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Theodor W. Adorno
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Palestra feita para os acadêmicos da universidade técnica Kalrsruhe em 10 de novembro
de 1953. Suas referências originais são: “Über Technik und Humanismus”. In Gesammelte
Schriften 20, Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1986. Tradução de Antônio Álvaro
Soares Zuin, professor-adjunto do departamento de educação da UFSCar e membro do
grupo de pesquisa Teoria Crítica e educação - UFSCar/UNIMEP/ UNESP-Araraquara.
Revisão técnica de Bruno Pucci, Newton Ramos-de-Oliveira e Renato Franco.
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Por isso, desde o início, advirto aos senhores quanto à confiança ingênua na
divisão de trabalho, além de se esperar o esclarecimento sobre a formação e o
humanismo por parte dos que lidam profissionalmente com este domínio. O
fato da formação e o humanismo serem associados automaticamente a
determinadas profissões e conhecimentos especiais indica que algo está
errado. Portanto, os senhores não devem esperar obter, por meio de suas
questões precisamente formuladas, teses precisas e inequívocas. Se eu, na
maior parte dos casos, não responder suas dúvidas com rígidos “sim” e “não”
isto não expressa frouxidão ou nervosismo. Muitas vezes as questões se
relacionam a uma realidade de tal forma enredada que estas não se deixam
resolver simplesmente com um “sim” ou um “não”. O próprio conceito de
resolução é inconveniente em relação a tais questões.
Antes de mais nada, pergunta-se se a técnica atual pode ser
compreendida como um processo autônomo ou se ela possui sua própria
legalidade. Sim e não. Por um lado, os problemas técnicos prescrevem
processos em si fechados e rigorosos, organizados de acordo com regras das
ciências naturais matemáticas e, por fim, processos subjetivos e objetivos.
Utiliza-se da estática para que uma casa construída não desmorone. A estática
se fundamenta num contexto tecnologicamente fechado, cuja autonomia
dificilmente pode ser contestada. Caso os senhores começassem a falar em tais
contextos com um sociólogo, que desejasse atentar contra suas fórmulas, então
os senhores, com razão, o afastariam mais do que depressa de seus postos de
trabalho.
Por outro lado, tais processos também não se realizam no vácuo. Não há
nenhuma atividade tecnológica que não se realize na sociedade. As atividades
dos senhores lhes são atribuídas na forma de solicitações da sociedade.
Se os senhores se sentem como se fossem os chefes de uma casa são,
por outro lado, confrontados com exigências sociais, tal como quando lhes são
solicitadas soluções que devem permanecer no quadro das possibilidades
financeiras, sendo que tais soluções devem se revelar rentáveis e serem
freqüentemente esperadas em um tempo determinado. Contudo, muito além
deste fato, o desenvolvimento geral da tecnologia é determinado socialmente.
Sociedade e técnica se encontram entrelaças desde o início da nova era,
de tal modo que perguntar sobre a prioridade da economia em relação à
técnica ou vice-versa significa o mesmo que questionar quem nasceu primeiro:
o ovo ou a galinha. E, se eu não me engano, a composição interna do trabalho
técnico também é afetada por conta deste fato. Os objetivos sociais não são
nada alheios àquilo que teriam que considerar. Não estou me referindo ao fato
de que, particularmente, os desenvolvimentos tecnológicos mais decisivos de
nosso tempo foram imediatamente criados através de uma paradoxal
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