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Irmandade de Santa Cecília

Registro de compromisso da Irmandade da gloriosa virgem e mártir Santa Cecília para


aqueles desejosos de ingressar como membro da irmandade. Dividido em dezesseis
capítulos, esse documento é interessante por revelar, desde as exigências requeridas para
se efetuar a adesão, até as normas que regulavam a vida de um membro dessa
instituição. Desse modo, permite uma maior compreensão do cotidiano dessas instituições.

Data do documento: 8 de outubro de 1787

Local: Rio de Janeiro

“Registro do Compromisso[1] da Irmandade[2] da Gloriosa Virgem e mártir Santa


Cecília[3] sita na igreja de N. S. do Parto[4] da cidade do Rio de Janeiro[5] de que é protetor
o Il.mo e Ex.mo senhor vice-rei do Estado.

Capítulo Primeiro ...

1°- Toda a pessoa que quiser exercitar a profissão de músico[6], ou seja cantor, ou
instrumentista será obrigado a entrar nesta confraria[7]; e para ser admitido por confrade
representará à Mesa declarando a qualidade do seu estado a sua naturalidade para que a
Mesa o possa admitir ou excluir sendo notoriamente inábil, ou publicamente escandaloso
pelo seu mau procedimento. ...

3°- Não serão admitidos na Irmandade senão os professores[8] que tiverem verdadeira
inteligência da música ... excluindo toda a pessoa que exercitar ofício mecânico[9]. Poderão
porém ser admitidos todos os que exercitarem ofícios nobres pela utilidade que destes pode
resultar a confraria. ...

4°- No ato de entrada de todo o que quiser ser irmão da confraria que não seja professor de
música dará dois mil e quatrocentos réis[10]. ...
Capítulo Segundo

Da obrigação de todos os novos irmãos em geral.

1°- Serão obrigados os irmãos músicos a contribuírem para o cofre da Irmandade


anualmente com um vintém[11] de cada pataca[12] que ganharem de todas as funções que
forem cantar ou tanger[13]. ...

3°- Assistirão todos os nossos irmãos professores a festa da nossa Santa, e o que faltar
sem ser por causa de moléstia, será multado por cada vez em dois arratéis[14] de cera. ...

4°- Falecendo qualquer dos nossos irmãos ou a mulher, filhos, ou pais de cada um deles
devem os mais por ato de caridade achar-se na igreja onde vai a sepultar para ali rogarem
a Deus N. Senhor pelas suas almas ....

5°- Nenhum dos nossos irmãos devem ensinar a profissão a pessoas que não sejam dignas
de a exercitar e capazes de entrar na nossa irmandade ....

Cumpra-se como S. Majestade[15] manda registre-se aonde tocar. Rio 8 de Outubro de


