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Durante muito tempo dissemos que a competição e a eliminação dos mais fracos eram o motor da
evolução natural. Sem querer, demos crédito à chamada lei do mais forte. Sancionamos o pecado
da ira dos poderosos no extermínio dos chamados fracos. Sabemos hoje que a simbiose é um dos
mecanismos mais poderosos de evolução. Mas deixámos que isso ficasse no esquecimento. E
continuamos ainda hoje vasculhando exemplos isolados de simbiose quando a Vida é toda ela um
processo de simbiose global. Sabemos hoje que a capacidade de criar diversidade foi o mais
importante segredo da nossa época como espécie que se adaptou e sobreviveu. No entanto,
vamo-nos contentando com o estatuto que a nós mesmos conferimos: o sermos a espécie
«sabedora».
Alimentámo-nos de receios e essa será mais uma manifestação da gula. Temos medo de errar.
Esse medo leva à proibição de experimentar outros caminhos, sufocados pelo cientificamente
correcto, pelo estatisticamente provado, pelo laboratorialmente certificado. Deveríamos ser nós,
biólogos, a mostrar que o erro é um dos principais motores da evolução. A mutação é um erro
criativo que funciona, um erro que fabrica a diversidade.
Os avanços no domínio do conhecimento fazem-se através de caminhos paradoxais. A nossa
ciência, sendo da vida, fez-se também por estradas da morte: a biologia sacrificou a planta para a
herborizar, matou o bicho para o dissecar, laminou a célula para a mergulhar nos solventes e
espreitá-la sob a lente do microscópio. Mas há outros modos de matar. Não matar o objecto do
conhecimento mas o próprio conhecimento. Um desses modos de aniquilar é aprisionar em
conceitos estreitos essa infinita complexidade a que damos o nome de Vida.
Foi aluno de Popper e depois se afastou de seu modelo racional de ciência. Foi amigo
de Kuhn e Lakatos.
Em comum, os 5 criticam:
- A ideia de neutralidade
- O modelo positivista
- O empirismo/indutivismo
Ou seja, todos criticam a ideia de que a verdade está nos fatos, objetos e fenômenos nus, a ser
descoberta por um observador neutro, isento de pressupostos e atravessamentos culturais,
paradigmáticos, históricos, contextuais, biográficos – por meio do Método Científico (como
se fosse um conjunto fixo de regras universais). Apontam para o caráter construtivo e
provisório do conhecimento.
* “Todas as teorias são igualmente improváveis" – a partir da crítica que Popper faz ao
positivismo lógico (que interpõe necessidade de estabelecer a probabilidade de uma
hipótese). Verificabilidade > Falseabilidade. (Uma teoria científica deve ser falseável,
oferecer possibilidade de refutação).
Essa racionalidade rebatida por Feyerabend é entendida por ele como uma tradição cega ao
método, do que uma possibilidade de irrefutabilidade dos seus preceitos, pois se houver
alguma observação que fuja dessa métrica, será ignorada e sempre os regimentos mais antigas
e mais familiares irão prevalecer.
Sobre o papel do cientista sem esse nível de consciência, ele faz uma advertência (puxada rs):
* Popper critica o empirismo/indutivismo, mas o árbitro último para aceitar as teorias está
nos fatos. Não na verificabilidade, mas quando pensa o princípio da falseabilidade.
* Critica a fixidez do conjunto de regras que delimitam a razão crítica (Hipóteses aceitas
obedecem teorias estabelecidas e se ajustam aos fatos estabelecidos.)
É comum uma crítica a ele por não ser propositivo em relação ao que seria uma
“nova” teoria da racionalidade. Mas, como já apontava Kuhn, um novo paradigma, ao
substituir outro, passa por um processo de crise e questionamento. Há, portanto, o papel de
apontar lacunas, não somente o de propor preenchimentos.
O ANARQUISMO
* Aproximação com Bachelard, que diz que sempre conhecemos contra e dá primazia ao erro
e à retificação. Segundo Bachelard, a busca por definir o que é ou não ciência, ou por
estabelecer critérios de demarcação, são empreitadas sem sentido – além de deslegitimar
alguns saberes em detrimento de outros.
* Não privilegiar um conjunto particular de regras não é o mesmo que mera exclusão de
regras.
CONTRA-INDUÇÃO
Caso não possamos resistir à tentação de buscar um princípio (meta-metodológico) que seja
aplicável a todas as situações (ou contextos), concede que o único seria o princípio tudo vale.
METODOLOGIA PLURALISTA
Não se recusa a examinar qualquer concepção. Por trás do mundo tal como descrito pela
ciência pode ocultar-se uma realidade mais profunda, ou as percepções podem ser dispostas
de diferentes maneiras e que a escolha de uma particular disposição "correspondente à
realidade" não será mais "racional" ou "objetiva" que outra.
* Não se pode estabelecer rigorosamente uma hierarquia em que uma seria mais “racional”
ou “mais objetiva” que a outra.
* Reflexão: Mesmo que não esteja explícita a valoração, o fato de delimitar o lugar exato do
que seja possível ser considerado ciência já é, em si, uma hierarquização, pois em nossa
sociedade, dizer que algo é científico ou racional já carrega consigo, a intenção de dizer que é
confiável ou verdadeiro.
* Podemos aceitar como válidos os RESULTADOS do materialismo científico sem, com isso,
aceitar tal materialismo ou o objetivismo científico (ciência como espelho do real).
concessões
QUESTÕES:
REFERÊNCIAS:
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista
brasileira de educação, p. 89-100, 2003.
LATOUR, Bruno. Por que a crítica perdeu a força? De questões de fato a questões de
interesse. O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, v.29, n.46, p.173-204, jan.-jun.2020.
1Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/5/10/caderno_especial/11.html>. Acesso em
15 set. 2023.