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LÍRICA DE CAMÕES

Temáticas:
As temáticas mais recorrentes na lírica camoniana são:

- O retrato da mulher amada

- O amor

- A natureza

- O desconcerto do mundo em particular (reflexões pessoais)

- A mudança

- O desconcerto do mundo em geral

O retrato da mulher amada

Nestes poemas, Camões escreve acerca da mulher amada. Descreve-a, segundo o modelo
petrarquista clássico, como uma mulher de pele clara, cabelos loiros, olhos claros, face rosada
e lábios vermelhos. Emocionalmente, é uma mulher tranquila, doce, que lhe transmite
serenidade. O seu sorriso é leve, os gestos suaves, ri apenas levemente, sem nunca exagerar
no comportamento (comedimento). Ela é uma figura etérea, profundamente graciosa e
espiritual, que transforma a existência do poeta, porque a sua ausência impede-o de saborear
a beleza à sua volta e fá-lo sentir-se angustiado e perdido. É a mulher anjo vista sob uma
perspetiva sobrenatural, pois ela tem o poder de serenar o vento com o olhar, faz nascer as
flores pela sua presença e até comove as árvores.

O amor

Nos poemas incluídos nesta temática, Camões procura definir o sentimento amoroso. Não se
dirige a ninguém em particular, apenas descreve o que sente aquele que está apaixonado.
Como tal, os sentimentos dominantes são de inconstância e de contradição interior, numa
cadência de paradoxos que o impedem de sentir paz e tranquilidade. O poeta sente-se
dominado por uma força muito superior (o amor), que é a culpada da angústia que o domina e
que o faz sentir vontade de chorar e de rir simultaneamente, de ficar e de partir, de lembrar e
de esquecer, etc.

A natureza

Os poemas desta temática descrevem uma natureza bucólica e tranquila (Locus Amoenus),
com águas cristalinas que correm pelos campos, animais a pastar tranquilamente, campos
verdes, nuvens brancas. Os cenários naturais que rodeiam o sujeito poético são descritos com
pormenor durante a luz do dia (amanhecer, tarde, anoitecer) e irradiam beleza e serenidade.
Apesar da beleza transformadora que vê, o poeta normalmente acaba o poema a confessar
que é incapaz de desfrutar e apreciar plenamente o momento, porque a sua amada está
ausente. Ela é o elemento-chave que o pode fazer sentir-se plenamente feliz.

O desconcerto do mundo em particular (Reflexões Pessoais)

São os poemas em que Camões revela uma profunda tristeza e desânimo em relação à sua
vida presente. A sua depressão é tão grande que renega o dia em que veio ao mundo, dizendo
que esse dia nunca deveria ter existido. A sua vida é um cúmulo tal de desilusões e de
sofrimento angustiantes que o fazem desejar a morte depressa. Nenhum dos seus sonhos e
expectativas se realizou. Analisa o presente e não o passado.

A mudança

O sujeito poético reflete acerca das mudanças que foi vivendo ao longo da vida. Normalmente
em espiral descendente, reconhece que os seus sonhos de juventude se transformaram em
desilusões e sofrimento, conduzindo-o ao desalento atual. Compara-se com a natureza por
contraste, pois ela renova-se do inverno para a primavera, da morte para a vida, ao passo que
ele fez o percurso inverso e foi do sonho da juventude para a tristeza do presente. Reflete
acerca das causas da sua infelicidade e percebe que o destino trabalhou em conjunto com as
suas más escolhas e com as desilusões amorosas para o levarem ao estado em que se
encontra.

O desconcerto do mundo em geral

Num mundo que se transformou rapidamente (séculos XV e XVI) graças aos descobrimentos e
às trocas comerciais que daí resultaram, muitos enriqueceram economicamente, mas
empobreceram moralmente. Abundam agora a corrupção, a ganância, a falta de amor ao
próximo e de respeito, a inveja e a ostentação, tudo sentimentos e comportamentos que
Camões abomina e com os quais não se identifica. Sente-se sozinho num mundo em
decadência que ficou cego pela sede de poder. Critica os líderes religiosos e os que governam
politicamente pelos seus interesses pessoais e não pelo bem comum, critica a sociedade da
sua época. Segundo os modelos do renascimento, o poeta analisa o mundo em que vive com
um olhar crítico e analítico.
Características da lírica camoniana:

A obra lírica camoniana é marcada por uma dualidade: por um lado, a poesia de carácter
trovadoresco dos cancioneiros, por outro, as novas composições introduzidas pelo
Renascimento.

Lírica Tradicional (Poesia Trovadoresca)

Poemas escritos em redondilha menor ou maior (5 ou 7 sílabas métricas respetivamente), em


que as situações descritas são relacionadas com o quotidiano rural, como a ida à fonte, a
submissão à mulher amada ou as situações humorísticas e satíricas relacionadas com
acontecimentos do dia-a-dia.

Formas estróficas da poesia tradicional utilizadas por Camões:

Na poesia camoniana de influência tradicional, as composições poéticas apresentam um mote


(verso ou conjunto de versos que é usado como desafio poético e apresenta o assunto que
será desenvolvido ao longo do poema) e voltas (estrofes que desenvolvem a ideia apresentada
no mote).

Formas poéticas mais utilizadas:

Vilancete – mote de 2 ou 3 versos, seguido de uma ou mais voltas, cada uma com 7 versos. O
último verso de cada volta repete o último do mote.

Cantiga – mote de 4 ou 5 versos, seguido de várias voltas de 8, 9 ou 10 versos. O último verso


de cada volta repete o último do mote.

Esparsa – Não tem mote e é constituído por apenas uma estrofe de 8 a 16 versos em
redondilha maior (7 sílabas métricas).

Endecha – Não tem mote e é constituído por estrofes de 4 ou 8 versos em redondilha menor (5
sílabas métricas).

Lírica de inspiração clássica (Renascimento)

As temáticas da mudança, do desconcerto do mundo, a descrição da mulher amada segundo o


modelo petrarquista, o tema da Natureza e do amor e suas contradições, são características da
poesia clássica do Renascimento.

Formas estróficas da poesia clássica utilizadas por Camões:

Os versos da poesia clássica são maioritariamente decassilábicos (10 sílabas métricas),


sobretudo nos sonetos.

Formas poéticas mais utilizadas:

Soneto – poema breve com 2 quadras e 2 tercetos em que o último terceto é uma chave para
compreender o que foi dito antes (chave de ouro).

Canção – composição longa própria para meditação ou desabafo.


Elegia – poema de tom lamentoso e triste.

Ode – poema que se destina a homenagear ou enaltecer uma pessoa

Écloga – poema pastoril, bucólico, muitas vezes, em forma de diálogo.

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