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Aspectos gramaticais da língua latina

Prof.ª Márcia Silva


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Descrição

Principais aspectos gramaticais das classes variáveis da língua latina: os nomes em suas declinações e os
verbos em suas conjugações.

Propósito

Compreender os principais aspectos morfossintáticos latinos para a ampliação do conhecimento linguístico


e cultural.

Objetivos
Módulo 1

A noção de caso em latim


Relacionar os casos latinos com as funções sintáticas.

Módulo 2

A declinação em latim
Reconhecer as características da declinação em latim.

Módulo 3

O verbo na língua latina


Identificar as principais características do sistema verbal latino.

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Introdução
Não é difícil perceber o quanto o latim está presente em nossas vidas. Afinal, a língua latina deu origem ao
português. Não só nossa língua veio do latim, mas também o espanhol, o francês e o italiano, dentre as
mais conhecidas. Dez línguas faladas atualmente são provenientes da língua latina.

Por sua origem, a estrutura das palavras em português se assemelha em muitas coisas ao latim. As classes
de palavras do latim vieram todas para a língua portuguesa: substantivo, adjetivo, pronome, numeral,
advérbio, interjeição, preposição, conjunção e verbo. De nossas classes, apenas o artigo não existia em
latim: ele evoluiu a partir do pronome demonstrativo illum (o artigo definido) e do numeral unus (o artigo
indefinido).

Assim, conhecer a estrutura da língua latina e algumas de suas características gramaticais se justifica tanto
pela importância da língua latina em si mesma quanto pela sua contribuição na formação das línguas
neolatinas.

Veremos neste conteúdo os principais aspectos gramaticais dos nomes latinos, especialmente dos
substantivos, por meio das noções de caso e declinação. Além disso, conheceremos a formação dos
tempos verbais latinos, sempre fazendo a relação com sua sobrevivência em língua portuguesa.

1 - A noção de caso em latim


Ao final deste módulo, você será capaz de relacionar os casos latinos com
as funções sintáticas.
Flexão dos nomes em latim e português
Comecemos lembrando que o português, assim como o latim, possui classes de palavras. Algumas dessas
classes são variáveis, como o substantivo. Observe que rato pode sofrer flexão de gênero – rata – e de
número – ratos, ratas. Já outras classes são invariáveis, como a conjunção (porém) ou o advérbio
(bastante).

Os vocábulos das classes variáveis podem ser repartidos em pedaços menores que são chamados de
morfemas. Se observarmos, por exemplo, a palavra leiteiro, podemos identificar que ela veio de leite;
portanto, o radical é leit-, e é ele que traz o significado da palavra. A ele são anexados o sufixo -eir- e a vogal
temática -o.

A maioria desses elementos mórficos veio do latim para o português. Outros, contudo, não chegaram ao
nosso idioma, como as noções de caso e declinação.

Latim: língua sintética


Você já sabe que as classes de palavras latinas se separam em variáveis e invariáveis. Os substantivos, os
pronomes, os adjetivos, alguns numerais e os verbos são variáveis. Já os advérbios, as preposições, as
conjunções, as interjeições e alguns outros numerais são, em sua maioria, invariáveis. Percebeu que é
quase igual em português?

No entanto, nem tudo é igual. Em termos de estrutura frasal, vemos que, enquanto o latim é uma língua
sintética, o português se estrutura de forma analítica. Mas como isso acontece na prática?

Observe a seguinte frase nas duas línguas:

Português Latim

A terra produz o alimento para os homens. Humus gignit alimentum hominibus.

Você deve ter notado como as palavras se relacionam em latim e na tradução. Terra é humus; produz, gignit;
alimento, alimentum; e homens, hominibus.

Perceba também que, em latim, não aparecem os artigos e as preposições. Isso faz com que a oração latina
fique menor ou mais sintética que a correspondente na língua portuguesa.
No entanto, isso não é só uma diminuição: vemos que, em nossa língua materna, a ordem das palavras na
frase é fundamental para que a entendamos. Se mudarmos a ordem delas, mudaremos também o
significado geral da oração. Uma oração com a simples troca de posição das palavras como “o alimento
produz a terra para os homens” não faria o menor sentido em português.

Em latim, não é assim. Poderíamos trocar as palavras de lugar na frase, já que a tradução ficaria exatamente
a mesma:

Latim Português

Humus alimentum hominibus gignit. A terra produz o alimento para os homens.

Alimentum hominibus gignit humus. A terra produz o alimento para os homens.

Podemos mudar a posição de todas as palavras, colocando-as em qualquer lugar da oração sem alterar o
sentido. Mas por que isso acontece? Isso tem a ver exatamente com a noção de caso.

O que é caso?
Caso é o nome que se dá à terminação dos nomes e serve para indicar a função sintática que a palavra
exerce na oração. Ficou confuso? Vamos ver mais um exemplo.

Note que “o lobo viu a ovelha” e “a ovelha viu o lobo”, apesar de serem orações compostas exatamente pelas
mesmas palavras, não são iguais até mesmo em suas possíveis consequências. Há uma diferença crucial
entre quem viu, o sujeito, e quem foi visto, o objeto direto.

Contudo, na língua latina não é assim. As palavras não precisam ficar fixas em uma posição. Elas podem,
afinal, mudar sem alterar o significado.

Isso quer dizer que as frases latinas a seguir terão basicamente o mesmo sentido, embora a ordem das
palavras seja alterada em cada uma delas.

Lupus vidit agnum.


Agnum vidit lupus.

Lupus agnum vidit.

Vidit agnum lupus.

Em todas essas frases teremos sempre a mesma tradução: “o lobo viu o cordeiro”. Se quisermos mudar o
sentido e dizer em latim “o cordeiro viu o lobo”, vamos ter de mudar as terminações das palavras: “agnus
vidit lupum”.

Percebeu? A terminação dos nomes (agnus → agnum; lupus → lupum) foi modificada, e não sua ordem na
frase.

É importante observar o final das palavras. O sujeito nas duas frases termina em -us (lupus e agnus),
enquanto o objeto direto termina em -um (lupum e agnum). As terminações podem ser tantas quantas forem
as funções sintáticas que uma palavra pode exercer em uma oração.

Vamos retomar o seguinte exemplo: Humus alimentum hominibus gignit.

Note a terminação de cada palavra:

humus, com o final -us como sujeito;

alimentum, com a terminação -um como objeto direto;

hominibus, com o final -ibus como objeto indireto.

Observe que é justamente por causa da terminação que podemos mudar as palavras de lugar sem alterar o
sentido da oração, pois a função sintática é identificada justamente pela terminação, que é a união entre a
vogal temática nominal e a desinência de caso em latim.

