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POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

DIÁLOGOS SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Belo Horizonte
2021
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

EQUIPE DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Coordenação Geral
Dra. Cinara Maria Moreira Liberal

Subcoordenação Geral
Dr. Marcelo Carvalho Ferreira

Coordenação Didático-Pedagógica
Rita Rosa Nobre Mizerani

Coordenação de Recrutamento e Seleção


Dr. Luiz Carlos Ferreira

Coordenação Técnica
Dr. Luiz Fernando da Silva Leitão

Conteudistas:
Dra Isabella Franca Oliveira
Dra Ana Paula Lamego Balbino

Produção do Material:
Polícia Civil de Minas Gerais

Revisão e Edição:
Divisão Psicopedagógica - Academia de Polícia Civil de Minas Gerais

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SUMÁRIO

UNIDADE 3 – LEI MARIA DA PENHA NA PRÁTICA ........................................................... 4


1 – MEDIDAS PROTETIVAS – TIPOS DE MEDIDAS, DESCUMPRIMENTO, APLICAÇÃO
PELA AUTORIDADE POLICIAL ........................................................................................... 4
1.1 Medidas Protetivas de Urgência ...................................................................................... 4
1.2 Descumprimento de Medidas Protetivas .......................................................................... 7
1.3 Aplicação de Medidas Protetivas pela Autoridade Policial ............................................. 10
2 – AVALIAÇÃO DE RISCO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER .......................................................................................................... 12
2.1 Avaliação de Risco ........................................................................................................ 12
2.2 Fatores de Risco ............................................................................................................ 15
2.3 Formulários de Avaliação de Risco ................................................................................ 23
2.4 Formulário Nacional de Avaliação de Risco Violência Doméstica e Familiar Contra a
Mulher.................................................................................................................................. 26
2.5 Acolhimento da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar ....................... 27

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 30

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UNIDADE 3 – LEI MARIA DA PENHA NA PRÁTICA

1 – MEDIDAS PROTETIVAS – TIPOS DE MEDIDAS, DESCUMPRIMENTO,


APLICAÇÃO PELA AUTORIDADE POLICIAL

1.1 Medidas Protetivas de Urgência

As medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da Penha são


destinadas a dar uma maior efetividade à busca pela proteção à mulher, vítima de
violência no ambiente familiar, afetivo e doméstico.
Por se tratar de medida de urgência a vítima pode solicitar a medida por meio
da autoridade policial, ou do Ministério Público, que vai encaminhar o pedido ao juiz.
A lei prevê que a autoridade judicial deverá decidir o pedido no prazo de 48 horas.
De acordo com o art. 12 da Lei Maria da Penha a autoridade policial deverá
remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o
pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência. O pedido
será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter qualificação da ofendida
e do agressor, nome e idade dos dependentes, descrição sucinta do fato e das
medidas protetivas solicitadas pela ofendida, informação sobre a condição de a
ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou
agravamento de deficiência preexistente.
A autoridade policial deverá anexar o boletim de ocorrência e cópia de todos os
documentos disponíveis em posse da ofendida. Serão admitidos como meios de prova
os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.
Ao receber o expediente com pedido de medidas protetivas, caberá ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas
de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência
judiciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável
perante o juízo competente;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.

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IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor.


As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a
requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, e poderão ser concedidas
de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do
Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.
Serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a
qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos
nesta Lei forem ameaçados ou violados. Poderá o juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou
rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.
A Lei 11.340/200 prevê que a ofendida deverá ser notificada dos atos
processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à
saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor
público. Determina ainda que a ofendida não poderá entregar intimação ou notificação
ao agressor.
São as seguintes medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao
órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o
limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio
de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física
e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a
equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Uma vez imposta uma medida para punir o agressor, o magistrado pode
determinar outras medidas, sem prejuízo das já tomadas, a fim de que a ofendida
fique protegida e seja amparada pelo Estado.

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Assim, o juiz pode determinar (artigo 22, inciso I) que a ofendida e seus
dependentes sejam encaminhados a programas oficiais ou comunitários destinados à
proteção ou atendimento à mulher em situação de violência. Isso para que haja um
apoio a ela e seus dependentes.
Ainda, poderá ser determinada a recondução ao lar da ofendida e de seus
dependentes por meio de auxílio policial, desde que haja o afastamento do agressor
(artigo 22, inciso II, da Lei 11.340 de 2006). Ou mesmo o seu afastamento do lar, sem
que haja prejuízo em relação aos direitos relativos à guarda e alimentos e bens
patrimoniais do casal (artigo 22, inciso III da mesma Lei).
Pode ser autorizada a saída da mulher da residência comum, sem prejuízo dos
direitos relativos a bens, guarda de filhos e alimentos (art. 23. III), não caracterizando,
caso os envolvidos sejam casados, abandono do lar, a servir de fundamento para
eventual ação de divórcio.
A Lei prevê também que, conforme dispõe o inciso IV, do artigo 22, poderá ser
determinada a separação de corpos, para que a vítima não permaneça no mesmo
ambiente que o agressor, resguardando assim sua integridade física e psicológica e
de sua família.
O art. 24 da Lei 11.340/2006 prevê medidas para a proteção patrimonial dos
bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher,
podendo o juiz determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,
venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e
danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a
ofendida.
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo.
Urge mencionar que as medidas que obrigam o agressor, as medidas
direcionadas para a proteção da mulher e de seus filhos e as medidas para proteção
patrimonial podem ser cumuladas.

