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AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA - ADULTO E IDOSO

ANAMNESE

Patricia Pimentel Gomes


Psicóloga Clínica e Neuropsicóloga

Professora e Supervisora nos cursos de Especialização em Neuropsicologia do Hospital Israelita Albert Einstein e de formação
em Reabilitação Neuropsicológica pelo Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da FMUSP
Professora no curso de Especialização em Reabilitação Neuropsicológica do Hospital Israelita Albert Einstein

Especialista em Neuropsicologia e formação em Reabilitação Neuropsicológica pela Divisão de Psicologia do Instituto Central
do HC FMUSP
Formação em Reabilitação Multiprofissional de Adultos com Deficiência Física e Motora pela AACD

2022
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

É uma investigação clínica com o objetivo de esclarecer questionamentos a respeito


do funcionamento cognitivo, comportamental e emocional do avaliado.

A entrevista clínica (anamnese) busca investigar a hipótese que desencadeou a


necessidade da avaliação neuropsicológica. Mas, no curso desta entrevista, novas
hipóteses podem ser lançadas.

Uma anamnese bem conduzida simplifica o processo de testagem, permitindo a


escolha adequada dos instrumentos a serem utilizados, a fim de responder hipótese,
seja para confimá-la ou refutá-la.

Trevisan, B.T., Campanholo, K.R., Serrao, V.T..


INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA

O auxílio em investigação diagnóstica se baseia em informações obtidas através de:


Do que consta uma AN:

ü Dados relevantes de história Relevantes em termos neuropsicológicos (cognitivos e comportamentais, não


somente considerar o emocional
da aplicação e correção de testes e
ü Medidas quantitativas de diferentes habilidades cognitivas quantificação (cálculo de percentil, análise de
classificação de resultados etc)
ü Observação de comportamento (dados qualitativos) qualitativo como tudo o que observa-se durante todos
os encontros da avaliação (emoções e comportamentos,
dados de observação que sejam importantes)
ü Interpretação correta dos sintomas e sinais e também dos resultados obtidos nos
testes aplicados
AN é treino, o olhar vai sendo aprimorado ao longo da experiência
ETAPAS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

1) Realização da entrevista de anamnese para a coleta de informações 1ª etapa

2) Aplicação dos testes, questionários e escalas

3) Análise quantitativa e classificação de desempenho (através de medidas


estatísticas) correção dos testes

4) Elaboração do laudo com a interpretação de todas as esferas cognitivas avaliadas e


a sugestão da hipótese diagnóstica

5) Realização da entrevista devolutiva


ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

1) Etapa do exame neuropsicológico em que se pesquisa sobre os sintomas e


sinais cognitivos e comportamentais do paciente tentar entender a partir da performance nos testes o porquê do
pcte estar apresentando comportamentos X ou Y

2) Pressupõe uma investigação detalhada da história clínica/neuropsicológica do


paciente Importante uma entrevista completa, que conste todas as infos importantes, não necessariamente (e pouco
indicado) que seja grande. Entre 2 - 3 pgs

3) É de suma importância para um auxílio diagnóstico correto sobre os transtornos


que afetam a cognição

4) Permite uma observação inicial sobre o nível de colaboração e de capacidade


de insights do paciente

5) É quando se inicia uma relação de confiança com o paciente e seu


acompanhante.
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

6) Orienta o planejamento e a seleção dos testes (incluindo possíveis adaptações e a


previsão de tempo necessárias)

7) Auxilia na interpretação dos resultados dos testes, fornecendo informações para um


possível diagnóstico diferencial

9) Informa sobre o impacto das dificuldades no cotidiano do paciente

10) Auxilia nas decisões futuras para o processo de reabilitação


ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

“Na Avaliação Neuropsicológica os resultados dos testes, terão significado clínico e


prático somente quando analisados e interpretados juntamente às informações obtidas
sobre o contexto pessoal, acadêmico, ocupacional do paciente e dos comportamentos
observados durante a entrevista ”
Lezak et al, 2004

Ou seja, aplicar qualquer um aplicas mas interpretar o teste e saber o que faz com isso, é
outros 500
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

É importante ressaltar que...

