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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE- UNICENTRO- CÂMPUS

SANTA CRUZ
SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA CULTURAL
PROFESSORA: SILVIA
ACADÊMICA: CAROLINA GOTARDO CORRÊA 1º HIM

FICHAMENTO COMENTADO

MORGAN, Lewis Henry. SOCIEDADE ANTIGA: ou investigações sobre as linhas


do progresso humano desde a selvageria, através da barbárie até a civilização.
Evolucionismo Cultural/ textos de Morgan, Tylor e Frazer, textos selecionados,
apresentação e revisão, Celso Castro; tradução, Maria Lúcia de Oliveira- Rio de
Janeiro; Jorge Zahar Ed., 2005. P. 20-30.

- “Pode-se afirmar agora, com base em convincente evidência, que a selvageria


precedeu a barbárie em todas as tribos da humanidade, assim como se sabe que a
barbárie precedeu a civilização. A história da raça humana é uma só - na fonte, na
experiência, no progresso. -p. 21

Justificativa: O trecho retirado do prefácio do texto demonstra com clareza o


principal argumento do evolucionismo cultural, a cresça de que a humanidade segue
o mesmo caminho de evolução, da selvageria a barbárie e, da barbárie a civilização.

- “Quando organizadas e comparadas [as instituições sociais e civis], tendem a


mostrar a origem única da humanidade, a semelhança de desejos humanos em um
mesmo estágio de avanço e a uniformidade das operações da mente humana em
condições similares de sociedade.” -p. 21

Justificativa: Aqui pode-se observar a tendência ao método comparativo, modo


como Morgan fazia suas análises, comparando uma sociedade a outra.

- “Do mesmo modo, a família passou por formas sucessivas, e criou grandes
sistemas de consangüinidade e afinidade que duram até os dias de hoje. Esses
sistemas registram as relações existentes na família no período em que cada um,
respectivamente, foi formado, e contêm um registro instrutivo da experiência da
humanidade enquanto a família estava avançando da consangüinidade para a
monogamia, passando por formas intermediárias.” -p. 22

Justificativa: Nesta passagem podemos observar a valorização do parentesco, outra


característica do evolucionismo cultural.

- “Há um campo de trabalho no qual, como americanos, temos um interesse - bem


como uma obrigação - especial. Sendo reconhecidamente abundante em riqueza
material, o continente americano é também o mais rico de todos em materiais
etnológicos, filológicos e arqueológicos que ilustram o grande período da barbárie.” -
p. 22

Justificativa: Nessa parte do texto pode-se notar o conceito de “museu vivo” dos
povos que ainda viviam nas américas, eles pregavam que deveriam recolher todas
as informações e artefatos possíveis para que, eles e os futuros antropólogos,
pudessem entender as origens da humanidade.

- “Como a humanidade foi uma só na origem, sua trajetória tem sido essencialmente
uma, seguindo por canais diferentes, mas uniformes, em todos os continentes, e
muito semelhantes em todas as tribos e nações da humanidade que se encontram
no mesmo status de desenvolvimento. Segue-se daí que a história e a experiência
das tribos indígenas americanas representam, mais ou menos aproximadamente, a
história e experiência de nossos próprios ancestrais remotos, quando em condições
correspondentes. Sendo uma parte do registro humano, suas instituições, artes,
invenções e experiências práticas possuem um grande e especial valor que alcança
muito mais do que apenas a raça indígena.” -p. 22

Justificativa: O trecho acima demonstra a ideia evolucionista de que o homem é o


mesmo, mas se desenvolve em ritmo desigual, passando pelas mesmas etapas.

- “As mais recentes investigações a respeito das condições primitivas da raça


humana estão tendendo à conclusão de que a humanidade começou sua carreira na
base da escala c seguiu um caminho ascendente, desde a selvageria até a
civilização, através de lentas acumulações de conhecimento experimental.” -p. 23

Justificativa: Aqui pode-se observar mais uma vez o argumento de que a


humanidade se desenvolve em etapas iguais.
- “Essas evidências estarão baseadas, em parte, na grande seqüência de invenções
e descobertas que se estende ao longo de todo o caminho do progresso humano,
mas levam em conta, principalmente, as instituições domésticas que expressam o
crescimento de certas idéias e paixões.” -p. 23

Justificativa: Mais uma vez se retoma a ideia de evolução em etapas e do método


comparativo.

- “Com respeito à família, seus estágios de crescimento estão incorporados em


sistemas de consangüinidade e afinidade e nos costumes relacionados ao
casamento, por meio do qual, coletivamente, a história da família pode ser
seguramente traçada através de diversas formas sucessivamente assumidas.” -p. 24

Justificativa: A família monogâmica relacionada a civilização.

