ARTIGO ORIGINAL

RELAÇÃO ENTRE HÁBITOS DE VIDA, ASPECTOS

CLÍNICOS E PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA
DE PACIENTES COM HIPERTENSÃO
RELATIONSHIP BETWEEN LIFESTYLE HABITS, CLINICAL ASPECTS AND MEAN BLOOD PRESSURE IN PATIENTS WITH
HYPERTENSION
RELACIÓN ENTRE HÁBITOS DE VIDA, ASPECTOS CLÍNICOS Y PRESIÓN ARTERIAL MEDIA EN PACIENTES CON
HIPERTENSIÓN
Ana Maria Sampaio Coelho Adeodato1 (https://orcid.org/0000-0002-6110-8053)
Manuela de Mendonça Figueirêdo Coelho2 (https://orcid.org/0000-0001-6182-9486)
Amanda Gomes Alves3 (https://orcid.org/0000-0001-9588-9719)
Ana Caroline Felisola Rocha4 (https://orcid.org/0000-0002-1470-5461)
Arisa Nara Saldanha de Almeida5 (https://orcid.org/0000-0002-8637-5174)
Riksberg Leite Cabral5 (https://orcid.org/0000-0002-0795-5569)

Descritores
Hipertensão arterial; Hábitos;
Fatores de risco; Terapêutica;
Cuidados de enfermagem
Descriptors
Hypertension; Habits; Risk factors;
Therapy; Nursing care
Descriptores
Hipertensión; Hábitos; Factores
de riesgo; Terapia; Cuidado de
enfermería
Submetido
4 de Setembro de 2020
Aceito
17 de Dezembro de 2021
Conflitos de interesse:
nada a declarar.
Autor correspondente
Manuela de Mendonça Figueirêdo Coelho
E-mail: manumfc2003@yahoo.com.br
Editor Associado (Avaliação pelos pares):
José Luís Guedes dos Santos
(https://orcid.org/0000-0003-3186-
8286)
Departamento de Enfermagem,
Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, SC, Brasil
RESUMO
Objetivo: Analisar a relação dos hábitos de vida e aspectos clínicos de pacientes com hipertensão com a pressão arterial
média.
Métodos: Estudo transversal, realizado junto a 116 pacientes com hipertensão. Coleta de dados realizada por meio de
questionário, e análise por meio da estatística descritiva e analítica (bivariada e multivariada), considerando p<0,05, Odds
Ratio e Intervalo de Confiança de 95%.
Resultados: Prevalência de 54,31% de índices pressóricos alterados entre os participantes; índice de massa corporal
alterado, não realização de atividade física, tabagismo, consumo de alimentos ricos em sódio, uso da medicação diferente
do prescrito associados com o aumento dos níveis de pressão arterial média (p<0,05).
Conclusão: 54,2% da variação da pressão arterial média é explicada pela variação do IMC e do consumo de alimentos ricos
em sódio.
ABSTRACT
Objective: To analyze the relationship between lifestyle and clinical aspects of patients with hypertension with mean arterial
pressure.
Methods: Cross-sectional study, carried out with 116 patients with hypertension. Data collection performed through a
questionnaire, and analysis using descriptive and analytical statistics (bivariate and multivariate), considering p <0.05, Odds
Ratio and 95% Confidence Interval.
Results: Prevalence of 54.31% of altered blood pressure among participants; altered body mass index, non-performance of
physical activity, smoking, consumption of foods rich in sodium, use of medication other than prescribed associated with
increased levels of mean arterial pressure (p <0.05).
Conclusion: 54.2% of the variation in mean arterial pressure is explained by the variation in BMI and consumption of foods
rich in sodium.
RESUMEN
Objetivo: Analizar la relación entre el estilo de vida y los aspectos clínicos de los pacientes hipertensos con la presión
arterial media.
Métodos: Estudio transversal, realizado con 116 pacientes hipertensos. Recolección de datos mediante cuestionario y
análisis mediante estadística descriptiva y analítica (bivariada y multivariante), considerando p <0.05, Odds Ratio e Intervalo
de Confianza del 95%.
