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Definição já no início: Antropofagia não enquanto um corpo coerente de ideias, mas enquanto
uma rica metáfora que animava parte do debate cultural brasileiro naquele momento.
“A antropofagia está obcecada pelo tema da identidade cultural nacional, a partir de um "nós",
cujas fronteiras são nacionais e multi-étnicas, a primeira pessoa do plural, sujeito e objeto de
todo o Manifesto. Ao procurar responder à questão básica sobre "o que somos" ou "o que nos
une", a metáfora antropófaga indica que o que nos une é o outro, é o fato de ele existir, de
termos interesse por ele e sobretudo de querermos devorá-lo. Já em seu inicio, o Manifesto
deixa isto claro: "Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.
Filosoficamente". E ainda: "só me interessa o que não é meu." Conclui-se que a cultura
brasileira não é, portanto, insular e voltada unicamente para suas raízes, para o solo nacional,
como a leitura superficial de outras passagens do Manifesto poderia deixar entender, nem, por
outro lado, se insere, de forma secundaria ou subordinada, numa civilização universal
centrada na Europa. Está não apenas aberta ao outro, mas preparada para devorá-lo.” (Almino,
1999, p. 41)
“Nossa abertura é feita através de bons dentés e de um grande estómago. Somos capazes de
devorar o outro e, com isso, de regenerar nosso proprio tecido, produzindo o novo.” (Almino,
1999, p. 42).
Comentário: Produção do novo, devorando o outro
“O Manifesto exprime uma utopia simultaneamente de volta ao passado, pois "antes dos
portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade", e de salto para o
futuro, através do domínio da ciência e da técnica. De fato, a revolução que propõe se volta
também para a modernização e esta não existe sem as conquistas da ciência e da técnica e sem
o progresso material.” (Almino, 1999, p. 42)
Comentário: Utopia com a junção do passado e o futuro. Felicidade de antes, mas chamando
atenção para as conquistas da ciência e da técnica. Barbaro tecnizado
Assim como não se faz, apesar das aparências, uma opção pelo primitivo contra o civilizado,
porque o primitivo é, pela subversão empreendida, moderno e civilizado, assim também com
a crítica as correntes ditas cosmopolitas, apêndices da Europa nos trópicos, cegas as
realidades e contribuições mestiças, indígenas e negras locais, não se faz uma opção pelo
nacional em detrimento do cosmopolita.” (Almino, 1999, p. 43)
“Existe, na antropofagia, uma abertura para o mundo, não apenas porque os valores nacionais
são afirmados através de uma linguagem moderna e de uma vanguarda de linhagem
cosmopolita, mas também porque é considerada fundamental essa assimilação dos outros.
Não se é brasileiro por oposição ao cosmopolita, mas, ao contrário, se é brasileiro porque
cosmopolita.” (Almino, 1999, p. 44)
Cosmopolitismo estaria inscrito no ser brasileiro, que é essencializado a partir dessa abertura
para o outro, pronto a devorá-lo.
Benedito Nunes: Anotações
Para a realização de uma análise das ideias que circulam no texto, o autor distingue três
planos analíticos no Manifesto: a crítica da cultura; o histórico-político e o filosófico. Trato
aqui, sobretudo, da crítica da cultura que estabelece, analisando a simbólica da repressão.
Crítica da cultura: sociedade brasileira surgindo a partir das oposições que a dividem, uma
polarização a partir da religião, moral e do direito que promovem uma primeira censura com a
Catequese e o Governo Geral. Descrição de um processo civilizatório de sublimação, por
meio de uma simbólica da repressão, com seus emblemas e símbolos míticos. Oposição destes
a símbolos míticos propriamente ditos, que saem de reservas imaginárias do inconsciente
primitivo, catalisadas em uma operação antropofágica que devora os emblemas de umas
sociedade. Liberação da consciência coletiva a partir desse processo antropofágico
(superação, em vista de uma autonomia intelectual). COMPARAR COM POEMA DE
ASCANIO LOPES. Contradição entre um e outro. O do Ascânio é uma epopeia da
colonização, mas tem uma sublimação da violência.