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Prof. Ms. Bruno Miranda (Líber/SEDUC-PE).

Rua Azeredo Coutinho 120, bl. 01 apt. 201


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FONTES PARA A HISTÓRIA DA CAPITANIA DA PARAÍBA


DURANTE A OCUPAÇÃO DA COMPANHIA DAS ÍNDIAS
OCIDENTAIS (1634-1654) - QUESTÕES DEFENSIVAS

1
ÍNDICE

Locais de pesquisa e fontes consultadas.................................. 03


Bibliografia ......................................................................... 04
Fontes Impressas ................................................................ 24
Fontes Manuscritas ............................................................. 71
Fontes Iconográficas ........................................................... 82
Listas elaboradas ................................................................ 87
Pessoas.............................................................................. 87
Topônimos ......................................................................... 93

2
LOCAIS DE PESQUISA E FONTES CONSULTADAS

1. Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco


(IAHGP).

Coleção José Hygino (Nótulas Diárias); Coleção Joaquim Caetano


(Documentos Holandeses). Literatura; Iconografia e Revistas do
Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco.

2. Instituto Ricardo Brennand (IRB):

Literatura e iconografia.

3. Bibliotecas da Universidade Federal de Pernambuco: Biblioteca


Central (BC); Biblioteca do Centro de Artes e Comunicação
(BCAC); Biblioteca do Centro de Filosofia e Ciências Humanas
(BCFCH).

Literatura e iconografia.

4. Líber

Coleção José Hygino (Nótulas Diárias), Coleção Joaquim Caetano


(Documentos Holandeses) e literatura.

3
BIBLIOGRAFIA

MELLO, José Antonio Gonsalves de. A Rendição dos Holandeses


no Recife (1654). Recife: Parque Histórico Nacional dos
Guararapes – IPHAN/MEC, 1979.
(Biblioteca Central (UFPE) - 981.34 M527r PIU / Biblioteca do
Centro de Filosofia e Ciências Humanas - 981.34 M527r ESP / IRB)

Páginas 20-21

A Capitania da Paraíba foi território holandês de 1634 a 1654.


Comandava-a, à altura da capitulação, e desde março de 1652, o
Coronel Guillaume de Houthain, sendo responsável pela tropa
indígena auxiliar o Commandeur Johan Listry 1 . Aí encontrava-se
então o navio da Companhia das Índias Orientais denominado
West Friesland, da Câmara da Zelândia, arribado ao Recife a 16 de
abril de de 1653 vindo do Oriente, com onze meses de viagem,
por falta de água e lenha; transferido para a Paraíba aí
permaneceu, sob vários pretextos, até 1654 2 . Com a chegada da
armada portuguesa a Pernambuco o Alto Governo, para reforçar as
guarnições do Recife, autorizou o abandono do Forte do Gargaú,
que os holandeses tinham nas proximidades da cidade da Paraíba,
sob o comando do Capitão Otto van Ijlem, e que os seus soldados,
em número de 80, e mais 100 soldados indígenas fossem para
aqui embarcados, sendo realizada a viagem com dificuldades e
perdas, pela vigilância dos navios da armada, em frente ao Recife
3
. Para a Paraíba a fragata particular, de corso, De Vos (Capitão

1
Nota de número 13 - Dag. Notulen de 21 de março de 1652, ARA, OWIC 75.
Houthain substituíra Jacob Stachhouwer morto no mês anterior.
2
Nota de número 14 - Generale Missiven ao Conselho dos XIX, Recife 21 de maio e
30 de junho de 1653, ARA, OWIC 67.
3
Nota de número 15 - Dag. Notulen de 27 de dezembro de 1653, 4 e 6 de janeiro de
1654, ARA, Criminele papieren, maço 5252 portef. C. Os indígenas, que formavam
duas companhias, foram levados para os fortes de Afogados e Altená, embora se
reconhecesse <<que essa nação não se acomoda a ficar encerrada nos fortes,
preferindo dispor de espaço e de saída>>. O Alto Governo tentou, também, trazer o
próprio Houthain para o Recife, com novo reforço de 200 soldados (dos quais 50
índios), mas se convenceu da impossibilidade de fazê-lo, em conseqüência do
bloqueio marítimo. A Paraíba devia ficar então sob o comando do Capitão Gijsbert de
Tint, com gente do West Friesland; moradores e soldados fariam a guarnição do Forte
Margarida: Dag. Notule de 18 de janeiro de 1654, idem, e nas cartas do Alto Governo
a Houthain, Recife 18 e 19 de janeiro de 1654, ARA, Criminele papieren cit.

4
Bartel Brant), que cruzava no litoral nordestino, levou um navio
português que se dirigia ao Oriente <<ricamente carregado>>,
tomando prisioneiras as 44 pessoas que nele iam embarcadas 4 .
(...) Segundo Francisco de Brito Freire, os holandeses tinham
nessa altura na Paraíba quatro fortificações: <<as fortalezas do
Norte, da Aldeia, de Santa Margarida e do Reduto>> 5 . A do
Norte, chamada pelos portugueses de Santo Antônio, estava na
margem setentrional do rio; a da Aldeia era provavelmente o
reduto que existia na aldeia de Gargaú, a que já nos referimos; a
de Santa Margarida, ou antes, Margarida era a do Cabedelo e o
Reduto seria a pequena fortificação no Varadouro 6 .

4
Nota de número 16 - Dag. Notule de 24 de janeiro de 1654, idem. Parece tratar-se
da naveta <<Nossa Senhora da Penha de França>>: Comandante Antônio Marques
Esparteiro, Catálogo dos Navios Brigantinos (Lisboa, 1976) p. 10.
5
Nota de número 17 - Virgínia Rau, <<Relação inédita de Francisco de Brito Freire
sobre a capitulação do Recife>>, Brasília vol. IX, (Coimbra, 1954) p. 203. Publicada
aqui como Apenso I.
6
Nota de número 18 - O Inventário das Armas 2°. Ed. (Recife, 1940) pp. 66/68
menciona cinco locais onde havia artilharia.

5
MENEZES, José Luís Mota; RODRIGUES, Maria do Rosário Rosa.
Fortificações Portuguesas no Nordeste do Brasil. Séculos
XVI, XVII e XVIII. Recife: Pool Editorial, 1986.
(Biblioteca Central (UFPE) - 725.18 M543f / Biblioteca Centro de
Artes e Comunicação - 725.18 M543q ESP)

O texto de José Luís Mota Menezes tem de informações básicas


sobre o sistema de defesa da Paraíba (composto por três
fortificações, a saber, o Forte de Santa Catarina, o Forte da
Restinga e o Forte do Norte) e contém também, a partir de uma
imagem de Johan Vingboons de 1660, um esquema do campo de
tiro das fortificações do sistema de defesa montado para resguardo
da barra do rio Paraíba (página 20).

Página 36

“O sistema defensivo básico da Paraíba, originalmente de projeto


português, utilizando fortes e redutos na entrada do rio de mesmo
nome, antes São Domingos, tornou difícil a tomada da Capitania
pelos holandeses, os quais somente atingem esse objetivo em
1634”.
“No momento em que se conquista a Paraíba os holandeses dão
notícia do feito através de narrativa impressa com estampas
alusivas. Nestas se pode ver bem claro o uso de forma triangular e
cruzada dos tiros através das fortificações, tendo como principal a
de Cabedelo e as outras situadas na restinga, ilha e no norte.
Eram fortificações em terra e que foram reformuladas, desde a
principal, nos seus traçados pelos holandeses, depois de 1634”.
“Desenho se guarda, reproduzido no Catálogo de uma exposição
sobre Nassau, da nova forma do forte Margarida, conforme titulou-
o Nassau em 1638”.
“O sistema português foi mantido pelos holandeses e somente se
desmantela com o desaparecimento das outras fortificações de
apoio”.
“O forte Margarida, após a saída dos holandeses será o de Santa
Catarina, reconstruído em pedra ainda subsistente, apesar de
perda, por destruição do mar, de dois de seus baluartes”.

6
“No momento, em restauração mas, como as demais fortificações
sem uso nenhum”.
“Os outros fortes existiam na costa da Paraíba e por serem de
terra e depois inúteis, desapareceram sem deixar vestígios”,

Páginas 43-44

Relação de todas as fortificações, segundo a data de construção.

Séculos XVI e XVII

Ano Capitania Fortificação


1579 Paraíba Forte da Ilha da Conceição
1583 Paraíba Bateria da praia de Lucena
1584 Paraíba Fortim de São Filipe
1585 Paraíba Forte da Baía da Traição
1585 Paraíba Forte de Nossa Senhora das Neves
1586 Paraíba Forte de Santa Catarina do Cabedelo
1591 Paraíba Forte de Inhobim
1631 Paraíba Forte de Santo Antonio
1634 Paraíba Fortim do Varadouro

Contagem de fortificações

Página 46 6 fortes; 2 fortins e 1 bateria

Legenda das abreviações

7
Construção = CON
Localização = LOC
Arquitetura = ARQ
Artilharia e Guarnição = A.G.
Ocupações = OCU
Diversos = DIV

Páginas 72-78

FORTE DA ILHA DA CONCEIÇÃO

1579 CON Foi construído um fortim de madeira que veio a


dar origem ao forte.
LOC Estava situado na ilha da Conceição no meio do
rio Paraíba e entre o forte de Santo Antônio e a
fortaleza de Santa Catarina do Cabedelo.
OCU Foi atacada por índios.
1634 No dia 9 de Dezembro caiu em poder dos
holandeses.
1980 Não restam vestígios desta fortificação

FORTE DE SÃO FILIPE

1584 CON Foi construído pelo capitão Francisco Corteja. No


dia 1 de Maio estavam concluídas as obras da
sua construção.
DIV Deve o seu nome ao santo do dia em que foi
terminado e também em homenagem ao
soberano espanhol.

8
LOC Estava situado na margem esquerda da foz do
rio Paraíba defronte da ilha da Conceição
aproximadamente uma légua acima do forte de
Santo Antônio.
OCU Várias vezes, ao longo deste ano os índios e os
piratas franceses atacaram o forte, tendo sempre
sido repelidos.
1585 Os seus defensores, sem condições de
resistência, incendiaram-no e retiraram-se para
Pernambuco, não sem antes terem deitado toda
a artilharia ao mar. Os franceses ocuparam
então o forte.
1880 Já não existiam vestígios deste forte.

FORTE DA BAIA DA TRAIÇÃO

1585 CON Foi construído pelos franceses.


LOC Estava situado na baía da Traição.
OCU Pouco depois da sua construção foi atacado e
destruído pelos portugueses. 1699
1699 CON No mesmo local foi construída uma atalaia.
1715 ARQ A atalaia foi transformada num forte; este foi
construído em pedra e cal.
1980 Não existem vestígios.

FORTE DE NOSSA SENHORA DAS NEVES (ou do Varadouro)

1585 CON Construído por um oficial alemão.


LOC Estava situada numa colina, na margem direita
do rio Paraíba a 18 km da sua foz.
ARQ De forma quadrada, tinha 33 m de largo e 2
baluartes.
A.G. Estava guarnecido com 8 peças

9
1980 Não restam vestígios.

FORTE DE SANTA CATARINA DO CABEDELO

1586 CON Segundo informarções recolhidas no Arquivo


Histórico e Ultramarino, e nas obras de R.
Miranda e P. Moschella, o forte teria sido
construido nesta data; porém, C. Garrido aponta
o ano de 1585 como aquele em que o forte foi
construído, enquanto que A. Sousa avança com a
data de 1584.
A fortificação foi erguida por ordem do general
espanhol D. Diogo Flores Valdez, comandante da
frota espanhola, que de Pernambuco partiu por
ordem do Governador-geral Lourenço da Veiga, a
conquistar a capitania de Paraíba, ameaçada de
cair em poder dos franceses que, aliados dos
índios daquela região, tentaram por mais de uma
vez apoderar-se do primitivo forte e da
povoação, em cujas imediações já se haviam
estabelecido.
A obra de construção foi dirigida pelo oficial
alemão, engenheiro Cristovão Lintz; foi ajudado
por 110 espanhóis da cavalaria de Olinda, que
para aí se transportaram numa frota de 9 navios
(a de Flores Valdez), bem como por mais de 700
(índios e 100 negros da expedião terrestre (de
apoio a armada) que marchava sob a chefia de
Filipe de Moura e de Frutuoso Barbosa.
LOC Estava situado na margem direita do rio Paraíba,
perto da foz, num lugar conhecido como
Cabedelo.
DIV O forte começou por chamar-se de São Filipe em
homenagem ao rei espanhol.
A. G. A sua guarnição era chefiada pelo capitão
Francisco Morales e era formada por 50 soldados
espanhóis.
Montava 18 peças.

10
1597 OCU Os franceses atacaram o forte, desembarcando
350 soldados de 13 navios, mas foram
repelidos pelos 20 homens e 5 canhões
existentes no forte.
DIV Passou a chamar-se de Santa Catarina.

1603 CON O forte foi reparado tendo as obras sido custeadas


pelos oficiais da Câmara; existe um auto, de 26
de Abril, onde os oficiais da Câmera dão conta do
auxílio que deram para a fortificação da barra do
Cabedelo.
Comandava o forte o capitão-mor Pereira sendo
sargento, Diogo de Campos Moreno.

1630 Na descrição da cidade e barra da Paraíba que é


feita por Antonio Goncalvez, aparecem algumas
referências ao forte de Santa Catarina do
Cabedelo:

LOC "(...) Entrando pella barra dentro, que se entra


com suas vigias por aver algumas Coroas de
area e restingas tres quartos de legoa da barra
da parte do sul da banda donde está a cidade
está huma fortaleza de barro sobre hum areal
fortissima e antigua cuberta

ARQ de telha e folha de palma que tem vinte e tantas


pessas de artilharia de ferro coado

A. G. muito boas algumas dellas que arrojão pelouro


de doze, ou catorze livras e logo defronte della
da banda do rio a loeste fica huma ilha dos
padres de Sam Bento, que tera em redondo mais
de meia legoa acostada a outra parte da terra da
banda do noroeste por onde ella e a terra não
pode lassar senão hum barco de remos, porque a
may (sic) do rio fica entre a dita ilha. Este he o

11
canal por onde sobem as embarcações, porem
todas as podem alcansar a artelharia da dita
fortaleza por quanto della a ilha não avera mais
distancia, como de São Roque ao outro da
Boavista.
Esta fortaleza pode ser socorrida de dentro da
cidade por terra de gente de pé e cavallo dentro
em três horas, porque quando ha ocasião de
enemigos se tira huma pessa de rebate, que se
ouve muito bem na cidade, e se pode conhecer
por ella que ha enemigos na barra (...).
He capitão desta fortaleza proprietario por Sua
Majestade João de Matos homem antiguo de
idade de 80 annos, e que criou ali ha muitos
annos, e que se criou ali ha muitos annos (sic) e
se achou em todas as guerras que ouve na
Paraiva com os indios, porem hoje serve em seu
lugar, e assiste na fortaleza Simão de
Albuquerque de Mello seu genro homem fidalgo
de idade de 30 annos deligente e capaz do cargo
que tem como mostrou o anno de 627 em
defensao de hum navio de Viana, que se
socorreo a fortaleza perseguido de quatro navios
de enemigos, que a fortaleza fez retirar. E o
remedio que tem os navios perseguidos de
enemigos he acostar se 5 fortaleza em que
ordinariamente assistem 20, 30 homens das
companhias da ordenança afora os
bombardeiros, e alguns soldados pagos por el
rey, que poderão ser perto dos dez, ou doze, e o
capitão sempre assista com elles de morada com
sua molher e filhos".

1631 OCU O forte é atacado pelos holandeses comandados


pelo General Lichtard.

Da frota de 26 navios desembarcaram 3.000


homens que, sob as ordens do Coronel Calvi se
entrincheiraram num reduto entre o forte e a
vila. Porém, este reduto é conquistado pelos

12
portugueses morrendo no combate Jerônimo de
Albuquerque. Mas os holandeses são obrigados a
retirar.

ARQ O forte foi melhorado. Benedito Calixto dá-nos


conta do estado do forte nessa época e em
princípios deste século. O forte estava
guarnecido, do lado de terra, por uma linha de
trincheiras e de fosso invadido pela água do mar
(esse fosso encontra-se soterrado e a trincheira
muito danificada pelo embate das ondas). O
acesso da trincheira para o forte era feito por
meio de uma ponte levadiça, cujos vestígios dos
argolões, embutidos nas muralhas, ainda são
visíveis. Os baluartes, muralhas e trincheiras
eram construídos de grandes blocos, de um
granito bastante resistente. A rocha parece ter
sido conduzida para ali de bastante longe, visto
não existir vestígio algum dela em toda a
vizinhança e estarem as montanhas e pedreiras
bastante afastadas do litoral. Para se penetrar no
forte, depois de transposto o pórtico, tinha de se
atravessar um largo corredor abobadado,
disposto em curva (mais de 750), no meio do
qual existia uma abertura praticada na abobada
e por onde descia uma grande porta ou alçapão
de ferro, que vedava o acesso da praça em caso
de assedio. Paralelo ao corredor existia uma
outra galeria, ou calabouço, escura e bastante
ampla; a galeria tinha, na parte que divide com o
corredor, diversas aberturas ou frestas verticais,
praticadas em sentido diagonal, afim de impedir
a entrada da luz exterior; tais aberturas eram
destinadas, em caso de ataque, a servir de
seteiras por onde os arcabuzeiros dirigiam os
canos dos seus mosquetes e fuzilavam à queima-
roupa os invasores que ousavam penetrar no
corredor. O corredor comunicava com o grande
pátio interior onde estavam os alojamentos, que
podiam abrigar muitas dezenas de soldados.
Amplas escadas de ferro davam acesso às
baterias superiores, onde se a grande quantidade

13
de canhões de grosso calibre, ainda assestados
às respectivas canhoneiras, sobre velhas
carretas. Grande parte dos armeiros e baluartes
estão desmoronados para o lado do mar e as
peças, em grande parte, rolaram pelos taludes
abaixo ou se acham espalhadas ao longo da
praia e sepultadas na areia. Sobre os parapeitos
e ameias existem ainda cerca de 60 canhões,
alguns de bronze, com belos ornamentos em
relevo e inscrições diferentes. Na bateria sul
existem um canhão de bronze, de grosso calibre,
com o brasão de armas dos Filipes de Castela,
tendo em cima a coroa real de Espanha. Outros
dos canhões têm as armas de Portugal; alguns
destes têm a seguinte inscrição sobre a culatra:
"ANNO DOMINI - 1622”.
1634 OCU O General Segismundo-Van-Scklopp, auxiliado
por Calabar, e com 32 navios e 2.400 homens,
chegou a Cabedelo onde desembarcou gente
dando inicio a um apertado sítio, intercalado por
uma série de mortíferos combates contra este
forte, o de Santo Antônio e a Bateria de São
Bento. No dia 16 de Dezembro o capitão do
forte, Antônio de Albuquerque, é obrigado a
render-se, aceitando as propostas do chefe
batavo, o que permitiu aos portugueses
abandonar a praça com as suas armas e
bandeiras.
1637 O forte foi reconstruído e ampliado por ordem de
M. Nassau, passando a chamar-se Forte
Margaret em homenagem a sua antepassada.
1641 Fernandes Vieira tentou apoderar-se do forte,
corrompendo o seu comandante, o Coronel
Blandeck, mas que, denunciado, foi substituído
pelo General Lange.
1654 Foi reocupado pelos portugueses, chefiados pelo
Mestre de Campo Francisco Figueiroa. Foram-lhe
feitos melhoramentos.
1689 As condições em que se achava o forte são-nos
dadas através do seguinte documento, de 15 de
Maço de 1689:

14
“Carta de El-Rei ao Governador da capitania de
Pernambuco, enviando o que escreveu Amaro
Velho Cerqueira, Capitão-mor da Paraíba, acerca
de haver ido aquela capitania o engenheiro José
Pais Estevens, para ver a obra que se devia fazer
na reedificação da fortaleza do Cabedelo, como
se mandou ordenar ao Governador Fernão
Cabral, e que tornando o dito engenheiro com a
notícia se não tratou da reedificação e se arruína
toda a fortaleza é maior o dispêndio, e
ordenando se acuda pela Fazenda Real, por
convir muito a sua conservação".

1763 A. G. Estava artilhada com 49 peças, das quais não se


conhecem os calibres.
Tinha uma guarnição de 69 homens, assim
distribuídos:

1 capitão - (vago)
1 tenente - Luis de Lima (comandante)
1 alferes - Francisco Róiz Barbosa
1 sargento do número - Antônio de Melo Moniz
1 sargento supra - Joam Ignácio da Rocha
1 condestável - Joam Figueiredo de Moraes
1 tambor
42 soldados fuzileiros
20 soldados artilheiros
“A guarnição desta fortaleza he pertencente à
mesma e nela se acham efectivamente servindo
independente das companhias que guarnecem a
cidade de Parahiba”
CON O forte não está acabado em algumas partes,
onde lhe faltam os parapeitos.

