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Celso Furtado e o desenvolvimento regional

Clélio Campolina Diniz


Professor do Cedeplar/UFMG

Resumo Abstract
O presente texto visa analisar as contribuições de This text analyzes the contributions by Celso Furtado
Celso Furtado para a interpretação dos determi- to interpreting the determinants of regional
nantes das desigualdades regionais e para a for- inequalities and to the formulation of development
mulação de políticas de desenvolvimento para as policies for less developed regions.
Palavras-chave
regiões menos desenvolvidas. Toma como pano It uses a backdrop the theoretical antecedents and
desenvolvimento regional, de fundo os antecedentes teóricos e as principais principal global experiences of regional development
estrutura espacial, políticas experiências mundiais de políticas de desenvolvi- policies, which served as a reference for Celso Furtado.
públicas, nordeste. mento regional, que serviram de referência para It shows Furtado's originality when he linked
Celso Furtado. Mostra a originalidade de Furtado questions of regional inequality with
Classificação JEL O18, R11, ao articular as questões de desigualdades regionais the nature of underdeveloped structures.
R12. à natureza das estruturas subdesenvolvidas. Mos- It shows the theoretical and empirical foundations in
tra os fundamentos teóricos e empíricos na análi- the analysis of the Northeast question, guidelines for
se sobre a questão nordestina, as diretrizes para a the future SUDENE, political pressures and the
atuação da futura SUDENE, as pressões políticas insufficiencies in the way development policies for the
e as insuficiências na condução da política de de- Northeast are carried out. Finally, it shows how
senvolvimento para o Nordeste. Por fim, mostra Furtado's positions are still relevant, whether in the
a atualidade de Furtado, seja nas formulações an- formulations prior to the creation of SUDENE
teriores à criação da SUDENE como nos desen- or in the later theoretical developments. In these,
volvimentos teóricos posteriores. Nesses, Furta- Furtado overcomes the notion of region and begins
do supera a noção de região e passa a tratar de to examine spatial structures;
estruturas espaciais; introduz o papel central dos he introduces the central role of urban nodes,
nódulos urbanos, de suas hierarquias e articula- of their hierarchies and articulations;
Key words ções, ou seja ,o papel da rede urbana no comando in other words, the role of the urban network in the
Celso Furtado, regional e estruturação do território; do papel central da command and structuring of the territory;
inequalities, Northeast tecnologia e dos processos de inovação e; por of the central role of technology and innovation
(Brazil), SUDENE. fim, da necessidade de um esforço interdiscipli- processes, and finally, of the need for an
nar, tanto para o entendimento dos problemas re- interdisciplinary effort for both understanding
JEL Classification O18, R11, gionais quanto para a formulação de políticas e regional problems as well as for the formulation
R12. de sua implementação. of policies and their implementation.

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1_ Antecedentes: origens, Grande. Durante a Segunda Guerra Mun-


generalização, crise e dial, essa preocupação se tornou central, com
retomada do planejamento a invasão alemã e com a alta concentração
e das políticas regionais populacional e produtiva na Rússia euro-
Até a Segunda Guerra Mundial, a questão peia. A estratégia de defesa territorial levou
regional era predominantemente tratada à transferência de várias atividades para trás
como uma matéria de localização das ati- dos Urais, com a constituição de complexos
vidades agrícolas e industriais, conforme produtivos voltados para o aproveitamento
comprovam os clássicos trabalhos de Von de recursos naturais e o planejamento do
Thune (1816: 1966), Weber (1907: 1969) desenvolvimento de várias cidades na Sibé-
e Losch (1933: 1954) ou da oferta de ser- ria, com localização de atividades industriais,
viços e da consequente hierarquia das especialmente industrial-militar. Mais tar-
centralidades urbanas, na formulação de de, foi também planejado o desenvolvi-
Christaller (1939: 1966). A questão urba- mento de centros urbanos dotados de ser-
na ainda não havia emergido como um viços científicos e culturais como base para
problema social e político, à exceção dos o desenvolvimento tecnológico, cujo me-
Estados Unidos, como bem retratam os lhor exemplo é a cidade científica de Aka-
trabalhos da Escola de Chicago (Park, demgorodok, em Novosibirsk (Nekrasov,
1926; Wirth, 1928; Munford, 1938). 1971; Castells e Hall, 1994).
A primeira experiência mundial de A crise de 1929, ao provocar gene-
planejamento regional pode ser considera- ralizada recessão econômica no mundo ca-
da como tendo origem na União Soviética, pitalista, colocou às claras o problema das
através do seu Plano de Eletrificação Naci- desigualdades regionais na maioria dos paí-
onal, estabelecido em 1925. Aquele plano ses industrializados, as quais vinham se
definia a construção de várias usinas hidro- formando desde o século anterior, mas não
elétricas, prevendo seu aproveitamento co- eram explicitadas A tomada de consciência 1 Aquele plano exerceu forte

mo base para o desenvolvimento regional e dessas desigualdades e a mudança na con- influência sobre o Plano de
cepção do papel do Estado, com a revolu- Eletrificação de Minas Gerais,
de sua interligação futura.1 A Comissão
ção keynesiana e o avanço das técnicas e elaborado em 1948 e
Nacional de Planejamento, criada na União implantado com a criação da
Soviética, em 1928, introduziu a dimensão práticas de planejamento, promoveram a Cemig, a partir de 1952. Ver
regional e a preocupação geopolítica de ocu- criação de políticas de redução das desi- Plano de Eletrificação, 1949
gualdades regionais e de reordenamento (Diniz, 2008).
pação da Sibéria, presente desde Catarina, a

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do território em vários países, com a criação concepção de programas de pós-gradua-


