gente, mesmo que políticas delibe- 1930, e seus resultados apresentam
radas de descentralização sejam diferenciações, fruto das variáveis
implantadas. consideradas e das abordagens con-
De fato, retomando-se as consi- ceituais estabelecidas. Selecionou-
derações de Myrdall, de que nos se estudos que tinham utilizado
países em desenvolvimento a falta análises multivariadas como mé-
de recursos acentua a concentra- todo operacional.
ção, chega-se à conclusão de Berry e Horton (Berry, B. e
que tentativas de descentralização, Horton, F. B. - 1970) mostram,
através da promoção de centros no capítulo "Dimensões Básicas do

493
Sistema Urbano", a extensão dos senvolvimento do estudo é o ãos
estudos urbanos que passaram a componentes principais em decor-
considerar variáveis de maior al- rência das vantagens apontadas
cance incluindo características so- pelo autor, quais sejam, a neces-
ciais dos habitantes, bem como ca- sidade de simplificar a multiplici-
racterísticas físicas da estrutura dade de variáveis do contexto ur-
urbana, partindo da concepção de bano, bem como a própria natu-
que apenas o estudo das funções reza multivariada do estudo de
urbanas leva em conta um número covariança das características eco-
limitado dos modos pelos quais as nômicas, sociais e demográficas
cidades variam. Chama atenção, das cidades.
outrossim, para o fato de que gru- Como resultado da técnica apli-
pos de variá veis podem apresentar cada por Ahmad, 10 componentes
alta correlação entre si, permitin- explicam 70% da variança de 102
do o dimensionamento da variação cidades, onde são consideradas 62
entre as cidades. Estudos desta variáveis. O autor compara estes
ordem só se tornam possíveis com resultados com os estudos das ci-
o desenvolvimento das técnicas de dades inglesas e americanas, veri-
processamento de dados, dos quais ficando que, enquanto no primeiro,
a análise multivariada tem na quatro componentes principais ex-
análise fatorial o tipo mais usado. plicam 60% da variança, no se-
Dentre os estudos citados por gundo, quatro fatores explicam
Berry e Horton, o das cidades bri- 63%. Outrossim, é ressaltado no
tânicas de Moser e Scott, bem como trabalho que, não obstante os dife-
o das cidades indianas de Ahmad, rentes estudos tenham levado em
apesar de não tere~ sido funda- conta diferentes variáveis, grosso
mentados em qualquer teoria ou modo, alguns tipos de fatores apa-
testes de hipóteses, são análises recem com maior freqüência: ta-
empíricas que, através da análise manho, conjunto de especializações
fatorial, permitem identificar as econômicas, mudança de popula-
dimensões básicas dos respectivos ção, densidade e algumas carac-
sistemas por eles considerados. terísticas sociais, tais como a
Tais resultados empíricos são apon- renda. Os 10 fatores supramencio-
tados como de grande relevância: nados são utilizados como base
de um lado, porque estudos dessa para classificar as cidades indianas
natureza constituem-se em valiosas em subconjuntos.
contribuições para o conhecimento
da estrutura de diferentes sistemas Outro trabalho importante é o
urbanos, como a partir de análises de Leslie King (King, L. 1970), so-
comparativas, chega-se a generali- bre o sistema urbano canadense,
zações sobre o significado dos sis- cuja metodologia operacional ado-
temas urbanos em diferentes tem- tada se assemelha a empregada no
pos e lugares. Por outro lado, ~ons­ presente estudo. A grande contri-
tituem-se em elementos básicos buição do trabalho de King é que,
para estudos futuros que associem a partir de um estudo de caso, pro-
a base teórica aos resultados em- cura, ao mesmo tempo, discutir os
píricos em determinada estrutura resultados empíricos das dimen-
urbana. sões do sistema urbano canadense
O objetivo do estudo de Ahmad é em dois tempos, 1951 e 1961 e fo-
dimensionar a variação do sistema calizar esses resultados segundo
urbano da índia, de modo a com- algumas formulações teóricas so-
preender as diferenças e similari- bre crescimento e desenvolvimento
dades existentes entre suas aglo- dos sistemas urbanos.
merações urbanas (Ahmad, A. - O modelo por ele apresentado,
1970). O modelo utilizado no de- sobre a dimensão do sistema ur-

494
bano e suas mudanças através do Friedman sobre crescimento eco-
tempo, é discutido segundo quatro nômico. Este estudo do Chile é con-
pontos distintos. Primeiramente, siderado pelo autor como impor-
enfoca o comportamento da dimen- tante contribuição aos estudos de
são urbana através do tempo, mos- dimensão urbana, senão também
trando a contradição existente nas oportunidade de aplicação de estra-
proposições de diferentes autores tégia de desenvolvimento através
como Hadden e Borgatha, e da definição de centros de cresci-
Ahmad, que em seus documentos mento num sistema espacial carac-
indicam uma estabilidade tempo- terizado por extrema centralização.
ral dos sistemas urbanos por eles Releva notar que a dimensão do
considerados, com conceitos rela- sistema urbano chileno é avaliada
tivos à dinâmica dos sistemas através de análises cumulativas,
urbanos. Chama atenção para o considerando tempos diferentes,
fato de que, não obstante teorias onde a análise fatorial é uma das
neste campo de pesquisa não este- técnicas utilizadas. Os resultados
jam ainda fortemente estrutura- obtidos constatam, ao nível do em-
das, existe um corpo de generali- pírico, estabilidade dimensional do
zações sobre a não estabilidade da sistema urbano.
maioria dos sistemas urbanos, Boudeville, ao apresentar estu-
observando, sobretudo, a tendência dos relativos ao processo de polari-
do processo de metropolização de zação (Boudeville, J. - 1972), cita
grande parte das sociedades mo- o trabalho sobre desenvolvimento
dernas. Por outro lado, enfatiza a urbano da região de Ontário, nos
dependência existente, na maioria
dos casos, entre as variações tem- U. S . A . , elaborado por Gerald
porais da dimensão urbana em um Hodge. Neste estudo o autor, atra-
sistema espacial e o processo de vés da análise fatorial (trinta e
desenvolvimento. duas variáveis e oitenta cidades),
Os três outros pontos discutidos procura determinar quais são as
por King estão vinculados à téc- dimensões estruturais comuns a
nica da análise fatorial por ele uti- todas as aglomerações da região
lizada para o estudo de 106 cidades considerada, tendo em vista orien-
canadenses. Dois pontos dizem tar uma política de crescimento. Os
respeito ao fato de que a dimensão centros urbanos são considerados a
urbana de um sistema pode acusar chave do processo de polarização,
certa estabilidade através do tem- sendo que os investimentos públi-
po, muito embora os scores indi- cos devem ser orientados em fun-
viduais das cidades variem, bem ção da estrutura das cidades.
como os loadings das variáveis Para o autor, desenvolvimento
consideradas. Finalmente, o quarto urbano previamente definido de-
aspecto do modelo é que no plano pende de fatores, em número limi-
ortogonal o posicionamento dos tado, cujos componentes forneçam
centros urbanos pode definir gru-
pos de cidades no espaço dimensio- meios de ação facilmente utilizá-
nal e que havendo transformações veis. Hodge aplica dois testes de
nas bases deste espaço, através do análise de regressão múltipla, com
tempo, estes grupamentos também a finalidade de saber em que me-
se modificam. dida a situação observada reflete
Brian Berry (Berry, B. - 1970) o desempenho das diversas cidades,
focaliza as dimensões do sistema relativo a seu crescimento ou de-
urbano e suas relações como o de- clínio, medidos em função das
senvolvimento regional através de variáveis escolhidas. No primeiro
um estudo de caso, o Chile, funda- faz associação entre três variáveis
mentando-se na teoria de John de crescimento e os sete fatores en-

495
contrados na análise fatorial. Este nal, nível de urbanização, status
teste permite ao autor determinar econômico-social, infra-estrutura
se uma das três variáveis de cresci- social e especialização funcio-
mento está associada a um fator nal. Dentres estes destacam-se
particular, e qual o nível da asso- os trabalhos de Faissol (Fai.ssol,
ciação. No segundo teste associa a S. 1971, 1972 e 1973) que,
variável de renda familiar média apoiados em métodos multiva-
com os sete fatores independentes. riados supramencionados, buscam
Segundo Boudeville, o método per- uma interpretação do sistema
mite estabelecer fatores que fazem urbano brasileiro e suas rela-
de determinadas cidades pólos de ções com o processo de desenvolvi-
crescimento e de outras, centros de mento econômico, através do "mo-
problemas a resolver, sem, no en- delo centro-periferia". Constituem
tanto, chegar a definir a conve- uma série de tentativas onde va-
niência ou não de intervir no riam o número de unidades de
processo. observação (50, 99, 209, e 644 cida-
Estudos de cross-section com des) e as variáveis estudadas (30,
aplicação de análise fatorial são 29, 59 e 30, respectivamente).
realizados também para estrutura Segundo o autor, o sentido deste
interna das cidades. É o caso do processo de pesquisa "é a procura
estudo de Haynes (Haynes, K. E. de significado e de relações no sis-
- 1971) que tem como objetivo tema urbano, partindo de séries de
mostrar mudanças espaciais na cidades, representando unidades
estrutura urbana da cidade de observacionais, modificadas em nú-
Montreal, através de uma c.ross- mero e em tipos de agregações
validate para dois tempos, 1961 e (com ou sem núcleos periféricos de
1971. Considerando os mesmos atri- natureza metropolitana ou quase
butos e as mesmas unidades de metropolitana); de outro lado, as
área para os dois tempos, o autor análises têm constituído tentativas
procura constatar mudanças na de identificar variáveis relevantes
composição dos fatores e na confi- à definição do processo de desen-
guração espacial dos atributos que volvimento, significado e relacões
produzem os factor-scores. Os ao mesmo tempo; por isso mesmo,
resultados obtidos constatam uma cada análise representa uma nova
não variação temporal na consis- visão do sistema, às vezes, por mo-
tência interna dos fatores, como dificação nas colunas da matriz
estabilidade na distribuição espa- que o representa (tentativa de de-
cial destes fatores através do finir o processo por inter-relações
tempo. A validade da técnica é entre variáveis), às vezes, por modi-
constatada pelos resultados esta- ficação nas linhas da matriz, para
tísticos que coincidem com estu- se poder observar se o processo de-
dos empíricos anteriormente rea- finido pelas diferentes associações
lizados. de variáveis tem validade em vá-
Análise das dimensões básicas do rios níveis de resolução do sistema;
sistema urbano brasileiro têm se dizer isto seria definir o sistema
restringido a um número rela- por conjuntos de cidades diferen-
tivamente reduzido de estudos e tes, segundo critérios específicos, é
pesquisas. claro, mas sempre com o propósito
Estudos realizados a nível na- de iàentificar os traços relevantes
cional e/ou regional, pelo IBGE, do processo e as marcas que ele
tem identificado, através da téc- deixa na estrutura urbana do
nica de análise fatorial, fatores que País" (Faissol, S. - 1972 - p. 19).
permitem diferenciar o sistema ur- A nível regional, outros estu-
bano quanto ao tamanho funcio- dos foram realizados pelo IBGE

496
(IBGE, Geografia do Brasil - ção do mundo real onde o tamanho
1977). Trata-se de análises do de um centro urbano não está vin-
sistema urbano de cada uma das culado a uma estrutura interna
cinco regiões brasileiras que, em- proporcional e padronizada. Um
pregando a análise fatorial, che- centro urbano pode aumentar ou
gam a uma interpretação das di- diminuir de tamanho sem alterar
mensões básicas de seus respectivos sua estrutura funcional, assim
sistemas de cidades. Especialmente como um centro estacionário, em
no caso das Regiões Sudeste, Nor- seu tamanho, pode apresentar mu-
deste e Sul estes estudos encon- danças estruturais. Outra justifi-
tram seus fundamentos teóricos no cativa para análise fatorial, talvez
"modelo centro-periferia", a partir a mais importante, é que ela pos-
do qual procuram definir a estru- sibilita uma avaliação estrutural
tura espacial de seus sistemas. das unidades de observação através
Tentativas de comparação entre da composição dos fatores, isto é,
dois momentos do tempo aparece como as variáveis se comportam
no estudo que considera as Areas dentro de cada fator. ·
Metropolitanas de Belo Horizonte, Em essência, a análise fatorial
Curitiba e Porto Alegre (Almeida, tem como objetivo principal re-
E. M. e Lima, O. M. B. - 1971). O duzir um número elevado de variá-
objetivo deste estudo consiste na veis a um número menor de fato-
constatação de transformações no res que, por sua vez, se constituem
decorrer da década de 1950/60. A nas dimensões básicas do sistema
técnica utilizada é a análise fato- considerado. É através do compor-
rial que, feita para os dois perío- tamento dos fatores, segundo sua
dos selecionados, leva em conside- estrutura de relações, que se pre-
deração as mesmas unidades de tende constatar a existência ou não
observação e a.s mesmas variáveis. de variações do sistema urbano flu-
Assim, a análise fatorial tem sido minense no período de 20 anos. Por
bastante utilizada em estudos ur- outro lado, a adequação das aná-
banos, em diferentes escalas, tanto lises estatísticas multivariadas aos
em análises intra-urbanas como sistemas espaciais advêm da com-
naqueles que consideram as cida- binação entre as unidades de obser-
des como unidades de observação vação e os diferentes atributos
dentro de um sistema quer nacio- destas unidades. Por isto, a técnica
nal auer estadual ou regional. O de análise fatorial tem-se des-
periódico Economic Geography, vo- tinado à definição de estruturas
lume 47, n. 0 2 (suplement) June sócio-econômicas em suas dimen-
1971, publicou uma lista de cerca sões espaciais.
de 352 estudos que utilizam vários Problemas conceituais básicos e
modelos de análises fatorial e suas implicações teóricas da utilização
técnicas complementares. da técnica de análise fatorial têm
sido amplamente discutidos por di-
A escolha da análise fatorial ferentes autores. Com o propósito
como técnica decorre não só da "de mostrar como quantificar para
necessidade de simplificar a multi- melhor qualificar", Racine (Raci-
plicidade de variáveis do contexto ne, J.B., 1971) defende a utilização
urbano senão também da própria de técnicas de análise multiva-
natureza multivariada do estudo riada. Estas, partindo de correla-
de covariação das características ções entre pares de variáveis de
econômicas, sociais e demográficas vários pontos de observação, per-
das cidades. Ela resulta da hipótese mitem ligações múltiplas e diferen-
indutiva de uma não dependência ciais, bem como associações espa-
preditiva entre as variáveis consi- ciais que não são perceptíveis
deradas. Isto prende-se à constata- através da observação empírica.

497
Apoiando-se nas idéias de A. Sauvy, nece bastante discutível, mas, como
de que a quantificação excita a o próprio Rees chama atenção,
imaginação criativa, provocando a modelos operacionais têm sido
pesquisa qualitativa que, por sua criados e testados na tentativa de
vez, conduz à elaboração de um explicar e não apenas descrever.
sistema conceitual explicativo dos Por outro lado, existe um consenso
fatos observados, o autor leva-nos entre os autores que tem empre-
a adoção do uso de técnicas estatís- gado a análise fatorial, em seus
tico-matemáticas para constata- estudos sobre estrutura dos siste-
ção de fatos, cujo prosseguimento mas urbanos, de que existe uma
implica uma investigação quali- estreita vinculação entre tamanho
tativa para confirmação ou não dos da cidade, seu status sócio-econô-
resultados obtidos. mico, bem como status familiar de
Como enfatiza Faissol, "o pro- suas populações, o que se constitui
blema da explicação está fora do em mais uma justificativa na apli-
contexto da análise fatorial. Ela cação da técnica na presente
estrutura os dados, organiza os pa- pesquisa.
drões específicos determinados pe- A opção quanto ao método ope-
las relações entre os mesmos e racional leva também a opções
estes padrões podem iluminar a quanto a utilização dos resultados
explicação que procuramos. Mais a serem obtidos. Parte-se do princí-
facilmente ainda, quando suces- pio de que a técnica não deve ser
sivas análises transversais e em considerada no seu aspecto formal
diferentes níveis de generalização, e seguida rigidamente sem opções
e longitudinais em diferentes mo- de interpretação. Utilizar-se-á os
mentos do tempo, venham a mos- resultados que possam atender aos
trar seqüências repetitivas de pa- propósitos do trabalho. Uma opção
drões construídos de variáveis que, radical, diametralmente oposta
ao mesmo tempo, definam dimen- em: ou adotar a análise fatorial,
sões básicas e de outras que esta- utilizando todos os passos de seus
beleçam relações de natureza es- resultados até a análise dos scores,
trutural " (Faissol, S. - 1972 sem opções seletivas quanto aos re-
p. 37). sultados; ou não utilizá-la poraue
Porém, a análise fatorial pode pode não dar conta da explicaÇão
fornecer explicação, como o autor dos problemas sociais ocorridos em
afirma mais adiante, na medida um determinado sistema, não pa-
em que sejam utilizadas variáveis rece uma postura científica. Opta-
de conteúdo explicativo e que estas se por uma posição intermediária,
confirmem as hipóteses lançadas. sem os formalismos do método pelo
Além disso, cabe ressaltar que, em- método, e sem uma postura, tam-
bora a análise fatorial não seja um bém a nosso ver, radical contra o
procedimento de teste de hinótese e método. Reafirma-se que se utiliza
sim uma dimensão descritiva, os a análise fatorial como uma téc-
factors scores podem ser usados ou nica, sobretudo multivariada, na-
como hipótese de influências cau- quilo que possa atender aos obje-
sais ou como efeito cujas causas tivos do estudo. E entre esses,
devem ser investigadas. Comu-· mostrar que, para intervenções em
mente, a análise fatorial tem sido uma política de planejamento, di-
justificada como uma geração de mensionar e classificar podem
técnicas de hipóteses na ausência constituir elementos fundamentais
de um forte corpo de teoria (Rees, para mudanças estruturais.
P. H. 1971). A opção quanto à técnica a ser
Em verdade, a inferência meto- utilizada leva, como decorrência
dológica da análise fatorial perma- metodológica, a outros conceitos e

498
opções operacionais, que são tra- estas duas cidades acham-se inter-
tados a seguir. ligadas em decorrência do processo
de desenvolvimento econômico. A
a) Unidades de Observação: função industrial é a responsável
por esta conurbação.
Na definição das unidades de
observação a existência de proble- 2 - Macaé e Conceição de Ma-
mas de ordem prática obriga à de- cabu: porque em 1950 Conceição de
cisões arbitrárias. A dificuldade de Macabu era distrito de Macaé. Com
obtenção de dados estritamente esta agregação, Macaé tem seus va-
relativos às cidades do sistema lores pouco elevados em 1970, tendo
através de levantamentos estatís- em vista que Conceição de Macabu
ticos indiretos, leva a considerar é um centro pequeno que vive na
dados, espacial e setorialmente, dependência direta de Macaé, que
agregados. Os dados utilizados re- se constitui no pólo regional.
ferem-se aos municípios. Este real-
mente é um obstáculo empírico, 3 - Itaperuna e Laje do Mu-
não conceitual, e sim operacional. riaé: Laje do Muriaé, em 1950,
A natureza dos dados, entretanto, também era distrito de Itaperuna.
por via de regra de localização Seu fraco desenvolvimento econô-
urbana, permite, não obstante mico não trouxe, praticamente,
margem de erro, que os resultados transformações no período dos
obtidos não se afastem muito da vinte anos considerados.
realidade observada. 4 - Barra do Piraí e Mendes:
O conhecimento empírico sobre em 1950 Mendes pertencia ao mu-
o território fluminense possibilita nicípio de Barra do Piraí. O pe-
constatar que, com exceção de queno crescimento urbano de Men-
algumas sedes distritais, a maioria des, aliado a sua inexpressividade
constitui-se em centros elementa- econômica, também não afeta so-
res, não equipados, intimamente bremodo a análise proposta.
ligados às atividades rurais. Ade-
mais, a bibliografia referente aos 5 - Vassouras, Engenheiro Pau-
estudos urbanos brasileiros revela lo de Frontin, Miguel Pereira e par-
que seus autores também adotam te de Paracambi. Engenheiro Paulo
como unidades de observação os de Frontin e Miguel Pereira foram
municípios, o que incentiva a ado- desmembrados de Vassouras. Tra-
ção desta decisão. ta-se de municípios também
O número de unidades de obser- de pequena representatividade na
vação tem como base a malha mu- vida econômica e urbana do estado,
nicipal de 1950, porque de 1950 enquadrando-se nas justificativas
para 1970 verificam-se alterações anteriores. No entanto, depara-se
nos limites administrativos de al- com o problema de Paracambi que
guns municípios. As justificativas foi constituído pela junção dos dis-
apóiam-se nas formulações estatís- tritos de Tairetá, que pertencia a
ticas de que a agregação das infor- Vassouras, e de Paracambi, que
mações é mais consistente do que a pertencia a Itaguaí. As variáveis,
desagregação das mesmas. para 1970, são calculadas obede-
cendo aos seguinte critérios:
As alterações são as seguintes: - no caso das variáveis relati-
1 - Barra Mansa e Volta Re- vas à população, atividades comer-
donda: analisadas iuntas não só ciais e de serviços, agrega-se 1/3
porque, em 1950, Volta Redonda dos valores de Paracambi aos de
era um distrito de Barra Mansa, Vassouras e 2/3 aos de Itaguaí.
senão também porque atualmente Percentual este baseado na propor-

499
ção da área e da população entre Estado do Rio de Janeiro, de 1953,
os distritos de Tairetá e Paracambi, bem como dados contidos nas
em 1960; Informações Básicas, IBGE, 1973.
- no caso das variáveis relati- No caso particular deste traba-
lho, teve-se que selecionar as mes-
vas à atividade industrial, como mas variáveis para dois tempos,
esta atividade no município de bem como para as mesmas unida-
Paracambi localiza-se em terras des de área. Desse modo, deparou-
antes pertencentes a Itaguaí, seus se com várias dificuldades. Muitas
valores são agregados a este variáveis possíveis de serem obti-
município. das para períodos mais recentes
Desse modo, em vez de 64 uni- não são disponíveis para 1950.
dades de observação, trabalha-se Outra dificuldade decorre do pró-
com 57. O mapa 1 indica a loca- prio método adotado que pres-
lização das cidades do estado. supõe uma linearidade entre os
dados, com variáveis representati-
b) Definição das Variáveis: vas de 75% do universo observado.
Tal premissa é exigida pelo método
A escolha das variáveis é de fun- analítico para que a média não
damental importância, tendo em seja distorcida e o desvio-padrão
vista que a relevância dos resulta- fortemente elevado. Deixa-se com
dos depende da consistência dos isto de se considerar variáveis que
valores básicos utilizados como seriam fundamentais para uma
inputs da análise. avaliação mais adequada do siste.
Como é do consenso geral, um ma urbano.
dos maiores obstáculos ao desen- Na seleção das variáveis tem-se
volvimento de uma pesquisa é o que levar em consideração o que
da natureza dos dados, pela defi- elas podem representar quanto aos
ciência dos sistemas de informa- conceitos da cidade no seu tama-
ções, sobretudo no que diz respeito nho, nas suas funções e no seu
às séries estatísticas. Ao lado da posicionamento no sistema. Simul-
necessidade de confiabelidade nas taneamente, devem expressar, num
fontes de informações, existe o pro- determinado momento do tempo,
blema da adequação dos dados às isto é, nos marcos 1950 e 1970, o
hipóteses explicativas, fundamen- estágio em que elas estão no pro-
tadas nos modelos teóricos propos- cesso. Com isso espera-se conseguir
tos. Muitas vezes, a disponibilidade que a combinação de determinadas
de dados condiciona a seleção das variáveis altamente correlaciona-
variáveis. das possam representar processo de
A utilizacão de dados secundá- metropolização; cidades em posi-
rios disponíveis limita, sobremodo, ção periférica ao processo de cres-
a interpretação da realidade trata- cimento econômico; a especializa-
da. No entànto, ante ao impasse ção que nem sempre significa im-
de não se concretizar o estudo por portância quantitativa do setor de
falta de informações mais próxi- atividade econômica, mas sim
mas do real-concreto ou de se ela- como a cidade se caracteriza quan-
borar um estudo baseado em esta- to ao seu aspecto estrutural na
tísticas oficiais, mas com sen- atividade econômica. As variáveis
tido crítico, opta-se pela segunda deverão representar os três setores
posição. da economia urbana: o industrial,
Os dados utilizados são extraídos o comercial e o de servicos. Entre-
dos censos demográficos e econô- tanto, todos estes conceitos são
micos do IBGE para 1950 e 1970; limitados à disponibilidade das in-
do Anuário Estatístico do antigo formações como já foi mencionado
Departamento de Estatística do anteriormente.

500
ESTADO DO RI O DE JANEIRO
DIVISÃO MUNICIPAL E LOCALIZAÇÃO DAS CIDADES

Sto.
I
:são Fidé!ise
"ellaocar~

\ ,..r/'~
\ (\,/'v ,[
/ \ _}"\1/
/ • t!.. ..t.'~osÃ~f;'i1l,.<J-.l ,_'t_ ........."__ }
f ..--:.' CantoQalo I • N 1
OSopucaic ,......_, / ', e ..... --~ )" oSto. Mario 1
) '""1' Duas , ...... / '-. l' Madalena (
(.
... .,......,
t'v
J e I'
f Borras •
'<',cordeirot,.J "' "\ ..J..,
' • t e ----, ,"\/v\
.;-...,
\ ,..-7 ....... ./
I

•./""
~ , \,~~
Três Rios
/'
••) -l --:.,"'/,..r:ftSumldour~
1
, c.."\.-(""
)'-·v·~.... -J,Trojonode Moraes 'f
. (' ,...,"
i!"\_.,..-'-',....
Conce1cOo de Macabu 1
/
Pora1ba
1
, ,-yr ( t"' rv "BomJord1m' ,.-"" --, /'\ t
ç' / t
~ /
do Sul f .J ... ' e \.. J I I' ' I
, - f r-' ./ \ r' 1,, ) _,-- './
f '-~'?">- l /7 \ (-.r'-' ( r No" F':'"''' ', __ __t__/ \,]
/ /~.,--J ',
,---Y ~)
t.,._ t.,.,/',, eVasso~rcs \ \:'/
1)
\
freresópolls
1 -.
,....../ ·\.,.-.. ••/"' }
',l ,
' -,_; • r- / ("''"do"·"'• f\ . . . _ ........ ,(--•-,
• c...-"' X -J I o
,)., l"\-- 1
,.- Gachoe1rOs !.._, __ ... ---- _.,-.(
1 ..._....,.,J\\J,.,. - 1(', ...Mocaoe
.., ...
Resende ~1 1
( ,,_ 1 "\Eng Paulo), M1guel Pereira A.._ l de Macacu o / (. --
• ,@voJfo Redond:i"' M';-;8,~/~"t\/ I , '-~ /
._I .....

J )pot,9p6;;: l / \1
~ r-"".>.!:':::_ Man.a '-f 'v ~"_1//J-- ) l ~'X'-"•
f r~ ../Ir'lr P"ai 0 r~~Yocomb•
I '...{-' ) 1
_. ,jl. '\ /
\_ 1 )
">
L f
)
oM ,
(
\- ... - - ,
I r
.,....,, .... \Silva Jardim ,_.
_/ I
\
V'\'J "•
1
.,.-' •RroCI"o''\r) ?' \ \r,o"'"'\,, 'I'/ \'(/RioBonlto\ e f ,}.,
( {S l, Nova l>;~u~u ,....-J.C~xlas. . ,"" eltaboraÍ~ • '" ... -y~-·/ /' \
.( •.x·J·
;<..J / }"'"... ltaguaí
• 1
.... -li/!>:"""- -
erlll eS(Io 1 (
1 ...... '1 ;S(Io Pedr~\
I \

/_.-'\..r-- 'J /'-"~''-..{ .., ,.~~_,:.. .f -- Nolópar;, \_-.r'''~,- A~~a\


J Gonçalo'"

~"'-.. ';~J.... D!...._~rem~~


__ 1
•,..--I.._IAwoa.J, do 1

,-- .-<. -, ~ l ... \.!Mongoratiba


lf ,_....-(;?- · 'c. ""'
~gR~is\ ~-•
Nltero, /" eManca
I/ "1
.~ :......J"""'\ \
Gl (...- I ,
--.c.::...;._

I
I
/
( Parati

',, tO O tO 20 km
Após pesquisa nas diferentes agências bancárias mumc1pais no
fontes de material empírico, opta-se total do estado (variável 6); parti-
por variáveis que podem expressar cipação no consumo de energia do
o tamanho econômico ou funcional município no consumo total do
das cidades. A primeira variável, estado (variável 7). As de quo-
que expressa tamanho e o posicio- ciente locacional 2 são: quociente
namento das cidades no sistema, locacional dos estabelecimentos co-
é a população urbana da cidade em merciais atacadistas (variável 8);
relação à população urbana total quociente locacional das atividades
do estado (variável n. 0 1). Esta va- industriais (variável 9) quociente
riável teoricamente deveria repre- locacional das atividades terciárias
sentar a massa de consumo numa (variável 10).
postura isotrópica. :É evidente que A primeira vista poderiam pare-
a demanda está relacionada com o cer desnecessárias tantas variáveis
perfil de renda da população, o que de dimensão econômica, pois é evi-
não é possível detectar com a pri- dente que dão altas correlações,
meira variável. Poderia-se obter por causa da cidade do Rio de Ja-
dados de renda para 1970, mas a neiro e sua região metropolitana,
não disponibilidade dos mesmos em decorrência das economias de
para 1950 não permite utilizá-los aglomeração. Entretanto, está-se
na análise. lidando com um sistema de cidades
Dentro do mesmo enfoque são que ocupa espaços de desenvolvi-
definidas variáveis que expressam mento desigual. Nestes espaços po-
o tamanho de cada atividade eco- derão não ocorrer economias de
nômica no sistema, cada uma com aglomeração. Cabe destacar, ainda,
diferentes participações. Estas va- que o estudo leva em consideração
riáveis podem transformar-se nu- três níveis espaciais de análise.
ma variável composta, isto é, um Na avaliação do grau de urbani-
fator que expresse a concentração zação através do crescimento de-
econômica de cada centro. Refe- mográfico, as variáveis alterna-
rem-se a variáveis de participação tivas selecionadas são a taxa mé-
e a quocientes locacionais. As de dia anual de crescimento da popu-
participação são: participação do lação urbana (variável 2) e a par-
valor da produção industrial do ticipação da população urbana na
município no total do estado (va- população total do município (va-
riável 3); participação da receita riável 11). Para esta avaliação con-
comercial do município no total do sidera-se, também, participação
estado (variável 4); participação dos domicílios com água encanada
da receita dos serviços do muni- no total de domicílios do município
cípio no total do estado (variável (variável 25); participação dos do-
5); participação do número de micílios com iluminação elétrica
2 O quociente locac!onal consiste na relação entre a participação de um setor de atividade
do município e a participação desta unidade no total do estado. Se o valor do quociente for
maior do que 1 significa que o município é mais Importante, naquele setor, dentro do contexto
estadual. Assim, foram calculados os coeficientes para o número de estabelecimentos comerciais
atacadistas, por ser esta a única variável disponível para este tipo de comércio. No que concerne
às atividades industriais e terciárias, o dado utilizado foi a população economicamente ativa.
Não se levou em consideração os dados de pessoal ocupado porque não correspondem ao universo
das atividades existentes, dada a não abrangência dos Censos Econômicos.
xi xj
QL = - - -;- - - onde,
yi yj
xi = setor "n" de atividade do município i
yi = total de atividades do município i
xj = setor "n" de atividade do estado
yj = total de atividades do estado.

502
no total dos domicílios do muni- riá vel 23) e ônibus por 1. 000 hab.
cípio (variável 26). (variável 24) para expressar a es-
As variáveis estruturais de ca- trutura econômica.
racterísticas funcionais, econômi- Estas variáveis podem também
cas e sociais são calculadas em re- definir o tamanho da cidade, isola-
lação ao universo do município. damente.
Quanto à estrutura funcional, utili- A estrutura social, que também
za-se como dado bruto o pessoal pode ser conceituada como nível
ocupado por setor de atividade eco- econômico da população, é dada
nômica: participação do pessoal por: médicos por 1.000 hab. (va-
ocupado na indústria na população riável 21); profissionais liberais 3
total do município de 15 anos e por 1. 000 hab. (variável 22); par-
mais (variável 13); participação do ticipação de matrículas do ensino
pessoal ocupado no comércio na primário na população municipal
população total do município de 15 de 5 a 14 anos (variável 27) ; par-
anos e mais (variável 14); partici- ticipação da população com curso
pação do pessoal ocupado nos servi- médio completo na população mu-
ços na população total do municí- nicipal de 15 anos e mais (variável
pio de 15 anos e mais (variável15). 28); participação da população
Ao nível do conhecimento da rea- com curso superior completo na
lidade brasileira, sabe-se que os população municipal de 25 anos e
centros de pequeno porte não têm mais (variável 29). Igualmente são
importância quanto ao setor ter- considerados para definição do ní-
ciário, porque são pequenas locali- vel sócio-econômico automóveis por
dades de baixa centralidade, bem 1. 000 hab. (variável18); telefones
como não têm importância quanto por 1. 000 hab. (variável 19) e lei-
ao setor secundário. Estes centros tos hospitalares por 1 . 000 hab.
encontram na administração pú- (variável 20) .
blica sua absorção de mão-de-obra. As variáveis selecionadas, num
Por outro lado, está-se lidando com total de vinte e nove, são calcula-
duas sedes administrativas (1970) das para os dois momentos de
de nível estadual: R,io de Janeiro e tempo: 1950 e 1970, respeitando as
Niterói. Em vista disto, quer-se mesmas unidades de observacão. A
avaliar a importância do setor relação completa das variáveis se-
administração pública nos centros gue em anexo n. 0 1.
urbanos, daí ter-se considerado a
variável 12, que é a participação c) As análises elaboradas
da população economicamente ati-
va na administração pública na A técnica aplicada é a de análise
população ativa total de 10 anos e fatorial. Como é de conhecimento
mais do município. amplo e generalizado, a análise fa-
A estrutura econômica é detec- torial se constitui num procedi-
tada sobretudo pelas variáveis rela- mento estatístico-matemático aue,
tivas à receita do setor comercial através do processamento de dados,
e de serviços relacionadas com a pode realizar a comparação e cor-
população. Assim, tem-se: a receita relação de grande número de atri-
per capita do comércio varejista butos (variáveis) e de lugares
(variável 16) e a receita per capita (centros urbanos). "Através da
dos serviços (variável 17). Conside- factorização de uma matriz de cor-
ra-se, outrossim, as variáveis veí- relações ela identifica os aspectos
culos de carga por 1. 000 hab. (va- da área que são altamente correia-

a Como profissionais liberais consideram-se: dentistas, farmacêuticos, engenheiros, agrônomos


e veterinários.

503
cionados entre si; e os agrupamen- neiro e sua regmo metropolitana,
tos formando um fator ou compo- sobre as demais cidades do sistema.
nente principal que constitui uma Estas distorções são verificáveis
linha de variação espacial indepen- através de estatísticas descritivas
dente dos outros e, portanto, por que, para 1950 e 1970, encontram
definição, não correlacionado com na técnica da análise fatorial um
os outros fatores que formam ou- dos meios de constatação. Para os
tras linhas de variação. Em cada demais marcos de tempo recorre-se
fator ou componente principal, a outras informações, à guisa de
também denominado dimensão bá- complementação.
sica de variação, haverá um valor Nesta constatação do processo
(factor-score) para cada um dos de crescimento concentrado duas
lugares considerados na análise. questões se colocam. De um lado,
São estes valores que dimensionam o porquê da concentração e sua
os lugares em todos os fatores persistência no tempo, contrarian-
identificados. Cada lugar (cidades) do os modelos de desenvolvimento
terá tantos valores quantos forem com tendência ao equilíbrio espa-
os fatores ou dimensões básicas cial. De outro, até que ponto a
extraídas da análise fatorial (Gal- concentração espacial e sua persis-
vão, M. V. e Faissol, Speridião - tência temporal inibe o cresci-
1970 - p. 10). mento dos demais centros urbanos
São elaboradas seis análises, três do estado, impedindo-os de atuar
para cada um dos dois momentos como pólos secundários, como as
do tempo estabelecidos. Duas aná- teorias de desenvolvimento espa-
lises (1950 e 1970) compreendem cial equilibrado preconizam.
todas as unidades de observação, A estas duas questões vinculam-
isto é, o sistema urbano constituído se duas assertivas. A primeira de
por 57 cidades. Duas (1950 e 1970) que a concentração deve-se a inte-
excluem a cidade do Rio de Ja- resses do capital e do estado, que
neiro, com um sistema de 56 cida- atuam, muitas vezes, de modo con-
des. As outras duas levam em traditório na estrutura espacial. A
conta as cidades do estado sem a segunda, de que, a par da concen-
região metropolitana, num total de tração, pode-se constatar diferen-
50 unidades de observação. ciações entre os demais centros
O programa utilizado é o PRO- urbanos quanto à estrutura, tama-
GRAMA FCTR1 do Statistical nho e grau de urbanização. Dife-
System, desenvolvido pela IBM renciação esta explicada por forças
para uso no computador IBM.-1130. espontâneas ou dirigidas de des-
A parte de processamento dos da- centralização a partir da cidade do
dos é de responsabilidade do esta- Rio de Janeiro ou por políticas de-
tístico Henrique Gurvitz. liberadas pelo poder de decisão
meta-estadual.
5 - DISTORÇõES NO 5. 1 - O Sistema Urbano entre
SISTEMA URBANO 1950-1970
VISTAS NO TEMPO
A análise comparativa entre os
Retomando-se as proposições bá- fatores extraídos das três análises
sicas deste estudo, a problemática para os dois anos já referidos per-
central formulada consiste na mite detectar algumas variações
constatação de que o crescimento ocorridas no sistema de cidades, em
cumulativo metropolitano gera dis- seu conjunto.
torções na estrutura urbana, com Quando se observa o quadro 1,
hegemonia da cidade do Rio de J a- correspondente à primeira aná-

504
lise, 4 ou seja, a análise fatorial que QUADRO 2
considera o total de 57 cidades do
sistema do Estado do Rio de Ja- Análise Fatorial com 56 cidades do
neiro para 1950 e 1970, verifica-se Sistema Urbano do Estado do
que, para 1950, apenas quatro fa- Rio de Janeiro (sem a cidade
tores são extraídos, contendo o pri- do Rio de Janeiro)
meiro fator 53,88% da variação
total. Já na análise para 1970 são 1950 1970

extraídos seis fatores, concentran- %de ex· I%planação


de ex-
Fatores Fatores
do o primeiro fator 47,94%. Ao ní- I pie nação
vel da constatação empírica pode-
1. .. ... . . . . . . . . . . . . 53.41 1.. 44,58
se supor a ocorrência de mudanças 11.. 10,94 11 ... 11.96
no transcurso de vinte anos sob 111 ... ············ 6,28 111 ... 10.28
IV ... 5,02 IV ... 5,26
investigação, pois em uma análise V. 4,15 V.... 4,19
VI .. 3,90
fatorial um maior número de fa- VIl 3.47
tores significa existência de estru- Exolanação Total: 79.80 Explanação Total: 83.64
turas mais variadas, se bem que os
dois primeiros fatores das duas
análises concentrem grande per-
centagem de explanação, respecti- QUADRO 3
vamente, 68,31% (1950) e 61,85%
(1970), de um total de explicação Análise Fatorial com 50 cidades do
da ordem de 82,11% (1950) e Sistema Urbano do Estado do
84,36% (1970). Rio de Janeiro (sem a Região
Os dois primeiros fatores de cada Metropolitana)
análise são definidos por variáveis
1950 1970
de nível sócio-econômico, grau de
urbanização e tamanho funcional, Fatores
%de ex- Fatores I%p!anaç5o
de ex-
concentrando os atributos que di- I pia nação
ferenciam os elementos do sistema I. . . . . --. . . 49.09 1..... 47.70
urbano. Cabe destacar que para 11. ...........
111
9.10
8,12
11. ••.
111 ..
9,21
7,80
definição dos fatores não se esta- IV ... 5,98 IV .... 4.91
V....... 4,05 v 4,19
belece um corte de valor quantita- VI ... 3,69 VI.. 3,99
VIl.. 3,46 VIl. ......... 3.40
Explanação Total: 83,49 Explanação Total 81,20
QUADRO 1
Análise Fatorial com 57 cidades do
Sistema Urbano no Estado dó tivo para os coeficientes de correla-
Rio de Janeiro ção, optando-se por cortes defini-
1970
dos pela expressão conceitual de
1950
cada variável no fator.
Fatores % de ex- Fatores I%planação
de ex- Enquanto o primeiro fator, em
I planação 1950, é composto principalmente
I 53,88 I. . . . . . . . . . . . 47,94
13,91
por variáveis de urbanização e ní-
li 14.43 11 ...........
111 .... 8,58 111 ........... 8.70 vel econômico, em 1970, é o fator
IV ..... 5,22 IV ........... 6,41
v........... 3,82 que congrega variáveis de tama-
Explanação Total: 82,11
VI .......
Explanação Total:
3,58
84,36
nho. Em 1950 o fator definido por
variáveis de tamanho funcional

• Para facilitar a explanação no texto considera-se como primeira análise o sistema urbano
do Estado do Rio de Janeiro com 57 cidades. Como segunda análise o sistema urbano sem a
cidade do Rio de Janeiro, isto é, com 56 cidades, e como terceira análise o sistema urbano sem
a região metropolitana, constituído por um conjunto de 50 cidades.

505
ocupa a segunda posição (anexos com 56 cidades, permite detectar
2 e 3). Isto pode levar a outra su- uma estrutura mais diversificada
posição de que cada vez mais que a primeira, mesmo em 1950.
ocorre concentração no sistema, Cinco fatores são obtidos para 1950,
sobretudo porque quando se re- com explanação total da ordem de
corre à matriz do peso dos fatores 79,9%. Dentre esses o primeiro
nos lugares (anexos 4 e 5) verifi- fator explica 53,4%. Em 1970 sete
ca-se que a cidade do Rio de Ja- fatores explicando 83,7% tem no
neiro detém o maior peso, estando primeiro fator 44,6% da expla-
por demais defasada dos demais nação.
centros. No entanto, a maior quan- Em 1950 o acelerado processo de
tidade de fatores, em 1970, levanta metropolização explica porque as
a possibilidade de que, apesar da variáveis de urbanização e de grau
concentração, se identifique varia- de urbanização se associam consti-
ção no restante do sistema. tuindo o fator, contribuindo para
Dentre as variáveis que definem diferenciar o sistema (anexo 2).
o fator tamanho funcional (anexos Ainda nesse fator se associam va-
2 e 3), seis registram correlações riáveis indicadoras da atividade de
mais significativas, superiores a serviços. Pode-se, assim, observar
0,95%. Releva notar que essas va- que o processo de urbanização, em
riáveis não figuram da composição 1950, correlaciona-se mais às ativi-
do primeiro fator da análise de dades de prestação de serviços do
1950, bem como do segundo fator, que às atividades produtivas.
em 1970, o que pressupõe que o Em 1970 o fator I caracteriza-se
nível sócio-econômico das cidades pela combinação de variáveis de
fluminenses independe de seu ta- nível sócio-econômico que se asso-
manho funcional. ciam a algumas variáveis de tama-
O terceiro fator da primeira aná- nho, tamanho este relacionado às
lise expressa, tanto para 1950 como atividades terciárias e não à indus-
para 1970, a estrutura ocupacional trial. Ainda na segunda análise, e
da população economicamente ati- em 1970, já o setor industrial junto
va. Trata-se de um fator bipolari- com o consumo de energia define o
zado (anexos 2 e 3) que mostra a fator associado ao contingente de
divisão social do trabalho nos cen- população urbana (anexo 3). Em
tros urbanos, isto é, entre os cen- 1950 o segundo fator reflete a divi-
tros com maior participação de são social do trabalho que, como já
população voltada para o setor in- foi mencionado anteriormente, não
dustrial e os centros com maior subentende especialização. As va-
população economicamente ativa riáveis que compõem este fator são
trabalhando no terciário. Esta va- as mesmas que definem o terceiro
riável não expressa esnecializacão fator, em 1970, ainda na segunda
nem dimensão da atividade indus- análise.
trial e terciária no sistema. Cabe A diversificação vista por maior
notar que as duas variáveis de número de fatores é mais acentua-
maior peso no fator não partici- da na terceira análise (auadro 3).
pam da composição dos outros dois Nos dois anos obtém-se sete fatores.
fatores anteriormente menciona- O primeiro com poder de explana-
dos, o que indica que a estrutura ção menor do que o das duas aná-
ocupacional da população inde- lises anteriores, sobretudo no que
pende do tamanho funcional e do se refere a 1950. Tanto neste ano
nível econômico e social. como em 1970 o primeiro fator
A segunda análise (quadro 2) ou compõem-se da correlação de variá-
a do sistema urbano sem a cidade veis que definem o nível sócio-eco-
do Rio de Janeiro, isto é, o sistema nômico das cidades (anexos 2 e 3).

506
As variá veis de tamanho se asso- de explanação de cada fator e sua
ciam na caracterização do terceiro composição remete às referências
fator, em 1950. Praticamente, as conceituais discutidas no segundo
mesmas variáveis se associam para capítulo deste estudo, isto é, da ne-
definir o segundo fator de 1970, cessidade de interpretações se-
denotando que ocorrem mudanças gundo escalas de análise diferen-
no tamanho funcional das cidades, tes, sobretudo para fins de plane-
mesmo quando o sistema é anali- jamento quando este preconiza
sado sem o espaço metropolitano. crescimento espacial menos dese-
No que tange ao fator de estru- quilibrado.
tura da população economica-
mente ativa, este apresenta-se mais 5. 2 - O Sistema Urbano em 1950
significativo em 1950. Cabe desta-
car que em todas as seis análises A interpretação dos resultados
este fator tem a mesma composi- das análises para 1950 permite in-
ção, sendo definido pelas mesmas ferir algumas características de-
variáveis e independente dos de- correntes dos processos sociais
mais fatores. ocorridos no sistema urbano do
Observação de ordem mais am- Estado do Rio de Janeiro. Estas
pla, referente a composição do fa- características estão associadas ao
tor I nas segunda e terceira aná- processo de crescimento econômico
lises para os anos de 1950 e 1970, concentrado, gerando hegemonia
leva a constatar que, em 1970, da metrópole carioca não só em di-
associam-se às variáveis de nível mensões populacionais mas, sobre-
sócio-econômico, variáveis de ta- tudo, em atividades econômicas.
manho funcional. Isto significa Considerando o sistema como um
que o sistema de cidades, em 1950, todo, em 1950, é o fator I, da pri-
era diferenciado apenas pelo nível meira análise, o elemento que per-
sócio-econômico e pelo grau de ur- mite caracterizar a estrutura nele
banização. Já em 1970 o tamanho dominante (mapa 2). Este fator
funcional passa a ter significação, define o grau de urbanização asso-
tamanho este ligado às atividades ciado ao nível sócio-econômico
de serviços. A nível empírico isto (anexo 2). Dentre as dez cidades
pode representar uma contestação melhor posicionadas no fator, com
aos conceitos do processo de urba- excecão de Petrópolis, Barra Mansa
nização vinculado ao processo de - Volta Redonda, Teresópolis e
industrialização, tendo em vista Paraíba do Sul, as seis restantes
que os centros, no sistema de cida- pertencem à região metropolitana
des do Rio de Janeiro, parecem ter (anexo 4).
seu crescimento decorrente da ati- O conjunto metropolitano carac-
vidade de prestação de serviços. teriza-se, em 1950, pelo crescimento
Pelo exposto, conclui-se que são da periferia espacialmente contí-
os fatores supramencionados os de gua onde melhor se posicionam
maior relevância para detectar as Nilópolis, São João de Meriti e
variações ocorridas entre 1950 e Duque de Caxias. A ele integrado,
1970 no sistema fluminense, não só mas sem contiguidade espacial,
pelo maior poder de explicação re- aparecem Niterói e São Gonçalo.
gistrado mas também porque são Cabe referência a Nova Iguaçu que,
os que aparecem nas seis análises em 1950, já em processo de inte-
como elementos discriminantes, gração, aparece no fator, em posi-
permitindo inferir ocorrência de ção de menor grau de urbanização
mudanças entre os dois momen- e nível sócio-econômico, não se in-
tos do tempo observados. Por outro cluindo entre as melhores colo-
lado, o número de fatores, o poder cadas.

507
CJ1
o
co

ESTADO DO RIO DE JANEIRO


FATOR I- PRIMEIRA ANÁLISE -1950
GRAU DE URBANIZAÇÃO E NÍVEL SdCIO-ECONÔMICO

MUITO ALTO

ALTO ,..'\' . ~

MÉDIO
(
) / Q ..... <'•, ,'.1
)'{<:><. .<:::;_,
Q ~1 I

BAIXO
: .... _,
:f'··-/r· '·-9.--··-·.)._·,/
r) o . \e :
o
....... -.......
o
,..f'"... ,
MUITO BAIXO
,;-~::~:>-~;:F\) . f·o>-<~~----·(:;~· /_0,-----·\_ . --· / ',

; : ' ....... ~ .../ ,_,


J

---~
1 • I \..

.·, . _.--,,.. :--,_.-")®


\)
-·i.· ®'"' __... /\., --·: o '-· ------/ ·--.:-'•'

::-'i:_""c.:::~)-"1'.' :. _ / . }. . /. .( - /'\:::.\'.:--~. o

t '..... , o \. . -.. _. -.. '


---
f o ·:, ',,

,~--
---<---~_.. . . . - . (~--·o
__--''-~ ) _. .. .\----
.a::
.
POPULAÇÃO DAS CIDADES

200000 hab

®
·--,_ o ·--. --- 61000hab

' : . n ---
----
30 000 hab
7000 hab
---- lOOOhab
lO O 10 20km

303 000 hab.


Chama-se atenção, outrossim, dustrial do Rio de Janeiro contri-
para a posição da cidade do Rio de buiu para expansão de aglomera-
Janeiro. Seu posicionamento em dos fluminenses, pois abrigam,
décimo lugar é explicado, neste cada vez mais, trabalhadores que
momento do tempo, pelo fato de se deslocam diariamente por trem,
já ter ultrapassado a fase inicial do por ônibus, ou barca, para a la-
processo de metropolização. Por ou- buta na antiga capital federal"
tro lado, o menor nível sócio-econô- (GEIGER, P. 1963, p. 158). A hege-
mico deve-se à composição social monia econômica da cidade do Rio
de sua população, da qual faz parte de Janeiro faz-se sentir dentro do
elevado contingente de população próprio espaço metropolitano. No
de baixa renda acrescida do desní- que tange ao setor industrial, o
vel entre a massa demográfica e a Rio de Janeiro registra, em 1950,
insuficiente ampliação dos equipa- 203.300 pessoas ocupadas, distan-
mentos de infra-estrutura e servi- ciando-se sobremodo de Niterói
ços urbanos. com 14. 500 pessoas, são Gonçalo
O melhor posicionamento de Ni- com 6. 500 e Nova Iguaçu com
lópolis deve-se, em especial, ao peso 3.000.
da variável participação da popu- A outra grande característica do
lação urbana na população total do sistema urbano em 1950 é dada
município, o que carrega bastante pelo segundo fator da primeira
o fator para Nilópolis, onde 100% análise, que concentra variáveis de
da sua população é urbana. Já a tamanho funcional (anexo 2). Nele
posição de Niterói é explicada pela a cidade do Rio de Janeiro dis-
função político-administrativa de crimina o restante do sistema
capital do estado, que lhe confere ocupando a primeira posição, com
razoável nível de equipamentos defasagem absoluta em relação às
urbanos. Apesar de integrada ao demais cidades. Seu distancia-
espaço metropolitano, Niterói, sem mento faz com que estas se apre-
dúvida, representa, na época, por sentem indiferenciadas. Isto per-
seu equipamento funcional, impor- mite uma transposição para o sis-
tante centro de serviços para sua tema urbano fluminense das for-
área de influência imediata. mulações teóricas expostas no ter-
Como pode-se constatar, o siste- ceiro capítulo, baseadas nos con-
ma, em 1950, apresenta como ceitos dê Francisco de Oliveira. A
grande característica a expan- concentração do capital em um
são da metrópole que ultrapassa determinado espaço - a metrópole
seus limites político-administrati- carioca - conduz à homogeneiza-
vos, observando áreas circunvizi- ção do espaço dominado - o res-
nhas, incorporando células urba- tante do sistema urbano. Entende-
nas da periferia, elaborando seu se tamanho funcional como con-
espaço metropolitano. O processo centração das atividades produti-
de metropolização é reafirmado vas, isto é, concentração do capital.
pela segunda análise onde, sem a A cidade do Rio de Janeiro com
cidade do Rio de Janeiro, são as suas múltiplas funções adquiridas,
cidades de sua periferia que melhor sedimentadas e reproduzidas no
se posicionam no fator I, definido, tempo e no espaço, aparece, em
também, pelo grau de urbanização 1950, com total hegemonia em re-
e nível sócio-econômico. lação ao espaço por ela comandado.
Nestas unidades metropolitanas O espaço homogeneizado quando
a urbanização prende-se muito visto sem o elemento hegemônico
mais à função residencial do que - a metrópole- aparece com di-
ao crescimento de atividades pro- ferenciações que merecem ser iden-
dutivas. "O próprio crescimento in- tificadas. Retoma-se aqui o que já

509
foi discutido quanto à relevância - Volta Redonda, apesar de s~u
de diferentes níveis de análises que grau de urbanização, melhor fa-
permitem observar especificidades lando, seu crescimento demográ-
encobertas num sistema de distor- fico e seu tamanho funcional dado
ções tão acentuadas. Daí ter-se pela atividade industrial, não tem
optado pelos três níveis de análise. expressão como centro de serviços,
As diferenciações entre os de- em 1950, apresentando baixo nível
mais elementos do sistema - as sócio-econômico.
cidades - ficam mais evidenciadas Estas características levam a
nas segunda e terceira análises. concluir que as cidades têm desem-
As cidades de Barra Mansa - penho distinto no sistema, bem
Volta Redonda, Teresópolis, Petró- como ocupam posição hierárquica
polis e Nova Friburgo apresentam- distinta. Entre elas, as diferencia-
se mais destacadas na segunda do ções são dadas ou por serem cen-
que na primeira análise, onde o tros de serviços, isto é, desempe-
grau de urbanização e o nível sócio- nharem papel de localidades cen-
econômico se constitui no fator de trais, ou por se constituírem em
maior poder de explanação na va- centros de atividades especiais quer
riação do sistema. Outra diferen- no setor industrial quer na função
ciação que merece destaque nesta de lazer e veraneio. As diferencia-
segunda análise está relacionada ções detectadas podem ser explka-
às cidades de Niterói, Campos e das muito mais por essas caracte-
Barra Mansa - Volta Redonda e rísticas do que pelo próprio posicio-
é dada pela dimensão que define namento nos diferentes fatores das
o seu tamanho funcional. Nela Ni- duas análises. as diferenciações,
terói aparece como segunda cidade em 1950, são resultado da ação de
do estado, em tamanho, com dis- diferentes fatores e agentes inte-
tanciamento relativo das outras grantes de processos que ocorrem
duas, terceira e quarta cidades, no tempo. No entanto, procura-se
respectivamente. Abaixo de Barra aqui mostrar muito mais as ativi-
Mansa - Volta Redonda merece dades de cada cidade, nesse mo-
ser mencionada, ainda, a posição mento do tempo, do que explicar
de Petrópolis que figura como sua gênese.
sexta cidade, vindo depois de São
Gonçalo, que na análise aparece As três cidades serranas desde o
como quinta colocada em tamanho início de seu desenvolvimento se
funcional. Nova Iguaçu e Duque de vinculam à metrópole. Embora ti-
Caxias vem em sétimo e oitavo lu- vessem surgido como núcleos de
gares, distanciando-se sobremodo colonização oficial, tiveram evolu-
das demais cidades, em 1950. ção diferente, cada uma das auais
Diferenciações mais detalhadas com laços de integração distintos
aparecem na análise sem os cen- em relação à cidade do Rio de
Janeiro.
tros da região metropolitana. Nesta
as variáveis de nível sócio-econô- Em 1950, sem dúvida, Petrópolis
mico se associam às de estrutura (61. 011 hab.) destaca-se entre as
funcional definindo um fator que três, tendo seu crescimento vincu-
dá a dimensão sócio-econômica dos lado à atividade industrial e à fun-
centros de serviços (mapa 3). ção de veraneio para a população
Nesse fator a posição dos centros carioca. O desenvolvimento indus-
como Petrópolis, Teresópolis, Nova trial de Petrópolis "tomou impulso
Friburgo e Três Rios leva a inda- após a Primeira Guerra Mundial,
gar o que essas cidades represen- mas já em 1920 23% da população
tam, em 1950, no sistema urbano ativa se ocupava no setor secun-
do estado. É aí que se pode ver dário. A maior parte dos capitais
como a aglomeração Barra Mansa provém do Rio de Janeiro e as van-

510
,-'
,'
I , .. -'
' ,'
,- ... -'"' ' t"
I
' .. ,
O t_..

,.~~')o
-"' }
'

'I
'
/ /
,' ~'-- .. J-~.,., .....
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
FATOR I- TERCEIRA ANÁLISE -1950
NÍVEL SÓCIO- ECONOMICO DOS CENTROS TERCIÁRIOS

I
/
MUITO ALTO ,_ -,
I

~o
'.-;- J : o - , ...
\ ,,.r.! ..,1 ,.,.
\ ,...--1:~ ,/
ALTO
' ,,:
MÉDIO
,__' -- --·- /'' .~-/ \.,:::~.
-~~ '.~_/
: \ ' o ---,

o .~· -"·'-,
BAIXO \',' o __ .,\ ) o :

e -... -~. ._.--·::~::c··._)::.-r..-


' - _:- o ,' ', )
MUITO BAIXO

r .-:
,....-./ / ..Y" ' ·
:' r
/>-<;->-/ •. /\ / o

__ , ,', ;
'
.-, --- ---"·,
,-' -..- ' ) ., ..: • ;':' .......
"
:/
"-{Q'y,
: 0
·' ,..r·' •
'
)
....
---~ /
•. :
', ' ,,
' •,
'

,,-
,- "

·-;
y·<··,,,. ·: ·'·'··v : _...__.-
2. '!({(-' ·' ·.,--.-·
\ o 1
/ .....-----c--:··----· '

.---~/- ' ··~ ~; -~_:-,--.. "-'.


o ( ,..,;:.-----

,:----·, --· :.-.


~-· ·'--~-----("•,J.,
. •)':' ,>'
\

. -- ':·
. '• /
./ . . -·' '

-~,.,-----·.! _.... ,.ç:L


•" ' . ' .-
/
J' < ·~
,. .-<:.·'· •- " \..,..........
''
o /
- ...-o>"
o ··-·· s::;:7 , ':
---......,
o •:_,•, €> ,..........
'•
o ,:

' o /
/ \.'.
' --\• ••
POPULAÇÃO DAS CIDADES

----61 000 hob.