15
1778 A.G. Tinha a seguinte guarnição, com 139 homens:

1 capelão
1 capitão
1 tenente
1 alferes
1 sargento
1 furriel
1 porta-bandeira
1 condestável
4 cabos
1 tambor
10 soldados artilheiros
47 soldados
69 praças.
Montava 122 peças, com os seguintes calibres:
calibre 4 - 2 peças de ferro
calibre 6 - 3 peças de ferro
calibre 8 - 6 peças de ferro
calibre 16 - 1 peça de ferro
calibre 16 - 6 peças de bronze
calibre 18 - 2 peças de bronze
calibre 18 - 7 peças de ferro
calibre 20 - 8 peças de ferro
calibre 20 - 1 peça de bronze
calibre 24 - 8 peças de bronze
calibre 24 - 8 peças de ferro
calibre 26 - 1 peça de bronze

16
1798 ARQ Documento do governador Fernando Delgado
Freire de Castilho, datado de 20 de Setembro,
e em que dá conta do estado do forte e dos
meios para reparar e conservar:
"As muralhas tem todas falta de reboque para
sua conservação e estão sem parapeito, nem
canhoneiras para livremente laborar a
artelharia. A Ponte do Fosso está toda
arruinada por se achar a madeira da estiva
toda podre e melhor se achão faltas de piras, o
que faz com ella seja huma passagem
arriscada. O Fosso se achou em partes
entulhado fazendo impedimento ao curso água
que deve receber. O Portão principal acha-se
todo arruinado com o macho da dobradiça da
parte esquerda quebrado, e huma das
dobradiças da parte direita de todo fora, assim
como duas mais da mesma parte despregadas
sustentando somente pelos últimos pregos em
razão da madeira estar toda podre e não poder
sustentar prego algum, o que faz que só com
risco se possa feixar.
Não tem portão interior suposto se achar lugar
para o haver.
A Capella tem todas as tampas das sepulturas
podres, e algumas já desbaratadas, e as
paredes denegridas.
O Telhado do Corpo da Guarda necessita
melhorado por chover em todo elle, e evitar a
ruina da madeira.
Acha-se quebrada a feixadura da porta da
cocheira e juntamente despregada huma
dobradiça, pelo que se não pode feixar.
O Palacio, ou caza dos Governadores, tem o
telhado demolido em duas partes e vai
continuando a sua ruina por se achar a
caibraria toda podre, assim como o assoalhado
e portas e sobreportas do interior, e cinco
traves; a mais madeira (...) está boa, porem

17
ficará totalmente arruinada, e sem prestimo
algum se brevemente se não reparar.
A Caza dos Comandantes necessita retalhada,
e o seu fogão, e chaminé estão arruinadas com
huma trave já no chão, e huma também de
menos no portão do interior.
O Primeiro Quartel, onde se achou alguma
polvora, preciza ser retelhado e o segundo da
mesma serventia tem a feixadura e dobradiças
quebradas. O outro quartel tem tão bem huma
dobradiça quebrada e igualmente preciza ser
retelhado.
O Primeiro Quartel da esquerda acha-se com a
tarimba falta de algum soalho, tem suas
goteiras assim como todas as mais.
O corredor que vem para o portão esta todo
minado de grandes formigueiros, o que lhe tem
feito grandes entulhos de terra, o que
totalmente impede elle e o que o arruinará a
mesma porta e mais paredes.
A porta principal de caza da polvora está toda
podre e huma dobradiça. Esta caza he bastante
humida em razão de hum pequeno triangulo,
que fas a contramuralha com a parede da
rampa e soitão da mesma caza onde recebem
alguma agoa devendo ser entulhada para
evitar hum semelhante prejuizo e a ruina da
mesma caza.
Acha-se tão somente a cortina da Fortaleza
que olha para o mar com explanada, assim
como somente duas rampas lageadas, e outras
duas totalmente escavacadas pelas
inundaçoens conduzindo as mesmas agoas
entulhos para a Praça d'Armas.
A Guarita que nella houve e que ficou no
Baluarte do Norte preciza a abobada toda
emborada pelo muito que nella chove.
Esta Fortaleza he a unica que ha em toda esta
capitania, e a que defende a entrada do Rio

18
Paraiba. Tem rendimento proprio para (?)
reedificação que he hum cruzado que paga
cada caixão de assucar, cujo rendimento se
tem aplicado para a mesma fortaleza; porem
como elle emporta em muito pouco em
proporção das ruinas referidas, e a demora do
seu reparo caminha a largos passos para a sua
total destruição não podendo de sorte alguma
ser remedenda unicamente com o proprio
rendimento, he precizo que huma vez que se
queira conservar a dita Fortalleza se arbitem
pela Real Fazenda consignaçõens (?) e
proporcionadas, com que se possa acudir ao
seu reparo e reedificação, incluindo nas
mesmas consignaçõens o rendimento
mencionado, e podendo depois dela reparada e
reedificada hir indemnizando a Fazenda Real
com as rendas da sobredita Fortalleza todas as
vezes que não forem de absoluta necessidade
para ella mesma".
Existe, no Arquivo Histórico e Ultramarino, um
mapa do forte com a seguinte legenda: "Planta
exacta da Fortaleza de Sta. Catharina do
Cabedelo, cituada huma legoa da Barra do Rio
da Parahiba do Norte, na América meridional, e
Portuguesa, tirada por Antonio Jozé de Lemos
Capittam de Infantaria da Capitania de
Pernambuco".
Petipé de 60 palmos, com 654 x 483 mm.,
colorida.
A se encontrava em decadência.

FORTE DO INHOBIM

1591 CON Construído pelo major Feliciano Coelho,


capitão-mor da Paraíba.
LOC Foi construído no lugar de Inhobim.
OCU Neste mesmo ano foi ocupada e destruída
pelos índios.

19
1980 Não restam vestígios.

FORTE DE SANTO ANTONIO

1631 CON Começou por ser construído um reduto.


LOC Estava situado na margem esquerda da foz do
rio Paraíba, em frente do forte de Santa
Catarina do Cabedelo.
1633 CON As instalações foram aperfeiçoadas e o reduto
passou a ser um forte de 2 baluartes,
construído pelo engenheiro Diogo Paes.
1634 OCU No dia 23 de Dezembro foi ocupado pelos
holandeses.
1637 CON Maurício de Nassau mandou destruí-lo.

FORTIM DO VARADOURO

1634 CON Foi construído nesse ano.


LOC Estava situado na margem esquerda do rio
Paraíba.
ARQ Foi construido em pedra e cal.
1980 Não restam vestígios.

No documento "Descripção da Cidade, e Barra


da Paraiba de Antonio Gonçalvez Pasiboa Piloto
Natural de Peniche, que há Vinte Annos, que
Reside na Dita Cidade”, para além das
referências ao Forte de Santa Catarina do
Cabedelo, fala-se também de outros dois fortes
na barra de Paraíba e que não foi possível
identificar com segurança.

É a seguinte a passagem referida:

20
"(...) Tem junto ao mar dous fortes hum com
dez pessas, e outro com oito de ferro coado
ficando hum sobre o outro a modo de duas
andaimos de artelharia afastado hum do outro
trinta passos de modo que o de dez pessas,
que he de pedra de cantaria com, suas
Trincheiras fica ao lume d'aguoa, e outro que
he terra pleno de barro fica por sima
senhoreando o de baixo, e cada hum destes
fortes tem seu capitão, e artilheiros, mas nao
pagos por el rey, porque o de baixo fez hum
senhor de emgenhos chamado Manoe Pirez
Correa a sua custa, ha cinco ou seis annos, e
outro fez o capitão mor a custa d'el-rey havra
hum anno, que está acabado com pessas
mandadas de Lisboa.
Por maneira que com artelharia destes dous
fortes, e trincheiras, que estão de huma parte
e da outra pera mosqueteria se pode defender
a desembarcação, e tudo o mais de huma
parte e da outra só arvoredos que entrão no
mesmo rio adonde se não podem desembarcar
em nenhum tempo.
(...) Tirada do original feito judicialmente por
ordem do governo o anno de 1630. Ainda
existiram outros dois fortes na Paraíba, e que
são os seguintes:
- Bateria da Barra de Lucena, construída por
Flores Valdez e abandonada pouco tempo
depois.
- Forte Velho, construído pelos franceses na
margem do rio Guia, em frente da ilha da
Conceição; em 1586 foi ocupado e destruído
pelos portugueses.

21
SANTOS, Paulo. Formação das Cidades no Brasil Colonial. 1a
Edição. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2001.
(Instituto Ricardo Brennand)

Páginas 101-102

“5.3 - Cidade de Nossa Senhora das Neves, ou Cidade Filipéia


(atual João Pessoa) (1584). À conquista do Rio de Janeiro, seguiu-
se a da Paraíba, que até fins do terceiro quartel do século XVI
estava ainda em poder dos potiguares, e onde, na margem do rio
desse nome, os franceses, que com eles estavam em boa
harmonia, mantinham um fortim e duas ferrarias para a fabricação
e conserto de ferramentas. No Nordeste, a única cidade importante
- centro açucareiro de uma região que, quando escreveu Gabriel
Soares, tinha os seus 66 engenhos do total de 120 da Colônia -
era Olinda. Ao norte desta, por ocasião da unificação das duas
coroas (1580), só ficavam Igaraçu e Goiana, e esta era o ponto
extremo do território colonizado. Desde 1574, a partir de Olinda,
várias tentativas se fizeram de conquista da Paraíba. A primeira,
do ouvidor-geral Fernão da Silva, e a segunda, do abastado
morador de Pernambuco Frutuoso Barbosa e d. Filipe de Moura,
foram infrutíferas. Da terceira (1584) participaram alguns barcos
da armada de Diogo Flores Valdez (a mesma que levara Antonelli
ao Rio de Janeiro, agora já de volta à Europa, depois de oito
meses de permanência em Salvador) e culminou com a construção
do forte de São Filipe e São Tiago, situado a uma légua da foz e na
margem esquerda do rio Paraíba - nome inspirado no do soberano
das duas coroas.
Como a expedição auxiliada por navios de Valdez se fez em 1584 e
por Maggiorotti se sabe que só em 1587 Battista Antonelli (desde o
começo participante da armada de Valdez) voltou à Espanha,
possível que ele tivesse tornado parte na expedição; e, como em
Céan se lê que o grande engenheiro teria feito no Brasil um
“castelo” com o nome da “Caparaíba”, é de perguntar se este
castelo (nome comumente dado às praças-fortes e às cidades) não
teria sido “Ca. Paraíba”, isto é, “castelo Paraíba” ou “cidade
Paraíba”. O forte sofreu muitos percalços com os índios e os
franceses. A instalação definitiva só viria com a expedição de João
Travassos e do ouvidor Martins Leitão (1587), que em 5 de agosto
de 1588 (dia de Nossa Senhora das Neves) fundou na chapada de

22
uma montanha, na margem oposta do rio (à direita), três léguas
acima da sua barra, a cidade daquele nome, que Fruttuoso
Barbosa, inspirado no nome do forte que fundara, batizou de
cidade Filipéia ou cidade Filipéia de Nossa Senhora das Neves,
mais tarde Paraíba - hoje João Pessoa. Na construção dela
aparece, citado pelo padre Simão Travassos e depois por frei
Vicente do Salvador, um certo Cristóvão Lins (ou Linz), oficial
alemão, que o catálogo genealógico de Jaboatão informa ter-se
radicado na capitania de Pernambuco desde o tempo da sua
fundação e que nessa jornada teria sido o construtor do último
citado forte, erigido num sítio escolhido com a opinião favorável de
Manuel Fernandes, “mestre das obras de el-rei”; Lins seria
também, segundo Ferreira Pinto, citado por Afonso Arinos, o
primeiro urbanista da cidade de Paraíba - que teve sua Câmara,
cadeia, açougue, armazéns de açúcar, e em que rapidamente se
teria tornado a rua “que ainda hoje é conhecida com o nome de
Nova”.
Barlaeus - cujo livro - de 1647 - mostra-nos todas as instalações
existentes no rio Paraíba (p. 158-159) à época de Nassau (Tábua
XVIa): na foz, a margem esquerda, um “Monumentum S. Atitony”;
à margem direita, uma fortificação, a “Arx Margarete” (de que
mostra, noutra gravura, também a elevação: “Castrum
Margarete”); ao centro, numa ilha, a “restinga”, com a indicação
de mais outra construção; longe da foz, na margem direita, a
“Frederica Civitas” - que tal passou a ser o nome da cidade ao
tempo dos holandeses. Nesta se salienta a leste o “Coenobium”,
em forma de ferro de engomar, cidadela amuralhada em que se
ergue o forte que domina a cidade, e de onde parte a rua principal,
que se prolonga na estrada que ganha o sertão. A cidade é aberta,
sem muralhas. Seu traçado apresenta certa regularidade, talvez já
introduzida pelos holandeses: uma grande praça, outra menor, e
edificação de forma geométrica (C, L, I) com grandes quintais. O
prospecto da cidade, já então muito edificada, aparece no livro de
Santa Teresa (1698), com o nome de “Cittá de Paraíba”, vendo-se
também indicados o “Convento di P. P. Franciscani” e a “fortaleza
di pietra situata alla rua del fiuime” - rua do rio -, nome a que
antes aludimos como sendo a principal.
O desenvolvimento da cidade pode ser acompanhado nas plantas
do Livro que dá razão do Estado do Brasil em 1612 e na História...,
de Barlaeus.

23
FONTES IMPRESSAS

BARLAEUS, Caspar. História dos feitos recentemente


praticados durante oito anos no Brasil. Recife: Fundação de
Cultura Cidade do Recife, 1980.
(Biblioteca Central - 308(81) B257h / Biblioteca do Centro de
Filosofia e Ciências Humanas - 981 B257h)

Página 51 Restauração de fortes na Paraíba. Reconstrução do


forte arruinado de Cabedelo/St. Catarina/Margarida (ampliação do
fosso); Abandono do Forte de Santo Antonio (construção apenas
de uma torre para a defesa do lugar); Fortificação da restinga
cercada com paus e estacadas; Convento na Paraíba cercado com
trincheiras (Convento dos franciscanos); Obras sob a incumbência
de Elias Herckman (Diretor da Paraíba).

“Maurício restaura fortes - Elogio de Elias Herckman. Fez Maurício


restaurar na Paraíba o forte arruinado do Cabedelo ou de Sta.
Catarina e guarnecê-lo com um fosso mais largo e mais fundo e,
por cima, com uma couraça. Mudou-lhe Nassau o nome para o de
Margarida, como se chama sua irmã. Abandonou na margem
setentrional do rio ou outro forte - o de Santo Antônio -, por causa
das grandes despesas, deixando ali somente uma torre para a
defesa do lugar. Mandou que os soldados cercassem com paus e
estacas uma fortificaçãozinha - a Restinga -, e com uma trincheira
o convento da Paraíba, procurando garantí-los contra os súbitos
assaltos dos inimigos. Confiou esta incumbência a Elias Herckman,
diretor da Paraíba, homem que, além de muitas virtudes, era
dotado de engenho agudo e dado ao cultivo da poesia holandesa .
Demais, calejado nos lances da navegação, marítimo
experimentado, demonstrava inquebrantável fidelidade aos seus
senhores e indefesa operosidade”.

Página 94 Fortificações da Paraíba.

“IV) Na Paraíba. Fortes de Margarida e da Restinga de Santo


Antônio - Fredericópole. Defendem a Paraíba estes fortes: o de
Margarida, muito sólido por todo o gênero de fortificações, tendo

24
fosso, trincheira, parapeito, quatorze canhões de bronze e
quarenta e dois de ferro; o da Restinga, que se ergue na praia,
com sua paliçada, com quatro peças de bronze e duas de ferro; o
de Santo Antônio do Norte, quase sorvido pelo mar, e que se reduz
a uma torre protegida por uma cerca e sua artilharia. A
Fredericópole serve de fortaleza o convento dos franciscanos,
cingido de trincheira. Reforçam-no meias-luas, fossos, estacadas e
dez bocas de fogo. Também aí existe uma torre para segurança do
porto”.

Página 104 Visita de Nassau a Paraíba. Restauração das


fortificações arruinadas da Capitania.

“Ele próprio, dirigindo-se à Paraíba, mandou restaurar as


fortificações arruinadas, providenciando cuidadosamente todo o
necessário à defesa desta província. Muniu o forte de Margarida
com uma paliçada, por estarem secos os fossos, que as areias
trazidas pelas enxurradas haviam enchido. Cercou também com
uma paliçada semelhante o forte da Restinga, fronteiro ao porto.
Reduziu, porém, o forte de Santo Antônio do norte a uma torre de
vigia, refazendo-lhe o parapeito e provendo-o de três peças contra
os opugnantes”.

25
DE LAET, Joannes. História ou Annaes dos feitos da
Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu
começo até o fim do anno de 1636. Vol 38. Rio de Janeiro:
Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1920.

Páginas 216-217

No dia 14 veio da Paraíba um negro, que informou verbalmente o


Conselho do estado daquela praça. Declarou que havia 16
companhias, mas cada uma tinha apenas 30 ou 40 homens, e uma
de milícias; que a vila era tão grande como o Recife e situada a
três léguas do mar; que na foz do rio havia um forte sem obras
externas, com um fosso seco ainda em obras, e guarnecido com
25 canhões e duas companhias de soldados; que perto dali não
havia boa água, mas a meia légua de distância havia-a excelente;
que havia outro fortim no rio, mas sem importância; e que, para
se ir à cidade sem ser incomodado pelo forte, se devia seguir pela
mata uma légua de distância, por um caminho tão largo, que
podem passar por ele três homens em fila, sendo, entretanto,
necessário atravessar um riacho pantanoso da largura de um tiro
de pistola; que ao redor da cidade não havia redutos, mas as
entradas do rio para a cidade estavam defendidas com três
fortificações, tendo a do meio 9, a outra 6 e a terceira 4 canhões;
que havia 40 ou 50 cavaleiros; que em um grande armazém
possuíam quantidade de açúcar capaz de carregar uns seis ou sete
navios e que aguardavam uma esquadra espanhola para
despachá-lo; que se podia chegar sem dano algum, depois de
passar o forte situado à foz do rio.

Página 217

A assembléia dos XIX, ainda nas suas últimas cartas, que foram
lidas para esse fim no conselho, ordenava com insistência que
fizessem o possível para desalojar Albuquerque do seu arraial,
situado tão perto das nossas fortificações, ou que por todos os
meios se apoderassem da Paraíba, pois os do próprio conselho e
outros oficiais expunham de tal fôrma a situação, que não
julgavam a empresa tão difícil. Só restava agora resolver qual dos
dois projetos (visto que deviam satisfazer aos superiores) podiam

26
realizar mais facilmente. Os principais do exército, sendo
consultados, declararam que bater e desalojar o inimigo do Arraial,
o que antes fora considerado muito difícil, agora era quase
impossível, pois aquele se achava atualmente provido de todo o
necessário e fora reforçado, havia pouco tempo, por muitos
veteranos experimentados.
A conquista do forte da Paraíba não julgavam pudesse ser
vantajosa à companhia, mas antes prejudicial, pois, apoderando-
se daquela praça, estariam situados numa ponta de areia, sem
refresco algum e como que separados da

Página 218

terra firme, e daí só grandes despesas de fortificarão e nenhuma


utilidade era lícito esperar. Apresentaram, portanto, parecer
unânime no sentido de, com o excedente das tropas existentes,
tratarem de se apossar totalmente da ilha de Itamaracá, tomando
a fortaleza ao inimigo, pois assim teriam um ponto certo e seguro
onde poderiam buscar em qualquer tempo refrescos, madeira, tão
necessária para a construção, e lenha, sem o que sobreviriam
grandes dificuldades; e achavam ser isso da maior utilidade para a
companhia. A maioria do conselho político objetou, porém, que,
havia meses, tinham estado na ilha quase 1.300 homens e, depois
do inimigo ter recebido um pequeno reforço, os chefes militares
julgaram que nada se poderia fazer contra o forte; e agora, sem
dúvida, o inimigo estava melhor provido, sendo, portanto, menos
provável o êxito da empresa do que antes. Finalmente ficou
resolvido por maioria de votos que fossem atacar a Paraíba e
apoderar-se do forte situado no porto, para impedirem a saída ou
entrada de navios. Foram nomeados para dirigir essa expedição o
tenente-coronel Steyn-Callenfels e os conselheiros políticos
Carpentier e van der Haghen; foram mandadas 13 companhias, a
saber: as do coronel, dos majores Redinchoven e Berstet, dos
capitães Meppelen, Cloppenburgh, Hellingh, Baron Schenck,
Everwijn, Bijma, Huyghens, Levin, Palmer e Koeck, somando ao
todo cerca de 1.600 homens. Para transportá-los foram escolhidos
os seguintes navios: Amsterdã, de Geunieerde Provintien, 't
Wapen van Delft, Groot Hoorn (no qual ia o coronel). Omlandia,
Goude Leeuw, den Hollandtschen Thuyn, de Fortuyn, Maeght van
Dordrecht, Munnickendam, 't Wapen van Medenblick,
Groeninghen, Pinas; Windt-hondt, Maeght van Enchuysen e o

27
Vriessche Jagher. O Windt-hondi (digamos de passagem) tinha no
dia 22 deste mês dado caça, ao norte do cabo de Santo Agostinho,
a uma caravela espanhola, a qual destruiu. No dia 1º de Dezembro
guardaram o dia de preces, para rogar ao Todo Poderoso que
abençoasse a empresa.
E, como receassem que, à vista da estação do ano, os navios
facilmente fossem desviados da costa, se navegasse além da
Paraíba, isto é, mais ao norte, fizeram um aditamento à resolução
precedente, a saber: os chefes da expedição não deviam ir com o
grosso das suas forças ao norte da Paraíba; mas, se chegassem
informações e avisos do Rio Grande ou de outros lugares em que
houvesse probabilidades de se tentar qualquer coisa, em tal caso
poderiam mandar para lá 100 ou 150 homens; ao sul da Paraíba,
porém, lhes era dada autorização de empreender tudo que
achassem conveniente ao serviço da Companhia.
No dia 3, ao alvorecer, fizeram-se à vela e acharam-se no dia
seguinte, ao pôr do sol, junto a Itamaracá, e antes do meio dia o
almirante fez um sinal chamando a bordo do seu navio todos os
capitães de terra e mar. Foi então aberta pelo conselheiro
Carpentier a carta com as instruções e anunciada claramente a
empresa contra a Paraíba; e, depois que cada um se declarou
satisfeito e animado, foram postos em discussão dois pontos sobre

Página 219

o ataque de improviso ao inimigo: primeiro, como se faria melhor


o desembarque; segundo, qual o modo mais conveniente de
transportar gente à terra. Quanto ao primeiro, resolveram que se
mantivessem juntos à noite, afim de não se perderem, e
preparassem as coisas de tal forma, que pela manhã cedo
estivessem diante da barra e tão perto da coisa quanto possível.
Os chefes militares, reunindo-se para deliberar somente sobre o
desembarque, decidiram formar com as 13 companhias 6 divisões:
na 1ª devia estar a companhia do coronel com as do capitão
Meppel e Cloppenburgh, sendo as duas últimas de arcabuzeiros;
na 2ª o major Redinchoven e Hellingh; na 3ª Wolfart Schenck e
Everwijn; na 4ª o major Berster e Bijma; na 5ª os capitães
Huyghens e Palmer; na 6ª os capitães Levijn e Coeck.
Determinaram que, no caso de algumas dessas divisões
precisarem de auxilio, o dessem sem aguardar outras ordens, e