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Poderá ser utilizado mecanismo compulsório de controle eletrônico


(tornozeleira eletrônica) em desfavor do agressor para garantia do cumprimento das
medidas protetivas de urgência.
A concessão da medida protetiva de urgência não está condicionada à
existência de fato que configure, em tese, ilícito penal. Assim é possível pleitear
medidas protetivas quando há algum tipo de violência, ainda que não configure crime,
como nos casos de violência psicológica.
A Lei 13.984, de 3 de abril de 2020, acrescentou mais duas medidas protetivas
ao artigo 22 da Lei 11.340, possibilitando ao juiz determinar o comparecimento do
agressor a programas de recuperação e reeducação e o acompanhamento
psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio.
De acordo com a exposição de motivos do projeto de lei, a Convenção de
Belém do Pará recomenda aos Estados que adotem todas as medidas ao seu alcance
para modificar os padrões sociais e culturais de conduta de homens e mulheres,
inclusive a formulação de programas formais e não formais adequados a todos os
níveis do processo educacional, a fim de combater preconceitos e costumes e todas
as outras práticas baseadas na premissa da inferioridade ou superioridade de
qualquer dos gêneros ou nos papéis estereotipados para o homem e a mulher, que
legitimem ou exacerbem a violência contra a mulher.
Nos Estados onde há grupos destinados a agressores, os dados já evidenciam
que a reeducação ou ressocialização do homem que cometeu agressão têm um papel
importante na redução da reincidência da violência contra as mulheres.
Desde o ano de 2010, a Polícia Civil conta com o Programa Dialogar, que
recebe agressores, de forma voluntária ou compulsória, através de determinação
judicial deferida nas medidas protetivas, para comparecimento em oficinas reflexivas
que tratam temas como o ciclo da violência, comunicação não violenta e a Lei Maria
da Penha. Em Belo Horizonte, os quatro Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher encaminham os agressores para frequência obrigatória nos oito
encontros como uma das medidas protetivas.

1.2 Descumprimento de Medidas Protetivas

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Em abril de 2018 foi sancionada a Lei 13.41/2018, que introduziu o artigo 24-A
na Lei 11.340 e criou o crime de descumprimento de medidas protetivas.
Antes da nova tipificação, no caso de descumprimento da medida protetiva e
aproximação do agressor ou seu retorno ao lar depois de judicialmente afastado, caso
a mulher em situação de violência acionasse a Polícia Militar, a prisão em flagrante só
poderia se dar caso houvesse novo fato típico, como uma nova ameaça ou agressão
física.
Deveria ser solicitada pela Autoridade Policial a prisão preventiva do agressor,
com fulcro no art. 313, inc. IV, do Código de Processo Penal, devendo o magistrado
analisar o pedido, inclusive muitos entendiam que o descumprimento sem ofensa à
ordem pública ou sem fato típico não seria motivo para decretação da prisão
preventiva.
Em sua exposição de motivos, o projeto de Lei traz como por objetivo dirimir
controvérsia instalada no sistema de Justiça acerca da tipicidade da desobediência na
hipótese de descumprimento das medidas protetivas, bem como oferecer maior
proteção à vítima, criando uma punição mais rigorosa para o agressor, tendo em vista
que antes da edição da lei era muito mais dificultoso para a mulher noticiar o
descumprimento, devendo procurar a Defensoria Pública ou o Ministério Público para
esse fim.
Com a Lei 13.41/2018, o descumprimento de medidas protetivas passou a ser
crime, conforme a seguir:
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de
urgência previstas nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do
juiz que deferiu as medidas.
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá
conceder fiança.
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções
cabíveis.
Para que o delito seja caracterizado, o agressor deve ter sido devidamente
cientificado da decisão judicial.
O projeto de lei n.° 2450/2019, prevê que a intimação das medidas protetivas
de urgência previstas nos incisos I, II e III do art. 22 da Lei 11.340/2006 possa ser

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entregue pelo defensor da ofendida ou pelo agente policial nos casos urgentes, não
havendo disponibilidade imediata do oficial de justiça. Na exposição de motivos do
citado projeto, é ressaltada a importância da ciência da decisão que defere a medida
protetiva com a maior brevidade possível, possibilitando a caracterização do delito de
descumprimento, bem como garantindo a integridade física e psicológica da ofendida,
além de evitar a prática de novas violências contra a mulher.
A decisão deverá ser válida, ou seja, concedida por juiz competente e
devidamente fundamentada ou pela autoridade policial, que deverá comunicar ao juiz
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, o qual deverá decidir em igual prazo pela
manutenção ou revogação das medidas protetivas, conforme artigo 12-C incluído na
Lei Maria da Penha através da Lei 13.827/2019.
Para que haja o descumprimento, não há necessidade de um novo episódio de
violência contra a mulher, bastando para sua configuração a simples desobediência à
ordem judicial concedida através de medida protetiva de urgência, como por exemplo,
retornar à residência mesmo após concedido o afastamento do agressor do lar, enviar
mensagens de forma insistente ou rondar a casa ou local de trabalho da vítima.
Nos casos de prisão em flagrante, a Autoridade Policial não poderá arbitrar
fiança, apesar da pena máxima ser de dois anos. Afasta-se a incidência do artigo 322
do Código de Processo Penal, o qual afirma que no caso de infrações em que a pena
privativa de liberdade não seja superior a 04 (quatro) anos, a autoridade policial
poderá conceder a fiança. No caso do crime de descumprimento de medida protetiva
de urgência, apenas a autoridade judicial poderá arbitrar a fiança, em respeito ao
princípio da especialidade.
De acordo com Mello e Paiva (2019), a lei garante pela reserva de jurisdição
uma análise mais aprofundada da situação antes de colocar o agressor em liberdade,
pois o juiz que acompanha o conflito deferiu as medidas protetivas de urgência tem,
em tese, maior conhecimento dos riscos e vulnerabilidades de cada caso.
A 3ª Turma Criminal do TJDFT decidiu que o consentimento da vítima não
desobriga o agressor de cumprir as medidas protetivas deferidas judicialmente, ou
seja, consentimento da vítima de violência doméstica quanto à permanência do
agressor na residência do casal, após o deferimento de medidas protetivas de
urgência, não afasta os efeitos da decisão judicial.
Há decisões judiciais que determinam que as medidas protetivas de urgência

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devem ser observadas tanto pela ofendida tanto pelo agressor, sob pena de incorrer
na prática do crime de descumprimento de medida protetiva, previsto no art. 24-A da
Lei 11.340/200. Assim, caso a mulher descumpra a medida protetiva deferida, poderá
ser responsabilizada pela prática do crimes de descumprimento.