- “O crescimento de idéias religiosas está cercado de tantas dificuldades intrínsecas


que talvez nunca receba uma explicação perfeitamente satisfatória. A religião trata,
em tão grande medida, da natureza imaginativa e emocional e, conseqüentemente,
de tão incertos elementos do conhecimento, que todas as religiões primitivas são
grotescas e, numa certa medida, ininteligíveis. Esse tema também está fora do plano
deste trabalho, exceto quando puder trazer sugestões incidentais.” -p. 24

Justificativa: A religião como indício de civilidade, rejeitando os miticismos.

- “A idéia de propriedade foi lentamente formada na mente humana, permanecendo


em estado nascente e precário por imensos períodos de tempo. Surgindo durante a
selvageria, requereu toda a experiência daquele período e da subseqüente barbárie
para desenvolver-se e preparar o cérebro humano para a aceitação de sua
influência controladora. Sua dominância, como uma paixão acima de todas as
outras, marca o começo da civilização.” -p. 24

Justificativa: A propriedade privada como sinal de civilização.

- “Tratarei de apresentar alguma evidência do progresso humano ao longo dessas


diversas linhas e através de sucessivos períodos étnicos, tal como revelado por
invenções e descobertas o pelo crescimento das idéias de governo, família e
propriedade.” -p. 24

Justificativa: Governo, família e propriedade.


- “Os remotos ancestrais das nações arianas presumivelmente passaram por uma
experiência similar à das tribos bárbaras e selvagens existentes.” -p. 25

Justificativa: Este trecho representa a ideia de que os europeus já haviam passado


pelas mesmas etapas de desenvolvimento dos demais povos estudados.

- “[...] sua experiência anterior tem que ser deduzida, em sua maior parte, da
conexão que pode ser traçada entre os elementos de suas instituições e inventos
existentes e os elementos similares ainda preservados nas instituições e inventos
das tribos selvagens e bárbaras.” -p. 25

Justificativa: Utilização do método comparativo.

- “Os termos "Idade da Pedra", "do Bronze" e "do Ferro", introduzidos por
arqueólogos dinamarqueses, têm sido extremamente úteis para certos propósitos, e
continuarão a sê-lo para a classificação de objetos de arte antiga; mas o progresso
do conhecimento tornou necessárias outras e diferentes subdivisões.” -p. 26

Justificativa: A tentativa de sistematização da evolução humana.

- “Outra vantagem de fixar períodos étnicos definidos é que isso possibilita orientar
uma investigação especial para aquelas tribos e nações que oferecem a melhor
exemplificação de cada status, a fim de tornar cada caso tanto um padrão quanto
um elemento ilustrativo.” - p. 28

Justificativa: Demonstra a necessidade de dividir as etapas do desenvolvimento para


que evidências fossem guardadas e utilizadas através do método comparativo.

- “Começando, então, com os australianos e polinésios, seguindo com as tribos de


índios americanos e concluindo com os romanos e gregos, que permitem as mais
elevadas exemplificações, respectivamente, dos seis grandes estágios do progresso
humano, é bastante razoável supor que a soma de suas experiências unidas
representa a experiência da família humana desde o status intermediário de
selvageria até o final da civilização antiga.” -p. 29

Justificativa: Aqui Morgan classifica os aborígenes australianos e polinésios como


selvagens, os ameríndios como bárbaros e, os gregos e romanos “clássicos” como
civilizados.
- “Ao estudar as condições de tribos e nações nesses diversos períodos étnicos,
estamos lidando, substancialmente, com a história antiga e com as antigas
condições de nossos próprios remotos ancestrais.” -p. 30

Justificativa: Resume a justificativa de que era preciso estudar esses povos para que
se entendesse a evolução cultural da humanidade.

TEXTO

Evolucionismo Cultural sobre a perspectiva de Morgan

No século XIX, na Europa, principalmente na França, a ciência como um todo atingiu


seu ápice, assim também aconteceu com as ciências humanas que ganharam seus
nomes e buscavam o seu “lugar ao sol”. Sociologia, História, Psicologia, Linguística,
Antropologia e etc. objetivavam estudar o homem em algum dos seus aspectos, a
antropologia ficou incumbida do estudo dos “outros homens”, já que, naquele tempo,
era trabalhada de um ponto de vista eurocêntrico.

A questão principal para os primeiros antropólogos era entender e estudar os


povos das Américas, África, Ásia e Oceania. Assim, surgiu a primeira corrente de
pensamento antropológico, o Evolucionismo Cultural, representado por Lewis
Morgan, James Frazer e Edward Tylor. Pretende-se, neste texto, trabalhar as ideias
de Lewis Henry Morgan, antropólogo evolucionista estadunidense, que viveu entre
os anos de 1818 e 1881, considerado o maior especialista no estudo do povo
Iroquês do século XIX.

