Ano 24 | Edição 142 | Julho/Agosto 2022 | Conselho Regional de Psicologia do Paraná

ÉTNICO-RACIAL MOBILIDADE HUMANA ÉTICA

Nossos passos vêm A Psicologia do Trânsito Os cuidados na relação
de longe para além da CNH da psicoterapia
 05 Resenha
Psicoterapia Analítica Funcional descomplicada: da teoria à jornada conjunta de psicoterapeuta e cliente

06 Curta
Reminiscências Coletividade e resistência em prol do SUAS

07 Mobilidade Humana
A Psicologia do Trânsito para além da CNH

SUMÁRIO
Por que me machucas?
09 CREPOP
Por que feres quando o desamor está a porta? Os pilares da inserção da Psicologia nos serviços hospitalares do SUS

Como volver o tempo e concerta refazendo sempre no erro, só 11 Étnico-Racial

erro, exumo sempre aquilo que nunca deveria ter cometido... Nossos passos vêm de longe!

Eu me lembro quando tudo isso teve início 14 Gêneros e Sexualidades

Campanha do CRP-PR orienta público LGBTQIA+ a denunciar violências
Mas jamais queria retornar
17 Capa
Quando perdi o âmbito natural, quando desviei das veredas do 60 anos da Psicologia: construir memórias e sonhar futuros
equilíbrio da existência.
23 Orientação e Fiscalização
Quando adentrei nunca mais retornei CRP-PR realiza fiscalizações presenciais em comunidades terapêuticas

Me machuquei, feri, me perdi e lhe fiz se 25 Ética

perder. Os cuidados na relação da psicoterapia

Vende a benevolência e o amor ao 27 ELEIÇÕES CRPs E CFP 2022

próximo numa bagatela de dinhei- O que você precisa saber para votar em agosto?
ro ou droga por escuso interesse.
34 Espaço Psi Ψ
Mas só por hoje funciona... Em memória de Nise da Silveira! Por seu reconhecimento como heroína da pátria

Por Cristiano do Carmo Quintanilha

Conselho Regional de Psicologia - 8ª Região (CRP-PR)
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CONTATO 142 | 3
 PSICOTERAPIA ANALÍTICA
FUNCIONAL DESCOMPLICADA:
da teoria à jornada conjunta
de psicoterapeuta e cliente
Por Psic. Martina Garcia (CRP-08/15203)*
EDITORIAL

RESENHA
A
Psicoterapia Analítica Funcional (FAP, Funcional descomplicada: guia prático para
na sigla em inglês) é derivada dos relações terapêuticas” amplia o acesso a uma
Olá, profissionais de Psicologia do Paraná e todas as pessoas que nos leem.
princípios do Behaviorismo Radical, obra sobre a FAP em português, depois que
Na edição 142 da Revista Contato celebramos os primeiros 60 anos da regu- parte da terceira onda das terapias compor- outros dois livros traduzidos se esgotaram e
tamentais – as contextuais. Nascida a partir deixaram de ser comercializados.
lamentação da Psicologia no Brasil! Neste importante marco, pedimos licen-
da observação de resultados diferenciados
ça aos povos Acãs para nos inspirarmos na figura da Sankofa, o ideograma O trabalho de organização para o lançamen-
do atendimento clínico da então estudante
to no Brasil começou desde o lançamento da
adinkra que conecta passado, presente e futuro, para revisitarmos nossa Mavis Tsai, Robert Kohlenberg investiga ele-
versão original em inglês (FAP Made Simple,
mentos presentes e determinantes para este
história, permitindo-nos ressignificar nossas experiências e construirmos hoje 2017). Com a revisão técnica de grandes no-
resultado. A resposta estava na forma como
um novo amanhã. mes da FAP no país – Priscila Rolim, Claudia
o relacionamento entre terapeuta e cliente/
Oshiro e Alessandra Villas-Boas –, a versão em
paciente acontecia no setting terapêutico.
É tempo de reconhecermos nossos avanços, comemorarmos o quanto conse- português contou com a tradução de inte-
guimos consolidar posicionamentos ética e cientificamente respaldados em A FAP é um modelo teórico e prático de en- grantes do grupo de pesquisa do Laboratório
tendimento comportamental da relação tera- de Terapia Comportamental da USP.
defesa da emancipação humana, criando condições para que sigamos enfren- pêutica. Utilizando conceitos de reforço e ge-
tando os desafios estruturais e conjunturais que atravessam nossa profissão. O livro está organizado em duas partes bas-
neralização e tendo na análise funcional sua
tante distintas entre si: a primeira aborda os
espinha dorsal de compreensão do funciona-
Neste contexto, os Conselhos se solidificam como importantes espaços de mento do comportamento, a FAP sistematiza
princípios fundamentais da FAP (em que a
pessoa é convidada a entender as bases teó-
mobilização para construirmos coletivamente novos campos e estratégias o relacionamento entre terapeuta e cliente
ricas e organização racional da FAP) e a se-
– sendo a relação interpessoal a forma de in-
de atuação, refletirmos os potenciais e cuidados necessários em nossa atua- gunda discorre sobre a sua aplicação clínica
tervenção profissional no setting terapêutico.
ção. Nesse sentido, trazemos nesta revista considerações sobre psicoterapia, e prática. Neste momento, apresenta-se a
Acredita-se que as mudanças clinicamente re- organização do processo terapêutico, com
mobilidade humana e trânsito, práticas em saúde mental – e muito mais!
levantes acontecem devido à qualidade e efi- exercícios experienciais e exemplos de inte-

* A autora escreveu a convite da Revista Contato

Desejamos a todas as pessoas uma ótima leitura. cácia desta relação, baseadas no delineamen-
to, estudo de nuances e extenso e exigente
trabalho pessoal e de supervisão da(o/e) te-
rapeuta. A(O/E) profissional deve buscar au-
toconhecimento, capacidade de observação
e intervenção nos processos interpessoais de
forma genuína e corajosa, além da capacida-
de de se colocar vulnerável neste processo.
Desde o início na década de 80 na
Universidade de Washington, a FAP refinou
conceitos e aplicações. Internacionalmente,
o Brasil ocupa posição de destaque no estu-
do, aplicação e disseminação desta teoria.
O recém-lançado livro “Psicoterapia Analítica
rações terapeuta-cliente eficazes.
Desde 1953, quando Skinner fala sobre o tra- Para ler e
balho da Psicologia Clínica, até os dias atuais, indicar
a Clínica comportamental teve grande avanço
em seus propósitos e funcionamento. A FAP Psicoterapia
é um dos grandes exemplos de como pode- Analítica Funcional
descomplicada: guia
mos sistematizar e intervir, de forma nítida e
prático para relações
precisa, em processos psicológicos envolvidos terapêuticas, de Gareth
em comportamentos empáticos, conscientes, Holman, Jonathan
corajosos e fundamentalmente humanos. Se Kanter, Mavis Tsai e
Robert Kohlenberg.
as relações interpessoais seguras, íntimas e
Sinopsys Editora e
responsivas são a base de um funcionamen- Sistemas Ltda Me; 1ª
to psicológico saudável, a relação terapeuta e edição (1 janeiro 2022).
cliente não seria diferente. Boa leitura!

CONTATO 142 | 5
 C O L ETIVI DADE
e RES I STÊ N CIA
em prol do SUAS
M
uito aguardada por profissionais
que atuam no Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) nos três
Estados da região Sul, a II Mostra SUAS reu-
niu os Conselhos Regionais e profissionais da
Psicologia do Paraná, Santa Catarina e Rio
CURTA
Grande do Sul em Curitiba em maio de 2022
para proporcionar um espaço de aprimora-
mento técnico e troca de experiências sobre
a atuação em equipamentos como os CRAS e
os CREAS (Centros de Referência e Referência
Especializada em Assistência Social).
Atualmente, segundo a Psicóloga Simone
Cristina Gomes (CRP-08/14224), coorde-
nadora da Comissão de Psicologia na
Assistência Social de Maringá e represen-
tante do CRP-PR no Conselho Estadual de
Assistência Social, o SUAS emprega cerca de
25 mil profissionais da Psicologia, represen-
tando uma das principais portas de entrada
da categoria por meio de concursos públi-
cos na última década.
“A importância da Mostra é debater e qualifi-
car esse exercício profissional, comunicando
as boas práticas da atuação psi nessa políti-
ca pública. A gente vem de uma formação
muito clássica e a atuação no SUAS depende
de um distanciamento dessa neutralidade
clínica, de um fazer interdisciplinar e hori-
zontal com nossos usuários com a propos-
ta de desenvolver autonomia, convivência
e fortalecimento de vínculo e assegurar as
6 | CONTATO 142
garantias socioassistenciais afiançadas pela
política nacional de assistência,” afirma.
Com o tema “O fazer da Psicologia no con-
texto da pandemia”, muitas falas refletiram
o atual cenário de desmonte e cortes orça-
mentários das políticas públicas no Brasil,
que afeta diretamente os equipamentos,
as equipes profissionais e as(os) usuá-
rias(os). Assédios por parte de gestoras(es)
ou outros órgãos da administração pública
– como o Sistema de Justiça – e o adoeci-
mento por sobrecarga de trabalho foram
queixas recorrentes.
Em mesas-redondas e nas apresentações de
trabalho, profissionais do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Paraná puderam contar
sobre os principais desafios de cada equipa-
mento e município, alguns casos mais em-
blemáticos que ensinam valiosas lições e as
conquistas diárias da equipe e das(os) usuá-
rias(os). As palavras que mais sobressaíram
foram “resistência” e “coletividade”.
Assista aos vídeos da II
Mostra SUAS região Sul em:
A Psicologia do
Trânsito para
além da CNH
Por Comissão de Mobilidade Humana e Trânsito do CRP-PR*
O
s índices de mortalidade causada por
acidentes de trânsito tornaram-se
um problema de saúde pública.
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
aponta que esta é a causa de morte de mais
de 3,5 mil pessoas todos os dias – totalizan-
do quase 1,3 milhões de mortes e 50 milhões
de lesões ao ano no mundo. As estimativas
de acidentes e gastos com recursos públicos
seguem de forma crescente e desenfreada, e
os fatores de risco que interagem para a ocor-
rência de acidentes de trânsito são diversos,
desde causas ambientais, condições climá-
ticas e falhas de sinalizações até problemas
mecânicos com veículos e condições físicas e
psicológicas de condutoras(es).
Nos últimos anos, a avaliação psicológica
aplicada ao contexto do tráfego tem re-
cebido destaque na Psicologia, diante de
diversas mudanças na legislação, mas ain-
da há muito desconhecimento sobre essa
área de atuação e questionamentos sobre
a própria validade da avaliação.
A avaliação psicológica é um dos requisi-
MOBILIDADE HUMANA
tos para a conquista da primeira Carteira
Nacional de Habilitação (CNH), bem como
para renovação do documento. Da mesma
forma, motoristas que exercem atividade re-
munerada (EAR) precisam passar pelo proce-
dimento regularmente. A avaliação é dividida
em, pelo menos, dois momentos: a entrevista
e a aplicação de instrumentos psicológicos.
As técnicas científicas de avaliação buscam
investigar os fenômenos psicológicos, ou seja,
as capacidades gerais e específicas da pessoa,
fornecendo indicadores para tomada de deci-
são em relação à aptidão para dirigir de for-
ma correta e segura, garantindo a segurança
de todas as pessoas envolvidas no trânsito.
Para os autores Lamounier e Rueda, esta
é uma atuação preventiva e preditiva
que busca evitar que motoristas se expo-
nham a situações que ofereçam perigo a
si e a terceiros (pedestres, ciclistas, outros
motoristas, etc.), já que o fator humano é
a maior dificuldade no trânsito na medida
CONTATO 142 | 7