Resultados: Prevalencia del 54,31% de tensión arterial alterada entre los participantes; índice de masa corporal alterado, no
realización de actividad física, tabaquismo, consumo de alimentos ricos en sodio, uso de medicación distinta a la prescrita
asociada a niveles elevados de presión arterial media (p <0,05).
Conclusión: El 54,2% de la variación de la presión arterial media se explica por la variación del IMC y el consumo de
alimentos ricos en sodio.

1
Escola de Saúde Pública do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil.
2
Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil.
3
Novetec Escola Técnica. Fortaleza, CE, Brasil.
4
Prefeitura Municipal de Fortaleza. Fortaleza, CE, Brasil.
5
Centro Universitário Fametro. Fortaleza, CE, Brasil.

Como citar:
Adeodato AM, Coelho MM, Alves AG, Rocha AC, Almeida AN, Cabral RL. Relação entre hábitos de vida, aspectos
clínicos e pressão arterial média de pacientes com hipertensão. Enferm Foco. 2022;13:e-202225.

DOI: https://doi.org/10.21675/2357-707X.2022.v13.e-202225.

Enferm Foco. 2022;13:e-202225 1

 RELAÇÃO ENTRE HÁBITOS DE VIDA, ASPECTOS CLÍNICOS E PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA DE PACIENTES COM HIPERTENSÃO
Adeodato AM, Coelho MM, Alves AG, Rocha AC, Almeida AN, Cabral RL
INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial é considerada um problema de
saúde pública perante o número de pessoas em diversas
partes do mundo acometidas por essa patologia.
da Organização Mundial de Saúde revelam que o número
de adultos entre 30 e 79 anos com hipertensão duplicou de
650 milhões em 1990 para 1,28 bilhão em 2019. E entre estes
pacientes, 720 milhões não estão recebendo tratamento.
Essa patologia é um importante fator de risco para o de-
senvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) que são
a principal causa de morte, hospitalizações e atendimentos
ambulatoriais em todo o mundo, inclusive em países em
desenvolvimento como o Brasil.(3) Em 2017, dados com-
pletos e revisados do Datasus mostraram a ocorrência de
1.312.663 óbitos no total, com um percentual de 27,3% para
as DCV, sendo que a hipertensão estava associada em 45%
destas mortes.(4)
Investigação realizada pelo Sistema de Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico de 2018 apontou que 24,7% da popula-
ção residentes nas capitais brasileiras relatam diagnóstico
de hipertensão. Trata-se de condição clínica multifatorial
(5)
qualificada por níveis pressóricos sistólicos e diastólicos
com valores ≥ 140 e/ou 90 mmHg respectivamente, po-
dendo estar associada a fatores genéticos/epigenéticos,
ambientais e sociais. (1)
Portanto, a hipertensão é responsável por grande nú-
mero de eventos cardiovasculares e cérebro-vasculares.
Tal fato é atribuído ao não acompanhamento da doença,-
consumo de álcool, uso excessivo de sal na dieta, não ade-
são a terapêutica medicamentosa e pressão arterial sistó-
lica e diastólica não controlada.(1,6)
Mediate recomendações, o tratamento inicia-se com a
mudança do estilo de vida e a terapia anti-hipertensiva que
objetiva a redução da pressão arterial no intuito de reduzir
a mortalidade e a prevalência de doenças cardiovasculares
tais como o controle do peso, medidas nutricionais, práti-
ca de atividades físicas, cessação do tabagismo, controle
de estresse, entre outros.(1,7)
O uso da medicação prescrita de forma correta e mu-
danças no estilo de vida são medidas necessárias para o
controle de níveis pressóricos, incluindo os cuidados com
dieta com restrição de sal, rica em proteínas, fibras, potás-
sio, magnésio e cálcio, como frutas e legumes, feijão, nozes,
grãos integrais e laticínios com pouca gordura, além da ati-
vidade física regular, abandono do tabagismo e do álcool.