1787. Luis de Vasconcelos e Souza[16].”

[1]COMPROMISSO: estatuto que regia as irmandades católicas. Os compromissos eram


documentos juridicamente reconhecidos, nos quais vinham prescritas as normas, os
deveres e as obrigações que implicavam a associação a essas instituições. Cada irmandade
possuía um compromisso próprio, com suas especificidades.
[2] IRMANDADES: Associações de fiéis devotos a um santo, surgidas na Idade Média para
valorização da religiosidade leiga e difusão do culto aos santos, somadas aos esforços de
evangelização das populações pagãs. Presentes em Portugal na época da expansão
marítima foram transplantadas para África e depois para a América também em um esforço
de reforço da fé católica abalada com a reforma religiosa. As irmandades eram laicas –
promoviam o culto aos santos, mas encarregavam-se de tarefas terrenas, como a
assistência e a caridade com os desvalidos e doentes, garantindo aos irmanados além de
sustento, um enterro cristão, com todos os ritos fúnebres católicos. Empenhavam-se
também na materialidade da devoção, em promover a construção de igrejas e capelas, na
aquisição de adornos, terrenos, materiais para liturgias além da promoção de festividades
em louvor aos padroeiros. Eram regidas por estatutos conhecidos como compromissos, que
estabeleciam a missão, as funções, o funcionamento, a administração e precisavam ser
aprovados pela Mesa de Consciência e Ordens. As irmandades distinguiam-se das Ordens
Terceiras porque não eram ligadas a nenhuma ordem regular como no caso das segundas,
por essa razão eram também mais frequentes nas cidades e vilas de Portugal e da América
Portuguesa. No geral, no território brasileiro algumas irmandades eram mais destacadas do
que outras, como as dedicadas ao culto a Nossa Senhora do Rosário, ao Santíssimo
Sacramento e as Santas Casas de Misericórdia, responsáveis pelos hospitais na colônia e
por toda uma rede de assistência aos mais pobres. As irmandades reproduziam as
hierarquias, diferenças e desigualdades da sociedade do Antigo Regime. Havia as
exclusivas de brancos, negros, pardos, específicas de certos ofícios (continuando o papel
das corporações europeias), como comerciantes, artesãos e músicos, por exemplo, e ainda
havia as mistas, as quais, embora mais de um segmento da sociedade fosse aceito, a
hierarquia interna ou administrativa reproduzia a pirâmide social de brancos no comando, e
pardos e libertos ocupando os lugares mais baixos como membros. As irmandades negras
eram muito numerosas no ultramar e além do papel de culto tinham a função de auxílio em
necessidades, de espaço de sociabilidade e de quase reprodução de um vínculo familiar
perdido na vinda do continente africano para a América. Eram também frequentes o
sincretismo religioso e a prática de rituais associados às formas de devoção e culturas
africanas nas festas. Embora fossem organismos de resistência – sabe-se de movimentos
que surgiram a partir da articulação possível com as irmandades – além de cooperarem para
a libertação de escravos com a arrecadação para compra de alforrias, também é preciso
assinalar o papel aculturador e de certa forma opressor que essas associações
representavam ao forçar os africanos e seus descendentes na liturgia e religião católicas,
abandonando parte de suas culturas primitivas, além de disciplinarem as práticas de
sociabilidade e a construção de identidades, controladas nas festividades e na prática
cotidiana de sua devoção. As principais irmandades que reuniam a população branca eram
as do Santíssimo Sacramento, da Misericórdia e da Santa Cruz dos Militares. As dos negros,
pardos e mulatos eram as de Santo Elesbão e Santa Efigênia, do Rosário, do Amparo, dos
Remédios, de São Benedito, de São Gonçalo, entre outras.
[3] IRMANDADE DE SANTA CECÍLIA: associação religiosa constituída em Lisboa
provavelmente no início do século XVII, cuja primeira sede pegou fogo no Terremoto de
1755 e cujos primeiros documentos se perderam. Foi reconstruída em 1760 por alvará de d.
José I, que atendeu ao pedido dos membros da irmandade que desapareceu. Essa nova
versão da irmandade de Santa Cecília dos Músicos de Lisboa serviu de modelo para as
irmandades de corporações que surgiram no Brasil durante o período colonial e o primeiro
reinado, inclusive a própria irmandade de Santa Cecília, que só foi instalada por aqui na
segunda metade do século XVIII. Antes disso os músicos se reuniam em outras irmandades,
