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PARTE 3

Principais centros culturais de produção e difusão de sínteses e inovações


AS CONDIÇÕES DA EXPANSÃO CULTURAL

ÉPOCA MODERNA – Período cronológico da história da humanidade que se situa entre meados
do século XV e finais do século XVIII. Durante este período decorreram as descobertas marítimas e o
encontro de povos, o triunfo do capitalismo comercial e ascensão burguesa, o absolutismo régio, o
Renascimento, a Reforma e a afirmação do espírito científico. O ano da conquista de
Bizâncio/Constantinopla pelos Turcos Otomanos, em 1453, marca o início da Época Moderna e a
Revolução Francesa, em 1789, marca o se fim.
As cidades recuperaram da fome, da peste e da guerra, reanimando-se e fazendo prosperar as elites
burguesas e aristocratas, descobrem-se novas técnicas e conhecimentos como a náutica, a cartografia, novas
rotas marítimas como as rotas do Cabo e das Américas, a descoberta da imprensa e a utilização de armas de
fogo revolucionaram a vida.

O RENASCIMENTO – ECLOSÃO E DIFUSÃO

RENASCIMENTO – Termo criado pelo pintor e escultor italiano Giorgio Vasari para designar, a
partir do século XV, um ressurgimento/renovação da literatura e das artes, baseado nas obras e nos
autores da Antiguidade Clássica (Gregos e Romanos).

A EUROPA NOS SÉCULOS XV E XVI: DIFUSÃO DE SÍNTESES E INOVAÇÕES

COMO SE EXPLICA QUE O RENASCIMENTO TENHA APARECIDO NA ITÁLIA

O Renascimento nasceu na segunda metade do século XV em Florença, sob o governo da família


Médicis.

Vitalidade económica do século XV

Inovações técnicas
- mineração Descobrimentos e expansão
Recuperação demográfica marítima
- metalúrgica
- processos técnicos aplicados à - náutica
produção agro-industrial - energia
- cartografia
- desenvolvimento urbano - hidráulica
- novo paradigma geográfico
- capitalismo comercial e financeiro - têxteis
- mentalidade quantitativa
- seda
- experiencialismo
- alúmen
- cosmologia
- papel
- vidro
- imprensa

A Itália foi o berço do Renascimento pela conjugação de vários fatores:

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 A rivalidade política entre os pequenos Estados que desejavam ultrapassar-se uns aos outros em
grandeza cultural e artística;
 A prosperidade económica graças ao comércio com o Oriente e o Norte de África;
 As famílias sedentas de protagonismo;
 A vinda dos sábios bizantinos para a Itália;
 A herança da civilização clássica patente nas ruínas dos monumentos.

Principais centros dinamizadores da cultura renascentista:


 Florença
 Roma
 Veneza

Difusão do Renascimento na Europa:


 Por estudantes-bolseiros, intelectuais e artistas que iam a Itália.
 Papel das universidades, das cortes e dos círculos aristocráticos e burgueses.
 Renascimento italiano misturado com as tradições locais.
 Nos Países Baixos, a invenção da pintura a óleo.
 Na França, o incremento dos estudos humanísticos e da decoração arquitetónica com influências
clássicas.
 No Santo Império Germânico, o florescimento do humanismo, da ciência e de pintura.
 A Inglaterra como pátria de famosos humanistas.
 Propagação do humanismo aos reinos ibéricos, à Hungria e à Polónia.

Contexto em que decorre o Renascimento


Dinamismo civilizacional do Ocidente patente em:
 Fim da "sinistra trilogia" da fome, peste e guerra.
 Reanimação económica do Ocidente medieval.
 Recuperação demográfica.
 Prosperidade burguesa.
 Abertura da Europa ao mundo graças à expansão marítima dos povos ibéricos.
 Progressos na náutica (navios e instrumentos de navegação), na cartografia e na artilharia (pólvora e
armas de fogo) que apoiam a abertura ao mundo e permitem que a Europa se superiorize perante
outros continentes e povos.
 Invenção da imprensa com caracteres móveis, que espalha os saberes religiosos, humanísticos e
técnico-científicos, difunde notícias e facilita a troca de ideias, aproximando o mundo.

