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O Casal Perfeito

Wanted: Perfect Partner

Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1

Meg e sua filha começaram um diálogo: "Mamãe, talvez esta seja uma boa
oportunidade de lhe falar a respeito de Steve." A mãe indagou: "Quem?" A garota
completou rapidamente: "Steve, seu acompanhante para o jantar desta noite. Eu o
conheci através de um anúncio que publiquei, em seu nome, na seção de correio
amoroso do jornal".
Ante a expressão enigmática da mãe, achou por bem acrescentar: "Gostaria de ver a
fotografia dele? É um gato! Mamãe, há algo errado? Vamos! Precisa estar no restaurante
em uma hora. Comprei este vestido para você usar. Não acha que ficará lindo?"

Disponibilização: Analice
Digitalização: Simoninha
Revisão: Cynthia
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1

Querida leitora,

Escolhi duas histórias mais do que especiais para você. Leves, agradáveis, repletas de
romance e cenas cômicas. Você vai passar horas muito especiais.

Janice Florido - Editora Executiva

O CASAL PERFEITO
ROMANCES NOVA CULTURAL
COPYRIGHT © 1995 BY DEBBIE MACOMBER

ORIGINALMENTE PUBLICADO EM 1995 PELA SILHOUETTE BOOKS,


DIVISÃO DA HARLEQUIN ENTERPRISES LIMITED.

TÍTULO ORIGINAL: WANTED: PERFECT PARTNER


TRADUÇÕES: MARIA CECÍLIA ZANLORENZI

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS, INCLUSIVE O DIREITO DE REPRODUÇÃO TOTAL


OU PARCIAL, SOB QUALQUER FORMA.
ESTA EDIÇÃO É PUBLICADA ATRAVÉS DE CONTRATO COM A
HARLEQUIN ENTERPRISES LIMITED, TORONTO, CANADÁ.

SILHOUETTE, SILHOUETTE DESIRE E COLOFÃO SÃO MARCAS


REGISTRADAS DA HARLEQUIN ENTERPRISES B.V.
TODOS OS PERSONAGENS DESTA OBRA SÃO FICTÍCIOS.
QUALQUER SEMELHANÇA COM PESSOAS VIVAS OU MORTAS
TERÁ SIDO MERA COINCIDÊNCIA.

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.


RUA PAES LEME, 524 – 10º ANDAR CEP: 05424-010 - SÃO PAULO - BRASIL

COPYRIGHT PARA A LÍNGUA PORTUGUESA: 1998


EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

FOTOCOMPOSIÇÃO: EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.


IMPRESSÃO E ACABAMENTO: GRÁFICA CÍRCULO

Não sou uma aventureira, mas uma mamãe divorciada!

Apenas gostaria que minha filha adolescente pusesse isso em sua cabecinha
romântica. Ela já me fez entrar em dieta e em seguida me deu um vestido sensual para
sair com um homem que eu nem conhecia!
E sabem como ela entrou em contato com este sujeito? Através de um anúncio
publicado em jornal. Por ela. Em meu nome. Cá entre nós, sempre achei ser este um
recurso de pessoas desesperadas. Ou loucas.
Mesmo assim, vi-me jantando em um restaurante sofisticado e romântico com Steve
Conlan. Um homem alto, moreno e muito atraente.
Não que eu esteja interessada, é claro. Steve inclusive me ajudará a domar a
impetuosidade de minha filha. Sim, hoje vamos começar a planejar nossa revanche.
Assim que conseguirmos desgrudar os olhos um do outro...

Projeto Revisoras 2
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1

PRÓLOGO

— Nosso anúncio está aí? — perguntou Lindsey Remington a Brenda, sua melhor amiga.
Olhou, nervosa, para a porta do quarto e prendeu a respiração. Tinha medo de que a
mãe as encontrasse vasculhando a seção de correio sentimental do jornal e descobrisse o
que haviam feito.
Era uma deslealdade escrever uma mensagem em nome dela, mas precisava ajudá-la
a encontrar um marido. A tarefa era árdua e exigia cuidados especiais.
— Aqui! — a amiga apontou, excitada, para o meio de uma página. — Está mesmo aqui.
Exatamente do jeito que escrevemos.

Procura-se: parceiro ideal


Pareço uma linda rainha, cozinho como uma boa mamãe, beijo como uma mulher
apaixonada. Tímida divorciada procura homem com intenções de casamento. Caixa Postal
1234.

— Será que alguém vai responder?


— Aposto que receberemos milhares de cartas.
— Ainda acho que deveríamos ter escrito que os beijos dela eram mais gostosos do que
chocolate.
— Teria ficado esquisito. E pouco apropriado. Lembra-se? As duas tinham trabalhado
duro em cada palavra. Lindsey insistira em descrever a mãe como estonteante, mas Brenda
ficara com receio de que isso descumprisse as normas dos anúncios. Deviam falar a mais
absoluta verdade.
Meg Remington, embora não fosse miss universo, era muito bonita. Ou poderia vir a ser.
Bastava contar com a ajuda de pessoas que entendessem de moda e de cuidados com o
corpo. Como as duas amigas, a propósito.
— Não se preocupe, Lindy — Brenda falou com olhar romântico. — Esta foi a melhor
coisa que você poderia ter feito por sua mãe.
— Apenas lembre-se de que o homem terá de ser perfeito.
— Sem problemas. Se não gostarmos de um, partiremos para o seguinte — disse
Brenda, como se fossem aparecer toneladas de pretendentes. — Esta é a beleza de nosso
plano. Vamos avaliar todos antes que sua mãe tenha chance de namorá-los. Quantos
adolescentes tiveram a oportunidade de escolher os próprios padrastos? Poucos, suponho.
Lindsey voltou a atenção ao jornal e mordeu o lábio inferior. Experimentava uma
sensação de euforia misturada com culpa. Sua mãe não ia gostar dessa história. Quando
soubesse...
Mas, quanto ao anúncio, sentia-se muito orgulhosa de seu feito. Se fosse um homem
dado a ler esses assuntos, iria ficar intrigado. E curioso.
— Alguns vão escrever simplesmente porque sua mãe é linda, mas o fato de ser boa
cozinheira será o grande atrativo — Brenda assegurou. — Vovó diz que vovô se casou com
ela por causa de sua insuperável salada alemã de batatas. Pode acreditar? — Parou para
tomar ar e algo importante lhe ocorreu: — Como saberemos se um homem se casará com
ela por causa da aparência ou da maravilhosa carne assada?
Lindsey desejou conhecer melhor o sexo oposto. Mas infelizmente tivera apenas dois
namoricos. Em ambos os casos, a mãe fora uma acompanhante incansável. Por isso, nada
de importante acontecera.
— Chegará o dia em que mamãe nos agradecerá pelo sacrifício que estamos fazendo
por ela. Afinal, sempre me disse que devemos lutar por nossos sonhos. Bem, ela precisa
de um marido. Só que ainda não sabe disso.

Projeto Revisoras 3
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1

CAPITULO I

Meg Remington deu uma espiadela no quarto da filha de quinze anos. Viu Lindsey e sua
melhor amiga, Brenda, ajoelhadas ao lado da cama, aos sussurros.
Meg tossiu de leve e imediatamente as duas se aprumaram.
— Oi, mamãe — Lindsey falou, os brilhantes olhos azuis com um traço diferente.
Meg conhecia esse olhar. Sabia que significava encrencas.
— O que estão fazendo?
— Nada.
— Nada — repetiu Brenda com angélica inocência.
Meg cruzou os braços e se apoiou no batente da porta. Tinha todo o tempo do mundo e
queria que as duas soubessem disso.
— Diga-me por que não acredito nisso, filha. Você está com aquele olhar.
— Aquele olhar?
— Sim. Aquele que toda mãe reconhece. Está tramando algo e desejo saber o que é.
Entrelaçou os calcanhares para deixar claro que ficaria ali até que estivessem prontas a
lhe revelar o que faziam.
— Está bem, então — Lindsey deu-se por vencida. Brenda lhe deu um dolorido pisão
no pé.
— Só que ainda não terminamos de planejar tudo.
— Não tem importância. Quero saber o que é. Fascinava-a perceber como a filha
tornava-se cada dia mais bonita. Da desajeitada e magrela menina, transformara-se em
uma linda princesa quase da noite para o dia. O ex-marido de Meg, Dave, comentara as
mudanças quando ela o visitara em Los Angeles.
— Estamos trabalhando arduamente em um plano — Brenda explicou. — O assunto
exige um bocado de empenho e envolvimento.
— E exatamente o que as tem deixado tão ocupadas? Mal as tenho visto fora deste
quarto.
Quando Brenda passava a noite na casa delas, e isso acontecia pelo menos uma vez
por semana, as duas ficavam o tempo todo ouvindo música, vendo televisão ou assistindo
a filmes alugados.
Mas a residência havia estado estranhamente quieta durante toda a noite. As garotas
estavam há muito tempo no quarto. Tempo demais. Na certa inventavam alguma novidade
e era hora de descobrir exatamente o quê.
— Você fala — disse Brenda. — Ela é sua mãe.
— Eu sei, mas será um pouco mais fácil se vier da sua boca.
— Lindsey? — Meg a repreendeu, mais curiosa do que nunca.
— E melhor se sentar, mamãe.
Lindsey a pegou pela mão e a conduziu até a cama. Meg sentou-se e as duas ficaram
paradas à sua frente, cada qual parecendo aguardar que a outra falasse.
— Você é uma mulher muito atraente — Lindsey começou. Meg franziu a testa. Era
melhor forçar a filha a ir direto ao assunto.
— Precisa de dinheiro? Quanto e para quê?
— Não preciso de dinheiro algum. Eu apenas disse que você é bonita.
— É verdade — palpitou Brenda. — E só tem trinta e quatro anos.
— E mesmo?
Meg precisava pensar melhor a esse respeito. Sua idade não podia ser exposta com
tanta falta de cerimônia.
— Sim, acho que tenho.
— Está no auge da sua vida.
Projeto Revisoras 4
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1

— Eu não iria tão longe.


— Já foi, Sra. Remington — Brenda a interrompeu. — É jovem, bonita e solteira.
— Já fui?
Meg começava a se sentir como um papagaio, a repetir tudo o que lhe diziam.
—: Está em boa forma, também — Lindsey complementou, erguendo-lhe o queixo com
uma das mãos.
Meg precisava confessar que já começava a ficar lisonjeada com tantos elogios. Fora
realmente abençoada por ter uma filha que a admirava tanto.
— É claro que ficaria ainda mais bela se perdesse uns três quilos.
Três quilos. E ela, que sempre se orgulhara de ter mantido o peso desde a
adolescência...
— Não é muito difícil perder três quilos — Brenda acrescentou, confiante.
— Será fácil, principalmente se nós duas a ajudarmos. Meg encarou as faces ansiosas.
— Por que é tão fundamental assim que eu perca peso? A propósito, gosto da minha
aparência do jeito que está.
— Há outras coisas em jogo.
— Como assim? O que quer dizer?
— Precisa estar fisicamente perfeita. Pense nisso, mamãe. Quando foi a última vez que
praticou exercícios?
Meg não precisou pensar muito, sabia a resposta de cor:
— Nunca.
Não gostava de fazer ginástica. Participara do time da escola quando no colegial, mas
apenas porque era obrigada. As notas de educação física sempre foram as mais baixas de
seu boletim.
— Certo — Lindsey murmurou, olhando para a amiga.
— Vamos auxiliá-la — Brenda falou. — Mas teremos de iniciar logo,
— E sobre suas roupas, mamãe...
— Minhas roupas? — Meg gritou, ainda tentando compreender por que a filha queria que
passasse a praticar exercícios físicos.
Era dona de uma livraria há oito anos. Desde que a comprara do Sr. Olsen, nem uma só
vez fora convidada a visitar uma academia.
— Quero saber o que está acontecendo — exigiu.
Tinha esse direito. Cada vez que as adolescentes abriam a boca, deixavam-na mais
confusa.
— Prometo que responderemos às suas perguntas em um minuto — jurou Brenda. —
Por favor, seja paciente.
— Mamãe, não quero ser rude, mas precisa de auxílio para se vestir melhor.
— Auxílio?
E pensar que se arrumava desde os seis anos segundo sua própria opinião! Ninguém se
importara em lhe dizer, até aquele momento, que efeito desastroso vinha causando.
— Estou aqui para aconselhá-la a nunca mais usar blusas de poliéster.
— Então vocês são membros oficiais da polícia da moda?
— As duas baixaram as cabeças, envergonhadas. — E assim que parece — Meg
reafirmou.
— Apenas queremos contribuir para ressaltar sua beleza
— Brenda falou em tom amoroso.
— E impedir que cometa gafes. Meg devia ter adivinhado.
— As senhoritas podem ser mais objetivas? Qual o motivo desta conversa?
— Você, mamãe — Lindsey disse, a voz sugerindo que a resposta lhe deveria ser óbvia.
— Mas por que agora? E por que eu?
— Por que não?
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Meg tentou se levantar da cama, mas foi impedida pela filha.


— Ainda não terminamos. Nem chegamos à melhor parte.
— Minhas queridas, aprecio o que estão fazendo, mas...
— Sente-se, mamãe. Ainda não lhe contei o mais importante. — Quer dizer que há mais?
— Nós estabelecemos que você é relativamente jovem — disse Brenda.
Lindsey sorriu docemente, o tipo de sorriso que uma aranha dá a um inseto para que se
prenda em sua teia.
— Poderia ter mais filhos, se quisesse...
— Espere um momento! — vociferou Meg.
— O que estamos querendo dizer é que você é jovem e atraente.
— Ou poderia vir a ser — Meg emendou. — Com uma certa assistência de vocês.
— Nem tanta assim — Brenda acrescentou com simpatia.
— Apenas vamos colocá-la no caminho correto.
— Sei, sei...
— Juntas — Lindsey declarou, pondo um braço ao redor da companheira —, nós vamos
lhe encontrar um marido!
— Um marido?
O pé de Meg ficou preso na barra da colcha e ela se estatelou no carpete. As meninas
se abaixaram, cada qual agarrando-lhe um braço.
— Você está bem? — Lindsey perguntou, preocupada.
— Você devia ter sido mais sutil — repreendeu-a Brenda. — Não havia necessidade de
revelar nossa intenção daquela maneira.
— O que as faz pensar que quero um marido?
Ela já enfrentara um casamento e não gostaria de repetir a má experiência.
— Qual foi a última vez que teve um encontro amoroso? As garotas poderiam se tornar
membros de uma seita religiosa se continuassem por esse caminho, decidiu Meg, aturdida.
— Não me lembro. Que relevância isto tem, afinal?
— Mamãe, está muito claro, para mim, que você não pensa no futuro.
— Futuro?
— Por acaso deu-se conta de que em três curtos anos eu estarei estudando fora da
cidade?
— Três anos... Não, tenho de confessar que ainda não pensei muito a respeito.
Nesse momento, a idéia de tê-la longe por alguns anos lhe pareceu até bem-vinda.
— Você ficará sozinha.
— Mas é bom estar só — Meg garantiu.
— Aos trinta e sete anos, sim — a filha dramatizou. — Mas vou ficar louca de
preocupação.
— Com certeza — apoiou Brenda, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça.
Ainda bem que Meg havia se sentado novamente. Já não tinha certeza sobre se suas
pernas a sustentariam direito.
— Além disso, que mal um novo namoro poderia lhe causar?
— Meu amor, nunca lhe ocorreu que eu pudesse estar feliz com minha vida exatamente
como está?
— Não — foi a resposta categórica da filha. — Não está feliz. Apenas tranqüila ao ver a
vida passar diante de seus olhos. E hora de parar de sonhar e começar a agir. Não sei o
que houve de errado entre você e papai. Eu era muito nova para entender o que estava
acontecendo quando decidiram se divorciar. Mas, qualquer que tenha sido a razão, é
evidente que se tornou um trauma. Ao que me consta, você não teve outro relacionamento
desde então.
— Foi um divórcio amigável.
De fato, Meg dava-se melhor agora com Dave do que na época de casados.
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Brenda achou que já era hora de opinar:


— Essa coisa de divórcio amigável não existe. Meu pai é procurador e sempre diz isso.
— Não quero conversar sobre divórcio. Foi há muito tempo, e trazer o assunto à baila
não será de nenhuma serventia.
— Poderá ser útil, sim — Lindsey insistiu, com uma seriedade impressionante. — Posso
entender sua relutância. — Um sorriso lindo iluminou a jovem. — Brenda e eu faremos de
tudo para que se saia bem desta vez.
— Era justamente o que eu temia — Meg murmurou e se levantou, caminhando em
direção à porta.
— Sua dieta começa amanhã de manhã — Lindsey a avisou.
— E os exercícios também — Brenda acrescentou. — Nem precisa se preocupar, Sra.
Remington. Vamos lhe arrumar um marido antes do que imagina.
Meg fechou os olhos. Se era tão jovem aos trinta e quatro anos, por que não encontrava
energia para desafiar as duas adolescentes? Não faria nem regime nem ginástica, e
assunto encerrado.
E quanto à filha inspecionar seu guarda-roupa... não fazia o menor sentido. Diria tudo
isso às meninas e pediria que fossem amolar outra pessoa.
Meg logo percebeu quanto as garotas levavam a sério a missão de lhe encontrar um
marido. Acordou no sábado de manhã ao som de música para ginástica aeróbica. Era uma
fita de vídeo com instruções para os exercícios, e o volume estava no máximo.
Seu rosto se afundou sob as cobertas e uma das mãos pendeu ao lado da cama, os
dedos tocando o tapete.
— Está pronta, Sra. Remington? — Brenda perguntou à porta do quarto. — Meg tentou
ignorá-la, mas não funcionou. — Está pronta? — Pelos sons que a garota fazia, ela parecia
estar correndo sem sair do lugar. — Não precisa se preocupar, vamos começar aos poucos.
— Não farei nada antes de falar com meu advogado — Meg balbuciou.
A mão livre buscou cegamente o telefone.
— Uma graça, mamãe, mas não vai funcionar.
Oh, não! Lindsey viera ao quarto para apoiar a amiga. Trazia uma xícara nas mãos.
— Obrigada, querida — disse Meg, achando que fosse café. Sentou-se preguiçosamente
e só então percebeu seu engano. — O que é isto?
— Um suplemento de proteínas. A senhora da loja de produtos naturais o recomendou
para tonificar a pele de mulheres com mais de trinta anos.
— Tem certeza de que isso é para beber? Lindsey e Brenda entreolharam-se, em
dúvida.
— É melhor eu checar a bula novamente, mamãe.
— Não se preocupe, Sra. Remington, vamos deixá-la em forma num piscar de olhos.
— Café! — implorou ela.
Nada fazia antes de ser fortificada com uma xícara de café.
— Poderá tomá-lo — Brenda prometeu —, mas antes... Meg nem se deu o trabalho de
ouvir o restante. Voltou a
deslizar para debaixo das cobertas e protegeu a cabeça com um travesseiro. Embora o
recurso bloqueasse um pouco o som, ainda era possível ouvir o matraquear das meninas.
Elas não aceitavam uma recusa complacentemente. Travavam uma acirrada discussão
sobre os prós e os contras de permitir que Meg tomasse café.
A conversa já esbarrava no incômodo tópico do divórcio. Brenda mostrou-se mais do que
convicta de que havia sérios problemas psicológicos a impedir Meg de manter outro
relacionamento.
Sob o travesseiro, ela sabia que um grito mais enérgico as expulsaria do quarto. Mas
estava curiosa para ouvir o que tinham a dizer.
Seu divórcio não havia sido dos piores. Ela e Dave tinham cometido o erro de casar
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jovens demais. Meg mal completara dezenove anos quando Lindsey nasceu, e o marido
acabara de deixar o colégio. Durante os cinco anos de casamento, não houve brigas graves
ou desentendimentos recheados de amargura. Ainda era difícil concluir se a harmonia
facilitara ou não as coisas.
Quando Lindsey tinha quatro anos, Dave anunciou que não a amava mais. Queria o
divórcio. Ela não devia ter ficado surpresa, mas ficou... e sofreu. Sabia, mesmo sem
perguntar, que o marido havia encontrado outra pessoa.
Conclusão correta.
Meg passou muito tempo procurando se convencer de que a falência de seu casamento
não importava. Separaram-se de maneira amigável. Pelo bem da filha, preservavam ao
máximo o contato cortês.
Dave a machucara profundamente, mas Meg negou essa dor durante anos. Conseguiu
direcionar sua energia para assuntos positivos. Agora, estava feliz com a vida que levava.
Organizara seu cotidiano entre o trabalho na livraria e os cuidados para com a filha.
Sobrava-lhe pouco tempo para novos relacionamentos.
Tivera uma série de oportunidades de voltar a se envolver emocionalmente, nos anos
imediatamente seguintes ao rompimento. Não o fez. Naquela época, simplesmente não
estivera interessada, e com o passar dos anos foi parando de pensar nisso.
— Mamãe, poderia sair dessa cama? — ouviu a ordem da filha. E então, em tom de
provocação: — Eu trouxe café.
— Já me enganou antes.
— Dessa vez é verdade. Quanto ao que lhe ofereci antes, peço desculpas. Acho que
entendi errado o que a senhora da loja de produtos naturais falou. Você estava certa. De
acordo com as instruções da embalagem, deve-se usá-lo no banho.
Meg percebeu já não haver sentido em ficar escondida sob o travesseiro.
— Há alguma maneira de eu comprar a liberdade?
— Não.
— Vai se sentir bem melhor após os exercícios — Brenda prometeu. — Pode acreditar.
Meg tirou outra conclusão, porém. Uma hora mais tarde, não conseguia se mover sem
que alguma parte de seu corpo reclamasse.
Escorregou para a cozinha e despencou sobre uma cadeira. Quem diria que um simples
vídeo com aula de ginástica seguida de uma leve corrida fosse reduzi-la a isso?
— Já planejei todas as suas refeições — Lindsey a informou. Depois, abriu o refrigerador
e de lá tirou um sanduíche.
Estendeu-o para a mãe inspecionar.
— Este é seu almoço.
Meg perguntaria qual o conteúdo nutricional do lanche se tivesse fôlego para tanto. Tudo
o que podia observar era uma esquálida fatia de queijo branco e um punhado de sementes
de uva. Secas.
— Não comeu nada além do iogurte desnatado no café da manhã, não é?
Fraca como estava, ela só conseguiu acenar com a cabeça para dizer que sim.
— Vai lhe contar sobre o jantar? — Brenda lembrou.
— E mesmo. Ouça, mamãe, tem se saído muito bem e gostaríamos de recompensá-la.
Hoje à noite poderá comer uma batata assada no jantar.
Ela fez menção de sorrir. Imagens de manteiga e requeijão com bacon enfeitaram sua
mente.
— Com peixe-espada grelhado.
— Gosta de peixe, não é?
Meg aquiesceu. A essa altura dos acontecimentos, concordaria com qualquer coisa para
afastar as garotas da cozinha e preparar um café da manhã decente.
— Brenda e eu iremos fazer compras — Lindsey anunciou, como se isso fosse muito
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relevante. — Vamos escolher seu novo guarda-roupa.


