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A Respiração como Caminho de Cura – Parte 7

Modo de agir e objetivos da respiração associada

Agilidade interior
Muitos dos nossos problemas surgem porque nos fixamos em situações
unilaterais de vida.
Vivemos sós e sofremos de solidão ou vivemos num relacionamento e
sofremos de prisão simbiótica.
Esses extremos mantêm muitas pessoas presas.
Quando elas sofrem tanto que finalmente estão prontas para mudar, não
raro caem no extremo oposto e ficam novamente presas.
Os que sofrem de bulimia não querem comer nada ou impingem
quantidades enormes de alimento a si mesmos.
O alcoólico bebe até perder a consciência ou, numa cura de abstenção, é
reeducado à total abstinência.
O maníaco depressivo mergulha em seus próprios mundos sombrios ou na
fase maníaca é enlevado pelo próprio entusiasmo.
Nossa vida sentimental sofre igualmente de unilateralidade.
A assim chamada "síndrome de não futuro" mantém as pessoas frustradas e
presas do pessimismo.
O mundo do pensamento positivo é contrário a essa disposição de
decadência e da exagerada e insana mania de ver tudo cor-de-rosa.
Enquanto a geração de não futuro não quer saber nada sobre a alegria de
viver e o otimismo, os assim chamados "pensadores positivos" tendem a
reprimir sentimentos negativos.
O mesmo tema arquetípico forma a base dos dois extremos de acordo com
a lei da polaridade.
Quanto mais unilateral for a execução e o quanto mais veementemente for
defendida, tanto mais tendemos a cair no extremo oposto nos esforços de
mudança.
A exclusão da situação momentânea significa falta de liberdade e dor no
âmbito corporal e psíquico.
Esse estilo de vida se assemelha a um elevador com um único peso.
O peso cai, lança o elevador para cima e o prende no andar de cima.
A única chance de se libertar consiste em separar o peso e o elevador, o
que faz com que o elevador desça e fique firme no andar térreo, pois
demora certo tempo para levar o peso para cima e prendê-lo novamente.
O jogo recomeça.
E, sempre, outra vez, os implicados consideram desagradavelmente
trabalhoso trocar de um andar para o outro, ou seja, entre os polos.
Para podermos nos mover em diferentes âmbitos da nossa vida emocional
precisamos de um segundo peso contrário, igualmente pesado.
Se não quisermos viver a situação extrema unilateral como duradoura,
temos de aprender a mudar flexivelmente para cá e para lá.
Por exemplo, é necessário delimitar-se num momento, para poder
novamente lidar com o parceiro no momento seguinte.
O equilíbrio resultante nos dá a chance de decidir independentemente, por
meio do menor adiantamento, até que andar queremos ir.
Encontramos a medida correta à proporção que conhecemos os diferentes
tipos de forças vitais e aprendemos a usá-los.
Para alcançar esse estado precisamos ser capazes de decidir a qualquer
momento.
Nisso a respiração associada pode ajudar.
Os extremos (também da respiração) apresentam os dois lados da mesma
moeda, e cada tentativa de preferir um polo tem de fracassar.
A voz popular diz: "O objetivo do tolo é muito pouco e é demais."
Em primeiro lugar, com a respiração associada entramos naquele terreno
desconhecido das nossas próprias possibilidades adormecidas.
Como a respiração desperta sensações, por assim dizer, ela dá uma visão
prévia de tudo o que vem e, por exemplo, mostra como será o contato com
os âmbitos repletos de medo da vida.
Esse efeito aparece de modo semelhante na vivência das imagens
interiores.
Nós recebemos um antegosto de qual efeito o passo que vamos dar terá na
nossa vida.
Por meio da respiração associada podemos sentir algo que talvez ainda não
tenha acontecido na nossa vida exterior.
A respiração também estimula o nosso conhecimento interior atemporal e
gera uma ligação entre diferentes partes do ser.
A experiência da respiração é, por assim dizer, a pedra no meio do rio que
queremos atravessar.
Nela podemos aterrissar e saltar de novo para alcançar a margem oposta.
Com a experiência da respiração associada podem se abrir novos
horizontes, mas eles não são o ponto final desse processo.
Quando se trata do conhecimento de situações concretas da vida exterior,
só a mudança de posição real leva à solução.
Se alguém quer perdoar uma traição do parceiro, somente no encontro com
o parceiro saberá se essa história realmente está encerrada para ele.
Pois só se perdoar realmente o parceiro e também pronunciar as palavras e
as sentir, poderá haver de fato uma solução.
Mas o pressuposto é o reconhecimento da própria participação no problema
existente.
Trata-se da vivência da realidade interior.
Com isso dificilmente se encontrarão depoimentos gerais.
Como a respiração associada apresenta um processo vivo, ela não se
deixará organizar e delimitar no sentido científico, e é exatamente nisso que
está sua grande força.
Viver significa aceitar a constante mudança, e é exatamente essa
inconstância da nossa existência que nos amedronta.
