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CHRISTIAN CÔRREA FREIRE

ESTUDO DE CASO G.S: ESTÁGIO ESPECÍFICO III

Supervisão: Profº Giovani Piano

Preceptora:Profª Roberta Carboni

PORTO ALEGRE
2022

Introdução
O objetivo deste trabalho é descrever um estudo de caso realizado
através da Clínica Escola na área de Psicologia Clínica. O método adotado de
aplicação visa compreender e desenvolver hipóteses diante do contexto
apresentado através de entrevistas, instrumentos da TCC (Terapia Cognitiva
Comportamental), utilizando-se dados qualitativos que proporcionem
conhecimento e evidencias dos fenômenos apresentados. O estudo refere-se
aos dados coletados do estágio supervisionado realizado na Clínica-Escola de
Psicologia da Faculdade Anhanguera de Porto Alegre.

A paciente G.S. uma adulta de 29 anos, sexo feminino, estudante de


faculdade de fisioterapia. A demanda apresentada pela paciente surgiu do
encaminhamento pela clínica escola onde foi de livre manifestação relatando
várias queixas como: desânimo constante, baixa auto-estima, sono excessivo,
ansiedade, dificuldade de concentração e procastinação.

O estudo de caso incluíra relato da paciente através da avaliação


observada e subsidiada por dados colhidos e analisados no atendimento
psicológico, através de instrumentos técnicos: entrevista, observação,
intervenção verbal, técnicas e ferramentas terapêuticas da TCC. Os dados de
identificação da paciente estarão sobre sigilo e manifestados por letras. Todos
os dados demandados e documentação estarão sobre os cuidados da Clínica-
Escola de Psicologia da Faculdade Anhanguera.

Enquadramento Teórico

Aaron Beck médico psiquiatra e professor, foi o fundador do modelo de


TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) no final dos anos 60 e início dos
anos 70 e demonstrou a aplicação de seu modelo sobre depressão no livro
“Terapia Cognitiva da Depressão”, publicado em 1978. Em seu inicio de
trabalho Beck através de suas pesquisas demonstrou o conceito de “tríade
cognitiva negativa” o que possibilitou identificar perante os sonhos dos
pacientes as crenças negativas de “si”, do “mundo”, e do “futuro” onde a
sintomatologia emocional seria referente na depressão, (Knapp; Beck, p.56,
2008). O modelo Beck (TCC), busca elaborar arquétipos que expliquem a
psicopatologia cognitiva dos transtornos mentais, focando no processo de
informações e o cognitivo subjacente. De acordo com Knapp; Beck, (p.57,
2008): o princípio fundamental da TCC é que a maneira como os indivíduos
percebem e processam a realidade influencia a maneira como eles se sentem
e se comportam. Perante este modelo pode-se pressupor o ser humano
“ATIVO” e parcialmente determinado pelas suas estruturas e processos de
conhecimento. No entanto, de acordo com Knapp (p.21, 2007), a TCC baseia-
se na premissa de que a inter-relação entre cognição, emoção e
comportamento e está implicada no funcionamento normal do ser humano e,
em especial, na psicopatologia.

A TCC utiliza-se de instrumentos e técnicas que possam formular a


dinâmica do indivíduo em termos cognitivo sobre a dinâmica de seu
pensamento disfuncional, comportamentos problemáticos e fatores
precipitantes. O foco neste modelo é a reestruturação cognitiva que visa
identificar junto ao paciente as suas crenças centrais diante a problemática, as
distorções, cognitivas mais comuns e caracterização dos pensamentos
automáticos, reações emocionais e fisiológicas, e crenças disfuncionais. Para
Beck (1995), a reestruturação cognitiva traz que as sessões iniciais são
dirigidas à definição dos problemas dos clientes, elaborando-se a conceituação
cognitiva ou formulação do caso. A abordagem de TCC é uma das mais bem
estudadas e comprovadas em sua eficácia em várias comorbidades, mas é
preciso também que o terapeuta tenha conhecimento e habilidades como:
desenvolver a relação terapêutica; demonstrar habilidades terapêuticas e
compreensão acurada; compartilhar sua conceituação e plano de tratamento;
ajudar o paciente a resolver seus problemas e aliviar sua angustia; ênfase
positiva, Beck (p.37, 2013).

APRESENTAÇÃO DE DADOS
HISTÓRIA CLÍNICA

 Identificação: G.S
 Número De Sessões: 6
 Idade: 29 anos
 Natural: São Jerônimo/RS

G. S, no presente momento, reside com a mãe e recebe a visita esporádica do


pai. A examinanda se caracteriza por um comportamento distante para com a
mãe e o padrasto e tem problemas de relacionamento com pai por este não
fazer parte da vida desde sua infância a partir dos 5 anos, apesar de sentir-se
responsável pelo mesmo.

A examinanda cursa 10° semestre de fisioterapia na faculdade


Anhanguera de Rio Grande e atualmente sente muita dificuldade de fazer
leituras, concentrar-se, dificuldade de memorização e de estudar para provas e
trabalhos. Refere procrastinar e se distrair com facilidade. No trabalho é auxiliar
Fisioterapia, trabalhando 8 horas dia, tendo uma relação social estável apesar
de não interagir muito com colegas.

