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6 FORUM SAE BRASIL AERODESIGN 2018

Aplicação da Ferramenta 5S em um Equipe de Aero Design


Lucas Antônio dos Santos Valadares
Marise Rosa de Faria Ribeiro; Maria Cecília Junqueira Beraldo
Prof. D. Sc. Cláudio de Castro Pellegrini
Universidade Federal de São João del-Rei

RESUMO tados e comparação entre as formas de implantação na equipe.


Após o desenvolvimento do projeto, pretende-se concluir que
a nova implantação da ferramenta 5S na equipe Trem Ki Voa
No presente artigo, foi feita a implantação da ferramenta 5S
Micro se mostrou mais eficiente em relação à forma imple-
em um projeto de ensino da Universidade Federal de São João
mentada anteriormente.
Del Rei, visando melhorar o ambiente de trabalho e reduzir os
desperdícios neste. O processo de implantação foi feito basea-
do nas recomendações da ANVISA, que consiste na participa-
ção de membros de todas as áreas da organização e aplicação
de um senso por vez. Após a implantação do método, foram REVISÃO DE LITERATURA
feitas avaliações e comparações com a metodologia aplicada
anteriormente para verificar a eficiência do método. Os resul- O Programa 5S
tados se mostraram satisfatórios e a equipe deve continuar
trabalhando a conscientização de todos os membros para que a A metodologia 5S tem como finalidade a organização do local
metodologia se torne cultura entre os membros. de trabalho e a padronização dos processos, podendo ser apli-
cada em qualquer empresa ou equipe de trabalho. Ela visa a
conscientização da importância da qualidade e proporciona
maior produtividade, segurança, clima organizacional e moti-
INTRODUÇÃO vação dos funcionários.

Dentre as formas as quais uma universidade é capaz de contri- Segundo Silva (2001), o programa 5S tem como objetivo
buir para o desenvolvimento profissional e pessoal da comu- básico a melhoria do ambiente de trabalho nos sentidos físico
nidade acadêmica, projetos de ensino corroboram principal- e mental. Partindo desse princípio, compreende-se que os 5S,
mente com o progresso tecnológico do país e do mundo. A além de serem uma ferramenta de trabalho, são também uma
Universidade Federal de São João del-Rei, localizada no Su- filosofia de vida. De acordo com Falconi (2004), os 5S visam
deste do estado de Minas Gerais, Brasil, oferece oportunidades mudar a maneira de pensar das pessoas na direção de um me-
para os alunos que se interessam por linhas de pesquisa no lhor comportamento para toda a vida.
campo de engenharia de mobilidade, eficiência energética,
robótica, entre outros. Neste âmbito, a Equipe Trem Ki Voa Porém, para o sucesso da utilização dessa ferramenta, é neces-
Micro, organização abordada na pesquisa, desenvolve protóti- sário que haja um comprometimento por parte de toda a em-
pos de veículos aéreos não tripulados (VANTs) rádio contro- presa. Segundo Hirano (2009), boas fábricas se desenvolvem a
lados, com a principal finalidade de participar da competição partir da implantação dos 5S. Por outro lado, também já se viu
SAE Brasil Aero Design. muitas fábricas ruírem a partir da implantação dos 5S. É difícil
uma empresa conseguir produzir bem sem uma boa aplicação
Todo projeto, organização ou empresa ambiciona maior pro- dessa ferramenta. De acordo com Osada (1992), os 5S são o
dutividade. Para isto, faz-se necessário melhores condições no barômetro gerencial de uma empresa: se ela é capaz de im-
ambiente de trabalho, maior motivação dos colaboradores e plementar os 5S, é capaz de implementar qualquer coisa, va-
eliminação de desperdícios. A metodologia 5S aparece, então, lendo salientar que o sucesso desse programa só é alcançado
como protagonista para alcançar essas necessidades. Esta se todos cooperarem.
ferramenta em questão visa combater desperdícios, educar
colaboradores e aprimorar e manter o sistema de qualidade. Os 5S Como Cultura