Ø Não se trata de uma conversa comum

Ø Tem objetivos específicos

Ø Requer algum conhecimento sobre diagnósticos neurológicos e psiquiátricos

Ø Requer algum conhecimento sobre Neuropsicologia

Ø Envolve observação
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Ø O avaliador conduz as perguntas e o paciente responde as mesmas (podendo ser


auxiliado pelo acompanhante) acompanhante confiável - que saiba responder corretamente as questões
relacionadas ao pcte
Ø É importante que se tenha um roteiro para o direcionamento da entrevista

Ø Deve-se incentivar o relato das informações de modo preciso e detalhado.


ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Ø O tempo de duração ideal para a anamnese é de no máximo 02 horas

Ø É importante promover a colaboração e o bem estar do paciente (e do seu


acompanhante) durante a entrevista

Ø Deve-se esclarecer as circunstâncias que motivaram o exame (contexto médico ou


jurídico)

Ø Deve-se obter a compreensão cronológica dos sintomas e a velocidade de


progressão dos mesmos Verificar desde quando os sintomas começaram
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Ø Cabe seguir uma sequência de esferas cognitivas a serem investigadas

Ø É preciso “explorar” cada uma das esferas de modo detalhado pedir exemplos

Ø Podem existir outras perguntas, além daquelas que compõem o roteiro, desde
que sejam pertinentes à avaliação neuropsicológica

Ø É importante a empatia
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Ø Anotar todas as informações relevantes!

Ø Não é recomendável fazer gravações em áudio, mas se houver esta prática é


preciso o consentimento por escrito para uso das informações

Ø Durante a entrevista, deve-se fazer observação qualitativa do paciente (nível de


alerta, modulação da voz e expressões faciais, habilidade motora, linguagem,
memória e humor, etc.)
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Ø Utilizar questionário por escrito durante a entrevista clínica e também solicitar que o
acompanhante responda um questionário por escrito (com data e assinatura) como
modo de defesa jurídica, se necessário

Ø A aplicação de um questionário por escrito para o acompanhante não substitui a


entrevista presencial

tem que perguntar sobre cada item da anamnese e se não há


queixas isso deve ser relatado, porque mostra que perguntamos
sobre

colocar queixa e ausencia de queixa, SMP


ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Em alguns casos pode haver diferença entre as informações do paciente e do seu


acompanhante no que se refere à:

mais comum em idoso com suspeita de


Ø causalidade de seus sintomas (supervalorização ou minimização) demência

Ø Dificuldade para lembrar-se dos sintomas e histórico médico (com possível


interferências de humor negativo)

Ø Respostas prolixas ou objetivas demais

Ø Falhas de julgamento temporal


ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Entrevista com informante confiável (familiar ou acompanhante


que conviva com o paciente)

Ø Informantes geralmente fornecem dados detalhados

Ø Pacientes podem estar esquecidos, relutantes ou resistentes, ter anosognosia


ou até mesmo simular informações diferente da anosognosia (que é um quadro neurológico e não um
mecanismo de defesa do tipo negação)

Ø Não obter dados relevantes de história com um informante confiável pode


gerar erro diagnóstico.
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Entrevista com informante confiável (familiar ou acompanhante


que conviva com o paciente)

Muitas vezes é mais adequado se fazer a entrevista com o informante em


separado do paciente porque:

Ø Informantes podem estar resistentes em relatar a história na presença do paciente

Ø Evita-se confrontação e possíveis conflitos, evita-se deixar o paciente triste com a


exposição, etc.
ANAMNESE (ENTREVISTA CLÍNICA)

Entrevista com um familiar ou acompanhante


que conviva com o paciente

Paciente
+ Paciente Familiar
Familiar

Recomendável entrevista Obrigatória a entrevista


Apenas quando não for
complementar com o complementar com o
possível a entrevista
familiar através de familiar através de
também
questionário por escrito ou questionário por escrito ou
com o paciente.
presencialmente. presencialmente;
ANAMNESE - ROTEIRO

Histórico Social

ü Naturalidade e procedência (influências regionais/culturais)

ü Idade, estado civil e descendentes (rede de apoio)


nos trás indicios de
ü Escolaridade Perfil cognitivo prévio

ü Profissão e ocupações (habilidades prévias)

ü Dificuldades prévias do paciente

Reserva Cognitiva do Paciente


ANAMNESE – ROTEIRO Quando a queixa
começou. Vem
piorando (lento ou
rapidamente?) - isso
Histórico da Doença Atual nos ajuda a pensar
hipóteses diagnósticas
ü Investigar e compreender a cronologia dos aparecimento dos sintomas