em que é preciso uma ne-
gociação pelo espaço que é
compartilhado, o que nem
sempre ocorre. O Conselho
Federal de Psicologia (CFP),
na “Cartilha Avaliação
Psicológica”, afirma que
“estudos de validade de
Os pilares
dade, considerando ainda o próprio ato de
dirigir, o tipo de veículo (passeio, transpor-
te de carga ou transporte coletivo), além
de todas as situações externas possíveis.
Alguns traços de personalidade indicados
da inserção
da Psicologia
durante o processo de avaliação podem
estar ligados a comportamentos impulsi-

nos serviços
vos que podem levar à direção perigosa,
critério mostrando que as
irresponsabilidade, agressividade, egocen-
variáveis medidas no teste
trismo, impulsividade e intolerância à frus-
preveem comportamentos

hospitalares
tração. Tais indicativos atuam como fato-
importantes nessa situação
res relacionados ao funcionamento das
(tais como comportamen-
ações pessoais, como controle de hostili-

do SUS
tos de risco, envolvimento
dades, tolerância à tensão, sociocentrismo
Franceline Gabeline de Arruda (CRP-08/17736); Josiani Cristina Marques (CRP-08/15764); Matheus Atílio Ramos Sales (CRP-

culposo em acidentes, etc.)

e ansiedade, os quais podem influenciar
*Psic. Carine Côas (CRP-08/10833); Cleodete Fatima Fabbri (CRP-08/08920); Danilo Zeferino Brandão (CRP-08/22055);

são os requisitos básicos

que justificam o seu uso
nesse contexto, já que irão
sustentar a decisão sobre a
habilitação.”
Neste sentido, as con-
dições éticas deste pro-
cesso avaliativo estão na
adequada utilização das
técnicas psicológicas, alia-
das ao rigor teórico. É es-
pecialmente importante
reconhecer e conceituar
no surgimento de maior número de inter-
corrências no trânsito.
No entanto, as pesquisas sobre a persona-
lidade de motoristas são escassas e restri-
Por Comissão de Psicologia Hospitalar do CRP-PR
tas a generalizações, de forma que uma
melhora na área só será possível por meio
do desenvolvimento de melhores instru-
mentos de avaliação de perfil de motoris-
tas, com amostras mais representativas da
população investigada e ação integrada
ou parcerias entre instituições de ensino
responsáveis pelo transporte coletivo e in-

O
adequadamente as con- dividual e empresas de transporte. s primeiros levantamentos para a O QUE É O SUS?

cepções éticas de cada
candidata(o/e) e de cida-
dania, em harmonia com
o que estabelece o enten-
dimento dos fenômenos
psicológicos avaliados.
AVANÇOS
08/36312); e Rosângela Bacron (CRP-08/04941)
Ressaltamos também que, além da ava-
liação para obtenção da CNH, existem
outras possibilidades de atuação para a
Psicologia que precisam ser mais explora-
das, como possibilidade de atuação e con-
tribuição social. Desta forma, profissionais
podem trabalhar com pessoas que pos-
CREPOP
construção das “Referências Técnicas
para atuação de Psicólogas(os) nos O primeiro eixo se refere à dimensão ético-po-
lítica da área de Psicologia Hospitalar, tendo
serviços hospitalares do SUS” foram inicia-
dos em 2010 por uma comissão formada como objetivo conscientizar Psicólogas(os/
es) sobre o funcionamento do Sistema Único
por especialistas em Psicologia Hospitalar.
de Saúde (SUS), voltado ao conceito am-
O documento foi elaborado por meio de
pliado de saúde, sua estrutura, princípios e
uma pesquisa e levantamento dos dados
diretrizes, e demais políticas públicas que
já existentes que diziam respeito à prática

NECESSÁRIOS
Pessoas com diferentes
características físicas e de
personalidade – com ou
sem deficiências físicas ou
psicológicas, bem como
quadros psiquiátricos – e
em diferentes fases da
vida e de desenvolvimen-
to, culturas e valores são
avaliadas diariamente.
Diante disto, profissionais
de Psicologia têm a tarefa
de contextualizar a reali-
suem fobia de dirigir, propor intervenções
na relação entre o uso de álcool e outras
drogas e a direção, trabalhar em empresas
de transporte coletivo, promover a edu-
cação no trânsito em escolas, auxiliar na
promoção da educação ambiental, atuar
após eventos traumáticos e acidentes de
trânsito, promover estudos que visem a
melhorias nas condições ambientais no
contexto do trânsito, promover oficinas
psicoeducativas direcionadas à conscien-
tização e sensibilização para a condução
segura, entre outras.
da Psicologia Hospitalar, como Portarias,
Resoluções e Legislações.
Em 2019, o trabalho já elaborado anterior-
mente foi retomado e passou por uma re-
visão que resultou na elaboração desse
instrumento que até hoje é utilizado como
referência para a articulação teórico-prática
da Psicologia Hospitalar. Com isso, as referên-
cias técnicas têm como propósito a reflexão
sobre contribuições das práticas psicológicas
no contexto hospitalar. Para tanto, o material
foi dividido em quatro eixos, os quais serão
abordados resumidamente a seguir.
complementam e orientam esse sistema. O
enfoque principal é a atenção hospitalar e
legislações que contemplam a área, como
humanização, portarias nacionais e compro-
misso ético-político na atuação.
A INSERÇÃO DA PSICOLOGIA NOS
HOSPITAIS
O segundo eixo, em que é realizada a inter-
face entre Psicologia e atenção hospitalar,
tem a missão de justificar a inserção da
Psicologia no hospital. Para tanto, abor-
da que ela ocorre fundamentalmente em
função de o adoecimento ser, em menor ou

8 | CONTATO 142 CONTATO 142 | 9


maior grau, uma situação de crise – causada
pelo estado de doença, pela ameaça à vida,
a imposição das limitações da enfermidade,
a perda da autonomia – que obriga o sujei-
NOSSOS
de relações de poder e fatores que podem
interferir negativamente nos processos de
trabalho. Esta atuação considera a Clínica
ampliada e compartilhada e a Política

to a se posicionar, a lançar mão de mecanis-
mos adaptativos que vão depender de sua
história de vida, da fase do desenvolvimen-
to em que se encontra, da própria doença e
PASSOS VÊM
Nacional de Humanização como premissas
essenciais. Para alcançar e preservar a quali-
dade da assistência é necessária a aplicação
de um processo que avalie a instituição e os

do seu prognóstico.
Dessa forma, o trabalho da(o/e) Psicóloga(o/e)
Hospitalar vai auxiliar no enfrentamento e
superação da situação de crise gerada pela
doença e hospitalização por meio da iden-
tificação e do manejo de recursos utilizados
pela(o/e) paciente e sua família nesse proces-
so. Para a(o/e) Psicóloga(o/e), é importante
compreender o caráter da doença que aco-
mete a(o/e) paciente, mas o fundamental é
entender de que forma essa doença se insere
na vida do sujeito. Nesse sentido, a Psicologia
se diferencia de outros campos da saúde, que
buscam a objetividade da doença.
TEORIA E PRÁTICA
O eixo três tem o intuito de abordar a práti-
DE LONGE!
serviços prestados, denominados de acredi-
tação ou certificação.
ADAPTAÇÃO A NOVAS REALIDADES
Desde a inserção da Psicologia na área
hospitalar, o trabalho está em constante
desconstrução e reconstrução, visando a
contemplar modelos que atendam à saúde
coletiva. Para tanto, é imprescindível a sis-
Por Psic. Debora Lydinês Martins Corsino (CRP-08/26436), Pamela Cristina Salles da Silva
tematização e organização dos processos
(CRP-08/20935) e Thais Rodrigues dos Santos (CRP-08/23443)
de trabalho. Essa estruturação pode ser
constituída por diagnóstico institucional,
criação de protocolos clínicos, procedi-
mentos para a realização de triagens, ava-
liações psicológicas e atendimentos psico-
terapêuticos, e elaboração de relatórios
dos atendimentos.

N
ca propriamente dita da Psicologia nos hos- A partir dessa breve revisão, entendemos
pitais. Rodríguez-Marín (2003) afirma que a a importância das referências técnicas o mês de julho de 2022, comemora- um panorama da Profissão no Estado do