Diante do exposto, torna-se fundamental avaliar se
os hábitos de vida de pacientes hipertensos influenciam
na pressão arterial média (PAM), identificando possíveis
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fatores de risco que possam acarretar complicações ou
morte por essa patologia a pacientes acompanhados em
uma Unidade Básica de Saúde.
(1)
Dados Esses dados são relevantes, pois a detecção de com-
portamentos que trazem prejuízos à saúde desse público,
corroborados com a literatura vigente, reforçam a neces-
sidade de que o controle dos níveis de pressão vai muito
(2)
além do uso da medicação, mas sim da adoção de novas
práticas, a partir do envolvimento dos pacientes, familiares
e equipes de saúde nesse processo. Para a práxis da en-
fermagem, a determinação de tais fatores colaboram para
uma assistência mais centrada nos pacientes e suas neces-
sidades, contribuindo para execução de ações de acordo
com realidade de cada indivíduo.
Posto isto, objetivou-se analisar a relação dos hábitos
de vida e aspectos clínicos de pacientes com hipertensão
com a pressão arterial média.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quan-
titativa, desenvolvido em uma Unidade Básica de Saúde da
região metropolitana de Fortaleza-Ceará que presta assis-
tência a comunidade adscrita, incluindo pessoas com hi-
pertencão e diabetes.
Para realização da pesquisa foram abordados todos os
pacientes hipertensos de uma micro área de abrangência
da Unidade que totalizavam 116 pacientes cadastrados e
acompanhados regularmente. Todos os hipertensos cadas-
trados na micro área participaram da pesquisa.
O cenário para desenvolvimento do estudo foi uma
Unidade Básica de Saúde da Família localizada em uma re-
gião Metropolitana de Fortaleza- Ce. Esse município con-
ta com um total de 21 (vinte e uma) unidades básicas que
prestam diversos serviços à população assistida.
Serviços esses voltados à Atenção Primaria à Saúde
dos indivíduos tais como Atendimento de Hipertensos e
Diabéticos, Atenção ao Crescimento e Desenvolvimento
da Criança, Imunização, Atenção ao Pré-Natal, Parto
e Nascimento, Atenção em Hanseniase e Tuberculose,
Controle do Tabagismo, Laboratorio, Coleta Citopatológica
dentre outras atividades.
Os pacientes hipertensos são atendidos através de
consulta médica e de enfermagem seguindo protocolos de
acordo com a clínica apresentada sendo os retornos agen-
dados de acordo com a estratificação de risco de cada pa-
(1,8,9)
ciente. Nessas consultas prioriza-se a necessidade do uso
correto da medicação e sensibilização quanto à adesão de
estilo de vida saudáveis, além da implementação de grupos
de educação em saúde matriciados pelo Núcleo de Apoio
 RELAÇÃO ENTRE HÁBITOS DE VIDA, ASPECTOS CLÍNICOS E PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA DE PACIENTES COM HIPERTENSÃO
à Saúde da Família (NASF) para esse público em questão,
conjuntamente com a equipe da unidade. A importância do
papel do enfermeiro junto a esse público como educador,
atua na motivação do paciente quanto à adesão ao trata-
mento, propondo estratégias que favoreçam seu envolvi-
mento no processo saúde-doença.
Os dados foram coletados entre abril e junho de 2016,
por meio de um instrumento cujo embasamento foram da-
dos científicos contidos na literatura vigente, e teve como
suporte para sua elaboração comportamentos e condi-
ções clínicas apontadas no Caderno de Atenção Básica do
Ministério da Saúde, nº 35 - Estratégias para o cuidado da
pessoa com doença crônica(8), em que trata em seu teor a
identificação de fatores de risco de doenças crônicas por
meio de diferentes inquéritos de Saúde, com destaque
para o monitoramento realizado pela Vigilância de Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico.(5)
O instrumento de coleta de dados discorre sobre as
características socioeconômicas e sócio demográficas da
clientela como: sexo, idade, cor, tempo de descoberta da
patologia, estado civil, escolaridade, renda familiar, ocupa-
ção. Aborda também dados antropométricos (altura e peso
para o cálculo do índice de massa corporal), pressão ar-
terial aferida, assim como as características relacionadas
aos hábitos de vida adotados por esses pacientes para o
controle dos níveis pressóricos, como: realização de ativi-
dades físicas, tabagismo, uso de álcool, uso de medicação
de acordo com prescrição médica, dentre outros.
