Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Resenha crítica do texto “Notas sobre a experiência e o saber de


experiência”, de Jorge Larrosa Bondía1.

Destruindo a experiência.

Tratando-se dos tópicos discutidos na resenha, a passagem selecionada é um trecho de


"Experiência e Paixão", escrito por Jorge Larrosa Bondía. Nesse texto, o autor discute a ideia
de experiência e como ela está sendo destruída na sociedade contemporânea. Através de uma
análise crítica, ele aponta vários fatores que contribuem para essa destruição.
O autor começa abordando a relação entre experiência e informação. Ele argumenta
que a informação não é experiência e, na verdade, é ela quem impede a ocorrência da
experiência. A ênfase na busca por informações e no conhecimento factual acaba por limitar
as possibilidades de vivenciar algo verdadeiramente significativo. O sujeito da informação
está constantemente buscando mais conhecimento, mas isso não resulta em experiências
genuínas que o afetem.
Além disso, Larrosa critica a enfática relevância da opinião na sociedade
contemporânea ao observar que todos têm uma opinião sobre tudo e sentem a necessidade de
expressá-la. No entanto, essa obsessão pela opinião também impede a experiência, pois as
pessoas estão mais preocupadas em formular e defender suas opiniões do que em abrir-se
para vivenciar algo novo.
Outro ponto destacado é a velocidade com que os acontecimentos ocorrem na
sociedade moderna. A partir da argumentação de que a rapidez dos eventos e a busca
constante por novidades impedem a conexão significativa entre eles, as pessoas estão
perenemente buscando estímulos fugazes e efêmeros, o que não permite que a experiência
seja vivenciada plenamente. Além disso, a falta de tempo e a pressa são inimigas da
experiência, pois não permitem que as pessoas se detenham e se envolvam profundamente
com o que está acontecendo ao seu redor.
O excesso de trabalho é apontado como um fator que contribui para a destruição da
experiência. Há a crítica à ideia de que a experiência é adquirida apenas através do trabalho
1
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Barcelona: Universidade de Barcelona,
Espanha, 2002. 20-28 p.

1
visto que esse não auxilia na vivência empírica, muito pelo contrário. O sujeito moderno,
obcecado pela ação e pela transformação do mundo, acaba perdendo a capacidade de
vivenciar a experiência autêntica, já que está constantemente ocupado com suas atividades e
com a busca por eficiência e produtividade.
Tendo em vista os tópicos 2 a 6, há a abordagem da temática da experiência e do
sujeito da experiência. O autor explora diferentes perspectivas linguísticas, como o espanhol,
o francês, o português, o italiano e o inglês, para elucidar as nuances do conceito de
experiência e como ele é compreendido em cada idioma. Em seguida, o doutor em pedagogia
discute a natureza do sujeito da experiência, destacando sua passividade, receptividade e
disponibilidade. O sujeito da experiência é caracterizado como um espaço onde os
acontecimentos ocorrem e deixam marcas, afetando-o de alguma forma.
A palavra "experiência" é analisada etimologicamente, derivado do latim "experiri",
que significa "provar" ou "experimentar". Essa é descrita como um encontro com algo que é
experimentado e provado. A raiz indo-europeia "per" tem sua relação com a ideia de travessia
e prova posta em destaque: a experiência é vista como uma travessia, um percurso através do
qual somos transformados.
O sujeito da experiência é retratado como alguém que é alcançado, derrubado e
transformado pelos acontecimentos. Não é um sujeito ativo, mas sim um sujeito passional,
que sofre, suporta, aceita e se submete ao que lhe acontece. O sujeito da experiência é
receptivo e vulnerável, aberto à sua própria transformação. Em contraste, aquele que se
impõe, opõe ou se propõe, mas não se expõe, é incapaz de experimentar.
Larrosa também discute a relação entre experiência e conhecimento. O sujeito da
experiência possui seu próprio tipo de conhecimento, distinto do conhecimento científico e da
informação. O saber da experiência está relacionado à vida humana e é uma forma de
mediação entre o conhecimento e a vida. No entanto, do ponto de vista da experiência, os
conceitos de conhecimento e vida têm significados diferentes dos habituais.
Uma crítica à ciência moderna e sua abordagem em relação à experiência é descrita: o
autor argumenta que a ciência moderna, iniciada por Francis Bacon e desenvolvida por René
Descartes, desconfia da experiência e a converte em um elemento do método científico,
transformando-a em um meio para a apropriação e domínio do mundo. Isso resulta na ideia
de uma ciência experimental, em que a experiência se torna um experimento previsível e
seguro.
No entanto, essa visão da experiência é apontada por Larrosa como um mero
experimento cujo seu significado é limitado. A experiência deixa de ser algo que acontece

2
conosco e molda nossa vida de forma singular e passa a se tornar um meio pelo qual o mundo
revela suas regularidades e verdades objetivas, permitindo-nos dominá-lo. O conhecimento
científico se transforma em uma acumulação progressiva de verdades objetivas, externas ao
ser humano.
Essa separação entre o conhecimento científico e a existência humana resulta em uma
situação paradoxal. Por um lado, há uma enorme abundância de conhecimentos objetivos e
avanços tecnológicos, mas, por outro, há uma enorme pobreza nas formas de conhecimento
que antes alimentavam, iluminavam e guiavam a vida humana. A vivência se torna
empobrecida e necessitada, além de que o conhecimento científico moderno perde sua
capacidade de encarnar-se e estar ligado à vida.
A segunda nota sobre o saber da experiência procura evitar a confusão entre
experiência e experimento, buscando limpar a palavra "experiência" de suas conotações
metodológicas. Enquanto o experimento busca produzir acordo e homogeneidade, a
experiência é singular, produzindo diferença, heterogeneidade e pluralidade. Compartilhar
experiências envolve mais uma heterologia do que uma homologia, ou seja, é um diálogo que
funciona de forma heteróloga e não homóloga. Enquanto o experimento é repetível e
previsível, a experiência é irrepetível e sempre há algo como a primeira vez. Além disso, a
experiência possui uma dimensão de incerteza intrínseca que não pode ser eliminada. A
experiência não é um caminho em direção a um objetivo previsto, mas uma abertura para o
desconhecido, para o que não pode ser antecipado ou pré-dito.
Em suma, o texto de Jorge Larrosa Bondía é uma crítica contundente à sociedade
contemporânea, que está cada vez mais distante da experiência autêntica. A ênfase na
informação, na opinião, na velocidade e no trabalho impede que as pessoas realmente vivam
e se envolvam com o que está acontecendo ao seu redor.
Não obstante, a leitura é densa e filosófica, explorando conceitos e reflexões sobre a
natureza da experiência e do sujeito. A crítica apresentada aponta para uma desvalorização da
experiência na ciência moderna, na qual ela é transformada em um mero experimento
previsível e seguro. Isso resulta em uma separação entre o conhecimento científico e a vida
humana, levando a uma pobreza nas formas de conhecimento que antes eram essenciais para
a existência e transformação dos seres humanos.
Larrosa oferece uma perspectiva interessante e estimula o leitor a repensar a relação
entre conhecimento, vida e experiência Convida-nos a refletir sobre essa condição, a buscar
uma forma de resgatar a experiência em nossas vidas. No entanto, é importante ressaltar que

3
a compreensão completa do texto exigiria um estudo mais aprofundado e uma análise
cuidadosa de cada argumento apresentado.

Você também pode gostar