A TRADIÇÃO REENCARNACIONISTA

Orfeu, um filósofo e astrólogo que viveu na Grécia Antiga, foi um dos

primeiros a formular a doutrina da reencarnação.
Muitos sábios, como Pitágoras, Platão e outros, acreditavam na
transmigração das almas. Segundo eles, quando uma pessoa morria sem ter
atingido sua evolução, isto é, sem ter desenvolvido suas capacidades e praticado
boas obras, sua alma retornava, reencarnando, nascendo novamente como outra
pessoa ou outro ser.
A doutrina da reencarnação compreende Jesus diferentemente dos da
doutrina dos cristãos. Para católicos e evangélicos, Jesus é adorado como filho de
Deus e salvador da humanidade. Para os reencarnacionistas espíritas, Jesus é um
exemplo de como uma pessoa pode chegar à perfeição. Nesta tradição, a pessoa
atinge sua salvação não pela graça e auxílio de Deus, mas por seu mérito próprio,
evoluindo espiritualmente através de sucessivas reencarnações.
A tradição reencarnacionistas encontra sua versão moderna no espiritismo,
que teve em Allan Kardec (1804 – 1896) o seu grande sistematizador e divulgador.
Ele afirmava que todas as almas foram criadas por Deus desde sempre
(preexistência) e que estão inevitavelmente destinadas à evolução rumo à perfeição.
Tal perfeição só pode ser conseguida através de sucessivas reencarnações, as
quais estejam voltadas para o bem do próximo e para a pratica de boas obras. Os
espíritas acreditam também na comunicação entre o mundo terreno e o mundo
espiritual e que a alma é eterna e evolui. Muitos consideram o espiritismo não uma
religião tradicional, mas uma postura filosófica que prega a valorização da vida e
uma conduta profundamente ética.
Os espíritas mantêm estreito relacionamento com pessoas de religiões
diferentes, principalmente com os cristãos. A doutrina espírita vê em Jesus um
modelo de vida e um espírito de luz que atua como guia na caminhada espiritual das
pessoas. No budismo, a doutrina da reencarnação está ligada à lei do karma,
que condiciona a evolução espiritual das pessoas. Quando uma pessoa busca a vida
simples, baseada na oração, na caridade e na castidade, ela se liberta de seus
desejos, torna-se iluminada, atingindo a plena libertação de si e estando unida
harmoniosamente com todos os seres. Isso acontece quando o iluminado atinge o
nirvana e, dessa forma, está livre do renascimento, rompendo o ciclo de
reencarnações.
O karma é lei segundo a qual a existência presente condiciona a existência
futura. Isto é, se minhas ações forem boas, receberei bondade na próxima vida,
mas, se forem más, receberei maldade e ficarei preso ao ciclo de reencarnação.
Num dos sermões do Buda, que transcrevemos na sequência, pode-se
compreender melhor esse processo de nascimento e renascimento, em que o
desejo surge como fonte de enganos e sofrimentos:
 “Tudo no mundo é inflamado pelo fogo do desejo, pelo fogo do ódio,
pelo fogo da ignorância. O nascimento, a velhice, a morte, as
preocupações, as queixas, a dor, a tristeza, o amor carnal não
passam de chamas... As coisas visíveis para teu olho, ó brâmane,
estão em chamas. As coisas audíveis para teu ouvido estão em
chamas. É assim quanto a teus cinco sentidos e teu sentido interior.
Então não estás cansado de teus sentidos, das coisas, das
impressões e dos sentimentos que provocam? Se estás cansado,
fica sabendo então que estás libertado, livre das paixões. E
compreende brâmane, que o nascimento está terminado para ti e
que essa verdadeira santidade de que falavas vai cumprir-se. Todo o
resto não passa de ilusão, que te devora como chama.”
(DELUMEAU, 1997)

Na tradição da reencarnação, a vida humana é entendida como um processo

cíclico de nascimento e renascimento. Os problemas, o sofrimento e a própria morte
são vistos como possibilidade de crescimento e evolução espiritual, pois somente
evoluindo e tornando-se pura e boa a alma humana pode liberta-se desse ciclo e
viver segundo sua essência espiritual num plano ideal, longe dos sofrimentos.

Fontes: NAUROSKI, Everson Araujo. Redescobrindo o Universo Religioso: ensino

fundamental, v. 7. Petrópolis: Vozes, 2001
https://br.pinterest.com/pin/85920305377152590/ acesso em: 02/07/2020