O COSMOPOLITISMO DAS CIDADES HISPÂNICAS - IMPORTÂNCIA DE LISBOA E SEVILHA


Cosmopolitismo das cidades hispânicas:
Relacionado com a expansão marítima europeia de que Portugal e a Espanha foram pioneiros, isto é,
com a primeira globalização da História moderna, Lisboa e Sevilha como as cabeças dos dois primeiros
impérios coloniais europeus.
A importância de Lisboa e Sevilha:
 Na Europa ocidental, Lisboa e Sevilha tornaram-se, no século XVI, nas portas abertas do Velho
Continente para um mundo novo, como ponto de partida e de chegada das rotas transoceânicas, que
interligavam a Europa, a África, a América e a Ásia. O cosmopolitismo das cidades ibéricas constituiu
um fator de atração de gentes de toda a Europa, que traziam
também consigo as novidades culturais.

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 Pelo conhecimento de experiência feito de novas terras, novos mares, novos povos e novos produtos, os
países ibéricos deram um contributo peculiar para a vivência universalista da cultura do Renascimento.

LISBOA
 Metrópole comercial onde afluíam as mercadorias do Império Português (açúcar, ouro, escravos,
marfim, pimenta e outras especiarias, pedras preciosas, pérolas, sedas, pau-brasil) e da Europa (cobre,
mercúrio, cereais, têxteis).
 Casa da India como armazém dessas mercadorias.
 Bazares na Rua Nova dos Mercadores.
 Crescente movimento portuário, onde se concentravam as tripulações das armadas, mercadores e
financeiros, soldados, missionários e aventureiros.
 Crescimento demográfico (pela concentração de população oriunda do reino e pelos escravos negros)
 Construção naval na Ribeira das Naus.
 Metrópole política, com a instalação da corte e da administração.
 Reconstrução urbanística (o novo Paço da Ribeira, a Alfândega Nova, o Hospital de Todos os Santos, a
Igreja da Madre de Deus, o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém).

SEVILHA

 Metrópole comercial, único lugar de partida e de chegada das armadas da Carreira das Índias.
 Recebia o ouro, a prata, o açúcar, as plantas tintureiras das Índias (domínios americanos da Espanha) e
as pérolas e especiarias das Filipinas transportadas pelo galeão de Manila para as Índias.
 Casa da Contratação a dirigir a política colonial da Espanha, onde se concentravam as mercadorias
enviadas e recebidas do Império. Afluxo de firmas comerciais estrangeiras, atraídos pelas cargas de
metais preciosos que dinamizavam a economia europeia.
 Azáfama do porto fluvial.
 Estaleiros navais.
 Riqueza arquitetónica dos edifícios góticos, mouriscos e renascentistas (a Catedral com a torre da
Giralda, o Alcázar, os palácios).

O CONTRIBUTO PORTUGUÊS
Nos séculos XV e XVI coube ao reino de Portugal um poderoso e inestimável contributo para o
alargamento do conhecimento do mundo e para a síntese renascentista. Tal se deveu à
expansão/descobrimentos marítimos de que os Portugueses foram pioneiros e que se saldou na primeira
globalização da história moderna.

A expansão permitiu:

 descoberta de novas terras, novos mares, novas estrelas e novas plantas, sabores e riquezas
 passagem da navegação de cabotagem (junto à costa) para uma navegação astronómica (pelos
astros)
 conhecer a real configuração da Terra-um globo que se pode percorrer, dando ao ser humano a perceção
de domínio do espaço geográfico
 assegurar a conexão entre os vários povos da Terra que mutuamente se conheceram, num processo de
descoberta da alteridade
 criar e articular, graças às novas rotas intercontinentais, um espaço comercial à escala global, em que as
trocas de produtos se fizeram acompanhar da circulação de pessoas e de intercâmbios culturais

Primeira globalização da história moderna:

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 Construção de um império global naval OU império marítimo, graças às viagens marítimas/Expansão/
Descobrimentos.
 Domínio de territórios ultramarinos localizados na África, Ásia e América e articulados por uma rede de
rotas intercontinentais e inter-regionais percorridas pelas armadas.
 Criação de um espaço comercial à escala do globo, em que as trocas de mercadorias se realizam de
forma complementar, permitindo umas a compra de outras.
 Circulação de pessoas à escala global: marinheiros, comerciantes, missionários, colonos, funcionários,
escravos.
 Intercâmbios culturais: língua, costumes, religião.

