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O que é um paradoxo? À primeira vista, o paradoxo é uma contradição. Observe a frase: "Ernesto adora
estudar, mas detesta ler." Os dois fatos declarados neste enunciado ("Ernesto adora estudar." e "Ele detesta
ler.") são contraditórios entre si. Afinal, é necessário ler para se poder estudar.
Não só na linguagem comum, mas também na lógica, que é um campo da filosofia, o paradoxo é um
raciocínio que encerra uma oposição
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Dessa forma, o paradoxo da tolerância questiona até que ponto ideias intolerantes devem ser toleradas se
infringem, ofendem ou incentivam algum tipo de violência às liberdades de um indivíduo ou um grupo. Pode
ser confuso, mas é um paradoxo justamente por isso.
Se você lembrou das aulas de Língua Portuguesa sobre figuras de linguagem, está certíssimo. O termo se
chama “paradoxo” por ser, à primeira vista, contraditório. Assim como na figura de linguagem, um paradoxo
vai apresentar uma ideia bem fundamentada e coerente, mas que não necessariamente segue uma ordem
lógica. Para Karl Popper, sustentar uma sociedade tolerante requer, por vezes, não tolerar.
Mas e a liberdade de expressão?
Vejamos um exemplo. Você está andando por uma praça e de repente se depara com um grupo de jovens
fazendo um discurso intolerante em um pequeno palanque. Talvez um dos seus primeiros pensamentos seja
que eles estão apenas exercendo a sua liberdade de expressão, como garantido na própria Constituição
Federal. É preciso lembrar, porém, que liberdade de expressão é diferente de discurso de ódio. Todos são
livres para discordar, mas assaltar a existência, a índole ou a liberdade do outro deixa de ser uma opinião e se
torna um ataque.
Um exemplo é quando, em 2016, o livro “A Minha Luta”, escrito por Hitler sobre os ideais nazistas, foi
impedido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro de ser comercializado, já que a obra incentivava práticas
intolerantes contra determinados grupos da sociedade.
Argumentando com o paradoxo da tolerância
O paradoxo da tolerância e o próprio Karl Popper não são citados com tanta frequência nos grandes
vestibulares – talvez você não se depare, por exemplo, com uma questão pedindo para definir esse conceito
nas provas.
Apesar disso, a ideia do filósofo austríaco pode ser uma ótima carta na manga para argumentar nas
redações. Afinal, o paradoxo da tolerância atravessa qualquer tema relacionado à liberdade de expressão,
discurso de ódio e intolerância. Um exemplo é a proposta de redação do Enem 2016. Naquela edição, os
candidatos deveriam dissertar sobre “Os caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Foram
fornecidos textos motivadores que tratavam da legislação sobre o assunto e dos efeitos da intolerância
religiosa. Um desses excertos afirmava:
“O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão,
mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém em função de crença ou
de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis.” STECK, J. Intolerância
religiosa é crime de ódio e fere a dignidade. Jornal do Senado. Acesso em: 21 maio 2016
(fragmento)
A partir deste tema, o estudante poderia mobilizar a teoria da intolerância de Karl Popper para afirmar
que, em casos extremos, onde a segurança e a dignidade de pessoas que praticam determinada religião são
colocadas em risco, a intolerância aos intolerantes é cabível – prevendo medidas no campo penal, por
exemplo.
A Fuvest também abriu caminho para esse argumento no vestibular de 2001, quando propôs que os
candidatos desenvolvessem uma redação sobre o crescimento do neonazismo e do neofascismo. Um dos
textos de apoio era uma reportagem da revista Isto é de 2000, que relatava uma marcha nazista realizada na
cidade de São Paulo. A manifestação culminou no envio de bombas para defensores de Direitos Humanos e
pessoas pertencentes a minorias sociais.
O candidato poderia mobilizar este e outros registros históricos acerca do nazismo, como o próprio
holocausto, para exemplificar os efeitos práticos de não combater discursos intolerantes. Na Alemanha
nazista, a tolerância a Hitler e às suas ideias resultou na morte de milhares de pessoas e na completa
erradicação de uma sociedade tolerante.
