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NOvOs INTERESSES,
Novos TERRITORIOS, Novos Discursos
NO NORDESTE*
Introdução
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2 BRASIL: QUESTOES ATUAIS DA REORGANIZACAODO TERR/JÓRIO
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*
INTERESSES...
gch VERSUSS ECA. NOVOS
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286 BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
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V'
SSES...
- NOVOS INTERE 287
SECA VERSUS SECA
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O DO TERRITOR]O
288 BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REORGANIZAÇÃ
sde e i geogaanet d
antigo, insere-se na discussao intelectual sobre a moder-
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ES...
ERSUSSECA. NOVOS INTERESS
seCA V 289
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ITÓRIO
QU ES TO ES AT UA IS DA REORGANIZACAO DO TERR
BRASIL :
290 desta incorpo-
c o s e territoriais
o s so ci ais, politi ! am en te discutidos na
pra m e n t m si do a m pl
uitos e té de de senvolvimento,
pr oc es so
á
r pr of un da me nte a dis-
P° de transfor
ma
Cada i n o v a g a o
ã o , as re la çõ es: de traba-
ç
o g r á f ica da produ pro-
tribu i ç ã o g e
d o s a g e n t e s no sistema
ões de poder de
lho e as relaç
st a po lí ti co , m odernização po
de vi
dutivo. Do ponto a d a n i a at ra vé s da ampliação
ção da ci d
significar amplia lí ti ca , a p r i m oramento das
rticipação po
dos canais de pa i ç õ e s de atendimento a
a s Ou c o n d
práti cas democrátic
nd as pa ra al ca nça r a justiça social.
dema
do que O pr oblema valorativo
Deve ser acrescenta
é co mp le xo e se mp re dependerd da
das transformagoes Os
te dr ic o- co nc ei tu al que inspira a análise.
perspectiva
fi li ag ao li be ra l, po r exemp lo, tendem a
economis tas de ólo-
anto antropdlogos e soci
qu
vé-las como positivas, en
is ou ma te ri al is ta s, na maioria das vezes as
gos, libe ra
vêem como negativas (MOO RE, 1976). Do ponto de vista
s ag en te s so ci ai s, po ré m, a ap rovação ou reprovação
do
mu da nç as de pe nd e da fo rm a como cada um seré
das
ntrapartida do pro-
afetado. Este problema remete à co
tituída pela dis
cesso dinâmico de transformação cons
ta da or ga ni za çã o e do co nt role dos meios para o
pu
servacao do estabelecido.
ceito, será
Tendo em vista a importância do con
mali
são das mo ís ti ca s
caracter gia espe”
.fe"ª aqan e discusri
ui umado brcoevns sm o co ideolo
u’n_port tes ervado
liberalismo º :
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fa ze r um a re vi sã o * :
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tema, que é ar'np;ª::e n'la_s de ten tla f' Cº '. “:
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der a sua força: Tom:Zã o como útil a classificação
A
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sECA VERSLIS SECA- NOVOS INTERESSES.., 291
|S
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292 BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REORGANIZAÇÁO DO TERRY
6
fia etc. Seu fundamento é o fracasso do Estaq o Com
regulador social e econdmico e a redugio da sy, tirani
Há algumas questões interessantes na ideolo Í
conservadora, qualquer que seja a sua nuance, que ingdi
cam os seus traços essenciais. Primeiro, há aceitação táci.
ta da hierarquia como fruto de um processo natural, a
mentado pelo tempo da prática social. Este legitima éê
justifica a diferença hierárquica e sua Permanência,
Segundo, o elitismo, com forte elemento humanitário e
de responsabilidade, constitui o esteio e a garantia de
uma ordem social justa e estável. Terceiro, a liberdade
individual é o resultado de anos de desenvolvimento
social em uma tradição territorial (nacional, regional)
específica. Linguagem, costumes e pensamento são
adquiridos socialmente e territorialmente. Quarto, a
desigualdade está enraizada nas circunstâncias, tanto
naturais como políticas. Algumas pessoas são natural-
mente superiores, intelectual e moralmente. A desigual-
dade não pode ser erradicada por meios sociais ou polí-
ticos. Quinto, a vida política é concebida organicamente,
a liderança e o julgamento político são habilidades restri-
tas a uns poucos. A maioria dos conservadores usa 0
organicismo de modo analógico. Cada indivíduo tem o
seu lugar no todo orgânico. A mudança ou reforma deve
Ser consoante com o ritmo do organismo como um todo.