sobretudo as que aceitassem negros e mestiços, uma vez que muitos músicos da colônia
eram forros, libertos e mulatos. A música era parte da educação das elites brancas coloniais,
mas nunca como uma atividade laboral, ligada às artes liberais. Aos homens pobres,
sobretudo de cor, restavam tais posições de trabalho que conferiam algum prestígio. Nas
Minas Gerais, onde havia grande número de músicos, havia as irmandades de Nossa
Senhora da Boa Morte, de Nossa Senhora das Mercês, de Nossa Senhora do Rosário, que
recebiam os músicos, irmandades voltadas para a devoção de negros, cativos ou livres. A
primeira irmandade de Santa Cecília instituída no Brasil foi a de Olinda, em 1760, a do Rio
de Janeiro ocorreu em julho de 1784, quando teve seu compromisso registrado oficialmente
por um tabelião, na Igreja de Nossa Senhora do Parto. O compromisso, ou os estatutos de
funcionamento da agremiação, estabelecia o controle do exercício da profissão de músico,
já que somente os irmãos poderiam trabalhar na área profissionalmente, além de
estabelecer a necessidade de provar o talento e capacidade para a música. Regulava a
estrutura da irmandade / corporação, as ações sociais a que os irmãos tinham direito, como
sepultamentos, missas e auxílios financeiros e caridade, a distinção entre os tipos de
músicos, a rígida disciplina no exercício profissional bem como as penas para a infração das
regras, a perda do título de irmão em caso de mau uso da profissão ou mau comportamento,
os preparativos necessários para a festa da padroeira, principal evento que conferia
prestígio à irmandade e seus membros, além de tratar das questões administrativas
internas.
[4] N. S. DO PARTO: trata-se de uma das manifestações de Nossa Senhora. De acordo com
a Igreja Católica, as dores do trabalho de parto são parte do purgamento necessário às
mulheres por terem consumado uma ação pecaminosa em essência: a relação sexual. Na
história de Maria, por ser uma virgem, e, portanto, imaculada do pecado original, Deus a
livrou das dores do parto. A mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, pura e imaculada, era assim
invocada para amenizar as dores e a apreensão de todas as mulheres que estivessem em
trabalho de parto.
[5] RIO DE JANEIRO: a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro foi fundada tendo como
marco de referência uma invasão francesa. Em 1555, a expedição do militar Nicolau Durand
de Villegaignon conquista o local onde seria a cidade e cria a França Antártica. Os franceses,
aliados aos índios tamoios confederados com outras tribos, foram expulsos em 1567 por
Mem de Sá, cujas tropas foram comandadas por seu sobrinho Estácio de Sá, com o apoio
dos índios termiminós, liderados por Arariboia. Foi Estácio que estabeleceu “oficialmente” a
cidade e iniciou, de fato, a colonização portuguesa na região. O primeiro núcleo de ocupação
foi o morro do Castelo, onde foram erguidos o Forte de São Sebastião, a Casa da Câmara
e do governador, a cadeia, a primeira matriz e o colégio jesuíta. Ainda no século XVI, o
povoamento se intensifica e, no governo de Salvador Correia de Sá, verifica-se um aumento
da população no núcleo urbano, das lavouras de cana e dos engenhos de açúcar no entorno.
No século seguinte, o açúcar se expande pelas baixadas que cercam a cidade, que cresce
aos pés dos morros, ainda limitada por brejos e charcos. O comércio começa a crescer,
sobretudo o de escravos africanos, nos trapiches instalados nos portos. O ouro que se
descobre nas Minas Gerais do século XVIII representa um grande impulso ao crescimento
da cidade. Seu porto ganha em volume de negócios e torna-se uma das principais entradas
para o tráfico atlântico de escravos e o grande elo entre Portugal e o sertão, transportando
gêneros e pessoas para as minas e ouro para a metrópole. É também neste século, que a
cidade vive duas invasões de franceses, entre elas a do célebre Duguay Trouin, que arrasa
a cidade e os moradores. Desde sua fundação, esta cidade e a capitania como um todo
desempenharam papel central na defesa de toda a região sul da América portuguesa, fato
demonstrado pela designação do governador do Rio de Janeiro Salvador de Sá como
capitão-general das capitanias do Sul (mais vulneráveis por sua proximidade com as
colônias espanholas), e pela transferência da sede do vice-reinado, em Salvador até 1763,
para o Rio de Janeiro quando a parte sul da colônia tornou-se centro de produção aurífera