28
também estabeleceram regras para as chalupas e botes; como os
mesmos não pudessem levar mais de sete companhias, o resto
devia ir nos yachts pequenos e mais ligeiros. No dia 5 pela manhã
acharam-se ao longo do cabo Branco, três léguas ao sul da
Paraíba; mantendo-se perto da costa e depois de navegar algum
tempo, começaram a passar a gente para os botes, e. continuando
a navegar, surgiram um pouco antes do meio dia diante do rio
Paraíba. Estando todos os botes carregados, dirigiram-se ao
mesmo tempo para dentro do recife. O tenente-coronel, que
seguira na chalupa do chefe da equipagem esperou lá dentro pelas
outras chalupas e botes, nos quais estavam, juntamente com a
companhia do coronel, as do major Redinchoven, Meppelen e
Cloppenburgh. Chegando perto da costa, viram 12 bandeiras
postadas na praia e a gente do inimigo, entrincheirada, deu várias
descargas sobre os nossos, antes que pudessem desembarcar;
mas, vendo que apesar disso saltavam corajosamente em terra,
abandonou as trincheiras, refugiando-se no mato donde continuou
a escaramuçar com os nossos, de sorte a perderem estes 40
homens entre mortos e feridos. Enquanto o tenente-coronel estava
ocupado com essas tropas do inimigo, encarregou o engenheiro
Dreyis de ir explorar com o major Berster o forte e a situação ao
redor. Eles, indo ao longo da praia e até à distância de meio tiro de
mosquete, puderam ver o forte perfeitamente erguido com seus
quatro baluartes feitos de terra e estacas e com 25 ou 26 canhões.
Voltando e dando conta de sua comissão o coronel pôs em
deliberação o que seria melhor que se fizesse: dar assalto ao forte
ou obrigá-lo pelo assédio a render-se. Visto não ser o primeiro
projeto exeqüível com tão pouca gente, ficou resolvido o segundo
por todo o conselho de guerra (pois nesse ínterim as restantes
nove companhias haviam desembarcado) e tanto mais quanto
supunham que toda a gente do inimigo se retirara, o que depois
viram não ser exato. À tarde montaram o acampamento, provido
com uma boa trincheira contra qualquer assalto que o inimigo
fizesse: à noite, depois que a gente descansara um pouco, o
coronel resolveu começar a fazer os aproxes e mandou 700
homens trabalharem neles. Fizeram primeiro dois corpos de
guarda, ligados um ao outro por uma linha; e essas obras ficaram
consolidadas e completas no dia 6. No mesmo dia aprisionaram
um português, o qual informou que na véspera, quando os nossos
deram desembarque, estavam na praia uma companhia

29
Página 220

de castelhanos e quatro de portugueses, cada uma forte de 70 ou


80 homens, e uns 600 ou 700 índios; e que havia dois meses,
vieram duas companhias de castelhanos, os quais trouxeram 8
canhões de bronze, atirando 16 libras de ferro, que foram
montados no forte de Cabedello. No mesmo forte estavam
montados 18 canhões pesados, a saber: aqueles 8 de bronze e 10
de ferro, atirando cada um balas de 10 libras, não sendo,
geralmente, o forte guarnecido senão por 30 homens; dentro não
existiam outras casas, a não ser a da pólvora, ainda por acabar; a
muralha ainda tinha 30 palmos de altura e o parapeito 8; não
possuía fossos, e era feito de paliçadas cheias de terra e
quadrangular. Do outro lado começaram a construir um forte, mas
não o haviam visto. A uma légua acima do rio, havia mais um
fortim com quatro peças. A cidade estava situada a três léguas
acima da foz do rio, e em frente a ela se achavam surtos uma
caravela e um patacho. Abaixo da cidade havia um fortim com seis
canhões e acima da mesma um outro com quatro. Existia uma
companhia de milícias, forte de 80 homens, a qual estivera ontem
na praia. Havia 16 dias, souberam da vinda dos nossos por meio
de dois desertores, e desde aí tinham ficado de guarda.
Esses desertores deram informações a Albuquerque sobre todas as
nossas fortificações em Antônio Vaz, referindo que os nossos
trariam morteiros, petardos e escadas de assalto. Os armazéns de
açúcar estavam junto ao rio, a umas três léguas acima da cidade,
donde era aquele produto exportado; ainda dois dias antes partira
uma caravela carregada para Portugal, a fim de avisar a chegada
dos nossos à Paraíba. Eram esperados todos os dias do Arraial 400
homens, castelhanos e napolitanos, que já vinham em caminho.
Disse finalmente que na circunvizinhança não havia refrescos
excetuando alguns cajus, e do outro lado do rio, um pouco de
pacovas e bananas. Neste dia o inimigo atacou algumas vezes as
nossas obras, mas foi repelido sempre com perda, deixando seis
ou sete mortos; à noite os nossos fizeram mais uma linha e na
extremidade um corpo de guarda; o inimigo atirou com canhões
sobre os trabalhadores, mas só matou um. No dia 7 foram
desembarcados cerca de 300 marinheiros com as suas armas,
acampando à parte, protegidos por um parapeito, seguindo o
almirante com alguns capitães de navio para lá. Durante o dia
tiveram alguns mortos por tiro de canhão; à noite foi colocada
junto ao último corpo de guarda uma bateria para duas peças,

30
atirando balas de 12 libras, e junto a ela construíram uma linha
com um corpo de guarda do quartel até os dois primeiros, pelo
receio de que o inimigo assaltasse entre o quartel e os aproxes. No
dia 8 a bateria ficou pronta, e, como os fuzileiros houvessem visto
na véspera, no mato, a cerca de um tiro de canhão do quartel,
algumas faxinas, que o inimigo fizera para seu uso, mandaram
uma força buscá-las, mas ele já as levara todas e, quando viu a
nossa gente, veio com alguma tropa para trás do acampamento e
atirou fortemente do mato sobre os nossos, ferindo cinco ou seis e
retirando-se depois. Mais tarde começaram a trabalhar fortemente
contra os nossos aproxes e do outro lado do rio atiraram com 2
canhões sobre eles. Pela tarde foram levados os dois canhões para
a bateria e a nossa gente fez mais uma linha com um corpo de
guarda em direção ao forte. No dia seguinte, como o inimigo
houvesse dado uns 150 tiros sobre as nossas obras, foi preciso
reparar-se a

Página 221

maior parte dos aproxes; pela tarde o inimigo começou a atirar


com mosquetes, da trincheira que ultimamente fizera, contra a
última linha e corpo da guarda, e os nossos julgaram que queriam
assaltá-los, pelo que o coronel apressadamente mandou o porta-
insígnia, capitão Cloppenburgh, com 50 homens, com ordem de
postar-se naquela linha; mas, como o inimigo cessasse de atirar,
aquele oficial, contra a ordem, saiu da sua trincheira e avançou
sobre o inimigo e lá morreu com dois ou três homens mais. À noite
fizeram banquetas nas últimas trincheiras e o inimigo aproximou-
se de 8 a 9 braças das nossas obras com uma linha para fora do
seu hornaveque, pretendendo, assim parecia, separar os nossos
uns dos outros. Toda essa obra tinha uma aparência estranha, e o
coronel, ficando alarmado sobre o resultado, achou prudente ouvir
o parecer dos membros do seu conselho, a saber, visto o inimigo
ter mais tropas que os nossos e aproximar-se até 6 ou 7 braças
com seus aproxes e sapas, se era conveniente, com a gente que
tinham, continuar os aproxes e ir de tal modo ao encontro dele,
até se conseguir o fim desejado. Ao que os membros do conselho
responderam: 1º Visto que o inimigo se encontra em tão grande
numero e vem ao encontro dos nossos com os seus aproxes, é de
crer que procura cortar as nossas linhas; 2º Que não é possível
por meio desses aproxes (pois o inimigo os impedia) acercar-se da

31
porta do forte, visto estar provida de bom hornaveque. Também
precisavam, para a ocupação e conservação dos aproxes, baterias
e corpos de guarda, empregar continuamente seis ou sete
companhias (o que era impossível) e atacar igualmente o inimigo
com aproxes de ambos os lados, enquanto os mesmos julgam
obter reforços, como realmente recebem todos os dias, pelo rio,
em botes; 3º Demais, o inimigo tem tão grandes canhões de
bronze e de ferro, que não é de presumir que os possamos
desmontar com as nossas peças; 4º Compondo-se a nossa força
apenas de 1.500 soldados, não é possível continuar em clima tão
quente com tal fadiga de guardas e outros inconvenientes (que
não eram poucos), e, além disso, não há outros refrescos a não
ser alimentos em conserva e salgados; 5º Havendo tido em quatro
dias mais de 200 baixas, entre mortos, feridos e doentes, as
tropas naturalmente enfraqueceram. Por essas e outras razões, o
conselho de guerra julgou que o melhor seria retirarem-se em
tempo e procurarem a sua salvação em outro lugar. Em virtude
dessa resolução, no dia 10, de manhã muito cedo, o engenheiro
mandou levantar um cômodo reduto, a fim de fazer a retirada e
para que o inimigo não percebesse e embaraçasse o nosso projeto.
Também o coronel e os outros oficiais acharam conveniente
atacar, às 11 horas da noite, as obras externas do inimigo com
seis companhias, e. se fosse possível, expulsá-lo dali, pois não
sendo dia, o forte estaria fechado, e isso para abater o ânimo do
inimigo e facilitar a retirada.
As companhias mandadas para essa empresa foram as do major
Redinchoven, do capitão Meppelen, Cloppenburgh, Schenck, Bijma
e Coeck, formando duas divisões. Com as suas companhias, o
major Redinchoven, Meppelen e Coeck marcharam encobertos por
detrás do acampamento, em direção ao bosque, para caírem em
cima do inimigo por outro ponto do rio; atravessando o mato,
encontraram algumas cabanas, cavalos selados e vários
portugueses, os quais foram repelidos para as suas trincheiras. O
major Berster, com as companhias

Página 222

do barão Schenck, Cloppenburgh e Bijma, nesse ínterim, chegou


aos aproxes; e, sendo dado sinal com um tiro de canhão, os
nossos atacaram valentemente as trincheiras do inimigo, e
conquanto este se portasse a princípio com valor, foi contudo

32
repelido finalmente dos seus redutos e perseguido até junto ao
forte, de sorte que os nossos quase entraram nele envolvidos com
os mesmos, não o fazendo, por ter o inimigo alcançado a tempo a
porta, que fechou, deixando fora uma parte de seus soldados.
Destes, alguns, não sabendo para onde se deveriam dirigir, se
esforçarem por trepar pelas muralhas do forte e foram tirados dali
pelos nossos com piques e fuzis e repelidos pela sua própria gente,
que supunha que fossem os nossos misturados com eles (visto
como alguns dos nossos também estavam trepando); outros, não
podendo entrar ou chegar até ao forte, correram ao redor, caindo-
nos nas mãos, e foram aniquilados, e muitos se atiraram n'água,
morrendo afogados. Calculou-se que morreram do inimigo uns 100
homens; os nossos tiveram mais de 20 mortos, entre os quais dois
tenentes, e cerca de 50 feridos. Voltaram os nossos ao
acampamento, e o inimigo logo depois aos seus postos, sem
prosseguir, entretanto, em qualquer obra.
À noite, nossa gente começou a embarcar e, para que o inimigo
não desconfiasse, atirou continuamente com um canhão da bateria
até 9 horas. As companhias tinham tirado a sorte, afim de ver
quais as que deviam ir primeiro para bordo, e caiu a sorte nas do
coronel, dos dois majores, do barão Schenck, Hellingh,
Cloppenburgh, Bijma e Coeck; nos aproxes deixaram ainda três
companhias, as do capitão Huyghens, Levijn e Everwijn, e no
acampamento duas, as de Meppelen e Palmer. Os que ficaram nos
aproxes colocaram algumas estacas para fingir sentinelas,
pregando nelas mechas acesas, e foram depois para o
acampamento e daí para bordo com o coronel. Foi essa uma triste
e infeliz expedição, em que os nossos perderam no espaço de
cinco dias uns 180 homens, entre mortos e feridos. No dia 12
fizeram-se à vela e no dia 13 chegaram sem contrariedade alguma
ao Recife.
Tendo a expedição voltado sem haver conseguido coisa alguma, foi
novamente posto em deliberação pelo governador e conselho o
que se devia empreender agora. Os oficiais do exército
propuseram outra vez Itamaracá, e pouco faltou para que esse
parecer fosse aceito; mas, ao considerarem que o inimigo,
achando-se tão perto, devia estar bem prevenido e muito animado
pela expedição infrutífera da Paraíba, não podiam ver
probabilidade de êxito por meio de assalto e muito menos, por
assedio, pelo que a expedição a Itamaracá foi por ora posta de
lado. Finalmente no dia 13 de Dezembro ficou resolvido partir uma
expedição para o Rio Grande...

33
DE LAET, Joannes. História ou Annaes dos feitos da
Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu
começo até o fim do anno de 1636. Vol 41/42. Rio de Janeiro:
Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1925.

Páginas 11

Como houvessem chegado da República no mês de Janeiro e


princípio de Fevereiro todos esses navios com tropas, viveres e
todas as espécies de artigos bélicos, os nossos se achavam agora
regularmente fortes (ainda que não fossem tão bem providos
como poderiam desejar e convinha serem se as circunstancias da.
Companhia o permitissem ou se o governo houvesse auxiliado,
conforme lhe foi pedido) para empreender uma expedição e atacar
uma das praças do inimigo.
Os Srs. Diretores Delegados puseram-se a deliberar contra qual
das três praças, que o inimigo ainda possuía e com as quais nos
embaraçava, a saber: o forte no Cabo o Arraial ou a Paraíba,
devia-se empreender um ataque, porque o verão, que já estava
adiantado, obrigava a apressarem-se a tentar qualquer coisa em
uma dessas três praças para apertá-los mais e tornar os portos
impraticáveis ao inimigo, se o tempo e as circunstâncias não
permitissem apoderar-se deles. Também tomaram em
consideração que não tinham de esperar mais reforços por um
bom espaço de tempo e que o inimigo de quando em quando
recebera reforços de gente e viveres e era de esperar que ainda
recebesse; pelo que. havia mais probabilidade que se tornasse
mais forte do que mais fraco, e convinha aproveitar esta tropa
fresca o mais depressa possível.
Atacar de improviso o Arraial, que lhes ficava mais perto, era
muito difícil devido às numerosas guardas avançadas, e para
assediá-los e dar-lhe as salto, não se achavam bastante fortes.
Para atacar-se o Cabo de Sto. Agostinho havia também grande
dificuldade, pois era muito forte e em 24 horas podiam receber
reforços de gente do Arraial; também nada se podia empreender
ali a não ser entrando-se no porto com os navios, os quais
correriam ali grande risco e mal poderiam ser auxiliados, a não ser
que se chegasse à apos sar imediatamente dos redutos e baterias
colocadas na entrada do porto e no Pontal. Também não havia
meio de se transportar canhões, viveres e munições ao lugar onde

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o exercito tinha de se estabelecer sem ter continuamente de
passar pelas baterias do inimigo. De sorte que finalmente as
atenções recaíram sobre a Paraíba, cuja conquista fora tão
freqüentemente ordenada da República e sem à qual não era de
esperar que alcançássemos a ocupação pacifica da região do Norte
do Brasil; ali parecia haver menos dificuldades que em qualquer
outro lugar especialmente si a expedição fosse planejada e
executada da forma que se segue.
O inimigo havia pouco tempo montara um forte no lado Norte do
rio da Paraíba, quase direito na entrada, mas (conforme os nossos
estavam avisados) estava em parte aberto, e quase sempre
guarnecido com pouca gente, porque o inimigo mal imaginava uma
surpresa e em caso de assalto poderia ser facilmente socorrido
pelo forte do Sul ou pela cidade por meio do rio. Suspeitavam ao
mesmo tempo e também estavam informados que havia facilidade
para desembarcar as tropas e levar ao exercito em botes por
dentro do recife ao Norte tudo que fosse preciso. Pelo que
resolveram atacar em primeiro lugar esse forte, e sendo bem
sucedidos ver depois se haveria facilidade para apossarem-se do
forte do Sul, como alguns haviam proposto. Mas primeiro que tudo
deviam se apoderar de certa ilhota, situada no meio do rio um
pouco acima dos fortes, tomada a qual ou entrando ali com alguns

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yachts teriam bastantes meios de impedir que fossem mandados


da cidade ou do forte do Sul alguns socorros ao forte do Norte e
poderiam fechar ao inimigo o rio e o porto da Paraíba. Tendo,
portanto resolvido firmemente a execução desse projeto, manda
ram para ela 12 companhias e um contingente de 100 soldados,
somando ao todo 1.500 homens. Os navios destinados para ela
foram repartidos em duas divisões. A primeira compor-se-ia dos
yachts: 't Wapen van Hoorn, como capitania, no qual tinha de ir o
Commandeur Lichthart, Ter-Veere, como vice almiranta, de Vos,
como sota almiranta, e o Sout-bergh, den Haring, Windt-hondt de
Hoorn, Zee-Ridder, Kemp-haen e Ceulen, transportando as
companhias dos capitães Fredrick Maulpas e Jan Talboom,
chamado Duynkerckez. Essa divisão devia hastear a bandeira
vermelha, entrar no rio Paraíba por entre os dois fortes e
desembarcar as duas companhias na ilhota para se apoderarem
dela e se fortificarem lá; e os yachts deviam subir mais o rio até o

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ponto em que ele se bifurca, formando essa Ilha, e ficarem
vigiando, para impedir a passagem por ali.
A segunda divisão compunha-se dos seguintes navios: Overijssel,
como capitania, na qual devia ir o Sr. Jean Gijsselingh. Diretor
Delegado, o Sr. Sigismundo van Schuppen, Coronel Servais
Carpentier, Conselheiro Político, além do Swol, como almiranta,
Fortuyn, como Vice-almiranta. Deventer, como Sota-almiranta,
Campen, Domburgh, Mercurias, Gondt-Vinck, Phoenix, Nachtegael
e Spreeuw. Essa divisão devia hastear o estandarte do Príncipe e
levar as companhias do Tenente Coronel Bijma. (ele mesmo ficava
no Recife comandando as forças ali e dirigindo tudo no caso que o
inimigo, durante essa expedição, tentasse qualquer coisa) do
Major Steven de Vries, Charles de Tourlon Junior, Claude Prevost,
Alexander Picard, Davidt Wildtachut, Jan Everwijn, Hendrick
Fredrick, chamado Mausveldt, Jan Gilbert e um contingente de
soldados; a divisão devia desembarcar as tropas meia légua ao
Norte do forte e depois ficar protegendo o exército.

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Havendo-se provido tudo com o maior zelo e diligência, e havendo


embarcado a gente, a esquadra fez-se à vela no dia 24 de
Fevereiro do Recife e chegou no dia 27 pela manhã em frente ao
rio Paraíba. Cada divisão fazendo o possível para cumprir o que lhe
fora ordenado, a que hasteara o pavilhão do Príncipe dirigiu-se
para o lugar do desembarque e começou a descer a gente; mas a
outra estando em frente à foz do rio encontrou uma brisa tão fraca
que foi necessário colocar-se fora do alcance dos tiros do forte. O
vento soprava do Sudeste quarta de Leste e o rio após a entrada
se dirige bruscamente para o Sul, de sorte que não podendo
conseguir o vento do Sul e sendo a brisa fraca, os yachts não
podiam ir senão pura junto do forte, porque dali o rio faz
repentinamente uma curva para o Sul, e naquele ponto corriam
grande risco de serem os navios postos a pique ou pelo menos
lhes ser feito grande dano assim como à gente. Isso causou no
princípio grande desapontamento; pois a maior esperança do êxito
era baseada na co laboração dessa divisão. A outra, na esperança
de melhorar a situação, não deixou, entretanto, de desembarcar a
força, ainda que não Acharam o lugar tão bom como julgaram, por
causa da arrebentação, e só à tarde a gente pôde ser
desembarcada. Quando mal havia descido à terra a metade da

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tropa, o Coronel resolveu ir imediatamente para o forte para ver a
sua situação e onde poderia produzir maior dano ao inimigo ou
tirar às pressas alguma vantagem e par tio com 150 homens,
deixando ordem ao Major de Vries de segui-lo com os restantes
logo que desembarcassem, o que se fez em muito boa ordem, indo
também à terra o Sr. Gijsselingh e Carpentier.
O Coronel nesse interim aproximando-se do forte Sto. Antônio
mandou alguns adiante para reconhecer a posição do inimigo, os
quais encontraram um reduto ao redor cheio de paliçadas,
estendendo-se uma ao longo da praia até dentro do rio. A tropa
atacou intrepidamente a fortificação, mas como não estivesse bem
provida de machados e picaretas pouca vantagem teve e retirou-
se com a perda de dois homens e, de alguns feridos. A força
estando agora toda reunida acampou nessa noite no mato. No dia
seguinte de manhã cedo começou o inimigo a atirar violentamente
do forte centra os nossos, mas causou pouco dano, porque
estavam protegidos pelo mato.
Como o sol estivesse já bem elevado no horizonte e o inimigo no
forte do Sul (que se conservara quieto até então, imaginado que a
outra esquadra desembarcaria alguma gente ao Sul) notou-se
agora ou calculou-se que o desígnio era apenas contra o forte do
Norte e que os navios não podiam entrar por causa do vento
contrario, atravessou em barcas com grandes forças, para o lado
do Norte. Podia-se vê-los marchar com grande tropa para o reduto
do forte do Norte, e levarem para lá alguns canhões puxados a
bois, que montaram imediatamente e atiraram violentamente
contra o bosque.
Os nossos estavam a princípio bem resolvidos a se fortificarem ali
o mais depressa possível e mandaram o Sr. Carpentier à praia
para tirar dos navios e trazer tudo o que fosse necessário; mas
antes que pudessem executá-lo, o inimigo trouxe um reforço tão
grande do outro lado que suspeitaram que o

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seu número excedia longe ao dos nossos e como considerassem


que a outra esquadra não poderia entrar no rio, Acharam mais
prudente retirar-se em tempo sem dano do que com perda de
gente ir como que dar com a cabeça contra a parede. Para esse
fim foram mandadas para a praia quatro companhias para

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proverem com uma meia lua o lugar onde a gente desembarcara e
devia re-embarcar, para garantir assim a retirada. À tarde
partiram com toda a tropa e à noite embarcaram.
Esta retirada descontentou muito aos nossos e não quiseram
depois das despesas feitas, voltar com uma esquadra tão bem
provida sem realizar alguma coisa de vantagem; julgaram que o
inimigo tendo ouvido que os nossos se dirigiram à Paraíba,
houvesse retirado alguma gente do forte do Cabo para mandar
para a Paraíba e que assim achariam agora aquela praça muito
fraca. E ainda que não pudessem garantir de se apossar do forte
de Nazareth, tinham, entretanto boa esperança de poder tomar o
Pontal e o reduto inferior, pelos quais se impediria o inimigo a
utilizar-se tão facilmente do porto (que lhe era tão útil e
necessário).

