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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO - UFOP

ESCOLA DE MINAS - EM
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E
ECONOMIA - DEPRO

Tomáz Malta Conceição

Estudo de viabilidade econômica da reforma de um


alambique produtor de cachaça artesanal

Ouro Preto
2022
Tomáz Malta Conceição

Estudo de viabilidade econômica da reforma de um alambique


produtor de cachaça artesanal

Monografia apresentada ao Curso de Enge-


nharia de Produção da Universidade Federal
de Ouro Preto como parte dos requisitos para
a obtenção do Grau de Engenheiro de Pro-
dução.

Universidade Federal de Ouro Preto

Orientador: Prof. Me. Claver Antonio Fontes Vilela

Ouro Preto
2022
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

C744e Conceicao, Tomaz Malta.


ConEstudo de viabilidade econômica da reforma de um alambique
produtor de cachaça artesanal. [manuscrito] / Tomaz Malta Conceicao. -
2022.
Con48 f.: il.: color., tab..

ConOrientador: Prof. Me. Claver Antonio Fontes Vilela.


ConMonografia (Bacharelado). Universidade Federal de Ouro Preto.
Escola de Minas. Graduação em Engenharia de Produção .

Con1. Estudos de viabilidade - Viabilidade econômica. 2. Processos de


fabricação - Cachaça. 3. Investimentos - Análise. I. Vilela, Claver Antonio
Fontes. II. Universidade Federal de Ouro Preto. III. Título.

CDU 658.5

Bibliotecário(a) Responsável: Maristela Sanches Lima Mesquita - CRB-1716


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

REITORIA

ESCOLA DE MINAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUCAO,


ADMINISTRACAO E ECON

FOLHA DE APROVAÇÃO

 
 
Tomaz Malta Conceição
 
Estudo de viabilidade econômica da reforma de um alambique produtor de cachaça artesanal
 

Monografia apresentada ao Curso de Engenharia da Produção da Universidade Federal


de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Engenharia da Produção

Aprovada em 31 de Março de 2022


 
 
 
Membros da banca
 
 
Mestre- Claver Antonio Fontes Vilela - Orientador(a) Universidade Federal de Ouro Preto
Doutor - Jorge Luiz Brescia Murta - Universidade Federal de Ouro Preto
Doutor - José Artur dos Santos Ferreira - Universidade Federal de Ouro Preto
 
 
 
 
 
 
Claver Antonio Fontes Vilela, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito na Biblioteca Digital de Trabalhos de
Conclusão de Curso da UFOP em 06/04/2022
 
 

Documento assinado eletronicamente por Claver Antonio Fontes Vilela, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR, em
06/04/2022, às 15:00, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de
outubro de 2015.

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R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35400-000

Telefone: 3135591540   - www.ufop.br


Dedico este trabalho primeiramente aos meus pais, que sempre estiveram presentes
em todas as etapas da minha vida, nos momentos bons e ruins, todas as conquistas são
fruto de seus ensinamentos, e a meu avô paterno “In Memorian”, por iniciar um sonho
que passaria de geração para geração, sem vocês nada disso seria possı́vel.
Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, José Alves Conceição Filho e Cristina de Oliveira Malta, pelo
amor incondicional. Aos meus irmãos e familiares que sempre estiveram presentes nessa
jornada.
Agradeço a todos meus amigos, as velhas amizades de Valença, e as novas de Ouro
Preto, pelo companherismo e apoio ao longo do percurso.
A todos do departamento de Engenharia de Produção pelos ensinamentos, a empresa
júnior PROJET pelos aprendizados.
Ao professor Claver Vilela, por todo o conhecimento transmitido e tempo despendido
para conclusão deste trabalho.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente auxiliaram na construção deste trabalho.
Resumo
O presente trabalho procurou comprovar a viabilidade econômica da reforma e legalização
de um alambique produtor de cachaça artesanal, localizado no municı́pio de Valença-RJ.
A legalização de um alambique pode incluir altos investimentos, dessa maneira se faz
necessário o estudo e análise do projeto para que decisões assertivas possam ser tomadas.
O estudo de caso conta com todos os investimentos necessários para que a produção no
alambique se inicie e esteja dentro dos parâmetros das leis, também conta com uma série
de investimentos ao longo do projeto com o objetivo de aumentar a capacidade de pro-
dução e consequentemente o resultado da indústria. Inicialmente a indústria produzirá
20.000 litros de cachaça por ano, aumentando esse valor gradativamente até atingir uma
produção de 35.000 litros por ano. A análise foi feita a partir da construção dos fluxos
de caixa da empresa, utilizando o conceito de FCOL, que permite a visualização da real
quantia disponı́vel na empresa no perı́odo, contendo todas as entradas, custos, despesas
e necessidades de reinvestimentos para alcance das metas de produção e para atendi-
mento do mercado dos respectivos perı́odos, os resultados encontrados foram utilizados
para comprovar a viabilidade do projeto, por meio do uso de ferramentas de análise de
investimentos e seus respectivos indicadores financeiros. O estudo mostrou que a proposta
de investimento é viável apresentando valor presente positivo e taxa interna de retorno
acima da taxa de mercado estipulada, que podem ser observadas ao longo do trabalho.

Palavras-chave: viabilidade econômica, produção de cachaça, análise de investimentos.


Abstract
The present work sought to prove the economic viability of the reform and legalization of
a still producing artisanal cachaça, located in the city of Valença-RJ. The legalization of
a still can include high investments, so it is necessary to study and analyze the project so
that assertive decisions can be made. The case study has all the necessary investments
for the production in the still to start and is within the parameters of the laws, it also
has a series of investments throughout the project with the objective of increasing the
production capacity and consequently the result of the industry. Initially, the industry will
produce 20,000 liters of cachaça per year, gradually increasing this value until reaching a
production of 35,000 liters per year. The analysis was made from the construction of the
company’s cash flows, using the FCOL concept, which allows the visualization of the real
amount available in the company in the period, containing all the entries, costs, expenses
and reinvestment to reach production targets and to serve the market in the respective
periods, the results found were used to prove the feasibility of the project, through the use
of investment analysis tools and their respective financial indicators. The study showed
that the investment proposal is viable, presenting a positive present value and an internal
rate of return above the stipulated market rate, which can be observed throughout the
work.

Keywords: economic viability, cachaça production, investment analysis.


Lista de abreviaturas e siglas

CAPEX Capital Expenditure (Dispêndios de Capital)

Cofins Contribuição para Financiamento da Seguridade Social

CPP Contribuição Patronal Previdenciária

CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Lı́quido

DAS Documento de Arrecadação do Simples Nacional

DRE Demonstrativo de Resultado do Exercı́cio

EPIs Equipamento de Proteção Individual

FCOL Fluxo de Caixa Operacional

FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

ha Hectare

ICMS Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

IR Imposto de renda

IRPJ Imposto de Renda de Pessoa Jurı́dica

ISS Imposto sobre Serviços

ITR Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural

l litros

LAIR Lucro antes do imposto de renda

LAJIR Lucro antes de juros e imposto de renda

LL Lucro lı́quido

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ml mililitro

mm milı́metro
MP Matéria-prima

PIS Programa de Integração Social

quant. quantidade

RBV Receita Bruta de Vendas

RLV Receita Lı́quida de vendas

RT Responsável Técnico

TIR Taxa Interna de Retorno

TMA Taxa Mı́nima de Atratividade

VPL Valor Presente Lı́quido


Lista de ilustrações

Figura 1 – Área demarcada da fazenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18


Figura 2 – Planta baixa do alambique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Lista de tabelas

Tabela 1 – Produção anual ao longo dos anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31


Tabela 2 – Investimentos iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Tabela 3 – Equipamentos existentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Tabela 4 – Investimentos aos longo dos anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Tabela 5 – Custos dos insumos de plantação e manutenção por hectare . . . . . . 38
Tabela 6 – Custo total de matéria-prima ao longo dos anos . . . . . . . . . . . . . 39
Tabela 7 – Custo unitário e total por produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Tabela 8 – Custo total de embalagem ao longo dos anos . . . . . . . . . . . . . . . 40
Tabela 9 – Encargos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Tabela 10 – Custos de mão de obra do ano 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Tabela 11 – Custo total de mão de obra ao longo dos anos . . . . . . . . . . . . . . 41
Tabela 12 – Custos totais gerais de fabricação ao longo dos anos . . . . . . . . . . . 42
Tabela 13 – Custos de depreciação ao longo dos anos . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Tabela 14 – Custos por perı́odo ao longo dos anos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Tabela 15 – Simples Nacional: Anexo 2 – Indústria . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Tabela 16 – Previsão de vendas anuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Tabela 17 – Alı́quotas anuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Tabela 18 – Fluxo de caixa operacional livre ao longo dos anos . . . . . . . . . . . 47
Tabela 19 – Indicadores financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Tabela 20 – Abatimentos anuais no investimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Lista de quadros

Quadro 1 – Demonstração de Resultado do Exercı́cio ajustado . . . . . . . . . . . 22


Quadro 2 – Estrutura do Fluxo de Caixa Operacional Livre . . . . . . . . . . . . . 23
Sumário

Lista de ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Lista de tabelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Lista de quadros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2 REFERENCIAL TEÓRICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.1 Análise de investimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Demonstrações contábeis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2.1 Demonstrativo de resultado do exercício . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Custos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3.1 Depreciação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4 Investimentos em bens de capital - CAPEX . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5 Fluxo de caixa operacional livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.6 Métodos para análise de investimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.6.1 Valor Presente Líquido - VPL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.6.2 Taxa mínima de atratividade - TMA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.6.3 Taxa interna de retorno - TIR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.6.4 Payback . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.7 Cachaça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.7.1 Legislação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.7.2 Qualidade e controle na produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

3 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.1 Coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS . . . . . . . . 30