Psicologia Hospitalar é a intersecção de con-
tribuições educativas, científicas e de atua-
ção profissional que as diversas disciplinas
psicológicas fornecem para possibilitar uma
melhor assistência a pacientes no contexto
hospitalar. Para abarcar toda a complexidade
Para ler e
do ser humano, é necessário o uso de proces-
saber mais sos e técnicas que auxiliam no trabalho da
Psicologia nos hospitais, tais como processos
Referências Técnicas
de acolhimento, de avaliação e de comunica-
para atuação de
ção, dentre outros que estão descritos neste
Psicólogas(os) nos
eixo. Além disso, o eixo também se propõe
Serviços Hospitalares
a abordar questões referentes a processos
do SUS | Conselho
técnicos e éticos, registro em prontuário, no-
Federal de Psicologia/
tificações compulsórias, sigilo profissional e
CREPOP (2019).
atuação na rede de atenção psicossocial.
Disponível em:
bit.ly/3OVA0Cw GESTÃO
O quarto e último eixo aborda a gestão do
trabalho em saúde. Para tornar possível a
atuação da(o/e) Psicóloga(o/e) na gestão, é
fundamental que essa(e) profissional tenha
autonomia e atenção ao estabelecimento
como embasamento para o trabalho de
Psicólogas(os/es) Hospitalares, tanto no
âmbito do SUS, mas também para quem
atua em serviços privados. É fundamental
compreender, no entanto, a necessidade
de que cada profissional considere as espe-
cificidades de seu contexto de trabalho, as
diferenças culturais e as diferentes deman-
das, a fim de que possa atender de forma
adequada às necessidades de cada serviço.
Com a pandemia da Covid-19, foi necessário
que a Psicologia Hospitalar se adaptasse a
essa nova realidade, na qual importantes
modificações ocorreram, em especial a im-
possibilidade da presença constante de fa-
miliares e a necessidade de isolamento de
pacientes. Foi necessário que novos recur-
sos fossem acessados como, por exemplo,
as videochamadas e atendimentos remo-
tos. Essas adaptações ocorreram justamen-
te pelo embasamento técnico científico e
ético da Psicologia Hospitalar, contempla-
do nesse documento.
mos dois anos do Projeto “Narrativas
de Mulheres Negras e Psicólogas
do Paraná”, construído em parceria entre
a Comissão Étnico-Racial (CER) e o Núcleo
de Psicologia e Migrações (NUPSIM), vincu-
lados ao Conselho Regional de Psicologia
do Paraná (CRP-PR). Esse projeto nas-
ceu da comemoração de 25 de julho, Dia
Internacional da Mulher Negra Latino-
Americana e Caribenha e Dia Nacional de
Teresa de Benguela, e cresce na geração
de outras ações coletivas fortalecidas pelo
compromisso ético-político com a luta an-
tirracista na Psicologia.
Nós, algumas mulheres negras e Psicólogas
“daqui do Paraná” – embora constantemen-
te interpeladas pela pergunta “de onde
você é?”, que reitera a premissa colonial
de um Estado paranaense branco, sobre-
maneira de uma Psicologia com o mesmo
ideário racista – questionamos: por que não
aparecemos, Psicólogas(os/es) negras(os/
es), na publicação “Psicologia do Paraná:
ÉTNICO-RACIAL
Paraná e a Trajetória do CRP-PR”, já que
essa publicação marcou, em 2013, a come-
moração dos 50 anos desse Conselho?
Ainda que nossa pergunta pareça retórica,
em resposta ao cenário histórico de exclu-
são negra e indígena e desprezo racista no
Paraná, além de Psicólogas negras à frente
do Projeto “Narrativas de Mulheres Negras
e Psicólogas do Paraná”, nos posicionamos
coletivamente na Comissão Étnico-Racial
do CRP-PR desde 2015. O grupo é formado
por profissionais negras(os/es) e não ne-
gras(os/es) da Psicologia, inscritas(os/es)
neste Conselho. Atuamos de maneira trans-
versal visando a consolidar a Resolução CFP
nº 18/2002, que institui parâmetros para o
exercício da Psicologia Antirracista.
Mas nossos passos vêm de longe. Como
nos ensina Jurema Werneck (2008), somos
a continuidade de gerações em luta pelo
reconhecimento das nossas humanidades e
direitos sociais, sobretudo das populações
negras e indígenas: de nossas identidades,

10 | CONTATO 142 CONTATO 142 | 11

 histórias, culturas e singularidades. Dessa
forma, nós rejeitamos em coletivo as ima-
gens de controle – como nos ensina Patrícia
Hill Collins – forjadas pela intersecção de
opressões coloniais, que não concebe a pre-
sença intelectual de diferentes mulheres
negras e indígenas em espaços de forma-
ção, seja no Conselho ou em universidades.
Gabriela Reyes Ormero, professora doutora
afro-peruana da Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e interlocutora no projeto
da série “Narrativas de Mulheres Negras e
Psicólogas do Paraná”, narra que, no en-
contro com outra professora branca na ins-
tituição, é interpelada da seguinte forma:
“Quem você acha que é? Como você se sen-
tiria se uma empregada doméstica assinas-
se pela patroa?”
Esse encontro revela a ordem estabelecida
pelo racismo no contexto brasileiro. Como
nos ensina Lélia Gonzalez, na cultura bra-
sileira atualiza-se o racismo por denega-
ção, sustentado na ideologia do branquea-
mento em que o ideário da superioridade
branca impõe o desejo de embranquecer,
“limpar o sangue”, negando as raças e as
culturas afro-brasileira e ameríndia da iden-
tidade nacional, e investindo massivamente
na mestiçagem. Mas a falácia do mito har-
mônico entre as três raças – negra, indígena
e branca – como efeito dessa limpeza racial
encobre o sintoma denegado brasileiro:
o racismo antinegro e anti-indígena. Essa
operação em curso mantém a hierarqui-
zação dos grupos, cujos privilégios sociais
e status de humanidade/cidadania perten-
cem ao grupo branco em detrimento da
desumanização dos demais grupos, identi-
ficados por uma narrativa única de desqua-
lificação “natural”, perpetrada por séculos
de colonização e sofisticada historicamente
até a atualidade.
Por isso, em tempos de comemorações
dos 60 anos da Psicologia como profissão
no Brasil, do Dia Internacional da Mulher
Negra Latino-Americana e Caribenha e
Dia Nacional de Teresa de Benguela, re-
lembramos a tessitura de outra história da
Psicologia no Paraná a partir de protago-
nistas negras na série “Mulheres Negras e
12 | CONTATO 142
Psicólogas do Paraná”. Esse projeto reuniu
enunciações de 13 vozes de mulheres negras,
dentre elas duas com origem estrangeira
(Peru e São Tomé e Príncipe/África) e outras
do Sudeste e Sul do Brasil, 12 profissionais
atuantes no Paraná e uma graduanda em
Psicologia. As histórias narram diferentes
inscrições de sexualidade, classe, território
e geração, a critério das participantes. Pela
narrativa visual, todas se mostraram mu-
lheres cis, e uma delas se identificou como
lésbica; quanto às idades declaradas, varia-
ram entre 22 e 50 anos. Todos os vídeos fo-
ram divulgados semanalmente nas redes do
CRP-PR, de julho a outubro de 2020.
O projeto “Mulheres Negras e Psicólogas
do Paraná” compõe a história da Comissão
Étnico-Racial do CRP-PR, coletivo que reú-
ne psis posicionadas(os/es) ético-politica-
mente no enfrentamento do racismo na
Psicologia desde 2015. Como grupo antirra-
cista e classe profissional da Psicologia para-
naense, comemoramos a conquista coletiva
pela aprovação do status de permanência
para a Comissão Étnico-Racial vinculada ao
CRP-PR. Nós reivindicamos uma Psicologia
antirracista e enegrecida no Paraná.
Foram muitas lutas travadas, sobretudo
pela legitimidade do Coletivo, pois enten-
demos que a Comissão com a especificidade
étnico-racial fortalece a construção de um
fazer antirracista por dentro da Psicologia
no Paraná, Estado que se apresenta a partir
de uma identidade única: a branca. Nesse
curso de lutas, em 2022 conseguimos, no
Congresso Nacional de Psicologia, aprova-
ção de proposta tecida em âmbito regional
pelo nosso grupo: as Comissões Étnico-
Raciais terão caráter permanente tanto no
Conselho Federal de Psicologia (CFP) quan-
to no Conselho Regional de Psicologia, já
que, em quaisquer cenários, permanece-
mos na luta antirracista na Psicologia e no
campo da saúde mental.
CONTATO 142 | 13
 V
ocê não está sozinhe(a/o). Com esta
mensagem curta, direta e potente, o
Conselho Regional de Psicologia do
Paraná (CRP-PR) busca orientar, em nova
campanha lançada em agosto de 2022,
pessoas LGBTQIA+ que sofreram ou sofrem
qualquer tipo de violência relacionada à
sua identidade de gênero ou sexualidade.
O cartaz foi desenvolvido pelo CRP-PR
em parceria com outras importantes en-
tidades – Coletiva Antimanicomial Clap
e as regionais paranaenses da Abrapso
(Associação Brasileira de Psicologia Social),
Abep (Associação Brasileira de Ensino e
Psicologia) e Abrapee (Associação Brasileira
de Psicologia Escolar e Educacional). Sua
concepção visual, com cores chamativas e,
ao mesmo tempo, festivas, foi pensada para
estabelecer uma conexão com este público,
com tons que remetem à celebração das di-
versas sexualidades e expressões de gênero.
A mensagem, porém, é bastante asser-
tiva: a Psicologia acolhe e promove a
diversidade.
Campanha do
O CRP-PR tem uma luta histórica pelos
GÊNEROS E SEXUALIDADES
Direitos Humanos de pessoas LGBTQIA+. Por
meio de publicações, eventos, campanhas,
incidência política e divulgações de posicio-
namentos, buscamos orientar profissionais
CRP-PR orienta
da Psicologia para que trabalhem em favor
da diversidade de gêneros e sexualidades, e
contra qualquer forma de violência. Da mes-
ma forma, o Sistema Conselhos estabelece
as diretrizes para o atendimento a pessoas
público LGBTQIA+
lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, tra-
vestis, intergênero e não binárias a partir do
próprio Código de Ética e de importantes
Resoluções: a Resolução CFP nº 01/1999, nº
a denunciar
01/2018 e, mais recentemente, nº 08/2022.
“Esta campanha foi pensada na esteira da pu-
blicação da Resolução CFP nº 08/2022, que
estabelece normas de atuação para profissio-
nais da Psicologia em relação às bissexualida-
violências
des e demais orientações não monossexuais.
A intenção é divulgar também as outras
Resoluções do Conselho Federal de Psicologia
(CFP) que tratam das sexualidades e gêneros,
em necessária interlocução com a socieda-
Por Ellen Nemitz de. Estas Resoluções são um patrimônio da
14 | CONTATO 142
Psicologia brasileira e precisam ser defendi-
das de iniciativas conservadoras que buscam
contestá-las através da promoção de tera-
pias de conversão ou reorientação sexual e
de gênero” explica o Psicólogo Cesar Rosário
Fernandes (CRP-08/16715), Assessor Técnico
de Políticas Públicas do CRP-PR e um dos arti-
culadores da campanha na instituição.
A partir dos documentos reguladores da
prática profissional e também de outras
produções como o livro “Tentativas de
Aniquilamento de Subjetividades LGBTIs”,
publicado em 2019 pelo CFP, o direcionamen-
to sustentado pelas entidades orientadoras
da profissão é inequívoco ao promover o
acolhimento, a autonomia e a despatologi-
zação de subjetividades LGBTQIA+, proibin-
do enfaticamente a realização de supostas
“terapias de (re)orientação” da sexualidade
por entender os prejuízos à saúde mental
produzidas por tais ofertas.
É dever da Psicologia combater o precon-
ceito, a discriminação e as opressões que
pessoas LGBTQIA+ sofrem por conta da cis-
normatividade e da heteronormatividade.
Saiba mais
Esses padrões criam desigualdades entre
as pessoas, defendendo que algumas têm
mais direitos que outras, mas vida, saúde e Saiba mais sobre a
alegria são direitos de todes, todas e todos! atuação do CRP-PR e
seu compromisso com
Como denunciar?
a defesa dos Direitos
Quem tiver contato com os cartazes da Humanos:
campanha, que serão distribuídos em todos bit.ly/3CdxAw9
os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
Instituições de Ensino Superior (IES), Ongs e
espaços de convivência LGBTQIA+, será redi-
recionade(a/o) por um QR Code às informa-
ções sobre o papel da Psicologia no comba-
te aos preconceitos e opressões, além dos
canais de denúncia. Para saber mais sobre
a campanha e fazer
São dois casos contemplados: se alguém download dos mate-
sofrer algum tipo de violência relacionada riais, acesse:
à sua identidade de gênero ou sexualida-
bit.ly/3c4ztAI
de por parte de profissional da Psicologia,
é possível fazer uma denúncia acessando
www.crppr.org.br/fazer-denuncia. Já se
a sexualidade for alvo de violência por pes-
soas que não são profissionais de Psicologia,
a denúncia deve ser feita pelo disque 100.
CONTATO 142 | 15
 CAPA
Por Rebeca Amaral e Ellen Nemitz