OI
Giii -----30000 hob.
-----
-----
7 o 00 h a b.
1 O 00 hcb

~
~

10 O 10 20km
tagens locais consistiam nos salá- caracteriza pelo alto grau de urba-
rios mais baixos do que no Rio". nização e nível econômico, adqui-
(Geiger, P. 1963, p. 239). Segundo rindo tamanho funcional relativo.
este autor, Petrópolis, em 1950, dis- De função predominantemente in-
põe de um equipamento superior a dustrial, o crescimento desta aglo-
seu nível hierárquico devido mais meração é fruto do processo de in-
a sua função de veraneio, que a trai dustrialização da década de 40,
população rica da cidade do Rio de quando aí se implanta a Compa-
Janeiro, que nela possui proprieda- nhia Siderúrgica Nacional, que
des para lazer. passa a atrair para a área fluxos
Ainda ligada a uma urbanização migratórios significativos, ao lado
significativa, mas sem tamanho da implantação da infra-estrutura
funcional expressivo em 1950, tem- urbana.
se Teresópolis e Nova Friburgo que Campos, em 1950, é a quarta
crescem, também, como centros de cidade em população do estado,
veraneio, sendo que Nova Friburgo 61.633 hab. Seu posicionamento
destaca-se mais pela atividade in- aparece apenas quanto ao tama-
dustrial. Nova Friburgo como cen- nho funcional, na análise sem a
tro da região serrana apresenta, cidade do Rio de Janeiro, como se-
em 1950, população urbana da gunda cidade do estado depois de
ordem de 28.438 hab., enquanto Niterói. A importância de Campos
que Teresópolis registra 14.650 relaciona-se à função de centro de
habitantes urbanos. serviços da área agroindustrial
Para Lysia Bernardes a indús- açucareira do norte fluminense.
tria é o fator mais significativo de Campos, em 1950, é um "centro de
Nova Friburgo. Em seu estudo so- comunicações rodoviário e ferro-
bre esta cidade serrana, executado viário, do qual partem linhas em
em 1951, a autora comenta que direção de Vitória (via Cachoeira)
"Nova Friburgo assumiu este cará- na direção de Itaperuna e daí, par~
ter de núcleo industrial, possuindo trechos da Zona da Mata mineira
já seis fábricas têxteis, metalúrgi- na direção de São Fidélis, por ond~
cas e outros estabelecimentos" também se alcança territórios
(Bernardes, L. 1958, p. 33). Chama mineiros" (Geiger, P. 1963, página
atenção, também, para o fato de 234). Campos representa impor-
que a cidade, na época, estava se tante função de redistribuição de
desenvolvendo em novas bases, a bens para todo o norte fluminense
do veraneio, função da abertura de e mesmo para áreas exteriores a
rodovias ligando-a a Niterói e Tere- ele. Bens esses não só de consumo
sópolis. No entanto, como centro duráveis como de consumo fre-
comercial, a cidade não se exp'ln- qüente (Bernardes, L.M.C. 1957).
diu, sua função central mantinha- Além de sua influência "comercial
se limitada. De modo contraditório, em vasta região rica e populosa,
se a rodovia propiciou a exuansão tornou-se Campos um centro de
do veraneio, de outro inibiu sua cultura e educação de destaque"
centralidade, pois os municípios a (Peçanha, E. 1941, p. 30).
sua retaguarda passaram a se O papel desempenhado por Cam-
comunicar, diretamente, com Ni- pos, em 1950, no norte fluminense
terói e Rio de Janeiro. é colocado por Bernardes em seu
trabalho. "Mantendo indiscutível
Associado ao processo de indus- supremacia desde o início de sua
trialização induzido pelo poder do evolução, supremacia que o pro-
estado e relacionada à produção de gresso das comunicações rodoviá-
bens de capital, está o crescimento rias diretas com os numerosos pe-
da aglomeração Barra Mansa - quenos núcleos de todo o norte
Volta Redonda, que já em 1950 se fluminense veio reforçar, Campos é,

512
ainda hoje, o único centro impor- 5. 3 - O Sistema Urbano em 1970
tante em toda a região. Isolada,
no passado, da região da Guana- O tamanho funcional é, em 1970,
bara, tornou-se uma pequena capi- a dimensão básica que caracteriza
tal regional, a cidade ímpar da o sistema urbano do Estado do Rio
"planície do solar e da senzala", de Janeiro, pois o fator I da pri-
intimamente ligada à zona rural, meira análise explica 47,94% da
cujas atividades agrárias tiveram variação total. Esta dimensão pa-
por penhor de prosperidade um rece ter-se intensificado tendo em
solo de excepcional fertilidade. vista que, em 1950, o fator tama-
Sobrevinda a fase agroindustrial e nho funcional aparece em segundo
o desenvolvimento das comunica- lugar com apenas 14,43% da expli-
ções, sua evolução e sua preminên- cação. A posição da cidade do Rio
cia não se alteram, núcleos compe- de Janeiro no fator I (anexo 5),
tidores não prevaleceram, e ela com peso - 7,30 está, como em
permanece a maior cidade flumi- 1950, muito distanciada das demais
nense, excetuadas algumas aglo- cidades do sistema que, altamente
merações satélites da capital fe- discriminadas pela metrópole, não
deral" (Bernardes, L. 1957, p. 225). apresentam variabilidade, indican-
Na realidade, em termos rela- do uma acentuação dos processos
tivos, Campos permanece sendo a sociais aí verificados. Mantém-se,
cidade de maior expressão p.o norte em 1970, a situação já constatada
fluminense. No entanto, seu cresci- em 1950, onde a hegemonia da
mento não foi dos mais significa- metrópole faz do restante do siste-
tivos na década 1940-50, na qual ma um espaço indiferenciado.
sua população cresceu de 24,67%, A identificação da variabilidade
crescimento este que parece não do restante do sistema quando se
ter tido acompanhamento pela am- exclui a cidade do RiÓ de Ja-
pliação dos equipamentos urbanos. neiro permite constatar, entre-
No restante do sistema, em 1950, tanto, que ocorreram mudanças
poucos centros se destacam, mesmo entre 1950-70. Mudancas que se
aqueles que tiveram papel .signifi- fizeram sentir para melhor em al-
cativos no processo de crescimento guns espaços, para pior em outros,
econômico no passado, como Vas- ao lado de áreas que se mantive-
souras no médio vale do Paraíba ram com as mesmas características
do Sul, Angra dos Reis e Parati, de vinte anos antes.
no litoral sul, e São João da Barra Primeiramente, cabe destacar as
no norte fluminense, dentre outros. áreas aue sofreram mudancas para
Esse sistema urbano desequili- pior. Trata-se dos municípios da
brado em sua estrutura pela pri- região metropolitana que, com ex-
mazia da cidade do Rio de Janeiro, ceção de Niterói, registraram muito
conseqüência da concentração do baixo nível sócio-econômico no fa-
crescimento econômi~o capitalista tor I da segunda análise (mapa 4).
aí desenrolado, reflete-se nos de- Isto é explicado pelo conteúdo
sequilíbrios espaciais existentes sócio-econômico das populações
nesse mnmento do temno. O esnaco que neles residem. A expansão do
metropolitano contrasta com às espaço metropolitano dá-se pelo
demais áreas pouco dinâmicas e crescimento de áreas ocupadas por
mesmo deprimidas. Estas muito classes populares, domínio dos
mais fornecedoras de mão-de-obra assalariados. A valorização dos ter-
e produtos alimentares para o mer- renos da zona urbana leva a trans-
cado urbano metropolitano do que ferência da população de baixa
espaços integrados ao crescimento renda para a periferia da metró-
concentrado na metrópole. pole. "Em situações de subdesen-

513
OI
.....
H>-

ESTADO DO RIO DE JANEIRO


FATOR I - SEGUNDA ANÁLISE - 1970
NÍVEL SÓCIO- ECONÔMICO

MUITO ALTO
I
I
'"
'"Or'~,:}l,'
ALTO

MÉDIO _/ / :~><.~:>(_::~·~:~~-:
.~---? :'"",\ o ___:, o )' o 5'

. , _,J ·::'::2,,··'\::_:,?.:,;:::;~-~r.··;·::::::.::~·:· . J.:.:r···


BAIXO

,. ... _... ,, ... "


MUITO BAIXO

~1 I
'

___ ,,--·-, ___ !<,


:\
\
.,
l.
,.,........ ~

~..f
,
. _
\ ,.,_.--'
/

...... \,
...
1
'
.-~ '!..• ........... -i
o
e '.
//
---,~
I I

'.:
i.----------,í-'\,,_-·._, ___ _: -----
o \\
..
'-.1

_,. ,:'1 f ·~::.·\-~. . . . .,.,:. . _


y-.. ~, . -!/t ' .. ,.. ...........1,.'"\ o :'... ).
tf'TTl) 1 1

.,
I
o
"
e'-,
'9 \
\""
\J.JJJ.Y •...... _ .. -' /
I I
, POPULAÇÃO DAS CIDADES
/ 1
I I
I l .... ,' ,'

. . -,, . . _,.~::, . . -.. . . __ 1'), . --.. . . _,.! ... _: ê ~~-~

~
I
----- 724 326 tlab
,. . -"'< . , "'"" . . ~.' _L ~Q t
... - I I •..

-- --- 300 000 hob

I
" -,' ----- 100 oco hob
I ----- 50 oco hob
----- 10 000 hab
10 O 10 20 km ----- 1000 hob
volvimento, caracterizadas por es- De fato, ainda em 1970, os muni-
trutura de emprego inadequado, cípios da região metropolitana
reduzida capacidade de investi- caracterizam-se como núcleos dor-
mento, desequilíbrio da renda e, mitórios de uma população que en-
por conseguinte, grande contin- contra na metrópole seu maior
gente de população com baixo mercado de trabalho. Esta popula-
poder aquisitivo, sem condições de ção representa elevado contin-
arcar com o ônus da prestação de gente, sobretudo a de Nova Iguaçu,
serviços ou reinvidicar melhorias, São Gonçalo, Duque de Caxias e
tende haver déficit crônico, ou uso São João de Meriti que se posicio-
em excesso dos serviços e equipa- nam como as cidades de maior vo-
mentos urbanos, além de uma série lume populacional abaixo da ci-
de distorções na ocupação do dade do Rio de Janeiro, ultrapas-
espaço. Tal situação se agrava em sando Niterói que era a segunda
face da falta de recursos de toda cidade, em 1950. Nova Iguaçu, que
ordem de governos mumc1pais, em 1950 era a sexta cidade do sis-
tradicionalmente os responsáveis tema, passa ao segundo lugar em
pelo suprimento e regulamentação 1970, deslocando Niterói para o
desses serviços (Brasileiro, Ana sexto lugar. São João de Meriti e
Maria. 1972, p. 124). O ciclo se São Gonçalo ultrapassam Campos
estabelece na medida em que a de- que, de 4. 0 lugar, baixa para o 8. 0
ficiência de infra-estrutura e ser- lugar.
viços urbanos não atrai investi- O crescimento demográfico dos
mentos, não tendo investimentos centros urbanos metropolitanos
não há retorno, a região não não mantém ritmo constante, ha-
se equipa, ficando cada vez mais vendo oposição entre os núcleos já
relegada à população de baixa integrados à metrópole, onde o pro-
renda, exército industrial de re- cesso de metropolização já se fez
serva à disposição do capital. sentir mais intensamente e os mu-

QUADRO 4
Região Metropolitana: Incremento Demográfico 1950-60 e 1960-70

POPULAÇÃO URBANA INCREMENTO (%)


MUNICÍPIOS (I)
1950 1960 1970 1950-60 1960-70

Rio de Janeiro ............................... 2 303 063 3 223 408 4 251 918 39,96 31,91
Duque de Caxias .............................. 74 565 176 306 404 496 136,45 129,43
ltaboraí .............................. 4 544 9 451 14 072 107,99 48,89
ltaguaí, ...................................... 7 670 10 61 o 17 468 38,33 64,64
Majé ........................................ 18 626 29 686 83 841 59,38 182,43
Mangaratiba .................................. 3 642 5 404 6 125 48,38 13,34
Maricá ................................. ····· · 2 084 2 502 6 500 20,06 159,79
Nilópolis ..................................... 46 406 96 553 128 011 108,06 32,58
Niterói .... , .................................. 171 198 229 025 292 180 33,78 37,58
Nova Iguaçu .................................. 77 783 257 516 724 326 231,07 181,27
Paracambi .................................... 22 149 205,75
São Gonçalo .................................. 101 780 195 872 430 271 82,45 119,67
São João de Meriti .......................... 76 462 191 734 302 394 150,76 57,72

FONTE: IBGE- Censos Demográficos 1950. 1960 e 1970.


I!) A não inclusão de Petrópolis no quadro prende-se ao tratameoto dado a esta cidade no decorrer do estudo.

515
nicípios de localização mais perifé- QUADRO 5
rica em fase de integração. A aná-
lise do quadro que se segue permite Região Metropolitana: Valor da
constatar que o crescimento dos Produção Industrial - 1970
municípios já integrados foi mais
significativo entre 1950-60, com
excessão de São Gonçalo. Nos de-
MUNICIPIDS 111 VALOR DA
PRODU CÃO
I %

mais municípios que atualmente I


INDUSTRIAL

fazem parte da região metropoli- Rio de Janeiro ....................... . 9 897 470 56,50
tana o crescimento foi maior entre Duque de Caxias .. .. .. .. .. .. 1 696 425 9,69
1960-70, exceção de ~angaratiba ltaboraí ...... .. 34 232 0,19
ltaguaí .. ..
cuja inclusão no conJunto metro- Ma1é.. ............. ..
77 833 0.44
114 598 0,65
politano tem caráter prospectivo. Mangaratiba ............... . 298 0,00
Não obstante a consolidação do Maricã .......................... . 1o 099 0,06
Nilópolis ....................... .
núcleo da região metropolitana Niterói .......... .
41 180 0,24
520 965 2,97
que apresenta me.nor ritmo de cres- Nova Iguaçu .......................... . 406 529 2,32
cimento no conJunto do estado, Paracamhi .......................... . 58 973 0,78
esta região mantém-se como a mais São Gonçalo ... 306 829 1.75
São João de Meriti.
representativa no processo .de 71 076 0.41
urbanização, apresentando um In- FONTE: IBGE - Censo Industrial - 1970
cremento de 50,35% entre 1960-70, (1) A exclusão de Petrópolis tem a mesma justicativa do quadro an-
só ultrapassado pelos municípios ter1or.
da região das baixadas litorâneas
que apresentam um crescimento
da população urbana da ordem de 1960-70 que, segundo a autora,
72,10%, o que, em termos de massa permite medir o grau de redistri-
populacional, em nada se compara buição espacial, a nível de gênero
com o da região metropolitana. industrial, ocorrida entre duas ou
mais regiões em certo espaço de
Quanto à estrutura econômica, o tempo. Os resultados da pesquisa
conjunto metropolitano do ~i~ de concluem que a metrópole do Rio
Janeiro apresenta caractenstlcas de Janeiro manteve, em 1970,
que o distingue de outras regwes quase inalterado o alto grau de
metropolitanas, sobretudo com a concentração da atividade indus-
grande São Pa~lo. Nele o ~amanho trial constatado em 1960, denotan-
funcional da cidade do R10 de Ja- do insignificância dos deslocamen-
neiro continua altamente discrimi- tos espaciais (Piquet. R. P. 1976).
nante. As cidades da região metro-
politana, não obstante seu tama- Cabe aqui referência especial a
nho populacional. não se c~racte­ Niterói que, em 1970, é, dentre as
rizam ainda em 1970, pela Impor- cidades da região metropolitana, a
tânci~ de seu tamanho funcional. única que acusa alto nível sócio-
Constata-se ausência de municí- econômico (mapa 4). Como capital
pios al!amen~~ industria~s como político-administrativa do antigo
na regiao Regtao Metropolitana de Estado do Rio de Janeiro, Niterói é
São Paulo. O quadro abaixo per- fonte de emprego terciário, desta-
mite constatar a posição da ativi- cando-se por seu relativo equipa-
dade industrial na Região Metro- mento funcional. Ponto de con-
politana do Rio de Janeiro, em vergência de circulação, Niterói
adquire posição como localidade
1970. central, atuando diretamente sobre
O poder de concentração indus- uma porção significativa do estado.
trial na metrópole foi tema de A ela se subordinam diretamente
estudo empírico realizado por Ro- os municípios da região dos lagos
sélia Piquet através do "Quociente e zona serrana, através de Nova
de Deslocamento" para o período Friburgo, que se constitui num

516
centro sub-regional, através do não está incluída no conjunto.
qual Niterói atua, em 1970, sobre Neste fator duas variáveis apresen-
Cordeiro e Cantagalo (IBGE, Re- tam alta correlação, as variáveis
giões Funcionais Urbanas, 1972). de valor da produção industrial de
Mudanças para melhor ocorre- cada centro no conjunto estadual
ram na região do médio Paraíba, e a variável consumo de energia
onde o processo de industrializa- elétrica. A ela se associa a variável
ção trouxe modificações na estru- população urbana (anexo 3) . A
tura urbana. A política de cresci- hierarquia de cidades de expressão
mento econômico estabelecida pelo no setor industrial no conjunto do
Governo Federal, na década de Estado, sendo bom acentuar estar
1940, através do esforço de indus- excluída a cidade do Rio de Ja-
trialização, e a acessibilidade da neiro, fica definida pela aglo-
área, através do eixo Rio-São meração de Barra Mansa-Volta
PaU:lo, foram fatores capazes de Redonda na primeira pos1çao
estimular transformações sócio- (-4,98), seguida por Duque de
econômicas na área. Os mecanis- Caxias (--3,58) e por Nova Iguaçu
mos do processo de crescimento (-2,26), além de outros centros
atuando no tempo e no espaço afe- numa posição decrescente.
tam o posicionamento das cidades. Em 1970 o sistema denota que
Em 1950, apenas Barra Mansa e o estado passa por um processo
a nascente Volta Redonda, aqui de industrialização entre 1950-70.
considerada como uma aglomera- A identificação da dimensão in-
ção, apresentam certa importância dustrial, em 1970, como fator
econômica na região. Em 1970, isolado parece ser um indicador
Resende, Barra do Piraí e Três Rios desta característica. Entretanto,
apresentam-se, no fator I da ter- ao se considerar o setor indus-
ceira análise, com nível sócio-eco- trial no conjunto do estado,
nômico elevado, superior ao de com um valor da transformação
Barra Mansa, Volta Redonda (ma- industrial de Cr$ 8. 390.188.000,
pa 5). Isto encontra explicação no ocupando 360. 170 pessoas, os sete
crescimento demográfico da aglo- municípios aqui considerados como
meração. É o que, em geral, ocorre metropolitanos representam, res-
nas cidades de tamanho funcional pectivamente, 77,64% e 74,90%,
significativo, onde o nível sócio- sendo que só o município do Rio
econômico baixo se verifica porqu~ de Janeiro figura com 61,55% e
as variáveis medidas em relação à 63,32%, o que leva a concluir que
população denotam que os equipa- o processo não tem distribuição
mentos se mantêm inferiores à espacial significativa. Apenas na
quantidade de população. região do médio Paraíba ocorre
No entanto, através do fator II uma industrialização direcionada,
dessa terceira análise, que dá a em função da presença de Barra
dimensão tamanho funcional, a Mansa - Volta Redonda, que par-
aglomeração Barra Mansa-Volta ticipam com 9,74% do valor da
Redonda destaca-se distanciando- transformação e 4,07% do pessoal
se bem de Campos, o segundo cen- ocupado.
tro no fator, invertendo a posição Na Região dos Lagos denota-
de 1950. se, também, transformações, onde
Cabo Frio se posiciona bem no
Por outro lado, da segunda aná- fator que define o nível sócio-eco-
lise é extraído um fator, o segundo, nômico da terceira análise (mapa
com 11,96% da explanação total e 5), o que se deve à alta valorização
que é o indicador da dimensão do trecho litorâneo como área de
urbano-industrial do sistema de ci- lazer. Outro centro que se destaca
dades, quando a metrópole carioca é Rio Bonito que, de antigo centro

517
,-'
) '
I ~~~

CJl
i-' I
,-0---~J o

00 '
~,\-:,o
J ... '
'
, ...
/
ESTADO DO RIO DE JANEIRO /
' r...... ____ .... '
I

FATOR I -TERCEIRA ANALISE - 1970 I


I
I
NÍVEL SÓCIO- ECONÔMICO
J-- <L_.---------,
I tTl\ '
~ \UY /
~ ' , .... , __ J .. ..t...\

,,'' ,/"'"
MUITO ALTO I

''
'
ALTO 9:-r'i
",'?/'~ ,:)
, r~ /• _,
MÉDIO ,. .. ~''oi ,'' \~ ...": ......... ,.. -
~~· ..(~ ,!,..' '- ~
/'.1\ O . . -~ 0 1 O r'
BAIXO 0 rJ . . . . ;' '·\~--·-e ,..,~'./',J. , -;,,}

MUITO BAIXO
-- - f _Y - ::_>,;,; _: /~ _;;'~~\-i; /_:,-::::;:-:', )--------
@ ,,
,,
-- ~-"\,___IM
y tiJY
;.i/

..,-~
.
.,
:
\
Wr
~~
:/®
:---- :
:~ fX"'J. __;-_)\ __ ,··;
I ~
: '----~(

,. . -.. . . .
-r~~
I

..,,._,. •.., ... .., .... '
;-,, __ _

fr·:.J í __ :~~-:--~-.:~ ~-/',,'\- o ,/--- '-:


7
9 ·:v/'''-.. ,/,,-'~- ;J '....( . o ) !
o
. . ...
~~~ '\~" ,_,,~
-

-/:·-,~~~ ~. . >,J·-r ~I
.
~·-- ~(~-)----;;~~:--~\
w
_ _r o___ /-- _).....
, \
-----
;; \ ...... -: , . . ., o \
~----"~------\<'--'···· c:? -- ')_, --·---~~.-----, __,! __ : 9 \ ----- '
I _ _. I\ I 1 11..1 1 f \
POPULAÇÃO DAS CIDADES
,.._, ..... _,- ...... (:' /
., ______ .--:--
--~ '--,' n --. 1\..._()Qii 300 000 hab
'--t ~- ~~

®
, A'T\_...,-/'"70 l.... }....
-- --- 100000 hob
I
I
----- 50 ooo hab
TO 000 hab
l 000 hab

10 O 10 20 km
1!1!!'11!!1 I I
de coleta de produtos rurais, passa É o caso particular de Nova Fri-
por transformações em decorrência burgo que assume as funções de
do processo de metropolização que centro regional da região serrana.
avança em sua direção. Com exceção destes centros a
No litoral sul do_ estado a cidade ·- serrana se caracteriza
regmo '
de Angra dos Reis, que em 1950 por compreender áreas estagnadas,
não tinha expressão, aparece, em mesmo decadentes, que não esti-
1970, com expressivo crescimento e mulam o surgimento de centros
nível sócio-econômico médio (ma- urbanos melhor equipados.
pa 5). A implantação de impor- No norte fluminense não se cons-
tante estaleiro, na década de 1950 tata, praticamente, transformações
- Verolme Estaleiros Reunidos no decorrer de vinte anos. No nível
S. A. - acarreta o início da expan- sócio-econômico, a cidade de Cam-
são da indústria na região. Entre pos, nas três análises, apresenta
1950-70 a mão-de-obra ocupada no u~a posição de pouco destaque,
setor industrial eleva-se de 173 mvelando-se a centros como Cor-
para 2. 561 pessoas. Em 1970 esse deiro, Miracema e Itaperuna, con-
setor responde por 27% do pessoal trastando com a posição que apre-
ocupado. senta no fator tamanho funcional.
Enquanto nestas porções do es- Campos realmente não teve sua
tado mudanças para melhor se infra-estrutura urbana melhorada
fazem sentir, em outras pratica- a fim de acompanhar o afluxo mi-
mente permanecem as característi- gratório por que tem passado na
cas já identificadas em 1950. Antes, segunda metade do século. Campos
cres~e em atividades comerciais, de
porém, de identificar estas unida-
des espaciais onde não ocorreram serviços, mas esse crescimento não
mudanças substanciais, cabe cha- é suficiente para manter um nível
mar a atenção de que as mudanças de empreg~ para a população que
anteriormente mencionadas são para ela migra. O mvel de serviços
consideradas para melhor no sen- de uso coletivo é deficiente em re-
tido que denotam relativo dina- lação . à massa de população que
mismo para suas respectivas áreas. possm.
No entanto, o crescimento indus- Campos mantém-se como centro
trial do médio Paraíba e a urbani- regional, mas perde comando em
zação desordenada da região dos sua região. A cidade não diversifica
Lagos foi acompanhada por pro- sua economia, não cria indústrias
blemas sérios de rompimento do de consumo regional, não se dina-
equilíbrio ecológico e, conseqüente- miza. Seu crescimento demográfico
mente, de perda de qualidade am- é explicado pela fraqueza de sua re-
biental que se tem dúvidas de con- gião, onde se registram perdas de
siderar mudanças para melhor. população rural, conforme pode ser
Melhor para o capital, mas não observado no anexo 6. As cidades
para as populações locais. do norte, não obstante um au-
rr:ento da população urbana, não
Como em 1950, aparecem no sis- sao capazes de fixar a população
tema urbano do estado, em 1970, rural que migra. Grande parte
com nível sócio-econômico elevado, desta população migran te dirige-se
primeiro fator da segunda e ter- para Campos que, apesar de não
ceira análises as cidades de Petró- ter também condições de absorver
polis, Teresópolis e Nova Friburgo. a população que para ela aflui,
Com crescimento diretamente im- sempre oferece maiores oportuni-
pulsionado pela metrópole, estas dades do que as demais cidades do
cidades mantêm a.s características norte. Campos significa, muitas
já identificadas em 1950, porém vezes, um primeiro estágio do pro-
com desempenho mais consolidado. cesso migratório que acaba por

519
se dirigir para a região metro- bara e fluminense do Grande Rio,
politana. Por outro lado, a abertura tem-se um total de 86,4%.
de vias de comunicação colocando Cabe lembrar que, em 1970, a
os municípios da área diretamente cidade do Rio de Janeiro consti-
ligados com o núcleo metropoli- tui-se numa Cidade-Estado, situa-
tano reflete na perda de posição ção peculiar no sistema federalista
de Campos junto à sua área de brasileiro, que lhe garante maior
influência. oportunidade de investimento, não
Pelo exposto conclui-se que o obstante o tão falado "esvazia
sistema urbano do estado, em 1970, menta econômico da Guanabara",
manteve-se caracterizado pela con- tese esta que não encontrou acordo
centração do crescimento econô- geral entre aqueles que se propu-
mico e social na cidade do Rio de seram discuti-la (Brasileiro, Ana
Janeiro, altamente discriminante Maria. 1977, p. 30).
em relação a sua própria região Consolida-se a região metropoli-
metropolitana, provavelmente ten- tana mais como área de expansão
do ampliado a distância econômi- do espaço urbano da metrópole do
co-social em relação ao resto do que como área de complementação
sistema. econômica. Mantém-se a defasa-
A distribuição da renda interna gem entre as atividades produtivas
revela uma das mais altas concen- da metrópole e as das demais cé-
trações geográficas de renda do lulas metropolitanas que, no con-
País. Dados fornecidos pela Funda- junto, continuam tendo como fun-
ção Getúlio Vargas, a nível de mi- ção predominante a de residência
crorregião, permitem avaliar essa para uma população que trabalha
concentração. Através dos dados na metrópole. Na realidade, o cres-
do quadro 6 pode-se detectar a cimento das atividades produtivas
participação por setor de ativida- na região metropolitana não foi
des. Somando-se a participação da suficiente para atenuar a defasa-
renda interna total da ex-Guana- gem constatada.

QUADRO 6
Estado do Rio de Janeiro
Renda Interna por Microrregiões Homogêneas- 1970

RENDA INTERNA (Cr$ 1 0001

Total A~ricultura Indústria Serviços


MICRORREGIOES
Números Números Números I % ~~1Jmeros
absolutos I osobre
%
total absolutos I osobre
%
total absolutos sobre
I o total absolutos I osobre
%
total

(211 I ltaperuna ............................... 120 575 0.5 21 889 5,0 25 675 0,4 73 010 0,4
(2121 Miracema ......................•...... 56 088 0.2 11 492 2.6 R 771 0.1 37 824 0.2
(2131 Açucareira de Campos ................. 550 557 2,2 90 055 20.8 145 588 2.0 314 913 1.8
(2141 Cantagalo .............................. 50 830 0.2 15 562 3,6 5 360 0,1 29 908 0.2
(2151 Três Rios .............................. 138 400 0.5 12 312 2.8 37 243 0.4 88 844 0,5
(2161 Cordeiro ............................... 43 673 0.2 12 894 3.0 3 950 0,1 26 829 0,2
(2171 Vale do Paraíba Fluminense ............ 1 246 196 4,9 29 106 6.7 830 924 11.4 386 165 2.2
(2181 Serrana Fluminense .......... 734 658 2.9 31 774 7,3 290 329 4.0 412 554 2,3
(2191 Vassouras e Barra do Piraí ............ 160 689 0,6 20 726 4,8 57 275 0.7 82 686 0,5
(2201 Bacias de São João e Macacu ........ 86 057 0,3 23 428 5.4 6 771 0,1 55 857 0,3
(221 I Fluminense do Grande Rio .... 4 082 663 16,0 56 981 13,1 1 275 025 17.5 2 750 656 15.4
(2221 Cabo Frio .................. 189 100 0.7 11 628 2.7 87 747 1.2 89 724 0,5
(2231 Baía da Ilha Grande .................. 102 244 0.4 4 172 1,0 48 811 0,6 49 260 0,3
(2241 Guanabara .. ················· 17 980 638 70.4 91 897 21.2 4 482 091 61.4 13 405 650 75,2
TOTAL. ......... ... . . .. . . . . . .... 25 542 368 100,0 433 916 100,0 7 303 560 100,0 17 804 880 100,0

FONTE: Fundação Getúlio Vargas.

520
A projeção da metrópole ultra- siva função administrativa, fruto
passa o espaço metropolitano e da estrutura político-administra-
atinge centros urbanos situados na tiva local, caracterizada pela pe-
Serra do Mar, que se desenvolvem quena representação municipal,
através. de atividades que lhes são aparecem como funções de âmbito
complementares. A projeção esten- local para o consumo da população.
de-se à região dos lagos, onde a ne- São cidades de pequeno contin-
cessidade de lazer de uma massa gente de população, sem ativida-
de população crescente se traduz des produtivas significativas. Algu-
numa urbanização desordenada, mas mantêm estabelecimentos in-
na faixa litorânea desta região. dustriais tradicionais, mas sem ex-
No oeste do estado transforma- pressão na economia estadual. É o
ções ocorrem em função de um pro- caso das indústrias de farinha de
cesso ditado e dirigido pelo centro, São João da Barra, da indústria de
através de políticas deliberadas. O barbante de Carmo, da indústria
crescimento demográfico dela de- de cachaça em Parati, de indús-
corrente pela atração de popula- trias têxteis como a de Valença,
ção, o crescimento da cidade de dentre Qutros. Mesmo cidades onde
Volta Redonda, seus reflexos indu- foram implantadas idústrias mo-
teres em Barra Mansa fazem deste dernas, como a do estaleiro Verol-
trecho do médio Paraíba o foco a me em Angra dos Reis, não conse-
partir do qual a atividade indus- guiram passar por transformações
trial se torna uma realidade. profundas em sua estrutura. Os
centros de comercialização e bene-
A vocação industrial da região ficiamento da produção rural, por
atinge Resende e Barra do Piraí, outro lado, são, também, pouco
e mais afastado Três Rios, situado expressivos em face da estagnação
no eixo em direção a Belo Hori- da produção rural fluminense. Na
zonte. Trata-se de um processo que, realidade, com exceção da agroin-
não obstante comandado e direcio- dústria açucareira do norte flumi-
nado pela metrópole, tem trazido nense, a ·produção agrícola do es-
dinamismo para esta porção do ter- tado não tem estimulado o cresci-
ritório fluminense. No entanto, mento de cidades voltadas para
como os resultados até aqui anali- comercialização e beneficiamento
sados permitem detectar, o cresci- de sua produção. É o caso, por
mento tem sido restrito aos eixos exemplo, de centros como Mirace-
rodoviários que unem as principais ma, Laje do Muriaé que vivem da
metrópoles do sudeste, não tendo comercialização e beneficiamento
atingido a região como um todo. do arroz. Mesmo em áreas onde se
Esta região, que teve um passado desenvolve uma produção de horti-
urbano no período cafeeiro, chega granjeiros, a comercialização direta
a 1970 com um sistema urbaro não com a metrópole pouco dinamiza
estruturado a nível regional, fruto os centros urbanos locais, como é
de um processo que se implanta de o caso de Pati do Alferes, Cambuci,
fora para dentro, ligado aos inte- Nova Friburgo, dentre outros.
resses de uma economia voltada
para produção de bens de capital, Esta estrutura urbana desequili-
que ainda não conseguiu se iden- brada, reflexo de um espaço desi-
gualmente desenvolvido, leva o
tificar com a estrutura social da poder político federal a intervir
região. como uma das metas para reorga-
No restante do estado, em 1970, nizar o espaço macrorregional e
o sistema urbano mantém-se como tentar um equilíbrio entre o Rio de
em 1950, bastante indiferenciado, Janeiro e São Paulo. Para isso
constituído por centros urbanos transforma-se a cidade-estado em
que, ao lado de uma inexpres- um município e unem-se política-

521
mente as duas administrações, que nos centros urbanos. Eles podem
se constituem em espaços já unidos expressar mais do que simples re-
desequilibradamente. Istà leva a lação de centralidade. O equipa-
ver o que ocorreu nos últimos anos, mento funcional das cidades flu-
sob o novo poder centralizado. minenses foi dimensionado através
da aplicação da metodologia basea-
5. 4 - O Sistema Urbano Regio- da em M. Polomaki, método este
nal após 1970 que permite obter a hierarquia das
cidades. Através de 66 funções re-
Os anos que antecedem à fusão presentativas das funções centrais,
encontram a cidade do Rio de Ja- isto é, das atividades de bens e
neiro - na época Estado da Gua- serviços oferecidas diretamente à
nabara - em fase de retomada de população, chega-se a hierarquia
seu crescimento econômico. "Emer- das cidades do estado (Duarte,
gindo de uma letargia econômica H.S.B. 1975).
que comprometeu sua imagem de A análise da distribuição espacial
centro fabril, segundo os dados dis- dos centros hierarquizados (mapa
poníveis, a Guanabara recuperou 6) mostra que os centros de níveis
nesse período de expansão de seu mais elevados, com exceção de
parque manufatureiro a sua ima- Campos, acham-se concentrados na
gem de importante pólo industrial região metropolitana ou em áreas
(Brasileiro, A.M. 1979, p. 33). A sobre sua influência direta. Seguin-
criação de distritos industriais em do-se à cidade de mais elevada hie-
seu espaço interno é uma das alter- rarquia - o Rio de Janeiro -
nativas encontradas pelo governo aparece Niterói como centro de 2.o
estadual para impedir a saída de nível, cujo equipamento funcional
estabelecimentos industriais para é explicado, como já foi dito ante-
a periferia metropolitana. riormente, pela função de capital
Enquanto a ex-Guanabara firma estadual nesta época.
sua economia, o ex-Estado do Rio Dos sete centros de terceira hie-
de Janeiro sente cada vez mais os rarquia, com exceção de Campos,
reflexos do desequilíbrio regional. da aglomeração Barra Mansa-
O limite político-administrativo se Volta Redonda e de Nova Friburgo,
constitui em barreira ao extravasa- os outros quatro: Nova Iguaçu,
mento econômico natural do nú- Petrópolis, Duque de Caxias e São
cleo, para o qual o governo da Gua- Gonçalo pertencem à região metro-
nabara cria medidas impeditivas. politana. Quanto aos cinco centros
As cidades fluminenses da re- identificados como de quarto nível,
gião metropolitana continuam a apenas São João de Meriti está na
acumular déficit em infra-estru- região metropolitana, estando os
tura, crescendo menos economica- demais ou em áreas onde a expan-
mente do que como reserva de são urbana recente está ligada à
mão-de-obra. Fora da região me- função de veraneio - Teresópolis
tropolitana a estrutura espacial e - ou em áreas de transporte como
o siStema de cidades apresentam-se Três Rios situado no eixo Rio-Belo
como em 1970, sem maiores trans- Horizonte-Brasília, e Barra do
formações. Piraí no eixo Rio-São Paulo ou,
Um reflexo da problemática eco- ainda, em área de economia tradi-
nômica e social pode ser detectado cional com relativa retomada de
através da situação funcional das crescimento, como é o caso de Va-
cidades que constituem o sistema lença.
em estudo. O equipamento funcio- Já entre os centros de quinto
nal é um indicador do tamanho nível, não obstante mais esparsa-
funcional e da massa de consumo dos, cinco fazem parte da região

522
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
HIERARQUIA DOS CENTROS URBANOS

NÍVEL
19

29
·r
r
r

~~·~ . ~
, /c./.! ....
,,oJ&'"' &.'
,I~'
;-.o,......
r' '
® r,'> o ~l /
,,• ,' '
·--·~---, •• ,
,____ ,;,;;~, .: o
' '•, , ',
, '' I :

r/" -y-,.><:~::~::... -~,::.-.:c;~>:~-7- _/ -~-


, -, _r• o
r___ •,"r
,-o
(
',
',
ll!JI·•·'·"
: ',
!
;

_..., __ ,,. ' '


. e _..- - ·-----~
r''----·)--'
',
'' (
. - ~ @>.
\ o -·----·
w
·-· ':
>---------í--',
' -·-.
.-

y"' . . ._~~,--!/l POPULAÇÃO DAS CIDADES


," o .....\,.
I .'
I

~
,"" .,..,-,,."" -"

'-
----- 724 326 hob

/
, ... -... .
~
-----
-----
300 000 hob
100 000 hob

I ----- 50 000 hab


I
I ----- 10 000 hab

I ----- 1000 hob


01 I 10 o 10 20km
,~
1:\:1
C.:! r

4 251 918 hob


metropolitana: Nilópolis, Paracam- V~rios . indicadores servem para
bi, Itaguaí, Majé e Itaboraí. Os d1mens10nar esta forte atração
outros estão assim distribuídos: dentre eles tem-se a intensidade d~
Rio Bonito, Cabo Frio e Macaé na ligaçõs por linhas de ônibus das
região das baixadas litorâneas· cidades fluminenses com o Rio de
cinco: Resende, Vassouras, Paraíb~ Janeiro (Teixeira, M. P. B. - 1972
do Sul, Miguel Pereira e Piraí na e 1975).
região médio vale; quatro: It~pe­ ~ hegemonia da metrópole, capi-
runa, Miracema, Santo Antônio de talizando o crescimento estadual
Pádua e Bom Jesus de Itabapoana, desacelera, por outro lado, o desen~
na região norte. Na região serrana v~l~imento das i~terligações secun-
apenas dois centros: Cantagalo e danas entre as cidades do sistema.
Cordeiro e, finalmente, Angra dos "Como expressão da organização
Reis, no litoral sul. do espaço, o grau de conectividade
Os demais centros, trinta e nove, da rede do Estado do Rio revela
que correspondem a mais da me- que seu nível de desenvolvimento
tade dos centros urbanos do estado, econômico pouco evoluiu de 1952
incluem-se nos níveis de hierarquia para 1974. Houve maior número
mais baixa, sem expressão na es- de linhas e maior número de cir-
trutura espacial do estado. cuitos, mas insuficientes para mu-
Uma rede urbana bem estrutu- dança na qualidade das estradas,
rada deve conter centros represen- expressas pelos quilômetros pavi-
tativos de todos os níveis num mentados e pela alteração da co-
continuum hierárquico, ordenada- nectivid~ade.~Entretanto, esta pavi.,
mente distribuído no espaço, refle- mentaçao nao representou maiores
tindo o grau de desenvolvimento re- conexoões internas e sim conexões
gional. As bases teóricas desenvol- externas" (Lacorte, M.H. 1976 p.
vidas sobre a elaboração de uma 63). Isto mostra que a ampliação
rede urbana propõe que centros de da rede não é para atender o desen-
níveis mais elevados sejam em volvimento interno, mas sim para
menor número e mais esparsados, sustentar o poderio econômico da
e que centros de níveis inferiores metrópole na região.
sejam mais numerosos, menos es- Cabe aqui remeter-se às coloca-
parsados entre si, e localizados nas ções de Santos discutidas no ter-
áreas de mercado dos centros de ceiro capítulo, de que ligações mais
maior hierarquia. Na tentativa de eficientes com a metrópole acar-
identificação destes princípios no retam modificações na rede urbana
sistema analisado, constata-se que regional." Com efeito, no atual
a concentração de centros de maior período tecnológico, a cidade regio-
hierarquia em torno da região nal, chamada ainda de cidade mé-
metropolitana confere ao território dia, torna-se cidade intermediária.
estadual uma rede urbana espacial- Seu poder de comando e sua influ-
mente desequilibrada e desarticu- ência sobre a região diminuem e
lada. Tem-se, assim, no Estado do ela se torna, cada vez mais, um
Rio de Janeiro, um sistema espacial relé da metrópole" (Santos, Milton.
composto de lugares cujos atribu- 1979, p. 243). Exemplos destas
tos não obedecem a padrões hie- transformações são encontrados no
rarquizados, e onde a baixa intera- mundo real quando se constata a
ção entre os lugares é um dos fato- perda de comando de Campos na
res responsáveis. região norte; as relações diretas
mantidas entre a metrópole e as
Na realidade, a expansão do sis- cidades serranas enfraquecendo o
tema de transporte rodoviário re- poder de Nova Friburgo; a constru-
força a atuação da metrópole, in- ção da BR-101 colocando a região
tensificando sua função regional. das baixadas diretamente integra-

524
das à metrópole, diminuindo a cen- parece estar perdendo posição, in-
tralidade de Macaé; sem falar na clusive junto a Minas Gerais. A
região do médio Paraíba onde a cidade do Rio de Janeiro como
intensidade dos relacionamentos metrópole regional, em 1960, tem
coloca-a diretamente subordinada sob sua influência expressiva área
à cidade do Rio de Janeiro; e, final- do Brasil SE, onde se inclui a pró-
mente, a inauguração, em 1975, da pria cidade de Belo Horizonte, não
BR-101 que, integrando o litoral obstante certa autonomia dada
sul, coloca Angra dos Reis e Parati pela própria função de capital es-
cada vez mais dependente da me- tadual (Bernardes, L. M. C. 1962).
trópole. Após 1960, a perda substancial
Com base em postulações teó- junto à São Paulo, e ao próprio
ricas voltadas para o desenvolvi- crescimento de Belo Horizonte, faz
mento equilibrado é que, ao nível com que a cidade do Rio de Janeiro
do planejamento nacional, começa- restrinja sua influência a uma área
se a repensar na fusão. Os objetivos periférica pobre, que pouco lhe
apontados que justificaram as me- acrescenta como área de mercado
didas tomadas pelo poder central - cidade cabeça de um corpo
são, conforme destaca Ana Maria pobre.
Brasileiro, "consolidar um pólo de A nível inter-regional, o governo
desenvolvimento poderoso no Rio da fusão se propõe, através de suas
de Janeiro, a ser obtido pela inte- diretrizes e de seu Plano de Gover-
gração política e econômica dos no - I PLAN RIO - a propiciar a
dois Estados; viabilizar a região descentralização a partir da metró-
metropolitana pela eliminação da pole. O planejamento estadual pas-
barreira político-institucional que sa a ter enfoque regional, para o
separa o núcleo da região metropo- qual o estado é dividido em seis
litana, a cidade do Rio de Janeiro, regiões programas a saber: região
dos demais municípios que a inte- metropolitana, região industrial do
gram, todos eles situados no Estado médio Paraíba, região litoral sul,
do Rio; possibilitar maior equilíbrio região das baixadas litorâneas, re-
federativo pela criação de um es- gião serrana e região norte. "0
tado política e economicamente objetivo desta divisão se prendeu à
forte que dividirá com São Paulo necessidade de facilitar a ordena-
a liderança do quadro nacional" ção do desenvolvimento urbano e
(Brasileiro, A. M. 1979, p. 99). regional e propiciar a desconcen-
Para os tecnocratas defensores tração do núcleo metropolitano
da fusão haveria, a nível nacional, para reduzir os desequilíbrios exis-
a consolidação de um pólo capaz tentes" (Brasileiro, A. M. 1979, p.
de fazer frente a São Paulo, como 151) (mapa 7).
segunda unidade de dimensão eco- Constatações empíricas levam a
nômica da nacão. A nível inter- crer que as diretrizes oficiais de
regional se daria uma descentrali- descentralização não passam de
zação das atividades econômicas, intenções. A necessidade de crescer
com vistas a diminuir os desequilí- economicamente leva à canalização
brios regionais. Até que ponto uma dos recursos pelo próprio Governo
mudança de ordem político-admi- estadual para a área de maior con-
nistrativa pode intervir num pro- centração. Do orçamento, as despe-
cesso, conduzido por forças de um sas de custeio absorvem a quase
capitalismo hegemônico concentra- totalidade dos recursos, sobrando
dor, é o que se coloca inicialmente. muito pouco para investimentos.
Os investimentos estatais quando
A nível nacional, o novo estado analisados em sua distribuição es-
parece não ter vencido a defasagem pacial comprovam aquela ten-
junto a São Paulo. Ao contrário, dência. Exemplos são encontrados

525
OI
t-.:)
O)

ESTADO DO RIO DE JANEIRO


REGIÕES PROGRAMA

LITORÂNEAS

tR ........? tp 2p km
quanto a investimentos de infra- Mansa-Volta Redonda são respon-
estrutura de transportes, sanea- sáveis, respectivamente, por 10,5%
mento básico, habitação, dentre e 8,35% 5 •
outros. Outro elemento que permite com-
Dentro do próprio âmbito metro- provar que os investimentos conti-
politano há necessidade de ser nuam sendo canalizados para o Rio
canalizado para periferia grande de Janeiro e sua região metropoli-
volume de recursos, dado o déficit tana consiste no exame da locali-
de infra-estrutura já mencionado e, zação dos principais projetos em-
como se sabe, isto envolve custos presariais de implantação e expan-
bastante elevados, onde o retorno são aprovados pelo poder estadual,
de capital é a longo prazo (Bra- conforme quadro que se segue
sileiro, Ana M. 1979). "É bem pos- (quadro 7).
sível que nesse processo leve van- A análise do quadro permite veri-
tagem a cidade do Rio de Janeiro, ficar que os investimentos de im-
em virtude de seu maior potencial plantação estão praticamente dire-
de reinvidicação. Em apoio à defesa cionados para o núcleo concentra-
de seus interesses, o Rio pode ale- dor. A região industrial do mé-
gar seu status de pólo espontâ- dio Paraíba aparece com certo
neo de desenvolvimento da rgião, destaque no que se refere aos inves-
onde a maior parte da renda é ge- timentos destinados à expansão
rada e os inúmeros problemas com das indústrias já existentes e não
que se defronta" (Brasileiro, A. M. na implantação de novos projetos.
1979 p. 115). Nestes investimentos de expansão
As necessidades prementes da re- só a CSN absorve 93,98%. Consta-
gião metropolitana fazem com que ta-se, pois, que a intenção de des-
pouco ou nada sobre para o resto centralização esbarra com a neces-
do estado. A centralização do poder sidade de crescer o produto interno,
dada pela estrutura administrativa levando, pelo menos até o momen-
brasileira reflete-se na fragilidade to, a implantação de novos projetos
do poder municipal, que se mantém nas áreas de retornos mais imedia-
impotente frente às suas carências. tos.
As cidades continuam desprovidas Não resta dúvida de que é a
de infra-estrutura e serviços urba- vocação industrial da região indus-
nos, não tendo condições para trial do médio Paraíba que conduz
atrair investimentos. O estado não à política perseguida pela atual
pode socorrê-las. Como então des- administração de consolidação de
centralizar? um corredor industrial que, esten-
o ICM, que se constitui na prin- dendo-se de Resende para jusante
cipal fonte de recursos tributários do rio Paraíba, inflete, em Japeri,
do estado, é um dos indicadores de em direção ao porto de Sepetiba.
que os desequilíbrios permanecem Não obstante a política estadual,
e se acentuam. A cota do ICM dis- depara-se com problemas sérios a
tribuído mostra a supremacia da esta consolidação Tem-se a consi-
região metropolitana que registra, derar que a topografia da região, o
em 1975, 76,8% e 1978, 80,6%. elevado preço da terra e a amplia-
Compreendendo a cidade do Rio de ção das áreas urbanizadas consti-
Janeiro, 61,5% e 66,0%, respectiva- tuem obstáculos à implantação de
mente, do total do estado. Segue-se novas indústrias, no que diz res-
em importância a região industrial peito à escassez de terras disponí-
do médio Paraíba com 14,5%, em veis. A localização industrial tem-se
1975, e 11,9% em 1978, onde Barra caracterizado pela dispersão ao lon-

• Fonte: Secretar!llo Estadual da Fazenda.

527
QUADRO 7
Estado do Rio de Janeiro
Projeto Decididos
Posição até Dezembro/78

IMPLANTAÇÃO EXPANSÃO TOTAL (")

REGIÃO Valor Valor I Valor


N.•
projeto Investi- Financia-
N.o
projeto Investi- Fi nanei~~ N.•
projeto I Investi- Financia-
menta
I menta menta
I menta menta
I mPnto

Metropolitana ........... 262 52 254 600 6 831 008 323 9 851 332 1 367 461 585 62 105 932 8 198 469
Rio de Janeiro .....••• , 206 22 414 110 4 838 215 225 5 794 361 1 004 377 431 28 208 471 5 842 592
Industrial do Médio Paraíba 23 9 986 562 264 499 47 47 989 935 34 207 091 70 57 976 497 34 471 590
Do Litoral Sul .......... 2 4 304 204 9 955 1 192 928 3 4 497 132 9 955
Das Baixadas Litorâneas. 4 628 260 457 372 15 359 490 77 555 19 987 750 534 927
~errana .... 13 1 538 162 30 900 58 72 498 48 662 71 1 610 660 79 562
Norte ................... 882 802 32 597 37 552 083 362 535 46 1 434 885 395 132

TOTAL. . ........... ee .. 313 69 594 590 7 626 331 481 59 018 266 36 063 304 794 128 612 856 43 689 R35

FONTE: FIDERJ.

go dos eixos de comunicação, em Na realidade, como já foi referido


busca de pequenas planícies, onde anteriormente, trata-se de um cres-
é menor o custo de sua implan- cimento industrial subordinado
tação. Além disso, tem-se a con- que pouco tem representado para
siderar que o crescimento demográ- a economia regional. A concentra-
fico das cidades mais significativas ção da produção não forma um
como Barra Mansa-Volta Redon- complexo integrado capaz de de-
da, Resende, Barra do Piraí, Três sencadear um processo de acumu-
Rios tem acarretado saturação da lação local. Fora do eixo Resende,
infra-estrutura básica e social dis- Barra Mansa-Volta Redonda,
ponível, a par da ocupação desor- Barra do Piraí e Três Rios, o res-
denada do espaço urbano, o que tante da região permance à mar-
compromte a qualidade de vida da gem do crescimento regional, onde
população. seus centros urbanos desprovidos
Tem-se falado até aqui de dese- de equipamento funcional, caren-
quilíbrios entre a metrópole e o tes de infra-estrutura, não têm
restante do sistema. Acontece que condição de participar do cresci-
nesta porção do território estrutu- mento, mesmo tratando-se de um
ram-se espaços diferenciados. Ao crescimento que nada mais é do
lado de regiões "dinâmicas" com que uma extensão do núcleo me-
ou sem "bolsões" estagnados, exis- tropolitano.
tem regiões estagnadas, com ou A região norte mantém-se como
sem "ilhas" de maior "dinamismo" periferia estagnada, voltada em
bem como regiões em transforma~ sua maior parte para a economia
ção. canavieira (baixada de Goitaca-
No primeiro caso tem-se a região ses) , ao lado de grandes extensões
supra referida onde o "dinamismo" de terras que permanecem sob
trâzido pela concentração espa- domínio da agropecuária de lento
cial da produção industrial afeta crescimento. A inexistência inicial
apenas algumas células do espaço. de sistema viário que propicia vin-

528
culações efetivas com a metrópole e êxodo rural, caracterizando-se pela
demais regiões do estado configura, escassez de alternativas econômi-
por muito tempo, situação de iso- cas. Apenas Teresópolis e Nova Fri-
lamento dessa porção do território. burgo, beneficiadas pela proximi-
As atividades industriais que aí dade relativa à metrópole e pelas
se localizam resultam, principal- condições locais, desenvolvem ativi-
mente, de iniciativas locais cujos dades industriais e de veraneio,
investimentos concentram-se em constituindo-se em "ilhas" dinâmi-
indústrias de bens de consumo não cas dessa periferia estagnada. Além
durável, notadamente produtos ali- de Nova Friburgo e Teresópolis,
mentares. somente Cordeiro e, secundaria-
As perspectivas para a região de mente, Cantagalo são centros ur-
Campos não são das melhores, banos de alguma expressão a nível
fruto de sua dependência econô- regional, hoje favorecidos pela in-
mica em relação à monocultura dústria de cimento, existente na
canavieira. Entre 1950-70 verifica- área, não obstante o pequeno efeito
se diminuição do número de em- multiplicador desta indústria.
pregos industriais, o que pode ser A região litoral sul e baixadas
explicado ou pelo fechamento de litorâneas constituem-se em peri-
usinas ou pela modernização de ferias em transformação, áreas de
outras, com substituição de mão- crescimento mais recente, fruto de
de-obra. O aumento do emprego uma projeção direta da metrópole.
nas atividades terciárias para o Na região das baixadas litorâneas
mesmo período, no entanto, não a diversidade fisiográfica condicio-
subentende crescimento funcional na atividades econômicas distintas.
da cidade. Primeiramente, tem-se a A urbanização recente dos trechos
considerar a perda da área de litorâneos favorecidos pelos recur-
influência, resultada das ligações sos paisagísticos leva ao declínio
do extremo norte - Itaperuna- das atividades tradicionais que se
diretamente com Nova Friburgo e acham restritas ao extremo norte
Rio de Janeiro. Por outro lado, da área, onde a lavoura canavieira
Campos, tradicional centro ataca- integra-se à baixada campista. Nos
dista, perde também esta função trechos mais interiorizados dos mu-
em decorrência de modificação na nicípios mais próximos da região
estrutura do comércio atacadista e metropolitana permanecem as ati-
de sua ligação direta com a cidade vidades agrícolas, destacando-se a
do Rio de Janeiro, pela BR-101. A expansão da citricultura. Assim,
cidade enfrenta uma série de pro- tem-se, ao lado de um litoral onde
blemas urbanos que se acentuam a ocupação desordenada tem carac-
em função da sazonalidade da la- terizado o crescimento dos núcleos
voura canavieira, uma vez que na urbanos, um interior onde as ativi-
entressafra ela não tem condições dades econômicas ainda não esti-
de absorver a população que é mulam o crescimento urbano.
dispensada das atividades rurais. No litoral sul a presença de re-
Nestas áreas onde a indústria levo rigoroso, restringindo as áreas
cresce vinculada ao setor primário,
correspondendo a um processo de aproveitáveis, explica a ocupação
industrialização tradicional não só rarefeita e o crescimento econô-
devido às tecnicas de produção mico da região. A integração re-
como aos níveis de capitalização, cente ao núcleo metropolita-
observa-se manutenção do padrão no, determinada pela abertura da
de urbanização. BR-101, em 1975, leva à expansão
Na região serrana a transferên- da função lazer, ao lado da implan-
cia de recursos do café para pecuá- tação industrial. A expansão do
ria após 1940 conduz a grande estaleiro Verlome, a implantação

5.29
de novos projetos como a central ocorreram na história do desenvol-
nuclear, o terminal de granéis lí- vimento econômico brasileiro
quidos da Petrobrás e outras, têm Primeiramente, é necessária uma
acarretado problemas ao cresci- colocação à guisa de advertência
mento da cidade de Angra dos Reis, quanto ao conteúdo deste capítulo.
carente de infra-estrutura necessá- Não se tem o propósito de fazer
ria para dar conta da crescente uma análise do processo de for-
mão-de-obra atraída pelas novas mação do capitalismo no Brasil.
indústrias. Região de usos confli- Procura-se fugir das discussões teó-
tantes, não encontra em seus cen- ricas sobre origem, características
tros urbanos as condições necessá- e especificidades do capitalismo na
rias para um crescimento imposto América Latina e no Brasil, como
pela metrópole. A intensa ocupação são formuladas em monografias de
e valorização da terra cria dificul- alto valor teórico e empírico como
dades para a própria preservação as de Tavares (1973), Cano (1975),
do patrimônio histórico e paisagís- Mello (1975), Silva (1976), a partir
tico regional. de uma postura crítica às interpre-
Como se pode observar, a estru- tações cepalinas do capitalismo na
tura espacial do Estado do Rio de América Latina.
Janeiro e seu sistema de cidades A análise dos processos sociais
não apresenta até agora transfor- ocorridos no desenvolvimento eco-
mações substanciais que permitam nômico-espacial do País e, de modo
prever, a médio prazo, modificações particular, no que hoje é o Estado
nas distorções existentes, não obs- do Rio de Janeiro, é feita através
tante as intenções firmadas pelas de uma visão global, tal como a
políticas de planejamento adotadas formulada por Prado Junior (1956)
pelo estado. As constatações empí- e Furtado (1977). Entretanto, por-
ricas levam à confirmação das colo- que se aceita o conceito de que o
cações de Myrdal, quando este "sistema econômico-social em uma
autor mostra que em economias nação ou em um conjunto de na-
onde o capital é escasso prevalece ções e as condições específicas do
a causação circular cumulativa. O desenvolvimento das forças produ-
porquê dessas distorções é o que tivas determinam o modo de orga-
se procura perseguir no capítulo nização espacial em cada uma das
áreas estudadas" (Rofman, A. B. ,
que se segue. - 1977 - p. 14) é que aceita-se
certas posturas teóricas que expli-
6 - O DESENVOLVIMENTO cam o capitalismo na América
ECONôMICO Latina e, de modo particular, no
Brasil.
BRASILEIRO E SEUS No caso de sistemas de cidades
REFLEXOS NAS do Rio de Janeiro estas abordagens
DISTORÇÕES DO podem ser feitas ao longo de seu
SISTEMA URBANO desenvolvimento econômico, ora
integrado à totalidade através da
FLUMINENSE expansão do capitalismo brasileiro
ora com suas "histórias particula-
As distorções verificadas no sis- res", tanto as econômicas como as
tema de cidades do atual Estado sociais. Diferentes situações ocor-
do Rio de Janeiro e as desigualda- rem como conflitos de grupos (se-
des espaciais do graus de desenvol- nhores de engenho e a burguesia
vimento econômico nele identifica- mercantil), interesses de classes
das podem ser interpretadas como (hegemonia ora do rural ora do
reflexos de processos sociais que urbano) em diferentes conjunturas
530
econômicas desenvolvidas. Toda dização e características variam
essa marcha da sociedade, reflexo entre diferentes autores. Entre-
da sociedade global, deixa sua tanto, fugindo, é bom relembrar,
marca no espaço e, de modo espe- às discussões teóricas sobre o de-
cial, no sistema de cidades. É atra- senvolvimento capitalista, há certa
vés destes movimentos que se pode coincidência em aceitar a economia
entender como cidades perdem po- desenvolvida na América Latina e,
sição hierárquica no tempo, como
aconteceu com as cidades portuá- de modo particular, no Brasil, em
rias do litoral e com os centros do duas grandes formas. Uma em que
vale do Paraíba e da área serrana a base econômica está no setor pri-
de terras quentes. É também por mário e que se desenrola sobretudo
eles que se explica o rápido cresci- no Brasil até 1930. A outra tem
mento, se não econômico, pelo como "modelo" de desenvolvimento
menos demográfico de outras. a industrialização.
Tudo isto dominado pela ação de No primeiro processo, o que se
dois agentes: o "capital" e o "es- desenrola desde os primórdios da
tado". dominação colonial ibérica, pode-se
As conjunturas que marcam a identificar um período que vai até
história do desenvolvimento flumi- o fim do século XVIII e é caracte-
nense são as dos grandes processos rizado por uma dependência às
econômicos estabelecidos pelos gru- metrópoles colonizadoras. Este pe-
pos sociais tanto de dentro do País ríodo é denominado de economia
como do exterior. São sistemas eco- colonial (Rofman, A. B., 1977). Na
nômicos nacionais, mas, sem dú- economia colonial "estão presentes
vida, integrados ao sistema de dois setores, um exportador e um
dominação internacional. Aceita-se setor produtor de alimentos. O
a postura de que "o capitalismo setor exportador produz, em larga
brasileiro é complexamente deter- escala, produtos coloniais (açúcar,
minado pelo seu movimento in- tabaco, metais preciosos, etc.) des-
terno e pela dinâmica do capita- tinados ao mercado mundial"
lismo mundial" (Silva, 1976- In- (Mello, 1975 - p. 26 e 27).
trodução) . Isto significa que se O outro período desenrolado no
aceita os movimentos do capita- século XIX e nas duas primeiras
lismo interno como integrados ao décadas do século XX é caracteri-
capitalismo mundial. A economia zado por uma economia baseada
nacional se orienta dentro dessa na produção de produtos primários
ótica e as cidades, mesmo as que para o mercado internacional, não
agora nada ou pouco represent.am só o Europeu mas também o dos
no sistema urbano do estado, tive- Estados Unidos. Nessa fase se dá
ram o seu papel nesse processo. com nitidez o que muitos autores
Em cada uma dessas conjunturas
o comportamento dos principais denominam de incorporação de
tomadores de decisão, isto é, o capi- nações latinas americanas à divisão
tal e o poder político, orientam a internacional do trabalho.
estrutura espacial. O processo de industrialização é
Os "modelos" de desenvolvimen- desdobrado em acumulação capita-
to econômico que permitem perio- lista industrial e sua consolidação,
dizar a história da sociedade bra- pois sua evolução no tempo tem
sileira e que tem reflexos na estru- grande importância para se enten-
tura espacial, sobretudo nas distor- der a hegemonia da cidade do Rio
ções do sistema urbano, podem se de Janeiro no espaço em que do-
constituir em processos cuja perio- mina.

531
6. 1 - O Sistema Colonial e a o açúcar tem importância nessa
Origem da Hegemonia da Cidade fase inicial da dominação de me-
do Rio de Janeiro trópole.
A cultura canavieira "no período
Desde sua origem o espaço cor- colonial foi o móvel econômico da
respondente ao atual Estado do expansão do povoamento nas bai-
Rio de Janeiro tem seu processo xadas quentes e úmidas que se
de ocupação integrado no pro- desenvolveram entre a Serra do
cesso de acumulação do capital, Mar e a linha de costa" (Bernar-
pois a economia de exportação de des, L., 1975, p. 191).
produtos primários, no caso a la- Ao lado das condições edáficas e
voura canavieira, é o fator de con- de clima, favorecia o desenvolvi-
solidação de seu povoamento, se mento da produção canavieira "a
bem que em espaços reduzidos. proximidade dos grandes rios,
Neste processo, a cidade do Rio de aproveitáveis para o transporte re-
Janeiro representa importante pa- lativamente fácil e barato da pro-
pel, porque a Coroa Portuguesa dução. As mercadorias desciam os
dela se utiliza como base para o rios para a baía de Guanabara, em
seu poder sobre grande espaço va- direção ao Rio de Janeiro. Assim,
lorizado nos séculos XVII e XVIII. surgiram pequenas localidades à
No início esta acumulação cor- margem dos cursos d'água, que se
responde a acumulação primitiva salientaram como pontos de em-
do capital mercantil proveniente barque" (Geiger, P.P., 1956, p.
da produção agroindustrial açuca- 27).
reira e da exportação de metais Uma série de pequenos portos
precioso. Nesta fase primitiva de fluviais ou marítimos surgem como
acumulação de capital o Rio de lugares de recebimento do açúcar
Janeiro desempenha importante que é enviado para a cidade do
papel e com isso consolida sua posi- Rio de Janeiro, onde é exportado
ção política-econômica no panora- para a metrópole portuguesa, que
ma da colônia e, de modo especial, assim monopoliza o mercado da
no seu espaço de domínio ime- colônia. É neste século XVII que
diato. surgem as vilas que hoje são cida-
Pode-se afirmar que a função de des, remanescentes de um estágio
dominação da cidade do Rio de tecnológico pretérito da fase do
Janeiro surge juntamente com a mercantilismo colonial: Angra dos
causa de sua fundação. Esta domi- Reis, (1608), Parati (1667), São
nação que, a princípio, é para João da Barra (1677), Campos
"defender" a costa contra os pira- (1677), Iguaçu, hoje Duque de
tas e inimigos da Coroa Portu- Caxias (1699). "O Rio de Janeiro
guesa, se reforça quando se desen- seiscentista desenvolveu-se graças
volve nas baixadas litorâneas a aos engenhos de açúcar que lhe
lavoura canavieira para a produção esboçaram a riqueza" (Azevedo, A.,
de açúcar voltada para o mercado 1957, p. 111).
europeu. Com a descoberta dos depósitos
Se bem que Caio Prado Jr. auríferos em Minas Gerais nos fins
afirme que a produção açucareira do século XVII, o Rio de Janeiro
na província do Rio de Janeiro tem em sua posição geográfica o
tenha desempenhado papel secun- fator básico que permite seu papel
dário na economia colonial devido de concentrador de poder, origem
à posição afastada dos mercados de sua hegemonia no sistema de ci-
europeus (Prado Jr., Caio, 1956), dades e do espaço que domina. "Nos
para o que hoje é o Estado do primórdios do século XVII, no iní-
Rio de Janeiro e para a cidade, cio da febre da mineração, a pri-

532
meira linha de comunicação entre concentrando mais poder no espaço
Minas e Rio de Janeiro passando regional
pelo porto de Parati, a sudoeste Nessa época o Rio de Janeiro
do Rio de Janeiro, demonstrou-se representa um papel de preposto
pouco satisfatória. Foram, então, de Portugal e se beneficia dessa
procuradas novas veredas na serra" situação ampliando seu espaço do-
(Stein, S. 1961, p. 8). Dentre estas minado. A evolução no tempo só
novas veredas, o Caminho Novo de faz reproduzir essa posição com a
Garcia Rodrigues, concluído em concentração de novas atividades.
1907, constitui-se no principal eixo Ela não se faz esperar. "Na se-
de ligação entre o Rio de Janeiro gunda metade do setecentismo, a
e as Minas Gerais. Com essa liga- cidade de Salvador veio encontrar
ção o Rio de Janeiro passa a ser no Rio de Janeiro sua grande rival,
controlador de todo o ouro produ- não tendo podido evitar a capitis
zido nas Minas Gerais. A metrópole diminutio que significou a transfe-
dá ao Rio de Janeiro um poder de rência da capital da Colônia, leva-
dominação e de mercado de vasta da a efeito em 1763" (Azevedo, A.
área. Interessante notar que ao 1957, p. 131). Nessa época, como
longo do caminho novo não surge, afirma o mesmo autor, a popu-
no século XVIII, nenhuma vila ou lação do Rio de Janeiro teria pouco
pousada que viesse evoluir para a mais de 40 000 habitantes.
cidade. No minucioso estudo de O papel das áreas portuárias no
Aroldo de Azevedo, já citado, só se período colonial, centralizando a
encontra na relação de cidades e produção e redistribuindo merca-
vilas criadas no século XVIII, no dorias, é traço fundamental da
espaço que hoje seria do Estado do ocupação do espaço. A vocação
Rio de Janeiro, apenas uma cidade, mercantil da cidade fortalece o
a de Majé, em 1789. poder dos comerciantes atacadis-
Ao longo do caminho novo só um tas e exportadores através da
pouso surge, Paraíba do Sul, que, acumulação do capital comercial.
porém vegeta durante quase um A acumulação baseada no capital
século: "malgrado o tráfego diário comercial beneficia, sobremodo, os
pelo arraial, de tropas e boiadas comerciantes que em períodos de
cada vez mais numerosas com a crise submetem a classe de produ-
crescente importância da capital e tores através do "domínio da cir-
das cidades mineiras em pleno apo- culação sobre a produção numa
geu da mineração" (Lamego, A. R., economia pré-capitalista envolta
1963, p. 128). nas práticas mercantilistas" (Lobo,
O Rio de Janeiro, por ser um E.M.L., 1978). Como a autora
porto e pelo poder de decisão da chama atenção, a classe de comer-
metrópole, que nela tem seu ponto ciantes no Rio de Janeiro sempre
d~ apoio na dominação político- usufruiu de prestígio social, não
econômica da colônia, cria ampla sendo necessário se tornarem pro-
área de mercado para a qual dis- prietários rurais para enobrecerem.
tribui os bens importados da me- Estes aspectos sociais em uma
trópole portuguesa. Quando se per- determinada sociedade podem ex-
cebe que nas Minas Gerais surgem plicar certas peculiaridades encon-
mais cidades, com expressivo mer- tradas entre as cidades de um sis-
cado consumidor em decorrência tema, principalmente quando se
da economia mineradora, pode-se considera as alternâncias da hege-
avaliar a concentração de ativida- monia ou o privilégio de um se-
des no Rio de Janeiro e o surgi- tor econômico sobre outros. Como
mento de uma burguesia mercantil ocorre na história do desenvolvi-
que vai reproduzir essa economia, mento capitalista brasileiro, identi-

533
ficam-se épocas de hegemonia, se J. C., 1956) .. Deve-se, entretanto,
não de um setor econômico, mas acrescentar que o ouro já come-
de um produto agrícola sobretudo çava a apresentar naquela época
quando este está voltado para a sinais de esgotamento, já nlo sendo
exportação e visa ao mercado mun- a atividade mineradora tão atra-
dial. É fácil constatar isso no tiva. As condições físicas excelentes
Estado do Rio de Janeiro com pe- da baixada de Goitacases para a
ríodos de fastio da economia açu- agricultura leva a sua ocupação
careira, e depois a do café, gerando por partidas de cana. Assim, os
aparecimento, apogeu e declínio de currais da atual região de Campos
muitos centros. cedem lugar aos engenhos. "Na
Nesse processo sempre há uma segunda metade do século XVIII
relação com a metrópole, ou de e nos primórdios do seguinte ocor-
causa ou de benefício. Toda essa reu, pois, em Campos, um verda-
conceituação e interpretação per- deiro rush canavieiro. Multiplica-
mite uma aproximação maior do vam-se os engenhos, ampliava-se a
real, reconhecendo algumas essên- área de canaviais, importanvam-se
cias, nem sempre aparentes. mais escravos e a produção de
No século XVIII a economia da açúcar, como a de aguardente,
província do Rio de Janeiro cresce crescia dia a dia. A população ru-
com base na produção agrícola e ral, que em 1752 fora estimada
esta tendo na produção açucareira em 12.000 habitantes, alcançava
o seu motor de crescimento. A zona 50.000 almas em 1814" (Bernar-
dos "Goitacases" já tinha sido pro- des, L.M.C., 1957, p. 197). Cam-
curada para o plantio da cana no pos se beneficia e cresce seu co-
século XVII, ao mesmo tempo que mércio.
os engenhos floresciam no recôn- Correspondente a expansão ca-
cavo da Guanabara, porém "as navieira e a difusão dos engenhos
lutas que se seguiram pela posse por áreas não só de baixada como
das terras foram uma das razões de colinas, surgem centros de co-
para atrasar o fomento da lavoura mercialização na região como Ma-
canavieira. Nestas lutas entravam caé (1813) e Maricá (1814) (Aze-
em jogo os interesses dos homens vedo, A., 1957, p. 139).
poderosos que residiam no Rio de
Janeiro e tinham currais e sítios A base produtora no período
naquela zona, dos alto-mandatá- colonial, não obstante agrícola, não
rios do governo colonial e das garante, nesta fase, supremacia do
ordens religiosas; tinham no seu rural sobre o urbano. Como muito
bojo aspectos de luta de colonos bem coloca Helena Garcia, "as clas-
contra latifundiários, de agriculto- ses produtoras estabelecem uma
res contra criadores." (Geiger, P.P., aliança com a burguesia mercantil
1953, p. 88). Ao lado deste aspecto metropolitana mais poderosa, na
de conflitos sociais localizados, que qual se baseou a exploração econô-
refletem no desenvolvimento de mica da colônia. É assim transfe-
uma determinada área e assim rida para as cidades, intermediá-
merecem ser enfatizadas, tem-se rias entre o campo e a metrópole,
que ver que a produção açucareira parte considerável do controle
estava passando, no Brasil, por sobre o capital produtivo. Se ao
uma retomada de importância. Isto campo cabia a produção, às cida-
ocorre porque no mercado europeu, des tocava a função político-admi-
como lembra C. Prado, estava nistrativa que desde o início as
havendo uma valorização dos pro- caracterizou. O papel conferido ao
dutos coloniais em decorrência do estado pela sociedade civil era já
aumento da população na Europa o de controle da sociedade como
e da revolução industrial (Prado um todo e da produção social.

534
As cidades, no entanto, permane- vel a ligação com Macaé, onde na
ciam improdutivas" (Garcia, H.D., enseada de Imbetiba havia anco-
1979, p. 35). radouros profundos. A partir de
Na realidade, as cidades da colô- 1872 a produção passa a ser escoa-
nia surgem mais em função do da pelo canal construído entre
interesse dos colonizadores do que Campos e Macaé, provocando a
para servir às necessidades da po- decadência de São João da Bar-
pulação. Neste contexto o Rio de ra. Poucos anos mais tarde, com
Janeiro firma-se como represen- a criação da estrada de ferro
tante do poder central da metró- Macaé-Campos (1875), efetua-se
pole, centro político, administrati- a prosperidade da cidade de Macaé,
vo e financeiro de uma sociedade que teve curta duração, tendo em
dominada pelo poder monárquico vista que a ferrovia Niterói-Cam-
de origem européia. Fora a cidade pos veio provocar a estagnação do
do Rio de Janeiro, destaca-se no porto de Imbetiba. "Como no caso
século XVIII e início do XIX ape- de muitos outros portos do litoral
nas a cidade de Campos, cujo brasileiro, em especial os dos Esta-
crescimento é função da lavoura dos do Rio de Janeiro e São Paulo,
canavieira. A falta de integração a ligação ferroviária com os gran-
com a cidade do Rio de Janeiro, des centros e estabelecendo comu-
pela fragilidade dos meios de comu- nicações mais fáceis, paralelamente
nicação, faz desta cidade o centro ao litoral, provocam uma verdadei-
regional mais importante da pro- ra revolução na vida da cidade de
víncia depois da capital. Macaé, de uma hora para outra
privada de todo seu comércio ma-
O Rio de Janeiro se beneficia rítimo" (Bernardes, L. 1957, p.
desta precaridade dos meios de 160). A estagnação desta cidade,
transportes e por ter um porto segundo a autora citada, prolon-
capaz de receber os navios que ga-se até a década de 1950, quando
levam o açúcar para a metrópole, entra em nova fase de crescimento.
para ele converge o açúcar produ- Ao lado desse fator de desenvolvi-
zido na região de Campos. Estabe- mento, espacialmente localizado, e
lece-se, nessa época, uma forma de que beneficiou a cidade do Rio de
dependência entre o Rio de Janeiro Janeiro, no início do século XIX o
e a região produtora. Se consi- panorama político-econômico da
derar-se que era comum os senho- Europa veio trazer repercussões na
res de engenho vlverem no Rio de colônia, e particularmente repro-
Janeiro, verifica-se que esta cidade duzir o poderio do Rio de Janeiro
passa a ter outra função, isto é, no sistema colonial. Em 1808, com
lugar de moradia dos poderosos da a vinda da Família Real Portugue-
época. sa para o Rio de Janeiro, a cidade
Entretanto, alguns centros da é acrescida de outras funções e tem
região produtora beneficiam-se da seu p:tpel como centro político-
comercialização da produção. É o administrativo, reforçado e am-
caso de São João da Barra, que pliado quando se dá a emancipa-
assiste momentos de esplendor gra- ção política e a fundação do impé-
ças à exportação do açúcar. No rio.
entanto, as condições desfavoráveis
da bacia do rio Paraíba cedo pas- 6 . 2 - O Setor Primário Exporta-
sam a dificultar as exportações da dor e a Multiplicidade das Células
produção crescente, refletindo-se Urbanas
no crescimento da cidade.
A inexistência de condições físi- A evolução política do império
cas para instalação portuária no corresponde, no campo econômico,
norte fluminense torna indispensá- "à integração sucessiva do país

535
numa forma produtiva superior: mercial desta cidade nas transa-
a forma capitalista. As instituições ções comerciais que passam a
primitivas, como a escravidão, her- comandar as relações in ternacio-
dadas da antiga colônia, são bani- nais. A função portuária do Rio
das pelas novas forças produtivas de Janeiro reafirma-se com o escoa-
que se vão formando e desenvol- mento da produção cafeeira, man-
vendo no correr do século passado" tendo a liderança das exportações
(Prado Jr., 1957, p. 91). até 1890.
O País entra naquela etapa que A progressiva ascensão da classe
Rofman denomina de integração comercial e dos industriais faz
ao comércio mundial, participando com que estes passem a exercer
do modelo da divisão internacio- "domínio sobre os fazendeiros que
nal do trabalho. Este período é se sujeitavam cada vez mais aos
caracterizado "pela conformação que dispunham de capital. Era o
definitiva das estruturas do poder desenvolvimento progressivo das
nacional que se coligam com a cid;ades, com novas cLasses mais
estrutura dominante externa à abastadas, que passaram a domi-
área. O período cobre até a terceira nar os proprietários de terra, tor-
década do século XX" (Rofman, nando-se estes dependentes dos
A.B., 1917, p. 47). comerciantes" (Geiger, P.P., 1956,
Este período é também comu- p. 31). Apesar da importância que
mente denominado de modelo pri- certas cidades passaram a ter neste
mário exportador. Na província do período em decorrência do desen-
Rio de Janeiro o desenvolvimento volvimento não só do café mas
do sistema econômico tem reper- também da cana e de outras lavou-
cussões espaciais de especial im- ras, era o Rio de Janeiro que con-
portância, tendo elaborado todo centrava a classe que possuía capi-
um sistema de cidades. É nesse tal- a burguesia comercial, sobre-
período que o Rio de Janeiro passa tudo aquela dedicada às atividades
a ter a hegemonia não só na sua de exportação.
região mas em todo o espaço na- A concentração do poder polí-
cional. Dá-se modificações funcio- tico-econômico na capital está re-
nais na cidade do Rio de Janeiro fletida em sua população. Em 1872
e o aumento de seu poder político sua população era de í 75.000 habi-
e econômico a nível nacional, para tantes, enquanto que a província
ela convergindo maior percenta- do Rio de Janeiro contava com
gem das rendas públicas e priva- 783. 000. Em 1890 a população da
das. capital da república tinha atin-
Da exportação de ouro à expor- gido 522 . 000 e a do Estado do Rio
tação do açúcar e, mais tarde, a do de Janeiro era de 877.000 habi-
café, a balança comercial do Rio tantes.
de Janeiro oscila entre períodos de O modelo base exportação em
fastígio e de crises, estas muitas terras fluminenses é mais signüi-
vezes determinadas pela ação di- cativo no século XIX, quando esta
reta do estado. Releva notar que lavoura ocupa, extensivamente,
políticas comerciais da época desde grande parte do vale médio Paraí-
cedo favorecem investimentos de ba, ocupando também todo o tre-
capitais estrangeiros não só na ati- cho serrano onde as condições cli-
vidade comercial senão também máticas eram favoráveis para a
nos serviços urbanos. cultura. Os desequilíbrios espaciais
A base mercantil da cidade do decorrentes são devido, em espe-
Rio de Janeiro, herdada dos perío- cial, à qualidade dos solos, às con-
dos anteriores, permite participa- dições climáticas locais e ao está-
ção mais efetiva da burguesia co- gio em que se encontra o avanço

536
da cultura· cafeeira. Este desequi- dial e com isso afetando os inte-
líbrio reflete-se nas cidades sur- resses não só do fazendeiro mas
gidas em função do café. O café é sobretudo da burguesia mercantil
grande desbravador e incentivador do Rio de Janeiro, pensa-se na
do aparecimento de cidades em construção da ferrovia. "Os fazen-
todo o planalto fluminense, entre deiros mais importantes do vale do
muitas delas, destacam-se Vas- Paraíba não tardaram a se empe-
souras, Barra do Piraí, Cantagalo. nhar, com dinheiro e prestígio na
"Além das cidades, por centenas se p;o.gressão d.os trilhos. que, a prin-
contam as vilas, povoados e arrai- cipiO, pareciam destmados a se
ais, nascidos no grande ciclo cafe- deter no sopé do abrupto serrano"
eiro fluminense, além de muitos (Bernardes, N., 1958, p. 46). Com
outros núcleos que na baixada a ferrovia há profundas transfor-
mesmo, não indo além de me- mações nas cidades da província
díocres ajuntamentos, repentina- fluminense. As transformações se
mente floresceram com o simples verif~caram não s? .naquelas que
trânsito de torrentes de café de se tmham beneficiado indireta-
serra acima" (Lamego, A.R. 1963, mente com a economia cafeeira
p. 7) através da etapa de transbord~
O café realmente "modelou" a para o porto do Rio de Janeiro
rede de cidades do atual estado. vivendo um rápido ressurgiment~
Depois do "ciclo cafeeiro" poucos como se viu na citação acima. o
centros surgem. Entre eles e que, que é mais marcante é o que ocorre
atualmente, tem importância no com as cidades que surgem em
sistema urbano estadual, só se pode decorrência da própria economia
citar Volta Redonda. agroexportadora cafeeira.
Antes da ferrovia que drena para De modo tradicional, as transfor-
o Rio de Janeiro toda a riqueza mações ocorridas nas cidades cafe-
do café e que consolida a hegemo- eiras fluminenses com intenso pro-
nia da cidade no espaço regional, cesso de estagnação, ou mesmo
algumas cidades, entre elas, alguns decadência, têm sido explicadas
portos, se beneficiam do desenvol- pelo esgotamento das áreas cafeei-
vimento espacial da lavoura cafe- ras da província, abolição da escra-
eira na província fluminense. "Pa- vatura, entre outras causas. Ao
rati revive temporariamente os me.sl!lo tempo o surgimento daque-
prósperos dias coloniais. Angra dos las Cidades e seu apogeu são descri-
Reis torna-se o segundo porto do tos como produto da oligarquia
Brasil meridional. Mangaratiba cafeeira que nelas investiu. É difí-
aparece enriquecida pelos Breves. cil entender que tamanho poderio
Itaguaí, simples registro fiscal, fruto de importante classe tenh~
passa de aldeia indígena a cidade. ruído tão rapidamente. Aq{ü colo-
Maricá, Araruama, São Pedro d' Al- ca-se uma dúvida: sobre em que
deia e o próprio Cabo Frio muito espaços estaria atuando os inte-
devem ao café. Barra de São João resses e o capital acumulado com
é um dos maiores portos fluviais o café? Será que as cidades flumi-
do norte fluminense com os seus nenses surgidas do café são real-
mente um produto da oligarquia
embarques de café. Macaé recebe rural ou elas são apenas um re-
a colheita de numerosas fazendas flexo do café, através da burguesia
esparsas em diferentes galhos ser- comercial surgida em cada uma
ranos" (Lamego, A. R., 1963, p. 7). delas e que não representam, nas
Quando os caminhos por terra classes dominantes da época, papel
se mostram precários no processo de decisão. Se considerar-se, como
de comercialização, dificultando as foi citado anteriormente, que os
exportações para o mercado mun- próprios fazendeiros financiaram a

537
construção da ferrovia e qu~ esta para sustentar a própria atividade
beneficiou realmente, o RIO de cafeicultora. As deficiências de que
Janeiro e 'levou a decadência, ou padecem hoje todas as cidades bra-
pelo menos a estagnação, para 8:s sileiras, sem exceção, em matéria
cidades por onde ela passou, ven- de serviços urbanos, são já secula-
flca-se que havia interesse contra- res" (Garcia, H., 1979 p. 36).
ditórios entre a oligarquia rural e Por outro lado, o sistema polí-
a burguesia comercial das cidades tico-administrativo brasileiro tem,
fluminenses como Vassouras, Barra dEsde o início, se constituído em
do Piraí Cantagalo, entre outras. fator de entrave à estruturação de
As cidades fluminenses surgidas um sistema de cidades equilibrado.
com o café não tem um papel no À independência política contra-
processo do desenvolviment~ do põem-se a dependência aos países
capitalismo no estado. O cafe, no centros. A cidade capital, concen-
século XIX, na província, beneficia trando o poder político, firma-se
apenas os fazendeiros ~ a burgue- como centro da vida nacional. Pela
sia comercial mercantil estabele- constituição de 1824 o poder polí-
cida na cidade do Rio de Janeiro. tico, inspirado pela eleição de câ-
Daí no sistema de cidades do maras responsáveis pela adminis-
est~do do Rio de Janeiro, em 1950, tração local, foi aparente, dada a
aquelas cidades se apresentarem subordinação das mesmas ao poder
não só com pequeno tamanho fun- central das províncias. A escassez
cional como também com baixo de recursos sempre caracteriza a
nível sócio-econômico. Reafirma-se administração municipal, que não
que o ciclo do caf~ fluminense é tem condição de criar infra-estru-
muito mais o consolldador da hege- tura e serviços públicos necessários
monia do Rio de Janeiro do que o ao crescimento das cidades. O ciclo
criador de vida urbana na zona se estabelece na medida em que a
serrana e no vale do Paraíba. insipiência dos equipamentos ur-
Aqui é válido relembr~r as colo- banos não atrai investimentos do
cações de Helena Garcia quando setor produtivo. A Proclamação da
diz que com o café "a base pro- República, a Constituição de 1891
dutora continua a ser o campo, e a criação dos legislativos munici-
embora se apresente um fato novo: p:tis não mudam essa situação.
a maior retenção do excedente por Chega-se ao século XX em que
parte dos produtores, o q~e d~ se configura no território do estado
origem ao moyiment? de naci~nali­ um espaço dominado pela cidade
zação do caplt~l e a forma_çao de do Rio de Janeiro e o restante sem
oligarquias cuJa força reside na nenhuma vida representativa. Na
propriedade da terra. Aparelham-se região do vale do Paraíba, poste-
as fazendas no sentido de se auto- riormente à queda da cafeicultura,
abastecerem sem que seja necessá- somente a pecuária consegue so-
rio recorrer às cidades. Nesses dias breviver em solos tão degradados.
torna-se mais clara a predominân- A criação de gado leiteiro, dentro
cia do campo sobre.a ~idade. O pr?- dos moldes semi-extensivos em que
prio estado constltm-se a partir passa a ser praticada, acentua,
de oligarquias rurais. Os grupos inicialmente, o despovoamento do
ligados às tarefas eminentemente
urbanas e os responsáveis pela pro- meio rural, e, por não ter capa-
dução manufatureira não cons_e- cidade de incorporar inovações,
guem ainda u;na re:p~esentaçao acaba resultando em progressiva
substantiva a mvel polltlco e, por- perda de substância financeira do
tanto não conseguem imprimir setor primário do estado. Cabe
sua ~arca à cidade. A maior utili- destacar que, ao contrário de São
zação do excedente econômico será Paulo, onde ocorreu diversificação

538
da agricultura, menos em função No Norte fluminense surge uma
das crises do café do que pela ex- zona cafeeira nos solos cristalinos.
pansão do mercado urbano (Cano, De curta permanência, a produção
Wilson. 1975), no Estado do Rio de beneficia, de certo modo, as cidades
Janeiro a estagnação e mesmo de Itaperuna e de Bom Jesus do
decadência das cidades após a Itabapoana. Entretanto, essa pro-
queda da produção cafeeira não dução decai após 1929 devido à
estimula o desenvolvimento de queda das exportações.
uma agricultura diversificada, não De relevância econômica maior
obstante os solos desgastados dei- e com repercussões no crescimento
xados pelo café. de algumas cidades, a fruticultura,
A agricultura nos 30 primeiros de modo geral, e o "ciclo da laran-
anos do século XX, no Estado do ja", de modo particular, prolonga
Rio de Janeiro, desenvolve-se de no território fluminense o modelo
maneira espacialmente isolada e primário exportador. O desenvolvi-
descontínua. Essa lavoura, voltada mento da cultura da laranja, da
para a produção de alimentos para banana e do abacaxi está relacio-
o mercado interno e de matérias- nado à expansão das exportações
primas para a indústria de pro- durante a conquista dos mercados
dutos alimentares e bebidas, sus- europeus depois da Primeira Guer-
tenta a economia das pequenas ra Iviundial. Entretanto, seu pe-
cldades, de débil incremento demo- ríodo foi curto, entrando em declí-
gráfico e fraca vida comercial. nio com as restrições das exporta-
Alguns trechos agrícolas se des- ções após a grande crise mundial
tacam mais do que os outros, de de 1929 e, praticamente, terminou
modo especial são as áreas corres- com a Segunda Guerra Mundial.
pondentes às baixadas litorâneas e As repercussões desse período
às colinas cristalinas, ou mesmo as nas cidades da baixada foram
"serras frias". Nas áreas mais pró- grandes e muito diferentes, se esta-
ximas ao Rio de Janeiro a agricul- vam ou não dentro do espaço em
tura volta-se para o mercado ca- que a fruticultura se desenvolveu.
rioca. É, por exemplo, o caso da Algumas se desenvolveram de
produção de batata e marmelo em modo extraordinário, como Nova
Teresópolis. "A qualidade do mar- Iguaçu e São Gonçalo. Outras per-
melo de Teresópolis tomou forma maneceram estagnadas, como Ita-
e para aproveitá-lo foi instalada na boraí ou francamente decadentes,
sede municipal em 1916 uma fá- como Barra de São João (Geiger,
P .P. 1956).
brica de massa de marmelo para
fornecimento da Fábrica Colombo, Cabe salientar que a lavoura
sediada no Rio de Janeiro (Duarte, canavieira, base da economia do
A.C., 1968, p. 112) norte fluminense, não faz parte,
nesta fase, da economia de expor-
Em trechos da Baixada Flumi- tação. Seu objetivo é atender ao
nense "os gêneros alimentícios consumo crescente do mercado ur-
eram cultivados nos trechos pouco b:mo da cidade do Rio de Janeiro.
explotados anteriormente" (Geiger, SEm dúvida, em 1930, a situação
P.P., 1956, p. 34). Em 1913, quando econômico-financeira da cidade do
"começa a desenvolver-se a cultura Rio de Janeiro se encontra abalada
da laranja em Itaboraí, a farinha com as crises de exportação, entre-
de mandioca e o milho figuravam tanto a cidade já tinha acumu-
entre os principais produtos do lado fatores locacionais necessários
município. Em 1925, Cachoeiras de para não perder sua posição hege-
Macacu exportava milho, feijão e mônica no sistema de cidades da
farinha" (Geiger, P.P., 1956, p. 34). área fluminense que dominava,

539
quando um novo "modelo" de nível do empírico no Estado do Rio
desenvolvimento se implementa no de Janeiro, onde toda, ou quase
País- o da industrialização subs- toda, a acumulação do crescimento
titutiva. se concentra na metrópole carioca,
sobretudo as formas 2 e 3 acima
6. 3 - Acumulação Capitalista e relacionadas.
o Processo de Metropolização A fase da aceleração industrial
chamada de substituição das im-
A crise da hegemonia agrário- portações ocorre em outros países
exportadora, decorrência da f?:ran- da América Latina e é suficiente-
de crise de 1929 e a Revoluçao de mente conhecida, o que dispen-
1930, marcaram no Brasil o início sa caracterizações pormenorizadas,
de aceleração da economia com o principalmente porque n~m semp_re
desenvolvimento de uma nova es- auxiliam na com preensao do sis-
trutura produtiva de base urbano- tema urbano e da estrutura espa-
industrial. cial. Entretanto, dois processos per-
mitem entender o porquê da viabi-
Essa nova fase é caracterizada lização do crescimento das indús-
por "três formas distintas, nem trias pela substituição das impor-
sempre sucessivas: 1 - a chamada tações com reflexos na acelerada
de industrialização substitutiva de taxa de urbanização e sobretudo
importações. 2 - a industrializa- da metropolização e que permitem
ção restritiva ou _excludente b~ea­ entender o que aconteceu no Es-
da na implantaçao da produçao de tado do Rio de Janeiro. O primeiro
bens intermediários e de bens de processo é uma conseqüência da
produção e !lo seu Aco~umo. 3 -:- etapa anterior, a primário-exporta-
a dinamizaçao economica por me10 dora que gera "economias de aglo-
da exportação de produtos semi- meração em um conjunto reduzido
manufaturados e de alguns produ- e privilegiado de centros urbanos"
tos acabados de consumo popular" (Rofman, A. B. 1977, p. 137).
(Cardoso, F .H., 1975 - p. 64).
No caso do sistema aqui estu-
Aqui aceita-se, em linhas gerais, dado só um centro se beneficiou
essa caracterização do crescimento '
realmente deste processo - a ci- .
econômico brasileiro nos últimos 40 dade do Rio de Janeiro, porque era
anos cientes de que a nível teórico- a que tinha acumulado, durante
conc~itual pode suscitar críticas todo o período anterior, a infra-
sobre interpretação da acumulação estrutra necessária para represen-
capitalista. Entretanto, ela parece tar seu papel no período de cres-
satisfatória para entender, como cimento que se iniciava. O segundo
processo social, a es~rutura espa- processo "se relaciona _co~ o meca-
cial do sistema de cidades do Es- nismo de reacomodaçao mterna e
tado do Rio de Janeiro e as distor- o jogo de alianças entre os grupos
ções nele verificadas, conforme os sociais recém-incorporados, os que
resultados das análises multivaria- expressam a crise do sistei?-a oli-
das a que se submeteu o universo gárquico-exporta9-or ~m . ~Ias. d~
de cidades do estado. As interpre- uma modificaçao sigmflcativa
tações de Fernando Henrique Car- (Rofman, A.B., 1977, p. 137). Este
doso sobre o processo de crescimen- processo no Brasil está relacionado
to econômico brasileiro relacionam às modificações na estrutura de
produção industrial, consumo ur- classes no País e ao surgimento do
bano, atividades terciárias e, sobre- "populismo". Foi este que estimu-
tudo, relações de classes sociais e o lou, e de modo contraditório, certas
poder do Estado sobre a economia. pressões por parte d!i classe . ope-
Isto parece dar conta, ao nível teó- rária-urbana quanto a melhona de
rico-cenceitual, do que ocorreu ao salários e outras reivindicações so-

540
ciais, localizadas nas cidades - os pelo processo são poucas e poucas
institutos de previdência - com se beneficiam. Em contrapartida,
decorrente assistência médico-esco- as que são afetadas negativamente
lar e mesmo habitacional. Isto ou, pelo menos, não são beneficia-
ocorre em particular no Rio de das, são numerosas, gerando as
Janeiro e, mais modestamente, em distorções já assinaladas no capí-
Niterói e Volta Redonda. Sem dú- tulo anterior.
vida esse processo de transforma- "As indústrias inicialmente subs-
ções sociais estimulou o crescimen- titutivas são as produtoras de bens
to das cidades e intensifica as de consumo simples. A primeira
migrações rurais-urbanas, porque fase do modelo de substituição de
a diferença de salários entre o importações, que se desenrola du-
campo e a cidade induzem movi- rante os anos trinta e quarenta,
mentos nesta direção. O custo da corresponde, assim, à fase final de
industrialização é, em verdade, implantação do "setor tradicional"
bastante pesado para o campo. (Bresser Pereira, L. B., 1977,
No caso do Estado do Rio de p. 118). É essa fase inicial que
Janeiro esse processo tem repercus- beneficia as cidades onde já havia
sões muito grandes. A maioria das alguma atividade artesanal e uma
cidades surgidas no "ciclo do café" mão-de-obra qualificada. Como ca-
o foram pelo impulso muito mais racterística da fase, tem-se indús-
comercial do que pela estrutura trias com capital de pequenos em-
produtiva. Só tinham pequenas presários e de baixa tecnologia. Isto
indústrias ligadas ao mundo rural, ocorre, sobretudo em Nova Fri-
não sofreram o impacto das trans- burgo e Petrópolis. Em Nova
formações sociais e não foram be- Friburgo às primeiras fábricas de
neficiadas pelos fluxos migratórios. rendas e artigos elásticos, setor
Esses ocorrem particularmente tradiconal, instaladas nas duas pri-
para as cidades onde as indústrias meiras décadas do século, vieram
se instalam e onde o mercado de se juntar outras, nas décadas de
emprego é atrativo. Tratando-se de 30 e 40, do modo que a cidade passa
uma industrialização fortemente a ser considerada um núcleo indus-
concentrada, é para o Rio de Ja- trial. Em Petrópolis, que até 1930
neiro e para a área metropolitana tinham sido instalados apenas 23
que o afluxo migratório é mais estabelecimentos, todos ligados aos
intenso. ramos tradicionais, teve, entre 1930
Em contrapartida, a estrutura e 1950, seu setor industrial acres-
produtiva do setor primário é acen- cido de 52 estabelecimentos (Maga-
tuadamente afetada, com perda de lhães, J. C., 1966, p. 34) de dife-
mão-de-obra (vide anexo 6), sobre- rentes tamanhos e de vários gê-
tudo porque as estruturas agrárias neros, mas todos de bens de con-
se mantém intocadas. Ao mesmo sumo, característica da fase subs-
tempo, as propriedades rurais das titutiva.
áreas periféricas, sobretudo aquelas O processo de industrialização
situadas em áreas de amenidades, substitutiva em sua fase inicial,
estavam sob processo de gestação isto é, até 1950, caracteriza-se pela
valorizada, com especulação do fraca concentração de capital na-
solo, decorrência do processo social cional, procedente da acumulação
urbano-industrial e do capitalismo. com base na exportação de pro-
dutos primários e de atividades
A industrialização, a partir de urbano-mercantis. Ao lado disto,
1930, beneficia e afeta desigual- "começou-se a produzir interna-
mente não só a estrutura urbana mente em primeiro lugar os bens
como a estrutura espacial em seu de consumo não duráveis destina-
conjunto. As cidades que passam dos, primordialmente, ao consumo

541
das chamadas classes populares e tropolização das cidades, bastante
não o inverso, como comumente se numerosas, surgidas na fase pri-
pensa" (Oliveira, F., 1977, p. 22). mário-exportadora. Só Campos
No sistema espacial fluminense mantém-se como centro de impor-
esta fase do processo de industria- tância econômica, porém sofrendo
lização implanta-se, em poucos os reflexos da crise das exportações,
centros, de uma rede surgida na pois não só sua economia fica aba-
fase anterior, com pequenas indús- lada como recebe contingente de
trias com caixa índice de capitali- mão-de-obra do mundo rural, que
zação, apresentando poucas possi- não pode ser absorvido no mercado
bilidades de promoverem um desen- de trabalho urbano, trazendo pro-
volvimento industrial diferenciado. blemas de deficiências de serviços,
Apenas o eixo Rio-São Paulo é o que se reflete no nível sócio-
beneficiado pela implantação in- econômico detectado em sua posi-
dustrial que ocorre ainda nesta ção no respectivo fator da análise
época, isto é, na década de 1940. fatorial.
Os interesses governamentais
voltam-se para o setor siderúrgico 6. 4 - O Capitalismo Atual e o
e daí resulta o levantamento de Sistema Urbano
grande soma de recursos finan-
ceiros e a construção de Volta A partir de 1950, com o "desen-
Redonda no Estado do Rio de volvimento nacionalista" do go-
Janeiro. A criação da Usina Side- verno populista de Vargas (1950-
rúrgica Nacion~al, em Volta Re- 1954) e com o Plano de Metas do
donda, inicia incipiente descentra- governo Kubitscheck (1956-1960),
lização do setor industrial. As van- "que associou de forma brilhante
tagens locacionais desse segmento a política de massas e os compro-
territorial do estado, a maioria missos crescentes com o capital
delas implantada na fase primário- externo" (Ianni, O., 1978, p. 8),
exportadora como: facilidade de dá-se início ao crescimento acele-
transporte ferroviário, proximidade rado do processo de industrializa-
do porto, ou como conseqüência ção do País e que terá repercus-
dela a existência de mão-de-obra sões na estrutura espacial dos sis-
relativamente barata em decorrên- temas urbanos.
cia do êxodo rural, atraem, ao lado Não é necessário aqui uma carac-
da Companhia Siderúrgica Nacio- terização detalhada do processo.
nal, outras indústrias, porém estas Já suficientemente conhecido pelas
na fase posterior, quando o pro- críticas de Maria da Conceição Ta-
cesso desemboca num modelo con- vares (1970), Celso Furtado (1974),
centracionista, com expansão das Carlos Lessa (1975), Francisco de
indústrias de bens duráveis e de Oliveira (1977), entre outros. Pro-
bens de capital. cura-se apenas lançar mão de al-
Dessa forma pode-se concluir que guns aspectos do processo que sir-
as disparidades verificadas no sis- vam para entender o que aconteceu
tema de cidades, em 1950, são entre 1950 e 1970 no sistema ur-
modeladas por diferentes processos, bano fluminense e selecionar certas
refletindo de maneira diferente no formas da ação do poder de gover-
tempo e no espaço. Sem dúvida, no que, após 1970, vieram contri-
em todas elas, desde a fase mercan-
tilista, passando pelo primário- buir para acentuar a concentração
exportador, chegando ao início de das atividades urbano-industriais,
industrialização substitutiva, a acentuando os desequilíbrios no
grande beneficiária é a metrópole sistema.
do Rio de Janeiro que nessa época A entrada de capitais estrangei-
impulsiona intenso processo de me- ros através de empresas multina-

542
cionais não ocorre somente no Janeiro, acentuando distorções na
setor industrial com forte depen- estrutura do sistema urbano, ape-
dência de capitais e de tecnologia, sar de toda política de planeja-
mas se faz sentir em outros setores, menta desenvolvida pelos poderes
como o de serviços e os financeiros. federal e estadual.
Isto acrescenta novas forças ao Quanto ao setor industrial, neste
processo de acumulação e tem re- processo ligado ao capital estran-
percussões na acentuação da con- geiro, a cidade do Rio de Janeiro
centração econômica na cidade do e sua região metropolitana não
Rio de Janeiro. são tão privilegiadas pelos gru-
Ao mesmo tempo outra caracte- pos estrangeiros como São Paulo
rística se impõe. É que a agricul- (Michin, S. S. 1973, p. 104). Entre
tura participa dialeticamente deste as indústrias consideradas priori-
processo de acumulação, pois ao tárias no plano de metas, poucas
lado do excedente dela retirado .são as que se estabeleceram no
verificam-se crises nas áreas agrá- então Estado do Rio de Janeiro,
rias não ligadas diretamente à ex- exceção feita à indústria de cons-
portação, o que causa não-cresci- trução naval em Angra dos Rei.s
mento, ou mesmo decadência, de (Verolme) . De modo geral, o cresci-
centros urbanos em áreas agrí- mento industrial na região metro-
colas, sobretudo no Estado do Rio politana e no restante do estado é
de Janeiro. feito através de capital estatal. Na
Nesse processo o comportamento década de 50, em Cabo Frio, é
dos três setores econômicos, indus- constituída a Fábrica Nacional de
trial, agrícola e de serviços são Álcalis. No município de Duque
manipulados pela intervenção do de Caxias a Fábrica Nacional de
Estado. Se o teor econômico deste Motores e a Refinaria de Duque
processo vinha sendo forçado des- de Caxias.
de o plano de metas, "o seu teor As indústrias de bens de capital,
político que também vinha sendo que caracterizaram o período mais
forçado anteriormente entra em recente do processo em análise, não
completa execução com o governo representam no município do Rio
do Marechal Humberto de Alencar de Janeiro importância no setor
Castello Branco" (Ianni, 0., 1975, industrial. Segundo Robalinho de
p. 29) De modo especial, no período Barros, a grande empresa indus-
de 1964 a 1972 as metas nacionais trial, e esta foi por ele considerada
são definidas pelo Estado de acordo como aquelas que têm 250 e ma:ls
com os interesses da burguesia e empregados, contribui, em 1973,
dos proprietários de terra. É e2sa com 4.0,9% do valor da produção,
fase privilegiada do autoritarismo participando com 10,0% do nú-
que permite intervenção direta do mero total de estabelecimentos e
poder estatal no sistema espacial sendo responsável r; or 49% da
fluminense, com a fusão de unida- mão-de-obra ocupada no setor. O
des federadas e com o a paio de mesmo autor afirma que os ramos
larga margem de técnicos, nem que participam com maior expres-
sempre voltad03 para uma compre- são no valor da produção são os
ensão global da problemática social de gêneros de bens de consumo tais
da estrutura espacial. como têxtil, couros e peles, mate-
Estas diferentes características riais plásticos (Robalinho de Bar-
por que passa o processo, desde o ros, F. 1975).
início da década de 50, em dife- A cidade do Rio de Janeiro não
rentes conjunturas políticas, tem tem o mesmo dinamismo indus-
reflexos na estrutura espacial do trial apóJ 1950 e não foi pólo atra-
que é hoje o Estado do Rio de tivo para as empre.'3as multinacio-

543
nais do setor industrial instaladas serviços do governo mas também
após aquela data, como ocorre em empregos de diferentes níveis de
São Paulo. De modo geral, o Rio produtividade nas empresas gover-
de Janeiro perde, sucessivamente, a namentais" (Figueiredo, Vilma.
posição de centro hegemônico da 1978, p. 97). Esta característica do
economia nacional no que se refere processo econômico merece alguns
ao setor industrial. O quadro a se- comentários porque permite um
guir, extraído do trabalho de Ianni, entendimento da concentração eco-
é elucidativo (Ianni, O. 1978, nômica e de atividades no Rio de
p. 34). Janeiro e a ampliação não só de
sua região metropolitana mas tam-
bém do que por ora denomina-se
QUADRO 8 de projeção do poderio metropoli-
tano pelo espaço estadual.
Valor da "Produção" Industrial por
Estado Há opiniões controvertidas sobre
o que constitui o setor estatal da
economia brasileira, sobretudo em
ESTADOS 1907
I I I
1920 1938 1958
relação à sua estrutura e formas
de atuação no processo de acumu-
Distrito Federal 33.1 2D.R 14,2 11,4
São Paulo . . . . . . . . . . . . . .. . 16.5 31,5 43,2 55,0 lação. "O problema não está apenas
Rio Grande do Sul ...... 14,9 11,0 10.7 7.7 em que o setor estatal da economia
Rio de Janeiro. 6.7 7,4 5.4 6,6 no Brasil seja um fenômeno relati-
vamente novo, como tentam expli-
car alguns economistas, mas que
ainda se encontra em processo de
Além disso, o setor industrial é afirmação e não tenha adquirido
altamente concentrado no espaço forma precisa e definida" (Michin,
estadual. Em 1973 "aproximada- S. S. 1973, p. 226). Entretanto, não
mente 80% do total do valor da se pode negar que seu papel é fun-
produção estão concentrados em damental e que tem reflexos sobre
apenas oito municípios: Duque de o consumo. Aqui pretende-se asso-
Caxias, Volta Redonda, Campos, ciar esses reflexos às caracterís-
São Gonçalo, Niterói, Nova Iguaçu, ticas espaciais e sua concentração
Petrópolis e Barra Mansa" (Roba- econômica.
linho Barros, 1975, p. 187). Assim, As empresas estatais, uma das
não considerado o município do Rio formas do setor, foram criadas