de instituições específicas para a implemen- ção em desenvolvimento regional e urbano
tação dessas políticas. O caso mais claro foi em várias universidades (Cumberland, 1973;
o dos Estados Unidos, com a criação do Rothblat, 1971; Chinitz, 1969; Friedman,
TVA (Tennesse Vale Authority), em 1933, co- 1961; Isard, 2003).
mo parte do New Deal. O TVA introduziu Ainda antes da Segunda Guerra, na
uma nova sistemática de planejamento com Inglaterra, a crise e a estagnação das re-
o intuito de promover o desenvolvimento giões mineradoras e das áreas da velha in-
da região, composta de seis Estados. Os ob- dustrialização pesada do norte do país, em
jetivos eram amplos e generalizados: obras contraste com a concentração industrial
para controle de cheias; construção de usi- em Londres e seus arredores, trouxeram à
nas hidroelétricas; desenvolvimento da na- tona o que ficou conhecido como a “divi-
vegação; transporte rodoviário; expansão e são norte-sul”. Como decorrência, foi ins-
modernização da agricultura, inclusive pro- tituída a Comissão Barlow (1937-40), da
gramas de irrigação; crescimento e moder- qual nasceu, no pós-guerra, a política ori-
nização da indústria; desenvolvimento ur- entada para a recuperação e expansão da
bano e dos serviços. indústria da região norte (Hall, 1975).
No pós-guerra, além da continuidade Na Itália, a diferença entre os rit-
da política e dos programas do TVA, foram mos de desenvolvimento entre o norte e o
criados programas para outras bacias hidro- sul do país tornou-se um problema grave,
gráficas, estabelecida a Area Redevelopment especialmente na fase de redemocratização
Administration (ARA), em 1961, transfor- do pós-fascismo. Em função disso, foi cri-
mada em Economic Development Area (EDA), ada a Cassa del Mezzogiorno, em 1950, e uma
e criado o programa especial para os Apa- ambiciosa política de industrialização para
laches, ambos em 1965. Essas instituições o sul da Itália. Essa política introduziu a
e os respectivos programas estabeleciam sistemática de uso de incentivos fiscais para
créditos e critérios especiais para alavancar o barateamento da formação de capital e
o desenvolvimento regional. Naquele mo- da produção, a qual foi assimilada e genera-
mento, havia se generalizado a prática do lizada para outros países, a exemplo do sis-
planejamento e das políticas regionais nos tema de incentivos fiscais para a industriali-
Estados Unidos, com grande influência so- zação do Nordeste do Brasil, por ocasião
bre o sistema acadêmico-universitário e a da criação da Sudene (Carvalho, 1979). Pos-

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teriormente, a reavaliação dessas políticas das “metrópoles de equilíbrio”, com con-


demonstrou as dificuldades de o Sul compe- centração de investimentos industriais e
tir com o Norte, pelo dinamismo do último, equipamento público, com destaque para
caracterizando as dificuldades de superar o aqueles de natureza cultural e educacional.
dualismo (Chenery, 1964; Amendola e Ba- A generalização das políticas regio-
rata, 1978). Posteriormente, houve uma con- nais nos países centrais foi assimilada pelos
trovertida interpretação de que o desenvol- países periféricos. Na América Latina, a
vimento do Sul havia sido obstaculizado maioria dos países criou programas especí-
pela falta de capital social (Putnam, 1993). ficos de desenvolvimento regional, a exem-
Na França, a grande concentração plo dos programas de fronteira e de bacias,
populacional em Paris e o esvaziamento do no México; da região de Guayana, na Ve-
campo levantaram o alerta para os riscos nezuela; do Cuyo e da Patagônia, na Ar-
dessas tendências. Esse fenômeno está bem gentina. Segundo levantamento realizado
retratado no célebre livro de Gravier (2003) por Sthor (1972), à época foram listados 73
“Paris e o deserto francês”, no qual o autor planos ou programas de desenvolvimento
indica, em tom dramático e moralista, as regional nos países latino-americanos. No
consequências dessa concentração. A fim conjunto dessas políticas, cabe destaque às
de enfrentar esse desafio, foi estabelecida políticas brasileiras para o Nordeste e para a
ambiciosa política de desconcentração pro- Amazônia, o que será tratado de forma mais
dutiva e de reordenamento do território, detalhada em outra parte deste trabalho.
através de um conjunto de instrumentos. Ao lado da continuação e da gene-
Entre esses, destacam-se a orientação dos ralização das políticas de desenvolvimento
investimentos das empresas estatais para regional, foi desenvolvido grande esforço
regiões selecionadas e um audacioso e di- de interpretação teórica sobre a questão
versificado programa de infraestrutura, en- das desigualdades regionais e da concen-
faticamente implementado a partir do final tração, bem como de metodologias e técni-
da década de 1940 (Datar, 2003). Após vários cas de planejamento e de intervenção pú-
ajustes institucionais, foi criada a poderosa blica. Esse esforço pode ser sintetizado no
Delegation Dámanagement du Territoire (Datar), que ficou conhecido como duas “escolas”
em 1963 (Datar, 2003). Entre as novas po- de pensamento. Uma delas resgatou a tra-
líticas e objetivos, ressalta-se o fortaleci- dição germânica das teorias da localização
mento de uma rede de cidades, denomina- e adaptou-a ao pensamento econômico neo-

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clássico, constituindo a chamada “ciência lo de crescimento levaram Perroux à con-


regional”, inclusive com a criação da Asso- cepção das diferentes naturezas do espaço,
ciação de Ciência Regional (Regional Science com sua ideia de espaço homogêneo, espa-
Association), sob a liderança de Walter Isard. ço polarizado e espaço plano (Perroux,
Essa “escola” trabalhou com noção de mo- 1967).2 Essas noções de espaço, sem conti-
delos de equilíbrio, com ênfase no papel dos guidade geográfica, foram adaptadas por
custos de transporte, em mercados concor- Boudeville (1969), com a concepção de re-
renciais, desenvolvendo, paralelamente, um gião homogênea, região polarizada e região
conjunto de técnicas de análise regional, en- plano, que serviram de base e critério para
tre as quais os modelos de insumo-produto. a regionalização do território e para o esta-
Essas contribuições estão sintetizadas em belecimento de políticas regionais.
dois livros que se transformaram em verda- A linha do desenvolvimento polari-
deiras “bíblias” da denominada “ciência re- zado e desequilibrado recebeu grande con-
gional”, a saber: Location and space economy e tribuição de vários autores que se tornaram
Methods of regional and interregional analysis clássicos, como Myrdal (1957), Hirschman
(Isard, 1956 e 1960). Posteriormente, Isard (1958), Kaldor (1966 e 1970), entre outros.
organizou a história da ciência regional e da Esses autores analisaram os efeitos da po-
associação de ciência regional (Isard, 2003). larização na criação e na manutenção das
A outra “escola” foi desenvolvida desigualdades regionais e apontaram possí-
na França, sob liderança de François Per- veis saídas. A partir da década de 1960, a
roux. Partindo da noção de economia do- criação e o fortalecimento de polos de de-
minante e empresa dominante e dos efeitos senvolvimento passaram a ser generaliza-
interindustriais, foi desenvolvido o concei- damente utilizados como metodologia e
to de polo de crescimento e do papel cen- instrumento de desenvolvimento regional
tral da empresa motriz para o crescimento na maioria dos países. Nos últimos anos,
desses polos. Na sua concepção de empre- esses polos ganharam nova roupagem, co-
2 A obra de Perroux foi sa motriz, Perroux havia recebido forte in- mo a concepção de distritos industriais,
produzida ao longo das fluência de Schumpeter, com o conceito de “clusters”, parques tecnológicos, entre ou-
décadas de 1940 e 1950, em inovação, já que Perroux havia traduzido, tras denominações.
vários artigos, e uma grande
em 1935, a Teoria do Desenvolvimento Eco- Embora essas duas “escolas” par-
síntese encontra-se em
Economia do século XX nômico, de Schumpeter, do alemão para o tissem de proposições teóricas e analíticas
(Perroux, 1967). francês. O conceito de dominação e de po- distintas, elas têm em comum a ideia de re-

