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6.1 Introdução
A atividade humana gera impacto ambiental que repercute nos meios físicos, biológicos e
socioeconômicos, agredindo os recursos naturais e a saúde humana. Esses impactos são perceptíveis
nas águas, no ar, no solo e, inclusive, na própria atividade humana. A disposição final de resíduos
sólidos sem prévio tratamento tem sido responsável por vários desses impactos.
O manejo adequado dos resíduos sólidos requer extremo cuidado, desde a sua produção
até a destinação final, necessitando da participação da população em todas as etapas do processo.
O gerenciamento inadequado dos resíduos sólidos ainda é um dos maiores problemas do país
e passa a ter uma nova abordagem técnica, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
principalmente considerando a adoção da exigência do planejamento integrado dos serviços
públicos de gerenciamento de resíduos sólidos, com a identificação do problema, a definição de
soluções e alternativas tecnológicas e o estabelecimento de metas e prazos de atuação nos planos
de resíduos.
A PNRS preconiza a não geração, a redução, a reutilização, as soluções integradas para a
coleta seletiva, a reciclagem, a compostagem, a destinação final e a disposição final somente dos
rejeitos resultantes dos processos de tratamento.
Os resíduos sólidos são um conjunto heterogêneo de materiais, substâncias, objetos ou bens
descartados resultantes de atividades humanas em sociedade, cuja destinação final se procede,
se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases
contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente
inviáveis em virtude da melhor tecnologia disponível.
Por conter em sua constituição grande quantidade de matéria orgânica, os resíduos sólidos
servem de abrigo e alimento para diversos organismos vivos. Possibilitam, ainda, a proliferação de
mosquitos que se desenvolvem em água acumulada em latas, vidros e outros recipientes abertos.
Existe a possibilidade de contaminação do homem pelo contato direto com os resíduos sólidos ou
por meio da massa de água poluída, por serem fontes contínuas de micro-organismos patogênicos.
A PNRS enfatiza a reunião de municípios em consórcios municipais, sem perder de vista a
inclusão social e a participação das associações, das cooperativas e até mesmo de recicladores
individuais. A política reúne um conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e
ações adotadas pelos governantes ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento
ambientalmente adequado.
6.2 Conceitos
Dentre as várias definições, neste Manual foram adotados os conceitos:
• Os resíduos sólidos podem ser definidos como resíduos nos estados sólido e semissólido
que resultam de atividades da comunidade, de origem industrial, doméstica, de serviços
de saúde, comercial, de atividades agrossilvopastoris, de serviços e de limpeza urbana.
Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água
e esgoto, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento
na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isto soluções técnicas e
economicamente inviáveis tendo em vista a melhor tecnologia disponível.
• Chorume é definido como líquido produzido pela decomposição de substâncias contidas
nos resíduos sólidos. É caracterizado pela cor escura, pelo odor desagradável e pela elevada
demanda bioquímica de oxigênio. Agrega também água infiltrada nas células de aterro e a
umidade natural da matéria orgânica dos resíduos.
• A limpeza urbana é definida como o manejo de resíduos sólidos originários da varrição e da
limpeza de logradouros e vias públicas, bem como do conjunto de atividades, infraestruturas
e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final dos
resíduos sólidos domésticos.
• O gerenciamento de resíduos sólidos é um conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de segregação, acondicionamento, coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, assim como
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com o plano municipal de
gestão integrada de resíduos sólidos ou com o plano de gerenciamento de resíduos sólidos.
• A gestão integrada de resíduos sólidos é um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções
para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental,
cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável.
• A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado
por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a res-
tituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou
em outros ciclos produtivos, ou outra destinação.
A massa dos resíduos sólidos geralmente contém agentes patogênicos e micro-organismos pre-
judiciais à saúde humana, constituindo-se em um grave problema sanitário. Tais organismos podem
sobreviver por grandes períodos e seu monitoramento é fundamental para a compostagem.
A Tabela 1 apresenta o tempo de sobrevivência (em dias) de micro-organismos patogênicos
presentes nos resíduos sólidos.
Manual de Saneamento
283
Tabela 1 – Tempo de sobrevivência (em dias) de micro-organismos patogênicos presentes
nos resíduos sólidos.
Competências
Conteúdo mínimo
Federal Estadual Municipal
Diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos. X X X
Proposição de cenários. X X
Metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas
a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para X X X
disposição final ambientalmente adequada.
Metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas
X X
unidades de disposição final de resíduos sólidos.
Continua
Competências
Conteúdo mínimo
Federal Estadual Municipal
Metas para a eliminação e a recuperação de lixões, associadas
à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de X X
materiais reutilizáveis e recicláveis.
Normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos da
União, do estado, para a obtenção de seu aval ou para o acesso a
X X
recursos administrados, direta ou indiretamente, quando destinados
a ações e programas de interesse dos resíduos sólidos.
Incentivar e viabilizar a gestão regionalizada, consorciada ou
X X X
compartilhada dos resíduos sólidos.
Diretrizes para o planejamento e as demais atividades de gestão de
resíduos sólidos das regiões (metropolitanas, aglomerações urbanas
X X
e microrregiões) integradas de desenvolvimento, bem como para as
áreas de especial interesse turístico.
Normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando
X X X
couber, de resíduos.
Meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, de sua
X X X
implementação e operacionalização, assegurado o controle social.
Previsão, em conformidade com os demais instrumentos de
planejamento territorial, especialmente o zoneamento ecológico-
econômico e o zoneamento costeiro, de: a) zonas favoráveis para
a localização de unidades de tratamento de resíduos sólidos ou
X
de disposição final de rejeitos; b) áreas degradadas em razão de
disposição inadequada de resíduos sólidos ou rejeitos a serem
objeto de recuperação ambiental.
Implantação de coleta seletiva com a participação de cooperativas
ou outras formas de associação de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas. Descrição
X
das formas e dos limites da participação do poder público local
na coleta seletiva e na logística reversa, e a responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
Procedimentos operacionais, indicadores de desempenho e
especificações mínimas a serem adotados nos serviços públicos de X
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.
Programas e ações de capacitação técnica, monitoramento e
X
educação ambiental.
Regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de
X
resíduos sólidos.
Mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e
X
renda, mediante a valorização dos resíduos sólidos.
Identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos,
X
incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras.
Sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos
de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a X
forma de cobrança desses serviços.
Fonte: Brasil, 2010.
Manual de Saneamento
285
6.5.1 Gestão integrada de resíduos sólidos
No Brasil foi regulamentada a questão dos resíduos sólidos urbanos, estabelecendo as diretrizes para
sua gestão integrada, dando ênfase à política de redução de resíduos gerados. Dentre os principais avanços
contidos, destacam-se a responsabilização do gerador pelos resíduos gerados, desde o acondicionamento
até a disposição final ambientalmente adequada; a elaboração de planos de gestão integrada de resíduos
sólidos pelo titular dos serviços; a análise e a avaliação do ciclo de vida do produto; e a logística reversa.
A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado
por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição
dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação.
Criou, ainda, mecanismos para uma mudança de comportamento em relação aos atuais padrões
insustentáveis de produção e consumo para a adoção e a internalização do conceito dos 5 Rs (repensar,
recusar, reduzir, reutilizar e reciclar), em todas as etapas do processo. Também busca consolidar o
controle social nas várias etapas da atividade no que se refere aos resíduos domiciliares urbanos, desde
o planejamento até a prestação dos serviços.
A estratégia dos Rs deve ser abordada em projetos de educação ambiental (EA) que trabalham a
questão dos resíduos sólidos, com a vantagem de permitir à população uma reflexão crítica do consumismo.
• Repensar os hábitos de consumo e descarte, avaliando a real necessidade e evitando desper-
dícios, por resultar em ônus para o poder público e o contribuinte. A sua redução significa
diminuição nos custos, além de fator decisivo na preservação dos recursos naturais.
• Recusar produtos que prejudicam o meio ambiente e a saúde, analisando as possibilidades
de consumo desnecessário e produtos que gerem impactos ambientais significativos.
• Reduzir o consumo desnecessário, diminuindo a quantidade dos resíduos sólidos gerados.
Menos resíduos gerados também implicarão uma estrutura de coleta menor, e consequente
redução de custos de disposição final.