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Havendo procedido assim com esses selvagens e pretendendo


despachá-los, sucedeu alguma coisa que os fez mudar de
resolução, e foi a chegada de dois marinheiros nossos, que
juntamente com outros seis foram presos pelos Portugueses no
mês de Julho último e levados primeiro para a Paraíba e depois
para a barra de Cunhaú onde trabalharam 14 dias no fortim e
foram colocados numa caravela, carregada com 220 caixas de
assacar, pronta a velejar para Portugal.
Esses, em 13 de Outubro próximo passado, atiraram-se ao mar de
bordo da caravela e nadando para a praia do Norte, chegaram 110
dia 15 de Outubro ao Rio Grande.
A sua chegada forneceu ocasião aos nossos chefes de se
informarem minuciosamente da situação da Paraíba, de Cunhaú e
de outros lugares.
E quanto ao que concerne a Paraíba ou cidade Philipéa, deram
informações diferentes das que os nossos ouviram de outros
prisioneiros ou desertores; pois os nossos tinham sido informados
que a praça estava toda cercada por um fosso, trincheira e
banqueta e aqueles declararam que não havia absolutamente
fortificação alguma, exceto algumas columbinas nas entradas, a
saber: duas dominando o rio e outras duas junto à igreja; no
caminho que vai dar à praia igualmente outras duas; que quanto

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ao mais era uma planície aberta, as casas colocadas em duas
fileiras e mais adiante espalhadas aqui e acolá; que viram poucos
soldados e a maioria do povo era gente pobre.

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(...)
A expedição à Paraíba tendo ficado resolvida, como já dissemos
antes e havendo-se provido cuidadosamente do que era preciso no
mar como em terra, foi empreendida finalmente no dia 24 de
Novembro sob o comando do Coronel Sigismudus van Shuppe;
juntamente com o Coronel Christofel Artichofski e os dois
conselheiros políticos D. Servais Carpentier e Jacob Stachouwer.

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A força compunha-se de 22 companhias, a saber: 15 do regimento


do Coronel Shuppe e sete do de Artichofski montando ao todo
2.354 homens. Deixaram-nas guarnições dos fortes e outros
lugares 2.330 homens sãos, entre os quais estavam
compreendidos 250 burgueses no Recife, repartidos em duas
companhias; e no dia 26 chegou ainda o Leeuwine da Zelândia
com 94 soldados que foram postos no forte das Cinco Pontas,
porque observaram que o inimigo estivera à noite próximo dali. A
esquadra compunha-se de 29 velas sob o conluiando de Jan
Cornelisz. Lichart, e foi repartida em duas divisões: numa,
hasteando o pavilhão do Príncipe, iam os seguintes navios: Sal
mander como capitania, Domburgh da Zelândia como vice-
almiranta, En chuysen da Holanda Setentrional como sota
almiranta, e mais o Amster dan e os yachts: Katte, Mauritius,
Spreeuw, Gondt-Vinek, Leeuwerck, Schup pe, Ceulen, Licht-Hart,
Spieringh, Vliegende Sparwer, de Maegh van Dor drecht,
Meermine, Graef-Ernest, Zuydt-Sterre e Kemp-haen, nos quais
iam embarcados 1.945 soldados.
Na outra, hasteando o pavilhão vermelho, iam os seguintes navios
e yachts: Pernambuco como almirante, o Goude Sonne como vice
almiranta, Erasmus como sota-almiranta e mais Goude Leeuw,
Windt-hondt de Amsterdã, Windt hondt de Hoorn, Spreeuw da

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Zelândia, Sparwer de Dordrecht, Sout-bergh, Vleer-muys e o bote
Elburgh; nos quais estavam embarcados 409 homens. Depois da
expedição precedente na ilhota, situada dentro do rio, chamada
Ilha dos Frades, o inimigo montara uma bateria ou reduto (aberto
no lado posterior) para impedir que os nossos entrassem no rio
tirando-lhe aquela vantagem (sendo avisado sem duvida alguma
por um ou outro desertor, ou vendo o desígnio dos nossos na
expedição anterior), pois assim como da outra vez procurariam
ocupar aquela posição, pelo que agora eram quase forçados a
tomai-a ao inimigo antes de se poder garantir o êxito da empresa.
Para executar isso melhor havia, como já dissemos, muitos
soldados na divisão que devia entrar no rio. A esquadra havendo
saído do porto de Pernambuco no dia determinado, foi tão
atrasada por ventos contrários que só no dia 4 de Dezembro ponde
chegar ao ponto de destino. Na noite anterior depois do primeiro
quarto, estando umas 10 ou 12 léguas fora da costa, mas
calculando que haviam alcançado a latitude da Paraíba, viraram
para a costa com vento em popa, e mandaram na frente dois dos
navios mais veleiros para avisar em tempo a esquadra quando
tivessem de lançar ferro. E sendo avisados pelos mesmos, de
madrugada antes do raiar do dia, mantiveram-se por ali até
amanhecer: Acharam-se pouco abaixo donde pretendiam
desembarcar a gente e pararam imediatamente ali. Depois de
fazerem a oração e de tomarem uma refeição, todos os navios
grandes fundearam em oito braças e dando-se o sinal combinado,
os yachts, chálupas e botes dirigiram-se para junto dos navios,
cada um se dirigindo para o navio que lhe fora marcado. Ventava
rijo, pelo que a maior parte da gente foi trasladada nos yachts e
nos botes grandes, assim como nos dos navios, tantos quantos o
tempo permitia fazê-lo sem perigo. O yacht Phenix foi nesse,
entretanto despachado na frente, para fundear perto da costa, em
tal lugar,

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onde os outros pudessem segui-lo convenientemente e houvesse


facilidade de desembarcar a gente nos botes. Quando aquele yacht
chegou junto à costa e os outros juntamente com os botes
dirigiram-se para lá, veio o capitão do Phenix no bote ao encontro
dos nossos, assegurando-lhes que havia facilidade de desembarcar
a gente na praia a pé enxuto; nesse momento o seu bote encalhou

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de repente, mas sem haver perda de gente. Ainda que não se
pudesse estar completamente certo da informação do capitão, o
Coronel Shuppe entretanto resolveu (para não dar tempo ao
inimigo) avançar para a costa, tanto mais quanto se via com força
do Sul e do Norte; já era portanto tempo de desembarcar alguma
gente em terra, antes que o inimigo pudesse impedi-lo. Chegando
à costa, ele foi o primeiro a saltar em terra e a gente seguiu-o com
tanta bravura que em pouco tempo 600 homens chegaram à praia
e foram colocados em ordem de batalha. O inimigo vendo isso e
não tendo forças suficientes para atacar os nossos, deteve-se e
com receio dos tiros que os yachts disparavam ao longo da praia,
recuou imediatamente alguns passos. Os botes não poderiam
desembarcar mais gente ali naquele dia, por causa da agitação do
mar, mas os yachts desembarcaram as tropas um pouco adiante
ao Sul, muito comodamente e sem se molharem, depois que as
duas companhias mandadas para ali pelo Coronel, sob o comando
do Coronel Artichofski, fizeram o inimigo retirar-se de lá. Depois
do meio dia o Coronel Shuppe mandou atacar por algumas
companhias o inimigo postado logo acima da praia e o atacaram
com tanto valor que depois de haver perdido nove mortos e muitos
feridos, fugiram, atirando fora grande quantidade de armas. Os
nossos fizeram ali três prisioneiros e não faltou muito para que o
Governador Antônio de Albuquerque fosse um deles, mas os
soldados enganaram-se e seguraram a um outro que estava ao
seu lado. A nossa gente teve de ficar todo o dia na praia e também
pernoitar ali até que o resto da gente pudesse desembarcar; na
primeira viagem logo quatro botes grandes encalharam devido à
arrebentação, mas foram trazidos depois e reparados. O
Governador da Paraíba, Antônio de Albuquerque, que estava com a
maior parte da sua gente atrás do cabo mais próximo em direção
ao Norte, tendo percebido isso mandou duas companhias,
compostas parte de espanhóis e parte de Portugueses, as quais
enfrentaram aos nossos, mas estes as assaltaram com tanta
bravura e a repeliram de tal forma que depois de alguma luta
fugiram, deixando atrás 18 ou 20 mortos e alguns prisioneiros, e
havendo do nosso lado, apenas, oito ou dez feridos.
O inimigo deixou cair na fuga muitas armas, de sorte que depois
foram encontrados no mato pelos nossos uns 60 mosquetes e
fuzis, assim como muitos chapéus e casacos. Entre os prisioneiros
havia um Português importante, Bento do Rego, do qual se
obtiveram muitas informações que mais tarde foram muito úteis
aos nossos. O Commandeur Lichthart havia nesse, entretanto
chegado com a sua esquadra, hasteando o pavilhão vermelho em

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frente à barra, mas era impedido de entrar, porque o vento era
Sueste e Sueste quarta de Leste, e o rio estende-se para dentro
acima do forte a Sul quarta de Sueste e Sul-Sueste; de

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sorte que foi preciso fundear um pouco para fora, abaixo dos
outros navios. No dia seguinte continuaram a desembarcar a tropa
e estando tudo pronto encetaram a marcha para o forte Cabedelo
ou Sta. Catarina, situado ao lado Sul da foz do rio Paraíba.
O Coronel Shuppe dividiu a sua gente em três tropas e o Coronel
Artichofski em duas; a vanguarda e retaguarda levava cada uma
dois canhõezinhos leves de bronze de nova invenção. Marcharam
primeiro até um lugar chamado Cambohyna, (onde suspeitavam
ser o ponto mais estreito da península em que está situado o
forte) a distância cerca de uma légua do forte e depois que a força
se refrescou e descansou um pouco, seguiram avante até o rio.
onde se podiam ver bem ambas as fortalezas, assim como a
bateria na ilhota situada no meio do rio, e também ali se
encontrou um caminho batido de carro de boi, o qual, segundo os
prisioneiros declararam, se dirigia ao forte; o capitão Ley foi
mandado com três companhias por este caminho e o resto do
exército seguiu pela margem do rio.
Encontraram muitas trincheiras, abertas por detrás, mas todas
sem guarnição, não havendo, portanto, resistência. Logo que os do
forte souberam da chegada dos nossos pelo barulho dos tambores,
(porque devido ao mato não os podiam ver) começaram a atirar
tão violentamente e com tanto resultado que era bem de suspeitar
que podiam ver algum dos nossos, pois que mataram e feriram
alguns. Os coronéis foram examinar o forte e ver um lugar cômodo
para assentar o acampamento e acharam uma boa posição para co
locar a gente onde ficava protegida do inimigo pelo mato. Nesse
entretanto o capitão Gaspar van Ley tendo chegado com os seus
ao longo do caminho até perto do forte, acampou atrás de um
montículo situado cerca de um tiro de arcabuz das muralhas, e tão
alto como essas e admiravelmente cômodo para se construir ali
uma bateria.
No mesmo dia foi dada ordem para que todos os yachts de menor
calado passassem para dentro do recife (que se estende aqui era
frente à praia) tão perto quanto pudessem do acampamento, mas

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que os navios grandes (depois de trazer à terra víveres e bebidas
para oito dias) fundeassem em frente à barra. No dia seguinte o
inimigo atirou muito violentamente e atingiu de quando em
quando a algum dos nossos; começou-se a trabalhar no
acampamento do Coronel Shuppe, o qual ele colocou no lado
esquerdo até o rio, assim como na noite antecedente já haviam
começado a montar uma bateria na colina. Também se fechou por
detrás certo reduto abandonado pelo inimigo, alteado e aparelhado
pelos nossos para depósito de vitualhas e outras necessidades,
sendo colocada nele uma companhia para a sua defesa. O Coronel
Artichofski acampou ao lado direito até o mar, justamente em
frente ao inimigo e sem trincheiras. Podia-se ver bem deste
acampamento toda a situação e disposição do rio, pelo que o
Commandeur Licht-hart. que não pudera ainda realizar a sua
empresa, foi chamado, para reconhecer tudo melhor pelos seus
próprios olhos, e tomar a conveniente rota. Chegando ao
acampamento e tendo observado que o fone situado recebia todas
as espécies de viveres, de gente e demais recursos e continuaria a
receber, enquanto o inimigo estivesse

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de posse da bateria na ilhota, a qual ele estava encarregado de


tomar, voltou aos navios c deliberou e resolveu com os seus
oficiais e conselho naval, embarcar 400 homens nos yachts
menores e botes e entrar no rio à noite, à vela ou a remo. Tendo
sido embarcada a gente ele foi à frente num bote às 4 horas da
manhã e os yachts seguiram-no nesta ordem: o Sparwer e
Spreeuw da Zelândia, o Vleermuys e Windt-hondt de Hoorn, o
Gondt-Vinck e Spreeuw de Amsterdã, o yacht Shuppe e mais seis
botes de navios; estavam todos juntos ao forte antes de serem
vistos. O inimigo começou a atirar violentamente, mas passaram
adiante, tendo somente dois mortos e dois feridos, sem sofrer
mais dano algum considerável nos yachts, excetuando o Shuppe, o
qual encalhou num baixio mesmo em frente à ilhota e recebeu oito
tiros no casco, perdendo um homem e ficando sete feridos; teria
corrido maior perigo, se não fora ter flutuado novamente com a
enchente. Os outros seis yachts foram mais acima e quase até a
extremidade da ilhota, onde viram duas barquinhas e um bote
cheio de gente que vinham de cima do rio e esforçavam-se para
alcançar a ilhota, mas como os nossos botes os atacassem

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valentemente o inimigo fugiu por uma angra, ao lado Norte do rio,
saltou em terra e abandonou os barcos no rio, os quais os nossos
apanharam, vindo muito a propósito, porque foram mais tarde
arrebentados e aproveitados para as plataformas da bateria. A
nossa força tendo desembarcado sem demora alguma na ilhota, o
Maior em Descars partiu com a gente que levava, juntamente com
o Commandeur Lichthart com 100 marinheiros (providos de
machados e outras coisas necessárias para demolir as paliçadas)
através do mato e direito para a bateria ou fortim. Mas chegando
ao fim das árvores acharam que aquele como que estava separado
da ilhota e cercado d'água, de sorte que lhes era muito difícil ir até
lá antes que a maré tivesse atingido quase a máxima vazante;
deitaram-se portanto no mato aguardando a ocasião. A maré
estando quase vazia saiu de lá dois Portugueses para espiar a
nossa gente, e os nossos tendo visto isso assaltaram o fortim com
muito ardor e apesar de lhes descarregar duas peças com
metralha, matando a três e ferindo a alguns, o inimigo ficou tão
desconcertado por este assalto inesperado e os nossos
acometeram com tal intrepidez que em pouco tempo ficaram
senhores da praça; mataram a todos que encontraram em armas,
entre outros um artilheiro, natural de Amsterdã, o qual depois de
haver cometido grandes faltas desertara e prometera grandes
serviços ao inimigo; já tendo começado a prestá-los. Só fizeram
prisioneiro a um capitão e uns poucos se atiraram n'água e foram
salvar com um bote pelo forte do Norte; ficaram mortos ali 31
espanhóis. Acharam dois canhões de bronze, atirando 10 e 16
libras de ferro e quatro de ferro, e como munições desses uma boa
quantidade de balas e dois barris de pólvora. Esse lugar era
chamado pelos Portugueses Cabeça Seca ou também Restinga. Os
nossos havendo-se apoderado dele reforçaram bem e repararam-
no para atirar em ambos os fortes. Também o Commandeur
mandou quatro botes ficarem de guarda à noite para impedir

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a paisagem de um lado do rio para o outro; mas de dia não era


possível para os botes se manterem ali. O Coronel Shuppe esteve
trabalhando com ardor na noite precedente com os aproxes de
sorte que chegara até quase ao rio e perto do forte; apesar disso
entravam nestes reforços do outro lado, sem que os nossos
mosqueteiros ou os botes de vigia pudessem impedi-lo. No mesmo

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dia chegou ali o yacht Kemp-haen, vindo do Rio Grande, com a
notícia que os Tapuias haviam chegado com uma força de cerca de
300 homens sob o comando de dois chefes e que cerca da metade
dessa gente e 130 dos nossos tanto a pé como a cavalo, partiram
para Cunhaú, onde acompanharam no engenho de açúcar, mas
que os selvagens vendo que não os levavam os lugares onde
houvesse muito que saquear, estavam muito descontentes e
queriam regressar. Os nossos compreendendo bem quão
necessário era que esses selvagens ficassem para o terror no
inimigo, despacharam depressa o mesmo yacht para lá e
ordenaram ao capitão Garstman que empregasse todos os meios
possíveis para reter ali os selvagens até que executassem a
empresa na capitania da Paraíba. Este dia se passou com poucos
tiros de ambos os lados, e da parte dos nossos só com mosquetes,
porque a bateria não estava ainda preparada, trabalhando-se bem
nessa noite para melhorá-la e fazer um reduto pequeno com uma
plataforma para montar nele os morteiros; de sorte que no dia
seguinte trouxeram para a bateria um canhão atirando 12 libras de
ferro e à tarde dois morteiros com as suas granadas para a praça
que esteve pronta. À noite a bateria foi prolongada por mais
alguns pés de extensão, porque não havia bastante espaço para
entrar nela os canhões. No dia seguinte foram atiradas pelos
morteiros cinco granadas, mas explodiram no ar e só uma caiu no
forte. O inimigo atirou muito pouco, ainda que recebesse alguns
batalhões com reforço do lado do Norte, porque os nossos botes
não podiam manter-se de dia entre os dois fortes e como
apareciam de quando em quando próximo à Terra Vermelha
resolveram que os navios continuassem por ali. À noite foram
lançadas mais duas granadas, caindo apenas uma no forte, o
Commandeur Lichthart subiu o rio, capturou dois botes dos
Portugueses e pôs um a pique. No dia seguinte foram lançadas
outras quatro granadas, mas debalde, pelo que o artilheiro queria
que a bateria que já estava a 600 passos do forte fosse colocada
mais perto. A tripulação dos botes trouxe um canhão de calibre
mediano para a bateria sem sofrer dano.
O inimigo recebendo novamente três botes com gente e pólvora,
recomeçou a atirar violentamente, de sorte que os nossos tiveram
de aumentar a bate ria que não estava bem provida de gaviões e
defendê-la com um parapeito. O Coronel Shuppe aproximou-se
muito com as suas trincheiras e teve alguns feridos, mas o Coronel
Artichofski não pode durante todo esse tempo avançar muito com
as suas obras, porque não tinha livres, além das forças que
estavam ocupando a praia e os armazéns, mais de cinco

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companhias, e não tinha consigo um major, recaindo tudo sobre
ele, pelo que nomearam Major ao capitão Hinderson para ir ajudá-
lo. À noite foram lançadas ainda três granadas, das quais duas
caíram no forte, causando grande dano ao inimigo, e as

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obras também foram levadas a uns 100 passos mais adiante. No


dia seguinte foram lançadas mais duas granadas e posto que só
uma caísse no forte, entretanto a outra não deixou de produzir
dano ao inimigo, pois, arrebentando no ar, caiu, incendiando uma
porção de pólvora, podendo-se ver subirem as chamas. O inimigo
recebeu ainda reforço de outro lado em três botes, mas não o
conseguiu sem perder alguns mortos e feridos, pois os nossos
atiraram continuadamente com mosquetes. À noite os dois
acampamentos avançaram muito com os aproxes e especialmente
do acampamento do Coronel Artichofski, que começou os seus das
trincheiras do Coronel Shuppe, (sem fazer ele mesmo nenhuma,
para ganhar tempo) e correu uma linha forte até 70 passos do rio
a distância de uma pedrada do lado Norte do forte. No dia
seguinte, depois do inimigo atirar violentamente, como nos dias
anteriores, com canhão e mosquetes, saíram do forte 10 homens e
o capitão Manveldt, por desnecessário zelo saltou fora das nossas
trincheiras, recebendo um tiro no joelho e pouco depois, por igual
imprudência, o capitão Duyvenhof e mais quatro soldados caíram
mor tos por metralha e ficaram uns 10 ou 12 feridos; nesse
entretanto caíram duas granadas no forte, causando-lhe grande
dano. À noite o Coronel Artichofski chegou com as suas obras até
a 15 passos do rio; e no dia seguinte, estando agora pronta a
nossa bateria, começaram a atirar fortemente com dois canhões
de calibre mediano e caíram duas granadas e duas bombas tanto
no forte como na falsa braga (na qual havia gente). O inimigo fez
grande esforço para levar ao forte reforço do outro lado do rio,
mas foi impedido pela violenta descarga dos nossos. À noite
avançaram tanto as obras que chegaram com elas a ambos os
lados do forte até a margem do rio, de sorte que agora esperavam
impedir a vinda dos botes do outro lado. No dia seguinte o inimigo
atirou valentemente contra a nossa bateria e os nossos
responderam da bateria contra o forte, de sorte que o seu
parapeito ficou muito danificado. O Major d'Escars tendo sabido
com 50 ou 60 homens, para surpreender alguns do forte do Norte,

46
voltou trazendo presos dois campônios portugueses e quatro
negros, pelos quais souberam que a gente moradora no campo,
fugira toda; que os fortes estavam mal providos de pólvora; e que
o Conde de Bagnuolo chegara à cidade da Paraíba com 600
homens. Foi depois resolvido fazer mais uma bateria ao Norte do
forte e um pouco mais perto do que a anterior, numa certa
elevação que se apresentava ali. À noite os do forte atiraram
violentamente contra as trincheiras dos nossos e estes nada lhe
ficaram devendo nesse ponto. No dia seguinte, apesar de todos os
tiros dos nossos, três botes do inimigo atravessaram o rio e
chegaram ao forte, de sorte que os nossos, para impedir melhor
que lhes chegassem esses reforços, resolveram montar duas
columbinas à margem do rio. Atiraram galhardamente de ambos
os lados e especialmente da nossa bateria, pelo que uma parte do
parapeito do inimigo ficou destruída. Os navios Katte, Mercurius e
Weseltjen, estiveram colocados até agora em frente à Costa
Vermelha, tiveram ordem de levantar ferro e ir cruzar um pouco
mais