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lações interindustriais ou insumo-produ- nova visão do papel do Estado, o que ficou


to, como elemento central no processo de conhecido como “neoliberalismo”.
desenvolvimento regional e da criação de No bojo deste último ponto, foi de-
externalidades. Em torno dessas duas “es- senvolvida a corrente de pensamento do
colas”, foram derivadas várias linhas de in- crescimento endógeno que procurava de-
terpretação e de ação à escala mundial. monstrar que o mercado, deixado livre, le-
Após o auge da produção teórica e da varia à convergência de rendas entre países
implementação de políticas de desenvolvi- e regiões. Caberia ao Estado resolver os
mento regional, nas décadas de 1950 e 1960, problemas de educação, dotação de infra-
a atividade entrou em crise. Entre os ele- estrutura e estabilidade político-institucio-
mentos explicativos dessa crise, podem ser nal (Romer, 1994; Sala-y-Martin, 1996).
listados: a) o sucesso da expansão econômi- Passada a tormenta crítica e o desâ-
ca do pós-guerra e a redução da preocupa- nimo com as políticas regionais, nas décadas
ção com a questão regional; b) reações po- de 1970 e 1980, a questão voltou à tona,
lítico-ideológicas contra a intervenção do teórica e praticamente, a partir da década
Estado na economia; c) insatisfação e críti- de 1990. Do ponto de vista prático, os
ca dos resultados das políticas regionais pe- avanços da União Europeia mudaram a
los grupos de esquerda; d) incapacidade natureza das políticas regionais. Além da
teórica de explicar os novos fenômenos diversidade interna em cada país, as dife-
(desindustrialização, emergência de novos renças entre países passaram a ser vistas
centros baseados em alta tecnologia, mu- como problemas regionais de escala trans-
danças na divisão internacional do traba- nacional para o conjunto da região (União
lho, com os NICs); e) enfraquecimento das Europeia). Isso obrigou a União Europeia
políticas regionais nos Estados Unidos, com a avançar na formulação e prática da política
a ascensão de Nixon e dos governos repu- regional. Simultaneamente, os problemas
blicanos; f) enfraquecimento das políticas re- de integração regional em outras partes do
gionais, por países, na Europa, com o avan- mundo e o arrefecimento das esperadas
ço da União Europeia; g) crise do Estado convergências de renda recolocaram a po-
interventor, com déficit público e proces- lítica regional na agenda das regiões e dos
sos inflacionários; h) alegação de corrup- governos. Por outro lado, as aceleradas mu-
ção em várias das instituições encarregadas danças tecnológicas e a emergência de no-
das políticas regionais; i) desenho de uma vos centros produtores baseados em tec-

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nologias avançadas abriram a corrida para políticas de desenvolvimento regional, no


a busca da inovação como mecanismo de mundo e no Brasil.
desenvolvimento regional (Diniz e Gon-
çalves, 2005; Diniz, Santos e Crocco, 2006). 2_ A questão regional
Do ponto de vista teórico, a cres- brasileira
cente integração da economia mundial, a 2.1_ As secas nordestinas,
criação de regiões preferenciais de comércio a geopolítica amazônica
e o aumento dos fluxos comerciais recolo- e a origem das ações regionais
caram a questão do comércio internacional A preocupação com o problema regional
como um assunto do comércio inter-regio- no Brasil esteve presente desde o século
nal. A integração da economia mundial su- XIX, embora não tivesse essa denomina-
perou as fronteiras nacionais e estabeleceu ção, em função das consequências sociais
um sistema de fluxos onde as localidades das secas, no Nordeste, e da necessidade
se articulam diretamente, recolocando a de controle do território da Amazônia,
questão das economias de aglomeração e como retratam as várias comissões e ten-
das externalidades como elementos centrais tativas de políticas realizadas desde aque-
nos padrões locacionais e no sucesso com- le século.
petitivo. Nessa linha de raciocínio, entra de Para o caso nordestino, como decor-
cheio o economista Paul Krugman (1991) rência das secas, em 1877 foi criada a Comis-
com uma nova teoria da relação centro-pe- são Imperial, encarregada de analisar o pro-
riferia, introduzindo concorrência imper- blema e propor soluções. Aquela comissão
feita e economias de escala na geração de sugeriu o desenvolvimento dos transpor-
externalidades e dos retornos crescentes pa- tes, a construção de barragens e a transpo-
ra explicar os padrões de concentração ter- sição do rio São Francisco. As ações foram,
ritorial da produção. Paralelamente, a geo- no entanto, limitadas e lentas, enquanto se
grafia econômica passou a buscar diferentes aprofundava o problema social da região.
elementos explicativos para o entendimento Estima-se que, como consequência das se-
da reorganização territorial da produção à cas e dos problemas sociais, tenham morri-
escala mundial (Storper, 1995; Swyngedouw, do entre 100 e 200 mil pessoas nas últimas
1989; Markusen, 1985; Brenner, 1999). Es- décadas do século XIX. Estima-se tam-
tão, pois, postas as condições para uma vi- bém que, entre o final do século XIX e iní-
gorosa retomada do debate teórico e das cio do século XX, aproximadamente 500

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mil pessoas tenham se transferido ou fo- fesa da Borracha, preocupada com a con-
ram transferidas para a região amazônica, corrência asiática, transformada em Insti-
na expectativa das oportunidades de traba- tuto Internacional da Hileia Amazônica,
lho vinculadas à exploração da borracha, em 1945; em Superintendência do Plano
que emergia como novo produto de ex- de Valorização Econômica da Amazônia
portação (Furtado, 2001; Cano, 1977 e 1985). (SPVEA), em 1953; e em Superintendên-
Em 1904, foram criadas comissões para cia de Desenvolvimento da Amazônia (Su-
analisar o problema das secas no Ceará e dam), em 1966. Em 1942, no bojo dos
no Rio Grande do Norte e, no mesmo ano, acordos de Washington, foi criado o Banco
criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas de Crédito da Borracha, transformado em
(IOCS), transformada em Inspetoria Fede- Banco de Crédito da Amazônia, em 1957,
ral de Obras Contra as Secas (IFOCS), em e em Banco da Amazônia S.A. (Basa), em
1906, e em Departamento Nacional de 1966. Em 1967, seria criada a Suframa.
Obras Contra as Secas (DNOCS), em 1945. A generalização da política regional
Em 1920, havia sido criada a Caixa Especial levou à criação de superintendências para as
de Obras de Irrigação de Terras Cultiváveis demais regiões do País, a saber: Superinten-
no Nordeste do Brasil, com 2% do orça- dência do Plano de Valorização Econômi-
mento da União. Em 1923, a Constituição ca da Região da Fronteira Sudoeste do País
Federal fixou em 4% do orçamento federal (SPVERFSP), em 1961, transformada em
para o controle das secas. Em 1945, se- Sudesul, em 1967; a Comissão de Desenvol-
guindo a experiência do TVA, foi criada a vimento do Centro-Oeste (Codeco), em
Companhia Hidroelétrica do São Francis- 1961, transformada em Sudeco, em 1967.
co. A nova Constituição Federal, aprovada Conclui-se que o Brasil foi pioneiro
em 1946, estabeleceu vinculações orçamen- na busca de instrumentos e ações para ala-
tárias específicas para o desenvolvimento vancar o desenvolvimento do Nordeste e
das regiões Nordeste e amazônica. Por essa da Amazônia. A primeira, pelas graves cri-
razão, foi criada a Comissão de Desenvol- ses sociais e pela força regionalista de sua
vimento do Vale do São Francisco (Code- elite. A segunda, pela preocupação com o
vasf), em 1948. Em 1951, seria instituído o controle político do vasto território ama-
Banco do Nordeste do Brasil (BNB). zônico. As críticas a essas instituições, a ale-
No que se refere à Amazônia, em gada existência de corrupção e as mudanças
1912, foi criada a Superintendência de De- na concepção e no papel do Estado, duran-