• Reutilizar e recuperar ao máximo antes de descartar, reaproveitando o material para outra
função. Existem inúmeras formas de reutilizar os objetos: escrever nos dois lados da folha
de papel, usar embalagens retornáveis e reaproveitar embalagens descartáveis para outros
fins são apenas alguns exemplos.
• Reciclar materiais é uma série de atividades e processos, industriais ou não, que permitem
transformar os materiais em novos produtos. O processo envolve ações de: separar, recupe-
rar e transformar os materiais recicláveis, componentes dos resíduos sólidos urbanos. Essas
atividades levam à ação de reintroduzir os resíduos no ciclo produtivo.
6.7 Cooperativismo
Cooperativa é uma sociedade de pessoas, sem fins lucrativos, de natureza civil, não sujeitas à
concordata ou falência, constituídas para prestar serviços aos seus cooperantes.
A cooperativa em questão é uma sociedade autônoma, com características de microempresa de
seleção e comercialização de materiais recicláveis. Em alguns casos, funciona em áreas com infraestru-
tura construída pela Prefeitura, e essas estruturas são cedidas aos catadores sob a forma de comodato.
As cooperativas asseguram aos catadores melhores condições de trabalho, de ganhos financeiros
e de vida, com a venda de materiais coletados diretamente para as indústrias de reciclagem. A admi-
nistração da cooperativa é de responsabilidade dos catadores, atendendo às condições de limpeza
e higiene do local, sempre com o apoio e a orientação dos técnicos ou das autoridades sanitárias.
A legislação no Brasil institucionalizou em definitivo o papel relevante que os catadores desempe-
nham no manejo dos resíduos sólidos e na viabilização da reciclagem, permitindo que o poder público
contrate com dispensa de licitação associações e cooperativas de catadores para a coleta, o processamento
e a comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de
coleta seletiva de lixo. Fica, assim, facilitada a inclusão social dos catadores e o desenvolvimento da coleta
seletiva pelo reconhecimento contratual do trabalho desses profissionais pelas administrações municipais.
Dentre os procedimentos básicos para formação de uma cooperativa de trabalho, com a finali-
dade de prestar à sociedade os serviços de coleta seletiva e reciclagem dos resíduos sólidos urbanos,
ressalta-se a necessidade de que o grupo interessado tenha no mínimo 20 pessoas, com as mesmas
necessidades e objetivos.
6.8.1 Varrição
Manual de Saneamento
287
A execução dos serviços de varrição é fundamental, pois evita obstrução das galerias pluviais,
bocas de lobo e assoreamento dos rios. Deve ser feita diariamente e nas diversas áreas da comunidade.
Parâmetros utilizados para a varrição manual são:
• Média de varrição: 1 a 2 km/gari.dia.
• Média de remoção: 850 a 1.260 l/km.dia.
• Média de varredor/1.000 habitantes: 0,40 a 0,80, ou seja, 2.500 hab./gari ou 1.250 hab./gari.
Estudos comparativos efetuados em algumas cidades comprovaram que o serviço executado
por um só gari varrendo, recolhendo e vazando os resíduos no ponto de acumulação é geralmente
o mais produtivo.
Após a definição da guarnição, pode-se traçar o roteiro da varrição, de acordo com as informa-
ções obtidas no diagnóstico inicial e no levantamento topográfico (Figura 3).
435
450 O
Bairro São José E IR
O ROT
IO D O
IÇÃ FIM
435 INÍC VARR 425
X
D E
425
410
sé
Bairro São Jo
X
sé
Bairro São Jo
400
400
R.Manoel Pedroza
6.8.2 Capina
O objetivo da capina de logradouros públicos é mantê-los livres de mato e ervas daninhas, de modo
que apresentem bom aspecto estético. Pode ser realizado manual ou mecanicamente (Figuras 4 e 5).
O ciclo normal de capina é de cerca de dois meses no período chuvoso do ano, e de três a
quatro meses no período da estiagem. Neste serviço também é programada a coleta, o transporte
e a destinação para os resíduos da capina.
Parâmetros utilizados para a capinagem:
• Média de capinação manual: 150 m²/homem.dia.
• Média de roçagem manual: 200 m²/homem.dia.
• Roçadeira costal: 300 m²/homem.dia.
6.8.3.1 Feiras
O funcionamento das feiras livres traz aos logradouros, nos quais são realizadas, considerável
quantidade de resíduos e material putrescível. Cabe ao gestor responsável restabelecer no menor
espaço de tempo possível a limpeza dos logradouros atingidos, fazendo a coleta e o transporte dos
resíduos. É importante que, após a limpeza da feira, seja efetuada a lavagem do logradouro utilizando
solução de cloro para desinfecção.
6.8.3.2 Eventos
Nos locais em que são realizados eventos, tanto de pequeno quanto de grande porte, são gerados
resíduos sólidos. Durante o evento, deve ser prevista forma de acondicionamento e coleta dos resíduos,
a fim manter o local limpo. Após a realização do evento, deve-se fazer a limpeza de toda a área, coleta
dos resíduos e destinação final.
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289
6.8.3.3 Praias
A limpeza das praias é feita manual e mecanicamente. A manual (Figura 6) é realizada por turmas
de trabalhadores que recolhem principalmente papéis, embalagens e detritos volumosos.
Na limpeza mecânica (Figura 7) utilizam-se máquinas especiais, resistentes à corrosão pela
maresia e à abrasão pela areia. Os resíduos gerados são coletados e manuseados para os logradouros,
sendo transportados para destinação final.
Esse serviço é realizado com o objetivo de dar ao logradouro um aspecto estético e de limpeza.
É simples e barato, e possibilita uma melhoria visual da cidade, além de ser balizador do sistema
viário da cidade (Figura 8).
6.8.3.5 Cemitérios
6.8.3.7 Bueiros
A limpeza dos bueiros é feita manualmente, na maioria dos municípios, e tem como objetivo
garantir o escoamento das águas pluviais e impedir o acúmulo de material sólido, podendo ser feita
por um ou dois operários munidos de pá, picaretas e ganchos. A execução da limpeza mecanizada é
realizada por equipamentos especializados. Após limpeza, os resíduos são coletados e transportados
para a destinação final.
A limpeza dos córregos deve ser feita por meio da capina junto ao nível d’água e sem roçar
as áreas superiores das margens. A permanência de vegetais é salutar, pois evita o deslizamento
dos resíduos sólidos para o interior do córrego. Os resíduos coletados devem ser removidos para a
destinação final.
Manual de Saneamento
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e) Perigos decorrentes de mau acondicionamento, dando lugar a criadouro de moscas, baratas,
mosquitos e ratos e de suas consequências.
f) Higienização dos locais de acondicionamento.
g) Aspectos visados: controle de vetores, redução de odores e estética.
Resíduos domiciliares
Massa específica (kg/m3) Umidade (% em peso)
Tipo de resíduo
Faixa Típico Faixa Típico
Restos de alimentos (misturados) 131-481 291 50-80 70
Papel 42-131 89 4-10 6
Papelão 42-80 50 4-8 5
Plástico 42-131 65 1-4 2
Têxteis 42-101 65 6-15 10
Borracha 101-202 131 1-4 2
Couro 101-261 160 8-12 10
Restos de jardim 59-225 101 30-80 60
Madeira 131-320 237 15-40 20
Vidro 160-481 196 1-4 2
Latas (aço) 50-160 89 2-4 3
Alumínio 65-240 160 2-4 2
Outros metais 131-1.151 320 2-4 3
Poeira, cinzas etc. 320-1000 481 6-12 8
Cinzas 650-831 745 6-12 6
Outros 89-181 131 5-20 15
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6.9.2.3 Índices e etapas para o dimensionamento da coleta
Tabela 5 – Vantagens e desvantagens dos horários diurno e noturno de coleta de resíduos sólidos.
Turno de
Vantagens Desvantagens
coleta
• Facilita o acompanhamento dos serviços
Horário • Prejudica o trânsito de
pela equipe de fiscalização.
diurno de veículos.
• Torna-se mais econômico.
coleta de • Menor produtividade em
• Recolhimento do recipiente pelo interessado.
resíduos regiões de clima quente.
• Sinalização do veículo coletor por meio
sólidos • Maior desgaste do trabalhador.
de buzina.
Continua
Turno de
Vantagens Desvantagens
coleta
• Provoca ruídos pela
Horário • Maior abrangência da coleta manipulação dos recipientes e
noturno de (domiciliar e comercial). veículos coletores.
coleta de • Os resíduos não atrapalham os transeuntes, • Difícil fiscalização por parte da
resíduos propiciando um bom aspecto estético. equipe de serviço.
sólidos • Não interfere no tráfego intenso durante o dia. • Custo elevado da mão de obra
em virtude do adicional noturno.