Ela não se deixa pressionar em formas racionais, pois nisso se romperá.
O que sabemos se torna não sabedoria.
Todas as verdadeiras escolas filosóficas ensinam com imagens e paradoxos.
O conhecimento racional intelectual nunca teve um acesso a esses âmbitos
da existência humana e nunca o alcançará.
Todas as tentativas nessa direção lembram a tentativa de voar, de chegar
ao ar livre através de uma placa de vidro.
O sujeito vê o objetivo, a liberdade, constantemente diante de si e,
contudo, não sabe o que o impede de chegar lá.
Mudanças de padrão
Um amplo campo de oportunidades de cura proporcionadas pela respiração
associada se abre pelo conhecimento dos padrões de comportamento
arraigados e que trazem sofrimento.
Problemas na lida consigo mesmo e com os semelhantes surgem devido ao
apego inconsciente às tentativas de solução que não funcionam.
Por exemplo, encontramos um caminho praticável para nos aproximarmos
do sexo oposto na puberdade.
Esse caminho pode não ter sido ótimo, mas é sabido que o sucesso justifica
os meios, principalmente numa difícil situação de transição.
Assim que constatamos que a própria "malha" é bem-sucedida, nós a
mantemos e não procuramos outras formas de comportamento.
Mas pode ser que esse tipo de manifestação e comportamento seja
adequado para uma pessoa na puberdade, mas não mais para uma pessoa
de 30 ou 50 anos.
Por assim dizer, sobrevivemos ao nosso próprio padrão e em algum
momento temos de abandonar a via preservada para que a nossa
personalidade seja adequada.
Se hesitarmos demais em dar esse passo, ficaremos pendurados e fixos.
A mudança de padrão é um problema geral da psicoterapia.
Muitos conceitos bons em si mesmos, como talvez a psicanálise, mas
também raciocínios da moda como o processo da quadrinidade, fracassam
nesse ponto.
Com a imagem de um rastro entranhado das rodas de um carro queremos
tornar esse tema mais claro.
Imaginemos que todos os dias viajamos um trecho de A até B de jipe, o que
sempre deixa exatamente a mesma marca na rua de areia.
Quanto mais usarmos esse trecho, tanto mais profundas serão as marcas
da passagem.
Em algum momento serão tão fundas que o assoalho do jipe toca o chão da
rua entre as marcas e é brecado, até que finalmente para e não pode ir
para a frente nem para trás.
No sentido figurado, constatamos que o nosso comportamento
absolutamente já não concorda com a nossa personalidade e nos vemos
obrigados a percorrer novos caminhos.
Agora temos de investir algum esforço para "desatolar o carro".
Podemos providenciar um guincho para libertar o jipe da sua infeliz situação
e colocá-lo novamente na rua ao lado das marcas de pneus.
Se continuarmos a viagem, precisaremos prestar muita atenção para não
escorregarmos para as marcas e atolarmos outra vez.
Se percorrermos o nosso trecho de volta para B, existe o constante perigo
de recair no velho padrão.
Mas quanto mais vezes deixarmos uma nova marca no velho caminho,
tanto mais profunda será essa marca também.
Portanto, o melhor seria usar a cada vez um outro rastro.
Então também não seria nenhum problema usar aquele primeiro rastro de
passagem que uma vez se transformou em prisão, pois agora nós somos
capazes de abandoná-lo a qualquer momento.
Com os nossos padrões psíquicos acontece exatamente o que ocorre nesse
exemplo.
Simplesmente não é possível jogar fora nossos antigos padrões, pois eles se
enterraram com muita profundidade na nossa consciência durante o curso
dos anos.
Também não podemos simplesmente deixá-los de lado, como a medicina
alopática sempre faz, pois assim eles se mantêm, mesmo que seja ao lado.
Mesmo se treinarmos novos modelos, como tenta a terapia
comportamental, corremos o perigo duradouro de nos tornarmos
igualmente unilaterais no outro âmbito.
Além disso, desse modo, tampouco acabamos com a velha marca.
Ela será certamente evitada, mas continua ameaçadora.
Mas quando de fato ansiamos por isso, temos a possibilidade de descobrir e
de trilhar novos caminhos.
Temos de criar alternativas práticas para nosso comportamento arraigado,
não para torná-lo totalmente supérfluo, mas para nos livrarmos da
unilateralidade.
Quem bebe álcool demais, obviamente tem um problema grave.
Quando deixa de beber, sua situação é nitidamente melhor, mas o
problema persiste.
Por isso, os alcoólicos anônimos se definem como "alcoólicos abstinentes"
durante toda a vida.
Mesmo que isso também seja uma grande vitória, seria muito melhor se
ficassem tão livres em determinado momento, a ponto de poder beber um
trago de vez em quando, sem escorregar novamente para a antiga
unilateralidade.
A respiração associada representa uma possibilidade maravilhosa para
reconhecer prematuramente os traços arraigados, para deixá-los e obter
muitos traços novos.
Esse é um dos motivos por que não queremos mais renunciar a ela no
contexto da terapia da reencarnação.

Continua

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