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A presença – consciente ou não – da Metodologia 5S na construção


civil: um estudo de caso na cidade de Porto Velho (RO)

Natan Gonçalves Nery1


Kazuo Kadowaki2

Resumo
A Metodologia 5S é uma ferramenta de fácil compreensão que consiste em
cinco sensos (utilização, organização, limpeza, saúde e autodisciplina) que, juntos,
visam melhorar o ambiente de trabalho através da mudança de comportamento das
pessoas, e está presente nos mais diversos setores. No entanto, a aplicação do 5S
na construção civil é especialmente problemática, uma vez que este é um setor cujo
ambiente de trabalho passa por inúmeras transformações e é suscetível a
improvisações, dificultando a completa implementação do Programa. Nesse sentido,
este trabalho visa à investigação, através de questionário aplicado a profissionais
responsáveis por obras em andamento na cidade de Porto Velho, acerca da
presença de conceitos relativos à Metodologia 5S nas atividades diárias da
empresa. Os dados obtidos evidenciam que, apesar dos avanços, o Programa 5S
ainda não é praticado em sua totalidade na construção civil.

Palavras-chave: Qualidade. 5S. Contrução Civil.

Abstract
The 5S Methodology is an easy-to-understand tool consisting of five principles
(sort, set in order, shine, standardize and sustain) that together aim to improve the
work environment by changing people's behavior, and is present in the most diverse
sectors. However, the application of 5S in civil construction is especially problematic,
since this is a sector whose work environment undergoes numerous transformations
and is susceptible to improvisations, making the full implementation of the Program
difficult. In this sense, this paper aims to investigate, through a questionnaire applied

1
Cursando o 4° ano em Técnico em Edificações do Instituto Federal de Rondônia do Campus
Calama. E-mail: natannery76@gmail.com.
2
Graduado em Engenharia Civil na FARO – Faculdade de Rondônia. Especializado em Docência no
Ensino Superior. E-mail: kazuo.kadowaki@ifro.edu.br
2

to professionals responsible for construction work in progress in the city of Porto


Velho, about the presence of concepts related to the 5S methodology in the daily
activities of the company. The data obtained show that, despite the advances, the 5S
Program is not yet fully practiced in civil construction.
Keywords: Quality. 5S. Civil Construction.

1. INTRODUÇÃO
O conceito de qualidade mais próximo ao que conhecemos atualmente surgiu
após a Revolução Industrial, quando a intensa produção em larga escala demandou
a necessidade de garantir que os produtos finais atendessem os requisitos técnicos
de engenharia e fossem padronizados, possuindo a menor variação possível
(SANTOS, 2007).
Entretanto, esse controle de qualidade abrangia apenas superficialmente a
totalidade dos processos relacionados à fabricação dos produtos, o que repercutia
negativamente junto aos trabalhadores e, consequentemente, aos clientes.
Conforme salienta Ramos (2015), o melhor exemplo dessa ineficiência foi a crise
sofrida pelo sistema fordista de produção na década de 70. Após ter alcançado o
auge, o modelo fordista não consegiu se manter inalterável devido às pressões
sofridas pelos sindicatos, que representavam os trabalhadores que operavam sob
condições extremamente precárias. Desse modo, tornou-se evidente que produzir
rápido e com baixo custo não é o suficiente se a empresa não mantém boas
relações com seus funcionários, tampouco oferece a eles um ambiente de trabalho
minimamente apropriado para o bom desempenho da função.
Foi a partir da percepção das falhas do processo produtivo então vigente que
surgiu o conceito de Qualidade Total. O sistema de Controle da Qualidade Total
(TQC – Total Quality Control) foi formulado na década de 50 por Armand
Feigenbaun, e se fundamenta na abordagem da qualidade desde o início do
desenvolvimento do produto até que o mesmo chegue às mãos do cliente, contando
com o envolvimento de todos os funcionários de todas as hierarquias dentro da
empresa. (MARTINELLI, 2009).
Nesse contexto de restabelecimento de parâmetros foram criadas diversas
ferramentas da qualidade consonantes ao conceito de Qualidade Total, dentre as
quais se destaca a Metodologia ou Programa 5S. O 5S foi concebido por Kaoru
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Ishikawa no final dos anos 1950, em um Japão ainda se recuperando do estrago