CEMITÉRIO
R. Manoel Pedroza
GINÁSIO
R.João Bezerra
x
R. Antonio Galbino
ESCOLA
Praça Igreja
Prefeitura
x
R. Alfred
o Neto
x
a
ião Vieir
R.João Bezerra
R.Sebast
x
x
Figura 9 – Levantamento da malha urbana.
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295
6.9.2.6 Cálculo da frota para coleta
1 L Dg Dd 1 Q (02)
NS = . +2 . +2 . . .
J Vc Vt Vt J C
Onde:
NS = quantidade de veículos.
J = duração útil da jornada de trabalho da equipe (em número de horas, desde a saída da garagem
até o seu retorno, excluindo intervalo para refeições e outros tempos improdutivos).
L = extensão total das vias (ruas e avenidas) do setor de coleta, em km.
Vc = velocidade média de coleta, em km/h.
Dg = distância entre a garagem e o setor de coleta, em km.
Vt = velocidade média do veículo nos percursos de posicionamento e de transferência, em km/h.
Q = quantidade total de resíduos a ser coletada no setor, em ton. ou em m³.
C = capacidade dos veículos de coleta, em ton. ou em m³; em geral, adota-se um valor que
corresponde a 70% da capacidade nominal, considerando-se a variabilidade da quantidade
de resíduos coletados a cada dia.
O itinerário de coleta significa o percurso que o transporte faz dentro de um mesmo setor, em
um espaço de tempo.
Sugestões para facilitar o itinerário da coleta (Figura 10):
• Começar a coleta nas proximidades da garagem e terminá-la próximo à estação de transfe-
rência ou ao destino final.
• Coletar em vias com declive, no sentido de cima para baixo.
• Para cada itinerário é necessário um roteiro gráfico e descritivo do setor.
R. Antonio Galbino
373.000
a
aç
Pr
Prefeit
FIM ura
R. Alfred
o Neto
X
ião Vieir
R.Sebast
R.João Bezerra
Figura 10 – Roteiro de coleta de resíduos (mapa esquemático).
As estações de transferência, também conhecidas como transbordo, servem para limitar o per-
curso dos transportes coletores. São espaços físicos para armazenamento temporário dos resíduos,
sendo bastante utilizados em grandes centros urbanos, em que maior economia é conseguida por meio
do transporte dos resíduos em veículos com capacidade de 40 a 60 m³. A instalação desta estação é
recomendada quando a destinação final ficar a uma distância superior a 30 km.
As estações de transferência podem ser classificadas quanto ao:
• Meio de transporte (após transferência): rodoviário, ferroviário e hidroviário.
• Modo de armazenagem: com fosso de acumulação e sem fosso.
• Tratamento físico prévio: com sistema de redução de volume e simples transferência.
A coleta seletiva é um sistema de recolhimento dos resíduos recicláveis inertes (papéis, plásti-
cos, vidros e metais) e orgânicos (sobras de alimentos, frutas e verduras), previamente separados nas
próprias fontes geradoras, com a finalidade de reaproveitamento e reintrodução no ciclo produtivo.
Este sistema pode ser implantado em municípios, bairros residenciais, vilas, comunidades,
escolas, escritórios, centros comerciais ou outros locais que facilite a coleta dos materiais recicláveis.
As principais vantagens desse processo são: economia de matéria-prima; economia de energia;
combate ao desperdício; redução da poluição ambiental; e potencial econômico por meio da comer-
cialização dos recicláveis.
A coleta seletiva significa uma mudança de procedimento das pessoas, que dela estarão participando.
Para o dimensionamento e o planejamento das ações de coleta seletiva, é necessário o levantamento
de informações que identifiquem as características e a geração dos resíduos sólidos nas áreas de abran-
gência do projeto, tais como: estimativas da quantidade de lixo gerada; composição física; parâmetros
físico-químicos; número de habitantes; poder aquisitivo; condições climáticas; hábitos da população;
taxas de incremento da geração de lixo e limpeza; classificação do resíduo; comunidades; caracterização
das áreas de influência; e pesquisa de mercado para escoar os materiais recicláveis coletados.
A partir do levantamento das informações deverão ser dimensionados para cada comunidade
ou setor envolvido no projeto os seguintes parâmetros: número de catadores (um catador para cada
1.200 habitantes); frequência da coleta; extensão dos percursos; número de postos de captação;
Manual de Saneamento
297
número de postos de entrega voluntária (PEV); equipamentos básicos; meios de transporte; setores
de coleta; e horários.
Será necessário dimensionar a infraestrutura (galpão de triagem, baias, pátio, depósitos) e os
equipamentos (balanças, prensas, esteiras e outros), compatíveis com a demanda projetada, recomen-
dada para o horizonte de 20 anos.
A sustentabilidade do empreendimento está vinculada ao planejamento de médio e longo prazos.
a) Divulgação e treinamento.
Para que o programa de coleta seletiva tenha êxito, torna-se necessária a participação popular
em cada ação desenvolvida, visando gerar um sentimento de autoria e responsabilidade, garantindo,
desta forma, a sustentabilidade do programa.
A divulgação e a educação no programa de coleta seletiva, com distribuição de folhetos, difusão
de mensagens e eventos nas comunidades, tem por objetivo sensibilizar o público-alvo para adesão
da população ao projeto.
Paralelamente, é desenvolvido um programa direcionado especialmente às escolas, às empresas,
aos serviços de saúde e aos órgãos públicos.
Também são realizados cursos destinados a professores, diretores de escolas, líderes comunitários,
agentes comunitários etc., com o objetivo de formação de multiplicadores.
b) Forma de separação.
Na coleta seletiva, uma das formas de separação dos resíduos sólidos é dividi-los quanto à sua
natureza física (Tabela 6).
Manual de Saneamento
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d) Na coleta seletiva, os recipientes a serem utilizados deverão obedecer às cores, conforme
Tabela 8.
6.11.1 Vidro
Vidro pode ser 100% reciclado; no entanto, o processo de reciclagem dos vidros planos ocorre
de forma diferenciada das embalagens, por meio de recicladores especializados. Lâmpadas,
tubos de imagem e espelhos contêm metais em sua composição, o que torna sua reciclagem
frequentemente inviável do ponto de vista econômico.
6.11.2 Plásticos
Plástico é uma palavra genérica para representar uma gama de materiais produzidos a partir de
resinas sintéticas derivadas do petróleo.
1 2 3 5 6 7
PET PEAD pvo
4 PP PS Outros
6.11.3 Papel
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6.11.5 Alumínio
O alumínio é um dos metais mais importantes para a reciclagem. A cada quilo de alumínio reci-
clado, 5 quilos de bauxita (minério bruto de onde se produz o alumínio) são poupados. Para se reciclar
o alumínio, gasta-se somente 5% da energia que seria utilizada na produção do alumínio primário.
A lata de alumínio é 100% reciclável, ou seja, não é preciso retirar nenhuma parte dela
antes da reciclagem, nem mesmo o anel. Depois de prensadas, as latas e/ou artefatos de alu-
mínio são derretidos e transformados em placas, chamadas lingotes. No caso das latinhas, os
lingotes passam por um processo chamado laminação e tornam-se chapas de alumínio, que
são utilizadas na fabricação das latas novas. No caso dos artefatos (como fios, cabos, panelas
e perfis), os lingotes são fornecidos para a indústria de transformação, e, por meio de processos
diferentes, são obtidos novos produtos.
6.12 Compostagem
A compostagem é um costume que existe há muito tempo. Acredita-se ser o sistema biológico
mais antigo que o homem utiliza; entretanto, ocorria sem controle e levava longos períodos de tempo
para estabilização do composto. Só a partir de 1920, com Albert Howard, é que o processo passou a
ser pesquisado cientificamente e realizado de forma racional. Nas décadas seguintes, muitos trabalhos
científicos lançaram as bases para o desenvolvimento desta técnica, que hoje pode ser utilizada em
escala industrial.