1.3 Aplicação de Medidas Protetivas pela Autoridade Policial

A lei 13.827/19 autorizou a aplicação de medida protetiva de urgência, pela


autoridade judicial ou policial, a mulher em situação de violência doméstica.
Quando for verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física da mulher em situação de violência doméstica, o agressor será
imediatamente afastado do lar pela autoridade judicial, pelo delegado de polícia,
quando o município não for sede de comarca ou pelo policial, quando a cidade não for
sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à
integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou
de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca;
ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver
delegado disponível no momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será
comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual
prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar
ciência ao Ministério Público concomitantemente.

Em 2017 a Lei 13.505 tentou introduzir conteúdo semelhante à Lei Maria da


Penha, entretanto foi vetado pelo então presidente.
De acordo com Guilherme de Souza Nucci
“Nota-se a ideia de preservar a reserva de jurisdição, conferindo à autoridade
judicial a última palavra, tal como se faz quando o magistrado avalia o auto
de prisão em flagrante (lavrado pelo delegado de polícia). Construiu-se, por
meio de lei, uma hipótese administrativa de concessão de medida protetiva

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— tal como se fez com a lavratura do auto de prisão em flagrante (e quanto


ao relaxamento do flagrante pelo delegado). Não se retira do juiz a palavra
final. Antecipa-se medida provisória de urgência (como se faz no caso do
flagrante: qualquer um pode prender quem esteja cometendo um crime).”

Em seguida, menciona-se, inclusive, a viabilidade de qualquer policial, civil ou


militar, de fazer o mesmo, quando no local não existir nem juiz nem delegado. Ora,
policiais devem prender em flagrante quem estiver cometendo crime; depois o
delegado avaliará e, finalmente, o juiz dará a última palavra.
Não se fugiu desse contexto. Não visualizamos nenhuma
inconstitucionalidade nem usurpação de jurisdição. Ao contrário, privilegia-se o mais
importante: a dignidade da pessoa humana. A mulher não pode apanhar e ser
submetida ao agressor, sem chance de escapar, somente porque naquela localidade
inexiste um juiz (ou mesmo um delegado). O policial que atender a ocorrência tem a
obrigação de afastar o agressor. Depois, verifica-se, com cautela, a situação
concretizada”.
Há uma ação direta de inconstitucionalidade em tramitação no Supremo
Tribunal Federal n. 6138, na qual é alegado que a mudança fere o princípio da reserva
de jurisdição, uma vez que não se pode cogitar a possibilidade de um delegado ou
policial interferir na casa de alguém sem ordem judicial para tanto, ainda que para
retirar o agressor, privando-o de liberdade, antes do devido processo legal. A lei não
pode conter tal autorização porque a Constituição estabeleceu as exceções nela
previstas de flagrante delito, desastre ou autorização judicial.
Há críticas ainda em relação ao inc. III, que prevê que o policial poderá aplicar
medida protetiva quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado
disponível, visto que não fica claro se investigadores de polícia, escrivão de polícia, e
demais membros da Polícia Federal, Polícia Rodoviária ou Polícia Militar estão
incluídos na categoria “policial” e estão autorizados a conceder medida de
afastamento do agressor.
A lei está em vigor e é possível a concessão de medida protetiva de urgência
de afastamento do agressor pela Autoridade Policial, quando o Município não for sede
de comarca, ou pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não
houver delegado disponível no momento da noticia crime.

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2 – AVALIAÇÃO DE RISCO NOS CASOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E


FAMILIAR CONTRA A MULHER

2.1 Avaliação de Risco

Em 2005, a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM/PR) publicou o


documento “Enfrentando a violência contra a mulher: orientações práticas para
profissionais e voluntários(as).”, que contém 12 perguntas cujas respostas classificam
a situação como médio, alto ou risco extremo e foi inspirado em experiência norte-
americana. É a primeira referência à avaliação de risco em casos de violência contra
as mulheres no Brasil
Avaliar risco é adotar procedimentos sistematizados para identificação da
possibilidade de ocorrência de novas violências e dessas serem letais (MEDEIROS,
2015). Envolve o registro minucioso de informações relevantes para compreensão dos
riscos. É ação essencial para o aprimoramento dos atendimentos oferecidos a
mulheres em situação de violência, com vistas à garantia de sua segurança
(MEDEIROS, TAVARES & DINIZ, 2015).
A avaliação de risco não deve substituir outras ações realizadas em casos de
violência doméstica, tais como registro de boletim de ocorrência policial, concessão
de medidas protetivas e acolhimento psicossocial.
Deve ser feita órgãos e agentes especialmente capacitados/as, por intermédio
das unidades de apoio à mulher em situação de violência doméstica e familiar ou ainda
em coordenação com outras autoridades ou instituições que possam ter competências
para a avaliação do risco, como os serviços de apoio psicossocial do Ministério Público
ou do Poder Judiciário, os serviços policiais, o instituto médico legal, Centro de
Referência de Assistência Social – CRAS ou Centro de Referência Especializado de
Assistência Social – CREAS, Centro Especializado de Atendimento à Mulher – CEAM,
Faculdades e outros organismos públicos ou privados designados para este fim.
A avaliação de risco tem como objetivo prevenir a ocorrência ou o agravamento
da violência doméstica e familiar contra as mulheres. A coleta sistematizada e
padronizada de informações permite:

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• Proteger a mulher frente ao risco imediato;


• Fundamentar pedidos de medidas protetivas de urgência previstas na
Lei Maria da Penha contribuindo para a celeridade de seu deferimento;
• Orientar a aplicação das medidas de proteção previstas no artigo 11º da
Lei Maria da Penha;
• Prevenir o agravamento da violência para vítimas sobreviventes de
feminicídios e/ou vítimas indiretas;
• Organizar o encaminhamento e o acompanhamento das mulheres
através da rede de serviços facilitando a comunicação entre os profissionais com
vistas a ampliar a proteção para as mulheres.
• Melhorar as respostas institucionais para reduzir a incidência da
violência doméstica e familiar por meio do compartilhamento de informações e
encaminhamentos realizados a cada caso.