Podemos afirmar então que os nomes latinos podem variar em gênero, número e caso.
Gênero: variação a partir de três gêneros: masculino (lupus – lobo), feminino (humus – terra) e neutro
(alimentum – alimento).

Número: variação a partir de dois números, como ocorre em português: singular (homo – homem) ou
plural (hominibus – homens).

Caso: variação em seis casos que podem ser relacionados às funções sintáticas em língua portuguesa.
São eles: nominativo, vocativo, acusativo, genitivo, dativo e ablativo. Cada um desses casos corresponde a
determinada função sintática, como você verá mais adiante.

As classes declináveis, substantivos, adjetivos, pronomes e alguns numerais, possuem variação conforme o
caso. Desse modo, podemos identificar uma importante característica gramatical do latim: sua flexão
nominal por meio das terminações.

Saiba mais
A flexão nominal do latim, além de permitir que as palavras tivessem grande mobilidade na oração, era um
recurso estilístico muito explorado pelos antigos poetas romanos.

Relação caso e função sintática


Já falamos que os casos latinos podem ser relacionados às funções em língua portuguesa. Essa relação é
importante para sabermos, na hora de traduzir, a ordem correta das palavras latinas na oração em
português, pois, como vimos, em latim, a ordem pode ser diferente.

Veremos então a relação de cada um dos seis casos latinos com as funções em língua portuguesa:

Caso latino Função sintática correspondente

Nominativo Sujeito e predicativo do sujeito

Vocativo Vocativo

Acusativo Objeto direto, predicativo do objeto direto e alguns adjuntos adverbiais

Adjunto adnominal preposicionado e complemento nominal com preposição de em


Genitivo
português

Dativo Objeto indireto e complemento nominal com as preposições a ou por em português


Caso latino Função sintática correspondente

Ablativo Adjuntos adverbiais

Casos latinos.
Márcia Regina de Faria da Silva.

Você deve ter notado que o adjunto adverbial aparece tanto no acusativo como no ablativo. O primeiro
indica normalmente o ponto de chegada ou passagem por algum lugar, enquanto o adjunto adverbial em
ablativo pode indicar modo, instrumento, meio, companhia, lugar estático ou o movimento de ponto de
partida.

Quem é bem atento deve ter reparado que falta uma função sintática do português no quadro acima: o
aposto. Ele, em latim, também é um termo que concorda com o nome ao qual está se referindo, sendo
usado, por isso, no mesmo caso que ele. Se o aposto for do objeto direto, por exemplo, ele também irá para
o acusativo.

Vamos compreender melhor os casos latinos a partir de algumas explicações sobre sua relação com a
função sintática correspondente.

As funções sintáticas
Se você não se lembra das funções sintáticas, vamos fazer uma ligeira revisão por meio de uma frase latina:

Português Latim

In magno theatro, poeta suos uersos Em um grande teatro, o poeta recita seus
admirabiles populo recitat. maravilhosos versos para o público.

O verbo está no final: recitat. Precisamos identificar quem recita, ou seja, o sujeito. O sujeito em latim é
poeta, que está no nominativo.

Depois vamos ter de descobrir o que o poeta recita, ou seja, o complemento do verbo, o objeto direto.
Achamos então o objeto direto em acusativo: suos versos admirabiles.

Para completar o verbo, ainda precisamos da informação para quem o poeta recita, ou seja, o objeto
indireto. Ele está em dativo: populo.
Faltou apenas in magno theatro. Vemos que o sintagma é introduzido pela preposição in e indica uma
circunstância de lugar, sendo, portanto, um adjunto adverbial em ablativo.

Observe que o acusativo é formado pelo substantivo versos acompanhado do pronome suos e do adjetivo
admirabiles, os quais funcionam como adjuntos adnominais concordantes. Por isso, todos estão no
acusativo. Isso também acontece com magno, adjunto adnominal que concorda com theatro em ablativo.

Vejamos um outro exemplo:

Latim Português

Luna bella est. A lua é bela.

Aqui temos a forma verbal est, que possui baixo teor significativo, servindo para ligar o sujeito “a lua” ao
termo que o qualifica, “bela”, ao qual chamamos de predicativo do sujeito. As duas palavras possuem a
mesma terminação: -a de nominativo.

Vamos a um último exemplo:

Latim Português

Homo necessitatem alimenti habet. O homem tem necessidade de alimento.

Nesta oração, vemos que o verbo habet está traduzido como “tem”. Vamos descobrir então quem tem, ou
seja, o sujeito, que é homo e está no nominativo. O “que ele tem” é o objeto direto em acusativo:
necessitatem. Mas precisamos identificar necessidade “de quê”. Ao responder a essa questão, teremos
alimenti como complemento do nome “necessidade” e, portanto, um complemento nominal em genitivo,
marcado na tradução pela preposição de.

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Noção de caso
Assista agora ao vídeo da professora Márcia da Silva que apresenta a noção de caso, explicando sua função
sintática correspondente e fornecendo exemplos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Considere as frases latinas a seguir:

Lupus vidit agnum.


Agnum vidit lupus.
Lupus agnum vidit.
Vidit agnum lupus.

Em todas elas, a tradução é a mesma: O lobo viu o cordeiro. A terminação –us, em lupus, indica o caso
nominativo, enquanto a terminação –um, em agnum, indica o caso acusativo. Assim, podemos afirmar
que o nominativo e o acusativo correspondem respectivamente à qual função sintática?

A Sujeito e objeto direto.

B Sujeito e predicativo do sujeito.

C Sujeito e objeto indireto.

D Objeto direto e vocativo.

E Vocativo e objeto direto.


Parabéns! A alternativa A está correta.

O caso nominativo corresponde ao sujeito ou ao predicativo do sujeito. Nas frases apresentadas no


enunciado, lupus está no nominativo e corresponde à função sintática exercida pelo sujeito. O caso
acusativo pode corresponder ao objeto direto, ao predicativo do objeto direto e a alguns adjuntos
adverbiais. Nas frases exemplificadas, agnum está no acusativo e corresponde à função sintática de
objeto direto ou complemento do verbo.

Questão 2

A respeito da frase latina “Discipulus amat librum”, cuja tradução seria “O aluno ama o livro”, podemos
afirmar que:

A A ordem das palavras em latim e em português é sempre a mesma.

B A posição da palavra na oração é que determina o caso latino.

Os casos latinos existem também em língua portuguesa, mas são chamados de


C
funções sintáticas.