Página 56

ao Sul para procurar surpreender as barcas e navios que viessem


do mar, ficando ali de guarda somente o Phenix. À tarde o inimigo
procurou atravessar o rio com alguns botes para o forte, nos quais
fundearam couros, mas foram saudados tanto pelos nossos que
um conseguiu desembarcar em grande apuro com alguns mortos e
feridos e o outro teve de voltar e ficou flutuando, pelo que era de
supor que a maior parte da gente morresse ou ficasse ferida e não
podiam governá-lo. À noite a bateria do Norte ficou quase pronta,
a plataforma colocada e um canhão de calibre mediano montado;
e durante todo o dia atiraram da bateria do Sul. No outro dia
chegou o capitão Bayardt da Capitania do Rio Grande e comunicou
que a nossa gente estava ainda em Cunhaú e que tomaram ao
inimigo mais para o interior um reduto em que havia cinco
columbinas de ferro, mas que os Tapuias haviam se retirado.
Depois de se atirar muito fortemente de ambas as nossas baterias
contra o forte, mas especialmente da bateria do Norte, onde
haviam montado três canhões de calibre mediano e feito algumas
brechas, e de haver cabido algumas granadas no forte, os nossos
resolveram tirar uma prova do estado de animo do inimigo e
mandaram ao forte um tambor com uma intimação por escrito;

47
mas o inimigo, mostrando-se ainda muito orgulhoso, a repeliu e
não quis ouvir ou ver a carta, pelo que se recomeçou com o
canhoneio e bombardeio. À noite chegou o Coronel Shuppe com as
suas trincheiras até a paliçada, de sorte que a podiam segurar com
as mãos, e o Coronel Artichofski aproximou-se também do outro
lado, desde a margem até a muralha. No dia seguinte pela manhã
atiraram violentamente de ambas as nossas baterias, ficando os
parapeitos quase todos destruídos, e foram mandadas ainda três
granadas para dentro do forte. Isso fez amortecer tanto o orgulho
da véspera que pediram a suspensão de hostilidades e mandaram
alguns dos seus para parlamentarem com os nossos. Sendo aceita
a proposta saíram do forte dois capitães e foram trazidos ao
acampamento do Coronel Shuppe, sendo um deles velho e
comedido e o outro jovem e fogoso; chamava-se o último D.
Gaspar. Observaram que só tinham ordem de desculpar-se
polidamente por terem repelido sem ouvir na véspera o tambor e
procurar saber o que diziam na missiva. Depois de lida a carta e
de lhes perguntarem qual era a sua missão, o velho disse
finalmente que estavam encarregados de entrar em negociações
com os nossos e combinar as condições pelas quais renderiam o
forte. Exigiram que os deixassem sair com todas as suas armas,
com as bandeiras despregadas, morrões acessos bala em boca,
etc, levando também o estandarte do rei, todos os canhões e as
competentes munições e que lhes fossem dados botes para os
transportarem à cidade. Mas os nossos recusaram absolutamente
que levassem o estandarte e os canhões e permitiram somente na
saída com as honras militares e que fossem transportados pelos
nossos navios às Antilhas, Terceira ou outro lugar. Não ficaram
satisfeitos com essas condições, entretanto regressaram ao forte
com a promessa de que trariam antes de 5 horas da tarde uma
resposta sobre se as aceitavam ou não. Voltando à tarde pediram
ainda o estandarte do

Página 57

rei e um canhão, atirando 18 libras de ferro, e que a metade da


força e todos os oficiais fossem transportados para o interior do
país; mas os nossos, além das condições precedentes, só anuíram
a que fossem 50 homens para o interior. Isso contrariou muito a
D. Gaspar, que se mostrou muito zangado e malcriado, e depois
de escritas as condições e assinadas pelos nossos arrancou o papel

48
das mãos do companheiro e devolveu-o ao Coronel. Este, não
podendo suportar aquela arrogância, rasgou o documento e disse-
lhes que com a espada os forçaria dentro de pouco a falar n'outro
tom; mas o orgulho de Gaspar abateu tanto que pediu com as
lagrimas nos olhos que escrevessem de novo a capitulação e
perdoassem a sua incivilidade. O Coronel Shuppe deixando-se
finalmente comover pelo humilde pedido do velho capitão e pelo
arrependimento de D. Gaspar, assinou de novo o papel e
entregou-lhes.
Indo com a mesma para o forte voltaram depressa com a
aceitação e o pedido que em lugar de 50 ficassem 100, tanto
oficiais como a maior parte dos homens que morassem e tivessem
bens na capitania e transportassem os restantes, o que lhes foi
concedido, dando-lhes ordem de trazer no dia seguinte de manhã
uma lista dos que queriam ficar. Durante as negociações o forte do
Norte deu alguns tiros, como querendo exortar o outro à firmeza
ou avisar alguma coisa e veio ao mesmo tempo uma canoa do
outro lado com duas pessoas; mas os do forte do Sul (sendo
intimados pelos nossos de fazê-los retroceder ou que os
impediriam de aproximar-se) atirou contra eles e tiveram de
voltar. Os nossos, além disso, montaram guarda junto ao forte
para impedir que alguém entrasse lá. Às sete horas da manhã
vieram outra vez os capitães com a lista pedida, e depois que o
comandante do forte, Simão de Albuquerque, entregou as chaves
nas mãos do nosso Coronel em chefe, entraram três das nossas
companhias. Depois disso ordenaram a saída da gente que devia
ser transportada nos nossos navios, segundo o acordo, e saíram
primeiro 340 bravos soldados e foram acampados na praia. Dois
frades, que estavam no forte, notando que havia ainda mais gente
no forte do que fora estipulado que ficassem no país e entre eles
alguns estrangeiros pediam para ficar, preveniram os nossos e
expuseram que era melhor para nós que ficassem os habitantes,
os quais se entregariam à lavoura, do que os soldados, que não
deixariam de tomar armas contra nós. Os nossos tomando em
consideração este aviso, e antes de tudo impondo-lhes a promessa
de não pegarem em armas contra os nossos, durante seis meses,
deixaram partir para o interior em primeiro lugar os oficiais com os
seus criados e depois todos que tinham casas e famílias no país,
ao todo em número de cerca de 150 porque o número dos
habitantes era tão grande e pediram tão humildemente que os
nossos por favor ampliaram tanto o número estipulado; os
soldados restantes foram trazidos à praia: de sorte que eram 300
e nos 50 excedentes foram encontrados alguns que deviam ser

49
transportados para fora do país, o que era uma vantagem que não
havia sucedido ainda aos nossos lá, o de se verem livres de tão
grande número de soldados

Página 58

estrangeiros, dos quais não tinham que esperar senão inimizade e


que até agora haviam impedido os habitantes de aceitar o nosso
domínio. Assim caiu em nossas mãos o forte Cabedelo ou Sta.
Catarina, situado à margem Sul do rio Paraíba. Foram encontrados
nele seis canhões de bronze (um dos quais tinha uma brecha)
atirando 10 e 16 libras de ferro e 15 columbinas atirando 12, 8. 6
e 5 libras de ferro, uma boa quantidade de balas e alguns barris de
pólvora e outros artigos bélicos. Os nossos durante o assedio
deram 468 tiros com canhões de grande calibre e 60 com
columbinas e atiraram 52 granadas grandes e 7 bombas dos
morteiros. Tiveram ao todo 32 mortos, entrando nesse número
dois capitães e um porta-insígnia; o inimigo teve cerca de 30
mortos. No dia seguinte celebrou-se um ofício divino em ação de
graças pela vitória concedida aos nossos em tão curto tempo e
pregaram no acampamento em holandês, francês e inglês. Depois
disso começaram a reparar a praça do forte, a qual estava muito
desmantelada e as casas demolidas na maior parte, e a arrasar as
trincheiras feitas pelos nossos para o assédio, Agora teve-se uma
questão difícil a decidir, isto é, como e de que maneira deviam
fazer depois desta vitória para tirar daí o desejado resultado, a
saber: se deviam ir atacar sem demora alguma a cidade da
Paraíba ou se deviam se virar primeiro contra o forte do Norte.
Atacar a cidade parecia a alguns um tanto arriscado, porque
souberam que o Conde de Bagnuolo chegara lá com 600 soldados
e facilmente levantaria tanta tropa de campônios, que os nossos
com tão pouca gente dificilmente poderiam repeli-los. Assediar o
forte dava também que pensar, porque era dificílimo chegar lá e
perigoso o desembarque perto dali; além disso, estava melhor
situado e era julgado mais forte do que aquele de que se tinham
apossado. Mas tomando em consideração que não se dando tempo
ao inimigo para se fortificar, a cidade sendo tomada, o forte do
Norte ficando privado de todo o socorro e cortadas as
comunicações com os seus, havia necessariamente de se render;
também que na cidade não podia haver tanta gente, havendo os
habitantes e a gente do campo fugido, resolveram finalmente

50
marchar sem perda de tempo para a cidade, tanto mais quanto
apoderando-se delia todo o país até Goiana ficaria aberto aos
nossos. Mas para se poder realizar essa empresa era preciso
reconhecer bem a situação do país e estudar o melhor caminho
para a cidade; pois, pelo caminho direto e ordinário, que era o do
carro de bois, tinha de se encontrar uma pequena lagoa ou
pântano, chamada Lagoinha pelos Portugueses, e do outro lado
dessa, num monte chamado Caminho de Boissons, o inimigo tinha
um entrincheiramento, podendo poucos homens ali reter a muita
gente. Souberam finalmente pelos prisioneiros e especialmente por
Bento do Rego, que uma angra chamada Tambuja Grande
penetrava duas léguas pelo campo e ia terminar no caminho que
segue para a cidade, acima daquele entrincheiramento; e que se
mantendo neste caminho, deixando o outro à esquerda, chegava-
se à cidade sem empecilho algum.

Página 59

Resolveram que fosse explorar essa situação o Coronel Artichofski,


o qual regressando no dia seguinte declarou ter encontrado um
lugar cômodo para o desembarque da gente e que estivera no
caminho e poderia ter ido mais longe sem obstáculo, se não fora
recear ser descoberto. Em quanto aprontavam tudo para
empreender a expedição na próxima noite, vieram dois Franceses
do lado do Forte do Norte e informaram que havia pouca gente no
forte e a maior parte desertara; que os que ficaram não tinham
disposição alguma de combater e tinham apenas umas 40 vasilhas
de pólvora e pouco chumbo: e acreditavam firmemente que se a
nossa gente se apressasse em chegar lá, o inimigo imediatamente
entregaria a praça, Essa informação produziu diferentes
impressões, julgando alguns que era uma cilada e que era muito
possível que o Conde com a sua gente se postassem as escondidas
no mato para cair de improviso sobre os nossos, não podendo eles
imaginar que o inimigo abandonasse tão facilmente um forte tão
bem situado e tão bem montado.
Contudo pouco se perdia em mandar um tambor fazer uma
intimação ao forte. O tambor tendo chegado ao outro lado. foi
muito bem recebido pelos do forte, trouxe boa resposta e pediram
apenas três dias de prazo para comunicar ao Governador Antônio
de Albuquerque. O tambor foi mandado mais uma vez, recusando
a concessão do prazo pedido. Isto foi feito mais por gracejo do que

51
esperando conseguir alguma coisa útil daí, pois ainda não tinham
um só homem do outro lado e tinham muito que fazer no forte
desmantelado e no arrasamento dos aproxes; além disso,
consideravam o forte do Norte melhor do que o do Sul, pois era
todo cercado d'água e quase inacessível. Entretanto. Deus incutiu
tal medo naquela gente que mandavam emissários para negociar a
rendição do forte. Os habitantes e os soldados saltaram pelas
muralhas e fugiram contra a vontade do capitão, apesar de lhes
fazerem fogo, tal era o medo de serem mandados para as Índias.
A exigência do emissário foi que não lhes retirassem o estandarte
do rei para poderem melhor defender a sua honra, e que fizessem
cerimônia como si fossem obrigados pela força; disseram que
atirariam com canhões contra os nossos, mas tão alto que não
poderiam causar dano; e garantiram que não havia mais de sete
homens no forte. Tudo isso era muito suspeito e os nossos
julgavam que o inimigo queria iludi-los, porquanto na véspera
viram marchar pela praia uns centenares de homens, e o tambor
ou vira os do forte dizer que o Conde de Bagnuolo estava no mato
com a sua tropa (o que era também exato, mas a sua gente tinha
tanto medo que vendo a presteza de nossos botes imediatamente
puseram-se a fugir). Em todo o caso os nossos resolveram que o
Coronel Artichofski fizesse um reconhecimento com três
companhias no outro lado do rio, indo juntamente o Sr.
Stachouwer e o Commandeur Lichthart; chegaram lá com os botes
ao escurecer.
Os do forte percebendo-os deram desordenadamente alguns tiros
e não acertaram propositalmente, querendo dessa forma encobrir
a sua vergonha, e fazer crer aos do interior que se bateram
valentemente. O Coronel acampou na praia e cuidou mais de
repelir a força que estava

Página 60

no mato do que de atacar ao forte enviou mais gente nas muralhas


do que esperava, o que não lhe deu pouco que pensar. Mandou
um tambor pôr-se à frente da porta e intimar o forte, e fez-lhe um
reconhecimento para, no caso de recusa, escalá-lo, mas não achou
possibilidade, tão escarpadas eram as muralhas, e bem provido
em baixo com uma boa cerca e em cima com uma paliçada.
Demoraram muito em abrir a porta e abrindo-a finalmente
desejaram que entrasse uma pessoa de distinção, a princípio

52
disseram com 10 homens e como não fosse aceita essa proposta,
fixaram o número em 20, para assinar a capitulação. O
Commandeur Lichthart aceitou a comissão de entrar no forte, mas
o Coronel, receando qualquer traição e para pregar-lhes uma peça,
tomou a resolução de fazer entrar também a sua companhia e
quando os 20 homens estavam dentro aproximando-se do
Commandeur e do emissário, a sua companhia irrompeu pela
porta a dentro e depois também a do Maior Hinderson, e aí
pararam com a capitulação. Eles se queixaram disso, mas o
Coronel atribuiu-lhes a culpa, pois que aparecera mais gente na
muralha do que haviam declarado.
No entretanto foi mantido tudo que desejaram: foram buscar o
estandarte do rei e entregaram-lhes; e permitiram-lhes sair com
as suas armas e bagagens, podendo ir para onde quisessem. Eram
em número de 36 homens com o Comandante Magalhães, dos
quais só 12 quiseram ir para o interior e 24 para as Índias
Ocidentais.
Este forte tinha cinco bons canhões de bronze e 19 de ferro,
pólvora, balas, morrões feitos de plantas do país, e, além disso,
farinha de mandioca. Os Portugueses chamavam-no forte de Sto.
Antônio e fora construído havia pouco tempo com muita arte e à
moda moderna e estava tão perto da angra que não tinha praia
junto à base; também o montaram sem olhar às despesas. O
Coronel Artichofski tendo colocado sua guarnição no forte, e
deixando tudo em boa ordem, voltou ao outro lado do rio com o
resto da gente: e nessa mesma noite os dois Coronéis subiram o
rio com cerca de 1.600 homens até a Tambia Grande (uma angra
situada a meio caminho entre a cidade e o forte do Sul) onde
desembarcaram a gente e marcharam ao amanhecer do dia 23
para a cidade. O inimigo, receando ou sendo informado da vinda
dos nossos, fugira, de sorte que não encontraram um só homem
no entrincheiramento que fizeram (o inimigo abandonara-o às
pressas); havia atirado três canhões de ferro para fora dos
baluartes e alguns outros que faltavam nos baluartes, segundo
disseram os habitantes, lançaram-nos ao rio. Chegaram ao meio
dia na vila, não encontrando lá ninguém, todos haviam fugido e
carregado tudo que puderam. Os oito canhões que haviam sido
colocados antes nas entradas da cidade não foram achados no
lugar, nem também os cinco canhões montados na bateria do
porto; alguns haviam sido lançados ao rio. O Commandeur Licht-
hart depois de desembarcar a tropa subira mais o rio com os botes
em direção a cidade, encontrando à margem do rio um re duto ou

53
fortim, do qual o inimigo deu ainda oito ou dez tiros; mas vendo
que a nossa gente havia chegado à cidade por um outro caminho,
fugiram tão depressa quanto puderam. Ali foram encontradas
quatro columbinas, duas no

Página 61

reduto e duas fora dele. Reunindo-se aos outros na cidade,


souberam por um Hamburguez que morava ali havia muitos anos e
que veio ter agora voluntariamente com os nossos que o Conde de
Bagnuolo, não vendo meio algum de defender a cidade, retirara-se
com 250 homens para Goiana, e o capitão mor ou governador da
Paraíba, Antonio de Albuquerque, com uma companhia de Italianos
e uma de Espanhóis partira para o mato depois de haverem
incendiado três navios, cujos destroços os nossos ainda viram (um
deles estava carregado com 500 caixas de açúcar) encontrando
juntamente dois armazéns de açúcar a margem do rio, ainda
fumegantes e correndo pelo rio o açúcar derretido; alguns diziam
que se queimaram neles 2.000, outros 1.500 caixas de açúcar.
Disse mais o Hamburguez que a burguesia no campo aqui e acolá
achava-se arruinada, mas estavam inclinados a voltar para suas
casas e lavouras sob condições favoráveis, como diremos depois
mais amplamente. Assim apoderaram-se os nossos finalmente da
Paraíba (da qual havia muito procuravam e tentavam apossar-se)
e de todas as fortalezas nas proximidades dali; Acharam nela e se
apoderaram de nove canhões de bronze, atirando 16 libras de
ferro e quatro atirando 10 libras, e, além disso, 45 columbinas de
12, 10 e 8. mas a maior parte de 5, 4 e 3 libras, e pouca munição,
a saber: 1.484 libras de pólvora, 1.870 libras de morrão, 1.553
balas de vários pesos e também poucos artigos bélicos.
Compararam-na em tamanho a Gertruydenberg, tem um belo
convento e bom porto. Do dia 24 de Dezembro ate o fim do ano
estiveram ocupados quase todo o tempo em arrasar as nossas
obras feitas em frente ao forte do Cabedelo, assim como em
reparar os fortes conquistados e em prove-los bem dos
necessários viveres e munições.

54
Inventário das armas e petrechos bélicos que os holandeses
deixaram em Pernambuco e dos prédios edificados ou
reparados até 1654. Recife: Imprensa oficial, 1940.

Página 51 “Registro de uma Portaria do Provedor-Mor da Fazenda


e de uma Relação da Artilharia de bronze, e de ferro que se achou
nas praças do Recife, e nas mais que se entregou o inimigo
quando se restaurou”.
“Porquanto o senhor Francisco Barreto Governador e Capitão Geral
deste Estado me mandou digo, Estado me ordenou mandasse
registrar nos livros desta Provedoria-Mor a relação inclusa que é
lista geral da Artilharia assim de bronze como de ferro quando que
com a chegada da Armada Portuguesa do ano em que se restaurou
Pernambuco se acho nos fortes do Recife, Itamaracá, Paraíba, Rio
Grande, Ceará, Fernando de Noronha...”.

Página 66 “No Forte Margarida. Duas peças de bronze de 24


libras. Sete de 10 libras. Uma de doze libras. Quatro de dez libras.
Quatro peças de ferro de 10 libras. Seis de 8 libras. Cinco de 6
libras. Duas de cinco libras. Duas de quatro libras. Na Aldeia dos
Índios. Duas peças de ferro de 5 libras de bala. Três de quatro
libras. Duas de 2 libras. No Forte de Santo Antonio. Uma peça de
ferro de 6 libras de bala. Três de cinco libras. Uma sem carreta e
trem. Restinga Duas peças de bronze de 16 libras de bala. Duas de
dez libras. Uma de seis libras. Quatro peças de ferro de 4 libras.
Dias de 4 e 6 libras sem carretas. Uma que se rebentou. Gorgahu.
Três peças de ferro de 3 libras de bala”.

55
MORENO, Diogo de Campos. Relação das Praças Fortes do Brasil
(1609). In: Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico Pernambucano. Recife: Vol. LVII, 1984, pp. 185-
246.
(IAHGP)

Relação das Praças Fortes, povoações e cousas de importância que


Sua Majestade tem na Costa do Brasil, fazendo princípio dos
baixos ou ponta de São Roque para o Sul do Estado e defensão
delas, de seus fruitos e rendimentos, feita pelo Sargento-Mor desta
Costa Diogo de Campos Moreno no ano de 1609.

Página 191

A Forte do Cabedelo sobre areia fundado de madeira e de taipa


mui forte.
B Barra do Norte por entre os recifes de 25 palmos d’água.
C Barra do Sul de barcos.
D Baixos de areia que de baixamar se descobrem.
E Rio Paraiva de 4 léguas até à Cidade e mais 3 acima navegável e
um quarto de légua de largo, há partes por onde vão navios
grandes.
F Cidade quatro léguas da barra em um alto com uma notável
fonte que sara a pedra.
G Tudo matos de grande madeiras muito grossas, ao longo do rio
muitos e mui grossos mangues 7 .

7
Embora não assinalada no abecedário da cartela do mapa das terras ribeirinhas do
Paraíba, está indicada, na margem norte dele, fronteiro ao Forte do Cabedelo, a
Igreja de Nossa Senhora da Guia. Deve ser correta a Informação de Frei Agostinho
de Santa Maria, no seu Santuário Mariano de que a igreja “a fundaram os primeiros
povoadores da Paraíba logo que a descobriram”: P.A. Peretra da Costa, A Ordem
Carmelita em Pernambuco (Recite, 1976) p. 179. Os mapas da Paraíba constantes do
“Livro da Razão” ao indicar sob letra “D” o “sítio onde esteve o primeiro forte” permite
a suposição que nesse mesmo sitio é que veio a ser levantada aquela Igreja.

56
Página 192

Correndo a costa ao Sul do Rio Grande em seis graus está a


Capitania da Paraíba que é de Sua Majestade, porque a conquistou
e tirou das mãos dos Pitiguares gentios da terra e dos franceses
com guerras e mortos de muitos anos.

Tem duas barras por entre uns recifes, uma ao Sul outra ao Norte
deles; a do Norte tem mais de duas braças de fundo e assim
entram por ela navios de bom porte, que vão seis léguas pelo rio
acima até à Cidade e até às fronteiras que chamam de Iniobi,
donde estão os engenhos e lá começam de tomar carga 8 .

