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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO
COLEGIADO DO CURSO DE DIREITO

MARIANA MARQUES DA SILVA

FICHAMENTO SOBRE O 3º CONGRESSO BRASILEIRO DE


PRÁTICA PROCESSUAL PENAL

Salvador
2023
MARIANA MARQUES DA SILVA

FICHAMENTO SOBRE O 3º CONGRESSO BRASILEIRO DE PRÁTICA


PROCESSUAL PENAL

Fichamento apresentado ao Professor Dr. Fábio


Roque da Silva Araújo como requisito de
avaliação extra da disciplina DIRA88 – Teoria do
Direito Penal II no semestre 2023.2 da
Universidade Federal da Bahia sobre as palestras
do 3º Congresso Brasileiro de Prática Processual
Penal transmitida através da plataforma Youtube
pelo canal da EMD – Escola Mineira de Direito
entre os dias 21 a 23/08/2023.
Salvador
2023
Fichamento 1 – Palestra “Efetividade protetiva dos vulneráveis”, de Luana Davico
Palestra transmitida através da plataforma Youtube pelo canal da EMD – Escola Mineira de
Direito no dia 21/08/2023
Palestrante: Luana Davico. Delegada de Polícia PC-DF. Professora de Legislação Penal e
Processual Extravagante
Definição de vulnerável – sensação de “indefeso”

1. Conceito Jurídico-Social
1.1 Inerente – Está atrelada a pessoa independentemente de um fator agregado ou uma ação.
Ex: criança, idoso, mulheres.
1.2 Ocorrente – Atrelada a algum episódio ou condição temporária e ocasional. Ex: pessoa
que não consiga oferecer resistência (embriaguez, sedação, coma, etc)

2. Defensoria Pública também define quem são vulneráveis

3. Leis sobre Vulneráveis


3.1 Racismo
3.2 ECA
3.3 Tortura
3.4 Idoso
3.5 Maria da Penha
3.6 Estatuto da Pessoa com Deficiência
3.7 Henry Borel
Dessas leis, a lei Maria da Penha e Henry Borel possuem medidas protetivas contra
vulneráveis
* Mulher trans também é vulnerável!

4. Medidas Protetivas de Urgência à Vítima – são realmente efetivas?


- 79.6% das vítimas de feminicídio no DF pediram medida protetiva contra o autor
- 50 mil denúncias de maus tratos a crianças e adolescentes, 81% dos casos ocorrem dentro de
casa por pessoas próximas ao convívio familiar

5. Excepcionalidade do Acolhimento Institucional


O ECA prevê acolhimento somente em casos excepcionais
- É melhor uma família violenta do que um abrigo?
É necessário a melhoria do acolhimento institucional para que seja uma boa opção nos casos
necessários.
Muitas vezes escolas e conselho tutelar são essenciais para identificação das agressões contra
crianças cometida pelos pais. Possuem papel fundamental.
Para a mulher, existe um pensamento semelhante, de forma íntima: é melhor sair de casa e
ficar sozinha ou continuar com o agressor?
5. Monitoramento eletrônico – tornozeleira fornece a localização do agressor, caso esse se
aproxime da vítima, a Patrulha Maria da Penha é acionada
Lei 14.550/23 – In dubio pro medida – Agora é necessário demonstrar que a mulher não
precisa da medida para poder retirar
Todas essas medidas demandam orçamento público e atuação estatal
Anexo
Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha
Seção III
Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de
proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a
bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação
básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição,
independentemente da existência de vaga.(Incluído pela Lei nº 13.882,  de 2019)
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de
propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e
locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos
incisos II e III deste artigo.