de Janeiro, observa-se que dos oito desde a década de 50, com os gover-
municípios citados, cinco estão nos populistas, tais como Petro-
integrados à região metropolitana, brás, Eletrobrás, Vale do Rio Doce,
o que fica bem acentuado que o mas se tornam mais numerosas e
setor industrial, mesmo na fase poderosas no final da década de 60
acelerada do crescimento depen- e no nício da década de 70; a
dente, não beneficia o espaço esta- diversificação e expansão dessas
dual, sendo apenas relativamente empresas e uma série de órgãos e
importante na região metropoli- fundações de governo encarregadas
tana. de produzir estudos e metas para
Entretanto, não foi só o capital a "política de desenvolvimento" e
estrangeiro o responsável pela ação de planejamento exigem uma
acumulação capitalista com base multiplicidade de técnicos de for-
no setor industrial. "O governo mação universitária para seu fun-
brasileiro desempenha um papel cionamento. "Muitos desses técni-
importante, tornando compatíveis cos, os mais graduados, já tinham
diferentes relações de produção mesmo militado em empresas mul-
dentro da formação social, já que tinacionais" (Michin, S. S. 1973,
cria empregos não só no setor de p. 185 a 188) e todos tinham como

544
atrativo os elevados salários. Pas- nela, isto é, urbanizadas, uma vas-
saram a constituir uma fração ta gama de serviços espalhados
da classe dominante, denominada pelas cidades, destinados ao abaste-
de burguesia estatal ou "classes cimento das populações dispersas:
dos tecnocratas" (Bresser Pereira, pequenas merciarias, bazares, lojas,
1977, p. 68) . Esta fração de classe oficinas de reparos e "ateliers" de
social não tem inteiramente poder serviços pessoais. Estes são setores
político, entretanto representa que funcionam como satélite das
"setores da classe média alta que populações nucleadas nos subúr-
fazem sentir sua presença mais bios e, portanto, atendem a popu-
como consumidores do que como lações de baixo poder aquistivo"
partes ativas da comunidade polí- (Oliveira, F. 1977, p. 35).
tica" (Cardoso, F. H. 1975, p. 80). Esta citação parece dar conta do
Esta fração de classe social tem ocorrido no espaço metropolitano
na estrutura social posição de pri- do Rio de Janeiro. Quanto ao nível
vilégios, o que torna estes setores empírico, constata-se pela análise
beneficiários automáticos do cres- fatorial que, em 1970, os municí-
cimento econômico (Cardoso, F.H. pios com alto contingente de popu-
1975). lação urbana e os mais baixos ní-
No que tange ao crescimento veis sócio-econômicos se integram
econômico do Rio de Janeiro, a pre- na região metropolitana. Vê-se que
sença nesta cidade, desde a década o tamanho econômico desta parte
de 50, de empresas estatais vin- da estrutura espacial do estado
culadas à função de capital federal, pode ser formado com dois setores
e nas décadas seguintes, de órgãos, que refletem as distorções das ren-
mesmo do governo federal ao lado das das diferentes classes sociais
do estadual, sobretudo depois da que formam a sociedade que aí
fusão, estimula o crescimento do vive.
setor terciário. São instaladas na Estas colocações encontram res-
metrópole serviços de alta qualida- paldo nas formulações de Santos
de, reproduzindo um terciário espe- quanto aos dois circuitos da eco-
cializado e que vem se ampliando nomia urbana dos países subde-
nos últimos quinze anos, sobretudo senvolvidos. "O tema dos dois cir-
para atender àquela fração da cuitos da economia urbana apa-
classe dominante. A não desagre- rece então como um verdadeiro
gação do setor serviços não per- novo paradigma da geografia ur-
mite, através de estatísticas, ava- bana e da planificação nos países
liar empiricamente o peso que as subdesenvolvidos. A idéia central
mesmas tem na economia da me- desse estudo é que a cidade dos
trópole e quando surgiram com países subdesenvolvidos não fun-
maior intensidade. ciona como um aparelho maciço
A p a r e n t e m e n t e contradi- ou, dito de outro modo, como um
tório, mas dialeticamente explicá- bloco. Ao contrário, no interior do
vel, o setor serviços voltado para as sistema urbano, em si mesmo de-
populações de baixa renda pode pendente de outros sistemas de
explicar também todo um cresci- nível superior, pode-se reconhecer
mento econômico e horizontalmen- a existência de dois subsistemas,
te expandido na região metropoli- dois circuitos econômicos" (Santos,
tana, até nos contatos da periferia Milton. 1979, p. 30). Estes dois
com a faixa rural. "Criou-se, para circuitos, segundo o autor, são
atender às demandas nascidas na responsáveis não só pelo processo
própria expansão industrial, vista econômico mas também pelo pro-
do lado das populações engajadas cesso da organização do espaço.

545
A metrópole carioca e seu espaço no processo através do forneci-
imediato, que concentra 80% da mento de mão-de-obra rural que,
população estadual, tem no cresci- migrando, vem reforçar o exército
mento do terciário, e este com toda industrial de reserva das cidades.
sua complexidade, a base de sua Aqui é necessário relembrar que
economia mais do que a do setor pode este "exército de reserva" ser
industrial. Isto faz-se apelar mais talvez muito mais dirigido para o
uma vez para Francisco de Oliveira setor serviços, contribuindo para a
para compreender o fenômeno no desvalorização da mão-de-obra no
processo econômico do capitalismo setor.
brasileiro: "o crescimento do ter- No Estado do Rio o decréscimo
ciário, na força em que se dá, da população rural em quase todas
absorvendo crescentemente a força as regiões-programa e o pequeno
de trabalho tanto em termos ah<:o- crescimento de população urbana
lutos como relativos, faz parte do na grande maioria de cidades do
modo de acumulação urbano ade- sistema pode servir, ao nível do
quado à expansãc;> ,~o sist.e~a capi- empírico, para comprovar este con-
talista no Brasil (Oliveira, F. ceito (vide anexo 6).
1977, p. 25).
Est:l visão geral das diferentes
O setor agrícola também parti- características desta fase (1950-
cipa do processo de acumulação 1979) do processo de acumulação
acelerada. Por parte do governo, capitalista pode levar a conclusão
refletindo o interesse da burguesia de que no sistema espacial flumi-
nacional associada à internacional nense poucas foram as cidades que
e como parte integrante do próprio responderam às estratégias dos
sistema o setor primário tem que planos de ação governamental para
ser ma~tido ativo, mas não esti- o desenvolvimento econômico-soci-
mulado. Ao mesmo tempo "a agri- al, mesmo após a fusão, pois os
cultura deve suprir as necessidades desequilíbrios espaciais permane-
das massas urbanas de forma a cem no Estado do Rio de Janeiro.
não elevar o custo da alimentação, A concentração econômica conti-
principalmente e secundariamenye nua ou mesmo se acentua no espa-
o custo das matérias-primas, e nao ço metropolitano. As distorções
otstaculizar, portanto, o processo na estrutura urbana permanecem,
de acumulação urbano-industrial" anesar de todo o planejamento que
(Oliveira, F. 1977, p. 15). A agricul- c~racteriza a vida política-econô-
tura beneficiada foi aquela voltada mica no Pais, em geral, e no Es-
para as exportações. tado do Rio de Janeiro, em parti-
Como é conhecido, o Estado do cular. Entretanto, pode-se concluir
Rio de Janeiro, após a decadência este capítulo utilizando palavras de
da sua cafeicultura encerrada no Celso Furtado. "Espontaneamente
século XIX, não tem áreas de ex- a descentralização espacial so-
pressão agrícola para a exportação. mente se faz a custos elevados, isto
Mesmo a zona açucareira do norte é, a partir do momento em que os
fluminense não pode concorrer, na
exportação, com a produção paulis- custos marginais de centralização
ta e mesmo do Nordeste. Assim, a são insuportáveis. Ainda assim,
agricultura participa do processo sem planejamento, é possível que
de acumulação, nesses últimos essa reversão não se realize, pois
vinte anos, fornecendo sobretudo poderosos interesses criados a ela
alimentos para as massas urbanas. se oporão" (Furtado, C. 1973,
Entretanto, participa diretamente p. 163).

546
7- CONSIDERAÇÕES A de capital é aplicado em função do
GUISA DE lazer e do veraneio nesses centros
para a classe dominante da cida?e
CONCLUSÃO do Rio de Janeiro. A compreensao
do sistema urbano exige uma pes-
Este estudo que tem a proposição quisa neste campo de investi-
de verificar as transform'lções ocor- gação.
ridas no sistema urbano do estado, Este mesmo vetor pode ser iden-
vistas no tempo, através do desen- tificado espacialmente no litoral de
volvimento econômico brasileiro e Angra dos Reis e Parati. A infra-
seus reflexos nas distorções espa- estrutura criada, ao nível do empí-
ciais, constata que é cada vez maior rico, é o elemento para detectar a
a hegemonia da cidade do Rio de projeção da metrópole, ou melhor,
Janeiro, colocando em jogo os con- do capital neste trecho. Atenuado,
ceitos de concentração-desconcen- porém maior ao longo do tempo, o
tração e centralização-descentrali- mesmo processo se desenrola na
zação. Conclui que, na fase de afir- região serrana próxima. O equipa-
mação do capitalismo no Brasil, mento comercial e a qualidade dos
que coincide com a fase de concre- serviços de Petrópolis, Teresópolis
tização do planejamento, ocorrem e Nova Friburgo é o reflexo da ex-
modificações, não obstante acen- pansão dos loteamentos para se-
tuada concentração. gunda residência e síitios de lazer.
A consolidação da região metro- Expansão esta que atinge, hoje em
politana gera expansão da concen- dia, as cidades de Mendes, Miguel
tração no espaço: concentração Pereira e Engenheiro Paulo de
econômica no núcleo metropolita- Frontin.
no e concentração demográfica nas Ainda para atender à metrópole,
demais unidades. Isto confirmado dentro do mesmo conceito, outra
pelo tamanho funcional da metró- característica é detectada em cida-
pole e pelo baixo nível sócio-econô- des da região industrial do médio
mico dos outros centros urbanos Paraíba, surgidas com o café e
desta região, como fica evidenciado não beneficiadas pela industriali-
na análise de 1970. zação. Nelas instalam-se serviços
Fora do espaço metropolitano para atender muito mais à popu-
identifica-se, ao longo do tempo lação da cidade do Rio de Janeiro
1950-79, dois vetores de mudanças. do que à população regional. É o
Um decorrente do crescimento eco- caso de estabelecimentos de ensino
nômico e da acumulação capitalis- superior especializados, com cursos
ta na metrópole. Refere-se ao que não compatíveis com o contingente
se denomina projeção da metrópole demográfico das cidades nem com
no espaço, como foi anteriormente seu nível hierárquico, sem expres-
mencionado. Pretende-se relacio- são regional. Neste caso incluem-se
nar a metrópole, onde vivem fra- as faculdades de medicina, odonto-
ções da classe social privilegiada logia em cidades como Valença e
pelo processo de acumulação capi- Vassouras e de arquitetura e enge-
talista, com espaços em que aque- nharia em Barra do Piraí.
las frações produzem outros privi- O segundo vetor de mudança
légios. Este vetor corresponde, no decorre do processo de cre>cimento
espaço, à expansão populacional e industrial induzido por políticas do
do setor serviços nos centros urba- Governo central. À implantação da
nos localizados ao longo do litoral indústria de base em Volta Re-
da região das baixadas litorâneas. donda sucede um processo de in-
Aqui não cabe e não há material dustrialização na região industrial
empírico para se avaliar o quanto do médio Paraíba, que se reflete

547
no crescimento de centros urban9s Paulo, e a dependência do espaço
que passam a ter maor expressao periférico estadual em relação
na estrutura espacial do estado: àquela cidade.
Barra Mansa, Resende, Barra do
Piraí e Três Rios. Ainda fruto ,do O distanciamento cada vez mais
poder de decisã~ c~ntral,_ porem significativo entre a cidade do Rio
associado ao capitalismo mtern~­ de Janeiro e as demais cidades do
cional, tem-se em Angra dos ReiS estado decorre de que podem ter
a construção da Centr~l ~ucl~ar ocorrido mudanças de tamanho, de
que, ao lado de outras mdustnas, nível sócio-econômico, mas não
gera conflitos ,de_ uso d~ solo, dada ocorrem mudanças estruturais,
a vocação tunstlca. regwnal; Ca?e persistindo formas de subordinação
citar a Fábrica Nacwnal de Alcal:S, necessárias a sustentação da posi-
em Cabo Frio, cuja implantaçao ção da metrópole.
tem origem semelhante. Confirmando uma posição assu-
Este vetor é reflexo de agentes mida no terceiro capítulo deste es-
exógenos ao sistema estadual _e tudo, de que o processo de cresci-
representa, no espaço, um cresci- mento concentrado dificilmente so-
mento mais voltado para as estra- fre mudanças dentro do sistema
tégias de aceleração do capitalism.o econômico vigente, mesmo que po-
no País do que para um desenvolvi- líticas deliberadas de descentrali-
mento econômico-regional. Se ele, zação sejam implantadas, verifica-
em parte, gera empregos e, sobre- se que a política de planejamento
tudo, reproduz serviços nos cent7_9s assumida pelo Estado do Rio de
urbanos, como é o caso da regmo Janeiro após a fusão não deu conta
industrial do médio Paraíba, a po- de suas diretrizes propostas.
pulação não é beneficiada co~ o A ação governamental regionali-
crescimento. Basta ver o bmxo zada e as tentativas de descentra-
nível sócio-econômico de Barra lizar a atividade industrial não
Mansa-Volta Redonda, na análise conseguem sustar o processo. Com
de 1970. vistas a um desenvolvimento regio-
As disparidades no sistema per- nal equilibrado, a divisão do estado
sistem e se acentuam, pois o pro- em regiões programas, comandadas
cesso de concentração é intrínseco por pólos regionais de níveis hie-
ao modo de produçã_o capitalista, rárquicos distintos (vide mapa 7),
reproduzindo distorçao no espaç?. não consegue nem a nível de admi-
As formas de crescimento econo- nistração descentralizar o poder
mico do País se fazem sentir ~e estadual, quanto mais descentrali-
modo marcante no Estado do R~o
de Janeiro, firmando a hegemo~Ia zar as atividades produtivas. As
da metrópole. Daí não se poder dis- medidas tomadas para descentrali-
sociar a formação histórica e eco- zação da atividade industrial têm
nômica da estrutura social e sua se baseado na criação de distritos
projeção no espaço. industriais, cuja localização, em
A organização do espaç~ d.o Es- sua maior parte, mostra as contra-
tado do Rio de Janeiro esta llg8;._da dições impostas pela necessidade
a diferentes formas de _çtependen- de ampliação acelerada do capital.
cia vistas no tempo. Nao apenas Grande parte dos distritos indus-
dependência externa senão tam- triais implantados pelo Governo do
bém dependência interna. que se Estado localiza-se na própria re-
reflete na posição assumida pela gião metropolitana e tentativas
cidade do Rio de Janeiro em rela- f~->itas fora desta região como, por
ção ao desenvolvimento de. outr~s e~emplo, o DI de Campos, não têm
áreas do País, em especial Sao tido sucesso.

548
A pos1çao dos planejadores, e cesso econom1eo, geneticamente
entre eles Celso Furtado, cuja refe- concentrador e, por conseguinte,
rência termina o capítulo anterior, desumano. O problema não é o pla-
é de que o planejamento constitui- nejamento como ação de governo,
se na forma para descentralizar. mas como ele é definido e operacio-
No entanto, a realidade mostra que nalizado.
o planejamento não atinge seus Acredita-se que conhecendo, em
objetivos, pois o capital tem mais diferentes níveis, os processos so-
força. Não se planeja para descon- ciais e seus reflexos no espaço,
centrar. O Estado pode propor des- pode-se ter melhor aproximação da
centralização, mas não desconcen- realidade e, talvez, intervir com
tração. maior precisão através de estraté-
Pode agir para descentralizar, gias de planejamento que benefi-
mas tudo parece ocorrer em sentido ciem diferentes segmentos do sis-
!COntrá,rio. DeiSta forma o plane- tema urbano. Este trabalho é uma
jamento se apresenta como uma tentativa de dar início a este tipo
postura ideológica, pois, apesar de de investigação. Se isto ainda não
planos e de ação governamental trouxer os efeitos que se pretende
regionalizada, depara-se com o po- alcançar, pode, pelo menos, ser um
der do capltal e os interesses das ponto de partida para melhor com-
classes dominantes. Necessário se preensão da realidade em que vi-
faz, entretanto, intervir para ate- vemos. É muito mais um desafio
nuar os efeitos negativos do pro- do que uma intenção.

ANEXO 1 8 - Quociente locacional dos


estabelecimentos comerciais ataca-
Relação das Variáveis distas em 1950 e 1970.
9 - Quociente locacional das
1 - Participação da população atividades industriais em 1950 e
urbana dos municípios na popu- 1970.
lação urbana total do estado em
1950 e 1970. 10 - Quociente locacional das
atividades terciárias em 1950 e
2 - Taxa média anual de cres- 1970.
cimento da população urbana nos
períodos 40/50 e 60/70. 11 - índice de urbanização em
1950 e 1970 (percentagem da po-
3 - Participação do valor da pulação urbana na população total
produção industrial do município do município).
no total do estado em 1950 e 1970.
12 - Participação da população
4 - Participação da receita co- economicamente ativa na adminis-
mercial do município no total do tração pública na população ativa
estado em 1950 e 1970. total de 10 anos e mais do municí-
5 -Participação da receita dos pio em 1950 e 1970.
serviços do município no total do 13 - Participação do pessoal
estado em 1950 e 1970. ocupado na indústria na população
6 - Participação do número de total do município de 15 anos e
agências bancárias municipais no mais em 1950 e 1970.
total do estado em 1950 e 1973. 14 - Participação do pessoal
7- Participação do consumo de ocupado no comércio na população
energia do município no consumo total do município de 15 anos e
total do estado em 1953 e 1973. mais em 1950 e 1970.

549
15 - Participação do pessoal 24 - ônibus por 1. 000 hab. em
ocupado nos serviços na população 1950 e 1973.
total do município de 15 anos e 25 - Participação dos domicílios
mais em 1950 e 1970. com água encanada, no total de
16 - Receita per capita do co- domicílios do município, em 1950 e
mércio varejista em 1950 e 1970. 1970.
17- Receita per capita dos ser- 26 - Participação dos domicílios
viços em 1950 e 1970. com iluminação elétrica, no total
18 - Automóveis por 1. 000 hab. de domicílios do município, em
em 1950 e 1973. 1950 e 1970.
19 - Telefones por 1. 000 hab. 27- Participação de matrículas
em 1950 e 1973. do ensino primário na população
20 - Leitos hospitalares por municipal de 5 a 14 anos, em 1950
1. 000 hab. em 1950 e 1973. e 1973.
21 - Médicos por 1. 000 hab. 28 - Participação da população
em 1950 e 1973. com curso médio completo na
22- Profissionais liberais (den- população municipal de 15 anos e
tistas, farmacêuticos, engenheiros, mais, em 1950 e 1970.
agrônomos e veterinários) por 29 - Participação da população
1. 000 hab. em 1950 e 1973. com curso superior completo na
23 -Veículos de carga por 1. 000 população municipal de 25 anos e
hab. em 1950 e 1973. mais, em 1950 e 1970.

ANEXO 2

Análises para o ano de 1950


Matriz de Factor Loadings- Peso das Variáveis nos Fatores

NO-
MERO SISTEMA URBANO COM SISTEMA URBANO SE~ A CIDADE SISTWA URBANO SfM A REGIÃO METROPDLllA~A
DA 57 CIOADES DO RIO DE JANEIRO
VA-
RIA-
VEL F.l 1 Fll I F.I li I F.IV F.l I F.ll I F.lll I F.IV I F.V F.l I F.ll I F.lll I F.IV I F. v I F. VI I F. Vil
01 -~.96 -0,83 -0,93
02 --0,63 -J,65 0,67
03 -0,96 -0,83 --0,88
04 -0,97 -0,81 -0,87
05 -0,96 -0.76 -0,65
06 -0,96 -0.75 -0}4
07 -0,95 -0,72 -0,77
os -0,56 0,59 0,82
09 --0,96 0,94 -0,96
10 0,96 --0,94 0,96
11 -0,90 -0.73 0.76
12 -0.74 -0,50 0.75
13 -0,55 0.43 -0,53
14 -0,59 0,57 -0,69
15 -0.72 -0,72 0,53 -0,82
15 -0,71 O. 61 -0,79
17 -0.77 -0.70 0,52 -0,81
18 -0,77 0,65 -0,83
19 -0,68 0.70 -0,88
20 -0,48 0,58 0.75
21 -0.76 0.79 -0.76
22 -0,77 0,69 -0.46
23 -0.78 -0,77 -0,62
24 -0,67 -0,62 -0,55
25 -0.77 -0,69 0,54
26 -0,90 -0,77 0.71
27 -0.71 0,63 0,83
28 -0,52 0,58 -r.60
29 -0,55 0.74 -0.71

550
ANEXO 3

Análises para o ano de 1970


Matriz de Factor Loadings- Peso das Variáveis nos Fatores

NÚMERO SISTEMA URBANO COM 57 CIDADES SISTEMA URBANO SEM A CIDADE DO RIO DE .JANEIRO SISTEMA UP.BANO SEM A REGIÃO METROPOLITANA
DA V,L
RIÁIJEL F.l F.ll F.lll r.IV
I
F.V
I
F.VI F.l
I
F.ll F.111
I
F.IV
I
F.V I F.VI _I_F_.VII F.l
I
F.ll
I
F.lll I F.IV I F.V I F.V! I F. VIl

01 -0,95 -0,67 -0.79


02 --0.79 -0,81 -0,83
03 -0.95 -0,90 -0,93
04 -0,97 -0.75
05 -0,97 -0,66 -0,64
06 -0,96 -0,67 -0.68
07 -0,95 -0.92 -0,92
08 -0,50 -0,40
09 0,95 0,93 -0,91
1o -0,95 -0,93 0,91
11 0,67 0,47 -0.72 -0.73
12 0,67 -0.61 0.78
13 0,73 0.71 -0.62
14 0.74 -0.76 -0,80
15 0,66 -0.70 -0,83
16 -0,67 0,66 -0,77 -0,87
17 -0.66 0,66 -0,80 -0.86
18 0,60 -0,95 -0,80
19 0,67 -0,80 -0.80
20 -0.41 -0,59 0,84
21 0,87 -0,87 0,53
22 0.85 -0,87 -0,58
23 -0.73
2~ 0.79 -0.71 0,88
25 0.75 --0.73 -0.79
26 0,77 o.e1 -0.78 -0,81
27 -0,69 -0,83 -0,81
28 0.86 -0,67 -0,65
c:.n 29 0,81 -0.91 -0.70
c:.n
......
ANEXO 4 ·
Análises para o ano de 1950
Matriz de Factor Scores- Peso dos Lugares nos Fatores
OI
CJl SISTEMA URBA~O COM 57 CIDADES SISTEMA URBANO SEM A CmADE DO RIO DE JANEIRO SISTEMA URBANO SEM A REGIÃO METROPOLITANA
t..:l LUGARES
FI FI! FI! I FIV FI Flll FIV FV fi FI! Fli I FIV FV FVI FVIl

-1,88 -0,37 0,26 1,39 0,85 1.C7 0.12

-·P.41
-0.44
2,69
0,35 ,165 0,36 -1.41 -0.66 3,06 -2.24

-1.80 -0.33
1.76 -0.13
0,29 -1.00
-0,98 -1,01
-0,88 -1,07
1.68 -0,50
0,41 ----(),91
-0,56 0,32
0,25 0,42
0,12 0.43
0.33 -0.43
Análises para o ano de 1970
Matriz de Factor Scores -Peso dos Lugares nos Fatores
SISTEMA URBANO COM 57 LUGARES SISTEMA URBANO SEM A CIDADE DO RIO DE JANEIRO SISTEMA URBANO SfM A REGIÃO METROPOLITANA
LUGft.RES
FI
I FI!
I FI! I
I FIV
I -
FV
I FVI FI
I FII
I FI! I
I FIV
l FV
I FVI
I FVII
-
FI
I FII
-
I FI I!
I FIV
I FV
I FVI
I FVII
-

Angra dos Reis .. . 0,12 -0,00 0,98 -0,27 0,29 -0,14 -0,34 0,64 1,07 0,15 -0,06 0,11 0,46 -0,59 0.46 -1,15 0,25 1,21 -0,95 0,20
Araruama .............................. ... . 0,01 -0,63 0.27 -0,76 -0,41 -0,60 -0,09 0,29 0,38 1,18 -0,65 -0.23 0,09 0,29 0,26 -0,54 -0.74 -0.70 -0.78 -0,36
Barra do Piraí. .......................... .. 0,79 0.75 0,81 0,12 0,46 0,56 -0,18 0.27 0,68 -1.46 0,55 0,28 -0,93 -0,97 0,04 -0,21 0,38 -0,01 2,07 0.40
Barra Mansa - Volta Redonda ........... .. -0,12 0,90 1,86 -0,64 0,38 0,38 -0,13 -4,98 1.43 0,77 2,35 -0,56 -2,36 0,16 -6.26 -0,69 -0,95 -0,37 0,04 0,12
Bom Jardim .............. .. 0,09 -0,51 -0,62 -0,68 -0,12 -0,09 0,28 0,20 -0,59 0,55 -0.12 -0,45 -0,64 0,36 0.26 0,54 -0.73 -0,93 -0,04 -0,30
Bom Jesus do ltabapoana ................ ..
Cabo Frio ................ ..
0,24 0,07 ·-0,9B -0,13 0,69 0,91 0,06 0,38 -0,82 --0,34 0,68 -1,04 -0,13 -0.46 0,20 1,17 o15 -0,60 0,08 0,52
0,17 0,39 1,71 -0,87 0.47 0.47 --0,86 0,69 1,97 0,29 -0,28 -1.47 0,40 -1.44 0.45 -1.74 -0·,24 -0,66 -1,31 0,37
Cachoe!ras de Maca cu ............. ...... . 0,11 -0.44 -0.73 0,61 0,26 -0,22 0.45 0,29 -0,71 0,12 0,22 0,04 0,51 0,37 0,19 0,54 0.42 1,21 -0,69 -0,06
Cambuc.i ... . 0,05 0,74 -0,91 0,49 0,77 -0,33 0,60 0,01 -1,17 0,31 0,96 0,38 0,36 0,62 0,03 1,16 0,7B -0,16 -0,08 -0,49
Campos .... .. 0,09 0,22 -0.42 0.63 1,09 0.40 -0,44 -0,59 -0,55 -0,01 0,53 -0.71 1,62 -0.75 1.46 O,P2 1,85 0,19 -0,88 0,66
Cantagalo .... . 0,12 -0,28 -0,39 -0,02 0,12 -G.40 0.1 B 0,19 -0,36 0,28 0,26 0.41 -0.12 0,26 0.11 0,31 0,12 0,59 -0,13 -0.40
Carmo ........ . 0,13 -0,30 0,57 0,08 -0,29 -0,53 0,56 0,35 0,47 -0,55 0,07 1,54 -0,94 0,72 0,38 -0,58 0,25 0,33 2,03 -0,21
Casimira de Abreu. 0.70 -0,46 -0,00 0.49 -0,04 -1.16 0,22 0,34 -C,01 0,54 0,10 0,99 0.45 0,60 0,21 -0.26 0,32 0,81 -0.48 - 0,53
Cordeiro ................ . 0,22 0,33 1.72 -0)3 0,26 0,16 -0,11 0,85 1.71 -0,85 0,30 0.05 -0.42 -0.73 0.75 -1,53 -0,40 -0,18 0,1 o 0,25
Duas Brma: .. ........................ . 0,09 -0.56 -1,00 0,35 0.25 -1,10 0,31 0,12 -0,96 0,71 0.45 1,1 o 0,32 0,84 0,04 0.71 0.74 0,60 -0,02 -0,76
Duque de Caxia'.................. . .... . -0,?5 0,17 1,01 1,61 -0,89 0,88 0,34 -3,58 0,52 -0,03 -0,97 -0,61 -1,64
ltaboraí. ....... .. D,:JO 0,58 0,!9 -0,88 -0,34 -1,15 -0,11 0,10 0.76 1,19 -0.40 0,64 -0,30 0,67 0,06 -1,02 -0,93 -0,97 0,07 -0,29
ltaguaí .......... .. .................. . 0.26 0,52 0,34 -1,10 -2,75 -1,26 -0,53 0,14 -0,35 0,59 -2,39 0,42 -2.38 0,76 -0.16 -0,81 -0,81 1,16 2,32 -0,24
ltaocara............. ..... . .......... . 0,05 -0,68 -0,58 -0.49 -0,17 -0,17 0,42 0,06 -1,04 0,51 0,13 -0,23 -0,71 0,60 0,16 0,51 -1,96 -0,40 -0.40 -0,37
ltaperuna ............................... . 0,19 -0,02 -1,02 -0,03 0,44 0,18 0,05 0,27 1,37 0,22 0,06 1,13 0.41 -0,20 -0,05 1,11 0,50 -0,46 0.18 -0,05
MacBé .................................... . 0,17 -0,39 -0,94 -1,06 -0,93 3,04 0,15 0,30 -0.71 -0,02 -0.74 -2,87 0,15 0,14 -0,03 0,59 0,07 0,50 -0,13 5,00
MaJÓ .................................. . 0,02 -0.48 1,67 0,73 -1,85 -0,49 0.71 0,14 1,52 0,01 -2.06 0,69 0,13 0,83 -0,38 -1,88 0,29 1,45 -0,32 0,58
Mangaratiba .............................. . 0,20 0,08 0,06 -0,61 0,10 0,23 -0,08 0,63 0,17 -0,33 0,42 -0,26 -0,85 -0,51 0,65 0,01 -2,50 0,13 -0,54 -·0,06
Maricá ........... . 0,02 -0,87 -0,17 -1.38 -1,66 -0,06 0,35 0,17 0,00 1.25 -1,63 -0,39 -0,92 0,92 0.16 ·-0,30 -0,32 -0,60 0,28 0,15
r. .1iracerna ........................ . 0,26 0,18 -0,61 -0,14 0,32 0,72 0,21 0,34 -0,56 -0,69 0,67 -0,33 -0,85 -0,31 0,28 --0,93 -1.59 -0,20 0,30 0,14
Netividade ......................... . 0,10 -Q,56 -1,23 -0,25 0,28 0.49 0,28 0,12 -1.15 0,50 0,28 -0,85 0,08 0,38 0,15 1,06 0,25 -0.49 0,02 0.77
Nilópolis ................................. . 0.40 0,85 -0.40 2,17 -0,28 1,65 0,78 0.44 -0.62 -3,08 -0,08 -0.16 0,20
Niterói .............. .. 0,84 5,35 -1.98 -0.43 -0.70 -2,56 -5,84 -0,95 -2,13 -0.42 -1,20 2,02 0.75
Nova Friburgo .... . 0,38 1.41 1.02 -0,46 1,07 0,31 -1,24 0,50 1,01 -0,97 0,84 -0,44 -0,39 -2.27 -0,03 -0,25 0,43 -0,17 0,51 -0,32
Nova lguacu ............................ .. -0,17 0,02 0,52 7,11 -1,97 0,95 0,86 -7,26 -0,07 -1,14 -2,48 -0,12 1.70
Paraíba do Sul.... .. ............. . 0,18 0,10 0,83 0,33 0,91 0,04 -0,04 0,58 o.~o -0.40 0,67 -0,16 0,49 -0.49 0,51 -0,68 0,91 -0,85 -0,01 0,40
Parati. ...... .... . ............... . 0,04 -0,53 -0,60 0,93 2,02 -1,05 0,09 0,19 -0,56 0.74 1,79 0,85 1,61 0,33 0,11 0,59 7,28 -0,56 -0,53 -0 56
-Ú2
~1r~f~'''~~·.-.·_- .::·__. ... .. 0,27 1,58
0,13 -0,05
1,08
1,18
-1,24
-1,29 -0,14
1,37 0,76
-0,15
-2,00
O.Q~
-0,43
0,34
O,fl5 -0,57
1.25 -0,35
0,93
O, 10
-0,66
1,21
0,06
-1,84
-3,11
0.15
-1.'2
0.49
0,08
-1,31
0,98
-0,06
0,10
0,00
0,44
2,93 -0 24
Porcit'mcula. .... .. . .. ............ . 0,14 -0.47 -1.31 0.47 0,60 0,40 O.to 0,03 -1.42 -0.36 0.86 -0,07 -0.?9 0,50 0,09 1.45 0,24 0,11 0,42 -0:01
Resende. . ................... . 0,41 1.18 -0,42 -0,13 -0,30 0,50 -0.70 0,64 -0,23 -o.9q -0,12 -0,63 -0,61 -1,84 0,16 0,66 -0,83 3,19 -0.74 -0,29
Rio Bonito..... . .................... . 0,13 -0,08 0,41 -0,56 0.42 -0,20 -0.29 0.46 0.48 0,44 0,10 -0,29 -0,05 -0,3'1 0.42 -0,43 0,24 -0,98 O,<t1 -0,31
Rio Claro ... -0,04 -0,91 0,60 0,55 0,89 -0,89 0.49 0,24 0,48 0,46 0,91 1,08 1,00 0,83 0,23 -0.70 1.10 -0,32 -0,51 -0,35
Rio d?s Flores. 0,13 -0,45 -1.14 -0,50 0,06 0,05 0,36 O, 11 -1,18 0,29 0,32 -0,00 -0,85 0,43 0,18 1,13 -0,32 0,08 0,48 -0,49
Aio de Jcneiro ............ . -7.30 1,08 -0,37 -0,02 0,06 0,02.
Santa Maria Madaleno.. .. .. 0,02 -0,80 -0,10 0,99 -0,15 -1,03 0.79 0,13 -0,10 0,35 -0,00 1,29 0,68 1'16 0,02 -0,14 0,7~ 0,89 -0,28 -0,37
Santo Antônio de Pádua ... . 0.75 0,23 -0,76 -0,16 0,01 -0,21 0,02 0.14 -0,84 -0,10 0,37 0,07 -0,97 -0,09 0,07 1'14 -0,55 -0,55 0,87 -·0,31
São Fidélie ......... 0,08 -0,55 --0,58 0,22 0)6 -0.13 0,43 0,12 -0,60 0)7 0,34 0,08 0,18 0,53 0,07 0,53 0,24 0,03 -0,07 0,06
São Goncalo. 0,18 0,64 -0,08 2,02 -1,48 1,55 1.17 -1,10 -0,61 -2,88 -1.11 0,43 -0,43
São JoãÓ da Barra. -0,21 -1,33 2,57 0,13 0,28 -1,99 0,31 0,21 2.36 1,57 -0,02 1.74 1,33 1,52 0,14 -3,11 1,26 -0,58 -0,62 -0,23
São JnBo de Meriti. 0,15 0,33 0,67 2,67 -0,21 1,01 0,64 -0,17 0,26 -2,13 -0.72 0,01 2.15
São Pedro da Aldoia. 0,10 -0,37 0,16 0,01 -0,96 -0,95 0,23 0,44 0.?3 0,48 -0,84 0,72 -0,19 0,44 0,27 -0,52 -0,67 2,07 -0.74 -0.80
São Ser3stião do Alto ................... .. -0,05 ·-1,14 -0.21 -0,34 -0,58 -1,13 0,69 -o.9q -0,30 1,04 -0,15 1,34 -0.46 1,55 -0,06 -0,12 -0,50 0,07 0,13 -0,82
01 -0,48 0,09
01 Sepucaia ... 0,12 -0,17 0,56 0,52 0,85 0,04 0,06 0,66 0,66 0,03 0,53 -0,70 0,12 -0.42 0,56 -0,61 -0.48 -1.40
w Sanuarema. 0,00 -0,89 -0,11 -0,66 -1,70 -0,07 0,51 0,23 0,08 1.21 -1,94 -0,89 --0,35 0.73 0,16 -0,27 -1.76 -0,62 -1,29 -0.26
Silva Jardim .......................... .. 0,03 -0,88 -1,58 0,18 -0,11 -0,55 0,46 -0,04 -1.45 1,38 -0,28 -0,35 0,55 0,99 -0,07 -1,17 0,25 -0,04 -0,90 -0,26
Sumido11ro. -0,03 -1,21 -1,59 -0.78 0,55 0,12 0.46 -0,04 -1,26 1,35 0,39 ·-0,56 0,27 0,90 0,09 1,19 0,22 -0,98 -0,68 -0,38
Teresópolis .. 0,26 0.75 0,37 -1.86 0,92 1)1 -1.34 0,62 0.70 0,16 0,44 -2,09 -0,02 -2,22 0,30 0,07 -0,28 -1.42 -0.74 -0,19
Trajano de Morais ........................ . 0,07 -0,77 -1,53 0.48 0,73 -0,29 0,63 -0,00 -1.47 0.49 0,87 0,32 0,36 0,84 0,04 1,30 0,73 0,02 -0,08 -0.26
Três Rios ................................. . 0,23 0,50 0,85 -0,80 0,48 0,68 -0,67 0.54 0,98 -0,25 0.16 -1,17 -0.26 -1,20 0,33 -0,71 -0,31 -0,99 0,02 0,86
Vcdença. . ............................... . 0,29 0.44 0,10 0,42 0,12 0.38 0,19 0.42 -0,01 -1,31 0.~8 0,31 -0.75 -0,52 0,23 0,30 -0.26 0,85 0,83 0,30
Vassouras ................................. . 0,17 0,02 -0,38 -0,52 0,25 0,84 -0.20 0,30 -0,28 -0,23 0,10 -0.74 -0,15 -0,48 0,16 0,45 0,22 -0,33 0,77 0,92
ANEXO 6

Variação da População Urbana e Rural: 1!140-50, 1950-60, 1960-70

1940-50 1950-60 1960-70


MUNICÍPIOS
Urbana
I Rural Urbana
I Rural Urbana
I Rural

Angra dos Reis ... 3,97 17,60 89.73 10,92 43,50 36,92
Araruamro ........... 34,11 2,12 113.11 6,49 72,89 19,27
Barra do Piral. .... 33.48 4,08 17,64 -26,27 43,95 -3,89
Barra Mansa .. 351,21 5,57 -8,33 -16,24 55,40 75,69
Bom Jardim ..... 31,08 -6,82 37,49 1,06 79,16 -22,54
Bom Jesus do ltabapoana ..... 11,13 -7.65 66,27 9,33 40,51 -43,16
Cabo Frio ............... 17.84 -3,36 109.49 11,18 86,89 -8,11
Cachoeiras de Macacu .... 25,57 13,17 118,47 51,82 34.48 21,02
Cambuci. .... 34,23 -9.41 33.76 -28,18 -1,82 -26,74
Campos ... 24.67 -1.39 58,84 3.74 33,13 -10.74
Cantagalo ..... -32,58 -22,16 12.49 -27,21 33,79 -3,39
Carmo ..... 40,28 -8.47 59,45 -9,58 45.46 -13,36
Casimira de Abreu .... 67.40 -23,55 74.87 60,61 25,62 28.78
Conceição de Macabu .. 94,20 -29,01
Cordeiro ............ 8G,60 -2.93 44,78 1.98
Duas Barras ...... 20,93 -16,87 50,60 4,13 8,07 -21,52
Duque de Caxias ........... 136.45 276,18 129.43 -60,04
Engenheiro Paulo de Frontin .. -3,22 -3.28
ltaboraí. ........ 16,01 25,58 107,99 25.71 48,89 60,56
ltaguaí. ... 66.78 93.41 38,33 5~.83 64,64 13,19
ltaocara .. -10,96 -14.50 27,35 -12,87 34,94 -8.43
ltaperuna .... -29,86 -42.73 101,82 -13,14 32.44 -44,99
Laje do Muriaé ..
Macaé ....... 4,97 -4.73 46.79 -9,27 69,09 -27,87
Majé .......... 19,57 131.79 59,38 62,06 182,43 -0,71
Mangaratiba .... 50,87 28,01 48,38 1,77 13,34 -14,32
Maricá ........ 5.73 -0,17 20,06 0.44 159,79 1,17
Mendes .... -3,01 -16.go
Miguel Pereira .. 26,59 -31,18
Miracema .. 7.61 5,53 62,90 -20,14 15.47 -19,17
Natividade .... 27,58 -12.08 27,12 -31,85
Nilópolis ... 108,06 32,58
Niterói. ..... 37,50 -15,58 33.78 8,81 27,58 95,03
Nova Friburgo .. 72.99 -17.29 89,51 -21,19 34,33 8,07
Nova lguoçu ... -29,72 126.77 231,07 50,07 181,27 -97,24
Paracambi ..... 205,75 -61,52
Paraíba do Sul •. 46,29 -8.11 54,05 -2.74 38,54 -21.76
Paratí ......... 19.43 -7,57 238,25 -22.61 -33,59 102,60
Petropólis .. 38,09 8,31 58,13 -6,69 28,72 14.38
Piraí. ... 93,53 15.79 43,19 -3,41 30,82 -10,15
Porciúncula .. -38,98 -8,58 2.90 -31,32
Resende ........ 50,35 12,23 89,12 0,34 66,07 -7.80
Rio Bonito .... 43.71 -0,02 65 10 -13,99 39,91 11,25
Rio Claro ...... 27,67 -9,61 26,67 1,50 -7.39 -6,16
Rio das Flores. -5,90 7,48 53.89 -7,51 23,24 -22.84
Rio de .laneiro ... 51.62 -69,65 39,96 12,59 31,91
Santa Maria Madalena .... 4,61 -21.24 24,23 -2,31 37,08 -25.52
Santo Antônio de Pádua .. 18,77 -1,21 34,86 -26.19 42,98 -22.26
São Fidélis ............... 23.79 -7.90 34,91 -20,64 24,02 -19,99
São Gonçalo ... 52,27 12,39 92.45 103,49 119,67
São João da Barra ..... -10.71 18,22 81,87 14.57 12,89 -0.70
São João de Meriti. .... 150.76 57,72
São Pedro da Aldeia .... 16,94 9,84 183,55 -10.40 82.1 o 34,31
São Sebastião do Alto .... -8,86 -15,33 98,1 o -25,25 17.44 -18,07
Sapucaia ........ 44,67 -3,32 82.22 -22.43 30,93 -21,59
Saouarema ..... 46,94 -4.61 40,36 0,50 242.40 -18.48
Silva Jardim ... -8,35 -21,57 182,85 24,20 55,02 5.18
Sumidouro ..... 15,33 -2.45 59,21 13,36 24,86 0,92
Teresópolis .... 49,33 -0,46 100,97 15,16 80,18 -13,53
Trajano de Morais ... 63,57 -14,20 60,99 -15,00 -14.14 -20,91
Três Rios ..... 36,24 3,88 59.40 -0,38 41,81 1,22
Valença ..... 17,96 -13,57 45,02 -3,57 23,17 0,28
Vassouras ... 4,86 21.53 -29,02 -19,60 17.46 -22,55
Volta Redonda .. 43.71 -3,13

ESTADO ... 53.44 -8,54 56,16 10,08 49.15 -22.79

554
BIBLIOGRAFIA
1. AHMAD, Qazi (1970) - Indian Cities: Characteristics and Correlates. The University of
Chicago. The Department of Geography. Research Paper n.o 102. Printed by the Univers!ty
of Chicago Printing Department, Chicago. Illinois. U.S.A. 184 p.

2. ALMEIDA, Elisa M. de e LIMA, Olga M. B. de (1971) - "Análise Fatorial de Três Areas


Metropolitanas: Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre". Boletim Carioca de Geografia.
Ano XXII. Associação dos Geógrafos Brasileiros. RJ. pp. 101-128.

3. AMIN, Samir (1976) - O Desenvolvimento Desigual. Ensaio sobre as Formações Sociais


do Capitalismo Periférico. Ed. ForenEe Universitária Ltda. RJ. 334 p.

4. AZEVEDO, Aroldo (1957) - "Vilas e Cidades do Brasil Colonial; Ensaio de Geografia


Humana Retrospectiva". Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros. Vol. IX, Tomo I.
SP. pp. 83-168.

5. BARAT, Josef @ GEIGER, P. P. (1973) - "Estrutura Econômá.ca das Areas Metropolitanas


Brasileiras". Pesquisa e Planejamento Econômico. Vol. 3, n.o 3. pp. 645-713.

6. BERNARDES, Lysia Maria Cav-alcanti (1957) - Planície Litorânea e Zona Canavieira do


Estado do Rio de Janeiro. Guia da Excursão, n.o 5. XVIII Congresso Internacional de
Geografia. IBGE. 248 p.

7. - - - (1958) -· "Nova Friburgo. Uma Cidade Serrana Fluminense". Anais da Associação


dos Geógrafos Brasileiros - Vol. V, Tomo II. SP. pp. 9-44.

8. - - - (1964) - O Rio de Janeiro e sua Região. IBGE. Conselho Nacional de Geografia.


RJ. 146 p.

9. - - - (1971) "Considerações sobre a Região do Rio de Janeiro". Revista Brasileira de


Geografia. Ano 33, n.• 48. RJ. pp. 99-107.

10. BERNARDES, Nilo e AZIZ, Nacib Ab'Saber (1958) Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira
e Arredores de São Paulo. Guia de Excursão n.o 4. XVIII Congresso Internacional de
Geografia. IBGE. 303 p.

11. BERRY, Brian J. L. (1960) - "The Impact of Expanding Metropolitan Communities upon
the Central Place Hierarchy", Annals of Association of American Geographers. Vol. 50,
number 2, june. pp. 112-116.

12. BERRY, Brian J. L. (1970) "Relações entre o Desenvolvimento Econômico e o Sistema


Urbano. O Caso do Chile". Boletim Carioca de Geografia. Ano XXI. RJ. pp. 13-51.

13. BERRY, Brian J. L. and HORTON, Frank E. (1970). Geographic Perspectives on Urban
systems with Integrated Readings. Copyright By Prentice-Hall Inc. Englewood Cliffs.
New Jersey. U.S.A. 564 P.

14. BERRY, Brian J, L. (1975) - "Tamanho de Cidade e Desenvolvimento Econõmico: Síntese


Conceitual e Problemas de Política com Especial Referência ao Sul e Sudeste Asiático".
Urbanização e Regionalização. Relações com o Desenvolvimento Econômico. Seleção de
Textos Básicos. S. Faissol. IBGE. RJ. pp. 51-95.

15. BOUDEVILLE, Jacqu€S R. (1972) - Aménagement du Territoire et Polarisation. Editions


M TH. Génin. Libraires Techniques. Par:s. 271 p.

16. BOURNE, Larry S. and GERALD, M. Earber (1971) - "Ecological Patterns of Small
Urban Centers in Canada". Economic Geography. Vol. 47, n.o 2, (Supplement). pp. 258-265.

17. BRASILEIRO, Ana Maria (1979) - "A Fusão: Análise de uma Política Pública". IPEA
- Estudos para o Planejamento, n.• 21. Brasília. 364 p.

18. BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos (1977) - Estado e Subdesenvolvimento Industrializado.


Ed. Braslliense. 420 p.

19. CARDOSO, Fernando Henrique (1975) - Autoritarismo e Democratização. Ed. Paz e Terra.
RJ. 240 p.

555
20. CARDOSO, Miriam Limoeiro (1977) - Periodização. EIAP (Mimeografado). 3 p.

21. CASTELLS, Manuel (1977). La Cuestion Urbana. Siglo XXI Editores. México. 517 p.

22. CASTRO, Antonio de Barros (1972) - Sete Ensaios sobre a Economia Brasileira. Forense
Universitária. Vol. li. 248 p.

23. CASTRO, Iná Elias de (1975) - Desequilibrios e Padrões Espaciais do Desenvolvimento


Brasileiro: Uma Análise Fatorial. Dissertação de Mestrado. UFRJ. 101 p.

24. DAVIDOVICH, Fany Rache! (1977) ~ "Indústria". Geografia do Brasil. Região Sudeste.
Vol. 3. Fundação IBGE. pp. 485-567.

25. DUARTE, Aluizio Capdeville (1968) - "Contribuição ao Estudo Geográfico de um Setor


Horticola do Município de Teresópolis". Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros.
Vol. XIV. 1960-62. SP. pp. 103-131.

26. - - - (1977) - ··sistema Urbano". Geografia do Brasil. Região Sul. Vol. 5. Fundação IBGE.
RJ. pp. 453-526.

27. DUARTE, Haidine da Silva Barros (1975) - Hierarquia Funcional das Cidades do Rio
de Janeiro. FIDERJ. RJ. Mimeografado. 23 p.

28. DUARTE, Haidine da Silva Barros e SOARES, W. G. (1975) - Estrutura Espacial da


Urbanização do Estado do Rio de Janeiro. Trabalho realizado para o Grupo de Trabalho
de Desenvo1v'imento Urbano, para Fusão entre os Estados do Rio de Janeiro e Guanabara.
Mimeografado. 104 p.

29. FAISSOL, Speridião (1970) - "As Grandes Cidades Brasileiras. Dimensões Básicas de
Diferenciação e RelaçÕes com o Desenvolvimento Econômico. Um Estudo de Análise Fatorial".
Revista Brasileira de Geografia. Ano 32, n.o 4. RJ. pp. 87-130.

30. - - - (1971) - "Tipologia de Cidades e Regionalização do Desenvolvimento Econômico:


um Modelo de Organização Espac:al do Brasil". Boletim Geográfico. Ano 30, n.o 223. RJ.
pp. 25-57.

31. - - - (1972) - "Análise Fatorial: Problemas e Aplicações na Geografia, Especialmente nos


Estudos Urbanos". Revista Brasileira de Geografia. Ano 34, n.o 4. RJ. pp. 77-99.

32. - - - (1972) - "A Estrutura Urbana Brasileira. Uma Visão Ampliada no Contexto do
Processo Brasileiro de Desenvolvimento Econômico". Revista Brasileira de Geografia. Ano
34, n.o 3. RJ. pp. 19-123.

33. - - - (1973) - "O Sistema Urbano Brasileiro: Uma Análise e Interpretação para fins
de planejamento". Revista Brasileira de Geografia. Ano 35, n.o 4. RJ. pp. 3-34.

34. - - - (1974) - "Organização Espacial do Sistema Urbano Brasileiro: Relações entre a


Estrutura das Cidades e as Relações entre as mesmas". Revista Brasileira de Geografia.
Ano 36, n.o 3, RJ. pp. 75-90.

~5. - - - (1975) - Urbanização e Regionalização. Relações com o Desenvolvimento Econômico


- Seleção de Textos Básicos. IBGE. Rio de Janeiro. Brasil. 247 p.

36. FIGUEREDO, Vilma (1978) Desenvolvimento Dependente Brasileiro. Industrialização,


Classes Sociais e Estado. Zahar Editores. 160 p.

37. FRIEDMAN, J. (1966) - The Regional Policy Problems. Regional Development Polícy.
A Case Study o f Venezuela. Mass M. I. T. Press. pp. 5-19.

38. FRIEDMAN, J.; MCGLYNN, E.; STUCKEY, B. et Chuz - Tong WU (1971) - "Urbani-
zation et Developpement National: une étude comparative". Revue Tiers-Monde. Tome XII,
n.o 45. Janvier-Mars IEDES. France. pp. 13-44.

39. FRIEDMAN, John (1972) - "A General Theory of Polorized Development". Growth Centers
in Regional Economic Development. Niles M. Hansen Eds. The Free Press. N. Y. pp. 82-107.

40. FRIEDMAN, John and ALONSO; Willian (1972) - Regional Development and Planning,
a Reader. The M.I.T. Press. Massachusetts Institute of Technology. cambridge. Massachusetts.
U.S.A. 722 p.

556
41. FRIEDMAN, John (1977) - "Planejamento Regional: Problema de Integração Espacial".
Economia Regional. Textos Escolhidos. Org. J. Schwartzman. CEDEPLAR/CETREDE'-MINTER.
pp. 381-394.

42. FUNDAÇÃO IBGE (1972) - Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas. Instituto
Brasileiro de Geografia - RJ. 112 p.

43. FURTADO, Celso (1973) - A Hegemonia dos Estados Unidos e o Subdesenvolvimento da


América Latina. Ed. Civilização Brasileira. RJ. 192 p.

44. - - - (1974) - o Mito do Desenvolvimento Econômico. Editora Paz e Terra S/A. 118 p.

45.--- (1977) - Formação Econômica do Brasil. SP. Ed. Nacional. 15.a ed. 248 p.

46. GALVAO, Marília V. e FAISSOL, Speridião (1970) - "A Revolução Quantitativa na. Geografia
e seus Reflexos no Brasil". Revista Brasileira de Geografia. Ano 32, n.o 4. RJ. pp. 5-21.

47. GARCIA, Helena Dias (1979) - "O Campo, a Cidade e o Setor Público". Revista de
Administração Municipal. Ano XXVI. n.o 151 - abr11-julho. RJ. pp. 34-47.

48. GEIGER, P. P. e MESQUITA, M. (1956) - Estudos Rurais da Baixada Fluminense. IBGE.


Conselho Nacional de Geografia. RJ. 208 p.

49. GEIGER, Pedro P. (1963) - Evolução da Rede Urbana Brasileira. Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais. Ministério de Educação e Cultura. Rio de Janeiro. 462 p.

50. GEIGER, Pedro P. e DAVIDOVICH, F. R. (1974) - "Reflexões sobre a Evolução da


Estrutura Espacial do Brasil sob o Efeito da Industrialização. Revista Brasileira de Geografia.
Ano 36, n. 0 3. RJ. pP. 3-29.

51. GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (1975) - I Plano de Desenvolvimento


Econômico e social do Estado
do Rio de Janeiro - I PLAN-RIO. RJ. Secretaria de
Planejamento e Coordenação Geral. 787 p.

52. - - - (1979) - Plano de Desenvolvimento Econômico e Social - 1980-1983. RJ. Secretaria


de Planejamento e Coordenação Geral. 535 p.

53. HAYNES, Kingsley F. (1971) - "Spatial Change in Urban Structure: Alternative Approaches
to Ecological Dynamics". Economic Geography. Vol. 47, n.o 2 (Supplement). pp. 324-335.

54. HIRSCHMAN, Albert O. (1961) - Estratégia do Desenvolvimento Econômico. Editora


Fundo de Cultura. Rio de Janeiro. 322 p.

55. IANNI, Otávio (1978) - O Colapso do Populismo no Brasil. Civillzação Braslleira. RJ. 223 p.

56. JOHNSTON, R. J. (1971) - "Some Limitations of Factorial Ecologies and Social Area
Analysis". Economic Geography. Vol. 47, n. 0 2 (Supplement). pp. 314-323.

57. - - - (1978) - Multivariate Statistical Analysis in Geography. A primer on the General


Linear Model. Logman Group Limited. N. Y., U.S.A. 280 p.

58. KING, Leslie J. (1970) - "Cross-Sectional Analysis of Canadian Urban Dimensions:


1951 and 1961". Geographic Perspective on Urban Systems with Integrated Readings. Brian
J. L. Berry and Frank E. Horton. Eds. Copyright by Prentice-Hall Inc. Englewlood C!iffs.
New Jersey, U.S.A. pp. 154-167.

59. LACORTE, Maria Helena (1976) - Estrutura da Rede Rodoviária do Estado do Rio de
Janeiro. Uma Contribuição Metodológica. Dissertação de Mestrado apresentada no Departa-
mento de Geografia. Instituto de Geo-Ciências - UFRJ. Mimeografado. 119 p.

60. LACOSTE, Yves (sem data) - A Geografia Serve Antes de Mais Nada para Fazer a Guerra.
Sem Editora. 134 p.

61. LAFER, Betty Mindlin (1975) - Planejamento Urbano no Brasil. Ed. Perspectiva S.A. SP.
187 p,

62. LAMB, Richard (i975) - Metropolitan Impacts on Rural America. The University of
Chicago. Department of Geography. Research Paper n.o 162. Illinois. U.S.A. 196 p.

63. LAMEGO, Alberto Ribeiro (1963) - O Homem e a Serra - IBGE. Conselho Nacional de
Geografia. RJ. 454 p.

557
64. LAMPARD, Eric E. (1972) - "The History of Cities in Economically Advanced Areas".
Regional Development anã Planning - A Reader. John Freidman and Willian Alonso.
Eds. The M.I. T. Press. Cambridge. Massachusetts. pp. 321-360.

65. LASSUEN, J. R. (1975) - "A Respeito de Pólos de Crescimento". Urbanização e Regfionali-


zação. Relações com o Desenvolvimento Econômico. Seleção de Textos Básicos. S. Faissol.
Ed. IBGE. RJ. Brasil. pp. 110-142.

66. LESSA, Carlos (1975) - Quinze Anos de Política Econômica. Cadernos do Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas UNICAMP. Ed. Brasiliense. 96 p,

67. LIMA, O. M. B. e CORREA, R. L. A. (1977) - "Sistema Urbano". Geografia do Brasil


- Região Sudeste. Vol. 3. Fundação IBGE. RJ. pp. 569-661.

68. LLOYD, Peter E. and DICKEN, Peter (1972) - Location in Space: A Theoretical Approach
to Economic Geography. Harper & Row, Publishers. N. Y. 292 p.

69. LOBO, Eulalla Maria Lahmeyer (1978) - História do Rio de Janeiro (do Capital Comer,,ial
ao Capital Industrial e Financeiro). IBMEC - 2 vols. RJ. 994 p,

70. MAGALHÃES FILHO, José CeEar de (1965) - "O Centro Industrial de Petrópolis". Revista
Brasileira de Geografia. Ano 28, n.o 1. RJ. pp, 19-56.

71. MELLO, João Manuel Cardoso (1975) - O Capitalismo Tardio (Contribuição à Revisão
Critica da Formação e Desenvolvimento da Economia Brasileira). Tese de Doutoramento
apresentada no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de
Campinas. Mimeografado. 188 p.

72. MICHIN, S. S. (1973) - Processos de Concentração de Capital no Brasil. (Análise do


"Milagre Brasileiro" por um economista soviético). Civilização Brasileira. 282 p.

73. MYRDAL·, Gunnar (1965) Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas. Editora Saga.
Rio de Janeiro. 240 p,

74. OLIVEIRA, Francisco de (1977) - Elegia para uma Re(li) gião. Sudene, Nordeste, Planeja-
mento e Conflitos de Classes. Ed. Paz e Terra. RJ. 132 p.

75. - - - (1977) - "A Economia Brasileira: Crítica à Razão Dualista". Questionando a


Economia Brasileira. Seleç-ões CEBRAP 1 - Ed. Braslliense. pp. 5-78.

76. PERRIN, J. C. (1971) - "Urbanisatlon et Développment a Base Régionale". Revue Tiers-


Monde. Tome XII, n.o 45. Janviers-Mars. IEDES. France, pp. 45-72.

77. PERROUX, François (1975) - "O Conceito de Pólo de Crescimento". Urbanização e Regio-
nalização. Relações com o Desenvolvimento Econômico. Seleção de Textos Bàslcos. S.
Faissol. IBGE. RJ. pp. 97-110.

78. PESSANHA, Stella (1941) Um Centro Urbano. Campos. Tese de Concurso à Cadeira
de Geografia do Instituto de Educação de Campos. 33 p.

79. PIQUET, Rosélla Périssé (1976) - "Concentração Industrial e Desenvolvimento Urbano".


Revista de Administração Municipal. n. 0 138, set./out. IBAM. RJ. pp. 5-21.

80. PRADO Jr., Calo (1956) - História Econômica do Brasil. Ed. Brasillense. SP. 1956. 348 p.

81. - - - (1957) - Evolução Política do Brasi.l e Outros Estudos. Ed. Braslliense. SP. 264 p.

82. RACINE, Jean-Bernard (1971) - "Modéles Graphiques et Mathématiques en Géographie


Humaine: La Transformation des Unités Statistiques Quantitatives en Unités Géographiques
Qualitatives". Revista Geográfica Montreal. Vol. XXV, n. 0 4. pp. 323-358.

83. REES, Phllip H. (1971) - "Factorial Ecology: an Extended Deflnition, Survey and Critique
of the Field". Economic Geography. Vol. 47, n.o 2 (Suplemento). pp. 220-223.

84. REPúBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (1974) - Projeto do li Plano Nacional de Desen-


volvimento - PND (1975-79). Brasília. 134 p.

85. ROBALINHO DE BARROS, Frederico (1975) Economia Industrial do Novo Estado do


Rio de Janeiro. APEC-IDEG ·- RJ. 321 p,

86. RODWIN, Lloyd (1971) - "Nouvelles Stratégies de Croissance Urbalne". Revue Tiers-Monde.
Tome XII, n.o 45. Janvier-Mars. IEDES. l<"'rance. pp, 73-97.

87. ROFMAN, Alejandro Boris (1977) - Dependência, Estrutura de Poder Y Formación Reuiona'
em América Latina. Siglo Veintiuno Editores. 262 p.

558
88. SANTANA, Marina Del-Negro Coque (1976) - "Elaboração de um Modelo de Estrutura
Espacial para o Sistem.a Administrativo do Novo Estado do Rio de Janeirn". Revista Brasi-
leira de Geografia. Ano 38, n.o 3. pp. 31-92.

89. SANTOS, Milton (1970) - Dix Essais Sur Les Villes des Pays Sous Développés. Ed. OPHRYS.
Paris. 121 p.

90. - - - (1976) "Relações Espaço-Temporais no Mundo Subdesenvolvido". Seleção de


Textos n.• Associação dos Geógrafos Brasileiros. Seção Regional de São Paulo.
pp. 17-23.

91. - - - (1979) - O Espaço Dividido. Os Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países
Subdesenvolvidos. Livraria Francisco Alves. RJ. 344 p.

92. SCHWARTZMAN, Jacques (1977) - Economia Regional. Textos Escolhidos. Convênio


CEDEPLAR/CETREDE-MINTER. Belo Horizonte. 480 p.

93. SILVA, Liana Maria Lafayette Aureliano da (1976) No Limiar da Industrialização -


Estado e Acumulação do Capital, 1919-1937. Tese de Doutoramento apresentada no Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas. 188 p.
mimeografado.

94. SILVA, H. e BOTELHO, M. E. T. C. (1977) - "S!stema Urbano". Geografia do Brasil•.


Região Nordeste. Vol. 2. Fundação IBGE. RJ. pp. 397-450.

95. SILVANY, Augusto J. (1971) - "Aspects Théoriques de L'Urbanization". Revue Tiers-


Monde. Tome XII, n.• 45. Janviers-Mars IEDES. France. pp. 99-113.

96. SJNGER, Paul (1973) - Economia Política da Urbanização. Ed. CEBRAP. Editora Brasileira.
SP. Brasil. 152 p.

97. SMOLKA, M. O. e LODDER, C. A. (1973) - "Concentração, Tamanho Urbano e Estrutura


Industrial". Pesquisa e Planejamento Econômico. V o!. 3, n.• 2. pp. 447-468.

98. SOARES, Maria Teresinha de S. (1962) - "Nova Iguaçu: Absorção de uma Célula Urbana
pelo Grande Rio de Janeiro". Separata da Revista Brasileira de Geografia. Ano 24, n.• 2.
ffiGE. 104 p.

99. STEIN, Stanley J. (1961) - Grandeza e Decadência do Café. Editora Brasl!lense. SP. 372 p.

100. STdHR, Walter B. (1972) - El Desarrollo Regional en América Latina. Experincias y


Perspectivas. Ediciones SIAP. Buenos Aires. 245 p.

101. - - - (1974) - Interurban Systems and Regional Economic Development. Commission


on College Geography. Ressource Paper n.• 26. Association of American Geographers.
Washington. D.C. 35 p.

102. SUNKEL, Osvaldo (1971) - El Subdesarrollo Latinoamericano y La Teoria Del Desarrollo.


Siglo Veintiuno. Ed. Sa México. 385 p.

103. TAVARES, Maria da Conceição (1973) Da Substituição de Importações ao Capitalismo


Financeiro, Ensaios sobre a Economia Brasileira. Rio de Janeiro. Zahar Editores. 263 p.

104. TEIXEIRA, Marlene P. V. (1972) - "A Rede Fluminense de L·ocalidades Centrais"., Revista
Brasiletra de Geografia. Ano 34, n." 3. RJ. pp. 172-190.

105. TEIXEffiA, Marlene P. V. (1975) - "Padrões de Ligações e Sistema Urbano: uma Análise
Aplicada aos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro". Revista Brasileira de Geografia.
Ano 37, n.• 3. RJ. pp. 16-55.

106. TOLOSA, Hamilton C. (1972) ~ "Política Nacional de Desenvolvimento Urbano: uma visão
econômica". Pesquisa e Planejamento Econômico. Vol. 2, n.• 1. pp. 143-156.

107. ULLMAN, Edward L. (1972) - "Regional Development and the Geography of Concentration".
Regional Development anã Planning. A Reader. John Friedman and Willian Alonso. Eds.
The M.I.T. Press. Cambridge. Massachusetts. pp. 153-172.

108. WILLIAMSON, J. (1977) - "Desigualdade Regional e o Processo de Desenvolvimento Na-


cional: Descrição dos Padrões". Economia Regional. Textos Escolhidos. Org. J. Schwartzman.
CEDEPLAR/CETREDE-MINTER. PP. 53-116.

109. WRóBEL, Andrzej (1974) - "Teorias e Modelos de Desenvolvimento Regional. Um Exame


critico". Boletim Geográfico. Ano 33, n,• 239. pp. 1-16.

559
SUMMARY RÉSUMÉ
The aim of this study is to discuss the On discute dans cet étude les problêmes de
problem of high!Y concentrated urbanization l'urbanisat!on concentrée sur des espaces
in the unequallY developed spaces of the inéga!ement developpés dans un systême
capitalista. L11. structure urbaine de Rio de
capitalistic economic system. The object of the
Janeiro est étud!é au point de V'Ue du temps,
study is the urban structure of the Sta te of pour que l'éntendue des changements écono-
Rio de Janeiro which is ana!yzed over time miques et sociaux du départment soit connue.
to detect the extent to which it reflects the On tient compte l'échelle de !'espace, et aussi
changes In the k!nds of economic and social de celle du temps, qu'on en trouve essentielle
development in the State. This temporal focus puisque, à chaque conjoncture h!storique, Je
is essencial in understand!ng spatlal structure, rôle des villes subit des transformations
relativas au systeme de !'espace.
in that the growth of cltles within the spatial
system varies in accordance wlth the historiai On cherche à établir des l!en entre les
objectifs de cet étude et ceux du programme
context.
départamental et à faire ressortir Jes transfor-
The study attempts to ldentify the Jlnk mations structurales survenues, quoique seule-
between p!anning objectives and the structural ment pour les identifier. I! est possible alors
transformations which occurred. On!y by d'obtenir des éléments servant à un programme
identifying trends and understanding social de caractere social par J'identification des
tendances et des processus sociaux.
processes can we effectively seek to plan for
social objectives. L'appui théorique se trouve dans Jes concepts
liés au processus de dévelopment de !'espace.
Severa! different types of theories are drawn Des différents points de vue sont mis en
upon in developing the theoretical foundation discussion et quelques uns sont tout à fait
for understanding the process of deve!opment utiles pour l'analyse du sujet de l'étude.
in its spatial context. La méthode d'analyse employée est la
Although the principal focus is historical, it perspectiva historique. I! faut, cependant,
mesurer les éléments du systeme - les vil!es
is necessary to measure the elements of the
- pour qu'on les puisse estimar et prendre
urban system - the cities - in arder to
des décisions en ce domaine. Ainsi, on utilise
evaluate thelr importance and make decisions. J'analyse factorielle à peine comme tecnique
This calls for a series of cross-sectlons to operationelle auxiliaire, dont Jes résultats sont
permit comparativa analys!s of the empirical employés exclusivement pour cet étude. On
data essential to the understanding of the tient compte, en deux moments du temps
process. Factor analysis is used to assist in 1950/1970, de trais niveaux d'analyse, car !e
département, si J'on considere de façon g!obale.
this analysis when relevant. Three different
peut cacher quelques structures, et s'il n~y a
leveis of spa tia! aggrega tion are considered in pas un niveau d'analyse spécial.
two time per!ods (1950 and 1970), as the analysis
L'analyse factorielle est utilisée comme
of the State as a whole would h!de important moyen et son interprétat!on est due aux
structural characteristics. éléments d'ana!yse historic-structurelle. Les
Thus, the factor ana!ysis is not used as an relations économiques, sociales, politiques et
end in !tself, but as a means of !nterpreting idéologlques du processus de formation du
systeme urbaln sont tenues comme produits
the process of urbanization via historical-
des processus sociaux qui ont lieu au courant
structural analysis. de J'histoire du développement économique
The study shows an ever increasing hegemony brésilien et de ses manifestations dans les
of the c;ty of Rto de Janeiro within the urban distorsions de !'espace.
system of the state. This ls the result of the L'étude fait ressortir l'hégémonie de la ville
!ncreasing concentration of the process of de Rio de Janeiro dans Jes systeme urhain du
département. On peut conclure à c-e moment
accumulation within the metropolitan area In
la que, pendant la période de Ja mise en
this stage of capitalistic expansion in Brazil pratique du programme, la concentration du
which has occurred as a result of the p!anning processus d'entassement à la métropole continue
process, in spite of some changes in the system d'exister, ma!gré Jes changements survenus
of cities outside of the City of Rio de Janeiro. dans !e réseau de villes du département.

560
Metodologia para a
identificação de
sistemas, problemas e
diretrizes de transporte
metropolitano: uma
aplicação na Região
Metropolitana do Rio
de Janeiro
James F. Hicks Jr. *
1 - INTRODUÇÃO Sérgio Seelenberger

O presente estudo parte do


princípio de que o trans-
porte metropolitano deve
ser planejado e avaliado tomando
nefícios liquidas provenientes da
acessibilidade da população às
oportunidades metropolitanas;
como base dois objetivos funda- - justiça social ou eqüidade, vi-
mentais: sando, principalmente, àquela par-
- eficiência econômica, enten- te da população mais dependente
dida como a maximização dos be- do sistema metropolitano de trans-
• Diretores da PLANPUR - Planejamento Urbano e Regional Ltda. e professores da Escola
Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas - RJ.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(4): 561-576, out./dez. 1981 561


porte, basicamente o transporte co- do Rio de aJneiro (RMRJ), cujos
letivo. exemplos são utilizados para ilus-
Assim, tomando-se como objeto trar os conceitos que seguem.
de análise a região metropolitana,
este estudo objetiva fornecer sub- 2 - DEFINIÇÃO
sídios metodológicos para identifi-
car diretrizes da política pública, GEOGRÁFICA DA
visando a melhorias de acessibili- ÁREA DE
dade, principalmente a da popula- ABRANGÊNCIA
ção mais carente de serviços de DO SMT
transporte, às oportunidades eco-
nômico-sociais que a região metro-
politana fornece. Cabe ressaltar, As nove regwes metropolitanas
ainda, que o presente estudo con- (RMs) brasileiras são instituciona-
centra-se em melhorias na infra- lizadas pelas leis complementares
estrutura física do sistema para números 14 e 20, que tomam como
atingir maior grau de acessibilida- ba.se g·eográfica os municípios que
de agregada por parte da popula- as compõem.
ção metropolitana. Desta forma, o Embora reconhecendo a necessi-
estudo enfatiza os seguintes aspec- dade de uma definição geográfica
tos operacionais: que toma como base uma entidade
legal-constitucional, ou seja, o mu-
- tratar-se-á de transportes de nicípio, deve-se reconhecer que as
passageiros e não de cargas; atividades dos transportes metro-
dar-se-á prioridade ao transpor- politanos não necessariamente res-
te coletivo e não ao individual. peitam as fronteiras legais-admi-
A metodologia apresentada pro- nistrativas e requerem análises de
cura identificar critérios para o caráter funcional-operacional que
planejamento governamental de exigem áreas de estudo compatíveis
transportes e compreende basica- com suas categorias analíticas.
mente as seguintes etapas: A partir da área geográfica glo-
- definição geográfica da área bal da RM, julga-se que normal-
de abrangência do sistema metro- mente seja vantajoso analiticamen-
politano de transportes (SMT) ; te subdividir a RM em subáreas
- identificação do SMT e seus geográficas de estudo funcional-
diversos subsistemas; operacional, com base nos seguin-
tes critérios:
- confronto do que existe com
os objetivos do planejamento para ser- compatível
a delimitação das áreas deve
com a utilizada pa-
identificar problemas e diretrizes ra o levantamento de dados rele-
da intervenção pública. vantes, que geralmente correspon-
Ressalta-se que o estudo enfatiza dem às informações sócio-econômi-
os aspectos metodológicos do pla- cas das regiões administrativas e/
nejamento de transportes metro- ou zonas de tráfego definidas por
politanos, que são potencialmente estudos de transporte e tráfego;
aplicáveis a qualquer região metro- -os componentes de cada área
politana. Entretanto, deve-se re- (normalmente municípios, regiões
conhecer que este estudo é resul- administrativas e/ou zonas de trá-
tante e foi condicionado pela expe- fego) devem apresentar grau simi-
riência 1 da Secretaria de Estado lar de acessibilidade a um ponto de
de Transportes (SECTRAN) no referência geográfica que normal-
âmbito da Região Metropolitana mente é a localização da maior con-
1 Epoca (1975/79) na qual os autores foram assessores de planejamento da SECTRAN.

562
centração de atividades geradoras com possíveis exceções no caso dos
de viagens metropolitanas, ou seja, municípios centrais, devido ao alto
o centro metropolitano de negó- grau de dependência geralmente
cios; apresentada pela perlferia metro-
-cada área deve apresentar ca- politana em relação ao seu centro;
racterísticas sócio-econômicas re- - o impacto do elemento deve
lativamente homogêneas; atingir de maneira significativa
- as unidades geográficas com- aquelas parcelas da população mais
ponentes de cada área devem ser dependentes do SMT para sua as-
espacialmente contínuas. censão sócio-econômica.
No caso da RM do Rio de Janei-
ro, as áreas de estudo do SMT fo- 3.1 - Os Subsistemas
ram definidas a partir desses crité-
rios, tomando como base os seus Os subsistemas modal e viário
quatorze municípios 2 e as regiões metropolitanos podem ser classifi-
administrativas do Município do cados em três categorias segundo
Rio de Janeiro. Assim, foram defi- a função que desempenham no
nidas nove áreas de análise, apre- SMT:
sentadas na tabela 1 e no mapa - transporte de massa;
1) 3 , cujas principais característi- - transporte complementar;
cas sócio-econômicas são apresen-
tadas na tabela 2. - transport·e alimentador.
De acordo com essa classificação,
uma metodologia para identificar
3 - IDENTIFICAÇÃO DO os elementos componentes de cada
SMT E SEUS subsistema é apresentada a se-
SUBSISTEMAS guir.

Cabe ressaltar que atualmente 3 .1.1 - Subsistema Modal


não existe um consenso abrangen-
te sobre a forma mais adequada pa- Uma definição funcional de
ra classificar os elementos do SMT. transporte de massa deve englobar
Desta forma, aqui pretende-se clas- aqueles meios de transporte capa-
sificá-lo segundo seus três subsiste- zes de transportar com eficácia os
mas mais importantes: usuários metropolitanos durante as
horas de sua maior demanda, ge-
- modal, referente aos meios de ralmente para suas viagens pendu-
transportes; lares.
- viário, referente aos canais de Nas RMs brasileiras o transpor-
tráfego; te de massa geralmente é consti-
- estações, terminais e estacio- tuído por uma ou mais das seguin-
namentos. tes modalidades: trem suburbano;
Devem ser considerados como metrô; embarcações intra-urbanas.
elementos de interesse metropoli- No tocante ao transporte de ôni-
tano de cada um dos 3 subsistemas bus, deve-se reconhecer que este po-
acima indicados aqueles que aten- de desempenhar uma função me-
dem aos seguintes requisitos: tropolitana importante, como é no
- O impacto do elemento deve caso do Rio de Janeiro, onde apre-
alcançar mais de um município, senta uma participação de cerca
2 Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, São João de Meriti, Nilópolis,
NO\'& Iguaçu, Maricá, Itaboraí, Majé, Petrópolis, Mangaratiba, Itaguaí, Paracambi.
• Todas as tabelas, mapas e gráficos deste documento aparecem em anexo.

563
de 71 % do total de viagens metro- que servem aos meios de transpor-
politanas. te de massa. Segundo esta defini-
Entretanto, convém distinguir ção, os seguintes podem ser os ele-
entre os aspectos funcionais e ope- mentos constituintes deste subsis-
racionais de transporte via ônibus. tema:
Funcionalmente, os ônibus pode- - ferrovias suburbanas;
rão ser considerados um meio de - metrovias;
transporte de massa desde que as - hidrovias intra-urbanas.
rodovias por eles utilizadas pos-
suam características operacionais Determinados tipos de rodovias
(tratamento especial para ônibus) (aquelas que apresentam trata-
que permitam o desempenho dessa mento especial, permitindo um efi-
função. ciente desempenho operacional aos
Quanto aos meios de transporte ônibus urbanos) podem ainda ser
complementares, são aqueles que incluídos neste subsistema.
absorvem a demanda não atendida O subsistema viário complemen-
por meios de transporte de massa tar está constituído pelas rodovias
perante a inexistência ou insufici- federais e estaduais que ligam 2 ou
ência de capacidade de oferta des- mais municípios da RM e pelos
tes. Nesta categoria enquadram-se quais trafegam ônibus intermuni-
essencialmente as linhas de ônibus cipais. Também entram nesta cate-
(tanto intermunicipais como mu- goria aqueles corredores rodoviá-
nicipais) que operam paralelamen- rios municipais servindo áreas nas
te aos corredores metropolitanos de quais não existem corredores de
transpo::te nos quais inexistem al- transporte de massa (ferrovias e
ternativas de transporte de massa. metro vias) .
Os meios de transporte alimen- A definição destes corredores de-
tadores são aqueles normalmente ve ainda apoiar-se em critérios re-
utilizados no início ou fim das via- ferentes a volume e composição de
gens, que incluem um dos meios de tráfego, em que o transporte cole-
transporte de massa. Cabem nesta tivo deve ter participação significa-
categoria: tiva.
- ônibus municipais; O subsistema viário metropolita-
- pré-metrô. no alimentador é basicamente li-
mitado às redes pré-metroviárias,
Cabe re.s.ssaltar que essas moda- desde que as rodovias alimentado-
lidades de transporte poderão de- ras são essencialmente de interesse
sempenhar eficientemente sua fun- local e não metropolitano.
ção de transporte alimentador na
medida em que se implementa uma 3. 1 . 3 - Subsistema de Estações,
política de integração intermodal, Terminais e Estacionamentos.
integração esta que deve levar em
consideração tanto os aspectos ins- Podem ser considerados como ter-
titucionais como os físicos, tarifá- minais e/ou estações de interesse
rios e operacionais. metropolitano aqueles que inte-
gram dois ou mais meios de trans-
3. 1 . 2 - Subsistema Viário porte diferentes. A partir desta de-
finição é possível estabelecer qua-
O subsistema viário de massa das tro categorias básicas de estações e
regiões metropolitanas é aquele terminais de integração intermo-
constituído pelos canais de tráfego dal. 4 :
• Desta classificação foi eliminada outra categoria potencial de estações e terminais de
integração - alimentador com alimentador - por essa não desempenhar funções de interesse
metropolitano.

564
- integração de um meio de segundo as combinações apresenta-
transporte de massa com outro de das no quadro 1.
massa (massa com massa); O mapa 2 apresenta um esquema
- integração de um meio de d2- situação atual do SMT, com
transporte de massa com outro seus diversos subsistemas, para o
complementar (massa com comple- caso de aplicação desta metodolo-
mentar); gia à RM do Rio de Janeiro.
- integração de um meio de
transporte de massa com outro ali-
mentador (massa com alimenta- 4 - IDENTIFICAÇÃO DE
dor); PROBLEMAS E
- integração de um meio de DIRETRIZES DE
transporte complementar com um POLíTICA
outro alimentador (complementar
com alimentador). Uma vez definido o SMT e seus
Desta forma, apresenta-se no elementos componentes, e visando
quadro 1, por categoria de integra- à intervenção pública, é necessária
ção, as diversas combinações mo- uma metodologia que conduza ao
dais possíveis de interesse metro- estabelecimento de diretrizes go-
politano. vernamentais, a partir da identifi-
cação de problemas e prioridades.
Os assuntos de interesse dos
QUADRO 1 transportes metropolitanos podem
ser agrupados, para finalidades
Categorias de integração modal analíticas, segundo as mais diver-
sas formas, dependendo da RM em
::
estudo. Porém existe um conjunto
o
z
;;§ j ~E de tópicos cuja relevância consti-
g; "' tui-se em fator comum para a qua-
""
=>
"'
~

'B.
~
c:
! .§
~ "li'!
tu se totalidade das RM. Assim, po-
"' dem-se classificar os assuntos de
ª
"li'! ::;;
<(
~
~
:= tu
::;; ~ z
•O
z
•O ~ interesse metropolitano na área dos
~ ~ ~ ~
~ ~

transportes segundo as seguintes


Trem Suburbano - A A 8 c c categorias:
Metrô
- -
- -
A
-
8
-c - c
~ ~ -~-B--c--c-
- desigualdades de acessibilida-
Embarcações
~--~--
de às oportunidades metropolita-
Ônibus (Complementar) - c c nas;
Ônibus (Aiimentador)
Pré-Metró -,-,---,-,---=-
-~-~--=--o

A = Integração massa com massa C = Integração massa com ali-


- carência de integração inter-
moda!;
- custos elevados para o usuá-
rio; e
mentador
8 = Integração massa com com-
plementar
D == lntegraçSo complementar com
alimentador
- incompatibilidades entre o
uso do solo e o SMT.
Cabe salientar que essas catego-
No tocante aos estacionamentos rias de assuntos são definidas vi-
de automóveis e outros veículos sando a finalidades analíticas, sem
particulares, devem ser considera- pretensão de estabelecer unidades
dos de interesse metropolitano ex- mutuamente exclusivas. Ao contrá-
clusivamente aqueles que são fisi- rio, pode-se notar que cada tópico
camente ligados a pelo menos uma caracteriza-se pelo alto grau de in-
das categorias de terminais e/ou teração com os demais. Convém
estações de integração intermodal, mencionar que a implantação de

565
medidas concretas, preventivas ou acessibilidade entre as áreas de es-
corretivas, ou .seja, das diretrizes tudo para identificação de proble-
da intervenção pública, dependerá mas de acessibilidade;
da existência prévia de mecanis- d) estabelecimento de priorida-
mos institucionais e jurídicos ade- des para a intervenção pública, por
quados que reflitam consenso entre área de estudo, com base no grau
os diversos níveis institucionais de gravidade do problema, no ta-
atuantes no SMT (federais, esta- manho da população afetada e nas
duais, municipais) e entre estas e características sócio-econômicas
os órgãos encarregados do planeja- dessa população, visando a atender
mento do uso do solo da região (en- preferencialmente aquela parte da
tidade metropolitana e prefeitu- população mais dependente e ca-
ras). rente de transporte público para
acessibilidade às oportunidades.
4. 1 - Desigualdades de Acessibi- A título de ilustração, as tabelas
lidade às Oportunidades Metropo- 3 e 4 apresentam as etapas (a) e
litanas (b) desta metodologia aplicada à
RMRJ. A análise das etapas (c) e
A própria razão de ser um siste- (d), com apoio na tabela 2, conduz
ma de transportes é de fornecer os às seguintes conclusões:
meios necessários para que a popu-
lação metro:9olitana possa ter aces- - quase 50% da população da
so às várias oportunidades metro- RMRJ sofre de graves problemas
politanas. Assim, ng, medida em de acessibllidade às oportunidades
que existem desigualdades de aces- representadas por empregos, servi-
sibilidade desta população, surgem ços e recreação;
problemas não .somente em termos -as áreas prioritárias para ação
da eficiência do sistema metropoli- são: a Baixada Fluminense, com
tano como um todo mas também cerca de 25% da população da
com relação à justiça social dess·e RMRJ prejudicada por falta de
sistema. acessibilidade adequada; oeste, com
Para finalidades analíticas, as aproximadamente 12% da popula-
oportunidades metropolitanas po- ção metropolitana; periferia me-
dem ser assim cla.ssificadas: tropolitana oeste, com cerca de 7%
de população metropolitana.
·emprego;
serviços; 4. 2 - Carência de Integração
recreação. Intemodal
Para identificar problemas e di-
retrizes relativos à acessibilidade A não integração entre meios de
sugere-se uma metodologia que transporte tem acarretado proble-
compreenda basicamente quatro mas diversos desde o ponto de vista
etapas: da economia metropolitana, o de
cada modalidade e o do usuário Do
a) 1evantamento das oportuni- ponto de vista da economia metro-
dades (emprego, serviços e recrea- politana, observa-se geralmente
ção) existentes em cada área de grande dificuldade em reduzir os
estudo; custos de construção, operação e
b) avaliação do grau ds acessi- manutenção do SMT como um to-
bilidade da população de cada área do. Desde o ponto de vista modal e
de estudo a -todas as demais; levando-se em consideração o gran-
c) integração da anál1se da dis- de aumento da demanda, a renta-
tribuição espacial das oportunida- bilidade social de cada meio não
des metropolitanas com o grau de tem sido maximizada, e 03 custos

566
operacionais não têm diminuído. Uma estratégia orientada para a
Do ponto de vista do usuário mais definição de diretrizes para a inter-
dependente, as opções de viagens venção pública deveria levar em
não têm aumentado substancial- consideração os seguintes aspec-
mente, os níveis de conforto e segu- tos:
rança não têm melhorado signifi- -embora exista em determina-
cativamente e os custos de tempos das localidades dentro das RM al-
de viagem gastos (especialmente gum tipo de infra-estrutura para
em viagens pendulares da popula- atender a embarques, desembar-
ção da baixa renda) não têm sido ques e baldeações modais, as insta-
reduzidos. lações existentes devem ser avalia-
Embora a integração intermodal das e readequadas em função do
também possa ser encarada desde objetivo integrador intermodal;
o ponto de vista institucional, ope- - deve-se dar prioridade à im-
racional e tarifário, é a carência de plantação das estações e terminais
estruturas físicas adequadas que, multimodais que, pelo menos, pos-
em última análise, impossibilita suam uma modalidade de trans-
melhor adequação entre meios de porte de massa integrando-se com
transportes. meios complementares e/ou ali-
Em linhas gerais, pode-se afir- mentadores, e dentro destas, às
mar que quase a totalidade das RM localizadas nas principais áreas de
são carentes em estruturas físicas atração e geração de viagens intra-
para a integração, especialmente metropolitanas.
entre os meios de massa com mas- Segundo este critério, a tabela 6
sa, massa com complementares, e o gráfico 1 sintetizam uma pro-
meios de massa com alimentadores posição de integração intermodal
e meios complementares com ali- para a RMRJ, apresentando um es-
mentadores. Porém existem áreas quema que atende aos subsiste-
geográficas dentre as RM nas quais mas: ferroviário de subúrbios, me-
este problema possui conotações de troviário, pré-metroviário, embar-
maior gravidade, e nas que se deve cações e ônibus complementares e
dar prioridade quanto à implanta- alimen tadores.
ção de soluções. Na tabela 6 listam-se os termi-
A tabela 5 apresenta uma avalia- nais e estações cogitados, as áreas
ção qualitativã das carências de in- da RM que seriam servidas por es-
fra-estrutura para integração in- tes, as localizações específicas e as
termodal nas diversas áreas analí- correspondentes funções de inte-
ticas definidas para o caso da RM gração a serem desempenhadas por
do Rio de Janeiro, evidenciando a cada um dos terminais e estações.
validade dos problemas acima men- O gráfico 1 5 apresenta esquema-
cionados. ticamente o sistema de integração
intermodal metropolitano, com as
Visando a equacionar a falta de correspondentes funções e priorida-
infra-estrutura física para integra- des para ação.
ção intermodal, as RM devem esta-
belecer um sistema metropolitano 4 . 3 - Custos Elevados para o
de terminais e estações orientado Usuário
para facilitar as transferências en-
tre meios de transporte de massa, Cabe ressaltar que o conceito ge-
complementares e alimentadores. ral de "custos elevados" é ambíguo.
• Preparado com base nas diretrizes da SECTRAN e no trabalho "A Rede Ferroviária dos
Subúrbios e a Integração do Sistema de Transporte de Massa do Rio de Janeiro". Rede Ferroviária
Federal/C!a. Internacional de Engenharia, abril de 1978.

567
No presente contexto deve-se reco- Observa-se que as viagens pen-
nhecer que há pelo menos dois .sen- dulares são geralmente compostas
tidos em que os custos para o usuá- de vários .segmentos modais, espe-
rio do SMT podem ser considerados cialmente aquelas feitas pela popu-
elevados: em termos absolutos, de- lação de menor renda com residên-
correntes de ineficiências próprias cia distante do local do emprego.
do sistema; em termos relativos, Na tabela 7 estima-se o custo mé-
provenientes de uma baixa capaci- dio, por área de estudo, dos seg-
dade de pagar devido à má distri- mentos das viagens pendulares, pe-
buição da renda metropolitana. las modalidades relevantes para
Para efeitos analíticos, este tra- cada área.
balho concentra-se no custo ao Para a RMJ estima-se que, em
usuário das .suas viagens mais im- média, cada família faz 1,45 via-
portantes, basicamente as pendu- gem pendular (ida e volta) dia-
lares, e considera-se "elevado" o riamente 6 • Admitindo-se que cada
custo de viagens pendulares quan- trabalhador faz em média 22 via-
to este ultrapassa uma proporção gens pendulares por mês, estimam-
,"razoável" da renda familiar do se os gastos mensais para viagens
usuário. pendulares na tabela 8.
Para identificação de problemas Para interpretação da tabela 8
de custos elevados para usuário re- pode-se tomar como base de refe-
comendam-se as seguintes etapas rência 10% da RMF gastos em
metodológicas : transporte como sendo "razoável";
a) classificação das áreas de ou seja, essa proporção da RMF
estudo segundo faixas de renda alocada a transportes não compro-
média familiar (RMF) ; meteria o orçamento de uma famí-
lia "típica" da RMRJ, forçando-a a
b) estimativa dos gastos mé- sacrificar outros gastos, tais como
dios para viagens pendulares em alimentação, habitação e educação.
cada área; Admitindo-se que essa mesma fa-
c) confronto desses gastos mé- mília típica possa gastar até 5% da
dios com um padrão de gasto con- sua RMF em viagens pendulare.s,
siderado "razoável". conclui-se que as seguintes áreas
Como ilustração para RMRJ as em ordem de prioridade 7 apresen-
RMF das áreas de estudo foram di- tam problemas sérios relativos a
vididas em três classes: custos elevados para transporte:

FAIXA DE RMF CLASSE DE RMF


1. Baixada Fluminense
2. Norte Suburbana
O < RMF :S Cr$ 2.500 ..... . 3. Oeste
Cr$ 2.500 < RMF :S Cr$ 5.000 2 4. Niterói-São Gonçalo
RMF >Cr$ 5.000........... 3
5. Periferia Metropolitana Les-
OBS.: RMF em Cr$ de 1976. te
5 Preparado com base nas diretrizes da SECTRMJ e no Trabalho "A
Rede Ferroviária dos Subúrbios e a lntegracão do Sistema de Transporte de 6. Periferia Metropolitana Oes-
Mam do Rio de .Janeiro", Rede Ferroviária Federai;Cia. Internacional de
Engenharia, abril de 1978. te.
• Estimado com base no estudo "Projeto Rio", .SECTRAN, 1977.
• Para hierarquizar as áreas por grau de problema utilizou-se uma ponderação qualitativa,
levando em consideração a população da área, a proporção de sua RMF gasta em viagens pendu-
lares e sua RMF total. Cabe ressaltar que o esta!Yelecimento dos padrões de 10% e 5% da RMF
para gastos globais e em viagens pendulares, respectivamente, é bastante discutível. Não se
pretende aqui defender esses padrões, apenas afirma-se que o estabelecimento de padrões justi-
ficáveis é necessário à metodologia apresentada.

568
Em resumo, reconhece-se que maioria dos casos, decorrência das
melhorias no SMT afetarão a capa- tendências naturais do processo de
cidade de pagar pelos serviços de urbanização das RM. Assim, a ca-
transporte por parte dos usuários pacidade dos SMT de atuar como
mais pobres, apenas lenta e indire- agentes indutores da ocupação e
tamente. Por outro lado, as demais ordenamento do solo metropolita-
diretrizes aqui propostas e dirigidas no não tem sido devidamente apro-
aos outros problemas identificados veitada. Tal processo histórico tem
deverão diminuir as ineficiências resultado em uma certa incompa-
atualmente observadas nos SMT, tibilidade atualmente observada
visando a manter o mesmo nível de entre a localização das atividades
serviços a um custo menor e/ou urbanas e as origens e destinos das
melhorar o nível de benefícios por viagens da população, resultando
cruzeiro gasto. Em ambos os casos nos problemas gerais de integra-
o usuário de baixa renda seria po- ção, acessibilidade e custos já le-
tencialmente beneficiado. vantados, e outros mais específicos,
Além dessas melhorias indiretas, tais como a incompatibilidade en-
porém, propõem-se estudos de ação tre a intensidade do uso do solo e
direta, principalmente visando à os tipos de serviços de transporte.
viabilidade de um sistema de pre- Com relação aos problemas mais
ços com base na compensação in- específicos de incompatibilidades
terna do SMT, ou seja, visando ao entre o uso do solo e a infra-estru-
subsídio dos custos do SMT para tura física do SMT, tais podem ser
aqueles usuários mais dependentes classificados, para finalidades ana-
do SMT e com menor capacidade líticas, em dois grupos básicos:
de pagar para seu uso. - de corredores de transporte de
A título de ilustração dos tipos massa, compreendendo principal-
de compensação interna do SMT mente os ferroviários, metroviários
que poderão ser cogitados, podem e rodoviários 8 ;
ser mencionados, entre outros, os - de terminais e estações, espe-
seguintes: cialmente os de integração inter-
- subsídios diretos aos usuários moda!, com a participação de um
mais carentes e mais dependentes; ou mais meios de transporte de
- tarifas integradas, favorecen- massa 9 •
do aqueles usuários que residem No tocante aos corredores, geral-
mais distantes dos seus locais de mente os principais problemas sur-
trabalhos e que precisam de mais gem como resultado do efeito "bar-
segmentos para fazerem duas via- reira transversal" que os mesmos
gens pendulares. produzem com relação à continui-
dade da malha urbana, bem como
4. 4 - Incompatibilidades entre o a falta de segurança existente não
Uso do Solo Metropolitano e o só para os usuários mas também
SMT para os pedestres que precisam
atravessá-los.
Numa retrospectiva histórica, os Com relação aos terminais e es-
SMT têm se caracterizado por se- tações, devem ser observados os
guir as demandas da população, conflitos funcionais entre estes e as
cuja localização espacial é, na demais atividades que se localizam

s No caso da RMRJ, os principais corredores ferroviários são as Linhas Centro, Auxiliar e


Leopoldina. Os principais eixos metroviários serão as Linhas 1 e 2 do Metrô. Quanto aos corredores
rodoviários, os mais importantes são: Av. Brasil, Centro-Zona Norte, Centro-Zona Sul e Niterói-
São Gonçalo.
9 Veja-se tabela 6 para o caso da RMRJ.

569
ao seu redor, devido ao grande vo- - os terminais e estações de in-
lume de tráfego gerado por este ti- tegração intermodal deverão rece-
po de infra-estrutura de transpor- ber tratamento urbano, incorpo-
te e a falta de planejamento con- rando aos seus projetos atividades
junto com o uso do solo imediato. de interesse para comunidade (lo-
Ressalta-se também uma falta jas, restaurantes, serviços, etc.) de
quase generalizada de aproveita- forma a servir como pólos de atra-
mento de oportunidade de oferecer ção e de prestação de serviços ur-
outros serviços urbanos ao grande banos diversos, tanto para a comu-
número de usuários que agregam nidade geral como para os usuários
nesses pontos de alta intensidade dos subsistema-s de transporte.
urbana, desprezando-se, assim, ex-
celentes oportunidades de criação
de centros urbanos de atração, in- 5 - CONSIDERAÇÕES
clusive para a população metropo- FINAIS
litana total.
Visando a reduzir as incompati- Na última década a área de
bilidades entre uso do solo e os transportes urbanos tem desperta-
transportes metropolitanos, suge- do grande interesse e preocupação
rem-se as seguintes diretrizes para por parte do setor público brasilei-
a intervenção pública: ro, estimulando o surgimento de
-deve-se procurar adequar as um número grande de estudos e
taxas de densidade de ocupação do publicações, de origem tanto aca-
solo nas áreas de influência imedia- dêmica como técnico-governamen-
ta dos principais eixos de transpor- tal. Observa-se, porém, que a ênfa-
te de massa, de forma a compatibi- se destes trabalhos tem-se voltado,
lizar a oferta com os índices de de- principalmente, para a análise des-
manda por viagens de caráter me- critiva, visando a melhor compre-
tropolitano; ensão do funcionamento dos trans-
- a utilização do solo ao longo portes urbanos e seus respectivos
dos principais eixos ferroviários, elementos. Nota-se, também, certa
metroviários e rodoviários deve ser lacuna no que diz respeito a estu-
objeto de tratamento especial, de- dos essencialmente normativos, vi-