Na frase latina, discipulus sempre será sujeito, pois está em nominativo, enquanto
D librum sempre será objeto direto, pois está em acusativo, independentemente da
posição em que estejam na oração.

Como a língua portuguesa é sintética, sendo igual ao latim, podemos mudar a posição
E
das palavras sem alterar sua função sintática.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A língua portuguesa é uma língua analítica na qual a posição das palavras determina a função sintática.
A língua latina, ao contrário, é sintética; por isso, as terminações dos nomes identificam os casos.
Desse modo, a palavra em nominativo discipulus, marcada pelo final -us, sempre equivalerá ao sujeito,
enquanto a palavra em acusativo librum, marcada pelo final -um, sempre equivalerá ao objeto direto.

2 - A declinação em latim
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as características da
declinação em latim.

As declinações
Você notou que as palavras “declinável” e “declinação” já apareceram algumas vezes em nosso estudo?
Sabe o que elas significam? Vejamos!

Para um entendimento mais adequado do significado ou mesmo do conceito de declinação, é importante


lembrar o conceito de tema, algo que costumamos estudar nos verbos em português. Tema é a junção do
radical com a vogal temática.

Você certamente já ouviu que, em português, a primeira conjugação tem o tema em –a. Por isso, os verbos
terminam em -ar, como amar, por exemplo. A segunda conjugação tem vogal temática -e, como vender. Já a
terceira possui vogal temática -i, como partir.
Podemos dizer que a vogal temática agrupa os verbos em suas conjugações. Pois bem, em latim, os
substantivos também são reunidos nas declinações de acordo com o tema. Isso quer dizer que a vogal
temática ou sua ausência vai determinar à qual declinação o substantivo pertence.

Ao todo, há cinco declinações em latim. Como vimos que a terminação é a junção da vogal temática com a
desinência de caso, observaremos que cada declinação possui desinências ou terminações próprias.

Você deve ter observado, pelos exemplos já oferecidos, que palavras em posições idênticas podiam ter o
final diferente. Verificamos que humus, lupus, luna, poeta e homo funcionam como sujeito em suas
respectivas orações e que todos eles estão no caso nominativo, mas que não é usada uma mesma
terminação para todos.

A explicação para isso é que eles são de declinações diferentes. Luna e poeta são de primeira declinação;
humus e lupus, de segunda declinação; e homo, de terceira declinação.

E como você vai saber qual é a declinação de cada palavra? Vamos mostrar isso a seguir.

Aprendendo a distinguir as declinações


Pontuamos que várias classes podem ser declináveis, o adjetivo, o pronome, o numeral e o substantivo, mas
apenas o último possui uma declinação determinada, ou seja, agrupa-se de acordo com a vogal temática e
possui desinências para todos os casos. As outras classes nominais utilizam, em sua maioria, as
terminações dos substantivos para serem declinadas.

Assim, temos a primeira declinação com vogal temática –a (luna – lua, poeta – poeta); a segunda
declinação com vogal temática –o (lupo – lobo, humo – terra, alimento – alimento); a terceira com palavras
temáticas, cuja vogal é –i (turri – torre, nubi – nuvem), e atemáticas, cujo tema termina em consoante (leg(e)
– lei, dent(e) – dente); a quarta declinação com vogal temática –u (genu – joelho, fructu – fruto); e a quinta
declinação tem tema –e (re – coisa, die – dia).

Todos os exemplos estão no caso ablativo singular, porque é onde encontramos o tema original. Antes de
estudarmos cada uma das declinações, é importante lembrar que os substantivos variam em caso de
acordo com a função sintática; em número, podendo estar no singular ou no plural; e em gênero, podendo
ser masculinos, femininos ou neutros.

Saiba mais
O gênero neutro latino, que não encontramos em português, indica normalmente a ideia semântica de
generalização, improdutividade ou falta de identificação. Observemos a palavra alimentum que aparece em
um de nossos exemplos. Ela é neutra, pois não podemos identificar um tipo específico de alimento, podendo
ser uma fruta ou um hambúrguer, por exemplo. Só para nós, é claro! Naquela época não havia hambúrguer.
Mas observem que o termo generaliza, sendo, por isso, neutro.
Agora podemos ver a primeira e a segunda declinações, que nos interessam mais nessa abordagem geral,
assim como suas principais características.

A primeira declinação
Encontramos na primeira declinação os nomes com a vogal temática -a. Pertence à primeira declinação
toda palavra que tem o genitivo singular em ae.

Na primeira declinação, a maioria das palavras pertence ao gênero feminino, como luna, -ae (lua), magistra, -
ae (mestra), regina, -ae (rainha) ou janua, -ae (porta).

Magistra
Magistra deu origem às palavras maestra e mestra. Desse mesmo radical, formaram-se também as palavras
magistério e magistral.

anua
Janua veio para o português no diminutivo januella (pequena porta, ou seja, janela).

Saiba mais
Nos dicionários latinos, as palavras aparecem no nominativo, sendo seguidas de sua desinência no genitivo.
Desse modo, encontramos no dicionário:

LVNA, -ae (f.). Lua.

MAGISTRA, -ae (f.). Professora. Mestra.

Saberemos, assim, que luna, -ae ou magistra, -ae pertence à primeira declinação, já que a terminação do
genitivo singular é ae.

Temos ainda, na primeira declinação, alguns substantivos de gênero masculino. Os substantivos


masculinos nessa declinação podem estar relacionados com as seguintes situações:

Indicam profissões como poeta, -ae (poeta);


São vocábulos de origem estrangeira, como scriba, -ae (escrevente);

São nomes de pessoas ou povos, como celtae, -arum (os celtas);

São palavras formadas com os sufixos -cola e -gena, como agricola, -ae (agricultor) e indigena,
-ae (nativo).

Não há substantivos neutros na primeira declinação. Como já sabemos que os substantivos modificam o
final de acordo com as terminações, vejamos o quadro de terminações da primeira declinação:

Caso Singular Plural

Nominativo -a -ae

Vocativo -a -ae

Acusativo -am -as

Genitivo -ae -arum

Dativo -ae -is

Ablativo -a -is

Terminações da primeira declinação.


Márcia Regina de Faria da Silva.

Olhe como fica o quadro com a declinação do substantivo filia, -ae (filha):
Caso Singular Plural

Nominativo filia filiae

Vocativo filia filiae

Acusativo filiam filias

Genitivo filiae filiarum

Dativo filiae filiis

Ablativo filia filiis

Declinação de filia, -ae (filha).


Márcia Regina de Faria da Silva.

Observe agora os exemplos de frases com o substantivo da primeira declinação nauta, -ae (marinheiro):

Latim Português

Nauta nauigat. O marinheiro navega.