4.1 Produção anual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2 Investimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2.1 Investimentos estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2.2 Investimentos operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.2.3 Equipamentos existentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.2.4 Investimentos CAPEX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
4.2.5 Investimentos em giro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.3 Custos por produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.3.1 Custos de matéria-prima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.3.2 Custos de embalagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.3.3 Custos de mão de obra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.3.4 Custos gerais de fabricação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.4 Custos por período . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.5 Tributação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.6 Fluxo de Caixa Operacional Livre (FCOL) . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.7 Indicadores financeiros (VPL; TIR; Payback) . . . . . . . . . . . . . . . 48

5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . 49

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
16

1 Introdução

Cachaça é o nome dado a bebida produzida da fermentação e destilação do caldo da


cana de açúcar, sendo um produto exclusivo de acordo com o Decreto No 4062, de 21 de
dezembro de 2001, que define as expressões ”cachaça”, ”Brasil”e ”cachaça do Brasil”como
indicações geográficas.(BRASIL, 2001).
No ano de 2020, segundo Gerk (2021), haviam novecentos e cinquenta e cinco estabe-
lecimentos produtores de cachaça registrados no Brasil, os estabelecimentos registrados
ocupam praticamente todas as unidades federativas, com exceção ao Amapá e Roraima.
Estima-se que isso gera cerca de 600 mil empregos e envolve capacidade instalada para
a produção de 1,2 bilhão de litros anuais.(IBRAC, 2022). Apesar do grande número de
produtores, no Brasil existe uma quantidade expressiva de alambiques de cachaça não
legalizados, grande parte por causa da carga tributária sobre o produto, que pode interfe-
rir significativamente nos custos finais da cachaça, e pelos altos custos de adaptação dos
alambiques em fase registro e licenciamento pelo MAPA.
O processo de fabricação de cachaça engloba várias etapas, tudo se inicia com o corte e
transporte da cana de açúcar, logo após é feito a moagem, e o caldo proveniente dessa etapa
é pré-filtrado e depois decantado. O caldo da cana de açúcar madura possui, geralmente,
de 18º a 24º de brix, unidade utilizada para medir a quantidade de sólidos solúveis em
uma solução de sacarose, dessa maneira se faz necessário a mistura do caldo com água
potável e sem cloro. Após o ajuste do brix, para valores em torno de 15º ou 16º, o caldo
segue para a etapa de fermentação, onde as leveduras do fermento transformam o lı́quido
em vinho de cana. Por fim o vinho vai para o alambique, onde é aquecido e destilado
se transformando em cachaça, que deve possuir graduação alcoólica entre 38º e 48º por
cento do volume, a vinte graus Celsius. Na realidade a destilação não é a última etapa
da produção, após ela o destilado passa por uma série de etapas pós destilação, como
maturação e muitas vezes envelhecimento, em diferentes tipos de barris de madeira, cada
um com suas particularidades que conferirão peculiaridades a bebida como aroma, cor e
sabor, visando melhorar a qualidade da bebida.
Outro fator que agrega valor ao produto é o método de produção. A cachaça indus-
trial, muitas vezes, utiliza aditivos quı́micos durante a fermentação, visando aumentar
o rendimento e reduzir seus custos, e durante o processo de destilação se faz o uso de
destiladores de aço inox. No processo de produção de cachaças artesanais, a fermentação
é feita com leveduras e a destilação é realizada em alambiques de cobre. Tais diferenças
aumentam significamente o preço da produção, porém o resultado é uma bebida com
sabores e aromas únicos.
Somando a importância da cachaça no mercado brasileiro e a tradição na cultura de
produção, viu-se a oportunidade de realizar uma análise de investimentos, que compro-
Capı́tulo 1. Introdução 17

vasse a viabilidade econômica do empreendimento.


A análise de demonstrativos financeiros permite diagnosticar a situação financeira
de uma empresa em um determinado perı́odo, no caso deste trabalho ela foi utilizada
para projetar a situação futura do alambique, nos perı́odos de abertura e adequação.
Os indicadores de viabilidade serão os instrumentos que permitirão a tomada de decisão
dos investidores com embasamento matemático. Fazem parte desses indicadores o Valor
Presente Lı́quido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o payback. O VPL calcula
o valor presente de todos os fluxos de caixa futuros da empresa durante determinado
perı́odo, acrescida de uma taxa de juros pré determinada, a TIR proporciona a taxa de
juros implı́cita nas saı́das e entradas do fluxo de caixa, o payback indicará a quantidade
de anos necessários para que o investimento se pague e comece a gerar lucro.

1.1 Justificativa

No setor, grande parte dos produtores se enquadram como pequenos e médios e dentro
desse contexto se encontra o alambique Alto do Brilhante, que produz cachaça artesanal
desde 1982. Localizado no municı́pio de Valença - RJ, a fazenda sempre teve grande
capacidade para produzir um destilado de qualidade, devido às condições climáticas para
o plantio de cana de açúcar, qualidade da água e solo, e conhecimento dos proprietários
sobre as caracterı́sticas intrı́nsecas da formulação. Apesar das condições favoráveis, a
estruturação do processo produtivo de cachaça destinado a venda legalizada, nunca foi
concretizado, e até os dias atuais a produção é considerada apenas um passatempo para os
donos, que por muitos anos comercializaram a cachaça no mercado informal da região. Os
primeiros litros de cachaça foram destilados em um alambique com capacidade para pouco
menos de 100 litros de vinho, como é chamado o caldo da cana já fermentado, produzindo
cerca de 20 litros de cachaça por alambicada. Durante alguns anos, o consumo da cachaça
Alto do Brilhante foi limitado a familiares e amigos, com o passar do tempo a popularidade
da cachaça aumentou e o produto começou a ser destinado à venda e assim se manteve
por muitos anos.
Em 2017 foi realizado um investimento no alambique onde foram comprados novos
equipamentos para a produção, incluindo dornas de fermentação, diluidora e volante,
tanque de armazenamento, decantador e destilador com capacidade para 500 litros de
vinho, o que aumentou significativamente a produção. O objetivo inicial era legalizar
por completo a produção porém, devido aos altos custos para legalização do alambique,
como as obras necessárias para adequação a legislação, a iniciativa foi interrompida e
desde então nenhum investimento foi realizado. A atual estrutura do alambique tem a
capacidade de produção de 300 litros de cachaça por dia em condições ideais. A cana
utilizada no processo é em sua totalidade colhida das próprias plantações da fazenda, que
possui 250 hectares com amplos terrenos propı́cios para o cultivo.
Capı́tulo 1. Introdução 18

Figura 1 – Área demarcada da fazenda

Fonte: adaptado de Google earth.

O desafio desse trabalho se encontra no levantamento dos investimentos, custos e des-


pesas, na elaboração do fluxo de caixa e na construção de um plano de expansão para
a indústria. Assim que todos os investimentos necessários para o inı́cio e expansão da
fabricação e os custos relacionados à produção forem devidamente registrados e contabi-
lizados, os fluxos de caixa operacionais serão construı́dos e será feito uso dos indicadores,
que proporcionarão resultados matemáticos lógicos, que serão analisados e discutidos.

1.2 Objetivos

O objetivo desta monografia é avaliar a viabilidade econômico-financeira do projeto


de investimento de reestruturação do processo produtivo da cachaça alto do brilhante
com vistas a ampliar sua participação no mercado. Dessa maneira os objetivos especı́ficos
serão:

• Levantar os investimentos necessários para o inı́cio da produção de cachaça

• Levantar os investimentos destinados ao plano de expansão


Capı́tulo 1. Introdução 19

• Levantamento de todos os custos e despesas que se referem a indústria

• Estabelecer indicadores de viabilidade econômica

Para realizar o projeto será feito um estudo preliminar com um levantamento de todas
as modificações necessárias a serem feitas no alambique existente, desde possı́veis ampli-
ações e compras de equipamentos até a reforma total de instalações elétricas, hidráulicas
e de esgoto que se façam necessárias para a legalização do espaço. Após essa etapa, uti-
lizando informações de empresas semelhantes, estudos bibliográficos, pesquisas em sı́tios
eletrônicos e levantamento de insumos necessários em lojas locais, será contabilizado o
custo de produção, as despesas e tributações. O grande acervo de livros relacionados a
indicadores de viabilidade contribuirá na elaboração dos mesmos, que serão analisados e
comentados no final do trabalho.
Essa monografia procura comprovar a viabilidade econômica do alambique Alto do
Brilhante, para que um investimento baseado em dados possa ser feito, e servir como
fonte relevante de informação para todos aqueles que desejam dar seus primeiros pas-
sos na legalização de seus alambiques e finalmente poderem produzir uma cachaça com
caracterı́sticas sensoriais únicas dentro dos parâmetros da lei.
20