Neste artigo serão abordados tópicos referentes à definição da Há quem diga que praticar os 5S é praticar bons hábitos ou
ferramenta 5S e sua aplicação no projeto, bem como os resul- bom senso. Apesar da simplicidade dos conceitos, sua implan-
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tação de modo efetivo não é uma tarefa fácil, isto porque sua assimilar a importância destes conceitos e entender os benefí-
essência é a promoção da mudança de atitudes e hábitos de cios que trazem quando aplicados.
pessoas. Esses novos hábitos e atitudes vão confrontar as ma-
neiras de ser e agir incorporadas ao longo da vida. Seiso: Objetiva fazer do local de trabalho um ambiente agra-
dável e permitir que os equipamentos estejam sempre limpos e
A dificuldade em romper com os conceitos do indivíduo passa seguros. Limpeza é muito além de manter as coisas limpas. É
a ser um aspecto crítico na implantação. Portanto, é preciso um compromisso para que os equipamentos sejam mantidos
que se crie um clima adequado e condições de mudança e, nas perfeitas condições de trabalho. Sujeira, poeira e outros
logo depois, proporcionar suporte para que se perpetue os problemas aumentam as chances de causar defeitos, danos e
novos hábitos e elimine completamente os velhos. acidentes. De acordo com Osada (1996), limpeza é a solução.
A limpeza deve ser vista como uma forma de eliminar as cau-
Segundo Imai (1992), os 5S é bom senso que pode ser ensina- sas dos problemas uma a uma e deve ser realizada dentro deste
do, aperfeiçoado e praticado para o crescimento humano e espírito.
profissional, portanto, convém torná-lo hábito, costume e
cultura. A pessoa que conhece e vivencia os 5S, certamente Seiketsu: Manter boas condições sanitárias, garantir meio
consegue perceber a importância deste para relações interpes- ambiente não agressivo e livre de poluentes, criar condições
soais no ambiente de trabalho e vida pessoal. Não se deve favoráveis à saúde física e mental e zelar pela higiene pessoal.
praticá-lo apenas no ambiente trabalho, mas sim em todos os Esses são os principais objetivos para conservar o local de
ambientes sociais frequentados. trabalho saudável e adequado para as tarefas. Para Mika
(2006), o segredo deste S é manter a área limpa, arrumada e
Significado dos Sensos com boa aparência. Ações para manter a qualidade desse pro-
cesso consistem em ter equipamentos em perfeito estado com
O programa 5S é composto por cinco ações ou sensos que distribuição uniforme, indicação de perigo, indicação de cor-
começam pela letra S quando pronunciadas em japonês. São redores a partir de linhas pintadas no chão e ferramentas para
eles: Seiri (utilização), Seiton (ordenação), Seiso (limpeza), mostrar limites.
Seiketsu (bem estar), Shitsuke (autodisciplina).
Shitsuke: Para Ribeiro (1994), a fase da disciplina significa
Seiri: Consiste em separar os itens necessários e desnecessá- que o processo está consolidado, embora não finalizado, ou
rios com base no grau de necessidade. Entende-se por desne- seja, é necessário manter os bons atos e institucionalizá-los.
cessário tudo aquilo que não é preciso estar naquele lugar para Nessa etapa tudo está estabelecido, portanto deve-se manter e
continuar a produção. Segundo Osada (1992), o gerenciamen- dar continuidade. A semente deve ser plantada pelos chefes e
to pela estratificação envolve definir a importância de alguma gerentes das fábricas que precisam estar profundamente com-
coisa e, em seguida, providenciar a redução do estoque não prometidos com a aplicação e manutenção dos 5S. (HIRANO,
essencial, garantindo, ao mesmo tempo, o acesso imediato ao 2009).
essencial para obter eficiência máxima. Portanto, a chave para
o gerenciamento pela estratificação eficiente é a habilidade de
tomar decisões sobre a frequência de uso e garantir que as Etapas Recomendadas Implantar a Ferramenta 5S
coisas estejam em seu devido lugar. Tão importante quanto
manter o que é necessário à mão, é manter o que não é neces- Para que a ferramenta 5S traga melhorias efetivas, o manual
sário longe do alcance das mãos. Tão importante quanto saber da ANVISA(2005) recomenda que a implantação da mesma
consertar uma peça com defeito, é saber jogá-la fora. seja feita por etapas:

Seiton: Após separar o que não é mais necessário, deve-se 1ª etapa: equipe de implantação. Formada por três pes-
definir uma forma e identificação de armazenagem bem como soas, no mínimo, de diferentes setores da instituição e
a quantidade e a distância do ponto de uso. Organizados por uma pessoa da alta administração. A equipe tem que ter
frequência de uso, tamanho, peso e custo. O senso de ordena- disponibilidade para conduzir o processo, orientar, es-
ção tem como finalidade fazer com que as coisas necessárias clarecer dúvidas e fazer visitas rotineiras de acompa-
sejam localizadas e utilizadas com rapidez e segurança a qual- nhamento;
quer momento. Para Hirano (2009), muitas fábricas costumam
usar letreiros com as palavras seiri e seiton, porém poucas 2ª etapa: planejamento. Equipe de implantação pode
delas conseguem compreender o que elas realmente significam elaborar um cronograma, um plano de orientação, de-
na prática. É preciso preparar as pessoas para que consigam terminar as ferramentas que serão utilizadas e dividir as
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atividades. As tarefas e as responsabilidades devem ser Aero Design e já conquistou três títulos nacionais e um vice-
distribuídas e todos devem se comprometer com os campeonato mundial.
prazos de cumprimento;
Atualmente, o projeto conta com 36 membros dispostos na
3ª etapa: fotos e registros. É importante registrar a situ- seguinte estrutura organizacional: 2 membros da capitania, 6
ação atual da organização, em todas as áreas, especial- membros do setor de aerodinâmica, 3 membros do setor de
mente onde forem percebidas necessidades de melho- cargas e aeroelasticidade, 4 membros do setor de desempenho,
ria. Posteriormente, a equipe deve se reunir e discutir as 5 membros do setor de elétrica, 4 membros do setor de estabi-
falhas, as ações corretivas, dar sugestões de melhoria lidade, 5 membros do setor de estruturas e ensaios, 3 membros
baseadas nas fotos; do setor de engenharia do produto e 4 membros do setor de
simulação. Todos os setores têm um membro responsável por
4ª etapa: reunião. A equipe pode convidar o pessoal da coordenar os demais membros, exceto a capitania, que geren-
instituição para uma reunião, compartilhar os dados e cia todo o projeto.
mostrar o compromisso e a disposição para implantar o
método. Nesta reunião, a equipe pode iniciar o trabalho Problemas Iniciais Encontrados nas Dependências da
de conscientização do pessoal e da importância do pro- Equipe
grama 5S para a melhoria do trabalho. A equipe tam-
bém pode explicar os objetivos do trabalho, mostrar as Durante o ano de 2016, houve uma tentativa frustrada de im-
vantagens do programa e os benefícios; plantação da ferramenta 5S na Equipe Trem Ki Voa Micro.
Para que o fracasso não se repetisse, foi analisado o método
5ª Etapa: implantação. Após esta reunião de sensibili- utilizado pelos membros do setor de Engenharia do Produto
zação do pessoal com a equipe responsável, o programa daquele período e buscadas novas formas de implementar a
começa a ser efetivamente implantado. As responsabi- ferramenta na Equipe.
lidades são divididas de acordo com as áreas de traba-
lho, bem como os mapas de acompanhamento do traba- No método referido, os componentes do setor de Engenharia
lho; do Produto convocaram uma reunião com todos os participan-
tes da Equipe e apresentaram quais eram os 5S e a importância
6ª Etapa: acompanhamento. A equipe organizadora é de cada um deles. Após esta reunião, iniciou-se a avaliação da
responsável por verificar os pontos positivos e os nega- assiduidade dos setores em relação à ferramenta. A avaliação
tivos, lembrando que o pessoal deve estar sempre moti- era feita por um sistema de pontos a cada inconformidade
vado. O ideal é que todos percebam os resultados, as encontrada na sala de construção do projeto e, ao final de um
mudanças. período de 7 dias, os pontos eram somados e o setor com mai-
or pontuação era responsável pela organização da sala de
construção.
O mesmo manual ainda destaca a importância de se preocupar
com a continuidade da ferramenta, ressaltando a necessidade Antes de se iniciar o processo de implantação da ferramenta,
de sempre buscar novos treinamentos. Através dos mesmos, uma auditoria na sala de construção da Equipe constatou a
será possível analisar os resultados e as mudanças que ainda necessidade de melhoria em alguns pontos:
devem ser realizadas.
 Os armários para guardar os materiais utilizados no
desenvolvimento do projeto estavam desorganizados.
 Nas bancadas de construção, havia sujeira e materiais
METODOLOGIA desnecessários.
 Não havia um local adequado para guardar as caixas
Informações da Organização Estudada de transporte.
 O Quadro de ferramentas estava desorganizado.
O trabalho foi desenvolvido na Equipe Trem Ki Voa Micro  Faltava um local adequado para EPIs.
localizada na cidade de São João Del Rei-MG. A Equipe foi  Faltava uma prateleira suspensa próxima as bancadas,
fundada em 2009 e desenvolve protótipos de veículos aéreos onde os membros pudessem guardar os materiais
não tripulados a fim de competir na competição SAE Brasil mais utilizados.