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te a era neoliberal, levaram ao esvaziamen- Latina e o Caribe (Cepal), entre 1949 e


to e posterior fechamento da maioria delas. 1957, durante o qual manteve profícua con-
Foram mantidos a Suframa, o BNB e o Ba- vivência profissional com Raul Prebish. Na
sa. A Sudene foi transformada em Adene qualidade de chefe da Divisão de Desenvol-
e, posteriormente, recriada a Sudene. Mo- vimento da Cepal, ele realizou vários traba-
vimento semelhante ocorreu com a Su- lhos sobre países específicos e aprofundou
dam, transformada em ADA e novamente sua interpretação sobre a problemática do
recriada. A Sudeco foi extinta e recriada. subdesenvolvimento latino-americano. No
Grupo de Trabalho Cepal/BNDE, Furta-
2.2_ Celso Furtado, o subdesenvolvimento
do retomou seus estudos sobre a econo-
e a questão regional mia brasileira, cujo relatório influenciou o
diagnóstico e a montagem do Programa de
3 Embora Lucas Lopes A origem nordestina, a trajetória intelec- Metas do Governo Juscelino Kubitschek.3
mencione em suas memórias tual e pessoal de Celso Furtado e o mo- Nesse período, Furtado consolida sua for-
que não estava interessado em mento histórico do pós-Segunda Guerra mação teórica e sua capacidade de inter-
macroeconomia e que não
conhecia o trabalho de se conscientizaram para o problema do pretação do subdesenvolvimento como uma
Furtado, o Programa de Metas subdesenvolvimento e, por consequência, questão histórico-estrutural. No ano aca-
foi fundamentalmente das desigualdades dos ritmos de desen- dêmico de 1957/58, como visitante e fellow
desenvolvido e gerido dentro volvimento entre os territórios, seja entre
do BNDE. Como as equipes
do Kings´s College, em Cambridge, Furtado
do BNDE estavam também nações, seja entre espaços sub-regionais organiza suas reflexões, o que seria retrata-
envolvidas no Grupo de dentro de cada país. Inicialmente, seu es- do nas obras seminais publicadas nos anos
Trabalho Cepal/BNDE, não forço se concentrou na busca do enten- seguintes. Entre essas obras, destacam-se
há como desvincular essas
dimento do Brasil, através da análise da Formação econômica do Brasil, publicada em
experiências. A Comissão
Mista Brasil-Estados Unidos, sua formação histórica e dos condicio- 1959; Desenvolvimento e subdesenvolvimento, pu-
que deu origem ao BNDE e nantes estruturais que essa herança havia blicada em 1961 e republicada em versão
da qual Lucas Lopes fazia deixado, refletido na sua tese de doutora- expandida como Teoria e política do desenvolvi-
parte, havia sido extinta.
mento sobre a economia colonial brasile- mento econômico, em 1967, e Dialética do desen-
Com a posse de JK, Lucas
Lopes assume a presidência ira, concluída em 1948 (Furtado, 2001). volvimento, publicada em 1964, às vésperas
do BNDE e a secretaria do Posteriormente, Furtado aprofun- do golpe militar.
Conselho de Desenvol- dou seus estudos sobre o subdesenvolvi- No nosso entendimento, o livro For-
vimento, responsável pela
mento, durante o período em que trabalhou mação econômica do Brasil pode ser lido como
condução do Programa
de Metas. na Comissão Econômica para a América a primeira interpretação do desenvolvimen-

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to regional brasileiro.4 Segundo Furtado, sua café, este se expande procurando as terras
análise do processo histórico de formação da mais apropriadas (Rio de Janeiro, Espírito
economia brasileira parte de uma visão am- Santo, Minas Gerais, São Paulo e Paraná).
pla, procurando captar a cadeia de causali- A introdução do trabalho livre, os efeitos
dades nesse processo de desenvolvimento. de encadeamento da atividade cafeeira, os
A obra se concentra na análise dos processos migratórios, a demanda de ali-
três grandes ciclos e atividades: açúcar, no mentos, insumos e matérias-primas e a ex-
Nordeste; ouro e diamante, em Minas Ge- pansão ferroviária exerceram forte impac-
rais, em Goiás e no Mato Grosso; e café no to na integração territorial do País.
Sudeste (Rio de Janeiro, Espírito Santo, Nesse sentido, pode-se concluir que
Minas Gerais e São Paulo). Além do pró- a interpretação do desenvolvimento brasi-
prio efeito dessas atividades e suas articula- leiro, entre os séculos XVI e XX, contida
ções locais, os efeitos de expansão e declí- na Formação econômica do Brasil, pode ser lida
nio dessas deram origem a movimentos de como uma interpretação das condicionan-
ocupação territorial, configurando o mapa tes, dos efeitos e dos resultados da dinâmi-
regional brasileiro. No caso do Nordeste, ca econômica e populacional sobre a dinâ-
as crises açucareiras e a invasão holandesa mica territorial do País.
provocaram movimentos de deslocamento
populacional para o Norte, com espasmos 2.3_ Celso Furtado e a questão nordestina
de ocupação no Ceará, no Maranhão e no As experiências mundiais e brasileira, antes
Pará. No final do século XIX, os desloca- indicadas, eram de amplo conhecimento
mentos populacionais se dirigiram à Ama- de Furtado, seja pela sua condição de es- 4 As obras de Simonsen
zônia, alargando a dimensão da ocupação tudante de doutorado na Sorbonne, em (1944) e Prado Junior (1996)
territorial. No caso do ouro e do diamante, Paris, no imediato pós-guerra, pela sua trazem os elementos
além da extensão das áreas de exploração passagem por Cambridge, na Inglaterra, explicativos da ocupação
territorial no Brasil
(Centro e Vale do Jequitinhonha, em Minas seja pelo trabalho na Cepal. A oportuni- (açúcar, pecuária, mineração,
Gerais, Centro de Goiás e Mato Grosso), a dade aberta com a incumbência recebida café, borracha, mate etc.).
necessidade de alimentos, animais de carga do presidente JK, para pensar uma solu- No entanto, Furtado foi o
e couro fortaleceu a integração entre as re- ção para o dramático problema social e primeiro a articular esses
fundamentos com o
giões mineradoras, São Paulo e Oeste de econômico do Nordeste brasileiro, res- desenvolvimento regional
Minas (passagem para Goiás e Mato Gros- saltado, uma vez mais, com as graves se- e com a formação de
so), e o Sul do Brasil. No que se refere ao cas de 1958, permitiu a Celso Furtado a estruturas subdesenvolvidas.