Nauis nautam portat. O navio leva o marinheiro.

Mare laetitiam nautae dat. O mar dá alegria ao marinheiro.

Mare laetitiam nautis dat. O mar dá alegria aos marinheiros.

Viram como o final de nauta,-ae muda a terminação de acordo com o caso, ou seja, a função sintática?

Nauta é nominativo singular, funcionando como sujeito.


Nautam é acusativo singular, funcionando como objeto direto.

Nautae é dativo singular, funcionando como objeto indireto.

Nautis é dativo plural, funcionando também como objeto indireto.

Portanto, é só usar o quadro das declinações para identificar cada uma das terminações em seu caso e
número nas orações.

A segunda declinação
Na segunda declinação, estão os substantivos com vogal temática -o. A vogal temática -o pode se
transformar em -u ou nem mesmo estar presente. Nessa declinação, há uma predominância de nomes
masculinos, como agnus, -i (cordeiro, ovelha), lupus, -i (lobo), caper, -pri (cabra), magister, -tri (professor) e
uir, -i (homem).

Existem também algumas palavras femininas na segunda declinação. Os substantivos femininos dessa
declinação são normalmente relacionados a duas situações:

São nomes de árvores frutíferas, como pirus, -i (pereira) e malus, -i (macieira);

Denotam, na visão dos antigos romanos, uma ideia de feminilidade, como alvus, -i (ventre, cintura, útero) e
humus, -i (a terra pronta para o plantio).

Existem também palavras neutras na segunda declinação, como templum, -i (templo), bellum, -i (guerra),
caelum, -i (céu) e alimentum, -i (alimento), além de nomes de frutas, como pirum, -i (pera) e cerasum, -i
(cereja). Você deve ter notado que o -um é a terminação dos nomes neutros nessa declinação no
nominativo singular.
Saiba mais
Três substantivos neutros terminados em -us são usados apenas no singular: pelagus, -i (mar), uirus, -i
(veneno) e uulgus, -i (povo, multidão) (CARDOSO, 2006, p. 27).

Duas observações são importantes:

1. O genitivo de segunda declinação é -i.

2. Se a palavra tiver alguma alteração de radical, a modificação vai aparecer junto com o -i, como em caper, -
pri, ou seja, caper, capri. Em caper, tem um -e que não está presente em capri.

Agora podemos ver o quadro da segunda declinação com suas terminações:

Caso Singular Plural

  fem./masc. Neutro fem./masc. neutro

Nominativo -us, -er, -ir -um -i -a

Vocativo -e, -er, -ir -um -i -a

Acusativo -um -um -os -a

Genitivo -i -i -orum -orum

Dativo -o -o -is -is

Ablativo -o -o -is -is

Terminações da segunda declinação.


Márcia Regina de Faria da Silva.

Confira a declinação do substantivo masculino nervus, -i (nervo):

Caso Singular Plural

Nominativo nervus nervi


Caso Singular Plural

Vocativo nerve nervi

Acusativo nervum nervos

Genitivo nervi nervorum

Dativo nervo nervis

Ablativo nervo nervis

Declinação de nervus, i (nervo).


Márcia Regina de Faria da Silva.

Veja também a declinação do substantivo neutro pomum, -i (fruto):

Caso Singular Plural

Nominativo pomum poma

Vocativo pomum poma

Acusativo pomum poma

Genitivo pomi pomorum

Dativo pomo pomis

Ablativo pomo pomis

Declinação de pomum, -i (fruto).


Márcia Regina de Faria da Silva.

Antes de analisarmos os exemplos de frases com substantivo da segunda declinação, façamos algumas
outras observações importantes:

1. Nos substantivos neutros, a terminação de nominativo se repete nos casos vocativo e acusativo. Assim,
temos -um, no singular, e -a, no plural.
2. Todas as palavras femininas terminam em -us, além de três neutros irregulares: uulgus, i (povo), pelagus, -i
(pélago, mar) e uirus, -i (veneno).

3. Todos os masculinos e femininos com -us no nominativo singular fazem o vocativo em -e, exceto aqueles
que terminam em -ius, como filius, -ii, que perdem o -e, fazendo fili.

4. Os nomes terminados em -er no nominativo singular podem ou não ter alteração de radical. Em caper, -pri,
há uma alteração de caper para capri, enquanto em puer, -i, ela não ocorre: o -e- permanece em toda a
declinação.

Agora podemos observar alguns exemplos de frases com substantivo da segunda declinação:

Latim Português

Vir aprum necauit. O homem matou um javali.

Alimentum necessarium viro est. O alimento é necessário ao homem.

Mali in agris sati sunt. Macieiras foram plantadas nos campos.

Mala agrorum dulcia sunt. As maçãs dos campos são doces.

Temos quatro palavras que estão em nominativo funcionando como sujeito:

O substantivo masculino vir (vir, -i: varão, homem), no singular.

O neutro alimentum (alimentum, -i: alimento), no singular.


O substantivo feminino mali (malus, -i: macieira), no plural.

O neutro mala (malum, -i: maçã), no plural.

Aprum é o acusativo singular de aper, -pri (javali), funcionando como objeto direto. Viro é o dativo singular de
vir, -i (homem), sendo o complemento do adjetivo necessarium (necessário). Agris (campos) está
acompanhado da preposição in, sendo, portanto, ablativo plural e funcionando como um adjunto adverbial
de lugar. Agrorum é o genitivo plural de ager, -gri (campo), funcionando como adjunto adnominal restritivo,
marcado na tradução pela presença da preposição de (dos campos).

A terceira, quarta e quinta declinações


Já sabemos que o genitivo é o caso que identifica a declinação. Assim, o genitivo singular na terceira
declinação é -is, mas é bom saber que há várias palavras da terceira declinação que não apresentam vogal
temática.

Confira alguns exemplos de substantivos da terceira declinação: caput, -itis (cabeça); tempus, -oris (tempo);
urbs, -is (cidade); pater, -is (pai); voluntas, -atis (vontade).

Na quarta declinação, o genitivo singular é -us.

Veja alguns exemplos de substantivos da quarta declinação: manus, -us (mão); domus, -us (casa); partus, -us
(parto).

Na quinta declinação, o genitivo singular é -ei.

Observe alguns exemplos de substantivos da quinta declinação: dies, -ei (dia); res, -rei (coisa); facies, -ei
(aparência).