Na entrada desta barra está um forte que chamado Cabedelo, em


uma ponta, de areia que defende o porto e a ancorarem nele e a
subida pelo Rio Paraiva acima. Tem este forte um Capitão por Sua
Majestade com cem mil réis de ordenado, um Alferes, um
Sargento e os mais oficiais menores. Tem este forte obrigação de
ter vinte mosqueteiros, afora os oficiais de primeira plaina, que
para residirem no sitio e terem uma posta estes bastam,
porquanto na Cidade, que esta a quatro léguas pelo rio acima,
aonde reside o Capitão-mor, estão mais trinta soldados
arcabuzeiros, que aos rebates se vêm logo a meter no forte e
ficam cinqüenta, que para a sua capacidade bastam, enquanto se
juntam os moradores que vivem mui espalhados por suas
fazendas; e não há poderem escusar-se uns nem outros, porque
ao forte que tem artilharia e defende o porto não lhe podem dar
menos de vinte soldados. A povoação, donde quase não há
moradores, não pode reduzir-se a menos número de soldados, que
nela hão de assistir ao Capitão, tanto para autoridade sua como
para acudir às fronteiras, donde estão as aldeias dos negros da
terra, que cada hora tem novidades, por maneira que, enquanto à
cidade, tem de seus naturais tão pouca força que não é capaz de
se defender nem acudir aos vizinhos do campo nem aos rebates da
barra.

8
Inhobi é pequeno rio no Município de Santa Rita que despeja à margem esquerda do
Rio Paraíba. Aí existiu um forte a cuja construção faz referência Frei Antônio de Santa
Maria Jaboatão, Novo Orbe Seráfico II p. 73 e que foi abandonado ao tempo do
governo de Diogo Botelho por estar já o local povoado e com fazendas e engenhos:
“Correspondência de Diogo Botelho”, RIHB vol. 73, 1ª. parte (Rio 1910) pp. 49/51.

57
Fazem de gasto à fazenda de Sua Majestade estes soldados e seus
oficiais, com os demais da fazenda do dito Senhor que alí
assistem, e ordinários dos conventos e paga do vigário 2.091$800
réis, como se verá das folhas que ora se introduziram neste
Estado, donde se verá bem claro, e pelo miúdo 9 .

Página 193

Este forte do Cabedelo fundou Feliciano Coelho de Carvalho no


posto em que se vê hoje, de grossas vigas e traves de madeira
com taipas e entulhos entre uma e outra parede, terraplenado
todo o posto da melhor matéria que pode ser, inda que tosca e de
má feição. Naquele tempo se defendeu de onze navios corsários
franceses que acometeram este porto e os pôs em fugida,
matando-lhe muita gente com toda a que lançaram em terra para
tomar o forte descomposta e perdida; tanto importa ocupar bem
um sitio e guarnecê-lo em razão da sua capacidade 10 . Será de
importância mandar-se-lhe fabricar de pedra e cal, para que se
escusem os gastos que cada três e quatro anos faz de madeira e
fábrica a Sua Majestade e aos moradores; tem o dito forte onze
peças de bronze e ferro.

Na cidade, que está pelo rio acima, como fica dito, a quatro léguas
do porto, chamada Filipéia de Nossa Senhora Neves, estão para
defensa daquele sitio três peças pequenas junto às casas do

9
A despesa referida no “Livro da Razio”(1612) montava a ...... 1:841$760: edição
Sluiter p. 558. Vale registrar a referência de que as folhas de receita eram então de
recente introdução no Estado. Iniciativa da administração filipina: carta régia ao Bispo
Pedro de Castilho, 13 de malo de 1605, Biblioteca da Ajuda (Lisboa), 51-VIII-8 fls. 27
verso.
10
Esse ataque francês sucedeu no ano de 1596 e a ele se refere Feliciano Coelho de
Carvalho em cartas ao Rei de 20 de agosto de 1597, publicada na Hakluyt’s
Collection, na qual diz que 13 navios franceses “bateram com artilharia o forte do
Cabedelo e desembarcaram 350 soldados, continuando a bateria desde sexta-feira até
a segunda-feira seguinte, tanto de terra como do mar, sendo mortos grande número
de franceses, inclusive dois capitães. Do nosso lado morreu o Capitão e dois
portugueses foram feridos... Havia somente vinte portugueses no forte e cinco peças
de artilharia”: vol. 14 (Londres 1811) pp. 216/217. Paul Gaffarel não identifica os
responsáveis pela tentativa francesa contra Cabedelo: Histoire du Brasil Français
(Paris 1878) pp. 363/364.

58
Capitão-mor donde antigamente houve um forte de terra contra o
gentio. Também estão noutro sitio cinco falconetes de bronze.

Junta-se no alardo geral 260 homens de pé, arcabuzeiros, e 30 de


cavalo, além dos que ficam em guarda das fazendas, que nunca
deixam sós de todo, por amor de seus mesmos escravos e assim
de cada casa acode a metade da gente branca e enquanto se
juntam estão à defesa os soldados que ficam ditos, assim do forte
como da povoação e fronteiras do gentio, donde há muitas e mui
grossas aldeias à ordem e debaixo da doutrina dos Padres Bentos
e de São Francisco 11 . Nesta povoação, a que chamam Cidade, há
três mosteiros, com seus frades, a saber, um de São Francisco,
que bastava, mui bem acabado e capaz de muitos religiosos, um
do Carmo, que se vai fazendo, e um de São Bento que se fabrica e
uma Casa de Misericórdia mui bem lavrada e a Sé mais pobre que
todas, porque não é de particular 12 . Tem mais uma rua de mui
boas casas de pedra e cal que se vão acabando e outras de taipa,
que tudo promete haver de ser lugar fermoso, bem assentado,
muito sadio e muito abundante e por todas estas cousas há-de ser
mui povoado, se o ajudarem e tiver bom governo. Ao pé deste
lugar está uma fonte maravilhosa que sara do mal de pedra, que
os que padecem dele a tem por milagrosa 13 . Todo o seu território
é excelente para canas e toda a sorte de legumes e hortaliças,
frutas de espinho e das da terra, muitas criações de toda a sorte e
muitos, gados e diversas

11
Sobre as aldeias debaixo da doutrina dos Frades de São Francisco ver Jaboatão,
Novo Orbe Seráfico II p. 71 e Fr. Venâncio Willeke, “Missões da Custódia de Santo
Antônio, 1585-1619”, Provincia Franciscana de Santo Antônio do Brasil. Edição
comemorativa do Tricentenário (Recife 1957) pp. 270/280 e, do mesmo, Missões
Franciscanas no Brasil (Petrópolis 1974) pp. 45/53. O Padre Manuel de Morais
menciona a existência aí de seis aldeias, que relaciona uma a uma: J. de Laet,
Iaerlyek Verhael IV, 129/130. Servaes Carpentier menciona sete: Iaerlyck Verhael IV,
p. 123.
12
A altura da invasão holandesa os conventos do Carmo e de São Bento ainda
estavam por concluir, assim como a Matriz e a Misericórdia: Elias Herckmans,
“Descrição Geral da Capitania da Paraíba”, RIAP vol. 5 nº. 31 (Recife 1886) pp.
2451/246. Com relação ao Convento de São Francisco foi o mesmo projetado pelo
arquiteto Fr. Francisco dos Santos em 1590: Novo Orbe Seráfico II p. 303 e 2ª. parte
pp. 353 e ss. A documentação respeitante ao Mosteiro levantado pelos Beneditinos na
Paraíba, desde a carta de doação inicial das terras feita por Feliciano Coelho de
Carvalho na Cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves em 23 de Janeiro de
1595, encontra-se na Revista do Arquivo Público ano II nº. III (Recife 1947) pp. 56 e
ss. Sobre as demais igrejas veja-se Cônego Florentino Barbosa, Monumentos
Históricos e Artísticos da Paraíba (Paraiba 1953).
13
A essa fonte, cuja “água é remédio notável contra o mal da pedra” refere-se o
“Livro da Razão” (1612) cit. p. 557.

59
Página 194

caças nos matos; nos rios e costa do mar grande número de bons
peixes, em particular o peixe-boi, que é tal que se guisa como
carne de todos os modos e tem o mesmo cheiro, gosto e parecer,
depois de cortado, que é cousa de admiração a quem o não
conhece.

Os engenhos que nesta Capitania hoje fazem açúcar, com grande


proveito de seus donos e desta Capitania, são os seguintes:

o Engenho de Francisco Tomás no Goramame

o de Gaspar Carneiro nas fronteiras de Tiberi

no mesmo posto o de João de Paz

o de Ambrósio Fernancles Brandão em Niobi

outro do mesmo, no mesmo posto

o de Duarte Gomes, na várzea do Rio Paraíba

o de Lopo do Barco na mesma várzea

o de Jorge Camelo na mesma

o de Afonso Neto na mesma,

60
14
o de Antônio de Valadares .

Em todos os quais engenhos e nas lavouras deles, como ficam


apontados, vivem mais de quinhentos moradores brancos e se vão
fabricando outros engenhos e cada, dia para eles novos comodos e
sítios mui proveitosos.

Esta Capitania para o Sul se vai partindo e misturando com a terra


de Guiana, que 6 de Tamaraca, Capitania do Conde de Monsanto,
em modo que toda parece uma mesma terra, em forma que fica
ao gentio sendo de muita reputação o concurso de gente dos
caminhos e o número dos vizinhos e lavrantes e para as guerras
de fora também este cômodo se há aproveitado e aproveita muito,
porquanto desde esta Capitania da Paraíba que se compessa a
povoar do Rio Manguangape até o Cabo de Santo Agostinho, tudo
são grossas fazendas de portugueses que a Sua Majestade dão,
sem nenhum cabedal de sua Real fazenda, um proveito grande.
Rende esta Capitania cada ano nos dízimos dos seus frutos de oito
para nove mil cruzados.

Deteve-se o aumento desta povoação ou cidade desta Capitania


porque até agora todo o açúcar que nela se fazia se levava em
barcos a carregar em Pernambuco, porque, como ali vivia o
concurso de todos os homens de negócio mais caudalosos, os
vizinhos sem força da Paraíba de necessidade se iam lá valer do
que lhes era necessário, como a fazendas de seus súditos
mandavam pôr todo o açúcar em

Página 195

barcos pequenos que somente iam a isso e ficavam sempre


naturais com uma saca sem proveito, porque à terra não traziam
nada. Todavia hoje está feito assento que nenhum açúcar saia pela
barra fora sendo nos navios em que houver de ir para o Reino e

14
Desses senhores de engenho três eram cristão-novos: Francisco Tomás, João de
Paz e Ambrósio Fernandes Brandão, este o autor dos notáveis Diálogos das Grandezas
do Brasil, um dos textos mais importantes para a história do Nordeste no início do
século XVII (1618).

61
que estes não sendo admitidos a lho darem sendo entrando
carregados de outras cousas, como se costuma 15 .

A gente desta Capitania está repartida em três companhias, uma


da cidade e duas de fora, com seus capitães e oficiais da
ordenança delas, afora o presídio que vence soldo, que tem, além
do capitão-mor e capitania do Cabedelo, um sargento-mor posto
pelo Governador com oitenta mil réis de ordenado, que entra na
contia atrás referida.

15
Razão ed. Sluiter p. 556.

62
NIEUHOF, Joan. Memorável viagem marítima e terrestre ao
Brasil. São Paulo: Liv. Martins, 1942.

Página 27 Sobre Cabo Paraíba. "[Cabo Paraíba.] Cerca de meia


milha a noroeste desse rio acha-se o Cabo Branco, e daí a três
milhas, na mesma direção, o Cabo Paraíba que é um grande
promontório, tendo ao lado extensa baía. Toda a costa, de Pau-
Amarelo ao cabo de Paraíba, é pontilhada de recifes ou rochedos
que, em sua maioria, se alinham a cerca de meia milha da praia.
Isso faz com que as águas situadas entre eles e a terra seja muito
calma e permita o tráfego marítimo mesmo em época
tempestuosa, quando a navegação se torna quase impossível para
fora desses escolhos, devido à violência da corrente procedente do
norte e ao vento Sul que lá sopra continuamente".

Página 28 Sobre a Cidade Frederica. "[A cidade de Paraíba]


Subindo o Paraíba, a cinco milhas de sua foz, encontra-se uma
cidade fundada pelos portugueses que, em honra a Filipe, Rei da
Espanha, tomou o nome de Filipéia. É também conhecida por
Nossa Senhora das Neves e por Paraíba dada a sua proximidade
do rio. Quando os holandeses conquistaram a Capitania, em
novembro de 1634, mudaram esse nome para o de Cidade
Frederico, em homenagem a Frederico Henrique, Príncipe de
Orange. Por essa época a cidade era de construção recente e
ostentava diversos prédios imponentes, com colunas de mármore,
sendo o restante da construção de pedra comum. Lá estava a sede
do Tribunal de Justiça da Capitania. Antes da rebelião dos
portugueses, era esse lugar habitado tanto por portugueses como
por holandeses e largamente freqüentado pelos habitantes de toda
a região, que lá iam escambar açúcar por outras mercadorias, as
quais eram depois transportadas para outros lugares".

Página 28 Sobre o Forte Margarida. "[O Forte Margarida] Na


parte interna da desembocadura do Paraíba havia três fortes de
grande importância. Um deles, situado na Ponta Sul, era chamado
pelos portugueses de Catarina, mas foi posteriormente
denominado Margarida pelo Conde Maurício, em homenagem à sua
irmã. Era defendido por cinco bastiões e uma corna externa".

63
Página 28 Sobre o Forte Santo Antonio. "[Forte Santo Antônio] O
forte a que os portugueses deram o nome de Santo Antônio fora
construído sobre uma ilhota separada da Ponta Norte por estreito
braço. É este o único remanescente da série de quatro grandes
fortalezas quadrangulares anteriormente construídas pelos
portugueses e que mais tarde foram arrasadas pelos holandeses
sendo as ruínas arrastadas pela correnteza do rio. O Forte Santo
Antônio é cercado de paliçadas e de um fosso abastecido pelo já
citado braço de rio. As muralhas são fortíssimas e, numa bateria,
instalaram-se seis peças de ferro. Pode ser defendido pela
artilharia tanto da cidade de Paraíba como do forte Margarida que
lhe fica oposto, do lado meridional, razão pela qual sempre foi
escassamente guarnecido pelos portugueses".

Página 28 Sobre o Forte da Restinga. "[O terceiro forte] O


terceiro forte está situado numa ilha triangular, chamada restinga,
não muito distante do anteriormente descrito, apenas um pouco
mais para cima do rio. Era reforçado com paliçadas e, nas
baterias, havia cinco canhões de bronze e outros tantos de ferro".

Página 28 Sobre o Rio Paraíba. "[O rio Paraíba] A Capitania de


Paraíba é banhada e dividida por dois rios importantes a saber: o
Paraíba e o Mamanguape, também conhecido por S. Domingo. O
Paraíba, de grande volume, situa-se a 6o e 24', quatro milhas
acima do Cabo Branco, e lança-se no mar em dois braços
separados por um grande banco de areia. A um desses ramos
chamam Entrada Norte, e ao outro Entrada Sul. Deste último
estende-se uma cadeia de recifes que vai até o Cabo Branco, e, no
meio do rio, há um banco de areia fronteiro ao forte Margarida.
Este rio é muito seco no verão, mas no inverno suas águas sobem
e inundam toda a região adjacente, vitimando, por vezes, homens
e animais".

Página 29 Sobre o ataque a Capitania da Paraíba por tropas da


Companhia das Índias Ocidentais; Ataques as fortificações de
Cabedelo, Santo Antonio e Restinga. "Pelos fins de novembro de
1634 os holandeses empreenderam uma expedição contra a
Paraíba, embarcando suas forças em 32 navios sob o comando do
coronel Schkoppe e dos seguintes chefes militares: Arciszewski,
Hinderson, Stachouver e Carpentier. A frota foi dividida em duas

64
esquadras, a primeira compreendendo 21 navios que levavam, ao
todo, 1945 homens e a outra 11 iates com 409 soldados.
Schkoppe foi o primeiro a desembarcar com 600 homens,
avançando contra o inimigo que tratou de se retirar abandonando
armas e bagagens. Antônio Albuquerque, o general que os
comandava, com dificuldade conseguiu escapar. Nesse ínterim,
tendo o restante da tropa alcançado a terra, três companhias sob
as ordens de Kaspar Ley marcharam diretamente contra o forte
Margarida e entrincheiraram-se junto a ele enquanto Schkoppe se
mantinha ao longo da costa e Arciszewski formava, com sua força,
a ala direita à vista da guarnição. Ao mesmo tempo Lichthart
atacava o forte da ilhota Restinga, que tomou de assalto, passando
a guarnição a fio de espada. Por esse tempo Schkoppe havia
assestado uma bateria contra o forte, castigando de tal forma a
guarnição que o comandante Simão de Albuquerque resolveu
capitular. A seguir, intimado a render o forte Santo Antônio, seu
comandante, Magalhães, pediu três dias de prazo para entregar a
praça. Conseguida a tolerância, Magalhães fugiu durante a noite,
abandonando a Lichthart a posição, que dispunha de cinco grandes
canhões de bronze e 19 de ferro".

Páginas 29-30 Conquista da Paraíba; Reforço das estruturas de


defesa. "[Os holandeses conquistam a Paraíba] Na mesma noite as
nossas forças marcharam contra a cidade de Paraíba, então
guarnecida com 1.600 homens, e, transpondo um braço de rio
denominado Tambiá Grande, logo dominaram a cidade, sem
oposição. O general espanhol Bagnoli, tendo evacuado o lugar à
frente de 250 homens, foi forçado a retirar-se para Goiana, não
sem primeiro enterrar ou emperrar seus canhões e deitar fogo a
três navios e dois armazéns nos quais foram destruídas 3.000
caixas de açúcar. À vista do mau estado em que se encontrava o
forte Santa Catarina, determinou o Conde Maurício sua
reconstrução, ampliando-se e aprofundando o fosso e
substituindo-se-lhe o nome pelo de Margarida em homenagem à
sua irmã. O forte Santo Antônio foi, em sua maior parte, arrasado,
restando apenas um baluarte para defesa da ponta norte do rio.
Decidiu-se também que o forte Restinga fosse cercado por novas
paliçadas e que o convento da Paraíba fosse fortificado com uma
muralha e outras obras externas. Ficou encarregado do governo da
Capitania, bem como do comando da praça, Elias Herckmans".

65
Página 59 Medidas tomadas na Paraíba para evitar uma revolta
dos moradores contra a Companhia. "[Assegurada a posse da
Paraíba.] Sendo, porém, de temer que os habitantes de Paraíba,
muito endividados, se revoltassem antes do resto, Paulus de Linge
foi imediatamente despachado para lá, na qualidade de Diretor,
com plenos poderes para agir tanto lá como na Capitania do Rio
Grande, segundo os interesses da Companhia e levando ordens
expressas de desembarcar, logo depois de sua chegada, 100
homens da guarnição dos navios, com provisões suficientes, a fim
de guarnecer o forte de Santa Margarida, não só para defendê-lo
como também para manter a população em obediência".

Página 84 Alto funcionário do Tribunal de Justiça enviado a


Paraíba para manter a ordem entre o povo, dada a ameaça dos
campanhistas. Providências tomadas para a defesa da Paraíba.
Renovação do juramento de fidelidade ao Governo. "Mais ou
menos pela mesma época, cerca de 1.000 índios, sendo 369
homens e os restantes, mulheres e crianças, refugiaram-se na Ilha
de Itamaracá, onde estavam sendo mantidos com as reservas ali
existentes. Resolveu então o Conselho, a 21 de julho, para lá
enviar o Senhor Listry, como administrador, a fim de ver se
conseguia que os índios pudessem providenciar o seu próprio
abastecimento, com víveres provenientes das respectivas aldeias,
aliviando assim a Companhia desse encargo. Até então, tudo corria
em paz em Itamaracá, Goiana e Paraíba, graças à dedicação do
Senhor Paulus de Linge, Governador desta última. Logo que a
chama da rebelião irrompeu em Várzea, Ipojuca e Olinda, o
Conselho, já de sobreaviso com relação a Paraíba, onde se
suspeitava que havia diversos simpatizantes dos rebeldes, para lá
enviou um alto funcionário do Tribunal de Justiça, com amplos
poderes para tentar manter a ordem entre o povo, agindo para
isso como melhor lhe parecesse. Lá chegando, teve o funcionário o
cuidado de ver que os fortes fossem devidamente guarnecidos e
providos de munições e vitualhas provenientes dos navios que
encontrou no porto, por detrás da Terra-Vermelha. Providenciou
também a detenção de pessoas suspeitas e impôs às demais novo
juramento de fidelidade ao Governo".

Página 125 Informações dada pelo governador da Paraíba ao


Conselho sobre a remoção da guarnição e do povo de Frederica
para os fortes. Numero de tropas disponíveis na Paraíba. Outras

66
medidas tomadas para a defesa da região. "Cartas ao Conselho
Vindas de Paraíba. Por sua carta datada de Paraíba, 22, o Senhor
Linge comunicou ao Conselho que, depois da notícia que lhe fora
transmitida da derrota do Coronel Haus, julgara conveniente
remover a guarnição e o povo de Frederica para os fortes.
Informava, ainda, o Senhor Linge, que os portugueses
continuavam calmos e que toda sua força consistia em 400
soldados, 100 civis e 50 brasileiros, entre os quais havia bom
número de doentes e feridos. Dizia mais, que os tapuias haviam
assassinado 12 ou 14 camponeses. Não havia muito tempo que o
Major Hoogstraeten, Ley e Hek informaram o Conselho terem
incendiado todas as casas, principalmente o armazém e a igreja,
fora do forte, para facilitar sua defesa e que o inimigo se havia
instalado no morro do Cabo e na Ilha que lhe ficava ao sul".