A ordem política ou moral não pode ser forjada ou im
posta; é, antes, interna às instituições políticas e morais-
O papel da política e do governo no pensamº“tº
conservador é essencial: como guardiães de nºfm.ªs é
costumes processuais que mantenham a paz, a justis? ¢
a'liberdade. Além disso, a devoção a ordem estabelec@a
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beno.>
cA VERSUSSECA- NOVOS INTERESSES... SCa-FEDNDOA,
sE
upo OU elite, po?s normas e direitos são resultado de
anos de desenvcglvimento social e político.
Com relaçao'a economia, o Estado deve defender
ou promover o% interesses do mercado, preservando
valores prioritários, como a comunidade. Também, para
os conservadores tradicionalistas, a propriedade fundiá-
ria aristocrática é a forma mais segura de manter rique-
7a, hierarquia e status.
Outra característica fundamental do conservadoris-
mo é, paralelamente à resistência a determinadas idéias,
a enorme capacidade de louvar a sabedoria imemorial
que as incorporou, a partir do momento em que elas
sejam as vencedoras, o que lhe dá uma incrível capacida-
de de sobreviver politicamente. Na realidade, em sendo
ideologia, as idéias conservadoras, explicitadas ou não,
são assimiladas como verdade pela sociedade, daí a sua
força e possibilidade de eco e reprodução de seus valo-
res, o que sustenta sua permanência nas estruturas de
poder. Mas, como seus fundamentos não são unívocos,
nem eternos, é justamente no solapamento das formas
elaboradas do seu discurso que podem ser encontrados
trunfos importantes para a redução do seu espaço políti-
co e para a percepção do processo de mudança.
O estabelecimento dos fundamentos e das premis-
8as conceituais acima tem por objetivo apontar a ade-
quabilidade dos conceitos de modernização e conserva-
%0 para as questões empíricas que serão discutidas na
Segunda parte do trabalho, definindo-se, a partir deles,
0S supostos mais significativos para a análise.
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n R N n vn U REURGANIZAÇÃO
DO TERRITSTºR]g
O Argumento Agrário
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* BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REORGANIZAÇÃ
CAÇÃODO Ty
1991 a participação da Região na população totaldo,..
caiu para 28,9%, enquanto a parcela da Popula ÇãO TUural
brasileira na Região subiu para 46,4%. Do increme
absoluto-da população rural brasileira, que foinéo
7.685.500 habitantes entre 1940 e 1991, o Nordeste pame
cipou com 5.663.963, ou seja, 73,7%. Complementan d(;
esta realidade, a estrutura fundiária regional, COmparad,
com os espagos mais consolidados do pafs — Regiões
Sudeste e Sul — foi a que menos se alterou. O tamanho
médio de suas grandes propriedades, que se reduziu
entre 1940 e 1960, recuperou a média de 1920 nas déca-
das de 60 e 80, enquanto o processo de fragmentação das
pequenas propriedades foi, no período, o mais intenso
no país. No entanto, o peso econômico das atividades
agrícolas regionais no conjunto do país está longe de
acompanhar o peso da população residente em seu
campo, ou mesmo o desempenho das outras regiões. Ao
contrário do comportamento da população rural na Re-
gião, o valor da sua produção agrícola teve sua partici-
pação no conjunto da produção nacional reduzida (CA5-
TRO, 1992). Não ha novidade nestas informações, mas
elas sao aqui resgatadas pelo significado politico que
guardam: uma estrutura fundidria resistente, um proces-
so de modernizagdo agricola que caminha a reboque do
pafs, uma massa populacional de 16.716.870 habitantes
na zona rural em 1991, que representam 11,4% do tºt?l
da população brasileira, em sua maior parte empobrec"
dos, sem o direito de propriedade das terras onde trabo"
lham, ou dispondo de propriedades mintisculas.
eitos
B, portanto, nesse quadro que se movem 08 5’“_}
sociais e as circunstancias escolhidos para a ª“ªhse'ais
no meio agrário nordestino que se encontram a5 É
fortes raízes do conservadorismo de uma €s!