Resumindo
Declinação é um conceito gramatical que corresponde ao conjunto de flexões de determinado grupo de
palavras. Nos cinco grupos de declinação, cada uma possui singular e plural, havendo em cada declinação
seis flexões para o singular e seis para o plural conforme os seis casos (nominativo, vocativo, acusativo,
genitivo, ablativo e dativo).
Declinar uma palavra é mudar suas terminações de acordo com o caso correspondente. A terminação pode
ser compreendida como a “parte final da palavra”, colocada após o radical, podendo conter vogal temática,
vogal de ligação e desinência (CARDOSO, 2006).

Antes de finalizarmos este módulo, lembre-se de que não é apenas o substantivo que pode ser flexionado
em latim. Assim, podemos também flexionar adjetivos, por exemplo. Desse modo, um adjetivo concordará
com o substantivo em gênero, número e caso.

Embora tenhamos a terceira, a quarta e a quinta declinação, cada uma com suas características
gramaticais, concentramos nosso estudo na primeira e na segunda, o que deve ajudá-lo a compreender
algumas das características gramaticais da língua latina relacionadas com sua natureza sintética e com a
flexão nominal.

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Noção de declinação
Assista agora a um vídeo que apresenta a noção de declinação e suas principais características
gramaticais.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Analise as afirmativas a seguir:

I. A língua latina apresenta como uma de suas características gramaticais a flexão dos substantivos
conforme a declinação à qual pertencem.
II. Na flexão dos substantivos em latim, a terminação da palavra corresponde à vogal temática e à
desinência de caso.
III. O latim apresenta apenas três declinações, tal como os verbos em português podem possuir três
vogais temáticas.

Está correto apenas o que se afirma em:

A I

B II

C III

D I e II

E II e III

Parabéns! A alternativa D está correta.

As afirmativas I e II estão corretas, porque o latim é uma língua na qual os nomes apresentam flexão,
como ocorre com os substantivos, sendo essa flexão realizada de forma sintética por meio de
terminações nas quais são marcadas as variações de gênero, número e caso. Os substantivos se
distribuem em cinco grupos ou declinações a partir da sua vogal temática e da desinência de caso.
Assim, diferentemente do que se afirma na proposição III, as declinações em latim são em número de
cinco e não se limitam a três vogais temáticas ou conjugações, como, por exemplo, os verbos em
português.

Questão 2

Assinale a alternativa que apresenta somente substantivos da primeira declinação.

A Poeta – regina – magistra – filia.


B Filia – regina – indigena – vir.

C Nauta – poeta – nervus – poma.

D Pelagus – lupus – humus – filiae.

E Magistra – magister – scriba – filia.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Na primeira declinação, os substantivos apresentam vogal temática –a. Assim, no nominativo singular,
temos os substantivos da primeira declinação poeta (poeta), regina (rainha), magistral (professora) e
filia (filha). Nas demais alternativas, temos tanto substantivos da primeira quanto da segunda
declinações. Os substantivos vir (homem), nervus (nervo), poma (frutos), pelagus (mar), lupus (lobo),
humus (terra) e magister (professor) são todos da segunda declinação.

3 - O verbo na língua latina


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais
características do sistema verbal latino.

A estrutura do verbo
Comecemos tentando recordar a estrutura dos verbos na língua portuguesa, algo que você certamente já
estudou. Os verbos são compostos da seguinte forma:

Unidades mórficas chamadas de radical (R), que traz o significado.

Vogal temática (VT), responsável pelo agrupamento dos verbos nas conjugações.

Desinência modo-temporal (DMT), que indica os tempos e o modos nos quais o verbo está
conjugado.

Desinência número-pessoal (DNP), indicadora da pessoa e do número.

Vamos ver isso de forma prática?

Verbo Radical VT DMT DNP

estudavam estud a va m
Verbo Radical VT DMT DNP

falemos fal e mos

partirás part i ra s

No primeiro exemplo, vemos que estudavam é a forma conjugada de um verbo da primeira conjugação,
como nos informa a vogal temática -a. A desinência modo-temporal é -va-, indicadora do imperfeito do
indicativo, enquanto a desinência número-pessoal -m mostra que está na terceira pessoa do plural.

O segundo exemplo também nos traz um verbo de primeira conjugação, pois reconhecemos que o infinitivo
é falar. Mas veja que a vogal temática está ausente. Mediante observação da desinência modo-temporal -e-,
podemos afirmar que o verbo está no presente do subjuntivo. Por fim, a desinência número-pessoal -mos
informa que está na primeira pessoa do plural.

No último exemplo, notamos que o radical é part-. A vogal temática -i- nos mostra que é um verbo de
terceira conjugação. A desinência modo-temporal -ra- é do futuro do presente do modo indicativo, enquanto
a desinência número-pessoal -s indica a segunda pessoa do singular.

Conseguiu reavivar em sua mente a estrutura do sistema verbal do português? No latim, é muito parecido.
Vamos ver que os verbos podem variar em aspecto, modo, tempo, pessoa, número e voz. Eles também são
agrupados em conjugações de acordo com sua vogal temática.

As inúmeras possibilidades deixaram você confuso? Calma! Existe uma organização e uma lógica para o
uso das flexões. Está na hora de entender essa lógica.

O aspecto no sistema verbal latino


Observe a diferença entre os dois exemplos:

Latim Português

Nauta mare amat. O marinheiro ama o mar.

Puella donum amavit. A menina amou o presente.

Nas duas orações, encontramos o verbo amare (amar), mas observe que, na primeira oração, o radical é am-;
na segunda, amav-. Existe aí não só uma diferença na forma, mas também no sentido.
Enquanto amat traz a noção de algo que acontece agora, amavit tem um sentido de alguma coisa que já
aconteceu. Isso mostra que há uma diferença também de aspecto.

Em latim, portanto, teremos os tempos do infectum, que indicam ações não concluídas, como o presente, o
imperfeito e o futuro; e os tempos do perfectum, com ações completas, como o perfeito ou o mais-que-
perfeito.

Os tempos verbais podem ser agrupados em dois grupos, indicando um aspecto do


enunciado: o infectum (não feito) e o perfectum (feito, realizado).

Você seguramente notou que o radical do infectum é um (am-) e o do perfectum, outro (amav-). Podemos
concluir, com isso, que a diferença de aspecto em latim tem uma marca morfológica, não sendo apenas
semântica.

O modo no sistema verbal latino


Há em latim três modos verbais que podem variar em pessoa e número, assim como em português. São
eles: indicativo, imperativo e subjuntivo. Existe também um modo invariável que não sofre flexão: o Infinitivo.