— É uma loucura — Meg disse a sua melhor amiga, Lois Harris, naquela mesma tarde.
As duas estavam tirando livros de algumas caixas, na sala dos fundos da livraria. — Lindsey
anunciou que quer que eu me case novamente!
— Jura?
— Mas antes deseja que eu perca três quilos e corra alguns quilômetros todas as
manhãs.
— Então isso explica tudo — murmurou Lois, desmontando mais uma caixa.
— Tudo o quê?
— Lindsey veio à loja há cerca de duas semanas, procurando por um livro sobre valor
calórico dos alimentos.
— Ela já determinou a quantidade diária de calorias que devo ingerir.
— Espero que Lindsey não descubra o tamanho do sanduíche que pediu para o almoço.
— Não pude evitar. Há anos não me sentia tão faminta. Acho que ninguém se lembrou
de falar às duas terroristas que um dos resultados dos exercícios aeróbicos é o aumento
brutal do apetite.
— E aquele telefonema, agora há pouco?
— Lindsey queria o número do meu cartão de crédito para comprar um vestido preto
deslumbrante. — Meg ainda não acreditava. A filha descrevera com riqueza de detalhes a
roupa, atendo-se nas aberturas laterais, que revelavam as pernas de modo sensual e
chique. — Disse que era uma liquidação. Algo imperdível.
— O que Lindsey planeja fazer com um vestido preto como esse?
— Quer comprá-lo para mim.
— Para você?
— Suponho que quando eu couber decentemente dentro da roupa elas pretendam me
produzir e me acompanhar pela cidade.
Lois riu.
— Ah, é?
— Começo a achar que você não é tão boa amiga quanto pensei. Eu esperava
compreensão e conselhos, não uma gargalhada.
— Sinto muito, Meg. De verdade.
— Sabe qual é seu problema, não é?
— Sim —- Lois apressou-se em responder. — Sou casada e com filhos no colegial. Não
dou atenção a essas bobagens, mas você dá. Aguarde, querida, até que Lindsey tire
carteira de motorista. Aí você conhecerá o medo.
— Um desastre de cada vez, por favor. — Meg ficou amuada e pegou uma xícara de
café. — Admito que estou bastante preocupada.
— É mesmo? Ora, trata-se apenas de um estágio por que sua filha está passando. Confie
em mim, logo ela mudará seu foco de interesse.
— Lindsey está atormentada porque ficarei sozinha quando ela for estudar fora. Fez
questão de me lembrar que faltam três curtos anos para isso acontecer.
— E você ficará só?
Meg teve de pensar um pouco antes de responder.
— Não sei. Acho que, sob certos aspectos, sim.
As duas semanas que a garota passava com o pai, todos os anos, eram intermináveis.
Caminhar pela sala vazia era uma rotina terrível, tinha de assumir.
— Por que não se envolver em um novo relacionamento amoroso?
— Com quem? Não conheço nenhum homem solteiro.
— Claro que conhece! — Lois rebateu. — Há Ed, o vendedor de seguros que mora a
duas casas da livraria.
— E solteiro?
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Meg gostava dele. Era uma pessoa decente, mas nunca o avaliara como candidato a
namorado. Francamente, não achava que formassem um casal interessante.
— O fato de você nem saber que Ed é solteiro diz muito. Tem de manter olhos e ouvidos
atentos.
— Quem mais?
— Buck é divorciado.
Buck era freguês habitual da loja, e Lois achava um absurdo Meg nunca tê-lo notado.
— Eu não namoraria Buck.
— Não disse que tem de ter algo com ele, apenas comentei que trata-se de um solteiro
disponível.
Meg não se imaginava beijando esse sujeito.
— Mais alguém?
—Há dúzias de homens lá fora.
— E eu sou cega?
— Sim. Se quer saber a verdade, acho boa a idéia de Lindsey. Talvez ela esteja
conduzindo os fatos de um jeito equivocado, mas é um belo sinal para que você volte a ter
uma grande paixão. Poderá se surpreender com o resultado.
Meg não acreditava no que estava ouvindo. Esperara que sua melhor amiga a apoiasse,
mas Lois se postara ao lado da filha!
No final do dia, após ter fechado a livraria e rumado para casa, ela se sentia exausta.
Passou a duvidar das matérias das revistas que diziam que exercícios físicos davam mais
energia.
— Lindsey! Está em casa?
— No meu quarto! — gritou ela, do andar de cima.
Um pressentimento impeliu Meg para os aposentos da filha. Bateu na porta uma vez e
entrou. Lá estavam as duas sobre a cama, remexendo uma pilha de cartas. Fizeram
menção de escondê-las, e então desistiram.
— Mamãe? — disse Lindsey, os olhos arregalados. — Oi.
— Olá.
— Olá, Sra. Remington — Brenda cumprimentou, parecendo tão culpada quanto a
amiga.
Meg viu o vestido preto pendurado em um puxador do guarda-roupa. Era provavelmente
o mais insinuante que já vira.
— Como comprou o vestido? — indagou, furiosa por a filha ter ido contra sua
determinação e pensando na solução armada para viabilizar a compra.
As garotas se entreolharam e pareceram incapazes de encará-la.
— A mãe de Brenda autorizou o débito no cartão de crédito dela — Lindsey disse por
fim.
— O quê?
— Foi apenas uma mentirinha — Brenda comentou rapidamente. — Disse a mamãe
que era perfeito, estava em liquidação e era uma oferta imperdível. Só não lhe contei que
o vestido não era para mim.
— Nós três vamos sair imediatamente e fazer uma visita aos pais de Brenda.
— Mamãe! — Lindsey voou da cama. — Espere, por favor.
— Havia pânico nos lindos olhos azuis. — Sei que agimos de maneira errada, mas você
não concordou em comprar o vestido e ficamos sem alternativa. Você não tem nada
apropriado para ir ao Chez Michelle.
Chez Michelle era um dos mais finos restaurantes de Seattle, com reputação de
excelência em cozinha francesa. Meg não o conhecia, mas Lois e o marido comemoraram
bodas de prata lá. Comentaram as maravilhas do ambiente e da comida durante semanas.
— O que você acabou de falar não faz o menor sentido.
Projeto Revisoras 10
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
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— Eu sei.
Lindsey mordeu o lábio inferior.
— Tem de dizer a ela — Brenda sugeriu.
— Dizer-me o quê?
— Foi você quem escreveu a última carta — Lindsey acusou.
— Devia pelo menos ter colocado as datas de modo correto.
— É hoje à noite.
— Eu sei.
— Por acaso alguém poderia fazer a gentileza de me contar o que está acontecendo?
— Meg pediu, já no limite de sua paciência.
— Precisa deste vestido, mamãe — Lindsey falou.
— E por quê?
— Tem um jantar para ir.
— Tenho? E com quem vou sair?
Ela pressentiu que isso tinha algo a ver com o restaurante Chez Michelle.
— Com Steve Conlan.
— Steve Conlan?
Meg repetiu mentalmente o nome, para descobrir se lhe era ao menos remotamente
familiar, mas de nada se lembrou.
— Você não o conhece — informou Lindsey. — Mas ele é muito legal. Brenda e eu o
achamos bastante interessante.
— Vocês sabem quem ele é?
Meg não gostava do rumo que a conversa tomava.
— Na verdade, não. Temos nos correspondido há cerca de um mês, e ele parece muito
especial.
A última parte foi dita com entusiasmo forçado.
— Esteve se correspondendo com um estranho?
— Não é um estranho, mamãe. Parece até já fazer parte da família.
— E ele quer se encontrar com você — provocou Brenda.
— Comigo? E por quê? — Mais uma vez as meninas trocaram olhares. Mau sinal. —
Lindsey, por que esse homem quer se encontrar comigo?
A filha baixou a cabeça, recusando-se a enfrentar o olhar materno.
— Porque quando nos correspondemos com Steve...
— Sim? — Meg pressionou.
— ...Brenda e eu dissemos que éramos você.

CAPITULO II

Steve Conlan olhou para o relógio e verificou se sua aparência continuava impecável.
Os ponteiros mal haviam se mexido desde o último mirar no espelho. A noite que se iniciava
seria daquelas! Os minutos se arrastariam em interminável martírio.
Já descobrira o motivo de ter se embrenhado em tamanha confusão. Estava pensando
no negócio que administrava e então... Nem queria pensar nisso, porque cada vez que o
fazia sua pressão ia às alturas.
Só tinha uma certeza: Nancy pagaria por isso.
Estava adiantado e isso não se devia às habituais razões que faziam um homem chegar
antes a um jantar. Queria que essa noite se encerrasse o mais brevemente possível.
Tentou não olhar para o relógio novamente, mas falhou. Passara-se um minuto. Ou toda
uma vida?
O nó da gravata parecia estrangulá-lo e o fez colocar o indicador para afrouxá-lo. Uma
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gravata! Mal acreditava que permitira que Nancy o tivesse convencido a se vestir assim.
Tirou uma carta do bolso.
Meg Remington.
Tinha um rosto interessante, decidiu. Nada espetacular. Não era exuberante, mas
chamava a atenção. Os olhos eram sua maior qualidade. Brilhantes. Expressivos. Tinha
uma boca bonitinha, também, cheia e sensual. Pedia um beijo.
O que devia dizer-lhe? Lera suas cartas dúzias de vezes, talvez até mais. Ela parecia,
odiava admitir, imatura. Como se quisesse impressioná-lo a todo custo.
Dissera correr diariamente e ter sido qualificada para o time olímpico. Podia imaginar
como seria o jantar com alguém tão a par do valor calórico de cada alimento. Chegou até
a se gabar da quantidade de calorias que ingeria diariamente. Ela nunca devia ter espiado
o cardápio do restaurante Chez Michelle. Não devia existir um só antepasto que engordasse
pouco.
Esse era outro problema. A mulher tinha um gosto bastante caro. Jantar no Chez
Michelle lhe custaria uns cem dólares, se tivesse sorte.
Involuntariamente, seu olhar pousou no relógio. Ele praguejou mais uma vez. A irmã lhe
pagaria por isso, repetiu.
— Eu me recuso ir ao encontro de um estranho para jantar!
— Meg protestou, indignada.
— Mas tem de ir! — Brenda implorou, os olhos suplicantes.
— Sinto muito, Sra. Remington, sinto-me de fato muito mal por ter agido assim, mas
Steve não fez nada de errado. Terá apenas de sair para jantar com um homem encantador.
Caso contrário, é possível que ele se decepcione para sempre com o sexo oposto.
— Steve?
— Steve Conlan, seu acompanhante — ajudou Lindsey. — Tudo teria funcionado
perfeitamente se... — fez uma pausa e olhou com impaciência para a melhor amiga — uma
de nós não tivesse confundido os dias e marcado o encontro para hoje por engano.
— Exatamente quando pretendem me contar o que estiveram escrevendo para um
estranho, em meu nome?
— Em breve — Lindsey falou com convicção. — Ele quis conhecê-la de imediato.
Fizemos todo o possível para mantê-lo distante. A propósito, se Steve perguntar sobre seu
apêndice, diga-lhe que já está plenamente recuperada.
Meg suspirou. A decepção das duas conspiradoras não a incomodava. Perdia tempo
buscando um jeito de se livrar da situação. Deixaria um recado para o Sr. Conlan no
restaurante, explicando que não iria. Mas essa parecia ser uma atitude covarde.
Infelizmente, não tinha um plano viável para safar-se dessa emergência. Brenda estava
certa. Não era culpa dele ter sido ludibriado por uma dupla de adolescentes.
— Steve é muito bem-apessoado — Brenda ressaltou. Aproximou-se de Meg e lhe
estendeu uma fotografia, retirada de um dos envelopes sobre a cama de Lindsey. — Veja
como temos razão. Tem lindos olhos castanhos e um sorriso maravilhoso.
Meg sucumbiu à curiosidade. Avaliou a fotografia. Steve Conlan era mesmo bastante
atraente. Tinha os cabelos um pouco longos, mas isso não chegava a desgostá-la. Usava
um chapéu de cowboy, botas e tinha os polegares apoiados nos bolsos frontais da calça
jeans, numa pose para a câmera.
— Ele é alto, moreno e meio solitário — Lindsey informou, ansiosa.
— Já foi casado?
— Não — foi a vez de Brenda responder. — Toca seu próprio negócio, assim como a
senhora. Tem uma loja de produtos de beleza. Ali aplica todas as economias e todo o seu
tempo.
— O que o fez colocar um anúncio no jornal? — Um pensamento assustador a tomou
ao fitá-las. — Foi ele quem pôs o classificado, não foi? — O olhar de ambas voltou-se para
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o chão, e o coração de Meg gelou. — Quer dizer que vocês duas colocaram um anúncio no
jornal em busca de uma marido para mim? — inquiriu, a voz trêmula de raiva.
— Recebemos muitas cartas — Brenda comentou orgulhosamente. — Fizemos uma
exaustiva seleção e chegamos a Steve Conlan.
— Não quer saber o motivo? — Lindsey animou-se a perguntar. Meg, muda, fez um
gesto indicando que nem se importava, atônita demais para reagir.
— Steve disse que decidiu responder ao anúncio porque um dia acordou e percebeu que
a vida estava passando, que perdia tempo. Todos os seus amigos estavam casados e ele
sabia que algo importante lhe faltava. Não uma coisa, mas uma pessoa.
— Que tal amigas mulheres? — Meg perguntou, pois Steve não parecia o tipo de homem
que precisava achar companhia nos classificados.
— Ele disse que... — Lindsey fez uma pausa e revirou as cartas, em busca de algo
específico. — Aqui está. Não tem muita oportunidade de conhecer mulheres solteiras, a
menos que seja em encontros acidentais. Quando está trabalhando, em geral fica ocupado
demais para enxergar um provável clima de romance. Parece bastante espirituoso, não
acha? Gosto disso.
— Disse também que a maior parte das mulheres da sua idade já estão casadas, ou
divorciadas, e com diversos filhos.
Isso não soou nada promissor para Meg.
— Você mencionou que sou divorciada, não é?
— É claro — garantiu-lhe a filha. — Nós nunca mentiríamos. Ela mordeu o lábio para
não falar o óbvio.
— Apenas pense, Sra. Remington, que dentre todas as mulheres para quem Steve
poderia ter escrito, ele a escolheu e nós o elegemos. É o destino. Posso afirmar com toda
clareza que isso é obra do destino.
— Certamente há uma pessoa mais jovem e bonita, sem crianças, que lhe chamou a
atenção.
As meninas trocaram sorrisos.
— Ele apreciou muito o fato de você se preocupar com as calorias de cada alimento —
Brenda comentou, exultante.
— Jura que lhe disse isso? — Meg fechou os olhos. A situação era mais grave do que
imaginara. — O que mais lhe contaram?
— Apenas que você é maravilhosa.
— Uma heroína. O que é a mais pura das verdades — elogiou Brenda.
Oh, é claro. Fizeram com que se parecesse uma heroína de histórias em quadrinhos.
— Vai se encontrar com ele, não vai? — Os olhos de Lindsey imploravam.
— O que eu deveria fazer era levar vocês duas até o restaurante, para que se
desculpassem pessoalmente. Merecem essa humilhação.
As faces juvenis empalideceram, como se a idéia não lhes tivesse ocorrido.
— Mas mamãe...
— Sra. Remington...
Meg levantou a mão, para impedi-las de continuar.
— Não as levarei até o Chez Michelle. Mas depois conversaremos sobre o pedido de
desculpas. — Dois pares de ombros relaxaram, visivelmente aliviados. — Mas não jantarei
com Steve Conlan. Irei até o restaurante, me apresentarei e explicarei tudo. Tenho certeza
de que ele concordará que o melhor a fazer será cancelar o jantar.
— Colocará o vestido, não é?
— Absolutamente não.
Recusava-se até mesmo a considerar essa hipótese.
— Mas não tem nenhuma roupa especial para ir ao Chez Michelle. Apenas experimente,
mamãe — pediu a garota, num tom que indicava ser esse o maior desejo de sua vida.
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A roupa caiu-lhe com perfeição, como se tivesse sido feita especialmente para ela.
Salientava as partes mais bonitas de sua figura e disfarçava outras. Ao menos foi o que as
garotas disseram.
Algum tempo mais tarde, lá estava Meg, entrando no restaurante.
— Olá! — O maitre a cumprimentou com um sorriso de propaganda de creme dental. —
Mesa para uma pessoa?
— Eu... vim me encontrar com alguém — respondeu ela, e olhou ao redor à procura de
um homem alto, moreno e igual ao da foto que trazia na bolsa.
Ninguém parecia se enquadrar na descrição. Nem havia um sujeito sozinho vestindo
chapéu de cowboy.
O único homem que vagamente se assemelhava ao que buscava estava a um canto do
amplo ambiente, encostado indolentemente contra a parede, como se tivesse todo o tempo
do mundo para divagar.
Ele endireitou o corpo e a fitou.
Meg sustentou o olhar.
Viu-o enfiar a mão no bolso e de lá tirar o que parecia ser uma fotografia. Abriu a bolsa
para fazer exatamente a mesma coisa. Ambos observaram o que tinham nas mãos. Depois
fitaram um ao outro.
— Meg Remington? — perguntou o sujeito, como se ainda lhe restassem dúvidas.
— Steve Conlan? — Viu-o assentir. — Meg Remington — confirmou ela, com um leve
gesto de cabeça.
Steve trajava terno e gravata. Arrumara-se para vê-la. Meg passou a mão pelo vestido,
sentindo-se desconfortável. A situação era constrangedora. Não poderia dizer "olá" e ir
direto ao assunto, revelando a tramóia de que fora vítima.
Falar que tudo não passava de um terrível engano e cancelar o jantar seria terrível. Em
especial porque era óbvio o trabalho que ele tivera em se vestir primorosamente para a
noite. Seria no mínimo indelicado dizer, segundos após terem se conhecido, que não era a
pessoa que ele achava que fosse.
— Acredito que nossa mesa ainda esteja reservada — Steve falou, estendendo-lhe o
braço. E, voltando-se para o maitre: — Gostaríamos de ocupar nossa mesa agora.
— Queiram me acompanhar.
Meg podia estar enganada, mas notou um quê de relutância na voz dele. Talvez o tivesse
desapontado. Apesar da roupa que Lindsey e Brenda lhe haviam comprado, sentia o peso
da idade.
O orgulho a fez aprumar-se. Não vinha assinando contratos para atuar como modelo
fotográfico, ironizou silenciosamente. O que ele esperava de uma mulher de trinta e quatro
anos? Se queria uma companheira por volta dos vinte, não devia ter respondido a suas
cartas. As de Lindsey, corrigiu-se. Foi o que a impediu de parar exatamente onde se
encontrava e contar a Steve Conlan a palhaçada em que se metera.
O vestido, a propósito, era divino. As garotas haviam feito uma escolha e tanto. A filha
teve razão em afirmar que ela não possuía nada à altura desse restaurante. Mas sabia ter
dado início a uma situação insustentável: as duas meninas estavam se sentindo es-
pecialistas em moda e nunca mais a deixariam em paz.
Foram conduzidos até uma mesa coberta por uma toalha de linho branco, próxima a uma
janela. Podia-se vislumbrar a baía Elliot e Puget Sound. O reflexo do luar na água em-
prestava romantismo ao clima sofisticado do Chez Michelle.
Meg forçou a vista, mal conseguindo ler o menu ante a parca luminosidade. Estaria Steve
tendo o mesmo problema?
— Já escolhi o prato — comentou ela, dizendo o nome da opção menos cara. — E, por
favor, insisto em pagar minha parte.
Seria imperdoável lesá-lo financeira e moralmente.
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— O jantar será por minha conta — Steve insistiu, pondo seu próprio menu de lado.
Sorriu pela primeira vez e a estudou, como se não soubesse o que fazer com ela mulher.
— Faço questão.
— Mas... — Meg baixou o olhar e fechou a boca. Não sabia por onde começar. E
ignorava por quanto tempo seria capaz de sustentar a farsa. — Aqui é... muito elegante —
foi a única coisa que conseguiu balbuciar.
— Sim — concordou ele, brincando com a taça de água.
— Você está muito diferente na fotografia.
Não sabia o motivo de ter achado pertinente fazer esse comentário. O que devia era
estar explicando a trapalhada armada por Lindsey e Brenda.
— Como assim?
— Cortou os cabelos.
— Sua foto também não lhe faz justiça.
Meg esquecera-se de perguntar à filha qual fora remetida a Steve.
— Posso vê-la?
— É claro.
Ele a tirou do bolso e a estendeu para Meg, que quase teve um ataque cardíaco. Não
podia acreditar que Lindsey tivesse enviado essa fotografia. Fora tirada pouco antes do
Natal, há um ano. Ela estava em pé, defronte ao pinheiro todo enfeitado. Usava um vestido
branco que lhe roubara toda a cor das faces. O flash da câmera fez seus olhos ficarem
vermelhos.
— É uma das piores fotografias que já tirei — comentou, impaciente. — Há uma bem
melhor, em que apareço em frente à livraria.
Steve franziu a testa.
— Então devia ter me enviado aquela.
Ela percebeu tarde demais o que havia feito.
— Tem razão... Mas que bobagem eu falei!
A garçonete veio e eles fizeram seus pedidos. Era incompreensível como a mulher
conseguia escrever, envolta em tamanha escuridão. Assim que foram deixados a sós, Meg
preparou-se para revelar toda a verdade.
— Escute, Steve...
— Meg...
Ambos pararam de falar.
— Você primeiro — disse ele com gentileza.
— Está bem. — Ela procurou desesperadamente palavras para se explicar. Em vão. —
Não é fácil...
— Quer dizer que foi um prazer ter me conhecido, mas a química não corresponde ao
que esperava e então gostaria de terminar tudo antes mesmo de começar. Acertei?
— Oh, não!
— Não?
Meg não sabia por que ele parecia tão desapontado. E então compreendeu.
— Você... está decepcionado comigo e...
— De modo algum. Verdade seja dita, estou agradavelmente surpreso.
Ela engasgou.
— Gostaria que você não tivesse dito isso.
— Por que não?
— Porque... — Respirou profundamente. — Porque não sou a pessoa que pensa que
sou. Quero dizer... —A conversa estava se tornando mais complicada do que previra. —
Não escrevi aquelas cartas.
Os olhos de Steve se estreitaram.
;
— Então quem as escreveu?
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— Minha filha e uma amiga.


— Certo.
Meg torturava o guardanapo.
— Tem todos os motivos para ficar aborrecido. Não o culpo. Fomos ludibriados.
— Nada sabia a respeito disso?
— Juro que não. Teria dado um basta se soubesse. Steve pegou a taça com água e deu
um longo gole.
— Eu teria feito o mesmo.
— Gostaria que soubesse que pretendo punir Lindsey por isso. A única coisa que posso
fazer é pedir desculpas... — Parou no meio da sentença ao notar que ele ria. — Steve?.
— Também não escrevi aquelas cartas.
O rosto de Meg deixou claro seu descrédito.
— Quer dizer que não respondeu ao anúncio no jornal?
— Minha romântica irmãzinha o fez. Nancy está obcecada por me ver casado.
— Espere um momento. Deixe-me ver se compreendi corretamente. Você não colocou
o anúncio no jornal?
— Você fez isso.
— Então por que está aqui? Ele deu de ombros.
— Provavelmente pelo mesmo motivo que a impeliu a vir a este jantar. Imaginei que
você fosse um coração solitário procurando companheirismo e eu francamente me senti
mal ao descobrir o que Nancy lhe fizera. Não é da sua conta que minha doce irmã queira
me ver quanto antes com uma aliança na mão esquerda.
Fez uma pausa enquanto as refeições eram servidas. Meg atacou seu frango com
apetite. Irritação normalmente a deixava faminta. Cortou um pedaço de cenoura.
— Então sente muito por mim? — disse ela, mastigando com uma energia
desnecessária.
Steve a fitou, aparentemente pressentindo seu aborrecimento.
— Não mais do que você sente por mim. Foi também este o motivo que a trouxe até
aqui, não foi?
Meg assentiu com um gesto de cabeça.
— Quando descobriu sobre este jantar?
— Esta manhã. E você?
Ela olhou para o relógio de pulso.
— Há duas horas.
— Não lhe deram muita oportunidade de fazer objeções, não é?
— As meninas confundiram os dias e entraram em desespero. Suponho que não tenha
lido nenhuma das cartas que lhe foram escritas.
— A propósito, li sim. Interessantes.
— Posso apostar. — Meg fincou um pedaço de batata com o garfo. — Deve saber que
nem tudo o que elas disseram é verdade.
— Então não corre todas as manhãs?
— Não exatamente. E, antes que me pergunte sobre o valor calórico dos alimentos, saiba
que Lindsey inventou tudo isso. E meu apêndice está ótimo.
— O que Nancy lhe disse a meu respeito?
— Conheço apenas alguns trechos relatados pelas garotas, então fica difícil afirmar
algo.
— É?
Ele pareceu tão frustrado!
— Pelo que me recordo, sua irmã comentou algo sobre sua vida estar vazia e você ansiar
por alguma coisa para preencher suas noites solitárias... — Fez uma pausa, para a
afirmação seguinte ganhar mais impacto. — E então você percebeu que procurava não
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uma coisa, mas alguém.


— Nancy disse isso?
— Sim — Meg assegurou, sentindo um deleite todo especial em lhe contar.
— Bem, é uma bobagem enorme. Certamente não acreditou nisso.
Ela já começava a apreciar a cena.
— Na realidade, não. Lindsey não fez isso no intuito de ofendê-lo.
— Nem Nancy, embora eu esteja com vontade de enforcá-la. Mal completou dezenove
anos e só pensa em romance. Infelizmente, é a mim que quer ver casado.
— E minha filha me acha perdida e solitária, mas estou feliz com minha vida.
— Eu também.
— Por que arruinar tudo agora?
— Exatamente. — Steve pronunciou a palavra com convicção. — Uma mulher apenas
traria confusão à minha vida.
— Um homem me deixaria de lado quando encontrasse outra, mais bonita e sensual.
Além disso, não tenho intenção do me tornar um fardo para minha filha.
— Nancy pode dar uma volta ao mundo e pela lua antes que eu lhe permita que
administre minha vida amorosa — Steve comentou. — Tenho vontade de me casar, mas
no momento que achar adequado e não quando minha irmãzinha resolver me ingressar
num grupo de corações solitários.
— Sinto-me do mesmo jeito.
— Ótimo. — Steve sorriu e ela teve de admitir que era um sorriso perfeito. Amansava
sensualmente a aparência rústica, dando-lhe um charme todo especial. — Vamos brindar
ao nosso acordo?
— Grande idéia — concordou ela.
Steve chamou a garçonete e pediu uma garrafa de vinho. Meg se surpreendeu com a
naturalidade com que conversavam, uma vez a confusão ter sido esclarecida. Viu-se
contando sobre a livraria e gostando de saber sobre a loja de produtos de beleza.
Continuaram o bate-papo animado durante a sobremesa e o café. Resolveram se levantar
somente quando o restaurante estava prestes a fechar.
— Eu me diverti muito — Meg comentou enquanto caminhavam em direção à porta.
— Não pareça tão surpresa.
— Mas, francamente, estou. Steve sorriu.
— Acho que-eu também.
O manobrista estacionou o carro dela defronte ao Chez Michelle e manteve a porta
aberta. A noite estava mesmo terminando.
— Obrigada por um jantar maravilhoso — disse-lhe, subitamente tímida e sem-graça.
— O prazer foi todo meu.
Mas nenhum dos dois fez menção de se mover. O manobrista fitava o relógio de pulso e
Meg olhou de relance para o carro, sentindo-se culpada. Steve o ignorou e depois ela
acabou por fazer o mesmo.
— Acho que... está na hora de dizer adeus — ela sussurrou, desejando não ter sido tão
categórica quanto a estar feliz com sua vida.
— Parece que sim.
Ela baixou a cabeça, encabulada com o desejo que leu nos expressivos olhos castanhos.
— Obrigada novamente.
Steve percorreu o contorno do rosto de Meg com a ponta dos dedos. Parecia uma seda
flamejante a tocar sua pele, tão esquecida de carinhos dessa natureza. Se não estivessem
em pé, na saída de um restaurante da moda, com um manobrista a encará-los, Meg achava
que seria beijada. Gostava de pensar que ele teria feito isso.
Já no caminho de casa, afastou essa idéia, classificando-a de infantil. Fora muito bom
apenas jantar, tomar vinho e conversar trivialidades.
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A sensação boa da mão máscula a tocar seu rosto retornou vivida, intensa. Sorriu ao se
lembrar dos lábios tentadores tão próximos aos seus. Tão cedo não se esqueceria nem do
encontro nem desse homem. Disso tinha a mais absoluta certeza.
— Bem, e como foi? — Nancy perguntou, ansiosa.
A irmã adolescente de Steve o aguardava à porta de entrada. Seus olhos estavam
abertos e expectantes enquanto o seguia para o interior da casa, sedenta por detalhes.
Steve olhou para o relógio e a repreendeu.
— O que faz acordada a essa hora?
— Pelo que me lembro, você pediu que o aguardasse para conversar.
— Pedi?
— Chegou bem mais tarde do que me disse.
Ele nada respondeu. Não desejava que a irmã soubesse quanto gostara da noite.
— Devia dar-se por feliz por eu não a esganar — falou, tentando mostrar uma irritação
que não sentia.
— Talvez.
— Não tem de fazer o dever de casa ou algo do gênero? — inquiriu, tirando a gravata.
— Gostou dela, não foi? E eu não tenho tarefas. Sabe muito bem que as aulas
terminaram há duas semanas.
— Então decidiu permanecer em Seattle e fazer da minha vida um inferno.
— Não, optei por ficar aqui e vê-lo casado. Ora, você está com trinta e cinco anos de
idade. Já não é mais nenhum moleque.
Nancy foi até o sofá e desabou, como se tivesse decidido plantar-se ali se ele não
aceitasse seu empenho.
O problema, concluiu Steve, era que a irmã era produto de pais que não esperavam ter
tido um segundo filho e a mimaram muito. Ele era parcialmente culpado, mas nunca
esperara que a garota viesse a fazer algo tão inusitado quanto lhe arrumar uma esposa.
— Você trabalha demais. Já é hora de relaxar um pouco e curtir a vida.
— Vai escrever à Sra. Remington uma carta pedindo desculpas.
— Está bem, está bem. Farei isso. — Pôs-se de pé num salto. — Quando irá vê-la
novamente?
— Não vou vê-la de novo. Nancy voltou a cair sobre o sofá.
— Por que não?
Steve não sabia. Meg e ele haviam decidido assim logo no início da conversa, e já nem
se lembrava o porquê.
— Deixe-me sozinho.
Nancy jogou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada.
— Você gostou dela. Você gostou dela de verdade!
Meg sentou-se no sofá da sala dos fundos da livraria e massageou os pés doloridos. Os
sapatos esmagavam seus dedos, mas era esse o preço de uma escrava da moda. Lindsey
sugerira que os usasse. Mesmo sabendo quanto sofreria, optara por aceitar a opinião da
filha.
Lois pôs a cabeça para dentro do aposento e sorriu ao vê-la.
— Acabou de chegar um lindo buquê de flores para você.
— Para mim?
— E o que está escrito no envelope.
— E quem as enviou?
— Não li o cartão, se é o que deseja saber, mas Lindsey está aqui, pegou-o antes que
eu pudesse fazer qualquer coisa e sorriu triunfante. Acho que são de Steve.
— Steve?
Com ou sem dor, Meg pôs-se de pé em um segundo. Foi para a frente da loja e viu o
rosto radiante da filha.
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— Steve Conlan lhe mandou flores! — A mão de Meg tremia ao tirar o cartão do pequeno
envelope. — Ele disse, e eu concordo: "Você é uma mulher especial, Meg Remington.
Amor, Steve".
O buquê era esplêndido, com pelo menos dez diferentes tipos de flores arrumadas com
esmero em uma cesta de vime branca.
— Nós combinamos... — murmurou, sem saber o que pensar.
— O quê? — Lindsey quis saber.
— ...Que não voltaríamos a nos encontrar.
— Aparentemente, ele mudou de idéia — disse a menina, como se tivesse descoberto
uma fortuna.
Achando improvável a conclusão a que a filha chegara, Meg contemplou sua melhor
amiga.
— Não olhe para mim — defendeu-se Lois.
— Tenho certeza de que está enganada — Meg disse a Lindsey. Passaram-se alguns
segundos até que as batidas de seu coração amansassem. Talvez as garotas tivessem
conseguido levá-la de volta à adolescência, já que reagia com tamanha comoção a um
simples buquê de flores.
— Por que outro motivo Steve lhe enviaria flores? — Lindsey perguntou em um tom
calmo e racional.
— Apenas para me dizer que foi um prazer ter me conhecido. Não devemos tirar
conclusões absurdas.
— Ligue para ele, mamãe.
— Acho que não.
— Será que não vê? Steve está sinalizando que gosta de você, mas não quer pressioná-
la, temendo que não tenha apreciado conhecê-lo.
— É mesmo?
Sua autoconfiança esmoreceu.
— O próximo movimento é seu.
— Lois?
— Não saberia aconselhá-la, sinto muito. Estou casada com o mesmo homem há vinte
e seis anos e perdi a noção de como se conduz um flerte.
— Concordo com sua filha — uma voz tímida disse do outro lado do balcão. — Deve
telefonar para o rapaz.
Era uma freguesa, a Sra. Wilson. Meg não sabia se era bom ouvir o conselho da senhora
de idade que comprava romances duas vezes por mês. A Sra. Wilson tinha um coração
mole e, portanto, tendia a ver mais no gesto de Steve do que ele realmente quisera
expressar.
— Viu? — Lindsey falou, excitada. — E sua vez de jogar. Steve fez o primeiro movimento
e aguarda o seu.
— Eu...
Meg já não sabia o que pensar.
— Já faz três dias — a filha a lembrou com voz musical. — Ele já teve tempo para
processar os acontecimentos, assim como você.
— Telefone — Lois a aconselhou por fim. — Apenas para agradecer as lindas flores.
— É o mínimo que terá de fazer.
— Está bem — Meg concordou, relutante.
As flores eram adoráveis e agradecer-lhe seria a atitude mais apropriada.
— Vou lhe dar o telefone da loja dele — Lindsey ofereceu-se, colocando a lista telefônica
sobre o balcão.
A garota achou o número com mais rapidez do que um computador faria, tal o receio de
que a mãe desistisse.
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— Usarei o telefone da sala dos fundos.


