Você está na página 1de 10

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000525102

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2002130-


60.2022.8.26.0000, da Comarca de Guarulhos, em que é agravante MUNICÍPIO DE
GUARULHOS, é agravado NESBER COMPANHIA INDUSTRIAL.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 14ª Câmara de Direito Público do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V.
U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores OCTAVIO MACHADO DE


BARROS (Presidente), REZENDE SILVEIRA E GERALDO XAVIER.

São Paulo, 7 de julho de 2022.

OCTAVIO MACHADO DE BARROS


Relator(a)
Assinatura Eletrônica

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto 27.320
Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000
Agravante: Prefeitura Municipal de Guarulhos
Agravada: Nesber Companhia Industrial

AGRAVO DE INSTRUMENTO Execução Fiscal IPTU


Exercícios de 2000, 2001, 2002, 2003 e 2006 - Exceção
prévia de executividade acolhida em parte Nulidade dos
lançamentos - Lei Municipal nº 5.753/2001, artigo 7º,
declarado inconstitucional pelo Órgão Especial do TJSP, em
relação à progressividade das alíquotas - Imóvel industrial
Princípio da publicidade - Inobservância - Falta de
publicação da Planta Genérica de Valores Imposto devido
somente com base na lei municipal anterior - nº 2.210/77 -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Condenação que só é
possível em caso de acolhimento da objeção prévia de
executividade com extinção da execução - Decisão mantida
Recurso desprovido.

Agravo de Instrumento interposto contra decisão


que em execução fiscal1 por dívida de IPTU de 2000, 2001, 2002, 2003 e 2006,
reconheceu a prescrição parcial dos créditos tributários e reconheceu a nulidade
do lançamento em relação ao exercício de 2006, por inconstitucionalidade da
progressividade, determinando recalculo do imposto pela alíquota mínima e
condenando a municipalidade ao pagamento de honorários advocatícios sobre o
valor do crédito extinto, nos percentuais mínimos para as faixas previstas no art.
85, §§3º e 5º, do CPC. A agravante alega que a inconstitucionalidade da
progressividade instituída pela Lei Municipal 5753/01 restringe-se a imóveis
residenciais e que, como houve rejeição de parte da objeção oposta, a executada
deve ser condenada ao pagamento de honorários sucumbenciais, daí propugnando
pela reforma da decisão. Recurso processado no efeito

1
Valor da causa em setembro 2010: R$ 51.935,95
Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 2

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

devolutivo e respondido pela parte agravada.

Relatado.

No tocante à progressividade do IPTU, instituído no


Município de Guarulhos, o Órgão Especial desta Corte declarou inconstitucional a
Lei Municipal nº 5.753/2001, assim pontificando:
Incidente de Inconstitucionalidade de Lei
- Artigo 7°, da Lei Municipal de Guarulhos nº
5.753, de 26 de dezembro de 2001, que deu nova
redação ao artigo 15, do Código Tributário local,
instituindo alíquotas progressivas do Imposto
Predial e Territorial Urbano com base no fato de
ser ou não o imóvel residencial atendido por coleta
de lixo e/ou iluminação pública A
progressividade instituída pela Emenda
Constitucional 29/2000 é a chamada
progressividade extra-fiscal, e nada tem a ver com a capacidade
contributiva das pessoas, mas sim é
estabelecida pelo Plano Diretor, conforme a
localização e o uso do imóvel - Ao dispor
distintamente o legislador guarulhense, eis que
graduando as alíquotas do Imposto Predial e
Territorial Urbano também com consideração a
serviços postos à disposição do contribuinte, e que
já são remunerados, quer por meio de taxa, quer
por contribuição para custeio de serviço de
iluminação pública, assim feriu a ordem constitucional
estabelecida pela Emenda já citada -
Incidente julgado procedente. (Incidente de
Inconstitucionalidade n° 185.741 0/2, da Comarca
de Guarulhos Rel. Des. MARCOS CESAR).

Portanto, deve ser afastada a aplicação do artigo 15,


do Código Tributário do Município de Guarulhos, com a nova redação dada pelo
artigo 7º, da Lei Municipal nº 5.753/2001, que fixou alíquotas

Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 3

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

diferenciadas, na medida em que forem sendo implantados os melhoramentos


especificados em lei, como a coleta de lixo e a limpeza pública, cuja
progressividade tributária sobre imóveis de uso residencial, inclusive para lotes
vagos2, em que também foi adotado o mesmo critério fiscal, já considerado
inconstitucional, uma vez que para imóveis comerciais e industriais a Lei
Municipal nº 5.753/2001 adotou alíquotas progressivas, atreladas exclusivamente
às finalidades que especifica, consoante disposto no artigo 156, parágrafo
primeiro, incisos I e II, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda
Constitucional n. 29/2000.

