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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

RELATOR - CONSELHEIRO ANTONIO ROQUE CITADINI

Item: 20

Processo: TC-001532/002/11

Tratam os autos de Representação formulada


por José Carlos Zanatto, Vereador da Câmara Municipal de Jaú,
por possíveis irregularidades ocorridas no Executivo
Municipal, concernente à concessão de isenção do IPTU, nos
exercícios de 2007 a 2010, e à doação de terras à Associação
São Lourenço.

Passo à síntese do Voto:


Foram constatadas impropriedades pela
Fiscalização, pelos Órgãos Técnicos, e pela SDG, relativas à
isenção de tributos municipais, em ofensa ao artigo 14 da Lei
de Responsabilidade Fiscal, restando configurada renúncia de
receita por parte da Prefeitura Municipal.
No tocante à questão dos repasses feitos à
Associação São Lourenço, não foram verificadas
irregularidades.
Nesta conformidade, acompanho as
manifestações unânimes da Casa e voto pela procedência
parcial da Representação, remetendo-se cópia de peças dos
autos à Prefeitura e a Câmara Municipal para as providências
de estilo.
MMSG.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

RELATOR - CONSELHEIRO ANTONIO ROQUE CITADINI


9ª SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA CÂMARA, dia 07/04/2015
ITEM: 20

Processo: TC-001532/002/11
Representante(s): José Carlos Zanatto – Vereador da Câmara
Municipal de Jaú.
Representado(s): Prefeitura Municipal de Jaú.
Responsável(is): João Sanzovo Neto (Prefeito à época).
Assunto: Possíveis irregularidades ocorridas na Prefeitura
Municipal de Jaú, durante os exercícios de 2007 e 2010,
referentes à isenção de IPTU por conta da implantação do Polo
Industrial, bem como a doação de terras, material de
construção e mobiliário para a Associação São Lourenço.
Advogado(s): Francisco Antonio Miranda Rodriguez e outros.
Fiscalização atual: UR-2 - DSF-II.

Tratam os autos de Representação formulada


por José Carlos Zanatto, Vereador da Câmara Municipal de Jaú,
por possíveis irregularidades ocorridas no Executivo
Municipal, concernente à concessão de isenção do IPTU, nos
exercícios de 2007 a 2010, e à doação de terras à Associação
São Lourenço.

A Unidade Regional de Bauru – UR-10 procedeu


à instrução da matéria, e verificou o seguinte:
- com relação à isenção de tributos
municipais concedida nos exercícios de 2007 a 2010: mediante
Lei Complementar Municipal nº 286, de 03/04/07, foi
instituído o 9º Distrito Industrial do Município de Jaú, na
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área abrangida pelo Complexo Industrial de propriedade da


empresa Camargo Correa SA., sendo que no seu artigo 2º foi
concedida a isenção de tributos municipais, pelo período de 3
anos para a referida empresa, ali instalada, bem como para
aquelas que se instalassem futuramente, visando fomentar a
implantação de novas empresas, de modo a desenvolver
socioeconomicamente o Município de Jaú e região, com a
geração de empregos, renda e tributos, o que não veio a
ocorrer, devido à ausência de empresas interessadas em se
instalar;
- na vigência da referida lei, o montante
isento a título de IPTU perfez o total de R$ 1.108.470,41,
beneficiando os imóveis que pertenciam inicialmente ao Grupo
Camargo Correa, e que posteriormente passaram a ser de
propriedade da empresa Juá Participações e Investimentos
Ltda., em 24/04/07;
- não houve mais beneficiados com a isenção
em questão;
- a isenção, por se tratar de renúncia de
receita, já que beneficia apenas uma categoria de
contribuintes, sujeita-se aos regramentos do artigo 14 da Lei
de Responsabilidade Fiscal, cujos requisitos não foram
atendidos;
- não restou atendido o inciso I do artigo 14
da LRF, uma vez que a Origem não demonstrou que a renúncia
foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária,
na forma do artigo 12, e que não afetará as metas de
resultados fiscais previstas em anexo da LDO;
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- com relação à doação de terras à Associação


São Lourenço: Por meio da Lei Municipal nº 3.271, de
09/06/98, o Município de Jaú doou uma área de 10 (dez)
alqueires, localizada no Município de Dois Córregos, à
Associação São Lourenço, mediante a condição de a entidade
construir no local um abrigo para acolhimento e recuperação
de viciados em drogas, no prazo de 24 meses;
- consta da inicial, que além da doação da
área, a entidade teria recebido repasses na ordem de R$
45.000,00, da Prefeitura Municipal, e teria o direito de
indicar no mínimo 50% das vagas disponíveis no abrigo,
conforme estabelecido em lei;
- de acordo com o representante, somente 03
munícipes de Jaú estariam internados, quando o número de
pessoas atendidas e indicadas pela Prefeitura deveria ser de,
no mínimo, 50% das vagas do abrigo;
- não foi localizado nos autos o normativo em
tela que dispusesse sobre os 50%, não havendo qualquer menção
na Lei que autorizou a doação;
- quanto ao recebimento dos repasses na ordem
de R$ 45.000,00, oriundos da Prefeitura Municipal, restou
esclarecido que a Prefeitura repassou R$ 30.000,00 em 1999, e
R$ 15.000,00 em 2000, nos termos dispostos em lei;
- verificou-se que os referidos recursos
foram destinados à construção do prédio do abrigo, mediante a
aquisição de materiais de construção e contratação de mão de
obra;
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- esses repasses foram objeto de análise


neste Tribunal, sob o TC-3621/002/01, julgado regular, e
- finalizando, restou vislumbrado que não
foram verificadas irregularidades quanto aos procedimentos
adotados em relação à Associação São Lourenço.

