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PO-211: MÉTODOS DE ESTRUTURAÇÃO DE PROBLEMAS

Prof.a Carmen Balderrain


Tarefa 01
Grupo 07: Cinthia de Carvalho Lourenço; Mariana Martins de Lacerda; Vinícius
Bigogno Costa.
01. Escrever o contexto e explique um problema que deve ser abordado por um PSM.
Problema escolhido: Escolha de uma solução para os motores foguete a propulsão
líquida para os futuros lançadores desenvolvidos pela Força Aérea Brasileira.
CONTEXTO: O Programa Espacial Brasileiro (PEB) tem, entre seus objetivos, garantir
a soberania nacional de acesso ao espaço, desenvolvendo e mantendo tecnologias dentro
de seu território e capacitando sua indústria para tanto. Desde seu início, veículos de
sondagem e lançadores têm sido desenvolvidos pela Força Aérea Brasileira, através do
Instituto de Aeronáutica e Espaço, onde a semente do primeiro motor a propelente
líquido foi iniciada há 10 anos com a abertura do Projeto L75. Desenvolvido por um
instituto do Ministério da Defesa (MD), mas patrocinado pela Agência Espacial
Brasileira (AEB), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações
(MCTIC), o L75 teve um aporte de capital bastante vigoroso nos primeiros anos. Com
as dificuldades tecnológicas inerentes a um projeto complexo como o de um motor a
propelente líquido, associado a um cronograma bastante extenso pelo mesmo motivo, os
recursos foram se escasseando ao longo do tempo. No momento, apesar de seu avanço,
o L75 encontra-se estagnado por falta de orçamento para investimentos na fabricação de
modelos, em pessoal capacitado (que está se desligando ou cuja bolsa não é renovada) e
em um banco de ensaios de 100 kN, essencial para a continuação do projeto.
Em 2018, foram realizados novos estudos para compreender os cenários do mercado
espacial, tanto de satélites, quanto de lançadores, e entender como o Brasil deveria se
posicionar diante desse cenário. Assim, através de um comitê interministerial, o Comitê
para o Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro1 (CDPEB), foi definido um
nicho de mercado que o Brasil atenderia com novos veículos lançadores, a futura
família VL-X. Assumindo a premissa do sucesso do Veículo Lançador de
Microssatélites2 (VLM-1), o CDPEB propõe novas soluções que são mais atrativas
comercialmente e que utilizam componentes já desenvolvidos anteriormente, como o
Motor a propulsão sólida S50 (em desenvolvimento pelo IAE, em parceria com a

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O Comitê para o Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB) foi constituído em 2018
para repensar a estratégia de desenvolvimento de soluções tecnológicas de satélites e lançadores, bem
como de infraestrutura para o lançamento e monitoramento da atividade espacial, além de parcerias com
outros países e setores da indústria. Composto de 12 grupos de estudos, dos quais o sexto foi encarregado
de coletar os requisitos de alto nível para a família de lançadores, a família VL-X, que será a evolução do
VLM-1.
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Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1) é um projeto de lançador, desenvolvido pelo Instituto de
Aeronáutica e Espaço (IAE) em parceria com a divisão de foguetes do Centro Aeroespacial Alemão
(DLR-MORABA). Composto de 2 estágios a propelente sólido com o motor S50, em desenvolvimento, e
um último estágio com o motor a propelente sólido S44, já utilizado no Veículo Lançador de Satélites
(VLS). O VLM-1, pelo Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), estava inicialmente previsto
para ser lançado em 2015. A atual previsão de lançamento é para 2022.
AVIBRAS). Para isso, no entanto, é necessário o desenvolvimento de um motor a
propelente líquido para o último estágio do futuro VL-X2.