2 Referencial teórico

2.1 Análise de investimentos

Para Cassaroto Filho e Kopittke (2020) e Bruni (2018) investir significa abrir mão de
algo no tempo presente, seja dinheiro, tempo ou outros recursos, com o objetivo de obter
recompensas no tempo futuro. Independente do tipo de investimento, todos apresen-
tam uma caracterı́stica intrı́nseca em comum, existe um sacrifı́cio justificado em maiores
benefı́cios no futuro.(BODIE; KANE; MARCUS, 2015).
Neste contexto, Cassaroto Filho e Kopittke (2020, p. IX) afirmam que, “a escassez dos
recursos frente às necessidades ilimitadas faz com que cada vez mais se procure otimizar
sua utilização.” Assim se justifica a análise de investimentos, que envolve conhecimentos
técnicos e permite a melhor alocação de recursos em função do tempo.
Assaf Neto (2021), afirma que as decisões de investimento possuem diferentes origens,
que diz respeito aos motivos internos dos proprietários para realizá-las. Dentre as princi-
pais modalidades pode se encontrar a Ampliação do Volume de Atividade. Esse tipo de
investimento refere-se normalmente à aquisição de máquinas, instalações e equipamentos,
em situações que a empresa, em seu estado de produção atual, não consegue atender a
necessidade atual ou projetada de seus consumidores. Todavia, o motivo irá direcionar
o projeto, a decisão de prosseguir com o investimento leva em consideração as etapas de
elaboração, análise e seleção de propostas.
Quando as decisões tomadas pelas empresas em situações que a quantidade de pro-
postas é superior à capacidade fı́sica ou orçamentária da mesma, os investimentos podem
criar inter-relações, que podem ou não afetar um ao outro. Dentro desse contexto, os tipos
de investimentos se classificam como (I) economicamente independentes, quando a decisão
de prosseguir ou não com um projeto não influencia nem é influenciador da decisão de
outros projetos; (II) com restrição orçamentária, ou seja os projetos não podem ser simul-
taneamente implementados devido às limitações orçamentárias definidas pela empresa;
(III) economicamente dependentes, quando um investimento influencia, seja de maneira
positiva ou negativa, ou depende rigorosamente de outro projeto; (IV) mutuamente ex-
cludentes, a aceitação de um projeto exclui a aceitação do outro; e (V) investimentos com
dependência estatı́stica, quando os resultados dos investimentos dependem das variáveis
semelhantes.(ASSAF NETO, 2021).
Para Martins (2018, p. 10), investimentos são “Todos os sacrifı́cios havidos pela aqui-
sição de bens ou serviços (gastos) que são “estocados” nos Ativos da empresa para baixa
ou amortização quando de sua venda, de seu consumo, de seu desaparecimento ou de sua
desvalorização”.
Analisar um investimento requer conhecimento de seu risco e liquidez, que são carac-
Capı́tulo 2. Referencial teórico 21

terı́sticas centrais da rentabilidade, assim o sacrifı́cio de tempo, ou a sujeição a maiores


riscos, influencia diretamente no retorno sobre o ativo, que é considerado a principal
variável no mundo das finanças.(BRUNI, 2018). Porém Bodie, Kane e Marcus (2015)
complementam que não existe nenhuma teoria que comprove o real risco encontrado no
mercado, apenas valores estimados baseados em dados passados, o que torna a previsão
da rentabilidade ainda mais complicada.
Segundo Brigham e Ehrhardt (2016), o processo de decisão de investimento se inicia
com a estimativa dos futuros fluxos de caixa da empresa, e o cálculo das medidas de
avaliação, que incluem medidas como o valor presente lı́quido, taxa interna de retorno e
perı́odo de retorno do investimento.

2.2 Demonstrações contábeis

Os demonstrativos financeiros de uma empresa proporcionam a base de dados para a


análise da viabilidade financeira de um investimento, dentre os contábeis, os principais são
o Balanço Patrimonial e o Demonstrativo de Resultado do Exercı́cio (DRE), a interpre-
tação correta de ambos permite aos gestores uma visão macro da realidade da empresa, e
consequentemente informações sobre a viabilidade de um projeto.(CAMLOFFSKI, 2014).
A análise de demonstrativos financeiros fornece informações para agentes internos e
externos da empresa. Para administradores internos, o processo é facilitado pelo com-
pleto acesso aos dados, assim os demonstrativos proporcionam a consequência de suas
decisões financeiras no tempo, bem como uma visão geral da situação atual da empresa.
Para agentes externos existe uma limitação de dados, assim o processo de assimilação de
resultados se torna mais complexo.(ASSAF NETO, 2021).

2.2.1 Demonstrativo de resultado do exercício

O demonstrativo ou demonstração do resultado do exercı́cio é um quadro geral do


desempenho da empresa entre dois perı́odos de tempo definidos.(ROSS et al., 2015). O
DRE é segmentado em diferentes sessões e se inicia com a entrada da receita bruta de
vendas, a partir desse montante se subtrai diferentes valores como os custos, depreciação,
despesas e tributos até chegar no lucro final. Ao longo do quadro de desempenho pode
se levantar resultados parciais como resultado bruto, lucro antes de juros e imposto de
renda (LAJIR), lucro antes do imposto de renda (LAIR), além do lucro lı́quido. (BRUNI,
2018).
Capı́tulo 2. Referencial teórico 22

Quadro 1 – Demonstração de Resultado do Exercı́cio ajustado


(+) Receita bruta de vendas
(-) Deduções
(=) Receita lı́quida de vendas
(-) Custo das vendas
(=) Resultado bruto
(-) Despesas operacionais próprias
(=) Resultado próprio ou Lucro Antes dos Juros e IR, LAJIR
(-) Despesas financeiras ou juros
(=) Resultado ou Lucro Antes do IR, LAIR
(-) Imposto de renda e contribuição social
(=) Resultado lı́quido ou Lucro lı́quido, LL
Fonte: adaptado de Bruni (2018)

2.3 Custos

Os custos se dividem em custos fixos, que não se alteram conforme a produção da


empresa, e custos variáveis, que variam com a produção. Quando o demonstrativo de
resultado de uma empresa é analisado a longo prazo, todos os custos se tornam variáveis,
dessa maneira eles deixam de ser classificados como fixos e variáveis e passam a ser clas-
sificados como custos por perı́odo, que são os custos não relacionados à produção e sim
ao intervalo de tempo, e custos por produto. (ROSS et al., 2015).
Brigham e Ehrhardt (2016, p. 50) incorporam aos custos por produto custos como“mão
de obra, matéria-prima, e outros gastos diretamente relacionados à produção ou compra
dos itens ou serviços vendidos naquele perı́odo”. Dessa maneira, todas as despesas da
empresa como gastos de venda, funcionários administrativos, verbas de representação e
prolabore serão classificados como custos por perı́odo.

2.3.1 Depreciação

Dentro dos custos por produto encontramos a depreciação dos equipamentos que se
trata de um valor que não causa variações no caixa, mas sim no fluxo de caixa. Por
possuir essa caracterı́stica é importante delimitar qual depreciação é mais adequada para
cada tipo de regime tributário, no caso do lucro real, onde os impostos representam uma
porcentagem do lucro da empresa é de interesse da organização utilizar a depreciação
fiscal, onde as taxas de depreciação são estabelecidas pela Receita Federal. No caso das
empresas que optam pelo regime tributário simples nacional e lucro presumido, onde os
impostos são calculados a partir do faturamento da empresa, utilizar a depreciação fiscal
pode ocasionar em grandes variações no fluxo de caixa da empresa, nesse caso algumas
optam pela depreciação societária, que permite estender ou encurtar a vida útil de um
ativo. (ROSS et al., 2015).
Capı́tulo 2. Referencial teórico 23

2.4 Investimentos em bens de capital - CAPEX

Existem determinadas empresas que utilizam as disponibilidade de caixa para reinves-


tir na própria empresa, esse investimento é conhecido como CAPEX, do inglês “Capital
Expenditures” e engloba os gastos destinados ao aumento, melhoria e manutenção dos pro-
cessos da empresa, como a compra de maquinários, equipamentos e até capital de giro,
sendo o último denominado OPEX .(ASSAF NETO, 2020).

2.5 Fluxo de caixa operacional livre

Ainda segundo Assaf Neto (2020), é possı́vel encontrar o Fluxo de Caixa Operacional
Livre (FCOL) da empresa, que representa a quantia real disponı́vel para fluxo de caixa no
perı́odo, subtraindo os investimentos CAPEX e OPEX do resultado operacional lı́quido.

Quadro 2 – Estrutura do Fluxo de Caixa Operacional Livre


Lucro Operacional antes do IR
(-) IR
(=) Lucro Operacional Lı́quido do IR
(+) Depreciação
(=) Fluxo de Caixa Operacional
(-) Investimentos Fixos (CAPEX)
(-) Investimentos em Giro
(=) Fluxo de Caixa Operacional Livre
Fonte: adaptado de Assaf Neto (2020)

2.6 Métodos para análise de investimentos

2.6.1 Valor Presente Líquido - VPL

Conforme Bruni (2018), o valor presente lı́quido (VPL) é utilizado no cálculo do valor
do capital no tempo, consiste em trazer para a data presente todas as entradas e saı́das da
empresa, num determinado perı́odo de tempo, acrescidas de uma taxa. A taxa utilizada
é a taxa mı́nima de atratividade. As principais vantagens do VPL são:

• Possibilidade de analisar os resultados de um investimento no valor da empresa.

• Análise completa dos fluxos de caixa relacionados ao projeto.

• Consideração dos riscos e custo do capital.

Para Camloffski (2014), o VPL é a descapitalização dos valores do fluxo de caixa


subtraı́dos pelo investimento inicial do projeto. Por se tratar de um método completo,
o VPL é frequentemente utilizado para tomadas de decisão, no caso de impasses entre
outros métodos de análise de resultados.
Capı́tulo 2. Referencial teórico 24

Segundo Assaf Neto (2021), o VPL é obtido quando se traz todos os valores dos bene-
fı́cios lı́quidos de caixa do perı́odo para a data presente e os subtrai pelo desembolso de
caixa presente. O VPL não calcula a rentabilidade efetiva do projeto, mas sim demonstra
a riqueza da empresa atualizada. Nos casos em que a riqueza lı́quida é positiva, o projeto
deve ser aceito, pois trouxe benefı́cios para a empresa. Para calcular o Valor Presente
utiliza-se a equação (2.1):
n
X CFj
PV = j (2.1)
j=1 (1 + i)

Onde:
PV = Valor Presente;
CF = Valor (fluxo de caixa) a ser recebido ou pago no perı́odo j;
i = Taxa de juros.