Realizaram-se análise de correlação entre os valores da
pressão arterial média e a circunferência abdominal, Índice
de Massa Corporal e quantidade de cigarros consumidos
por dia. A variável dependente para análise de associação
bivariável foi o cálculo da pressão arterial média e os fa-
tores foram dicotomizados em: índice de massa corporal
normal entre 18 e 24 kg/m e demais valores como altera-
2
do; prática ou não de atividade física, tabagismo, consumo
de álcool (mesmo que esporádico), consumo de alimentos
ricos em sódio, uso da medicação de acordo com prescri-
ção médica, consumo de frutas e verduras.
A pressão arterial foi mensurada com esfignomanôme-
tro calibrado, mensurada em sala apropriada, com tempe-
ratura controlada (22–240 C), no período da manhã, com o
participante em jejum e após esvaziamento vesical. O par-
ticipante permanecia em repouso por, pelo menos, cin-
co minutos na posição sentada. A pressão era aferida no
braço esquerdo em aparelho oscilométrico (Onrom 765CP
IntelliSense, Japão) e com uso de manguito apropriado à
circunferência do braço. A pressão arterial média foi obtida
Adeodato AM, Coelho MM, Alves AG, Rocha AC, Almeida AN, Cabral RL
pela soma da pressão arterial diastólica com 1/3 da pressão
de pulso (pressão arterial sistólica – pressão arterial diastó-
lica), considerando-se valor alterado acima de 100 mmhg(10).
Para verificação do peso dos participantes utilizou-se
balança calibrada (Filizola, Brasil,), capacidade de 150 kg,
acompanhada de estadiometro para registrar a altura,com
precisão de 0,1 cm. Calculou-se o índice de massa corporal
por meio da relação de Quételet (peso/estatura2). A cin-
cunferência abdominal foi mensurada com fita inelástica,
com duas medições para confirmação dos valores.
Os pacientes participaram do estudo conforme compa-
recimento à consulta na unidades básica. Para aqueles que
não possuíam consulta marcada no período da coleta de
dados, foi agendado horário para coleta de dados, por meio
do agente comunitário de saúde.
Os dados foram organizados em forma de planilha do
Programa Excel® com digitação realizada por dois pesqui-
sadores e posteriormente realizada conferência dos regis-
tros de forma a confirmá-los e eliminar possíveis erros de
digitação. Logo após, a planilha foi exportada para análise
pelo software Statistical Package for the Social Sciences,
versão 23.0. Em seguida, os mesmos foram analisados por
meio de estatística descritiva e analítica.
Para estabelecer a correlação entre algumas caracte-
rísticas e a pressão arterial média, realizou-se o teste de
correlação de Sperman, considerando: 0,8 a 1,0 forte cor-
relação; 0,5 a 0,8 correlação moderada; 0,2 a 0,5 correla-
ção fraca; 0,0 a 0,2, correlação insignificante.
Para análise bivariada utilizou-se o teste qui-quadrado
de Pearson e de Fisher, considernado nível de significân-
cia o valor de p<0,05, Odds Ratio e Intervalo de Confiça de
95% (IC95%).
Procedeu-se a análise de regressão logística binária
com as variáveis que apresentaram p<0,005 provenientes
da análise bivariada. Utilizou-se o teste de Qui-quadrado de
Wald considerando valor de p<0,05.
A pesquisa respeitou os critérios éticos sendo aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa, que regulamenta a pes-
quisa com seres humanos com parecer de nº 1.481.602/2016
e Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
(CAEE) nº 53975716.6.0000.5037.