finido por lei municipal, com co- sando ao desenvolvimento de meto-
nhecimento e aprovação prévia dos dologias e instrumentos destinados
órgãos competentes de transporte à implementação de políticas pú-
e da correspondente entidade me- blicas neste setor. O presente estu-
tropolitana; do procura dar uma contribuição
a este esforço de caráter norma-
- os projetos para remodelação tivo.
e/ou construção de estações e ter-
minais de integração intermodal Cabe ressaltar que as categorias
devem contemplar soluções para o analíticas e os critérios de opera-
tratamento de suas áreas de influ- cionalização aqui utilizados não
ência, com a finalidade de equacio- têm a pretensão de s·er nem exaus-
nar os problemas que possam ser tivos nem excluintes. O importante
causados na acessibilidade, nos es- é que as categorias e os critérios a
quemas de circulação de veículos e serem utilizados sejam suficiente-
de pedestres e no remanejamento mente abrangentes e internamente
de usos de solo existentes. Estes consistentes, de acordo com as ca-
projetos deverão ser aprovados pe- racterísticas e objetivos específicos
los órgãos competentes estaduais e para o planejamento dos transpor-
municipais, com o conhecimento e tes de cada região metropolitana.
aprovação por parte da entidade Finalmente, convém salientar
metropolitana; que instrumentos metodológicos

570
são necessanos mas não suficien- ria); 3 (Rio Comprido); 7 (São
tes para a identificação de progra- Cristóvão); 8 (Tijuca); 9 (Vila Isa-
mas e projetos destinados à imple- bel)
mentação de objetivos públicos de • Área Norte Suburbana, de-
transportes metropolitanos. Igual- finda pelas Regiões Administrati-
mente, ou até mais, importante é vas 10 (Ramos); 11 (Penha); 12
um marco institucional capaz de: (Méier); 13 (Eengenho Novo); 14
captar e interpretar corretamente (Irajá); 15 (Madureira); 20 (Ilha
as demandas da população metro- do Governador); 22 (Anchieta)
politana; definir diretrizes e crité- • Área Oeste, composta pelas
rios para o planejamento dos trans- Regiões Administrativas 16 (Jaca-
portes metropolitanos; coordenar repaguá); 17 (Bangu) ; 18 (Campo
as atuações, avaliar e controlar o Grande); 19 (Santa Cruz)
desempenho dos diversos níveis de- • Área Sul, definida pelas Re-
cisórios do setor; integrar o plane- giões Administrativas 4 (Botafo-
jamento do setor transporte com go); 5 (Copacabana); 6 (Lagoa);
os demais da região metropolitana; 23 (Santa Teresa); 24 (Barra da
e conciliar o,s interesses públicos Tijuca)
com os privados.
• Baixada Fluminense, abran-
gendo os municípios de Duque de
TABELA 1 Caxias, São João de Meriti, Nilópo-
lis e Nova Iguaçu
Areas geográficas de análise da • Niterói-São Gonçalo
região metropolitana do • Periferia Metropolitana Les-
Rio de Janeiro * te; abrangendo os Municípios de
Maricá, Itaboraí, Majé e Petrópo-
• Centro Metropolitano, com- lis
posto pela Região Administrativa 2 • Periferia Metropolitana Oes-
(Centro) te, compreendendo os Municípios
• Área Norte, composta pelas de Mangaratiba, Itaguaí e Para-
Regiões Administrativas 1 (Portuá- cambi.

TABELA 2
Indicadores sócio-econômicos das áreas de análise

DENSIDADE RENDA FROTA OE


AUTO-
ÁREAS POPULAÇÃO
P.REA POPULA-
CIONAL F~~~I::R EMPREGOS
MOVEIS
PESSOAS
POR
MENSAL AUTOMÚVEL
(haj (habjhaj (Cr$) (1000) (1000)
-------
Centro Metropolitano ......... 59 179 647 91,46 3 697 862 26.67 2,2
Acea Norte ............... 664 220 7 823 84,90 5 544 344 100,55 6,6
Área Norte Suburbano .... 2 183 723 20 354 107,28 3 180 482 195,69 20,3
Área Oecte ............. 1 113 315 69 403 16,04 2 387 151 51,56 18,0
Área Sul ... 793 362 18 750 42,29 9 318 375 154,22 5,1
1\'unir.inio do Rio de Janeiro. 4 813 799 116 987 41,15 4877 2214 538,69 8,9
Baixada Fluminense ............... 2 095 700 126 200 16,60 1 881 238 20,09 104,3
Niterói-Sio Gnnçalo ... 924 500 35 800 25,82 3 022 167 46,44 18,9
Periferia Metropolitana leste ....... 468 500 266 300 1.75 2 109 76 25.49 18,4
Periferia Me:ropolitana Oeste. 125 200 100 900 1,24 1 485 29 2,59 48,3
R.M.R.J ...... 8 427 698 646 187 13,04 3 707 2 724 633,30 13,3

OBS.: Todos os dados referem-se 8o ano de 1976.


FONTES: PITjMETRÔ 1977; PUBjRto de Janetro 1977; SECTRAN, "Projeto Rio", aprmntado â EBTU em 1977.

* As primeiras 5 áreas correspondem ao Município do Rio de Janeiro. A Região Administrativa


n.• 21 (Ilha de Paquetá) foi eliminada do estudo devido às suas características muito especiais
de transporte e a sua baixa representatividade em termos metropolitanos.

571
Mapa n. 0 1

SMT- ESQUEMA- SITUAÇÃO ATUAL

FERROVIAS
LIGACÕES HIDROVIÂRIAS
CORfiEDOAES RODOVIÁRIOS METROPOLITANOS PRIORITtlRIOS
RODOVIAS METROPOLITANAS COMPLEMENTARES
D RODOVIAS FEDERAIS
o RODOVIAS ESTADUAIS
PRfi.METROVIAS
METROVIAS
TERMINAIS E ESTACÕES INTEGAACÂO
TERMINAIS METROPOLITANOS DE CARGA

A T L Â N r c o

N
o
o c E A

Map-a n. 0 2

ESTADO DO RIO DE JANEIRO


REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
SEGUNDO ÁREAS DE ANÁLISE ÁREAS N• 1- CENTRO
2- NORTE
3- NORTE- SUBURBANA
4- OESTE
5- SUL
6- BAIXADA FLUMINENSE
7- NITERÓI- SÃO GONCALO
8- PERIFERIA METROPOLITANA LESTE
9- PERIFERIA METROPOLITANA OESTE

LIMITE ÁREAS DE ANÁLISE


LIMITE MUNICIPAL

SEDE MUNICIPAL

572
TABELA 3

Distribuição da oferta de oportunidades metropolitanas por


área de estudo
OPORTUNIDADES
Área
Empregos Serviços Recreação

Centro ..
Norte ...
Norte Suburbana ..
Oeste ..
Sul..
Baixada Fluminense ..
Niterói-São-Gonçalo ....
Periferia les!e ....
Periferia Oeste ...

FONTES: PIT/METRÔ; PUB/Rio de Janeiro.


OBS: Á quantificação ordina I da oferta obdece a seguinte escala:
1 =muito importante
2 =importante
3 =regular
Uma combinação área/oportunidade sem indicação ordinal indica que a oferta daquela oportunidade naquela área não é significativa ao nível
metropolitano.

TABELA 4
Matriz de avaliação qualitativa do grau de acessibilidade entre as
áreas da região metropolitana

~
CENTRO ÁREA RAIX~CA NITERÓI PERifERIA PERIFERI.~

METRO- ÁREA fiORTE ÁRfA ÁREA FIUMI- METRO- METRO-


NORTE SUBUR- OESTE SUL SÃO POLITANO POLITMO
POLITANO NENSE GONÇALO
s BANA LESTE OESTE

Centro Metroplitano .. A A
Área Norte ... A A A
Área Norte Suburbana ... A A

Área Oes!e .. A
Área Sul ........ A A

Baixada Fluminense ...


Niterói-São Gonçalo .... A
Periferia Metropolitana leste .. .
Periferia Metropolitana Oeste ... .

Fonte: Elaborada para este estudo com base no P!T - METRÔ. Pl~no de Desenvolvimento Rodoviário, SECTRAN. 1977 e PUB/Rio
Sirnóo/ogia: B = Acessibilidade boa (15 - 30 min) •
A = Acessibilidade aceitável (30 - 60 min)
=
R Acessibilidade ruim I > 60 min)
(") Tempos aproximados de viagem em um sentido entre centros geográficos de cada área, nas horas de pico, em traneporte coletivo.

573
TABELA 5
Avaliação qualitativa das carências de infra-estrutura física para
integração intermodal na região metropolitana do Rio de Janeiro
OCORRtNCIA QE INTEGRAÇÃO

(a) (b) (c) (d)


Massa-Complem. Mam-Aiimentador
ÁREAS Comple-
Massa- mentar
Massa
Alimentador
1 2 3 4 5 6 7 8

Centro .. ...................... ·············· o o o o o N X o


Norte .. ....................... ............... o X X X o N N X
Norte Suburbana .............. N X N X N o N X
Oeste .............. N o N o N N N o
Sul. ................... N N N N o N N N
Baixada Fluminense ...... N X N X ~I N N X
Niterói-São Gonçalo .................... N N N N N N X X
Periferia Metropolitana Leste ....... N N N N N N N X
Periferia Metropolitana Oeste .............. N X N X N N N X

OBS: (a) refere-se a terminais e estações de imegraç!o entre trem-metrô (coluna 1)


(b) refere-se a inte~racão trem-Onibus complementar (2), e metró-ónihu1 complemrntcr (3)
(c) refere-se a integração trem-ônibus alimentodor (4), m9tró-ônibus alimentador (5), metrO-pré-metrô (6) e embarcações-ônibus alimen-
tador (7)
(d) relere-se a ônibus complementar-ônibus alimentador (8)
O preenchimento das células corresponde a:
O ~ existe inlra-estrutura física para integração
X ~ carência deste tipo de infra-esrrutura
N ~ não exista esta combinação entre modalidades

TABELA 6
Terminais e estações de integração: Proposição, Primeira Fase

TfRMI- TERMI·
INFRA-ESTRUTURA DE TERMI- ESTAÇÃO ESTAÇÃO ESTAÇÃO TERMI· ~:AL
NAI GARA OU
ÁREA ATENDIDA NAL FER- FERRO- DO DO ~~ALDE ÓNIBUS ÓNIBUS ETACI
INTEGRAÇÃO/LOCAL ROVIÁRIO VIÁRIA METRil PRÉ· METRÔ BARCAS ALIMEN· IN TE
COMPL. TADOR

Dom Pedro 11 x· x· x· x· X
Centro Praca XV x· x· X
Barão de Mauá x· X X
São Cristovão x· x·
Maracanã x· x·
Norte Triagem x· x· X X
~stácio x· X X
TiJuca x· X X
Maria da Graça x· x·
Méier x· X X
Norte Suburbana Madureira x· X X
Deodoro x· X
Ramos x· X X
Penha x· X

Oeste Campo Grande x· x· x· X

Sul Largo do Machado x· X X


Botafogo x· X X

Baixada Pavuna x· x· X
Fluminense Duque do Caxias x· X X
São Gonçalo Centro de Niter5i x· x· X
Niterói São Gonçalo X X X

Existe ou existirá, a curto prazo. algum tipo de infra-estrutura destinada a atender a função modal

574
TABELA 7

Estimativa dos custos ao usuário por segmento das viagens


pendulares

ÁREA DE ESTUDO CLASSE DE RENDA CUSTO POR SEGMENTO


(Cr$)

Centro .. . 2,18]
Norte .. . 3,36
Norte Suburbana ..... 2,18
Oeste ... 2,33
Sul .... 3.36
Baixada Fluminense .... 2,33
Niterói-São Gonçalo ... 2,18
Periferia Leste ..... 2,33.
Periferia Oeste .... 2,33

FONTE: SECTRAN, Projeto Rio, Anexo-Dados Básicos.

TABELA 8

Estimativa dos gastos mensais familiares em viagens pendulares

(a) (b) (c) (d) (e)


Renda Média· Gastos/mês % da
ÁREA Familiar Número de Número de v_ pendulares Renda Média
(Cr$ de 1976) Segmentos/dia Segmentos/mês (Cr$) Familiar

Centro ..... ············· ··········· 3 697 2 63,8 139 3,8


Norte .... .............. . . . . . . .. . . . 5 554 2 63,8 214 3,9
Norte Suburbana .... ············· 3 180 4 127,6 277 8.7
Oeste ......... ··············· 2 387 4 127,6 297 12.4
Sul ......... 9 318 2 63,8 214 2,3
Baixada Fluminense ....... ........... 1 881 5 159,5 370 19.7
Niterói-São Gonçalo ...... . . . . . . . . . . .. . 2 022 4 127,6 277 9,2
Periferia leste .... 2 109 4 127.6 297 14,0
Periferia Sul .... ············ 1 485 4 127,6 297 20,0

FONTE: (a) Tabela 2


(b) Estimativas feitas para o presente estudo. Cabe ressaltar que uma viagem pendular tem, no mínimo, dois segmentos- ida e volta.
Uma viagem pendular com mais de 2 segmentos representa baldeações, intermodal ou de linhas de uma modalidade.
(c) o produto de (b) X 1.~5 viagens pendulares/dia X 22 dias/mês.
(d) Tabela 7 a (c)
(e) (d)/(a) X 100

575
ESQUEMA DE INTEGRAÇÃO INTERMODAL METROPOLITANA
PROPOSIÇÃO FASE, 1

PETRÓPOLIS ·•f'············
oo,f:J;...
•o
~A; IAS

··········

SÃO GONÇALO

-~[~
./:
JAPERI

SANTA CRUZ

FERROVIA
METROVIA
o TERMINAL FERROVIÁRIO ~ ESTAÇÃO DO PRÉ-METRÔ [•] GARAGEM OU ESTACIONAMENTO INTEGRADO

~ 66~~~~~~E~\fRNIBUS
~
PRE-METROVIA @] ESTAÇÃO FERROVIÁRIA S~STEMA DE ÔN!BUS DE ALIMENTAÇÃO E DIFU-
SAO DAS ESTAÇOES
LIGAÇÃO HIOROVIÁRIA
ONIBUS COMPLEMENTAR ~ ESTAÇÃO DO METRÔ (!} TERMINAL DE BARCAS
~ TERMINAL INTEGRADO PRIORITÁRIO

SUMMARY RÉSUMÉ
This study presents a methodology for Cet étude présente la classiflcation des
classifying metropolitan transportation systems systémes et des sous-systémes métropoli tains
snd sub-systems, for identifylng their functio- de transport selon· une nouvelle méthodo!ogie;
nal, operational and spatial problems and l'identification de problêmes et priorités
priorities, as well as for recomending policies fonctionelles, operatione!les et de !'espace,
for public intervention, based on the global aussl bien que la recommandation d'instruc-
objectiv•es of efficiency and equity. tions pour l'intervention pub!lque, fondée sur
The study is principally normatlve in cha- les objectives globaux d'efflcacité et equlté.
racter, developing methodological instruments L'étude est surtout normatif et cherche une
designed to improve effectiveness in the im- méthodologle capable de rendre efficaces les
plementation of publlc objectives in the area objectifs publlcs dans !e domalne des trans-
of metropo!ltan transportation. ports métropolltains brésillens.

576
COMUNICAÇÕES

Contribuição ao estudo
do papel do Estado na
evolução da estrutura
urbana*
Mauricio de Almeida Abreu
INTRODUÇAO Departamento de Geografia - UFRJ

A s áreas metropolitanas, para


não se falar das cidades
brasileiras em geral, refle-
tem cada vez mais - tanto na sua
De uma maneira geral, pode-se
descrever a estrutura urbana da
metrópole carioca - e, por exten-
são, das metrópoles brasileiras -
fisionomia quanto na sua estrutu- como formada de um núcleo hiper-
ra- o modelo concentrador carac- trofiado, concentrador da maioria
terístico do sistema político-econô- da renda e dos recursos urbanísti-
mico em vigor no país. O espaço cos disponíveis, cercado por estra-
metropolitano carioca, por exem- tos urbanos periféricos cada vez
plo, apresenta-se hoje bastante es- mais carentes à medida que se afas-
tratificado em função da renda de
seus habitantes, podendo mesmo tam desse núcleo, e que servem de
ser considerado como um exemplo moradia e de local de e:x:ercício de
espacial notável de toda a estrutu- algumas outras atividades às gran-
ra sócio-econômico-política existen- des massas de população de baixa
te no país. renda 1 .

• Trabalho apresentado no I Colóquio Franco-Brasileiro de Geografia Urbana, promovido


pela Comissão Nacional do Brasil, da União Geográfica Internacional no Rio de Janeiro, de 05
a 09 de Novembro de 1979.
1 SANTOS, Carlos Nelson F. e BRONSTEIN, Olga Metaurbanização - o caso do Rio de
Jane~ro. Revista de Administração Municipal 25(149), out./dez. 1978, p. 8.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(4): 577-585, out./dez. 1981 577


Tal descrição sumária da orga- te relegado a um plano inferior na
nização metropolitana atual se, por literatura especializada.
um lado, tem a vantagem de rela- Ainda que sob a ameaça de ofe-
cionar o espaço com os processos recer uma visão maniqueísta e su-
sociais, econômicos e políticos que perficial das relações entre espaço e
caracterizam o "momento de orga- sociedade, o presente trabalho ob-
nização social" pelo qual passa o jetiva destacar a importância do
país, precisa, por outro, estar aco- papel do Estado no processo de evo-
plada a um interesse maior, por lução espacial, tomando como
parte do pesquisador, em explicar exemplo o caso do Rio de Janeiro.
os fatores que levaram à formação Não se pretende, com isso, fornecer
dessa estrutura. Em outras pala- exemplos concretos da influência
vras, para que se evite cair no em- de políticas públicas sobre a estru-
pirismo da mera descrição geográ- turação do espaço carioca; isto já
fica, um estudo da estrutura espa- foi feito em outro lugar 3 • Ao con-
cial de qualquer metrópole precisa trário, a intenção do trabalho é de
relacionar essa mesma estrutura levantar, a partir de um exemplo
com o processo de evolução da so- concreto, algumas questões de na-
ciedade. Só a partir da análise do tureza teórica a respeito de como
processo que lhe deu forma e con- poderiam ser estudadas as relações
teúdo é que o estudo da estrutura- entre espaço e sociedade através do
ção do espaço urbano se completa; tempo. Privilegiar-se-á, no caso, a
de outra forma, é quase certo, tal discussão das relações entre o espa-
estudo se resumiria apenas na des- ço e um dos componentes da socie-
crição de padrões espaciais 2 • dade - o Estado.
Vários são os fatores que contri-
buem para a evolução da estrutura Estrutura Urbana e o
urbana no tempo, e analisá-los to- Papel do Estado
dos e de forma- detalhada exigiria
um esforço não condizente com os O papel do Estado na transfor-
objetivos deste trabalho. Desta ma- mação da estrutura urbana das
neira, resolveu-se privilegiar a dis- metrópoles brasileiras pouco tem
cussão sobre um dos mais impor- sido estudado. Isto talvez reflita a
tantes dentre esses fatores, ou seja, influência que ainda exercem so-
a ação do poder público. bre os pesquisadores as teorias já
Com efeito, se a estrutura atual "prontas" de estruturação urbana.
das áreas metropolitanas brasilei- Estas, entretanto, pouco são apli-
ras se caracteriza pela estratifica- cáveis à nossa realidade, seja por
ção descrita acima, isto não se de- serem estáticas seja por se limita-
ve apenas às forças de mercado. rem a descrever a estrutura urba-
Tal estrutura também é função do na através de pressupostos irreais
papel desempenhado pelo poder pú- que privilegiam apenas a ação dos
blico no decorrer do tempo, papel agentes econômicos, enquanto a
esse que tem sido inexplicavelmen- ação de outros, dentre eles o Esta-
2 Para uma crítica da preferência atribuída pelos geógrafos ao estudo apenas dos padrões
espaciais ver ABREU, Maurício de Almeida. O Estágio Atual da Geografia no Brasil: Uma Visão
Crítica. In 3. 0 Encontro Nacional de Geógrafos, Fortaleza, 19-·27 de julho de 1978, Comunicações.
Fortaleza, Associação dos Geógrafos Brasileiros/Universidade Federal do Ceará, 1978, p. 365-368.
a Ver ABREU, Maurício de Almeida e BRONSTEIN, Olga. Políticas Públicas, Estrutura Urbana
e Distribuição de População de Baixa Renda na Area Metropolitana do Rio de Janeiro. Convênio
CNPU/IDRC/IBAM, 1978 (inédito). Um resumo deste estudo pode ser encontrado em ABREU,
Maurício de Almeida. Estado e Espaço Urbano: Uma Perspectiva Histórica, trabalho apresentado
no 4.o Encontro Nacional de Geógrafos, Rio de Janeiro, Associação dos Geógrafos Brasileiros,
julho 1980.

578
do, é ignorada ou tratada coeteris tram as funções de direção e de re-
paribusmente. sidência das classes dominantes.
As teorias e modelos emanados Ademais, ao contrário das cida-
da escola de ecologia humana de des americanas, o núcleo urba-
Chicago 4, por exemplo, vêem a ci- no, quando visto temporalmente,
dade como um complexo ecológico ou seja, através das modificações
estruturado a partir de processos de seus limites no decorrer do tem-
"naturais" de adaptação social, es- po, tende a adquirir valor simbóli-
pecialização funcional e competi- co ainda maior, solidificando cada
ção por espaço, processos esses que vez mais as características descri-
se desenvolvem dentro de uma de- tas acima. Para isso muito contri-
terminada ordem moral, segundo buem a inexistência de um sistema
"uma forma culturalmente defini- de transportes eficaz e homoge-
da de solidariedade social" 5 • Obje- neamente distribuído e a oferta
tivam, outrossim, explicar, não um restrita de serviços públicos que,
processo geral de crescimento ur- muitas vezes, faz com que a popu-
bano aplicável a todas as socieda- lação abastada resida em áreas
des, mas um processo evolutivo densamente povoadas (como é o
condicionado por variáveis bem de- caso do Rio) e não em suburbs bu-
finida,<;;, ou sejã, a evolução de uma cólicos, como pressupõe o modelo
aglomeração em rápido crescimen- ecológico.
to demográfico e industrial, domi- Não muito diferentes dos estudos
nada por uma economia capitalista clássicos de ecologia humana, as
com poucas imperfeições de merca- contribuições de Alonso, Wingo e
do. Pressupõem, ademais, um de- Muth enfocam o processo de estru-
terminado grau de heterogeneida- turação urbana das cidades norte-
de étnica e social, um sistema de americanas, segundo os postulados
transportes eficaz e homogenea- da teoria econômica neoclássica 7 •
mente distribuído no espaço, e a Pressupondo concorrência perfeita
existência de um núcleo urbano e custos de transporte crescentes
inicial com pequeno valor simbó- com o aumento da distância ao
lico e fracamente constituído so- centro, esses estudos enfocam o
cial e arquitetonicamente 6 • processo de estruturação residen-
A evolução do espaço metropoli- cial urbana como dependente de
tano do Rio de Janeiro, como o da um trade-ojf entre o quantum de
maioria das cidades capitalistas de- habitação desejada (geralmente
pendentes, não se enquadra nesse visto em termos de espaço) , a aces-
contexto. O núcleo (mesmo quan- sibilidade de um lugar em relação
do visto apenas como o núcleo ur- ao centro (onde todo o emprego se
bano inicial) não só tem nessas ci- concentra e onde o solo urbano é
dades um valor simbólico impor- mais caro) e o limite de despesas
tante, como essa importância é de- representado pelo orçamento fami-
corrente do fato de ser nessa área liar. O uso do solo urbano é, então,
que, tradicionalmente, se concen- determinado simplesmente pela

' O exemplo mais típico dessa escola está consubstanciado na teoria de Burgess sobre o
crescimento das cidades. Ver BURGESS, E. The Growth of the City. in PARK, R. E.; BURGESS,
E. & MACKBNZIE, R. The City. Chicago, University of Chicago Press, 1925, p. 47-62.
" HARVEY, David. Social Justice and the City. Baltimore, The Johns Hopkins University
Press, 1973, p. 131.
o CASTELLS, Manuel. La Cuestion Urbana. Madri, Siglo Veintiuno, 1974, p. 143.
7 ALONSO, William. Location and Land Use. Cambridge, Mass., Harvard University Press,
1964; WINGO JR., Lowdon. Transportation and Urban Land. Washington, D. C., Resources for
the Future, 1961; MUTH, Richard F. Cities and Housing. Chicago, The University of Chicago
Press, 1969.

579
competição entre os diversos seto- processo decisório, ou seja, das ca-
res econômico e/ou classes de ren- racterísticas dos diversos atores, de
da da população por cada segmen- seus objetivos particulares e de co-
to do espaço. Dado que as classes mo eles podem ser conciliados.
de baixa renda, segundo essa teo- Várias restrições devem ser fei-
ria, precisam minimizar os custos tas a esse tipo de pensamento. Em
de transporte entre local de empre- primeiro lugar, sua dependência de
go e local de moradia, o processo de conceitos parentianos implícitos ou
competição descrito acima faz com explícitos de otimização, que não
que elas, paradoxalmente, acabem levam em conta a distribuição de
ocupando, em altas densidades, renda, põe sérias dúvidas sobre a
justamente as áreas onde o solo capacidade de o Estado vir a atin-
urbano é mais valorizado. gir o objetivo da eqüidade, mesmo
A aplicabilidade desse tipo de porque este é raramente definido.
modelo às cidades dos países sub- Em segundo lugar, o Estado é visto
desenvolvidos não é discutível ape- muitas vezes como se fosse consti-
nas em função do arranjo espacial tuído de elementos desvinculados
dele resultante. Se este fosse o úni- de toda e qualquer classe ou grupo
co problema, bastaria inverter al- social. Seria, por assim dizer, uma
gumas das premissas comporta- entidade superior, à qual caberia
mentais do modelo para que se ob- resolver conflitos que só existiriam
tivesse a forma urbana caracterís- em escalas inferiores. Além disso,
tica das cidades do Terceiro Mun- os diversos fatores que geram con-
do. Ao contrário, a sua aplicabili- flitos, sejam eles os setores econô-
dade é debatida devido ao pressu- micos, os diversos tipos de empre-
posto de que o processo de estrutu- sários rotuláveis de "iniciativa pri-
ração urbana é comandado exclu- vada", ou os habitantes da cidade,
sivamente pela ação privada, ser- são considerados de forma irrealis-
vindo o Estado apenas de mediador ta, como se fossem entidades autô-
de conflitos potenciais entre os nomas, verdadeiros atores-concre-
agentes privados. tos, cuja ação é determinada exclu-
Segundo esta visão do Estado, a sivamente por seus interesses indi-
ação pública decorreria única e ex- viduais; se esses atores-concretos
clusivamente da necessidade de formam grupos, isto é função ex-
coordenar decisões individuais de clusiva da agregação de suas de-
uma forma que fosse socialmente mandas. Finalmente, a ação des-
"ótima", tanto do ponto de vista da ses atores-concretos raramente é
eficiência como da eqüidade. O Es- analisada dentro de um esquema
tado seria, assim, o grande media- mais amplo, que permita não só re-
dor dos conflitos existentes na área lacioná-la com o momento social
urbana, e sua função principal se- no qual ela se pratica como inseri-
ria resolvê-los de tal forma que a la num contexto mais geral dos
sociedade como um todo não fosse processos sociais que acontecem no
prejudicada. urbano.
Como a ação do Estado se con- A noção do Estado como entida-
cretizaria num ambiente onde ine- de superior e neutra, por ser idea-
xistiria contestação às grandes li- lista, pouco contribui para o estu:-
nhas ideológicas que orientam o de- do da evolução da estrutura urba-
senvolvimento da sociedade, o inte- na. Não há dúvida que a ordem es-
resse na análise de políticas públi- pacial de uma cidade decorre da
cas passa a se centrar basicamente, resolução de conflitos entre os
não- nos objetivos e conseqüências agentes que atuam no urbano, se-
dessas políticas, mas nos seus jam eles unidades do capital ou
meios, principalmente no estudo do classes sociais. Entretanto, a expe-

580
nencia das sociedades capitalistas mercado. Tal estrutura também é
dependentes - para não se falar função do papel desempenhado pe-
das sociedades capitalistas em ge- lo poder público no decorrer do
ral- demonstra que, em tais con- tempo, seja através da criação de
flitos, têm prevalecido os interes- condições materiais que permitis-
ses dos setores mais capitalizados sem o funcionamento das diversas
e das classes sociais mais poderosas, atividades do núcleo ou, em menor
que impõem a adoção, pelo Estado, grau, de sua periferia imediata; se-
de políticas, controles e mecanis- ja mediante o estabelecimento de
mos reguladores altamente discri- políticas que, embora objetivassem
minatórios. No caso brasileiro regular conflitos entre o trabalho e
atual, esse processo, associado a o capital, sempre tenderam a ser
uma prática político-econômica benéficas a este em detrimento da-
concentradora e antidistributiva, quele; seja ainda por sua omissão
reflete-se na elitização crescente de no que se refere aos processos eco-
determinados espaços urbanos da nômico.& e habitacionais "infor-
metrópole e na conseqüente expul- mais", que aconteceram e ainda
são e periferização 8 das classes de acontecem nas periferias metropo-
baixa renda 9 . litanas.
O Estado não pode, pois, ser con- Neste sentido, a estratificação es-
siderado como entidade superior e pacial do espaço metropolitano ca-
neutra. Embora não deva ser con- rioca na atualidade tem de ser re-
cebido apenas como mero instru- lativizada. Ainda que reflita o mo-
mento político ou como uma insti- mento atual e, conseqüentemente,
tuição estabelecida pelo capital, o o modelo concentrador vigente no
Estado expressa, na realidade, o país, tudo leva a crer que tal estra-
seu interesse. Daí é de se esperar tificação sempre existiu, embora
que a ação pública venha a contri- suas especificidades tenham, por
buir efetivamente para a constru- certo, variado através do tempo.
ção diferenciada do espaço, pro- Em outras palavras, tudo leva a
vendo as áreas de interesse do ca- crer que a organização espacial do
pital e/ou das classes mais podero- Rio de Janeiro e, por extensão, das
sas da sociedade dos insumos que metrópoles brasileiras na atualida-
eles necessitam para crescer e se de, nada mais é do que a expressão
reproduzir, o que é feito geralmen- mais acabada de um processo de
te através da espoliação de outras estratificação espacial que vem se
classes sociais ou, a nível geográfi- desenvolvendo há muito tempo, e
co, da espoliação de outras áreas, que tem contado com a ajuda pre-
sejam estas as periferias metropo- ponderante do setor público.
litanas já referidas acima ou, a ní- Para se avaliar e concluir sobre a
vel macrorregional e nacional, o veracidade dessas afirmações, é
restante do país. importante que o estudo da evolu-
Se a estrutura atual do espaço ção da estrutura urbana de uma
metropolitano carioca se caracteri- metrópole qualquer procure perce-
za pela estratificação espacial des- ber, paralelamente, as interações
crita anteriormente, isto não se que ela apresenta não só com os
deve, então, apenas às forças de processos econômicos, sociais e po-
8 Entenda-se por "periferização" aqui mais do que a localização distante do núcleo metro-
politano: o conceito inclui também a não acessibilidade ao consumo de bens e serviços que,
embora produzidos socialmente, são apropriados e consumidos principalmente no núcleo.
• Atualmente o papel do Estado tem sido o de garantir ao máximo a rentabilidade dos
investimentos particulares, fazendo concessões apenas quando estas se evidenciam necessárias,
ou sej<~., vara assegurar as cond,ções mínimas de reprodução da força de trabalho (estabilidade
social).

5,81
líticos que aí tiveram lugar, como fechados", reflexos de períodos dis-
também com as políticas empreen- tintos de organização social pelos
didas pelo poder público através do quais passou a cidade. As formas-
tempo. Pressupõe-se, neste sentido, aparência, ou formas morfológicas,
que tais políticas .seriam bastante representam, então, uma acumula-
representativas dos "modelos" de ção de tempo, e sua compreensão,
desenvolvimento adotados implíci- desse ponto de vista, depende do
ta ou explicitamente pelo Estado conhecimento do que foram os di-
em diversos contextos históricos, e versos momentos de organização
que refletiriam os valores e confli- social pelos quais passou um deter-
tos internos àas classes ou frações minado espaço w.
de classe que detiveram o poder As formas, entretanto, não têm
nesse período. apenas uma aparência externa,
Como associar, entretanto, a pe- mas também possuem um conteú-
riodização abstrata aqui proposta do, isto é, realizam uma função. E
com o fato real e concreto que é o esta funcão é determinada exclusi-
espaço geográfico? Será possível vamente~ pelo período atual de or-
periodizar também o espaço? ganização social 11 • Formas antigas
podem, pois, ser chamadas a reali-
Estrutura Urbana e Momentos zar funções totalmente distintas
de Organização Social daquelas para as quais foram cria-
das; podem, inclusive, desaparecer,
A estrutura urbana de uma ci- se assim o determinar a dinâmica
dade, quando analisada num mo- da organização social.
mento qualquer, pode ser vista co- Para exemplificar, o Rio de Ja-
mo uma coleção de formas geográ- neiro possuía, até a década passa-
ficas. Essas formas, sejam elas ma- da, uma série de bairros (Lapa e
croformas (um bairro, por exem- Catumbi, por exemplo) que ser-
plo) ou microformas (um edifício) viam de local de residência para
podem ser analisadas em termos de classes de baixa renda ou abriga-
forma-aparência e forma-conteúdo. vam funções de apoio ao comércio
Quando analisada apenas sob o e à indústria. Esses bairros tinham
critério de forma-aparência, a cida- sido, outrora, local de residência de
de seria composta, a qualquer mo- classes mais abastadas, e o fato de
mento, de formas antigas, testemu- que não mais o eram já refletia
nhos de períodos anteriores de or- uma mudança ocorrida na sua for-
ganização social, e de formas novas ma-conteúdo, já refletia a perda de
(ou formas antigas já transforma- sua função inicial. Atualmente,
das), que seriam reflexos das exi- muitos desses bairros praticamen-
gências funcionais de momentos te desapareceram do cenário cario-
mais recentes de organização so- ca por exigência dessa mesma di-
cial. No presente momento, por nâmica da estruturação do espaçó,
exemplo, a cidade do Rio de Janei- tendo se transformado em áreas a
ro possui bairros onde predominam serem ocupadas por outras funções
antigos sobrados e casas gemina- e/ou outros grupos populacionais.
das, e bairros onde a predominân- O momento atual de organização
cia é de grandes edifícios de aparta- social é que é responsável, pois, pe-
mentos ou mesmo de "condomínios lo tipo de atribuição que é dado

10 .SANTOS, Milton. A Divisão do Trabalho Social como uma Nova Pista para o Estudo
da Organização Espacial e da Urbanização nos Países Subdesenvolvidos, in 3. 0 Encontro Nacional
de Geógrafos. Fortaleza, 19-27 de julho de 1978, Sessões Dirigidas. Fortaleza, Associação dos
Geógrafos Brasileiros/Univ'ersidade Federal do Ceará, 1978, p. 41.
u Ibià.

582
às formas antigas ..É ele também mas espaciais, como as formas-
que leva à criação de novas formas. aparência e formas-conteúdo des-
Como caracterizar, entretanto, um critas acima, ou podem assumir co-
"momento atual" de momentos notações não espaciais, como é o
que lhe foram anteriores? caso da criação de uma nova insti-
É sabido que os sistemas ou es- tuição governamental (o BNH, por
truturas que compõem uma socie- exemplo) , da adoção de um novo
dade raramente evoluem sincroni- modelo econômico por uma socie-
camente. A não sincronização dos dade, ou da criação de um novo
processos de evolução desses siste- aparelhamento jurídico-político. O
mas tem papel importante no de- importante, entretanto, é que mui-
senvolvimento dessa mesma socie- tas dessas formas não espaciais
dade, pois é exatamente essa defa- acabam se "geografizando", já que,
sagem a responsável, muitas vezes, direta ou indiretamente, visam a
por alterações importantes na or- legalizar, modificar, controlar ou
ganização social, por transforma- incentivar algum tipo de atividade
ções na divisão social do trabalho. que se desenvolve no espaço. As
Uma evolução mais rápida da es- formas não geográficas estão, pois,
trutura econômica em relação às intimamente relacionadas não só
demais, por exemplo, pode levar ao com os diversos momentos de orga-
aparecimento de novas funções nização de uma sociedade mas
econômicas a serem desempenha- também com o espaço.
das pela sociedade, sem que haja, Um novo momento de organiza-
de início, grandes modificações nas ção social pode ser definido, então,
outras estruturas. Com o tempo, como o resultado de modificações
entretanto, tal defasagem não po- dos sistemas ou estruturas que
derá continuar, pois o aparecimen- compõem uma sociedade. Essas mo'"
to mesmo dessas novas funções não dificações podem decorrer do fato
só modifica as antigas funções mas de a evolução diferenciada dessas
também exige mudanças na ma- estruturas ter chegado a um grau
neira pela qual as diferentes tare- de contradição insustentável, ou
fas (econômicas, ideológicas e jurí- podem ainda refletir um reajuste
dico-políticas) são desempenhadas ou recomposição da estrutura an-
por indivíduos e instituições. terior. Tanto num caso como no ou-
A cada novo momento de orga- tro, as características do novo mo-
nização social, determinado pelo mento da organização social de-
processo de evolução diferenciada penderão, obviamente, do grau de
das estruturas que a compõem, a resolução das contradições existen-
sociedade conhece, então, um mo- tes e de que classe ou grupo passa
vimento importante. Novas fun- a ser dominante. De qualquer for-
ções aparecem, novos atores en- ma, em termos da atuação do Es-
tram no cenário, novas formas são tado, cada novo momento de orga-
criadas, enquanto as antigas são nização social tende a se caracteri-
transformadas. Assim, a sociedade zar pela formulação ou aprimora-
se exprime, a cada momento, mento de políticas e de outros
"através de processos que, por sua mecanismos de controle que ten-
vez, se desdobram através de fun- dem a se tornar cada vez mais rí-
ções, enquanto estas se realizam gidos com o decorrer do tempo, a
mediante formas" 12 . fim de consolidar os privilégios da
Que formas são essas sem as classe ou grupo dominante.
quais as funções não podem ser Dado que o espaço reflete, a cada
realizadas? Elas podem ser for- momento, as características da or-
12 Ibid., p. 39.

583
ganização de uma sociedade, a or- nadas unidades do capital e/ou
dem espacial de uma cidade, ou classes sociais dominantes têm na
seja, sua estrutura urbana, refle- transformação dessas formas anti-
tirá também o resultado do con- gas; e, finalmente, do papel exerci-
fronto, reajuste ou recomposição do pelo Estado a cada momento, às
dos sistemas que constituem a so- vezes moldando o espaço em fun-
ciedade. Isso porque cada novo mo- ção dos interesses de uma classe ou
mento de organização social traz grupo dominante (via, por exem-
consigo novas funções e novas for- plo, programas de renovação urba-
mas (geográficas ou não) que na como os da Lapa e Catumbi), às
exemplificam, no espaço, os confli- vezes resolvendo os conflitos exis-
tos de classe existentes na socieda- tentes ou potenciais de maneira
de no momento. Por essa razão, o menos evidente, mas quase sempre
estudo da estruturação do espaço em benefício dessa mesma classe
urbano e, conseqüentemente, o es- ou grupo.
tudo do papel do Estado nes3e me_:;- Vários são, pois, os agentes que
mo processo de estruturaçao, nao influem na evolução da estrutura
podem ser feitos separadamente do urbana. Nem sempre, entretanto,
estudo do processo de evolução da podem eles ser facilmente identifi-
sociedade. Como diz Castells, "o cados em seus objetivos, como é o
espaço não é independente da es- caso, por exemplo, do Estado, cuja
trutura social; é, isto sim, a expres- atuação "social" no meio urbano
são concreta de cada fase histórica muitas vezes mascara interesses
na qual uma sociedade se especifi- bem particularizados.
ca" 13. Ainda que enfatizando apenas a
A afirmação de Castells não deve, ação do Estado, o estudo da evolu-
entretanto, levar à suposição de ção da estrutura urbana aqui pro-
que o espaço é uma matéria inerte, posto, baseado na análise simultâ-
"um simples pano de fundo no qual nea do tempo (momentos de orga-
são inscritas-as ações de classes e nização social) e do espaço (formas
instituições através do tempo" 14 • aparência e conteúdo) permite, ao
Com efeito, se os processos dão ao que parece, diminuir o grau de in-
espaço uma forma, uma função, c·erteza do pesquisador no que diz
uma significação social, este tam- respeito à análise da relação pro-
bém influencia o desenvolvimento cesso-forma. Só analisando tempo
desses mesmos processos no decor- e espaço em seu movimento con-
rer do tempo, institucionalizando- junto é que as ações dos diversos
os ou modificando-os.
agentes que atuam no urbano e
Esta influência do espaço é de- seus reais objetivos podem ser
terminada, principalmente, pela identificados.
permanência de formas estruturais
anteriores que tanto podem se
constituir em barreira ao desenvol- Conclusão
vimento de novos processos como
É necessário que se estude o pro-
podem facilitá-los. Tudo depende
da atribuição funcional que essas cesso de estruturação urbana den-
formas antigas adquirem a cada tro de um contexto menos limitado
novo momento de organização .so- do que aqueles que têm sido desen-
cial; de sua capacidade de adaptar- volvidos até agora. É necessário que
se ou resistir às novas exigências; se examine a interação entre pro-
do grau de interesse que determi- cessos econômicos, sociais e políti-

13 CASTELLS, Manuel. Op. Cit., p, 141.


14 lbid.

584
cos e a forma segundo a qual o es- Dado que o Estado não tem uma
paço se estrutura. Espaço e socie- participação neutra no contexto
dade precisam ser analisados de urbano, a análise dos processos que
uma maneira abrangente para que determinam essa forma espacial
a complementariedade entre pro- precisa levar em consideração o pa-
cesso e forma fique evidente. pel exercido por ele ao longo de to-
Isso implica, de um lado, estudar do o processo de estruturação ur-
a essência das formas, ou seja, o bana. Deve, outrossim, relacionar,
papel desempenhado por elas nos tanto o espaço como a atuação do
Estado sobre ele, aos diversos mo-
diversos momentos por que passa a mentos de organização social pelos
sociedade no tempo. Implica tam- quais passou a sociedade em estu-
bém, por outro lado, estudar como, do. Só assim será possível identifi-
numa sociedade historicamente car o verdadeiro significado das
determinada, o espaço é elabora- formas espaciais. Só assim a estru-
do, isto é, entender a maneira pela tura urbana atual poderá ser real-
qual os processos sociais determi- mente compreendida em suas múl-
nam uma forma espacial. tiplas determinações.

585
A segregação
residencial da
população
• •
economicamente at1va
na Região
Metropolitana do
Rio de Janeiro,
segundo grupos de
rendimento mensal*
David Michael Vetter

H arvey (1975) argumenta


que a segregação residen-
cial (ou seja, a diferencia-
ção residencial) segundo grupos de
ferencial de renda real em termos
de acesso às facilidades da vida
urbana como água, esgoto, áreas
verdes, melhores serviços educa-
rendimento monetário significa di- cionais e a não-proximidade aos

• Este trabalho foi Iniciado em 1976 como parte de uma pesquisa de localização industrial
no Estado do Rio de Janeiro sob coordenação de Carlos Alberto Cosenza (COPPE/UFRJ), com
o apolo financeiro do BNDE. Nesta etapa Inicial da pesquisa agradeço a assistência. de Mary
Castro, Marcel Bursztyn, Maurício F. Mendonça de Aguiar e Roberto Petterle. Na versão aqui
apresentada agradeço a ajuda. de Rosa Maria Ramalho' Massena, Elza F. Rodrigues, Dulce M. A.
Pinto e Luiz Otavio F. Barreto Lima.
Não deve haver, contudo, nenhuma. dúvida quanto à responsabilidade do texto aqui apresentado,
que ca.b'e somente a mim.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(4) : 587-603, out.jdez. 1981 587


custos sociais da cidade, como cri- 1 - UMA BREVE
me, serviços educacionais inferio- DISCUSSÃO DA
res, ausência de infra-estrutura, LITERATURA
etc. Além de refletir diferenças de
renda monetária, a localização re- ESPECíFICA
sidencial implica uma diferença
maior ainda no que diz respeito à Visto que já existem várias apre-
renda real. Além disso, o autor le- ciações críticas especificamente so-
vanta outras hipóteses, entre elas a bre segregação residencial (Harvey
de que "as áreas residenciais for- 1975), centraremos a nossa mais
necem meios distintos para a inte- em pesquisas sobre este tema rea-
ração social a partir da qual os lizadas na RMRJ. E, ainda, indi-
caremos apenas as pesquisas mais
indivíduos derivam seus valores, recentes que contenham reavalia-
expectativas, hábitos de consumo, ções críticas da literatura sobre tal
poder aquisitivo e estados de cons- tema.
ciência"1.
Obviamente, a segregação resi-
Esta comunicação tem como dencial segundo grupos de rendi-
objetivo principal a análise da se- mento é resultado de um processo
gregação residencial da população histórico . Abreu e Bronstein
economicamente ativa (PEA) na (1979) fazem uma revisão muito
Região Metropolitana do Rio de detalhada deste processo da ocupa-
Janeiro (RMRJ) segundo grupos ção do espaço urbano da cidade do
de rendimento mensal. Nele que- Rio de Janeiro desde os anos trin-
remos verificar a existência de uma ta, onde eles destacam o papel do
estrutura centro/periferia, postu- Estado e sua interação com o ca-
lada por diferentes autores (San- pital privado. O balanço crítico, fei-
tos e Bronstein, 1978 e Vetter, Mas- to por eles, da literatura sobre este
serra e Rodrigues, 1979), que é ge- processo no Rio de Janeiro é pro-
rada, em grande parte, pela atua- vavelmente um dos mais comple-
ção do Estado, especialmente atra- tos.
vés de sua provisão de infra-estru- A ecologia fatorial da Região Me-
tura - e que determina, em gran- tropolitana do Rio de Janeiro em
processo final de elaboração pelo
de parte, quais grupos vão se apro- Departamento de Geografia do
priar dos benefícios destas ações IBGE (Pinto et alii, 1979) traz
do Estado (Vetter, 1979). Iremos uma contribuição importante ao
ainda propor uma regionalização entendimento da estrutura sócio-
dos municípios e regiões adminis- espacial da Região Metropolitamt
trativas, Região Metropolitana do do Rio de Janeiro. Temos também
Rio de Janeiro que poderia ser útil trabalhos sobre a segregação resi-
a outros autores preocupados com dencial dos migrantes. Em um
o mesmo tipo de problema. Mas, destes, Lobato (1976) mostra que
não existe uma única porta de en--
também, no decorrer do presente trada para os migrantes, o que
trabalho, tentaremos não só apre- comprova os resultados de Vernez
sentar os dados numa forma que e outros sobre diversas cidades na
possa facilitar o seu uso por parte América Latina. Mary Castro
de outros pesquisadores como tam- (1979) procede a uma análise da
bém destacar certos problemas de segregação residencial dos migran-
sua interpretação devido aos con- tes, segundo os diferentes grupos
ceitos utilizados. de rendimento, e chega à conclusão

' Citado e traduz!do por Lobato (1979).

588
de que existe segregação residen- esta superfície influi na segre-
cial do migrante e de não migran- gação residencial da populaçã::~
tes dentro de um mesmo grupo de segundo grupos de renda, que,
rendimento. Este último trabalho por sua vez, pode influenciar as
apresenta um reexame exaustivo ações do Estado nos períodos
da literatura sobre migração intra- subseqüentes ( ... ) ou seja, uma
urbana, bem como da literatura so- vez que o poder político está al-
bre a ocupação do espaço urbano tamente relacionado com o po-
do Rio de Janeiro. der aquisitivo, as áreas que apre-
Embora não trate especificamen- sentam proporções mais elevadas
te da segregação residencial, a pes- de famílias de alta renda ten-
quisa do DEISO (1979) sobre as dem a receber proporcionalmen-
Condições de Vida da População de te mais benefícios líquidos das
Baixa- Renda na Região Metropoli- intervenções do Estado, de modo
tana do Rio de Janeiro fornece ele- a ·::mriquecer seus proprietários
mentos essenciais para o entendi- através da capitalização do ex-
mento das forças que produzem a cedente fiscal no valor da terra,
estru~ura interna da cidade. O tra--
o que vai dificultar o acesso de
balho de Massena (1976) é bem famílias de menor renda ou re-
interessante na medida em que sultar mesmo na expulsão delas
analisa a relação entre valorização
do solo e a estrutura interna da ci- (Vetter 1979, p. 6-7).
dade e em que recorre, para tanto,
à distribuição de famílias segundo Vetter, Massena e Rodrigues
grupos de rendimento mensal per (1979) ilustram este argumento
capita, inclusive e exclusive fa- utilizando dados dos investimentos
velas. em água e esgoto.
Vetter (1975) utilizou os mesmos
dados a serem explorados aqui de 2 - ANÁLISE DOS DADOS
uma forma mais pormenorizada na
análise da distribuição da popula-
ção economicamente ativa segundo Os dados sobre rendimento men-
grupos de rendimento. Nesta aná- sal da população economicamente
lise, recorreu-se a uma subdivisãr; ativa (PEA) provêm de tabulações
da Região Metropolitana do Rio especiais do Censo Demográfico de
de Janeiro em quatro áreas sociais 1970 feitas pela pesquisa do Minis-
(núcleo, periferia imediata, perife- tério do Interior sobre Migrações
ria intermediária e periferia dis- Internas (1975). Como sublinha
tante), a qual foi apresentada ini- Ramonaval (1977, p. 26), os dados
cialmente pela equipe do IBAM do Censo de 1970 sobre rendimento
(1975) e mais tarde desenvolvida monetário "são, em grande parte,
num trabalho de Nelson dos Santos a renda recebida regularmente,
e Bronstein ( 1978) . assim como os salários, emprega-
A segregação residencial pode ser dor pro labore, honorários de pro-
vista como uma etapa ou elo em fissionais liberais, soldos, comis-·
um processo de causaçao circular, sões, gratificações, gorjetas etc." E,
onde a apropriação dos benefícios portanto, estes dados "não incluem
líquidos gerados pelas ações do Es- os ganhos de capital, empréstimos
tado é de máxima importância: de instituições bancárias", etc.
Isto decorre em grande parte da Os limites dos grupos de rendi-
distribuição espacial dos benefí- mento que foram apresentados ori-
cios líquidos gerados pela atua- ginalmente nestas tabulações em
ção do Estado, que incide sob~e cruzeiros de 1970 foram converti-
a superfície de renda da terra. E dos em unidades do salário mínimo

589
de 1970 2 • As unidades de análise co pessoas morando juntas em um
espacial são 22 das 23 regiões admi- domicílio particular seria conside-
nistrativas (RAs) do Município do rado uma família, mesmo sem
Rio de Janeiro (aí não se incluiu haver ligação de parentesco entre
a ilha de Paquetá por ser diferente os moradores. Além disso, por ve-
das demais) e 12 dos 13 municípios zes, indivíduos moram em casas ou
da Região Metropolitana do Rio de apartamentos com níveis de densi-
Janeiro (já que foi excluída Man- dade domiciliar extremamente al-
garatiba por falta de dados). tos (haja vista o elevado número
Considerando-se que a região de pessoas por cômodo), conseguin-
administrativa da Barra da Tijuca do, desse modo, o acesso àqueles
foi somente criada após o Censo de bairros mais "nobres", conforme
1970, os dados aqui apresentam-na demonstra a fascinante pesquisa
como parte da região administra- de Velho (1978) sobre conjugados
tiva de Jacarepaguá. Porém, uma em Copacabana. Por isso, a variá-
vez que a populaç5.o desta nova re- vel rendimento familiar per capita
gião administrativa era muito pe- utilizada por Massena (1976) é pro-
quena em 1970, a distorção criada vavelmente superior, na medida em
deve ser mínima. Embora a va- que mostra o rendimento em rela-
riância-intra seja relativamente al- ção ao tamanho familiar.
ta nestas unidades de análise, Note-se também que as favelas
achamos razoável utilizá-las, visto estão incluídas nas tabulações. Em-
que a variância-inter é ainda bora tivesse sido interessante sepa-
maior. rar a PEA que reside em favelas, a
Cumpre aqui notar algumas ca- exclusão somente de favelas e não
racterísticas destes dados que de- de outros tipos de habitação de fa-
vem ser levadas em conta em sua mília: de baixo rendimento - tais
interpretação. Uma delas é que como casas de cômodos, "cabeças-
alguns trabalhadores de baixo ren- de-porco" e loteamento periférico
dimento moram no local do traba- - não parece muito coerente em
lho (tais como empregadas domés- termos de análise de segregação
ticas, porteiros e trabalhadores da
construção civil), o que aumenta residencial. Cabe lembrar que so-
a concentração de pessoas de bai- mente 26,3% dPs famílias com ren-
xo rendimento em zonas de alto dimento mensal de r..té um meio sa-
rendimento, considerando-se que lário mínimo per capita moravam
eles são tidos como moradores ~es­ em favelas em 1970 (ver DEISO
tes bairros . 1978).
Também devemos lembrar que o Todas estas características dos
agrupamento da PEA em famílias dados a serem analisados mais de-
tem grande impacto sobre o rendi- tidamente explicam a tendência
mento total da família e, por isso, para uma proporção - maior do
sobre a localização, já que influi que seria normalmente esperada -
sobre a capacidade de se pagar por de pessoas de baixo rendimento re-
uma habitação. Por exemplo, cia- sidentes em zonas onde é mais ele-
co pessoas economicamente ativas vada a concentração da população
podem juntas somar seus salários economicamente ativa de rendi-
para morar em bairros ditos "mais mento maior, ou seja, um nível me-
nobres". Com a definição de famí- nor de segregação residencial se-
lia do Censo, este grupo de até cin- gundo grupos de rendimento.
2 Uma. vez que esta dlvlsâo foi feita depois das tabulações, os limites das classes em salário
mínimo não são exatos. Os limites nas tabulações (em cruzeiros de 1970): Até 100, 101-200,
201-500, 501-1000, 1001-1500, 1501-2000 e 2001 ou mais.

590
As tabelas I. 1, I. 2 e I. 3 no ane- te, contornado pela utilização de
xo I apresentam a distribuição de unidades de análise menores e
PEA segundo grupos de rendimen- mais homogêneas, como foi feito
to mensal não só por unidade de por Pinto et alii (1979), onde o
análise espacial (regiões adminis- emprego do distrito censitário
trativas e municípios) como tam- como unidade espacial de análise
bém por cinco zonas sociais. Para tornou possível a separação tanto
a definição destas zonas foram uti- das favelas como do distrito sede
lizados alguns dos conceitos de dos municípios periféricos. Nossas
Carlos Nelson dos Santos e Olga tabulações não permitiram, contu-
Bronstein (1976) em conjunto com do, análise de tal nível de desa-
os resultados da pesquisa de eco- gregação espacial.
logia fatorial da Região Metropo- De qualquer maneira, estas zo-
litana do Rio de Janeiro (Pinto nas foram utilizadas somente para
et alii, 1979). Nossa idéia era che- apresentação de alguns resultados,
gar a zonas contíguas, relativa- pois a própria análise dos dados
mente homogêneas internamente e foi feita a nível dos municípios e
também capazes de refletir as me- regiões administrativas através de
lhores condições de vida no núcleo três índices da distribuição espa-
e nas áreas em seu redor. Utili- cial da PEA: o de similaridade, o
zando-se estes critérios (i.é. homo- de segregação e o de concentração
geneidade sócio-econômica e loca- espacial dos diferentes grupos de
lização em relação ao núcleo), fo- rendimento.
ram definidas cinco zonas: núcleo, O primeiro destes índices mostra
zona de transição, periferia imedia- o grau de similaridade entre as dis-
ta, periferia intermediária e perife- tribuições percentuais da PEA por
ria distante. As tabelas no anexo I grupos de rendimento mensal nas
apresentam as RA's e municípios unidades da Região Metropolitana
incluídos em cada zona. do Rio de Janeiro, ou seja:
A zona de transição, a única
acrescentada àquelas definidas por rs. = 1 0- [
Jk '
2-: Valor Absoluto (Pj -
200,0
PU J
Nelson dos Santos e Bronstein, foi
criada para designar as RA's e um (1)
município (Niterói) que apresen-
tam níveis de rendimento, condi- onde
ções de vida e acesso ao centro um ISik índice de similarida-
pouco inferiores àquelas localiza- de entre os grupos de
das no próprio núcleo, porém con- rendimento mensal j
sideravelmente superiores às en- e k nas unidades es-
contradas na periferia imediata. paciais;
Embora o grau de heterogeneidade P ij ' J:>lk. a percentagem (ver-
no interior destas cinco zonas (va- tical na tabela I. 2 no
riância intra) seja relativamente anexo I) da PEA to-
alto, é menor do que a diversidade tal da região metro-
existente entre elas (variância in- politana dos grupos
ter). Além disso, as mesmas facili- de rendimento j e k
tam a apresentação dos dados, per- concentrada na uni-
mitindo uma visão global. Na ver- dade espacial i.
dade, a heterogeneidade não se
apresenta apenas a nível das zo- Este coeficiente de similaridade
nas, mas também a nível das uni- varia entre zero e 1,0, correspon-
dades espaciais de análise. Este dendo aquele à dissimilaridade
último problema pode ser, em par- completa e 1,0 à similaridade com-

591
pleta entre as duas distribuições 3 . associação entre a distribuição re-
Em outras palavras, um coeficien- lativa da PEA da Região Metropo-
te de 1,0 significaria que as per- litana em um grupo de rendimen-.
centagens da PEA de dois grupos to (j) nas unidades espaciais e :t
em cada unidade espacial da Re- distribuição relativa da PEA nos
gião Metropolitana do Rio de J a- demais grupos de rendimento, ou
neiro seriam de todo iguais, isto é, seja:
exatamente similares.
A tabela 1 apresenta os índices SEG =r~ Valor Absoluto (Pj--P~)
J L 2oo,o
J(',,,')
de sibmilaridade para os 9 grupos
de rendimento mensal utilizados
nesta pesquisa. Note-se que as dis-
tribuições dos cinco primeiros gru- onde,
pos (desde aquele sem rendimento
até o de 1,6 a 2,7 salários mínimos) SEGi = índice de segregação
são bem similares, como atestam (Duncan-Duncan) da
os coeficientes que variam entre PEA do grupo de ren-
0,82 e 0,92. Como era de se espe- dimento j.
rar, as distribuições de cada um
destes cinco grupos de baixo r-endi- Pj Ver •3quação 1;
mento e a distribuição do grupo de
maior rendimento (mais de 10,7 PR~ Distribuição relativa da
salários mínimos) são bem dissimi- PEA total da região me-
lares, conforme demonstram os ín- tropolitana fora do gru-
dices que variam entre 0,31 e 0,45. po de rendimento j con-
O segundo índice calculado foi o centrada na unidade es-
de segregação, o qual mostra a pacial i.

TABELA 1
tndices de similaridade e de segregação para a distribuição da população
economicamente ativa, segundo grupos de rendimento na região
metropolitana do Rio de Janeiro em 1970

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10)
íNDICE
DE
GRUPOS DE RENDIMENTOS MAIS MAIS MAIS M.AIS MAIS SEGR_c-
SEM MAIS MAIS GAC.~O
(Salários mínimos) RE~DI-
ATt DE DE DE DE DE DE CE (DUtJ-
MENTO 0,5 0.5 A 1,1 A 1,6 A 2.7 A 5,3 A 8,0 A
10.7 CAN-
1,1 1,6 2.7 5,3 8,0 10.7 OUN-
c~.N!

1) Sem rendimento. 1,00 0,83 0,86 0,87 0,82 0,70 0,56 0,45 0,31 0,18
2) Até 0,5 .. ~.83 1,00 0,88 o.e2 0,83 0,80 0,70 0,59 0,45 0,13
"I Mais de 0,5 a 1,1. 0,86 0,98 1,00 0,89 0,85 0,76 0,64 0,52 0,39 0,15
4) Mais de 1,1 a 1,6. 0,87 0,82 0.89 uo 0,92 0,80 0,64 0,49 0,35 O, 13
5) Mais de 1,6 a 2.7 .. 0,82 0,83 0,85 0,92 1,00 0,87 0,68 0,54 0,39 0, 1 1
6) Mais de 2.7 a 5,3 .. 0,70 0,80 0,76 o,,go 0,87 1,00 0,81 0,65 0,49 O, 16
7) Mais de 5,3 a 8,0. 0,55 0.70 0,64 0,64 0,69 0,81 1,00 OM 0,65 0.29
8) Mais de 8,0 a 10;7 .. 0,45 0,59 0,52 0,49 0,54 0,65 0,84 1,00 0,80 0,43
9) Maic de 10,7 .. 0,31 0.45 0,39 0,35 0,39 0.'19 0,65 0.80 1,00 0,50

3 Este é 1 (um) menos o índice de segregação de Duncan. Ver Petterle (1976). L!ndgren
(1973) e Becker e Olive!ra (1976).

592
Como no caso do índice anterior, PER\ = a percentagem da
o valor de SEGi varia entre zero e PEA no grupo de
1,0, correspondendo 1,0 à segrega- rendimento j na uni-
ção total do grupo em apreço em dade de análise espa-
relação ao resto da PEA e zero a cial i;
uma falta absoluta de segregação
(isto é, distribuições iguais no gru- PERTi a percentagem da
po j e no resto da PEA, encontra- PEA no grupo de
das nas unidades de análise espa- rendimento j na re-
cial). Um problema apresentado gião metropolitana.
na interpretação deste índice aqui
discutido é que ele é fortemente In- Um índice de concentração igual
fluenciado pelo peso dos cinco pri- a 1,0 significa que a percentagem
meiros grupos que, como foi visto da PEA abrangida no grupo de
acima, têm distribuições bem simi- rendimento em questão é maior do
lares. Em outras palavras, a com- que aquela da região metropolita-
paração de um dos grupos de baixo na. Por exemplo, se a pro,orção
rendimento com a PEA comprova da PEA de Campo Grande no gru-
uma segregação relativamente bai- po de rendimento j for igual a esta
xa, principalmente porque este proporção ao nível da região me-
grupo não é segregado em relação tropolitana o rq seria 1 (hum).
aos outros grupos de baixo rendi- Se o IC for maior do que 1 ,O a pro-
mento. Essencialmente por esta porção nesta unidade espacial no
razão, o índice de segregação dos grupo de rendimento j será maior
cinco primeiros grupos é relativa- do que a concentração neste gru-
mente baixo. Como já se previa, po ao nível da região metropolita-
embora a segregação se torne mais na. E, finalmente, se for menor
acentuada a partir do sétimo gru- do que 1,0, a concentração da PEA
po, o grau de segregação do grupo no grupo j na unidade espacial será
de maior rendimento foi mais al- menor do que ao nível da região
to (0,58). metropolitana. Por exemplo, se a
O último índice calculado foi o proporção da PEA de Campo Gran-
de concentração (também conheci- de no grupo de rendimento j for
do como índice de Shevsky- igual a esta proporção ao nível da
Williams-Bell). Este índice mos- região metropolitana o ICi seria
tra a percentagem da PEA total, 1 (hum). Se o IC for maior do que
de uma unidade espacial i, no gru- 1,0 a proporção nesta unidade es-
po de rendimento j, em relação a pacial no grupo de rendimento j
esta percentagem para este grupo será maior do que a concentração
a nível da região metropolitana. neste grupo ao nível da região me-
Este índice é diferente dos outros tropolitana. E, finalmente, se for
já apresentados, pois é calculado menor do que 1,0, a concentração
para cada unidade espacial : da PEA no grupo j na unidades
espacial será menor do que ao nível
da região metropolitana. Um IC de
IC·i= PER) 0,50, por exemplo, significa que a
J PJ1;RT- proporção da PEAno grupo de ren-
·' dimento é metade daquela da re-
onde, gião metropolitana. Encontram-se
estes índices na tabela I. 4 (ane-·
IC\ índice de concentra- xo I).
ção para o grupo de Os mapas la, h e lc delineiam
rendimento j na uni- o padrão de distribuição espacial
dade de análise espa- destes índices para três grupos de
cial i; rendimento: mais de 0,5 a 1,1 sa-

593
lário m1mmo, mais de 1,6 a 2,7 de trabalho e a opção de morarem
salários mínimos e mais de 8,0 a muitas pessoas em pouco espaço.
10,7 salários mínimos. A PEA no Em geral, encontra-se a PEA de
primeiro grupo mapeado está al- rendimento alto (mais de 2,7 salá-
tamente concentrada na periferia rios mínimos) muito mais concen-
distante. O grupo de 1,6 a 2,7 salá- trada espacialmente do que a que
rios mínimos está mais concentra- apresenta menos de 2,7 salários mí-
do na periferia imediata, enquanto nimos.
o grupo de 8,0 a 10,7 está localiza-
do, em sua maior parte, no núcleo
da região metropolitana. 3 - A PROPORÇÃO DA
A tabela 2 (a, b, c) apresenta a POPULAÇÃO
distribuição da população econo- ECONOMICAMENTE
micamente ativa, segundo as cinco ATIVA SEGUNDO
zonas definidas anteriormente e
cinco grupos de rendimento men- GRUPOS DE
sal. Os primeiros três grupos de RENDIMENTO E
rendimento mais o grupo sem ren- DISTANCIA EM
dimento foram reunidos, uma vez RELAÇÃO AO CENTRO
que suas distribuições espaciais se
mostram muito semelhantes (ver
tabela 1). Da grande percentagem Uma outra maneira de se inves-
da PEA concentrada no grupo de tigar esta mesma distribuição seria
até 2,7 salários mínimos (1,8 mi- através da análise da proporção da
lhões ou 77,4% da PEA) 83,4% PEA em um determinado grupo de
estão localizados fora do núcleo. rendimento como uma função da
Por outro lado, somente 2,9% distância em relação ao centro da
(65.377) da PEA na região metro- cidade. Esta análise foi feita utili-
politana ganhavam mais do que zando-se esta proporção como va-
10,7 salários mínimos em 1970,
riável dependente e a distância em
mas 74,3% da PEA neste grupo de relação ao centro, como variável in-
dependente. A distância foi medida
maior rendimento moravam no entre os centróides de cada unida-
núcleo. Convém aqui relembrar de espacial. A tabela 3 apresenta
que o conceito de renda do censo os resultados destas regressões. Na
é muito pouco abrangente (ver medida em que a forma log-log foi
seção 1. 0). utilizada, a inclinação da curva po-
Em resumo, a tabela 2 demons- de ser vista como uma elasticida-
tra que, embora exista um grau de da variável dependente com re-
relativamente alto de segregação lação à independente, ou seja, a
residencial segundo grupos de ren- mudança relativa da variável de-
dimento, ela está muito longe de pendente em relação à da variável
ser completa. Existem concentra- independente. Por exemplo, a in-
ções bastante altas de pessoas de clinação da curva ajustada entre
baixo rendimento no núcleo - a proporção da PEA no grupo de
0,5 a 1,1 salário mínimo e a dis-
60,0% da PEA nesta zona ganha- tância em relação ao centro cor-
vam até 2,7 salários mínimos - responde a 0,20, ou seja, pode ser
principalmente devido às razões interpretada como uma elasticida-
mencionadas anteriormente: a de e, neste caso, um aumento de
existência de oportunidade no sub- 10% na distância em relação ao
mercado habitacional de baixo ren- centro estaria associado a um au-
dimento (favelas, casas de cô- mento da proporção da PEA neste
modo, etc), o número de trabalha- grupo de 2,0 por cento. No mes-
dores que mora mno próprio local mo sentido, a inclinação da curva

594
TABELA 2a
População economicamente ativa segundo grupos de rendimento em
salários mínimos de 1970 e zonas
1970
GRUPOS DE RENDIMENTO EM SALÁRIOS MÍNIMOS DE 1970

Sem
ZONAS Rendimento
Mais de 9 Mais de 9 Mais de 10 Mais de
Total e com
2,7 a 5,3 5,3 a 8,0 8,0 a 10.7 10,7
Rendimento
até 2,7
TOTAL ..............•..... ·············· 2 273 892 1 760 244 313 229 85 981 49 061 65 377
Núcleo ............... ·············· 486 592 292 100 81 995 36 050 27 881 48 566
Zona de Transição ................... 532 630 394 325 89 080 24 788 12 827 11 610
Periferia Imediata .................... 524 188 418 763 80 827 16 487 5 323 2 879
Periferia Intermediária .......... 592 891 528 248 53 925 7 125 2 193 1 400
Periferia Distante ............ 137 591 126 808 7 402 1 531 928 922
FO~TE: 'ler !abela 1.1 no anexo I.

TABELA 2b
Percentagem vertical da população economicamente ativa segundo
grupos de rendimento em salários mínimos e zonas sociais
1970
GRUPOS DE RENDIMENTO EM SALÁRIOS MÍNIMOS DE 1970

Sem
ZONAS
Rendimento
Mais de Mais de Mais de Mais de
Total e com
2,7 a 5,3 5,3 a 8,0 8,0 a 10,7 10,7
Rendimento
I
até 2,7 I
--
TOTAL .................................. . 100,0 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Nrlcleo ........................... . 21,4 16,6 26,2 41,9 56,8 74,3
Zona de Transição .................. . 23,4 22,4 28,4 28,8 26,1 17,8
Periferia Imediata ................... . 23,0 23,8 25,8 19,2 10,7 4,4
Periferia Intermediária ....... . 26,1 30,0 17,2 8,3 4,5 2,1
Periferia Distante ..... 6,1 7,2 2,4 1,8 1,9 1.4
FOIJTE. Ver rabola 1.1 no anexo I.

TABELA 2c
Percentagem horizontal da população economicamente ativa segundo
grupos de rendimento em salários mínimos e zonas socíais
1970
GRUPOS DE RENDIMENTO EM SALÁRIOS MÍNIMOS DE 1970

Sem I
ZONAS
Rendimento
Mais de Mais de Mais de Mais de
Total e com 2,7 a 5,3 5,3 a 8,0 8,0 a 10,7 10,7
Rendimento
até 2,7
TOTAL. ........... ···········. 100,00 77,4 13,8 3,8 2,1 2,9
Núcleo ..... ························ 100,00 60,0 16,9 7,4 5,7 10,0
Zona de Transição ............. ..... 100,00 74,0 16,7 4,7 2,4 2,2
Periferia Imediata ...... ············· 100,00 79,9 15,4 3,1 1,O 0,5
Periferia Intermediária ..... 100,00 89,1 9,1 1,2 0,4 0,2
Perifeira Distante ..... 100,00 92,1 5,4 1,1 0,7 0,7
fONTE: Ver rahela 1.1 no anexo!.

595
TABELA 3 te sentido, um outro tipo de função
poderia ter sido utilizado. Os sinais
A proporção da população econo- são os esperados: positivos para os
micamente ativa em cada grupo de grupos situados abaixo de 2,7 salá-
rendimento como a variável depen- rios mínimos e negativos para os si-
dente e distância ao centro com a tuados acima.
variável independente

DISTÂNCIA EM RELACÃO AO 4 - CONSIDERAÇÕES


CENTRO (VARIÁVEL INDÉPENDENTE)
(1) FINAIS
VARIÁVEL DEPENDErJTE

Os dados comprovam um alto


grau de segregação residencial da
PROPORÇÃ.O DA PEA SEGU~JDO
PEA, segundo grupos de rendimen-
GRUPOS DE RENDIMENTO to, porém muito longe de ser com-
EM SALÁRIOS Mi~IIMOS
(SM) pleta. Assim sendo, apóiam, até
Sem rendimento .. -2.28 D,39 0,50 5,70 certo ponto, a hipótese da existên-
A•é 0,5 salários mínimos -1,30 0,26 0,41 4,73 cia de uma estrutura espacial
Mais de 0,5 a 1,1 salá- núcleo-prefeitura na Região Me-
rios mínimos .. --0.75 0.20 0.47 5,28 tropolitana do Rio de Janeiro. Mas
Mais de 1.1 a 1,6 salá- talvez seja mais interessante pas-
rios mínimos ..
Mais de 1.6 a 2.7 salá- sar a pensar em termos de um sis-
rios mínimos ... -0.61 (2)-0,12 0,13 2.18 tema de núcleos e periferias, uma
Mais de 2.7 a 5.3 salá- vez que a estrutura interna da ci-
rios mínimos .. -0,49 (2)-0.39 0.45 5,08
Mais de 5.3 a 8,0 salá- dade parece muito mais variada do
rios mínimos. . .. -0,86 (2)-0.65 0.44 5,02 que poderia ser explicada por uma
Mais de 8,0 a 10.7 salá-
rios mínimos ... -1.09 (2)-0.75 0.43 4.92
simples estrutura núcleo-periferia.
Mais de 10,7 s;!ários Nota-se, por exemplo, tanto den-
mínimos ... -1.03 (2)-0,91 n.37 4.33 tro da periferia como do núcleo
uma variação enorme na segrega-
FONTE: Ver tahela I :1 do anexo 1. ção residencial, inclusive dentro do
(1) Análise feita utilizando-se a regressão simples com a função mesmo bairro.
na forma log-log.
(2) Não estatisticamente signific•,tivo. Pesquisas futuras sobre segrega-
(3) Significativamente diferente de zero ao ní·.el de 0,05; utilizan- ção devem tomar a família como
do-se um teste de t bilateral.
unidade de análise e o rendimento
familiar total e per capita como as
ajustada à proporção da PEA no variáveis principais, uma vez que a
grupo de até 0,5 salário mínimo, decisão residencial é tomada a ní-
correspondente a 0,26, significa que vel familiar . Seria particularmen-
esta proporção sobe 2,6% com cada te interessante avaliar mudanças
aumento de 10% na distância em na segregação residencial segundo
relação ao centro. grupos de rendimento entre 1970/
Com exceção dos dois grupos de 80, quando os dados do Censo de
renda situados entre 1,1 e 2,7 salá- 1980 estiverem prontos. Análises
rios mínimos, os R quadrados das dos fatores que geram a segregação
equações são altos, assim como a residencial e de seu impacto sobre
própria significância dos coeficien-
tes . Os resultados para estes dois a distribuição das condições de vi-
grupos não foram bons, porque se da dentro da cidade também se-
encontram maiores concentrações riam de grande relevância, espe-
destes dois grupos na periferia in- cialmente com respeito ao papel
termediária (ver mapa 1b), e, nes- do Estado neste processo.

596
TABELA I.l

População economicamente ativa (PEA) por grupos de rendimento


mensal, segundo município ou região administrativa (RA) e zonas
RMRJ- 1970

GRUPOS DE RENDIMENTO MENSAL EM SALÁRiOS MÍNIMOS MENSAIS (Cr$) (1)


ZONAS E MUNICIPIOS TOTAL
ou RA's Sem
1 I I
At' 0 5 Mais de Mais de Ma:s de Mais de Mais de MS'J de
e • 0,5 a 1,1 1,1 a 1,6 1,6 a 2,7 2.7 a 5,3 5,3 a 8,0
I
·}
I I I Mais
10,7
de I ren-
10 di menta

Total da RMRJ 2 273 892 223 538 685 796 377 650 439 978 313 229 85 981 49 061 65 377 33 282

Nuc!eo. 485 592 43 792 723 974 5J 076 70 784 87 995 35 050 27 887 43 5ô8 3 594

RA's de:
30 21 o 1 308 5 951 5 007 7 507 6 840 1 797 838 574 388
122 418 1o 002 30 722 13 247 18 193 21 771 9 325 6 872 11 979 807
78 595 10. 038 17 164 7 685 11 871 13 278 6 034 4 871 6 815 929
62 103 7 645 1o 729 6 679 11 974 12 961 5 334 3 174 3 163 444
115 253 8 923 30 982 8 989 12 970 18 721 9 667 8 307 16 298 398
78 013 5 876 28 368 8 409 8 269 8 424 3 893 3 909 1o 237 628

Zona de T1ansição .. 532 fJO 53 772 730 802 88 782 774 887 89 080 24 788 72 827 77 fiO F 748

RA's de:
Santa Teresa .. 27 673 2 211 6 922 4 515 5 425 5 092 1 486 787 970 265
Rio Comprido 36 444 2 898 9 472 6 512 7 684 5 988 1 668 968 879 375
Portuária. 18 820 1 199 5 974 4 531 4 315 2 213 245 91 50 202
São Cristóvãu 33 447 2 752 9 827 6 202 7 169 5 179 1 099 527 309 383
Méier. 123 031 1o 170 3 088 21 906 28 460 21 631 4 956 2 043 1 271 713
Engenho Novo 68 885 7277 13 640 9 699 14 884 14 046 4 407 2 380 1 781 771
Ramos .. 76 500 6 231 21 445 14 273 17 085 12 242 2 792 1 039 654 739
Ilha do Governador 35 513 4 138 8 103 5 471 7 118 5 716 2 ~ 92 1 157 1 205 413
Municipio de Niterói 112 317 16 836 24 538 15 673 22 741 16 973 5 943 3 835 4 491 287

Periferia Imediata 524 788 42 2f5 741 344 99 5fl 727 498 80 827 lf 487 5 232 2 879 8 008

RA's de:
Penha 90 561 7 367 25 603 17 132 20 617 14 41 o 2 903 893 441 155
Madure ira 82 474 6 035 19 000 15 083 20 585 15 511 3 668 1 076 590 ee:
IraJá 72 686 5 125 18 000 13 682 17 663 13 324 2 498 851 390 1 107
Jacarepaguá 70 461 6 652 22 241 12 573 14 215 9 623 2 284 982 815 112
Anchieta 68 090 5 197 19 130 13 890 16 91 o 9 307 1 804 408 146 1 236
Bangu 104 592 9 132 31 800 20 584 23 208 13 755 2 666 871 412 2 112
Município de NilópoliS .. 35 324 2 757 11 31 o 6 743 8 300 4 879 664 151 85 417

Periferia !mermediária . . 592 897 59 345 :!20 525 779 743 77 7 270 53 925 7 725 2 793 7 400 77 9'5
RA's de:
Campo Grande 61 438 6 714 20 166 11 781 12 965 6 619 029 329 247 1 588
Santa Cruz .. 24 251 3 320 844 4 298 4 270 2 436 437 139 114 794
Municipios de São Gon-
ça!o. 113 644 1o 670 38 788 23 806 24 756 1o 790 1 373 480 222 2 758
Duque de Cax10s 120 730 11 408 47 175 23 937 23 360 11 201 1 250 394 229 1 776
Nova Iguaçu. 191 375 20 709 75 566 37 057 34 806 15 975 2 390 683 460 3 729
São João de Meflt: 81 453 6 524 30 386 18 264 17 113 6 904 646 168 128 1 320

Periferia Distante ... 737 597 24 424 CJ 2/4 20 058 75 545 7 402 7 537 928 922 3 5'7

Municipios de·
Petrópolis ...... 63 017 9 805 27 860 9 355 7 712 4 590 1 142 701 790 053
Maricá. 6 648 2 006 2 882 717 567 226 39 13 8 190
ltaborai 17 800 3777 9 451 1 893 1 382 437 83 35 23 719
Majé. 29 657 4 836 13 955 4 980 3 562 1 191 105 65 46 917
Paracambi 6 006 872 3 087 904 713 252 15 18 16 129
ltaguaí .. 14 463 3 128 5 970 2 209 1 609 706 147 96 39 559

FONTE: Calculados com os dados de Tabulações Especiais da Pesquisa SERFHAU, BNH, OIT sobre Migrações Internas.
(1) Exclllsive o grupo com renda não declarada, a RA de Paquetá e o Município de Mangaratiba.

597
TABELA !.2

Percentagem vertical da população economicamente ativa total em


cada grupo de rendimento mensal, segundo municípios ou
região administrativa da RMRJ -1970

GRUPOS DE RENDIMENTO MENSAL EM SALÁRIOS MÍNIMOS MENSAIS (%)


REGIÃO ADMINISTRATIVA OU MUNICÍPIO TOTAL

TOTAL .... 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100.00 100,00 100,00 100,00

Núcleo .. 21,4 19,6 18,1 13,3 16,1 26,2 41,9 56,8 74,3 10,8
RA's de: Centro .. 1,3 0,6 0.9 1,3 1,7 2,2 2,1 1.7 0,9 1,2
Botafogo. 5,4 4,5 4,5 3,5 4,1 7,0 10.9 14,0 17,6 2,4
Trjuca. l5 t5 ~5 ~o ~7 4.2 7,0 9,7 10,4 2,8
Vila Isabel 2,7 3,4 1,6 1,8 2,7 4,1 6,2 6,5 4,8 1,3
Copacabana 5,1 4,0 4,5 2,4 3,0 6,0 11,2 16,9 24,9 1,2
Lagoa. 3,4 2,6 4,1 2,3 1,9 2.7 4,5 8,0 15,7 1,9

Zona de TtaiJsição .. 23,4 24,0 19,1 23,5 26,1 28,4 28,8 26,1 7,8 8,5

RA's de: Santa Tereza ... 1,2 1,0 1.0 1,2 1,2 1,6 1,7 1,6 1,5 0,8
Rio Comprido 1,6 1,3 1,4 1,7 1,7 1,9 1,9 2,0 1,3 1.1
Portuária .. 0,8 0,5 0,9 1,2 1 ,O 0,7 0,3 0,2 0,1 0,6
São Cristóvão .. 1,5 1,2 1,4 1,6 1.6 1,7 1,3 1,1 0,5 1.2
Méier. 5,4 4,6 4,5 5,8 6,5 6,9 5,8 4,1 1,9 5,2
Engenho Novo .. 3,0 3,3 2,0 2,6 3,4 4,5 5,1 4,8 2,7 2,3
Ramos ... 3,4 2,8 3,1 3,8 3,9 3,9 3,3 2,1 1,0 2,2
Ilha do Governador .. 1,6 1,8 1,2 1,4 1,6 1,8 2,5 2.1 1.9 1,2
Município de Niterói. 4,9 7,5 3,6 4,2 5,2 5,4 6,9 7,8 6,9 3,9

Perderia Imediata. 23,1 18,9 21,5 26,4 27,6 25,8 19,2 10,7 4,4 24,1

RA's de: Penha 4,0 3,3 3,8 4,5 4,7 4,6 3,4 1.8 0,7 3,5
Madureira ... 3,6 2,7 2,8 4o 4,7 4,9 4.3 2,2 0,9 2,6
Irajá. 3,2 2,3 2,6 3,6 4,0 4,2 2,9 1.8 0,6 3,3
Jacarepaguá .. 3,1 3,0 3,2 3,3 3,2 3,1 2,6 2.0 3.1 3,3
Anchieta 3,0 2,3 2,8 3,7 3,8 3,0 2,1 0,8 0,2 3,7
Bangu 4,6 4,1 4,6 5,5 5,3 4,4 3,1 1,8 0,6 6.4
Município de Nilópolis .. 1,6 1,2 1,7 1,8 1,9 1,6 0,8 0,3 O, 1 1,3

Periferia Intermediária .. 26,1 26,6 32,1 31.5 26,7 17,2 8,3 4,5 2,1 35,9

RA's de: Campo Grande ..... 2,7 3, o 2, 9 3,1 3, o 2,1 1,2 0,7 0,4 4,7
Santa Cruz. 1.1 1,5 1,2 1,1 1,O 0,8 0,5 0,3 0.2 2,4
Municípios de: São Gonçalo .. 5,0 4,8 5,7 6,3 5,6 3,4 1,6 1.0 0,3 8,3
Duque de Caxias. 5,3 5,1 6,9 6,3 5,3 3,6 1,5 0,8 0,3 5,3
Nova Iguaçu .. 8,4 9,3 11,0 9,8 7,9 5.1 2.8 1.4 0,7 11,2
São João de Meriti. 3.6 2,9 4,4 4,9 3,9 2,2 0,7 0,.1 0,2 4,0

Perderia Disiante .... 6,0 10,9 9,1 5.3 3,5 2.4 1,8 1,9 1.4 10,7

Municípios de· Petrópolis. 2.8 4,4 4,1 2,5 1,7 1,5 1,3 1.4 1,2 3,1
Maricá 0,3 0,9 0,4 0,2 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,6
ltaboraí. 0,8 1,7 1,4 0,5 0,3 0,1 0,1 0,2 0,0 2,2
Majé ..... 1,3 2,1 2.0 1,3 0,8 0,4 0,1 0,1 0,1 2,7
Paracambi 0,2 0,4 0.4 0,2 0,2 0,1 0,0 0,1 0,0 0,4
ltaguaí .... 0,6 1,4 0,9 0,6 0,4 0,2 0,2 0,2 0,1 1,7

FONTE: Calculados com os dados de Tabulações Especiais da Pesquisa SERFHAU, BNH, QIT sobre Migrações Internas.
(1) Exclusive o grupo com renda não declarada, a RA de Paquetá e o Município de Mangaratiba.

598
TABELA I.3

Percentagem horizontal da população economicamente ativa, por grupos


de rendimento mensal, segundo municípios ou .região administrativa da
RMRJ- 1970

i GRUPOS DE RENDIMENTO MENSAL EM SALÁRios_:_ MÍNIMOS MENSAIS (%)

ZONA E REGIÃO ADMINISTRATIVA TOTAL


ou MUNICÍPIO
At(0,5
Mais
de 0,5
Mais
de 1,1
Mais
de 1,6
Mais
de 2,7
Mais
de 5,3
I deMais8,0 Mais
Sem
rendi-
a 1,1 a 1,6 a 2,7 a 5,3 a 8,0 a 10,7 de 10,7 mentos
ti!

TOTAL. 100,00 9,8 30,1 16,6 19,3 13,8 3,8 2,2 2,9 1,5

Núcleo. 100.00 9,0 25,5 10,3 14,5 16,9 7.4 5,7 10,0 0,7
RA's de: Centro. 100,00 4,3 19.7 16,6 24,8 22,6 T. 6,0 2.8 1,9 1,3
Botafogo. 100,00 8,2 25.1 10,8 14,8 17.8 7,6 5,6 9,4 0,7
Tijuca. 100,00 12,7 21,8 9,8 15,1 16.9 7,7 6,1 8,7 1.2
Vila Isabel 100,00 12,3 17,3 10,7 19.3 20,9 8.6 5,1 5,1 0,7
Copacabana 100.00 7,7 26.9 7,8 11,3 16,2 8.4 7.2 14.1 0.4
Lagoa. 100,00 7,5 36.4 ~ :; 10,8 10,6 10,8 5.0 5,0 13,1 0,8

Zona de Transição .. 100,00 ~- 10,1 24,6 16,7 21,6 16,7 4.6 2.4 2.2 1,1
RA's de: Santa Tereza 100,00 8.0 25,0 16,3 19,6 18.4 5.4 2,8 3.5 1,0
Rio Comprido ... 100.00 7,9 26,0 17,9 21,1 16.4 4.6 2.7 2.4 1,0
Portuária. 100,00 6,4 31.7 24.1 22.9 11.7 1,3 0,5 0,3 1,1
São Cristóvão 100.00 8,2 29,4 18.5 21.4 15.5 3.3 1,6 0.9 1.2
Méier ....... 100.00 8,3 25,1 17,8 23,1 17,6 4,0 1.7 1,0 1.4
Engenho Novo. 100,00 10,5 19.8 14.1 21,6 20.4 6.4 3,5 2.6 1.1
Ramos .. 100,00 8.2 28,0 18,7 22,3 16,0 3,6 1.4 0,8 1,0
Ilha do Governador. 100,00 11.6 22.8 15.4 20,0 16,1 6.2 3.3 3,4 1,2
Município de Niterói .. 100,00 15,0 21.9 13,9 20,3 15,1 5,3 3,4 4,0 1,1

Periferia Imediata . ..... 100,00 8,1 28,1 19,0 23.2 15.4 3.2 1,0 0,5 1,5
RA's de: Penha. 100,00 8,1 28,3 18.9 22.8 15.9 3.2 1.0 0,5 1.3
Madureira .. 100.00 7,3 23,1 18,3 25.0 18,8 4.5 1,3 0,7 1.0
Irajá .. 100,00 7,1 24.8 18,8 24.3 18,3 3,5 1,2 0,5 1,5
Jacarepaguá. 100,00 9.4 31.5 17.8 20,2 13,7 3.2 1.4 1,2 1,6
Anchieta ..... 100,00 7,6 28,2 20,4 24,8 13,7 2.7 0,6 0,2 1,8
Bangu ........ 100,00 8,7 30,5 19,7 22.2 13.2 2,5 0,8 0.4 2.0
Município de Nilópolis .. 100,00 7,8 32,0 19.1 23,5 13,9 1,9 0.4 0,2 1.2

Periferia Intermediária ... 100,00 10,0 37,2 20.1 19,8 9,1 1,2 0.4 0,2 2,0
RA's de: Campo Grande .... 100,00 10,9 32,8 19.2 21,1 10,8 1,7 0,5 0.4 2.6
Santa Cruz.. .... 100,00 13.7 34.8 17,7 17,6 10,0 1,8 0.6 0,5 3,3
Município de: São Gonçalo .. 100,00 9.4 34.1 21,0 21,8 9,5 1,2 0,4 0,2 2.4
Duque de Caxias ..... 100,00 9,5 39,1 19,8 19,3 9,3 1,0 0,3 0,2 1.5
Nova Iguaçu .... 100,00 10,8 39.5 19.1 18.2 8.4 1.2 0,4 0,2 1.9
São João de Meriti. 100,00 8,0 37,3 22,4 21,0 8,5 0,8 0,2 0,2 1,6

Periferia Distante ..... 100,00 17,7 45.8 14,6 11.3 5,4 1,1 0,7 0,7 2,6
Municípios de: Petrópolis. 100,00 15.6 44.2 14,9 12.2 7,3 1,8 1.1 1,2 1.7
Maricá ...... 100,00 30,2 43,3 10.8 8,5 3.4 0,6 0,2 0,1 2.9
ltaboraí .. 100,00 21.2 53,1 10,6 7,8 2,5 0,5 0,2 0,1 4,0
Majé... 100,00 16,3 47.1 16.8 12,0 4,0 0,3 0.2 0.2 3,1
Paracambi 100,00 14.5 51.4 15.1 11.9 4,2 0,2 0,3 0,3 2.1
ltaguaí .... 100.00 21,6 41,3 15,3 11,1 4,9 1,O 0.6 0,3 3,9

FONTE: Calculados com os dados de Tabulações Especiais da Pesquisa SERFHAU, BNH, OIT sobre Migrações Internas.
(1 )fxclusive o grupo com renda não declarada, a RA de Paquetá e o Município de Mangaratiba.

599
TABELA !.4

indice de concentração (S.kevsky-Williams-Bell) por grupo de rendimento


mensal, segundo município ou região administrativa da RMRJ - 1970

GRUPOS DE RENDIMENTO MENSAL EM SALÁRIOS MfNIMOS MENSAIS

ZONA E REGIÃO ADMINISTRATIVA OU MUNICIPIO l---,~--~~--~~--~~--~~--~~--~l--,l--


Até 0,5 d~aJ~5 d~ts1 d~~i~6 d~a1~7 d~~~3 d~~~o d Mf~ r~~~-
a 1,1 a 1,6 a 2,7 a 5,3 a 8,0 7
a 10.7 ' • mentos

TOTAL ... 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Núcleo

RA's de: Centro .. 0,44 0,65 1,00 1,28 1,64 1,57 1,29 0,66 0,88
Botafogo ..... . 0,83 0,83 0,65 0,77 1,29 2,01 2,60 3,26 0,45
Tijuca ...... . 1,30 0.72 0,59 0,78 1,23 2,03 2,82 3,02 0,81
Vila Isabel ... . 1,25 0,57 0,65 1,00 1,51 2,27 2,37 1,77 0.49
Copacabana ..... . 0.79 0,89 0,47 0,58 1,18 2,22 3,34 4,92 0,24
Lagoa ............. . 0.76 1,21 0,65 0,55 0.78 1,32 2,32 4,56 0,55

Zona de Ttansição

RA's de: Santa Tereza 0,81 0,83 0,98 1,01 1,34 1,42 1,32 1,22 0,65
Rio Comprido .. 0,81 0,86 1,08 1,09 1,19 1,21 1,32 0,84 0,70
Portuária ........ . 0,65 1,05 1.45 1,18 0,85 0,34 0,22 0,09 0,73
São Cristóvão ... . 0.84 0,97 1,12 1,11 1,12 0,87 0,73 0,32 0,78
Méier ....... 0,84 0,83 1,07 1,20 1,28 1,06 0,77 0,35 0,95
Engenho Novo .. .. 1,07 0,66 0,85 1,12 1,48 1,69 1,60 0,90 0.76
Ramos ............. . 0,83 0,93 1,12 1,15 1,16 0,96 0,63 0,30 0,66
Ilha do Governador .. 1.18 0,76 0,93 1,04 1,17 1,63 1,51 1,18 0.79
Município de Niterói .... 1,52 0,72 0,84 1,05 1,10 1,40 1,58 1.39 0,78

Petifetia Imediata

AA's de: Penha .... 0,83 0,94 1,14 1,18 1,15 0,85 0,46 0,17 0,87
Madureira .. 0,74 0,77 1,10 1,29 1,36 1,18 0,60 0,25 0,72
Irajá ........ . 0,72 0,82 1,13 1,26 1,33 0,91 0,54 0,19 1,04
Jacarepaguá .. 0,96 1,05 1,07 1,04 0,99 0,86 0,65 0,40 1,08
Anchieta ....... . 0.78 0,93 1,23 1,28 0,99 0,70 0,28 0,07 1,24
Bangu ........ .. 0,89 1,01 1,18 1,15 0,95 0,67 0,39 0,14 1,38
Município de Nilópolis .... 0.79 1,06 1,15 1,21 1,01 0,50 0,20 0,08 0,81

Petifetia lntetmediátia

RA's de: Campo Grande .. .. 1,11 1,09 1,15 1,09 0,78 0,44 0,25 0,14 1,77
Santa Cruz ........... .. 1,39 1,15 1,07 0,91 0,73 0,48 0,27 0,16 2,24
Município de São Gonçalo .. . 0,95 1,13 1,26 1,13 0,69 0,32 0,20 0,07 1,66
Duque de Caxias .... . 0,96 1,30 1,19 1,00 0,67 0,27 0,15 0,07 1,00
Nova Iguaçu .......... . 1,20 1,31 1,17 0,94 0,61 0,33 0,16 0,08 1,33
São João de Meriti. 0,81 1,24 1,35 1,09 0,61 0,21 0,10 0,05 1,11

Petifetia Distante

Municípios de: Petrópolis .... 1,58 1,47 0,89 0,63 0,53 0,48 0,52 0,44 1,14
Maricá...... .. ................. . 3,07 1,44 0,65 0,44 0,25 0,15 0,09 0,04 1,95
ltaboraí ... . 2,16 1,76 0,64 0,40 0,18 0,12 0,09 0,04 2.76
Majé ....... .. 1,66 1,56 1,01 0,62 0,29 0,09 O, 10 0,05 2.11
Paracambi .. 1,48 1,70 0,91 0,61 0,30 0,07 0,14 0,09 1,47
ltagual .. 2,20 1,37 0,92 0,57 0,35 0,27 0,31 0,09 2,64

FONTE: Calculados com os dados de Tabulações Especiais da Pesquisa SERFHAU, BNH, OIT sobre Migrações Internas.
(1) Exclusiva o grupo com renda não declarada, a RA de Paquetâ e o Municlpio de Mangaratiba,

600
Mapa l.a
~A~AQQQI:IA

fiAFI9FI~FIFiiHfiB 111
• • • .1. • •• +••+2++++ Jr1'1QJI"'OQO Sêelt!4€188fl 11051111 flfiAfU~lAfiCIBAAfiAI
"11NI'4J'4 0.57 O.fll lo05 l.ZQ lo">2 BAAAfoR8f!QQ~J:II:tRP
MAXI"4J"' 0.~1 lo05 loZQ 1.52 t.-.1:1 ~~:~qq~QQ4:1AAQQ
fOEl!EIBaBBRAB'tB~
8f'I~II3'18A'3~'J'I
AP~aEIEIAePAA
A'1~88ABA'=t8
FIA9AAfHiAel:l
~AABf!qqq
88e889HIAAfiA
A~SIM881138fHtA!õõl
~~~9EI8~8AA
"*!9Af:U~~BAR888fl8't8A't'l
8Fifo~AFI'*'A9FIFI~AH3fõi8R
A~8~8Af*!BA8EIR~B'IA88AA
8ft8eB8Mf'l~~foe@AP.8AEIBRA
~~~8~'188'18ABA 1111
Q~@'ISA~AA~AAAAAA'IAIIRIII
~BBPE 1' R.:JPOLI SBABBBIRIRIII
R 8888M8BSA8'J48~AA88Aftlft . . . l l l
11 RA~e&*!~fit8~8S~Bfi'*IB8ABAIGIIII._II
111 118 eB€1FI8888AAA@688988fl889f*lfl8811111111ftllll
11 11111 111898EI888888~f-efoB88el88eEOe6@BA8f.IBAIIIIUIIIIIIIII
••siUUII ••••eeeeeeeeeeeeeeeee~eeeeAea9EieRIIIIIftllllllll
P M ACAJIIIBIII IIR-.eBB8888888~898BMB~988R98~9ftiiiUIIIIIIIIIIII
IIH_I_I_I IIM.Sffi='SM98~R~B~M9988~FIRIIHMAGER_.._..IIIII
1--20 K"'--1 IIM-IIIIIIHIIIIII89688988B888fHMfifet1Hf~BOOOfl898811111ft5 . . . . . .1 . _ . f t l l l l f t
--llii.IIIIIIM898&eeeP889Beee8t3~Q000000008888 8Eiftllrii1Wiiiiiift. . . . . .
U 8 n l l. .l811ie98~888BBBB88988BB88eBB0000+++++0001=1 BBBIIIIIIIIIMIIIIIIIII
l i i. . .IIU-IU8e88888NOYA tGUACUOBflBCAXtASOE++ 888981111111111511111UIII
988BBBIIIHIII88889988B~BSBABABOOOC1 BAAf;00!10 89A8981111111111111111111U
Eo€19888eflE!i!El868~80ClnOJnoooo4Cl0(100'1r ooeeno 0Cl00998EI8IIIIII1 T A8f}q A 11111•
~6R~et"80fl0QOOnOQOOOOOOC DO~ FR 1 TI E na nnn(lQf'\OIJAABIIIIUIIIIIIIftll-1
9EIB~IóJ~e8€1Bef!B€100UOOI1000000000DOOOOfJ3GOOOOI1 +.1.. 11SAIJ GI1NCALflHiilillllllftH.I
A~E6qfle86989f!BOOOOOOOOOOO::JDON ILOPOLI S+++++L++ +. • • • 'lfl10000000()~911111HIIIIIIIIWI
BEIEt@€1at3 I T AGUA JP(IClCOOOQOOIJCl0·1++++++++++ + +++2 +++ ++ i ii +++ IJOI10rJOOnnfiÇfR8ftiHIIIIHI. .I I
~ eee&~e~@@eeeeflrrnoGonooono'J ++ ++•2 + +++ ++ •••• +++ + 2+ ++ i i +++++++++ OOOMReAqqAB489RAAABR99&
GJGlii âiiál~i etaBAA8888~A4888QI'J:X·OI"JOf}r)r")Q')Q•10+ +++ ++++++++lo • •• 2 • o. ++++ ••• +++++++++C'009BEt898B8Be-88899119e
jGJi~o\~GARA TI ~Aéilâl Qfi~QHPAPQr'f]f'Q(lft!JCOf10flOOOnO!J +++++++++++ •••• 1 •• ••. 2++31+ o • 1~1 TFRI11++110088"J@988MARI CA89e4tt&lil
., Gl<iiiiliiliiiôiielii6ii.t Ál<i 899800000C1'JQuOf10000000JOO++ ++++•++++. • •• • .1 • • +Z + ++ • •. • • • • • + ++00088fMMHHt84888989A9Mtlill
,j•al<íliiài.iiiálial i fJOOJfV"JI1'100QOOrJ3 {)1")0000fJ+++fJ++ 2++ + •••••• 1. +ZZ++ • o •••• o ••• ++O'J89898"88&8999889fi98Bit
~ ... Gãlitiii álál 0Q(1C'tJOOOOUOORIQ DE JANEtPnf"J++++oo•••+++++l+ ••••••++r)Oq~AqA

~.....
~~~·~áliiáli
........ .,.
iili nooaoooooaonooooorl1nCIJDDI"J+ ..... ++++ ..... amo+
ooaonoorJoon'Joo1oonoon+ + +++ +++

