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“Família homossexual” não existe

Alexandre de Sousa

Aí pelo ano de 2005 perguntaram-me: “Concordas com o


casamento gay?”. Lembrei-me então de uma brincadeira que os
miúdos faziam uns aos outros na minha infância: um perguntava ao
outro, ainda não avisado: “De que cor são as meias do revisor do
combóio de mercadorias?”. Nem sempre os miúdos respondiam de
imediato. Alguns ficavam embaraçados. Porém, depois de algumas
hesitações, lá reconheciam a rasteira subtil da pergunta: o combóio
de mercadorias não tem revisor. Depois riamos. Também me lembro
nesses tempos recuados de um vizinho bêbado que criava galinhas,
pintava-as de várias cores, e depois exibia-as como prova da
existência de galinhas coloridas. Estas duas ocorrências anedóticas
infantis são semelhantes à rasteira da pergunta inicial. Com efeito, a
questão da concordância (ou não) com o tal de “casamento gay” está
mal colocada, uma vez que, simplesmente, não existe tal casamento,
como também não existem, como seu resultado, as supostas “família
homossexuais”. Contudo, alguns disseram que sim. E as leis do
“casamento gay” (2010) e da “adopção gay” (2016) deram também
essa ilusão.
De um modo geral, na literatura sociológica e psicológica,
refere-se a chamada “família nuclear” e, a par desta, as chamadas
“novas formas de famílias”. Entre elas figuram a “família
reconstruída”, a “família monoparental” e a tal “família homossexual”.
Todavia, a aludida “família nuclear” (casal, homem e mulher, com ou
sem filhos) é, na realidade, a noção própria de família, fundamental e
estruturante. Assim, dizer “família nuclear” é, portanto, um
pleonasmo desnecessário. Este pormenor é muito importante, uma
vez que a adjectivação manhosa de “nuclear” (e também de “nuclear
tradicional”) abriu a alguns sociólogos e psicólogos a porta para, a
partir daí, atribuírem nomes a supostas variações e modalidades de
“família” para além da classificada de “nuclear”. E, deste modo,
houve progressivamente um deslizamento de sentido e um
esfarelamento do próprio conceito de “família”, gerando a situação
conceptual grave que temos hoje, com a noção de “novas formas de
família”, atribuídas cada vez mais a formas que, algumas, pouco ou
nada têm a ver com a própria noção de família. Uma vezes são
resíduos, quando não destruições, da unidade do grupo familiar,
outras vezes nem isso. E a designação elegante e disfarçada de
“novas formas de família” serve como rótulo de encobrimento.
A socióloga Evelyne Sullerot, no seu livro A Família. Da Crise à
Necessidade (Lisboa, Editora Piaget, 1999), bem sublinha que a

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família “é uma célula social com várias facetas cujos componentes,
membros são biologicamente aparentados. Comporta um núcleo
irredutível: um homem / uma mulher / um ou vários filho(s).
Nenhum dos membros desta célula social é substituível, no plano
geracional ou fraternal” (p. 26). Também, com o filósofo Michel
Renaud, pode-se afirmar que “o triângulo da família – mãe, pai, filho
– é (…) construído ao nível especificamente humano” (“Análise
Filosófica da Família”, Brotéria, 3, vol. 142, Março 1996, pp. 287-
309).
Não existe, pois, o tal de “casamento homossexual”. O
casamento resulta da união homem/mulher, referência à estrutura da
realidade da Lei Natural (e Divina), da polaridade universal, e não de
modificações na linguagem, nos “constructos” sociológicos ou na lei.
E é celebrado de formas muito diversas consoante as culturas (com
atribuição de “status”, ritos, cerimónias peculiares, etc.)
precisamente porque todas as culturas valorizam uma relação que
espelha a polaridade da Natureza e que, por isso mesmo, é (quase
sempre) fonte de vida. De certo modo, todos os rituais de casamento
são formas diversas das culturas celebrarem a Ordem Cósmica
Universal do “yin-yang” (para usar a terminologia taoista). Assim, o
tal de “casamento homossexual” é uma mera combinação de
palavras. É como se se disséssemos “tartaruga com asas” ou
“elefante amarelo”. Linguisticamente é um som sem referente.
Juridicamente é uma vandalização do Direito de Família.