Dentre as várias definições, destacamos que a compostagem moderna é um processo controlado
de decomposição microbiana de oxidação e oxigenação de uma massa heterogênea de matéria orgânica
Sendo um processo biológico, os fatores mais importantes, que influenciam as degradações das
matérias orgânicas, são aeração, temperatura, umidade, nutrientes, pH e tamanho da partícula. A tem-
peratura influencia diretamente o processo de biodegradação e eliminação de patógenos. Os nutrientes,
principalmente carbono e nitrogênio, são fundamentais ao crescimento bacteriano. O carbono é a
principal fonte de energia e o nitrogênio é necessário para a síntese celular. Os micro-organismos têm
necessidade dos mesmos micronutrientes requeridos pelas plantas: Cu, Ni, Mo, Fe, Mg, Zn e Na são
utilizados nas reações enzimáticas, porém os detalhes deste processo são pouco conhecidos.
a) Fase ativa.
À medida que o processo de compostagem se inicia, há proliferação de populações complexas
de diversos grupos de micro-organismos (bactérias, fungos, actinomicetos), que vão se sucedendo de
acordo com as características do meio, passando rapidamente por uma fase inicial de fitotoxidade ou
de composto cru, seguida da fase de semicura ou bioestabilização. De acordo com suas temperaturas
ótimas, estes micro-organismos são classificados em psicrófilos (00 C - 200 C), mesófilos (150 C - 430 C)
e termófilos (400 C - 850 C). Na realidade, estes limites não são rígidos e representam muito mais os
intervalos ótimos para cada classe de micro-organismo do que divisões estanques.
No início do processo há um forte crescimento dos micro-organismos mesófilos. Com a elevação
gradativa da temperatura, resultante do processo de biodegradação, a população de mesófilos diminui
e os micro-organismos termófilos proliferam com mais intensidade.
A população termófila é extremamente ativa, provocando intensa e rápida degradação da matéria
orgânica e maior elevação da temperatura, o que elimina os micro-organismos patogênicos (Figura 13).
BIOESTABILIZAÇÃO HUMIFICAÇÃO
COMPOSTO COMPOSTO
SEMICURADO
TEMPERATURA
60º CURADO
FASE
TERMÓFILA
40º
TEMPO DE COMPOSTAGEM
Manual de Saneamento
303
Tempo de compostagem
Quando o substrato orgânico for em sua maior parte transformado, a temperatura diminui, a
população termófila restringe-se, a atividade biológica global reduz-se de maneira significativa e os
mesófilos instalam-se novamente. Nesta fase, a maioria das moléculas facilmente biodegradáveis foram
transformadas, o composto apresenta odor agradável e já teve início o processo de humificação, típico
da segunda etapa do processo, denominada maturação.
Estas duas fases distintas do processo de compostagem são bastante diferentes entre si. Na fase
de degradação rápida, também chamada de bioestabilização, há intensa atividade microbiológica e
rápida transformação da matéria orgânica. Portanto, há grande consumo de O2 pelos micro-organismos,
elevação da temperatura e mudanças visíveis na massa de resíduos em compostagem, pois ela se torna
escura e não apresenta odor agressivo. Mesmo com tantos sinais de transformação, o composto não
está pronto para ser utilizado. Ele só estará apto a ser disposto no solo após a fase seguinte, chamada
de maturação.
Os principais problemas e medidas corretivas durante a fase de degradação ativa são apresen-
tados na Tabela 10.
b) Maturação.
Na fase de maturação, a atividade biológica é pequena; portanto, a necessidade de aeração
também diminui. O processo ocorre à temperatura ambiente e com predominância de transformações
de ordem química: polimerização de moléculas orgânicas estáveis no processo conhecido como
humificação.
Esses conceitos são importantes, pois eles se refletem na própria concepção das usinas de
compostagem. Como na fase de biodegradação rápida ocorre uma redução de volume do material
compostado, consequentemente a área necessária para a fase de maturação é menor, podendo-se
agregar diversas leiras em uma única pilha.
Manual de Saneamento
305
Durante a maturação, alguns testes simples permitem definir o grau de maturação do composto,
e, portanto, a liberação para seu uso. Ele pode, então, se houver interesse, ser peneirado e acondicio-
nado adequadamente para ser mais facilmente transportado.
Após a fase termófila, o composto está estabilizado, mas ainda não está maturado.
Alguns pesquisadores diferenciam estas duas características, definindo estabilização como
um estágio de decomposição da matéria orgânica, sendo função da atividade biológica, enquanto
a maturação é uma condição organoquímica do composto que indica a presença ou a ausência de
ácidos orgânicos fitotóxicos e presença de moléculas húmicas e pré-húmicas.
A fitotoxicidade de um composto pode ser provocada pela presença de nitrogênio amoniacal,
dióxido de carbono e ácidos orgânicos variados.
Um composto instável continua a decompor-se rapidamente, e, se for estocado, entrará em
degradação anaeróbia, liberando mau odor e até gases inflamáveis, como metano e fosfina.
Um composto maturado pode ser estocado ou ensacado sem qualquer problema de odor ou
liberação de gases. Seu odor é parecido com o de terra úmida e sua ação no solo não provoca efeitos
fitotóxicos. Durante a fase de maturação, as necessidades do processo de compostagem são diferen-
tes das necessidades da fase termófila. A atividade microbiológica é baixa, o que implica pequena
necessidade de aeração, sendo predominantes os fenômenos de natureza química e bioquímica,
principalmente as reações de polimerização de moléculas de ácidos húmicos e fúlvicos.
De acordo com um dos grupos pioneiros no estudo científico da compostagem (Departamento
de Engenharia Sanitária da Universidade da Califórnia, 1953), um composto é considerado maturado e
pronto para uso quando ele pode ser estocado em grandes leiras, indefinidamente, sem criar condições
de anaerobiose ou gerar calor, podendo ser aplicado em solos agrícolas sem efeitos negativos, devido
à sua baixa relação C/N e pobre disponibilidade de carbono. Quanto à utilização de plantas sensíveis
em testes, tem-se que o teste de germinação de sementes de agrião é fácil de ser feito e reflete a ação
do composto nas plantas, sendo uma alternativa interessante de ser empregada. O agrião é uma das
plantas mais sensíveis à ação fitotóxica do composto mal maturado.
a) Aeração.
Sendo a compostagem um processo aeróbio, o fornecimento de ar é vital à atividade microbiana,
pois os micro-organismos aeróbios têm necessidade de O2 para oxidar a matéria orgânica que lhes
serve de alimento.
A circulação de ar na massa do composto é, portanto, de importância primordial para a com-
postagem rápida e eficiente. Esta circulação depende da estrutura e da umidade da massa, bem como
da tecnologia de compostagem utilizada.
A aeração também influi na velocidade de oxidação do material orgânico e na diminuição da
emanação de odores, pois quando há falta de aeração o sistema pode tornar-se anaeróbio.
Seja qual for a tecnologia utilizada, a aeração é fundamental no período inicial da compostagem,
na fase de degradação rápida, em que a atividade microbiana é intensa.
Na fase seguinte (maturação), a atividade microbiana é pouco intensa; logo, a necessidade de
aeração é bem menor.
b) Temperatura.
A compostagem aeróbia pode ocorrer tanto em regiões de temperatura termofílica (450 C a 850
C) quanto mesofílica (250 C a 430 C). Embora a elevação da temperatura seja necessária e interessante
para a eliminação de micro-organismos patogênicos, alguns pesquisadores observaram que a ação
dos micro-organismos sobre a matéria orgânica aumenta com a elevação da temperatura até 650 C,
e que, acima deste valor, o calor limita as populações aptas, havendo um decréscimo da atividade
biológica. A temperatura é um fator indicativo do equilíbrio biológico, de fácil monitoramento, e que
reflete a eficiência do processo.
Se a leira, em compostagem, registrar temperatura da ordem de 400 C a 600 C, no segundo ou ter-
ceiro dia é sinal que o ecossistema está bem equilibrado e que a compostagem tem todas as chances de ser
bem-sucedida. Caso contrário, é sinal de que algum ou alguns parâmetros físico-químicos (pH, relação C/N,
umidade) não estão sendo respeitados, limitando, assim, a atividade microbiana. Depois de iniciada a fase
termófila (em torno de 450 C), o ideal é controlar a temperatura entre 550 C e 650 C. Esta é a faixa que permite
a máxima intensidade de atividade microbiológica. Acima de 650 C a atividade microbiológica cai e o ciclo
de compostagem fica mais longo.
Atualmente, a aeração também é usada como meio de controlar a temperatura. Em certos casos
o insuflamento de ar comprimido na massa do composto pode ser de cinco a dez vezes maior do
que o estritamente necessário à respiração microbiana, tendo, assim, a função de dissipar o calor
liberado no processo.