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A VERSUS GECA.NOVOS INTERESSES... ”
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298 BRASIL: QUESTOES ATUAIS DA REORGANIZAGAQ DO TERRITÓ|
Rig
dificuldade em encontrar inúmeras referéncias as difi.
culdades particulares impostas pelo clima, oy ao climy
como uma das causas dos problemas vividos na Regíáol;
outro, mais recente, que vê na escassez PIUViºmétriCa'
que dificulta a reprodução de pragas, e na fertilidade de
grandes extensões de solos um enorme potencial paraa
agricultura irrigada de caréter empresarial, ou o agroby-
siness. O clima aqui é um -recurso inestimdvel, redentor,
capaz de fazer surgir uma nova Califérnia, com mais
vantagens que a outra, porque não tem uma estagio
com temperaturas mais baixas.
Os responsaveis por estes discursos são atores
regionais, porém de tipos e interesses bem diferentes: o
primeiro é elaborado por segmentos importantes da
elite politica, com enorme poder de assimilago e repro-
dução; o segundo é mais restrito a uma parcela pequena
do meio empresarial e da administragao piiblica, que
encontra no sol uma matéria-prima essencial, seja para a
fruticultura irrigada, seja para o turismo.
O significado conceitual e empirico desses discur-
sos contraditérios pode ser percebido no confronto
entre formas tradicionais e modernas, tanto de organi-
zação do espago produtivo, como de organizagao do
espaço politico, que dão sustentação a cada um. Embord
não haja necessariamente coincidéncia entre essas o
mas, ou seja, formas modernas de organizagao da
Rro-
dução não significam sempre uma atuagao Prog’esslsz
no espago politico, como já foi sugerido no inicio 'desr‘
texto. Além disso, os atores que produzem estes dlscuo,
80 são 05 responsáveis por fenômenos que têm €
nâncias em escalas espaciais diferentes.
Na realidade, a contradição entre discurso® quê
= : s 4uio tráB
opõem, de um lado a submissão a um imaginário
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NOVOS INTERESSES...
SECA VERSUS SECA- 299
co e de outro a redenção do atraso e da pobrez
a através
da tecnologia, aponta para uma contradição mais
pro-
funda entre os meios mobilizados no processo
produti-
vo, entre as escalas de interesse dos agentes envolvidos
e entre os mercados de consumo dos produtos obtidos.
A retórica, como sempre, tem um significado político
fundamental e o território pode ser lido como seu alicer-
ce e produto.
Há, portanto, na Região duas lógicas na organiza-
ção do seu territdrio: uma conservadora, que articula a
escala local com a regional e a nacional, definindo um
espago econdmico e politico que garante a organizagao
social e o poder no territério, com base nos azares cli-
méticos; outra modernizadora, que articula a escala
local com a internacional, organizando o espago a partir
de imposições de caréter tecnológico e de mercado, com
base nas vantagens climéticas. É no confronto entre os
interesses destes atores, que percebem de maneira opos-
ta os mesmos indices pluviométricos, que podem ser
encontrados embrides de rupturas na Regido.
A partir desses interesses conflitantes, impdem-se
algumas reflexdes sobre as condições de reprodugao do
conservadorismo nordestino e o significado do agrobusi-
fless como um possivel vetor de mudanga, não apenas
20 nivel da deslegitimação simbélica do discurso domi-
nante, como também na construgio de um novo imagi-
flffrio sobre a Regiao, que pode ser significativo para a
Cação das condigoes de alteração na sua estrutura de
equ'ilíbl'iº de poder, em função da disputa, por espaço
Político, empreendida por novos atores.
e e e o urssos fipocons-detraet -
apontad esponsáveis pelos d'ls?cdal
05, no sentido de identificar, nas relações econd
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300 BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REORGAN
IZAÇÃODO T
Ro
micas, sociais e políticas por eles conduzidas
mentos de permanência ou de perturbação da’s (;s ele‘.