Sobre o que se designa hoje como “homossexualidade”, isso é
outra questão. Não é aqui lugar para discorrer sobre este complexo
fenómeno, mas dizer que se trata de uma “orientação” é um erro (já
repararam que cada vez mais qualquer comportamento é encarado
como sendo mais uma “orientação”?). Certa vez, Nuno de Salter Cid
bem afirmou que “a inclusão da expressão ‘orientação sexual’ nas
normas e princípios de direito internacional e de direito
constitucional, relevantes em matéria de igualdade, constitui uma das
‘frentes de batalha’ da ‘causa homossexual’” (In revista Economia e
Sociologia, n.º 66, 1998, pp. 232-233).
Actualmente, dado o processo acelerado de
“homossexualização” da sociedade, cada vez mais a consciência das
pessoas fica turvada (com a ajuda de alguns ditos “especialistas”,
diga-se de passagem) para o reconhecimento do óbvio: que a
homossexualidade é uma desorientação, um desvio, mesmo que na
Psiquiatria se deixasse de considerar o comportamento homossexual
como patologia. É sempre válida a afirmação do antigo psiquiatra A.
Fernandes da Fonseca, que escreveu: “a homossexualidade não
poderá deixar de ser considerada, do ponto de vista psicobiológico e
do destino humano, como um desvio do objecto normal do impulso
sexual, que é, sem dúvida, o da sua relação com o sexo oposto. Isso
nada tem a ver (…) com a maior ou menor permissividade social e
com as normas de aceitação ou rejeição do fenómeno por uma

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determinada sociedade” (In Psiquiatria e Psicopatologia, I volume,
Lisboa, Gulbenkian, 1985, p. 499).
Imaginem o que descobri numa revista bancária do Montepio
(Primavera 2016, Trimestral, p. 22)! Vem aí o intragável psiquiatra
Júlio Machado Vaz com a cantilena do “preconceito” em relação à tal
de “homossexualidade masculina”. Machado Vaz diz que sentiu o tal
de “preconceito” ao receber no consultório um casal, “pais de um
homossexual”, a pedir que lhes curasse o filho! E aí, o doutor Júlio,
em vez de “curar” o filho, rotulou os pais de preconceituosos (se
quiser, o leitor substitua “curar” por “encaminhar”, “guiar”, “cuidar”,
ou até “corrigir”, etc.). Que pensar quando até psiquiatras
corroboram com o desvio comportamental, em contramão com o
mais elementar sentido comum natural?
Abro aqui um parentese para estabelecer a distinção importante
entre homossexualismo e “gayzismo”. O homossexualismo é
simplesmente um comportamento desviante, enquanto o “gayzismo”
é a utilização dos indivíduos que têm esse comportamento como
arma de combate político para criar caos, agitação e desordem, sob
capa desvairada dos “direitos”. Diria mesmo que nenhum
homossexual de verdade quer “casar”. É o “gay” que reivindica a
absurdidade do “casamento das pessoas do mesmo sexo”. É o “gay”
que arrasta o homossexual para uma militância absurda.
A Lei n.º 9/2010, de 31 de Maio, introduziu na ordem jurídica
portuguesa o chamado “casamento entre pessoas do mesmo sexo”,
uma monstruosidade jurídica, doutrinal e sociológica, alterando os
artigos n.ºs 1577 e 1591 do Código Civil (com os votos a favor do PS,
CDU e BE, e votos contra do CDS-PP e do PSD). E desde Fevereiro de
2016 é ainda permitida por lei a adopção por “casais do mesmo sexo”
(a propósito, não sei se ainda se lembram, por essa data, do cartaz
bloquista blasfemo “Até Cristo teve dois pais”). Sem comentários.
Atente-se que algumas expressões então usadas entre alguns
académicos, sobre o (erradamente designado) “casamento entre
pessoas do mesmo sexo” (como as de que “a lei não lhes reconhecia
o casamento” ou que “lhes estava vedada a constituição de família”),
dão a ideia de privação e de falta. O uso desta linguagem, quando cai
num meio como o nosso, já intoxicado com abstracções (do tipo
“igualdade”, “liberdade”, “democracia” etc.) incita e espicaça grupos
desviantes à luta, numa atmosfera mental histérica para a obtenção
de “direitos”. Nuno de Salter Cid, numa linguagem a meu ver
excessivamente contida, designou-a certa vez como “a euforia dos
direitos” (Op. cit., p. 235).