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sistematização de suas ideias. Resgatando ada em trabalho escravo. Quando esse foi
a própria interpretação sobre o desenvol- formalmente extinto, no final do século XIX,
vimento brasileiro e a interpretação da mantiveram-se relações de trabalho pré-ca-
Cepal (1950), Furtado formula um sinté- pitalistas, por meio de diferentes formas de
tico, porém profundo, diagnóstico das semiescravidão, semisservilismo, de “meia”
razões do subdesenvolvimento nordesti- e de cambão. Em segundo lugar, ao deman-
no e cria as bases para a sua superação. dar animais de carga e alimentos, a econo-
No diagnóstico, constante do relatório mia exportadora criou a própria periferia
do GTDN, elaborado em 1959 (GTDN, no interior, a ela subordinada e dependente.
1967), Furtado começa por negar as vi- O crescimento demográfico empurrava a
sões correntes de que o problema econô- população para terras mais áridas, agravan-
mico e social do Nordeste decorria das do as próprias condições de subsistência.
secas. Negava, assim, a solução hidráuli- Em terceiro lugar, a fazenda do semiárido
ca através da construção de açudes, o que se baseava em uma população camponesa,
vinha sendo feito pelo governo federal sem terra e sem salário, a qual trabalhava
através do DNOCS, mas que beneficiava para o dono da terra na forma de “meia”
apenas os proprietários de terra. Contes- (partilha da produção) para as culturas de
ta também a visão de que o subdesenvol- exportação, principalmente algodão e, em
vimento era uma etapa do processo de compensação, podia produzir a sua subsis-
desenvolvimento econômico, como for- tência. Essas três características perduraram
mulado por Rostow (1959) e amplamen- por séculos, caracterizando uma situação
te aceito na literatura internacional. Ao estrutural de subdesenvolvimento. Ou se-
contrário, demonstra que o subdesenvol- ja, mantinha-se uma estrutura agrária dual
vimento é o resultado de uma formação e arcaica, com relações mercantis para fora,
histórico-estrutural particular e que ele ao lado de relações de trabalho pré-capita-
só pode ser superado por transforma- listas ou não mercantis, especialmente das
ções estruturais. atividades voltadas para a subsistência.
Toma os fundamentos históricos da Adicionalmente, as elites regionais,
colonização regional como determinante ligadas ao setor exportador ou ao aparelho
da dicotomia social da região. Em primeiro de Estado, assumiam padrões de consumo
lugar, na faixa litorânea úmida, a empresa cosmopolitas, incompatíveis com o nível
agrícola exportadora de açúcar estava base- da renda regional. Nessa condição, os exce-

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238 Celso Furtado e o desenvolvimento regional

dentes eram consumidos e não investidos, Por um lado, os superávits comerciais


impossibilitando a sustentação de um pro- do Nordeste com o exterior eram utiliza-
cesso de desenvolvimento. Esse era também dos para financiar as importações da região
um dos fundamentos da má distribuição Centro-Sul do Brasil, beneficiando esta úl-
de renda, tema recorrentemente retomado tima. O crescimento e a concentração in-
na maioria dos seus trabalhos posteriores, dustrial na região Centro-Sul, a política cam-
mas, de maneira enfática, em Subdesenvolvi- bial protecionista e a manutenção de uma
mento e estagnação na América Latina e em Aná- economia primária no Nordeste faziam com
lise do modelo brasileiro (Furtado, 1966 e 1972). que este importasse bens industrializados
À sua interpretação teórica do sub- do Centro-Sul, a preços mais altos que os
desenvolvimento, Furtado adaptou a análi- do exterior, e exportasse matérias-primas e
se cepalina de relação centro-periferia, bus- alimentos para este, Centro-Sul. Adicio-
cando demonstrar que a relação entre o nalmente, a indústria tradicional do Nor-
Nordeste e o Centro-Sul do Brasil tinha deste havia sido afetada pela construção da
um efeito extremamente negativo sobre a rodovia Rio-Bahia, facilitando a penetra-
economia da primeira. Furtado deixa, por- ção dos bens industriais do Centro-Sul no
tanto, de analisar a região de forma isolada Nordeste e devastando a indústria têxtil des-
e passa a examiná-la por meio da articula- sa região.
ção de sua estrutura interna com o exterior Esse duplo mecanismo de transfe-
e com a região Centro-Sul do País. Nega os rência de renda provocava um efeito sobre
princípios das vantagens comparativas na- a economia nordestina semelhante ao efei-
turais ou ricardianas, baseada na dotação to dos países centrais sobre a periferia, ca-
regional de fatores (terra e trabalho) e o de- racterizado no clássico diagnóstico da de-
senvolvimento dessa corrente pelo pensa- terioração dos termos de intercâmbio da
mento neoclássico. De forma semelhante à Cepal (Cepal, 1949). Assim, a política de
análise da Cepal para as relações entre paí- industrialização do Brasil era benéfica para
ses centrais e periféricos, a relação comer- a região Centro-Sul e nefasta para o Nor-
cial entre o Nordeste e o Centro-Sul do deste. Furtado negava o argumento de que
Brasil tinha um duplo efeito de transferên- esses efeitos fossem compensados pelas
cia de renda da primeira para a segunda e transferências públicas de recursos via go-
de impedimento do processo de industria- verno federal. Alegava que as transferências,
lização do Nordeste. mediante mecanismos comerciais, destina-

