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Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
Meg e sua filha começaram um diálogo: "Mamãe, talvez esta seja uma boa
oportunidade de lhe falar a respeito de Steve." A mãe indagou: "Quem?" A garota
completou rapidamente: "Steve, seu acompanhante para o jantar desta noite. Eu o
conheci através de um anúncio que publiquei, em seu nome, na seção de correio
amoroso do jornal".
Ante a expressão enigmática da mãe, achou por bem acrescentar: "Gostaria de ver a
fotografia dele? É um gato! Mamãe, há algo errado? Vamos! Precisa estar no restaurante
em uma hora. Comprei este vestido para você usar. Não acha que ficará lindo?"
Disponibilização: Analice
Digitalização: Simoninha
Revisão: Cynthia
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
Querida leitora,
Escolhi duas histórias mais do que especiais para você. Leves, agradáveis, repletas de
romance e cenas cômicas. Você vai passar horas muito especiais.
O CASAL PERFEITO
ROMANCES NOVA CULTURAL
COPYRIGHT © 1995 BY DEBBIE MACOMBER
Apenas gostaria que minha filha adolescente pusesse isso em sua cabecinha
romântica. Ela já me fez entrar em dieta e em seguida me deu um vestido sensual para
sair com um homem que eu nem conhecia!
E sabem como ela entrou em contato com este sujeito? Através de um anúncio
publicado em jornal. Por ela. Em meu nome. Cá entre nós, sempre achei ser este um
recurso de pessoas desesperadas. Ou loucas.
Mesmo assim, vi-me jantando em um restaurante sofisticado e romântico com Steve
Conlan. Um homem alto, moreno e muito atraente.
Não que eu esteja interessada, é claro. Steve inclusive me ajudará a domar a
impetuosidade de minha filha. Sim, hoje vamos começar a planejar nossa revanche.
Assim que conseguirmos desgrudar os olhos um do outro...
Projeto Revisoras 2
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
PRÓLOGO
— Nosso anúncio está aí? — perguntou Lindsey Remington a Brenda, sua melhor amiga.
Olhou, nervosa, para a porta do quarto e prendeu a respiração. Tinha medo de que a
mãe as encontrasse vasculhando a seção de correio sentimental do jornal e descobrisse o
que haviam feito.
Era uma deslealdade escrever uma mensagem em nome dela, mas precisava ajudá-la
a encontrar um marido. A tarefa era árdua e exigia cuidados especiais.
— Aqui! — a amiga apontou, excitada, para o meio de uma página. — Está mesmo aqui.
Exatamente do jeito que escrevemos.
Projeto Revisoras 3
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
CAPITULO I
Meg Remington deu uma espiadela no quarto da filha de quinze anos. Viu Lindsey e sua
melhor amiga, Brenda, ajoelhadas ao lado da cama, aos sussurros.
Meg tossiu de leve e imediatamente as duas se aprumaram.
— Oi, mamãe — Lindsey falou, os brilhantes olhos azuis com um traço diferente.
Meg conhecia esse olhar. Sabia que significava encrencas.
— O que estão fazendo?
— Nada.
— Nada — repetiu Brenda com angélica inocência.
Meg cruzou os braços e se apoiou no batente da porta. Tinha todo o tempo do mundo e
queria que as duas soubessem disso.
— Diga-me por que não acredito nisso, filha. Você está com aquele olhar.
— Aquele olhar?
— Sim. Aquele que toda mãe reconhece. Está tramando algo e desejo saber o que é.
Entrelaçou os calcanhares para deixar claro que ficaria ali até que estivessem prontas a
lhe revelar o que faziam.
— Está bem, então — Lindsey deu-se por vencida. Brenda lhe deu um dolorido pisão
no pé.
— Só que ainda não terminamos de planejar tudo.
— Não tem importância. Quero saber o que é. Fascinava-a perceber como a filha
tornava-se cada dia mais bonita. Da desajeitada e magrela menina, transformara-se em
uma linda princesa quase da noite para o dia. O ex-marido de Meg, Dave, comentara as
mudanças quando ela o visitara em Los Angeles.
— Estamos trabalhando arduamente em um plano — Brenda explicou. — O assunto
exige um bocado de empenho e envolvimento.
— E exatamente o que as tem deixado tão ocupadas? Mal as tenho visto fora deste
quarto.
Quando Brenda passava a noite na casa delas, e isso acontecia pelo menos uma vez
por semana, as duas ficavam o tempo todo ouvindo música, vendo televisão ou assistindo
a filmes alugados.
Mas a residência havia estado estranhamente quieta durante toda a noite. As garotas
estavam há muito tempo no quarto. Tempo demais. Na certa inventavam alguma novidade
e era hora de descobrir exatamente o quê.
— Você fala — disse Brenda. — Ela é sua mãe.
— Eu sei, mas será um pouco mais fácil se vier da sua boca.