16 | CONTATO 142 CONTATO 142 | 17

 A
Psicologia chega aos 60 anos de re-
gulamentação no país consolidando
sua posição ética em atendimento
às demandas da população brasileira.
Para contribuir com o exercício íntegro da
profissão, os Conselhos de Psicologia têm a
função de regulamentar, fiscalizar e orientar
as práticas na área. Neste sentido, o Conselho
Regional de Psicologia do Paraná – institui-
ção criada em 1979 – realizou no último ano,
por meio de sua Comissão de Orientação e
Fiscalização (COF), mais de 2300 orientações
a profissionais do Estado. São Psicólogas(os/
es) que, diante de uma dúvida em seu dia a
dia laboral, recorreram ao órgão regulador
para tornar sua atuação mais assertiva, téc-
nica e ética, alinhada aos principais docu-
mentos e legislações vigentes.
18 | CONTATO 142
Também em 2021, a COF realizou 264 fiscali-
zações e a Comissão de Ética julgou diversos
processos – importantes para que eventuais
faltas éticas sejam identificadas e as práti-
cas inadequadas, que podem prejudicar pa-
cientes e clientes, sejam interrompidas.
Nada disso, porém, seria possível sem a
regulamentação da Psicologia como pro-
fissão, consolidada pela Lei nº 4.119 de 27
de agosto de 1962. Apesar da abrangên-
cia nacional da lei, a Psicologia tal como
conhecemos hoje foi tecida, inicialmente,
de acordo com o exercício da profissão
em cada Estado. Celebrar os 60 anos de
regulamentação da Psicologia no Brasil é
rememorar os caminhos que passam pela
história recente do país e reconhecer, de
imediato, que essa trajetória teve seu iní-
cio marcado, dentre tantos fatores, pelo
período que conturbou e supri-
miu a democracia por aqui: o
período ditatorial que se
iniciou em 1964 e se es-
tendeu por mais de 20
anos até fins da déca-
da de 1980.
O texto da lei, relativa-
mente sucinto, abriu
caminho para outras
balizas e marcos que
hoje complementam e
demarcam a atuação
profissional em res-
posta às conjuntu-
ras políticas, eco-
nômicas, sociais e
culturais do país
em cada tempo.
A profissão, na-
quela época, ti-
nha caráter mais
elitista e esta-
va, como
outras, no alvo da Reforma Universitária de
1968. Embora ampliasse a oferta de ensino
superior e desenvolvesse políticas educacio-
nais voltadas ao mercado de trabalho, a me-
dida sufocava as críticas à ditatura militar,
limando a autonomia administrativa e de
pesquisa das universidades, em nítido detri-
mento social e coletivo.
DE NISE DA SILVEIRA À CARTA DE BAURU
Foi no período ditatorial, que acumulou e in-
tensificou problemas já existentes em diver-
sos âmbitos – incluindo a saúde –, que um dos
movimentos mais marcantes da Psicologia foi
embrionado. No auge das graves violações de
direitos humanos perpetradas contra pacien-
tes em hospitais psiquiátricos ou manicômios,
trabalhadoras(es) da saúde mental iniciaram
uma importante movimentação política pelo
fim dessas instituições.
A inspiração da Luta Antimanicomial, que
tem como um dos principais marcos a divul-
gação da Carta de Bauru, de 1987, vem cer-
tamente de tempos mais remotos, a partir
do inexorável legado da Psiquiatra Nise da
Silveira. A presença de Psicólogas(os/es)
no movimento que culminou com a Lei nº
10.216/2001 foi, contudo, marcante – assim
como na luta travada hoje contra os siste-
máticos desmontes legais da RAPS, aparato
que sustenta o cuidado em liberdade e no
território de pacientes com sofrimento men-
tal ou uso abusivo de álcool e outras drogas.
Os ecos da Carta de Bauru ainda se fazem
presentes no Brasil de 2022. O seu mote por
uma sociedade sem manicômios e contra a
mercantilização do sofrimento mental é um
pilar permanente da Psicologia, que não
deve ceder aos mecanismos de opressão,
especialmente aqueles gerenciados, finan-
ciados ou até mesmo omitidos pelo Estado.
A REVOLUÇÃO DA SAÚDE UNIVERSAL E
GRATUITA
Cerca de três anos após o manifesto,
em convergência com a retomada de-
mocrática, o caminho da Psicologia
foi perpassado pela implantação do
Sistema Único de Saúde (SUS). Previsto na
Constituição de 1988, o sistema teve sua
abrangência ampliada às populações vul-
nerabilizadas, até então excluídas dos ser-
viços pelo fato de não possuírem nenhum
tipo de vínculo trabalhista ou previden-
ciário. A compreensão de que a precariza-
ção das condições de vida tem impactos
emocionais decorrentes de fatores sub-
jetivos múltiplos aproximou a Psicologia
dos serviços de saúde pública. A formação
acadêmica não mudou da noite para o
dia, mas vêm cada vez mais se adequando
aos novos campos de atuação e incluindo
tais estudos em seus currículos.
A universalização do acesso aos serviços de
saúde pública também não aconteceu de
uma só vez. Foi apenas ao longo dos anos e
décadas seguintes que decretos e portarias
foram implementando serviços importan-
tes, como os Núcleos de Apoio à Saúde da
Família (NASF), Unidades Básicas de Saúde
(UBS), Consultórios na Rua e os próprios
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Na
esteira da implementação de uma robusta
estrutura de saúde, o SUS deu à Psicologia
mais espaço de atuação. A Psicologia deixa-
va, aos poucos, de ser um privilégio de quem
podia pagar por sessões particulares e passa-
va a estar presente também em equipamen-
tos acessíveis a qualquer cidadã e cidadão.
O VÍRUS QUE ABALOU O MUNDO – E A
PSICOLOGIA
Em 1918, quando veio a pandemia da Gripe
Espanhola – que, aliás, ganhou esse nome
porque aquele país europeu foi o único trans-
parente na divulgação de casos e mortes – o
mundo reagiu de forma muito semelhante ao
que faria mais de 100 anos depois. Usamos
máscaras, nos isolamos, tratamos os doentes
e procuramos ansiosamente pelo fim do mal
que dizimava vidas. Naquela época, porém,
não tínhamos dois fatores que, quando a
Covid-19 despontou em 2020, foram decisivos
para um cenário completamente diferente: a
internet, que permitiu contatos, trabalhos e
até comemorações online, e a Psicologia.
A pandemia deste século foi um período
duro para todo o mundo, mas é certo que
as desigualdades do cenário brasileiro tor-
naram a convivência com o coronavírus
CONTATO 142 | 19
 extremamente adversa. Nesse momento,
contar com uma Psicologia atuante nos
espaços conquistados há décadas, quan-
do a Covid-19 e todos os seus efeitos se-
quer eram imaginados, foi fundamental.
“O cenário da pandemia trouxe grandes
mudanças na forma de relacionamento das
pessoas, bem como nos processos de saú-
de-doença. A atuação da(o/e) profissional
da Psicologia diante desse novo contexto
contribuiu muito na avaliação e redução
dos agravos e riscos à saúde mental, muito
presentes nesse período pandêmico,” con-
ta a Psicóloga Ana Cláudia Petryszyn Assis
(CRP-08/18787), que atua no Consultório
na Rua de Londrina.
PARA TODAS AS PESSOAS
As adversidades recentes colocaram a
Psicologia de frente com outro marco
para a categoria: a Lei nº 8.742/1993, que
deu cumprimento a direitos previstos pela
Constituição por meio da Assistência Social.
Com a organização da proteção social, ofer-
tada nas modalidades básica e especial, a
Psicologia atua pela redução de danos e na
prevenção da incidência de riscos, dentre
outras garantias.
Profissionais que atuam nos Centros de
Referência de Assistência Social (Cras) e
Centros de Referência Especializado de
Assistência Social (Creas) relatam que, em
períodos como o que temos atravessado,
muitas pessoas que nunca utilizaram os
serviços desses centros passaram a recor-
rer a eles. “Um aspecto importante foi a
participação no desenvolvimento de me-
todologias diferenciadas, tão importantes
num momento em que as equipes, assim
como a população em geral, se encontra-
vam ‘perdidas’ e angustiadas quanto a uma
doença desconhecida. A acolhida desses
sentimentos pela Psicologia foi fundamen-
tal”, complementa Sara Gladys Toninato
(CRP-08/07092), que também atua no
Consultório na Rua do mesmo município.
20 | CONTATO 142
ONDE A PLURALIDADE TEM VEZ estabelece normas de atuação em relação
a pessoas transexuais e travestis e, mais re-
O processo de regulamentação da profi s-
centemente, a 008/2022, com orientações
são e adequação do seu exercício às de-
concernentes à bissexualidade e não mo-
mandas sociais mostra-se urgente para
nossexualidade. Todos esses documentos,
a maior parte da população do Brasil,
além de aprimorarem o fazer da Psicologia,
atingida cada vez mais pelas políticas em
sintetizam uma importante vitória para
curso, as quais seguem na contramão de
pessoas LGBTQIA+, um dos grupos que mais
tratados internacionais. Não obstante o
sofre violência – física ou psicológica – no
nosso país seja signatário de convenções
Brasil.
e pactos que versam sobre direitos huma-
Já a Resolução CFP nº 018/2002 dedicou-se
nos, o seu descumprimento afeta pessoas
idosas, mulheres, crianças e adolescentes, à orientação de profissionais comprometi-
populações negras, LGBTQIA+ e outros das(os/es) com a eliminação do racismo e
grupos vulnerabilizados. dos sofrimentos decorrentes dele – tema
hoje de fundamental importância na cons-
Dessa forma, o Código de Ética
trução de uma Psicologia cada vez mais
Profi ssional do Psicólogo foi revisto em
antirracista. O teor da normativa é con-
2005, realocando na introdução, de ma-
tundente e imperativo – como de fato
neira explícita, o princípio fundamental
deve ser nesses casos – e determina que
de que o trabalho da(o/e) Psicóloga(o/e)
Psicólogas(os/es) não serão coniventes e
será embasado na Declaração Universal
nem se omitirão perante o crime de racismo.
dos Direitos Humanos. No bojo do com-
bate a opressões, a Psicologia estabeleceu CONSTRUINDO HOJE OS FUTUROS QUE
normas para a atuação profi ssional con- QUEREMOS
cernente a expressões de gênero e sexua-
Ao longo dos anos, a Psicologia evoluiu, dei-
lidade, a fi m de abrandar inquietações e
xando de ser uma profissão essencialmente
combater o preconceito contra práticas
elitista e voltada a poucas áreas de atuação
sexuais diversas do padrão cis-hetero-
para abarcar a complexidade das relações hu-
normativo. A Resolução CFP nº 001/1999
manas em diferentes contextos, tais como os
consolidou mais um compromisso da pro-
sistemas de justiça, os hospitais, as escolas, o
fi ssão com a ciência, alinhada aos direitos
esporte, as organizações, entre outras. O viés
humanos, e formalizou a compreensão de
social também aflorou, como se pôde perce-
que a sexualidade é subjetiva e, portanto,
ber nesta modesta rememoração, sendo que
não pode e nem deve ser patologizada.
a Psicologia hoje é protagonista na luta por
Além de orientar a atuação profi ssional, a direitos humanos e pioneira em avanços im-
Resolução resguarda Psicólogas(os/es) em portantes no combate ao racismo, à violência
seu exercício, quando recebem demandas contra vulneráveis, à exploração de pessoas e
em contextos voltados à sexualidade. às discriminações de toda ordem.
Destaque-se que o documento, pela sua
Como em qualquer história, a nossa não
extensão social, tem caráter e efeitos pro-
é diferente: temos altos e baixos. Temos
tetivos, já que impede práticas terapêuti-
momentos em que avançamos e celebra-
cas que aniquilam subjetividades e direi-
mos, e outros em que lutamos apenas
tos sob o pretexto da “reversão sexual”.
para não retroceder. Neste caminho, con-
Complementando a regulamentação ini- tamos com instituições como o Centro
cial, o Conselho Federal de Psicologia tam- de Referências Técnicas em Psicologia e
bém publicou a Resolução nº 001/2018, que Políticas Públicas (Crepop) – que há mais de
CONTATO 142 | 21
 15 anos vem produzindo e atualizando di-
versas Referências Técnicas para a atuação
de Psicólogas(os/es) em numerosas áreas –,
e outras parcerias que, de tão diversas, não
seria possível nomear uma a uma.
Também contamos com pessoas. Aquelas
que compuseram os 14 Plenários que tive-