ü Tipo de progressão (se houver): lento e gradual ou rápido e progressivo

ü Funcionalidades prévia e atual: pagar contas, preparar refeições, lembrar de


compromissos, fazer compras, tomar medicações, andar e dirigir, higiene
pessoal, ficar sozinho em segurança

ü Queixas subjetivas x Anosognosia pcte nao tem noção do seu quadro. e há graus

Quando perguntarmos: toma banho sozinho, dirige, se veste sozinho


etc - é importante perguntar: FAZ COM QUALIDADE? ou alguém
precisa rever?
ANAMNESE - ROTEIRO
Histórico da Doença Atual

Tipos de Sintomas: atenção, memória, linguagem, disfunção executiva, viso


percepção e viso espacial, de comportamento

Memória: memória de curto prazo (amplitude atencional ou memória operacional),


memória de longo prazo para eventos, memória para nomes e palavras, etc.

Sintomas Disexecutivos: raciocínio e julgamento, flexibilidade mental, resolução de


problemas

Alterações Sensório-Motoras: dificuldades de marcha, quedas, dificuldades de escrita,


tremor, rigidez motora, movimentos repetitivos, paresia ou plegia de membros,
incontinência urinaria e/ou fecal.
ANAMNESE - ROTEIRO

Histórico da Doença Atual


pode ser caract. de curso de algum outro
quadro sem ser depressão
ü Alterações Comportamentais: controle do comportamento, apatia, desinteresse,
irritabilidade, empatia, inadequações sociais, exacerbação das características de
personalidade, desinibição e impulsividade, alucinações visuais Há acidentes/transtornos que podem
trazer à tona caract. que já existiam
de forma mais latente, ou uma
ü Alterações de Humor: depressão e ansiedade mudança de personalidade

ü Hábitos Alimentares: preferências alimentares, aumento ou diminuição do


apetite

ü Hábitos de Sono: presença de distúrbios do sono


ANAMNESE - ROTEIRO

Histórico Médico Pregresso e Comorbidades

ü Conhecer histórico de doenças neurológicas: crise epiléptica isolada ou epilepsia, TCE,


AVE ou AIT, tumores cerebrais, encefalites (HIV e Sífilis), neurocirurgia e tratamento
quimioterápico e radioterápico

ü Conhecer o histórico de doenças metabólicas: hipertensão arterial sistêmica,


dislipidemia, alterações de tireoide, deficiência de vitamina B12

ü Doenças cardíacas: cirurgias cardíacas, coronariopatia, fibrilação atrial, arritmias


cardíacas

ü Conhecer histórico de transtornos do humor e transtornos psiquiátricos: depressão,


ansiedade, TOC, TAB, transtornos psicóticos e transtorno de personalidade
ANAMNESE - ROTEIRO

Medicações Atuais

ü As vezes os pacientes negam as doenças, mas relatam fazer uso de medicações

ü Certas medicações podem causar “sintomas” cognitivos

Antibióticos, benzodiazepínicos, anti-histamínicos e anticolinérgicos podem causar


confusão mental, insônia ou sonolência excessiva (idosos)

ü Verificar automedicação para depressão e ansiedade

abuso de benzodiazepínicos e opióides


ANAMNESE - ROTEIRO
Hábitos de Vida

ü Tabagismo Prévio ou Atual (risco para doença cerebrovascular)

ü Etilismo (uso de álcool excessivo pode causar síndrome de Wernicke- Korsakoff, uso
moderado e crônico causa disfunções frontais, alterações leves de memória são
potencializadas com o uso de álcool)

ü Outras substâncias psicoativas

ü Atividade Física Prévia e Atual (atividade física previne o declínio cognitivo)