A avaliação de risco deverá ser aplicada a todos os casos de violência


doméstica e familiar contra as mulheres, independentemente de classe, raça, cor,
etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião (artigo 2º,
Lei Maria da Penha).
A avaliação de risco também deverá ser aplicada às vítimas diretas ou
sobreviventes dos casos de tentativas de feminicídio. Sempre que estiverem
presentes a avaliação deverá ser aplicada às vítimas indiretas da violência.
São denominadas “vítimas diretas” aquelas que, individual ou coletivamente,
tenham sofrido diretamente os danos da violência física, psicológica ou emocional –
quer tenha sido consumada ou tentada -, e, como “vítimas indiretas”, os familiares
e/ou outros dependentes da vítima direta. Tratando-se especificamente dos
feminicídios, utilizar-se-á também a expressão “vítimas sobreviventes” para aquelas
vítimas diretas cujo desfecho fatal não se consumou.
Será realizado no primeiro atendimento à mulher em situação de violência
doméstica e familiar pelas instituições e órgãos de persecução criminal e agentes da
rede de atendimento para subsidiar a adoção das medidas protetivas de urgência ou
cautelares mais adequadas, sem prejuízo das que se venha a adotar posteriormente
com o resultado das diligências de investigação.

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O formulário deverá ser preenchido por profissional devidamente capacitado.


Sua aplicação deve ser realizada durante o atendimento e a mulher deverá ser
informada sobre o uso do instrumento, sua finalidade e a importância em registrar as
respostas para cada pergunta.
Para assegurar a qualidade, integridade e correto uso das informações as
perguntas serão feitas independentemente de as informações já terem sido
registradas em outros documentos durante o atendimento. Após fazer o
esclarecimento para a mulher quanto ao uso, a importância e a finalidade do
formulário, respondendo de forma calma e atenciosa as dúvidas que existirem, a(o)
profissional responsável pelo atendimento deverá realizar a leitura das perguntas uma
a uma, com preenchimento das alternativas correspondentes (sim, não, não sabe, não
se aplica).
A avaliação de risco será aplicada aos casos de violência doméstica e familiar
e feminicídios conforme previsão na legislação.
A Lei Maria da Penha prevê que “configura violência doméstica e familiar
contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.” (artigo 5º,
Lei Maria da Penha). A violência doméstica apresenta-se nas formas da violência
física, psicológica, sexual, moral e patrimonial e pode ocorrer na unidade doméstica,
envolvendo relações envolvendo laços de parentesco, afinidade ou em relações
intimas de afeto, independentemente da coabitação do casal.
Feminicídios São tipificados os homicídios de mulheres, tentados ou
consumados, praticados em razão do sexo feminino em decorrência da violência
doméstica e familiar ou por menosprezo e discriminação pelo fato de ser mulher. (Lei
do Feminicídio, 13.140/2015)
A avaliação do risco será objeto de reavaliação caso ocorram novos eventos
ou atos de violência, segundo os modelos adotados pelas instituições.
Uma vez concluído o preenchimento do documento, o (a) profissional deverá,
juntamente com a mulher, tomar decisões quanto às medidas a serem aplicadas e os
encaminhamentos que serão realizados. Considerando que a avaliação de risco
poderá ser iniciada e reproduzida em qualquer serviço da rede de atendimento, os
encaminhamentos dependerão de qual serviço dará início aos procedimentos e quais
serão priorizados na sequência. Ou seja, não se estabelece um fluxo fixo nem

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unidirecional de encaminhamentos que deverão ser planejados de acordo com a


realidade de oferta de serviços em cada localidade e, a partir dessa, das necessidades
apresentadas pelas mulheres.
Caso a avaliação esteja sendo realizada na Delegacia de Polícia, os resultados
da avaliação devem, diante das circunstâncias e condições apuradas, aplicar as
medidas previstas no artigo 11º da Lei Maria da Penha que deverão ser adotadas de
imediato pela autoridade policial, sem prejuízo da solicitação das medidas protetivas
nem dos encaminhamos para acompanhamento do caso pela rede de atendimento
especializado.
Uma cópia da avaliação de risco deverá ser anexada ao pedido de medidas
protetivas de urgência para encaminhamento ao juízo competente.
Caso esteja sendo realizada em outros serviços, a avaliação e as
recomendações deverão ser encaminhadas para as autoridades competentes para
dar seguimento ao atendimento.

2.2 Fatores de Risco

Fatores de Risco são elementos que aumentam a possibilidade de ocorrer


violência. Por isso, quanto mais fatores de risco presentes em um caso, maior o risco
potencial. A literatura aponta a existência de fatores de risco de reincidência e fatores
de risco de violências graves ou letais (MEDEIROS, 2015).
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em 12-1-2017, publicou a
Resolução SSP-2, que Institui o “Protocolo Único de Atendimento”, a ser observado
nas ocorrências de violência doméstica e familiar contra a mulher. A norma traz como
anexo uma tabela de fatores de risco, conforme a seguir:
O Secretário da Segurança Pública, resolve:
Artigo 1º - Fica instituído no âmbito desta Secretaria da Segurança Pública, o
“Protocolo Único de Atendimento” de ocorrências relacionadas às infrações
previstas na Lei 11.340/2006, nos termos que seguem, sem prejuízo das
normas regulamentares já existentes.
Artigo 2º - A autoridade policial que atender ocorrência referente à
Lei 11.340/2006 deverá, sempre que possível:

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I – proceder à oitiva imediata da vítima e realizar a fotografação das