Lei nº 14.344/2022 – Lei Henry Borel


Seção III
Das Medidas Protetivas de Urgência à Vítima
Art. 21. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas, determinar:
I - a proibição do contato, por qualquer meio, entre a criança ou o adolescente vítima ou
testemunha de violência e o agressor;
II - o afastamento do agressor da residência ou do local de convivência ou de coabitação;
III - a prisão preventiva do agressor, quando houver suficientes indícios de ameaça à criança
ou ao adolescente vítima ou testemunha de violência;
IV - a inclusão da vítima e de sua família natural, ampliada ou substituta nos atendimentos a
que têm direito nos órgãos de assistência social;
V - a inclusão da criança ou do adolescente, de familiar ou de noticiante ou denunciante em
programa de proteção a vítimas ou a testemunhas;
VI - no caso da impossibilidade de afastamento do lar do agressor ou de prisão, a remessa do
caso para o juízo competente, a fim de avaliar a necessidade de acolhimento familiar,
institucional ou colação em família substituta;
VII - a realização da matrícula da criança ou do adolescente em instituição de educação mais
próxima de seu domicílio ou do local de trabalho de seu responsável legal, ou sua
transferência para instituição congênere, independentemente da existência de vaga.
§ 1º A autoridade policial poderá requisitar e o Conselho Tutelar requerer ao Ministério
Público a propositura de ação cautelar de antecipação de produção de prova nas causas que
envolvam violência contra a criança e o adolescente, observadas as disposições da Lei nº
13.431, de 4 de abril de 2017.
§ 2º O juiz poderá determinar a adoção de outras medidas cautelares previstas na legislação
em vigor, sempre que as circunstâncias o exigirem, com vistas à manutenção da integridade
ou da segurança da criança ou do adolescente, de seus familiares e de noticiante ou
denunciante. 
Fichamento 2 – Palestra “Enfrentamento à macrocriminalidade organizada”, de
Adriano Costa

Palestra transmitida através da plataforma Youtube pelo canal da EMD – Escola Mineira de
Direito no dia 22/08/2023
Palestrante: Adriano Costa. Delegado de Polícia da PC-GO. Atualmente é professor e autor de
várias obras jurídicas.
A importância da ação do delegado de polícia no enfrentamento dos crimes. É necessário
entender que essa ação deve ser técnica e jurídica para promover mudança social. O delegado
deve fazer intervenções em prol da segurança pública, sua persecução penal deve ter esse
objetivo.
O Delegado não é um mero aplicador de regras. Ele é um agente de segurança pública e deve
“O Delegado de Polícia é um policy maker” (slide do palestrante)
Ou seja, deve colocar em prática as ações previstas na política de segurança pública
“Todo enfrentamento a uma organização criminosa precisa se pautar em dados” (slide do
palestrante)
É necessário então uma abordagem científica. Principais erros de análise na investigação
científica.
1. Agente
- Simplificar problemas que são muito complexos (heurística)
2. Método
- Qual melhor método?
- Individualismo (comportamentalismo e rational choice)
- Holismo (estruturalismo)
3. Objeto
- Qual é o real problema? Detectar possíveis causas e consequências

Estudo de caso sobre a redução de roubo de veículos em Goiânia-GO


1. Acredita-se que os veículos eram roubados para remoção de peças e posterior venda.
2. Ao analisar os dados da análise histórica, 85% dos veículos eram recuperados e 93% desses
não estavam depenados. Então esses veículos não estavam sendo roubados para desmanche.
3. 93% dos veículos estavam adulterados. Então os veículos estavam sendo roubados para
posterior venda e retorno a circulação (clonagem de veículos).
A partir desse momento, identificou-se o real problema. Então todas as ferramentas
processuais cautelares passaram a ser utilizadas para a finalidade correta.
“A atividade de investigação criminal pautada na ciência norteia a intervenção dos outros
agentes da persecução” (fala do palestrante)
Após essa ação, começou-se a identificar os indivíduos envolvidos e esses passaram a ter mais
dificuldade na venda dos veículos roubados. Então, os veículos passaram a ser recuperados
com maior facilidade e as pessoas que compravam carros sem placa começaram a perder o
interesse. O valor do carro diminuiu cerca de 10x passando de R$2.750,00 para R$350,00.
Com isso o criminoso foi desestimulado a continuar praticando esse crime. É muito
importante o controle do roubo para que não evolua para crimes mais grave como latrocínio.
Causas necessárias, suficientes e condições INUS