A última coisa que queria eram diversos pares de ouvidos aguçados para escutar sua
conversa.
Sentiu olhos curiosos a segui-la. Suas mãos estavam trêmulas ao discar.
— Emerald City — uma voz masculina respondeu.
— Olá, aqui é Meg Remington. Gostaria de falar com Steve Conlan.
— Aguarde um minuto, por favor.
— Claro.
Momentos mais tarde, Steve atendia.
— Meg?
— Olá. Sei que está ocupado, e não tomarei muito de seu tempo. Estou telefonando
para agradecer pelo maravilhoso buquê de flores.
Uma longa pausa antecedeu a indagação:
— Flores? Que flores?

CAPITULO III

— Está dizendo que nada sabe a respeito das flores? — Meg indagou, sentindo-se à
beira de um abismo.
Steve percebeu que agira sem muito tato ao lhe contar a novidade, mas sentia-se quase
tão chocado quanto ela.
— Isso mesmo.
— Se você não as mandou, então quem o fez?
Ele não precisava ser um detetive renomado para ter alguns palpites.
— Tenho um pressentimento — disse com sarcasmo. Passou os dedos pelos cabelos e
então olhou de relance para o relógio de parede. — Poderia encontrar-se comigo?
— Por quê?
A falta de entusiasmo o ofendeu. Irritou. Durante três dias nada mais fizera a não ser
pensar nessa mulher. Nancy estava certa, havia gostado muito de conhecer Meg
Remington.
Era um tanto excêntrica, mas isso não importava. Ao repassar mentalmente as horas
que passaram juntos, flagrou-se encantado com sua feminilidade, inteligência e
cordialidade.
Mais de uma vez desejou que tivessem encarado a situação de maneira mais
descontraída, e enxergado alguma possibilidade de futuro no encontro, podia-se dizer,
armado pelo destino. Sob essa ótica, nada teria sido mais natural do que continuar a ver-
se, para checar se haviam ou não sido feitos um para o outro.
Mas aparentemente Meg não nutria tais arrependimentos e ficou aliviada em se ver livre
dele.
— Por que gostaria que nos encontrássemos? — repetiu ela mais baixo, quase num
sussurro.
— Precisamos conversar.
— Onde?
— O que acha de um drinque? Conseguiria deixar a loja em uma hora?
Ela hesitou.
— Vou tentar.
Steve mencionou um bar bastante informal e marcaram o encontro para as cinco e meia.
O ânimo dele se elevou consideravelmente ante a certeza de voltar a vê-la. Devia estar
sorrindo porque seu assistente, Gary Wilcox, o fitou com estranheza.
— Não sabia que tinha uma nova amiga — ouviu-o dizer após desligar o telefone. —
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Quando isso aconteceu?


— Não aconteceu.
A última coisa de que gostaria era que Gary desse a Nancy informações equivocadas. A
menina já lhe criava situações constrangedoras sem a ajuda de ninguém. Com apoio,
acabaria matando-o.
— Ainda não, você quer dizer — Gary afirmou, e fez algumas anotações.
Steve olhou por sobre o ombro do rapaz para certificar-se de que ele não anotava a
conversa.
Mas que paranóia! Uma mulher era capaz de fazer isso com um homem, ele sabia. Suas
experiências passadas eram uma prova inquestionável disso.
Uma hora mais tarde, Steve bebia cerveja defronte a uma imensa televisão. Sua mesa
ficava bem próxima à entrada.
Meg chegou cerca de dez minutos depois. Ao menos parecia-se com ela. A mulher
carregava uma raquete de tênis e vestia uma saia típica, como se tivesse acabado de sair
da quadra.
Steve a fitou, incerto. Afinal, vira-a apenas uma vez, à meia-luz e trajando roupa de gala.
Meg solucionou-lhe o problema quando aparentemente o reconheceu. Caminhou pela
sala e deixou a raquete sobre a mesa vazia ao lado.
— Lindsey sabe — anunciou simplesmente.
Steve afastou-se um pouco para estudar-lhe as feições.
— Como?
— Minha filha descobriu.
Detestava parecer estúpido, mas não tinha a mínima noção do que ela estava falando.
— Descobriu o quê?
— Que vim me encontrar com você — revelou, como se fosse óbvio. — Procurei lhe
telefonar da sala que fica nos fundos da loja para que ninguém nos ouvisse.
— E então?
— Daí inventei esta história ridícula a respeito de uma partida de tênis com uma amiga.
Não pratico o esporte há anos e minha filha sabe disso. Imediatamente ela me sufocou com
perguntas. Provavelmente está em casa, rindo de mim. Nunca fui hábil em mentir de
maneira convincente.
Steve não tivera intenção de colocá-la em tamanha confusão.
— Por que simplesmente não disse à sua filha a verdade? O olhar de frustração indicava
quanto isso seria impossível.
— Bem... porque Lindsey agregaria algum significado especial a este encontro.
— Por que ela faria isso? Você lhe contou que as cartas não foram escritas por mim, não
é?
— Não.
— E por quê?
Meg estendeu a mão para brincar com o cabo da raquete. Evitava encará-lo.
— Eu devia... quero dizer, tudo isso é meio insano.
Mas que situação!, pensava Steve. Sua irmã e a filha dela. Não fora à toa que a
correspondência acabara se tornando tão intensa. Tinham idades parecidas, e obviamente
falavam a mesma linguagem.
— Lindsey ainda vê contos de fadas quando olha para um homem e... eu não a quis
desiludir. Embora saiba que, pelas atitudes que tomou, mereça uma bela decepção.
— O que disse a respeito do jantar?
— Pouca coisa.
Steve também não quisera conversar detalhes com Nancy. Nada o surpreendeu mais do
que descobrir quão maravilhosa era Meg Remington. Não se tratava de mero desejo sexual,
ele sabia, embora se sentisse fisicamente atraído.
Projeto Revisoras 21
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1

Quando pensara nela, durante os últimos três dias, não foram seus atributos físicos que
lhe vieram à lembrança. Recordara-se da conversa animada.
Naquela noite, em determinado momento, ela ficara tão envolvida que se inclinara para
a frente. Mas, ao dar-se conta de quanto o vasto decote revelava, baixara o olhar,
envergonhada.
Steve gostava do jeito como os olhos de Meg brilhavam quando falava da livraria e da
filha.
— Sua irmã... a moça que escreveu as cartas é a mesma que enviou as flores? — Meg
perguntou, interrompendo-lhe as divagações.
— Sim. Minha hóspede.
Ela enfiou a mão dentro da bolsa e pegou o pequeno cartão. Steve fez um gesto para o
garçom, pedindo para que trouxesse mais uma cerveja.
— Eu não deveria... Se minha filha perceber que bebi, saberá que não estive jogando
tênis.
— Mas, de acordo com o que acabou de me contar, ela já descobriu.
— E verdade.
Steve abriu o envelope que Meg lhe entregara.
— Foi Nancy mesmo. Eu jamais escreveria algo tão desprovido de charme. — O garçom
trouxe mais uma caneca de cerveja. — Gostaria de mais amendoins?
— Sim, por favor. — E então, em voz mais baixa, acrescentou: — Este tipo de situação
me deixa faminta. Minha filha entrou em contato com você?
— Não sei. Como poderia saber?
— Não entendi.
— Se Lindsey escreveu, quem está com a carta é Nancy. Meg olhou para os céus. Como
mesmo se metera nessa
trapalhada?
— Tem razão. Quem sabe o que essas meninas podem fazer com nossas vidas...
— Precisamos tomar a dianteira ou estaremos perdidos.
— Concordo plenamente.
Meg tomou um gole de cerveja e recolocou a caneca sobre a mesa.
— Eu não devia estar bebendo com o estômago vazio. O álcool irá direto para minha
cabeça.
— Os sanduíches daqui são deliciosos.
— Amendoins bastam, obrigada. — Só então deu-se conta de estar segurando o prato
de petisco. Imediatamente o depôs no centro da mesa. — Desculpe.
— Não há de quê. — Observou-a fazer uma careta e olhar para baixo. — Há algo errado
com seu pé?
— Os sapatos que usei para trabalhar estavam apertados.
— Pronto — disse ele, pegando-lhe as pernas e as ajeitando no colo.
— O que está fazendo?
— Vou massageá-los.
— Faria isso?
— Sim. — Steve odiava vê-la sentindo dor. — Além do mais, precisamos discutir como
lidar com os fatos. Tenho o pressentimento de que devemos estar calmos e atentos, para
vencer as espertinhas.
— Está certo mais uma vez.
Meg fechou os olhos e relaxou ao senti-lo tirar seus sapatos e cuidar de seus pés
doloridos.
— Sente-se melhor? — Steve perguntou após alguns momentos. Ela assentiu e
permaneceu com os olhos cerrados.
— Acho que você devia parar — murmurou, sem a menor convicção.
Projeto Revisoras 22
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— Por quê? — perguntou ele, mas obedeceu e voltou a calcar-lhe os tênis.


Não sabia o que acontecera. Nunca fizera nada parecido. Mas sabia que Meg passava
longas horas em pé e tivera vontade de ajudá-la.
— Obrigada. — Ela olhou ao redor, constrangida, curvando-se para amarrar os
cadarços.
— Tem alguma sugestão?
Meg o fitou sem compreender qual era o assunto, mas logo se recordou.
— Oh, quer saber se tenho uma estratégia para enfrentar as meninas? Não, na verdade
não. E você? Propõe alguma coisa?
— Em primeiro lugar, devemos impedi-las de gerir nossas vidas.
— Perfeito.
— Não somos fantoches.
— De jeito nenhum.
Se era mesmo assim, pensava ele, então por que experimentava esse desejo quase
incontrolável de beijá-la? Era estranho conversar justamente com a finalidade de achar uni
meio de não mais se importar um com o outro.
Mesmo tendo plena consciência desse fato, como não pensar no sabor que teriam os
lábios charmosos a tentá-lo? Deviam ser doces, especulou. Com um quê salgado, devido
aos amendoins. A combinação era uma de suas favoritas.
Havia, entretanto, algo errado nesse contexto, advertiu-se. Não conseguia deixar de
contemplar o rosto adorável e clássico de Meg. Deslizara a ponta dos dedos pelas faces
primorosas na noite do jantar e repetiu o gesto em pensamento.
Meg sabia em que Steve estava pensando. Sua pulsação se acelerou selvagemente.
Achou melhor olhar para a imensa televisão, do outro lado da sala.
Ele fez o mesmo. Não sabia o que estava acontecendo, nem queria saber. Pegou a
caneca de cerveja e tomou dois longos goles. Precisava de um bom psicólogo. Uma tolice
acariciar os pés de uma mulher que mal conhecia, e ainda por cima em público. A última
coisa que desejava era complicar a própria vida.
Especialmente por causa de uma mulher perturbadora como Meg Remington.
— Então você saiu com Steve novamente! — disse Lois.
Estavam sentadas em um banco do parque, devorando imensos sorvetes de casquinha.
Um barco grande, que levava turistas para passear, descansava placidamente.
— Quem lhe disse isso?
— Lindsey, quem mais? Por acaso acha que a enganou?
— Não.
— Então conte-me como foi o encontro.
Meg permaneceu calada por um longo tempo. Não havia palavras para explicar a
escapadela para o bar onde ele a aguardara. Mesmo nesse momento, não conseguia
entender a urgência que sentira em vê-lo.
A todo instante lembrava-se de suas pernas sendo erguidas e os pés massageados até
toda dor se esvair. Haviam conversado bastante, com um interesse intenso e
surpreendente. De novo.
Meg poucas vezes desejara tanto um beijo. E logo dentro de um bar apinhado! A
situação, por si só, já era embaraçosa. Quanto mais o que se seguiu...
Um pouco de sorvete desabou sobre sua mão e Meg apressou-se em limpar.
— Meg? Há algo errado, não é?
— Não — disse ela, rindo da preocupação da amiga. — O que poderia haver?
— Você tem estado diferente há dias.
— E claro que tenho — rebateu ela. Mas então, sabendo ser melhor parar de fingir,
decidiu revelar a verdade: — Temo apaixonar-me por ele.
Lois riu.
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— E o que há de tão terrível nisso?


— Bem, Steve não está interessado em mim. Dessa vez a amiga fez cara de pura
descrença.
— Como chegou a tal conclusão?
— Tenho meus motivos.
— Diga um.
— Em primeiro lugar, ele apenas quis me ver para combinar uma maneira de impedir
que as crianças continuem a reger nossas vidas.
— Suspeito que tenha se tratado de uma desculpa bem esfarrapada para estar a seu
lado mais uma vez.
— Acredite-me, não foi isso. Steve fez de tudo para deixar claro que não tem a mais
vaga intenção de me namorar.
— Tem certeza?
— Absoluta. Houve diversas oportunidades para sugerir que nos conhecêssemos
melhor, mas nada me foi proposto.
A princípio achara ter despertado nele a mesma atração que sentia, mas, ao que tudo
indicava, enganara-se redondamente.
— Não lhe ocorreu que ele estivesse aguardando que você tomasse a iniciativa? —
observou Lois.
— Não.
Steve não tinha o perfil de homem que delegava à mulher o comando do relacionamento.
Se estivesse interessado em continuar a vê-la, teria lhe dito.
— Tem de existir mais do que isso.
— E há. Estava justamente tentando lhe contar. Steve me expôs uma idéia muito original
e eu concordei.
— Concordou? Com quê?
Meg levantou-se e jogou o restante do sorvete na lata de lixo.
— Antes de mais nada, deve saber que na ocasião eu havia bebido cerveja com o
estômago vazio.
— Isso não me soa nada promissor.
— E não é mesmo.
Respirando profundamente, Meg voltou a sentar-se no banco.
— Chegamos à conclusão de que, quanto mais protestássemos, mais Lindsey e Nancy
relutariam em acreditar que não sentimos atração um pelo outro.
— Há um problema com o que acabou de falar.
— Há?
— Sim, e ambas sabemos qual é. Você está interessada em Steve, e muito.
Lois brindou-a com um olhar perspicaz. Meg evitou encará-la.
— Não quero confundir meu relato ao considerar essa hipótese.
— Está bem, vá em frente.
— Steve acha que somente convencerá Lindsey de que não é a pessoa certa para mim
se começar a me namorar e...
— Viu só? — Lois a interrompeu, triunfante. — Ele está com vontade de ficar com você.
De verdade. Não percebe? Esta idéia é apenas um pretexto.
— Acho que não. — Meg não via motivos para Steve criar um jogo desses. — Poderá ir
à minha casa esta noite se quiser comprovar.
— Ver com meus próprios olhos?
— Steve vai conhecer Lindsey.
— Na sua casa?
— Sim.
O sorriso de Lois era radiante.
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— Jura?
— Pode acreditar. Mas confie em mim, não é nada do que está pensando.
Meg chegou à casa uma hora mais tarde. Lindsey aguardava ansiosamente a visita de
Steve. Limpara tudo, fizera cookies e usava sua melhor calça jeans. Um vestido já seria um
exagero.
— Olá, querida.
— Mamãe! — Lindsey falou, olhando para o relógio. — Faz idéia de que horas são?
— Sim.
— Não acha que devia tomar um banho e trocar de roupa? Steve estará aqui em uma
hora e meia!
— Sei disso.
Supunha que a filha esperasse maior entusiasmo de sua parte. Não ia fingir interesse
apenas para agradá-la. A visita fora sugestão de Steve e ela aceitara, mas, francamente,
não se sentia à vontade com essa situação.
— Seria bom você usar aquele vestido de verão que compramos no ano passado. E
sandálias brancas. Gostaria que tivesse um pequeno chapéu combinando. Ficaria lindo.
— Teremos de nos contentar com o sombrero que vovô comprou no México — provocou
ela.
— Mamãe! — Lindsey gritou, chocada. — Ficaria ridículo. Não tem nada a ver com o
vestido.
Meg suspirou dramaticamente, para causar efeito.
— Não sei como consegui me vestir todos esses anos sem você. Achou que a filha fosse
rir. Enganou-se.
— Pode ser exatamente esta a explicação de ainda estar solteira. Já pensou nisso? —
A criança não media palavras para defender o próprio orgulho. — Você é maravilhosa,
mamãe — redimiu-se Lindsey —, mas prometa-me que nunca mais comprará roupas sem
minha ajuda.
Inútil fazer juras que não seriam cumpridas. Meg apressou-se em subir a escada e se
meter sob a ducha forte e refrescante. A água, em temperatura perfeita, renovou-lhe o bom
humor. Mal podia esperar para ver a expressão de Lindsey ao ver Steve.
Com uma toalha ao redor do corpo, foi para o quarto e avaliou as roupas arrumadas
meticulosamente no armário. O vestido de verão era mesmo o mais adequado. Meg jurou
que sua escolha não se devia à quase imposição da filha, mas à sua mais genuína opinião.
Lindsey a aguardava na sala de estar. As flores enviadas por Steve, ou melhor, por
Nancy, estavam em um vaso de prata, polido à exaustão pela garota, e enfeitavam a mesa
de café. A última vez em que Meg o usara fora quando da visita do pastor Delany, logo
após a morte de seu pai.
Quando a campainha soou, Lindsey olhou para a mãe e sorriu.
— Estamos prontas — disse a adolescente, fazendo um sinal afirmativo.
Meg se julgava preparada para recebê-lo, mas ficou de queixo caído ao abrir a porta.
— Steve? — sussurrou ao homem vestido com jaqueta de couro preta e calça jeans. A
camisa estava aberta até metade do peito e revelava alguns pêlos próximos ao pescoço.
Uma grossa e imensa corrente dourada completava a figura esquisita. — Steve, é você?
Ele lhe deu uma piscadela.
— Esperava outra pessoa?
— Nããão! — assegurou-lhe rapidamente.
— Então convide-me a entrar — sugeriu ele, maroto, e fechou-lhe a boca ainda aberta.
Parou um passo adiante. — Você deve ser Lindsey. Sou Steve.
— Você é Steve? — a garota balbuciou, incrédula, imediatamente fitando a mãe.
— Lindsey, este é Steve Conlan — Meg esclareceu e postou-se ao lado do homem que
a filha escolhera para padrasto.
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Ele pousou o braço ao redor da cintura de Meg e a beijou no rosto.


— Sei que é uma das responsáveis por nos unir. Escreveu diversas cartas.
— Pois é. Está bastante diferente daquela fotografia.
— Aquela que enviei foi tirada muito tempo atrás. Antes de eu ir para a prisão.
Lindsey teve um acesso de tosse.
— Prisão?
— Não se preocupe, querida. Não tenho índole violenta.
— Por que... foi parar lá? — a menina perguntou com voz trêmula. Steve cocou o maxilar
e hesitou.
— Se não se importa, eu não gostaria de falar nisso.
— Sente-se, Steve — Meg falou entre os dentes.
"Fale sobre assassinatos", aconselhou-o em pensamento. "Insista nisso e todo o plano
das meninas estará arruinado."
— Gostaria de um café? — Lindsey ofereceu-lhe, ainda atônita.
— Você por acaso teria uma cerveja?
— Acha uma boa idéia beber logo no início da tarde? — Meg perguntou com doçura.
— Por que não?
Steve acomodou-se no sofá e colocou um calcanhar sobre o joelho da outra perna.
— Café ou chá? — perguntou Meg.
— Café, mas com bastante açúcar.
Ele fitou a xícara de porcelana chinesa como se não soubesse como lidar com algo tão
delicado.
Os olhos de Lindsey ficavam mais arregalados a cada minuto.
— Eu... você nunca falou nada sobre... ter estado na cadeia.
— Não gosto de mencionar isso até que a pessoa tenha a chance de me conhecer sem
o preconceito que este tipo de coisa sempre desperta. Muitos tendem a pensar o pior de
um condenado.
— Condenado... — a garota repetiu, mordendo o lábio inferior.
— As flores são adoráveis — Meg comentou, acariciando o primoroso buquê.
— O oficial que fiscaliza minha liberdade condicional, Earl Markum, disse-me que
mulheres gostam de receber flores. Fico feliz em saber que ele estava certo.
Tomou um gole de café, fazendo barulho, como se o estivesse sugando. Lindsey estava
prestes a subir pelas paredes, avaliou, satisfeito com a farsa armada para assustá-la.
— A propósito, ficará feliz em saber que o policial fez uma checagem de sua vida, Meg,
e aprovou a continuidade do nosso namoro.
— Que maravilhoso! Ele sorriu para Lindsey.
— Tenho de lhe agradecer — falou com seriedade. — Soube que sua mãe ficou
aborrecida por você ter colocado aquele anúncio no jornal e escrito as cartas para mim. E
desaconselhável agir em nome de outra pessoa, mas nesse caso específico foi bom ter nos
enganado. Além disso, também não fui totalmente sincero, e então acho que estamos
quites.
Lindsey fez um gesto de concordância com a cabeça.
— Sim...
— Sua mãe é muito especial, exatamente como escrevi no cartão que acompanhou as
flores. Há poucas mulheres dispostas a ignorar o passado fora-da-lei de um homem. Nem
se importam em descobrir que tenho um coração de ouro. Mas sua mãe, sim. Ao sentar à
mesa daquele restaurante chique, fitei o rosto bonito dela e soube estar diante da mulher
de minha vida. — Voltou a cocar o maxilar e riu. — Tenho de admitir, também, que quando
você sugeriu o Chez Michelle temi estar lidando com uma mulher com gosto muito caro,
difícil de ser sustentado por alguém como eu.
— Sinto muito... — Lindsey murmurou. — Eu não sabia.
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— Não se sinta mal. Sua mamãe pagou o jantar. Basta olhar para ela e amá-la.
Steve fez uma pausa para contemplar o objeto de seus elogios, mordendo os lábios na
clara indicação de ser essa a única forma de furtar-se a beijá-la longa e intensamente.
— Steve... — Meg o repreendeu, faceira.
— Eu sei, eu sei — disse ele. — De acordo com o conselho do oficial de polícia que me
vigia, não devo apressar os acontecimentos. Peço desculpas. Vejo seus lindos olhos e não
consigo me conter.
— Sim, bem...
— Esqueceu-se de me dizer quanto sua filha é bonita.
— Lindsey é meu grande orgulho — Meg elogiou, sorrindo.
— Tenho diversos amigos que adorariam conhecê-la. Piscou para a menina, como se a
única coisa que ela tivesse de fazer fosse autorizá-lo a arranjar tudo para um excelente
encontro.
— De jeito nenhum — Meg anunciou categoricamente, esquecendo-se por instantes de
que se tratava de uma encenação. — Não quero que apresente minha filha aos seus
amigos.
As sobrancelhas de Steve se levantaram, em sinal de espanto, e ele ergueu as mãos,
como se diante de alguma coisa sagrada.
— Desculpe-me, não quis ofendê-la. Se não quer que Lindsey namore um de meus
companheiros de cela, então tudo bem. Isso nunca vai acontecer.
— Ótimo.
Meg tinha de dar a mão à palmatória. Steve era um ator e tanto. Ela mesma quase
acreditava nessa história doida inventada para enganar sua filha.
— Tenho de confessar que, ao ver Margaret naquele vestido preto, meu coração se
acelerou. Estava diante da mulher mais linda que já vi desde que fui solto.
— Solto?
— Da cadeia — explicou-lhe, o olhar imediatamente voltado para o rosto de sua amada.
Como parecia sincero!
— Sim, bem... — Meg falou, levantando-se, mas, uma vez em pé, esqueceu-se do que
ia fazer.
— Suspeito que queira dar uma volta em minha motocicleta, conforme prometi — Steve
acrescentou, tomando o final do café.
— Mamãe vai andar de motocicleta com você? — Lindsey inquiriu, arfante.
— Vou trocar de roupa, querido — declarou Meg, para escapar da sala e deixá-los a sós.
— Não há necessidade. Poderá sentar-se de lado no banco, como aquelas senhoritas
daqueles filmes antigos. Terá de se segurar com força, benzinho, porque vamos correr um
bocado.
— Sim. — Ou a sala ficava cada vez mais quente ou Meg estava passando mal. — Acho
que prefiro vestir jeans. Não vou me demorar.
— Se prefere assim... — Steve aquiesceu e limpou a boca com as costas da mão. —
Só não me deixe esperando muito, está bem?
— Prometo que não.
Meg apressou-se em direção à escada, ansiosa por respirar em paz. Mas Steve a
alcançou, pôs as mãos em seus ombros e a puxou para si. O beijo ardente a tomou de
surpresa.
Tudo era apenas uma farsa, mas isso não impediu seu tolo coração de se animar.
Abraçou a cintura máscula e ele forçou-a a abrir mais a boca. Meg temeu que o evidente
desejo fosse apenas reflexo do seu. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem
fôlego, fitando-se em muda interrogação.
— Eu... voltarei logo — Meg conseguiu balbuciar, e fugiu para o andar superior como se
um bandido terrível a estivesse ameaçando.
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CAPÍTULO IV