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 A comunicação visual da sala estava inadequada, prateleira o material deveria ser guardado. Foi definido tam-
com falta de placas de informações e conscientiza- bém um local adequado para as caixas de transporte.
ção.
Ainda no senso de organização, foram instaladas prateleiras de
madeira próximas às bancadas de construção, desta forma, os
Processo de Implantação do 5S membros poderiam manter os materiais que utilizam com mais
frequência mais próximos. Nas bancadas também foram fixa-
Com todas as informações em mãos, foi criado um cronogra- das placas que motivavam os membros a guardarem os mate-
ma das as etapas a serem realizadas na implantação da ferra- riais após o uso.
menta 5S na Equipe.
Após todos os materiais estarem organizados, o Seisoh (3º S)
Na primeira etapa, a equipe de implantação foi criada, sendo foi implantado. Neste estágio, é feita a remoção de toda a
esta composta por 11 membros, com pelo menos um membro sujeira. A limpeza da sala de construção foi feita com alguns
de cada setor da Equipe, assim ficaria mais fácil a troca de membros da equipe, uma vez que a sala não comporta todos os
informações entre todos os setores. Nos dias subsequentes, membros trabalhando ao mesmo tempo. Toda a sujeira debai-
estes membros receberam treinamento e contribuíram com xo das bancadas foi retirada com aspirador de pó e logo após o
informações e ideias para o planejamento das demais etapas chão foi varrido.
que ainda seriam implantadas.
Objetivando a implantação do senso de saúde ou Seiketsu (4º
Com todas as etapas planejadas, a equipe de implantação con- S), foram colocados equipamentos de proteção individual
vocou uma reunião com todos os membros. Nesta reunião, foi (EPIs) próximos aos locais onde eram executadas as tarefas
feita uma apresentação mostrando a importância de cada um que exigiam seu uso. Estas tarefas eram: utilizar a micro retífi-
dos sensos para o desenvolvimento do projeto. Ainda, foi ca, lixar perfis da asas e empenagens do VANT e utilizar o
relizada uma dinâmica de grupo para que os membros se ferro de soldagem. Os membros da equipe de implantação
conscientizassem e percebessem a necessidade da ferramenta ficaram responsáveis por mostrar a importância de utilizar os
5S no projeto. Alguns casos de resistência foram percebidos, EPIs e as consequências causadas pela não utilização deles.
mas a grande maioria mostrou-se disposta a colaborar para que Além disso, foi abordada a saúde emocional da equipe através
a ferramenta surtisse efeitos positivos para a Equipe. de pesquisas de desempenho e satisfação. Com elas, seria
possível verificar o nível de motivação e integração dos mem-
A fase seguinte foi a implantação do Seiri (1º S). Foi determi- bros.
nado um dia para uma limpeza geral na sala de construção,
onde todos os materiais foram separados em útil, duvidoso e Finalmente, no Shitsuke (5º S) foi tratado como seria garantida
inútil. Os materiais classificados como útil foram guardados e a continuidade da ferramenta 5S na Equipe. Foi decidido que
os inúteis foram descartados. Uma caixa de quarentena foi os membros seriam avaliados semanalmente e que a equipe de
criada em cada setor de construção e os materiais duvidosos implantação se reuniria ao final deste período para trazer as
foram colocados nelas, assim os membros poderiam analisar sugestões de todos os setores. Esta mesma equipe ficaria res-
durante um determinado período de tempo a utilidade destes ponsável por fazer postagens de conscientização no grupo que
materiais e fazer o procedimento adequado (guardar ou des- a Equipe possui na mídia social, a fim de manter os membros
cartar). Ainda nesta etapa, placas de conscientização foram informados e empenhados em manter a ferramenta.
colocadas nos armários alertando os integrantes a guardarem
somente materiais úteis ao projeto.