CRP-PR realiza
mos até hoje no CRP-PR, aquelas que dispu-
seram de um pouco – ou às vezes um pouco
mais que “um pouco” – do seu tempo para

fiscalizações
as Comissões Especiais e Temáticas, aquelas
que trabalharam e trabalham para fazer da
Psicologia o que ela é hoje. E com você. Não

presenciais em
importa se você atua na Psicologia há ape-
nas alguns meses ou há vários anos, ou mes-
mo se ainda está na graduação. Todo mun-

comunidades
do faz um pouquinho parte destes 60 anos.
E fará parte dos próximos 20, 40 ou 60. Qual
história vamos contar, depende apenas dos

terapêuticas
sonhos que ousarmos sonhar.

E no Paraná, como foi?

A ciência, obviamente, é una, porém, construída em ritmos distintos. Prova disso é
que, no Paraná, a ciência despontava desde os anos 1920 e 1930, embora aqui ainda
não existisse uma escola de Psicologia, havendo, entretanto, a adoção de disciplinas
correlatas na grade curricular de outros cursos e áreas de formação. Nesse contexto Por Psic. Camila Crestani Colombo (CRP-08/13023), com colaboração da Comissão de

ORIENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
de transformações, Curitiba foi protagonista, em 1953. O ano é simbólico: enquanto Orientação e Fiscalização (COF)
o Rio de Janeiro implantava o primeiro curso de Psicologia no Brasil, antes mesmo
da regulamentação profissional, o Paraná sediava o Primeiro Congresso Brasileiro
de Psicologia. Com isso, pode-se dizer que o Estado foi um dos grandes cenários de

T
projeção nacional da profissão.
endo por base a Declaração Universal
O primeiro curso de Psicologia veio em 1969, oferecido pela Universidade Católica, dos Direitos Humanos, o Código de
atual PUCPR – nessa época, a conjuntura ditatorial trouxe consigo a Reforma Ética Profissional do Psicólogo (CEPP)
Universitária de 1968, que apesar de ampliar a oferta de ensino superior no Brasil, preconiza que o trabalho de profissionais
inclusive o de Psicologia, propôs amarras à liberdade de cátedra. Enquanto as primei- da Psicologia deve respeitar e promover a
ras turmas de Psicólogas(os/es) se formavam, o Paraná gradualmente ganhava mais liberdade, a dignidade, a igualdade, a in-
autonomia. Após se dissociar do que hoje é o CRP-RS (ou CRP-07, se formos usar a tegridade, a saúde e qualidade de vida das
numeração que identifica cada Conselho), o CRP-08 – do Paraná – foi criado em 1979, pessoas e das coletividades, contribuindo
ano dos primeiros registros profissionais no Estado e também em que a Psicologia para a eliminação de quaisquer formas
completava 100 anos de reconhecimento mundial como ciência. de negligência, discriminação, explora-
De lá para cá, o Paraná ganhou visibilidade, trilhou uma história marcada pelo com- ção, violência, crueldade e opressão, bem
prometimento com a Psicologia como ciência e profissão, despontou como pioneiro como promover responsabilidade social e
ainda outras vezes mais e hoje é a instituição reguladora de aproximadamente 25 mil análise crítica frente à realidade política,
profissionais com registro ativo. econômica, social e cultural na qual está
inserida(o/e).
Com a revogação das Portarias Administrativas
do CRP-PR que orientavam a realização de
atividades remotas como forma de proteção
durante a pandemia da Covid-19, a Comissão
de Orientação e Fiscalização (COF) do CRP-PR
tem centrado suas inspeções presenciais nas
comunidades terapêuticas. O compromisso
é com a garantia de direitos, não conivência
com violações, autonomia e liberdade das
pessoas, combate a estigmas e preconceitos,
além da defesa do trabalho interdisciplinar e
da assistência antimanicomial.
A Resolução CFP nº 13 de 2019 regulamenta
e define procedimentos a serem adotados
pelo Sistema Conselhos de Psicologia quan-
to aos pedidos de cadastramento e registro
de pessoa jurídica de Serviços de Atenção
em Regime Residencial de caráter transi-
tório e/ou clínicas e outras instituições de
atendimento às pessoas em situação de uso
abusivo de substâncias psicoativas – álcool

22 | CONTATO 142 CONTATO 142 | 23


e outras drogas – e que realizam serviços
de acolhimento, internação e similares. A
normativa estabelece critérios a serem
rigorosamente observados na análise de
solicitação de cadastramento e registro no
Os cuidados
inadequado prestar qualquer tipo de ser-
viço psicológico em espaços nos quais tais
direitos sejam violados. Além dos Princípios
Fundamentais do CEPP, ressalta-se que:

Conselho, fatores que são verificados nas
ações de fiscalização da COF após a entre-
ga de toda a documentação requerida pela
Resolução, entre os quais destacamos:
na relação da
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
a. Praticar ou ser conivente com
quaisquer atos que caracterizem ne-
gligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade ou opressão;

• Ingresso e permanência de usuárias(os/
es) de forma voluntária e, quando não
for possível, internação consoante com a
Lei n° 10.216/2011, que dispõe sobre a pro-
teção e os direitos das pessoas portado-
ras de transtornos mentais e redireciona
o modelo assistencial em saúde mental;
• Livre acesso e privacidade às formas de
comunicação;
• Estratégias para a participação efetiva
de familiares e/ou rede de relações e
apoio durante a permanência;
• Respeito às singularidades;
• Liberdade de crença religiosa/
espiritualidade;
psicoterapia
b. Induzir a convicções políticas, filo-
sóficas, morais, ideológicas, religiosas,
de orientação sexual ou a qualquer
tipo de preconceito, quando do exer-
cício de suas funções profissionais;
Art. 3º – para ingressar, associar-se ou
permanecer em uma organização, a
(o) psicóloga (o) considerará a mis-
são, a filosofia, as políticas, as nor- Por Psic. Paulo Cesar de Oliveira (CRP-08/17066), conselheiro presidente da
mas e as práticas nela vigentes e sua
Comissão de Ética (COE) do CRP-PR
compatibilidade com os princípios e
regras desta normativa; e existindo
incompatibilidade, caberá à(ao) psi-
cóloga(o) recusar-se a prestar servi-
ços e, se pertinente, apresentar de-
núncia ao órgão competente;