...jjj. onnnnrtClOO'li""Jn1
~~ 000:1{)0
iili<iiili iiiGJi
i ••••••• ÍIIi
••• o

Mapa l.b

...............
..................
• ••• 1 •••• ••••.z++++ noooJrC'Ioo &eee4F09fi8 1111511n
o.~o o.o;~ 0.76 o.qJ 1.11 ...................
...........................
0.58 0.76 0.91 1.11 1.2'-J
......................
....................
.................
.....................
..................
........................
................... ................
...........................................
.................................
.............................
............................... +

........ . .
.. ............ +++ ............................ .
++++++++ PE TR OPOll S+++++++++++ •••
++++++++++ ++Z + +++ ++++++++++++++. o •
I)++++ ............................................. .
+!J (1000+++++++++++++++++++++++++++++++++ ••••
++ ++•+• +++ O'JOOOIJOOOOOO ++++ + ++++++ +++++++ ++++++++ +++++. • • •
• ... .. 2 ..... ...... ... ... • ........ J 0000 110(10 0000000+ ....... + ....... ++ .... ++ ......... + ••••••••
PAR ACA"4Bl ++ ++++ +•01flfl0JI""J00000110!10(lOn+++ ++++ + ++++++++++++++++++. • •.
++++ ++++ ++++ + ++•++1::J'JOD000000009eeenf!OCCOOI"'C1++ ++++++++++MAGE++++. • • • • • • • • • •••
1--zo K~--1 •••+++++++++++++++++Of100000(11J'1000~~(10nr"l+++++++++++Z++++++ •••• •••••••• ••
+++ + + ++++ ++ ++++ •• +0000:JOOOGOOOO€!HI88988Eie8eee90Ó(10'J ++ ++ ++ ++ +++ ++ • • • • • • • • • ••••• • •
+ + ++ ++ • + ++++ +++ + 0'1000000000088e888 9888 'l88FIRA8FIBftOIJOO +
++++++++++++++f"+OOOOOOO"'OYA I GUACU388ftCA XI A SDEBR
.•..•..................
0000+++ •••••••• 1 ••••••••••
+++ ++ ++ •••• ++ + OOOOOOOOB89Bfl0Df'88ee8~f'e8@@ 000110+++ •••••••••••••••••••
++++++++++++110~99't9998&4.~8Fõfla88Beft ellt't€M111JI'l++ •••• lTA80RliJ ••••••
•• • .-+++++++++QQEI989988998ee88881111ER IT I Ee€ €fi IIIIB@@f!QOO+ • • • • • • • • • ••••• •. • • •
•••••• +++++++++OOf3eeeeeeeeeeee-•.w...eeee 98488 ISAO GONCALO. • • • •• • •• • • • •• • • •• •
• • • • ••. • ++++++++008998~ . . . 1LOPOL I S I - 5 R 9RB 89 a.5.11.a9AOIJ+. ••••• •••• •••••••
+. •• •• ol TAGUA 1++'10ClR889891111_._..__5_... i i PflfleDIEABO++ ••••• ••••••••••••••
a +++ ••••••• ++++++rnoo~HMea.._5 . . .. _ . _ 1 1 5 1 n aa 888~M8948!!90+ + ••••••••••••••••••
i i i j iicil~i ++++++•++++l++++Ofl00fJO@@@eee8ftiH81MIIKI5ilft5111MB- 888889898888800+ •••••••••••••••••
il'aliil4 ~NGARAT I JA.-a
11 àli•ii,il~iiáli•i ii.iiiiGIIÍI
++++++++++++OOOOIJO@B'*I~~I8HI88ilnR-'5fi88fl~ft5'51
+++ ++C100f100~Fifl888"'3AI386Rft811JBP~·I'~899€1EIP@48ee4€o8f
8"~~ IT FRO 1"800++ •••• •. "'AR I c•. •.....
~ EIA9EIM8988CI+++ •• •• ••• 1 •••• • • • • •• •• •
•••..lólciliilililiiiÍiili ~ ono3n~Fieeaeeae~tee~eeeAA8FRE-1?48€16eeeec-oJ .Jfit,Joo 888eElfo88P80n++ •••••••••••••••••••••
al•t.iiiii i~ COflfleB~Illll DE Jo\~Eifl'lR'"JFI~0(1QO•+++Z+ geeeee'JO++ ••••••
iill••áliliii iil Gef:H3~88988ef!BB~fo8€1fl9H'OIJ+• +.1 ••
lllll••ililll- e~~8FI~~el3~8@ftr"10++
•••cilii 8988e8P8€1A':t8fõl
iiiQiiliili ftaBA'*I
••• •
""
Mapa l.c

•'" • L • • •• H·++Z++++ Cl0003JOOO 9989lf689E' llll511a


0.09 o. 74 1.39 2.04 2.69
O.H l.Jq 2.04 2,.6'l 3.34

.:::::::PÊTP.~;Q~is:::::: ::::::: .
.........................................
............. 1 •••••••••••••••••••••

...........................................
••• 1 ••••••• ··················································
····················································
PAR ACA"'BI ••
•• •• •• •••• •• • ·······················································
• • •••••••••• • •• • • •••• ••• ••••••••••• ••••••••"~._GE • .................