ü Rotina Típica: solicitar ao paciente que descreva um dia típico (do acordar ao dormir),
além de atividades de laser e sociais.
ANAMNESE - PACIENTE FICTÍCIO
Paciente X, 32 anos, destro, compareceu em meu consultório acompanhado de sua esposa (Y, 28 anos)
para realização de avaliação neuropsicológica. Veio encaminhado pelo Dr. W, médico neurologista, a
fim de investigar o perfil cognitivo atual, devido queixas de memória e linguagem somadas à alterações
de comportamento após episódio de hemorragia cerebral.
Dados de história relevantes foram obtidos com o próprio paciente e sua esposa através de entrevista
e também através da aplicação de um questionário respondido por escrito pela mãe do paciente (Sra.
Z, 68 anos). Consta:
X está casado há 03 anos, não possui filhos, é natural e procedente de Vitória da Conquista (BA) onde
reside com Y. Cursou ensino Superior completo, com formação em Direito e possui pós-graduação em
Processo do Trabalho. Até a data da lesão, X estudava para concursos públicos voltados ao cargo de
Procurador Geral do Estado e suas atividades de lazer eram prática de musculação em academia,
realização de trilhas de bicicleta e jogos de futebol.
Histórico Clínico/Queixas Neuropsicológicas Atuais: Paciente foi vítima de acidente vascular encefálico
hemorrágico (AVEh) em 04 de novembro de 2010, quando andava de bicicleta com amigos, ficando
inconsciente por pouco mais de 24 horas. A partir deste fato, a mãe e a esposa de X observaram
mudanças em seu comportamento referindo que o mesmo está menos impaciente e com diminuição
da iniciativa. Atualmente, Sra. Z e Y também perceberam X bastante ansioso e preocupado com o
episódio do AVE. Paciente tem histórico de personalidade forte caracterizada por impulsividade,
intolerância, perfeccionismo e importante senso de responsabilidade. Ambas referiram que em
situações de interação pessoal X se mostra cordial e educado.
Sra. Z e Y observaram dificuldade de atenção e descreveram que X não consegue se concentrar em
diversas atividades, tais como: assistir TV ou ler, seguir uma conversa sem perder o fio da meada ou se
atentar a atividades que lhe sejam prazerosas. Relataram ainda que X não consegue retomar uma
atividade após ser interrompido/distraído.
Mãe e esposa referiram comprometimento de raciocínio lógico e alterações de memória para fatos
recentes. Disseram que X faz a mesma pergunta diversas vezes, sem recordar as respostas recebidas.
Também perceberam desorganização temporal, principalmente no que se refere ao dia do mês e
horário do dia.
X demonstra dificuldade de leitura e expressão verbal, com frequentes trocas de palavras. Em situações
de conversa, repete palavras que acabou de ler ou ouvir de alguém. O pensamento está tangencial com
perda de meta durante o discurso. Sra. Z e Y referiram que X inicia as conversas falando sobre
determinados assuntos e completa o pensamento falando de outros assuntos. A compreensão verbal
também lhes pareceu prejudicada e as mesmas justificaram isso dizendo que o paciente por vezes não
segue comandos verbais e inverte a realização de uma atividade que lhe foi solicitada pela realização de
outra que não lhe foi pedida. No entanto, mãe e esposa relataram que com o passar dos dias há gradual
evolução do quadro cognitivo geral.
Paciente está afastado de suas atividades profissionais e não pode dirigir por ordem médica. Não
manipula nem administra suas finanças, embora se interesse por acompanhar as próprias transações
bancárias realizadas através da Internet. Todavia, consegue controlar o uso de suas medicações.
Atualmente, X está fora de sua cidade de origem e não possui uma rotina fixa. Suas atividades estão
centradas em consultas com a neuropsicóloga para a realização deste exame e em consultas médicas
visando a realização de outros exames complementares.
Sra. Z e Y não trouxeram queixas quanto ao apetite e/ou ciclo sono-vigília do paciente. Entretanto,
relataram que X referiu cansaço físico com frequência. O mesmo percebeu seu hemicorpo esquerdo com
diminuição de força. Paciente faz uso de lentes corretivas com oclusor no olho esquerdo devido Diplopia
(visão dupla).
X nega hábitos tabagista e etilista, assim como uso de substâncias psicoativas.
Medicações de uso regular: Seroquel®
Antecedentes clínicos pessoais: nada consta.
Antecedentes familiares: AVE (avô paterno), câncer (avós materna e paterna), Hipertensão Arterial
Sistêmica - HAS (mãe), doença psiquiátrica não especificada (primo paterno).
Exames de neuroimagem:

Angiorressonância Magnética do Crânio (mês/ano): constam ...


Tomografia Computadorizada de Crânio (mês/ano): constam...
Ressonância Magnética de Crânio (mês/ano): constam...
Obrigada!!!
psico_patyp@hotmail.com

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