ÉTICA
• Atividades de trabalho consentidas e

condizentes com o Projeto Terapêutico;
Acesse as Resoluções • Atividades que tenham como objetivo
citadas neste artigo a geração de renda devem garantir au-
utilizando os códigos tonomia e liberdade das pessoas;
abaixo:
• Garantia de acesso à educação, lazer,
Resolução CFP nº 13 cultura, esporte, trabalho e outras ne-
de 2019: cessárias à promoção da integralidade
bit.ly/3PWSNyp do cuidado;
• Projetos Terapêuticos Singulares, ar-
ticulados com a rede intersetorial do
Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema
Único de Assistência Social (SUAS),
orientados para a reinserção social da
Código de Ética pessoa usuária;
Profissional do
• Prontuário único de cada pessoa.
Psicólogo:
Ressaltamos ser imperativo que, no desen-
bit.ly/3d7bHE8
volvimento de seu exercício profissional,
a(o/e) profissional de Psicologia considere
as condições para que seu trabalho possa
ser realizado de forma ética, garantindo
assim o direito da pessoa usuária em ob-
ter um serviço de qualidade. Considera-se
As intervenções em saúde mental devem ser
orientadas para a promoção de vida e saúde.
Para tanto, é necessário olhar o sujeito de
forma integral em suas múltiplas dimensões
e pautar a atuação a partir de uma reflexão
crítica sobre as relações de poder, inclusive
institucionais, a fim de auxiliar na constru-
ção de rotinas que respeitem os direitos do
público atendido e os objetivos do Plano
Terapêutico de cada pessoa (conforme pre-
coniza a Resolução CFP nº 13 de 2019).
Desde que respeitando as legislações vigentes,
a natureza do trabalho, as diretrizes de atua-
ção e os princípios éticos, a(o/e) Psicóloga(o/e)
tem autonomia para decidir pela forma de in-
tervenção. É primordial que o CEPP seja uti-
lizado como instrumento de reflexão, para
que as intervenções não se transformem em
regras rígidas, descontextualizadas da vida de
usuárias(os/es). A profissional, nesse tipo de
instituição, não deve esquecer o compromisso
com a emancipação coletiva e individual das
pessoas que utilizam o serviço, respeitando a
singularidade e garantia de direitos.
P
ara se pensar nos limites éticos que de-
vem ser estabelecidos no contexto da
clínica, quando se pondera sobre a rela-
ção que se dá entre profissional de Psicologia
e a pessoa atendida, parece quase obrigató-
rio, antes, que se estabeleça uma metáfora
que explique melhor o que é essa vinculação.
Há quem a compare com um caminhar por
um labirinto cheio de caminhos por onde, tal-
vez, a pessoa já tenha passado e que, afinal,
se perdera durante a árdua tarefa de existir
sozinha, e que agora, acompanhada pela(o/e)
profissional, terá a chance de reencontrar
seus caminhos e, talvez, até outras possibili-
dades de existências que se apartaram de si.
Outros pensam nesse processo como um
salto de paraquedas ou de asa-delta com
um(a/e) instrutor(a/e): pode-se desfrutar
do salto porque ali se estará sob a segu-
rança de quem já viveu a experiência inú-
meras vezes, junto a tantas outras pessoas,
ajudando a superar os medos próprios de
quem se arrisca a viver essa aventura.
A mim, sempre pareceu algo como um sal-
to mesmo. Ainda que para um abismo sem
luz. E a profissão não se parece em nada
com aquilo que a(o/e) instrutor(a/e) do
salto ou a companhia do labirinto parece
querer ser: alguém que sabe para onde o
levar a(o/e) iniciada(o/e). E esse salto para
esse abismo escuro não fará da especiali-
dade clínica a dona da luz. Ela não ilumi-
na e nem vai à frente. Caminha ao lado,
tateando tanto quanto sua(seu) paciente,
apenas enxergando quando ela(e) põe sua
claridade e deixa ver aquilo que está pre-
parado e pode permitir.
Não pretendo insistir na metáfora para
discutir a questão dos óbvios limites éti-
cos que se impõem nessa relação. Talvez
meramente dizer que alguns problemas
surgem quando se confunde o que é estar
ao lado, como é estar ao lado, e em que
papel se está ao lado da pessoa que está
sendo acompanhada por profissional de
Psicologia Clínica.

24 | CONTATO 142 CONTATO 142 | 25


Estar ao lado não é querer que a pessoa seja
como quem atende pensa que seja o melhor
para quem ali está. Em que pese a mais total
impossibilidade de isenção, o próprio Código
de Ética Profissional do Psicólogo (CEPP), em
seu primeiro princípio fundamental, deixa
isso bastante explícito quando fala em pro-
moção da liberdade e da dignidade. Tem a
ver com acolhimento, acompanhamento, re-
conhecimento, confirmação daquilo que se é
e do que se quer ser. Os princípios éticos pa-
recem sugerir que os papéis desempenhados
nessa relação, apesar de diferentes, podem
ser horizontalizados.
Se, de alguma forma, o como estar ao lado
parece estar, em muito, atrelado à aborda-
gem terapêutica que as(os/es) profissionais
irão escolher para seu trabalho, de outra isso
também tem a ver mais uma vez com a ati-
tude ética no atendimento. Aqui é o cerne de
toda a discussão que este texto quer trazer,
aliás. Afinal, é obrigação de quem é profis-
sional de Psicologia e trabalha como psicote-
rapeuta estar ao lado da pessoa que atende
sem incitá-la a fazer o que não quer, sem
tentar evitar ou não permitir que faça o que
quer, sem desrespeitá-la no seu direito de ser
aquela que é ou que quer vir a ser. Isso pa-
rece ser impossível quando não se considera
ou quando se mistura o papel profissional
com outros papéis sociais do psicoterapeuta.
Equivale a dizer que não se podem misturar
duas atitudes diante da pessoa que está na
sala de atendimento: dela só se poderá estar
ao lado em um desses papéis, e o escolhido
foi o profissional. Eis o limite ético: ainda que
Para acessar nossa relação possa ser mais próxima a partir
os Princípios de nossas escolhas, que fazemos a partir dos
Fundamentais e os campos teóricos que nos dão suporte, nos-
artigos do Código de sa atitude não deve ser outra que não a que
Ética Profissional do se insere nesse papel que escolhemos para
Psicólogo, utilize o desempenhar. Nosso CEPP mais uma vez é
código abaixo: explicito em relação a isso em seu artigo 2º,
nas alíneas “a”, “b” e “c”, principalmente.
bit.ly/2N6Rz4s
É de se estranhar que se fale pouco nos
cursos de Psicologia sobre a relação que
se estabelece com a pessoa atendida e
o quanto essa relação está para mais
além daquilo que se aprende nas teorias.
26 | CONTATO 142
Fica sempre a impressão de que profissio-
nais de Psicologia, nos seus consultórios,
terão sempre um quê de uma vinculação
permeada pelo fazer psicológico, pelo olhar
teórico, pelos meandros da profissão. E se
esquecem que se está ao lado de alguém
que sofre e que, ao sofrer, pode atrair ou-
tras possibilidades relacionais para dentro
do “setting”. Neste momento pareço ouvir
Gal Costa cantando as palavras da canção
composta por Gil e Caetano, como que
soprando aos ouvidos de profissionais de
Psicologia palavras de cuidado com a pes-
soa que está atendendo:
“Atenção ao dobrar uma esquina
Uma alegria, atenção, menina
Você vem, quantos anos você tem?
Atenção, precisa ter olhos firmes pra este
sol, pra esta escuridão
Atenção, tudo é perigoso,
Tudo é divino, maravilhoso
Atenção para o refrão
É preciso estar atento e forte
Não temos tempo de temer a morte”.
Se o contexto da criação da música não teve
nada a ver com o assunto, ainda assim é preci-
so que se atente para todo sol e toda a escuri-
dão que pode envolver a relação entre a(o/e)
Psicóloga(o/e) e a pessoa atendida. Se tudo
é divino e maravilhoso naquilo que se pode
tornar possível a partir desse vínculo como
muitos acreditam, mesmo assim é preciso
atenção ao dobrar uma esquina, uma ale-
gria, atenção. Nessa conexão, nada pertence
à(ao/e) profissional. Nem mesmo aquele salto
no escuro a que me referia no início do tex-
to. São profissionais, saltam juntos, estão ao
lado, acolhem sofrimentos; e fazem terapia,
supervisão, e estudam mais para não “psico-
logizarem” tudo, culpabilizando aquela(e)
que atende, até para não correrem o risco de
infringirem o terceiro dos princípios funda-
mentais do CEPP. Porque é preciso lembrar
Manoel de Barros, quando diz: “desfazer o
normal há de ser uma norma”.
ELEIÇÕES 2022
Conselhos Regionais e Federal de Psicologia
O
processo eleitoral que definirá a
gestão do CRP-PR para o triênio
2022-2025 acontece entre os dias 23
e 27 de agosto, de forma totalmente online.
A seguir, confira as principais informações
acerca do pleito. A sua participação nesse
processo é muito importante, uma vez que
garante a representatividade da Psicologia
por meio de gestão eleita democraticamen-
te pela própria categoria.
- O VOTO É OBRIGATÓRIO?
Sim. Além de obrigatório, o voto é secreto,
pessoal e intransferível, e será dado à chapa
completa, entre as(os/es) inscritas(os/es) e
habilitadas(os/es) ao pleito. Para profissio-
nais com idade a partir de 65 (sessenta e
cinco) anos, o voto é facultativo.
- COMO SABER QUE ESTOU HABILI-
TADA(O/E) PARA VOTAR?
São consideradas(os/es) eleitoras(es) profis-
sionais que estejam adimplentes com a te-
souraria em relação aos exercícios anterio-
res, até o ato da votação, ainda que tenham
parcelado débitos anteriores. Também é
necessário estar com o cadastro atualizado,
uma vez que a senha de acesso ao sistema
virtual de votação será encaminhada ao
e-mail informado pela(o/e) Psicóloga(o/e).
- DE QUE FORMA POSSO VOTAR?
O voto será exercido somente na modalida-
de online, mediante uso de senha pessoal,
por meio de dispositivo eletrônico à escolha
da(o/e) Psicóloga(o/e). Caso esteja sem aces-
so à internet, a(o/e) profissional poderá efe-
tivar seu voto online dirigindo-se a um dos
Pontos de Apoio à Votação, nos quais serão
disponibilizados computadores pelo CRP-PR:
Sede do CRP-PR em Curitiba (Avenida São
José, 699, Cristo Rei);
O QUE VOCÊ PRECISA
SABER PARA VOTAR
EM AGOSTO?
Sede do CRP-PR em Londrina (Rua Senador
ELEIÇÕES CRPS E CFP 2022
Souza Naves, 626, Sala 07, Térreo, Centro);
Sede do CRP-PR em Maringá (Avenida Carneiro
Leão, 294, Sala 706, Zona 01, Maringá);
Sede do CRP-PR em Cascavel (Rua Visconde
do Rio Branco, 2532, Centro, Cascavel);
Sede do CRP-PR em Foz do Iguaçu (Avenida
Pedro Basso, 472, Sala 103, Jardim Polo
Centro, Edifício Caesar Tower).
- NÃO RECEBI A MINHA SENHA. O
QUE DEVO FAZER?
A(O/E) Psicóloga(o/e) pode acessar o Site
Oficial das Eleições e solicitar a recuperação
da senha, optando que ela seja enviada por
mensagem de texto pelo celular (SMS), cujo
número deve estar cadastrado previamente
no Conselho.
- POSSO JUSTIFICAR?
As(Os/Es) Psicólogas(os/es) que não vota-
rem deverão apresentar justificativa entre
os dias 28 de agosto de 2022 e 26 de ou-
tubro de 2022, no Site Oficial das Eleições,
sob pena de aplicação de multa no valor
definido pela Assembleia das Políticas, da
Administração e das Finanças (Apaf).
Saiba mais
Ficou com alguma dúvida? Envie seu
e-mail para eleitoral@crppr.org.br. Saiba mais sobre o
Nas páginas subsequentes, conheça mais processo eleitoral do
sobre as propostas das chapas concorren- Sistema Conselhos
tes às eleições do CRP-PR em 2022: Em em:
Frente com Diálogo (11), Toda Psicologia (12) bit.ly/3dzjcUB
e Psicologia em Novos Tempos (13). Acesse
também os conteúdos disponibilizados pe-
las chapas em seção específica do site do
CRP-PR, nos perfis do Conselho e na edição
141 da Contato: eles podem ajudá-la(o/e) a
decidir o seu voto.
CONTATO 142 | 27