e, portanto, dos interesses metropolitanos. Ao longo do setecentos, começam os trabalhos
de melhoria urbana, principalmente no aumento da captação de água nos rios e construção
de fontes e chafarizes para abastecimento da população. Um dos governos mais
significativos deste século foi o de Gomes Freire de Andrada, que edificou conventos,
chafarizes, e reformou o aqueduto da Carioca, entre outras obras importantes. Com a
transferência da capital, a cidade cresce, se fortifica, abre ruas e tenta mudar de costumes.
Um dos responsáveis por essas mudanças foi o marquês do Lavradio, cujo governo deu
grande impulso às melhorias urbanas, voltando suas atenções para posturas de aumento
da higiene e da salubridade, aterrando pântanos, calçando ruas, construindo matadouros,
iluminando praças e logradouros, construindo o aqueduto com vistas a resolver o problema
do abastecimento de água na cidade. Lavradio, cuja administração se dá no bojo do
reformismo ilustrado português (assim como de seu sucessor Luís de Vasconcelos e
Souza), ainda criou a Academia Científica do Rio de Janeiro. Foi também ele quem erigiu o
mercado do Valongo e transferiu para lá o comércio de escravos africanos que se dava nas
ruas da cidade. Importantíssimo negócio foi o tráfico de escravos trazidos em navios
negreiros e vendidos aos fazendeiros e comerciantes, tornando-se um dos principais portos
negreiros e de comércio do país. O comércio marítimo entre o Rio de Janeiro, Lisboa e os
portos africanos de Guiné, Angola e Moçambique constituía a principal fonte de lucro da
capitania. A cidade deu um novo salto de evolução urbana com a instalação, em 1808, da
sede do Império português. A partir de então, o Rio de Janeiro passa por um processo de
modernização, pautado por critérios urbanísticos europeus que incluíam novas posturas
urbanas, alterações nos padrões de sociabilidade, seguindo o que se concebia como um
esforço de civilização. Assume definitivamente o papel de cabeça do Império, posição que
sustentou para além do retorno da Corte, como capital do Império do Brasil, já independente.
[6] MÚSICO: trata-se do ofício de músico. Com relação à música no Brasil colonial, as
irmandades religiosas viabilizaram a introdução dos instrumentos de corda no início do
século XVIII. Conhecidos como “rabecas”, esses instrumentos eram utilizados nos festejos
católicos. Por volta de 1750, a música sofreu mudanças, assumindo o estilo pré-clássico
italiano, que então dominava a música portuguesa. Note-se que a grande maioria dos
músicos, regentes e compositores deste período era constituída por mulatos, dentre os quais
podemos citar Caetano de Melo Jesus, Luís Álvares Pinto e Manuel Dias de Oliveira. Na
última década do século XVIII, houve a influência da música clássica italiana, cujos principais
representantes foram Domênico Cimarosa e Giovanni Paisiello. Entre as músicas populares,
existiam as modinhas e os lundus, sobretudo a partir da década de 1780, com
acompanhamento de violas e guitarras.
[7] CONFRARIA: o termo tem origem na Idade Média, quando um grupo de pessoas se
associa em torno de interesses ou objetivos comuns com vocação assistencial e espiritual.
Podiam ser associações religiosas ou corporativas. Nascidas da solidariedade profissional,
as confrarias laicas tinham como finalidades essenciais os socorros mútuos e defesa
comum, a arbitragem corporativa, a assistência na doença, pobreza e velhice, assim como
a velada, o sepultamento e o sufrágio das almas dos seus confrades. Já as de caráter
religioso, eram associações de leigos que se reuniam para promover o culto a um santo,
agrupando-se por vizinhança, foram extremamente importantes na América hispânica,
fundamentais para a propagação da fé católica na colônia, devido ao precário número de
missionários e paróquias para o vasto território.
[8] PROFESSOR: os jesuítas foram os primeiros professores da América portuguesa,
atuando nas escolas de alfabetização para crianças e adultos, onde ensinavam leitura e
religião a brancos e índios desde o século XVI. Com o crescimento populacional, a Coroa
estendeu esta tarefa também aos profissionais laicos, aumentando a oferta do ensino
escolar gratuito por meio das instituições militares, muito embora os colégios jesuítas fossem
em muito maior número do que os estabelecimentos laicos. Através do alvará de 1759, d.
José I, na figura de seu ministro Pombal, estabeleceu a reorientação do ensino luso,
