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Para contornar algumas dessas questões que não tinham explicação científica, o
físico alemão Max Planck (1858-1947) encontrou um artifício matemático que não
aparentava fazer muito sentido no mundo real, mas resolvia alguns problemas da
física.
Planck propôs que a energia presente na luz não poderia ser emitida (ou absorvida
por outros corpos) de maneira contínua, mas sim na forma de “pacotes” com
quantidade fixa. Como assim?
Imagine que você quer encher um copo com água. Se a água estiver líquida você pode
encher o copo de forma contínua, ou seja, pode colocar qualquer quantidade: 10 mL,
5 mL, 2,5 mL, até mesmo 0,37 mL. Sempre haverá um valor intermediário de água que
você pode colocar no copo. Mas e se essa água estivesse na forma de cubos de gelo?
Você poderia colocar 1 cubo gelo no copo, ou 2, ou 3, ou 4. Mas não poderia colocar
valores intermediários. Nesse caso, a água existe e é transferida na forma de
pacotes com quantidades fixas.
Esse “pacote”, que carrega a menor quantidade de energia possível para uma
determinada luz, recebe o nome de quantum de luz, ou de fóton. E, por meio de uma
equação muito simples, denominada ‘relação de Planck-Einstein’, demonstrou-se que a
energia contida em cada um desses fótons dependia exclusivamente da frequência da
luz (ou seja, da sua cor).
Essa tese de que a energia é quantizada (ou seja, existe em quantidades fixas e
específicas) foi extremamente revolucionária. Ela violava áreas da física muito bem
consolidadas e, por isso, muitos foram os físicos que se opuseram a ela.
Com o passar do tempo, essa nova física – que já podemos passar a chamar de física
quântica” – mostrou-se bastante sólida. A concordância entre as equações
matemáticas e os resultados experimentais era tão grande, que ela se mostrou uma
das teorias mais bem-sucedidas da física. Hoje, nenhum físico questiona a validade
da mecânica quântica e a sua enorme importância para a ciência.
O mundo quântico
Neste mundo macroscópico que conhecemos, todos os movimentos podem ser muito bem
descritos e previstos por equações matemáticas da física clássica, em especial pela
2ª lei de Newton. Se eu sei as condições iniciais de um sistema, eu sei como ele
vai evoluir no tempo.
Quando vamos para a escala quântica (ou seja, quando lidamos com objetos do tamanho
de átomos, elétrons, prótons), essas equações clássicas não fazem mais sentido,
elas simplesmente deixam de funcionar. O movimento de um elétron é completamente
diferente do movimento da queda de um objeto, ou de um planeta em torno do Sol. Por
isso, é impossível prever o comportamento de um elétron usando a “matemática das
coisas grandes”, ou seja, usando a física clássica. A matemática que descreve os
movimentos nessa escala subatômica é a famosa equação de Schrödinger, que foi
elaborada pelo físico austríaco Erwin Schrödinger.
E para tornar as coisas ainda mais estranhas, sabe o que acontece quando tentamos
observar o átomo através de algum experimento específico (que o faça interagir com
outros objetos macroscópicos)? Todos esses estados sobrepostos se colapsam em um
único estado e o elétron se torna ‘localizável’.
Toda vez que nós tentamos observar um fenômeno quântico, através de experimentos,
essa sobreposição de estados simplesmente não acontece. Portanto, é impossível ver
ou detectar essa sobreposição.
Por mais estranha que seja essa ideia da sobreposição (e por mais que ela seja
impossível de ser observada), a sobreposição de estados de um sistema quântico faz
todo sentido matemático. Mais do que isso, ela é um postulado fundamental para que
toda a teoria quântica funcione.
Se o seu computador, o seu celular, até o seu pendrive funcionam perfeitamente bem,
é graças à mecânica quântica. Sim, até o seu pendrive tem mecânica quântica e você
pode ler mais sobre isso em meu texto sobre atravessar paredes, neste mesmo blog.
A mecânica quântica é uma teoria extremamente bem sucedida, o que significa que o
seu formalismo matemático é perfeitamente concordante com os resultados
experimentais. O grande desafio da mecânica quântica está no domínio da
interpretação das equações. O que elas significam exatamente? O que significa essa
sobreposição de estados? Como é essa sobreposição visualmente? Por que isso
acontece com o elétron? O que exatamente faz esses estados colapsarem?
Em um texto futuro, irei falar sobre O QUE NÃO É física quântica, quais são os
principais argumentos dos charlatões quânticos, quais são os pontos da mecânica
quântica essas pessoas se apropriam e deturpam afim de enganar os outros.