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Convento e Igreja de Santa Tereza

Olinda/PE

Mariana Pessoa de Oliveira Amorim


Histórico do entorno
Localizados na entrada da cidade, a igreja e o
convento de Santa Tereza estão inseridos numa
malha urbana fortemente marcada por cursos de
água, topografia e contexto histórico. O acesso à
cidade, até então bastante precário, era dado por
meio de um istmo (Istmo Recife-Olinda), que só foi
substituído como acesso principal por volta de 1820,
quando a Estrada de Olinda (atual Avenida Olinda) foi
construída, exercendo grande impacto no
crescimento do tecido urbano, visto que, ao longo da
Estrada, começam a surgir pontos de ocupação, que
lentamente foram consolidando o arruado.
Mais próximo ao fim do século XIX,
próximo ao Convento e Igreja de Santa
Tereza, a Estrada de Olinda sofre uma
bifurcação, originando a Rua Duarte
Coelho. Surge a linha ferroviária
“Maxambomba” que seria substituída, no
futuro, por uma linha de bondes
elétricos, via de comunicação
importantíssima entre as duas cidades,
que teve como consequência o
surgimento do casario da Rua Duarte
Coelho - assim como diversas outras
edificações nos arredores -
caracterizando a origem do povoado de
Santa Tereza.
Os corpos d’água caracterizavam um importante vínculo que conectava a lagoa ao alagado e que,
alimentados pelo Rio Beberibe, se encarregaram de realizar a drenagem da cidade, assim como
constituíam um vasto manguezal e eram rodeados de áreas de solo primitivo. Esses aspectos fizeram
estabelecer uma importante relação do povoado com as massas verdes, que foram elementos
norteadores na conformação espacial de Santa Tereza, configurando inclusive aspectos sociais como a
formação da vila de pescadores que se desenvolveu sobre os aterros feitos no manguezal. O crescimento
do povoado de Santa Tereza que seguia um ritmo relativamente sustentável durante o século XIX, perde,
parcialmente, a relação com os elementos naturais no século. XX, quando grandes obras de mobilidade
urbana são feitas para estimular o fluxo entre as duas cidades, a exemplo das obras do Complexo de
Salgadinho. É nesse período que explode a ocupação da cidade de Olinda e o resultado seria o cenário
que pode ser encontrado nos dias de hoje; os acessos principais à cidade são completamente ocupados,
com poucas as áreas verdes remanescentes nos arredores e grandes aterros feitos para suprir a
demanda de moradia, o que resultou, inclusive, em sérios problemas de drenagem.
Histórico da edificação
A Igreja de Nossa Senhora do
Desterro é mais conhecida
como Igreja de Santa Tereza
e está localizada em Olinda,
no estado de Pernambuco.
Foi construída pelo general
João Fernandes Vieira em
1661 como forma de cumprir
uma promessa, após a vitória
alcançada contra dos
holandeses na Batalha dos
Montes dos Tabocas. Em
1686 a igreja foi entregue aos
freis de Santa Tereza, de
onde vem seu segundo
nome, e ao seu lado foi
erguido o Convento de Santa
Tereza, mais tarde ampliado.
Características marcantes
O conjunto arquitetônico da Igreja Nossa Senhora do
Desterro e Convento de Santa Tereza foi o elemento
estruturador da urbanização no local. Apresenta
localização imponente no bairro, onde a partir dele e
da constituição da malha viária, o desenho urbano
foi tomando forma. As características volumétricas
do conjunto arquitetônico são marcadas por um
gabarito maior em comparação com o padrão
residencial da área. Apesar de seu complexo ser
formado por edificações construídas em diferentes
épocas, elas são marcadas pela horizontalidade, o
ritmo e a proporção simplista de sua arquitetura.
A edificação fica elevada do solo sobre uma base de
altura irregular – por causa dos desníveis do terreno.
A Igreja do Desterro tem sua fachada voltada para a
Igreja da Sé. Possui talhas em estilo Rococó, com
traços inspirados no altar do Mosteiro de São Bento.
No entanto, apesar de alguns reparos devido aos
trabalhos de conservação do patrimônio tombado,
foram observados em visitas e em análises de
imagens autorais que a pátina do tempo é
perceptível em sua fachada como por exemplo
rachaduras, tintas descascadas e a dissolução das
cores.
“É importante ressaltar
que este convento é um
dos dois únicos
exemplares da
Arquitetura Carmelitana
existentes no Brasil, que
registra a história, a
tecnologia e a estética
que marcaram esta
Ordem.” (PONCE DE
LEON, 2002).
Situação atual