Deixando muitos trabalhos, tem como texto mais importante o livro


“Sociedade Antiga: ou investigações sobre as linhas do progresso humano desde a
selvageria, através da barbárie até a civilização”, publicado em 1877, onde
demonstra o pensamento Evolucionista e traz a suas principais características.
Laplatine (2003, p. 49), explica que para o pensamento evolucionista:

Existe uma espécie humana idêntica, mas que se desenvolve


em ritmos desiguais de acordo com as populações, passando
pelas mesmas etapas para alcançar o nível final que é a
civilização. A partir disso, convém procurar determinar
cientificamente a sequência dessas transformações.
Logo, para os evolucionistas, o homem é o mesmo e passa pelas mesmas
fases de evolução sociocultural, porém, em ritmos diferentes. Morgan (2005, p.25)
afirma que “os remotos ancestrais das nações arianas presumivelmente passaram
por uma experiência similar à das tribos bárbaras e selvagens existentes.” Neste
sentido, eles preocupavam-se em recolher todas as informações, relatos e artefatos
possíveis, já que acreditavam que esses povos iriam se extinguir ao evoluir para a
civilização.

Durante o século XIX, assistimos à criação das sociedades


científicas de etnologia, das primeiras cadeiras universitárias, e,
sobretudo dos museus. Como o que foi fundado no Palácio do
Trocadero em 1879 e que se tornará o atual museu do Homem.
(LAPLANTINE, 2003, p .47)

Fala-se, ainda, do conceito de “museu vivo”, pois, para Morgan (2005) é


obrigação dos estadunidenses recolher estas evidências, já que seu território é rico
em recursos etnológicos, filológicos e arqueológicos. Assim, aqueles povos que ali
viviam demonstravam como seriam os primeiros estágios da humanidade. O método
utilizado pelos evolucionistas é o comparativo, como podemos observar no trecho a
seguir:

Essas evidências estarão baseadas, em parte, na grande


seqüência de invenções e descobertas que se estende ao
longo de todo o caminho do progresso humano, mas levam em
conta, principalmente, as instituições domésticas que
expressam o crescimento de certas idéias e paixões e.
(MORGAN, 2005, p.23)
Primeiramente, o método era o que Laplantine (2003) chama de antropologia
de gabinete, já que raramente iam até os povos, na maioria das vezes enviavam
questionários até as colônias, que eram respondidos por autoridades, analisados ou
guardados para análise posterior. Lewis Morgan desenvolveu pesquisas in loco,
procurando visitar os povos estudados e, assim, comparar suas vivências com de
outros povos.

Em Sociedade Antiga, Morgan (2005) divide os estágios da evolução cultural


humana em selvageria, barbárie e civilização, sendo as primeiras duas, ainda,
dívidas em 3 períodos (inicial, intermediário e final) e, classifica alguns povos, como
pode-se ver a seguir:
Começando, então, com os australianos e polinésios, seguindo
com as tribos de índios americanos e concluindo com os
romanos e gregos, que permitem as mais elevadas
exemplificações, respectivamente, dos seis grandes estágios
do progresso humano, é bastante razoável supor que a soma
de suas experiências unidas representa a experiência da
família humana desde o status intermediário de selvageria até
o final da civilização antiga. (MORGAN, 2005, p. 29)

Assim, Morgan (2005) classifica os aborígenes australianos e polinésios como


selvagens, os ameríndios como bárbaros e, os gregos e romanos “clássicos” como
civilizados. Para ele os selvagens eram caçadores e coletores, homens místicos e
sem governo; os bárbaros já tinham domínio sobre a agricultura e domesticação de
animais, desenvolviam uma religião e começavam a organizar um conceito de
família; enquanto, o homem civilizado detinha um modelo de governo organizado,
família formada por um casamento monogâmico e evoluíram para o conceito de
propriedade privada.

A idéia de propriedade foi lentamente formada na mente


humana, permanecendo em estado nascente e precário por
imensos períodos de tempo. Surgindo durante a selvageria,
requereu toda a experiência daquele período e da subseqüente
barbárie para desenvolver-se e preparar o cérebro humano
para a aceitação de sua influência controladora. Sua
dominância, como uma paixão acima de todas as outras, marca
o começo da civilização. (MORGAN, 2005, p. 24)
Enfim, a construção de cidades, a escrita, a propriedade privada, o conceito
geral de urbanidade é o que para Morgan indicam o início da civilização. O ponto
principal desse pensamento é que a humanidade parte da mesma origem e vai
chegar ao mesmo destino, através de etapas iguais, porém em ritmos diferentes. Ele
utilizava o método comparativo para chegar a tais evidências e considerava
importante preservar o máximo possível desses povos, que para ele seriam extintos
com a inevitável chegada da civilização.

REFERÊNCIAS

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003.

MORGAN, Lewis Henry. SOCIEDADE ANTIGA: ou investigações sobre as linhas


do progresso humano desde a selvageria, através da barbárie até a civilização.
Evolucionismo Cultural/ textos de Morgan, Tylor e Frazer, textos selecionados,
apresentação e revisão, Celso Castro; tradução, Maria Lúcia de Oliveira- Rio de
Janeiro; Jorge Zahar Ed., 2005. P. 20-30.

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