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Clélio Campolina Diniz 239

vam-se ao financiamento de investimentos ça na industrialização, o argumento era re-


produtivos no Centro-Sul, e que as transfe- forçado pelos problemas climáticos e pelas
rências públicas para o Nordeste tinham limitações de terras agricultáveis, pelo menos
caráter assistencial e, portanto, destinadas com os padrões tecnológicos da época. Em-
ao consumo pessoal, sem criar capacidade bora sua proposta contivesse duas grandes
produtiva. A consequência de sua análise diretrizes para a transformação do setor
era de que a distância entre o Nordeste e o agropecuário na faixa úmida e no semiárido,
Centro-Sul tenderia a aumentar.5 Aliás, essa Furtado propunha uma saída para o exce-
afirmativa estava corroborada nos dados dente de trabalho por meio do desloca-
por ele utilizados mostrando que a renda mento da população para uma nova fron-
per capita do Nordeste havia caído de 48% teira agrícola no Estado do Maranhão.
para 37% da média nacional, entre 1948 e As diretrizes do Plano de Desenvol-
1956, e que o peso da região no total da vimento para o Nordeste, contidas no rela-
renda nacional havia caído de 15% para tório do GTDN, podem ser sintetizadas
13% no mesmo período. em quatro grandes linhas ou programas:
Na mesma linha do diagnóstico da industrialização; transformação da agricul-
Cepal, ele argumentava que a única saída tura da faixa úmida; transformação da eco-
5 Esses argumentos foram para o Nordeste seria através da industriali- nomia do semiárido e deslocamento da
contestados por vários zação. Concluía de forma dramática “caso fronteira agrícola para o Maranhão. Observa-
autores, como sintetiza Cano se demonstre que a solução é inviável, não se, portanto, que o plano de Furtado tinha
(1985), sem, contudo, negarem restaria ao Nordeste senão a alternativa entre caráter reformista e modernizador, com
a relação centro-periferia entre
o Nordeste e o Centro-Sul despovoar-se ou permanecer como região forte influência das visões keynesiana, de
do País. de baixíssimo nível de renda” (GTDN, intervenção do Estado para a solução dos
6 Manheim (1951) analisa 1967). Enfatizava a importância do pro- problemas econômicos e sociais, e de Ma-
as crises do século XX (duas gresso técnico e as dificuldades para a sua nheim,6 que defendia o planejamento co-
guerras, Revolução Russa,
geração e assimilação nas regiões subdesen- mo solução para a busca da democracia e
nazismo), refuta as soluções
totalitárias (stalinismo e volvidas. Por essa razão, no diagnóstico e da justiça social.
fascismo) e defende a reforma nas ações propostas, estava explícita a ideia As tentativas de implementação des-
do sistema através do de criação de centros endógenos de decisão sas diretrizes vão estar contidas nas primeiras
planejamento. Os trabalhos
e de industrialização. Ou seja, de uma indus- ações do Conselho de Desenvolvimento
de Manheim tiveram
grande influência sobre trialização autônoma e de fortalecimento da do Nordeste (Codeno), criado logo após a
Celso Furtado. burguesia regional. Além de sua forte cren- conclusão do relatório do GTDN, em 1959,

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240 Celso Furtado e o desenvolvimento regional

e no Primeiro Plano Diretor da Sudene, ela- le do uso da terra e da água, bases para a re-
borado logo após sua criação, mas somen- forma agrária. Isso obviamente suscitou as
te aprovado em 1961. mais diferentes reações das elites nordesti-
nas. Igualmente, o projeto do I Plano Dire-
2.4_ A Sudene, as dificuldades políticas tor sofreu fortes reações dentro do próprio
e as falhas de orientação Conselho Deliberativo da Sudene e, poste-
O Codeno e a sucessora Sudene inicia- riormente, dentro do Congresso Nacional,
ram suas ações sob a liderança de Celso atrasando sua aprovação. As reações eram
Furtado e dentro das linhas estabeleci- diversificadas: governadores de Estado, For-
das pelo relatório do GTDN. Essas li- ças Armadas, DNOCS, elites políticas e em-
nhas de ação foram ampliadas e detalhadas presariais e também do sociólogo Gilberto
no I Plano Diretor preparado pela Sude- Freyre (Lima, 2008). Assim, a Sudene se-
ne, em 1960, para o período 1961-1963, guia pelas linhas de menor resistência.
o qual assumiu uma postura de planeja- As mudanças políticas decorrentes
mento compreensivo, incluindo infraes- do golpe militar de março de 1964 alteraram
trutura, reestruturação agrícola, coloniza- a ênfase nas linhas de ação. Essas foram 7 A Lei Federal n. 3.692, de

ção, desenvolvimento industrial e mineral, concentradas em apenas duas frentes: ex- 1959, que criou a Sudene,
estabeleceu em seu art. 18 os
oferta de alimentos, saúde pública, educa- pansão da malha de infraestrutura (trans-
incentivos fiscais (isenção
ção, levantamentos cartográficos, entre ou- portes, energia elétrica e saneamento) e su- tributária) para projetos
tros aspectos. porte à industrialização. A primeira, com a industriais novos e de
No entanto, desde sua criação, a Su- aplicação direta de 60% a 70% dos recur- expansão a ser implementados
no Nordeste. A Lei Federal n.
dene enfrentou fortes reações político-ide- sos aprovados nos Planos Diretores. A se-
3.995, de 1961, que aprovou o
ológicas de parcela significativa das elites gunda, pelo sistema de incentivos fiscais I Plano Diretor, estabeleceu
empresariais, políticas e intelectuais do Nor- canalizados através do mecanismo conhe- no seu art. 34 o direito de as
deste, no que se refere às suas linhas de ori- cido como “34/18”,7 que conjugava a isen- empresas brasileiras (pessoas
jurídicas) vincularem parcela
entação e proposições. As atas do Conse- ção tributária sobre a produção e o financi- do imposto de renda a ser
lho Deliberativo da Sudene, para o perío- amento dos investimentos mediante o uso pago para aplicação em
do, detalhadamente analisadas por Lima de parcela do imposto de renda devido pe- projetos industriais no
(2008), confirmam essas dificuldades. O las empresas, transformados em debêntu- Nordeste. Esses dois
mecanismos eram utilizados
projeto da Lei de Irrigação, enviado ao res e, portanto, não reembolsáveis. Ficou de forma conjunta,
Congresso, em 1959, nunca foi aprovado, estabelecido também que tanto os recursos conhecidos como
uma vez que trazia os meios para o contro- orçamentários quanto os recursos advin- “arts. 34/18”.

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Clélio Campolina Diniz 241

dos da isenção de imposto de renda para da para atender às necessidades de solucio-