RESULTADOS
Das 116 pessoas que participaram do estudo 75% (n=87)
eram do sexo feminino, 83,6% (n=97) de cor parda-more-
na-negra, 47,4% (n=55) casado, e 52,6% (n=61) com nível de
escolaridade ensino fundamental incompleto seguido de
27,6% (n=32) analfabetos. Quanto à idade, caracterizou-se
a maioria, 50% (n=58), na faixa etária acima dos 60 anos.
Enferm Foco. 2022;13:e-202225 3
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Adeodato AM, Coelho MM, Alves AG, Rocha AC, Almeida AN, Cabral RL

Quanto ao tempo de patologia, 36,2% (n=42) dos entrevis- e consumo de frutas. O modelo final da regressão está pre-
tados conviviam com a doença a mais de dez anos. A qua- sentado na tabela 2.
se totalidade dos entrevistados 96,6% (n=112) relataram
Tabela 2. Modelo final da regressão logística entre valor al-
morar com familiares tendo como renda média entre um
terado de pressão arterial média e dados antropométricos e
e dois salários mínimos 71,6% (n=83). Em relação à ocupa- comportamentais
ção, grande parte, 42,2% (n=49), desempenhavam ativida- IC† de 95% para Exp b
des no lar, empregados totalizaram 27,6% (n=32), seguido B (EP) *
p-value ‡
Inferior Exp b Superior
Incluído
de 29,3% (n=34) aposentados. Sessenta e três pessoas
Constante -3,940 (0,890)
apresentaram a pressão arterial média acima de 100 mmhg IMC 3,290 (0,852) 0,000 5,054 26,847 142,602
, com uma prevalência de 54,31% de índices pressóricos Alimentos ricos 2,626 (0,520) 0,000 4,982 13,815 38,307
em sódio
alterados entre os participantes. Apresenta-se na tabela 1 *
Erro padrão; † Intervalo de confiança; p<0,001 §p<0,01
‡

associação entre os hábitos de vida adotados e os níveis de

pressão arterial média. As variáveis, uso de medicação de acordo com a pres-
crição médica e consumo de frutas não foram incluídos no
Tabela 1. Associação de valores da pressão arterial média alterada, modelo final de regressão logística por não terem apresen-
hábitos e condição clínica de pacientes hipertensos de uma unida- tado valor de p <0,05, não apresentando assim aderência e
de básica de saúde significância ao modelo. A tabela 2 mostra que o índice de

Variáveis
Pressão arterial média acima de 100 mmhg massa corporal e o uso de alimentos ricos em sódio apre-
n(%) Inferior OR* Superior p-value
sentaram relação positiva com o desfecho evidenciado
Índice de massa corporal 4,778 21,645 98,051 0,000†
Normal 2(8,3) pelo Exp b < 1 com o modelo final apresentando-se signi-
Alterado 61(66,3) ficativo [2Wald(1)=31,734; p=0,000 R2 Nagelkerke=0,542]. O
Prática de atividade física 0,168 0,388 0,898 0,025‡
Não 51(60,7)
Nagerlkerke R2 do resumo do modelo foi 0,542, apontando
Sim 12(37,5) que 54,2% da variação da PAM é explicada pela variação do
Tabagismo 1,423 6,630 30,894 0,007*
IMC e do consumo de alimentos ricos em sódio. Realizou-
Não 50(49,5)
Sim 13(86,7) se correlação de Sperman entre os valores de Pressão
Consumo de álcool 0,286 1,204 5,066 0,800* Arterial Média e a circunferência abdominal (=0,897,
Não 59(54,6)
p=0,000), a quantidade de cigarros (=0,653, p=0,001) e
Sim 5(50,0)
Consumo de alimentos 4,938 11.834 28,360 0,000‡ idade (=-0,131, p=0,081), com correlações significativas, em
ricos em sódio
que se obteve associação forte e positiva da pressão arte-
Não 13(24,5)
Sim 50(79,4) rial média e dos valores da circunferência, bem como cor-
Uso de medicação de 1,653 2,000 2,419 0,002* relação moderada e positiva com a quantidade de cigarros
acordo com prescrição
Não 10(100,0) consumidos diariamente.