lesões aparentes, se houver, mediante prévia autorização;
II – orientar a vítima quanto à necessidade de representação ou
requerimento para instauração de inquérito policial, bem como sobre as
medidas protetivas;
III – encaminhar a vítima à rede de proteção local existente;
IV – colher os depoimentos das testemunhas presentes, diretas ou
indiretas;
IV – informar eventuais ocorrências criminais anteriores envolvendo o
agressor;
VI – requisitar perícia, especificando tratar-se de crime de violência
doméstica e familiar contra a mulher, indicando o endereço eletrônico para
remessa do laudo;
VII – instruir o auto de prisão em flagrante ou a representação para
medidas protetivas com indicações dos fatores de risco, notadamente os
constantes do Anexo.
§ 1º - Se a testemunha não estiver presente no momento da notícia do
crime, a vítima será cientificada a apresentar rol testemunhal com nomes e
endereços, no prazo máximo de cinco dias, o que constará do histórico do
boletim de ocorrência.
§ 2º - Os registros e diligências emergenciais deverão ser realizados
independentemente de a vítima estar munida de documento de identidade,
cuja apresentação poderá ocorrer posteriormente, valendo-se a autoridade
policial dos meios disponíveis e imediatos para obter a identificação da
ofendida.
Artigo 3º - Caso o laudo de exame de corpo de delito não seja encaminhado
à delegacia no prazo previsto no inciso II do art. 5º desta Resolução, a
autoridade policial deverá requisitá-lo, valendo-se dos meios disponíveis.
Artigo 4º - A Polícia Militar deverá:
I – preservar o local do crime, observando os termos da Resolução
SSP 57, de 8 de maio de 2015;
II – verificar, quando possível, se há incidência de medida protetiva em
face do agressor, adotando as providências legais cabíveis.
Artigo 5º - A Superintendência da Polícia Técnico-Científica deverá:
I – priorizar o atendimento de locais de crime relacionados à violência
doméstica e familiar contra a mulher;
II – encaminhar os laudos periciais à autoridade policial pela via
eletrônica, tão logo seja concluído, sem prejuízo do envio posterior do laudo

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físico no prazo máximo de dez dias, podendo este prazo ser prorrogado em
casos excepcionais, mediante requerimento do perito;
III – instruir o laudo pericial com fotografias, mediante prévia
autorização da vítima ou de seu representante legal, informando a existência
de exames anteriores em relação à pericianda;
IV – observar, na elaboração dos laudos periciais, os termos da
Portaria do Diretor Técnico de Departamento, de 30-12-2014.
Artigo 6º - A Delegacia Geral de Polícia, o Comando Geral da Polícia Militar
e a Superintendência da Polícia Técnica-Científica editarão os atos
complementares, dentro de suas respectivas competências, para o
detalhamento do procedimento previsto nesta Resolução.
Artigo 7º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições em contrário.
Anexo à Resolução SSP-002, de 12-01-2017
Tabela de Fatores de Risco
1. Histórico de Violência Anterior entre o Mesmo Agressor e Vítima
2. Histórico de Violência pelo Agressor Contra Outras Pessoas
3. Uso de Álcool e/ou Drogas Ilícitas pelo Agressor
4. Transtorno ou Doença Mental pelo Agressor
5. Comportamento Controlador, Ciúmes ou Alegação de Traição
6. Separação ou Tentativa de Separação no Último Ano
7. Disputa Familiar (Por Bens ou Filhos)
8. Presença de Crianças ou Adolescentes no Núcleo Familiar
9. Agressor com Acesso a Arma de Fogo (Profissional de Segurança e
Outros)
10. Agressor Envolvido com Atividades Criminosas
11. Agressor já Descumpriu Anteriormente Ordem Judicial de Medidas
Protetivas de Urgência
12. Vítima com Dependência Econômica
13. Vítima com Fator de Vulnerabilidade (Criança, Adolescente, Idosa, com
Deficiência Etc)
14. Vítima sem Parentes Próximos ou Rede de Proteção
15. Vítima Gestante

Foram realizados estudos em instrumentos de avaliação de risco de outros


países para análise de fatores de risco, com o objetivo de elaborar um modelo
avaliação de risco adequado ao contexto brasileiro.

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Seguem os indicadores que devem servir de referência para construção de um


formulário de avaliação de risco:

Alguns dos principais fatores de avaliação de risco serão analisados a seguir:

1. Vítima ou outro familiar ameaçado com faca ou arma de fogo

O uso de armas nos episódios de violência é apontado pela literatura como um


fator de risco importante (MEDEIROS, 2015). Estudos indicam que mulheres
ameaçadas ou agredidas com arma têm 20 vezes mais probabilidade de serem
vítimas de feminicídio.

2. Agressões físicas graves em desfavor da vítima: queimadura,


enforcamento, sufocamento, tiro, afogamento, osso quebrado, facada e/ou paulada

A literatura destaca a natureza e a severidade da agressão como fatores


importantes na avaliação da probabilidade de reincidência da violência. Agressões
físicas graves constituem um dos principais fatores de risco associados ao feminicídio.

3. Comportamento de ciúme excessivo e de controle sobre a vítima

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Tal indicador está associado a episódios de violência grave e potencialmente


letal. Em estudo coordenado por Machado (2015), alegações relativas a ciúmes ou
sentimento de posse em relação à vítima aparecem na maioria dos casos de
feminicídio analisados.

4. Ocorrências policiais anteriores envolvendo as mesmas partes

Segundo pesquisa coordenada por Machado (2015), é bastante presente, na


análise dos casos de feminicídios, o histórico de violência doméstica na dinâmica
relacional. Ocorrências policiais anteriores podem revelar padrões de agressões e
contribuir para a análise da probabilidade de ocorrência de violências futuras.

5. Agressões físicas em desfavor da vítima: tapas, empurrão, puxão de


cabelo, socos, chute e semelhantes

A literatura ressalta que o padrão de comportamento violento para resolver


conflitos interpessoais é um indicador de risco de feminicídio (MEDEIROS, 2015).
Pesquisas apontam que 70% dos casos de feminicídios analisados as vítimas haviam
sofrido violências físicas anteriores.

6. Ameaças ou agressões físicas para evitar a separação

Diante da possibilidade de rompimento da relação, o autor pode tentar reaver


o controle que acredita ter sobre a mulher por meio de ameaças e agressões. No
estudo coordenado por Fernandes (2018), o inconformismo com o término do
relacionamento aparece como o motivo principal dos casos de feminicídio analisados.

7. Prática de atos sexuais sem o consentimento da vítima

A literatura considera a violência sexual um fator de risco tanto de reincidência,


quanto de feminicídio (MEDEIROS, 2015). Estudos apontam que a probabilidade de
ocorrência de feminicídio é 7,5 maior quando existe histórico de violência sexual.

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8. Escalada na frequência e na intensidade da violência

O escalonamento da violência é um antecedente comum à ocorrência de


feminicídio. Na maioria dos casos analisados no estudo coordenado por Machado
(2015) foi possível identificar uma trajetória violenta de convivência, que resultou em
feminicídio.