Dando continuidade as atividades estabelecidas no cronogra-


ma, o senso Seiton foi implantado. Ao aplicar o 2º senso, foi RESULTADOS
feita uma organização de todos os materiais úteis para desen-
volvimento do projeto de forma que sejam de fácil localização Conforme descrito anteriormente, na tentativa de corrigir a
e sem perder tempo. Todos os materiais foram etiquetados malsucedida implantação da ferramenta 5S em 2016 na Equi-
para uma melhor identificação e foram organizados nas prate- pe Trem Ki Voa Micro, procedeu-se uma análise sobre o mé-
leiras dos armários. As prateleiras foram enumeradas e uma todo utilizado pelos membros do Setor de Engenharia do Pro-
lista foi criada com todos os materiais e a respectiva prateleira duto e foram buscadas novas formas de implementar a ferra-
que ele deveria estar. Esta lista foi afixada na porta dos armá- menta na Equipe.
rios, assim os membros não teriam problemas em saber qual
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Para que houvesse melhorias significativas, foram constatadas Para melhor percepção do problema, é apresentado a seguir
as orientações do Manual da ANVISA (2005) em relação às fotos do antes e depois da implantação definitiva do sistema
etapas a serem seguidas: equipe de implantação; planejamen- de 5S. Na Figura 1, é possível detectar os problemas relacio-
to; fotos e registros; reunião; implantação e acompanhamento. nados, uma vez que se observa a falta de organização e cola-
boração por parte das pessoas que atuam no setor. Nota-se
Para solucionar os problemas existentes antes da implantação também a presença de sujeira e materiais desnecessários.
dos 5S e sua viabilidade da implantação, realizou-se uma
auditoria onde foram constatados os problemas já menciona-
dos. A maioria destes problemas foi solucionado com sucesso, Gráfico 1: Pontuação Média dos Setores
houve uma melhoria significativa no trabalho da equipe e no Durante as Semanas de Avaliação
visual, apresentando um ambiente muito mais limpo, seguro e 60
organizado.
40
Para a avaliação dos membros, foi criado uma planilha com 20
perguntas que, ao serem respondidas, avaliavam todos os
0
setores do projeto em relação aos 5 sensos. Todos os dias da
Semana 1 Semana 2 Semana 3 Semana 4
semana dois membros da equipe de implantação eram respon-
sáveis por avaliar os setores. Para cada inconformidade detec- Pontuação Método Antigo
tada, o setor recebia um ponto na pergunta que a identificava.
Pontuação Método Novo
Ao final da semana de avaliação, o setor que recebesse a mai-
or quantidade de pontos ficaria responsável pela organização
da sala de construção. Essencialmente, um sistema semelhante Gráfico 1: Pontuação média durante as semanas de avaliação
ao utilizado em 2016, com perguntas bastante diferentes.

Foram anotados os resultados das avaliações pelo período de


um mês. A Tabela 2 apresenta os pontos obtidos por cada
setor no período especificado.

Tabela 2: Pontuação de Cada Setor na Avaliação da Assidui-


dade da Ferramenta 5S na Equipe

Data 1ª 2ª 3ª 4ª
Setor Semana Semana Semana Semana
Aerodinâmica 2 1 5 3
Cargas 5 1 4 6
Desempenho 2 2 4 3
Elétrica 1 2 4 3
Estruturas 5 1 6 6
Estabilidade 3 2 4 2
Produto 1 1 1 2
Simulação 2 1 1 2

A partir destes dados, pôde-se calcular total de pontos obtidos


por todos os setores em cada semana de avaliação e gerar um
gráfico que comparasse com as pontuações obtidas pelos
mesmos no ano de 2016. Os resultados foram plotados no
Gráfico 1, onde foi possível observar que houve uma redução
significativa na pontuação das avaliações semanais. Logo, Figura 1: Bancada antes da implantação do 5S
infere-se que o novo método para implantar o sistema 5s
mostrou-se mais eficiente do que na primeira tentativa. Na figura 2, pode-se perceber uma melhoria significativa na
limpeza do local e na estruturação das ferramentas, bem como
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a presença de placas de sinalização e uma organização ade- que a cultura 5s seja efetiva, a conscientização sobre a ferra-
quada, favorecendo maior controle sobre os materiais e proce- menta deve ser frequente, a fim de evitar que a equipe volte à
dimentos. sua situação inicial.