Assim que Meg encontrou-se a sós com Steve, passou a lhe esmurrar o braço. Esforço
inútil, logo percebeu. Seu punho mal se fazia sentir na musculatura rija. Por fim, já com a
mão dolorida, cruzou os braços sobre os seios, pronta para voltar ao ataque ao mero sinal
de perigo.
— Por que a surra?
— Você exagerou — acusou-o, sem entender direito o próprio acesso de ira.
— Tinha de convencer sua filha de que não servia para padrasto, não é?
Meg passou a massagear a mão dolorida.
— Sim, mas foi muito além do planejado. Toda aquela baboseira sobre eu ser linda e o
deixar embasbacado... Convenhamos, você beirou as raias do ridículo! — criticou-o
enquanto caminhavam até o local onde estava estacionada a motocicleta Harley-Davidson.
— Pois acho que fiz um trabalho memorável — defendeu-se ele, um sorriso sensual
pairando nos lábios perfeitos.
— Isso já é outro assunto. E aquele beijo, foi mesmo necessário?
— Essencial, eu diria. Lindsey precisava me ver em ação.
— Você amedrontou minha filha.
Os olhos de Steve lançaram chamas, mas depois se suavizaram.
— Você gostou do beijo. E agora não sabe o que fazer.
— Não seja ridículo. Quase me matou de falta de ar. Foi... horrível.
— Não, não foi. — O expressão do rosto moreno era de clara descrença, e o tom grave
do riso, pura instigação. — Talvez eu deva lhe provar quanto está errada.
— Vamos passar por cima disso — ela falou, categórica — e ir direto ao que importa.
Você vai me levar para passear por uma hora e me deixar em casa. Certo? A propósito,
onde conseguiu a motocicleta?
— É minha.
— Sua?
Ele era exatamente a espécie de homem que deixaria sua mãe alarmada. E lá estava
Meg, flertando com o perigo. Afastou-se ante o movimento de aproximação de Steve.
— Pouco conhece sobre homens, não é?
— Fui casada por aproximadamente seis anos — informou-lhe. Estavam a pouca
distância um do outro, perto demais para ela sentir-se senhora de si. Procurou concentrar-
se em manter a espinha ereta e o olhar impassível. Se a motocicleta pertencia a Steve, era
razoável concluir que a jaqueta de couro também. O personagem que ele assumira diante
de Lindsey, a de um criminoso, poderia não estar longe da realidade.
— Desde então não esteve com um homem, não é? O rosto de Meg tingiu-se de púrpura.
— Eu me recuso a responder questões de natureza pessoal — golpeou, a voz ríspida.
— Não esteve — declarou ele, confiante. — Olhe para mim.
— Não. Vamos dar o bendito passeio de moto.
— Olhe para mim — insistiu.
Ela tentou resistir, mas o calor e o hipnotismo das palavras ã venceram.
— Sim? — murmurou, o coração batendo alto. Mãos imensas e másculas tomaram seu
rosto.
— Admita — sussurrou ele. — Sei que gostou do beijo. Diga isso.
Como era difícil resistir ao esplendor dos belos olhos castanhos!
— Como um homem pode dar tanta importância a um mero beijo?
Steve franziu a testa. Ela sentiu-se mais vulnerável ainda, perdida e ansiosa por
recuperar o autocontrole.
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— Para seu registro, ambos quisemos estar próximos, trocando um forte abraço e um
beijo intenso. Não há como negar os sinais enviados por nossos corpos.
— Está louco.
Ela baixou o olhar, mas logo percebeu ser esse gesto um erro tático. Antes que pudesse
reagir, lábios resolutos tomaram os seus para um longo beijo.
Meg queria protestar. Se lutasse, desse-lhe alguns murros, talvez fosse libertada.
Gostaria de pensar que sim, mas não tinha certeza. Sua única objeção, entretanto, foi um
leve gemido, mais indicado para encorajá-lo do que para afastá-lo.
Sem convite ou cerimônia, Steve voltou a beijá-la com intensidade, provocando-a,
seduzindo-a a ponto de fazer ruir todas as defesas que Meg a tanto custo procurava manter.
Foi então que, subitamente, passou a ser de extrema importância estarem tão perto um
do outro. Meg não soube exatamente como aconteceu, mas em segundos encontrou-se
sentada no banco de couro da motocicleta, com braços poderosos a prendê-la pela cintura.
Em seguida, as mãos de Steve acariciaram as curvas de seus quadris e a puxaram com
precisão.
Ela não precisou de outros incentivos para se aconchegar aos contornos masculinos que
a tentavam. Era bom sentir a musculatura firme das pernas e das costas de Steve.
Meg, lá no fundo de sua mente, sabia ser prudente afastar-se. Abriu os olhos com
determinação e fez força para se soltar. Steve resistiu a princípio,- mas em seguida relaxou
e permitiu que se separassem.
— Nossa! — exclamou, alterado.
Ela cuidava para voltar a respirar decentemente. Sentia-se como se tivesse ganhado o
primeiro beijo de sua vida. Parecia que nunca fora abraçada, quanto mais casada. Era como
se nunca houvesse partilhado de sua intimidade com um homem.
Piscou repetidas vezes, Steve deu-lhe as costas, como se não soubesse o que dizer.
Passava a mão pelos cabelos, revelando o nervosismo que o dominava, as emoções
perturbadoras que lhe roubavam o controle,
— Suponho que tenha feito isso para me ver admitir que apreciei seu contato — ela
murmurou, condescendente.
Não gostava de lidar com esses sentimentos. Era fácil justificar sua reação física. Era
uma mulher normal e ele, um homem atraente. Não havia, entretanto, um argumento plau-
sível para o abalo em seu equilíbrio emocional.
— Não tem de admitir nada — foi a resposta seca. Steve ligou o motor.
— Pare!
— O que há de errado agora?
— Nada. Apenas vá devagar, está bem?
— Não estou exatamente com um humor plácido.
— Foi o que pensei.
Meg ignorava o rumo que tomariam. Deu uma olhadela ao redor, imaginando quantos
vizinhos teriam presenciado o beijo cinematográfico seguido de um passeio de motocicleta.
Vendo sob essa ótica, a situação era bem engraçada.
— Segure firme — ouviu-o gritar.
Ante o aviso, enlaçou a cintura firme da maneira mais impessoal possível. Pelo menos
até a primeira curva. Daquele momento em diante, mandou a cautela às favas e tratou de
se proteger, atando-se ferreamente ao corpo de Steve.
Sentiu-se imensamente grata ao perceber que não iriam muito longe. Pararam a cerca
de um quilômetro de sua casa. O motor foi desligado, mas ambos permaneceram parados.
— Você está bem? — Steve perguntou após um momento.
— Ótima. Foi... divertido.
Meg surpreendeu-se com sua crescente habilidade em ser convincente em suas
mentiras. Suas emoções estavam à flor da pele e isso nada tinha a ver com o passeio de
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moto. Seu coração recusava-se a bater em um compasso tranqüilo. Deixar de pensar no


beijo partilhado era uma utopia. A primeira vez fora traumática, mas nem de longe
comparável à sensação enlouquecedora da segunda.
— Aguardaremos mais cinco minutos e então a levarei de volta — disse ele. — Isso dará
a Lindsey tempo de sobra para se preocupar sem entrar em pânico.
— Perfeito.
— Então amanhã à tarde eu a pegarei depois do trabalho e você poderá fazer sua
encenação para minha irmã.
— Certo.
Meg fez um gesto afirmativo com a cabeça. Só esperava que sua dramatização fosse
tão eficiente quanto a dele.
— Feito isso, não vejo motivos para voltar a nos encontrar — Steve complementou.
Meg não entendeu o que fizera de errado para merecer uma descartada tão explícita,
mas também sentia necessidade de voltar à rotina que tinha antes do rebuliço armado pelas
garotas.
Ficava uma pergunta no ar, à procura de uma resposta. Será que se adaptaria ao que
antes era a tradução de uma vida feliz?
O dia não foi dos melhores. Steve quis atribuir aos problemas com a loja seu mau humor,
mas tudo correra bem na perfumaria Emerald City. Restou-lhe, como única causa de tanta
irritação, seu encontro com Meg Remington.
Soube desde o princípio que envolver-se com ela seria procurar problemas. Mas
recusara-se a acatar o próprio conselho e via-se afundando em areia movediça. Tudo
porque não quisera magoá-la na noite em que se conheceram.
Somente podia culpar a si mesmo pelos acontecimentos que se sucederam ao jantar.
Fora divertido vestir o jeans, a jaqueta de couro e bancar um cowboy sobre duas rodas,
mas devia ter contido seus ímpetos.
Que estupidez tê-la beijado. Fora um tolo ao forçá-la a assumir quanto havia gostado
daquilo. Pois era esse o preço que pagava por deixar o orgulho suplantar a razão.
Aprendera a lição. Na próxima vez que se sentisse tentado a beijar Meg, iria controlar-
se. Mas... como era bom tocar os lábios tenros e macios! Um pouco mais e a agarraria no
meio da rua.
Não, com Meg não. De jeito nenhum. Ela se sentiu ultrajada como uma freira ante o roçar
de seus corpos. Aparentemente esquecera-se que um homem e uma mulher faziam esse
tipo de coisa. E adoravam. Seguiam adiante, inclusive, para fazer ainda mais.
Era uma solitária convicta. Melhor assim, não precisava de laços dessa natureza. Quem
precisava, afinal?
Apenas mais uma noite, assegurou-se. Levaria Meg para conhecer Nancy e, quando se
despedissem, tudo estaria encerrado. Para sempre. Nunca mais voltariam a se ver. Isso,
se ela fizesse uma encenação bem convincente. Já fizera sua parte com Lindsey, e
esperava que o resultado com a irmã fosse igualmente bem-sucedido.
A despeito de seu péssimo estado de humor, Steve sorriu. Nunca se esqueceria do olhar
de espanto e choque de Lindsey quando adentrou a casa delas. O maxilar da adolescente
foi ao chão quando ele pôs o braço ao redor da cintura de Megan. E disse que o namoro ia
de vento em popa. Na verdade, jamais se esqueceria do olhar de Meg. Deu uma sonora
gargalhada.
— Algo engraçado? — perguntou Gary Wilcox.
— Nada. Volte ao trabalho, vamos!
Às seis horas da tarde, Steve já estacionava atrás da livraria de Meg. Não gostava de ter
de se esgueirar e bater sorrateiramente à porta dos fundos, mas ela fizera questão de que
fosse assim.- Bem, consolou-se, muito em breve estaria livre. Não mais teria de passar por
constrangimentos dessa espécie.
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Bateu e aguardou, impaciente, durante alguns minutos. Uma mulher com as saias mais
curtas que já viu o atendeu, os cabelos armados formando um capacete.
— Vim falar com Meg Remington.
Meg fez tanta arruaça para que viesse ter com ela às escondidas e mandava outra
pessoa atender à porta? Mas que ousadia!
— Steve — sussurrou ela. — Sou eu.
— Mas... o que diabos faz metida nessas roupas? — Afastou-se e a observou mais
atentamente. — Vamos nos encontrar com minha irmã, e não ir a uma festa à fantasia.
— Posso tomá-lo como referência. Chegou aqui pronto para ver um anjo em forma de
mulher. O que esperava que eu fizesse?
Steve passou a mão pelo rosto. Já não sabia de mais nada. Só queria acabar para
sempre com essa situação constrangedora.
— Está bem. Vamos sair daqui.
— Espere só um momento. Preciso trocar de sapatos.
Voltou usando um modelo vermelho com saltos finos e imensos. Steve não acreditava
que alguém conseguisse andar suspensa em palitos, mas ficou calado.
Conduziu-a até o carro e abriu a porta. Percebeu um suspiro de alívio quando ela se
acomodou no assento.
— Não saberia o que fazer se você viesse de motocicleta. Encabulada, Meg tratou de
esticar a exígua saia.
— Normalmente saio de carro. Apenas lembre-se — acrescentou ele — Nancy é alguns
anos mais velha do que Lindsey. Não será tão facilmente enganada.
— Tomarei cuidado para não cometer excessos, como certa pessoa que conheço...
O trajeto levou uma eternidade e a culpa não foi do trânsito. De fato, quando Steve olhou
para o relógio, surpreendeu-se com a rapidez com que chegaram. O que fez o percurso se
tornar tão problemático foram as pernas de Meg. Ela as cruzara, expondo muito da pele
sedosa e firme.
Ele nunca se considerou um maníaco por essa parte da anatomia feminina. Admirava as
mulheres em seu todo, a umas mais que a outras. Era, entretanto, uma tortura estar lado a
lado com Meg no confinamento de um carro e manter o olhar distante das monumentais...
pernas. Droga, a mulher era sensacional.
Nancy estava aguardando no alpendre quando estacionaram defronte à casa.
— É aqui que mora sua irmã?
— Aqui é minha casa.
— Sua casa? É muito bonita.
— Obrigado. — Ele desligou o motor. — Nancy estuda na Universidade de Washington
durante nove meses por ano. Nossos pais moram em Montana há bastante tempo.
— Sei, sei. Nancy mora com você?
— Não exatamente, mas achou trabalho por aqui durante o verão e permiti que ficasse
comigo por uns meses — ele explicou, e saiu do automóvel. — Um erro que não pretendo
repetir.
Sem desprender os olhos na irmã, curioso por ver sua reação, e ajudou Meg a sair do
carro. A expressão da garota pouco revelava, mas ele a conhecia bem demais para saber
quanto estava perplexa com a aparência de sua acompanhante.
— Você deve ser Nancy — disse Meg com voz lenta e rouca.
— E você deve ser Meg — respondeu a jovem, descendo os degraus para cumprimentá-
la. — Estava louca para conhecê-la.
— Espero não a desapontar.
As últimas palavras foram dramatizadas, para indicar quanto ficaria arrasada se a
decepcionasse. Pôs dengosamente a mão no braço de Steve e se equilibrou melhor sobre
os sapatos. Só então ele notou as imensas unhas postiças vermelhas a cintilar nos dedos
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de Meg.
Aparentando tranqüilidade, Nancy abriu a porta e sorriu.
— Por favor, entre.
Os saltos dos sapatos de Meg se enrascaram no calçamento, mas logo se soltaram.
Subiram os degraus e entraram na sala. Steve olhou ao redor e ficou satisfeito em descobrir
que a irmã limpara a casa toda. Um verdadeiro milagre.
— Oh, benzinho —Meg falou, manhosa. — Nunca me contou como seu lar é lindo. —
Passou a mão com unhas enormes pelo rosto dele. — Na verdade, querido, ainda não
tivemos tempo de conversar sobre uma série de assuntos, não é?
— Sente-se.
Ela obedeceu e cruzou as pernas com pompa e cerimônia. Deu uma batidinha no
assento ao lado, sinalizando para que Steve se acomodasse ali. Após uma olhadela para
sua poltrona favorita, ele obedeceu.
Assim que o viu acomodado, Meg colocou uma das mãos sobre um joelho dele e passou
a brincar com as unhas na coxa. Para cima e para baixo. Suando frio pelo gesto provocativo,
o dono da casa agarrou a mão insinuante.
Meg fitou-o com ar inocente, mas Steve a conhecia bem o bastante para saber que a
atitude fora deliberada.
— Acho que deve estar com fome. Sei que meu irmão a levará para jantar. Por isso,
preparei apenas alguns aperitivos — Nancy disse, e se retirou.
— O que diabos estava fazendo? — Steve sussurrou assim que a garota deixou a sala.
— Fazendo? Como assim?
— Deixe para lá — murmurou ele entre os dentes, ao ver que Nancy retornava.
— Parecem deliciosos — Meg elogiou quando a bandeja de prata foi colocada na mesa
de centro. — Mas não posso comer nada.
Era a primeira vez que a menina cozinhava desde que se mudara para lá, e Steve não
queria desperdiçar a ocasião. Escolheu um pequeno enrolado de queijo.
— Não devia ter tido tanto trabalho — Meg disse a Nancy. A garota, sentada no sofá em
frente a eles, parecia não encontrar nada para falar. — Suspeito que esteja pensando em
todas as cartas que lhe escrevi — Meg tomou a dianteira da conversa. — Espero que tenha
gostado de mim pessoalmente.
— Oh, é claro.
— As pessoas comentam coisas a meu respeito, mas desde já eu lhe peço para não lhes
dar ouvidos.
Meg estendeu mão, limpou um canto da boca de Steve e lambeu o dedo. Droga! Apesar
do susto, o gesto lhe pareceu mais sensual que nunca. Estava com vontade de beijá-la.
— Há muito tempo aprendi o que os homens querem de uma mulher — Meg prosseguiu.
— Isso me ajudou muito quando trabalhava como atendente de uma linha de sexo por
telefone. A maioria dos rapazes era muito amável. Só procuravam por uma mulher que lhes
falasse algumas palavras mais picantes.
— Sei.
Nancy massacrava as próprias mãos, em um gesto nítido de embaraço e tensão.
— Uma vez, um rapaz desejou assustar uma garota. Tive um trabalhão para me mostrar
apavorada. Foi divertido.
Riu escandalosamente.
— Por que... por que alguém como você colocou um anúncio no correio amoroso do
jornal? — Nancy perguntou, e, nervosa, afastou uma mecha de cabelos.
— Bem... acho que é o único jeito de uma pessoa como eu encontrar alguém decente.
Mas não foi seu irmão quem respondeu ao anúncio, foi?
— Não, mas...
— Não que isso importe — Meg a interrompeu. — Estava cansada de meu trabalho e de
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todos aqueles homens a me falar toda sorte de obscenidades. Sabe, docinho, tive um pas-
sado, digamos, incomum, mas isso não quer dizer que eu seja uma má pessoa. Tenho um
coração transbordante de amor. Tudo de que necessito é do homem certo.
— Entendo.
Um olhar longa e meloso pousou em Steve.
— Muitos pensam que mulheres como eu não têm sentimentos, mas estão errados.
— Tenho certeza de que estão — Nancy balbuciou.
— Concluí ter feito uma escolha acertada ao saber que seu irmão tem seu próprio
negócio.
— Ele luta há anos para uma estabilização financeira — a menina apressou-se em
esclarecer. — Ainda está instável. Não é, Steve?
— Não mais. Já estou em uma situação bastante confortável — ele respondeu
calmamente, esforçando-se para conter o riso.
Ficou abismado em perceber como estava gostando desse jogo.
— Posso ver com meus próprios olhos como meu querido está se saindo bem. Basta
ver como me trata. Como você é maravilhoso, benzinho! — 0 olhar de adoração o deixou
embaraçado. — Precisa ganhar bastante dinheiro para manter o padrão de vida a que estou
habituada, não é, amorzão?
— Oh! — A pobre Nancy estava à beira de uma síncope.
— E claro que eu não seria capaz de tirar algo dele sem dar um retorno. E será bem
justo, pode acreditar. — Fez um carinho na perna de Steve e passou os olhos sensualmente
por todo o corpo masculino. — Há certas coisas que desejo ensinar a seu irmão, sabe? —
Meg falou com voz rouca ao passar a língua pelos lábios.
Parecia pronta para iniciar as aulas imediatamente. Para intensificar o desconforto
reinante, Steve não tirava os olhos dos seios fartos dela. Assumiu, pesaroso, nunca ter
prestado a merecida atenção a essa parte da anatomia de sua acompanhante. Como pôde
ignorar as formas voluptuosas que ameaçavam pular para fora da blusa?
Passou a respirar com dificuldade.
— Steve? — Nancy falou com rispidez.
Após alguns segundos, ele fitou a irmã, que já estava com as mãos na cintura.
— Sim?
— Não escutou o que Meg disse?
— Não.
Ele deu de ombros. Sabia que as duas haviam estado conversando, mas o tema lhe
escapara.
— Meg está falando sobre morar aqui com você.
— Não quero que se sinta pressionado, querido — ela comentou e inclinou-se para a
frente, tocando-lhe a orelha com a língua. Um fogo percorreu toda a espinha de Steve. Ela
gargalhou e disse a Nancy: — Tenho um talento todo especial com a língua.
A garota fechou os olhos, como se não pudesse suportar mais uma palavra. Steve
duvidava de quanto tempo mais poderia resistir e sugeriu:
— Já está na hora de ir para o restaurante.
Caso contrário, passaria a acreditar nas promessas que Meg fazia sem parar. Na
verdade, queria pôr fé em cada gesto. A dona de livraria era absolutamente diferente do
que pensara. Todos os traços de inocência haviam dado lugar a uma mulher felina, sensual
e capaz de fazer seu sangue ferver.
— Já quer ir embora? — Meg perguntou em voz chorosa.
— Talvez seja melhor — Nancy opinou. — Quero dizer, vocês dois não vão querer
desperdiçar a noite comigo, vão?
A última sentença foi pronunciada com vagar e dirigida ao irmão.
— Não.
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— Infelizmente continuo trabalhando para a empresa de sexo por telefone. Então não o
reterei por muito tempo. Mas posso lhe garantir que ele estará exausto quando voltar para
casa.
Como se tivesse julgado as próprias palavras um primor de espirituosidade, Meg voltou
a gargalhar.
Somente quando estavam no carro Steve deu-se conta do quanto se sentia aborrecido.
Não fazia o menor sentido, mas era assim que se sentia.
— Por que está tão bravo? — Meg inquiriu no caminho para a livraria.
— E você que falava sobre excessos...
— Achei que tivesse feito um bom trabalho.
— Você se portou como uma...
— Eu sei. Era exatamente o que queria. Acredita que sua irmã vá incentivar nosso
relacionamento depois dessa encenação?
— Não.
— Posso lhe garantir que Lindsey não me quer mais a seu lado. Pensei ser este nosso
plano.
— Parecia uma boa idéia quando o elaboramos. O melhor modo de convencer sua filha
de que eu não era o homem certo para você.
— E à sua irmã de que eu não servia para estar a seu lado.
Um silêncio sepulcral reinou absoluto durante vários segundos. Nenhum dos dois
demonstrava disposição para conversar. Steve estacionou atrás do carro de Meg.
— Já não tenho mais certeza — ele murmurou cabisbaixo.
— A respeito de quê?
— Nós. Em algum momento desta confusão, passei a gostar de você. — Era difícil
admitir, mas fundamental para sua paz de espírito. Esperava que seu empenho em
suplantar o orgulho tivesse algum reconhecimento por parte de Meg. Respirou fundo e
preparou-se para continuar a falar. — Provavelmente eu nem teria percebido, não fosse a
farsa de hoje.
Gostaria que ela dissesse alguma coisa. Quando finalmente se manifestou, foi com um
tímido fio de voz:
— E então houve o beijo.
— Beijos — corrigiu-a. — Foram maravilhosos e ambos sabemos disso.
— Tem razão.
— Especialmente o da motocicleta — Steve comentou, para incentivá-la a falar.
— Especialmente aquele da motocicleta — repetiu ela. — Francamente, você já sabia
disso.
— Sim.
— Sou... péssima em disfarçar sentimentos. Não, mas era melhor aquiescer.
— Que tal jantarmos juntos? — sugeriu Steve.
Estava ansioso por ter a verdadeira Meg Remington de volta. Queria sentir o sabor da
boca macia, checar se os beijos faziam jus à lembrança que povoava seus pensamentos
incessantemente.
Para sua agonia, ela hesitou. Droga, seria mais um artifício para alimentar a renomada
vaidade feminina?
— Eu gostaria, mas não posso.
— Por quê?
— Prometi a Lindsey que estaria em casa por volta das sete horas e só faltam cinco
minutos.
— Ligue para sua filha e diga que vai jantar comigo. Meg respirou profundamente e
pareceu envergonhada.
— Também não posso fazer isso.
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Steve não entendia a razão de tantas desculpas.