Antes do Renascimento Depois do Renascimento

Geocentrismo - teoria segundo a Heleocentrismo - os estudos


qual, a Terra, por ter sido criada provaram que era o sol o centro. Esta
por Deus, está no centro do teoria não é aceite pela Igreja
Universo

Teocentrismo - Deus ocupa o


centro do universo Antropocentrismo - Homem passa a
ser a figure central e tem capacidade de
escolher o próprio caminho

FATORES DA EXPANSÃO
 Económicos:
 Falta de moeda e de cereais
 Necessidade novos mercados e produtos
 Falta de mão de obra
 Sociais
 Clero: combater o infiel e expandir a fé cristã; obter rendas e doações
 Nobreza: conquista de terras e obtenção de rendimentos; aceder a cargos e títulos
 Burguesia: aumentar os rendimentos e conquistar novos mercados
 Políticos:
 Ocupar a nova nobreza que tinha apoiado D. João I na ascensão ao trono
 Reforçar a iniciativa régia com o apoio e envolvimento dos filhos de D. João I
 Religiosos:
 Difundir a fé cristã e combater o infiel

1ª FASE DA EXPANSÃO:
 Norte de África – a partir de 1415 com a conquista de Ceuta
 Arquipélagos Atlânticos (Madeira e Açores) – a partir de 1418
 Litoral africano – a partir de 1434
 Período henriquino – (1434-1460) período em que o Infante D. Henrique (filho de D. João I) esteve à
frente dos descobrimentos
 Descoberta do caminho marítimo para a Índia – (1497-1498)
 Descoberta do Brasil – (1500)

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O PAPEL DOS PORTUGUESES NA ABERTURA EUROPEIA DO MUNDO
O IMPÉRIO PORTUGÊS:
 O cosmopolitismo de Lisboa
 O primeiro poder global naval
A PROSPERIDADE DAS POTÊNCIAS IMPERIAIS:
 Tráfico de seres humanos
O COMÉRCIO INTERCONTINENTAL: O COSMOPOLITISMO DE LISBOA
Lisboa: centro de comércio
 Ponto de partida de viagens de descobertas
 Ponto de chegada dos novos produtos – a capital das especiarias
 Ligação entre a Europa, Ásia, África e América
A PRIMEIRA GLOBALIZAÇÃO

Sistema mundial de rotas que ligou povos e culturas da Europa, América e África

O contributo de Portugal: Consequências:

 Criou e controlou novas rotas  Deslocações intercontinentais


 Deteve o exclusivo do comércio  Comércio global
 Novos produtos As
 Pôs em contacto diferentes partes do globo
 Trocas interculturais
viagens de descoberta nos séculos XV e XVI,
permitiram:
 A interligação da Europa com outros continentes
 A criação de novas rotas intercontinentais
 A circulação de pessoas e produtos
 A difusão de hábitos alimentares e culturais

OS DESCOBRIMENTOS E A PRIMEIRA GLOBALIZAÇÃO


 Consequências:
 Os europeus impuseram alterações culturais e religiosas às comunidades indígenas
 O racismo esteve associado ao processo e domínio de colonização
 O domínio dos Europeus provocou a escravização dos povos indígenas

A ESCRAVATURA
 A escravização generalizou-se durante os séculos XV e XVI
 O tráfico de seres humanos, principalmente de África, tinha diversos destinos:
 Metrópole

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 Arquipélagos atlânticos
 Territórios coloniais
 A prática esclavagista intensificou-se:
 Assegurou a produção económica nas plantações das Américas
 Garantiu a prosperidade de vários impérios coloniais que se formaram

