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MITO E FILOSOFIA

Antes de aprofundar os conhecimentos sobre o surgimento da filosofia, é preciso compreender o que são os
mitos, maneira pela qual os gregos antigos explicavam o mundo ao seu redor.

O mito é antes de mais nada uma narrativa de origem, isto é, um relato que busca explicar, geralmente
recorrendo ao sobrenatural, a origem dos fenômenos e das coisas. Essas narrativas eram construídas
coletivamente e, portanto, não tinham uma autoria definida. Uma vez que, na antiguidade, pouquíssimas
pessoas tinham acesso à leitura e à escrita, as narrativas míticas eram difundidas, principalmente, por meio
da oralidade.
Embora houvesse profissionais especializados em memorizar e veicular tais narrativas, os chamados
rapsodos, cada pessoa podia, livremente, transmiti-las à sua maneira. E como “quem conta um conto,
aumenta um ponto”, era comum que essas narrativas sofressem alterações, fossem elas propositais, ou não.
Por esse motivo, um mesmo mito pode apresentar inúmeras versões.
Imagine que você está contando uma história a um grupo de pessoas e subitamente se esquece de
um trecho importante, mas para não decepcionar o seu público você improvisa e completa, à sua maneira, o
relato. Imagine uma segunda situação, você precisa motivar os seus companheiros a alcançar um
determinado objetivo e, para isso, recorre à história de um antigo herói mitológico. Obviamente, você terá que
fazer algumas adaptações para adequar a história ao contexto desejado. O mesmo acontecia na antiguidade
e assim surgiam e se transformavam os mitos.
Mas, muito mais do que histórias para divertir ou para motivar, os mitos estavam na base da educação
do povo grego, sobretudo aqueles atribuídos a Homero e Hesíodo. Através deles, expressos sob a forma de
poemas, eram transmitidos os costumes, os conhecimentos, a cultura e os valores da sociedade grega. Cada
narrativa, permeada por esses elementos, contribuía para a formação moral e intelectual do indivíduo. Vale
lembrar que, nesse período, o poeta era visto como dotado de uma inspiração divina, por isso as suas
narrativas eram consideradas como verdades.
Em um dado momento, as narrativas mitológicas se tornaram insuficientes para explicar o mundo e o
homem sentiu a necessidade de buscar respostas mais racionais para as questões que o afligiam. Diversas
transformações no âmbito da cultura grega contribuíram para o surgimento do pensamento filosófico, tais
como: a redescoberta da escrita, o surgimento da moeda, a formulação da lei escrita, a consolidação da
democracia, entre outras.
O DISCURSO MÍTICO E O FILOSÓFICO

São duas maneiras com caraterísticas próprias que o ser humano desenvolveu ao longo do
tempo para tentar responder as suas perguntas mais inquietantes. É importante dizer que o
mito e a filosofia não apresentam uma oposição entre si. O fato de serem diferentes não
significa que sejam opostos.
A palavra  mito , de origem grega, significa  narração . Eram ensinamentos orais passados de
geração em geração e utilizados pelos povos antigos para tentar explicar fatos e fenômenos da natureza,
as origens do mundo e do homem. Dentre os mitos mais conhecidos, temos a  mitologia grega, que foi uma
espécie de preparação à própria filosofia, pois muitas questões levantadas pelos filósofos gregos já estavam
presentes nos relatos míticos. Mas, então, como podemos identificar um discurso mítico?
Podemos dizer que os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens naturais e sobrenaturais, deuses
e heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que
realmente existiram ou não. Os deuses são retratados como figuras humanas. Assim, podemos
concluir que a linguagem mítica é simbólica, alegórica , fantasiosa. E é nesse sentido que o mito
não é sinônimo de mentira, mas uma maneira muito especial que  o ser humano possui de
buscar o conhecimento como fazem os poetas. O mito não possui uma pre ocupação com o rigor
lógico e argumentativo próprios da filosofia. Então, podemos afirmar que existem diferenças entre o mito e a
filosofia?
A palavra filosofia, também de origem grega, s i g n i f i c a a m i g o o u a m a n t e d a s a b e d o r i a .   E
q u a i s c a r a c t e r í s t i c a s q u e e x i s t e m n o discurso filosófico? Como podemos identificar um texto ou um
pensamento filosófico? Os filósofos, em geral,apresentam outro tipo de linguagem e não
necessariamente melhor, superior ou contrário ao mito. Simplesmente podemos dizer que os
discursos, mítico e filosófico, apresentam algumas diferenças. E que diferenças são essas?
O discurso filosófico possui um cuidado com o  rigor lógico . Os símbolos que são tão marcantes no
mito não são utilizados pelos filósofos. O texto filosófico procura estabelecer conceitos e
demonstrações sobre os mais  variados tipos de assunto. Para o filósofo, é muito importante
que exista uma argumentação. A  imaginação que é tão importante para os poetas e, portanto,
para os mitos, não estará tão presente na  linguagem de muitos filósofos. Em outras palavras,
podemos dizer que o discurso mítico é mais livre, enquanto que o discurso filosófico apresenta-
se mais crítico e questionador.

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