— Por que não?
— Após sua visita, prometi a Lindsey que conversaríamos. Ela queria que fosse ontem
à noite, mas não deu. Foi minha culpa. Você insistiu em me beijar e não fiquei calma o
suficiente para explicar nada à minha filha.
— Tudo é culpa minha?
— Sim.
— Sabe sobre o que Lindsey quer falar?
— E claro que sei. Sobre você. Não quer mais que eu o veja, o que era exatamente
nosso objetivo, lembra-se?
— Sim.
— Está... sugerindo que mudou de idéia? — ela perguntou timidamente.
— Sim. — Odiava ser o primeiro a assumir, mas um dos dois precisava ceder. — E
quanto a você?
— Acho que... também. Steve apertou o volante.
— Juro que você é a pior coisa que já aconteceu a meu ego. — Meg riu e apoiou a
cabeça no ombro dele. — É verdade. O mínimo que poderia fazer seria mostrar algum
entusiasmo.
— Pouco tenho namorado nos últimos dez anos. Se fosse escolher alguém, certamente
seria você.
— Isso soa bem melhor.
Queria beijá-la. Mesmo que brevemente. Nutria essa vontade desde o instante em que
a pegara na livraria.
— Só uma coisa... — disse ela, parecendo infinitamente infeliz,
— O quê? — perguntou Steve, mas nem se importou com o assunto, já que uniu seus
lábios aos dela para um longo beijo.
Parecia o paraíso. Todas as lembranças foram reavivadas e confirmadas. Meg o abraçou
e aproximou mais seus corpos. Quando se afastaram, Steve apoiou a cabeça na janela do
carro, mantendo os olhos cerrados. O carinho havia sido ainda melhor do que esperara.
Um feito quase impossível.
Meg apoiava a cabeça no peito forte e cheiroso.
— E tarde demais — disse ela.
— O que é tarde demais?
— Tivemos um trabalho e tanto para convencer Lindsey de que você não serve para
mim.
— Eu sei, mas....
— Acha que Nancy acreditará que foi apenas uma piada de mau gosto a encenação de
agora há pouco?
— Não.
— O ideal seria deixarmos a situação como está, concorda?
— Se for o que deseja... Meg distanciou-se.
— Acho que é o melhor a fazer — disse por fim, uma ponta de arrependimento já
ameaçando dissuadi-la.

CAPITULO V

Lindsey aguardava por Meg na sala de estar. Ouviu o carro estacionar e minutos depois
abriu a porta.
— Olá, querida — a mãe a cumprimentou.
— Já passa das sete horas! — a garota acusou, aproximando-se. — Esteve com Steve,
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não foi?
— Ah...
Não queria mentir. Meias verdades e insinuações só piorariam a situação. Lindsey
fechou os olhos e gesticulou, como se a ausência da resposta já tivesse explicado tudo.
— Deixe para lá. Não precisa falar nada.
— Querida, qual o problema? — Meg indagou do jeito mais calmo que pôde.
Infelizmente, as palavras não soaram tranqüilas. Despedira-se de Steve há poucos
instantes e estava com peso na consciência. Após inventar e encenar a farsa ridícula, ele
viera com aquela história de ter mudado de idéia, de desejar continuar a vê-la. Só podia
estar nervosa!
Ainda bem que dera um basta àquilo tudo. Só que, nesse momento, já não sabia se
havia tomado a decisão mais acertada.
— Mamãe — Lindsey falou, os imensos olhos a brilhar —, precisamos conversar.
— É claro — aquiesceu ela, caminhando para a cozinha e pegando um pacote de chá
no armário. — Mamãe sempre fazia um chá bem gostoso quando tínhamos de falar sobre
algo importante.
Por algum motivo misterioso, parecia que a bebida ajudaria a colocar os fatos em
perspectiva. Meg sentia falta desses momentos partilhados com a mãe.
Lindsey a ajudou a pegar as xícaras e a levar tudo para a sala. Serviram-se, as duas
separadas pela mesinha de centro. Meg esperou um pouco e, ao deduzir que a filha não
sabia por onde começar, resolveu ajudá-la.
— Quer falar a respeito de Steve, certo?
As mãos da menina apertaram a fina porcelana da xícara e ela baixou o olhar.
— Você gosta dele de verdade?
Como a pobrezinha parecia preocupada e insegura!
— Sim.
— Mas por quê? Quero dizer, ele não é nada daquilo que pensei. Acho que foi o castigo
que eu e Brenda merecemos por ter escrito todas aquelas cartas em seu nome. Se você
tivesse lido as correspondências, teria percebido o tipo de pessoa que Steve é, mas nós
nada notamos. Pelo menos foi o que Brenda disse.
— Na verdade, ele é uma pessoa de classe. Lindsey arriscou olhar de soslaio para a
mãe.
— Você me disse centena de vezes que não queria que eu julgasse os outros com
preconceito, mas às vezes é impossível.
— Está preocupada com meu namoro, não está?
Meg sentia-se angustiada. Não queria dar continuidade à armação, mas como sair dessa
rede tão complicada?
— Agora sei quanto eu e Brenda fomos idiotas. Acabamos por ligá-la a um sujeito que
teve passagem pela prisão. Foi fácil, para ele, enganar a nós duas. Temos apenas quinze
anos de idade!
— Mas saiba que gosto de Steve.
Precisava ser sincera. Lindsey parecia não ter contado com a possibilidade dessa
declaração.
— Temo que ele a machuque.
— Ele jamais faria isso, mas entendo sua preocupação. E prometo tomar bastante
cuidado.
Lindsey aprumou-se e falou, como se não mais pudesse conter as palavras engasgadas
em sua garganta:
— Não quero que o veja nunca mais.
— Mas...
— Falo sério, mamãe. Esse cara é encrencado. Quero que me prometa que não se
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encontrará com Steve Conlan novamente.


— Lindsey...
— Isso é muito importante. Pode não compreender neste momento, mas juro que
entenderá no futuro. Há centenas de homens, cidadãos que seguem a lei, que dariam tudo
o que possuem para ter uma mulher como você.
Meg balançou a cabeça em sinal de desalento. Não podia acreditar no que estava
ouvindo. Parecia uma colegial, recebendo um sermão da mãe.
O olhar intenso de Lindsey abrandou e a menina fez um gesto de impotência.
— Haverá um dia em que me agradecerá por isso.
— E mesmo?
— Haverá um garoto em minha vida que você desaprovará e eu simplesmente não
conseguirei entender o que existirá de errado nele. Quando isso acontecer, por favor, faça
com que eu me lembre de hoje.
Meg arregalou os olhos e ficou boquiaberta.
— Por acaso está dizendo que se separaria de um garoto somente porque não gosto
dele?
— Não — Lindsey respondeu com cautela. — Mas consideraria suas colocações porque
já terei passado por experiência semelhante ao vê-la ao lado de Steve. Então será mais
fácil entender como você estará se sentindo. Não me leve a mal — apressou-se em
acrescentar. — Não deixo de gostar de Steve. É bonitão. Apenas acho que poderia
encontrar alguém que combinasse mais com seu jeito.
— Vou pensar.
A filha pareceu satisfeita.
— Não pediria nada além disso.
Apesar das palavras incomuns, Meg sabia que a conversa giraria em torno do
rompimento de seu pseudo-namoro. Mesmo assim, ao término do bate-papo sentia-se
ainda mais deprimida.
Não tinha o menor talento para gerir relacionamentos amorosos, pensou tristemente
enquanto lavava os pratos, após o jantar. Steve lhe revelara que gostaria que dessem uma
chance ao que sentiam um pelo outro, e ela acabara-lhe com as esperanças em vez de
assumir a verdade.
Olhou de relance para o aparelho telefônico. A tentação de ouvir a voz grave e calorosa
era enorme. As coisas não podiam terminar desse modo, com ambos magoados, temendo
desperdiçar uma oportunidade ímpar de ser felizes.
A espera foi terrível. Nunca uma noite transcorreu com tamanha lentidão. Lindsey
pareceu demorar mais do que o habitual para se recolher e, quando isso finalmente
aconteceu, Meg já estava quase aos prantos. Exausta.
Assim que teve mais ou menos certeza de que a menina adormecera, caminhou pé ante
pé até a cozinha e discou o número da casa de Steve. Seu coração, aos saltos, ocultava o
barulho das chamadas.
— Steve? — sussurrou. — Ainda bem que é você. Não saberia o que fazer se Nancy
atendesse.
— Meg?
— Quantas mulheres costumam ligar para você às onze horas da noite?
Ele não respondeu de imediato, e quando o fez foi em um tom bem mais hospitaleiro:
— Pensei que tivesse dito que não seria bom voltarmos a nos ver.
— Eu... não sei o que quero.
— Espera que eu tome a decisão por você?
— É claro que não.
Estava se saindo muito mal. Pessimamente. Devia haver aguardado até ter condições
de entender os acontecimentos. Assim, agiria com maior propriedade.
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— Há um motivo específico para seu telefonema?


— Sim — afirmou ela, já arrependida. — Gostaria de me desculpar por ter sido tão...
ríspida. Mas percebo que não o devia ter incomodado.
Dito isso, Meg cuidadosamente recolocou o fone no gancho. Por um longo momento
ficou imóvel, anestesiada, fitando o telefone, uma das mãos sobre os lábios. A rejeição fora
um castigo por ter sido tão tola!
Já se virava para sair do ambiente quando o telefone tocou, fazendo-a pular. Atendeu
rapidamente, antes que Lindsey acordasse.
— Alô.
— Encontre-se comigo. Era Steve.
— Não posso deixar Lindsey sozinha.
— Por que não? Ela está na cama, não está?
— Sim, mas...
— Deixe-lhe um bilhete dizendo que foi à mercearia. — Tudo parecia tão razoável
quando vinha dele... Era como se a vida toda tivesse se habituado a fazer compras no meio
da noite. — Sua filha nem saberá que você saiu.
Meg hesitou e cerrou os olhos. Haviam estado juntos há apenas algumas horas, mas
sentia-se como se não o visse há semanas.
— Está bem, mas não poderei me ausentar por muito tempo.
— Sem problema.
Combinaram um encontro no estacionamento Albertson. Lá, a mercearia ficava aberta
vinte e quatro horas por dia. Meg permaneceu dentro do carro até que o viu chegar.
Insegura quanto à decisão a tomar, saiu do automóvel e aguardou que ele se aproximasse.
Não poderia se mostrar muito afoita ou entraria em contradição. Novamente.
Já frente a frente, ficaram imóveis, em muda contemplação.
— Não acredito que estejamos fazendo isso! — Meg foi a primeira a falar.
Aparentemente, não era a única a ter dúvidas.
— Nem eu.
Entraram na loja juntos, rumo à pequena lanchonete que ficava nos fundos. Lá havia
algumas mesas, e seria possível conversar com certa tranqüilidade. A fim de não despertar
suspeitas em algum conhecido, optaram por pegar dois carrinhos e comprar alguma coisa.
Assim, pareceria que haviam se encontrado por acaso.
Aliás, no bilhete deixado a Lindsey, Meg dissera ter ido às compras porque estava sem
sono. A desculpa se encaixaria perfeitamente na estratégia que haviam montado.
A cafeteria, única seção a funcionar apenas até as vinte e três horas, já estava fechada,
mas Steve convenceu o gerente a lhes providenciar um café.
E assim os dois, com os carrinhos quase vazios, entreolharam-se sem nada falar. Talvez
porque não soubessem o que dizer.
Meg sentia-se perdida. Agira encorajada pelo telefonema de Steve, mas, ao ver o
semblante másculo tão endurecido, suspeitava de que ele estivesse arrependido.
— Lindsey pediu que não voltássemos a nos ver.
— E você concordou?
— Não inteiramente.
— E melhor ser mais objetiva.
— Ela não o quer por perto. Acha que não é o homem certo para mim.
Teria sido menos traumático se Steve não tivesse falado sobre a suposta liberdade
condicional e sobre o policial que o fiscalizava.
— Você prometeu que se distanciaria de mim ou não?
— Nem uma coisa, nem outra.
— Então o que lhe disse? Meg deu de ombros.
— Que pensaria a respeito.
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— Já pensou?
Apoiando os cotovelos sobre a mesa, ela bebericou o café e evitou os olhos
perscrutadores a encará-la.
— Tomei a iniciativa de telefonar para você, não foi?
— Ainda não descobri o motivo. Esse era o problema. Nem ela.
— Se já o conheço o bastante, o próximo passo será me perguntar se gostei dos beijos.
Steve sorriu pela primeira vez.
— Não machucaria falar, não é?
— Está bem. Se significa tanto para você, eu admito. Nunca fui beijada daquela maneira.
Não sei o que pensar. Queria que parasse, porque meu corpo estava envolto em chamas,
mas também desejava que prosseguisse mais e mais.
— E...?
— Meu casamento foi tão insosso que passei a duvidar de que pudesse... experimentar
essa espécie de sensação. Temia... ser frígida. — O constrangimento a fez olhar para o
café e bebê-lo de um só gole.
Steve deu uma sonora gargalhada.
— Está brincando?
Meg levantou a cabeça com esforço.
— Por favor, não ria. Ele tomou-lhe as mãos.
— Estou diante de uma das mulheres mais sensuais que conheci. Acredite, querida.
— É mesmo?
Meg lhe ofereceu um frágil sorriso.
— Não acho uma boa idéia a senhorita me olhar dessa maneira.
— Como?
— Como se desejasse que eu a beijasse. Ela baixou as pálpebras.
— Talvez seu palpite esteja correto. E exatamente isso que torna tudo tão complicado.
Sinto-me extremamente atraída por você. Não foi assim com meu ex-marido e,
francamente, a ausência de desejo me assustava.
— Assustava?
Steve levantou-se e a puxou de leve, para que fizesse o mesmo.
— Aonde vamos?
— Para algum lugar onde possamos ter um pouco de privacidade.
Conduziu-a pela seção de comida congelada, passaram pela padaria e entraram no setor
de vinhos. Meg se apoiou no estoque de champanhe francês ao ser abraçada e beijada
com muita paixão.
A urgência tornou o abraço quase doloroso, mas ainda assim ela voltou ao mundo
encantado que a envolvia sempre que se encontrava com Steve.
Steve bocejou. Estava exausto. E por um bom motivo. Deitara-se por volta das três da
manhã e somente adormecera lá pelas quatro. O despertador o acordara às seis.
Chegou à loja e foi buscar uma enorme xícara de café. Apenas murmurou um
cumprimento a Gary.
— Espero que esteja com um humor melhor do que o de ontem — o assistente lhe falou.
Steve passeou os olhos sobre os pedidos.
— Problemas com uma mulher —justificou-se, como se isso explicasse tudo e
dispensasse um pedido de desculpas.
— Eu devia ter adivinhado. O que está acontecendo?
— Nem queira saber — ele murmurou, e dirigiu-se para a garagem.
— E claro que quero! — disse Gary, seguindo-o. — Suponho que tenha algo a ver com
Nancy. Estou certo?
— O que sabe a respeito de minha irmã?
— Pouco. Apenas me lembrei do que me contou sobre o esforço dela em uni-lo a uma
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mulher. Não tenho nada a ver com isso, mas parece que a tal Meg está mexendo com você.
Steve encarou o jovem.
— Como chegou a essa conclusão? Gary riu e cocou o queixo.
— Não o via tão entristecido há anos. Suspeito que esteja apaixonado. Por que não pára
de se torturar? Dê uma basta a essa situação angustiante. Arrisque-se. Tome uma atitude.
Steve grunhiu qualquer coisa e se afastou. O garoto era perspicaz e acabara de lhe dar a
solução ideal.
Steve entrou no escritório somente ao meio-dia. Certificou-se de que ninguém o
observava e foi direto para o telefone. Uma mulher chamada Lois atendeu, na livraria.
— A Sra. Remington, por favor — pediu ele em tom formal.
— Poderia lhe perguntar quem gostaria de falar com ela?
— Steve Conlan.
— Um minuto, por gentileza. Meg demorou a atender.
— Oi, Steve.
Parecia cansada, mas feliz em ouvi-lo. Bom sinal.
— Como vai? — perguntou ele, pondo a mão no fone para bocejar.
— Morta. Não sou tão jovem quanto imaginava.
— Lindsey soube que você escapuliu no meio da noite?
— Não, mas eu devia ter voltado mais cedo.
Steve nem entraria nesse mérito. Tinha algum arrependimento nesse sentido também,
estava cansado demais.
Haviam deixado a loja Albertson quando um repositor entrou na seção de vinhos e os
flagrou, deixando Meg roxa de vergonha. Ele, entretanto, adorou vê-la embaraçada, ficava
ainda mais bonita e desejável.
Sem outra idéia de onde levá-la àquela hora da noite, optara por Alki Point, onde se
sentaram e conversaram. Falaram sobre amenidades e descobriram muito em comum.
Acima de tudo, ele confirmou quanto gostava de Meg.
Voltaram a se beijar. Ambos sabiam que em breve esse carinho levaria a muito, muito
mais. Nem notaram o tempo passar,
— Quando voltarei a vê-la?
— Não sei...
— Prefere que não nos vejamos mais?
— Sabe que não é isso.
— Temos de tomar algumas decisões.
Haviam falado a respeito dos mais variados assuntos sob a luz da lua, mas não tinham
chegado a uma conclusão sobre como conduzir aquele relacionamento.
— Eu sei.
— Que tal hoje à noite? Ela hesitou e Steve cerrou os dentes.
— Está bem. Droga! Por que ficava sempre à mercê dessa mulher? Por que o sim lhe
soava como um bálsamo para o espírito?
— Ótimo. Eu a pegarei em frente à sua casa por volta das onze horas.
— Certo. Agora, preciso voltar ao trabalho.
— Eu também. Steve recolocou o fone no gancho e descobriu Nancy em pé junto à
porta, um olhar de franca desaprovação.
— Era Meg?
— Não é da sua conta — respondeu com rispidez, aborrecido com a petulância da
garota.
— Precisamos conversar a respeito dessa moça.
— Não pretendo discutir sobre Meg Remington.
— Como pode namorar com alguém como... aquela mulher?
— Devo lembrá-la de que foi você quem nos apresentou.
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— Sim, mas eu me decepcionei. Vamos falar sério. Pode imaginar-se apresentando-a


ao papai e à mamãe?
— Sim.
— Isso é problema seu, garotão. Sabe, pelo mesmo motivo Adão foi expulso do
paraíso...
— Acho que faria muito bem se parasse de se intrometer em minha vida. Estamos
entendidos?
— Mas...
— Eu tomo minhas decisões.
— E comete seus próprios erros — Nancy complementou, dando-lhe as costas e saindo
da sala.
— Somos loucos — Meg murmurou, sentada no carro de Steve. Bebericou a soda
limonada. — Não sabia o que fazer para escapar — confessou, encabulada. — Brenda foi
passar a noite com Lindsey e costumam dormir muito tarde, nessas ocasiões.
— Disse à sua filha que ia sair?
— Não, mas deixei um recado. Se tiver sorte, as danadas não irão para o andar de
baixo. Se forem, acharão que já dormi.
— Gostaria de ter outro encontro com Lindsey. Mas, dessa vez, eu lhe explicaria que
aquela história da liberdade condicional era brincadeira. O que acha?
— Temo lhe dizer que uma adolescente enfurecida é um horror.
— Era justamente o que eu temia. — Steve terminou a bebida e pôs o braço sobre o
ombro dela. — De uma coisa estou certo: serei eternamente capaz de rastejar na calada
da noite para ver você.
Meg levou a mão à boca e bocejou.
— Pois acho que estou muito velha para essas peripécias.
— Francamente, acho que nós dois estamos.
— Concordo.
Ela acabou de tomar o refrigerante e se acomodou no peito largo, aconchegante. Temia
não mais ser capaz de manter os olhos abertos.
— Nancy não quer que eu a veja novamente.
— Conversarei com ela e explicarei tudo. Surpreendeu-se com a confiança da própria
voz. Como se a solução para o problema se resumisse em olhar para a garota, sorrir e
revelar que tudo não passara de uma piada. Somente suspeitava de que, assim como
Lindsey, Nancy não ia achar graça alguma.
— Está combinado, então — Steve anunciou. — Falarei com sua filha e você com minha
irmã. Nenhuma das duas gostará de ter sido ludibriada. Será uma boa lição por terem nos
manipulado.
— Pode ser até que as duas fiquem felizes. Afinal, o plano delas funcionou. Não
exatamente da maneira como haviam traçado, mas estaremos namorando e é isso que
realmente importará, não é?
— É, sim.
Steve suspirou profundamente.
— Gostaria que tivesse sido diferente — Meg sussurrou, e recebeu um beijo na testa.
— Eu também.
Fecharam os olhos quase simultaneamente e Meg o beijou, notando uma certa
resistência. Era como se ele temesse pelas conseqüências desse carinho.
Sabia da tentação que os instigava, mas já não se importava. Nada era mais relevante
do que fazer amor com esse homem, que a beijava como se fosse mais preciosa do que
todo o ouro do mundo.
O beijo de Steve era calmo e gentil, doce e terno. Mas a delicadeza durou pouco. Uma
fome, uma paixão intensa dominou as outras sensações e despertaram nele um desejo
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quase primitivo.
— Meg...
— Eu sei, eu sei...
As mãos gigantescas, por dentro do suéter feminino, procuravam sem muito êxito abrir
o fecho do sutiã.
— Estou muito velho para fazer amor no banco de um carro
— falou sensualmente. Ela sorriu.
— E melhor pararmos...
— Eu sei. — Mas as mãos permaneceram onde estavam.
— Amanhã — disse ele, mal conseguindo respirar.
— Amanhã o quê? — inquiriu Meg. — Falaremos com Nancy e Lindsey.
— Boa idéia.
Quinze minutos mais tarde, Steve a deixava em casa. Somente quando o carro já partira
ela percebeu que esquecera a bolsa no banco de trás. Com a chave de casa dentro.
— Droga! — murmurou, e caminhou para os fundos, rezando para que a filha tivesse se
esquecido de trancar a porta da cozinha.
Em vão. Buscou então a chave extra, que há anos ficava escondida dentro de um vaso
de flores. Encontrou-a, felizmente. Entrou em casa o mais silenciosamente possível. Subiu
a escada na ponta dos pés, despiu-se no escuro e deitou-se.
O pastor alemão do vizinho latiu e Lindsey ergueu os olhos das unhas que pintava.
— Ele está latindo de novo.
— Acho que ouvi um barulho estranho — Brenda falou. Sempre curiosa, deu uma
olhadela pela janela e vislumbrou o quintal. — Há alguém em seu jardim — sussurrou, com
olhos arregalados.
— Não é uma boa hora para piadas.
— Não é piada. Há alguém lá.
— Quem?
— É um homem... Oh, meu Deus, é um homem! Venha ver. O pânico na voz da amiga
fez Lindsey correr até a janela.
O sangue pareceu congelar-se em suas veias ao reconhecer a figura masculina.
— É Steve Conlan!
— Oh, não! O que ele tem nas mãos?
Lindsey olhou melhor. Parecia ser uma bolsa. Engasgada, afastou-se da janela e
recostou-se à parede, pálida. Gesticulou em direção ao telefone.
— O que há com você? — indagou Brenda, preocupada.
— Ele... entrou aqui e... pegou a bolsa de minha mãe! — Brenda lhe estendeu o telefone
portátil e Lindsey discou para a polícia tão rapidamente quanto seus dedos permitiram. —
Há um homem em nosso quintal — balbuciou. — Ele pegou a bolsa da minha mãe.
O operador de emergências tinha dezenas de perguntas idiotas, e a menina Tez o que
pôde para responder a todas.
— Ele é um criminoso em liberdade condicional. Posso lhe dar o nome do policial que o
fiscaliza. Por favor, venham depressa! — implorou.
— Já enviei uma viatura.
— Depressa, por favor. Depressa.
Lindsey estava convencida de que, se a polícia não chegasse em um ou dois minutos,
Steve conseguiria escapar.
Steve se perguntava se devia ou não deixar a bolsa de Meg no quintal. Seria mais seguro
colocá-la dentro da caixa de leite, mas ela não pensaria em procurá-la ali.
Caminhou ao longo da casa, à procura de um local adequado. Não achou. A única coisa
que descobriu foi o cachorro do vizinho. Teria tocado a campainha, mas aparentemente ela
já fora para a cama.
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Ainda não havia se decidido quando ouviu um barulho.


— Parado! Ponha a bolsa no chão e vire-se lentamente! Steve obedeceu. Com os braços
sobre a cabeça, voltou-se e deparou com dois policiais, as armas apontadas em sua
direção.
— Parece que pegamos um ladrão, Ed. E em flagrante.
— Ele não vai ter como escapar dessa, Tim.