material e emocional decorrente da Segunda Guerra Mundial (LAPA, 1998).
O 5S tem por finalidade organizar e otimizar ambientes através da educação
e do treinamento dos funcionários, em uma busca por aperfeiçoamento constante
das rotinas de trabalho (OSADA, 1992). Esse método é extremamente versátil e
aplicável a praticamente todas as áreas, inclusive à construção civil.
Apesar da popularização do Programa 5s e sua extrema eficácia junto às
demais ferramentas de controle de qualidade no Japão, muitas empresas têm
dificuldade em implantá-lo devido ao desconhecimento aprofundado das práticas
necessárias e pela falta de um plano estratégico bem definido, além da pressa na
realização das atividades e do recorrente erro de separar a utilização dessa
metodologia na vida pessoal da profissional dos envolvidos (RIBEIRO, 1994).
No âmbito da contrução civil, a implantação da metodologia 5S no canteiro de
obra pode trazer benefícios tangíveis que podem ser rapidamente mensurados, pois
pode aperfeiçoar principalmente a organização e a limpeza dos canteiros,
provocando uma mudança de comportamento dos profissionais no tocante aos
hábitos que acarretam desperdícios, permitindo assim um ambiente limpo,
organizado e livre de materiais inúteis (COSTA; ROSA, 1999).
Todavia, apesar das vantagens que o programa pode trazer ao canteiro de
obras, se considerarmos as dificuldades supracitadas de implantação dessa
metodologia torna-se evidente que a contrução civil oferece desafios ainda maiores
à efetivação dessa ferramenta, pois possui certas peculiaridades, dentre as quais
podemos destacar a baixa escolaridade dos funcionários e também as constantes
transformações sofridas pelo canteiro ao longo da obra, conforme ressalta Neves
(1995).
Não obstante os avanços alcançados com o passar dos anos, devido a essas
características a implatação do Programa no âmbito da construção é profundamente
dificultada. No entanto, os preceitos da metodologia 5S já se disseminaram de tal
forma ao longo das décadas que são corriqueiramente aplicados, ao menos
parcialmente, e muitas vezes sem o conhecimento de que essas práticas
correspondem a alguma ferramenta da qualidade. Esse conceito de controle de
qualidade implicitamente praticado está relacionado à qualidade intrínseca. Longo
(1996) definiu a qualidade intrínseca como a capacidade do produto ou serviço de
cumprir o objetivo ao qual se destina. Na construção civil a qualidade intrínseca está
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inerentemente presente quando, ao final da execução do projeto, este cumpriu as


especificações exigidas e trouxe satisfação ao cliente. Torna-se, portanto,
impossível dissociar controle de qualidade e construção civil.
Dessa forma, este artigo procura verificar até que ponto os conceitos dessa
ferramenta são praticados, ainda que de forma implícita. Pretende-se elaborar um
questionário que, ao ser respondido por engenheiros responsáveis por obras
atualmente em andamento, indique se e quais preceitos dessa metodologia são ao
menos parcialmente praticados e, caso afirmativo, se esse processo ocorre de forma
consciente ou não.

2. O PROGRAMA 5S
O Programa 5S é constituído por cinco princípios ou sensos, cujos nomes
originais têm origem no japonês e foram adaptados para o português de modo a
manter sua significação:
 “Seiri” (Senso de Utilização);
 “Seiton” (Senso de Organização);
 “Seisou” (Senso de Limpeza);
 “Seiketsu” (Senso de Saúde);
 “Shitsuke” (Senso de Autodisciplina).