Efeito: aumento das facções nos presídios de Goiás


Possíveis causas: 1) audiência de custódia coloca “criminoso na rua”
2) Prisão de criminosos “freelancers”
3) Os pavilhões de encarceramento são divididos por facções, sem bloco neutro.
Apesar de achar que é a audiência de custódia que causa esse aumento por “liberar o
criminoso”, ela ajuda a diminuir pois o criminoso que não é envolvido em nenhuma facção
(“freelancers”) não tem contato no encarceramento. Quando você mantêm esse indivíduo
preso, ele acaba indo para um lugar onde precisa se associar a alguma facção (bloco onde será
alocado) para sobreviver, o que aumenta as fações nos presídios.
Impactos da inércia na realização do papel de “policy designer”? Leva a crer que o culpaso é
o sistema!
Quando não há utilização das ferramentas, cria-se um cenário de deslegitimização e aparecem
grupos oportunistas para enfraquecer. Assim, são adotados novos sistemas inadequados.
Imagem de Caos Sistêmico – Indexadores de Homicídios
- Comparações mal feitas leva a crença de falsos fatos
O Brasil possui cerca de 62.000 homicídios no ano. E a taxa de resolução é 37%. Então a
polícia não consegue impedir a ocorrência do homicídio. Mas isso não quer dizer que a taxa
de resolução é baixa. A quantidade de homicídio é tão expressiva que mesmo solucionando
22mil homicídios por ano, esse valor ainda é um terço da quantidade total. Por isso, o trabalho
tem que ser antes na prevenção. Esse é um problema de política pública mal direcionada
Mimetismo, metástase corporativa e tentativa de adoção de modelos outros
Como viabilizar tais mutações: criação de imagens (policy images)
Muitas vezes tende-se a copiar outros modelos, porém cada país tem sua realidade.
Unidade de polícia pacificadora – Importação do modelo exterior com fracasso de
implantação, pois não corresponde a realidade do Brasil
Delegacias Especializadas – A delegacia da mulher vem se difundindo no Brasil, porém os
crimes contra a mulher continuando aumentando. Hipótese: talvez a diminuição desses crimes
não esteja na criação de novas delegacias e sim na criação e aplicação de políticas públicas.
Fichamento 3 – Palestra “Princípio acusatório no Inquérito Policial”, de Gabriela
Segarra

Palestra transmitida através da plataforma Youtube pelo canal da EMD – Escola Mineira de
Direito no dia 23/08/2023
Palestrante: Gabriela Segarra. Delegado de Polícia da PC-SP. Professora de Direito Penal e
Processo Penal.

Inquérito Policial e Formação da Culpa


- Prevenção criminal: prevenção ostensiva (PRF, PFF, PM, GCM, PP – art 144, CF)
- Investigação criminal: (PC e PF – art 144, CF)

A condução da investigação criminal só pode ser feita pela Polícia Civil e Polícia Federal.
Porém, pode haver cooperação entre as forças, até mesmo o MP e a OAB.
1. Características do Inquérito Policial (visão tradicional)
a) Escrito – não permitido oralidade
b) Oficial – feito por servidores
c) Oficioso – deve atuar de ofício
d) Caráter discricionário – a autoridade policial tem discricionariedade de conduzir o IP
e) Inquisitivo – não há contraditório nem ampla defesa
f) Dispensável – não é obrigatório para persecução penal
g) Indisponível – delegado não pode dispor ou arquivar o IP
h) Obrigatório – é obrigatório para autoridade policial quando tiver conhecimento da prática
de um crime
i) Sigiloso – Sigiloso para as partes externas ao IP. Pode haver também sigilo interno quando
as partes não tem acesso, porém é exceção.

2. Características do Inquérito Policial (visão moderna)


a) Rompimento com a Inquisitoriedade – o acusado como pessoa com direitos e deveres
b) Não é uma mera peça informativa
c) Oralidade (ou parcialmente escrito) – inserção dos meios digitais
d) Autônomo e (in)dispensável – muito embora haja ação penal sem IP, a grande maioria
inicia após
e) Imparcialidade – o Delegado não julga, por isso seu objetivo é somente colher provas,
independente de quem se beneficie por ela
f) Contraditório e Ampla defesa – Garantias constitucionais do
Inquisitivo ou Acusatório? - A palestrante utiliza o termo “Apuratório”. Ou seja, é necessário
a utilização de características combinadas dos dois sistemas. Do inquisitivo, utiliza-se o
inquérito sigiloso com provas escritas, mas também tempos que respeitas as garantias do
acusado.
A autoridade policial não pode ficar inerte esperando as provas que aparecem como no
sistema acusatório, por isso, precisa agir, porém sempre respeitando as garantias não podendo
utilizar de qualquer meio, exemplo a tortura, para atingir a verdade como no sistema
inquisitivo.
Apuratório pois vem para apurar os fatos independente de quem se beneficia com ele.

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