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Se Aquiles se movimentar mais um tanto para alcançar a tartaruga, terá que se defrontar com o fato
de que a tartaruga já terá percorrido mais um tanto, por menor seja. Esse fato se repetirá indefinidamente.
Por mais que Aquiles corra, sempre haverá um espaço a separá-lo da tartaruga. As conclusões de Zenão
contrariam o senso comum, que aponta para uma vitória esmagadora de Aquiles, é claro. Mas o que Zenão
estava fazendo era demonstrar que o movimento dos objetos é um fenômeno irreal e contraditório,
consistindo sempre em mera ilusão dos sentidos.
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Tema 2: Conceito de Banalidade do Mal – Hannah Arendt
O polêmico conceito criado pela filósofa alemã judia Hannah Arendt, aluna preferida de Martin
Heidegger, foi apresentado no livro Eichmann em Jerusalém. O livro, publicado originalmente em 1963, a
partir dos artigos que publicara como correspondente na revista The New Yorker, discutia o julgamento de
Adolf Eichmann, iniciado em 1961, em Jerusalém, e que resultou na pena de morte por enforcamento,
ocorrida em 1962, nas proximidades de Tel Aviv. Arendt discutia a perspectiva do mal provocado por
ninguém, ou por pessoas destituídas da capacidade do pensar, visto que ela não atribuiu o mal ao nazista
julgado, mas via nele tão somente o burocrata zeloso, incapaz de pensar por si.
A banalidade do mal é, para a filósofa, a mediocridade do não pensar, e não exatamente o desejo ou a
premeditação do mal, personificado e alinhado ao sujeito demente ou demoníaco. Como postura política e
histórica, e não ontológica, a banalidade do mal se instala por encontrar o espaço institucional, criado pelo
não pensar. Em Eichmann, Arendt via não alguém perverso ou doentio, sequer alguém antissemita ou
raivoso, mas tão somente alguém que cumpre ordens, incapaz de pensar no que realmente fazia, mantendo o
foco somente no cumprimento de ordens.
Diante de destratos e violências físicas e verbais a que testemunhamos, e que certamente alguns leitores
protagonizam, cotidianamente, em redes sociais e pelos jornais, não há como negar que daríamos farto
material para a discussão da filósofa, nesses momentos críticos da eleição presidencial brasileira. Ao
extremismo não falta apenas alteridade - a capacidade de se colocar no lugar do outro -, mas falta o pensar.
As posições políticas e históricas assumidas banalizam o bullying, a violência e a ação, sejam elas uma
replicação de post, um compartilhamento de fake news ou a realização de comentários agressivos contra seus
opositores políticos, que se sobrepõem a amizades, à família e a crenças religiosas.
Tais quais movimentos da manada, a horda faz fugir o pensamento, deixando o espaço necessário para
que a banalização do mal se instale. Relatos de amizades desfeitas, grupos de família e de bairros em crise
diante de posições políticas acirradas em que não há respeito, mas despeito, pelas posições contrárias, a
proliferação do bullying, político, histórico, é farto material para a discussão central de Arendt.
Embora a mídia tecnológica seja, de fato, pós-massiva, a massa continua sendo uma perspectiva de
manipulação, inclusive e principalmente por ações acríticas, motivadas por consenso institucional: os
exemplos de violência parecem ser regra nas relações entre eleitores, tal qual entre torcedores. A massa
incapaz de pensar age, acéfala, não enxergando o mal que comete, socialmente. Mas ressente-se, quando
igualmente agredida, o que a impele a responder, com maior violência ainda. Cria-se o círculo vicioso da
banalidade do mal.
Ainda que não se queira comparar os contextos utilizados pela filósofa e neste artigo, não há dúvida de
que vivemos uma banalização da violência, por motivações políticas. Por sorte, eleições passam, e a maior
parte dos eleitores esquece seu ardor de defesa, suas posições políticas inquebrantáveis, provando que a tese
de Arendt tem sua aplicação: a mediocridade do não pensar não é ontológica, mas política é histórica.