Lembrei-me agora de uma psicóloga clínica, Madalena Alarcão,
ligada à terapia familiar, que, apoiando-se na área da Sistémica e da
Pragmática da Comunicação Humana, encara a família como sistema,
mas obnubila a especificidade desse sistema como polaridade sexual
e cósmica, dizendo: “Existem hoje muitas definições de família mas
talvez o mais importante seja vê-la como um todo, como uma
emergência dos seus elementos, o que a torna una e única” (In
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(Des)Equilíbrios familiares, Coimbra, Quarteto Editora, 2000, p.37).
Com isto, Alarcão praticamente não diz nada e esquece o
fundamental, reduzindo a família unicamente a um conjunto de
indivíduos que entram em relações, partilham emoções e
estabelecem comunicação. Na verdade, dilui a noção de família num
qualquer grupo com estas características.
Hilariantemente, escreveu ainda: “Não fora o casal ser
composto por dois elementos do mesmo sexo e consideraríamos esta
como uma família nuclear” (sic) (Op. cit., p. 228). A sério?
Francamente! É caso para dizer: não fora uma tartaruga ter asas, até
lhe chamaríamos gaivota! Não fora um javali miar até lhe
chamaríamos gato! Pois precisamente um casal é casal porque é
composto por dois seres humanos de sexo diferente e complementar.
Exactamente por isso é que é um erro e uma contradição de termos
dizer “casal homossexual”.
As afirmações desta psicóloga compreendem-se melhor se
consultarmos uma obra que coordenou em conjunto com outra
psicóloga, Ana Paula Relvas (Novas Formas de Família, 2.ª edição,
Edições Quarteto, 2007). Aí percebe-se que a dupla foi inspirada pelo
construtivismo social e pelo feminismo radical (cf. pp. 310-312). Ora,
o construtivismo social é uma teoria errada, um charlatanismo
académico que privilegia a intersubjectividade da linguagem em
prejuízo da estrutura da realidade e do mundo observável. Daí as
autoras declinarem a noção de família sob o ponto de vista natural e
biológico. Daí o erro de considerarem a família como uma simples
“construção social e discursiva” (Op. cit., p. 310).
Por outro lado, pela via do feminismo radical, as autoras foram
influenciadas pela noção de família “entendida como uma ideologia
que determina as relações de género e a subordinação da mulher”
(Op. cit.,p. 311). Quanto à “subordinação da mulher”, como encarada
pelas feministas radicais, isso daria outro artigo. Só afirmo aqui que,
relativamente ao feminismo, estamos hoje muito longe das
reivindicações das antigas sufragistas americanas. Actualmente,
talvez até o leitor nem imagine as maluquices que circulam nos meios
pseudo-intelectuais feministas por esse mundo fora, onde não raras
vezes se misturam a desonestidade intelectual, a perversidade, o
lesbianismo, a perda de identidade, o desvario teórico, o militantismo
agressivo anti-cristão, etc..
Quanto à noção de “género”, utilizada por algumas feministas
(e não só), se por tal entendermos uma construção social e cultural
autónoma, totalmente independente das diferenças biológicas,
lamento informar que tal conceito, em rigor, não existe. Trata-se
simplesmente de uma noção errada, resultante de um sociologismo
redutor e extremo, que gradativamente vem separando cada vez
mais a dimensão biológica (agora, pelos vistos, também ela, até certo
ponto, modificável) das outras dimensões (psicológica, social,
cultural), anarquizando estas num “vale-tudo”, ou num igualitarismo
louco do tipo 50%/50%, designado actualmente por “
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‘mainstreaming’ de género”, que se pretende agora impor à
sociedade inteira.
Até estou a pensar naquela velha afirmação estúpida de Simone
de Beauvoir, tantas vezes divulgada com fumos de intelectualidade,
de que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Errado: nasce-se
mulher, sim, ainda que não se nasça, obviamente, mulher feita. Até
um pastor de cabras analfabeto, observando o sexo de um bebé
feminino, refuta esta afirmação, uma vez que sabe que aquele
indicador físico do bebé transmite a mensagem de que,
potencialmente, teremos um dia uma mulher no sentido global da
polaridade sexual (não só “física” evidentemente).