ções de reprodução da estrutura social, As fefleon_dl'
sobre o que chamamos de tradicional têm por ba’;oes
literatura geografica, histérica e politica sobre a Re ͪ_a
autorísa:
Nordeste, já discutida amplamente por vários
também por CASTRO (1992); aquelas sobre os novos ato.
res têm por base, além de bibliografia produzida Tecen-
temente, a pesquisa sobre a fruticultura irrigada na par-
te oeste do Rio Grande do Norte, especialmente no Vale
do Açu e em Mossoró, realizada através de trabalho de
campo e entrevistas com sindicatos rurais, lideranças
políticas, profissionais liberais e empresários (Mapa 1).
Para cada um destes conjuntos de atores será ela-
borado um quadro das especificidades de suas ações em
relação às suas escalas de interesse, aos instrumentos
utilizados, ao cenário construído e ao conteúdo do seu
discurso. O objetivo aqui é estabelecer eixos para uma
análise comparativa da dinâmica social e política ine-
rente aos seus territórios de organização e de atuação.
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e VERSUS SE
(A NOVOS INTERESSES... 301
Salvador
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0 BRASIL: QUESTOES ATUAIS DA REORCANIZAC ÃODO
o
giadas as elites política e econômica, tendo em vis,
seu papel na transmissão de formas Pretéritas g,
Sta o
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0
oA VERSUS SECA NOVOS INTERESSES...
veisa Participação política da elite agrária regional. A
pistória do poder político das oligarquias em diferentes
artes do mundo, como o sul da Itália, a Galícia na
s, teve por
Es anha ou mesmo o sul dos Estados Unido
é que as
pase condições semelhantes. O argumento aqui
oligarquias agrérias só se preservam como tal mediante
O
o dominio de espacos na estrutura do poder central.
politico
sucesso das estratégias de preservação do peso
gas na
da elite agrária regional deve-se as suas alian
e
Reptiblica Velha com as oligarquias do Centro-Sul
ializa-
posteriormenle com a burguesia industrial, mater
das nas decisões do Legislativo, especialmente na histó-
a,
rica derrota dos projetos para superar a questão agrári
o
e na ocupação de postos na alta Burocracia do Estad
(SOARES, 1973).
Estes atores tradicionais são, tanto aqueles proprie-
tários mais comprometidos com o monopólio da terra
do que com a sua utilização como base produtiva, como
aqueles cujas atividades econômicas são viabilizadas
mais pela existência de recursos subsidiados do que
pela inserção competitiva no mercado, juntamente com
o representante político de ambos, cujas decisões e ações
se fazem para evitar alterações de fundo nas relações de
produção, de poder e de disponibilidade de recursos
financeiros.
As escalas de articulação destes atores tradicionais
são preferencialmente a local, regional e nacional. E nas
ffflªções políticas e econômicas realizadas nos territó-
rios, definidos por estas escalas, que os fenômenos
:ª:sªªf:ntes de suas agdes adquirem maior sigr?ificado. É
ey eºãºalas que se dá a pertin‘éfnc.iz? da medida de?tes
ªxplicat:,s' a sua conseqiiente v151b111dad'e e o contetido
o do espago por eles produzidos (CASTRO,
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304 BRASIL: QUESTOES ATUAIS DA REORGANIZACA
ÇÃO DO ey,
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USSECA. NOVOS INTERESSES...
sEcA VERS 305
0 mandonismo e a organização oligárqui
ca são
instrumentos políticos bastante familiare
s ao exercício
do poder, na escala local, e conhecidos dos habitante
s
do Sertão nordestino, que del
es extraem o que podem,
sendo sua manifestação evidente nos
Períodos eleito-
rais, quando suas práticas adquirem visibilid
ade nacio-
nal. O poder político formal, que surge des
tas práticas,
incorpora-as e tem por tarefa essencial de sobrevivência
a sua reprodução. É na captura dos aparelhos for
mais
do Estado, nas três esferas de poder e da administraçã
o
da Federação, que se dá com mais eficiência o proces
so
que garante a permanência e a resistência às mudanç
as
(OLIVEIRA, 1981).
O cenário historicamente construído por estes
agentes sociais, com seus recursos econômicos e políti-
cos, é também conhecido por seus aspectos socialmente
perversos e por sua capacidade de sobrevivéncia.
Tentaremos indicar alguns de seus componentes.