— Lindsey? — Meg a repreendeu, mais curiosa do que nunca.
— E melhor se sentar, mamãe.
Lindsey a pegou pela mão e a conduziu até a cama. Meg sentou-se e as duas ficaram
paradas à sua frente, cada qual parecendo aguardar que a outra falasse.
— Você é uma mulher muito atraente — Lindsey começou. Meg franziu a testa. Era
melhor forçar a filha a ir direto ao assunto.
— Precisa de dinheiro? Quanto e para quê?
— Não preciso de dinheiro algum. Eu apenas disse que você é bonita.
— É verdade — palpitou Brenda. — E só tem trinta e quatro anos.
— E mesmo?
Meg precisava pensar melhor a esse respeito. Sua idade não podia ser exposta com
tanta falta de cerimônia.
— Sim, acho que tenho.
— Está no auge da sua vida.
Projeto Revisoras 4
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jovens demais. Meg mal completara dezenove anos quando Lindsey nasceu, e o marido
acabara de deixar o colégio. Durante os cinco anos de casamento, não houve brigas graves
ou desentendimentos recheados de amargura. Ainda era difícil concluir se a harmonia
facilitara ou não as coisas.
Quando Lindsey tinha quatro anos, Dave anunciou que não a amava mais. Queria o
divórcio. Ela não devia ter ficado surpresa, mas ficou... e sofreu. Sabia, mesmo sem
perguntar, que o marido havia encontrado outra pessoa.
Conclusão correta.
Meg passou muito tempo procurando se convencer de que a falência de seu casamento
não importava. Separaram-se de maneira amigável. Pelo bem da filha, preservavam ao
máximo o contato cortês.
Dave a machucara profundamente, mas Meg negou essa dor durante anos. Conseguiu
direcionar sua energia para assuntos positivos. Agora, estava feliz com a vida que levava.
Organizara seu cotidiano entre o trabalho na livraria e os cuidados para com a filha.
Sobrava-lhe pouco tempo para novos relacionamentos.
Tivera uma série de oportunidades de voltar a se envolver emocionalmente, nos anos
imediatamente seguintes ao rompimento. Não o fez. Naquela época, simplesmente não
estivera interessada, e com o passar dos anos foi parando de pensar nisso.
— Mamãe, poderia sair dessa cama? — ouviu a ordem da filha. E então, em tom de
provocação: — Eu trouxe café.
— Já me enganou antes.
— Dessa vez é verdade. Quanto ao que lhe ofereci antes, peço desculpas. Acho que
entendi errado o que a senhora da loja de produtos naturais falou. Você estava certa. De
acordo com as instruções da embalagem, deve-se usá-lo no banho.
Meg percebeu já não haver sentido em ficar escondida sob o travesseiro.
— Há alguma maneira de eu comprar a liberdade?
— Não.
— Vai se sentir bem melhor após os exercícios — Brenda prometeu. — Pode acreditar.
Meg tirou outra conclusão, porém. Uma hora mais tarde, não conseguia se mover sem
que alguma parte de seu corpo reclamasse.
Escorregou para a cozinha e despencou sobre uma cadeira. Quem diria que um simples
vídeo com aula de ginástica seguida de uma leve corrida fosse reduzi-la a isso?
— Já planejei todas as suas refeições — Lindsey a informou. Depois, abriu o refrigerador
e de lá tirou um sanduíche.
Estendeu-o para a mãe inspecionar.
— Este é seu almoço.
Meg perguntaria qual o conteúdo nutricional do lanche se tivesse fôlego para tanto. Tudo
o que podia observar era uma esquálida fatia de queijo branco e um punhado de sementes
de uva. Secas.
— Não comeu nada além do iogurte desnatado no café da manhã, não é?
Fraca como estava, ela só conseguiu acenar com a cabeça para dizer que sim.
— Vai lhe contar sobre o jantar? — Brenda lembrou.
— E mesmo. Ouça, mamãe, tem se saído muito bem e gostaríamos de recompensá-la.
Hoje à noite poderá comer uma batata assada no jantar.
Ela fez menção de sorrir. Imagens de manteiga e requeijão com bacon enfeitaram sua
mente.
— Com peixe-espada grelhado.
— Gosta de peixe, não é?
Meg aquiesceu. A essa altura dos acontecimentos, concordaria com qualquer coisa para
afastar as garotas da cozinha e preparar um café da manhã decente.
— Brenda e eu iremos fazer compras — Lindsey anunciou, como se isso fosse muito
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Meg gostava dele. Era uma pessoa decente, mas nunca o avaliara como candidato a
namorado. Francamente, não achava que formassem um casal interessante.
— O fato de você nem saber que Ed é solteiro diz muito. Tem de manter olhos e ouvidos
atentos.
— Quem mais?
— Buck é divorciado.