.... ... .. ... .... ... ...... .. .... .... .... ...... ........ ..
1--20 K'4--l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 ••••••••••••••••••••
.. .. o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • : ... • • • • • • • • • • • • •

.............................................
•• • ••••••••••••••••••••NOVA

•••••••••••••••••••••••••• t •••••••••••••
tGUACU •••• CAXJASOE++

···························
••••••••••••••• ! ••••••••••

• •• • • •••••• • •• .1TAAI)RA.1 •••. ••


........ ••• •• • •. ••••. •• •••• ., ••• .llllfll: ITIF ••
•••••••••••••••••••••••••••••••••••• 1 •••••• : ~4; · ;;n~ê;t:;::: ::::::::::::::::
• • • • •• •• ••• ••• ••• •• ••• •••• • • NT LOP'JltS ••••• 1 •• ..1 .••••••.••••••••••••••••••••
• ••• • •• I TAGUAI ••••• •••••. •• • • ••. •• ••• •• • • • 1. •••.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • 1 . •••••..••••• • l... é~ ·································
.....................................
~.::,!~:~~~:::!~~~:~~:::: =::: ~: ::::::::::::::::::::::::::::::::~~~~~:~E;~~;
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . o ••••
f'l':l3fll( TEil:nJ++., • •., •., •., •. M.$,1l: tr:" • • • • • • •
f'1 r(lnr/"''++++++ •••••••••• t •••••••••••••
.,,olliJ.iiáóil~illôliil .. ili • • .,}.,., •••••• ••1• ••• ••• • ••• .,.,l++++'lf1Af:ll5'tf124R'- ,n,nn'l'ln'l'1++ •••••••••••••••••••••••
.. .,,._CIICII••ii iil:j ••••••••••••P:IO OE JA.~EIRJ.,++++1~~~~~8~~'ll 'l<j)) ))++ • • • • • • • •
el••ico!•..J• -~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ••••••• +++n~lõl"84'tl
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . . . . . . (1jõjtõl~

.. e.ália.âôi
..... o~ ......... .
.ii.iJ.j ••.i

BIBLIOGRAFIA
1 - ABREU, M. de Almeida e BRONSTEIN, O!ga - Políticas Públicas, Estrutura Urbana e
Distribuição de População de Baixa Renda na Area Metropolitana do Rio de Janeiro. Con-
vênio CNPU/IDRC/IBAM. 1979. (inédito).

2 -BRASILEIRO, Ana Maria, et alii - Região Metropolitana do Grande Rio: Serviços de


Interesse Comum (Rio de Janeiro: IPEA, 1976).

3 - BECKER, Olga M. S. e OLIVEIRA, Zuleika L. C. de - Proposição metodológica para


anállse dos diferenciais entre imigrantes e nativos nas áreas metropolitanas do Sudeste,
Revista Brasileira de Geografia 37 (2) 1975, p. 3-158.

4 - BEHRENS, Alfredo - A Distribuição da Renda Real no Contexto Urbano: O Caso da


Cidade do Rio de Janeiro. Tese de Mestrado, EPGE/Fundação Getúlio Vargas, Rio de
Janeiro, 1979.

5 - CASTRO, Mary G. - O Migrante na Cidade do Rio de Janeiro (Um Estudo sobre Padrões
de Distribuição Residencial da População). Tese de Mestrado. PUR/COPPE/UFRJ, 1979.

6 - COSTA, Ramonaval A. - Distribuição da Renda Pessoal no Brasil: 1970 (Rio de Janeiro:


IBGE, 1977).

7 - DEISO - Departamento de Estudos e Indicadores Sociais As Condições de Vida da


Pop,ulação de Baixa Renda na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, SUElGE/IBGE, Rio
de Janeiro, 1978.

8 - HARVEY, David - Class Structure in a Capitalist Society and the Theory of Residential
Difterentiation, em PEEL·, R. et alii (1975).

9 - LINDGREN, C. Ernesto S. - Análise de Dados em Planejamento Urbano e Regional,


Publicação Didática, COPPE/UFRJ, 1973.

602
10 - LOBATO, Roberto - Localização inicial do imigrante na cidade: O caso do Rio de Janeiro.
Revista Brasileira de Geografia, 38(3), 1976.

11 - LOBATO, Roberto - Processos espaciais e a cidade. Revista Brasileira de Geografia - 1979.

12 - Ministério do Interior - Relatório Estatístico n.' 1-A: Area Migrações Internas. MlNTER,
Representação no R!o de Janeiro, 1975.

13 - PEEL, M. et alii -- Processes in Physical and Human Geography. (London: Helnemann,


1975).

14 - PETTERLE, Roberto T. - Manual para Cálculo de indices de Dissimilaridade Utilizado


em Planejarntento Urbano. COPFE/RJ; 1976.

15 - PINTO, Dulce M. A. et alii - Ecologia da Area Metropolitana do Rio de Janeiro. DEGEO/


SUEGE/IBGE, Rio de Janeiro, 1979. Xérox.

16- SANTOS, Carlos Nelson F. e BRONSTEIN, Olga Metaurbanização: Rio de Janeiro. Revista
de Administração Municipal 25(149), (out.jdez. 1978).

17- VELHO, Gilberto - A Utopia Urbana. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

18 -- VETTER. David. M. -- Tlle Impact on the Metropolitan System of the Interpersonal and
Spatial Distribution of Real and Monetary Income: The case of Rio de Janeiro. Comparative
Urbanization series, University of Cal!fornia, 1975.

19 - VETTER, David M. - Quem Recebe os Benefícios Líquidos das Ações do Estado nas
Areas Urbanas? Trabalho Apresentado no Seminário Franco-Brasileiro promovido pela
Comissão Nacional da UGI, 1979.

20- VETTER, David M., MASSENA, R. M. R. e RODRIGUES, E. F. - Espaço Valor da Terra


e Eqüidade dos InvestimPntos em Infra-Estrutura Urbana: Uma Análise do Município do
Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia, 41 (1/2), 1979.

603
TRANSCRIÇÃO

Condições de habitação
da população de baixa
renda da Região
Metropolitana do Rio
de Janeiro*
TRANSCRIÇÃO Maria Helena Beozzo de Lima **

N o processo de formação do
complexo econômico e so-
cial em que se gerou a hoje
oficialmente constituída Região
condições de vida da população no
tocante às suas condições de habi-
tação. Esse agravamento, no en-
tanto, não atinge indiscriminada-
Metropolitana do Rio de Janeiro, a mente a todos, ele afeta sobretudo
estruturação e o dinamismo do a população de mais baixa renda,
espaço urbano têm agravado pro- como se procurará mostrar ao
blemas que afetam diretamente as longo deste trabalho.

• Esta é uma transcrição revista do capitulo 2, "Habitação". do estudo Condiç6es de Viela


da População de Baixa Rencta da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Departamento de
Estudos e Indicadores Sociais (DEISO), Superintendência de Estudos Geográficos e Sócio-econô-
micos, IBGE, Rio de Janeiro, 1977) que foi realizado por Cleber Félix, Jane Marta Pereira Souto
de Oliveira (coordenador), Maria Alice Machado de Carvalho, Maria Helena Beozzo de Lima,
Marià Júlia Natividade Cruz e Regina de Paula Santos Prado. Tal estudo busca contribuir
para o conhecimento da estratégia de subsistência dos grupos de baixa renda delineando o
quadro de suas condições materiais de existência. Na mesma linha. de preocupação foi feito
pelo DEISO um estudo da Região Metropolitana de Porto Alegre, e se encontra em fase final
o da Região Metro;:Jolitana de Recife.
•• o capitulo aqui transcrito foi elaborado inicialmente pela autora que fez também a
revisão para sua inclusão neste número da RBG, preservando, no entanto, sua forma e conteúdo
originais.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, 43(4): 605-·629, out./dez. 1981 605


Ao contrário do que acontecia no carentes de infra-estrutura, onde
início da industrialização, hoje as passa a residir a maior parte da
empresas não procuram resolver o força de trabalho necessária ao
problema do "alojamento" da sua crescimento da economia.
mão-de-obra. Naquele contexto em Tendo em vista que a especula-
que os baixos custos dos terrenos e ção vem acompanhando de perto
das construções tornava compensa- o processo de acumulação que tem
tório prover habitação para o tra- viabilizado o crescimento da econo-
balhador, como um rec:urso para mia, as condições de habitação dos
fixar e controlar sua mao-de-obra, trabalhadores (localização e quali-
era em verdade, bastante estraté- dade da moradia) passam a ser in-
gic~ e rentável a construção de teiramente determinadas pela es-
"vilas operárias", geralmente con- trutura e dinâmica dos interesses
tíguas às fábricas, cujas unidades imobiliários.
residenciais eram alugadas ou ven-
didas aos trabalhadores. Neste processo, o poder público
apenas tardiamente interferiu para
Com a intensificação do cresci- imprimir alguma ordenação na
mento industrial e o fortaleci- ocupação do solo urbano; as pri-
mento da economia urbana, a ace- meiras tentativas nesse sentido co-
leração do fluxo migratório iria meçaram aparecer num momento
permitir a formação de um ·Bxce- em que a estruturação da malha
dente de força de trabalho na ci- urbana já se encontrava bastante
dade tornando desnecessária a avaçada. Além disso, a ação do
prática da construção de habita- poder público no decorrer do pro-
ções para trabalhadores nas ime- cesso de ocupação do solo urbano
diações da fábrica, uma vez que as incidiu predominantemente sobre
empresas passavam a contar, en- os núcleos de ocupação criados pelo
tão com uma força de trabalho setor privado de tal forma que, his-
abu'ndante e barata. Além disso, o toricamente, favoreceu a dinâmica
crescimento da economia urbana de valorização/especulação do sis-
intensificou a pressão sobre a tema imobiliário-construtor.
oferta dos terreno, fabris e residen- Estas são, em linhas muito ge-
ciais, cuja alta valorização ~ngen­ rais, as características centrais do
drada nesse processo tornou mcon- processo que lançou as bases para
veniente (não lucrativa) para as as atuais condicões de habitação
empresas a construção de habita- da população de baixa renda da
ções para seus trabalhadores. Região Metropolitana do Rio de
A partir deste momento as então Janeiro que, como já dissemos, tem
chamadas "vilas operárias" tende- sido o contingente mais afetado
ram ao desaparecimento e a mora- pelo agravamento dos problem~s
dia do trabalhador passou a ser gerados no processo de ocupaçao
uma questão resolvida no âmbito do solo metropolitano.
do mercado imobiliário. Com isso, Para a análise das condições de
o custo da habitação (aquisição, habitação consideramos "popula-
aluguel, e conservação) foi total- ção de baixa renda" a parcela da
mente transferido para o próprio população economicamente ativa
trabalhador, e os custos dos equipa- que tinha em 1970 um rendimento
mentos e serviços urbanos básicos, mensal de até Cr$ 400,00 (2,1 sa-
quando estes existem, para a esfera lários mínimos da época) quando
do Estado. :É neste processo que co- tratamos dos municípios da região
meçam a surgir e crescer no qua- metropolitana; e a parcela de
dro urbano as tão conhecidas fa- famílias com rendimento mensal
velas e a hoje chamada "perife- per capita de até um salário-.IE-í-
ria": concentrações residenciais, nimo quando tratamos das regwes

606
administrativas do mumcipw-nú- Sem dúvida, o grande cresci-
cleo. Utilizamos os dados do Censo mento populacional dos municípios
de 1970, embora menos recentes do periféricos nas duas últimas déca-
que os da PNAD, porque apenas das e os níveis de rendimento men-
eles possibilitavam uma desagrega- sal da sua população economica-
ção a nível dos municípios da re- mente ativa são bons indicadores
gião metropolitana e das regiões da sua crescente importância como
administrativas do Município do local de moradia da população de
Rio de Janeiro, desagregações estas baixa renda. Em 1950 se concen-
fundamentais para análise do pro- travam no Rio de Janeiro 72,2%
blema habitacional da população
de baixa renda na Região Metro- da população da região metropoli-
politana do Rio de Janeiro. 1 tana, enquanto 27,7% se distri-
buíam pelos municípios periféricos;
Em 1970, 69,2% da população em 1970 essa proporção se alterou
economicamente ativa da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro de tal forma que a participação do
tinham um rendimento mensal de município núcleo caiu para 60,0%
até Cr$ 400,00, ou seja 2,1 salá- e a dos municípios periféricos su-
rios mínimos da época, sendo que biu para 40,0%. No total, a região
40,6% daquele total recebiam até metropolitana teve, de 1950 para
Cr$ 200,00, isto é, 1,06 salário mí- 1970, um crescimento de 115,2%;
nimo ou menos. Mais concreta- Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São
mente, são 1. 553. 846 trabalhado- João de Meriti e Nilópolis tiveram
res com rendimento mensal igual juntos, nesse período, um incre-
ou menor a 2,1 salários mínimos, mento populacional de 340,2, en-
que provêm moradia para si e suas quanto o Município do Rio de Ja-
famílias num contexto em que o neiro teve sua população acrescida
preço dos imóveis se eleva conti- de 78,8%. Quando consideramos
nuamente. Destes trabalhadores, que em 1970, 81,8% dos trabalha-
59,7% moram no Município do Rio dores daqueles quatro municípios
de Janeiro, enquanto os 40,3% res- tinham um rendimento mensal de
tantes se distribuem pelos demais
municípios da região metropoli- até 2,1 salários mínimos, sendo
tana de tal forma que 22,3% se que 48,8% recebiam por mês um
situam nos quatro municípios da salário mínimo ou menos, e que no
baixada que se encontram comple- núcleo da região metropolitana a
tamente conurbados com a metró- percentagem de trabalhadores nes-
pole e que têm sido os mais atin- tas faixas de renda era de 63,4o/c
gidos pela sua expansão: Duque de e 35,9%, respectivamente, não é
Caxias, Nova Iguaçu, São João de difícil perceber que os municípios
Meriti e Nilópolis. 2 periféricos vêm recebendo predomi-

1 Convém esclarecer que não estamos supondo nenhuma relação de identidade entre tais
dados; apenas postulamos sua validade para definir a população a que se refere este estudo.
Por considerarmos que os dados de renda familiar per capita serviam mais aos nossos propósitos
porque continham a possibilidade de deeagregação das favelas, e se aproximavam mais dos
critérios que fixam as faixas de atendimento das COHABs, a opção foi a de trabalhar com eles
para o Município do Rio de Janeiro. Para os municípios periféricos, entretanto, não dispúnhamos
destes mesmos dados, razão porque tivemos que trabalhar com esse nivel com os dados de
rendimento da população economicamente ativa.
• Os dados de rendimento da população economicamente ativa relativos aos municípios da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro que são aqui utilizados tomam como referência as
tabulações especiais do Censo de 1970 contidas em: Oliveira, Lúcia Elena Garcia, Porcaro, Rosa
Maria e Massena, Rosa Maria Ramalho - Indicadores Sociais para Areas Urbanas, IBGE, Departa-
mento de Indicadores Sociais, Rio de Janeiro, 1977.

607
nantemente um contingente popu- baixa renda se encontra principal-
lacional de baixa renda. 3 mente concentrada nas zonas Nor-
Entretanto, essa postura compa- te-suburbana e Oeste (78,4%). Na
rativa não indica, como poderia realidade, aí estão os bairros peri-
parecer à primeira vista, a suposi- féricos que emergiram em função
ção de que o núcleo da região me- do grande crescimento demográ-
tropolitana é monoliticamente ha- fico e da gigantesca valorização da
bitado por uma população de mé- terra no centro metropolitano. Eles
dia e alta renda, pois uma signifi- são, como os municípios da baixada
cativa parcela da população de anteriormente referidos, verdadei-
baixa renda da região metropoli- ros aglomerados de trabalhadores
tana do Rio de Janeiro se encontra que, pelo baixo poder aquisitivo de
fixada no município núcleo em fa- seus salários, só conseguem prover
velas, em "cabeças-de-porco" e em moradia a si próprios e a suas fa-
bairros muitas vezes tão ou mais mílias em áreas afastadas onde os
distantes e desprovidos de equipa- equipamentos e serviços urbanos
mentos urbanos quanto os municí- são deficientes quando não ausen-
pios periféricos. Assim, aqueles da- tes - ou seja, em áreas que, por
dos evidenciam apenas o surgi- sua distância e carência daqueles
mento e expansão de áreas predo- "recursos", tiveram uma valoriza-
minantemente residenciais na peri- ção relativa menor e, portanto,
feria, como resposta à crescente onde o custo monetário da habita-
tendência de exclusão da popula- ção é mais baixo. 4
ção de baixa renda que se processa Entretanto, embora bem menor,
no núcleo. não é desprezível o número de fa-
A análise da distribuição das fa- mílias de baixa renda fixadas nas
mílias residentes nas diversas re- zonas Centro-Norte e Sul. Aí se en-
giões administrativas por classes contram 21,5% das famílias com
de renda familiar per capita pode, rendimento mensal per capita de
em linhas gerais, revelar em que até um salário mínimo, população
locais se encontra fixada a popula- esta que se distribui pelos espaços
ção de baixa renda do município menos valorizados destas zonas, fi-
núcleo da Região Metropolitana do xando-se em áreas de obsolescência
Rio de Janeiro. ou então em áreas estigmatizadas,
Em 1970 51,5% do total de fa- consideradas "não habitáveis" pe-
mílias da cidade do Rio de Janeiro las classes de melhores rendimen-
tinham um rendimento mensal tos, ou ainda firmando sua mora-
per capita de até um salário míni- dia nas já conhecidas "cabeças-de-
mo (tabelas 1, 2, e derivadas). porco" e nas favelas que ainda con-
527. 427 famílias distribuídas de tal seguem existir nestas zonas mais
forma que 51,4% se encontravam próximas ao centro da metrópole,
na zona Norte-suburbana, 27,0% embora sejam fortes as pressões
na zona Oeste, 14,0% na zona Cen- para sua erradicação.
tro-Norte, 7,5% na zona Sul e 0,1% - Convém ressaltar, no entanto,
na Ilha de Paquetá (tabela 4). Tais que tais recursos encontrados pela
dados mostram que a população de população de baixa renda para
8 Acrescente-se a isso o fato de que apenas 16,5% dos trabalhadores dos quatro municípios
acima citados tinham, em 1970, um rendimento mensal entre 2,1 e 5,3 salários mínimos; que
somente 1,7% percebiam mais de 5,3 salários mínimos mensais, sendo que estes apenas 0,2%
tinham um rendimento de mais de 10,6 salários mínimos no mês.
• Deve-se ter em conta que nestas zonas encontram-se bairros onde se desenvolveram o
que se poderia chamar de subcentros com uma atividade comercial e de serviços bastante signi-
ficativa. Assim, encontram-se nelas áreas cujos terrenos são bastante valorizados e onde está
fixada uma população - embora bastante pequena relativamente - cujo nível de rendimento
extrapola o aqui considerado como baixa renda.

608
fixar-se nestas zonas se tornam QUADRO I
cada vez mais escassos: favelas
são removidas, resquícios de anti- Distribuição percentual das famí-
gos núcleos residenciais vão sendo lias residentes e não-residentes em
substituídos por edifícios que vem favelas com renda familiar per
ocupar o espaço antes ocupado capita até um salário mínimo --
pelos velhos casarões habilmete Município do Rio de Janeiro e
convertidos em habitações coleti- zonas
vas. Com isso são também cada vez 1970
menores as áreas que, por sua pro-
ximidade com a pobreza e com o FAMÍliAS COM
RENDIMENTO ATÉ UM
que se considera "seus problemas", SALÁRIO MÍNIMO
são estigmatizadas e por isso mes- ZONAS E REGIÕES AOMINISTRAT:VAS 1--...,---~--
00 RIO DE JANEIRO Não- Resi- ~
mo passíveis de ocupação por aque- Resi- dentes
Total dentes
les que não têm como morar em
em
melhor. Favelas Favelas

Infelizmente não se dispõe de MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO. 100,0 79,9 20,1


dados que nos forneçam a impor- SuL .... 100.0 67,8 32.2
tância relativa de cada uma dessas 100.0 66.7 33,3
alternativas na configuração das ~orte Suburbana 100,0 77.2 22,0
atuais condições de habitação dei- Oeste ... 100,0 95,3 4.7
xadas à população de baixa renda.
FONTE: Ta~ulação Especial do Ceneo Demográfico de 1970- OE!SO
Sabemos, no entanto, que a grande -IBGE.
maioria das famílias de baixa ren-
da estava, em 1970, residindo dis-
tante, nos diversos bairros das zo- No quadro II, a seguir, a compa-
nas Norte-suburbana e Oeste, e que ração de duas regiões administra-
apenas uma pequena parcela con- tivas polares, uma cujos terrenos
seguia ainda fixar-se nos bair~os são altamente valorizados e o custo
das zonas Sul e Centro-Oeste, esta- da habitação só está ao alcance das
belecendo, assim, sua moradia nas altas rendas (VI R A - Lagoa) ,
áreas centrais do núcleo metropo- e outra, distante e deficiente urba-
litano ou nas suas proximidades. nisticamente, cujos terrenos e ha-
Também temos nos dados dos bitações têm um custo monetário
censos a possibilidade de uma vi- menor (XVII R A- Bangu) .
são, se não completa, bastante sa-
tisfatória das favelas. Eles mos-
tram que em 1970 uma parcela QUADRO II
nada desprezível das 527.427 fa-
mílias com rendimento mensal Percentagem de famílias com ren-
per capita de até um salário-míni- dimento mensal per capita de até
mo morava nas favelas existentes um salário mínimo - Município
em quase todos os bairros do mu- do Rio de Janeiro, V'I e XVII Regi-
nicípio do Rio de Janeiro. ões Administrativas
1970
Logo ao primeiro exame da ta-
bela 3 tem-se indicações sobre o INCLUSIVE EXCLUSIVE
significado da favela como local de MUNICÍPIO E REGIÕES
ADMINISTRATIVAS
FAMÍLIAS
RESIDENTES
FAMÍLIAS
RESIOENTES
moradia para as famílias de baixa EM FAVELAS EM FAVELAS
renda. O quadro I a resume, mos-
trando que, em relação às demais MUNICÍPIO DO AIO DE JANEIRO ... 51,5 47.0
zonas, são a Centro-Norte e a Sul VI RA - Lagoa .. . 31.8 1B.3
as que apresentam maiores propor- XVII R.A. - Bangu .. . 71,7 70.7
ções de famílias de baixa renda
FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico da 1970- DEIS O
residentes em favelas. -IBGE.

609
A análise deste quadro evidencia Em verdade, o desnível entre a
o significado da favela como estra- evolução do poder aquisitivo e da
tégia para a população de baixa valorização imobiliária - incluin-
renda que a ela recorre na impos- do aí preço dos terrenos, custo da
sibilidade de acesso a outras alter- construção, preço dos aluguéis e
nativas de moradia nas áreas mais dificuldade e preços dos transpor-
próximas ao núcleo eoncentrador tes - é o fator de maior impor-
de oportunidades de trabalho e de tância no agravamento das condi-
recursos urbanos. De fato, a sua ções de habitação, e por essa via
leitura revela que o percentual de o maior determinante do sur-
famílias da VI Região Administra- gimento e expansão das fave-
tiva na faixa de renda considerada las que representam fundamen-
se altera significativamente quan- talmente uma resposta da popu-
do o calculamos excluindo as fa- lação de baixa renda à sua cres-
mílias residentes em favelas, con- cente exclusão do mercado de
firmando assim o grande peso da habitação.
favela como "abrigo" das famílias Examinando, historicamente, as
de baixa renda; e revela também relações entre a ação do poder pú-
que na XVII Região Administra- blico em termos de planejamento
tiva o percentual de famílias na
faixa de até um salário mínimo da ocupação do solo urbano e a
não se altera de maneira significa- problemática da habitação no Rio
tiva quando excluímos as famílias de Janeiro, Linda Gondim 5 refe-
faveladas, deixando bem claro que re-se até mesmo à possibilidade de
neste caso a favela não aparece ocorrência de um "impasse no pro-
como recurso de habitacão muito blema habitacional" não fossem as
utilizado pelas famílias-· de baixa favelas. Diz ela que se ao rápido
renda. A tabela 3 reforça essa crescimento da população e à
constatação ao mostrar que na forma assumida pela distribuição
VI Região Administrativa 55,3% espacial do emprego fossem acres-
das famílias de baixa renda resi- centados o baixo poder aquisitivo
dem em favelas, enquanto na dos salários, a supervalorização dos
XVII Região Administrativa ape- imóveis, a deficiência dos trans-
nas 8,5% destas famílias são fa- portes de massa, a saturação do es-
veladas. paço disponível nas áreas centrais
Sem dúvida, a favela é para tais e a omissão do poder público, o
famílias uma forma de poderem problema da habitação para as ca-
morar mais próximo ao local de madas de baixa renda chegaria a
trabalho ou em á,reas de acesso um impasse se sua solução depen-
mais fácil a ele, de garantir-se a desse dos recursos institucionais
proximidade aos serviços de educa- disponíveis. E afirma ainda que a
ção, de saúde, e também de aliviar resposta a essa situação foi dada
o seu já apertado orçamento do espontaneamente pela própria po-
pagamento dos impostos ou alu- pulação- as favelas- que passou
guel, e dos gastos com transporte a ocupar aquelas áreas existentes
que adviriam do morar em "terra nas partes centrais da cidade que
própria" mas à grande distância. permaneciam fora dos interesses
É muito significativo que 82,5% das camadas de mais alta renda, e
das famílias residentes em favelas a construir suas moradias con-
tenham um rendimento per capita forme as possibilidades do seu
mensal de até um salário mínimo. orçamento.
5 Gondim, Linda Maria Pontes - Integração Social nos Conjuntos Habitacionais da COHAB-
GB, Tese de Mestrado apresentada a COPPE/UFRJ, 1976.

610
Embora presentes desde o co- ao crescimento incessante dos qua-
meço deste século, é em torno de tro municípios da baixada: Duque
1940, em função da nova fase de de Caxias, Nova Iguaçu, Nilópolis
urbanização que então .se inicia, e São João de Meriti. 6
que a favela começa a ser um fenô- O quadro III revela a grande
meno significativo no Rio de Ja- "vitalidade" da favela, demons-
neiro. No decurso dos anos 40 é que trando que a sua população cres-
ela cresce e se impõe definitiva- ceu, no período de 1950/1970, a
mente, e é nos anos 50 que seu uma taxa consideravelmente supe-
desenvolvimento se acelera, mos- rior à taxa de crescimento da po-
trando um dinamismo comparável pulação total do município.

QUADRO III
População municipal, população residente em favelas e incrementos
relativos - Município do Rio de Janeiro
1950/1970
POPULAÇÃO

LOCWZAÇÃO DA POPULA.ÇÃO NÚMEROS ABSOLUTOS I INCREMENTOS RELATIVOS (%!


1950 1960 1970 1950;1960 1960j1970 1950t1 970

POPULAÇÃO MUNICIPAL .. 2 377 451 3 281 908 4 252 009 38,0 29,6 78,9
POPULAÇÃO fAVELAD~ ..... 169 305 335 063 565 135 97,9 68.7 233,8

fO~TE. As favelas do Distrito federal e o Recenseamento de 1950 - DEISO-IBGE.


Censo Demográfico de 1960 - favelas do Estado da Gjanahara - DE!S0-18GE
Sinopse Preliminar do Censo Demo~ráfico de 1970 - DEISO-IBGE.

O grande crescimento da popu- da população não favelada e quan-


lação residente em favela no Rio de do levamos em conta também o au-
Janeiro, entretanto, fica ainda mento do número de favelas e de
mais evidente quando o colocamos domicílios nelas estabelecidos, con-
em comparação com o crescimento forme se vê no quadro abaixo:

QUADRO IV
População residente e não-residente em favelas, número de favelas,
número de domiicílios nas favelas, incrementos absolutos e relativos
Município do Rio de Janeiro
1950/1970
POPULAÇÃO

POPULAÇÃO. fAVELAS f DOMICiLJOS Números Absolutos Incrementos Absol11tos Incrementos RElativos (%)

1950 1960 1970 1950 1960 1950 1950 11 e6o I 1950


I I 1960
I 1970
I 1970 1960 1970 1970

População não residente em favelas. 2 208 146 2 946 845 3 686 874 738 699 740 029 1 478 728 33,5 25.1 67,0
Populaçõo residente em favelas .. 169 305 335 063 565 135 165 758 230 072 395 830 97,9 68.7 233,8
Número de favelas .. 58 147 162 89 15 104 153.5 10,2 17U
Número de domicílios nas favelos. 45 235 69 690 112 439 24 455 42 749 67 204 54,1 61,3 148,6

fO~JTES: As fevelas do Distrito Federal e o recenseamento do 1958 - DEISO-IBGE.


Censo Demográfico de 1960 - Favelas do Estado da Guanabara - OEISO-IBGE.
Sinopse Preliminar do Cenco DemogrMico de 1970 - OEISO-IBGE.

o Para uma análise mais completa desse crescimento, cf. Parisse, Lucien - Favelas do
Rio de Janeiro: Evolução-Sentido, Cadernos do CENPHA, n.o 5, Rio de Janeiro, 1969.

611
No período 1950/1970, enquanto QUADRO V
a população favelada teve um cres-
cimento de 233,8%, a população População municipal, população
não residente em favelas cresceu residente em favelas e participação
67,0%. percentual da população residente
Observe-se que a expansão das em favelas sobre o total da popu-
favelas não se expressa apenas no lação municipal - Município do
crescimento da população nelas re- Rio de Janeiro
sidentes; ele se revela também no 1950/1960/1970
aumento do número de favelas e
%DA
de seus domicílios. Como mostra o POPULAÇÃO
POPULAÇÃO
ANOS POPULAÇÃO RESIDENTE
quadro IV o número de favelas MUNICIPAL EM FAVELAS RESIDENTE
EM FAVELAS
cresceu, de 1950 para 1970, 179,3%,
sendo que no decênio 1960/1970 1950 .. 2 377 451 168 305 7,1
apresentou um crescimento relati- 1960. 3 281 908 335 063 10,2
vo bem menor que o do decênio an- 1970 .. 4 252 009 565 135 13,3
terior. Tal fato pode estar, se não
inteiramente, pelo menos em parte, FONTES: As favelas do Distrito Federal e o RecenseBmento de 1950
relacionado a toda uma política de - DEISO - IBGE.
Censo Demográfico de 1960 - Favela do Estado da Gua-
erradicação das favelas que mar- nabara - DIESO-IBGE.
cou esse período, e que foi acom- Sinopse Preliminar do Censo DemográiiCO de 1970- DEISO
-IBGE.
panhada de uma campanha inten-
siva de remoções, principalmente
na zona Sul, e de um grande con-
trole no sentido de evitar o surgi- cada imobiliário. Elas ocupam pre-
mento de novas favelas. ferencialmente setores determina-
dos do espaço urbano apesar da sua
Saliente-se, no entanto, que se aparente dispersão (tabela 6). A
quanto ao número de favelas o proximidade do local de trabalho,
crescimento foi relativamente me- ou a facilidade de acesso a ele pela
nor no decênio 60/70, o mesmo não disponibilidade de transporte na
ocorreu com o número de seus do- área, são elementos importantes na
micílios que tiveram crescimentos sua implantação. Apenas para lem-
de 54,1% no período de 1950 a 1960, brar alguns exemplos, pode-se citar
e de 61,3% no período de 1960 a as favelas que surgiram junto à
1970, e nem com a população áreas industriais como Jacarezi-
favelada como já se demonstrou nho, Mangueira e Gávea; aquelas
acima. das proximidades do Porto devido
O quadro seguinte contém os não só às suas atividades específi-
percentuais de população residente cas como às indústrias localizadas
em favela em relação ao total da nas suas imediações; as favelas dos
população do município do Rio de "subúrbios" da Central e da Leo-
Janeiro. Tendo-se em conta que o poldina; e finalmente as favelas
aumento desses percentuais pro- da zona Sul de uma maneira geral,
gressivos tem sido de aproximada- que surgem e se expandem em fun-
mente 3,0% a cada dez anos, po- ção das oportunidades de trabalho
der-se-ia supor que no próximo na construção civil e/ou da pres-
censo a proporção de população tação de serviços em geral.
favelada atingirá um percentual Assim, os locais de maior inci-
em torno de 16,0%. dência de favelas são os próximos
Deve-se enfatizar que as favelas a bairros de maior densidade de-
não surgem e se expandem aciden- mográfica, às zonas de maior con-
talmente por onde exista um ter- centração industrial, e as áreas
reno "disponível" à ocupação por melhor servidas por transportes de
aqueles que não têm acesso ao mer- massa. Elas se estabelecem nos ter-

612
renas não aproveitados pelo cresci- escala os morros e ocupa áreas
mento vertical que possibilitou, até antes desprezadas, as pressões para
bem pouco tempo, que a população a erradicação das favelas vão
de melhor renda se concentrasse crescendo e culminam com a sua
nas áreas mais próximas ao centro remoção.
metropolitano sem precisar lançar Segundo dados fornecidos pela
mão das áreas menos propícias à CEHAB/RJ, no período de 1963 a
construção de edifícios como, por 1975, foram removidas para seus
exemplo, as encostas dos morros e conjuntos habitacionais as famílias
terrenos alagadiços.
residentes num total de 25.404 ha-
A substituição de prédios me- bitações, que se encontravam dis-
nores por outros de maior número tribuídas por diversas favelas do
de pavimentos incentivou a forma- hoje município núcleo da Região
ção e crescimento das favelas que Metropolitana do Rio de Janeiro,
passam a ser a forma de habitação
acessível aos empregados da cons- e que nesse processo foram deslo-
trução civil e da clientela domés- cadas aproximadamente 132. 533
tica daqueles que, com um nível de pessoas. A tabela 5 mostra o nú-
renda mais elevado, passam a habi- mero de habitações pertencentes à
tar os novos edifícios. população removida segundo as
Entretanto, os fatos têm de- regiões administrativas e zonas de
monstrado que se a expansão ver- origem e destino. No quadro resu-
tical numa primeira fase facilita a mo abaixo pode-se ver que, embora
implantação das favelas, numa as remoções tenham sido efetuadas
fase posterior, quando o aden- em todas as zonas do município,
samento das construções leva à apenas duas delas receberam a po-
"saturação" do espaço, à valoriza- pulação residente nas favelas re-
ção excessiva dos terrenos, e se cria movidas: a zona Norte-suburbana
uma frente de construções que e a zona Oeste.

QUADRO VI QUADRO VI
a) Distribuição percentual das b) Distribuição percentual das
habitações pertencentes à popu- habitações pertencentes à popu-
lação removida das favelas, por lação removida das favelas, em
zonas de destino, segundo zonas cada zona de destino, segundo
de origem zonas de origem
Município do Rio de Janeiro Município do Rio de Janeiro
1963/1975 1963/1975
ZONAS DE DESTINO ZONAS DE DESTINO
ZONAS DE ORIGEM ZONAS DE ORIGEM
Total I Suhur-
Norte I Ooste Total Norte I Oeste
I Subur-
bana bana
I

Sul ... 100,0 76,5 23,5 Sul.. 37.7 63,4 16,3


Centro-Norte .... 100,0 5,9 94, 1 Centro-Norte .. 20,8 2.7 35,9
Norte-Suburbana .. 100.0 o8,3 61,7 Norte-Suburbana. 39,3 33,1 44,5
Oeste. 100,0 0,0 100,0 Oeste .... 1,2 0,0 2,2
Outras. 100,0 37,0 63,0 Outras .. 1,0 0,8 1,1

TOTAL. 100,0 45,5 54,5 TOTAL ... 100,0 100,0 100,0

FONTE: CEHAB1RJ - DEIS O - IBGE. FONTE: CEHAS RJ - DE ISO - IBGE.

613
Considerando que perto de ria, com destino à zona Oeste, as
60% das habitações removidas remoções da zona Sul foram fun-
foram retiradas de favelas das damentalmente em direção à
zonas Sul e Centro-Norte, sendo zona Norte-suburbana. Acrescente-
que quase 40% saíram de favelas se que das habitações removidas
da zona Sul, se torna bastante de favelas da zona Oeste, todas o
claro que a política de remoções, foram por unidades residenciais de
como alternativa escolhida para conjuntos habitacionais situados
resolver o considerado "problema nela mesma. Como se vê, as remo-
das favelas", significou a inserção ções tiveram um sentido bem defi-
do poder público no processo de nido, significaram um desloca-
expulsão das populações de baixa mento em direção aos locais mais
renda para os bairros periféricos afastados e carentes da periferia
do município. É bastante signifi- do município.
cativo que as remoções tenham Não se pretende, e nem caberia
sido feitas em sua totalidade para no âmbito desse trabalho, uma
as zonas Norte-suburbana ·e Oeste, avaliação exaustiva da política de
e mais significativo ainda que a remoções de favelas. O interesse
maior parte dos removidos tenha de que se reveste aqui se limita ao
sido conduzido para a zona Oeste. seu poder de evidenciar o signifi-
Voltando ao quadro VI e exami- cado das remoções na configuração
nando especificamente o que ocor- das condições de habitação das
reu em relação à zona Norte-subur- populações excluídas do mercado
bana, vê-se que as proporções de institucionalizado de habitação.
habitações removidas de favelas Seria impróprio se nos dedicásse-
desta zona e de unidades construí- mos a analisar todos os efeitos da
das pela CEHAB nesta mesma zona remoção para aqueles que foram
para receber os removidos de uma retirados das favelas. Sem dúvida,
maneira geral, nos autorizam su- as remoções acarretaram para os
por uma tendência a destinar às seus "beneficiários" um custo, tan-
camadas de mais baixa renda os to financeiro quanto social e psico-
locais mais distantes e carentes da lógico, bastante elevado. As remo-
zona Oeste. Na zona Norte-subur- ções destruíram unidades de vizi-
bana apenas 38,3% das habitações nhança, separando pessoas que
removidas de favelas foram ,cmbsti- vinham vivendo juntas por déca-
tuídas por unidades residenciais das; centenas de famílias perderam
da CEHAB localizadas nela mes- seu ganha-pão que vinha das pe-
ma, os 61,7% restantes o foram quenas oficinas e pequenos comér-
por unidades situadas na zona cios que tiveram que fechar suas
Oeste. Levando-se em conta a dife- portas; muitos perderam seus em-
rença relativamente pequena entre pregos e suas oportunidades de
as proporções de habitações "re- "biscates". As remoções dispersa-
movidas" e "recebidas" na zona ram as famílias e os amigos, enfim,
Norte-suburbana, pode-se dizer que elas destruíram a estrutura de
em relação a ela as remoções sig- suporte econômico, social e emo-
nificaram, em última instância, cional buscada pela unidade de
uma substituição: a população vizinhança construída como uma
removida de suas favelas foi para estratégia de sobrevivência das fa-
a zona Oeste, enquanto para ela mílias de baixa renda. Além disso,
vieram os que foram retirados da sabe-se que os trabalhadores res-
zona Sul. ponsáveis pela sobrevivência das
O quadro VI mostra ainda que, famílias removidas se viram obri-
enquanto as remoções das zonas gados a despesas que anteriormen-
Centro-Norte ·e Norte-suburbana te não pesavam no seu orçamento.
foram feitas, em sua grande maio- Esses trabalhadores foram removi-

.614
dos com suas famílias para uma da CEHAB, uma parcela muito
"unidade habitacional" que com- pequena conseguiu permanecer
praram financiada e deviam, en- neles por impossibilidade de assu-
tão, a partir desse momento, pagar mir, com seu poder aquisitivo cada
pela sua "casa própria", como vez menor, os custos decorrentes
deviam também pagar todos os do morar ali. O que lhes restou foi
impostos que sobre ela incidissem. a volta às favelas ou a ida para
Além disso, a remoção representou locais cada vez mais afastados e
para muitos a perda de investi- em condições muitas vezes piores
mentos já feitos na construção, do que aquelas que desfrutavam
ampliação e melhoria daquela que antes das remoções, uma vez que
era, até o momento da remoção, a os aglomerados que vêm surgindo
sua moradia. nas periferias mais distantes, in-
Deve-se ressaltar que, nesse pro- clusive em outros municípios da
cesso, · as famílias consideradas região metropolitana, no que se
"não habilitadas" para adquirirem refere à qualidade das construções
uma casa ou apartamento da e da infra-estrutura básica, não se
CEHAB foram enviadas para as diferenciam muito das favelas.
chamadas triagens, "habitações" Os programas habitacionais do
compostas de dois cômodos (sala poder público para populações de
e banheiro) somando 15,00 m 2 , e baixa renda na área da Região
pagavam um aluguel por ela. A Metropolitana do Rio de Janeiro,
idéia era que aí permanecessem como demonstram os dados da
até possuírem uma renda que pos- CEHAB/RJ contidos no quadro
sibilitasse a compra de uma uni- abaixo, incidiram predominante-
dade residencial melhor. Entretan- mente sobre o Município do Rio
to, as triagens se tornaram local de ,Janeiro.
de moradia permanente para a
grande maioria dessas famílias de
baixa renda cujo .suposto aumento QUADRO VII
de renda não ocorreu. Hoje a
CEHAB possui, na zona Oeste, Unidades construídas pela CEHAB
6.074 triagens pelas quais os mo- na Região Metropolitana do Rio
radores pagam aproximadamente de Janeiro
Cr$ 40,00 de aluguel. 1962/1976
O crescimento da população
favelada no decênio 60/70, período ANOS
REGIÃO
METROPO·
I MUNICÍPIO
RIO Of
I MIINIÇÍPIOS
PERIFERICOS
em que os maiores empenhos fo-
ram feitos para sua erradicação, I liTANA JANEIRO

demonstrou que a remoção não foi TOTAL.. 56 030 50 !21 5 809


uma solução para o considerado 1962 .. 499 499
"problema" das favelas. As favelas 1963 .. 4 115 4 115
não são, em sua natureza, um pro- 1964 .. 3 815 3 815
1965. 1 221 1 221
blema puro e simples de habitação; 1966. 1 560 1 560
são, na verdade, a expressão do 1967 .. . . . . . . . . . . 758 696 62
baixo poder aquisitivo e resultam 1968 ..... 767 767
da estruturação das relações que 1969 .... 5 377 5 387
1970 .. ............ 22 540 19 955 2 585
têm caracterizado a inserção social 1971 .. 8 208 6 120 2 088
do trabalhador na sociedade bra- 1972. .. 1 000 1 000
sileira. A expulsão das camadas de 1973 .. 2 246 1 536 710
baixa renda do centro da metró- 1974 380 160 220
1975. 2 308 2 164 144
pole e de suas imediações apenas 1976 ... 276 276
promove a transferência espacial 1977 ... 960 960
do "problema". Dos removidos
para os conjuntos habitacionais FONTE: CEHft.B/RJ - DEISO-IBGE.

615
Se levarmos em conta que do l!: necessário ainda lembrar que
total de 50.221 habitações cons- a extinta Companhia de Desen-
truídas, 25.404 foram destinadas volvimento de Comunidades -
aos moradores de favelas removi- CODESCO - realizou duas expe-
das (cf. tabela 5), e que na seleção riências efetivas de urbanização
dos compradores para suas unida- de favelas. Esta companhia tinha
des residenciais a CEHAB/RJ, por função "promover a integra-
dentre os candidatos considerados ção dos aglomerados subnormais
"aptos para compra", deu, até na comunidade normal adjacente,
muito recentemente, prioridade intervindo nos aspectos urbanísti-
aos favelados, pode-se dizer que a cos, habitacionais e outros neces-
ação daquela companhia de habi- sários" (CODESCO - Relatório
tação esteve em grande medida da Companhia de Desenvolvimento
voltada para o desfavelamento. E de Comunidade, dezembro/1970),
nesse sentido, o sucesso de sua e representava, portanto, filosofia
ação parece ter sido, na realidade, e atuação contrárias à política de
mínimo, pois, como afirma a remoção e erradicação das favelas.
Dra. Lícia do Prado Valadares: "os Até a sua extinção, a CODESCO
conjuntos habitacionais da CEHAB havia realizado a urbanização das
do Rio de Janeiro são, na verdade, favelas de Brás de Pina e Morro
locais de passagem, são locais de União, já estando adiantados 03
trânsito e não áreas de fixação" 7 estudos para urbanização da favela
daquelas populações de baixa ren- de Mata Machado 9 .
da removidas das favelas e que Entretanto, a questão não se
não conseguem arcar com os custos esgota na análise de como tem sido
diretos e indiretos, do morar nos a política de habitação para a
conjuntos. Diz ela: "Com a saída população removida das favelas;
dos originários moradores dos con- nosso interesse é mais amplo e se
juntos habitacionais, o que se remete à maneira como a política
assiste é que os conjuntos estão habitacional do governo tem aten-
atendendo não somente a uma dido à população de baixa renda
população não prevista como a de uma maneira geral.
uma população de renda mais
elevada. Porque quem está en- Em 1964 o Governo Federal criou
trando para os conjuntos ( ... ) o BNH, conferindo-lhe a atribuição
são pessoas que têm, sem dúvida de orientar, disciplinar e controlar
nenhuma, renda mais elevada do o Sistema Financeiro da Habita-
que os favelados que para aí se ção, com o objetivo de promover
dirigiram originariamente. l!: a a construção e a aquisição da casa
tendência (observada) quando a própria, especialmente para classes
gente visita os conjuntos habita- de menor renda. Em 1973 o reco-
cionais mais antigos; nota-se que nhecimento do agravamento do.s
em alguns casos, como Vila Kenne- problemas habitacionais nas clas-
dy e Cidade de Deus, se transfor- ses de baixa renda levou o BNH a
mam em bairros de baixa classe criar o PLANHAP - Plano Nacio-
média" 8 • nai de Habitação Popular - ao
" Cf. Governo do Estado da Bahia, SETRABES/DDS/SUDENE. Anais do Seminário de Desen-
volvimento Social. Salvador, junho/1976, p. 73/75.
• Cf. Governo do Estado da Bahia. Op. cit., p. 75.
• Para uma análise aprofundada da experiência Brás de Pina, cf. Blank, Gilda - Experiência
em Urbanização de Favela Carioca: Brás de Pina. Tese de Mestrado apresentada à COPPE/UFRJ,
Rio de Janeiro, 1977 (mimeo).
Para uma análise das políticas de remoção e urbanização de favelas, cf. Postengy Grabbois,
Gisélla - Em Busca da Integração: A política de remoção de favelas no Rio de Janeiro. Tese
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Museu Nacional/UFRJ, Rio
de Janeiro, 1973 (mimeo).

616
qual caberia promover o atendi- Outros indicadores da situação
mento às famílias com renda regu- do chamado mercado popular são
lar compreendida entre um e três as conseqüências da Resolução da
salários mínimos regionais. Con- Diretoria do BNH (RD-61/1971),
vém ressaltar que já em março de que buscava distribuir a agentes
1975 o PLANHAP foi reformulado, privados do Sistema Brasileiro de
passando o limite superior de ren- Poupança e Empréstimo (SBPE)
da familiar para cinco salários uma grande parte dos créditos
mínimos regionais 10• hipotecários dos mutuários de bai-
Os principais promotores do xa classe de renda, vistas através.
BNH para esta faixa de renda são da análise de alguns tópicos do
as companhias habitacionais - relatório de 27/05/74 enviado por
COHABs - que, embora organi- algumas entidades do SBPE do Rio
zadas sob a forma de empresas de de Janeiro à Superintendência de
economia mista, isto é, com possi- Agentes Financeiros do BNH, refe-
bilidades de participação privada, rente a créditos adquiridos segun-
são controladas totalmente pelo do as normas daquela resolução 11 •
setor público. O desinteresse da O relatório busca, inicialmente,
iniciativa privada em participar demonstrar que as entidades
das COHABs parece ser, por si só, tomaram inúmeras medidas ne-
forte indicador das dificuldades de cessanas à administração dos
atuação em moldes empresariais créditos, inclusive implantação de
no chamado "mercado popular" cobrança imobiliária utilizando
de habitação, dificuldades tam- computadores. Descreve as formas
bém encontradas pelas próprias utilizadas para normalização de
COHABs, e que são, em última ins- créditos, enfatizando que já ha-
tância, decorrentes do muito baixo viam esgotado todas as possibili-
poder aquisitivo de grande parte dades de renegociação em relação
da população. Por outro lado, a a uma alta percentagem dos cré-
decisão do BNH de elevar o teto da ditos. A seguir, as signatárias ex-
renda exigida para aquisição das plicitam sua preocupação com os
"habitações populares", de três prazos de validade das garantias
para cinco salários mínimos, sig- fornecidas pelo BNH para cobrir
nifica um reconhecimento explí- prejuízos, uma vez que "a apura-
cito das dificuldades cada vez ção da eventual perda líquida defi-
maiores a que está submetida a nitiva a ser coberta pelo seguro e
população de baixa renda no to- pelo BNH só se verifica após a re-
cante a aquisição de sua moradia. tomada do imóvel, sua recuperação
10 O BNH buscou desde o início enquadrar-se dentro de uma orientação de racionalldade
empresarial. Entretanto, a evolução e transformação de alguns de seus mecanismos - além
de uma parte normal !lgada à racionalização administrativa de qualquer sistema - se prende
ao fato de não ter conseguido o BNH implementar satisfatoriamente uma política de rac!ona!ldade
empresarial para os setores de baixa renda. Buscando uma expl!cação para este fato, um
estudo recentemente realizado demonstra que "O insucesso de 'performance' do chamado 'mer-
cado popular' transcende em muito a aspectos de técnicas administrativas e está intimamente
ligado à politica econômica e, particularmente, à política salarial adotada ... "; e sugere que
"Contradições internas do próprio modelo de desenvolvimento é que não permitem ao Poder
Publico aplicar uma de suas características gerais de atuação econômica - a racionalldade
empresarial - na área específica das construções populares" (Cf. Azevedo, Sérgio - A Politica
Habitacional para as Classes de Baixa Renda. Tese de Mestrado apresentada ao IUPERJ/FCM,
Rio de Janeiro, 1976 (mimeo).
u Relatório de 12/05/75, de doze páginas, endereçado ao Dr. Antonio Luís C. Fonseca,
gerente da Superintendência de Agentes Financeiros, pelas seguintes entidades do SBPE: Verba
S/A- Crédito Imobiliário; Morada- Associação de Poupança e Empréstimos; Solar- Associação
de Poupança e Empréstimo; Apex - Associação de Poupança e Empréstimo; e Cofrelar
Associação de Poupança e Empréstimo. A aná!lse aqui desenvolvida se baseia em trechos do
Relatório que se encontra citado no estudo de Sérgio Azevedo (cf. nota n." 10).

617
física e recomercialização". E pros- A análise de alguns dados so-
seguindo na mesma argumenta- bre as condições de atuação da
ção, afirmam que "a única maneira CEHAB/RJ na área corresponden-
de cumprir os prazos é executar te à Região Metropolitana do Rio
em massa", sendo que "a revenda de Janeiro vem comprovar a cres-
em massa traria o aviltamento dos cente dificuldade das camadas de
preços, prejudicando o mercado e baixa renda para conseguirem
aumentando as perdas a serem comprar uma moradia. Na reali-
cobertas pelo BNH e pelas segu- dade, o que tais dados parecem
radoras". demonstrar é uma incompatibili-
Por fim,. após referirem-se aos dade entre a política salarial e a
inúmeros problemas que teriam implantação de uma estratégia de
que ser enfrentados pelas entida- atuação tipo empresarial nas cons-
des para poderem exigir do BNH truções de moradias para os seto-
a restituição de seus prejuízos, o res de baixa renda: de um lado, a
que lhes era garantido pela julgar pelos dados do Município
RD-61/71, enumeram sugestões do Rio de Janeiro, os salários que
para no futuro diminuir o proble- não acompanham o crescimento
ma em questão. Tais sugestões são do custo de vida (cf. Condições de
bastante significativas: transferir Vida da População de Baixa Renda
os conjuntos para as COHABs e da Região Metropolitana do Rio
cooperativas, diminuir ou suprimir de Janeiro - Parte II - "O lado
os juros, congelar os ~;aldos deve-· do trabalho") e, de outro, custos
dores, e assumir o BNH Um pre- de construção cada vez mais ele-
juízo inevitável. Assim, as entida- vados.
des do SBPE, depois de quase três O quadro VIII mostra que a
anos de atuação, concluem que é elevação do custo de construção
impraticável atuar empresarial- de uma casa média - tipo sala e
me!lte com as classes de baixa ren- um quarto, com 31,50 m 2 de área
da, declarando no referido rela- - num período de nove meses (de
tório que: dezembro/75 a setembro de 1976)
foi de 46,5%.
"O problema habitacional para
essa faixa de renda da popula- QUADRO VIII
ção não pode ser simplesmente
inserido no bojo de atividades Variação do custo da construção
das entidades do SBPE sem o
forte e conveniente subsídio go- Casa tipo "GB-21-1-1-31" (sala e
vernamental, não apenas finan- um quarto)
Área: 31,50 m 2
ceiro, que é indispensável, mas
subsídio inclusive sobre o aspec- CUSTO DA CONSTRUÇÃO Cr$
to de apoio logístico, desenca- TRIMESTRES
indica de
deado através de mecanismo que Total M2
só o governo tem condições de I Crescimento
movimentar. Os problemas de 4. 0 trimeBtre 75 ... . 25 100,00 787.00 100,0
1.• trimestre 76 .. . 26 500,00 841,00 105,5
infra-estrutura no plano físico 2. 0 trimestre 76 .. . 30 800,00 978,00 122.7
e os problemas de educação, de 3.' trimestre 76 .. 36 800,00 1 168,00 146,5
policiamento, de mobilidade po-
pulacional, de perda de renda, FONTE: CEHAB - R.J
NOTA: Custo direto. sem incidência~
no plano humano, não podem
ser resolvidos apenas com solu-
ções financeiras, de diferenciais Tal elevação diminuiu em muito
de juros, altos ou baixos" (grifo o acesso dos inscritos às unidades
nosso). residenciais postas à venda. Em

618
dezembro de 1975 a CEHAB, tendo ração entre os quadros IX e X vem
em vista a seleção dos 30.981 ins- demonstrar que, segundo os preços
critos até 30 de novembro de 1975, de dezembro de 1975, um total de
classificou suas rendas, chegando 53,47% dos inscritos poderiam ser
a uma distribuição por faixas de considerados habilitados à compra,
atendimento possível, conforme o enquanto ao preço de setembro de
quadro abaixo: 1976 apenas 4,86% destes inscritos
seriam considerados habilitados
QUADRO IX para a me;ma unidade.
As COHABs não constroem, elas
Distribuição dos inscritos para ha próprias, seus conjuntos habitacio-
bilitação no CEHAB/RJ Até 30/1 nais, com isso a dinâmica do
1/1975 segundo faixas de atendi1 mercado imobiliário construtor
nento 1 tem forte influência sobre o custo
das unidades habitacionais que
FAIXAS DE ATENDIMENTO
NÚMERO
DE (%)
devem ser por elas oferecidas à
(UPC) INSCRITOS população de baixa renda. Suas
possibilidades de baixar o nível de
60- 155. 6 998 22.59 lucro pretendido pelas construto-
156- 190 4 093 13.21 ras são praticamente nulas, uma
191 - 225 .. 2 182 7,05
226 - 255 ... 1 139 3.68 vez que qualquer medida radical
256 - 280 .. 12 635 40.78 neste sentido provocaria uma con-
281 - 330 .. 2 427 7,83 vergência daquelas empresas para
331 - 500 ... 1 507 4,86
TOTAL ..... 30 981 100.00
as construções destinadas às clas-
ses de mais elevado padrão de
FONTE: CEHAB/RJ. renda. Assim, além dos altos preços
NOTAS: 111 Dados de incristos classificados para habilitacão em
i 976 e 1977. Os inscritos a partir de 30!11/1975 (Hproxi-
dos terrenos e dos materiais de
macamente 70 000) fazem parte de um segundo grupo que construção, contribui ainda para
será classificado até o final de 1977.
elevação dos custos das habitações
das COHABs a concorrência que
O quadro X nos mostra a evo- lhes fazem, em termos dos lucros
lução do preço do mesmo tipo de que garantem às construtoras,
casa no mesmo período. A campa- as empresas incorporadoras que

QUADRO X
Variação dos valores de financiamento e faixas de atendimento
(RD-6/75)
Casa tipo "GB-21-1-1-31" (sala e um quarto)
Área: 31,50 m2
VF - VALOR DO FINANCIAMENTO PRESTAÇÃO MENSAL FAIXAS
RENDA FAMILIAR
TOTAL A PREÇOS NECESSÁRIA A PREÇOS DE ATEN-
A Preços Orçados A Precos Atualizados por ORÇADOS CEHAB/RJ ORÇADOS CEHAB/9J DIMENTO
TRIMESTRES CEHAB/RJ UPC Base 4." TRIM/75 UPC (DE
ACORDO
COM O V.
F. E A
UPC Cr$ 1,00 UPC Cr$ 1.00 UPC I Cr$ 1,00 UPC I Cr$ 1.00 RD-6/75
I I
4." trimestre/75 .... 259 32 600 259 32 600 1,66 209 9.24 1 160 (256 a 280)
1.' trimestre/76 .. 316 42 100 259 34 500 2,12 300 10.70 1 427 (281 a 330)
2." trimestre/76 .. 323 45 900 259 36 800 2.19 312 11,00 1 565 (281 a 330)
3." trimestre/76. 338 56 900 259 43 GOO 2.21 372 12,28 2 067 (331 a 500)

FONTE: CEHAB/RJ.
NOTA. VF;:: Valor do financiamento com todos os custos inicidentes.