Primeiro, a resisténcia de uma economia rural tradicio
-
nal, sem competitividade e pouco capitalizada. Refiro-
me às atividades realizadas pela elite econdmica rural
tradicional da Região. A contrapartida deste sistema
Produtivo é o miniftindio, cujo tamanho médio das pro-
Priedades ¢ o menor do pais, e, como decorrénc
ia dele,
a‘disponibilidade de numerosa méo-de
-obra que propi-
a relações de trabalho não formalizadas, cujo interlo-
ºf“lºr dos direitos e deveres do trabalhador é o pro
prie-
ário da terra, ou seja, o patrão, e não a legislação.
“Sundo, há falta de sustentabilidade geral das ativida-
& econômicas , frente a quaisquer imposigoes competi-
tivas que venh am de fora da regido e frente aos perio-
%5 Tegulares de estiagem. Terceiro, a fragilidade social
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% BRASIL: QUESTOES ATUAISDA REORGANIZAÇÃO
DO 1 .
ORig
da base da piramide social do meio rura] norq
estino,
que torna o minifundidrio, o parceiro, o morador as Víli-
mas imediatas das secas, mas também os eleit
Ores de
seus representantes. Esta dualidade de papéis Sociaj
não pode ser subestimada. Quarto, baixos níveis d:
investimentos nas atividades produtivas, por razoe
economicas, mas também por outras nao econômicas
(OFFE, 1984). Quinto, o Estado, através da sua estrutura
burocráticaí é o mediador principal das atividades des.
tes atores. É no Congresso Nacional e nos órgãos públi-
cos de ação regional que se dão as condições de decisões
que afetam estes grupos e suas atividades.
O conteúdo forte e essencial do discurso produzi-
do por esta elite é conhecido, mas vale a pena fazer uma
síntese. A seca é a palavra-chave. Ela representa falta de
chuva, mas também miséria, analfabetismo, doença,
descapitalização, natureza hostil etc. Mas a seca é tam-
bém,.na base do discurso, produtora de uma solidarie-
dade social que equaliza todos diante da sua força, pro-
dutores grandes e pequenos, proprietarios ou não. A
seca é também percebida como falta d'água e como ne-
cessidade de recursos para obté-la. O significado destes
contetidos vai muito além da relagdo entre natureza é
atividade produtiva, sendo mais evidente na relação .ºn'
tre a natureza e a produção de um imaginario politicor
socialmente equalizador e institucionalmente eficiente
para a obtenção de recursos financeiros e de poder
ooy aa f ário-
O novo aqui é definido a partir de seu contr .
ido àà complexidade
Devido : E
de uma diferenciação Z
caPpº?
«
.
CÁvels!
:
estabelecer dois conjuntos distintos e incomu'1ICáv
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5 SECA. NOVOS INTERESSES... 307
sEch VERS
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—
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115 SECA.NOVOSI INTERESSES... À
CAVERS 309
Mapa 2 — Oeste
do Rio Grande do
Norte
OCEANO ATLANTICO
Lagoado
Piatdr5
Açu
F Represo
! Armando
Ribeiro Gonçalv
— i a
Y
— Rodovia pavimentada = Candl E
----- ~- Rodovia não
Pavimentada ú
Salinas
Currais Novos J
F Area irrigada
— 40Km
Fonte:
* CAVIEDE C. N. e
S, t alii (1994)
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|
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OS INTERESSES...
SECA VERSUS SECA. NOV ki
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" BRASIL: SIL: Q QUESTÕES
ATUAIS DA REORGANIZAÇÃO
GAOD D: TERRITÓRIO
"
esferas admi.
tura — € as mediações polit‘icas locais =
nistrativas públicas, Sindlºªt(')f rurais, associações
empresariªisr representa.ntes politicos. A escala regiona]
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INTERESSES...
SEC A VERSUS SECA. NOVOS 33
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314 BRASIL: QUESTOES ATUAIS DA REORGAN[ZAÇÃODOTERRI õ
T Rip
possibilidades de complementagio com a
familiar, no caso do minifúndio, e tém sur agricultura
nOVas gldO
possibilidades para pequenos e médios Produtor eg
através da terceirizagao da produgao
, oy associacyy
como preferem nome ação,
ar, na 4rea estudada. Ha tr
ansfe.
réncia de tecnologia, prevista nos contratos de
f Orneci-
mento desses produtores com as empresas,
feitos com 5
mediagdo do Banco do Brasil e do BNB,
que fornecem
financiamentos para embalagem ou outras
etapas da
produgéo. Finalmente, a condigao de
sustentabilidade
dessa atividade está, entre outros pontos
já indicados,
na falta de chuvas como um recurso e
não como um
obstáculo.