Há muitas razões para um motor a propulsão líquida como último estágio:
 Maior precisão de inserção em órbita, o que aumenta o número de satélites que
podem ser servidos, além de ser mais seguro em relação a outros objetos em
órbita;
 Maior eficiência: coloca-se um satélite mais pesado com menos massa de
lançador, se comparado com um propelente sólido;
 Maior confiabilidade: em relação a motores sólidos; e
 Extensão do uso: motores líquidos, a partir de uma certa potência, podem ser
arranjados para atuar em estágios iniciais, substituindo motores a propulsão
sólida e dando maior estabilidade e segurança ao voo.
Para o futuro lançador VL-X2, o IAE analisou diversas possíveis soluções e reduziu a
três viáveis:
 Manter o projeto L75, a turbobomba, para aproveitar o desenvolvimento já
realizado até o momento. Isso requereria, no entanto, mais investimentos em
tecnologias essenciais (como turbobomba) para viabilizar o projeto e em um
banco de testes de 100 kN, sem o qual não seria possível realizar todos os testes
necessários. O L75 ainda apresenta a vantagem de poder ser utilizado
posteriormente em estágios iniciais;
 Desenvolver um motor menor, o L25, também a turbobomba, que herdaria
diversas características do L75. Seria necessário, no entanto, alguns passos atrás,
reescalonamento de alguns componentes e analisar a viabilidade do processo em
um motor de menor escala, sobre o que ainda há muitas incertezas. Ainda são
necessários mais investimentos em tecnologias, como a turbobomba e, ao
contrário do L75, não poderia ser utilizado em estágios iniciais; e
 Desenvolver um motor menor, porém elétrico, um L25-E, que utilizaria motores
elétricos para realizar seu funcionamento. Financeiramente, é a alternativa mais
barata, pois elimina a necessidade de uma turbobomba e de um banco de testes
de 100 kN, porém há uma grande incerteza por parte dos especialistas, que
nunca trabalharam com motores elétricos e, por este motivo, tendem a estimar de
maneira mais grosseira custos e prazos associados ao desenvolvimento. Apesar
de ser um motor um pouco menos eficiente, ele atenderia aos requisitos de
inserção em órbita sem grandes problemas, porém, assim como o L25, não
poderia ser utilizado em estágios iniciais.
Além dos fatores técnicos, devem ser observados requisitos de custos unitários de
lançamento, definidos pela AEB, que podem ser alterados sem prévio aviso pelo
patrocinador. Esses custos variam apenas em função do motor a propulsão líquida, dado
que os estágios iniciais são, por premissa, os mesmos nas diferentes soluções. Esse
requisito de custo unitário, com base em estudos técnicos do IAE, é improvável de ser
atingido, independente das soluções técnicas viáveis apresentadas. A solução única
viável e que atenderia ao requisito de custo unitário seria adquirir no exterior um motor
pronto, o que reduziria o custo de desenvolvimento, porém que entraria em contradição
com o principal objetivo do Programa Espacial Brasileiro, que é a soberania e
independência para o acesso ao espaço. Tal decisão poderia encerrar de vez o ciclo de
desenvolvimento de tecnologias para motores foguete a propelente líquido e, assim,
perder toda a capacidade adquirida até o momento e mantida no IAE.
Um ponto ainda que deve ser levado em consideração é o ambiente político que se
desenrola, com constantes cortes orçamentários e pressões para realizações a curto
prazo (geralmente dentro de um ciclo eleitoral), o que amplifica ainda mais algumas
incertezas dentro do problema.
PROBLEMA QUE DEVE SER ABORDADO COM PSM: Levando-se em
consideração as características de problemas típicos para serem abordados com PSM,
conforme apresentado por Mingers e Rosenhead (2004), o problema de escolha do
próximo motor a propulsão líquida pode ser abordado por PSM:
 Múltiplos atores/definição dos stakeholders difusa: há 2 ministérios
envolvidos (MD e MCTIC), além da AEB, o DCTA e o IAE; somem-se a esses
o Governo Federal e atores do setor privado, como a AVIBRAS. Dentro de
cada organização, há indivíduos com diferentes interesses e perspectivas sobre o
mesmo problema.