CAPITULO VI

— Posso explicar — disse Steve, apertando os olhos ante a luz da lanterna dos policiais.
Um cachorro latia ferozmente na casa vizinha.
— Costuma carregar uma bolsa feminina?
— Ela pertence a...
— Minha mãe.
Embora Steve não pudesse ver com precisão, reconheceu o tom de voz da filha de Meg.
Lindsey e outra menina estavam ao lado dos oficiais, e pareciam felizes por ter denunciado
um ladrão.
— Quieto, Lobo! — As palavras de Lindsey fizeram o pastor alemão se calar.
— Meu nome é Steve Conlan — apresentou-se ele com voz pausada e racional.
— Eu não acreditaria nele, se fosse vocês — Lindsey aconselhou os policiais. Então, em
tom mais baixo, acrescentou: — Trata-se de um criminoso. Por acaso sei que está em
liberdade condicional.
— Não é nada disso. Se me derem a chance de explicar...
— O oficial que o vigia chama-se Earl Markum — a menina o interrompeu, indignada. —
Ele próprio me disse.
— Conheço Earl Markum — o mais jovem dos policiais murmurou. — Realmente é fiscal
de presos em liberdade condicional.
— Também o conheço — Steve replicou. — Estudamos juntos.
— E a história mais improvável que já ouvi.
— Se permitir que eu me explique... — ele tentou novamente, esforçando-se para manter
a calma.
Não era nada fácil, já que dois sujeitos apontavam armas para sua cabeça e uma dupla
de adolescentes o acusava sabia-se lá de quê.
— Não lhe dê ouvidos — Brenda pediu. — Ele mente muito bem. Fez com que
acreditássemos em uma porção de coisas, e tudo porque achou que fôssemos a mãe de
Lindsey.
— Conhece bem este homem?
— Meu nome é Steve Conlan.
— Pode não ser o nome verdadeiro — disse a amiga da filha de Meg.
— Se permitirem que eu pegue minha carteira, provarei quem sou — Steve garantiu.
Vagarosamente, baixou as mãos e pôs uma delas na parte de trás da calça comprida.
— Mantenha as mãos onde eu possa vê-las!
— O que está acontecendo aqui? — uma voz de dentro da casa inquiriu. Doce, feminina,
meio grogue de sono.
Steve olhou para cima e, para seu grande alívio, viu o suave rosto de Meg na janela. A
lua iluminava aquela parte da casa.
— Meg! Por favor, diga a esses homens quem sou, para que abaixem as armas.
— Steve? O que faz em minha casa a essa hora da noite?
— Conhece este sujeito? — Ed perguntou.
— Senhora — o segundo oficial interveio —, importar-se-ia em vir até aqui?
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— Por acaso anda se esgueirando pelos arredores da casa para ver minha mãe? —
indagou Lindsey, furiosa.
— Não é cada disso — ele procurou esclarecer, sentindo uma pontada de culpa pela
maneira como enganara a menina.
Planejara conversar com a filha de Meg quanto antes, mas não tencionara fazê-lo diante
da polícia.
— Eu estaria mais interessada em saber como ele está com a bolsa de sua mãe —
sugeriu Brenda.
— Mas isso eu já sei. É mais do que óbvio que a roubou.
— Eu estava tentando devolvê-la, isso sim!
— Está com minha bolsa? — Meg perguntou.
— Você a esqueceu em meu carro.
— Ainda bem que a encontrou. Não fazia idéia de onde procurá-la.
Agora que a luz das lanternas não mais lhe ofuscava a visão, e que os policiais haviam
colocado as armas nos coldres, Steve olhou para Meg. Vestia uma camisola bem curta, de
algodão, que deixava as longas e sedosas coxas à mostra. Os seios, parcamente cobertos,
eram praticamente visíveis através do tecido meio transparente.
Ele temeu não ser o único a observar tais atributos. Ambos os policiais olhavam,
embasbacados, na mesma direção. Queria estapeá-los, mas sabia ser uma imprudência
ridícula agir assim.
— Lindsey, vá pegar um robe para sua mãe — pediu à garota.
— Não obedeço às suas ordens — rebateu a adolescente. Meg piscou e só então deu
mostras de notar que não estava vestida exatamente para um culto religioso. Abraçou o
próprio corpo, como se estivesse com frio, mas tudo o que conseguiu foi fazer os seios
saltarem ainda mais. Quase escaparam pelo decote. Em aparente esforço para escapar da
hipnótica visão, um dos oficiais fez mais algumas perguntas a Lindsey enquanto o outro
comandava uma conversa entre Steve e Meg.
— Conhece este homem? — dirigiu-se a Meg.
— Sim, é claro. O nome dele é Steve Conlan.
— Steve Conlan — repetiu Ed, fazendo anotações.
— Ele não roubou minha bolsa.
Steve deu ao rapaz um olhar dizendo "eu lhe disse", mas permaneceu convenientemente
calado.
— Saiu com esse homem às escondidas? — Lindsey gritou, o olhar descrente. — Não
acredito que tenha sido capaz de fazer uma coisa dessas!
Meg baixou as pálpebras, encabulada.
— Falaremos sobre isso mais tarde.
Era evidente que a menina não se daria por vencida com tanta facilidade.
— Se me dessem uma oportunidade de me explicar... — Steve pediu.
Estáticos, os dois policiais falaram qualquer coisa e pareceram ter tomado uma decisão.
— Está tudo sob controle por aqui? — um deles perguntou a Meg.
— Sim.
— Jovem?
— Tudo o que posso dizer é que minha mãe me decepcionou muito.
— Sinto não poder ajudá-la quanto a isso, senhorita.
— Não achei mesmo que pudesse — Lindsey defendeu-se.
— Pensei que ela se desse valor suficiente para não namorar um indivíduo com moral
tão baixa.
— Lindsey!
— Que tal entrar e trocar algumas palavras civilizadamente?
— Steve propôs.
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Sentia-se mais do que ridículo ali, em pé no meio do jardim, ansioso por aclarar os fatos
para uma adolescente furiosa.
— Nada tenho a falar a vocês dois — a menina exclamou com pompa e marchou para
dentro de casa, devidamente escoltada por Brenda.
Steve as observou ingressar na residência e suspirou, aliviado. Estava prestes a se
desculpar por ter causado tamanha confusão quando Meg o olhou nos olhos.
— Não posso acreditar!
— Peço desculpas.
— Por que diabos ousou pedir à minha filha que fosse buscar um robe para mim?
Steve, abismado, ergueu as sobrancelhas em muda interrogação.
— Quase fui preso, sua filha está louca da vida e você está aborrecida porque eu quis
impedir que a vizinhança a visse vestindo apenas um... pedaço milimétrico de roupa?
Meg abriu e fechou a boca diversas vezes.
— Como?
— Está bem, não é tão milimétrico assim. É quase. Aqueles dois camaradas não foram
capazes de desviar os olhos ávidos de seu corpo. Suponho que tenha apreciado uma
receptividade tão positiva.
— Não seja ridículo. Desci o mais rapidamente que pude para ajudá-lo.
— Acreditou que ficar parada praticamente nua em frente aos policiais me auxiliaria?
Bastava me identificar, e então eu poderia partir. Só isso.
Cada palavra era dita em um tom mais alto do que a anterior. Ele estava prestes a perder
o autocontrole e sabia disso.
— Acho melhor você ir embora — Meg murmurou, apontando a direção da rua.
— Irei mesmo. Você não compreendeu meu embaraço nem os problemas que enfrentei
por sua causa. O que é uma boa lição para mim.
— Acaso acha que também não fiquei envergonhada?
— Não teve duas armas apontadas para sua cabeça, nem ouviu duas adolescentes
gritando que você é uma ameaça para a sociedade.
— Lindsey apenas repetiu o que você lhe disse — justificou Meg, e afastou uma mecha
de cabelos do rosto. — Isso não está dando certo.
— Engana-se — corrigiu ele bruscamente. — Está indo bem demais. Você me deixa
louco e não gosto disso. Nem um pouco. Se devo ser preso, gostaria que fosse por alguém
que ao menos soubesse reconhecer meu empenho — protestou Steve. Então apressou-se
rumo ao carro e partiu.
Meg aprumou-se, vestiu imaginariamente seu manto de orgulho sobre os ombros e
caminhou para a entrada da casa. Estava brava. E muito confusa.
Ver Lindsey e Brenda sentadas na sala de estar às escuras, à sua espera, só piorou a
situação.
— As duas já deviam estar na cama.
-— Queremos falar com você primeiro — Lindsey anunciou, e abraçou as pernas.
— Agora não. Estou cansada e aborrecida.
— Brenda e eu estamos exaustas, mas isso nem importa. O que realmente vale é que
você quebrou sua palavra.
— Não prometi que deixaria de ver Steve.
Caminhou em direção à porta e olhou para fora, desejando que ele voltasse.
— O que fez? Esgueirou-se para sair com ele? Meg levantou a cabeça.
— Exatamente!
— Quando? Hoje à noite?
— Lindsey, Steve não é a pessoa que você julga que ele seja.
— Posso apostar. Ele veste máscaras, não é? Acredita em tudo o que Steve lhe diz
porque quer acreditar. Está tão louca por esse sujeito que não enxerga um palmo diante do
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nariz!
— Queremos conversar com você, filha. Steve e eu, juntos, explicaremos tudo.
— Nunca!
— Sra. Remington, não permita que ele a engane — Brenda dramatizou.
— Vamos deixar as preocupações para amanhã. Já é tarde e terei de acordar cedo para
trabalhar.
— Quero que jure que nunca mais voltará a se encontrar com ele.
— Lindsey, por favor!
— Se não fizer isso, mamãe, serei obrigada a vigiá-la o resto da vida.
— Já é hora de termos uma conversinha — disse Nancy, colocando um bule com café
sobre a mesa.
— Não, obrigado.
A garota o serviu e sentou-se.
— Algo o está perturbando.
— Pouco lhe escapa à percepção, não é?
— Pode me dizer o que há de errado?
— Não.
— Tem a ver com Meg, não é?
Mais uma vez Steve negou. O momento era inadequado para falar nesse assunto. Meg
o enlouquecia, e nenhuma mulher o deixara nesse estado. Para piorar, não sabia se voltaria
a vê-la. Droga! Seu corpo, sua alma, seu espírito pediam uma nova chance, rezavam pelo
recomeço.
— Ela não é a mulher ideal para você — afirmou Nancy, em solene julgamento.
— Não fale mais nada, está bem?
Ela entrelaçou os dedos e cerrou as pálpebras.
— Eu já sabia. Está apaixonado.
— Não estou. — Pegou a xícara com o líquido fumegante e quase queimou a língua.
— Pois saiba que faz-se necessário que eu tome a frente, nesse assunto. Não queria
fazer isto, mas é minha única alternativa. Alguém precisa cuidar dos seus interesses.
Steve baixou a xícara à mesa e encarou a irmã.
— O que você fez dessa vez?
— Nada ainda. Há uma mulher, uma viúva que conheci no campus da universidade.,.
Gostaria que a conhecesse.
— Não.
Steve nem prestava mais atenção. Na última vez que Nancy o envolvera em seus
esquemas, acabara conhecendo uma mulher incrível com uma filha endiabrada. Nunca
mais.
— Mas mano...
— Você me escutou. — A cadeira quase foi ao chão quando ele se levantou. — Não
estarei em casa para o jantar.
Nancy pôs-se em pé também.
— A que horas vai voltar?
— Não sei. Por quê?
— Porque o mínimo que poderia fazer seria estar aqui a tempo de ser apresentado a
Sandy.
— Convidou-a para vir à minha casa?
— Fique calmo, não mencionei você. Queria que fosse um encontro bem casual. Ela
está receosa, por enquanto apenas, em voltar a namorar. Achei melhor não a atemorizar e
preferi, por ora, não lhe falar sobre meu irmão enorme e mau.
— Já que faz tanta questão de administrar a vida amorosa de alguém, por que não
escolhe a si mesma?
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— Está bem, está bem. Apenas afaste-se de Meg, então. Essa mulher significa
confusão.
Steve deu uma breve risada. O primeiro sinal de bom humor desde que acordara.
— Acho que fez a descoberta do século.
Uma semana se passou. Nem Steve nem Meg tomou a iniciativa de telefonar depois
daquela fatídica noite.
Ele detestava a idéia de pôr fim a tudo, mas jamais pediria desculpas. Também duvidava
que ela o fizesse. Só não sabia aonde isso tudo levaria.
Diabos, mas não queria perdê-la.
No início de certa tarde, Nancy apareceu na loja com uma amiga. Estavam a caminho
de uma partida de tênis, disse. Brindou-o com um sorriso e perguntou se ele poderia
fornecer o preço de diversos produtos que Sandy precisava comprar.
A moça era bonita, com seu ar frágil e traços delicados. Era ela que, segundo os desejos
fraternos, o livraria das gamas de Meg.
— Prazer em conhecê-la — cumprimentou. Nancy sorria inocentemente, muito satisfeita.
— Terei o orçamento que me pediu quando retornar da partida de tênis.
— Não terá de trabalhar até tarde hoje, não é? — a irmã perguntou, sem se importar
com a indiscrição.
— Tenho um compromisso para esta noite — esquivou-se ele.
— Oh, querido... Esperava que pudesse me levar, e a Sandy, para jantar fora.
— Sinto muito — murmurou ele. — Agora, se me dão licença...
— Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Conlan.
— O prazer foi todo meu — devolveu Steve, e lhes deu as costas. — Quando alguma
mulher vier perguntar por mim, diga que estou extremamente ocupado. Entendeu? — falou
a Nancy quando a outra se afastou.
— Eu só estava tentando ajudar.
— Obrigado, mas não quero.
Sentou-se à escrivaninha, emburrado, e começou a analisar a pilha de papéis que o
aguardava.
— Não voltará a ver Meg, não é? Steve apertou a caneta.
— Isso não é de sua maldita conta.
— Sim, é. Uma mulher como aquela poderia arruinar sua vida.
De certa forma, ela já fizera isso, mas Nancy jamais compreenderia. Perto de Meg, as
outras mulheres pareciam não ter a menor graça. Ele estava cada vez mais entristecido, e
fazia o impossível para tirá-la da cabeça. Em vão.
Nancy finalmente foi embora. Steve recostou-se na confortável cadeira e contemplou o
aparelho telefônico. Tudo o que tinha a fazer era uma ligação.
Nem mencionaria o incidente com a polícia. Ou poderia fazer alguma graça a esse
respeito e lhe comprar pijamas menos reveladores. Um modelo que apenas a cobrisse do
pescoço aos calcanhares. Ambos ririam, diriam quanto lamentavam a desavença e
colocariam um fim nessa bobagem.
E então poderia pegá-la nos braços, apertá-la de encontro ao peito e beijá-la com toda
a paixão que inundava seu peito. E essa seria a melhor parte.
— Steve? — Gary Wilcox meteu a cabeça pela porta entreaberta.
Ele despertou.
— Sim?
— Há alguém aqui para falar com você. Uma mulher. Tomado pela impaciência, ele se
preparou para mais uma inconveniência da irmã.
— O que eu lhe disse ontem? Dei-lhe instruções específicas para dizer a todas as
amigas de Nancy que estou ocupado.
— Mas chefe...
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— E tão difícil assim entender isso?


— Não — Gary falou, impassível. — Apenas pressinto que essa pessoa... seja muito
especial.
Lembrando-se do olhar de apreciação que o rapaz pousara na viúva, Steve suspeitou
que Sandy houvesse voltado.
— Fale com ela.
— Eu? — surpreendeu-se o assistente. — E o que devo dizer? Steve passou ambas as
mãos pelo rosto cansado. Será que tinha de fazer tudo sozinho?
— Não sei. Diga o que achar apropriado. Prometo que Nancy vai parar de enviar
mulheres à loja muito em breve.
— Não foi ela quem mandou esta. A caneta caiu ao chão.
— E quem o fez?
— Ela não disse. Tudo que sei é seu nome: Meg Remington. Steve levantou-se devagar.
— Meg está aqui?
— E o que tenho tentado lhe dizer nesses últimos cinco minutos. Ele voltou a desabar
sobre a cadeira, sentindo-se mais leve.
— Peça-lhe que entre.
Um sorriso misterioso postou-se nos lábios de Gary.
— Foi exatamente o que achei que fosse me pedir. Steve ficou em pé, e então tornou a
sentar-se. Pegou um papel e depois um bloco inteiro. Queria que Meg pensasse que estava
ocupado. Mas, no instante em que a visse, esqueceria tudo. Sim, o que tinha a fazer era
importante, mas ela era muito, muito mais.
Longos minutos se passaram, mas ela não apareceu. Ele saiu da sala e deparou com
Gary. — Meg foi embora.
— Como assim?
— E a única coisa que posso concluir. Deve tê-lo ouvido falar que estava muito ocupado
e resolveu partir.
Steve correu para fora da loja. Não sabia onde a encontrar, mas jamais permitiria que
ela saísse de sua vida novamente.
Perto das sete da noite, desistiu da procura e foi para a casa de Meg. A disposição em
enfrentar o dragão que ela chamava de filha indicava quão desesperado estava.
Tocou a campainha. Esperou que alguém atendesse e colocou as mãos nos bolsos.
— Só um minuto! — escutou-a gritar.
Quando a porta se abriu, o olhar de Meg fixou-se no dele. Incapaz de resistir, Steve
contemplou o corpo tão querido da cabeça aos pés. Sua intenção era disfarçar e mostrar-
se um pouco frio, mas não conseguiu. Ela estava linda em um esvoaçante vestido azul.
— Olá, Steve.
— Olá.
— Posso entrar?
Que o orgulho fosse às favas. Afinal, esse sentimento somente lhe trouxera amargura e
solidão. Se fosse preciso desculpar-se, faria isso. Queria-a de volta.
— É claro.
Steve sentia-se tão emocionado que mal conseguia respirar. Apertá-la junto ao coração
não seria muito adequado nesse momento, mas era tudo o que desejava fazer.
— Onde está Lindsey?
— Saiu.
Estava desesperado por tocá-la. Deu um passo e tomou o rosto delicado entre as mãos.
Meg vagarosamente fechou os olhos, inclinou a cabeça e mordeu o lábio inferior.
— Eu tinha de vir — sussurrou ele.
— Sinto tanto..,
— Eu também. Eram dois tolos.
Projeto Revisoras 48
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Incapaz de resistir por um só segundo, Steve a tomou nos braços e beijou-a vorazmente,
mais faminto do que nunca. Meg agarrou-lhe a camisa, como se precisasse de auxílio para
conter o desejo que a invadia com violência.
Mãos poderosas percorriam com avidez os quadris esbeltos. Ela gemeu, e por instantes
Steve não soube dizer se de prazer ou dor. Estudou-a, feliz em perceber que ela também
ofegava.
— Eu a feri?
— Não...
Como a desculpar-se pela agressividade com que a abraçara, percorreu a curva dos
lábios cheios com a ponta dos dedos, em lenta apreciação. Ante o gemido rouco que ouviu,
deixou de lado a tênue carícia e voltou a beijá-la com sofreguidão, amansando aos poucos
para sentir o sabor de cada momento.
— Eu ia telefonar — murmurou ele de encontro a pele sedosa do ombro nu. —
Aconselhei-me centenas de vezes a discar. Cada minuto longe de você foi uma tortura.
— Eu também quis entrar em contato, mas...
— Maldito orgulho.
— Você estava certo. Eu devia ter usado um robe.
— Fiquei com ciúme, pura e simplesmente. Notou o sorriso que ela tentava esconder e
riu.
— Eu também ficaria, se passasse por situação semelhante.
— Sabe de uma coisa, Meg? Não namorei nenhuma das mulheres que Nancy me
apresentou nesses últimos dias.
— Que mulheres?
— Ah... nada importante.
— Para mim é, e muito.
— Minha irmã julgou ser necessário me salvar das suas garras e então decidiu me
apresentar todas as moças que conhecia.
— E você as recusou. Meg parecia exultante.
— Quero falar com Lindsey para esclarecer tudo.
— Eu também, mas agora é impossível.
— E mesmo.
— Abrace-me. Quero que fique aqui bastante tempo. Steve deu-lhe dezenas de
beijinhos ao longo do pescoço, dos ombros e dos braços femininos antes de retornar aos
lábios convidativos. Então a ternura cedeu espaço à paixão e ele simulou, com o beijo, um
ato de amor. Queria tanto que Meg estivesse com pensamentos semelhantes aos seus...
— Por quanto tempo Lindsey estará fora?
— Passará a noite na casa de Brenda. Ele a apertou mais.
— Meg... — Já não conseguia ocultar o desejo que lhe inflamava cada célula. Não havia
como negar o que seu corpo evidenciava. — Quero fazer amor com você. Sei que há uma
série de assuntos que temos de aclarar antes de partilhar algo tão íntimo, mas não podemos
desperdiçar mais tempo. — Beijou-a possessivamente. — Ainda bem que você passou na
loja hoje. Isso me deu coragem para procurá-la.
Meg deu um passo para trás, intrigada.
— Sua loja? Mas eu nunca estive lá!

CAPÍTULO VII

— Não importa — Steve murmurou, voltando a beijar Meg longamente.


Ela correspondia, apesar de sua mente fervilhar com centenas de perguntas. Um desejo
terno e extremo a tomava, e ao mesmo tempo a avisava de que seria cativa dessas
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sensações para sempre.


A separação de duas semanas a levara à mais profunda solidão Uma tristeza intensa lhe
corroera a alma e tirara o brilho dos dias. As horas transcorriam em uma sucessão in-
findável, num constante olhar para o telefone.
E então ela constatou, abismada, quanto seria terrível viver com um vazio tão grande.
Precisava de Steve.
— Senti tanto sua falta... — revelou entre um afago e outro.
— Eu também.
— Você devia .ter telefonado.
— A senhorita também.
— Eu sei.
— Sou louco por você.
— Steve... Pare, por favor.
Olhos cerrados, ele manteve a boca contra o pescoço de Meg.
Ofegava, gemia.
— Quer que eu pare? Agora?
__Por favor... só por um momento.
Era difícil falar, porque sua respiração também estava bastante alterada. Os seios
subiam e desciam, num descompasso revelador. O desejo queimava-lhe o sangue, mas
não poderia permitir que aquilo continuasse. Sabia muito bem o que aconteceria, se não
parassem.
— Está bem, querida. Sou todo ouvidos.
— Disse que fui à sua loja?
— Foi o que Gary me falou. Não importa, estou aqui agora. Senti demais a sua falta.
— Mas esse fato é relevante. Eu não estive lá.
Steve fechou os olhos e pareceu lutar contra si mesmo. Após longos segundos,
endireitou-se e com gentileza afastou-se. Meg sentiu frio. Solidão. Uma amostra do que
haviam sido aquelas duas semanas.
— Venha aqui — disse Steve, pegando-a pela mão. Conduziu-a à sala de estar, olhou
ao redor e escolheu uma imensa poltrona. Acomodou Meg em seu colo. — Acha que
devemos conversar sobre isso?
— Sim.
— Bem, você afirmou que não esteve na loja esta tarde.
— Exatamente. Não saí da livraria antes das seis.
— Mas não foi por esse motivo que você nos deteve, não é? Ela baixou o olhar.
— Tem razão.
— Foi o que achei. Vai me contar o que é?
— Contar o quê?
Os braços fortes e enlaçavam pela cintura. Ele cerimoniosamente desabotoou os dois
primeiros botões do vestido.
— Vai me desapontar seriamente se estiver usando sutiã.
— Estou usando sutiã. Ele riu.
— Pelo que posso perceber, sua relutância em fazer amor comigo tem a ver com seu
casamento.
— Meu... casamento?
Mais três botões deixaram de proteger-lhe a nudez. Dedos experientes tentavam abrir o
fecho em suas costas.
— Não é necessário ser um bom detetive para concluir que seu ex-marido a magoou.
— Nenhum divórcio é simples. Mas não me sinto emocionalmente ligada a ele, se é o
que quer saber.
— Não é.
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Steve tomou um seio nas mãos com extremo cuidado, como se estivesse lidando com a
jóia mais preciosa do universo. Tomou com delicadeza o bico entre os lábios. Meg gemeu
quando os carinhos se intensificaram.
Queria lhe oferecer mais. Mais de si mesma. De seu coração.
— Steve... oh, por favor...
— Parece que não consigo manter minhas mãos longe de você... Quero falar sobre seu
casamento, mas mal posso fitá-la sem perder a cabeça.
— Foi um divórcio amigável — Meg falou com voz trêmula de desejo.
— Pelo pouco que domino deste assunto, sei que normalmente divórcios começam
assim.
— Foi diferente com Dave e comigo — insistiu, ela ainda ofegante.
— Como assim?
— Nós nos separamos sem grandes conflitos.
— O que causou o divórcio?
Meg fechou os olhos e suspirou profundamente.
— Havia... gente demais naquele casamento.
Durante anos mantivera em dolorosa privacidade a mágoa pela traição. No início agira
assim por Lindsey. Depois, temera encarar o próprio ódio, porque não sabia que mudanças
isso operaria em seu íntimo. Melhor manter-se anestesiada e distante, decidira.
— Pode explicar melhor?
— Dave já não me amava mais.
— E quanto a Lindsey?
— Eu tenho a guarda. Ele mora na Califórnia.
— Por quanto tempo ele escondeu a infidelidade?
— Não faço a menor idéia. Só sei que, quando Dave me contou tudo, a amante já estava
grávida.
— Em outras palavras, você não teve opção a não ser deixar o caminho livre para a
outra.
— Tomaria essa atitude de qualquer modo.
— Então vocês se divorciaram.
— Sim, e sem estardalhaços. Ele me deu o que eu queria.
— E o que você queria?
— Criar Lindsey. Se quer mesmo saber, o divórcio me traumatizou.
— Isso não é verdade. O casamento já havia feito isso. Meg afastou as lágrimas que
varriam seu rosto. Como Steve pudera compreender com tanta exatidão seus sentimentos?
— Sim...
— Seu ex-marido não se contentou em ter um caso. Quando a deixou, procurou
certificar-se de que você carregaria a culpa pelo fim do relacionamento e pela falta de
fidelidade dele, correto?
Meg voltou a cabeça para o lado, a fim de que Steve não lesse a verdade em seus olhos.
— Oh, isso foi há tanto tempo...
— Mas não está encerrado. Se fosse assim, estaríamos fazendo amor em vez de
conversar. Você nunca mais confiou em homem algum depois de Dave, não é mesmo?
— Acertou — admitiu ela, de cabeça baixa.
— Oh,' querida... — ele falou com ternura, envolvendo-a com braços protetores. — Não
a culpo.
Meg piscou várias vezes para conter as lágrimas.
— Confio em você — disse, sabendo instintivamente que ele jamais a trairia.
— Eu sei. Caso contrário, não permitiria que eu me aproximasse tanto. — Sorriu. — Foi
melhor mesmo ter essa conversa antes de fazer amor.
— Jura?
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— Juro. Primeiro, quero esclarecer tudo com Lindsey. Steve tratou de fechar o sutiã,
mas teve dificuldade. Meg o ajudou. Provocou. Beijou-o.
Somente muito tempo depois seu vestido foi abotoado. Muito mais tarde...
— Exatamente para onde estamos indo? — Lindsey perguntou pela segunda vez,
olhando através da janela do carro.
— Já lhe disse.
Meg estava perdendo a paciência com a menina.
— Vamos ao trabalho de Steve?
— Sim.
— O trabalho determinado pela liberdade condicional, você quer dizer.
— Steve tem seu próprio negócio. Ambos temos esperança de que, se você o vir em
ação, convença-se da verdade. Ele não é ex-presidiário. Aquilo foi uma farsa.
A menina ficou quieta por algum tempo.
— Por quê?
— Queríamos que não gostasse dele.
Infelizmente, o plano de Steve funcionara bem demais. E, ao que tudo indicava, Meg
fizera um trabalho igualmente bom com Nancy, porque a garota também não aprovava a
continuidade do namoro. Mas que confusão!
— Por quê?
— É uma longa história, da qual não me sinto muito orgulhosa.
— Está aprontando mais encrenca, mamãe?
— Não. Trata-se apenas de uma situação embaraçosa, entendeu?
— Acho que sim.
Meg estacionou em frente à loja. O local destinado aos carros dos clientes era amplo e
servido por vários manobristas uniformizados.
— Todos parecem vindos do pátio da prisão — a garota murmurou, contrafeita.
— Lindsey! — Meg quase implorou, decidida a fazer de tudo para que o encontro fosse
bem-sucedido. — Jure que dará a Steve ao menos uma chance.
— Dei-lhe uma e, de acordo com você, ele mentiu. Mais uma vez Meg viu-se sem
argumentos.
— Apenas ouça-o, está bem?
— Sim, mas não estou lhe fazendo promessas.
A loja tinha cheiro de perfumes e cosméticos. Havia uma pequena sala de estar com chá
e café, e diversas revistas de moda e beleza.
— Olá — Meg falou ao rapaz do outro lado do balcão. — Sou Meg Remington. Steve
está esperando por mim.
O homem a estudou.
— Você é Meg Remington?
— Sim.
— Não se parece nada com a Meg Remington que esteve aqui na semana passada.
— Desculpe-me, não entendi.
— Estou aqui, Gary! — Steve interveio, saindo de uma sala. Sorriu calorosamente
quando a viu. Lindsey estava sentada na sala de espera e lia uma revista de moda. — Olá,
Lindsey.
— Olá — a adolescente respondeu em um tom apático.
— Você e sua mãe poderiam vir até meu escritório?
— Será seguro?
Um sorriso ameaçou se formar no canto dos lábios dele, mas foi contido a tempo.
— Não haverá problema algum. A menina largou a revista.
— Está bem.
Steve as conduziu para a sala extremamente limpa e orientou que se sentassem nas
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confortáveis poltronas defronte à sua mesa de trabalho.