O discurso produzido por estes atores tem
como
palavra-chave, também, a natureza, porém nele
percebi-
da como um potencial inestimável e um recurso
reden-
tor da economia regional, tanto pelas possibilid
ades de
modernização, como pela perspectiva de inser
ção com-
petitiva nos mercados nacional e internacional que ela
oferece. O binômio clima tropical semi-árido e moder-
nas técnicas de irrigação é avaliado como altament
e
favorável ao desenvolvimento de uma economia
agrária
sustentada, competitiva nacional e internacionalmen
te,
com amplas possibilidades de aproveitamen
to das
“janelas de mercado”, abertas pelo inverno
das áfª.ª.ª
temperadas dos hemisférios norte e sul e pelas possibl.ll'
dades oriundas da ampliação do mercado urba
no nacio”
nal. A idéia forte veiculada por estes,
ainda poucos, o
madores de opinido estabelece a
alternativa a “falta d:
vontade política”, como entrave ao desenVºlVifn(É,nt
regional, apontando a “falta de vontade empresarlal . Ú
b.inômio irrigação e tecnologia é consider
ado como
€1x0 de manutenção de uma economia
agrária capa?
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SECA VERSUS SECA. NOVOS INTERESSES.,, -
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316 BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REORGANIZAÇÃO DOT
ERRIT()R[
0
manutengao da estrutura agraria, com a redy
SãO das
tensões pela aparéncia de acesso a terra que é dad
trunfo àa
estes trabalhadores rurais, e é também o
ica, reafirmaãlaue
garante a estrutura política oligárqu
cada período eleitoral com a participação do voto deSseZ
trabalhadores.
A substituição de contratos de trabalho, mediados
pelo proprietário de terras, por contratos com empresas,
mediados pela legislação trabalhista, tem um efeito
importante na ampliação dos espaços de organizagio e
atuação dos sindicatos rurais, sempre obstruídos pelo
personalismo e pelo compadrio nas relações de traba-
lho. A impessoalidade nas relações capitalistas, se por
um lado permite à empresa maior exploração da sua
força de trabalho, por outro favorece a organização dos
trabalhadores, que, em conjunto, têm mais possibilida-
des de fazer ouvir suas reivindicações e de obter maio-
res ressonâncias e respostas. Afinal, os níveis salariais
do ABC paulista devem-se mais à ação organizada dos
trabalhadores do que de concessões das empresas (OLI-
VEIRA, 1990). Não se trata aqui de estabelecer qualquer
comparação ou uma perspectiva linear dos movimentos
dos trabalhadores, mas apenas ressaltar a importância
da organização do setor trabalho como um dos vetorês
historicamente, mais eficientes para dar visibilidade e
conduzir demandas sociais no sistema capitalista-
Ja se observa na fruticultura irrigada do Rio Gran-
de do Norte alguns efeitos multiplicadores para peque
nos e médios proprietérios. A terceirizagdo, 0U ªªªº?c,'ª'
ção, de parte das atividades dessas empresas signific?
repasse de tecnologia e inserção destes agricultores l‘lu_m
clrcuito produtivo e comercial que garante sustentas
. . .
ao
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BIDHOTECA-Fr
P RM
gRSUS SECA- NOVOS INTERESSES...
el
Com relação à pr.opriedade fundiária,
se a ativida-
de empresanal no ClllTl.?.l seml-ando)contribui para a
anutenção do m(?no.pollo da Ferra, há um novo signifi-
cado nesta aprqprlaçaq ou seja, Cf)rppetitividade, pro-
ução, tecnologia, caç?l_tal e produtividade, e não status,
tradição, herarllça famxlla_r, aval pfira fundos publicos, ou
capital simbolico para o ]'ogc? Polmco.
Finalmente, outro significado importante da entra-
da em cena destes novos atores refere-se a sua racionali-
dade produtiva, que requer mão-de-obra mais qualifica-
da e mais preparada para as características do circuito
monetário. Ou seja, o valor do dinheiro para atrair e
manter o trabalhador vinculado à empresa e interessado
na produção é o mesmo motor que o fará apoiar as lutas
sindicais por melhores salários, eleger novos tipos de
representantes ou exigir novas ações dos antigos.