2.1.3 INOVAÇÃO TÉCNICA

 Construção da caravela, cujas velas triangulares permitiam navegar contra o vento (bolinar).
 Construção de naus e galeões robustos, com velas redondas e triangulares, apetrechados com artilharia.
 Prática da navegação astronómica: medição da altura dos astros com o quadrante, astrolábio e balestilha;
cálculo da declinação solar (ângulo que o Sol forma com o equador celeste devido ao desalinhamento do
eixo da Terra); adição ou subtração deste valor (conforme se está no hemisfério norte ou sul) à altura e
cálculo da latitude.
 Elaboração de Livros de Marinharia, Guias Náuticos e Roteiros com informações astronómicas,
oceanográficas e meteorológicas úteis à navegação.
 Elaboração de cartas geográficas de traçado e projeção rigorosos, com a inclusão de novas terras, mares,
etnias, faunas, floras, troncos de léguas, escalas de latitudes.

2.1.4 OBSERVAÇÃO E DESCRIÇÃO DA NATUREZA:

 Registos pormenorizados, resultantes do contacto direto com a realidade (experiencialismo),


sobre: continentes, mares, pormenores costeiros, distâncias, marés, ventos, climas;
 Movimento dos astros, latitudes;
 Povos e seus costumes;
 Novas floras e novas faunas.
 Ampliou-se o conhecimento geográfico da superfície terrestre, adquirindo-se uma mais correta
perceção dos continentes e mares e das distâncias;
 Conheceram-se redes hidrográficas, climas, o funcionamento dos ventos, das correntes
marítimas e marés e outros fenómenos meteorológicos,
 Provou-se que as zonas equatoriais são habitáveis e que a pele negra de alguns dos seus
habitantes não se devia ao calor extremo dos raios solares;
 Demonstrou-se a esfericidade da Terra e a existência de antípodas (pontos diretamente
opostos na superfície terrestre);
 Alargaram-se os conhecimentos cosmográficos, explicando-se movimentos dos astros e
calculando-se as latitudes;
 Cresceu o leque de conhecimentos étnicos, botânicos e zoológicos.
Sintetizando:

O papel dos portugueses na abertura europeia

Inovação técnica Viagens de descoberta Primeira globalização


Encontro de culturas

Técnicas de navegação Portugal: primeiro Desenvolvimento do


poder global naval comércio

Permutas de culturas
Afirmação dos Tráfico de seres
primeiros impérios humanos
coloniais 6
CONHECIMENTO CIENTÍFICO DA NATUREZA
Matematização do real:

 Mentalidade quantitativa - crescente utilização dos números para expressar quantidades,


distâncias, durações, latitudes, funduras, pesos, proporções.
 Progressos na álgebra e na geometria.
 Método científico - demonstração matemática das hipóteses levantadas pela observação e descrição
da Natureza OU articulação da experiência com o raciocínio matemático.

Revolução das conceções cosmológicas:

 Negação, por Copérnico, da teoria geocêntrica de Ptolomeu, ao dizer que a Terra não é o centro do
Universo.
 Substituição do geocentrismo pelo heliocentrismo, ao dizer que o Sol é o centro do Universo, em
torno do qual gravitam os outros astros.
 Defesa de que a Terra se move em torno do próprio eixo (movimento de rotação) e em torno do Sol
(movimento de translação).