Os cinco sensos são inter-relacionados, de modo que um senso sucede o


outro e dele depende para que possa ser implementado. Como exemplo, o senso de
limpeza acontece na medida em que os sensos de utilização e organização ocorrem,
visto que, enquanto os materiais não úteis vão sendo separados e, posteriormente,
organizados e identificados, o ambiente vai sendo limpo.
A principal característica do 5S é que ele é fundamentado em uma gestão
democrática e participativa, envolvendo todos os funcionários da empresa, fator que
resulta em um ambiente de trabalho mais agradável e de melhor qualidade
(CORDEIRO, 2013).
A metodologia 5S permite a eliminação de erros e prejuízos, vantagem capaz
de melhorar inúmeros processos dentro do canteiro de obras, dado o seu caráter
nômade, o que confere uma falsa sensação de que eventuais problemas puramente
logísticos e organizacionais não são capazes de afetar o produto em si (a edificação
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em questão) em longo prazo.


Além disso, conforme salientam Nunes e Figueira (2010), o 5S pode ser
considerado a base para a implantação de outros programas de qualidade graças ao
seu potencial de promover mudanças no comportamento das pessoas por toda a
vida, principalmente em um ambiente propício a improvisações, como o é o canteiro
de obras.
Nesse sentido, as próximas seções detalharão os cinco sensos da
metodologia 5S, bem como sua aplicação na construção civil.

2.1. Senso de Utilização


O “Seiri” significa ordenação ou liberação de áreas (MARTINS; LAUGENI,
1998). A sua característica é separar os itens necessários dos desnecessários para
a empresa, descartando o que for inútil. No âmbito da construção civil este senso é
extremamente útil, visto que ele permite identificar a origem dos desperdícios e, a
partir daí, elaborar medidas que impeçam o acúmulo desses excessos novamente.

2.2. Senso de Organização


O “Seiton” é caracterizado pela ordenação em locais apropriados dos itens
necessários, tornando mais acessíveis os mais frequentemente utilizados. Além
disso, é preciso adotar critérios de estoque para facilitar a procura e localização,
reduzindo assim o tempo gasto na busca. Dessa forma, o ambiente fica mais
arrumado e agradável (RIBEIRO, 1994). No canteiro de obras esse trabalho é
realizado essencialmente pelo almoxarife, mas a completa eficácia somente pode
ser alcançada com a ajuda dos demais trabalhadores.

2.3. Senso de Limpeza


O “Seiso” compreende a busca pela eliminação de sujeira ou objetos
estranhos, visando um ambiente limpo e higiênico. Essa limpeza é tanto material
quanto informacional, que é a atualização dos dados utilizados para garantir uma
tomada de decisões mais precisa e reduzir a ocorrência de falhas (GODOY et al.,
2006).

2.4. Senso de Saúde


O “Seiketsu” está relacionado à manutenção e padronização de hábitos
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saudáveis. Martins e Laugeni (1998) afirmam que, diferentemente dos três sensos
anteriores, que são executados na prática, este senso deve ser entendido como um
“estado de espírito”. O Senso de Saúde funciona como um termômetro da
implementação da metodologia 5S. Toda mudança parece transformadora de início,
mas se as novas práticas não se tornarem hábitos, o programa não vingará.

2.5. 2.5 Senso de Autodisciplina


O “Shitsuke” é a disciplina em cumprir rigorosamente as normas e tudo que
for estabelecido pelos responsáveis pelo programa (RIBEIRO, 1994). Este é sem
dúvida o senso decisivo para o sucesso do 5S. Sem o comprometimento e
engajamento dos funcionários, todo o programa está fadado ao fracasso. Uma
característica fundamental desse senso é que ele estipula o prosseguimento de
todos os sensos por cada trabalhador mesmo quando este não está sendo vigiado
ou supervisionado. Ele deve tomar o comprometimento como algo pessoal.