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318 BRASIL: QUESTÕES ATUAIS DA REO
RGANI
ORlo
capacidade de sobrevivência e reprodução; i
ser também a sua fraqueza, desde que a seca, Pode
mais é do que um fendmeno climatico, seja fi que nada
colocada no seu devido lugar. Enquanto a se nalmente
ca for, de
algum modo, percebida como dimensao socia
l as bases
simbdlicas do discurso tragico estario sendo
alimenta.
das, e certamente todo o seu desiderato.
Mesmo considerando que o mesmo ator pode ser
moderno na economia e tradicional na politica, e a
sociedade nordestina conhece bem esta dualidade, a
expansão do agrobusiness?, ao atrair uma parte da elite
agrária regional tradicional, ou seus descendentes, esta-
belece a possibilidade de traição dos seus próprios
métodos, ou seja, aqueles das atividades lucrativas, mas
cuja competitividade possa ser mediada pela política.
Como este não é o caso da competição na escala interna-
cional, novas mediações são exigidas para a sobrevivên-
cia nessa atividade.
Neste segmento da produção regional, as articula-
ções em múltiplas escalas permitem algumas reflexões
sobre o papel dos agentes, nela envolvidos, para a eco-
nomia agrária regional. Por um lado, a necessária cone-
xão entre escalas de produção e de consumo, das ecº[lº'
mias modernas, impõe novas mediações e superações
das formas tradicionais, abrindo espaços para "OIV:
alternativas produtivas e novas solidariedades-d:n_
pode ser, por enquanto, apenas um embrião de mu i
Ga, mas cuja existéncia merece atengao. Por outr'ol a ªga S
cultura tem sido o setor da economia nº'des“?a ::as,
resistente a mudancas, tanto economicas € técn
como sociais e politicas, ao contrario dos SE tores u”
— 4 s qué a
. acreditam®®
2 Trata-se, nesta pesquisa, do Rio Grande do Norte, mas acr
situação se reproduza em outras dreas da Região Nordeste-
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NOVOS INTERESSES...
SECA VER 'SUSSECA. 319
nos industriais que acompanharam de perto, e até em
ritmo maior algumas vezes, as transformações ao nível
nacional (OLIVEIRA, 1990; CASTRO, 1992). Ao mesmo
tempo, a persistência do atraso na zona rural regional é
também um elemento decisivo para o triste privilégio
de locus da pobreza nacional (ABRANCHES, 1985; ROCHA,
1995) e do clientelismo político de tipo oligárquico, o
que nos leva a apontar perspectivas favoráveis nas
mudanças deste quadro, apesar de conscientes das esco-
lhas trágicas que a modernização capitalista sempre
impõe.
A fragilidade política, tanto nas escalas local como
regional, de alguns desses novos agentes econômicos,
indica uma tendência, já em curso, de alianças entre eles
e políticos ou burocratas, na busca de espaços de repre-
sentação de interesses. No Ceará, apesar de os promoto-
res econômicos mais importantes terem sido do tipo
urbano industrial, foi iniciada uma gestão empresarial
na política, como resultado concreto de um projeto
empresarial de ocupação de espaços institucionais,
baseado em novas alianças, com alguns efeitos já per-
ceptíveis (GUNN, 1994). Esta é, a médio prazo, uma alter-
nativa, mesmo que ainda frágil, ao pacto oligárquico.
Também na perspectiva da recente questão coloca-
da pela relação entre o lugar e o mundo, GUIDDENS
(1991) nos fornece algumas pistas para 0 nosso proble-
ma, quando afirma que “as organizagoes modernas são
capazes de conectar o local e o global de formas que
seriam impensaveis em sociedades mais tradicionais, e,
assim fazendo, afetam rotineiramente a vida de milhoes
de Pessoas”. Esta não é certamente uma grande novida-
:º Para nós geógrafos e nossa perspectiva em lidar com
l;ãªçºs regionais e a sua continua abertura.p'ara conf'c-
08 ao nacional e ao global, porém a empiria também
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30 BRASIL: QUESTOES ATUAIS DA REORGANIZACA
ÇÃODO TERRITÓ
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