— Gostariam de beber alguma coisa?
— Não, obrigada.
Meg nunca vira a filha ser tão grosseira com alguém. Não era próprio dela agir assim, a
menos que acreditasse estar protegendo a mãe.
— Tenho uma confissão a fazer — Steve falou após um momento.
— Não devia estar dizendo isso para a polícia?
— Não desta vez. Fiz algo de que me arrependo profundamente. Menti a você. E, como
sempre acontece com o mentiroso, me dei mal.
— Admito que participei da encenação — Meg acrescentou, fazendo questão de salientar
que Steve não era o único culpado.
— E como sabe que tudo realmente é mentira? — Lindsey falou à mãe. — Ele pode ser
um criminoso. Está sentado atrás de uma linda mesa e tudo o mais, mas quem poderá
garantir que o que dirá daqui para a frente corresponderá à verdade? Corada, virou-se para
ele: — Quem é você, Steve Conlan?
— Sou exatamente o que pareço. Tenho trinta e cinco anos, sou solteiro. Esta loja é
minha e emprega dez pessoas.
— Pode provar?
— É claro. Alguém bateu à porta. — Entre.
Gary pôs a cabeça para dentro da sala. Olhou ao redor e lhes deu um sorriso de
desculpas.
— Sinto muito pela interrupção, mas Sandy Janick está ao telefone e quer lhe falar.
— Gary, estas são Meg Remington e sua filha Lindsey.
— Muito prazer — o rapaz as cumprimentou.
— Há alguma entrega pendente para essa cliente? Não me lembro do nome.
— Trata-se da viúva, amiga de sua irmã. Aquela com quem Nancy queria que saísse,
recorda-se?
— Diga-lhe que ligarei mais tarde.
Meg sentiu-se enregelar. Um adormecimento tomou conta de seu coração. Então Nancy
armara encontros entre Steve e uma viúva! E a mulher chamava-se Sandy, o mesmo nome
da amante de Dave! Um nó intenso se formou em sua garganta.
— Gary — disse Steve, impedindo o moço de sair —, poderia por gentileza dizer a
Lindsey quem é o dono desta loja?
— Claro. É a IRS.
— Estou falando sério.
— A última vez que ouvi, era um tal de Walter Milton, do Banco Chave. Oh, o outro
telefone está tocando.
Saiu um segundo depois.
— Walter Milton. Então esta é a verdade. Você não é dono deste negócio.
— Walter Milton é o gerente do banco onde tenho conta.
Um grande amigo, por sinal.
— Assim como Earl Markum, o policial que fiscaliza sua liberdade condicional. Sinto não
poder acreditar em você, Sr. Conlan. Se fez tudo isso para me fazer mudar de idéia quanto
a namorar minha mãe, saiba que fracassou. — Virou-se para Meg e exaltou-se: — Não
confiaria nele, se fosse você. Parece-se com a fotografia que vi.
— Fotografia?
— Sim. Conheço este rosto de algum lugar e acho que foi em alguma agência dos
correios, na seção "Procurados pela Justiça".
— Lindsey, faça o grande favor de ser razoável.
— Não acho que você deva namorar um homem que mente.
— E está certa — Steve concordou. — Eu nunca devia ter inventado aquela história
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ridícula sobre ser um criminoso. Aprendi a lição e não voltarei a agir assim. Tudo o que lhe
peço é que me dê uma segunda chance.
— Não sei, não. Sabe o que mais me irrita? E você ter envolvido minha mãe em sua
tramóia. Foi muita sujeira.
— Não a culpo por estar com raiva de mim, mas não fique aborrecida com sua mãe. A
idéia foi minha, não dela.
— Minha mãe não se humilharia, participando de algo tão ardiloso. Só pode ter sido
ludibriada.
Meg pousou os olhos em Steve, frustrada.
— Tinha esperanças de que pudesse me perdoar — Steve tentou mais uma vez.
— Achei que fosse capaz — ela falou, magnânima. Ele quase sorriu ao perceber que
ganhara terreno.
— Gostaria que fôssemos amigos — acrescentou.
— Sim, mas isso não significa que eu aprove seu relacionamento com minha mãe.
— Mas Lindsey...
— Mamãe, não podemos confiar nesse homem. Já sabemos que mente. E o que me diz
do telefonema de alguns minutos atrás? Outra mulher liga e Steve mal agüenta para
retornar a ligação. Viu o brilho nos olhos tão bem quanto eu.
— Não seja tola! — Steve alterou-se. — Sou louco por sua mãe. Jamais a magoaria.
— É o que todos dizem.
— Acho melhor você me aguardar no carro — Meg sugeriu à filha. A menina
imediatamente se levantou e correu para fora, deixando-os a sós. — Sinto muito.
— Tentarei falar com ela novamente — disse Steve, aproximando-se para abraçá-la. —
Lindsey apenas precisa de um pouco de tempo. Um dia aprenderá a confiar em mim. Uma
coisa é certa, entretanto...
— O quê?
— Farei qualquer sacrifício para continuar a ver você. Vou levá-la para jantar hoje à noite
e tocarei a campainha de sua casa. Sua filha terá de aceitar o fato de estarmos namorando.
Eu a convidarei para nos acompanhar no passeio.
— Ela não aceitará.
— Mesmo assim, farei o convite. Pode não me aceitar agora, mas com o tempo hei de
ganhar seu coração.
As sete horas da noite Meg, passava perfume com esmero. Steve chegaria a qualquer
momento para levá-la para jantar.
O telefone tocou, mas ela não se incomodou em atender. Devia ser para Lindsey, e a
menina o atendia, invariavelmente, antes da segunda chamada.
— Mamãe?
— Já vou! Quem é?
— Steve — a filha falou, indiferente, ao passar por ela rumo à cozinha.
Meg olhou para o relógio e disparou escada abaixo. Tirando o brinco, atendeu.
— Alô!
— Ouça, querida, houve um pequeno imprevisto e me atrasarei um pouco.
— Que espécie de imprevisto?
Ela estava faminta. Normalmente, lanchava às seis e meia.
— Não tenho certeza ainda. Sandy Janick telefonou. O pneu de seu carro furou e ela
não tinha ninguém a quem recorrer e...
— Que tal cancelar o jantar desta noite?
— Mas...
— Para ser franca, estou morrendo de fome. Não há problema algum. Jantaremos juntos
em outra oportunidade.
Steve hesitou.
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— Tem certeza? —- Absoluta.


Meg tremia tanto que mal conseguia permanecer em pé. Steve e Sandy. Não havia
dúvidas de que Nancy inventara a história do pneu furado. Mas, se ele não percebia isso,
então era óbvio que desejava passar algumas horas ao lado daquela mulher.
— Telefonarei amanhã.
— Combinado.
Meg mal ouviu o restante da conversa. Esperava estar dando respostas apropriadas.
Devia ter sido convincente, porque instantes depois a linha estava muda.
Com os olhos fechados, repôs o fone no gancho.
— Mamãe? Está tudo bem?
— Sim.
— Então por que ficou tão pálida de repente?
— Estou bem, querida. Steve e eu cancelamos o jantar de hoje. — Tentou falar com a
maior naturalidade possível, mas parecia que as paredes da casa desabavam sobre ela. —
Por que não pedimos uma pizza? Você poderia telefonar, filha? Escolha a que preferir.
Estava muito agitada e sabia disso. Mas... se Steve fosse fazer algo inapropriado, não
lhe teria dito que ia se encontrar com Sandy Janick. Teria agido como Dave. Com mentiras
mal encobertas por desculpas esfarrapadas.
— Certo, mamãe.
— Vou subir para trocar de roupa — Meg anunciou, e foi para a escada.
Steve não merecia confiança.
— Eu sabia. Se havia alguém capaz de ajudar Sandy com o pneu furado, esta pessoa
era você — Nancy comentou, sorrindo para o irmão mais velho.
Steve olhou para o relógio de pulso, frustrado e furioso consigo mesmo. Nancy agira
novamente, manipulando-o para que fizesse o que não desejava fazer. Em vez de passar
a noite com Meg, como planejara, fora pego na armadilha da espertinha.
As duas haviam dado um jeito de furar o pneu sobre uma ponte sem acostamento, num
horário de tráfego intenso. Steve teve de conseguir um guincho para levar o carro a um
local mais seguro. Acabou por pedir que fosse conduzido ao pátio de sua loja, que ficava a
apenas seis quadras dali.
Trocado o pneu, foram para casa. Sandy deixou escapar que procurava companhia
masculina. Houvera um tempo em que Steve adoraria consolar a viúva, mas, depois que
conhecera Meg, tudo mudara em sua vida.
— Nem posso lhe dizer quanto apreciei sua ajuda — Sandy lhe disse com voz sensual.
— Tudo bem.
Steve fitou o relógio de pulso. Ainda havia tempo para escapar e visitar Meg.
— Vai sair? — Nancy perguntou ao vê-lo aproximar-se da porta.
— Sim. Algum problema?
— Não — falou, expressando a decepção.
— Também preciso ir — disse Sandy. — Acho que ainda não lhe agradeci o suficiente.
— Não se preocupe.
Era uma boa pessoa e Steve a queria bem, mas só. Não estava interessado nela.
Nancy aproveitou a deixa e inquiriu à queima-roupa, assim que a amiga saiu:
— Para onde está indo?
— O que a faz pensar que isso é da sua conta?
— Acho que vai se encontrar com aquela... perdida. Steve cerrou os dentes.
— Meg não é uma perdida. E dona de uma livraria.
— Não foi o que ela me contou.
— Ouça, tenho trinta e cinco anos e não admito que minha irmã mais nova administre
minha vida amorosa. Acabei de ajudar você e sua amiga, mas tive de cancelar meu jantar
com Meg.
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— Então estou feliz com o fato de o pneu do carro de Sandy ter furado.
— Fique fora de minha vida, Nancy. E um aviso.
A garota deu de ombros e pareceu ter tomado uma decisão muito importante:
— Sinto não poder fazer isso, querido.
— O que pretende dizer com "não poder"?
— Como poderia ficar parada enquanto o irmão a quem sempre amei e admirei se mete
em tamanha enrascada? Especialmente por causa de uma mulher com aquela reputação?
— Oh...
A paciência de Steve se fora. Desaparecera. Devia pôr Nancy e Lindsey juntas em um
quarto e deixar que se entendessem.
— Não permitirei que faça isso — anunciou a garota, e se postou defronte à porta.
O telefone tocou nesse momento e Steve soube estar salvo. A irmã voou pela sala e o
atendeu antes do segundo toque.
Esperançoso em poder escapulir impunemente, abriu a porta e saiu, Como suspeitara,
Nancy veio ao seu encalço segundos depois.
— É para você.
Ele já estava dentro do carro. Não se deixaria enganar novamente.
— Diga que ligarei amanhã.
— É uma mulher. Steve hesitou.
— Qual seu nome?
— Lindsey.

CAPITULO VIII

Steve estranhou receber um telefonema da arredia filha de Meg. Ainda não eram amigos.
A ligação só podia sinalizar sérios problemas.
Saiu do carro apressado e subiu os degraus da varanda, dois de cada vez. Passou pela
irmã correndo e foi diretamente atender o telefone.
— Lindsey? O que houve?
— Está sozinho?
Steve percebeu que a voz dela soava consideravelmente mais baixa que o usual. Parecia
que Meg nada sabia a respeito da ligação.
— Minha irmã está aqui — esclareceu e olhou para Nancy, parada, os braços cruzados
em franca desaprovação.
— Alguém mais? Especialmente uma pessoa chamada Sandy?
Lindsey demonstrava possessividade, o que era ridículo. Afinal, devia sentir-se feliz por
ter uma desculpa para se livrar de sua presença ao menos por um dia.
— Não. Sandy partiu há alguns minutos. — Então você estava com ela!
Sentindo-se pressionado pelas duas adolescentes, ele perdeu de vez a paciência.
— Suponho haver um motivo para sua ligação.
— E claro. Quero saber o que você disse que tanto aborreceu minha mãe.
— O que eu disse? -Steve não sabia.
— Após seu telefonema, ela me orientou a pedir uma pizza e me deixou livre para
escolher o sabor. Sabe que adoro anchovas, mas as detesta. Então — acrescentou depois
de uma breve pausa — a pizza chegou e ela me olhou como se não fizesse a menor idéia
de onde a comida havia vindo. Algo está errado e quero saber o que é.
— Não faço a mínima idéia.
— Mamãe está esquisita. Acho melhor vir até aqui para conversar com ela.
O convite de um dragão devia ser considerado com cautela. Não esperara ouvir tal
proposta da boca da menina tão cedo, mas a vida reservava toda sorte de surpresas. Devia-
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se aproveitar primeiro e questionar depois. Mas ele não agüentou:


— Tem certeza de que pode confiar em mim?
— Não muita, mas é minha única saída. Minha mãe gosta de você. Não sei como
conseguiu conquistá-la, mas vejo que o sentimento é intenso.
A criança era uma punhalada em seu ego. Seria genética essa característica?
— Acha que Meg está chateada porque não saímos para jantar? Bem, tenho novidades
para você. Foi ela quem cancelou. Disse que não haveria problemas e que sairíamos outro
dia.
— Acreditou nisso?
— Não deveria?
— Ou você é menos esperto do que parece ou permaneceu tanto tempo na prisão que
nada sabe sobre mulheres.
Ele não achou nenhuma das alternativas elogiosas.
— Tudo o que fiz foi telefonar para dizer que me atrasaria alguns minutos. O que há de
tão absurdo nisso?
— Estava atrasado porque ia se encontrar com outra mulher!
— Errado! Estava ajudando outra moça. Na realidade, duas. Uma delas é minha irmã.
— Será que não vê? Meu pai a deixou por causa de outra. Inventou desculpas como as
suas sobre onde estava e o que fazia.
— E você acha que Meg acredita que estou fazendo a mesma coisa? Pense bem, não é
um exagero?
— Sim... não. Não sei. Tudo que mamãe me disse foi que você cancelou...
— Ela cancelou.
— ...o jantar porque ia se encontrar com outra. Mamãe ficou arrasada e, se você se
importa mesmo com ela, como diz...
— Eu me importo.
— ... então sugiro que venha até aqui, e depressa. Steve ia lhe contar que estava
exatamente a caminho da casa delas quando o telefone tocou, mas, antes que pudesse
abrir a boca, a garota desligou.
— Qual o problema com Meg? — Nancy perguntou.
— Eu é que sei? Ninguém nunca me contou que apaixonar-se podia ser tão complicado.
Dirigiu-se à porta.
— Apaixonou-se por ela?
— Está absolutamente certa.
Um sorriso enigmático pairou nos lábios de Nancy. Steve aproximou-se do carro e parou,
perguntando-se se estaria vendo coisas. Entrou e ligou o motor.
Divagou durante todo o caminho e só parou quando tocou a campainha da casa das
Remington.
A porta foi aberta segundos depois por Lindsey.
— Demorou muito — queixou-se.
— Lindsey, quem é? — Meg perguntou, vindo da cozinha. — Steve. O que faz aqui?
— Já jantaram?
— Na verdade, ainda não — Lindsey respondeu. — Ela só beliscou uma fatia de pizza
e foi o máximo que consegui. Pedi que metade fosse de seu sabor predileto. Vegetariana.
— Não estava com fome? — inquiriu Steve, silenciando Lindsey com o olhar.
— Na verdade, não. E quanto a você? Comeu alguma coisa?
— Nada.
— Há alguns pedaços de pizza, se estiver com vontade.
— Estou, sim — disse ele, e deu um passo em sua direção. Lindsey tinha razão. Meg
parecia muito pálida e esquisita.
— Não vai comer, não é? — a menina quis saber.
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— Por que não? — devolveu ele. A garota pôs as mãos nos quadris.
— O que mamãe precisa é de segurança. Se você tiver algum pensamento romântico no
espaço vazio entre suas duas orelhas, irá tomá-la nos braços e a beijar.
Tudo o que Steve pôde fazer foi arregalar os olhos, arquear as sobrancelhas e tentar
conter o queixo caído. Algo havia mudado, e ele nem desconfiava do motivo.
— Lindsey?
Parecia que Meg estava igualmente pasma. Ambos permaneceram parados, olhando
para a menina.
— O que foi? Ah, querem saber a razão de minha abrupta mudança? Bem, estive
pensando... Se Steve realmente falou sério a respeito de tentarmos ser amigos, então farei
um esforço extra neste sentido. — As palavras foram ditas como se fossem fruto de um
extremo sacrifício pessoal. — Na verdade, não tenho alternativa. É óbvio que mamãe está
apaixonada por você.
— Lindsey!
Steve adorou o vermelho que coloriu as faces de Meg.
— Também está igualmente claro para mim que Steve deve nutrir um sentimento
semelhante por você, especialmente após ter decidido enfrentar minhas ofensas.
Francamente, eu não agüentaria mais lutar contra. Seria apenas um exercício de frustração.
E teria um trabalho fenomenal para manter olhos atentos sobre vocês dois. Seria inviável.
Tenho minha própria vida para administrar.
A boa nova era surpreendente. Maravilhosa. A pequena tinha a chave do coração de
Meg, ponderou Steve, e ele jamais ganharia o amor da mulher que amava se Lindsey
continuasse desaprovando o namoro.
— Não pensem que gosto — a garota fez questão de emendar —, mas aprenderei a
conviver com a situação.
— Ótimo! — exclamou Steve. — Então, vamos apertar as mãos. Lindsey estudou o caso,
como se não tivesse certeza de querer tocá-lo. Mas, uma vez decidida, seu cumprimento
foi firme e confiante.
— Você não é nada do que deveria ser — murmurou ela.
— Peço desculpas por desapontá-la.
— Não há mais remédio. Mamãe é louca por você.
— Acho que ela fez uma escolha e tanto.
— Até parece... — ironizou a menina.
— O que está havendo com vocês dois?
— Nada — a jovem respondeu, com a mais plácida inocência. Olhou para Steve e piscou.
Ele devolveu, feliz por terem, enfim, um contato positivo.
— Alguém falou em pizza?
— Eu falei — Meg exclamou. — Venha até a cozinha e aquecerei os pedaços que
restaram.
— Mamãe — Lindsey a pegou pelo braço, o rosto repleto de censura —, achei que
pudesse contar ao menos com você para dar mais romantismo a este relacionamento.
— O que eu fiz de errado agora?
— Por que não prepara algo para Steve comer? Meg pensou um pouco a esse respeito.
— Tenho um pouco de frango que sobrou de ontem e poderia fazer uma salada. Caso
ele não goste, pode-se sempre contar com um bom sanduíche de manteiga de amendoim
com geléia.
— Acho que prefiro a pizza — Steve declarou. E, antes que Lindsey pudesse protestar,
tratou de seguir Meg até a cozinha. — Sabe do que sua filha está falando?
Ela sorriu e abriu a porta do forno.
— Nem imagino.
Pegou a caixa de papelão com a pizza a colocou sobre a pia.
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— O que aconteceu antes de eu chegar?


— Suponho que Lindsey tenha lhe telefonado.
— Sim, mas eu já estava a caminho.
Steve percebeu que Meg evitava fitá-lo. Concentrava uma atenção extrema em ajeitar a
comida em um prato e a levar ao forno de microondas.
— Após sua ligação, eu tive um ataque de pânico.
— E qual foi o motivo, querida?
— Você... nós.
— E...?
— Consegui me conter e depois me achei uma tola. Você é diferente de Dave. Se
telefona para dizer que está prestando auxílio a outra mulher, então é exatamente isso que
está fazendo.
— Achou que eu estivesse envolvido com alguém?
— Sinto-me uma tola — revelou ao lhe servir a pizza. — Foi como se a bagunça de meu
casamento estivesse de volta. Sabe, uma vez optei por acreditar em Dave. Ele contou uma
história absurda para justificar sua ausência de casa e eu lhe dei crédito. — Fez uma pausa
e deu de ombros. — Talvez por desejar muito que estivesse sendo sincero, confiei nele.
Mas isso é passado. Já não representa mais nada para mim.
Um som agudo de violino os pôs em sobressalto. Steve a encarou e percebeu que
também estava perplexa. Lindsey surgiu na cozinha, aparentando desgosto.
— Vocês precisam da minha ajuda.
— Ajuda? Para quê?
— Romance.
Pegou a mão de Steve, a da mãe e os conduziu para a sala de estar. A mobília havia
sido arrastada para os cantos e apenas uma tênue luz os livrava da completa escuridão.
Uma garrafa de vinho tinto e duas taças estavam prontas para uso.
— Agora vou desaparecer por um tempo e vocês poderão fazer tudo o que li nos
romances.
Steve e Meg se encararam.
— Não vão me dizer que precisam de auxílio para isso também...
— Cuidaremos de tudo — ele apressou-se em assegurar.
— Espero que sim — Lindsey comentou com ar de superioridade e, majestosa, subiu a
escada.
A música era lenta e sugestiva. Convidativa e intrigante. Assim que a menina sumiu no
andar de cima, Steve propôs:
— Gostaria de dançar?
Meg, linda, corou ante o convite e segundos depois se moldava ao corpo atlético. Era
bom demais estarem tão próximos, roçando-se ao som de uma balada de amor.
— Não danço muito bem — ela desculpou-se.
— Relaxe. Apenas ceda-me o comando e eu a guiarei.
E então seus rostos se colaram e os olhos se fecharam. Romantismo...
Steve jamais tivera tempo ou paciência para isso. Mas conhecera Meg e todo o seu
mundo virará de cabeça para baixo. Nada mais fora igual, desde então, e jamais voltaria a
sê-lo. O que era maravilhoso.
Até mesmo Gary Wilcox parecera apreciar o jeito especial com que Steve tratava Meg.
Não sabia como o assistente descobrira tantas coisas. Claro que a presença de Lindsey e
da mãe no escritório lhe fornecera pistas.
Na verdade, a intenção de dar à menina uma visão de seu cotidiano fora apenas uma
desculpa. Quisera impressionar Meg, mostrar como era bem-sucedido. Provar ser
merecedor de sua atenção.
Gostava de manter sua vida profissional separada da pessoal. Vida pessoal... que piada!
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Trabalhou durante anos, dedicando todos os seus esforços à prosperidade do negócio.


Dera-se bem, mas o sucesso tivera um. preço. Sobrara um espaço diminuto, em sua vida,
para o amor.
Mas podia aumentar esse espaço, para aconchegar Meg e Lindsey. Seu coração parecia
prestes a explodir de tanta alegria.
O corpo de Meg se insinuava de encontro ao seu ao sabor da música, provocando,
seduzindo, instigando. Coxas contra coxas. Os divinos seios a aquecer seu peito. Ali estava
a encantadora magia a lhes dominar os sentidos, a ludibriar a razão, a enternecer seus
corações até então magoados com tanta solidão e descaso.
Continuaram a se mover em lento enlevo, a pretensa dança ameaçada pelo desejo que
fazia Steve ter arrepios de prazer a cada mudança de passo. Não conseguiria sustentar a
situação por muito tempo.
Subitamente, e em muda sincronia, ficaram imóveis. Steve tocou-lhe os quadris e a
puxou para mais perto. A resposta foi um longo e sensual suspiro.
— Veja só o que me fez — disse-lhe com voz rouca e suave. — Querê-la tanto no meio
de sua sala de estar é no mínimo embaraçoso.
— Uma pena você não ter evidências tão claras do que provoca em mim. Eu o quero
também. Até me assusta saber quanto.
— Você... pode me contar.
— Não consigo.
— Então mostre.
Dizendo isso, afundou os dedos nos cabelos sedosos e a trouxe para um beijo. Aos
poucos, as restrições e a timidez abrandaram e a libertaram. Ela passou a corresponder à
urgência do beijo com todo o desespero de sua paixão.
— Meg...
O som de alguém fingindo tossir invadiu o nevoeiro que turvava a visão de Steve e
permeava sua mente.
Lindsey. Novamente.
Ele resmungou baixinho e lentamente permitiu que seus corpos se afastassem um
pouco. O esforço para se distanciar era quase doloroso.
— Não pare — Meg pediu bem baixinho.
— Lindsey está de volta.
Ela desgrudou o rosto do suéter de Steve.
— Olá de novo — a menina exclamou alegremente. — Parece que retornei no momento
exato. — Continuou a descer a escada, aproximou-se da garrafa de vinho e balançou a
cabeça tristemente. — Que pena... Nem abriram o vinho.
— Ainda não tivemos oportunidade — Steve ironizou.
— Eu lhes dei vinte minutos. Pelo que pude deduzir, ausentei-me cinco minutos além
do ideal. Você trabalha rápido.
— Lindsey! — Meg repreendeu.
— Sei que estou sendo irritante e peço desculpas. De verdade. Mas nas aulas de
educação sexual aprendi muito, inclusive que há certas ocasiões feitas para a abstinência.
— E o que isso tem a ver conosco?
— Não vai querer que eu responda, não é? Mamãe já está enrubescida o bastante. Se
eu falar, ela vai ficar roxa, azul e, quem sabe, verde. Pode ser perigoso. Mas podemos falar
sobre sexo seguro, se quiser.
— Lindsey! Está me deixando embaraçada.
— Desculpe, mamãe, mas a hora de trazer este assunto à baila é agora. Nem um
segundo mais tarde. — A adolescente desabou sobre o sofá e examinou o rótulo do vinho.
— O tio de Brenda comprou para nós, mas disse não se tratar de um bom vinho. E apenas
razoável.
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Steve acarinhou o ombro de Meg.