Manual de Saneamento
307
c) Umidade.
A água é fundamental para a vida microbiana. No composto, o teor ótimo de umidade,
de modo geral, situa-se entre 50% e 60%. O ajuste da umidade pode ser feito pela criteriosa mistura de
componentes ou pela adição de água. Na prática, verifica-se que o teor de umidade depende também
da eficácia da aeração, das características físicas dos resíduos (estrutura, porosidade). Elevados teores
de umidade (>65%) fazem com que a água ocupe os espaços vazios do meio, impedindo a livre
passagem do oxigênio, o que poderá provocar aparecimento de zonas de anaerobiose. Se o teor de
umidade de uma mistura é inferior a 40%, a atividade biológica é inibida, bem como a velocidade
de biodegradação.
Porém, como há perdas de água devido à aeração, em geral o teor de umidade do composto
tende a diminuir ao longo do processo. O teor de umidade é um dos parâmetros que devem ser
monitorados durante a compostagem para que o processo desenvolva-se satisfatoriamente.
d) Relação C/N (nutrientes).
Os micro-organismos necessitam de carbono como fonte de energia e de nitrogênio para síntese
de proteínas. É por esta razão que a relação C/N é considerada como fator que melhor caracteriza o
equilíbrio dos substratos.
Teoricamente, a relação C/N inicial ótima do substrato deve situar-se em torno de 30. Na realidade,
constata-se que ela pode variar de 20 a 70, de acordo com a maior ou menor biodegradabilidade do substrato.
Tanto a falta de nitrogênio quanto a falta de carbono limitam a atividade microbiológica. Se a relação C/N
for muito baixa, pode ocorrer grande perda de nitrogênio pela volatização da amônia. Se a relação C/N for
muito elevada, os micro-organismos não encontrarão N suficiente para a síntese de proteínas e terão seu
desenvolvimento limitado. Como resultado, o processo de compostagem será mais lento.
Independentemente da relação C/N inicial, no final da compostagem a relação C/N converge
para um mesmo valor, entre 10 e 20, devido a perdas maiores de carbono que de nitrogênio, no desen-
volvimento do processo. O lodo é um resíduo rico em nitrogênio, apresentando relação C/N entre 5,0
e 11,0. Ele necessita, portanto, de um resíduo complementar rico em carbono e pobre em nitrogênio,
para que a mistura, criteriosamente determinada, apresente relação C/N em torno de 20 ou 30.
e) pH.
É fato conhecido que níveis de pH muito baixos ou muito altos reduzem ou até inibem a ati-
vidade microbiana. Quando são utilizadas misturas com pH próximo da neutralidade, o início da
compostagem (fase mesófila) é marcado por uma queda sensível de pH, variando de 5,5 a 6,0, devido
à produção de ácidos orgânicos. Quando a mistura apresentar pH próximo de 5,0 ou ligeiramente
inferior, há uma diminuição drástica da atividade microbiológica e o composto pode não passar para
a fase termófila. A passagem à fase termófila é acompanhada de rápida elevação do pH, que se explica
pela hidrólise das proteínas e liberação de amônia. Assim, normalmente o pH mantém-se alcalino
(7,5-9,0), durante a fase termófila. De qualquer forma, e principalmente se a relação C/N da mistura
for conveniente, o pH geralmente não é um fator crítico da compostagem.
f) Tamanho da partícula (estrutura).
Quanto mais fina é a granulometria, maior é a área exposta à atividade microbiana, o que
promove o aumento das reações bioquímicas, visto que aumenta a área superficial em contato com o
oxigênio. Alguns autores obtiveram condições ótimas de compostagem com substratos apresentando
de 30% a 36% de porosidade. De modo geral, o tamanho das partículas deverá estar entre 25 e 75
mm para ótimos resultados.
A fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos, que serve de matéria-prima para a compostagem,
pode conter micro-organismos patogênicos danosos às plantas, aos animais e ao homem, constituin-
do-se em um grave problema sanitário.
É o produto final da compostagem, sendo considerado o adubo natural que pode ser preparado
por meio da mistura de várias matérias de origem orgânica, como resíduos de cozinha, estrumes,
palha, folhas, restos de frutas, cinzas e outros. De acordo com a legislação brasileira, o composto
orgânico é enquadrado na lei como fertilizante orgânico, ou, mais especificamente, como fertilizante
composto. A fertilidade química do solo é diretamente influenciada pelos macro e micronutrientes
presentes no composto.
Principais propriedades do composto orgânico:
• Melhoria da estrutura do solo, tornando-o poroso e agregando suas partículas.
• Aumento da aeração do solo, necessária à oxigenação das raízes.
• Melhoria da drenagem de água no solo.
• Aumento da capacidade de absorção e armazenamento de água no solo.
• Redução da erosão, evitando o deslocamento violento da água.
• Aumento da estabilidade do pH do solo.
• Aumento da retenção dos macronutrientes, impedindo seu arraste pelas chuvas.
• Formação de quelatos, que aprisionam os micronutrientes que serão absorvidos apenas
pelas raízes das plantas.
• Fornecimento de nutrientes às plantas, como nitrogênio, fósforo e potássio.
Manual de Saneamento
309
Figura 15 – Fluxograma da unidade de tratamento de resíduos sólidos.
Fonte: Fritsch, 2006.
Grupos e
Componentes Exemplos Símbolo
subgrupos
A (potencialmente Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência,
infectantes) infectividade e concentração, podem apresentar risco de patógenos
Cultura e estoques de micro-organismos, vacinas vencidas ou
Resíduos com suspeita ou certeza de
A1 inutilizadas, sobras de amostra de laboratório contendo sangue ou
contaminação biológica
líquido corpóreo
Carcaças, peças anatômicas, vísceras, cadáveres de animais
A2 Resíduos provenientes de animais suspeitos de serem portadores de micro-organismos com risco de
disseminação
A3 Resíduos provenientes do ser humano Peças anatômicas (membros), produtos de fecundação sem sinais vitais
Resíduos provenientes de animais ou Tecido adiposo gerado por procedimentos de cirurgia plástica,
seres humanos que não contenham sobras de amostra de laboratório contendo fezes, urina e secreções,
A4 e nem sejam suspeitos de conter luvas, sondas, curativos, recipientes e materiais que não contenham
agentes patológicos e não causem líquidos corpóreos na forma livre, carcaças, vísceras e peças
risco de disseminação anatômicas de animais que não apresentem risco de contaminação
Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes
Resíduos resultantes da atenção à
A5 ou escarificantes e demais materiais com suspeita ou certeza de
saúde de indivíduos e animais
contaminação com príons
Resíduos contendo substâncias
químicas que, dependendo de suas
B Medicamentos vencidos, produtos hormonais, antimicrobianos,
características de inflamabilidade,
(resíduos reagentes para laboratório, efluentes dos equipamentos
toxicidade, corrosividade e
químicos) automatizados, saneantes, desinfetantes, entre outros
reatividade, podem apresentar riscos
à saúde pública e ao meio ambiente
Manual de Saneamento
Continua
311
Continuação
Grupos e
Componentes Exemplos Símbolo
subgrupos
312
Quaisquer materiais resultantes de
atividades humanas que contenham
C radionuclídeos em quantidades Rejeitos radioativos ou contaminados com radionuclídeos
(rejeitos superiores aos limites de isenção provenientes de laboratórios de análises clínicas, serviços de
radioativos) especificados nas normas e para os medicina nuclear e radioterapia
quais a reutilização é imprópria ou
não prevista
A B C D E
Resíduos potencialmente Resíduos
Resíduos comuns
infectantes Resíduos químicos perfurocortantes
Resíduos radioativos (fraldas, frascos e garrafas
(sondas, curativos, luvas (reveladores, fixadores (agulhas, lâminas de
(cobalto, litio) pets vazias, marmitex,
de procedimentos, bolsa de raio X, prata) bisturi, frascos e ampolas
copos, papel toalha)
de colostomia) de medicamentos)
LIXOPACK
SUBSTÂNCIA
LIXOPACK
INFECTANTE
Manual de Saneamento
313
6.13.2.2 Coleta e transporte interno
A coleta externa consiste na remoção dos RSS do armazenamento externo até a unidade de
tratamento ou disposição final, pela utilização de técnicas que garantam a preservação das condições
de acondicionamento e a integridade dos trabalhadores, da população e do meio ambiente.