3. METODOLOGIA
A primeira fase da pesquisa compreendeu um levantamento bibliográfico
acerca do Programa 5S, bem como suas aplicações à construção civil, para que
assim fosse possível conhecer a fundo a metodologia e identificar quais pontos
deveriam ser levados em consideração na fase seguinte, que consiste na aplicação
de questionário.
De acordo com Parasuraman (1991), um questionário é um conjunto de
questões feito para gerar os dados necessários para atingir os objetivos de um
projeto. Nesse sentido, o questionário realizado para a presente pesquisa foi
composto por perguntas que, individualmente, avaliam a existência, por parte das
empresas construtoras, de práticas que remetem diretamente a cada um dos
sensos. Para cada pergunta era possível responder se a e empresa possui ou não
tais práticas ou, ainda, se as desenvolvem apenas parcialmente.
Ao final, duas questôes verificam se a construtora conhece e aplica a
Metodologia 5S, permitindo analisar se o programa é praticado mesmo sem a
intenção de seguir determinada ferramenta.
A pesquisa abrangeu quatro empresas de construção civil aleatoriamente
escolhidas, todas localizadas na cidade de Porto Velho. O questionário foi
respondido pelos respectivos profissionais responsáveis por cada obra, no caso,
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engenheiros civis devidamente registrados no CREA – RO (Conselho Regional de


Engenharia e Agronomia de Rondônia). Por questões de confidencialidade, a
identidade dos profissionais e das empresas avaliadas será mantida em sigilo, e
serão referenciadas apenas como Empresas A, B, C e D.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Cada uma das questões indaga se a empresa possui determinadas práticas
que são previstas por cada um dos sensos. Todas as perguntas do questionário
foram formuladas de maneira a deixar o mais claro possível sobre o que se trata
cada uma das práticas, bem como a sua abrangência dentro do canteiro de obras,
de maneira, inclusive, que o profissional que viesse a responder às perguntas e já
possuísse conhecimento sobre a metodologia reconhecesse de imediato cada um
dos sensos. A seguir, encontram-se o enfoque de cada pergunta e os resultados
obtidos, representados na forma de gráficos.
A primeira questão indagava sobre a prática de tornar o ambiente de trabalho
mais útil, e diz respeito ao Senso de Utilidade:

Realização de Práticas do Senso de Utilização

Sim
Parcialmente
100% Não

Gráfico 1: Respostas à pergunta sobre o “Seiri”. Fonte: Do Autor, 2019

A segunda pergunta questionava sobre a prática de guardar os materiais de


maneira organizada e que possibilite um fácil acesso a eles:
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Realização de Práticas do Senso de Organização

Sim
Parcialmente
100% Não

Gráfico2: Respostas à pergunta sobre o “Seiton”. Fonte: Do Autor, 2019

O terceiro senso, o de Limpeza, foi dividido em duas perguntas, uma relativa


ao âmbito material e tangível (eliminação de sujeira física) e outra que abrange
fatores geralmente menos evidentes, como a eliminação de barulhos e de falhas na
iluminação:

Realização de Práticas do Senso de Limpeza


(material)

Sim
Parcialmente
100%
Não

Gráfico 3: Respostas à pergunta sobre o “Seisou” (âmbito material). Fonte: Do Autor, 2019
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Realização de Práticas do Senso de Limpeza


(não material)

25%
Empresa C Sim
Parcialmente
Não
75%
Empresas A, B e D

Gráfico 4: Respostas à pergunta sobre o “Seisou” (âmbito não material). Fonte: Do Autor, 2019

Da mesma forma, o Senso de Saúde foi dividido a fim de avaliar tanto os


aspectos físicos (condições de segurança dos ambientes utilizados pelos
funcionários) quanto os relativos à manutenção de boas relações da empresa para
com os trabalhadores:

Realização de Práticas do Senso de Saúde (não


material)

Sim
Parcialmente
100%
Não

Gráfico 5: Respostas à pergunta sobre o “Seiketsu” (âmbito não material). Fonte: Do Autor,
2019
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Realização de Práticas do Senso de Saúde (material)