substituindo os métodos utilizados pelos jesuítas por outros que se faziam presentes no
restante da Europa e que atendiam aos novos tempos ilustrados. Este novo método foi
detalhado na instrução para “Professores de Gramática Latina e Hebraico” e por alguns
livros recomendados, que deveriam ser seguidos pelos professores régios e particulares de
instituições religiosas ou não.
[9] OFÍCIOS MECÂNICOS: o termo designa atividades relacionadas com trabalhos
manuais. No Brasil colonial, tais ofícios eram considerados inferiores, dada a tradição
cultural de valorização do ócio enquanto representação de nobreza, associando-os à
escravidão. Com frequência esses ofícios se agruparam em irmandades como os
ferralheiros, ferreiros, serralheiros e outros que se reuniram na Irmandade de São Jorge.
Era tida como obrigatória tal filiação e, em alguns casos, as irmandades abrigaram a
população negra e escravizada, a despeito das interdições decorrentes dos critérios da
“limpeza de sangue”. A irmandade vedava em seu primeiro compromisso o acesso de
“Judeu, Mouro, negro ou mulato ou de outra infecta nação”, observa Beatriz Catão. Mas,
diante da intervenção da Coroa, iria admitir a presença tanto de irmãos proprietários de
escravos quanto de forros e cativos, reunidos a partir do ofício exercido (Irmandades, ofícios
e cidadania no Rio de Janeiro do século XVIII. IX Congresso Internacional da Brazilian
Studies Association (BRASA),2008. Disponível em
http://www.brasa.org/wordpress/Documents/BRASA_IX/Beatriz-Catao-Cruz-Santos.pdf). Já
os ofícios nobres relacionavam-se às habilidades intelectuais, tais como as letras e as artes.
No entanto, ao longo do século XIX, ofícios mecânicos prender-se-iam à ideia de “artes
úteis”, permitindo uma aplicação concreta em campos como a guerra, a engenharia, ciências
naturais, tipografia, ou seja, na produção de bens ou serviços públicos. Por serem
considerados impulsionadores de atividades econômicas, os ofícios mecânicos ganhariam
importância. Um exemplo foi a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios por d.
João VI em 1816, com o objetivo de formar “homens destinados não só aos empregos
públicos da administração do estado, mas também ao progresso da agricultura, mineralogia,
indústria e comércio de que resulta a subsistência, comodidade e civilização dos povos”. O
decreto de criação da escola afirmava fazer-se “necessário aos habitantes o estudo das
belas artes com aplicação e preferência aos ofícios mecânicos cuja prática, perfeição e
utilidade dependem dos conhecimentos teóricos daquelas artes e difusivas luzes das
ciências naturais, físicas e exatas”. As artes mecânicas incluíam ourivesaria, marcenaria e
até concepção de inventos e máquinas destinados a melhorar algum aspecto da produção
de bens.
[10] RÉIS: moeda portuguesa utilizada desde a época dos descobrimentos (séculos XV e
XVI). Tratava-se de um sistema de base milesimal, cuja unidade monetária era designada
pelo mil réis, enquanto o réis designava valores fracionários. Vigorou no Brasil do início da
colonização (século XVI) até 1942, quando foi substituída pelo cruzeiro.
[11] VINTÉM: antiga moeda equivalente a 20 réis.
[12] PATACA: moeda espanhola no valor de 420 réis, que circulou em Portugal e na América
portuguesa durante a União Ibérica (1580-1640). Após a restauração do reino de Portugal
lançou um apataca, em prata, correspondendo a 320 réis.
[13] TANGER: tocar instrumento musical
[14] REFORMA DOS PESOS E MEDIDAS: com a unificação do território português surge a
necessidade de padronização dos pesos e medidas no reino. Posteriormente, com a
incorporação de novos territórios decorrente da expansão marítima e comercial, dos séculos
XV e XVI, a preocupação com a uniformização dos pesos e medidas se estende a todo
império ultramarino. A imprecisão das unidades de medidas usuais, que permitia fraudes,
opunha-se à crescente importância de um sistema unificado e científico de pesos e medidas
que facilitasse as transações comerciais, tanto no interior do império como entre as
diferentes nações europeias. Apontando para uma tendência de uniformização dos pesos e
medidas a nível mundial, em função do comércio e das trocas científicas, é adotado o
“marco” em Portugal, medida de peso de uso corrente na Europa, por provisão, em outubro
de 1488. Assim, observam-se diversas reformas e regramentos no sentido de estabelecer
uma uniformização, e a partir do século XIX, a Academia Real das Ciências de Lisboa toma