Os equipamentos utilizados para coleta e transporte externo de resíduos dos grupos A e B
deverão atender às normas técnicas específicas.
Entende-se por tratamento dos resíduos sólidos, de forma genérica, quaisquer processos manuais,
mecânicos, físicos, químicos ou biológicos que alterem as características dos resíduos, visando à
minimização do risco à saúde, à preservação da qualidade do meio ambiente, à segurança e à saúde
do trabalhador.
As desinfecções térmicas por meio de autoclavagem, micro-ondas ou incineração são as formas
mais comuns de tratamento de RSS do grupo A.
a) Descontaminação com utilização de vapor em altas temperaturas (autoclavagem).
Consiste em manter o material contaminado em contato com vapor de água, a uma temperatura
elevada, durante período de tempo suficiente para destruir potenciais agentes patogênicos ou reduzi-los
a um nível que não constitua risco. O processo de autoclavagem inclui ciclos de compressão e de
descompressão de forma a facilitar o contato entre o vapor e os resíduos. Os valores usuais de pressão
são da ordem dos 3 a 3,5 bar, e a temperatura atinge os 1350 C. Este processo tem a vantagem de ser
familiar aos técnicos de saúde, que o utilizam para processar diversos tipos de materiais hospitalares.
b) Tratamento com utilização de micro-ondas de baixa ou de alta frequência.
Consiste na descontaminação dos resíduos com emissão de ondas de alta ou de baixa frequência,
a uma temperatura elevada (entre 950 C e 1050 C). Os resíduos devem ser submetidos previamente a
processo de trituração e umidificação.
Consiste na disposição definitiva dos RSS, após tratamento, no aterro sanitário ou em valas sépticas,
que são locais previamente preparados para recebê-los. Pela legislação brasileira, a disposição deve
obedecer a critérios técnicos de construção e operação, sendo exigido licenciamento ambiental.
Manual de Saneamento
315
Os principais métodos de operação dos aterros sanitários podem ser de trincheira ou valas,
rampa ou da área.
Com relação aos aspectos ambientais, técnicos, econômicos, sociais e de saúde pública, a
eficiência e a eficácia de um aterro sanitário estão diretamente ligadas a uma adequada escolha da
área de implantação.
O processo de escolha da área deve ter por premissas o menor risco à saúde humana e o menor
impacto ambiental possível, e deve ser conduzido de forma criteriosa e ponderada, satisfazendo os
condicionantes ambientais e operacionais das localidades a serem atendidas.
Os principais critérios para escolha do local para implantação de um aterro sanitário são (Tabela
13): minimização de impactos ambientais negativos; maximização da aceitação pública; obediência
ao zoneamento ambiental e urbano da região; possibilidade de utilização por longo espaço de tempo
com necessidade de poucas obras para início da operação.
O bom desempenho de um aterro sanitário está diretamente ligado à seleção adequada da
área de implantação. Os estudos para seleção da área constituem, assim, a primeira e uma das mais
importantes etapas da concepção do projeto de um aterro sanitário, pois influenciarão diretamente
a segurança e a eficiência das etapas posteriores. Tais estudos esbarram em dificuldades como a de
aquisição do terreno para esse fim, devido, entre outros fatores, à oposição por parte do público, em
função do risco de ser transformado em lixão a céu aberto pela descontinuidade das administrações
municipais. Contudo, a comparação e a ponderação entre as diversas características das áreas pré-
-selecionadas constituem um trabalho que resultará em benefícios ambientais e econômicos para a
implantação do empreendimento.
A avaliação de critérios ambientais (geologia, clima, recursos hídricos), de uso e ocupação do
solo (vizinhança de núcleos populacionais, legislação, titularidade da área) e operacionais (infraes-
trutura, acessos, economia de transporte, declividade do terreno, espessura do solo) deve nortear
todo o projeto, desde os estudos para triagem da área, estendendo-se às etapas de licenciamento
ambiental, implantação, operação, monitoramento e encerramento do aterro, com explicitação do
uso futuro da área.
A escolha de locais apropriados para instalação de aterros sanitários exige a execução de estudos
geológicos e geotécnicos detalhados, incluindo a execução de sondagens de simples reconhecimento
(Standard Penetration Test – SPT), além de outras técnicas de investigação, quando pertinentes, como
a realização de estudos geofísicos.
As normas brasileiras definem como áreas sensíveis, em que não podem ser instalados aterros
sanitários, as áreas de recarga de aquíferos, áreas de proteção de mananciais, mangues e habitat de
espécies protegidas, áreas de preservação permanente ou áreas de proteção ambiental.
Manual de Saneamento
317
A área deve ter um substrato rochoso fácil de escavar, de preferência impermeável, com um solo
profundo e argiloso para ser usado na cobertura e na compactação das células de lixo. Considera-se,
aproximadamente, a necessidade de um metro cúbico de material argiloso para cobrir 5 toneladas de
lixo. Não existindo essa quantidade de material na área do aterro, deve ser buscada em outro local,
ocasionando gastos com o transporte e o impacto ambiental de outra área.
A importância dos estudos na pré-seleção da área está na caracterização de atributos geológicos
e geomorfológicos, hidrológicos, hidrogeológicos e operacionais favoráveis ao empreendimento.
Nessa fase é fundamental caracterizar tipo e profundidade do solo, coeficiente de permeabilidade,
movimentos de massa e erodibilidade, subsidências, condições de compactação, textura, declividade
do terreno, existência de jazidas para material de recobrimento, planícies de inundação, afloramentos
de rocha e matacões, substrato rochoso, drenagem, profundidade do nível de água, áreas de recarga
de aquíferos, poços e nascentes, entre outros fatores.
O chorume, líquido efluente da massa de resíduos sólidos em decomposição, apresenta altas concen-
trações de matéria orgânica, podendo exibir consideráveis quantidades de íons de metais pesados, como
chumbo, cobre, mercúrio, cromo, cádmio e níquel. A geração do chorume pode levar mais de 20 anos
após o encerramento das atividades de disposição final, ao passo que os processos de autodepuração de um
aquífero contaminado por chorume de aterros de resíduos sólidos urbanos podem levar dezenas de anos.
Assim, do ponto de vista de proteção do meio ambiente, os aspectos fundamentais ligados à
geologia durante a vida útil de um aterro sanitário são a análise da migração de contaminantes para a
água subterrânea a partir dos locais de disposição de resíduos e a garantia da estabilidade dos locais
usados para disposição de resíduos.
Com relação à água subterrânea, os aterros apresentam riscos ao meio ambiente, principalmente
quando instalados em áreas hidrogeologicamente vulneráveis, isto é, áreas de recarga de aquíferos,
ou áreas de aquíferos livres com pequena cobertura, com níveis estáticos rasos. De toda forma, no
caso de aquíferos fissurais, cársticos (áreas calcárias) e sedimentares, os aterros devem ser instalados
em regiões com níveis estáticos profundos.
A Figura 19 exemplifica diferentes situações hidrogeológicas e a possibilidade de contaminação
dos aquíferos, correspondendo: A – aterro instalado sobre um aquífero poroso (areia e silte) com nível
estático raso; B – aterro sobre pacote argilo-arenoso; C – aterro sobre um aquífero fraturado (fissural);
e D – aterro instalado sobre substrato arenoso com camadas inclinadas, área de recarga de aquífero.
NÍVEL
ATERRO ARGILA E SILTE ATERRO POTENCIOMÉTRICO
A
B
FLUXO
NÍVEL NÍVEL
ATERRO POTENCIOMÉTRICO ATERRO POTENCIOMÉTRICO
AREIA E
CASCALHO
C
D
1Ì9(/327(1&,20e75,&2
FLUXO
FLUXO
A pesquisa do nível do lençol freático de uma área em que se pretende instalar um aterro pode
ser feita a partir de sondagens na área, ou preliminarmente, por meio de pesquisa em bancos de
dados de poços da região, complementada pelo cadastramento e pela medição da altitude dos níveis
estáticos dos poços tubulares, cacimbões e fontes da área e seu entorno.
A partir desses dados é possível traçar um mapa de linhas equipotenciais (mapa potenciométrico),
ou seja, de linhas de igual profundidade do nível da água subterrânea na região. Tal mapa caracterizará
a direção do fluxo subterrâneo, que é perpendicular às linhas equipotenciais. A caracterização da
direção do fluxo subterrâneo é fundamental para a locação dos poços de monitoramento das águas
subterrâneas que deverão ser construídos no aterro.