2.6.2 Taxa mínima de atratividade - TMA

Segundo Cassaroto Filho e Kopittke (2020), a taxa mı́nima de atratividade é o valor


mı́nimo para que um investidor considere seguir em frente com um projeto, ela representa
uma taxa com baixo risco e alta liquidez. Sendo amplamente utilizada como taxa de
desconto no cálculo do valor presente e como base de comparação para a taxa interna de
retorno (TIR) da empresa.
Para Assaf Neto (2021, p. 479), a TMA representa “o custo de oportunidade das várias
fontes de capital (próprias e de terceiros), ponderado pela participação relativa de cada
uma delas na estrutura de financiamento”. Assim ela deve satisfazer todos os indivı́duos
responsáveis pelo investimento.
Conforme Bruni (2018), para construir uma TMA deve-se levar em conta, além do valor
esperado pelos financiadores, aspectos como: os incrementos, que englobam os custos de
novos financiamentos para análise; livre de impostos, que diz respeito aos benefı́cios fiscais
possivelmente obtidos através de novas despesas; e os custos de oportunidade, que refletem
os riscos do investimento e o descarte das demais alternativas de investimentos.

2.6.3 Taxa interna de retorno - TIR

A taxa interna de retorno é considerada “A taxa de juros que torna o VPL do investi-
mento igual a zero. [...] a TIR é, grosso modo, a rentabilidade projetada do investimento,
ou seja, quanto está se estimando ganhar (%) de acordo com o orçamento de caixa de-
finido.” (CAMLOFFSKI, 2014, p. 79). Pode se encontrar a TIR por meio da equação
(2.2).
n
X F Ct
I0 = t (2.2)
t=1 (1 + K)
Capı́tulo 2. Referencial teórico 25

Onde:
I0 = montante do investimento no momento zero;
FC = fluxos previstos de entradas de caixa em cada perı́odo de vida do projeto.
K = taxa de rentabilidade equivalente periódica (IRR);

2.6.4 Payback

O payback é um método que não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo,


seu cálculo é feito por meio da divisão do valor do investimento, pelo somatório dos
benefı́cios do fluxo de caixa, obtidos por meio do investimento. Assim se obtém o tempo
necessário, para que o investimento seja recuperado. Apesar de não considerar a variação
do dinheiro no tempo, esse método é amplamente utilizado. A grande dificuldade reside
na determinação do limite-padrão para o tempo de retorno, dado que esse tempo pode
variar de acordo com os objetivos da empresa, riscos que estão dispostos a correr dentre
outras variáveis.(ASSAF NETO, 2021).
Segundo Cassaroto Filho e Kopittke (2020) o tempo de recuperação de capital inves-
tido, conhecido como payback, é o principal método não exato utilizado por analistas,
ele indica a quantidade de tempo necessário para que o investimento inicial se pague. O
grande problema do payback é a falta da taxa de desconto, assim se faz necessário o uso
do payback descontado, que acrescenta uma TMA no cálculo do investimento.
No geral existem dois tipos de payback, o efetivo e o médio. No payback médio, o
investimento inicial é dividido pela média dos fluxos de caixa do perı́odo, enquanto no
efetivo os perı́odos dos respectivos fluxos de caixa são considerados. Dessa maneira, para
que o payback seja o mais assertivo possı́vel, é recomendado a utilização da metodologia
efetiva.(ASSAF NETO, 2021).
Conforme Brigham e Ehrhardt (2016), para encontrarmos o perı́odo de retorno do
investimento alocados o custo do projeto na equação com um sinal negativo, e se adiciona
as entradas anuais de caixa até o valor se tornar positivo. Destaca-se o ano anterior
a positivação do fluxo, e o soma com o resultado da divisão do montante restante para
positivação do fluxo de caixa no ano, pelo fluxo de caixa do ano seguinte. Pode-se calcular
o tempo de payback efetivo, por meio da equação (2.3).

C
 
Retorno = N + (2.3)
F
Onde:
N = Número de anos antes da recuperação
C = Custo não recuperado no inı́cio do ano
F = Fluxo de caixa durante o ano de recuperação completa

Para Brigham e Ehrhardt (2016) as principais falhas do retorno regular são a seme-
lhança de peso atribuı́da a fluxos de anos diferentes e a desconsideração de fluxos de caixa
Capı́tulo 2. Referencial teórico 26

nos anos subsequentes ao retorno do investimento. Para contornar uma dessas falhas, se
faz o uso do método do retorno descontado. O método do payback descontado, acresce aos
fluxos de caixa uma taxa de desconto, assim o valor do dinheiro no tempo é considerado.

2.7 Cachaça

2.7.1 Legislação

A Lei Nº 8.918, de 14 de Julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação,


o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas, estabelece em seu art. 2º
que:

“O registro, a padronização, a classificação e, ainda, a inspeção e a fis-


calização da produção e do comércio de bebidas, em relação aos seus
aspectos tecnológicos, competem ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento, ou órgão estadual competente credenciado por esse
Ministério, na forma do regulamento.” (BRASIL, 1994).

Assim fica sobre a responsabilidade do MAPA, segundo a A Instrução Normativa n. 13,


de 29 de junho de 2005, o Regulamento Técnico para Fixação dos Padrões de Identidade
e Qualidade para Aguardente de Cana e para Cachaça. Que define, além de outras, as
seguintes classificações: (BRASIL, 2005).
Cachaça Premium, como a bebida que contém 100% de cachaça envelhecida em
recipiente apropriado de madeira por pelo menos um ano.
Cachaça Extra Premium, como a bebida que contém 100% de cachaça envelhecida
em recipiente apropriado de madeira por pelo menos três anos.
Cachaça Prata, Clássica ou Tradicional, como os produtos armazenados em recipientes
permitidos que não agregam cor à bebida.
As únicas duas diferenças legais entre Cachaça e Aguardente de Cana são: o máximo
de concentração alcoólica permitido, que vai até 48% do volume para a cachaça e 54% do
volume para aguardente; e o lı́quido de origem do destilado, que permite a utilização do
destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou destilação do mosto fermentado do caldo
de cana-de-açúcar, para fabricação de aguardente de cana, e apenas a destilação do mosto
fermentado para a cachaça.(ALCARDE, 2017).
Alcarde (2017, p. 12) ainda afirma que “...são raras as aguardentes com concentração
alcoólica superior a 48% vol. Portanto, a principal diferença entre ambas é o lı́quido de
origem.”.

2.7.2 Qualidade e controle na produção

A produção de uma cachaça de qualidade exige uma gama enorme de cuidados e


controles especı́ficos nas etapas de produção, todos com o intuito final de fabricar um
Capı́tulo 2. Referencial teórico 27

produto que seja reconhecido e aprovado sensorialmente pelo consumidor.(MAIA; CAM-


PLEO, 2005).
A qualidade da cachaça é influenciada diretamente pela cultura da cana de açúcar,
que sofre influência do solo, clima, relevo, altitude e ı́ndice pluviométrico. Dada a va-
riação desses fatores no território brasileiro, existe uma grande diversidade de produtos
existentes. Quando combinamos essas variedades com as caracterı́sticas provindas do ar-
mazenamento da cachaça em diferentes tipos de madeiras, o universo sensorial da cachaça
é praticamente infinito. (GERK; MüLLER; MARCUSSO, 2019).
Nesse contexto, Santos e Borém (2016, p. 279) afirmam que “Os principais fatores
responsáveis pela qualidade da cana de açúcar entregue à indústria são o cultivar, o
estádio de maturação, as impurezas minerais e vegetais, a ação dos microorganismos, a
sanidade do canavial e o corte, colheita e carregamento.”
Os cuidados tomados na colheita são grandes influenciadores da qualidade da cachaça.
Pelo fato da deterioração da cana-de-açúcar ser de natureza enzimática, quı́mica e mi-
crobiológica o processo de moagem deve ocorrer no máximo 24 horas após o corte, o
que proporciona um melhor rendimento na produção e diminuição de interferências na
qualidade sensorial. (ZANELLA et al., 2016)
A madeira utilizada para envelhecimento da cachaça, imprime diferentes peculiarida-
des à bebida, como cor, aroma, sabor e adstringência, o que afeta diretamente a qualidade
do lı́quido, dessa maneira se faz necessário a seleção de barris e tonéis de madeira ade-
quados. (MAIA; CAMPLEO, 2005).
Nesse cenário Barboza et al. (2010, p. 54) afirma que “o processo de envelhecimento
pode melhorar a qualidade sensorial do produto tornando possı́vel, maiores lucros aos
produtores, devido ao aumento do valor da bebida.”
Investimentos na qualidade da cachaça estão sendo cada vez mais justificados, isso
porque o perfil dos consumidores deixou de ver o produto como uma bebida desvalorizada
e de baixa qualidade, e passou a considerá-la um destilado nobre. Ao mesmo tempo, inves-
timentos em qualidade vem se tornando uma estratégia para amenizar os altos impostos
do setor. (STECH; PANDOLFI, 2019)
28

3 Metodologia

Segundo Venazi et al. (2016) a presente monografia se classifica, quanto à natureza,


como aplicada por tratar de problemas reais, que poderão ser aplicados. Por se tratar
de uma análise de viabilidade, sua abordagem é quantitativa, pois envolve informações
transcritas em números, que serão utilizados nas fórmulas financeiras para conclusão da
pesquisa. Em relação aos objetivos, é classificada como pesquisa explicativa, pois justifica
a rentabilidade e viabilidade no empreendimento. Os procedimentos técnicos seguem a
linha de um estudo de campo, pois levantam as caracterı́sticas especı́ficas da fazenda Alto
do Brilhante a fim de explicar os fatores que contribuem ou dificultam a legalização e
futura lucratividade da empresa.
Para Vergara (2016) as pesquisas podem ser classificadas quanto aos fins e quanto
aos meios. O presente trabalho se classifica quanto aos fins como pesquisa explicativa,
por buscar justificar os motivos da viabilidade do projeto, assim como apresentar quais
fatores contribuem para tal ocorrência. Quanto aos meios é classificado como estudo de
caso, que consiste em uma análise limitada de unidade ou unidades, no caso deste trabalho
do alambique Alto do Brilhante, com o objetivo de detalhamento e profundidade, no qual
pode se utilizar diferentes métodos de coleta de dados.