G.S apresenta, tristeza, ansiedade, estima baixa, sentimento de falha e


culpa, e pressão psicológica de cobrança interna, fadiga, alternância de ânimo
entre altos e baixos e também apresentando ideação de pensamentos suicidas.
Conforme relato paciente refere-se como sempre correta em suas ações o que
levam a conflitos internos de natureza ansiolítica quando confrontada. Os
sentimentos são intensos e são baseadas na troca em mesma proporção,
trazendo frustração quando não correspondido. Age de forma justa e faz um
olhar para outros, esquecendo-se de si.

Conforme descrita de G.S sua infância foi impactada pela separação dos
pais, e neste período possuía 5 anos em que justifica a motivação deste
rompimento pelo pai ser dependente químico na época o que desestabilizava a
convivência familiar. Um ano após a mãe casou-se com atual padrasto que
também era dependente químico, entretanto conseguiu superar sua doença
quando então a paciente possuía 10 anos. O padrasto assumiu e criou a
examinanda como se fosse filha e supriu as suas necessidades básicas.

Aos 14 anos foi morar com avós maternos por não querer morar com os
pais, sendo o motivo desencadeante brigas com a mãe. Gostava muito de
morar com os avós e era muito ligada a avó. A avó faleceu em 2012 o que foi
um grande impacto para G.S e ainda hoje sente-se em luto, chorando muito
quando menciona este assunto. Após falecimento da avó passou a cuidar do
avô por mais dois anos até então falecimento do mesmo. O avô também tinha
histórico de dependência química na família, G.S refere-se que não conviveu
com esta experiência e enfatiza que gostava muito do avô.

Em 2015 a examinanda passou por outro luto, a de seu irmão, o que foi
de grande impacto, por ser muita ligada ao irmão e sente sua falta até hoje.
Nestes momentos apresenta-se chorosa, apática e muito confusa em seus
pensamentos sem querer fazer nada.

Na vida social teve namorado dos 16 anos aos 21 anos e idealizou que
se casaria com o mesmo, mas a paciente se sentia na relação abaixo do
namorado, o qual tinha crises de ciúme e preferia ficar com amigas do que com
ela. O namorado não queria construir nada com a G.S o que foi prejudicando a
relação e levando ao seu término. Depois teve alguns breves relacionamentos
e teve problemas com outro namorado que não queria assumir uma filha o que
produziu posteriormente uma desavença com a ex do namorado. Este
problema prejudicou sua relação e levou ao término da mesma. G.S em todos
os relacionamentos se dedica muito e não sente a reciprocidade que gostaria,
cria muitas expectativas e ideias sobre relações tanto sociais como amorosas.

Em 2020 houve um desentendimento com o pai por este não se cuidar


sendo motivo era de estar doente e continuar nas mesmas condições quando
era criança. Neste momento desabafou quanto a conduta do pai que estava
prejudicando sua vida e dos outros e ofereceu sua ajuda para o pai deixar de
beber. G.s sente-se responsável pela situação do pai e sua dependência e
sente-se na obrigação de cuidar do mesmo toda vez que tem necessidade. A
relação de G.S com pai é de extrema angústia e sofrimento quando precisa
falar com este e sente-se mal com ansiedade extrema e deprimida.
G.S consultava psiquiatra através do sistema de saúde único entre 2018
e 2020, e fazia uso de Excitalopram 15mg e de uso constante neste período.
Nesta época foi diagnosticada pelo psiquiatra com Depressão e Ansiedade e
não continuou o tratamento em função da pandemia e sentir medo. Atualmente
não faz uso de medicação e sente-se em altos e baixos, passando por crises
de sentimentos como: baixa auto-estima, tristeza, procanistidora de tarefas,
ansiedade, não consegue ter atenção para estudar, insônia sem vontade de
fazer nada e refere-se a tudo isso como vindo em ondas.

Em 2021 teve novamente crise por não estar conseguindo dar conta por
trabalhar 16 horas por dia e estudar o que ocasionava dormir somente 3 horas
por noite. Suas crises segundo relato de G.S foram mais intensos, tendo crise
de depressão, ideação suicida forte, pânico e não queria mais viver. Foi
consultar novamente psiquiatra o que diagnosticou como depressão e pânico,
passando a medicação Venlafaxina em dosagem alta e Rivotril para crise de
pânico e ansiedade. No primeiro momento sentiu-se bem e os sintomas foram
diminuindo e após 3 meses a paciente relata que passou ter mais forte a
ideação suicida e outros sintomas que não a deixavam bem, o que a levou a
retirar a medicação.

No momento atual sua relação social se limita a mãe irmã e chefe de trabalho.
Encontra-se com problemas financeiros e trancou a faculdade e relata ter
impulsividade para compra de comida. Nas consultas de avaliação a paciente
foi educada e motivada tendo em alguns momentos altos e baixos em seu
ânimo, atendendo todas as solicitações. Possuí expressão verbal comunicativa
e clara.