619
atuam nas faixas de média e alta que no período de 1962 a 1975 fo-
:renda. ram construídas apenas 48 unida-
O problema do custo dos terre- des de 84,00 m 2 , que a partir de
nos é, em parte, resolvido com a 1975 a unidade que lhe seguia em
construção de conjuntos em locais área (57 m 2 ) foi considerada in-
afastados, onde os terrenos são viável, e que o mesmo aconteceu
mais baratos, o que vem confirmar em 1976 com a terceira unidade
o já dito anteriormente quanto à em ordem decrescente de área
expulsão da população de baixa (48 m 2 ) (cf. quadro XI), pode-se
renda para a periferia. Entretanto, afirmar que as habitações da
parece que sair para a periferia CEHAB/RJ, hoje, variam entre
não é suficiente, pois a CEHAB/RJ 15 m 2 (triagem) e 43 m 2 (aparta-
vem lan~ando mão de outro recur- mento, sala e dois quartos).
so que visa também a equilibrar
seus custos : é a reserva de lotes QUADRO XI
industriais destinados à venda
para instalação de unidades fabris, Distribuição das unidades residen-
ao lado dos lotes utilizados para a ciais ocupadas de 1962 a 1975
construção dos seus conjuntos ha- Segundo tipos de habitação
bitacionais. Tal procedimento foi
adotado na Fazenda Botafogo
(XXII R.A.), onde 740.820,00 m 2 TIPO DAS UNIDADES l l
NÚMEROS NÚMEROS
ABSOLUTOS RELATIVOS
(30% da área total), compondo
um total de oitenta e nove lotes, TOTAL.. 53 676 100,0
foram destinados à venda para Casas 24 873 46,5
instalações industriais. Esboça-se Triagem ... 6 074 11,3
Duplex .... 1 518 2,9
a repetição deste procedimento no Sala/Quarto .. 3 845 7,2
empreendimento a ser realizado Um quarto .. 4 561 8,5
em Vila Laje, São Gonçalo. Dois quar!Os ... 2 461 4,6
Três quartos .. 6 414 12,0
Convém ressaltar que toda essa
dificuldade em obter custos que Apartamentos .... 29 803 55,5
Um quarto ... 15 634
possibilitem preços ao alcance das Dois quartos .. 12 629
29,1
23,5
famílias de baixa renda é em rela- Trôs quartos .. 1 492 2,8
ção a unidades residenciais cujo Duplex ...... 48 0,1
conforto que possam proporcionar,
e cuja qualidade da construção e FONTE: CEHAB/RJ.
dos serviços públicos têm sido con- NOTA: AREA MtDIA DAS UNIDADES:
Triagem ................ 15 m2
tínua e publicamente questionada Casá Duplex.. . ..... 36 m2
pelos especialistas. Além disso, tais Casa Sala/Ouarto ....... 17,5 m2
Casa um quarto ......... 31,5 m2
unidades residenciais são bastante Casa dois quortos ....... 38 m2
Casa três quartos ....... 48 m2 (inviável a partir de 1976)
acanhadas 12 • Teoricamente, elas Apartamento um quarto ... 35 m2
têm áreas que variam de 15 ID2 a Apartamento dois quartos.43 m2
Apartameoto três quartos .. 57 m2 (invióvel a partir de 1975)
84 m 2 • No entanto, considerando Apartamento Duplex ...... 84 m2

12 Como diz Gilda Blank: "São conjuntos uniformes, construidos em massa, com unidades
de forma a minimizar os custos, e portanto reduzindo as dimensões o máximo possível. A
necessidade de reduzir as dimensões da casa velo a transformar a unidade construída em uma
moradia com todos os compartimentos essenciais, sala/quarto, banheiro e cozinha reduzidos a
dimensões mínimas, sem grandes preocupações com a ut!l1zação necessária e habitual destas
populações para cada cômodo em cada região. As unidades quase sempre iguais em tamanho,
só diversificando quando do aumento do número de quartos e na sua parte externa, são impostas
às famílias, sem oportunidade de escolha ou preferência por lados, andares ou quaisquer outros
fatores, mas apenas selecionadas de acordo com a renda da família (renda do responsável e
possivelmente do cônjuge) e sorteadas entre as unidades de mesmo preço. Devido a estes proble-
mas e a outros como a inadequada condição financeira das familias, os índices de inadimplência
são multo altos, dificultando ainda mais a continuidade dos trabalhos de construção de mais
conjuntos (Cf. Blank, Gilda, op. c!t., p. 145/150).

620
Tendo em vista que a população atendida pelo PLANHAP foi alte-
de baixa renda tem cada vez me- rado de três para cinco salários
nores possibilidades de comprar mínimos;
as habitações oferecidas pelas
COHABs, as dificuldades encon- - Em junho de 1975 criou-se o
tradas para eliminar o chamado programa de financiamento de
"déficit habitacional" são uma lotes urbanizados- PROFILURB.
questão que se impõe aos dirigen-
tes do BNH. Sabe-se que "uma A Resolução do Conselho de Ad-
grande parte dos investimentos do ministração do BNH- RC n.o 18/
Banco não tem sido aplicada em 75- cria, no âmbito do PLANHAP,
habitação para baixa renda, princi- o PROFILURB, deixando bem cla-
palmente porque existem muitas ro as diretrizes que nortearam a
dificuldades no retorno do capital criação daquele pr-ograma. Entre os
financiado". 13 considerandos nela contidos está
explícito:
Neste sentido, o que confirma a
argumentação desenvolvida até - que o programa representa
aqui, o BNH várias vezes operou uma alternativa capaz de ampliar o
modificações que visavam a au- atendimento do PLANHAP;
mentar o número de compradores - que as famílias de baixa renda
na chamada faixa de baixa renda
qu~ ele constatou, através da prá-
se instalam, em geral, em favelas,
tica das COHABs, estarem sem e que essa instalação é regida basi-
condições financeiras compatíveis camente por fatores de localização
com a viabilização dos seus pro- e disponibilidade de terras 14 ;
gramas: - que essas famílias, com a pos-
se de um lote situado em área ur-
- Em 1970 entrava em vigor o banizada e integrada a estrutura
plano de equivalência salarial para urbana local, poderão construir ha-
garantir ao mutuário número cer- bitações adaptadas, desde que,
to de prestações com reajuste apoiadas por um programa de de-
anual equivalente ao do salário senvolvimento comunitário.
mínimo;
Como se vê, o documento ci-
- Em 1971 surgiu o sistema de tado deixa bastante claro que o
amortizações constantes para au- PROFILURB visa a at·ngir, prin-
mentar o prazo e diminuir os juros cipalmente aquela população que
dos financiamentos; não consegue "habiEtar-,::e" para
- Em 1973 criou-se o Plano compra de unidades residenciais
Nacional de Habitação Popular - das COHABs. Entendemos que a
PLANHAP - com atribuição espe- alteração do limite superior das
cífica de atender às famílias na faixas de atendimento do ...... .
faixa de um a três salários mí- PLANHAP, e a criação do ...... .
nimos; PROFILURB, foram as saídas con-
sideradas possíveis diante do fato
- Em março de 1975 o limite de estarem as COHABs compelidas
superior da renda familiar a ser à opção de diminuírem em muito
" Cf. Blank, G!lda - Op. cit., p. 146 e sg.
" A crença de que a população de baixa renda "se Instala em geral em favelas", não é
confirmada pelos dados. Conforme demonstra o quadro I apenas 20,1% das faml!las com rendi-
mento mensal per capita de até um salário mínimo residiam em favelas no município do
Rio de Janeiro. Talvez a esse equivoco se deva o fato dos programas oflcla's de habitação para
populações de baixa renda terem ficado até multo recentemente na Região Metropolltana do
Rio de Janeiro voltados para o desfavelamento, sendo que 70,9% desta população não reside
em favelas.

621
sua oferta de habitações e se volta- enfrentar com o seu salário os
rem quase que exclusivamente pa- custos decorrentes dessa opção, se
ra as faixas de renda próximas ao não, construirá uma "habitação
novo limite superior do PLANHAP rústica" dos moldes daquelas con-
em face do baixo poder aquisitivo sideradas "subnormais", cuja eli-
da população a ser atendida por minação é o objetivo declarado da
ela. Em outras palavras, o ..... . política de erradicação das favelas.
PROFILURB surgiu exatamente "Passados dois anos da sua cria-
porque as COHABs não estavam ção e regulamentação (o ....... .
conseguindo vender habitações pa- PROFILURB) obteve resultados e
ra as faixas inferiores a três salá- aplicações muito aquém das expec-
rios-mínimos, e na realidade signi- tativas iniciais, conforme observam
ficou uma "redução do programa até mesmo os técnicos do BNH.
habitacional": anteriormente pro- Apenas alguns estados o estão apli-
curava-se viabilizar a compra do cando com o aproveitamento para
terreno e da casa, juntos, com o erradicação de áreas faveladas,
PROFILURB divide-se por dois esse exemplos no Espírito Santo, porém
objetivo, procurando viabilizar ape- quase sempre com lotes inferiores
nas a compra do terreno. A cons- em localização ou conjugados a um
trução da moradia passa a ser um conjunto habitacional com vistas a
encargo do comprador, e com isso viabilização" 15 .
está explicitamente transferido, pa- No Rio de Janeiro ainda não hou-
ra o trabalhador o custo da cons- ve atuações deste tipo, e conforme
trução da sua moradia. O próprio fomos informados na CEHAB/RJ,
trabalhador terá que construir a nela estão sendo desenvolvidos es-
sua casa com a ajuda da família e tudos para avaliar sua viabilidade
de amigos a quem ele já ajudou ou e adequação aos problemas especí-
certamente ajudará, nos moldes do ficos da região.
mutirão tomado como tema para a Tentamos ao longo deste traba-
campanha do PROFILURB ampla- lho articular indicadores das con-
mente difundida pela televisão. Na dições da habitação das populações
realidade, aquele programa veio de baixa renda, explicitando recor-
oficializar a já antiga prática ela- rentemente o que consideramos es-
borada em torno dos chamados "lo- tar na base do chamado "déficit
teamentos periféricos. Não se pos- habitacional". Resta esclarecer, no
sui dados sobre tais loteamentos, entanto, que consideramos ser esta
mas sabe-se que, à margem de expressão vazia de sentido, e por
qualquer programa de órgãos isso mesmo geradora de falsos pro-
oficiais, muitos trabalhadores têm blemas. Em linguagem econômica
construído suas próprias casas dever-se-ia falar num desequilíbrio
em loteamentos, regularizados ou entre oferta e demanda de habita-
não, nas zonas mais afastadas ções, uma vez que assim colocado
do Município do Rio de Janeiro e o problema somos impulsionad03
dos municípios vizinhos. Como de imediato à busca das causas de
ocorre nos loteamentos não oficiais, tal desequilíbrio e por esta via re-
também nos lotes do PROFILURB metidos à questão central: a rela-
o trabalhador poderá construir ção entre o poder aquisitivo dos sa-
uma casa de alvenaria se conseguir lários e o preço da habitação.

15 Cf. Blank, Gilda - op. cit.

622
1 . Renda familiar per capita das famílias residentes em domicílios
particulares permanentes, segundo as regiões administrativas do
município do Rio de Janeiro (inclusive favelas)
1970
SALÁRIO MÍNIMO

~~~.
0ração
REGIÃO ADMINISTRATIVA TOTAL
0 Até 72
u 1 Mais de I Mais de I Mais de I Mais de
I Mais de li Mais de I
7fa1 1a2 2a5 5a10I10a16 16
1
------------------~----~

1- RA- Portuária 13 001 4 125 4 019 3 011 829 128 48 158 683
11- RA- Centro ..... 20 560 2 019 4 373 5 868 5 427 1 219 214 281 1 159
111- RA- Rio Comprido. 24 921 5 368 6 386 6 384 4 309 608 153 343 1 370
IV- RA- Botafogo ..... . 69 834 6 380 9 996 16 317 24 204 7 733 1 417 967 2 820
V- RA- Copacabana .. . 67 827 4 434 5 649 12 200 26 307 11 498 2 o32 1 742 3 665
VI - RA- Lagoa ...... .. 41 550 6 622 6 592 6 963 12 206 5 244 1 031 774 2 118
VIl- RA- São Cristovlo .. 21 798 5 879 6 270 5 221 2 517 238 87 305 1 281
VIII-RA-Tijuca ...... . 47 496 7 227 7 233 1o 864 15 883 4 063 552 505 1 369
IX-RA-Vila lzabel .. . 40 075 5 246 7 902 11 616 11 570 1 995 308 398 1 040
X-RA-Ramo.s ... 56 140 18 228 15 926 12 588 5 398 488 205 734 2 573
XI- R~- Penha .. 67 346 22 284 20 729 14 555 5 297 399 219 803 3 060
XII- R~- Meier .. 88 017 24 11 o 25 949 22 470 10 812 910 232 911 3 623
XIII- RA- Engenho Novo ... 49 013 1o 071 11 802 13 721 g 807 1 277 138 527 1 720
XIV - RA -Irajá .... 57 996 17 257 18 71 g 13 214 4 743 403 210 eo9 2 oa1
XV- RA- Madureira .. 65 516 17 561 20 078 16 836 6 669 594 208 752 2 818
51 605 1 9 172 14 280 9 506 4 2t4 515 257 686 3 025
XVI- RA- Jacarepagu,, ..... .
XVII- RA- Bangu ..... . 80 587 33 785 23 979 13 272 4 067 458 345 102 3 579
XVIII- RA- Campo Grande .. . 47 781 23 703 12 843 6 028 1 950 259 163 679 2 156
XIX- R~.- Santa Cruz ....... . 19 260 10 413 4 554 2 088 844 143 1DO 285 833
XX- RA- Ilha do Governador ... 23 586 6 623 5 750 5 667 3 614 637 132 278 895
XXI- RA- Ilha de Paquetá .. 712 191 211 148 117 20 3 22
XXI!- RA- Anchieta .... 51 363 19 567 16 333 9 359 2 654 170 187 720 2 373
XXIII- RA -Santa Tereza. 17 491 3 494 4 195 4 370 3 557 791 156 201 627
MUNICÍPIO 00 RIO DE JANEIRO ... 1 024 485 273 659 253 768 222 256 166 895 39 790 8 694 13 963 45 450

FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico de 1970- In Massena, Rosa Maria Ramalho- O Valor da Terra Uróana no Município do Rio
de Janelfo. OEISO .IBGE, 1975.

la. Distribuição percentual das famílias residentes em domicílios


particulares permanentes, em cada região administrativa,
segundo classes de renda familiar per capita mensal
Município do Rio de Janeiro (inclusiV'e favelas)
1970
RENDA FAMILIAR PER CAPITA MENSAL {SAl .Á.RIO MINIMCI
REGIÕES ADMINISTRATIVAS TOTAL
0 a•' 1 Mais de
,e 112 1;2 a 1
j Maisde
1 a2
I Mais
2R5
de I Mais de
5 a 10
I Mais de I Ma1s de I
10 a 16 16
Sem
~eclaração
------------------~----~--~----~--~----

1- RA- Potuária .. 100,0 31,7 30,9 23,2 6.4 1.0 0,4 1.2 5,2
11- RA- Centro .. 100,0 9,8 21,3 28,6 26.4 5,9 1,0 1.4 5,6
111- RA- Rio Comprido .. 100,0 21.6 25,6 25,6 17,3 2,4 0,6 1.4 5,5
IV- RA- Botofogo .. 100,0 9,1 14,3 23.4 34,7 11.1 2.0 1.4 4.0
V- RA- Copacabana .. 100,0 6,5 8,3 18,0 38.8 17,0 3.4 2,6 5.4
VI-RA- Lagoa .. 100,0 15,9 15,9 16.7 29.4 12,6 2,5 1,9 5,1
VIl- RA- São Cristovão .. 100,0 27.0 28,8 23,9 11,5 1.1 0,4 1.4 5,9
VIII- RA- Tijuca ... 100,0 15,2 15.2 22,9 33,0 8,5 1,2 1.1 2,9
IX- RA- Vila lzabel .. 100,0 13,1 19.7 2S.O 28,9 5,0 0.7 1,O 2,6
X- RA- Ramos .. 100,0 32,5 28,3 22.4 9,6 0,9 0.4 1.3 ~.6
XI-· RA- Penha .. 100,0 33,1 30,8 21.6 7,9 0,6 0,3 1,2 4.5
XII- RA- Méier .. 100,0 27,1 29,2 25,2 12,1 1.0 0,3 1,0 4,1
XIII- RA- Engenho Novo .... 100,0 20.4 2·1,1 ?P,O 20,0 2,6 0,3 1,1 3,5
YIV- RA -Irajá ... 100,0 29.7 32.2 22,8 8,2 0,7 0,4 1.4 4,5
XV-· RA- Madilreira ... 100,0 26,0 30.7 25.7 10.2 0,9 0,3 1.1 4.3
XVI-- RA- Jacarepaguá. 100,0 37,0 27.7 18,4 8,2 1,0 0,5 1,3 5,9
XV! I-RA- Banqu ... 100,0 41,9 29,8 16.5 5,0 0,6 0.4 1.4 4.4
XVIII- RA- Camro Grande .. 100,0 49.7 26.9 12,6 4,1 0,5 0.3 1.4 4,5
XIX- RA- Santa Cru1 .. 100,0 54,1 23.7 10,8 4.4 0.7 0,5 1,5 4.?.
XX- R.\ -Ilha do Govern<dor .... 100,0 28,1 24,4 2·1,0 15,3 2,7 0,5 1,2 3,8
XXI- RA -Ilha de Paauetá .. 100,0 26,8 29.7 20,8 16.4 2,8 0.4 3,1
XXII- R~.- Anchieta ... 100,0 38,1 31,9 18,2 5,2 0,3 0,4 1.4 4,6
XXIII- RA- Santa TerBla. 100,0 20,0 24,0 25,0 20,9 ~.5 0,9 1.1 3,6
MU~iiCÍPIO 00 RIO DE JANEIRO .. 100,0 26.7 24.8 21,7 16,3 3,9 0,8 1.4 4.4

FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho- O Valor da Terra Uróana no Município do Rio
de JanBiro. OEISO-IBGE, 1975.

623
1b. Distribuição percentual das famílias residentes em domicílios
particulares permanentes em cada classe de renda familiar per capita
mensal, segundo regiões administrativas do município do Rio de Janeiro
(inclusive favelas)
1970
RENDA rAMILIAR PER CAPITA MFNSAL (SAI.ÁRIO MINJMn)
REGIÕES ADMINISTRATIVAS TOT~L

0 a 72
u I Mais de I Mais de I Mais de I Mais de I Mais de I M,>is àe I Sem
72 a 1 1 a 2 2 a 5 5 a 10 10 a 16 16 Declaracão

1- RA -·Portuária. 1,3 1,5 1,6 1.4 0,5 0,3 0,5 1,1 1,5
11- RA- Centro ... 2,0 0,7 1,7 í 6 3,2 3,1 2,5 2,0 2,5
111- RA- Rio Comprei do ... 2.4 2,0 2,5 ú 2,6 1,5 1,8 2,5 3,0
IV- RA.- Botafooo. 6,8 2,3 3,9 7.3 14,5 19,4 16 3 6,9 6,2
V- RA- Copacàhana .. 6,6 1,6 2,2 5,5 15,8 2B,R 26:8 12,5 8,1
VI-RA -lagoa.. .. 4,1 2,1 2,6 3,1 7,3 13,2 11,9 5,5 4,7
VIl- RA- São Cristóvão .. 2,1 2,2 2,5 2,3 1,5 0,6 1,O 2.2 2,8
VIII- RA- Tijuca .. 4,6 2,6 2,8 4,9 9.4 10,2 6,3 3,6 3,0
IX- RA- Vila Isabel .. 3,9 1,9 3,1 5,2 6,9 5,0 3,5 2,8 2,3
X-RA-Ramoc .. 5,5 6,7 6,3 5,7 3,2 1.2 2,4 5,3 5,7
XI- RA- Penha .... 5,5 8,1 8,2 6,6 3,2 1,O 2,5 5,8 6,7
XII- RA- Meier .. 8,7 8,8 10,2 10,1 6,5 2,3 2,7 6,5 8,0
XIII- RA- Engenho Novo .. 4,8 3,7 4,7 6,2 5,9 3,2 1,6 3,8 3,8
XIV-RA-lrajá ... 5,7 6,3 7.4 5,9 2,8 1,0 2.4 5,8 5,8
XV- RA- Madure~re ... 6,4 6.4 7,9 7,6 4,0 1,5 2,4 5,4 6,2
XVI- RA- Jacarepaguá .. 5,0 7,0 5,6 4,3 2,5 1,3 3,0 4,9 6,7
XVII- Ra-Banou ... 7,9 12,3 9,4 6,0 2.4 1'1 4,0 7,9 7,9
XVIII-- RA- Campo Grande .. 4,7 8,7 5,1 2,7 1,2 0,7 1,9 4,9 4,7
XIX- RA- Santo Cruz.. 1,9 3,8 1,8 0,9 0,5 DA 1,1 2,0 1,B
XX- RA-IIha do Governador. 2,3 2.4 2,3 2,5 2,2 1,6 1,5 2,0 2,0
XXI- RA- Ilha de Paquerá.. .. 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0
XXII-- RA --Anchieta .. 5,0 7,2 6,4 4,2 1,6 0,4 2,1 5,2 5,2
XXIII- RA --Santa Ternza.. .. 1.7 1,3 1,7 2,0 2,2 2,0 1,8 1.4 1,4

MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO .. 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho- O Valor da Terra Urbana no Munic!pio do
Rio de Janeiro, DEISD.IBGE. 1975.

2. Renda familiar per capita das famílias resir:1entes em domicílios


particulares permanentes nas favelas, segundO as regiões
administrativas do município do Rio de Janeiro
1970
SAl.Á.RIO MINIMO
REGIÕES ADMINISTRATIVAS E DISTRITOS TOTAL
0 ató- 112 I 1j2 1 I 1
Mais de
a
Mais de
a2
I2
Mais de
a5
I5
Mais de
a 10
I10Maisa 16de IMais16 de IDeclaração
Sem

I-RA- Portuária .. 3 878 2 097 1 092 394 61 16 21 92 295


11- RA- Certro ... o o o o o o o o o
111- RA- Rio Comprido .. 5 144 2 582 1 433 583 88 31 34 111 201
IV- RA- Botafogo ... 3 233 1 592 1 075 208 20 c 11 49 278
V- RA- Copacabara .. 3 636 1 599 1 204 504 72 12 8 55 182
VI--RA- Lagoa. 9 232 4 363 2 945 1 143 197 12 27 99 446
Vil- RA- São cristovêo .. 7 854 3 854 2 396 802 140 11 41 140 470
VIII- RA- Tijuca ...... 7 708 4 348 2 014 643 60 16 41 129 457
IX- RA- Vila lsobel.. 3 065 1 759 801 264 20 4 27 34 156
X-R4 -Ramo;· ..... . 20 137 11 230 5 332 1 708 235 41 81 283 1 227
XI-- RA- Penha ... . 11 939 7 667 2 585 606 110 63 68 207 633
XII- RA- Mlier .. 16 371 9 488 4 090 1 228 171 39 63 245 1 047
XIII- RA- Engenho Novo. 5 580 3 341 1 331 369 28 26 6 67 412
XIV- RA -Irajá ..... 4 832 3 128 1 081 323 36 12 23 115 214
XV- RA- Madure ira .. 4 560 2472 1 144 404 83 12 16 72 357
XVI- RA - Jacarcpagu8. 1 078 638 260 88 12 4 3 18 55
XVII- RA- Rann,u ..... . 5 885 3 443 1 485 459 91 23 28 102 254
XVIII- RA- Campo Grande ...... . 664 500 108 28 o o o 8 20
XIX- RA- Sanw Cruz ... _.... . 404 288 47 26 o 4 4 23 12
XX- RA -Ilha do Governador .. 4 068 2 343 1 086 306 35 4 10 68 216
XXI- RA --l!ha de Paquerá ..... o o o o o o o o
XXII- RA-Ar.r:hieta ... 6 348 3 691 1 692 490 87 12 34 75 267
XX!!I- R4- Senta lereza ...... 2 477 1 409 775 182 12 o 7 53 39
'JUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO . 128 283 71 833 33 976 1o 758 558 342 553 2 045 7 2?8

FONTE: Tabulacão Especial do Censo Demográfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho - O Valor da Te!!a Urbana no Município do Rio
de j_anelfo, DEIS O. IBGE. 1975.

624
2a. Distribuição percentual das famílias residentes nas favelas em
domicílios particulares permanentes em cada região administrativa,
segundo classes de renda familiar per capita mensal
Município do Rio de Janeiro
1970
RENDA FAMILIAR PER CAPITA MFNSAL (SALÁRIO MÍNIMO)
REGIDoS ADMINISTRATIVAS TOTM
0 , 1", 112 1Mais de
1/2 a 1 1 a2
I 2a5
I Mais de Mais de I Mais de I Mais de I Mais de I
5 a 10 10 a 16 16
Sem
Declararão

I - RA- Portuária .. 100.0 52.7 27,5 9,9 1,5 0.4 0,5 2.3 5,2
11- RA- Centro ...... o o o o o o o o o
111- RA- Rio Comprido .... 100,0 50.2 27,9 11,3 1.7 0.6 0.6 2,2 5,5
IV- RA- Botafogo ..... 100,0 49.3 33,3 6,4 0,6 o 0,3 1.5 0,6
V- RA- Copacabana .... 100,0 44,0 33,1 13,9 2,0 0,3 0.2 1.5 5,0
VI-RA- lagoa ..... 100,0 47,3 31.9 12.4 2,1 0,1 0,3 1,1 4,8
Vil- RA- São Cristovão .. 100,0 49,1 30,5 10,2 1.8 0,1 0,5 1,8 6,0
VIII-· RA- Ti jura .. 100,0 56,4 26,1 8,4 0,8 0,2 0,5 1.7 5,9
IX- RA- Vila Isabel .. 100.0 57.4 26,1 8,6 0.7 0,1 0,9 1,1 5,1
X- RA- Ramos .. 100,0 55,8 26,5 8,5 1.1 0,2 0.4 1.4 6,1
XI- RA- Penha .... 100,0 64.2 21.7 5.1 0,9 0,5 0,6 1.7 5,3
XII- RA·- Méier ... 100,0 58,0 25.0 7.5 1,0 0,2 0.4 1.5 6.4
X! II-RA- Engenho Novo .. 100,0 60,0 23,8 6,6 0,5 0.4 0,1 1,2 7.4
XIV- RA- Irajá ...... 100,0 63,4 21,9 6,6 0.7 0,3 0,5 2.3 4,3
XV- RA- Madureira .... 100,0 54.2 25.1 8,9 1,8 0,3 0,3 1,6 7,8
XVI- RA- .Jacarepaguá ... 100.0 5q_2 24.1 8,1 1,1 0.4 0,3 1.7 5,1
XVII- RA- Bangu ... 100,0 58,5 25,2 7.~ 1,6 0,4 0,5 1.7 4,3
XVIII- R~- Camuo Grande .. 100,0 75.3 16.3 4,2 o o o 1.2 3,0
XIX-- RA- Santa Cruz .. 100,0 71,3 11,6 6,4 o 1.0 1,0 5.7 3,0
XX- RA -Ilha do Governador .. 100,0 57.6 26.7 7,5 0,9 0,1 0,2 1.7 5,3
XXI- RA- Ilha de Paquetá ... o o o o o o o o o
XXII- RA- Anchieta ... 100,0 53,1 26.7 7,7 1.4 0.2 0,5 1,2 4,2
XXIJI-RA-Santa Tereza ...... 100,0 56,9 31,3 7,3 0,5 o 0,3 2,1 1,6
MUNICÍPIO DO RIO DE .IANEIRO ...... 100,0 56,0 26.5 8.4 1,2 0,3 0.4 1,6 5,6

FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho - O Valor da Terra Urbana no Município do Rio
de Janeúo, DEJSO-JBGE, 1975.

2b. Distribuição percentual das famílias residentes nas favelas em


domicílios particulares permanentes, em cada classe de renda familiar
per capita mensal, segundo regiões administratiV'as do
município do Rio de Janeiro
1970
RENDA FAMILIAR PER CAPITA MFNSAL (SALÁRIO MÍNIMO)
REGIÕES ADMINISTRATIVAS TOTAL
0 at'8 112 11/2a1
Mais de I Mais de
1a2
J Mais de I Mais de I Mais de I Mais d8
2a5 5a10 10a16 16
ISem
Declara,ão

1- RA- Portuária ... 3,1 2.9 3,2 3.7 3,9 4.7 3,8 4,5 2,8
11- RA- C8ntro ... o o o o o o o o o
111- RA- Rio Comprido. 4,0 3,6 4,2 5,4 5,6 9.0 6,1 5,4 3,9
IV- RA- Botofogo .. 2,5 2,? 3,2 1.9 1,3 r 2,0 2.4 3,8
V- RA- Copacabana. 2.8 2,2 3,5 4.7 4.6 3,5 1.5 2.7 2.5
VI- RA-I.agoa ... 7,2 6.1 8.7 10,6 12,6 3,5 4,9 4,8 6,2
Vil- RA- São Cristovão. 6,1 5,4 7.0 7.5 9,0 3,2 7.4 6,9 6,5
VIII- RA- Tijuca ... 6,0 6,1 5,9 6,0 3,9 4.7 7,4 6,3 6,3
IX- RA- Vila Isabel 2.4 2.4 2,4 2,5 1,3 1,2 4,9 1.7 2.1
X- RA- Rarnos. 15.7 15,6 15.7 15.9 15,1 12,0 14,6 13,8 17,0
XI- RA- Penha. ~.3 10.7 7,6 5,6 7,1 18,4 12.3 10.1 8,8
XII- RA- Méier .. 12.8 13.2 12,0 11.4 11.0 11,4 11.4 12.0 14.5
XIII- RA- Engenho Novo .. 4,4 4,6 3,9 3.4 1,8 7.6 1,1 3,3 5.7
XIV- RA-Irajá ..... 3,8 ~.'I 3,2 3,0 2,3 3,5 4.? 5,6 3,0
XV- RA -- Madureira .. 3,6 3.4 3,4 3,8 5,3 3,5 2.9 3,5 4,9
XVI - RA ·- Jar:arepaguá. 0,8 0,9 0,8 0,8 0,8 1,2 0,5 0,9 o.s
XVII- RA- Bangu ... 4,6 4.8 4,4 t!,3 5,8 6.7 5.1 5,0 3,5
XVIII- RA- Campo Grande .. 0,.\ 0.7 0.3 0,3 o o o 0,4 0,3
XIX- RA- Santa Cruz ... 0,.1 0,4 0,1 0.2 o 1,2 0.7 1,1 0,2
XX- RA --Ilha do Governador .. 3,2 3,3 3,2 2,8 2,2 1.2 1,8 3,3 3.0
XX!- RA- Ilha de Paq~:etá .... o o Q o o o o o
XXII- RA-Anchieta ..... 5,0 5,1 5,0 4,5 5,6 3.5 6,1 3.7 3.7
XXIII- RA- Santa Terw .. 1.9 2.0 2.3 1.7 0,8 o 1,3 ?,6 0,5
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO ... 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100.0

FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho- O Valor da Terra Urbana no Município do
Rio de Janeúo, DEISO-IBGE. 1975.

625
3. Distribuição percentual das famílias residentes e não-residentes
em favelas, com renda mensal per capita de até 1 salário mínimo,
por zonas e regiões administrativas do município do Rio de Janeiro
1970

FAMÍLIAS

ZONAS E REGIÕES ADMINISTRATIVAS Não-Residentes


DO RIO DE JANEIRO Total Residentes em Favelas
em Favelas
·-----
Absoluto \ Relativo Absóluto I Relativo Absoluto I Relativo

TOTAL. ... __ ....... _.... _... -. -........... _. _. 527 427 100,0 421 618 100,0 105 809 100,0

SUL.·-··-·····---··--··---·····--·-······ 39 673 7,5 26 895 6.4 12 778 12,1

IV R. A_ - Botafogo ....... _.... _... 16 376 3,1 13 709 3,3 2 667 2,5
V R_ A. - Copacabana ... _...... _.. 10 083 1,9 7 280 1.7 2 803 2.7
VI R.A.-Lagoa .................. 13 214 2,5 5 906 1.4 7 300 6,9

CENTRO-NORTE ..... _... -.. _............. _ 73 736 14,0 49 175 11.7 24 561 23,2

I R.A.- Portuária .. _............ 8 144 1,5 4 955 1,2 3 189 30,


11 R.A. --Centro .................. 6 392 1.z 6 392 1,5 o 0,0
111 R.A.- Rio Comprido ........... 11 754 2,2 7 738 1,9 4 016 3,8
VIl R. A. - São Cristovão ........... 1z 149 2,3 5 899 1.4 6 250 5,9
VIII R.A.-Tijuca .................. 14 460 2,8 8 098 1,9 6 362 6,0
IX R.A.- Vila lzabel ........ _.... 13 148 2,5 10 588 2,5 z 560 2.4
XXIII R.A. -Santa Tereza_ ........... 7 689 1,5 5 505 1,3 2 184 2,1

NORTE-SUBURBANA ....... _...... __ ._ .... 270 937 51.4 209 236 49,6 61 701 58,3

X R.A. -Ramos .................. 34 154 6,5 17 592 4,2 16 562 15.7


XI R.A.-Penha .................. 43 013 8,2 32 761 7,8 1o 252 9.7
XII R.A.- Méier .................. 50 059 9,5 36 481 8,6 13 578 12,8
XIII R.A.- Engenho Novo ......... _ 21 823 4,1 17 151 4,10 4672 4.4
XIV R.A. -Irajá ................ __ . 35 976 6,8 31 767 7,5 4 209 4,0
XV R.A. -Madureira .............. 37 639 7,2 34 023 8,1 3 616 3.4
XX R. A. - L do Governador ....... 12 373 2,3 8 944 2,1 3 429 3,2
XXII R.A. -Anchieta ............... 35 900 6,8 30 517 7,2 5 383 5,1

OESTE ..... _... __ ._ ... _... -_ .. __ ... -..... _ 142 679 27.0 135 910 32,2 6 769 6.4
XVI R. A. - Jacarepaguá .... _....... 33 402 6,3 32 504 7,7 898 0,8
XVII R.A.-Bangu .................. 57 764 11 ,O 52 836 12,5 4 928 4.7
XVIII R.A.- Campo Grande ........ __ 36 546 6,9 35 938 8,5 608 0,6
XIX R.A. -Santa Cruz ......... __ .. 14 967 2,8 14 632 3,5 335 0,3

Ilha de Paquetá (XXI- R.A.) ........... _ 402 0.1 402 0,1 o 0,0

FONTE: Tabulação Especial do Censo Demográfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho - O Valor da Terra Urbana no Munic/pio do
Rio de JanB!ro, DEISD.IBGE, 1975.

626
4. Distribuição percentual das famílias residentes e não-residentes
em favelas, com renda mensal per capita de até 1 salário mínimo, por
zonas e regiões administrativas do município do Rio de Janeiro
1970

FAM[L!AS

ZONAS E REGIÕES ADMINISTRATIVAS Não-residentes


DO RIO DE JANEIRO Total Residentes em Favelas
em Favelas

Absoluto I Relativo Absoluto I Relativo Absoluto I Relativo

TOTAL ................................. 527 427 100,0 421 618 79.9 105 809 20.1

SUL ...................................... 39 673 100,0 26 895 67,8 12 778 32,3


IV R.A.- Botafogo ............... 16 376 100,0 13 709 83.7 2 667 16,3
V R.A. -Copacabana ............. 10 083 100,0 7 280 72.2 2 803 27.8
VI R.A.- Lagoa .................. 13 214 100,0 5 906 44.7 7 308 55,3

CENTRO-NORTE. ......................... 73 736 100,0 49 175 66.7 24 561 33,3

I R.A.- Portuária ............... 8 144 100,0 4 955 60,8 3 189 39,2


11 R.A.-Centro .................. 6 382 100,0 6 392 100,0 o 0.0
111 R.A.-Rio Comprido ........... 11 754 100,0 7 738 65,8 4 016 34,2
VIl R.A.-São Cristóvão ........... 12 149 100,0 5 899 48,6 6 250 51.4
VIII R.A.- Tijuca .................. 14 460 100,0 8 098 56,0 6 362 44,0
IX R.A.- Vila lzabel. ............ 13 148 100,0 1o 588 80,5 2 560 19,5
XXIII R.A.- Santa Tereza ........... 7 689 100,0 5 505 71,6 2 184 28.4

NORTE-SUBURBANA ...................... 270 937 100,0 209 236 77.2 61 701 22•8

X R.A.- Ramos ................. 34 154 100,0 17 582 51.5 16 562 48,5


XI R.A.- Penha .................. 43 013 100,0 32 761 76,2 10 252 23.8
XII R.A.- Méier .................. 50 059 100,0 36 481 72.9 13 578 27.1
XIII R.A. -Engenho Novo .......... 21 823 100,0 17 151 78.6 4672 21.4
XIV R.A. -Irajá ................... 35 976 100,0 31 767 88,3 4 209 11.7
XV R..li.. - Madureira .............. 37 639 100,0 34 023 90.4 3 616 9.6
XX R.A. -Ilha do Governador ..... 12 373 100,0 8 944 72.3 3 429 27.7
XXII R.A. -Anchieta ................ 35 900 .1 00,0 30 517 85,0 5 383 15.0

OESTE .................................... 142 679 100,0 135 91 o 95.3 6 769 4,7

XVI R.A. -Jacarepaguá ............ 33 402 100,0 32 504 97,3 898 2.7
XV!I R.A.- Bangu .................. 57 764 100,0 52 836 91.5 4 928 8,5
XVIII R.A.- Campo Grande .......... 36 546 100,0 35 938 98,3 608 1.7
XIX R.A. - Sar.ta Cruz .............. 14 967 100.0 14 632 97,8 335 2,2

Ilha de Paquetá (XXI- R.A.) ............ 402 100,0 402 100,0 0,0

FONTE: Tabulação Especial do Censo nemogrâfico de 1970 - In Massena, Rosa Maria Ramalho - O Valor da Terra Urbana no Município do Rio
de Janeiro. DEIS O.IBGE, 1975.

627
5. Distribuição das habitações pertencentes à população removida das
favelas segundo as zonas e regiões administrativas de origem e destino
Município do Rio de Janeiro
1963/1975

ZONAS E REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE DESTINO

ZONAS E REGIÕES ADMINISTRATIVAS Norte Suburr.ana Oeste


TOTAL
DE ORIGEM
XIII XV XVI
X XI XII XVII
Engenho Madu- Jacare-
Ramos Penha Méier Bangu
Novo reira paguá
I

SUL. .... ............ 9 565 1 707 4 942 513 156 750 1 497
IV - Botafogo ...... 2 748 1 221 501 76 950
V - Copacabana ......... 376 376
VI - !agoa ... 6 441 11 o 4 942 12 156 674 547

CENTRO - NDATE .... 5 296 57 167 99 4973


I - Portuária ....... 399 399
li - Cent10 .....
111 - Rio Comprido .... 288 35 253
!V - São Cristóvão ... 456 90 357
VIII - Tijuca .... 4 053 22 77 3 854
IX - Vila Isabel. .. 81 81
XXIII - Santa Tereza ....... 19 10

NO RTF - SUBURBANA ......... 9 981 1 809 1 407 119 365 127 24 6 130
X - Ramos ................ 2 549 232 62 1 255
XI - Penha .... 1 921 255 665 115 10 876
XII - Méier ............ 53 53
XIII - Engenho Novo ........ 1 213 737 365 65 46
XIV - Irajá ..... 2 115 58 4 2 053
XV - Madureira ........... 14 14
XX - Ilha do Governador ...... 420 264 4 151
XXII - Anchieta .... 1 696 1 696

OESTE ........ 305 305


XVI - Jacarepaguá. 15 15
XVII - Bangu ........... 290 290
XVIII - Campo Grande .........
X!X - Santa Cruz ..

Outras ..... 257 95 162


Município do Rio de Janeiro ..... 25 404 3 573 6 516 727 365 382 774 13 067

FONTE: CEHAB/RJ - DEISO-IBGE.

628
6 . Distribuição da população e dos domicílios, total e nas favelas,
segundo zonas e regiões administrativas do município do Rio de Janeiro
1970

TOTAL FAVELAS FAVELAS TOTAL (%)


ZONAS E REGIÕES ADMINISTRATIVAS
Domicílios I População Domicílios I População Domicílios I População

MUNIC(PIO DO RIO DE JANEIRO .. 953 883 4 251 91 8 112 533 565 135 11.8 13,3

SUL. ..... . ............ 170 889 671 092 14 449 68 270 8,5 10.2

IV R.A.- Botafogo. 66 515 256 250 2 692 12 818 4,0 5,0


V R. A. - Copacabana ...... 65 205 239 256 3 176 15 783 4,9 6,6
VI R.A.- Lagoa. 39 169 175 580 8 581 39 669 21,9 22,6

CENTRO-NORTE ... 172 822 712 521 26 415 128 205 15,3 18,0

I R.A.- Portuária ............ 11 911 51 052 3 616 16 246 30.4 31,8


11 R.A.- Centro •... 20 024 59 457
111 R.A.- Rio Comprido ... 23 11 o 96 781 4 726 23 243 20,5 24,0
VIl R. A. - São Cristóvão .. 19 929 90 473 6 928 33 306 34,8 36,8
VIII R.A.-Tijuca .. 44 332 192 094 6 648 33 109 15,0 17.2
IX R.A.- Vila lzabel ..... 37 214 157 980 2 664 12 619 7.2 8,0
XXIII R.A.- Santa Tereza .... 16 302 64 684 1 833 9 682 11,2 15.0

SUBURBANA ...... 424 073 1 928 354 64 537 333 311 15.2 17,3

X R.A. -Ramos .... 51 321 234 605 18 100 92 613 35,3 39,5
XI R.A.- Penha ....... 62 829 286 892 10 526 57 078 16,8 19,9
XII R.A.- Méier .... .......... . . 81 647 364 796 13 885 72 524 17'0 19,9
XIII R.A.- Engenho Novo ... 45 083 195 619 4 814 24 329 10.7 12.4
XIV R.A. -Irajá ....... 53 975 240 433 4 331 22 189 8.0 9,2
XV R. A. - Madureira ....... 60 266 267 321 3 385 16 601 5,6 6.2
XX R. A. - Ilha do Governador .. 21 537 105 651 3 636 19 356 16,9 18,3
XXII R.A. -Anchieta ..... 47 415 233 037 5 860 28 621 12.4 12.3

OESTE ... 185 405 936 701 7 032 35 349 3,8 3,8

XVI R. A. - Jacarepaguá. 48 096 241 017 975 4 725 2,0 20


XV1! R.A.- Bangu ...... 74 773 372 433 5 059 25 597 6,8 6,9
XVIII R. A. - Campo Grande ... 44 499 230 324 602 3 150 1.4 1.4
XIX R.A.- Santa Cruz ...... 18 037 92 927 396 1 877 2,2 2.0

Ilha de Paquetá (XXI- R.A.) ... 694 3 250

FONTES: Sinopse Preliminar do Censo Demográfico- Guanabara- 1970- DEIS O- IBGE.


Censo Demográfico- Guanabara -1970- OEISD- IBGE.

629
BIBLIOGRAFIA

Bibliografia sobre a
Baixada Fluminense e
Grande Rio*
1 -- ALONSO, Delnida Martinez - Alguns aspectos geográficos do mumclPIO de Itaguaí. Anuário
Geogrlifico do Estado do Rio de Janeiro, Niterói (14): 52-97, 1961.

2 - ARAúJO, Aloísio Barbosa de - Aspectos fiscais das áreas metropolitanas. Rio de Janeiro,
IPEA. INPES, 1974. 125 p. (Monografia, 5).

3 - ASSOCIAÇÃO DOS GEóGRAFOS BRASILEIROS - Aspectos da geografia carioca. Rio de


Janeiro, IBGE. 1962. 284 p.

4 - ASTEL ASSESSORES TÉCNICOS- Mapa econômico da Guanabara. Rio de Janeiro, 1969. 2 v.

5 - BARAT, Josef - Estrutura metropolitana e sistema de transportes: estudo do caso do


Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, IPEA. INPES, 1975. 292 p. (Monografia, 20).

6 - - - - Industrialização, urbanização e política de transportes: uma formulação para o


desenvolV'imento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Economia,
Rio de Janeiro, 32(3): 41-71, jul.jset. 1978.

7 - BERNARDES, L.ysia - A área metropolitana do Rio de Janeiro. Revista de Administração


Municipal, Rio de Janeiro, 18(109): 50-60, nov./dez. 1971.

8 - --- Considerações sobre a região do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia,


Rio de Janeiro, 33(4) : 99-107, out./dez. 1971.

9 - -·--. As grandes vias de comunicações do setor comercial da Baixada da Guanabara,


nos primeiros séculos da colonização. Boletim Carioca de Geografia, Rio de Janeiro,
14(3/4) : 57-63, 1961.

10 - ---. Tipos de clima do estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia, Rio
de Janeiro, 14(1) : 57-80, janJmar. 1952.

Levantamento efetuado pelo Departamento de Documentação e Referência da Biblioteca


Central da Diretoria de Formação e Aperfeiçoamento de Pessoal do IBGE. As referências bibliográ-
ficas apresentam-se em ordem alfabética de autor, cobrindo um período de 1947 a 1979.
o levai1tamento restringiu-se ao acervo da Biblioteca Central, o que assegura aos interessados
o acesso a qualquer dos documentos.

~(4):
R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, 631-634, out./dez. 1981 631
11 - BRASil. - Instituto de Planejamento Econômico e Social. Região metropolitana ão Grande
Rio: se1·viços de interesse comum. Brasília, 1976. 264 p., li. (Estudos para o planejamento, 13).

12 - - - - . Leis, decretos, etc. Lei complementar n.o 20, de 1 de julho de 1974., Dispõe sobre
a criação de Estados e Territórios. Seção IV - da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
In: COMISSÃO NACIONAL DE REGIÕES METROPOLITANAS E. POLíTICA URBANA. Política
nacional de desenvolvimento urbano. Brasília, 1975. 68 p., p, 7-8.

13 -BRASILEIRO, Ana Maria et alli - Região metropolitana do Grande Rio: serviços ãe


interesse comum. Brasília, IPEA. IPLAN, 1976. 247 p., (Estudos para o planejamento, 13).

14 -·CASTRO, Pedro - Região Metropolitana - In: O novo Estado do Rio de Janeiro; a• fusão
explicada. Rio de Janeiro, Ed. Sesquicentenário, 1975. 2n p. (Estudos brasileiros) p. 87-98.

15 - CATALDO, Denilda Martinez - Notas para o estudo do núcleo colonial de Santa Cruz
(seção de Piranema) Boletim Carioca de Geografia, Rio de Janeiro, 8(1/2): 32-48, 1955.

16- COMPANHIA CENTRAL DE. ABASTECIMENTO, Rio de Janeiro - Pesquisa sobre consumo
alimentar e orçamentos familiares do Grande Rio. Rio de Janeiro, 1969. 50 f., li.

17- COMPANHIA DO METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO -Pesquisa em ônibus urbanos.


R.io de Janeiro, 1978, 392 p.

18 - CONGRESSO BRASILEIRO DE GEóGRAFOS, 2., Rio de Janeiro, 1965. Roteiros das excursões.
Rio de Janeiro, IBGE, 1965. 80 p.

19 - CORRll:A, Roberto Lobato Azevedo - Uma experiência de colonização na Baixada Fluminense.


Boletim. Carioca de Geografia, Rio de J~"leiro, 15: 39-64, 1962.

20 - CORR:f:A, Sonia Maria de Oliveira - Critérios para o estabelecimento de linhas de transporte


coletivo rodoviário: região metropolitana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1978. 294 p.

21 - CUNHA, Murillo Alves da - O novo Rio de Janeiro; geografia e realidade sócio-econômica.


Rio de Janeiro, F. Alves, 1975. 160 p., i!. Bib!iog·cafia.

22 - FAISSOL, Speridião - Notas sobre o núcleo colonial de Santa Cruz. Boletim Geográfico,
Rio de Janeiro, 7 (82) : 1162-64, jan. 1950.

23 - FRAENKEL, Lêda Maria - Questionamentos sobre o mercado de trabalho das regiões


metropolitanas brasileiras e suas relações com as migrações internas. Rio de Janeiro,
SERFHAU/BNH/OIT, 1974. 29 p. (Encontro Brasileiro de Estudos Populacionais, Rio de
Janeiro, 29 jul./3 ago, 1974) .

24- FRIAS, Luiz Armando de Medeiros & MURAYAMA, Tadeo - Tábuas de mortalidade para
a Região do "Grande Rio" - movimentos internos e suas influências nos padrões de
mortalidade. Rio de Janeiro, 1974. (Encontro Brasileiro de Estudos Populacionais, Rio de
Janeiro, 29 jul./3 ago. 1974).

25- FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE


JANEIRO - Desenvolvimento metropolitano e municipal. Rio de Janeiro, 1977. u.p.

26 - - - - . Macrozoneamento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,


1979. 2 v.

27 - --- Plano diretor. . . Rio de Janeiro, 1976-

28 - ----. Recreação e lazer na região metropolitana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,


1979. 117 p.

29 - ---. Resíduos sólidos na região metropolitana. Rio de Janeiro, 1979. 325 p.

~o - ---. Reurbanização: uma alternativa de expansão urbana. Rio de Janeiro, 1979. 289 p.

31 - - - - Unidades urbanas integradas de oeste; plano diretor. Rio de Janeiro, 1979. 5 v.,
mapas, tab.

32 - GEIGER, Pedro Pinchas - Ensaios sobre a Baixada Fluminense. Boletim Geográfico, Rio
de Janeiro, 10 (110) : 571-9, set./out. 1952.

33 - - - - . Notas sobre formas aparentes de pequenas "cuestas" na Baixada da Guanabara.


Boletim Carioca de Geografia, Rio de Janeiro, 5(3/4): 25-31, 1952.

632
34 - - - - . A regil'io setentrional da Baixada Fluminense. Revista Brasileira de Geografia,
Rio de J·anelro, 18(1): 3-69, jan.jmar. 1956.

35 - ---. & MESQUITA, Myri<>m Gomes Coelho - Estudos rurais da baixada fluminense
(1951-1953) Rio de Janeiro, IBGE, 1956. 211 p. (Biblioteca geogl1áfica brasileira. Série A, 12).

36 - - - - . & SANTOS, Ruth Lyra - Notas sobre a evolução da ocupação humana na Baixada
Fluminense. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro,, 16(3): 291-313, jul./set. 1954

37 - GRABOIS, Gisélia Potengy - Considerações sobre o processo de inserção do migrante à


sociedade urbano-industrial; um estudo de caso na periferia da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, SERFHAU/BNH/OIT, 1974. 38 f. (Encontro Brasileiro de
Estudos Populacionais, Rio de Janeiro, 29 jul./3 ago. 1974) .

38 - GRANDE' Rio - Rodovia, Rio de Janeiro (296) : 6-21, maio/jun. 1972, i!.

39 - GUANABARA. Companhia Central de Abastecimento - Pesquisa sobre consumo alimenta~


e orçamentos familiares do Grande Rio. Rio de Janeiro, 1969. 50 p., i!.

40- GUANABARA. Secretaria de Economia. Departamento de Expansão Econômica Ana


Metropolitana da Guanabara; documento básico. Rio de Janeiro, 1969. p. irreg., 11.

41 - GUERRA, Antonio Teixeira - Paisagens geográficas no Estado do Rio de Janeiro. Bob~tim


Geográfico, Rio de Janeiro, 25(192): 371-4, maiojjun. 1965.

42 - ---. Significado geomorfológico do sambaqui de Sernambetlba. Revista Brasileira de


Gwgrajia, Rio de Janeiro, 24(4): 565-70, out./dez. 1962.

43 - GUIMAR.!í.ES, Maria Rita da Silva -- Estudo da população ativa fluminense e sua utilização
na delimitação das zonas econômicas do estado. Revista Brasileira de Geografia, Rio de
Janeiro, 19(4): 461-75, out,fdez. 1957.

44 - HEREDA, Maria da Glória Campos Causas geográficas do desenvolvimento das olarias


na Baixada da Guanabara. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 17(2): 123-51,
abr,fjun. 1955.

45 - IBGE - Brasil: estimativa da população residente nas Regiões Fisiográficas, Unidades da


Federação, Microrregiões Homogêneas, Areas Metropolitanas e Municípios em 1.' de julho
de 1975. Rio de Janeiro, 1975. 80 p., tab.

46 - - - - . Projeto de pesquisa: tipos de migrações e padrões sócio-econômicos dos migrantes:


Regiõe8 Nordeste e São Paulo - Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro -
julho, 1977. Boletim Demográfico DESPO, Rio de Janeiro, 9(1/2): 6-53, jul./dez. 1978.

47 - ---. O Rio de Janeiro e sua região. Rio de Janeiro, 1964. 146 p. mapas.

48 - KELLER, Elza Coelho de Souza -· Crescimento da população do estado do Rio de Janeiro.


, Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janei~o. 15(1): 165-9, jan./mar. 1953.

49 - LODDER, Celsius A. - Distribuição de renda nas áreas metropolitanas. Rco de Janeiro,


IPEA/JNPES, 1976. 118 P. (Relatório de pesquisa, 31).

50 - MADEIRA, João Lyra - Tábuas de mortalidade do Grande Rio e do munwtpw de Salvador


e análise dos efeitos de alguns grupos escolhidos de causas de morte. Rio de Janeiro, 1974.
(Encontro Brasileiro de Estudos Populacionais, Rio de Janeiro, 29 jul./3 ago. 1974).

51 - MAGALHÃES, José Cezar de - O Impacto do crescimento metropolitano sobre um trecho


do Recôncavo da Guanabara (área entre Nova Iguaçu e Majé) In: IBGE. Curso de injor-
maçõe.~ geográficas. Rio de Janeiro, 1970. p. 169-70.

52 - MAIO, Celeste Rodrigues Sepetiba - contribuições ao estudo dos níveis de erosão do


Brasil. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 20 (2) : 203-20, abr./jun. 1958.
53 - MARTINE, George - Formación de la família y marginalidad urbana en Rio de Janeiro.
Santiago de Chile, CELADE, 1975. 248 p. (CELADE, Série E, 16).

54 - MELLO, Diogo Lordello de - Institucionalização das áreas metropolitanas. Revista de


Administração Municipal, Rio de Janeiro, 15(86): 5-25, jan./fev. 1968.

55 - MENDES, Renato da Silveira Paisagens culturais da Baixada Fluminense. São Paulo,


Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, 1950. 171 p.

56 - - - - . V:ajantes antigos e paisagens modernas na Baixada Fluminense. Boletim Geográfico,


Rio de Janeiro, 4(47): 1437-40, fev. 1947.

633
57 - MOREIRA, Ziede C. - Divisão regional do estado do Rio de Janeiro. Anuário Geográfico
do Estado do Rio de Janeiro, Niterói (14): 1-42, 1961.

58 - OLIVEIRA, Beneva1 - Os solos do núcleo colonial do Tinguá. Anuário Geográfico do


Estado do Rio de Janeiro, Niterói (15): 61-74, 1962-63.

59 SANT'ANNA, Edna Mascarenhas - Estudo geomorfológico da área de Barra de São João


e Morro de São João. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 37(3): 3-15, jul./set.
1975.

60- SCHAEFFER, .Regina P. G. Espindola & GEIGER, Pedro Pinchas - Nota sobre a evolução
econômica da Baixada Fluminense. Anuárto Geográfico do Estado do Rio de Janeiro,
Niterói ( 4) : 93-102, 1951.

61 - SCHNOOR, Jorge - A harmonia do desenvolvimento urbano em função da rede de trans-


porte coletivo de massa. Rio de Janeiro, BNH. Secretaria de Divulgação, 1975. 127 p. i!.

62 - SILVEJRA, João Dias da et alii - Excursão à Baixada Fluminense. Anuário Geográfico


do Estado do Rio de Janeiro, Niterói (8) : 65-76, 1955.

63 - SIMõES, Celso Cardoso da Silva et alii - Análise de algumas características dos migrantes
na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Estatistica, Rio de
Janeiro, 38(149): 1-43, jan.jmar. 1977.

64 - SOARES, Alexandre de Souza - Estudo sócio-econômico do município de Nova Iguaçu.


Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, 25(195): 579-83, nov.jdez. 1966.

65 - SOARES, Maria Therezinha Segadas - Absorção de uma célula urbana pelo Grande Rio
de Janeiro. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, 24 (2} : 155-256, abr.jjun. 1962.

66 - V ALVERDE, Orlando - Geografia econômica do estado do Rio de Janeiro. Boletim Geográfico,


Rio de Janeiro, 16(145) : 520-8, jul./ago. 1958.

67 - ---. O sistema de roças e a conservação dos solos na Baixada Fluminense. Boletim


Carioca de Geografia, Rio de Janeiro, 5 (3/4) : 5-12, 1952.

68 - VE.TTER, David Michael & MASSENA, Rosa Maria Ramalho. Indicadores de acessibilidade
espacial: uma aplicação no Grande Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Estatística, Rio
de Janeiro, 40 (160) : 365-98, out./dez. 1979.

634
TIPOS E ASPECTOS
DO BRASIL

Paraty*
Francisco Barboza Leite
IBGE/CEDIT

Desde 1966 Paraty é considerada cilitando o intercâmbio com o in-


monumento nacional, não sendo terior de Minas e São Paulo.
permitida a construção de nenhum Paraty pasou a ser, então, o pon-
edifício nem a reconstituição dos to de escoamento de especiarias e
prédios antigos sem autorização do de ouro, que se destinavam a Por-
Patrimônio Histórico, medida ado- tugal, sendo elevada à categoria de
tada para impedir qualquer altera- vila em 1660, desligando-se da co-
ção no seu conjunto arquitetônico. marca de Angra dos Reis. O seu de-
Esta é a situação atual de uma senvolvimento sócio-econômico e
cidade onde o passado se fixou em cultural já alcançava grande im-
pedra e argamassa, como um inde- portância, contribuindo o plantio
lével registro da ação do homem so- da cana-de-açúcar para a fabrica-
bre a natureza, em sensíveis refe- ção de uma aguardente que tornou
rências do gosto e do pensamento famoso o seu nome.
que, então, prevaleciam. No entanto, com a descoberta de
Parecem eternas as casas que os novos caminhos, abreviando a in-
séculos deixaram. No calor manso teriorização do País, e o conseqüen-
das sombrias varandas, nos pátios te desvio de interesses que já não
internos ocupados por misteriosos incluíam Paraty em seus objetivos,
silêncios, e nas treliças por onde se tudo foi sendo abandonado na re-
advinham segredos, o adventício gião. As lavouras, o sistema de lo-
vai descobrindo repentinos vestí- comoção marítima, a instrução e a
gios que marcam, nos seus olhos, cultura foram sendo esquecidos
deliciosas impressões. com a emigração que, por falta de
No final do século XVI, sob a in- recursos, começara a tanger a po-
vocação de São Roque, o povoamen- pulação para outros lugares.
to foi estabelecido com a chegada Paraty assumiu a categoria de
dos colonizadores levados por Mar- cidade em 1844, quando já o seu
tim Afonso de Souza, em viagem declínio não podia ser impedido.
feita pelo litoral, do Rio de Janei- Com a paralisação das atividades
ro a São Vicente. Era ali que come- sobre que o seu progresso assenta-
çava a antiga "trilha dos Goia- va, sua economia entrou em colap-
nás", dando acesso ao planalto, f a- so, processando-se uma agonia len-

• o autor manteve a grafia antiga em consonância com o tema do comentário.

R. bras. Geoçr., Rio de Janeiro, ~(4): 635-.fl36, out./dez. 1981 635


ta que acabou tornando-a muito Assim, Paraty ficou imobilizada,
distante, quase inacessível. Resta- no tempo e no espaço, como relí-
ram, no entanto, uma arquitetura quia e evocação, refletindo-se nos
algo singular, cheia de surpresas, espelhos de suas águas com a mes-
e um folclore acentuadamente re- ma graça que ainda encanta e co-
ligioso, que os remanescentes de move tanto aos que a visitam como
sua população primitiva continua- aos descendentes remotos dos que
ram cultivando. a construíram e povoaram.

636

Você também pode gostar