A Igreja e o Convento de Santa Tereza são marcos visuais e simbólicos do bairro, desde sua construção. O conjunto
das edificações é formado pela junção do hospício, da igreja de Nossa Senhora do Desterro e do Colégio das órfãs.
Estas partes formam um único volume cuja disposição espacial gera um pátio frontal ao convento, de formato
retangular, para onde se abre uma das alas conventuais e a igreja. O centro do pátio é marcado pela presença de
um cruzeiro. Em análise de acervos fotográficos, observa-se a relação de transição desse espaço entre o público e o
privado e de imponente visibilidade do conjunto arquitetônico do bairro. Entretanto, visitas recentes demarcam
uma área marcada de barreiras visuais; os muros existentes entre o Convento de Santa Tereza e a Avenida Olinda e
entre o Convento de Santa Tereza e a Rua Duarte Coelho são elementos que dificultam a compreensão do
observador às relações existentes entre os diversos elementos urbanos do bairro, o que prejudicou a integridade da
relação visual que este tinha com a comunidade do entorno e com todos que passavam pela malha viária,
sobretudo porque este está situado na Avenida Olinda, um dos principais eixos de ligação entre Olinda e Recife.O
rebuscamento do Convento se encontra nos detalhes: no nicho de pedra entalhado com riqueza e primor, que
forma figuras complexas que saltam da empena da igreja e se convertem para o interior a fim de dar lugar à
imagem da Sagrada Família; as proporções utilizadas para o pináculo, adornos do tímpano e toda sorte de friso,
entraves e entablamentos dão um equilíbrio de texturas à fachada do convento.
Considerações finais
O conjunto como um todo mantém o mesmo estilo, apesar
das edificações não terem sido construídas na mesma época
ou com o mesmo processo construtivo. Sendo notável a
diferença porque com o passar do tempo houve a introdução
de novos elementos construtivos - platibanda, telhado
cerâmico etc - que não remetem ao estilo e época de
construção original. Houveram alterações para condizer com
os novos usos, como obras de reparo em 1835, para abrigar o
colégio das órfãs. Seguido disso houve o alongamento do
convento em 1863 para incorporar o centro profissionalizante.
Apesar disso não há alterações que possam comprometer a
autenticidade, não tendo reformas significativas neste século.
Não foram observados elementos que
comprometem o processo construtivo original,
levando-se em consideração que sua última
modificação significativa tenha acontecido em
meados de 1863, com a criação do Centro Social e
Profissional, citado pelo livro de Luiz Delgado. Entre
todas as reformas internas para abrigar novos usos,
poucos elementos foram modificados,
excetuando-se a aplicação de cerâmica na parede de
alguns ambientes internos.
O convento sempre teve uma relação de auxílio à comunidade, que
vai além da relação religiosa e assistencialista pertencente ao seu
caráter de igreja. Ainda na década de 1680, época em que os
carmelitas descalços eram responsáveis pelo local, eles auxiliavam
no cuidado com epidemias, "Destacam-se as funções sociais
assumidas desde a afixação dos Carmelitas Descalços no lugar,
onde os religiosos realizavam atividades de atendimento,
especificamente às vítimas das epidemias daquela época" (SCMR,
2007 apud SANTANA, 2012). Já em 2010, tal relação de assistência
com a comunidade ainda é perceptível, sobretudo, quando a escola
municipal que residia na Casa dos Pobres foi relocada para dentro
do complexo, quando esta teve suas atividades encerradas,
garantindo à comunidade a permanência do acesso à educação
(SANTANA, 2012).
Referências
● DELGADO, Luiz. O Convento de Santa Teresa em Olinda. Edição Ilustrada, UFPE: Recife, 1979.71p.
● MARTINS, Rafael. Intenções projetuais para espaços de uso público: Antigo povoado dos Arrombados. Dissertação de
Mestrado, UFPE. 1988.
● SANTANA, Michele. A Essência do Lugar em Santa Tereza em Olinda, um Estudo sobre identidade de lugares urbanos à
luz de Norberg-Schulz. Dissertação de Mestrado pelo programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano/
MDU-UFPE. 2012.
● SANTANA, Michele. Tramas do Presente, Recorte do passado: Os aspectos históricos do bairro de Santa Tereza de Olinda
- PE como Elemento de Compreensão da Dinâmica Urbana Contemporânea. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE. 2013.

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