DISTINÇÃO SOCIAL E MECENATO


MECENAS – pessoa rica que contrata e sustenta artistas para que eles possam fazer a sua arte
Crente na superioridade do ser humano e no poder do individuo, o tempo do Renascimento viu
nascer uma atitude otimista de exaltação da vida, pouco habitual na Idade Media. A alegria pela existência
foi particularmente notória nas elites sociais, também chamadas de cortesãs, que reuniam nobres e
burgueses em busca de ascensão.
Rodeadas de luxo, conforto, beleza e sabedoria, as elites ostentavam vestes sumptuosas, ricos
palácios e solares, consumiam requintadas iguarias, investiam em obras de arte e nas suas bibliotecas,
pelo que se converteram em focos de mecenato.
Às elites se deveram famosas cortes, como a dos Sforza em Milão, dos Médicis em Florença ou a dos
duques de Urbino, que rivalizavam com as cortes de reis e papas. Nessas cortes, destacou-se a figura do
cortesão, considerado a imagem perfeita e ideal do homem do Renascimento. Este era um modelo de
talentos físicos e intelectuais, de qualidades morais e de boas maneiras. Distinguia-se pelo seu porte,
revelado no modo como cavalgava, andava, gesticulava e dançava.
Exigentes regras de comportamento condicionavam e vida das elites cortesãs desde a infância.
Conhecidas por civilidade, essas regras instruíam sobre o que se deveria comer, vestir, como cumprimentar,
falar, estar e até, sobre preceitos de higiene pessoal. A par do esclarecimento intelectual, da superioridade
moral e da elegância da figura, damas e cavalheiros procuravam sobressair pela delicadeza das maneiras.
Prática do mecenato:
 Fornecia proteção aos artistas e humanistas por parte das elites sociais, de príncipes, reis e papas, que
lhes encomendavam obras artísticas e literárias, fundavam bibliotecas, escolas e universidade,
concediam bolsas
 Conferia destaque social e imortalidade aos mecenas
Estatuto de prestígio dos intelectuais e artistas:
 O seu reconhecimento como seres superiores e criativos, distintos dos vulgares artífices
 Alvo de culto da personalidade, como foi o caso de Miguel Ângelo
 O orgulho na capacidade criadora levou muitos artistas a assinarem as suas obras, assim se distinguindo
de um qualquer artífice habilidoso

HUMANISTAS:
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 Homens letrados do Renascimento, interessados em várias áreas do saber
 Revitalizavam as línguas e as letras da Antiguidade Clássica
 Ensinavam em universidades e publicavam obras
 Procuraram harmonizar os valores clássicos como o Cristianismo (somos todos iguais e
devemos ajudar e respeitar os outros, especialmente os mais pobres)

 Estudo das obras greco-romanas


 Estudo do latim, grego e hebraico
 Tradução dos textos clássicos

Os humanistas foram responsáveis pelo desenvolvimento de uma crítica social, condenando os


comportamentos indignos e a corrupção moral das elites. Alguns destes humanistas conceberam mundos de
perfeição em forma de utopia, com o propósito de melhoramento das indivíduos e grupos sociais:
 Na Inglaterra, destaca-se a Utopia de Thomas More:
 Critica a sociedade inglesa, o luxo e ostentação de uns e a miséria de outros
 Na ilha imaginária da Utopia encontramos uma sociedade justa e igualitária, de propriedade
coletiva (era tudo de todos)
 Valorização das letras e da música
 Defesa da tolerância religiosa
 Nos Países Baixos, o Elogio da Loucura de Erasmos de Roterdão:
 Critica o clero, denunciando o seu desregramento e o comércio das indulgências
 E as crendices e superstições típicas da sociedade do seu tempo

 Na França, temos Gargântua e Pantagruel de François Rabelais:


 Crença nas capacidades do ser humano
 Valorização da educação humanista e universalista
 Ausência de regras rígidas
 Afirmação do individualismo
 Defesa da liberdade absoluta
 Em Portugal, Os Lusíadas de Luís de Camões:
 No canto IX, Camões apresenta a sua utopia, a “Ilha dos a Amores”, com a liberdade amorosa
para os marinheiros, heróis lusitanos da armada de Vasco da Gama.
Objetivos do Humanismo:
 Formar homens cultos e virtuosos, que usam a Razão
 Evidenciar as capacidades do espírito humano
 Mostrar que o Homem é o ser mais perfeito da criação

CLASSISISMO
O culto da estética e dos valores da Antiguidade Clássica, o classicismo, foi uma das características mais
distintivas da cultura renascentista.
Os fatores que motivaram este culto foram:
 A queda do Império Romano do Oriente, que levou ao exílio de muitos intelectuais bizantinos para a
Península Itálica
 O desenvolvimento de um clima de curiosidade em torno dos vestígios materiais e do passado glorioso
do Império Romano
 A difusão dos textos da Antiguidade, facilitada pela invenção da imprensa
 A veneração do saber dos antigos a quem era conferido o carácter de autoridade, o que se refletiu na
sobrevalorização das letras em relação às demais do conhecimento