3.1 Coleta de dados

Para realização da análise de viabilidade do empreendimento, foram utilizadas diferen-


tes fontes. O levantamento dos equipamentos necessários para legalização do alambique
foram obtidos através da aplicação de um checklist na própria indústria, que continha
todos os equipamentos mı́nimos exigidos pelo MAPA. As carências nas instalações da
indústrias foram levantadas com a ajuda de um profissional, que também levou em con-
sideração os parâmetros e exigências do MAPA.
A etapa de investimentos iniciais foi dividida em quatro partes. Os investimentos
referentes aos equipamentos inexistentes foram obtidos através do orçamento em diferentes
fábricas de alambique. Os custos de mão de obra relacionados à reforma da indústria foram
calculados por um empreiteiro local. O custo de material, necessário para realização da
obra, foi obtido de lojas de material de construção locais. Por fim, os investimentos de
equipamentos de escritório foram obtidos em diferentes sites na internet. As mesmas
fontes foram utilizadas no levantamento dos investimentos futuros.
A construção dos custos foi baseada nas divisões propostas por Ross et al. (2015).Os
custos por produto foram divididos em custos de matéria prima, embalagens, mão de
obra e custos gerais de fabricação. Os custos por perı́odo foram todos agrupados como
despesas gerais. Os custos de matéria prima foram levantados utilizando informações de
Capı́tulo 3. Metodologia 29

artigos cientı́ficos sobre a produtividade por hectare de plantações de cana de açúcar, um


técnico agrônomo auxiliou no levantamento de insumos especı́ficos para plantação nos
terrenos da fazenda e os insumos foram orçados em lojas agrı́colas locais. Os custos de
embalagem foram calculados por meio de uma média entre os preços orçados em diferentes
lojas online. Os custos de mão de obra seguem as exigências da legislação em vigor. Nas
despesas gerais, diferentes fontes foram utilizados incluindo orçamentos em lojas online e
locais, legislações em vigor e entrevistas com o proprietário.
Os dados coletados foram alocados em tabelas para facilitar a visualização e o enten-
dimento da análise de viabilidade, posteriormente todos os custos e resultados financeiros
foram devidamente alocados no fluxo de caixa operacional livre, seguindo os conceitos
de Assaf Neto (2020). Por fim, os resultados obtidos foram cruzados e utilizados nos
indicadores de viabilidade, seguindo diferentes fontes bibliográficas.
30

4 Apresentação e discussão dos resultados

4.1 Produção anual

A análise de viabilidade econômica foi baseada na premissa que a fazenda iniciará sua
produção com 200 litros de cachaça por dia, funcionando 5 dias por semana, durante 5
meses, totalizando uma produção de 20.000 litros de cachaça anuais. O estudo conta com
um plano de expansão ao longo de 5 anos, onde investimentos incrementais serão realizados
com o objetivo de aumentar a capacidade de produção do alambique, na perspectiva de
gerar maiores lucros. Durante os dois primeiros anos a produção se manterá em 20.000
litros, tendo um aumento de 5.000 litros no terceiro ano, e 10.000 litros no quarto ano.
A produção inicial será dividida em 65% de cachaça prata e 35% de cachaça premium,
sendo 3.600 litros em madeira de carvalho, 1.400 litros em madeira de castanheira e
2.000 litros em madeira de jequitibá. A cachaça será vendida em embalagens de 700ml,
resultando na produção anual de 18.571 garrafas de cachaça prata, e a partir do segundo
ano um adicional de 10.000 garrafas de cachaça premium. O valor inicial da venda será de
R$15,00 pela cachaça prata e R$30,00 pela cachaça premium. A partir do terceiro ano a
indústria inicia sua produção de cachaça extra premium, que será vendida posteriormente
por R$60,00.
A produção inicial foi determinada levando em consideração a capacidade instalada
do destilador, a estrutura atual do alambique, uma pesquisa feita com outros produtores
de cachaça na região que auxiliou no levantamento da oferta e demanda de cachaça no
mercado regional e o ponto de equilı́brio do alambique. A escolha da divisão de produção
entre cachaça prata e envelhecida está relacionada com a capacidade de armazenamento
já existente na fazenda, que possui tonéis de inox com capacidade somada de 13.000 litros
de cachaça, onde será armazenada a cachaça prata, o que contribuirá para a geração de
capital de giro e reserva de capital, possibilitando a fabricação de cachaça nos seguintes
anos e a manutenção do alambique e dos produtos que serão envelhecidos. As quantidades
de cada tipo de cachaça produzida nos respectivos anos podem ser observadas na Tabela
1.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 31

Tabela 1 – Produção anual ao longo dos anos


Ano Classificação Quantidade (l)
Cachaça Prata 13000
1e2 Cachaça Premium (Carvalho) 3600
Cachaça Premium (Castanheira) 1400
Cachaça Premium (Jequitibá) 2000
Total anual 20000
Cachaça Prata 13000
Cachaça Premium (Carvalho) 3600
Cachaça Premium (Castanheira) 1400
3 Cachaça Premium (Jequitibá) 2000
Cachaça Extra Premium (Carvalho) 3000
Cachaça Extra Premium (Castanheira) 1000
Cachaça Extra Premium (Jequitibá) 1000
Total anual 25000
Cachaça Prata 17000
Cachaça Premium (Carvalho) 6600
Cachaça Premium (Castanheira) 2900
4, 5 e 6 Cachaça Premium (Jequitibá) 3500
Cachaça Extra Premium (Carvalho) 3000
Cachaça Extra Premium (Castanheira) 1000
Cachaça Extra Premium (Jequitibá) 1000
Total anual 35000
Fonte: O autor, 2022.

A capacidade de produção máxima do alambique, nos três primeiros anos, é de 25.000


litros por ano, porém nos dois primeiros anos o alambique não tem capacidade instalada
para armazenar a produção máxima. O aumento da produção nos anos três e quatro, é
possı́vel devido a investimentos realizados no perı́odo, que serão abordados a seguir.

4.2 Investimentos

4.2.1 Investimentos estruturais

Apesar do alambique ter capacidade instalada para a produção, serão necessários


investimentos para que o produto cumpra com todas as exigências do MAPA. Inicialmente
investimentos relacionados à estrutura e instalações, depois a compra dos equipamentos
restantes. O MAPA exige que cada seção da produção tenha algumas caracterı́sticas
especı́ficas, que serão listadas abaixo. (MACCARI, 2013)
Moagem:

• Deve ser coberta

• Piso resistente e impermeável


Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 32

• Com espaço suficiente para atender o volume de produção

• Sem acesso a entrada de insetos, roedores etc

Fermentação:

• Deve ser coberta

• Paredes de alvenaria, com revestimento liso e lavável

• Espaço suficiente para as dornas de fermentação, e com espaço entre elas para a
realização das operações

• Ter ventilação e iluminação adequadas

• Piso impermeável, com inclinação suficiente ao escoamento das águas

• Sem acesso a entrada de insetos, roedores etc.

Destilação:

• Deve ser coberta

• Paredes de alvenaria, com revestimento liso

• Piso impermeável, com inclinação suficiente ao escoamento das águas

• Área compatı́vel ao abrigo dos equipamentos de destilação, com espaço suficiente


para realização das operações

• Sem acesso a entrada de insetos, roedores etc

• Ter ventilação e iluminação adequadas

Armazenamento e Envelhecimento:

• Deve ser coberta

• Piso impermeável, com inclinação suficiente ao escoamento das águas

• Paredes de alvenaria, não obrigatoriamente revestidas

• Área e altura compatı́veis com a necessidade (abrigo dos tonéis) e a realização das
operações

• Sem acesso a entrada de insetos, roedores

Lavagem/Enxágue de Vasilhame:

• Área compatı́vel ao abrigo dos equipamentos, com espaço suficiente para realização
das operações
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 33

• Paredes de alvenaria com revestimento de azulejo de cor clara ou tinta lavável até
uma altura mı́nima de 2 metros (é possı́vel outro revestimento desde que seja de
material liso, impermeável, lavável e inócuo)

• Teto constituı́do de material impermeável, liso e inócuo, de cor clara

• Piso impermeável com inclinação suficiente ao escoamento das águas (não serve
ardósia ou material similar)

• Ter ventilação e iluminação adequadas

• Sem acesso a entrada de insetos, roedores etc.

Foi feito um inventário de toda estrutura e instalações existentes, e a partir desse


inventário, somado às exigências necessárias para legalização do alambique, um projeto
de arquitetura para atender as necessidades por ambiente, tais como tipos de revestimentos
de pisos e paredes, iluminação, ventilação e fechamentos. Após a conclusão da obra, a
indústria apresentará as dimensões representadas na Figura 2.

Figura 2 – Planta baixa do alambique

Fonte: Pesquisa direta, 2021.


Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 34

4.2.2 Investimentos operacionais

Foram realizados orçamentos em diferentes fábricas de alambiques, para que as especi-


ficações de equipamentos mı́nimos necessários fossem atendidas. A escolha foi baseada no
preço, qualidade e satisfação da demanda de produção. A Tabela 2 apresenta o montante
dos investimentos iniciais, compostos pela soma dos equipamentos destinados à produção,
orçamento da obra e da compra dos materiais de escritório.

Tabela 2 – Investimentos iniciais


Item Quantidade Descrição Valor Total
Operacionais
1 1 Engenho Benatti 06 x 08 R$ 52.200,00
2 1 Enchedeira INOX c/ 4 bicos R$ 5.870,00
3 5 Barril de carvalho (200 litros) R$ 2.500,00
4 1 Enxaguador de garrafas INOX c/ 2 bicos R$ 1.200,00
5 1 Tanque de padronização (1000 litros) R$ 5.350,00
6 1 Filtro para remoção de cobre R$ 630,00
7 1 Filtro para a remoção de impurezas R$ 169,00
8 1 Burocracia R$ 8.000,00
9 1 Outros R$ 5.000,00
Reforma estrutural
10 1 Mão de obra R$ 43.780,00
11 1 Material R$ 21.607,98
Administrativos
12 1 Mesa de escritório R$ 350,00
13 2 Cadeira executiva R$ 300,00
14 1 Cadeira executiva alta R$ 355,00
15 1 Poltrona R$ 370,00
16 1 Estante R$ 299,00
17 1 Ventilador R$ 130,00
18 1 Computador (completo) R$ 1.546,00
Total R$ 149.656,98
Fonte: O autor, 2022.