Sim 53(50,0)
Consumo de frutas 1,618 4,486 12,440 0,004‡
Não 57(61,3) DISCUSSÃO
Sim 6(26,1) A investigação proposta identificou o não uso de medica-
Consumo de Verduras 0,343 0,942 2,590 0,908‡
ções de acordo com a prescrição médica, inatividade física,
Não 10(55,6)
Sim 53(54,3) alimentação ruim, aumento da circunferência abdominal
Odds ration; †Teste de Fisher; ‡Teste de Pearson
*
como fatores contribuintes para o aumento dos níveis ten-
sionais. Trouxe forte associação de que uma dieta rica em
Assim, observa-se que o IMC, a prática de atividade fí- sódio e índice de massa corporal alterados são indicativos
sica, o tabagismo, consumo de alimentos ricos em sódio, para elevação da pressão, como também evidenciou esse
uso de medicação de acordo com a prescrição médica e o aumento com a prática do tabagismo.
consumo de frutas apresentou associação estatística sig- Fatores de risco relacionados comprovadamente ao au-
nificante com a PAM acima de 100 mmhg. Realizaram-se mento dos níveis pressóricos dizem respeito ao aumento do
análise de regressão binária hierárquica com a variável de- sobrepeso/obesidade, inatividade física, consumo de bebi-
pendente a pressão arterial média e independentes as que das alcoolicas, consumo excessivo de sódio nos alimentos,
apresentaram p<0,005 na análise bivariada: índice de mas- dieta ruim, pobre em frutas, vegetais e gorduras de baixo
sa corporal, prática de atividade física, tabagismo, consu- teor. Porém, ainda não há evidências científicas que com-
mo de alimentos ricos em sódio, uso correto da medicação provem que o hábito de fumar aumenta os níveis de pressão,

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 RELAÇÃO ENTRE HÁBITOS DE VIDA, ASPECTOS CLÍNICOS E PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA DE PACIENTES COM HIPERTENSÃO
porém constitui uma medida de prevenção primária para
eventos cardiovasculares em pacientes hipertensos. (1,9)
Quanto indagados quanto ao uso das medicações anti-
-hipertensivas, os pacientes que afirmaram não fazer seu
uso de acordo com a prescrição, todos eles apresentaram
alteração dos níveis pressóricos(p=0,002). Tal fato refor-
ça que o controle dos níveis pressóricos vai além do tra-
tamento medicamentoso, necessitando de compromisso
com o autocuidado bem como mudanças no estilo de vida
que devem ser adotadas por esses pacientes.
O tratamento da hipertensão inclui terapia medicamento-
sa atrelada às mudanças no estilo de vida, controle do peso,
alimentação saudável, moderação no consumo de álcool,
atividade física.(1,9) Assim, como doença multifatorial, a hiper-
tensão necessita de abordagem múltipla, requerendo do en-
fermeiro conhecimento clínico e desenvolviemnto de prática
sistematizada para cuidado individualizado e complexo.
Evidências levantadas pelo Ministério da Saúde rela-
cionadas à redução da pressão arterial, determinam que a
prática de exercícios físicos como ioga, atividades que en-
volvem controle da respiração, meditação e movimentos,
justificam atenção para alívio do estresse que é conhecido
fator de risco para hipertensão arterial. Tais práticas po-
dem ser realizadas por pessoas de qualquer idade, desde
que não haja restrição médica. O treinamento físico aeró-
bico, em uma frequência de três vezes por semana, durante
30-60 minutos por sessão, demonstra ser eficaz em rela-
ção à redução da pressão arterial. (11)
Estímulo à uma vida
ativa deve ser pauta da consulta de enfermagem com o
paciente hipertenso.