aplicação em projetos de investimento no nar os problemas sociais e políticos do
Nordeste deveriam ser depositados no Ban- Nordeste. Assim, a Sudene teria vindo para
co do Nordeste do Brasil, reforçando seu mediar o conflito social e tornar possível a
papel de agente financeiro. expansão capitalista do Brasil.
Infraestrutura e incentivos ao cres- No entanto, essa é uma racionaliza-
cimento industrial atendiam aos interesses ção a posteriori. O próprio Oliveira argu-
da classe dominante e do sistema empresa- menta que a Sudene foi um audacioso pro-
rial. Reestruturação do setor agrícola, tanto jeto de transformação estrutural da região.
na faixa úmida quanto no agreste e no se- O resultado poderia ir a direções diferentes,
miárido, implicava reforma agrária. Essa dependendo das forças políticas que pre-
era exatamente a reivindicação das corren- valecessem no processo. Além das reações
tes progressistas, tão bem representadas internas contra o caráter reformista da Su-
pelas Ligas Camponesas, organizadas pelo dene, houve forte pressão internacional con-
deputado Francisco Julião. A contenda foi tra os movimentos de cunho socialista. O
resolvida com o golpe militar de 1964, que governo dos Estados Unidos, através da
aplastou as reivindicações políticas da clas- Aliança para o Progresso e da Usaid, lide-
se trabalhadora e de suas lideranças e liqui- rou programas que visavam a bloquear os
dou a proposta de reforma agrária. movimentos populares e o risco de uma re-
Nesse sentido, Oliveira (1977) diz volução socialista no Brasil. Com o golpe
que a Sudene foi criada em consonância militar de março de 1964, as forças populares
com os interesses da burguesia industrial foram controladas e dominadas. Predomi-
da região Centro-Sul do Brasil e articulada nou a orientação pela industrialização, pelo
com os interesses da burguesia decadente avanço da infraestrutura e pela moderniza-
do próprio Nordeste. Foi também uma ção conservadora da agricultura, com a
forma de segurar a pressão das forças po- abertura de novas frentes proporcionadas
pulares, cuja ação poderia apontar na dire- pelo avanço da tecnologia, como a agricul-
ção de uma desintegração do País, pelos tura irrigada e a dos cerrados, afastando a
movimentos de caráter revolucionário que ideia da reforma agrária.
se despontavam na região, a exemplo das Furtado (1989), em seu livro A fan-
Ligas Camponesas. Na mesma linha, Cohn tasia desfeita, confirma essas preocupações
(1976) argumenta que a Sudene foi instituí- do governo americano ao relatar sua via-

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242 Celso Furtado e o desenvolvimento regional

gem aos Estados Unidos e seu encontro bouças et al., 1979). Não há clareza sobre as
com o presidente Kennedy, em 1961. Na- razões desses fracassos. Se por má concep-
quela ocasião, ficou claro o conflito de vi- ção ou análise, se pela competição, ou se
sões do presidente Kennedy, mais flexível, por erros ou desvios de conduta. Qualquer
e do Departamento de Estado, mais radi- que seja a razão, o fechamento de muitas
cal. Acabou prevalecendo a orientação do plantas acabou por desacreditar e desmo-
Departamento de Estado, como ficou com- ralizar a Sudene.
provado pela ação do governo americano, Nesse sentido, é questionável a ori-
que agiu no sentido de minar a ação, o entação contida no GTDN e no I Plano
prestígio e o poder da Sudene no período Diretor, de ênfase em uma industrialização
que precedeu ao golpe militar de 1964. autônoma no Nordeste, seja porque a eco-
Assim, a ação da Sudene foi esvazia- nomia brasileira estava integrada e, portan-
da e alterada por três razões. A primeira foi to, o Nordeste teria que competir com as
o aniquilamento das propostas de reformas demais regiões do País, seja pela debilidade
estruturais. Sem a reforma agrária, a estru- de sua burguesia industrial. Isso só poderia
tura de propriedade e exploração da terra ser feito se atendesse aos interesses empre-
continuou intocada. Com ela, os problemas sariais das demais regiões, o que acabou
de distribuição de renda e de melhoria das acontecendo pelo uso dos incentivos fisca-
condições sociais. O segundo problema, pela is pelo empresariado de outras regiões; isso
drenagem dos recursos previstos no siste- fortaleceria a capacidade empresarial da re-
ma de incentivos fiscais, ao ampliar a sua gião e de fato vem acontecendo.
área de aplicação para a região amazônica,
ainda em 1963, e para vários setores (turis-
mo, reflorestamento) em todo o País, em 3_ Avanços posteriores e a
anos posteriores. Em terceiro lugar, por- atualidade de Celso Furtado
que muitos projetos industriais aprovados Afastado do cargo e do País, Furtado se de-
nas primeiras etapas da Sudene tiveram dicou ao aprofundamento de sua interpre-
funcionamento precário, levando ao encer- tação do subdesenvolvimento e também
ramento das atividades. Em 1978, dos 763 da questão regional. Em 1967, publicou
projetos industriais que receberam incenti- um artigo teórico sobre o desenvolvimen-
vos, 104 estavam funcionando com pro- to regional denominado “Intra-country dis-
blemas, e 88 haviam sido paralisados (Re- continuities: towards a theory of spatial structu-

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Clélio Campolina Diniz 243

res” (Furtado, 1967). Nesse artigo, além de Demonstra que as descontinuidades inter-
uma reinterpretarão crítica dos principais regionais dentro de cada país são geradas
pilares da Teoria do Desenvolvimento Re- pelos padrões locacionais, especialmente da
gional, Furtado introduz pelo menos qua- indústria, e sua relação com as políticas ma-
tro grandes avanços ou superações das vi- croeconômicas. Analisa a relação negativa
sões anteriores. Em primeiro lugar, supera entre concentração regional e distribuição
a noção de região e passa a tratar da es- de renda, demonstrando que os ganhos de
trutura espacial, demonstrando as várias produtividade tendem a se concentrar. De-
articulações inter e intraterritorial no pro- fende a criação de externalidades como
cesso de desenvolvimento, o que nos aju- forma de beneficiar, em conjunto, empre-
da a entender a complexidade das rela- sas e consumidores. Conclui mostrando
ções entre agentes e atores no território. que as mudanças espaciais dependem, fun-
Em segundo lugar e articulado ao prime- damentalmente, de quatro fatores, a saber:
iro, enfatiza o papel da hierarquia de nó- a) do ritmo de crescimento econômico, cu-
dulos ou polos e a inter-relação entre es- jo aumento possibilita maior elasticidade
ses. Ou seja, introduz, de forma explícita espacial; b) do número de novas plantas,
e direta, o papel do urbano e das cidades especialmente de plantas motrizes; c) das
na estruturação e no comando do territó- plantas de processamento secundário, não
rio, cuja importância e complexidade só dependentes de insumos e matérias-primas
têm se ampliado nos últimos anos. Em primárias; d) das economias de escala, as
terceiro lugar, demonstra que as desigual- quais se ampliam com o progresso técnico.
dades são produtos das formas em que se Para tudo isso, a expansão da infraestrutura
introduzem e se distribuem as modernas funciona como pré-condição ou pano de
tecnologias, vale dizer dos processos ino- fundo. Embora reconheça que as decisões
vativos. Por fim, Furtado ressalta a com- são de natureza política, Furtado enfatiza
plexidade dos fenômenos espaciais, pro- uma abordagem interdisciplinar para uma
pondo um esforço interdisciplinar como teoria da estrutura espacial, com ênfase nos
caminho para a formulação de uma teo- estudos sobre os processos de urbanização,
ria das estruturas espaciais. dos custos de comutação, das migrações.
Como um pensador engajado, Fur- Nessa linha de interpretação, repen-
tado trabalha a sua construção teórica co- sar a questão regional brasileira em termos
mo fundamento e base para a ação política. atuais significa reinterpretar as estruturas