Todos os erros e desvarios académicos têm respaldo em
autores estrangeiros de leitura aconselhada nas nossas
universidades. Uma das obras estrangeiras seguidas em Portugal é a
de Chiara Saraceno e Manuela Naldini (Sociologia da Família, 2.ª
edição, Lisboa, Editorial Estampa, 2003). Aí, Chiara Saraceno refere
os tais “casais homossexuais”, dizendo que (imagine-se!) estes são
“um desafio à ideia tradicional de família” (?) (p. 78). E, esquivando-
se à biologia, à realidade genética e a dimensões filosóficas e
religiosas, a autora avança, num reducionismo sociologista mutilador,
ao escrever que, relativamente aos tais “casais”, “é precisamente o
tipo de sexualidade que propõem que contrasta com qualquer ideia
de família, porque não heterossexual e não potencialmente
procriativa. De facto, é a relação homossexual que desafia
radicalmente a ideia de família simultaneamente como pacto de
solidariedade entre gerações e de procriação” (sic!) (ibidem). Bonita
“socióloga”! Então é a relação homossexual que desafia a ideia de
“família”, ou, isso sim, a realidade da vida familiar, em todas as
culturas e povos, que refuta a noção contraditória e absurda de
“família homossexual”?
Na verdade, toda uma série de publicações académicas
introduzem nas universidades um vocabulário corrompido. É o caso,
por exemplo, do Dicionário Enciclopédico de Psicologia (Lisboa,
Edições Texto & Grafia, 2008), escrito por uma série de autores,
quase todos franceses. Encontramos aí verbetes do tipo “casal
homossexual”, com a habitual vandalização da noção própria de
“casal”, e termos do “politicamente correcto” do esquerdismo
“agitprop”, como sejam “contexto homofóbico”, “preconceitos”,
“discriminações” etc. (cf. pp. 164-166). É o caso também da
Enciclopédia Internacional do Casamento e da Família (Editor James
Ponzetti, International Encyclopedia of Marriage and Family, New
York, Macmillan, 2003), um entre vários calhamaços norte-
americanos em que se faz descaradamente a apologia do “gayzismo”.
E outros exemplos poderia indicar.
Aliás, a propósito da ideologia de género, convido o leitor a dar
uma olhada pelo quinto Guião de Educação, intitulado Conhecimento,
Género e Cidadania no Ensino Secundário, publicado pela chamada
“Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género” (Lisboa, 2017).
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Trata-se fundamentalmente de 515 páginas de imposição “soft” da
ideologia diabólica de género, em que “especialistas”, sobretudo da
área das chamadas “ciências sociais”, numa prosa emaranhada e
equivocada (às vezes mesmo errada) pretendem a implementação
nacional da Nova Ordem (Sexual) Mundial, sob a direcção da ONU.
Ironicamente, dos 15 autores do documento (incluindo a
coordenadora), paladinos da tal “igualdade de género”, podem
contar-se 14 mulheres… e só um homem!
Mas voltemos mais propriamente ao tema do “gayzismo”. Se
deslocarmos agora a nossa atenção para os “media” portugueses,
inventariar os textos, programas e documentários onde se induz à
homossexualidade (ou, talvez mais precisamente, ao “gayzismo”)
seria acumular uma longa lista de referências da imprensa, da
televisão e da filmografia, de tal modo que se pode assim constatar
que a “homossexualização” da sociedade portuguesa atinge hoje um
nível considerável.
No que diz respeito à televisão, um exemplo bem ilustrativo de
como os (assim chamados) “cientistas sociais” (na realidade
“engenheiros sociais” da Nova Ordem Mundial) estão comprometidos
com a diabólica agenda de destruição da família e de devastação da
terminologia, foi um programa intitulado “Famílias como as Nossas”,
gravado no Pavilhão Carlos Lopes (Lisboa), em 12 de Fevereiro de
2020, organizado numa parceria da RTP com a Fundação Manuel dos
Santos. Aí compareceu, por exemplo, Anália Torres, ex-Presidente da
Associação Europeia de Sociologia (um “peso pesado” na área), e
Pedro Góis (sociólogo, especialista em migrações). A manipulação da
linguagem foi o forte. Quando a apresentadora disse que “a família
tem mudado profundamente nos últimos anos”, deveria dizer: “a
crise da família tem-se acentuado”. Quando se falou em “famílias
monoparentais”, deveria dizer-se: “grupos de parentesco filial” (se é
“mono” não é família, pois a unidade mínima de uma família é o
casal). Quando se apresentou uma “família homossexual” de duas
mulheres, isso não é, absolutamente, uma “família”, etc.. Tantas
devastações conceptuais!