Página 129 Estoura a rebelião na Paraíba. População retirada de


Frederica para as fortificações próximas do litoral. "... a Capitania
da Paraíba, dada a habilidade do Governador Paulus de Linge,
permaneceu fiel, pelo menos na aparência, até o dia 25 de agosto
de 1645 quando, informado da derrota do Tenente-Coronel Haus,
da capitulação do forte de Santo Agostinho e, alentado pelo
reforço de cinco ou seis companhias da Baía e abundantes
remessas de armamento enviados de Pernambuco por André Vidal,
o povo começou a tomar armas a fim de cortar a comunicação
entre a guarnição postada no Mosteiro de São Francisco, Frederica
(lugar não fortificado) e os fortes próximos ao litoral. Entretanto,
tendo percebido a manobra, o Senhor Linge, com o consentimento
da oficialidade, ordenou que o povo se recolhesse aos fortes com
seus haveres e a mencionada guarnição, a fim de evitar que
fossem surpreendidos pelos portugueses, bem como para auxiliar
a defesa das praças de guerra. Por idêntico motivo os brasileiros
que com suas famílias habitavam a região tiveram também ordem
de se entrincheirar sob a bateria que servia de defesa externa.
Enfrentado por essa concentração de tropas e vendo frustrados
seus planos de conquista da Paraíba pela força, o inimigo recorreu
à sua artimanha costumeira, certo de que poderia comprar os
fortes dessa Capitania como comprara a do Cabo de Santo
Agostinho. Com esse fito, em setembro de 1645, despachou um tal
Fernão Rodrigues de Bulhões, Secretário da Justiça da Paraíba,
levando uma carta dirigida ao comandante em chefe Paulus de
Linge, na qual lhe oferecia a soma de 19.000 florins pela rendição
do forte. A proposta, entretanto, não logrou êxito. Por ordem de

67
Linge o mensageiro foi feito prisioneiro e enforcado no dia
seguinte. Dessas ocorrências Linge enviou notícias ao Conselho a
16 de setembro. Nesse ínterim, (de acordo com a carta do Senhor
Linge, datada de 16 de setembro) chegaram à Paraíba mais cinco
companhias inimigas que, reforçadas pelos mais valentes dentre
os civis, se colocaram perto do Tiberí onde tinham afixado uma
proclamação intimando todos a que reparassem seus engenhos,
sob pena de perdê-los".

Página 139 Informações sobre o deslocamento de tropas


portuguesas e sobre a falta de provisões na Paraíba. "Pieter
Duinkerken regressou à Paraíba a 12 de janeiro, depois de fazer
um cruzeiro ao largo do Recife, no navio Hamel, trazendo uma
carta do Senhor Linge, datada do Forte de Santa Margarida, a 11
de janeiro. O Senhor Linge havia encaminhado ao Conselho o
Senhor Pieter Steenhuizen, que fugira ao inimigo quando este
iniciara a matança dos holandeses a seu serviço. Esse tal
Steenhuizen trouxera notícias de que Camarão seguira da Paraíba
para o Rio Grande, à frente de 500 soldados escolhidos, para
ocupar o interior da Capitania e assim impedir que as nossas
guarnições de lá recebessem gado e farinha. Informou também
que o inimigo já sofria escassez de carne, azeite, vinho, e outros
gêneros mas, por outro lado, o povo alardeava que, por falta de
provisões, logo teríamos que entregar os nossos fortes aos
portugueses. Confirmada a informação pelo Senhor Linge, em sua
carta de 10 de janeiro, convocou-se um conselho, a reunir-se a 13
de janeiro, ao qual deveriam comparecer os Senhores Hendrik
Hamel e Bullestrate, membros do Grande Conselho, o assessor
Walbeek, o Tenente-Coronel Garstman, os senhores Raets Vald, de
Wit, Alrich Volbergen e Lems, a fim de deliberar sobre a situação.
Considerou-se, então, que, se o inimigo dominasse o interior e nos
privasse do fornecimento de gado e farinha do Rio Grande,
justamente numa ocasião em que Itamaracá e Paraíba também
estavam bloqueadas, ser-nos-ia quase impossível manter a posse
do Brasil Holandês, enquanto não chegassem da Metrópole os
socorros esperados. Discutiu-se, nessa reunião, se seria mais fácil
manter esta Capitania por meio de uma poderosa digressão ou se,
ao contrario, seria melhor tentar a expulsão do inimigo. Sabendo-
se, porem, que o adversário estava tão forte, perto do Recife, na
Paraíba e em Itamaracá, a ponto de não se poder atacá-lo, nesses
lugares, sem que todo o Brasil Holandês corresse perigo iminente,
resolveu-se que, para tentar a libertação do Rio Grande, se

68
baixassem ordens ao Senhor Dortmont, para que mandasse de
Itamaracá para o Rio Grande 60 soldados e 100 brasileiros sob o
comando do Tenente Welderen, nas barcas especialmente
remetidas para esse fim. Na mesma ocasião determinou-se ao
Senhor Linge, Comandante do forte Santa Margarida, na Paraíba,
que enviasse para o Rio Grande igual número de homens sob o
comando do Tenente Bransma, a fim de encontrar com as demais
forças. Tais tropas, compostas de 120 soldados e 200 brasileiros,
consideradas suficientes para cercear os planos do inimigo no Rio
Grande, para lá zarparam a 19 de Janeiro".

Página 170 Relação dos fortes em mãos dos holandeses. Na


Paraíba: O Reduto de Santo Antonio, o Forte Restinga e o Forte
Margarida. “O reduto de Santo Antônio, do lado norte do Rio
Paraíba, dispondo de seis canhões de ferro; O forte Restinga,
situado na ilha do mesmo nome, no Rio Paraíba, armado com
quatro canhões de bronze e cinco de ferro; O forte Margarida) à
margem meridional do Paraíba, guarnecido com 14 peças de
bronze e 24 de ferro”.

69
SCHMALKALDEN, Caspar. Brasil Holandês Volume I. A Viagem de
Caspar Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil.
Rio de Janeiro: Editora Index, 1998.

Páginas 108-114

"Sobre a Fortaleza Margaretha. No citado rio Paraíba localizava-se


ainda uma fortaleza chamada Santa Catarina, que se encontra em
ruínas, por isso o Príncipe Mauricio mandou reconstruí-la e equipa-
la com um fosso amplo e profundo e com parapeitos - como sinal
de que agora estava submetida a uma potencia estrangeira.
Recebeu o nome de sua irmã Margarethen. Do outro lado do rio,
direção norte, havia outra fortaleza, chamada Santo Antonio, a
qual há tempos o Príncipe [mandou] demolir e destruir para a
redução de gastos desnecessários, [mandando] construir apenas
uma guarita ou torre de vigia. Todavia, quanto ao Reduto
Restinga, que se localiza quase no meio da embocadura ou saída
do rio, [mandou] equipá-lo contra um repentino ataque inimigo
com paliçadas e estacas – como também, [proteger] com uma
muralha, o mosteiro da cidade da Paraíba – ordenando a Elias
Harckmann a supervisão para sua melhor guarda e
implementação. Esta Província da Paraíba, no ano de 1634, foi
submetida a autoridade da Companhia das Índias Ocidentais pelos
coronéis Schop, Artischoffsky, Hintersohn, entre outros. As armas
desta Província ou Capitania constam de seis pães de açúcar e m
forma piramidal, com o que se indica que nesta cresce o melhor
açúcar. Durante minha estada estavam estacionadas nesta
Capitania ou Província da Paraíba duas companhias, quais sejam,
uma de Amsterdam, sob o comando do major Sedneum de Printz,
distribuída pelas três fortalezas e uma da Zelândia sob o comando
do capitão Oigen, metade na cidade da Paraíba ou cidade de
Frederico e a outra metade no mosteiro franciscano. Contudo,
quando o major Printz voltava a pátria, chegava o major Andréas
N. no forte Margareth, que naquela época, estava equipado com
dez peças de artilharia de metal e dezoito peças de ferro. Após a
partida do capitão Oigen, o capitão Blawbeck passou a comandar a
companhia da Zelândia”.

70
FONTES MANUSCRITAS

Coleção Joaquim Caetano - Documentos holandeses -


Volume I.

MISSIVA DO GOVERNADOR D. VAN WEERDENBURCH, EM


ANTONIO VAAZ, AOS ESTADOS GERAIS
Datada de.... janeiro de 1632.
Recebida a 1 de abril de 1632.

Assuntos de interesse: Reforço em tropas e munições de guerra e


boca das guarnições “portuguesas” nas praças da Bahia, Porto
Calvo, Cabo de Santo Agostinho, Itamaracá (Vila Velha) e Paraíba;
Ordens recebidas para que fossem feitos ataques contras as
posições do norte, isto é, Itamaracá e Paraíba.
Ataque a Paraíba: 13 companhias e 2 majores, no total de 1600
homens dirigidos por Steyn Callenfels, partiram para a Paraíba em
14 yatchs no dia 3 dezembro de 1631; Desembarque no dia 5 de
dezembro e escaramuças contra entrincheiramentos portugueses;
Tentativa de dominar uma fortificação (não especificada), descrita
como sendo uma fortaleza provida de 4 muralhas, com um ante-
muro na entrada e dotada de obras de tenalha, estando aberta
em um dos lados, de forma a poder receber reforços (víveres e
tropas); Tentativas de tomar a fortificação frustradas; Tropas
retiradas; Justificativa para o fracasso na operação de ataque:
número insuficiente de soldados e interferência dos conselheiros
políticos nos planos de ataque.
Datada de.... janeiro de 1632. Recebida a 1 de abril de 1632.
Altos e Poderosos Senhores!
A 9 de novembro último enviei a Vossos Altos Poderes minha
última em duplicata, o original pelo navio “Campen”, e a cópia pelo
navio “Matenea”; espero que Vossos Altos Poderes as tenham
recebido.
Desde o começo de nossa conquista não cessei de dar
conhecimento a Vossos Altos Poderes da condição da natureza;
assim, não é necessário voltar a este ponto tão freqüentemente.

71
Enfim, recebemos agora a ordem, há tanto esperada, de
abandonar a cidade; cumprimo-la, embora demasiado tarde,
porque as melhores ocasiões passaram, e enquanto foi tempo e a
oportunidade suficientemente boa, não se pode obter uma
resolução. Entrementes, o socorro da Espanha chegou, os
açúcares são transportados e as cidades providas de fortificações.
O que nos impediu, de começo, em diferentes épocas, de
tentar alguns progressos foi o que se segue: falta de tropas, de
munições de guerra, de víveres, necessidade de toda espécie de
materiais, os ataques contínuos do inimigo, os pontos abertos que
tínhamos de prover de guarnições, o tamanho e a irregularidade
da cidade, os meses chuvosos extraordinários, do que tudo dei
notícia repetidamente.
A boa ocasião e a ordem tardia de deixar a cidade deram ao
inimigo tempo para fortificar-se nesse meio tempo, para conservar
seus açúcares, esperar o socorro, enquanto se fazia crer nos
Paises Baixos que nenhum socorro se preparava para ele, e isto
sem nenhum outro intuito senão o de nos roubar o tempo,
retardar o socorro de Pater e procrastinar o abandono da cidade.
Chegada aqui, enfim, a frota da Holanda, já passara a estação,
o inverno tornava por toda arte impossível o ‘desembarque; além
disto, as tropas não chegaram juntas, mas em épocas diferentes,
umas após as outras.
Acresce a isto a promessa que nos foi feita, segundo a qual só
os nossos acampamentos teriam uma guarnição de 4.000 homens,
sem falar no subsídio das nove companhias que viriam com Pater,
cada uma de 150 homens (a maioria, entretanto, não contém este
número), com as quais devíamos atacar em primeiro lugar ao
norte e ao sul a frota espanhola (no que consistia toda a nossa
sorte) e, a seguir, em terra, algumas cidades; todavia, nossa fora
jamais excedeu de cerca de 4.100 homens, inclusive doentes e
feridos, e, o que mais é, inclusive as nove companhias
mencionadas. Com esta pequena tropa (apesar de eu haver tão
freqüentemente e por diversas vezes demonstrado nossa fraqueza
e pedido mais tropas) tivemos de fazer tudo para dar, de algum
modo, a prova da nossa boa vontade, ao mesmo tempo que
tivemos, além disso, de fornecer as guarnições necessárias a
cidade (que, por causa de sua extensão irregular, tem uma
guarnição de cerca de 1.600 a 1.700 homens), a fortaleza de
Tamarica (400 homens), no recife, em Antonio Vaaz e as

72
fortalezas circundantes; por aí poderá todo o mundo julgar se,
com tais meios, se teria podido fazer alguma cousa mais.
Aqui chegando, a frota espanhola foi atacada, mas sem os
convenientes preparativos; em seguida, findo o inverno,
preparamo-nos para abandonar a cidade, de acordo com a ordem
recebida, e atacar algumas cidades situadas ao Norte, mas tudo
isto inoportunamente, quando, pelo socorro recém-chegado, o
inimigo fora reforçado na Bahia, em Porto Calvo, no Cabo de Santo
Agostinho, no seu quartel-general em Tamarica, em Paraíba e
outros lugares, com tropas e munições de guerra e de boca.
Todavia, após o abandono da cidade, julgamos de bom aviso ir
com 13 companhias e 2 majores, ao todo 1.600 homens, sem
marinheiros, sob a direção do tenente-general Steyn Callenfels,
atacar Paraíba, o que foi executado como se segue.
A 3 de dezembro todos os navios e “yatchs”, em número de
14, tendo a bordo os soldados acima citados, fizeram-se à vela
daqui e chegaram a Paraíba a 5 do mesmo mês, mas, ao
desembarcar, viram muitas bandeiras e soldados atrás de uma
trincheira levantada ao longo da costa, e fizeram duas formidáveis
descargas de mosquetes; apesar disso, os nossos tendo, enfim,
desembarcado, expulsaram-nos dali, tendo vários dos deles e dos
nossos tombado no local e tendo dois brasileiros sido feitos
prisioneiros.
Daí, marchando avante, ao longo da costa, foram os nossos
perseguidos pelo inimigo, sempre fazendo descargas contra eles
(ocasião em que o major Redinckhoven recebeu uma bala na
perna); assim, avançamos até a fortaleza, a cerca de 1.000 passos
de lá, aproximando-nos cada dia mais da fortaleza, enquanto o
inimigo, neste comenos, se aproximava também mais de nós (sic).
Ao cabo (vendo os nossos que o inimigo era muito mais forte em
campo aberto do que eles e que, além disso, a fortaleza era
provida de 4 muralhas, de um antemuro a entrada e de obras de
tenalha, estando sempre aberta de um lado, por forma que o
inimigo podia receber tropas e viveres a vontade, o que os nossos
com sua reduzida tropa não podiam impedir, como Vossos Altos
Poderes poderão verificar pela carta inclusa), a 10 do mesmo mês
o tenente-general acima citado ordenou que 7 companhias se
lançassem contra as aproxes do inimigo, dos quais o repeliram, de
maneira que houve 150 mortos, entre os quais 6 capitães, sem
contar os feridos, segundo informação de um índio que se passou
para o nosso campo, vindo do acampamento de Albuquerque;

73
entre os nossos tivemos 50 mortos, 140 feridos e 40 que ficaram
cegos em razão dos golpes recebidos; assim, na noite seguinte,
retiramo-nos em boa ordem (sem ter feito nada), não deixando o
que quer que fosse empós.
Como todas as tentativas sempre falhassem, não prouve a
Deus permitir que alcançássemos a vitória, se bem que Ele não
nos deixasse faltar prudência. Foi em seguida resolvido que nos
dirigíssemos para o Rio Grande com 10 Companhias, cerca de
1.200 homens, sem contar os marinheiros, sob a mesma direção
acima citada, na esperança de que, com o auxílio dos Tapues (sic),
se pudesse executar algo de proveitoso. Daí aguardamos a todo
momento notícias de nossas tropas. No entretanto (para obedecer
a ordem severa e freqüentemente reiterada e em virtude dela),
privamo-nos de tal forma de tropas e meios que a região
conquistada foi posta inteiramente em perigo, nossas obras se
acham com guarnição bem fraca para poder defender-se, e nos
vemos expostos a um sítio completamente inesperado e súbito,
embora Suas Graças o considerem de pequena importância,
precisamente como, em outra época, consideraram a vinda do
último socorro, o que, todavia, foi absolutamente contrário a sua
opinião.
Eu tinha uma opinião mais segura, formada pelos oficiais
superiores, sobre a maneira por que procederíamos antes de ir a
Paraíba, mas, como os Senhores Diretores, ao mesmo tempo que
atiravam sobre os militares todas as dificuldades da empresa,
somente lhes outorgaram um voto consultivo, os Senhores dos
Conselhos, decidindo por si sós, tomaram outra resolução; porque,
aqui só se resolve executar as ordens de Suas Graças pela
pluralidade dos votos dos Senhores dos Conselhos; mesmo no que
respeita a fortificação (se bem que eu não possa resolver por
mim), jamais empreendi nada sem prévia aprovação do conselho
político, o parecer dos oficiais militares e o dos engenheiros, com
os quais sempre deliberei sobre o que seria mais útil e vantajoso,
decidindo assim de comum acordo; não foram as fortificações,
porém, que nos estorvaram, mas antes, como já o observei, a
falta de tropas é que nos tem impedido de realizar quaisquer
progressos.
Não obstante, Suas Graças jamais puderam resolver-se
relativamente ao abandono da cidade (com cuja guarnição se
pudera ter tentado alguma cousa); mesmo assim (com a
exposição da verdade nua e crua de que conservar a cidade fora
impedir todo e qualquer progresso) Suas Graças respondem-me

74
que nos fora ordenado conservar a cidade, que, além disso,
recebêramos, de quando em quando, ordem para tentar
progressos em direção ao norte, assim como para desalojar o
inimigo; mas facilmente nos convenceremos de que das três
ordens as duas últimas não poderiam jamais ser obedecidas sem
inevitavelmente infringir-se a primeira.
Ora como a primeira, isto é, conservar a cidade, nos era dada
tão categoricamente, e nos impunha, em nome de nossa honra e
de nosso juramento, fora de todos os limites de quaisquer
considerações, não abandoná-la, mas procurar por todos os meios
conservá-la, é muito natural que não pudéssemos infringir tal
ordem, enquanto não tivéssemos autorização para agir de forma
diversa.
Além disso, enquanto tratávamos de demonstrar a Suas
Graças a inutilidade e a desvantagem de conservar a cidade, bem
como os grandes interesses que, guardando-a, tínhamos de
descuidar, consoante também informou a Suas Graças o tenente-
general Elst, no mesmo sentido, em sua resposta, acusaram-nos
de temor ou pusilanimidade segundo as aparências, tal como se
houvéssemos tentado fugir da cidade para o recife, tendo
acrescentado que não compreendiam os motivos que nos impeliam
a agir assim — o que provará suficientemente nossa liberdade de
abandonar a cidade e ir fazer um ataque em outro lugar. A
situação do inimigo ficará bem clara para Suas Graças em minha
última carta, que continha as informações de um certo Pedro
d’Albuquerque, que fizemos prisioneiro nos Effogados; a força da
frota do inimigo e o auxílio que recebeu serão conhecidos pelas
informações também mandadas em minha última, e que todas se
acham mais ou menos em contradição com as que Suas Graças
haviam recebido anterior-mente.
Diariamente, as declarações de prisioneiros confirmam a
notícia de que um exército temível aparecerá aqui a fim de sitiar-
nos, mas, como quer que seja o inimigo nesta conjuntura se acha
tão bem provido, que com nossas tropas atuais nada podemos
contra ele, nem em campo aberto, nem atacando suas fortalezas.
Toda sorte depende de evitá-lo; pudéssemos-nos, antes que
ele enviasse tropas para aqui, obter da mãe pátria uns seis mil
homens bem adestrados, dentro em pouco estaríamos senhores
das cidades interiores e exteriores de toda a Capitania; o que
antes, a época propícia, ter-se-ia podido fazer com poucos meios,
deve agora ser executado por uma corajosa resolução com forças

75
consideráveis; isto feito, poder-se-á recambiar os soldados e
guardar as fortalezas com pequenas guarnições; oferecem-se aqui
bastantes oportunidades para diminuir os gastos, obter lucros e
manter as guarnições, bastando que nos assenhoreemos do país.
Quanto a praça aqui, acha-se agora (graças a Deus) em tal
estado, que (se formos secundados apenas de maneira
conveniente por Suas Graças), venha o inimigo com uma força
temível, esperamos ter com que resistir-lhe. Há aqui algumas
obras que seria necessário reforçar, mas, por falta de dinheiro,
nada se faz.
Sem mais,
Antônio Vaaz, janeiro 1632.

76
Coleção José Hygino (Dagelijkse Notulen van den Hoogen en
Secreten Raad in Brazilië – Nótulas Diárias do Conselho Supremo e
Secreto do Brasil, 1635-1654) que contém informações sobre a
Paraíba.

Vol. 2
Período: 3 de janeiro a 23 de setembro
Ano: 1636
Nótulas:

6 de fevereiro – Missiva do monge franciscano, instalado na


Paraíba, interceptada pelos neerlandeses e que estava endereçada
ao General Luis de Borgia, descrevendo o estado de defesa da
capitania

“Propomos hoje de manha ao Almirante que partisse em direção


do exercito, depois de termos sido informados, que alguns dias
atrás, havíamos recebido uma missiva, ou melhor, havíamos
interceptado uma missiva escrita pelo Senhor Dom Pedro Manuel
de Santa Maria, monge franciscano e Guardião em Paraíba, na
qual ele escreve à alguém que se encontra ao lado do General Luis
de Borgia a situação de nossos fortes e construções de defesa e
algumas maneiras para fazer a reconquista da Paraíba e para
destruir nosso estado, tendo em vista que entre outros também se
alega que os Jesuítas mandam copiar todos os nossos assuntos de
Estado por mensageiros secretos e inventam de tudo, mostrando
meios que possam nos derrubar”;

4 de julho – Relato de um Coronel sobre o estado de ruína de


uma fortificação ao sul da Paraíba. Ele salientou a importância da
fortificação para a defesa da área e que foi enviado um engenheiro
para proceder na reforma. Esse engenheiro foi, com uma carta de
apresentação, tratar sobre a reforma com Ippo Eijssens. O
construtor a ser escolhido deveria ser o que cobrasse o valor mais
baixo e o que pudesse fazer o serviço mais rápido, dada à urgência
da situação. Os construtores receberiam o pagamento em dinheiro
e bens de comercio de modo a aceitarem “mais facilmente o

77
projeto”, visto que a Companhia devia alguma soma por serviços
anteriores.

“Presente: O Senhor Stachouwer, Presidente, o Coronel, Wijntjes,


Herckmans e Serooskercken. Nós recebemos uma missiva de
Goiana que o inimigo tinha avançado e se retirou em direção da
casa de Gregório de Barros e em seguida em direção da floresta. O
Senhor Coronel relatou primeiramente que o forte na zona sul da
Paraíba se encontra em estado de ruínas, mostrando no papel a
situação do forte e que era altamente necessário que ele fosse
restaurado e preparado para a defesa, para a realização desta
obra Sua Excelência trouxe um engenheiro. Assim ficou resolvido
de mandar o engenheiro perante o Senhor Eijssens, com uma
carta de recomendação, aconselhando-o de restaurar o forte e que
isto seja realizado por aquele que cobrar menos e o fizer mais
rápido, de modo que nós não nos encontremos no futuro em
apuros em certas ocasiões. Nós iremos contentar os construtores,
a quem nós estamos devendo no momento, com dinheiro e bens
de comercio, de modo que eles queiram aceitar o projeto com
mais facilmente”.