9- Descumprimento de medidas protetivas anteriores

O descumprimento de medidas protetivas destinadas a proteger a vítima


evidenciam que o autor não está disposto a respeitar ordens judiciais, o que indica a
possibilidade de ocorrência de violência grave ou letal. A existência de medidas
protetivas pressupõe episódio violento anterior, que, por si só, é um fator de risco para
a reincidência.

10 - Ameaça e/ou agressão contra os filhos da vítima, familiares, colegas


de trabalho, pessoas desconhecidas ou animais de estimação

Pessoas com histórico de violência em outros tipos de relações interpessoais


têm maior probabilidade de se envolverem em episódios de violência familiar. Tal fator
de risco permite também avaliar se o comportamento violento está associado à
naturalização da violência no ambiente doméstico e/ou à tentativa de exercer controle
sobre a vítima (MEDEIROS, 2015).

11. Uso abusivo de álcool ou outras drogas por parte do autor

O uso, abusivo ou não, de álcool e outras substâncias psicoativas é apontado


pela literatura como um fator que pode aumentar a possibilidade de ocorrência de
violência, pois diminui as inibições e a capacidade de julgamento e altera o estado de
consciência (MEDEIROS, 2015). Estudos identificaram que o uso nocivo de álcool
está associado a um aumento, em 4,6 vezes, do risco de exposição à violência
praticada pelo parceiro íntimo.

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12. Autor com doença mental

Segundo Medeiros (2015), a violência legitimada pela desigualdade de gênero


e pela naturalização da violência contra a mulher, pode tornar-se mais grave quando
o autor apresenta sintomas psicóticos. Problemas de saúde mental tornam-se um fator
de risco preocupante principalmente nos casos em que há uma descompensação
clínica: falta ou alteração da medicação prescrita.

13. Ameaça ou tentativa de suicídio por parte do autor

A ameaça de suicídio por parte do autor está associada há problemas de saúde


mental e indica um maior risco de homicídio.

14. Autor desempregado ou com dificuldades financeiras graves


A literatura mostra que o desemprego pode ser tanto fator de risco de
reincidência, quanto de feminicídio (MEDEIROS, 2015). O não cumprimento do papel
de provedor, tido como tipicamente masculino, pode ensejar conflitos na dinâmica
relacional.

15. Autor com acesso a arma de fogo


O acesso a arma de fogo é apontado pela literatura como fator de risco de
ocorrência de violências (MEDEIROS, 2015). No Brasil, quase metade dos
feminicídios ocorridos entre os anos de 2011 e 2013 envolveram o uso de armas de
fogo (49%) e aproximadamente um terço (34%), o uso de instrumento perfurante,
cortante ou contundente
.
16. Conflito relacionado a guarda, visita ou pensão dos filhos
Questões relacionadas a guarda, visita e/ou pensão dos filhos podem gerar
situações conflituosas e potencializar o acontecimento de violências. Essas questões
podem, inclusive, ser usadas para controlar e/ou intimidar a vítima, perpetuando ou
agravando a situação de violência.

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17. Vítima isolada de amigos, familiares, pessoas da comunidade ou do


trabalho

De acordo com a literatura, o isolamento contribui para a não percepção, por


parte da vítima, da gravidade da situação (MEDEIROS, 2015). Manter a vítima isolada
de familiares, amigos e colegas é uma estratégia de controle, que, por sua vez, é um
fator de risco de violência grave (MEDEIROS, 2015).

18. Vítima com alguma doença, deficiência ou idade avançada

Tais fatores podem deixar a mulher mais vulnerável às violências cometidas


pelo parceiro. Situações de dependência de prestação de cuidados tendem a gerar
sobrecarga na dinâmica relacional, o que pode desencadear comportamentos
violentos.

19. Separação recente ou tentativa de separação

A separação ou a tentativa de separação pode aumentar a frequência e/ou a


gravidade da violência. Há um maior risco de feminicídio nos casos em que as
mulheres haviam se separado, deixado o parceiro ou pedido para o parceiro sair de
casa.

20. Vítima grávida

A violência durante a gestação está relacionada ao risco de feminicídio.


Limitações físicas e psicológicas decorrentes do período gestacional podem acentuar
a situação de vulnerabilidade da mulher. Identificar episódios de violência durante a
gravidez é relevante para a avaliação da dinâmica relacional (MEDEIROS, 2015).

A apreciação do risco requer a identificação da presença ou da ausência dos


fatores de risco, bem como o julgamento do avaliador. Quanto maior o número de
respostas positivas, maior o risco de ocorrer uma violência grave ou letal. Ressalta-se
que respostas positivas nos itens que tratam de uso de faca, agressões físicas graves

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e ciúmes excessivos devem ser alerta para risco elevado de letalidade, mesmo que
não tenham sido contabilizadas muitas respostas positivas.

2.3 Formulários de Avaliação de Risco

Em junho de 2019 foi instituído pelo Conselho Nacional de Justiça através da


Resolução 284/2019 o Formulário Nacional de Avaliação de Risco. O documento tem
como objetivo prover as/os magistradas/os de informações importantes sobre a
situação de risco e, assim, possibilitar o deferimento imediato de medidas protetivas
de urgência aptas a resguardar a integridade física e psicológica da mulher. Além
disso, as informações coletadas por meio do questionário possuem diversas
finalidades, entre as quais permitir o monitoramento contínuo da situação de risco e
auxiliar no preenchimento do Cadastro Nacional de Violência Doméstica.
Na X Jornada da Lei Maria da Penha, de agosto de 2016, uma das sugestões
para efetivação nacional da Lei 11.340/2006 foi “Fomentar a implantação de
questionário de avaliação de risco pelas Delegacias de Polícia, a ser respondido pela
vítima, para subsidiar o(a) Juiz(a) quando da apreciação do pedido de medidas
protetivas”.
Já na XIII Jornada da Lei Maria da Penha, de agosto de 2019, foram
apresentadas propostas de ações para ampliar a efetivação da Política Judiciária
Nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres. As propostas relacionadas
ao Formulário Nacional de Avaliação de Risco foram as seguintes:
• Recomendar a criação de cadastro/banco nacional de vítimas e de
agressores pelo CNJ, a partir do preenchimento do formulário nacional de avaliação
de risco de violência;
• Recomendar a capacitação de todos os atores da rede de enfrentamento
e de atendimento para a aplicação do Formulário Nacional de Avaliação de Risco do
CNJ;
• Recomendar a aplicação do Formulário Nacional de Avaliação de Risco
do CNJ preferencialmente no primeiro atendimento à vítima, o qual, após preenchido,
deverá acompanhar os futuros encaminhamentos, para evitar revitimização;