Por um CRP-PR
em diálogos
para promover as articulações
das quais a Psicologia precisa
A
Chapa 11 Em frente com Diálogo
apresenta candidatura para a ges-
tão 2022-25 do CRP com o intui-
CHAPA 11
to de contribuir para a construção de uma
Psicologia e um Conselho dos quais pos-
samos nos orgulhar! Mas por que pleitear
esse espaço e qual sua importância para
a categoria profissional? São reflexões que
procuramos fazer a seguir:
AFINAL, O QUE FAZ O CONSELHO?
O Conselho Regional de Psicologia é uma
instituição pública instituída legalmente
com a responsabilidade de regulamentar e
orientar o exercício profissional pautado no
Código de Ética, na Declaração Universal
dos Diretos Humanos e na promoção da saú-
de. Por isso, é objetivo do Conselho garantir
que profissionais de Psicologia encontrem
amparo para sua atuação em normativas e
orientações técnicas e éticas. Além disso, o
CRP fiscaliza a qualidade dos serviços ofer-
tados por profissionais de Psicologia, para
que venham ao encontro das demandas
sociais, promovendo também o reconheci-
mento social da nossa profissão. Para atua-
ção em Psicologia, é necessário que cada
profissional realize seu registro no seu CRP,
para que sua prática possa ser fiscalizada.
Mas, muito além da fiscalização, entende-
mos que o foco deve estar na produção co-
letiva de orientações, com caráter educativo
e mobilizando a categoria a contribuir com o
desenvolvimento da Psicologia.
2 || CONTATO
28 C O N TATO 142
142
E QUEM REALIZA ESSE TRABALHO?
O Conselho é composto por uma equipe de
trabalhadoras(es) que realiza as funções
legais da autarquia com base em sua re-
gulamentação própria, mas também com o
respaldo de deliberações da gestão. Cada
gestão é identificada como Plenário, que é
o grupo de conselheiras(es/os) eleito para
coordenar os trabalhos do Conselho. O
CRP-PR está no seu 14º plenário.
Além da equipe trabalhadora e do Plenário,
também constitui o Conselho o grupo de
colaboradoras(es), que são profissionais e
estudantes que se voluntariam para compor
comissões temáticas, gestoras e setoriais,
núcleos e grupos de trabalho, contribuindo
assim na construção de orientações e na re-
presentação da Psicologia no estado.
A CHAPA QUE EU ESCOLHO FAZ
DIFERENÇA NA FORMA COMO O
CONSELHO ATUA?
Sim, e muita! Os direcionamentos do grupo
que assumirá a gestão do CRP no próximo
triênio definirão a forma como este órgão
atuará, sua abertura com a categoria, seus
posicionamentos diante de temas sensíveis,
para profissionais e sociedade sejam favo-
recidos com as ações Conselho.
Há muitas formas de se fazer gestão, e
isso interfere diretamente no conjunto do
emfrentecom emfrentecom
ternura coragem
emfrentecom emfrentecom
respeito diversidade
trabalho desenvolvido e apresentado para
a categoria e sociedade. É a gestão que
apresenta a proposta orçamentária anual
para aplicação dos recursos financeiros
recolhidos com anuidades (a ser aprova-
da em Assembleia aberta para esse fim).
Deste modo, a gestão orienta, no limite da
legalidade, se vai investir em suntuosas au-
to-homenagens, em jetons (gratificações
financeiras para conselheiras/os/es) e lu-
xos para o próprio Plenário - uma prática
recorrente neste CRP em outros tempos;
ou se vai de fato concentrar esforços nas
atividades de orientação, nas condições de
trabalho na autarquia, na aproximação do
Conselho com a categoria e na incidência
em pautas afetas à Psicologia.
A gestão decide também sobre que profis-
sionais poderão participar das comissões
do Conselho e como serão os termos dessa
participação. Já houve momentos no CRP-
PR em que a participação ficou restrita
apenas a pessoas que tivessem alinhamen-
to político com a gestão, de forma subor-
dinada ao Plenário. Deste modo, as ações
do Conselho perdiam em abrangência e
profundidade. O grupo do Diálogo propõe
um método participativo, acolhedor, com
o qual o CRP se beneficie da pluralidade e
das contribuições diversas de profissionais
de várias áreas e experiências. Propomos
um Conselho em que toda categoria possa
efetivamente participar.
POR UM CRP-PR EM DIÁLOGOS
Outro aspecto decisivo para o sucesso
de uma gestão do CRP é sua capacidade
de estabelecer amplos diálogos nacional-
mente. Afinal, muitas das demandas da
Psicologia paranaense dependem de arti-
culações em âmbito federal para se mate-
rializarem. Um CRP que se fecha ao diálogo
interinstitucional e se recusa à contribuição
com outros Conselhos restringe o potencial
emfrentecom
orgulho
emfrentecom
esperança
realizador da autarquia.
Nós, da Chapa 11, acreditamos na potência
de espaços de construção coletiva e por isso
nos fizemos presentes no 11º Congresso
Nacional de Psicologia:“O Impacto
Psicossocial da Pandemia: Desafios e
Compromissos para a Psicologia Brasileira
Frente às Desigualdades Sociais”, que defi-
niu diretrizes para Psicologia brasileira nos
próximos três anos.
Diversos membros desta Chapa partici-
param dos debates e tiveram propostas
aprovadas relacionadas à Psicoterapia,
Mobilidade Humana e Trânsito, Psicologia
Hospitalar, Jurídica, da Educação,
Políticas Públicas sobre Álcool e Outras
Drogas, Gestão de Riscos, Desastres e Conheça nossos
canais e vamos
Emergências. dialogar:
bit.ly/3N3SmAQ
Esse é o método do Diálogo de atuar em
favor da Psicologia! Se você se identifi-
ca com o que defendemos, venha somar
com a gente! Entre em contato, encaminhe
suas ideias, compartilhe nossas propostas
com profissionais de Psicologia que você
conhece.
C O N TATO
CONTATO 142 |142
29 |3
 TODA PSICOLOGIA
quer avançar nestas propostas com você
Escrevemos e reeditamos a nossa biografia a
partir de cada desafio que enfrentamos
diariamente na Psicologia ao lado das (os)
profissionais que escolheram esta ciência.
A cada vitória valorizamos o exercício
profissional e efetivamos mais direitos. É isso
que Toda Psicologia deseja, é o que nós
queremos com comissões preparadas e é o
que podemos concretizar com o seu voto.
Durante nossa gestão queremos construir com
você propostas conectadas às comissões de:
Clínica;
Orientação e Fiscalização;
Ética; Jurídica;
Direitos Humanos;
Étnico-racial;
Políticas Públicas;
Hospitalar;
Escolar;
Neuropsicologia;
Esporte;
Mobilidade Humana e Trânsito/Tráfego;
Organizacional e do Trabalho;
Psicóloga(o) Iniciante; Estudantes; e outras.
Diante da pandemia, a Psicologia também
vem enfrentando uma série de crises e
questionamentos sobre as práticas, nos
colocando à frente de novos e velhos
desafios, dentro e fora do consultório. Alguns
dos mais antigos, talvez, seja restringir o uso
do termo psicoterapia para nomear profis-
sões e práticas não regulamentadas; garantir
melhorias relacionadas à saúde suplementar
(planos de saúde) — o que nos propomos a
fazer.
Também criaremos, em conjunto com as
comissões temáticas, notas técnicas de
orientação sobre atuação profissional do
psicólogo no Sistema Penitenciário e
Socioeducativo e em áreas emergentes que
ainda geram dúvidas, reafirmando o
compromisso ético-político da Psicologia,
fundamentado nos princípios da laicidade e
dos Direitos Humanos.
Queremos contribuir para a defesa da
democracia, da liberdade e da garantia de
direitos no que tange às dimensões de raça,
30 | CONTATO 142
classe, etnia, gênero, sexualidade, de ciclos
de vida/geracionais, de localização geográfi-
ca, dentre outras relacionadas à populações
e povos em condições históricas de desigual-
dades e injustiças sociais; dando continuida-
de ao Núcleo Étnico Racial do grupo de
Londrina iniciado em 2019 que agora se
tornou a Comissão Permanente Étnico-racial
estruturando diversas ações afirmativas.
Pautaremos a Psicologia, enquanto ciência e
profissão, com os movimentos sociais,
instituições de ensino superior, com os
órgãos dos Sistemas de Justiça, Segurança
Pública e demais autarquias e instituições,
com vistas ao enfrentamento às formas de
violência e opressão às populações de
mulheres, pessoas negras, indígenas,
migrantes, comunidades tradicionais,
LGBTQIA+, população em situação de rua,
pessoas com deficiência, crianças e
adolescentes, pessoas idosas, pessoas
usuárias de drogas, pessoas em sofrimento
psíquico, pessoas vivendo com HIV/AIDS e
pessoas em situações de conflito com a lei.
Toda Psicologia precisa fortalecer as políticas
públicas nacionais e reafirmar o posiciona-
mento do Conselho frente à PEC 241 (ou 55)
que congelou os gastos públicos e ao
desmonte do Estado brasileiro que ocasiona
o enfraquecimento da Educação, do Sistema
Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS). É o nosso dever
desenvolver estratégias para ampliar a
discussão acerca da atuação da Psicologia
no campo da saúde mental, aliada às
perspectivas da reforma psiquiátrica com
base em uma abordagem antimanicomial;.
discutir a atuação interdisciplinar e em rede
(Núcleos de Apoio a Saúde da Família,
Redes de Atenção Psicossocial etc).
É importante promover a interdisciplinaridade
e a multidisciplinaridade entre psicológicas-
(os) e estudantes, através do serviço-escola,
que trabalham na área da educação, saúde e
áreas afins. Precisamos conquistar junto ao
executivo a implementação da lei 13.935/2019,
que dispõe sobre a prestação de serviços de
Psicologia e de Serviço Social nas redes
públicas de educação básica, visto que hoje QUE VENHAM NOVAS BIOGRAFIAS
as psicólogas estão fora dos seus espaços de INSPIRADAS POR TODA PSICOLOGIA.
trabalho, devido à falta de concursos. Conheça os nossos integrantes:
Também iremos trabalhar para evidenciar
junto a sociedade que a psicóloga(o) escolar Carla Chemure Cechelero Slongo;
não faz clínica na escola, mas promove ações Celia Regina Cortellete;
amplas de saúde mental junto aos alunos e Deisy Maria Rodrigues Joppert;
equipe escolar e a defesa de uma educação Érika Ribeiro Da Silva;
inclusiva, democrática, despatologizante e Everton Adriano De Morais;
que respeite as diversidades humanas. Frank Da Silva Veiga;
Geison David Da Silva;
- Descentralizar a Neuropsicologia, aproxi- Gesielene Oliveira De Carvalho;
mando todas as regiões do estado, inclusive, Gilberto Gaertner;
convidando colaboradores dos laboratórios Iris Aline Da Silva Santos Benedito;
de Neuropsicologia das universidades e as João Baptista Fortes De Oliveira;
ligas de Neuropsicologia para que possam Jose De Godoi Filho;
fazer parte da comissão; Jussara Teresinha Henn;
Luciano Bugalski;
- Implementar um fórum de representação Ludiana Cardozo Rodrigues;
permanente correlato à Educação Física e a Luis Eduardo Candido;
outras disciplinas que estão inseridas no Mari Angela Calderari Oliveira;
campo das Ciências do Esporte, discutindo a Maria Jose De Souza El Saad;
delimitação da atuação e a produção de Maria Sezineide Cavalcante De Melo;
materiais informativos. Maria Sueli De Souza Rufine;
Paula Vanalli;
- Realizar ações e promover espaços que Raphael Henrique Castanho Di Lascio;
visem o reconhecimento da Psicologia do Rima Awada Zahra;
tráfego, enquanto área de conhecimento, nos Rosangela Lopes De Camargo Cardoso;
diversos outros campos e áreas de atuação Rosiclea Doroti Rodrigues;
da psicóloga(o), visando a ampliação das Samarah Perszel De Freitas;
ações da Psicologia do tráfego à categoria. Sandra Cristina Batista Martins.
Sandra Mara Passarelli Flores;
- Fomentar a valorização da(o) Psicóloga(o) Semiramis Maria Amorim Vedovatto;
nas Organizações de trabalho, através da Silvio Araujo Vailões;
maior validação do atestado psicológico e da
defesa da jornada de trabalho de psicólogas Os cuidados com você começam agora.
(os) em 30 horas.
Participe desta transformação, conheça as
Queremos ampliar debates, ações, encon-
nossas redes sociais, receba informações
tros, estudos, conferências e fóruns,
sobre eventos, lives e mais lançamentos
espelhando nosso compromisso, acolhendo
aqui. @todapsicologia_pr
e encorajando psicólogas(os) para que sigam
c o n fi a n te s n o s c a m i n h o s e d e s a fi o s
apontados pelo espaço-tempo contemporâ-
neo.
Queremos fazer parte dos maiores
desafios que você vivencia na sua
trajetória e contamos com o seu apoio e
participação para construir a psicologia
que queremos.
31 CONTATO 142 | 31 | CONTATO 141
 Se eleito eu prometo…
Quem nunca ouviu promessas durante uma campanha que atire
Equipar o Conselho para transmissão de cursos e reuniões,
a primeira pedra. Seja para síndico do prédio, seja para governador
5 especialmente no que diz respeito à qualidade de som e