Portanto, deve ser afastada a aplicação do artigo


15, do Código Tributário do Município de Guarulhos, com a
nova redação dada pelo artigo 7º, da Lei Municipal nº
5.753/2001, que fixou alíquotas diferenciadas, na medida em que forem
sendo implantados os melhoramentos
especificados em lei, como a coleta de lixo e a limpeza
pública, cuja progressividade tributária sobre imóveis de uso
residencial, inclusive para lotes vagos3, em que também foi
adotado o mesmo critério fiscal, já considerado
inconstitucional, uma vez que para imóveis comerciais e
industriais a Lei Municipal nº 5.753/2001 adotou alíquotas
progressivas, atreladas exclusivamente às finalidades que
especifica, consoante disposto no artigo 156, parágrafo
primeiro, incisos I e II, da Constituição Federal, com redação dada pela
Emenda Constitucional n. 29/2000.

2
VI - 3,5% (três e meio por cento) para imóvel não edificado, situado em local que contar com todos os melhoramentos
mencionados no art. 9º, qualquer que seja o valor venal; (Redação dada pela Lei nº 5753/2001) VII - imóvel não edificado
situado em local que contar com 4 (quatro) dos melhoramentos mencionados no art. 9º, a razão de: (Redação dada pela Lei
nº 5753/2001) VII - imóvel não edificado situado em local que contar com até quatro dos melhoramentos mencionados
no artigo 9º, a razão de: (Redação dada pela Lei nº 6092/2005) a) 1,5% (um e meio por cento) para valor venal até 10.000
UFG; (Redação dada pela Lei nº 5753/2001) b) 2,0% (dois por cento) para a parcela do valor venal que exceder a 10.000
UFG e até 50.000 UFG; e (Redação dada pela Lei nº 5753/2001) c) 3,0% (três por cento) para a parcela do valor venal que
exceder a 50.000 UFG. (Redação dada pela Lei nº 5753/2001)

Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 4

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Embora a Municipalidade insista afirmar existir uma


única alíquota de 3,5%, verifica-se que apesar da revogação do dispositivo que
tratava dos melhoramentos urbanos, os incisos VI e VII, do art. 15, do Código
Tributário Municipal, mantiveram a sistemática de alíquotas diferenciadas para
imóveis não edificados a depender do número de melhoramentos existentes:
Art. 15 - O imposto será calculado com base no valor venal
do imóvel, na forma a seguir especificada:
(...)
VI - 3,5% (três e meio por cento) para imóvel não edificado,
situado em local que contar com todos os melhoramentos
mencionados no art. 9º, qualquer que seja o valor venal;
VII - imóvel não edificado situado em local que contar com 4 (quatro) dos
melhoramentos mencionados no art. 9º, a razão
de:
a) 1,5% (um e meio por cento) para valor venal até 10.000
UFG;
b) 2,0% (dois por cento) para a parcela do valor venal que
exceder a 10.000 UFG e até 50.000 UFG;
c) 3,0% (três por cento) para a parcela do valor venal que
exceder a 50.000 UFG.

E, conquanto considerada a natureza industrial


do imóvel tributado, o IPTU de Guarulhos, fundado na Lei nº 5.753/01,
também se ressente da publicação conjunta e integrativa da Planta Genérica
de Valores (Anexo I), omissão que afronta o artigo 97, do Código Tributário
Nacional e o artigo 1º, da LINDB, pois a simples afixação da PGV nos quadros
de aviso, em próprios municipais, não supre a publicação oficial que deve integrar
o ato normativo. Com efeito, o artigo 37, da Constituição Federal exige que a
Administração Pública cumpra, de forma legal e efetiva, o princípio da
Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 5

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

publicidade para que todos os contribuintes tenham ciência dos exatos valores
lançados para recolhimento do tributo, como já decidiu o Superior Tribunal de
Justiça:
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO.
IPTU. PLANTA GENÉRICA DE VALORES.
PUBLICAÇÃO OFICIAL. NECESSIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL. INOVAÇÃO. NÃO
CABIMENTO. 1. É incabível a inovação na
argumentação lançada no Agravo Regimental. 2. A
Planta Genérica de Valores, por conter dados
indispensáveis à apuração da base de cálculo do
IPTU, deve ser objeto de publicação oficial. A mera
afixação da Planta de Valores no átrio da
Prefeitura não supre a mencionada exigência.
Precedentes do STJ. 3. Agravo Regimental não
provido (AgRg nos EDcl no REsp 952.132/RS, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 22/09/2009).

Como também já decidiu esta Col. 14ª Câmara de


Direito Público:
APELAÇÃO CÍVEL Ação Anulatória de
Lançamentos Fiscais IPTU dos exercícios de 2007
a 2011 Cobrança do imposto atinente aos
exercícios de 2007 a 2010 Inobservância do
princípio da publicidade, no que se refere ao Anexo
I da Lei Municipal nº 5.753/01 Ineficácia da lei
Aplicação da Lei Municipal nº 2.210/77, pela
alíquota mínima Cobrança do tributo referente ao
exercício de 2011 Lei nº 6.793/10 Manutenção,
em seu art. 26, do sistema de alíquotas previsto no
art. 15 da Lei nº 2.210/77, com a redação dada pela
Lei Municipal nº 5.753/01 Publicação válida do
quanto determinado para o IPTU incidente sobre
imóvel de uso comercial/industrial
Constitucionalidade da progressividade, em relação

Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 6

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ao valor venal do bem Procedência parcial da


ação Maior sucumbência da Municipalidade
Recurso da autora parcialmente provido (Rel. Desª
SILVANA MALANDRINO MOLLO; Comarca
Guarulhos; julg. em 10/11/2016).