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244 Celso Furtado e o desenvolvimento regional

espaciais e sociais atuais e suas tendências e grandes desigualdades nos padrões de ocu-
conjugá-las com os objetivos econômicos, pação territorial do País e apontasse no
sociais e políticos da Nação. sentido de um país mais integrado.
O primeiro ponto a ser discutido Do ponto de vista operacional, pen-
está relacionado com a superação de se sar uma política nacional de desenvolvi-
pensar regiões isoladas, para se pensar a es- mento regional implica pensar em uma nova
trutura espacial. Nesse sentido, uma políti- regionalização do país para efeitos de polí-
ca regional precisa ser concebida e formu- tica pública, em geral, e da política regional,
lada em uma perspectiva nacional, ainda em particular. No caso do Brasil, a regiona-
que as diferentes regiões recebam trata- lização atual com as cinco macrorregiões,
mento diferenciado, em função de suas ca- que continua como base para as políticas
racterísticas e objetivos gerais. Assim, uma regionais, está superada, exigindo uma nova
nova política regional, guiada pelos objeti- divisão territorial do País. Uma nova regio-
vos de coesão econômica e social, necessi- nalização deveria considerar três critérios
taria também ser pensada em função da complementares e articulados: econômico,
coesão territorial. A coesão territorial, por ambiental e político.
sua vez, passa pelo menos por quatro di- O critério econômico deve ter como
mensões da integração. Integração territo- referência básica os efeitos de polarização
rial (no sentido físico), integração econô- exercidos pelas cidades, a partir de cuja hie-
mica (como complementaridade produtiva rarquia se definiriam as escalas de polariza-
entre as sub-regiões), integração social (que ção, as centralidades e suas áreas comple-
considere a distribuição de renda, a geração mentares. O critério ambiental deveria buscar
de emprego e a incorporação social), inte- o ajuste dos recortes territoriais às necessi-
gração política (no sentido da recostura do dades de aproveitamento econômico do
pacto federativo). patrimônio natural e da sustentabilidade
Adicionalmente, há que ser consi- ambiental. Por fim, o critério de represen-
derada a integração com a América Latina tação política deveria preservar a relação
(territorial, econômica, social e política), a entre o recorte territorial e a identidade cul-
questão ambiental e a geopolítica brasileira tural e política de seus habitantes e suas
e sul-americana. Tudo isso implicaria a bus- instituições e, ao mesmo tempo, os aspec-
ca de um novo ordenamento do território tos de geopolítica e soberania nacional.
que caminhasse no sentido de redução das Assim, respeitada a divisão político-admi-

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Clélio Campolina Diniz 245

nistrativa do País em Estados e municípios, instituições de desenvolvimento regional


tornar-se-ia necessário estabelecer pelo me- que vêm sendo recriadas, a exemplo da Su-
nos duas escalas operacionais: uma macro dene, Sudam e Sudeco. Ora, a nova regio-
e outra mesorregional, o que está proposto nalização proposta quebra as continuidades
em recente trabalho realizado pelo Cede- territoriais constantes no recorte territorial
plar e publicado pelo Ministério do Plane- da atuação dessas instituições. Por sua vez,
jamento (2008). essas estão sendo recriadas sem uma ade-
Um segundo aspecto está relaciona- quação de propósitos, instrumentos e for-
do com as fontes de financiamento e sua mas de atuação, correndo o risco de que
operacionalização institucional. O Brasil pos- elas se transformem em “monumentos às
sui diferentes fontes de financiamento e di- necessidades do passado”, a exemplo do
ferentes formas institucionais de sua gestão. prédio da Sudene, no Recife.
Muitas vezes essas fontes e as orientações Um novo ordenamento do territó-
governamentais são conflitantes. Assim, uma rio, guiado pelos objetivos de coesão eco-
nova política nacional de desenvolvimento nômica, social e política, depende, funda-
regional teria que considerar a possibilidade mentalmente, de duas grandes dimensões
de fusão dessas fontes em um fundo único, com impactos estruturais duradouros: da in-
o qual vem sendo discutido no Brasil através fraestrutura, especialmente de transportes
do Fundo Nacional de Desenvolvimento e; da nova rede urbana. A infraestrutura de
Regional. Essa tarefa é complexa porque, transporte condiciona o sentido dos fluxos
além de exigir mudanças constitucionais, e da integração e os demais elementos da
ela exige, antes de tudo, um pacto territorial infraestrutura e da logística (telecomunica-
entre a União e os Estados e destes entre si. ções, energia, armazenamento, entre ou-
Tudo isso implicaria um novo dese- tros). Por sua vez, o sistema de transportes
nho institucional adequado à gestão da nova deve ser analisado tendo em vista a integra-
política. Esse novo desenho, para que te- ção inter-regional, em uma perspectiva na-
nha racionalidade e eficiência, deveria bus- cional, e a integração intrarregional. Esta
car construir as formas institucionais do última tem papel decisivo no fortalecimen-
Governo Central e da articulação dessas to de novas centralidades.
com as instâncias estaduais e de outras es- Uma nova rede urbana acarretaria a
calas subnacionais. Além das dificuldades necessidade de se escolher ou selecionar no-
intrínsecas, surge o problema das atuais vas centralidades urbanas a ser reforçadas,

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246 Celso Furtado e o desenvolvimento regional

com pelo menos duas escalas: uma macro e a base estrutural que assegura a cidadania e
outra meso ou sub-regional. A escala macro o avanço científico e tecnológico. Avanço
permitiria mudar o desenho dos fluxos ma- científico e tecnológico como base para
croespaciais, freando o aumento da mega- uma nação soberana ou menos dependen-
concentração em alguns centros urbanos te, econômica e politicamente, para fora, e
(São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, socialmente, para dentro.
Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Salvador,
Recife, Fortaleza e Manaus) e fortalecendo
novos macropolos. Esses novos macropo-
los contribuiriam para integrar outras re-
giões do País, como centros de consumo e
de suporte à produção, neles mesmos e em
seus entornos. Os mesopolos ou subpolos
contribuiriam para processos semelhantes,
em escala mais reduzida. Essa conjugação
permitirá a constituição de uma rede urba-
na mais integrada e melhor distribuída. O
fortalecimento dessas novas centralidades
depende, afora a infraestrutura de integra-
ção inter e intrarregional, da concentração
de equipamentos públicos, que, além da
oferta de serviços em si, contribuam para a
atração do investimento produtivo priva-
do. Uma orientação de tal natureza estabe-
leceria condições básicas para a construção
de uma nação com metas, talvez “utópi-
cas” ou de longo prazo, de um país poli-
cêntrico, integrado em termos territoriais,
econômico, social e político.
Por fim, na era do conhecimento ou
da sociedade do conhecimento, educação,
ciência e tecnologia devem ser vistos como

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E-mail de contado do autor:


camp@cedeplar.ufmg.br

Artigo recebido em maio de 2009;


aprovado em julho de 2009.

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