Os poços de monitoramento devem ser em número suficiente e instalados adequadamente,
de forma que as amostras retiradas representem a qualidade da água existente no aquífero mais alto.
A área do aterro deve ser constituída de no mínimo quatro poços, sendo um a montante e três a jusante
no sentido preferencial do fluxo subterrâneo.
O monitoramento das águas subterrâneas deverá continuar por um período de 20 anos após o
fechamento do aterro. Este período poderá ser reduzido, uma vez constatado o término da geração
de líquido percolado, ou então estendido, caso se acredite ser insuficiente.
É fundamental o mapeamento geológico estrutural da área, a fim de se verificar a existência de
descontinuidades rúpteis da rocha (falhas, fraturas e fissuras, abertas no local), pois essas facilitam a
percolação do chorume e a possível contaminação da água subterrânea.
Os parâmetros do solo a serem analisados são: a heterogeneidade do perfil, as características
granulométricas, a mineralogia, a permeabilidade, a capacidade de carga e a compactação, a presença
de matacões, a compressibilidade, a colapsibilidade/expansibilidade e a salinidade. É importante
também a análise das condições de erodibilidade e estabilidade do terreno.
A caracterização geomorfológica é muito importante na escolha da área de implantação do
aterro. A topografia é fator determinante na escolha do método construtivo e nas obras de terraplena-
gem para a construção do aterro. Quanto menor for a declividade da área em análise, mais apta ela
será para a implantação de um aterro sanitário. Essa consideração deve-se ao fato de que, em baixas
declividades, as operações de movimentação de resíduos e solos são facilitadas, além de oferecer
condições menos críticas para o sistema de drenagem.
O aterro não deve ser executado em áreas sujeitas a inundações, considerando-se períodos de
recorrência de 100 anos. Depreende-se que áreas de planície aluvial, bem como áreas muito escar-
padas, são impróprias para instalação de aterros, sendo favoráveis áreas de tabuleiros e de encostas
suaves. Assim, faz-se necessário o mapeamento geomorfológico e a caracterização da drenagem com
identificação dos divisores de água.
Manual de Saneamento
319
O modelo para laudo ou parecer geológico e geotécnico deve considerar os seguintes itens:
a) Localização e vias de acesso: apresentar um levantamento planialtimétrico georreferenciado,
com indicação da área do aterro sanitário e sua vizinhança.
b) Geomorfologia/relevo: caracterizar as formas de relevo regionais e local, identificando divi-
sores de água, zonas alagadas e zonas sujeitas a inundações. Caracterizar a declividade do
terreno e os processos da dinâmica externa atuantes na área, como erosão, escorregamentos,
riscos de ruptura, análise de estabilidade de taludes.
c) Clima: caracterização da pluviometria, direção dos ventos, evapotranspiração potencial.
d) Vegetação: caracterização da cobertura vegetal, indicando possíveis áreas de preservação.
e) Hidrografia: caracterização do escoamento superficial, da bacia de drenagem, tipo de rede
de drenagem e distância dos principais cursos d’água e outras coleções hídricas.
f) Geologia regional: formações geológicas do embasamento e coberturas sedimentares,
estratigrafia.
g) Geologia local: litologias, estruturas (descontinuidades, fraturas, falhas, fissuras), perfil e
espessura do solo, existência de afloramentos e possibilidade de matacões, entre outros.
h) Hidrogeologia regional e local: principais aquíferos regionais, características em relação
à homogeneidade e superfície potenciométrica. Características de porosidade e permeabi-
lidade. Importância deles para o abastecimento público e do ponto de vista econômico.
Hidroquímica, cadastro de poços, caracterização da área em termos de recarga de aquíferos.
i) Possibilidades de infiltração: cadastro de poços da área e do entorno dos aquíferos.
Profundidade do nível da água. Vulnerabilidade natural. Apresentar mapa potenciométrico,
indicando a direção predominante do fluxo de águas subterrâneas.
j) Caracterização dos solos: granulometria, variação do perfil do solo, mineralogia, pH,
condutividade elétrica, camadas compressíveis, colapsividade/expansibilidade, potencial
de erodibilidade, condutividade hidráulica, permeabilidade.
k) Campanha de sondagens: quantidade e locação dos furos e respectivas cotas de topo em
planta planialtimétrica. Perfis descritivos de cada sondagem. Testes de absorção.
l) Jazidas de material de recobrimento: características (conforme as do solo), espessura,
distância ao local do aterro, possibilidade de compactação.
m) Conclusão e parecer final: conclusão quanto à recomendação ou não da área para a instala-
ção do aterro e proposição de medidas de adequação. Locação dos poços de monitoramento.
n) Anexos: além das plantas perfis, devem constar: mapa geológico com indicação das estruturas
e dos poços e pontos de água; locação dos poços de monitoramento. Mapa potenciométrico
com a indicação das linhas de fluxo; mapa de vulnerabilidade dos aquíferos e fotografias.
Consiste no confinamento dos resíduos sólidos em valas escavadas, tendo comprimento variável,
com largura e profundidade proporcionais à quantidade de resíduo a ser aterrado. Este método é muito
utilizado em cidades de pequeno porte; no entanto, não isenta as construções complementares, como
cerca de proteção, cerca verde, drenagem de água pluvial, drenagem e tratamento de percolados,
drenagem do gás e construção de poços de monitoramento.
Admite-se a disposição final em valas, de forma excepcional, com a devida aprovação do órgão
ambiental, para os municípios ou consórcios com população urbana que gerem até 20 toneladas por
dia de resíduos e que não disponham de aterro sanitário licenciado. Essa alternativa deve obedecer
aos critérios estabelecidos na legislação.
Para a previsão do volume de líquido a ser tratado, considera-se o chorume que é gerado na
decomposição da matéria orgânica e pelo lixiviado decorrente da percolação de líquidos no inte-
rior do aterro. Normalmente o volume de líquidos gerados varia com a precipitação pluviométrica,
a evaporação, o escoamento superficial e a umidade dos resíduos aterrados. Em geral, é previsível uma
elevação do teor de carga orgânica do chorume entre cinco e oito anos e, em seguida, decréscimos
sucessivos até a completa estabilização, em períodos da ordem de 30 anos ou mais. A complexidade
dos processos interativos físicos, químicos e biológicos envolvidos na geração do chorume, bem
como de seu fluxo hidráulico em um meio intrinsecamente heterogêneo, explica a grande variação
dos valores das concentrações dos constituintes do chorume. Nos aterros sanitários convencionais,
tem-se variações da DBO5 de 2.000 a 30.000 mg/l; da DQO, de 3.000 a 60.000 mg/l; da dureza total,
de 100 a 10.000 mg/l; e do nitrogênio amoniacal, de 10 a 800 mg/I.
Nas cidades de pequeno porte normalmente são utilizadas as unidades de tratamentos
mais simples possíveis, que reduzam as cargas orgânicas no nível aceitável pela legislação.
O tratamento mais comum ainda é composto de lagoas de acumulação, anaeróbias e facultativas,
além das outras alternativas.
Embora o biogás gerado nos aterros sanitários tenha composição e taxa de geração bastante
variável ao logo do tempo, pode-se defini-lo como uma mistura heterogênea de gases, cujos princi-
pais componentes são o metano (CH4) e o dióxido de carbono (CO2). Os diversos outros gases que
compõem usualmente esta mistura (tais como NH3, H2S, N2 e H2), comparecem em percentuais quase
sempre desprezíveis (traços).
Sua exploração a partir de aterros sanitários exige importantes investimentos, tanto na instalação
e na manutenção do sistema de captação (por sucção forçada), quanto na instalação e na operação da
unidade de beneficiamento do biogás para extração desse gás específico e seu acondicionamento em
recipientes sob alta pressão; ou queima direta em caldeiras, para a geração de energia elétrica ou térmica.
O sistema de drenagem e tratamento desses gases constitui-se de:
a) Uma malha de drenos verticais (chaminés) de captação e escoamento, que perpassem o
maciço do aterro em toda sua altura, dispostos de tal maneira que preferivelmente coinci-
dam, em sua base, com a rede coletora de chorume, e que a distância desses drenos entre
si não exceda 30 m.
b) Queimadores especiais de gases, de construção e operação relativamente simples, dispostos
diretamente sobre a extremidade superior de cada um dos referidos drenos verticais, em cada
etapa de execução do aterro, destinados a possibilitar a combustão controlada do biogás
bruto à medida de sua geração.