Usamos o indicativo em orações que expressam a realidade. É o modo adequado para a construção de
orações independentes ou principais. Já o subjuntivo é empregado para indicar a dúvida, a hipótese ou a
irrealidade e também para construir orações subordinadas que podem ser introduzidas ou não por uma
conjunção subordinativa. O imperativo, você já sabe que indica ordem ou pedido.

Observe as diferenças:

Latim Português

Pueri exercitium faciunt. Os meninos fazem o exercício.

Vt pueir exercitium faciant. Para que os meninos façam o exercício.

Pueri, exercitium facite. Meninos, fazei o exercício.

O verbo é o mesmo: facere (fazer). Contudo, faciunt, no modo indicativo, denota certeza; faciant, no modo
subjuntivo, indica a dúvida; e facite, no imperativo, expressa ordem.
O tempo no sistema verbal latino
Os tempos são três: presente, pretérito e futuro. O presente é usado para indicar que algo acontece no
momento em que se fala. O pretérito ou perfeito mostra alguma coisa que se desenrola após o momento do
discurso; e o futuro, aquilo que ainda está para acontecer.

Você já percebeu que existe uma associação entre tempos e modos? Eles sempre estão juntos. É
exatamente a união entre eles que possibilita as várias flexões que acontecem no sistema verbal tanto em
latim como em português.

Na língua latina, podemos ter o presente, o imperfeito, o perfeito e o mais-que-perfeito tanto no indicativo
quanto no subjuntivo, mas o futuro, diferentemente do português, só existe no indicativo.

Vejamos um exemplo de cada tempo:

Latim Português

Agricola flores serit. O agricultor planta flores.

Agricola flores sevit. O agricultor plantou flores.

Agricola flores seret. O agricultor plantará flores.

As conjugações
Já falamos que os verbos são agrupados tendo por critério o tema, ou seja, a união da vogal temática ao
radical. Denominamos conjugações justamente esses agrupamentos. Em português, você sabe que existem
três conjugações, porém, em latim, elas são quatro.
Primeira conjugação
Os verbos de primeira conjugação se caracterizam por ter vogal temática -a-, como ornare
(enfeitar).

Segunda conjugação
Os verbos de segunda conjugação têm vogal temática -ē-, como docēre (ensinar).

Terceira conjugação
Os verbos na terceira conjugação possuem a vogal temática -ĕ- (breve), como pellĕre
(afastar).

Quarta conjugação
Os verbos de quarta conjugação apresentam a vogal temática -i-, como scire (saber,
conhecer).

Você deve ter notado que existem sinais em cima da vogal -e-. São sinais de quantidade. Em latim, as vogais
podiam ser breves (ă, ĕ, ĭ, ŏ, ŭ) ou longas (ā, ē, ī, ō, ū). A vogal longa era pronunciada no dobro do tempo de
uma breve. Assim, temos os sinais para marcar a quantidade. Em português, não faz diferença se
demoramos mais ou menos para pronunciar a vogal. Em latim, isso era muito importante, pois distinguia-se
a vogal temática dos verbos de segunda e terceira conjugações. Mas fique atento! O sinal de breve ou longa
não é utilizado em todos os verbos. Por isso, nós vamos aprender a diferenciá-lo, mesmo sem a presença
dele.

Na terceira declinação dos nomes, as vogais podem sofrer alteração, transformando-se em outra vogal. Na
terceira conjugação dos verbos, isso também vai acontecer, como veremos mais adiante.
Se você for curioso e procurar um verbo no dicionário de latim, vai observar que ele não aparece no infinitivo
(amar, comer, dormir), como em língua portuguesa. O verbete mostra um paradigma em cinco partes que
representam os tempos primitivos. A partir deles, podemos conjugar os verbos em todos os tempos e
modos.

Além disso, o paradigma nos informa todas as modificações que o radical possa sofrer. Então, no dicionário,
vamos encontrar o verbo enfeitar (ornare) da seguinte forma:

ORNO, -as, -are, -avi, -atum. Ornar, enfeitar. Equipar.

O paradigma mostra também a conjugação do verbo. Se observarmos a segunda e a terceira formas (-as, -
are), veremos que a vogal temática -a- se repete. Essa repetição indica que o verbo é de primeira
conjugação.

Vamos ver o que cada uma das cinco formas do paradigma representa?

upino Forma Forma


brev. completa
Supino é uma forma nominal substantiva. Cardoso (2006, p. 67) explica que “o
supino é um antigo nome verbal em -tu. Muito utilizado na época arcaica, teve seu
uso bastante reduzido no período clássico, quando apenas dele sobreviveram um
orno orno
acusativo em -um e um ablativo em -u (ex.: laudatum, laudatu)”. O supino, assim,
constituiria um dos radicais do verbo latino.

-as ornas

-are ornare

-avi ornavi

-atum ornatum
Essa ordem é fixa para todos os verbos. Para quem ainda ficou em dúvida, vamos tentar resumir:

Paradigma Repetição Conjug. Trad.

ORNO, -as, -are, avi, -atum Repetição do a em as, are primeira enfeitar

DOCEO, -es, -ere, docui, doctum Repetição do e em es, ere segunda ensinar

PELLO, -is, -ere, pepuli, pulsum Não repetição em is, ere terceira afastar

SCIO, -is, -ire, -ivi, -itum Repetição do i em is, ire quarta saber

Os tempos do infectum
Sabemos que, em latim, os tempos são três: presente, pretérito e futuro. Eles se juntam aos modos para
formar o sistema verbal. No infectum, teremos cinco tempos. Vamos a eles!

O presente do indicativo (orno = enfeito) e o presente do subjuntivo (ornem = enfeite) equivalem aos
mesmos tempos em língua portuguesa. O imperfeito do indicativo (ornabam = enfeitava) também deve ser
traduzido pelo mesmo tempo em português. O imperfeito do subjuntivo (ornarem) equivale a dois tempos
portugueses: o imperfeito do subjuntivo (enfeitasse) ou o futuro do pretérito (enfeitaria).

Só existe futuro, na língua latina, no indicativo, e ele é chamado de futuro imperfeito (ornabo), cuja tradução
deve ser feita pelo futuro do presente (enfeitarei) ou pelo futuro do subjuntivo (enfeitar).

O quadro a seguir traz de forma esquemática os tempos latinos e os correspondentes em português:

Tempos do infectum

Latim Português

presente do indicativo presente do indicativo

imperfeito do indicativo imperfeito do indicativo


Tempos do infectum

futuro do presente
futuro imperfeito do indicativo
futuro do subjuntivo

presente do subjuntivo presente do subjuntivo

imperfeito do subjuntivo
imperfeito do subjuntivo
futuro do pretérito

Tempos verbais do infectum.