4.2.3 Equipamentos existentes

O alambique conta com vários equipamentos, que eram utilizados antigamente na


produção, e que ainda estão em perfeitas condições de uso. Tais equipamentos e suas
respectivas quantidades estão listados na Tabela 3.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 35

Tabela 3 – Equipamentos existentes


Item Quantidade Descrição
1 1 Decantador
2 2 Dorna de fermentação
3 1 Pré-aquecedor
4 1 Resfriador
5 1 Destilador
6 1 Tonel de armazenamento INOX (3000 litros)
7 1 Tonel de jequitibá (2000 litros)
8 2 Tonel de castanheira (1000 litros)
9 1 Provetas
10 1 Tanque de ajuste de brix
11 1 Tanque de armazenamento INOX(10000 litros)
12 13 Barril de carvalho (200 litros)
13 5 Bomba de água INOX
15 1 Bomba de água
16 1 Trator Valtra A-850
Fonte: O autor, 2022.

4.2.4 Investimentos CAPEX

Contando com o plano de expansão do alambique, investimentos incrementais serão


realizados ao longo dos anos, como a compra de barris para armazenamento e maquinários
para multiplicar a produção inicial.
Para que o plano de expansão se concretize, foram adicionados novos investimentos no
projeto ao longo dos anos. A produção irá saltar de 20.000 litros por ano para 35.000 litros,
dessa maneira será necessário a compra de novos equipamentos para atender a produção
diária, como dornas, destilador, tanques de armazenamento e barris de madeira. Os
investimentos anuais podem ser observados nas Tabela 4.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 36

Tabela 4 – Investimentos aos longo dos anos


Ano Item Quantidade Descrição Valor Total
2 1 1 Fiat Strada R$ 82.100,00
1 15 Barril de carvalho (200 litros) R$ 8.250,00
2 5 Barril de castanheira (200 litros) R$ 7.500,00
3 3 5 Barril de jequitibá (200 litros) R$ 7.250,00
4 2 Dorna de fermentação R$ 11.602,00
5 1 Destilador de etanol R$ 25.390,00
Total anual R$ 59.992,00
1 30 Barril de carvalho (200 litros) R$ 16.500,00
2 12 Barril de castanheira (200 litros) R$ 18.000,00
3 12 Barril de jequitibá (200 litros) R$ 17.400,00
4 1 Tanque INOX (500 litros) R$ 13.000,00
4 5 1 Destilador R$ 26.065,00
6 1 Pré-aquecedor R$ 5.736,00
7 1 Resfriador R$ 5.736,00
8 2 Dorna de fermentação R$ 11.602,00
9 1 Galpão (completo) R$ 7.250,00
Total anual R$ 121.289,00
1 15 Barril de carvalho (200 litros) R$ 8.250,00
5 2 5 Barril de castanheira (200 litros) R$ 7.500,00
3 5 Barril de jequitibá (200 litros) R$ 7.250,00
Total anual R$ 23.000,00
Fonte: O autor, 2022.

4.2.5 Investimentos em giro

Parte dos custos anuais da empresa serão alocados no futuro fluxo de caixa da empresa
como investimentos de giro. Essa transferência é justificada pela produção de cachaça
destinada a envelhecimento, a qual não trará resultado para a empresa em seu ano de
fabricação. A porcentagem deslocada para investimento em giro é o resultado da divisão
da quantidade de cachaça destinada ao envelhecimento pela produção anual total. Todos
os custos por perı́odo e por produto estão incluı́dos, exceto os custos de embalagem, que
são influenciados apenas pelas vendas de garrafas no ano.

4.3 Custos por produto

Os custos por produto foram separados em grandes grupos, são eles: custos de matéria
prima, custos de embalagens, custos de mão de obra e custos gerais de fabricação.

4.3.1 Custos de matéria-prima

Primeiramente foi realizado o custo de plantação de cana-de-açúcar por hectare. Os in-


sumos foram obtidos através de engenheiros agrônomos que trabalham com plantações na
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 37

região, a partir desses dados, os custos referentes a cada item e atividade foram levantados
em lojas agropecuárias da região, nele são incluı́dos custos como maquinário, corretivos
do solo, mão de obras, fertilizantes, pesticidas dentre outros. O custo de mudas de cana
não foi contabilizado, visto que a fazenda ainda possui plantações de cana-de-açúcar, de
onde as mudas serão recolhidas para plantação no primeiro ano. Assim foi obtido o custo
total por hectare, representado na Tabela 5.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados
Tabela 5 – Custos dos insumos de plantação e manutenção por hectare
Item/Atividade Unidade de medida Valor unitário Quant. por ha Valor por ha
Herbicida seletivo Volcane Litros R$ 53,40 5 R$ 267,00
Herbicida seletivo DMA Litros R$ 56,50 5 R$ 282,50
Espalhante adesivo Litros R$ 62,00 1 R$ 62,00
Furmicida isca Quilogramas R$ 23,00 3 R$ 69,00
Calcário dolomı́tico Quilogramas R$ 0,52 2.250 R$ 1.170,00
Superfosfato simples Quilogramas R$ 3,66 150 R$ 549,00
Cloreto de uréia Quilogramas R$ 6,74 275 R$ 1.853,50
Úreia Quilogramas R$ 6,50 225 R$ 1.462,50
Arar Horas de trator R$ 120,00 8 R$ 960,00
Gradear Horas de trator R$ 120,00 4 R$ 480,00
Sulcar Horas de trator R$ 120,00 4 R$ 480,00
Aplicar quı́micos Dias de trabalho R$ 70,00 2 R$ 140,00
Plantar Dias de trabalho R$ 70,00 10 R$ 700,00
Total R$ 8.475,50
Fonte: O autor, 2022.

38
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 39

Uma tonelada de cana-de-açúcar produz em média 230 litros de cachaça, no geral é


possı́vel colher 70 toneladas de cana por hectare de terra plantada, levando em conside-
ração a produção anual pode-se obter a quantidade de hectares necessários. Na Tabela 6
pode-se visualizar o custo de matéria-prima ao longo dos seis anos.

Tabela 6 – Custo total de matéria-prima ao longo dos anos


Ano Previsão de produção (l) Hectares necessários Custo total
1 20.000 1,24 R$ 10.509,62
2 20.000 1,24 R$ 10.509,62
3 25.000 1,55 R$ 13.137,03
4 35.000 2,17 R$ 18.391,84
5 35.000 2,17 R$ 18.391,84
6 35.000 2,17 R$ 18.391,84
Fonte: O autor, 2022.

4.3.2 Custos de embalagem

Os custos de embalagens são compostos pela garrafa de vidro de 700 ml, a tampa rosca
da garrafa, o rótulo frontal e traseiro e o lacre de proteção da tampa. Os valores foram
obtidos por meio do orçamento em diferentes lojas online, incluindo o frete dos produtos.
Os custos unitários dos itens citados podem ser observados na Tabela 7.

Tabela 7 – Custo unitário e total por produto


Item Valor unitário
Garrafa de vidro (700 ml) R$ 4,00
Tampa rosca (31 mm) R$ 0,45
Rótulo R$ 0,15
Capsula lacre R$ 0,10
Total por produto R$ 4,70
Fonte: O autor, 2022.

Levando em conta a previsão de vendas anual, se obteve o número total de garrafas a


serem confeccionadas, as garrafas destinadas a cachaça envelhecida apenas se diferenciam
das garrafas de cachaça prata em seus rótulos, assim os custos dos insumos são os mesmos.
O somatório dos custos dos insumos de embalagem anuais estão representados na Tabela
8.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 40

Tabela 8 – Custo total de embalagem ao longo dos anos


Ano Previsão de vendas (l) Quantidade de garrafas Custo total
1 13.000 18.571 R$ 87.285,71
2 20.000 28.571 R$ 134.285,71
3 20.000 28.571 R$ 134.285,71
4 24.000 34.286 R$ 161.142,86
5 30.000 42.857 R$ 201.428,57
6 35.000 50.000 R$ 235.000,00
Fonte: O autor, 2022.

4.3.3 Custos de mão de obra

A indústria irá contar com um número diferente de funcionários ao longo do ano, dado
a demanda de mão de obra nos perı́odos de colheita e produção. Os funcionários que
trabalham durante cinco meses no ano foram divididos entre:

• Fabricação: Responsável por todas as atividades de produção da cachaça dentro do


alambique, assim como envase e preparação do produto para venda.

• Corte: Responsável pelo corte da cana-de-açúcar no canavial.

• Transporte: Responsável pelo transporte da cana-de-açúcar do canavial para o alam-


bique.

Os funcionários intitulados “Geral”, cumprem as mesmas funções dos funcionários de fa-


bricação, porém trabalham durante os doze meses no ano. Fora os mencionados, o MAPA
ainda exige a supervisão de um responsável técnico (RT) com competência profissional
para a função. Ao longo dos seis anos o número de funcionários também aumenta. A
Tabela 9 mostra os encargos em função do salário do trabalhador. Os custos de mão
de obra detalhados do ano um, e os custos anuais de mão de obra podem ser vistos nas
Tabelas 10 e 11, respectivamente.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 41

Tabela 9 – Encargos sociais


Item Valor
Salário R$ 1.100,00
INSS R$ 220,00
FGTS R$ 88,00
Multa do FGTS R$ 35,20
Vale transporte R$ 50,00
Total mensal R$ 1.493,20
13º R$ 1.493,20
Férias R$ 1.985,96
Total anual R$ 21.397,56
Fonte: O autor, 2022.