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• Recomendar, no caso de respostas afirmativas ao item 23 do Formulário


Nacional de Avaliação de Risco do CNJ, a realização de estudo de mancha criminal e
de conflitos e, a partir do resultado desse estudo, articular rede de promoção da cultura
de paz e, ainda, estudo de campo para identificar as necessidades do local, com vistas
à criação de mecanismos que possibilitem o acesso aos serviços da rede;
• Recomendar aos Presidentes e Corregedores dos Tribunais de Justiça
apoio às Coordenadorias Estaduais da Mulher em Situação de Violência Doméstica e
Familiar para a implementação do Formulário Nacional de Avaliação de Risco do CNJ.
No âmbito do Ministério Público, há o Formulário Nacional de Risco e Proteção
à Vida (FRIDA), de iniciativa da Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais do
Conselho Nacional do Ministério Público, pendente de apreciação pelo Plenário. Tem
por objetivo indicar, de forma objetiva, o grau de risco da vítima em virtude das
respostas dadas às perguntas do formulário, o que pode reduzir a probabilidade de
uma possível repetição ou ocorrência de um primeiro ato violento contra a mulher no
ambiente de violência doméstica.
O objetivo de FRIDA era o mesmo, qual seja, avaliar o risco da vítima,
possibilitar uma intervenção do Sistema de Justiça Criminal e preservar a integridade
física e psicológica da vítima.
A Resolução 284/2019 do CNJ e o FRIDA encontram-se disponíveis no material
complementar.
Diante da existência de dois formulários diferentes com o mesmo objetivo,
verificou-se a necessidade de estabelecer formulário único, de aplicação nacional, por
membros do Poder Judiciário, Ministério Público e demais autoridades que lidam com
questões de violência doméstica e familiar contra a mulher, sanando, desta forma,
eventuais conflitos existentes na utilização dos dois formulários.
Desta forma, foi instituído pela Resolução Conjunta n. 5, de 3 de março de
2020, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP), o Formulário Nacional de Avaliação de Risco para a prevenção e o
enfrentamento de crimes e demais atos praticados no contexto de violência doméstica
e familiar contra a mulher, no âmbito do Poder Judiciário e do Ministério Público.

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A Resolução Conjunta é voltada à convergência entre os dois formulários de


avaliação de risco – o do CNJ, regido pela Resolução nº 284/2019 e outro editado pelo
CNMP, o FRIDA.
De acordo com a resolução, é imprescindível a implantação de modelo único
do documento, ressaltando a necessidade de padronizar e de se disponibilizar,
nacionalmente, um formulário que possa auxiliar os membros do Ministério Público e
os juízes a identificarem o risco do cometimento de um ato de violência contra a mulher
no âmbito das relações domésticas e familiares, bem como sua gravidade, para a
eventual requerimento e imposição de medida protetiva de urgência e/ou cautelar.
O documento determina ainda que o Formulário Nacional de Avaliação de
Risco seja aplicado preferencialmente pela Polícia Civil no momento do registro da
ocorrência, ou pela equipe do Ministério Público ou do Poder Judiciário, por ocasião
do primeiro atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar.
O Formulário Nacional de Avaliação de Risco é composto de questões objetivas
(Parte I) e subjetivas (Parte II), e será aplicado por profissional capacitado, admitindo-
se, na sua ausência, o preenchimento pela própria vítima, no tocante às questões
objetivas.
De acordo com a resolução, o Formulário Nacional de Avaliação de Risco é um
novo instrumento da Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra
as Mulheres instituída pelo Conselho Nacional de Justiça e das políticas públicas
implementadas pelo Conselho Nacional do Ministério Público, tem como objetivo
identificar os fatores que indiquem o risco da mulher vir a sofrer qualquer forma de
violência no âmbito das relações domésticas e familiares, para subsidiar a atuação do
Ministério Público, do Poder Judiciário e dos demais órgãos da rede de proteção,
inclusive autoridades policiais, na gestão do risco identificado, devendo ser
preservado, em qualquer hipótese, o sigilo das informações.
É facultada a utilização do modelo de Formulário Nacional de Avaliação de
Risco por outras instituições, públicas ou privadas, que atuem na área da prevenção
e do enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher, inclusive o
Disque-Denúncia 180.

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2.4 Formulário Nacional de Avaliação de Risco Violência Doméstica e Familiar


Contra a Mulher

O Formulário Nacional de Avaliação de Risco é composto por duas partes. Na


Parte I, formada por questões objetivas, há quatro blocos. Deve ser preenchida,
preferencialmente, por profissional qualificado e, na ausência deste, pode ser feito
pela própria vítima.
O primeiro bloco do formulário é formado por um conjunto de perguntas que
visam montar um histórico de violência e aferir probabilidade de feminicídio.
São feitas perguntas como: o agressor fez ameaças anteriores com armas de
fogo? armas brancas ou de outras formas? o agressor praticou agressões como
sufocamento, enforcamento, queimadura, facada, tiro ou paulada; o agressor já
obrigou a vítima a ato sexual?
O segundo bloco de perguntas visa compor o perfil do agressor. Nessa parte
são feitos questionamentos como: o agressor faz uso abusivo de álcool e drogas; o
agressor possui doença mental comprovada?; o agressor fala em suicídio? O agressor
está desempregado ou em dificuldades financeiras?; o agressor tem acesso a armas
de fogo?
O terceiro bloco do formulário trata, por sua vez, da condição da vítima. Entre
as questões, a mulher responde se houve uma separação recente do companheiro.
O inconformismo com o término do relacionamento é um dos principais fatores de
risco para agressão, escalada de violência e feminicídio.
Também são feitas perguntas se a vítima tem filhos com o agressor ou de
relacionamentos anteriores. No caso de separação, é questionado se a vítima vive
situação de conflito com o ex-companheiro por questões da guarda dos filhos ou por
pensão alimentícia.
Também há perguntas sobre a ocorrência de violência durante o parto ou pós-
parto, tidas como indicadores de alto risco de feminicídio.
O quarto e último bloco da parte I é composto por questões que ajudam a
compor o quadro geral do problema. São feitos questionamentos como: a vítima é
dependente financeira do agressor?; a vítima aceita abrigo temporário?
A parte II é formada por questões subjetivas, que deve ser preenchido
obrigatoriamente pelo profissional responsável pelo atendimento. São perguntas que