Os requisitos mínimos para nortear a elaboração de projetos para aterro sanitário de resíduos
sólidos urbanos são:
a) Informações gerais do empreendimento:
• Aspectos ambientais.
• Aspectos econômicos.
• Aspectos sociais.
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b) Estudos preliminares:
• Estudo específico de uma área já selecionada, a qual será analisada visando à obtenção de
dados que confirmem sua escolha e deem subsídios para a elaboração dos projetos básico
e executivo.
c) Levantamento topográfico:
• Possibilita a visualização em planta da área selecionada para implantação do aterro. Deve
conter os limites e a localização da área georreferenciada e o levantamento planialtimétrico
com a definição das curvas de nível a cada metro.
d) Estudos ambientais:
• Meio físico: avaliação preliminar do local em que será implantado o aterro sanitário e sua
área de influência, sendo que nesta etapa deverão ser realizados sondagens e ensaios labo-
ratoriais. Os elementos que deverão ser estudados são: clima; recursos hídricos; pedologia;
geologia e geotecnia; e hidrogeologia.
• Meio biótico: identificação das espécies da fauna e flora existentes na área do aterro e
nas proximidades.
• Meio antrópico: levantamento de aspectos sociais e demográficos da população que será
atendida e afetada pelo aterro.
e) Caracterização física dos resíduos sólidos:
• Produção e composição gravimétrica dos resíduos sólidos.
• Metodologia de análise gravimétrica.
f) Concepção do projeto:
• Descrição sucinta da concepção básica do projeto de aterro sanitário a ser adotado,
considerando aspectos como: vias e acessos; movimento de terra; movimentação de
veículos; implantação, operação e monitoramento do empreendimento.
g) Infraestrutura necessária:
• Descrição sucinta das instalações físicas das estruturas de apoio.
h) Elaboração do projeto do aterro sanitário:
• Detalhamento da proposta em níveis básico e executivo.
O projeto básico deve basear-se nos estudos preliminares, que contêm os elementos descritivos
e de dimensionamento.
a) Dimensionamento da estrutura de apoio: cerca perimetral; cinturão verde; guarita; balança
rodoviária; administração, entre outros.
b) Dimensionamento da estrutura do aterro sanitário: constando dos elementos que compõem
o aterro sanitário, de acordo com as normas e legislações vigentes: movimento de terra;
sistema viário (largura das vias e declividade); células de aterramento; sistema de drenagem
de águas pluviais; sistema de drenagem de gases e sistema de drenagem de líquidos perco-
lados e seu tratamento, contendo:
• Determinação da vazão de chorume utilizando o método do balanço das águas.
• Dimensionamento dos drenos internos e anelares das células, dos poços de captação e
tubulações que escoam o chorume até o tratamento.
• Dimensionamento da estação de tratamento de líquidos considerando a vazão e as caracterís-
ticas do chorume, com o objetivo de adequar o efluente tratado aos parâmetros da legislação.
O projeto executivo deve detalhar o projeto básico, com o objetivo de possibilitar a implantação
do aterro.
a) Memorial descritivo – documento em que são descritos os elementos que compõem o projeto
e as atividades que deverão ser executadas para a implantação do projeto.
b) Memorial de cálculo – descrição dos parâmetros adotados e os procedimentos de cálculo
utilizados no dimensionamento das estruturas e dos sistemas que compõem o aterro.
c) Especificações técnicas – dos serviços e materiais de construção que serão utilizados na
operação do aterro.
d) Orçamento – orçamentação dos elementos que compõem o projeto, a composição do custo
de operação do aterro e um cronograma físico-financeiro para a implantação da obra.
e) Plano de operação – procedimentos que deverão ser adotados durante a operação do aterro
sanitário. No plano de operação devem ser destacadas as medidas mitigadoras previstas no
Estudo de Impacto Ambiental (EIA), quando for o caso, a ser obrigatoriamente elaborado,
e os procedimentos de manutenção das estruturas do aterro.
f) Plano de monitoramento – estabelece as diretrizes gerais e a sistemática para o desenvol-
vimento do monitoramento, que deverá ser dividido da seguinte forma:
• Monitoramento de recursos naturais – visa ao acompanhamento da evolução das condições
naturais da área, servindo para avaliar a eficiência das medidas mitigadoras;
• Monitoramento do processo de operação – consiste na avaliação constante dos padrões de
eficiência do tratamento dos resíduos. O projeto executivo deverá incluir a elaboração
de plantas da área do aterro, mostrando a construção inicial e gradual das células de disposição
de resíduos sólidos e as plantas da terraplanagem final para o encerramento. Também deverão
ser apresentados cortes da área mostrando esses vários estágios da vida do aterro. As plantas e
os cortes serão elaborados para diversas finalidades, tais como: 1) auxiliar a equipe de projeto
a elaborar solução ótima para a construção, a operação e o encerramento das instalações de
disposição de resíduos sólidos na área de cada aterro; 2) revisar o método recomendado para
as obras na área, por meio de uma comissão técnica de acompanhamento.
g) Plano de encerramento do aterro sanitário – inclui desenhos, especificações técnicas e
instruções em um Manual de Operação, necessários para o encerramento da área. Uma
vez que a área será operada durante um razoável período de tempo, será elaborado um
sistema de encerramento por etapas, semelhante ao programa em etapas para a construção
das células de disposição de resíduos sólidos.
h) Manual de Operação do Aterro Sanitário – deve incluir uma seção sobre o encerramento
do aterro. Esta seção deve descrever o encerramento por etapas de cada célula do aterro,
incluindo informações sobre processos de construção, especificação de materiais e cro-
nograma previsto para encerramento. Além disso, esta seção deverá incluir informações
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sobre a manutenção de partes encerradas da área, incluindo corte rotineiro da vegetação
para evitar o estabelecimento de pequenas árvores que possam danificar a cobertura final.
O Manual de Operação também deverá incluir os requisitos de inspeção e procedimentos
de reparos para manter a integridade da cobertura final do aterro, como o conserto de áreas
atingidas pela erosão e o restabelecimento da vegetação em locais que assim necessitem:
• O Manual de Operação também deverá incluir especificações técnicas dos vários tipos de
materiais necessários para o encerramento do aterro, incluindo os materiais para cobertura
final, sistema de controle da água de superfície e outros.
• Serão exigidas sondagens tipo SPT e ensaios de permeabilidade do solo na área em que for ser
implantado o empreendimento, após o estudo locacional, que selecione a área conforme as
restrições legais, os condicionantes ambientais e os condicionantes tecnológicos, de acordo
com a legislação vigente.
a) Diagnóstico ambiental e social – nessa etapa são feitos um levantamento e uma análise
das informações que caracterizam a área de abrangência, como topografia, sondagens,
nível e fluxo da água subterrânea, e suas relações com o meio e com as pessoas. Deverão
ser identificados e quantificados os impactos ambientais, e descritos seus mecanismos
bio-físico-químicos predominantes.
b) Controle operacional – instalações e infraestrutura deverão ser providenciadas de modo
a regularizar a área e seu entorno. Suspensão imediata da deposição de resíduos no local,
isolamento da área com cerca ou muro, instalação de guarita de controle de acesso e segu-
rança, implantação de vias de acesso e iluminação, instalação de drenagem superficial no
entorno e cortina vegetal são algumas dessas medidas.
c) Recuperação ambiental – limpeza da área perimetral e dos corpos d’água nas proximidades,
remoção de resíduos perigosos aparentes na massa de resíduos, compactação e recobrimento
da camada de resíduos, conformação de células e taludes, instalação do sistema de drenos de
gases e líquidos percolados nessa camada, descontaminação da área por meio de processos
de biorremediação e revegetação da área ou entorno com espécies pioneiras da região:
• Biorremediação “in situ” – consiste em promover o crescimento ou a introdução de
micro-organismos na área contaminada com o objetivo de acelerar os processos bioló-
gicos de descontaminação.
• Biorremediação “ex situ” – quando há remoção do material contaminado e o tratamento
é realizado fora do local de origem. É mais dispendiosa que a biorremediação in situ.
d) Assistência social aos catadores – considerados como agentes essenciais à gestão dos resí-
duos sólidos, os catadores deverão ser ressocializados e requalificados para participar do
gerenciamento dos materiais recicláveis.
Referências bibliográficas
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