 Diferentes perspectivas: é um problema que aborda aspectos técnicos e
tecnológicos (avanços ainda necessários, infraestrutura, possibilidade de
aplicação em diferentes soluções após encerrado o projeto), custos e
cronograma, de capacitação e uso de mão de obra qualificada, de mercado de
aplicação da solução e de clima político nas diferentes instâncias.
 Interesses incomensuráveis e/ou conflitantes: enquanto a AEB busca
alternativas mais rápidas e baratas, o IAE apresenta diferentes soluções
tecnológicas que atenderiam aos objetivos técnicos (precisão de inserção em
órbita, confiabilidade etc.) que, porém, impõem custos e tempo de
desenvolvimento e testes dos futuros motores. Há, ainda, o objetivo de manter o
conhecimento e a mão-de-obra que, em se tomando a via da aquisição, será
perdida e os custos incorridos de mais de 10 anos de desenvolvimento não
seriam revertidos em benefícios. Além desses, por fim, há o ambiente político,
com cenários que podem mudar significativamente em ciclos eleitorais.
 Intangíveis importantes: há questões que não podem ser quantizadas
diretamente, como o custo da soberania nacional ou da capacitação, bem como
dos interesses de se ter uma solução em menos tempo. Os indicadores desses
fatores são calculados indiretamente, porém não representam diretamente tais
intangíveis.
 Incertezas em pontos fundamentais: Há diversos pontos de incerteza,
associados a projetos de desenvolvimento tecnológico, como o tempo para o
desenvolvimento, garantia de que a mudança de escala vai funcionar, muitos
riscos que devem ser encarados e fatores que são amplificados pela
inexperiência dos especialistas com a tecnologia de motores elétricos que, por
não trabalharem com faixas de incerteza, acabam inflando significativamente
suas estimativas de custo e prazo com relação ao L25-E. Do outro lado, há a
incerteza da definição do principal ponto a ser abordado, se será o custo ou a
soberania e, caso o primeiro, qual a continuidade do fornecimento dos motores,
dado que é uma tecnologia que está sujeita a embargos internacionais.
02. Mostre as características de um wicked problem.
Lynelle Briggs, comissionária do serviço público australiano, apresenta no site da
Australian Public Service Comission (2018) um texto em que cita a origem do termo
wicked problems, apresentado por Rittel e Webber em 1973 sobre dilemas na teoria de
planejamento. Segundo Briggs:
 Wicked problems são difíceis de se definir claramente, isto é, diferentes
stakeholders têm diferentes visões sobre o problema;
 Wicked problems possuem muitas interdependências e frequentemente são
multi-causais
 Abordagens a wicked problems frequentemente levam a consequências não
previstas inicialmente, devido a propriedades emergentes que derivam das
múltiplas interdependências e fatores multicausais;
 Wicked problems geralmente não são estáveis, isso porque as condições do
problema estão evoluindo enquanto se está tentando entender ou atacar o
problema;
 Wicked problems frequentemente não possuem uma solução clara ou definitiva e
geralmente soluções são ditadas por restrições, como cronograma, orçamento
etc.
 Wicked problems são mais complexos pelo fator social do que pelo fator técnico;
 Wicked problems raramente são de responsabilidade de uma única organização,
isto é, envolve a participação de múltiplos atores e com diferentes interesses;
 Wicked problems envolvem mudanças comportamentais, compromissos,
negociações e influência;
 Alguns wicked problems são caracterizados pelo fracasso crônico de políticas e,
a longo prazo, parecem intratáveis.
BRIGGS, L. “Tackling wicked problems: a public policy perspective”. APSC, 2018.
Disponível em: https://www.apsc.gov.au/tackling-wicked-problems-public-policy-
perspective acesso em 08/03/2020 às 18:55.
RITTEL, H. W. J., e WEBBER, M. M. “Dillemas in a General Theory of Planning”.
Policy Sciences 4 (1973), 155-169. Disponível em:
https://archive.epa.gov/reg3esd1/data/web/pdf/rittel%2bwebber%2bdilemmas
%2bgeneral_theory_of_planning.pdf acesso em 08/03/2020 às 19:10.

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