Sim
Parcialmente
100% Não

Gráfico 6: Respostas à pergunta sobre o “Seiketsu” (âmbito material). Fonte: Do Autor, 2019

Na pergunta seguinte, o último senso avaliado é o da Autodisciplina, através


do questionamento sobre a permanência do empenho por parte dos funcionários em
desempenharem as suas funções da melhor maneira possível e em manterem um
bom ambiente de trabalho mesmo quando não estão sendo vigiados ou
acompanhados pela chefia:

Realização de Práticas do Senso de Autodisciplina

25%
Sim
Empresa B
Parcialmente
Não
75%
Empresas A, C e D

Gráfico 7: Respostas à pergunta sobre o “Shitsuke”. Fonte: Do Autor, 2019

A oitava questão inquiria se a empresa (na figura do engenheiro civil) conhece


a Metodologia 5s:
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A empresa conhece a metodologia 5S?

25%

Empresa A Sim
Apenas uma vaga ideia
Não
75%

Empresas B, C e D

Gráfico 8: Respostas à pergunta sobre conhecimento do 5S. Fonte: Do Autor, 2019

A pergunta seguinte indagava se a empresa aplica a metodologia 5S. Apesar


de parecer redundante, é preciso levar em consideração que o conhecimento não
necessariamente implica na prática.

A empresa aplica o 5S?

25%
Sim
Empresa A
50% Em parte
Empresa C Empresas B e D Não
25%

Gráfico 9: Respostas à pergunta sobre a aplicação do 5S. Fonte: Do Autor, 2019

Por fim, a décima e última pergunta visava averiguar se, caso a empresa
conheça e aplique o Programa 5S, os funcionários foram instruídos ou receberam
qualquer tipo de treinamento acerca do funcionamento dessa metodologia:
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Os funcionários foram instruídos sobre o 5S?

25% 25%

Empresa A Empresa D Sim


Não
Não se aplica
Empresas B e C

50%

Gráfico 10: Respostas à pergunta sobre a instrução do 5S. Fonte: Do Autor, 2019

A partir dos dados obtidos, a princípio, é importante notar a evolução evidente


no que concerne à aplicação da metodologia 5S, seja de forma consciente ou não.
Os princípios relativos ao programa são quase que totalmente praticados, havendo
apenas duas exceções.
A primeira é a apenas parcial prática do Senso de Limpeza pela empresa C, o
que não é inesperado, visto que os próprios trabalhos realizados no canteiro de
obras resultam em resíduos, sobretudo quando os funcionários advém de uma
cultura que não prioriza a manutenção de um ambiente de trabalho ordenado e
agradável. No entanto, essa prática parcial ocorre no âmbito não material, e a
eliminação de situações desconfortáveis aos trabalhadores deve ser uma
prerrogativa da empresa, evidenciando-se assim um ponto a ser melhorado pela
mesma.
A segunda excessão é a prática também parcial da Autodisciplina apontada
pela empresa B. Nesse caso, a responsabilidade seria atribuída aos funcionários,
visto que a empresa afirma conhecer e aplicar a Metodologia 5S. No entanto, a
mesma declara que o seu pessoal não recebeu instrução de qualquer tipo sobre o
programa. Ora, visto que a gestão participativa é o princípio fundamental dessa
metodologia, o engajamento dos empregados é a base sobre a qual toda o
programa se desenvolve. Não se pode exigir dos funcionários disciplina para seguir
uma normativa se os mesmos sequer possuem conhecimento de que a mesma
existe.
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A empresa A, após confirmar a realização de práticas relacionadas a todos os