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 A promoção cultural e artística pela ação dos mecenas que tornavam os seus palácios em centros de
erudição
ANTROPOCENTRISMO
Na visão antropocêntrica dos humanistas, o homem é senhor do seu próprio destino, e, por meio do
uso da razão, pode atingir a sua realização plena.
 A produção artística passou a ser equiparada à produção intelectual
 Alguns artistas eram humanistas
 A criação artística assemelhava-se à criação divina
 O artista tinha a capacidade de fazer uma leitura racional do universo sensorial que o rodeava e de o
verter nas suas obras
A REINVENÇÃO DAS FORMAS ARTÍSTICAS
A arte do Renascimento consolidou a rutura com as conceções e técnicas de representação da arte
medieval:
 Contou com as experiências destes percursores
 Beneficiou do renascer das fontes de inspiração da Antiguidade Clássica (classicismo)
A par do florescimento da produção literária, proporcionado pelo movimento humanista, o
Renascimento operou ume autêntica revolução no campo da arte.
A nova estética irradiou da Itália e, tal como o Humanismo, apresentou se marcada pelo classicismo.
Se os humanistas procuravam avidamente manuscritos, os artistas deleitavam se com as estatuas e os
monumentos descobertos pelas escavações arqueológicas levadas a cabo em Roma. Papas e outros
mecenas colecionavam peças antigas, que veneravam como relíquia.
Imitar as formas e as temáticas dos clássicos tornou-se corrente entre os artistas renascentistas, que,
no arte greco-romana, viam a exemplo de harmonia, da proporção e da suprema beleza. Porem, a admiração
pelos clássicos jamais conduziu a uma imitação servil.
Assim como os humanistas tiveram consciência dos seus talentos e se revelaram pessoas críticas e
interventivas, também os artistas superaram os modelos da Antiguidade. Demonstraram uma notável
capacidade técnica no utilizarem a perspetiva e ao pintarem a óleo. Ultrapassaram os clássicos com o
naturalismo na representação de seres humanos, animais, paisagens. Pela Europa fora, aliás, produziu-se
uma arte rica e inovadora, resultado, tantas vezes, de curiosas sínteses das influências clássicas com as
tradições nacionais, como foi o caso da arte manuelina em Portugal.

INFLUÊNCIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA NA ARQUITETURA RENASCENTISTA:


 Na mestria e na técnica
 Na perfeição e elegância formal
 No rigor matemático e nas proporções
 Na clareza e harmonia racional da gramática decorativa greco-latina
 No emprego de colunas, entablamentos e uso das ordens clássicas, nomeadamente a coríntia e a
compósita
 No uso do frontão triangular, nas fachadas e janelas
 No uso da cúpula, tornada elemento essencial das igrejas renascentistas
 No uso das abobadas de berço
 Na decoração com usos grotescos, ao gosto romano
A arte renascentista assume a herança da Antiguidade Clássica, mas procura soluções técnicas
inovadoras para superá-la:
 Procuram a matematização rigorosa do espaço arquitetónico
 Estabelecem relações proporcionais entre as partes do edifício (altura, largura e profundidade)
 Recorrem à geometrização, fazendo o uso do círculo e de outras formas consideradas perfeitas

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A IMITAÇÃO E SUPERAÇÃO DOS MODELOS DA ANTIGUIDADE
Classicismo é o nome que se dá á tendência estética que assenta na imitação das formas clássicas
na literatura e nas artes plásticas. Isto é, os homens das letras e das artes do Renascimento inspiraram-se nos
modelos clássicos e procuraram reproduzir as suas características, todavia, não se limitaram a uma
imitação passiva dos modelos greco-latinos Habilitados com as inovações técnicas e com elementos
culturais novos proporcionados pelo novo conhecimento do mundo, os artistas do Renascimento, mais do
que imitar, acabaram por produzir uma plástica inteiramente nova. Fazer melhor do que os artistas gregos e
romanos que lhes serviam de modelos acabou por ser o grande desafio que os artistas renascentistas se
propuseram.
Por conseguinte, a estética renascentista não pode dissociar-se das características clássicas nas suas
manifestações de individualismo, naturalismo, realismo e racionalismo, patentes:
 na valorização do individuo e da sua liberdade
 na exaltação da dignidade humana e das suas realizações
 no realismo patente na representação do corpo humano, nu ou vestido, e no retrato que
reproduz fielmente os modelos
 na preocupação em reproduzir fielmente a Natureza
 no predomínio da razão sobre o sentimento