Em suma, o fato daquela lei municipal ter sido


publicada, ainda que parcialmente, compromete os limites objetivos da obrigação
tributária e atenta contra os princípios constitucionais da legalidade, da segurança
jurídica, da publicidade e certeza do direito. Em consequência e por interpretação
analógica, adota-se a solução preconizada pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido
de que o reconhecimento da inconstitucionalidade da progressividade do IPTU não
afasta a cobrança total do tributo, que deverá ser realizada pela forma menos gravosa
prevista em lei, uma vez que se trata de inconstitucionalidade parcial que atinge
apenas a parte incompatível com o texto constitucional e permite seu pagamento com
base na alíquota mínima (Ag.Reg. no RE nº 378221/RS- Relator Min. Ricardo
Lewandowski, J. 25/08/2009, p. 18/09/2009), de maneira a prevalecer a obrigação
tributária instituída pela Lei Municipal anterior nº 2.210/77, com aplicação da alíquota
mínima.

No mais, o recurso também não merece provimento,


pois prevalece o princípio da causalidade em relação à vencida no incidente de
prévia executividade, pois aquele que deu causa à propositura da demanda ou à
instauração de incidente processual dever responder pelas despesas daí
decorrentes (“Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante”,
Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery, 10ª Ed. RT, pag. 222). E, mesmo
que parcial, a
Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 7

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

extinção da execução enseja condenação nos honorários advocatícios. Com efeito,


o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a
condenação ao pagamento de honorários advocatícios só é possível se houver
acolhimento da exceção prévia de executividade com extinção da execução, ainda
que parcialmente, como se colhe:
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE PRÉ
EXECUTIVIDADE JULGADA IMPROCEDENTE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INCABIMENTO. 1. Não é
cabível a condenação em honorários advocatícios em exceção de pré-
executividade julgada improcedente.
2.Precedentes. 3. Embargos de divergência conhecidos e
rejeitados (EREsp 1.048.043 - SP, Relator Ministro
HAMILTON CARVALHIDO, j. 17/06/2009).

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO
CPC. NÃO OCORRÊNCIA. EXCEÇÃO DE
PRÉ-EXECUTIVIDADE. ACOLHIMENTO PARCIAL.
CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
PRECEDENTES. 1. A Fazenda Nacional insurge-se contra a
condenação em honorários advocatícios no caso em tela,
tendo em vista o acolhimento parcial de exceção de pré
executividade para suspender a exigibilidade de alguns
títulos constantes na CDA, ante o recurso administrativo
pendente de julgamento. 2. Quanto ao art. 535 do CPC, o
STJ tem jurisprudência no sentido de que não há
contrariedade ao citado dispositivo legal, tampouco se nega
prestação jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter
examinado individualmente cada um dos argumentos
trazidos pelo vencido, adota fundamentação suficiente para
decidir de modo integral a controvérsia, conforme ocorreu
no acórdão em exame, não se podendo cogitar sua nulidade.
3. O Tribunal de origem, nos autos de exceção de pré
executividade, ao dar parcial provimento ao recurso da
autora, fê-lo para suspender a exigibilidade de alguns títulos
constantes na CDA (fl. 66). 4. O acolhimento do incidente de
exceção de pré-executividade, mesmo que resulte apenas na
extinção parcial da execução fiscal, dá ensejo à condenação
na verba honorária proporcional à parte excluída do feito
executivo (AgRg no REsp 1.085.980/SC, Rel. Ministro Mauro

Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 8

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 06/08/2009). 5.


Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp
1.143.559/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, DJe 14/12/2010 - grifado).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.
SUCUMBÊNCIA. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. "Se o réu,
somente após a movimentação do Judiciário, pratica ato
consubstanciado no atendimento do pleito contido na ação,
reconhece o pedido, devendo arcar com os ônus de
sucumbência, ante o princípio da causalidade e o que dispõe
o art. 26 do CPC. (AgRg no Ag 732.830/RS, Rel. Min.
CARLOS FERNANDO MATHIAS, DJe de 9/2/2009).

E, no mesmo sentido, este Tribunal em diversas


oportunidades: Apelação 0007717-07.2014.8.26.0541, Rel. Des. SILVA RUSSO, j.
19/07/2016; Apelação 0012230-95.2012.8.26.0053, Rel. Des. MÔNICA SERRANO,
j. 30/03/2016; e Apelação 0006611-88.2014.8.26.0224, Rel. Des. HENRIQUE
HARRIS JÚNIOR, j. 12/03/2015.
Daí porque, nega-se provimento ao recurso.

OCTAVIO MACHADO DE BARROS


Relator
Agravo de Instrumento nº 2002130-60.2022.8.26.0000 -Voto nº 27320 9

Você também pode gostar