HIPÓTESE DE TRABALHO:
A hipótese diagnóstica do paciente: Transtorno Bipolar Tipo I com Episódios de
Depressão Maior. De acordo com o DSM V a hipótese levantada preenche os
requisitos do cliente por apresentar episódios de mania e o preenchimento dos
seguintes critérios:

Episódio Maníaco:

1) Um período de humor anormal e persistente elevado, expansivo ou


irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou de energia...
2) Autoestima Inflada ou grandiosidade
3) Mais loquas que o habitual
4) Aumento da atividade dirigida a objetivos
5) Distratibilidade
6) Fuga de ideias
7) Envolvimento excessivo em atividade com elevado potencial para
consequência dolorosas,(compras, financeiro ...)
8) A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar
prejuízo..

Episódio Depressivo Maior:

1) Humor deprimido na maior parte do dia...


2) Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas
as atividades...
3) Perda ou ganho de peso...
4) Insônia ou hipersonia
5) Fadiga ou perda de energia quase todos os dias...
6) Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada
7) Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão
quase todos os dias...
8) Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida sem ter plano
específico...
(Critérios de diagnósticos conforme DSM V (Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais).

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL:

O Transtorno Bipolar I, é caracterizado por no mínimo um episódio


maníaco que pode ser precedido ou sucedido por episódios hipomaníacos ou
episódios depressivos maiores. A hipótese de ser Transtorno Depressivo Maior
(TDM) conforme o Manual de Diagnóstico Diferencial do DSM-V não se
caracteriza por apresentar episódios de mania neste caso, mas preenche os
requisitos quando está em fase depressiva.

INTERVENÇÃO:

O foco da intervenção focada para depressão foi através da Terapia


Cognitiva Comportamental (TCC) através da tríade cognitiva e as distorções
cognitivas levando em consideração o modelo de Beck. Os atendimentos foram
aplicadas técnicas referenciais a depressão como: reestruturação cognitiva que
visa junto ao paciente identificar suas crenças centrais diante a problemática,
as distorções cognitivas mais comuns e caracterização dos pensamentos
automáticos. Pelo paciente apresentar episódios de mania e ansiedade foram
usadas técnicas nas sessões como: respiração diafragmática; psicoeducação,
questionamento socrático, resolução de problemas, evocação de pensamentos,
vantagens e desvantagens, exame de evidências e Diagrama de
Conceitualização de Caso.

Durante o tratamento do paciente foi usada referencial teórico (Terapia


Cognitiva Comportamental). Segundo este modelo o sistema de psicoterapia é
baseado o qual o modo como o indivíduo estrutura as suas experiências o que
determina o modo que ele sente e se comporta. É um processo cooperativo de
investigação empírica, testagem de realidade e resolução de problemas entre
paciente e terapeuta. Propõe que os transtornos psicopatológicos decorrem de
um modo distorcido ou disfuncional de perceber os acontecimentos e esta
percepção distorcida que afeta o humor e comportamento. Foca teórico
caracteriza-se nos pensamentos, é orientado para presente, cooperativo,
educativa e exige os mesmos ingredientes essenciais que outras terapias. A
progressão da terapia se dá pela conceitualização de caso e utilizando-se de
solução de problemas, empatia e questionamento socrático dentre outras.

CONCLUSÃO:

O atendimento apesar de ser tardio apresentou evolução na vida do


paciente nas 6 sessões de avaliação e psicoterapia, já que havia limitações e
prejuízos disfuncionais que a paciente apresentava dificuldades para solucionar
problemas. O método terapêutico durante as sessões tem proporcionada a
paciente desenvolvimento de estratégias para lidar com suas dificuldades
disfuncionais. Ainda avaliamos para continuidade do tratamento já que existe
muitas demandas do próprio paciente a serem trabalhadas como sentimentos
de expectativas sobre o outro, visão negativa de futuro, ansiedades e vida
social. Neste caso a paciente deve ser encaminhada para reavaliar a
medicação com médico psiquiatra para ajudar no processo terapêutico e
estabilização de suas demandas.
BIBLIOGRAFIA

BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental. Artmed Editora, 2013.

Beck J.S. Cognitive therapy: basics and beyond. New York: Guilford Press;
1995.

KNAPP, Paulo; BECK, Aaron T. Fundamentos, modelos conceituais,


aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Brazilian Journal of Psychiatry, v.
30, p. s54-s64, 2008.

MANUAL, diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 (American


Psychiatric Association: tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento...etc al.);
revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli..(et al.) – 5. Ed.-Porto Alegre:
Artmed, 2014.

MANUAL, diagnóstico diferencial do DSM-V/Michael B. First; tradução:


Fernando de Siqueira Rodrigues; revisão técnica: Gustavo Schestatsky.-Porto
Alegre: Artmed, 2015.

Wainer: Especialização em terapia cognitiva comportamental: Porto Alegre,


2021.

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