A CENTRALIDADE DO OBSERVADOR NA ARQUITETURA E NA PINTURA


A pintura, em particular, foi a manifestação plástica mais original do Renascimento. Os pintores
renascentistas, fortemente classicistas nos temas, conseguiram abrir largos caminhos à inovação, na forma
de os representar. Recorrendo a novas técnicas e a novos suportes transformam a pintura na arte mais rica do
Renascimento.
Na pintura, a paixão pelos clássicos fez-se sentir no gosto pela representação da figura humana, quer
se tratasse de temas profanos – retirados da Antiguidade Clássica e do quotidiano –, quer de assuntos
religiosos, inspirados na Bíblia. Deste modo, a pintura refletia a redescoberta do Homem e do indivíduo, o
que foi uma imagem de marca da cultura antropocêntrica do Renascimento. Porém, o que mais vinca a
pintura renascentista é a sua originalidade e criatividade, patentes na criação de um novo espaço pictórico.

A INFLUÊNCIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA NA ESCULTURA E NA PINTURA


RENASCENTISTAS:
 a arte do retrato que retoma o gosto clássico de prestar culto à individualidade, por vezes, com tal
realismo que nem as imperfeições físicas são omitidas, como fez Memling e Ghirlandaio
 o realismo e naturalismo de figuras do povo na sua vida quotidiana, como fez Bruegel, o Velho; de
paisagens exuberantes, como as de Van Eycke e na expressividade dos corpos e dos rostos, conseguidos
por Leonardo da Vinci
 os temas inspirados na mitologia clássica, humanizada por Botticelli, em ambientes de pujante
naturalismo
 o cuidado na composição geométrica dos quadros, visível na obra de Rafael
 o conhecimento da anatomia humana e pelo culto do nu praticado por Miguel Ângelo
 a aplicação das leis da perspetiva, deveu-se aos estudos matemáticos sobre a perspetiva dos arquitetos
Brunelleschi e Alberti e do pintor Piero della Francesca.
Segundo esses estudos, o campo de visão do observador, também chamado de pirâmide visual, é estruturado
por linhas que tendem a unificar-se no horizonte, convergindo para um ponto de fuga. Servindo-se do
cruzamento de linhas obliquas e de horizontais com verticais, de efeitos de luzes e cores e de aberturas
rasgadas nos fundos arquitetónicos, os artistas exploraram o campo de visão referido, construindo um
espaço tridimensional (terceira dimensão), com profundidade, relevo e volume. Assim se obteve a
chamada perspetiva linear – Na perspetiva linear, as linhas do quadro ou do desenho convergem para