sensos, afirmou desconhecer e não aplicar a Metodologia 5S. Esse é um claro
exemplo de aplicação inconsciente da filosofia 5S, o que, no entanto, não significa
que o canteiro de obras em questão encontra-se livre de problemas e com os cinco
sensos plenamente alcançados, apenas evidencia que a equipe pratica em algum
nível os preceitos relativos ao programa, o que por si só se configura como um
grande avanço na busca pela qualidade total.
Já os dados adquiridos junto à empresa D evidenciam uma construtora não
apenas consciente da Metodologia 5S como também atuante no desenvolvimento de
todos os sensos, tendo inclusive concedido treinamento especializado aos
funcionários.
Desse modo, o questionário permitiu identificar ao menos três categorias de
construtoras no que se refere à aplicação do Programa 5S: as que conhecem a
metodologia e desenvolvem os sensos de maneira eficaz, as que conhecem o
programa mas ainda não implementaram todos os sensos completamente,
sobretudo no tocante à participação dos funcionários, e as que desconhecem a
existência do 5S mas praticam em algum nível a filosofia característica dessa
metodologia.

5. CONCLUSÃO
Através da aplicação do questionário, tornou-se evidente que, apesar dos
avanços alcançados pela construção civil no que se refere à busca pela qualidade,
há ainda diversos aspectos passíveis de melhorias. Um animador dado obtido foi
que, mesmo a empresa que desconhecia a Metodologia 5S é praticante dos
preceitos que a compõem, o que torna evidente a eficácia dos cincos sensos.
Entretanto, é importante ressaltar que as informações levantadas junto a essas
construtoras na cidade de Porto Velho referem-se a uma minúscula parcela das
milhares de empresas existentes apenas no Brasil, que dirá no mundo.
Ainda assim, os dados obtidos corroboram com diversos estudos realizados
por inúmeros pesquisadores, alguns dos quais foram citados ao longo deste artigo.
O principal ponto de convergência desses trabalhos é a dificuldade de
implementação do Programa 5S junto aos trabalhadores, fator que retarda
profundamente o avanço da metodologia cujo princípio fundamental é a gestão
participativa e depende diretamente de quão envolvidos estão os funcionários.
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Conclui-se, portanto, que a Metodologia 5S é essencial a todas as


organizações e especialmente à construção civil, visto que esta apresenta um
ambiente de trabalho repleto de oportunidades de melhorias. Para tanto, basta haver
uma empresa consciente dos desafios a serem enfrentados e capaz de difundir
entre seus funcionários o programa que, mais do que uma ferramenta da qualidade,
representa uma filosofia de vida.

REFERÊNCIAS
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(Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 2013.

COSTA, M. L. da S.; ROSA, V. L. do N. Primeiros passos da qualidade no


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GODOY et al. Implantação do 5S para qualidade nas empresas de pequeno


porte na região central do Rio Grande do Sul. XIII SIMPEP. Bauru, 2006.

LAPA, R. P. Programa 5S. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1998.

LONGO, R. M. J. Gestão da Qualidade: Evolução Histórica, Conceitos Básicos e


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MARTINELLI, F. B. Gestão da Qualidade Total. 1. ed. Curitiba: IESDE Brasil S.A.,


2009.

MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo:


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NEVES, C. M. M. Alguns aspectos que interferem na implantação de melhorias


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1995.

NUNES, C. E. C. B.; FIGUEIRA, A. S. M. Implantação do programa 5S e


ferramentas de melhoria de qualidade em uma microempresa de design. São
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OSADA, T. 5S’s: seiri, seiton, seiso, seiketsu, shitsuke. São Paulo: IMAM, 1992.
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PARASURAMAN, A. Marketing research. 2. Ed. Addison Wesley Publishing


Company, 1991.

Ramos, M. Fordismo e toyotismo: Suas principais características, com uma


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https://www.fm2s.com.br/o-que-e-o-controle-da-qualidade. Acesso em: 12 de
novembro de 2019.

RIBEIRO, H. A Base para a Qualidade Total: 5S. Salvador: Casa da Qualidade,


1994.

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Disponível em: https://www.fm2s.com.br/o-que-e-o-controle-da-qualidade/. Acesso
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