— Estava aguardando seu diagnóstico antes de tomá-lo — ironizou.
— Obrigada. Mas falávamos sobre o elemento romântico no relacionamento amoroso.
— Você se importaria se sua mãe e eu conversássemos? Tivemos pouca chance de
fazer isso até agora.
— Acho que tudo bem... apenas preciso saber de algo. — Depositou a garrafa sobre a
mesa lateral. — Vai se casar com ela ou não?
— Lindsey!
Meg murmurou algo inaudível, sentou-se e cobriu o rosto com ambas as mãos.
— Bem, e então? — cobrou a garota, ignorando completamente a reação materna.
Steve de fato pensara nisso algumas vezes, mas as últimas semanas foram tão
conturbadas que não lhe deram paz de espírito para analisar a oportunidade com a
seriedade merecida.
Estava apaixonado por Meg. Quando estiveram distantes, instaurou-se um imenso vazio
em sua vida. Em seu coração. Lindsey era a inconveniência em pessoa, mas gostava dela.
Nunca se imaginara fazendo parte de uma família já constituída, mas não enxergava a
vida de outra maneira.
— Acredito que este é um assunto a ser discutido entre mim e sua mãe, e em particular.
Mas, já que me perguntou, vou lhe responder.
Lindsey escorregou, ansiosa, para a beirada do sofá. Meg parecia cada vez mais
incrédula e perdida. Como se não fizesse parte desse contexto, fosse mera espectadora.
— Vai se casar conosco, não é? — A sentença da garota era mais uma afirmação do
que uma pergunta. Um sorriso satisfeito enfeitou seu rosto juvenil. Não resistiu e
acrescentou: — Sei que fará isso.
— Se sua mãe me quiser...
— Ela vai querer. Confie em mim. Eu a conheço há um bocado de tempo e lhe garanto
que nunca a vi tão embasbacada por alguém.
— Posso falar por mim mesma, obrigada — Meg cortou-a. — Este é momento mais
humilhante de toda a minha vida e não lhe devo agradecimentos por isso, Srta. Lindsey
Marie Remington. — Pôs as mãos nos quadris. — Vá para seu quarto. Nós nos veremos lá
quando eu terminar de implorar a Steve que a desculpe.
— O que fiz de tão terrível?
Meg limitou-se a apontar a escada. Passou-se uma eternidade antes que Lindsey
obedecesse. Caminhou com enervante lentidão para o andar superior.
— Tudo o que fiz foi tentar ajudar — queixou-se.
— Falaremos sobre isso mais tarde, mocinha. Lindsey encontrou o olhar de Steve e
desabafou:
— Sinto-me péssima quando sou chamada de "mocinha". Tome cuidado com o que diz,
está bem? Não vá arruinar tudo agora.
— Farei o melhor possível, prometo.
Meg aguardou que a filha alcançasse o topo da escada antes de falar:
— Nem sei como começar a me desculpar pela "ligeira" mudança no comportamento de
minha filha. Farei com que Lindsey se desculpe quando eu estiver mais tranqüila. Será
melhor. Gostaria que soubesse que o absolvo de tudo o que foi dito por ela.
Steve cocou o queixo.
— Como assim?
— Quero deixar muito claro que não espero que se case comigo.
— Mas eu gosto bastante da idéia.
— Eu, não. E por um motivo: minha filha o obrigou a fazer o pedido. E agora, por favor,
seria melhor que fosse embora. Sinto muito.
Steve tentou protestar, mas Meg o empurrou até a porta e ele acabou por concluir não
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ser aquela uma boa hora para conversar.


— Nunca me senti mais angustiada em toda minha vida — Meg disse a Lois.
Calculou o troco disponível e o arrumou dentro da caixa registradora. A loja seria aberta
em dez minutos. Estava por demais deprimida para lidar adequadamente com os clientes,
mas teria de dar um jeito nisso.
— Steve falou que queria se casar com você, não foi?
— Foi uma proposta forçada. O que mais ele poderia fazer? Lois ajeitou uns livros na
prateleira mais próxima.
— Pois não me parece ser o tipo de homem que faz um pedido de casamento à toa.
— Sei que ele não queria isso.
— O que a deixa com tanta certeza?
Meg gostaria de cavar um buraco, meter-se dentro e lá permanecer durante o resto da
vida. Ninguém parecia capaz de dimensionar o grau de sua humilhação. Nem mesmo
Steve. Ele tentou disfarçar, mas vira o incidente com Lindsey como uma grande diversão.
— Explicou a Lindsey o que ela fez? — perguntou Lois.
— No estado em que me encontro, acho melhor nem tentar. Falarei quando não correr
mais o risco de me debulhar em lágrimas de frustração.
— O que eu sinceramente não compreendo, foi a causa da reviravolta no
comportamento de Lindsey. A última vez em que falamos no assunto, você estava
arrancando os cabelos porque ela se recusava a acreditar que Steve não era um criminoso.
— Não sei o que está acontecendo com a cabeça de minha filha. Sempre achei que
hormônios alteravam o modo de agir das pessoas, mas parece que ela tem um problema
sério. Até recentemente era uma menina como qualquer outra, de repente, converteu-se
em alguém que desconheço.
— Tem de admitir que o romance de vocês apresentou viradas inesperadas. Primeiro
você nem queria conhecê-lo. Depois, os dois decidiram não se encontrar. Teria terminado
por aí, não fossem as flores.
— Que não vieram de Steve. Sabe de uma coisa? Duvido que volte a vê-lo.
— Agora já está sendo ridícula.
— Não o culparia. Nenhum homem em sã consciência ia querer assumir um
compromisso sério comigo e com Lindsey.
— Duvido que seja verdade.
Lois parecia tão segura do que dizia...
Meg queria desesperadamente acreditar naquilo, mas o dia transcorreu em lenta agonia.
Na hora de fechar a loja, ela já trazia no peito a triste convicção de que Steve estava aliviado
por ter se livrado de sua presença.
Ao chegar à casa, viu a filha lendo na sala de estar.
— Olá — Lindsey a cumprimentou, e deu uma dentada em uma maçã. — Não está mais
brava comigo, não é? — a menina perguntou.
Pulou do sofá e foi para a cozinha, onde a mãe se servia de uma xícara de chá gelado.
— Você me envergonhou de maneira absurda.
— Steve não ficou embaraçado. Não entendo como pode estar tão aborrecida.
— Como se sentiria se eu telefonasse para Dale Kotz e lhe dissesse que você gostaria
de sair com ele para dançar? O garoto provavelmente aceitaria porque a adora. Mas você
jamais saberia se Dale a teria convidado por livre e espontânea vontade. Nunca sentiria a
emoção de ouvi-lo ligar e a chamar para sair.
— Oh...
Lindsey nada disse por longos minutos.
— Só que foi mais do que isso, filha. Senti-me humilhada até os ossos. Como se você
o tivesse pressionado a me fazer uma proposta de casamento.
Lindsey sentou-se.
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— Ajudaria alguma coisa se eu dissesse que sinto muito?


— Sim, mas isso não muda o que aconteceu.
— Ainda está furiosa, não é?
— Não — Meg falou, abrindo a geladeira e pegando um pé de alface para fazer uma
salada. — Já não estou mais brava. Apenas chateada e magoada.
— Não quis ferir seus sentimentos, mamãe. Estava apenas tentando ajudar.
— Eu sei, querida, mas não foi o que fez. Tudo foi muito, muito pior.
— Eu... estou me sentindo tão mal...
Meg não se sentia melhor que ela. Sentou-se a seu lado e lhe deu uma batidinha na
mão.
— Tudo vai se resolver.
Lindsey sorriu levemente e apoiou o rosto no ombro da mãe.
— Os homens são tão bobos, às vezes... Amor e casamento são temas que eles
simplesmente não dominam — disse a garota.
Meg a acariciou.
— Talvez.
— Você o ama, mamãe?
Ela sorriu pela primeira vez no dia.
— Sim, suspeito que sim. Não planejei me apaixonar, disso pode ter certeza. Aconteceu.
— Acho que ele também não tinha intenção de se apaixonar. A campainha tocou.
Horrorizada com a idéia de alguém saber que havia chorado, Lindsey afastou-se da mãe e
enxugou as lágrimas.
— Eu atenderei — Meg afirmou. Caminhou descalça até a sala e abriu a porta.
Steve estava parado do outro lado, com um buquê de rosas vermelhas na mão. Sorriu
ao vê-la.
— Olá — cumprimentou-a e lhe estendeu as flores. — Achei que seria interessante
refazer aquele pedido de casamento, mas dessa vez gostaria que fosse à minha maneira.

CAPITULO IX

— Casamento? — Meg repetiu, e segurou as rosas com um gesto mecânico. — Tenho


certeza de que está enganado... Não há necessidade.
— Sei exatamente o que estou fazendo.
— É Brenda? — Lindsey gritou da cozinha.
— Não, é Steve!
— Mas isso é maravilhoso! Talvez eu não tenha arruinado tudo, afinal.
— Olá, Meg — ele falou com suavidade.
— Oi.
Era impossível encará-lo.
— Gostaria muito de conversar com você, se for possível.
— Eu... esperava por uma oportunidade. — Estendeu as flores à filha, que acabara de
se juntar a eles. — Obrigada — acrescentou. — São lindas. — O nó na garganta ameaçava
sufocá-la. — Poderia tomar conta das rosas para mim? — pediu à garota. — Steve e eu
vamos conversar e apreciaríamos um pouco de privacidade, está bem?
— Claro, mamãe.
Lindsey desapareceu na cozinha e Meg sentou-se no sofá da sala de estar. Ele se
acomodou a seu lado e tomou uma das mãos frias entre as suas.
Meg gostaria que não estivessem tão próximos. A presença desse homem confundia
seus pensamentos.
— Antes que diga qualquer coisa, tenho alguns assuntos a abordar — balbuciou, trêmula,
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e respirou profundamente. — Soltou a mão e a pousou sobre o joelho. — Andei pensando


e cheguei a certas conclusões.
— Sobre o quê?
— Nós. Lois lembrou-me esta tarde das inesperadas reviravoltas que nosso
relacionamento teve. Primeiro não queríamos nos conhecer, fomos praticamente induzidos
a uma situação absolutamente inusitada. — Suspirou profundamente antes de prosseguir:
— Não voltaríamos a nos ver não fossem as flores enviadas por sua irmã. Desde o princípio
tivemos outras pessoas comandando nossas vidas.
— Em determinado aspecto foi assim, mas teríamos impedido que os acontecimentos
se sucedessem se não tivéssemos nos sentido atraídos um pelo outro desde o princípio.
— Talvez.
— O que quer dizer com talvez?.
— Acho que ambos precisamos ficar algum tempo separados para tomar decisões
acertadas.
— Não! — protestou ele. — Passei trinta e cinco anos procurando o que desejava e
finalmente encontrei. Quero que você e Lindsey façam parte da minha vida.
— Ah, sim, Lindsey — Meg comentou, cortante. — Como sabe, ela tem quinze anos, é
muito criativa e promete criar mais problemas. Talvez se estendam até os trinta, inclusive.
Já pensou nisso?
— Por este motivo faz-se necessário que ela seja orientada, para que opte pela direção
certa. Ouça-me, se está tentando me dizer que eu não deveria fazer a proposta, então basta
falar. Prefiro que seja bem clara sobre o que se passa em sua mente.
Meg aprumou-s.e, implorando às suas cordas vocais para que não falhassem.
— E o que estou... tentando fazer.
Steve sentiu-se enregelar e a sensação não escapou à sensibilidade dela.
— Certo. Então, o que quer de mim?
— Quem sabe fosse melhor que nós... não... voltássemos a nos ver por uns tempos...
O sorriso de Steve foi sarcástico e a fez fechar os olhos.
— Deixe-me lhe contar uma coisa, Meg Remington, porque é evidente que alguém tem
de dizer isso. Seu marido deixou-a e à sua filha. Isso acontece. Não foi a primeira vez que
um homem abandona sua família por causa de outra mulher, nem a última. Durante dez
anos você trabalhou intensamente para construir uma cerca bem forte ao redor de vocês
duas. — Ele também baixou as pálpebras para conter a emoção. Forçou-se a continuar.
Era sua chance de ser feliz e lutaria até o fim. — Ninguém pôde transpor sua muralha até
que Lindsey assumiu essa tarefa. E, agora que estou aqui, você não sabe o que fazer.
Começou a se importar comigo de verdade e isso a apavora.
— Steve...
— Seu universo seguro está ameaçado por outro homem. Pensa que ignoro que me
ama? E louca por mim. Droga, sinto exatamente o mesmo por você. — Estaria se saindo
bem? Se ao menos ela o olhasse... — Se quer terminar tudo agora, então está bem, mas
seja honesta. Estará agindo dessa forma porque tem medo de derrubar as paredes que
construiu. Teme confiar a outro homem seu coração porque acha que novamente será
abandonada.
— Você parece ter descoberto tudo — Meg conseguiu falar. —• Se deseja que eu parta
sem lhe dar o diamante que está em meu bolso, tudo bem. Você venceu. Mas não acho
que esteja tudo acabado, porque não está. Não desisto com tanta facilidade. — Passou
pela sala e se deteve junto à porta. — Não tenha uma falsa sensação de segurança. Eu
voltarei, e da próxima vez trarei reforços.
A porta se fechou com um estrondo que ecoou dentro do coração de Meg.
— Mamãe — Lindsey perguntou, entrando na sala e sentando-se a seu lado. — O que
aconteceu?
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— Eu me dei mal.
— Mas havia me dito que estava apaixonada!
— E estou.
— Então por que o mandou embora?
Meg respirou profundamente e soltou o ar aos poucos.
— Porque sou uma idiota.
— Então detenha-o! — a menina falou em tom de urgência.
— Não posso. É... tarde demais.
— Não, não é — Lindsey exclamou, e disparou para a porta da frente.
Uma parte de Meg queria detê-la, seu amor-próprio já fora suficientemente golpeado nos
últimos dias. Mas seu coração lhe avisava que a batalha já havia sido perdida. Estava apai-
xonada por Steve Conlan. E palavras não tinham poder para mudar isso. Nada, aliás,
detinha essa força.
Um minuto mais tarde Lindsey irrompeu na sala, ofegante, a mão no peito. Disse, entre
gigantescas golfadas de ar:
— Steve falou... que se quer conversar... com ele... terá de ir... lá fora...
— Onde ele está?
— Sentado dentro da caminhonete. Depressa, mamãe. Acho... que ele não vai esperar
muito tempo.
Com o coração pulsando selvagemente, Meg alcançou a varanda e se apoiou na coluna.
Avistou a caminhonete parada mais adiante.
Steve virou a cabeça para outro lado quando a viu, mas houve tempo para ela notar o
olhar frio. Gelado. Pouco amistoso.
Meg precisou de toda a sua parca coragem para aproximar-se mais. Quando chegou
bem perto, Steve a fitou e abriu a janela.
— O que foi? Lindsey falou que você tinha algo a me dizer. Então fale!
— Eu... não sei se consigo.
— Ou você diz ou irei embora.
Ligou o motor para mostrar que a ameaça tinha fundamento.
— Mamãe, você vai perdê-lo! — Lindsey gritou da varanda. — Não o deixe partir... Ele é
a melhor chance que já teve em toda a sua vida!
— Eu... o amo — sussurrou. Steve desligou o carro.
— Por acaso disse alguma coisa?
— Eu o amo, Steve Conlan. Estou apavorada. Você acertou na mosca. Construí uma
muralha em torno do meu coração. Não quero perdê-lo. Apenas... estou com muito medo...
A última palavra quase não foi ouvida. Olharam-se em silêncio. Após instantes de agonia,
um sorriso iluminou o rosto moreno.
— Não foi tão difícil assim, foi?
— Sim, foi. E como.
— Vai casar-se comigo, Meg Remington.
— Provavelmente.
Ele desceu da caminhonete, bateu a porta e chegou muito perto da doce senhorita
amedrontada.
— Vai se casar comigo ou não?
— Vou — Meg afirmou, rindo e chorando ao mesmo tempo.
— Foi o que pensei.
Sem mais delongas, abraçou-a e a ergueu do chão, emocionado demais para falar.
Girou-a no ar num lúdico carrossel e só então a carregou de volta para casa.
Uma vez lá dentro, fechou a porta com o pé, prensou-a contra a parede e lhe deu um
beijo de tirar o fôlego. Quase a machucou, tal a força de sua paixão, mas se conteve ao
ouvir uma tossida. Lindsey. Novamente.
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— Detesto interrompê-los, mas tenho algumas perguntas que vocês dois precisam me
responder.
Steve mergulhou a cabeça entre os cabelos de sua amada e pronunciou algo
indecifrável.
— Está bem. O que quer desta vez?
— Vamos nos casar? — indagou a garota, e Meg ficou satisfeita em perceber que a filha
se incluíra no compromisso.
— Sim — afirmou ele, categórico. — Formaremos uma família. Lindsey deu um berro
capaz de ensurdecer três quarteirões de curiosos vizinhos.
— Onde vamos morar? Na sua casa ou na nossa? Steve olhou para Meg.
— Tem alguma preferência? — Ela fez um gesto negativo com a cabeça. — Vamos
viver onde você quiser — declarou ele à adolescente. — Imagino ser importante que fique
próxima a seus amigos. Então levaremos isso em consideração.
— Que tal aumentar a família? Mamãe quer, eu acho. Mais uma vez o casal trocou
olhares e acabou caindo na gargalhada.
— Oh, sim — esclareceu ele. — Haverá muitos outros componentes em nossa família.
Os olhos de Steve se escureceram e Meg soube estarem pensando na mesma coisa.
Queria os bebês dele, assim como ansiava pela presença constante desse homem
maravilhoso. Não sabia como chamar esse sentimento a não ser de o mais puro dos
amores.
— Só mais uma coisa — disse Lindsey.
— Sim, querida.
— Gostaria que me convidasse para ajudá-la a escolher seu vestido de noiva. Você é
boa em uma porção de assuntos mas, francamente, não tem o mínimo senso quando se
trata de moda.
Como era de esperar, Lindsey, Brenda e Nancy estiveram plenamente envolvidas na
escolha do vestido de noiva de Meg. Steve, naturalmente, não pôde sequer olhar de relance
a maravilha que só veria no dia da cerimônia.
O casamento ocorreu três meses depois, com a presença de amigos e familiares.
Lindsey foi a dama de honra.
O noivo fez questão de cuidar de todas as formalidades, porque sabia quanto isso era
importante para Meg e sua filha.
Quando viu a noiva aparecer à porta da majestosa igreja, foi tomado por tão intensa
emoção que temeu desmaiar diante de toda a platéia. Sabia que a amava, ou não teria se
metido em tantas loucuras. Mas tivera poucas pistas de quão profundamente esses
tentáculos haviam se enredado em seu coração até vê-la, solene e deslumbrante, caminhar
em sua direção. Rezou para não chorar.
A recepção foi envolta em uma nuvem de etérea felicidade. Cada vez que olhava para
Meg, tinha dificuldade em acreditar que essa mulher linda e vibrante era sua esposa. Seus
pensamentos vagavam em um reino encantado enquanto se obrigava a sorrir,
cumprimentar e agradecer às pessoas por terem comparecido ao enlace.
Pareceu ter se passado toda uma eternidade até poder ficar a sós com sua mulher.
Reservara a suíte de núpcias de um hotel nos arredores do aeroporto Sea-Tac. Na manhã
seguinte voariam ao Havaí, para uma estadia de duas semanas.
Steve tinha o sério pressentimento de que não precisaria ir até as areias tropicais para
descobrir o paraíso. Poderia encontrá-lo nos braços de sua amada.
— Marido... — Meg disse com timidez enquanto ele abria a porta da suíte no hotel. —
Gosto do som dessa palavra.
— Eu também, mas tanto quanto gosto da palavra esposa. Aberta a porta, ele a pegou
no colo e a carregou para dentro.
Não havia dado dois passos e começou a beijá-la. Pensara em criar um clima romântico
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antes de fazer amor, mas um beijo não tiraria pedaços. Era até... esperado.
Meg tinha gosto de amor. Envolveu o pescoço dele e o tentou com movimentos suaves.
Não foi preciso um novo convite.
Só depois de um esforço sobre-humano ele foi capaz de soltá-la. Precisava ser paciente
e gentil.
— Poderíamos pedir o jantar no quarto — sugeriu ela, sem entusiasmo.
— Sim. Ou poderíamos fazer amor da maneira mais intensa e apaixonada já provada
em todo o planeta. O que prefere?
Ante o indubitável desejo que leu nos olhos de Meg, Steve gemeu e a carregou para o
centro do quarto. Permitiu que seus pés tocassem o chão e a beijou mais uma vez.
— Qual opção você acha que eu deveria escolher? — perguntou ela sensualmente, ao
alcançar o zíper do vestido.
— Nunca fiz segredo de quanto desejo fazer amor com você.
— Isso é verdade. Eu sempre soube quão penosa foi a sua espera. A maioria dos
homens não se sujeitaria a aguardar tanto tempo.
— A maioria dos homens não tem uma enteada como Lindsey. Fizemos um acordo.
— Sei tudo sobre esse acordo. Foi muita delicadeza de sua parte jurar não fazer amor
comigo até estarmos casados.
Steve esmerou-se em revelar a nudez tão desejada com todo o vagar. Primeiro um
ombro perfeito, macio, depois outro, e finalmente, para seu deleite, o vestido escapou-lhe
das mãos e mostrou a seus olhos ansiosos o corpo feminino.
Sua mulher... nem acreditava que fosse verdade. O ar lhe faltou justamente quando
tencionava lhe dizer quanto era linda, esplendorosa. Incapaz de expressar em palavras a
paixão, concentrou-se em fazer uma doce trilha com seus beijos incessantes, na pele feita
de seda.
— Você fez meus joelhos fraquejarem — disse ela.
— Os meus também se parecem com geléia.
Passos trôpegos os conduziram à imensa cama. Entre beijos e afagos, Steve conseguiu
afrouxar o nó da gravata. Com os lábios unidos aos do marido, Meg tirou-lhe a camisa.
O sutiã foi para o chão. Livres, os seios pareceram se ajustar com perfeição às mãos,
que passaram a acariciá-los com urgência e só cederam espaço a lábios ainda mais afoitos.
Sabendo não mais ser capaz de resistir, ele rapidamente se livrou da roupa. Restou
apenas um diminuto traje, a calcinha de Meg, e Steve a tirou com a boca.
Ela então se recostou nos travesseiros e o contemplou.
— Algo a preocupa? — perguntou ele, ajoelhando-se sobre a esposa e lhe tomando o
rosto entre as mãos.
— Você me surpreende.
— Minha reputação deve ser fantástica — provocou, beijando-a. — Ainda nem fizemos
amor e já a ouço elogiar minhas... qualidades.
— Acho que vou morrer se não me possuir agora.
Ele tremia de desejo. Planejara conversar, oferecer-lhe segurança, garantir-lhe quanto a
amava e só depois tomá-la nos braços.
Mas tudo mudou quando viu as pernas esguias a convidá-lo, os quadris a se arquear em
sutil provocação.
Abraçaram-se com paixão e lentamente seus corpos se uniram em uma dança sensual.
Juntos descobriram um ritmo imediato. Os seios beijavam o peito coberto de pêlos negros.
Steve não agüentaria se conter por muito mais tempo, mas queria que o prazer fosse
intenso e febril para ambos. Então obrigou-se a se concentrar nos sinais enviados por sua
parceira.
Atingiriam o ápice juntos. Meg se contorcia e gemia. Steve logo se juntou ao seu prazer,
atingindo os portões do paraíso.
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Juntos morreram. Juntos renasceram.


— Obrigada — sussurrou Meg.
— Eu é quem devia lhe agradecer.
— Você me ensinou algo precioso... Fez com que me sentisse bela e desejável.
— Porque você é.
— Para você.
Ela se ergueu e lhe deu um beijo doce, relaxado.
— Está à vontade? — perguntou Steve, preocupado em não machucá-la com seu peso.
— Muito. Sabe de uma coisa? Você é um marido fantástico.
— Mas isso eu já havia lhe dito, não é?
Lindsey estava à mesa com a irmã de Steve.
— Acha que eles um dia descobrirão?
Nancy bebericou o champanhe devidamente servido em uma taça de cristal.
— Duvido que estejam pensando em mais alguém além deles.
— Cometemos alguns erros, entretanto.
— Nós?
— Está bem, admito que quase arruinei tudo ao pressionar para que o pedido de
casamento acontecesse logo. Como poderia adivinhar que minha mãe levaria o assunto
para um lado tão pessoal? Puxa, ela quase teve um ataque cardíaco!
— Mas felizmente tudo deu certo — Nancy concluiu, satisfeita. — Sabe, também fiz umas
bobagens. Pedir a uma amiga para ir até a loja e se passar por Meg não foi a atitude mais
inteligente que tomei. Steve descobriria, mais cedo ou mais tarde.
— Mas tínhamos de fazer algo — insistiu Lindsey. — Eles estavam se comportando
como crianças birrentas. Um dos dois tinha de capitular. Além do mais, sua estratégia
funcionou.
— Melhor do que as flores que enviei.
Lindsey pegou mais um pedaço do bolo de casamento.
— Sabe qual foi a parte mais difícil?
— Sei qual foi para mim. Sofri à beca para ficar impassível quando sua mãe foi à minha
casa vestida como... você sabe. Oh, Lindsey, se a tivesse visto!
— E Steve estava cômico com aquela jaqueta de couro e o ar de bandido.
—Mas nenhum dos dois é bom como ator —- Nancy avaliou, sorrindo.
— Não como nós.
— Tem toda razão.

DEBBIE MACOMBER sempre adorou contar histórias. Primeiro para seus pequenos clientes quando
trabalhava como babá, depois para seus próprios filhos. Leitora ávida, queria partilhar de suas histórias
prediletas com uma audiência atenta.
O primeiro livro de Debbie foi publicado em 1983. Atualmente, mais de cinqüenta obras depois, seus livros
constam das listas dos mais vendidos e já lhe garantiram diversos prêmios literários. Questionada sobre o
que a levou a escrever esta obra, Debbie falou: — Sei o que estão pensando e estão enganados. Jamais
responderia a um anúncio amoroso publicado em jornal. Já me senti tentada, confesso. Não para meu
benefício, mas para o de minha filha solteira, Jody. Já encontrei o homem perfeito para ela cerca de doze
vezes ou mais, mas a garota é por demais independente e prefere ela mesma eleger seu marido. Então só
me restou divagar a respeito de como teria sido se eu tivesse arranjado "alguém" para Jody, assim como
Lindsey Remington fez para a mãe dela. Debbie adora saber a opinião das leitoras sobre seus livros e pode
ser contatada conforme abaixo: P.O. Box 1458, Port Orchard, WA 98366.

Projeto Revisoras 68

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