A Origem foi notificada, nos termos do inciso


XIII, artigo 2°, da Lei Complementar 709/93, e, após
prorrogação de prazo, apresentou seus esclarecimentos, às
fls. 173/384.

Alegou, em síntese, que foi procedida à


devida apuração das perdas decorrentes da renúncia de receita
relativa à isenção do imposto municipal, sendo previstas as
medidas de compensação, cumprindo, por conseguinte, às
exigências do artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Informou, ainda, que parte da área


contemplada pela isenção foi doada ao Município, cujo valor
atribuído supera o montante previsto para a isenção do IPTU.

Com relação à disponibilidade de metade das


vagas do abrigo da Associação São Lourenço como condição para
a doação do terreno de propriedade da Prefeitura, asseverou
que tal previsão não constou das leis que disciplinaram o
assunto, e ressaltou que os valores repassados destinaram-se
à construção do prédio do abrigo, e foi apreciado
favoravelmente por esta Corte, nos autos do TC-3621/002/01.
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Diante do acrescido, a Assessoria Técnico-


Jurídica da ATJ e sua Chefia manifestaram-se pela
procedência parcial da presente representação, tendo em
conta que foram verificadas irregularidades no
descumprimento do artigo 14 da Lei de Responsabilidade
Fiscal, concernente à isenção de tributos municipais.

A SDG entendeu, também, pela procedência


parcial da representação, uma vez que a isenção de impostos
municipais da área que compõe o 9º Distrito Industrial do
Município de Jahu, concedido pela Prefeitura Municipal de
Jaú, configura renúncia de receita, o que implica no
desatendimento às condições descritas no artigo 14 da Lei
Complementar nº 101/00, e a questão relativa à reserva de
vagas destinadas aos munícipes de Jaú que necessitasse do
abrigo administrado pela Associação São Lourenço não
procede, ante a carência de leu ou outro instrumento hábil
que dispusesse a respeito.

Destacou, também, que não há irregularidade


no repasse feito pela Prefeitura de Jaú à referida
Associação, cuja matéria já foi apreciada por esta Corte,
mas, no tocante à isenção de impostos, não restou
demonstrada que a renúncia de receita foi levada em conta
quando da estimativa da receita na lei orçamentária,
tampouco comprovou que não houve acometimento das metas de
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resultados fiscais previstas na lei de diretrizes


orçamentárias.

Ressaltou, ainda, que, diante da falta de


comprovação da citada condição, seria necessário que a
Origem tivesse estabelecido medidas de compensação nos
moldes do inciso II do artigo 14 da Lei Complementar nº
101/00, fato que não ocorreu, restando agravada a situação
pela isenção do imposto ter sido colocada em prática antes
da implementação das medidas de compensação, em afronta ao
parágrafo 2º do artigo 14 da Lei de Responsabilidade
Fiscal, as quais não foram, também, apresentadas pela
Origem.

Considerou, por fim, que a doação de parte


da área beneficiada pela isenção do IPTU à Prefeitura não
tem o condão de afastar as impropriedades obstadas à
matéria, deixando a Prefeitura de atender à época o
disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal.

A Assessoria da ATJ e sua Chefia reiteraram


suas manifestações anteriores pela procedência parcial da
representação.

É o Relatório.

V O T O:
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Foram constatadas impropriedades pela


Fiscalização, pelos Órgãos Técnicos, e pela SDG, relativas à
isenção de tributos municipais, em ofensa ao artigo 14 da Lei
de Responsabilidade Fiscal, restando configurada renúncia de
receita por parte da Prefeitura Municipal.
No tocante à questão dos repasses feitos à
Associação São Lourenço, não foram verificadas
irregularidades.

Nesta conformidade, acompanho as


manifestações da ATJ e SDG, e voto pela procedência parcial
da Representação, remetendo-se cópia de peças dos autos:

1. À PREFEITURA DE JAÚ, nos termos do artigo


2°, incisos XV e XXVII, da Lei Complementar n° 709/93,
devendo ainda, o Sr. Chefe do Executivo, no prazo de 60
(sessenta) dias, informar a este Tribunal sobre as
providências adotadas, referentes às ilegalidades,
especialmente quanto a apuração de responsabilidades; e
2. À CÂMARA MUNICIPAL, conforme artigo 2°,
inciso XV, do mesmo diploma legal.
São Paulo, 07 de abril de 2015.

ANTONIO ROQUE CITADINI


CONSELHEIRO
MMSG.

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