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AÇORIANO ORIENTAL

DOMINGO, 21 DE OUTUBRO DE 2012


O Património perto de si 19
ENTIDADE PROMOTORA: DIREÇÃO REGIONAL DA CULTURA ENTIDADE GESTORA: CRESAÇOR ENTIDADES PARCEIRAS: MUSEU CARLOS MACHADO | INSTITUTO CULTURAL DE PONTA DELGADA
COORDENAÇÃO EDITORIAL: DIRETOR REGIONAL DA CULTURA CONSELHO DE REDAÇÃO: PEDRO PASCOAL (COORDENAÇÃO), DUARTE MELO, CÉLIA PEREIRA, ARTUR MARTINS E FILIPA GRELO

Igreja do Colégio do Jesuítas


de Ponta Delgada
A chegada dos primeiros padres jesuítas integração de partes do altar seiscentis-
à ilha de São Miguel ocorreu cerca de cin- ta anterior.
quenta anos após a fundação da Compa- A Igreja do Colégio foi, depois da ex-
nhia de Jesus. Aqui se estabeleceram em pulsão dos jesuítas, despojada de muitos
1591, na cidade de Ponta Delgada, onde se dos seus bens litúrgicos e artísticos, in-
constituíram em simples Residência que tegrados no património do Estado ou ven-
depressa foi elevada à dignidade de Colé- didos em hasta pública conforme ordem
gio. Para isso contribuíram as diligências régia, ficando no entanto o culto assegu-
dos habitantes e da Câmara local que con- rado por clérigos franciscanos até 1800.
correram com diversos donativos. Profanada então a igreja, os seus altares
Logo após o seu assentamento proce- laterais foram dispersos por outros tem-
deram os padres à edificação da necessá- plos da ilha bem como as restantes alfaias.
ria igreja, tendo a sua primeira pedra sido Dos bens do faustoso templo permanece-
lançada a 1 de Novembro de 1592, sob a ram quase só o altar-mor e algumas pin-
invocação de Todos-os-Santos. Desta pri- turas de temática jesuítica.
mitiva estrutura, edificada em quatro me- Em 1834, após ter tido várias utiliza-
ses, pouco se sabe, apenas que se situaria ções (entre elas de tribunal judicial), a
nas proximidade da actual e que teria igreja é adquirida por Nicolau Maria Ra-
mais de uma nave, pois Frei Agostinho de poso do Amaral, cujo pai fora já o com-
Montalverne refere nas suas crónicas que prador do edifício do Colégio. Os seus
possuía “colunas de pau”. Enriquecida descendentes aqui mantiveram o culto
com alfaias, paramentos e imagens, que dominical até à década de 1970, altura
testemunhavam a sua importância, nela em que o templo e parte do seu recheio
também se constituíram diferentes con- são doados à Câmara Municipal de Pon-
frarias com altar e rendimentos próprios: ta Delgada. Por sua vez, esta cederia em
a primeira foi a de N.ª S.ª da Vitória, fun- 1977 o espaço ao Governo Regional dos
dada pelos estudantes do próprio colégio Açores, para instalação do Núcleo de
jesuíta, e, depois, a de N.ª S.ª da Vida, dos Igreja de Todos-os-Santos, do Colégio dos Jesuítas de Ponta Delgada (Fachada, séc. XVIII). Arte Sacra do Museu Carlos Machado,
mestres de ofícios da cidade, a de Santo que após as necessárias obras de restauro
Inácio, que agregava os militares, e, a da parte da cimalha talhada em pedra com lo com seu monumental trono para ex- e adaptação abriria ao público a 18 de
de São Francisco Xavier, da Câmara de motivos de “ponta de diamante” e dois posição do Santíssimo, e complemen- Maio de 2006. 
Ponta Delgada que tomou o santo como pequenos nichos pétreos de feição re- tada com dois painéis de azulejos de pin- ANA FERNANDES
padroeiro da cidade. nascentista nas paredes laterais, postos tura figurativa a azul. A precipitada saída MUSEU CARLOS MACHADO
Face à crescente consideração que os a descoberto durante as últimas obras dos jesuítas, por ordem régia executada ana.mr.fernandes@azores.gov.pt
padres da Companhia entretanto al- de recuperação do edifício. em Agosto de 1760, deixaria no entanto
cançaram rapidamente aquela igreja se Durante o século XVIII a igreja sofre- estas obras incompletas, a fachada nun-
tornou pequena e pouco digna. Assim, ria significativas alterações decorativas, ca receberia o remate superior planeado
a partir de 1657, assiste-se à constru- fruto de uma “modernização” ao gosto do e a talha da capela-mor ficaria por dou-
ção de novo e mais amplo templo, este Barroco, efectuadas depois de 1737. No rar. Refira-se aqui que os elementos po-
agora de nave única e abóbada de berço. exterior, uma nova e exuberante facha- licromos lá existentes, ao contrário do
Desta construção seiscentista são hoje da foi aposta à primitiva, e, no interior, a que é correntemente aceite, não serão in-
visíveis alguns elementos, como a torre capela-mor foi revestida de magnífica ta- dícios de um interrompido processo de
do lado nascente e, no interior da nave, lha, desde o arco triunfal até ao retábu- douramento mas sim provável fruto da

São Francisco
Xavier e o Altar do
Milagre Senhor
das Águas dos Passos
Instituído por devoção de Nicolau Ma-
Do espólio jesuíta da igreja constam ria Raposo Amaral, então proprietário
três telas atribuídas a Bento Coelho da da Igreja e do Colégio dos Jesuítas, para
Silveira (1620-1708), pintor régio de D. albergar a imagem do Senhor dos Pas-
Pedro II, que retratam passos da vida sos que em 1846 viera da antiga e já
de São Francisco Xavier (1506-1552), profanada Igreja da Misericórdia de
um dos fundadores da Companhia de Ponta Delgada. Três anos depois este
Jesus e fervoroso missionário conheci- potável dulcificou o mar em volta com mandaria ainda vir de Lisboa uma ima- do altar foram iniciados em 1839 por
do como “Apóstolo do Oriente”. Uma um simples toque, salvando assim toda gem de N.ª Sr.ª da Soledade, que tam- António de Melo Pacheco, sendo finali-
dessas pinturas representa o “Milagre a tripulação. O relato testemunhal des- bém passou a integrar a procissão do zados em 1847 por João Albino Peixoto,
das Águas”, prodígio ocorrido durante te acontecimento seria decisivo, anos Senhor dos Passos que sob a sua protec- conhecido artista ribeira-grandense
uma viagem de barco para Malaca, mais tarde, no seu processo de canoni- ção se realizou em Ponta Delgada en- que se firmou no campo das artes e das
quando o santo ante a escassez de água zação ocorrido em 1622.  quanto viveu. O douramento e pintura letras. 

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