Tabela 10 – Custos de mão de obra do ano 1


Alocação Geral Fabricação Corte Transporte RT
Salário mensal R$ 1.100,00 R$ 1.100,00 R$ 1.100,00 R$ 1.100,00 R$ 400,00
Encargos R$ 683,13 R$ 683,13 R$ 683,13 R$ 683,13 –
Meses trabalhados 12 5 5 5 12
Total anual R$ 21.397,56 R$ 8.915,65 R$ 8.915,65 R$ 8.915,65 R$ 4.800,00
Número de fun. 1 1 2 1 1
Total R$ 21.397,56 R$ 8.915,65 R$ 17.831,30 R$ 8.915,65 R$ 4.800,00
Fonte: O autor, 2022.

Tabela 11 – Custo total de mão de obra ao longo dos anos


Ano Custo total
1 R$ 61.860,15
2 R$ 61.860,15
3 R$ 70.775,80
4 R$ 79.691,45
5 R$ 79.691,45
6 R$ 92.173,35
Fonte: O autor, 2022.

4.3.4 Custos gerais de fabricação

A indústria ainda conta com alguns custos que não se enquadram nos outros grupos,
e que foram agrupados neste. Os custos de energia elétrica foram obtidos dos valores da
conta de luz da fazenda, de perı́odos onde o alambique ainda realizava as atividades de
produção, e análise de contas de luz de outros alambiques na região, visto que o alambique
comprará novas máquinas que afetarão o consumo de energia elétrica. Nos perı́odos de
produção, que englobam cinco meses no ano, os custos de energia serão mais elevados,
devido ao funcionamento de mais equipamentos, principalmente a moenda. Assim foi
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 42

contabilizado uma verba de R$1.250,00 para cobrir as contas de luz nos perı́odos de
produção, e R$300,00 para os demais meses do ano. Com o aumento da produção durante
os anos de análise, as contas de luz também irão aumentar proporcionalmente, como pode-
se observar na Tabela 12.

Tabela 12 – Custos totais gerais de fabricação ao longo dos anos


Ano Energia Depreciação Manutenção ITR Custo total
1 R$ 8.350,00 R$ 9.521,57 R$ 5.000,00 R$ 166,00 R$ 23.037.57
2 R$ 8.350,00 R$ 25.941,57 R$ 5.000,00 R$ 166,00 R$ 39.457,57
3 R$ 9.912,50 R$ 28.094,63 R$ 6.000,00 R$ 166,00 R$ 44.173,13
4 R$ 13.037,50 R$ 32.241,93 R$ 8.000,00 R$ 166,00 R$ 53.445,43
5 R$ 13.037,50 R$ 33.161,93 R$ 8.000,00 R$ 166,00 R$ 54.365,43
6 R$ 13.037,50 R$ 33.161,93 R$ 8.000,00 R$ 166,00 R$ 54.365,43
Fonte: O autor, 2022.

Os custos de depreciação de equipamentos foram obtidos dividindo os itens em quatro


grupos, itens feitos de material inox, barris para armazenamento da cachaça, veı́culos e
outros. Dentro do grupo de materiais inox está presente a maior parte do alambique,
incluindo as dornas, moenda, destilador dentre outros. No grupo dos barris, encontram-
se todos os barris de armazenamento da indústria, tanto os de carvalho, castanheira e
jequitibá. O grupo dos veı́culos é composto pelo trator, e pelo carro a partir do segundo
ano. Os itens contidos no último grupo são equipamentos como filtros e bombas de água.

Tabela 13 – Custos de depreciação ao longo dos anos


Ano Itens INOX Barris Veı́culos Outros Custo total
1 R$ 4.370,67 R$ 296,00 R$ 4.750,00 R$ 104,90 R$ 9.521,57
2 R$ 4.370,67 R$ 296,00 R$ 21.170,00 R$ 104,90 R$ 25.941,57
3 R$ 5.603,73 R$ 1.216,00 R$ 21.170,00 R$ 104,90 R$ 28.094,63
4 R$ 7.675,03 R$ 3.292,00 R$ 21.170,00 R$ 104,90 R$ 32.241,93
5 R$ 7.675,03 R$ 4.212,00 R$ 21.170,00 R$ 104,90 R$ 33.161,93
6 R$ 7.675,03 R$ 4.212,00 R$ 21.170,00 R$ 104,90 R$ 33.161,93
Fonte: O autor, 2022.

4.4 Custos por período

Todos os custos por perı́odo foram alocados no grupo das despesas gerais. Na ta-
bela das despesas, estão todos os gastos relacionados a vendas e gestão do negócio. Vale
destacar algumas informações, os EPIs estão relacionados a compra de equipamentos de
proteção individual, incluindo bota, óculos, touca, luva e camisa para os funcionários da
produção, a depreciação refere-se apenas aos materiais de escritório. Devido a localização
da fazenda, uma despesa de movimentação foi adicionada, para cobrir gastos de combustı́-
veis. A propriedade pertence à famı́lia do proprietário, assim, a partir do terceiro ano um
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 43

aluguel será destinado aos outros membros que possuem parte da fazenda. As despesas de
funcionário administrativo, vendedores e contador foram adicionadas ao longo dos anos
com base na necessidade de gestão, e quantidade de vendas. A verba de representação
está relacionada aos gastos dos vendedores em suas viagens destinadas à busca de novos
clientes, expansão de mercado e representatividade da marca em eventos, exposições e
congressos. Todas as despesas podem ser vistas na Tabela 14
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados
Tabela 14 – Custos por perı́odo ao longo dos anos
Item Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
Marketing R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ 7.000,00 R$ 8.000,00 R$ 10.000,00
EPI’s R$ 1.024,15 R$ 1.024,15 R$ 1.202,82 R$ 1.381,49 R$ 1.381,49 R$ 1.381,49
Depreciação R$ 558,33 R$ 558,33 R$ 558,33 R$ 558,33 R$ 558,33 R$ 558,33
Prolabore R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56
Contador R$ 6.600,00 R$ 6.600,00 R$ 6.600,00 R$ 6.600,00 R$ 6.600,00 R$ 6.600,00
Funcionário administrativo R$ 0,00 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56 R$ 21.397,56
Retirada R$ 0,00 R$ 60.000,00 R$ 60.000,00 R$ 0,00 R$ 60.000,00 R$ 60.000,00
Frete R$ 1.337,00 R$ 2.056,92 R$ 2.056,92 R$ 2.468,31 R$ 3.085,38 R$ 4.113,85
Alimentos R$ 600,00 R$ 600,00 R$ 700,00 R$ 800,00 R$ 800,00 R$ 800,00
Movimentação R$ 3.208,80 R$ 3.208,80 R$ 3.208,80 R$ 3.208,80 R$ 3.208,80 R$ 3.208,80
Aluguel R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 48.000,00 R$ 48.000,00 R$ 48.000,00 R$ 48.000,00
Custos de vendas R$ 0,00 R$ 32.089,04 R$ 32.089,04 R$ 55.029,45 R$ 59.609,68 R$ 67.221,11
Internet R$ 780,00 R$ 780,00 R$ 780,00 R$ 780,00 R$ 780,00 R$ 780,00
Verba de representação R$ 0,00 R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ 12.000,00 R$ 12.000,00 R$ 12.000,00
Total R$ 41.505,84 R$ 161.712,36 R$ 209.991,03 R$ 180.621,50 R$ 246.818,80 R$ 257.458,69
Fonte: O autor, 2022.

44
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 45

4.5 Tributação

A indústria optou pelo regime tributário Simples Nacional. O CNAE 1111-9/01 que
se refere à fabricação de aguardente de cana de açúcar, está enquadrado no anexo 2 -
indústria, e foi adicionado à lista do Simples no final de 2017. A escolha do regime leva
em consideração as vantagens do Simples Nacional como alı́quotas de impostos reduzidas,
maior simplicidade na contabilidade e o pagamento de uma única guia mensal chamada
DAS - Documento de Arrecadação do Simples Nacional, que recolhe os seguintes tributos:

• Contribuição Social sobre o Lucro Lı́quido (CSLL)

• Imposto de Renda de Pessoa Jurı́dica (IRPJ)

• Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

• Programa de Integração Social (PIS)

• Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins)

• Imposto sobre Serviços (ISS)

• Contribuição Patronal Previdenciária (CPP)

• Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

A alı́quota no anexo varia de 4,5% a 30%, de acordo com a receita bruta da empresa
em 12 meses, conforme mostra a Tabela 15.

Tabela 15 – Simples Nacional: Anexo 2 – Indústria


Receita Bruta Total em 12 meses Alı́quota Dedução
Até R$ 180.000,00 4,5% 0
De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 7,8% R$ 5.940,00
De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 10% R$ 13.860,00
De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 11,2% R$ 22.500,00
De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 14,7% R$ 85.500,00
De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,00 30% R$ 720.000,00
Fonte: adaptado de (BRASIL, 2016)

Como já mencionado anteriormente a indústria vai produzir 20.000 litros de cachaça
nos primeiros dois anos, 25.000 litros no terceiro e 35.000 litros no quarto, quinto e sexto
ano. Devido ao envelhecimento do produto as quantidades de cachaça vendidas anual-
mente irão divergir da produção anual. O quadro da quantidade de cachaça pronta para
venda, anualmente, pode ser observado na Tabela 16.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 46

Tabela 16 – Previsão de vendas anuais


Classificação Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
Cachaça Prata 13.000 13.000 13.000 17.000 17.000 17.000
Cachaça Premium (Carvalho) - 3.600 3.600 3.600 6.600 6.600
Cachaça Premium (Castanheira) - 1.400 1.400 1.400 2.900 2.900
Cachaça Premium (Jequitibá) - 2.000 2.000 2.000 3.500 3.500
Cachaça Extra Premium (Carvalho) - - - - - 3.000
Cachaça Extra Premium (Castanheira) - - - - - 1.000
Cachaça Extra Premium (Jequitibá) - - - - - 1.000
Total (l) 13.000 20.000 20.000 24.000 30.000 35.000
Fonte: O autor, 2022.