O profissional deve reconhecer os limites físicos de seus
pacientes, em sua maioria idosos, e orientar a possibilida-
de da prática de alguma atividade, sempre que possível sob
orientação de profissional especializado. Os participantes
do estudo não possuem o hábito de praticar atividade fí-
sica, e isso tem impactado negativamente para o controle
dos níveis de pressão (p<0,025).
Dentre as recomendações da VII Diretriz Brasileira de
hipertensão arterial o tratamento não medicamentoso da
hipertensão inclui o controle do peso, manter índice de
massa corporal <25kg/m² até 65 anos e índice de massa
corporal <27kg/m² após os 65 anos de idade, manter cir-
cunferência abdominal <88cm em mulheres e circunferên-
cia abdominal <102cm em homens, além de outras orienta-
ções.(1) No estudo em tela, observou-se correlação positiva
entre o aumento da pressão arterial média em relação ao
aumento da circunferência abdominal.
Foi o evidenciado que houve alteração dos níveis pressó-
ricos relacionados ao Índice de Massa Corporal (p=0,000).
Adeodato AM, Coelho MM, Alves AG, Rocha AC, Almeida AN, Cabral RL
De fato existem estudos que comprovam consistentemen-
te uma relação direta entre o índice de massa corporal e a
pressão arterial.(8) Tal realidade atribuída a inatividade física
pode ocasionar os efeitos do sobrepeso/obesidade contri-
buindo para o o aumento de níveis tensionais.
Estudo duplo-cego realizado com indivíduos hiperten-
sos e normotensos de um centro público de saúde do país,
a relação entre índice de massa corporal alterado e hiper-
tensão trás essa associação, no qual o valor do índice de
massa corporal foi maior nos grupos de hipertensos do que
nos grupos de normotensos (p=0,02).(12)
Outra pesquisa, realizada com 205 aposentados resi-
dentes da cidade de Rio Claro, São Paulo, analisou o índice
de massa corporal sobre a prevalência de doenças crôni-
cas não transmissíveis, dentre elas a hipertensão identi-
ficada em mais da metade da amostra (50,3%) sendo que
prevalência de índice de massa corporal com sobrepeso foi
relevante nesse estudo.(13)
Outra comprovação dessa relação obteve-se de ou-
tra experiência realizada com a população mulçumana
de Uttar Pradesh, em que ficou comprovada a correlação
dos valores aumentados do Indice de Massa Corporal e
Circunferência Abdominal entre homens e mulheres com
os valores alterados da pressão arterial.(14)
Além do índice de massa corporal alterado na maioria dos
pacientes desse estudo, ocorreu também um aumento da cir-
cunfência abdominal, também evidenciando sua correlação
com a alteração dos níveis pressóricos, tal fato corrobora
com os achados de estudos realizados na Jordania em que
entre as mulheres que apresentavam circunfência abdominal
>92 cm tinham chance de 3 a 5 vezes serem diagnosticadas
com hipertensão e diabetes e os homens com valores de cir-
cunfência abdominal >100 tinham de 2 a 4 vezes de chances
de serem diagnosticados nessas condições.(15)
Tal realidade também foi possível identificar em adoles-
centes onde a circunferência da cintura aumentada foi um
fator associado à pressão arterial alterada. salientando que
esse fator, se não bem controlado pode atingir pessoas de
diversas faixas etárias.(16)
A promoção de um programa de alimentação saudável
que preconize e encoraje mudanças no comportamento
alimentar, incluindo redução da ingestão diária de sódio e
aadoção de uma alimentação saudável baseada no consu-
mo de alimentos naturais, ou minimamente processados,
como frutas, vegetais, fibras, laticíneos com baixo teor de
gordura, peixes dentre outros devem ser encorajados nes-
ses pacientes.(1,9,11)
Foi relevante a associação entre a ingesta de alimentos
ricos em sódio com o aumento dos níveis de pressão dos
Enferm Foco. 2022;13:e-202225 5
 RELAÇÃO ENTRE HÁBITOS DE VIDA, ASPECTOS CLÍNICOS E PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA DE PACIENTES COM HIPERTENSÃO
Adeodato AM, Coelho MM, Alves AG, Rocha AC, Almeida AN, Cabral RL
pacientes estudados (p=0,000). Tal fato também observado
em um estudo realizado com um grupo de hipertensos e nor-
motensos, onde foi diagnosticado que pressão arterial média e
excreção urinária dos níveis de sódio foram elevados no grupo
de pacientes hipertensos, mesmo em tratamento (p<0,05).(12)
Um outro estudo que traz associação ao consumo do
sal e aumento da tensão nos vasos sanguíneos foi realiza-
do na República da Moldávia com 858 indivíduos, em que
quase metade da população apresentou aumento na pres-
são arterial, sem diferença entre os sexos, devido a ingesta
de sal superior a 5-6 gramas do que a recomendada pelas
autoridades de saúde. (1,8,17)
Em nossa população, índice de massa corporal alterado
e o consumo de alimentos com alto teor de sódio monstra-
ram-se fatores importantes na análise multivariada, refor-
çando que hábitos alimentos estão intimamente ligados a
outras alterações fisiológicas, bem como de forma direta
nas alterações pressóricas.