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devem ser respondidas de forma descritiva e sucinta pelo(a) profissional destinadas a


avaliar as condições físicas e emocionais da mulher e condições objetivas para
prevenção do agravamento da violência em curto prazo.
O profissional responsável pelo atendimento deverá registrar informações
consideradas relevantes para a compreensão global da situação. O registro se fará a
partir de informações que já foram prestadas pela vítima acrescentadas aquelas sobre
suas condições físicas, emocionais e psicológicas. Ao final, um campo aberto permite
o registro de informações adicionais e que sejam consideradas relevantes para
entendimento da gravidade da situação e medidas que adicionalmente deverão ser
consideradas para a proteção da mulher.

2.5 Acolhimento da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar

O atendimento às mulheres em situação de violência doméstica e familiar é


pautado pelos princípios éticos de respeito à privacidade e intimidade, não
revitimização, confidencialidade das informações e o reconhecimento da importância
da palavra, da experiência e das condições que a mulher apresenta para reagir à
violência e mudar sua própria situação.
Assim, revitimização consiste nesse sofrimento continuado ou repetido da
vítima ao ter que relembrar esses fatos. Entende-se que é uma forma de “violência
institucional” cometida pelo Estado contra a vítima.
Para evitar a revitimização, o Poder Público deverá adotar providências a fim
de que a vítima não seja ouvida repetidas vezes sobre o mesmo tema. Além disso,
deve-se fazer com que o ambiente em que os depoimentos são prestados seja
acolhedor. Por fim, deve-se evitar perguntas que invadam a vida privada da vítima ou
que induzam à ideia de que ela teve “culpa” pelo fato, transformando a investigação
ou o processo em um “julgamento” sobre o comportamento da vítima.
A revitimização no atendimento às mulheres em situação de violência, por
vezes, tem sido associada à repetição do relato de violência para profissionais em
diferentes contextos o que pode gerar um processo de traumatização secundária na
medida em que, a cada relato, a vivência da violência é reeditada. Além da
revitimização decorrente do excesso de depoimentos, revitimizar também pode estar

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associado a atitudes e comportamentos, tais como: paternalizar; infantilizar;


culpabilizar; generalizar histórias individuais; reforçar a vitimização; envolver-se em
excesso; distanciar-se em excesso; não respeitar o tempo da mulher; transmitir falsas
expectativas. A prevenção da revitimização requer o atendimento humanizado e
integral, no qual a fala da mulher é valorizada e respeitada.
O/A profissional deve trazer a mulher ao centro das decisões como estratégia
de fortalecimento para a saída da situação de violência em que se encontra. A
experiência profissional é fundamental, mas a mulher é a principal especialista em seu
próprio caso e deverá ser escutada de forma atenta e respeitosa. Suas informações,
opiniões e necessidades deverão ser sempre levadas em consideração no
atendimento e na definição dos encaminhamentos.
Ao atender a mulher em situação de violência, o/a profissional deve sempre
pautar pelo respeito às diferenças. Cor, idade, orientação sexual, renda e outras
características sociodemográficas são também condições de vulnerabilidade para as
mulheres e podem, por um lado, torna-las mais expostas à violência e, por outro lado,
dificultar seu acesso aos serviços e ao atendimento de qualidade.
A atuação dos profissionais no atendimento e aplicação da avaliação de risco
deve ser pautada pelos princípios éticos e de respeito aos direitos humanos das
mulheres, devendo a intervenção profissional ter um enquadramento de Direitos
Humanos e ser feita numa abordagem de defesa dos direitos em todas as áreas.
O Princípio da Segurança deve ser respeitado, visto que a segurança das
vítimas, e de possíveis vítimas colaterais, incluindo os/as filhos/as e outras pessoas
dos seus círculos familiares e sociais, bem como a segurança dos/as profissionais que
as apoiam é prioritária.
A intervenção dos/as profissionais deve ser centrada na perspectiva das
vítimas, com respeito e empatia pela suas experiências, histórias de vida, contexto
cultural e diversidade. Os/as profissionais devem promover o fortalecimento individual
das vítimas e estar conscientes que são elas as agentes da sua própria mudança.
O Princípio de Cooperação deve ser observado, uma vez que os serviços
devem intervir articulados e em rede, num contexto de cooperação interinstitucional.
As entidades devem ter mecanismos para regularmente avaliar, monitorizar,
aperfeiçoar e atualizar os serviços que prestam às vítimas de violência doméstica.
O/a profissional responsável pelo atendimento deve sempre:

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• Acolher as mulheres em situação de violência com atendimento


humanizado, levando sempre em consideração a palavra da mulher, em ambiente
adequado, com sala reservada, para manter a privacidade da mulher e do seu
depoimento;
• Atender, sem qualquer forma de preconceito ou discriminação, as
mulheres, independentemente de sua orientação sexual, incluindo também as
mulheres trans e profissionais do sexo, quando vítimas de violência de gênero;
• O atendimento inicial e o acolhimento devem ser feitos por uma equipe
de profissionais qualificados profissionalmente, preferencialmente do sexo feminino,
conforme art. 10-A, caput, da Lei 11.340/200, com compreensão do fenômeno da
violência de gênero;
• Ter escuta qualificada, sigilosa e não julgadora.

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REFERÊNCIAS

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REPRODUÇÃO PROIBIDA.
Todos os direitos reservados à Polícia Civil de Minas Gerais.

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