3 de setembro – Engenheiro apresentou o desenho do forte do


sul na Paraíba (Cabedelo?). Segundo o engenheiro a coroa deveria
ser fechada com uma grande “tennelge” (tenalha?), “abrindo uma
bateria no porto de modo que muitas pecas pudessem ser
instaladas“. Os trabalhos, após algumas discussões e avaliações,
foram iniciados

“O engenheiro mostrou o desenho, que por ele foi projetado, do


forte do Sul na Paraíba, a saber, que a coroa fosse fechada com
uma grande ''tennelge', abrindo uma bateria no porto de modo que
muitas peças ali possam ser instaladas. Depois de algumas
discussões e algumas avaliações sobre o assunto foi decidido que
iremos começar imediatamente o trabalho”;

23 de setembro – Requerimento de pagamento do Capitão Johan


Taelboom pelo resto do dinheiro dos trabalhos realizados na
Paraíba. Ele foi responsável pelas obras (desenho ou apenas
construção?) do Forte do Norte (Santo Antonio), do Forte da

78
Restinga e do Forte do Sul (Cabedelo). Ele recebeu um total de
2820 florins pelo serviço. As obras não tinham sido concluídas

“O Capitão Johan Taelboom requer pagamento do resto do


dinheiro ao qual ele ainda tem direito, pelos trabalhos feitos em
Paraíba, e que este seja depositado em sua conta por que os
Senhores daqui não dispõem de meios líquidos. Isto foi consentido.
E visto que as obras do forte não tinham sido concluídas e que de
acordo com os cálculos uma quantia de 1200 florins havia sido
prevista assim ficou decidido que lhe pagaremos uma soma de 600
florins em lugar de 1200 o que iremos depositar em sua conta:
Pelo Forte do Norte 720 Florins Pela Restinga 1500 Pelo Forte do
Sul ·600 ____ Total 2820 Florins. Descontando o que já foi pago”.

Vol. 3
Período: 28 de janeiro a 30 de dezembro
Ano: 1637
Nótula:

2 de julho – Petição dos senhores da Câmara da Paraíba: 1.


Liberdade de religião com conservação de igrejas e conventos e
seus bens; 2. Julgamento e governo de acordo com as leis de
Portugal; 3. Autorização para serem realizadas cerimônias
religiosas católicas por representante do clero vindo da Bahia ou
de Roma; 4. Porte de arma; Para que as embarcações da pátria
fossem diretamente a Paraíba.
Uso das edificações religiosas como pontos de defesa (Convento
franciscano e Convento beneditino, o ultimo tinha sido fortificado
antes do franciscano); Propriedades confiscadas com a invasão

“2 de julho Hoje nós estudamos da petição dos senhores da


câmara de Paraíba em nome da comunidade onde eles
primeiramente requerem, em geral, de serem mantidos de acordo
com as condições que lhes foram prometidas caso eles passem a
nos obedecer, a saber, liberdade de religião com conservação para
suas igrejas e conventos assim como a propriedade de seus bens.
(...) Foi decidido de se responder cada item da seguinte maneira.

79
Primeiramente em relação ao requerimento de uso da igreja
matriz, que parecia ter sido abandonada por nós, por que nós não
predicamos mais no edifício e passamos a utilizar o convento
franciscano, fico resolvido de se responder de acordo com a
resolução do conselho dizendo que nós não planejamos sair da
igreja Matriz, mas, que nossos Pastores continuarão a predicar
naquele local, ao lado disto nós indicamos esta igreja para uso
próprio como está descrito no contrato e os católicos não em
autorização de utiliza-la novamente. Também a comunidade não
pode se queixar de que nós tomamos mais uma vez uma outra
igreja da mesma, por que mesmo levando em conta que nós
fomos obrigados pelo inimigo de tomar o convento franciscano
para nossa própria defesa e da prefeitura de Paraíba. Assim eles
devem levar em conta que nós no primeiro contrato que indicado
São Gonçalvo para uso próprio, mas depois lhe devolvemos o
prédio, de modo que eles tem a mesma quantidade de igreja como
tinha sido combinado. Quanto o requerimento de restituição do
convento beneditino, que ocupamos e fortificamos, de onde
evacuamos e destruímos as fortificações, visto que agora nos
encontramos no convento franciscano, foi decidido que eles
poderão se apossar de novo do mesmo, visto que o convento para
nós não é um local adequado e debaixo de nossa responsabilidade,
com o tempo, iria cair em ruínas. Eles não somente irão manter o
prédio mais adequadamente mais também ampliaram as
construções, e caso todos monges tenham falecidos, eles nos
deixarão uma boa casa o que não é agora. Eles ficaram
encarregados de nos fazer um registro da ordens dos monges para
saber a quantidade existente. E para que possamos saber quem
parte ou morre qual grupo se acabou”;

Vol. 4
Período: 4 de janeiro a 31 de dezembro
Ano: 1638
Nótula:

19 de fevereiro – Visita de Nassau as fortificações da Paraíba


(Margarida, Noorderoord e Restinga; Obras de defesa no convento
de São Francisco), seus respectivos estados e medidas para
manutenção.

80
“19 de fevereiro Sua Excelência relatou que ele havia visitado as
fortificações em Paraíba. Quanto ao forte Cabo Dellio ele mandou
alguém concerta-lo e manter-lo durante o período de um ano por
uma soma de 3300 florins por (...) e o forte se chama agora
Margarita de Nassau. Quanto a fortificação "noorderoord" foi
decidido deixar-la cair em ruínas, porque ela já está bem acabada
e porque iria custar muito para reconstruir-la e foi decidido de se
manter somente um reduto em funcionamento o que já se
considera o suficiente. O forte Restinga ficará e se encontra em
bom estado. Os soldados construirão uma paliçada ao seu redor.
Na cidade é necessário de se construir uma trincheira para se
reparar o convento que o senhor Hartmans e o Major Bongarçon
ficaram encarregados de mandar fazer. Também se mandou fazer
aprofundar com 4 pés a vala do forte Margarita e aumentar-lo com
6 'roeder' em todo seu redor. Com a arreia que irá ser retirada da
vala irá se construir uma pista ao redor do forte o que parece
maior do que o orçamento”.

81
FONTES ICONOGRÁFICAS

01 Andréas Drewisch. Fort Catherine. 1631. Original manuscrito do


Algemeen Rijksarchief, Haia.
(In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades
do Brasil Colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-
ROM).

02 Autor não identificado. Afbeeldinghe van Pariba ende Forten.


1634. Estampa avulsa da Mapoteca do Itamarati (Ministério das
Relações Exteriores), Rio de Janeiro.
(In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades
do Brasil Colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-
ROM).

03 Autor não identificado. Capitania da Paraiba em 6 graos a


sul da Equinothial 1609. 1609. In: MORENO, Diogo de Campos.
Relação das Praças Fortes do Brasil (1609). (In: Revista do
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
Recife: Vol. LVII, 1984, pp. 185-246 (Mapa 6)).

04 Claes Jansz Visscher. Afbeelding der Stadt en Fortressen van


Parayba. ca. 1634. Mapoteca do Itamarati (Ministério das Relações
Exteriores), Rio de Janeiro.
(In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades
do Brasil Colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-
ROM).

05 Frans Post. Ostium Fluminis Paraybae. c.a. 1637-45. Gravura


que ilustra o livro de Barlaeus (BARLAEUS - 1647), estampa nº 28.
Exemplar da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
(In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades
do Brasil Colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-
ROM).

82
06 Frans Post. Parayba. c.a. 1637-1645. Gravura que ilustra o livro
de Barlaeus (BARLAEUS - 1647), estampa nº 27. Exemplar da
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. (In: REIS FILHO, Nestor
Goulart. Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial. São
Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-ROM).

07 Joan Vingboons. Carta Geral do Brasil. Papel aquarelado 52 x


73 cm. c. 1660. Acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico Pernambucano.

08 Joan Vingboons. Carta Marítima correta da costa e vista


geral das Capitanias do Brasil. Papel aquarelado 47,8 x 69 cm.
c. 1660. Acervo do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico
Pernambucano.

09 Joan Vingboons. Frederyce Stadt. c.a. 1640 (1660). Nationaal


Archief te Den Haag.
(In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades
do Brasil Colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-
ROM).

10 Joan Vingboons. Frederyck Stadt. c.a. 1640 (1665). Nationaal


Archief te Den Haag.
(In: REIS FILHO, Nestor Goulart. Imagens de Vilas e Cidades
do Brasil Colonial. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, 2002. CD-
ROM).

11 João Teixeira Albernaz I. PARAIBA. OV RIO DE SAÕ.


DOMINGOS. 1626.
(In: MORENO, Diogo de Campos; ALBERNAZ, João Teixeira. Livro
que dá Razão do Estado do Brasil. Rio Janeiro: Instituto
Nacional do Livro, 1968).

12 Frans Post. Frederikstad in Paraíba. Colección Patrícia Phelps de


Cisneiros, Caracas. Leinwand, 61 x 87,3 cm. Signiert und

83
20.10.1638 datiert. (In: León Krempel (Hg.). Frans Post (1612-
1680) - Maler des Verlorenen Paradieses. Michael Imhof Verlag,
2006, kat. 1, p. 65).

13 (ver 04) Claes Jansz Visscher, 1634. Afbeelding der stadt em


fortressen van Parayba. Água-forte e gravura; 40,5 X 54 cm.
Biblioteca Universitária de Leiden. (In: Brasil Holandês. Dezessete
Cartas de Vicente Joaquim Soler 1636-1643. Rio de Janeiro:
Editora Index, 1999, p. 91).

14 Caspar Schmalkalden. Capitania Paraíba Capitania Rio Grande.


s/a. (In: Brasil Holandês Volume I. A Viagem de Caspar
Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil. Rio
de Janeiro: Editora Index, 1998, p. 91).

15 Caspar Schmalkalden. O Forte Margarethen no rio Paraiba s/a.


(In: Brasil Holandês Volume I. A Viagem de Caspar
Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil. Rio
de Janeiro: Editora Index, 1998, p. 105).

16 Caspar Schmalkalden. O Forte Margarethen no rio Parayba s/a.


(In: Brasil Holandês Volume I. A Viagem de Caspar
Schmalkalden de Amsterdã para Pernambuco no Brasil. Rio
de Janeiro: Editora Index, 1998, p. 107)

17 João Teixeira Albernaz, o velho (fl. 1602-1666). Ilha de


Itamaracá e trecho da costa da Paraíba e de Pernambuco. MS 23 x
29 cm. 1631.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 169).

18 João Teixeira Albernaz, o moço (fl. 1627-1675).


DEMONSTRAÇÃO DA PERAYBA ATE A CANDELARIA. MS com traços
a ouro. 23 x 35 cm. 1666.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 181).

84
19 Commelyn. 1651. AFBEELDINGHE VAN PARIBA ENDE FORTEN.
Gravura 28 x 36 cm.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 155).

20 Montanus. 1671. Ostium Flumines Paraybe. Gravura 29 x 36


cm.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 156).

21 Trecho do litoral da Paraíba desde o Cais do Viradouro, da


capital, ate a Vila de São Miguel, na Baia da Traição. MS 33 x 115
cm.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 158-159).

22 Antonio Garcia Álvares. 1798. Planta do Porto da Paraíba. MS


44 x 63 cm.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 161).

23 Jan van Brosterhuisen (segundo desenho de Frans Post de


1645). Gravura, 39 x 50 cm. Barleus, 1647, 26.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 161).

24 João Jose Valério. Planta do Porto do Rio Paraíba. 1800. MS 32


x 54 cm.
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 162).

25 Planta da Fortaleza de Santa Cantina da Cabedelo (179-)

85
MS 45 x 35 cm
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 160).

26 A. F. Lucini. Fortificação de seis baluartes. Gravura 50 x 37 cm.


Dudley, 1661
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 160).

27 Amédée Mouchez. Planta da barra do Rio Paraíba do Norte.


Marinha Francesa. 1867. Litografia 62 x 48 cm
(In: Mapas: Imagem da Formação Brasileira. Rio de Janeiro:
Fundação Emilio Odebrecht, 1993, p. 162).

28 Johan Vingboons. Carta da Capitania da Paraíba. Papel


Aquerelado. c.a. 1660. Acervo do Instituto Arqueológico, Histórico
e Geográfico de Pernambuco.

86
LISTAS ELABORADAS

PESSOAS

Alberti, Daniel (Diretor)


Albuquerque, Antônio (General responsável pela defesa da Paraíba
em 1634; Governador da Paraíba)
Albuquerque, Lucia de
Albuquerque, Simão de (Comandante do Forte da Restinga em
1634)
Alfonso, Damião (Partido no engenho Jongeneel)
Almeida, Manuel de (Escabino; Proprietário de armazém)
Araduy, Francisco (Capitão de Aldeiamento)
Arancedo, Francisco de
Arciszewski, Chrestoffle (Artichofski, Christofle; Participação no
ataque a Capitania de 1634)
Azevedo, Manoel de
Bachem Bartholomeus van (Notário)
Baut Capitão; De (Den Bant corruptela)
Bayart (Major) (Beyert opção)
Becker, Adriaan (Membro do Conselho Político)
Beuningh, Elto (Tenente; Comandante dos brasileiros da Paraíba e
Goiana - 1638)
Bezerra, Bento Rego
Blaeubeek (Capitão)
Bolck (Commis)
Bongarçon / Goodlad (Major)
Botelho, Diego (Capitão de Aldeiamento)
Bremen, Ernst van (Comandante)
Bruijn, Pieter de(Frade leigo)

87
Bulhões, Fernão Rodrigues de (Secretário da Justiça da Paraíba)
Caavaraya, Francisco (Capitão de Aldeiamento)
Cabel Hendrick
Cadena, Geronimo (Proprietário do engenho-canavial - Inhobij)
Cardoso, Antonio de Matos (Eleitor)
Carneiro, Manoel Coresma (Proprietário do Engenho)
Carpentier Servaes (Diretor da Capitania da Paraíba – 1635-6)
Carvalho, Rafael
Codde, Dirck
Coets, Piter (Eleitor da Paraíba; Escabino)
Cornelisz, Willem (Comandante da Paraíba)
Correia, Manuel Pires (Proprietário do moinho Espírito Santo)
Cunha, Paulo da (Líder guerrilheiro)
D'Almeida, Paolo (Proprietário de armazém)
Davids, Thomas (Eleitor)
Day (Capitão)
Dias de Oliveira, Cristóvão (Eleitor)
Domingos Silves (Proprietário do Engenho do Meio)
Dionijs, Gijsbert
Doncker (Comissário)
Doreslaer, Davi (Doreslaan, Davi; Predicante de indígenas)
Doornick (Dornick; Predicante)
Dortmont, Baltasar van (Conselho de Finanças)
Dourado, Gaspar Fernandes (Escabino)
Duarte Gomes da Silveira (Proprietário do engenho-canavial -
Inhobij)
Duarte Pereira Pinto (Tabelião, Secretario dos juizes dos órfãos;
Escrevente das medidas das propriedades)
Duarte, Saraiva

88
Duynkercker (viúva / Arrendadora de armazém na Paraíba)
Fernandes, Antonio (Partido no engenho Jongeneel)
Figueiredo, André Dias de (Morador; Proprietário de engenho)
Francês, Manoel da Costa (Capitão de Milícia)
Fransen, Menno (Menso France / Escabino; Proprietário de canavial
no Engenho Santo André)
Gerards, Samuel (Samuel Geeraerts) (Eleitor)
Ghijselm, Johan
Goopeka, Francisco (Capitão de Aldeiamento)
Hardy, Robert (Capitão)
Harmannius, Henrikus (Ministro da igreja protestante)
Hartmans (Envolvido em reformas nas fortificações da Paraíba)
Herckmans, Elias (Harckmann, Elias; Diretor da Capitania da
Paraíba)
Henderson (Participação no ataque a Capitania de 1634)
Hoogeveen (Diretor da Capitania da Paraíba – 1638)
Javaraty, João (Capitão de Aldeiamento)
Jongeneel, Jan Cornelis (Eleitor)
Lantman (Pastor do Forte Magareta)
Lely, Hendrick Adriaens (Tenente de milícia)
Ley, Kaspar van der(Participação no ataque a Capitania de 1634)
Linge, Paulus (Diretor da Capitania da Paraíba 1645)
Loenen, Anna (Prostituta)
Loose, Arnout van (Secretario dos escabinos; Notário)
Louissen, Hans Willem
Lueijsen, Cornelis
Luiz Sebastião da Cunha (Eleitor; Escabino)
Magalhães (Comandante do Forte Santo Antonio em 1634)
Malburg (Capitão)

89
Malpas (Capitão)
Manibassu (Capitão de Aldeiamento)
Marichal, Johannes (Escolteto)
Melling (Capitão)
Mendes, Geraldo (Escabino)
Mendez, Luis (Partido no engenho Jongeneel)
Mendonza, Antonio Pinto de (Partido no engenho Jongeneel)
Mercado, Abraham
Michielsen, Jan
Morais de Albo Fernando de (Secretário dos juizes dos órfãos;
Escrevente das medidas das propriedades)
Muniz, Francisco Gomes de (Escabino)
Munninckhoven, Eduard van (Escabino)
N. Andréas (Major)
Navarro, Moisés (Contratante do dízimo do açúcar)
Negreiros, André Vidal de
Neesen, Jack van der (Eleitor e Juiz dos Órfãos)
Nicolaas, Hans (Militar)
Olen, Cornelis van (Eleitor)
Oigen (Capitão)
Ool, Jan van
Paes, Manuel Neto (Eleitor; Juiz de Órfão)
Pais, Pedro Manoel (Partido de cana no Engenho do Frango
Camels)
Paulo, João (Secretário)
Pereira, Jorge Rodrigues (Partido no engenho Jongeneel)
Pestana, Manoel Correia (Partido no engenho Jongeneel)
Phiboll, Jacob (Escabino)
Picard (Major)

90
Pinto, Jorge Homem (Escabino; Proprietário de Engenho)
Poel, Cornelis van der (Pastor)
Pol, Jan van (Escabino)
Poti, Pedro (Chefe indígena de grupos do distrito da Paraíba)
Printz, Sedneum De (Major)
Quarido, Belchior Manoel (Viearis General de Paraíba)
Rassière, Isaac de (Escabino; Proprietário de canavial no Engenho
Santo André; Capitão de Cavalaria miliciano)
Rathelario, Samuel (Predicante de holandeses)
Rego, Bento
Rodrigues, Manuel (Alcaide)
Rouff, Abraham de (Escolteto)
Schkoppe
Seignoro, Manoel de Queseiros de
Semlaer (Participação no ataque a Capitania de 1634)
Siqueira, Manuel de Queiroz (Escabino)
Siquiera, Manuel Geneiro (Eleitor)
Solpher, Caspar van (Escabino)
Souto, João de (Proprietário de canavial no Engenho Santo André)
Stachouwer (Participação no ataque a Capitania de 1634)
Stalpaert (Capitão)
Stetten, Jodocus (Predicante)
Sulphen, Jasper van (Eleitor)
Taelboom, Johan (Capitão)
Tolck (Mestre de equipamentos)
Tonneman (Alferes da milícia)
Tonneman, Pieter (Eleitor)
Tourlon, Charles de (Capitão)
Ursinius, Michiel (Morador)

91
Valadares, Antonio Carreira (Proprietário de canavial no Engenho
Santo André)
Valscasar, Francisco Camelo de
Vaz, Manoel (Partido no engenho Jongeneel)
Venne, Michiel van der (Eleitor; Juiz de Órfão)
Von Lingen, Paulo (Paulus de Linge; Diretor da Capitania da
Paraíba – 1645)
Walbeeck (Walbaecq)
Wijden, Pieter ter
Wijntjes, Balthazar
With, Gijsbert De (Witt, Gisberto; Diretor na Paraíba)

TOPÔNIMOS

Localidades diversas

Majoupi
Cidade Frederica
Tiberí (Povoação)
Niobi
Cambohyna
Restiga (Cabeça seca; Ilha dos frades)
Tambuja Grande (Tambia Grande; angra)
Caminho de Boissons
Lagoinha (Lago; Pântano)

92
Engenhos

Inhobij (Inhobi)
Engenho do Meio
Engenho Santo André
Engenho do Frango Camels
Jongeneel
Tiberij (Tibery)
Engenho do Frango Camels
Gargau (Gargou; Gargau; Gamgahoe; Gorogao)
Barreiras
Meso
Engenho Velho
Espírito Santo

Fortificações

Bateria da praia de Lucena


Fort Margareta (Forte de Santa Catarina do Cabedelo, Margarida,
Santa Catarina, Cabedelo, Forte do Sul)
Forte da Baia da Traição
Forte da Restinga (Forte da Ilha da Conceição; Bateria de São
Bento?)
Forte de Inhobim
Forte de Nossa Senhora das Neves (ou do Varadouro; Fortim do
Varadouro)
Forte do Norte (Forte de Santo Antônio)
Fortim de São Filipe
Gorgahu (Gargau; Gamgahoe; Gorogao)

93
Igreja de Duarte Gomes (fortificada)
Santo Antonio (Arraial)

Portos ou barras

Baia da traição
Barra da Paraíba
Cabo Branco
Porto Lucena
Barra Konguon (Konayo)
Baia Pernambuco

Igrejas (mosteiros; convento)

São Bento
São Francisco
Carmo

Aldeiamentos

Tapucarama
Pindaúna (Pinda-Una; Pindauna)
Juaraguaçu (Equararaca; Eguararaca)
Jacuigh
Yapoan (Igapuan)
Tapoa (Vrekutuwa)
Jaocoça

94
Rios

Paraíba
Tenhaha
Mamanguape (Manguangape; São Domingo; Mongoape)
Rio Jan de Sta (Estau)
Rio Konguon (Konayo)
Tambiá Grande

Riachos

Gramame
Tapoa
Tiberí
Ingeby
Monguape
Inererí
Camaratuba (limite norte)
Inhobi
Gargau
Taperabu (limite sul)

Outras construções

Armazéns na cidade Frederica


Casa da Câmara
Case de Misericórdia

95

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