ELEIÇÕES 2022
do Estado, o fato é que elas são feitas abundantemente durante as
imagem, para promover encontros híbridos com alto nível
eleições.
de excelência.
Tentando quebrar esse paradigma de muita conversa e pouca
ação, a Chapa Psicologia em Novos Tempos tem apresentado um 6 Atendimento social para psicólogos na sede do CRP-PR ou
de maneira online.
plano prático para transformar em realidade cada um dos valores
defendidos por ela. Conselhos Regionais e Federal de Psicologia
“A Psicologia em Novos Tempos visa consolidar a profissão por
meio de políticas de conscientização e valorização ético profissional. Promover cursos, reuniões, encontros e outros, de maneira
Temos como foco fomentar o orgulho a profissão e o espírito parti-
cipativo associativo e inclusivo, levando as profissionais psicólogas 7 híbrida e com excelente qualidade de transmissão e de con-
dução, além de levar os encontros presenciais para núcleos
e psicólogos (e futuros profissionais) a conhecerem os desafios do fora da capital.
mercado de trabalho, as atribuições e atividades profissionais como

ESPAÇO RESERVADO CHAPA

também os direitos e deveres de profissionais regulamentados”, des-
taca a psicóloga Anaides Pimentel da Silva Orth, CRP-PR 08-01175
Para isso, as psicólogas e os psicólogos integrantes da Chapa es-
tão propondo 13 ações que vão transformar a Psicologia em Novos
Tempos no CRP-PR. Confira!
Dar visibilidade ao trabalho realizado pelas psicólogas e psi-
1 cólogos do Paraná tanto interna quanto externamente.
Contar as histórias dos trabalhos realizados pelos profissio-
nais da Psicologia para fazer uso constante do serviço de
2 assessoria de imprensa com objetivo de humanizar e tornar
a Psicologia mais acessível. Firmar parcerias com blogs e ve-
ículos de comunicação para uma coluna fixa a ser preenchida
pelo CPR-PR.
Antecipar a orientação para depois acionar a fiscalização,
8 oferecendo orientação mais intensa e acessível para os
profissionais de todo o Estado.
Nº13 - PSICOLOGIA EM NOVOS TEMPOS
Aproximar-se dos diversos Conselhos Estaduais e dos
PÁGINA NÃO UTILIZADA
9
Conselhos Municipais como os de Saúde, Segurança, Edu-
cação e demais áreas para ampliar o debate sobre a ado-
ção da Psicologia dentro das políticas públicas.
Dar suporte aos profissionais que trabalham nas equipes de
10 neurorreabilitação, especialmente com o Autismo, para que
possam desempenhar plenamente suas funções.
Mobilizar, junto ao poder público, a inserção do atendimen-
Publicação realizada de acordo com o Art. nº 54
11 to de psicólogas e psicólogos nas mais diversas demandas do Regimento Eleitoral 2022
sociais como na atuação dentro de escolas.

Produção de conhecimento das práticas profissionais in-

12 cluindo as experiências diversas.
Oferecer capacitações de forma regular nas áreas de:
Representatividade e compromisso com a paridade nas di-
Comunicação: redes sociais, marketing digital, media trai- 13 versas comissões.
ning, metaverso na Psicologia.

3 Atualizações: atendimento online, diretrizes, determinações.

Quer conhecer mais sobre o que pensa a Chapa-13 Psicologia
Assuntos solicitados pelos profissionais: psicologia na
em Novos Tempos? Siga as redes sociais @psico.novostem-
gestão integral de riscos, emergências e desastres, processos
pos: Instagram, Facebook e Linkedin. Deixe sua sugestão e
de luto, formação para atendimento social, dentre outros.
ajude a construir os novos tempos que a Psicologia precisa.

4 Orientação para recém-formados e para profissionais que es- CONTATO 141 | 33

tão prestes a se aposentar.

 Em memória de
Nise da Silveira!
Por seu reconhecimento
como heroína da pátria
Psicólogo(a)
Por Psic. Carolina Pinheiro Silva de Almeida Prado (CRP-08/36579), Psicóloga e Acompanhante Eu venho aqui O que importa,
Terapêutica, egressa do Centro Acadêmico de Psicologia Nise da Silveira, da Universidade
Estadual do Centro-Oeste E lhe conto coisas... É que juntos vamos caminhar
E você me escuta, Até descobrir
Paciente - mente. O que me aliviará.

Paciente e mente. O que eu penso vou falar:

Misturam-se Paciente é você!,

N o dia 27 de maio deste ano, um mês emoções de quem era colocado à margem Num buscar constante Que espera o meu momento
após a aprovação do Projeto de pela sociedade hegemônica. De respostas... Sem querer me atropelar!
Lei para inscrição do nome de Nise
Magalhães da Silveira no Livro dos Heróis e
Em 1952, Nise da Silveira fundou o Museu Que você não dá
de Imagens do Inconsciente, um centro de
Heroínas da Pátria, o Diário Oficial da União Mas ajuda a encontrar. Por isso estou aqui
ESPAÇO PSI Ψ

estudo e pesquisa de diversos trabalhos

publicou o veto de Jair Bolsonaro. A justi-
ficativa apresentada pela Presidência da
artísticos produzidos por internos, e em E aqui vou me desnudar,
1956 criou a Casa das Palmeiras, instituição
República foi de que não seria possível ava-
pioneira de reabilitação mental em regime
Ser, não ser, sei lá... Cara a cara com você
liar a envergadura dos feitos de Nise e seus
impactos no desenvolvimento da nação.
aberto. Alicerçada na arte como prática de Você sabe, eu também sei Até eu me encontrar.
liberdade, Nise revolucionou a psiquiatria,
Ora, é inegável que Nise da Silveira deixou sendo uma das pioneiras do movimento
Ou será que não sabe?,
um legado de suas práticas e ideias revolucio- antimanicomial. O que eu também não sei?
nárias para toda a nação brasileira. Durante
Por sua contribuição extraordinária para Certamente saberá!

Psic. Elaine Porto (CRP-08/00948)

toda sua vida profissional enquanto médi-
o campo da saúde mental, o Centro
ca psiquiatra, Nise se opôs radicalmente às
Acadêmico de Psicologia Nise da Silveira,
formas tradicionais de tratamento em ma-
da Universidade Estadual do Centro-Oeste
nicômios, manifestando-se contra o uso de
(UNICENTRO), Campus de Irati-PR, carrega
eletrochoques, coma insulínico, lobotomia e
com orgulho seu nome. Nise foi uma mu-
outras tantas práticas agressivas no “trata-
lher de luta, de arte e de revolução, por isso
mento” de pessoas em sofrimento mental.
foi escolhida para representar a categoria
Para tanto, dedicou sua vida ao desenvolvi-
de estudantes, que leva seu nome e legado
mento da arte como prática terapêutica.
para além dos muros institucionais.
No decorrer de sua vida profissional, uma
“É necessário se espantar, se indignar e se
de suas mais importantes obras foi a cria-
contagiar, só assim é possível mudar a reali-
ção, em 1946, da Seção de Terapêutica
dade”, dizia Nise da Silveira. Que seu legado
Ocupacional e Reabilitação do Centro
seja sempre lembrado e sirva de inspiração
Psiquiátrico Nacional, em Engenho de
para a construção de uma Psicologia verda-
Dentro, Rio de Janeiro, onde desenvolveu
deiramente antimanicomial, crítica, antir-
seu trabalho a partir da terapia ocupacio-
racista, anticapacitista, antiproibicionista e
nal, estimulando a capacidade de expres-
voltada para as maiorias populares.
são dos pacientes; uma linha terapêutica re-
volucionária, que, através da arte, buscava
dar vazão às vivências, ao imaginário e às Viva Nise da Silveira!

34 | CONTATO 142 CONTATO 142 | 35