Márcia Regina de Faria da Silva.

Vejamos alguns exemplos de frases em que aparecem verbos conjugados em cada um dos tempos acima,
respeitando a ordem em que se apresentam:

Latim Português

Magister discipulos docet. O professor ensina os alunos.

Puella canere sciebat. A menina sabia cantar.

Sacerdotes aram deae ornabunt. Os sacerdotes enfeitarão o altar da deusa.

Ama ut solitudinem pellas. Ama para que afastes a solidão.

Si ego canere scirem, felix essem. Se eu soubesse cantar, seria feliz.

Você deve ter notado que a estrutura do verbo latino é igual à estrutura do português, sendo formada pelo
radical (R), pela vogal temática (VT), pelo sufixo modo-temporal (SMT), que nós chamamos, em português,
de desinência modo-temporal, e a desinência número-pessoal (DNP).

Veja este quadro:

Verbo Radical VT SMT DNP

docet (ensina) doc e - t


Verbo Radical VT SMT DNP

sciebat (sabia) sc i (e)ba t

ornabunt (enfeitarão) orn a b(u) nt

pellas (afastes) pell - a s

scirem (soubesse) sc i re m

Estrutura do verbo latino.


Márcia Regina de Faria da Silva.

Os tempos do infectum, portanto, apresentam a seguinte estrutura:

R do infectum + VT + SMT + DNP.

A formação da voz ativa nos tempos do


infectum
Você sabe que, em português, identificamos a pessoa do discurso (primeira, segunda ou terceira) e o
número (singular ou plural) graças à desinência número-pessoal (DNP). Em latim, isso também acontece,
mas as DNPs, nos tempos do infectum, ainda servem para indicar a voz (ativa ou passiva). Quando o sujeito
é empregado como agente da ação verbal, temos uma oração na voz ativa.

Todos os exemplos vistos no item anterior são de frases na voz ativa compostas pelas seguintes
desinências:

DNP dos tempos da voz ativa

Pessoa Singular Plural

Primeira -o, -m -mus

Segunda -s -tis
DNP dos tempos da voz ativa

Pessoa Singular Plural

Terceira -t -nt

Desinências número-pessoais (DNP) da voz ativa do infectum.


Márcia Regina de Faria da Silva.

Vejamos então como se comporta um verbo da primeira conjugação na voz ativa:

pres. do imperf. do fut. imperf. pres. do imperf. subj.


ind. ind. enfeitarei ou subj. enfeitasse ou
enfeito enfeitava enfeitar enfeite enfeitaria

orno ornabam ornabo ornem ornarem

ornas ornabas ornabis ornes ornares

ornat ornabat ornabit ornet ornaret

ornamus ornabamus ornabimus ornemus ornaremus

ornatis ornabatis ornabitis ornetis ornaretis

ornant ornabant ornabunt ornent ornarent

Paradigma do infectum – voz ativa: 1a conjugação: ORNO, -as, -are, -aui, -atum.
Márcia Regina de Faria da Silva.

A formação da voz passiva nos tempos do


infectum
A voz passiva é usada quando o sujeito é o paciente da ação verbal, como podemos observar nestes
exemplos:
Latim Português

Arae a sacerdotibus ornabuntur. Os altares serão enfeitados pelos sacerdotes.

Solitudo amore pellitur. A solidão é afastada pelo amor.

Você deve ter notado que, em latim, temos apenas um verbo (adornabuntur e pellitur), enquanto, em
português, há uma construção com dois verbos (serão enfeitados e é afastada). Na nossa língua, ocorre
uma formação analítica da voz passiva com o emprego do verbo ser acrescido de um verbo no particípio
passado.

Em latim, a construção é sintética, fazendo-se por meio da simples troca das desinências número-pessoais
da ativa pelas da passiva, conforme o quadro seguinte:

DNP dos tempos da voz passiva

Pessoa Singular Plural

Primeira -r -mur

Segunda -ris -mini

Terceira -tur -ntur

Desinências número-pessoais (DNP) da voz passiva do infectum.


Márcia Regina de Faria da Silva.

Os tempos do perfectum
Como vimos, encontramos no perfectum os tempos de ação conclusa. Ele também conta com cinco
tempos:

O perfeito do indicativo (ornavi = enfeitei ou tenho enfeitado) e o perfeito do subjuntivo (ornaverim = tenha
enfeitado) equivalem aos mesmos tempos em língua portuguesa. O mais-que-perfeito do indicativo
(ornaveram = enfeitara ou tinha enfeitado) também deve ser traduzido pelo mesmo tempo em português. Já
o mais-que-perfeito do subjuntivo (ornavissem) equivale a dois tempos portugueses: o mais-que-perfeito do
subjuntivo (tivesse enfeitado) ou o futuro do pretérito composto (teria enfeitado). No futuro perfeito do
indicativo (ornavero), por fim, a tradução deve ser feita pelo futuro do presente composto (terei enfeitado) ou
pelo futuro composto do subjuntivo (tiver enfeitado).

O quadro a seguir traz, de forma esquemática, os tempos latinos e os correspondentes em português:

Tempos do perfectum

Latim Português

Perfeito do indicativo simples


Perfeito do indicativo
Perfeito do indicativo composto

Mais-que-perfeito do indicativo simples


Mais-que-perfeito do indicativo
Mais-que-perfeito do indicativo composto

Futuro do presente composto


Futuro perfeito do indicativo
Futuro composto do subjuntivo

Perfeito do subjuntivo Perfeito do subjuntivo

Mais-que-perfeito do subjuntivo
Mais-que-perfeito do subjuntivo
Futuro do pretérito composto

Tempos verbais do perfectum.


Márcia Regina de Faria da Silva.

A formação da voz ativa no perfectum


A estrutura dos tempos do perfectum é mais simples do que a do infectum. Precisaremos do radical do
perfectum, extraído da quarta forma dos verbos (DOCEO, -es, -ere, docui, doctum), tirando o –i que representa
a DNP. Ao radical são acrescidos o SMT do tempo escolhido e a DNP, conforme vemos nos exemplos a
seguir:

Latim Português

Flores hortum ornaverunt. As flores enfeitaram o jardim.


Latim Português

Homo animalem pepulerat. O homem afastara o animal.