Apesar de achados contraditórios quanto a influencia
do tabagismo no aumento dos níveis pressóricos, um es-
tudo comprova que hipertensos mesmo em uso de me-
dicação, quando fumantes, têm pior prognóstico cardio-
vascular, isso porque a nicotina gera ativação do sistema
nervoso simpático e provoca aumento da frequência cardí-
aca, pressão arterial e contratilidade miocárdica com redu-
ção da oferta de oxigênio aos vasos e miocárdio.
Nesse estudo foi possível constatar que a prática do ta-
bagismo influenciou no aumento da Pressão Arterial Média
dos pacientes. Tal associação pode ser verificada em uma
prática realizada com idosos na cidade de Currais Novos,
Rio Grande do Norte onde evidenciou-se que o fato de não
ser tabagista teve forte relação com a não ocorrência de
picos hipertensivos, o que reforça a recomendação de que
a abstenção do hábito de fumar faz parte de uma medida de
prevenção primária da hipertensão.(19)
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Considera-se como limitação do estudo o quantitativo
da população estudada, pois foi avaliado somente os hiper-
tensos referentes a uma micro área. Mesmo representando
toda sua população, não se apresenta em quantitativo sufi-
ciente para generalização dos achados.
Mediante a explanação dos achados na população estu-
dada, podemos refletir sobre a importância do enfermeiro
continuar a dispensar esforços junto as pessoas hiperten-
sas no tocante à importância do autocuidado, de mudança
nos hábitos de vida, adesão a terapêutica medicamentosa e
não medicamentosa, sempre considerando as singularida-
des dos indivíduos. O conhecimento de fatores que ainda
são prejudiciais ao controle da pressão arterial continua
sendo fundamental, considerando a diversidade do perfil
de cada grupo populacional, tornando assim, os achados
desses estudo relevantes.
CONCLUSÃO
Práticas adotadas pelos pacientes investigados refletiram
negativamente sobre o desfecho do controle da doença,
prática de atividade física, índice de massa corporal, taba-
gismo, consumo de alimentos ricos em sódio, uso da medi-
cação e consumo de frutas apresentaram correlação com
o aumento dos níveis pressóricos (p<0,05). Destes, 54,2%
da variação da PAM é explicada pela variação do IMC e do
(18)
consumo de alimentos ricos em sódio.
Contribuições
Concepção e/ou desenho do estudo: Adeodato AMSC;
Coleta, análise e interpretação dos dados: Adeodato
AMSC; Redação e/ou revisão crítica do manuscrito:
Adeodato AMSC, Coelho MMF, Alves AG, Rocha ACF,
Almeida ANS, Cabral RL; Aprovação da versão final a ser
publicada: Adeodato AMSC, Coelho MMF, Alves AG, Rocha
ACF, Almeida ANS, Cabral RL.
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