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o fundo, para o chamado ponto de fuga, de modo a criar-se um espaço geométrico no qual as figuras
mais afastadas têm menores proporções.
 a prática da pintura a óleo, inventada na Flandres por Jan Van Eycke, que confere ao quadro maior
luminosidade, brilho, variedade de tonalidades e durabilidade. Graças a estas potencialidades do óleo os
artistas conseguem dar volume aos corpos, recorrendo aos contrastes de luz e sombra, e criar a ilusão de
afastamento e proximidade (técnica do sfumato), uma nova forma de obter a sensação de profundidade,
a perspetiva aérea
No século XVI, Leonardo da Vinci tornou-se num grande teórico da perspetiva aérea, que praticava nos seus
quadros. Para o efeito, utilizava o sfumato, gradação ou esbatimento da luz e da cor, que nos permite
ver os objetos locais com maior nitidez, enquanto os mais afastados se transformam em sombras
azuladas.
Relacionada com o novo olhar que a Humanidade tinha do mundo, a perspetiva representou uma
autêntica desmontagem do conceito medieval de espaço. Na verdade, poder-se-á dizer que o espaço
renascentista se apoiou na observação, na experiência, no real, logo, na verdade. Tal não acontecia nas
representações medievais, onde a disposição e o tamanho dos objetos eram determinados pela
hierarquia social e pelo simbolismo religioso.
 o uso da tela, que permitiu à pintura libertar-se dos suportes fixos, ou dos painéis de madeira,
proporcionando aos artistas uma maior comodidade e liberdade no transporte e na rapidez de execução
das obras
 a adoção dos esquemas geométricos, sobretudo o piramidal, em que as regras da simetria e da
horizontalidade são aperfeiçoadas.
 A procura da proporção entre as dimensões preocupou os pintores renascentistas. Se bem que o sentido
da ordem e do equilíbrio seja um legado da Antiguidade, a verdade é que só no Renascimento o espaço
pictórico foi construído com um rigor matemático, indo-se ao ponto de o projetar a partir de uma
medida-padrão (módulo), que servia de referência para as diferentes dimensões
 As representações naturalistas enquadram-se no movimento de descoberta da Natureza e de
valorização do real, numa época em que despontava uma nova conceção de Homem. Atento ao
espetáculo da Natureza, o artista esforçava-se por compreender as leis que a regiam. A sua minúcia e o
seu espírito analítico permitiram-lhe várias conquistas pictóricas.
Em primeiro lugar, a expressividade dos rostos, aos quais não se inibia de apontar imperfeições, e que
eram, frequentemente, de figuras coevas, quando não autorretratos. Não bastou, porém, a veracidade dos
traços fisionómicos. A grandeza dos retratos renascentistas residiu na sua capacidade de exprimir
sentimentos e estados de alma (alegria, tristeza, ternura) e de refletir os traços da personalidade (firmeza,
doçura, bondade). Ressalta, também, a espontaneidade dos gestos e a verosimilhança das vestes e dos
cenários (que eram de casas e paisagens da época, em lugar dos fundos doura dos das pinturas góticas).
Por sua vez, o corpo – de humanos ou animais – foi pintado com verdadeiro rigor anatómico, que resultou,
muitas vezes, de pesquisas e dissecações em cadáveres. Quanto à variedade de rochas, plantas, rios, lagos,
montanhas e cidades, foram consequência de um conhecimento experimental do mundo envolvente, que
permitiu fazer da paisagem um elemento essencial da composição pictórica.
Este foi o naturalismo na pintura, que tanto revestiu matizes mais terrenos e próximos da realidade, como
deixou transparecer atmosferas ideais de sonho, mistério, doçura e serenidade.

(CADERNO)
A INFLUÊNCIA DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA NA ESCULTURA E NA PINTURA
RENASCENTISTAS:
Na escultura:

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 a reposição do nu
 a recuperação da estatua equestre
 a monumentalidade
 a representação do corpo humano com harmonia e rigorosas proporções

Na pintura:
 nos temas (da mitologia clássica; de episódios e figuras da Antiguidade Clássica
 no tratamento do corpo das figuras (rigor anatómico e o nu)
Destaque para duas obras:
 Botticelli (1946 - 1510), O Nascimento de Vénus
 Rafael (1483-1520), A Escola de Atenas.

A centralidade do observador na arquitetura:


A perspetiva foi aplicada na arquitetura:
 através da aplicação de regras matemáticas: a perspetiva linear
 este método possibilitou a convergência de linhas paralelas em direção a um ou mais pontos: o ponto
de fugar

Deveu-se a Brunelleschi a invenção de um método racional e matemático de representação: a perspetiva


A técnica da perspetiva linear possibilitou a ilusão de profundidade
A Expressão Naturalista No Escultura
A escultura exaltou a beleza do corpo humano e revelou um acentuado naturalismo.
O humanismo escultórico esteve presente, tanto nas temáticas religiosas, como nas mitológicas e do
quotidiano

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