Vejamos então como se comporta um verbo da primeira conjugação na voz ativa:

pres. do ind. imperf. do ind. fut. imperf. pres. do subj. imperf. subj.
tenho enfeitado tinha enfeitado tiver enfeitado tenha enfeitado teria enfeitado

ornaui ornaueram ornauero ornauerim ornauissem

ornauisti ornaueras ornaueris ornaueris ornauisses

ornauit ornauerat ornauerit ornauerit ornauisset

ornauimus ornaueramus ornauerimus ornauerimus ornauissemus

ornauistis ornaueratis ornaueritis ornaueritis ornauissetis

ornauerunt ornauerant ornauerint ornauerint ornauissent

Paradigma do perfectum – voz ativa: 1a conjugação: ORNO, -as, -are, -aui, -atum.
Márcia Regina de Faria da Silva.

A formação da voz passiva no perfectum


A voz passiva do perfectum, em latim, tem a formação igual à da língua portuguesa, usando o verbo SVM, es,
esse, fui (ser) nos tempos do infectum, unindo-o ao particípio passado de outro verbo. O particípio passado
é formado pelo radical do supino, que é tirado da quinta forma do paradigma (ornatum rad. adornat-), ao
qual se acrescenta a terminação -us para masculino, -a para feminino e -um para neutro.

Vejamos alguns exemplos:

Latim Português

Hortus floribus adornatus est. O jardim foi enfeitado pelas flores.


Latim Português

Animal ab homine pulsum erat. O animal fora afastado pelo homem.

Verbo esse
Os verbos regulares, por serem todos transitivos, são conjugados nas vozes ativa e passiva. O verbo esse
(sum, es, fui, esse) é conjugado apenas na voz ativa, pois, por ser um verbo intransitivo, não possui voz
passiva.

Assim, podemos dizer que esse não se enquadra nas conjugações que temos visto. Trata-se de um verbo
bem característico em função de sua significação (ser, estar, haver) e por ser bastante antigo no latim
(CARDOSO, 2006, p. 89).

Confira então a conjugação do verbo esse no infectum e no perfectum:

INFECTUM

pres. do ind. imperf. do ind. fut. imperf. pres. do subj. imperf. subj.
sou era serei ou for seja fosse ou seria

sum eram ero sim essem

es eras eris sis esses

est erat erit sit esset

sumus eramus erimus simus essemus

estis eratis eritis sitis essetis

sunt erant erunt sint essent


PERFECTUM

pres. do ind. imperf. do ind. fut. imperf. pres. do imperf. subj.


fui ou tenho fora ou tinha terei ou tiver subj. tivesse ou teria
sido sido sido tenha sido sido

fui fueram fuero Fuerim fuissem

fuisti fueras fueris Fueris fuisses

fuit fuerat fuerit Fuerit fuisset

fuimus fueramus fuerimus Fuerimus fuissemus

fuistis fueratis fueritis fueritis fuissetis

fuerunt fuerant fuerint fuerint fuissent

A partir da conjugação do verbo esse, podemos finalizar com duas frases latinas bem simples para
exemplificarmos parte do que você acabou de ver:

language
Petrus est bonus. (Pedro é bom)

language
Maria est bona. (Maria é boa)

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Estrutura do sistema verbal latino
Assista agora a um vídeo que apresenta a estrutura do sistema verbal latino.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?


Questão 1

Considere as orações a seguir:

Nauta mare amat.


Puella donum amavit.

A diferença entre as duas formas verbais (am- at / amav – it) indica que, na primeira oração, temos algo
que acontece ou é permanente (marinheiro ama o mar), enquanto, na segunda, temos algo que já se
sucedeu (a menina amou o presente). Essa distinção aponta a diferença de aspecto nos verbos latinos,
ou seja, tempos relacionados com ações não concluídas e tempos relacionados com ações completas.

Desse modo, marque a alternativa que apresenta esses dois conceitos gramaticais.

A Infectum e perfectum.

B Presente e futuro do presente.

C Voz ativa e voz passiva.

D Subjuntivo e imperativo.
E Caso e declinação.

Parabéns! A alternativa A está correta.

Os tempos verbais no latim estão agrupados a partir de dois aspectos: o não feito (infectum) e o feito
ou realizado (perfectum). Assim, o infectum e o perfectum correspondem ao aspecto do verbo. A
alternativa B não deve ser assinalada, porque apresenta apenas distinção entre dois tempos verbais
relacionados com algo ainda não feito. A opção C refere-se apenas à distinção da voz verbal. A D está
relacionada com distinções de modo verbal. A opção E, por fim, apresenta dois conceitos gramaticais
relacionados com o nome, e não com o verbo.

Questão 2

Considere as afirmativas a seguir:

I. Os verbos regulares são conjugados tanto na voz ativa quanto na voz passiva.
II. O verbo esse é um verbo regular, portanto, conjugado na voz ativa e passiva.
III. O verbo esse é um verbo irregular, portanto, conjugado apenas na voz ativa.
IV. Na oração “Petrus est bonus” (Pedro é bom), a forma verbal est corresponde ao presente do
indicativo do verbo esse (sum, es, fui, esse).

Está correto apenas o que se afirma em:

A I e II

B I, II e III

C I, III e IV

D II e III

E II, III e IV
Parabéns! A alternativa C está correta.

Verbos regulares são conjugados na voz ativa e passiva. O verbo esse é um verbo irregular; por isso,
diferentemente dos verbos regulares, ele será conjugado apenas na voz ativa. No presente do indicativo,
o verbo esse se conjuga da seguinte forma: sum (sou), es (és), est (é), sumus (somos), estis (sois), sunt
(são). Assim, na oração Petrus est bonus, temos a forma verbal est na segunda pessoa do presente do
indicativo.

Considerações finais
Trouxemos neste conteúdo uma visão ampla a respeito dos principais pontos dos aspectos gramaticais do
nome e do verbo latino, visando ao entendimento da estrutura básica da língua latina e objetivando o
despertar para o estudo dessa língua tão antiga, rica e formadora de nossa língua materna. Conhecemos
ainda a noção de caso e como os seis casos latinos se relacionam com as funções sintáticas em língua
portuguesa.

Também estudamos as principais características das cinco declinações que agrupam, por meio da vogal
temática, os substantivos latinos. Desse modo, podemos entender o funcionamento das classes nominais
declináveis.

Por fim, observamos os pontos principais do sistema verbal latino, como o aspecto, o modo, o tempo, a
pessoa, o número e a voz, identificando a formação morfológica dos tempos do infectum e do perfectum.
Tudo isso nos permite identificar a sobrevivência das estruturas tanto nominais quanto verbais da língua
latina na língua portuguesa.

headset
Podcast
Ouça agora uma exposição sobre os principais conceitos relacionados às características gramaticais da
língua latina.
Referências
CARDOSO, Z. de A. Iniciação ao latim. 6. ed. São Paulo: Ática, 2006.

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