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significados ocultos
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22 de agosto de 2023
André Figueiredo
Já falei um pouco das bases da psicanálise e suas ligações com o ocultismo. Mas ainda
existem algumas considerações a serem ditas sobre esse culto à loucura (ritualístico)
inspirado num culto antigo ao deus Momus (sim, o Rei Momo), o deus grego dos
carnavais.
Ele está relacionado ao arcano 22 do Tarô (the fool, o louco, o tolo). Segundo Ken Kesey,
“o denominador comum é o ‘coringa’. É o símbolo do brincalhão. Os estudiosos do tarô
dizem que, se não fosse o tolo, as demais cartas não existiriam. O resto das cartas
existem para o benefício do tolo.” O papel de Kesey como cobaia médica o inspirou a
escrever One Flew Over the Cuckoo’s Nest (Um estranho no ninho), em 1962, que
apresentava o tema da anti-psiquiatria e todo movimento anti-manicomial que temos hoje
como uma das principais pautas da esquerda e popular em Esalen, Califórnia, que foi
fundada na noção de “loucura divina” (Nise da Silveira, alagoana que plantou essa
semente no Brasil era filiada ao PCB e sofreu influência de Esalen, tendo citado
inúmeras vezes, por exemplo, o físico novaerista Fritjof Capra). A noção do tolo sábio de
Shakespeare também sobreviveu em exemplos mais modernos, incluindo as
“travessuras” dos Bohemian Groves.
As cerimonias do Bohemian Grove ficaram famosas após um vídeo do Alex Jones que,
assim como David Icke, induz uma solução com base em ideias de Nova Era e
teosóficas para as pautas conspiracionistas que apresentam, ou seja, um redpill
gnóstico, mas esse assunto fica pra depois.
Na noção do malandro, proposta pela primeira vez pelo renomado psicólogo Carl Jung,
para explicar o recorrente arquétipo do Diabo e suas variações e que está bastante
associado à entidade conhecida no Brasil como Zé Pelintra, que aparece em muitas
gravuras com uma garrafa de cachaça. Representa a tentativa de reviver o que foi
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interpretado como os cultos dos “deuses moribundos” dos tempos antigos, mas muitas
vezes coloridos pela interpretação moderna. Em outras palavras, a mesma tradição do
“tolo sábio”.
Em Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (1959), Jung lista a Festa dos Tolos como
uma adaptação européia do arquétipo do trapaceiro. Os arquétipos, segundo Jung, são
temas humanos fundamentais encontrados em toda a mitologia mundial e são o produto
do que ele chama de inconsciente coletivo. Os motivos incluídos são a mãe, a criança, o
trapaceiro e a inundação, entre outros. Reinventado de cultura em cultura na mitologia e
no folclore, o malandro é apresentado como deus, espírito, homem, mulher, animal
antropomórfico, ser sobrenatural ou a ocasional fada travessa que desobedece regras e
comportamento convencional, causando caos e também inspirando algum tipo de
mudança para ocorrer, ou seja, sua presença “inspira” momentos revolucionários. O
malandro é um metamorfo e, portanto, tem a possibilidade de transformação. O louco ou
o bobo da corte sobrevive nas cartas de baralho modernas como o coringa.
Sonho de uma noite de verão está repleto de simbolismo oculto. A peça também
entrelaça a Véspera do Solstício de Verão, referindo-se ao tradicional feriado pagão do
solstício de verão. O Puck de Shakespeare é um bobo da corte que se deleita em
brincadeiras e piadas práticas, é o personagem de Lúcifer. A ideia do travesso Puck
também inspirou o arquétipo do tolo sábio, que Shakespeare ajudou muito a popularizar
no teatro inglês ao incorporar o tropo em uma variedade de personagens ao longo de
muitas de suas peças. O paradoxo do tolo sábio é demonstrado através do bobo da corte
no Rei Lear de Shakespeare, que trabalha na corte real e continua sendo o único
personagem que Lear não pune severamente por falar o que pensa sobre o rei e suas
situações precárias. A palavra inglesa “clown”, que foi registrada pela primeira vez em
1560, é usada como o nome de personagens tolos em Otelo de Shakespeare.
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Mais do que Shakespeare ou Don Quixote de Cervantes, Erasmo de Rotterdam, que
elogiou Momus (na mitologia grega, Momus era a personificação da sátira e da
zombaria) como um defensor da crítica legítima das autoridades em Elogio da Loucura
(1511), um ataque satírico às superstições e outras tradições da sociedade européia,
bem como na Igreja Ocidental. Rotterdam é frequentemente creditado por criar o tolo
sábio definitivo por meio de sua representação de Stultitia, a deusa da loucura. Influente
para todos os tolos posteriores, ela mostra os caminhos tolos dos sábios e a sabedoria
dos tolos por meio de seu próprio elogio, o elogio da loucura.
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Os budistas tibetanos geralmente se referem aos “loucos” como Mahasiddha, um termo
para alguém que incorpora e cultiva o “siddhi da perfeição”. Um siddha é um indivíduo
que, através da prática de sādhanā , atinge a realização de siddhis, habilidades e
poderes psíquicos e espirituais. Os Mahasiddhas eram praticantes de yoga e tantra, ou
tantrikas, cuja influência histórica atingiu proporções míticas em todo o subcontinente
indiano e no Himalaia, conforme codificado em suas canções de realização, ou namtars,
muitas das quais foram preservadas no cânone budista tibetano.
O lema na insígnia do Bohemian Club, “Weaving Spiders Come Not Here”, é uma citação
direta do Ato 2, Cena 2, da peça de Shakespeare Sonho de uma noite de verão. O
momento mais memorável do encontro é um elaborado ritual cerimonial chamado
Cremation of Care, que é realizado na primeira noite de sábado, na base de um
santuário com uma coruja de 40 pés chamada de Coruja da Boêmia, referência à Coruja
de Minerva, símbolo do conhecimento e sabedoria e que aparece em várias esculturas,
também ligado à deusa Ishtah (que tem pés de coruja em muitas ilustrações) e na base
do caduceu de Hermes.
Essa é a base simbólica de uma sociedade que tem como algumas de suas referências
um presidente malandro e um homem foca (Felipe Neto), que já foi elogiado pelo mesmo
ministro da Suprema Corte que chamou recentemente um cidadão de mané.
Referências
[1] Trecho da música com o Bobo da Corte em O Corcunda de Notre Dame da Disney:
https://youtu.be/Iiye8kq2pCw
Por coincidência, assim como o ritual Cremation of Care, do grupo Bohemian Grove,
ocorre no primeiro sábado do ano, houve uma “travessura” na Praça dos Três Poderes.
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Cremation_of_Care
https://www.washingtonpost.com/blogs/blogpost/post/bohemian-grove-where-the-rich-
and-powerful-go-to-misbehave/2011/06/15/AGPV1sVH_blog.html
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