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Sinop SEO Clone
Sinop SEO Clone
de GLÓRIA PEREZ
se Deus não existisse, tudo seria permitido
(Dostoievsky)
O grande cenário de nossa novela é o século 21, o novo milênio.
Costuma-se dizer que o século 20 foi o século da ciência e da tecnologia.
Essas áreas se desenvolveram tanto e tão ràpidamente, que a humanidade
acalentou fantasias a respeito de que, no ano 2000, a ciência e a tecnologia
seriam capazes de resolver todos os problemas e afastar os fantasmas que
atormentam o homem desde seu aparecimento sobre a terra: as necessidades
materias, a doença, a velhice, a morte.
Havia uma grande expectativa em torno dessa data, como se ela fosse o
marco de uma nova era para a humanidade. Mas como todo otimismo tem o seu
avesso, a chegada do ano 2000 atemorizou muita gente: profecias milenares
indicavam essa data como o final dos tempos. Viria o apocalipse previsto pela
Bíblia, por Nostradamus, pela Virgem de Fátima, por Rasputin, pela civilização
maia, pelos muçulmanos, enfim, por todos os profetas que habitaram a terra
desde que o mundo é mundo.
E aqui estamos, récem chegados ao novo século, ao novo milênio. O
mundo não se acabou e nem conquistamos, através da ciência e da tecnologia, o
paraíso terrestre. A novela trata de fazer esse inventário: o que mudou? para
onde estamos caminhando?
O século 21 será, sem dúvida alguma, o século da engenharia genética. E,
nesse momento, a questão mais polêmica, mais atual, nesse terreno, é o
aparecimento do clone. A possiblidade de clonar um ser humano confere ao
homem o poder de criar a vida, de tomar, para si, uma competência que sempre
foi só de Deus. Põe, em suas mãos, o destino de sua própria evolução.
O mundo inteiro se volta para as implicações religiosas e éticas desse
fato. Além da clonagem, a engenharia genética de hoje também é capaz de
alterar o gens, de modo a emprestar ou retirar, dele, características naturais. Se
isso implica na possibilidade de poder eliminar doenças hereditárias, pode-se
também, através dessa manipulação, acentuar ou eliminar caracteristicas de
personalidade, como a agressividade, a passividade, enfim, qualquer das
características humanas que já venham inscrita no código genético.
Os riscos de uma tal realidade são óbvios e evidentes: que critério
presidirá essa manipulação? Como se vai poder controlar a utilização política
desse novo poder?
No “Admirável Mundo Novo” Huxley previu uma humanidade assim,
robotizada, fabricada de acordo com as conveniências políticas de cada momento
histórico. O que era uma fantasia da ficção científica, é hoje uma realidade
palpável. Em todos os países, o governo, os religiosos, as instituições, discutem a
questão, no sentido de tentar estabelecer os limites éticos dessas experiências.
Dentre todas essas conquistas da engenharia genética, a mais polêmica, a
que mais instiga o imaginário popular, é o clone. As razões são óbvias: o clone é
o homem criado pelo homem. Até hoje Deus foi o criador e todos os homens da
terra as suas criaturas. A partir da clonagem, os homens serão ao mesmo tempo
criadores e criaturas. Os novos deuses habitarão laboratórios e usarão jalecos
brancos. Estaremos abrindo mão da infinita diversidade da natureza na
construção do humano.
O clone não se enquadra na idéia de família que temos hoje. Não tem pai
nem mãe e não nasceu do sexo, como aqueles que foram criados pela natureza:
ele é a cópia, o xerox de um outro homem. Os religiosos discordam sobre o fato
de que tenha ou não tenha alma. Uns acham que sim, outros juram que não. E
todos se mobilizam ante a possibilidade de confrontar-se com o seu duplo, com
sua própria imagem.
Mais uma vez retomamos um tema que já abordamos em BARRIGA DE
ALUGUEL, em DE CORPO E ALMA, em EXPLODE CORAÇÃO: vamos falar das
experiências humanas que não foram vividas pelas gerações anteriores à nossa.
Vamos falar sobre como o avanço da ciência modifica a vida cotidiana do
homem, colocando-o em situações absolutamente novas, para as quais ele não
tem nenhuma referência no passado. Situações que ele deve enfrentar com um
coração antigo, com todo um modo de sentir e de pensar inadequados a ela, e
dentro de uma realidade social onde elas ainda não cabem.
Como nas novelas citadas, a ciência será pano de fundo. O que está em
primeiro plano é a vivência emocionada de uma nova situação de vida, o
confronto entre o clone e o clonado.O tema é atual, polêmico, capaz de
mobilizar e provocar impacto. Ao mesmo tempo, em sendo tão novo, guarda
ainda a magia das maravilhas apenas imaginadas pela mente humana.
Essa experiência atualíssima, que reverte todos os conceitos, todas as
certezas que até agora tivemos sobre os mistérios de nossa própria origem, terá
como contraponto os muçulmanos e suas tradições milenares. A religiosidade do
oriente, sua fé, sua preocupação com o espírito, com a salvação da alma, estará
em confronto com o materialismo do ocidente. O homem “submisso” a Deus, e o
homem que buscar “submeter” Deus, tornando-se, ele próprio, criador.
Dentro desse quadro, vamos focalizar algumas características desses
nossos tempos: o excesso de individualismo, o misticismo, a avidez pelos 15
minutos de sucesso, a solidão das pessoas, as mudanças de comportamento que
provocaram verdadeira inversão nos papéis tradicionais do homem e da mulher,
de modo a sublinhar essa tensão do antigo com o novo, do revolucionário com o
tradicional, de que se faz o tecido da modernidade.
A proposta é traçar um painel desse final de milênio, mostrando as
incertezas e as esperanças com que atravessamos para uma nova era.
Convém registrar também que não vamos, propositalmente,
diferenciar as correntes do islamismo, de modo a não tomar o partido
de nenhuma delas. Assim, não se dirá se as personagens que
representam o mundo muçulmano são xiitas ou sunnitas -essa é uma
polêmica desnecessária para a novela, e estaremos atentos para evitá-
la.
A história deve ser contada de forma atemporal, não se deixando claro em
que ano começa a ser contada.
Eu vi o ontem. Eu sei o amanhã
(inscrição no túmulo de Tutankamon-1.300 ac)
A TRAMA CENTRAL
os gêmeos FERRAZ
OS ÁRABES
“Não se case
Com mulheres que não têm fé,
Até que a tenham.
Uma escrava que tem fé
É melhor que uma que não tem.
Não case suas filhas com hereges,
Até que eles tenham fé.
Um escravo que tem fé
É melhor que um herege
(SURA II, 221)
20 ANOS DEPOIS
JADE
AS PARALELAS
OS ADIB
MEL E XANDE
\ LIDIANE E OLAVINHO
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