Sobre o faturamento anual da indústria foi tributado a DAS considerando a alı́quota


efetiva, que pode ser encontrada multiplicando o faturamento pela alı́quota, desse resul-
tado se subtrai a dedução, e por fim se divide o valor encontrado pelo faturamento. Ao
longo dos anos a indústria irá se enquadrar em diferentes faixas do segundo anexo do
simples nacional, que possuem alı́quotas variadas. A receita bruta de vendas, a alı́quota
efetiva e a receita lı́quida de vendas anual podem ser observados na Tabela 17.

Tabela 17 – Alı́quotas anuais


Ano Vendas (l) RBV Alı́quota efetiva (DAS) RLV
1 13.000 R$ 278.571,43 5,67% R$ 262.782,86
2 20.000 R$ 578.571,43 7,60% R$ 534.600,00
3 20.000 R$ 578.571,43 7,60% R$ 534.600,00
4 24.000 R$ 664.285,71 7,91% R$ 611.740,71
5 30.000 R$ 921.428,57 8,76% R$ 840.711,43
6 35.000 R$ 1.350.000,00 9,53% R$ 1.221.345,00
Fonte: O autor, 2022.

4.6 Fluxo de Caixa Operacional Livre (FCOL)

Com o objetivo de acompanhar a saúde financeira da empresa ao longo dos seis anos
de projeto, foi realizado um FCOL anual, que conta com todos os dados de receitas,
custos e despesas da empresa até a obtenção do fluxo de caixa operacional, o qual se
subtrai os investimentos CAPEX e de giro, resultando no fluxo de caixa operacional livre
da empresa. Como todos os investimentos realizados no projeto são oriundos dos próprios
donos, não será necessário o acréscimo de despesas financeiras. A FCOL ao longo dos
anos do projeto pode ser observada na Tabela 18.
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados
Tabela 18 – Fluxo de caixa operacional livre ao longo dos anos
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
(+) Receita bruta de vendas R$ 278.571,43 R$ 578.571,43 R$ 578.571,43 R$ 664.285,71 R$ 921.428,57 R$ 1.350.000,00
(-) Deduções R$ 15.788,57 R$ 43.971,43 R$ 43.971,43 R$ 52.545,00 R$ 80.717,14 R$ 128.655,00
(=) Receita lı́quida de vendas R$ 262.782,86 R$ 534.600,00 R$ 534.600,00 R$ 611.740,71 R$ 840.711,43 R$ 1.221.345,00
(-) Custos por produto R$ 149.300,48 R$ 206.973,48 R$ 200.890,41 R$ 234.740,35 R$ 275.472,91 R$ 315.106,80
(=) Resultado bruto R$ 113.482,37 R$ 327.626,52 R$ 333.709,59 R$ 377.000,36 R$ 565.238,52 R$ 906.238,20
(-) Despesas Operacionais R$ 26.978,80 R$ 105.113,03 R$ 109.195,34 R$ 87.727,86 R$ 119.879,89 R$ 125.047,69
(=) Resultado bruto operacional R$ 86.503,58 R$ 222.513,48 R$ 224.514,25 R$ 289.272,50 R$ 445.358,62 R$ 781.190,51
(-) Despesas financeiras R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00
(=) Lucro operacional R$ 86.503,58 R$ 222.513,48 R$ 224.514,25 R$ 289.272,50 R$ 445.358,62 R$ 781.190,51
(+) Depreciação R$ 9.521,57 R$ 25.941,57 R$ 28.094,63 R$ 32.241,93 R$ 33.161,93 R$ 33.161,93
(=)Fluxo de caixa operacional R$ 96.025,15 R$ 248.455,05 R$ 252.608,89 R$ 321.514,43 R$ 478.520,56 R$ 814.352,44
(-) Investimentos fixos (CAPEX) R$ 0,00 R$ 82.100,00 R$ 59.992,00 R$ 121.289,00 R$ 23.000,00 R$ 0,00
(-) Investimentos em giro R$ 47.919,61 R$ 95.738,89 R$ 162.276,95 R$ 170.824,85 R$ 205.343,28 R$ 217.234,82
(=) Fluxo de caixa operacional livre R$ 48.105,53 R$ 70.616,16 R$ 30.339,93 R$ 29.400,58 R$ 250.177,27 R$ 597.117,62
Fonte: O autor, 2022.

47
Capı́tulo 4. Apresentação e discussão dos resultados 48

4.7 Indicadores financeiros (VPL; TIR; Payback)

Utilizando os valores dos fluxos de caixa operacionais livres, se obteve os indicadores


financeiros do projeto, como pode ser observado na Tabela 19. A taxa de mercado utilizada
para o cálculo do valor presente lı́quido foi de 20%. Os fluxos de caixa descontados e o
abatimento anual do investimento inicial podem ser vistos na Tabela 20, onde também
foi utilizado uma taxa de 20%

Tabela 19 – Indicadores financeiros


Indicador Valor
Valor presente lı́quido (reais) 271.720,43
Taxa interna de retorno (%) 54%
Payback (anos) 4,3
Fonte: O autor, 2022.

Tabela 20 – Abatimentos anuais no investimento


Ano FCOL FCOL descontado Resultado
0 -R$ 149.656,98 -R$ 149.656,98 -R$ 149.656,98
1 R$ 48.105,53 R$ 40.087,95 -R$ 109.569,03
2 R$ 70.616,16 R$ 49.039,00 -R$ 60.530,04
3 R$ 30.339,93 R$ 17.557,83 -R$ 42.972,20
4 R$ 29.400,58 R$ 14.178,52 -R$ 28.793,69
5 R$ 250.177,27 R$ 100.540,63 R$ 71.746,95
6 R$ 597.117,62 R$ 199.973,48 R$ 271.720,43
Fonte: O autor, 2022.
49

5 Conclusões e considerações finais

Este trabalho verificou a viabilidade econômico-financeira do projeto de investimento


para ampliação da capacidade produtiva e a legalização dos produtos do alambique Alto do
Brilhante. O estudo de caso possibilitou o levantamento de todos os valores relacionados ao
investimento para se obter uma planta de média produção para atendimento do mercado
com rótulo registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
e também os custos e despesas de produção relacionados.
Assim, o estudo teve como objetivo geral calcular a viabilidade econômico-financeira
do projeto de investimento, o qual foi atingido pois conseguiu reunir todas as informações
relacionadas ao investimento e contabilizá-las.
Da mesma maneira, os objetivos especı́ficos também foram alcançados pois o estudo
levantou todos os investimentos de maquinário, reforma e equipamentos para inı́cio da
produção, investimentos CAPEX para ampliação da participação no mercado, discerniu
e destacou os custos por produto e por perı́odo, e estabeleceu os indicadores financeiros
que ao serem analisados comprovaram a viabilidade econômica do projeto.
O estudo partiu do pressuposto que o alambique tinha disposição para produção de
cachaça, por causa do maquinário existente, estrutura atual e conhecimento dos proces-
sos envolvidos, então viu-se uma oportunidade de investimento contando com um plano
de legalização e expansão, que ao longo do trabalho foi estudada e comprovada pelos
indicadores.
O projeto se iniciou com pesquisas indiretas de fontes primárias e secundárias para
reunião de informações, como pré-requisitos para legalização e projetos de investimentos, e
passou para uma pesquisa direta, reunindo informações do próprio alambique e levantando
os custos envolvidos em diferentes fontes. A proposta inicial incluı́a separar os custos em
fixos e variáveis, mas devido a variação da maioria dos custos ao longo do projeto pelo
plano de expansão, tal separação seria incoerente, assim se fez necessário a busca de
outros métodos de classificação de custos. Durante a elaboração dos custos por produto,
percebeu-se que uma parte significativa era destinada aos custos de embalagem, e viu-se
a importância da fidelização de fornecedores e compras em grande escala para aumento
do resultado bruto. Os métodos CAPEX e OPEX, foram de grande valia para o projeto,
visto que forneceram a fundação teórica para o plano de expansão. Durante a etapa
de investimentos, viu-se que a legislação é rigorosa, principalmente no que se refere às
instalações, o que acarretou em um aumento significativo no investimento inicial, mas ao
mesmo tempo é justificada pois previne e controla questões sanitárias, fator extremamente
importante na produção de bebidas de qualidade. Vale aqui ressaltar a importância do
enquadramento da fabricação de cachaça no simples nacional, a redução de impostos é
significativa quando comparada aos regimes lucro real e presumido, o que aumentou a
Capı́tulo 5. Conclusões e considerações finais 50

saúde financeira do alambique e a justificativa do investimento.


Dado que os aumentos significativos no fluxo de caixa, se devem à venda de cachaça
envelhecida, percebe-se que uma pesquisa mais a fundo nas técnicas de envelhecimento e
maturação da cachaça para aumentar e exaltar a qualidade do produto se faz necessários.
Visto que no projeto de investimentos CAPEX existem aplicações que trariam resultados
em anos não contabilizados, como a compra de barris de madeira destinados a produção
de cachaça extra premium nos anos quatro e cinco, que afetariam os resultados dos anos
sete e oito, o projeto poderia ter um intervalo de análise maior.
A experiência de realização do projeto foi satisfatória, o plano de expansão foi fun-
damental para os resultados e permitiu a amplificação do trabalho, que passou de uma
análise de investimento inicial para um plano de iniciação e ampliação da cachaça Alto
do Brilhante do mercado, os indicadores finais se mostraram viáveis e atrativos o que
agradou os proprietários do alambique e incentivou-os a realização do projeto.
Como sugestão de continuidade de pesquisa, fica a realização de uma análise de custeio
ABC. O rastreamento dos custos das atividades que envolvem a produção e venda da
cachaça, assim como o efeito que cada atividade exerce sobre os lucros do alambique,
proporcionará informações gerenciais valiosas para tomadas de decisão e redução de custos.
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