Quanto à imprensa, lembremo-nos do bem conhecido jornal
diário Correio da Manhã (CM), quase omnipresente nas pastelarias
por esse país fora. Com efeito, no CM, já há alguns anos
transformado em jornal quase erótico, é vulgar lerem-se expressões
do tipo “marido do Goucha”. Ora, é importante darmo-nos conta do
óbvio: não existem maridos de homens! No entanto, expressões
corrompidas como esta vão-se disseminando no universo da
linguagem, com a boleia dos “media” mais influentes.
Outro exemplo é o da revista Cristina, da conhecida
apresentadora Cristina Ferreira, uma vedeta tagarela da televisão, à
qual, como é sabido, até se prostram conhecidos políticos e
governantes. No número 4 da Cristina vem uma reportagem dum
suposto “casal”, Bruno e Ricardo (a tal fantasmática “família
homossexual”) numa apologia descarada do “gayzismo”. A situação
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hoje está, assim, pior do que na viragem do século quando, no
longínquo “Público” de 2 de Julho de 2000, o título de um artigo
noticiava: “Primeiros ‘casamentos’ homossexuais nos EUA”.
Por vezes a devastação terminológica vem de longe, e de onde
menos se esperava. É assim que, já em 1995, foi editada a obra de
John J. McNeill, Os excluídos da Igreja (Círculo de Leitores, colecção
“Nova Consciência”). No prefácio, o conhecido teólogo progressista
Frei Bento Domingues vem com esta prosa equivocada: “Nesta nova
obra, o autor (…) tenta fazer uma teologia da experiência dos
homossexuais cristãos que mostre a dimensão espiritual da libertação
‘gay’ e lésbica” (?). Mais adiante, Bento Domingues acrescentou: “Em
vários países foram já reconhecidos os direitos de casais
homossexuais com os mesmos direitos e obrigações de uniões
heterossexuais”. E sublinhou ainda, em jeito de lamentação: “o
Catecismo não abre nenhuma hipótese de relações homossexuais que
possam ser vividas em castidade” (sic!). Com estas palavras do
angélico Frei Bento, até sou capaz de imaginá-lo por aí, à frente de
uma “parada gay”, vociferando contra o “preconceito” e a
“discriminação”, comandando hordas de histéricos erotizados, que
debocham o espaço público em “acção afirmativa” (“affirmative
action”), para a obtenção do “direito”… à “castidade”!
De onde vem toda a terminologia “gayzista”? Ou o “movimento
LGBT” (ou LGBTQI, para aumentar ainda mais o desatino)? É
dificílimo responder a esta pergunta, e este artigo não pode dar uma
resposta cabal. Porém, ao nosso alcance temos, por exemplo, as
obras do brasileiro Júlio Severo, O Movimento Homossexual (Belo
Horizonte, Editora Betânia, 1998), do espanhol Rafael Palacios, La
Conspiración del Movimento Gay (Madrid, Mandala Ediciones, 2011),
e da dupla argentina Nicolás Márquez e Augustín Lage, El Libro Negro
de la Nueva Izquierda, (Buenos Aires, Unión Editorial, s. d.) que são
um bom começo, ainda que modesto, para um melhor conhecimento
deste processo gigantesco de “homossexualização” da sociedade
ocidental, do qual a corrupção “gayzista” da linguagem e o
fantasmático “direito a casar” das “pessoas do mesmo sexo” são
apenas etapas.
Pelas três obras referidas, podemos perceber o braço mundial
das Fundações Rockfeller e Ford; a acção do multimilionário Georges
Soros; o mundo diabólico (homossexual e pedófilo) que se esconde
por detrás das vedetas de Hollywood; a acção de engenheiros sociais
comportamentais do Instituto Tavistock de Londres; as políticas
globalistas de inverno demográfico para a destruição do Ocidente
Cristão (ou do que dele resta); a da dominação das universidades
americanas pela Nova Esquerda (“New Left”) Norte-Americana (neo-
comunista, “desconstrucionista”, dissolvente e niilista), onde se
forjam os “constructos” do marxismo cultural de devastação
linguística, filosófica e sociológica, que depois são espalhados pelo
mundo académico e pelos “media”, turvando o mais elementar bom
senso e a lucidez epistemológica e heurística.
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Veio-me agora à memória um interessante artigo do Prof.
Doutor José de Oliveira Ascensão, intitulado “O casamento de
pessoas do mesmo sexo” (Revista da Ordem dos Advogados,
Abril/Junho de 2011, pp. 391-411). O autor, tratando a questão com
perícia jurídica, assinala alguns tópicos que merecem atenção.
