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TIAGO MUHONGO1

ANAMNESE
1. Definição
A anamnese em ginecologia tem algumas peculiaridades. É importante criar um
vínculo médico-paciente adequado, pois muitas queixas femininas são omitidas ao médico
por insegurança ou vergonha. O ginecologista deve saber ouvir e interpretar as queixas. A
anamnese é dividida em:
1. Identificação (ID),
2. Queixa e duração (QD),
3. História pregressa da moléstia actual (HPMA),
4. Interrogatório complementar (IC),
5. Interrogatório sobre os diversos aparelhos (ISDA),
6. Antecedentes familiares (AF),
7. Antecedentes pessoais (AP):
 antecedentes ginecológicos (AG):
 antecedentes menstruais (AM);
 antecedentes sexuais (AS);
 antecedentes obstétricos (AO).

2. Identificação
A notar idade, raça, estado civil, naturalidade, procedência, profissão. Todos são
factores que podem influenciar doenças ginecológicas.

3. Queixa e duração
Anotar o problema que levou a paciente a procurar o atendimento e há quanto tempo
existe. Incluir somente a queixa principal, de preferência com as próprias palavras da
paciente.
Os problemas mais observados em consultórios ginecológicos são os relacionados
com corrimento vaginal, dor pélvica, irregularidade menstrual, incontinência urinária,
climatério, entre outros. As pacientes procuram e ginecologista também para consultas de
rotina (prevenção).

4. História pregressa da doença actual


Descrever o início, a progressão e as características dos sintomas relatados na queixa
inicial até o momento da consulta. Anotar, exactamente como descrito pela paciente, os
factores de melhoria ou agravamento. Evitar dar diagnósticos ou copiar exames
subsidiários nesse item. Incluir apenas a história da queixa que levou a paciente à consulta.

5. Interrogatório complementar
Questionar dados como febre, anorexia, adinamia e emagrecimento.

 Interrogatório sobre os diversos aparelhos


Pesquisar os diferentes aparelhos, em especial:
Cardiovascular, respiratório e gastrintestinal
Pesquisar queixas relativas a esses aparelhos, em particular sintomas gastrintestinais que
frequentemente se associam a muitos sintomas ginecológicos.
Genito-urinário

R. Albano Machado, 29-31–CP 1642,Luanda–Angola– TEL.S:00 244 222-37 10 98, 37 11 05, 37 12 33, 37 13 35 – FAX: 37 15 16 – E-mail: gil@postmark.net
Professor Extraordinário do Dep. de Gin./Obstetrícia da UAN
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Pesquisar queixas de perda de urina, urgência, disúria e enurese. É comum as mulheres, em
particular as mais idosas, omitirem esses sintomas, acreditando tratar-se de problema
normal para a idade. Portanto, o ginecologista deve perguntar especificamente sobre eles.
O mesmo ocorre com as disfunções sexuais.

6. Antecedentes familiares
Antecedentes de neoplasias ginecológicas são muito importantes para direccionar os
exames preventivos. Em particular, neoplasias de mama, endométrio e ovário têm alta
incidência familiar. É importante avaliar quais os familiares atingidos e em que idade isso
ocorreu. Por exemplo, de cancro de mama na família materna ou na pré-menopausa é mais
relevante que os que ocorrem em idade avançada.
Antecedentes de doenças tromboembólicas na família devem alertar o ginecologista a
usar a hormonoterapia com mais cuidado, até mesmo os contraceptivos hormonais.

7. Antecedentes pessoais
1. Doenças prévias: avaliar a presença de hipertensão, diabete e tromboembolismo. Quaisquer
outras enfermidades ou tratamentos anteriores devem ser pesquisados.
2. Cirurgias anteriores: todos os tratamentos relacionados ao trato genital e cirúrgicos devem
ser relatados. Solicitar sempre resultados dos exames anatomopatológicos anteriores.
3. Hábitos: realça-se o hábito de fumar, relacionado com maior incidência de tumores
ginecológicos e de fenómenos tromboembólicos associados ao uso de estrogénios.
4. Medicações em curso: várias medicações podem influenciar sintomas ginecológicos, como
diuréticos, antidepressivos e hormonas.
 Antecedentes ginecológicos
Pesquisa de doenças ou tratamentos ginecológicos prévios.
 Antecedentes menstruais
Comummente, a menarca ocorre ao redor dos 12 anos. Quando se instala antes dos
9,5 anos é considerada precoce. Devem anotar-se:
 ciclo menstrual (duração, intervalo, quantidade);
 sintomas associados (dismenorreia, tensão pré-menstrual);
 data da última menstruação (DUM);
 sintomas do climatério;
 idade da menopausa;
 sangramento da pós-menopausa;
 terapia hormonal.
 Antecedentes sexuais
1. Idade da primeira relação sexual: fornece indícios da vida sexual da paciente para
estabelecer as recomendações particulares adequadas.
2- Número de parceiros: quanto maior o número de parceiros, maiores as hipóteses de
contrair doenças sexualmente transmissíveis.
3. Método anticoncepcional actual e pregresso: pesquisar os métodos anteriormente
utilizados e o motivo de sua descontinuação. Isso fornece subsídios para a escolha do
método ideal para aquela paciente.
4. Dor à relação sexual: caracterizar se a dor ocorre durante a penetração, que está mais
associada à contracção da musculatura ou às vulvovaginites; ou em razão da
profundidade, que muitas vezes se relaciona com afecções útero-anexiais.

5. Libido e orgasmo: as alterações sexuais podem estar relacionadas a distúrbios


emocionais ou orgânicos. Entre esses, destacam-se os distúrbios hormonais e as

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doenças pélvicas.
 Antecedentes obstétricos
1. Número de gestações e de partos: considera-se parto quando há nascimento de concepto
com mais de 500 g ou 20 semanas.
2. Saber da idade por ocasião do primeiro parto.
3. Saber à respeito de abortos, se espontâneos ou voluntários, se houve curetagens, febre
etc.
4. Tipo de parto: caracterizar se foi normal ou cesariana e se usou forceps. Também é
importante saber se o parto normal foi domiciliar ou hospitalar. Perguntar a respeito do
tempo de trabalho de parto, anestesia utilizada e episiotomia.
5. Peso do recém-nascido: quando acima de 4 kg pode-se suspeitar de diabetes
gestacional. Quando abaixo de 2,5 kg, pode indicar prematuridade ou atraso de
crescimento intra-uterino; isto pode provocar resistência insulínica posterior.
6. Tempo de gestação: para detecção de prematuridade e de insuficiência istmo-cervical,
quando as perdas fetais ocorrem em idades inferiores em cada gestação.
7. Existência de doença hipertensiva da gravidez.
8. Lactação ou amamentação: avaliar o tempo de amamentação, se houve fissuras ou
mastites e se permaneceu em amenorreia durante esse período.
9. Saber do intervalo entre o último parto e a menopausa.

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