É interessante observar também que o 5s é uma ferramenta


fundamental e aparentemente simples, porém de difícil im-
plantação, sendo facilitada pelo método da ANVISA que foi
utilizado neste estudo de caso. Este método foi imprescindível
para que a segunda tentativa de implantação se sobressaísse à
primeira. Um problema nesse sentido, inevitável em Equipes
de competição como a Trem Ki Voa Micro, é a permanente
renovação de seu quadro, com a saída dos membros mais
experientes e, portanto, mais bem treinados. Isso indica a
necessidade de treinamento permanente dos novos membros e
a reciclagem dos antigos. Pelo lado positivo, maus hábitos
porventura existentes no ambiente de trabalho, tendem a desa-
parecer com a saídas dos envolvidos.

Figura 2: Bancada após a implantação do 5S Ademais, os sensos Seiri (utilização), Seiton (ordenação),
Seiso (limpeza) e Seiketsu (bem estar), foram muito bem de-
Esse procedimento resultou também em ganho de espaço nas senvolvidos e agregaram muito na produtividade do dia-a-dia
gavetas para acomodar, de forma organizada, os itens de uso da Equipe, facilitando a eficiência, rapidez e controle da exe-
importante no local referido. Consequentemente, apenas o cução de atividades.
necessário restou sobre as mesas e dentro das gavetas.

Praticamente todos os problemas foram solucionados, com


exceção do lugar adequado para guardar as caixas de transpor- REFERÊNCIAS
te, que foram realocadas para um local provisório onde não
atrapalhasse os membros da equipe durante o desenvolvimento ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. “O Mé-
do projeto. todo 5S”. Brasília: REBLAS, 2005. 16 p. Manual - Gerência
Geral de Laboratórios de Saúde Pública, 2005.

FALCONI, V. C. TQC – Controle da qualidade total (no estilo


CONCLUSÕES japonês). Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços Ltda,
2004.
Os resultados apresentados indicam que a segunda implanta-
ção da ferramenta 5S obteve maior êxito do que a primeira. Hirano, H. (2009). JIT implementation manual – The complete
Verifica-se, porém, que a partir da segunda semana a média de guide to just-in-time manufacturing: Volume 2 – Waste and
avaliações negativas começou a crescer, com tendência à esta- the 5S’s. New York: Productivity Press
bilização.
IMAI, Masaaki. Kaizen – A Estratégia para o Sucesso Compe-
Este fato nos leva a concluir que o tempo foi muito curto para titivo. São Paulo: IMAM,1992, p. 9.
que fosse consolidada a cultura dos 5s nos membros da equi-
pe. Isto é, o desenvolvimento do senso Shitsuke, que visa MIKA, G. Kaizen: Event Implementation Manual. Michigan:
estabelecer e dar continuidade aos bons atos, foi insuficiente. SME, 2006.
Para que a ferramenta seja mais efetiva, seria necessário mais
tempo até que houvesse mudança nas atitudes e nos hábitos OSADA, Takashi. Housekeeping, 5S’s: seiri, seiton, seiso,
dos colaboradores, dado que desenvolver autodisciplina é uma seiketsu, shitsuke. São Paulo: Instituto IMAM, 1992.
tarefa laboriosa. No período posterior à segunda semana, a
frequência da conscientização do sistema 5s diminuiu, justifi- RIBEIRO, Haroldo. 5S: Um roteiro para uma implantação
cando o aumento de avaliações negativas. Desta forma, até bem sucedida. Salvador, BA: Casa da qualidade, 1994. 99 p.
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SILVA, C.E.S.; SILVA, D.C.; NETO, M.F. & SOUSA,


L.G.M. (2001) 5S – Um programa passageiro ou permanente?
ENEGEP.

CONTATO
Autor: Lucas Antônio dos Santos Valadares – Universidade
Federal de São João del-Rei
E-mail: asvaladares.lucas@gmail.com

Co-Autora1: Marise Rosa de Faria Ribeiro – Universidade


Federal de São João de-Rei
E-mail: marise.faria@yahoo.com

Co-Autora2: Maria Cecília Junqueira Beraldo – Universidade


Federal de São João de-Rei
E-mail: mariaceciliajberaldo@hotmail.com

Professor Orientador: Cláudio de Castro Pellegrini– Universi-


dade Federal de São João del-Rei
E-mail: pelle@ufsj.edu.br

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