parte em algumas das comissões encarregadas das reformas. Ainda em 1812, é criada uma
Comissão para o exame dos forais e melhoramentos da agricultura que, em conjunto com a
Academia Real, propõe uma reforma baseada no modelo francês, mas que mantinha a
terminologia portuguesa, de forma a atenuar a mudança. Finalmente, através de decreto de
d. Maria II, em meados do século XIX, é implantado o sistema métrico decimal adotando a
nomenclatura francesa. Até então, as unidades de medidas mais usadas em Portugal e, por
conseguinte, no Brasil, eram: para comprimento, a légua (6.600 m), a braça (2,2 m), a vara
(1,1 m) e o palmo (0,22 m); para peso, a arroba (≈15 kg), o marco (≈230 g), o arratel (≈460
g), a onça (28,691 g), o grão (50g) e a oitava (3,586 g). Já na pesagem do açúcar, utilizava-
se o pão (63,4 Kg); o saco (75 Kg); o barril, a barrica e o tonel (120Kg); a caixa (300 Kg) e
a tonelada (1000 Kg). Por fim, como medidas de volume, temos a cuia (1,1 l), a canada
(2,662 l), o quartilho (0,665 l), o almude (31,944 l), o alqueire (36,4 l) e a pipa (485 l).
[15] MARIA I, D. (1734-1816): Maria da Glória Francisca Isabel Josefa Antônia Gertrudes
Rita Joana, rainha de Portugal, sucedeu a seu pai, d. José I, no trono português em 1777.
O reinado mariano, época chamada de Viradeira, foi marcado pela destituição e exílio do
marquês de Pombal, muito embora se tenha dado continuidade à política regalista e
laicizante da governação anterior. Externamente, foi assinalado pelos conflitos com os
espanhóis nas terras americanas, resultando na perda da ilha de Santa Catarina e da colônia
do Sacramento, e pela assinatura dos Tratados de Santo Ildefonso (1777) e do Pardo
(1778), encerrando esta querela na América, ao ceder a região dos Sete Povos das Missões
para a Espanha em troca da devolução de Santa Catarina e do Rio Grande. Este período
caracterizou-se por uma maior abertura de Portugal à Ilustração, quando foi criada a
Academia Real das Ciências de Lisboa, e por um incentivo ao pragmatismo inspirado nas
ideias fisiocráticas — o uso das ciências para adiantamento da agricultura e da indústria de
Portugal. Essa nova postura representou, ainda, um refluxo nas atividades manufatureiras
no Brasil, para desenvolvimento das mesmas em Portugal, e um maior controle no comércio
colonial, pelo incentivo da produção agrícola na colônia. Deste modo, o reinado de d. Maria
I, ao tentar promover uma modernização do Estado, impeliu o início da crise do Antigo
Sistema Colonial, e não por acaso, foi durante este período que a Conjuração Mineira (1789)
ocorreu, e foi sufocada, evidenciando a necessidade de uma mudança de atitude frente a
colônia. Diante do agravamento dos problemas mentais da rainha e de sua consequente
impossibilidade de reger o Império português, d. João tornou-se príncipe regente de Portugal
e seus domínios em 1792, obtendo o título de d. João VI com a morte da sua mãe no Brasil
em 1816, quando termina oficialmente o reinado mariano.
[16] SOUZA, LUÍS DE VASCONCELOS E (1742-1809): nasceu em Lisboa e se formou em
bacharel em cânones pela Universidade de Coimbra. Ainda em Portugal, ocupou
importantes cargos da magistratura. Entre os anos 1779 e 1790, foi vice-rei do Brasil,
sucedendo o 2º marquês do Lavradio. Em seu governo criou uma prisão especial destinada
à punição dos escravos, como alternativa aos violentos castigos impostos pelos seus
senhores; promoveu a cultura do anil, do cânhamo e da cochonilha; apoiou as pesquisas
botânicas realizadas por frei José Mariano da Conceição Veloso e patrocinou a criação de
uma sociedade literária no Rio de Janeiro em 1786. Entre as melhorias realizadas na cidade
do Rio de Janeiro durante sua administração, destacam-se a reforma do largo do Carmo; o
aterro da lagoa do Boqueirão; a construção do Passeio Público – primeiro jardim público do
país – em 1783 e de novas ruas para facilitar seu acesso, como a rua do Passeio e das
Bellas Noutes – atual rua das Marrecas. Foi um incentivador das obras de Mestre Valentim
– um dos principais artistas do período colonial – responsável pelo projeto do Passeio
Público e de outras obras públicas na cidade. Destacou-se, ainda, na repressão à
Inconfidência Mineira [conjuração mineira], sendo um dos interrogadores de Joaquim
Silvério dos Reis. Pelos serviços prestados à Coroa portuguesa, recebeu a honraria da Grã-
Cruz da Ordem de Santiago e o título de conde de Figueiró.

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