Escreveu, por exemplo: “Haveria grande número de pares do mesmo
sexo ansiosos por casar? Seguramente que não, como aliás já
podemos comprovar pelo número de casamentos de pessoas do
mesmo sexo realizados após a aprovação da lei (a que se terá
seguido uma percentagem considerável de divórcios)” (p. 393). E
acrescentou: “A razão é outra: não é por ser um problema
fundamental, é por ser uma questão fracturante (…): é o
apossamento do valor simbólico do casamento” (Op. cit.,p. 394).
E prossegue Oliveira Ascensão, numa linha de investigação em
que realça o processo de redução do valor simbólico do casamento e
a subversão do sentido comum natural. Vale a pena citar mais
longamente este jurista, mais lúcido que muitos dos “cientistas
sociais” do “vale-tudo” e do turvamento teórico da consciência.
Acerca do casamento, diz Oliveira Ascensão: “a exigência da
diversidade de sexos não é arbitrária. Tem fundamentação
ponderosa, é facilmente captável. O casamento supôs sempre a
diversidade de sexos por se fundar na complementaridade entre
homem e mulher. Homem e mulher são iguais em dignidade, mas
diferentes física e psicologicamente (…). Nada disto é arbitrário. O
casamento dá o enriquecimento na diferença, com a correspondência
exacta à natureza. Representa o enquadramento óptimo para a
procriação, criando laços estáveis para realização pessoal e para
permitir o desenvolvimento normal de novos seres. A diversidade
biológica e temperamental de homem e mulher, independentemente
das estruturas sociais, é e sempre foi uma evidência” (Op. cit.,pp.
404-405). Com o “casamento de pessoas do mesmo sexo” reduz-se,
por conseguinte, o valor simbólico do casamento, e acelera-se a
destruição do sentido comum natural.
Outro ponto importante, assinalado por Oliveira Ascensão, é
este: “o movimento tão forte na promoção da homossexualidade,
cuja explicação ainda não se consegue inteiramente captar, não
amainará com a emissão da lei [do “casamento de pessoas do mesmo
sexo”]. Continuará a receber o mesmo influxo exterior e lançar-se-á a
novos objectivos. Não se contentará com a tolerância ou a liberdade,
procurará outras causas fracturantes” (Op. cit.,p. 409).
Note-se que o texto acima foi escrito em 2011, antes da
aprovação da lei da adopção por “casais do mesmo sexo”. E continua
válido, de tal modo que qualquer dia (até já hoje!) uma simples
piadinha sobre o homossexualismo será logo classificada de
“homofobia”, “discurso de ódio”, e talvez até criminalizada! Deste
modo se percebe que os chamados “direitos” reclamados pelo
“movimento LGBT” são apenas etapas de um processo mais vasto

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cujo propósito é o da destruição cultural e civilizacional do Ocidente,
assumindo formas cada vez mais debochadas e violentas.
Para concluir, volto ao tema central e inicial (para que ninguém
se engane buscando em vão saber a cor das meias do revisor do
comboio de mercadorias): definitivamente, pois, não existem as tais
“famílias homossexuais”. Então, socialmente, o que é que ocorre
quando se celebra um suposto “casamento gay”? É muito simples:
trata-se de uma palhaçada hilariante (sem querer ofender a profissão
de palhaço, claro). Se ficasse por aí, até podia muito bem ser incluída
alegremente num qualquer cortejo carnavalesco. Mas, claro está, tem
implicações jurídicas. Por exemplo: segundo o INE/PORDATA, no ano
de 2017 ocorreram 523 “casamentos entre pessoas do mesmo sexo”.
Corrijo: o que houve foi 523 vandalizações do Direito de Família, que
levou séculos a construir. E que importa consertar. Caso contrário
intensificar-se-á ainda mais a entropia social, à qual se seguirão
novas legislações loucas e entrópicas (do tipo da “adopção gay”, em
vigor desde o início da primeira “geringonça”), que provocarão ainda
mais caos, que necessitarão de novas legislações loucas e assim por
diante. Já lá vão 11 anos desta lei, um tumor canceroso no edifício do
Direito de Família, que até já gerou uma metástase popularizada com
o nome de “adopção gay”. É assim necessário, mais ano menos ano,
revogar a aberrante “lei do casamento entre pessoas do mesmo
sexo” (sempre entre aspas!) e com ela a da “adopção gay”. Para bem
da Nação. Até lá, importa ter paciência.

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