Buck era freguês habitual da loja, e Lois achava um absurdo Meg nunca tê-lo notado.
— Eu não namoraria Buck.
— Não disse que tem de ter algo com ele, apenas comentei que trata-se de um solteiro
disponível.
Meg não se imaginava beijando esse sujeito.
— Mais alguém?
—Há dúzias de homens lá fora.
— E eu sou cega?
— Sim. Se quer saber a verdade, acho boa a idéia de Lindsey. Talvez ela esteja
conduzindo os fatos de um jeito equivocado, mas é um belo sinal para que você volte a ter
uma grande paixão. Poderá se surpreender com o resultado.
Meg não acreditava no que estava ouvindo. Esperara que sua melhor amiga a apoiasse,
mas Lois se postara ao lado da filha!
No final do dia, após ter fechado a livraria e rumado para casa, ela se sentia exausta.
Passou a duvidar das matérias das revistas que diziam que exercícios físicos davam mais
energia.
— Lindsey! Está em casa?
— No meu quarto! — gritou ela, do andar de cima.
Um pressentimento impeliu Meg para os aposentos da filha. Bateu na porta uma vez e
entrou. Lá estavam as duas sobre a cama, remexendo uma pilha de cartas. Fizeram
menção de escondê-las, e então desistiram.
— Mamãe? — disse Lindsey, os olhos arregalados. — Oi.
— Olá.
— Olá, Sra. Remington — Brenda cumprimentou, parecendo tão culpada quanto a
amiga.
Meg viu o vestido preto pendurado em um puxador do guarda-roupa. Era provavelmente
o mais insinuante que já vira.
— Como comprou o vestido? — indagou, furiosa por a filha ter ido contra sua
determinação e pensando na solução armada para viabilizar a compra.
As garotas se entreolharam e pareceram incapazes de encará-la.
— A mãe de Brenda autorizou o débito no cartão de crédito dela — Lindsey disse por
fim.
— O quê?
— Foi apenas uma mentirinha — Brenda comentou rapidamente. — Disse a mamãe
que era perfeito, estava em liquidação e era uma oferta imperdível. Só não lhe contei que
o vestido não era para mim.
— Nós três vamos sair imediatamente e fazer uma visita aos pais de Brenda.
— Mamãe! — Lindsey voou da cama. — Espere, por favor.
— Havia pânico nos lindos olhos azuis. — Sei que agimos de maneira errada, mas você
não concordou em comprar o vestido e ficamos sem alternativa. Você não tem nada
apropriado para ir ao Chez Michelle.
Chez Michelle era um dos mais finos restaurantes de Seattle, com reputação de
excelência em cozinha francesa. Meg não o conhecia, mas Lois e o marido comemoraram
bodas de prata lá. Comentaram as maravilhas do ambiente e da comida durante semanas.
— O que você acabou de falar não faz o menor sentido.
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— Eu sei.
Lindsey mordeu o lábio inferior.
— Tem de dizer a ela — Brenda sugeriu.
— Dizer-me o quê?
— Foi você quem escreveu a última carta — Lindsey acusou.
— Devia pelo menos ter colocado as datas de modo correto.
— É hoje à noite.
— Eu sei.
— Por acaso alguém poderia fazer a gentileza de me contar o que está acontecendo?
— Meg pediu, já no limite de sua paciência.
— Precisa deste vestido, mamãe — Lindsey falou.
— E por quê?
— Tem um jantar para ir.
— Tenho? E com quem vou sair?
Ela pressentiu que isso tinha algo a ver com o restaurante Chez Michelle.
— Com Steve Conlan.
— Steve Conlan?
Meg repetiu mentalmente o nome, para descobrir se lhe era ao menos remotamente
familiar, mas de nada se lembrou.
— Você não o conhece — informou Lindsey. — Mas ele é muito legal. Brenda e eu o
achamos bastante interessante.
— Vocês sabem quem ele é?
Meg não gostava do rumo que a conversa tomava.
— Na verdade, não. Temos nos correspondido há cerca de um mês, e ele parece muito
especial.
A última parte foi dita com entusiasmo forçado.
— Esteve se correspondendo com um estranho?
— Não é um estranho, mamãe. Parece até já fazer parte da família.
— E ele quer se encontrar com você — provocou Brenda.
— Comigo? E por quê? — Mais uma vez as meninas trocaram olhares. Mau sinal. —
Lindsey, por que esse homem quer se encontrar comigo?
A filha baixou a cabeça, recusando-se a enfrentar o olhar materno.
— Porque quando nos correspondemos com Steve...
— Sim? — Meg pressionou.
— ...Brenda e eu dissemos que éramos você.
CAPITULO II
Steve Conlan olhou para o relógio e verificou se sua aparência continuava impecável.
Os ponteiros mal haviam se mexido desde o último mirar no espelho. A noite que se iniciava
seria daquelas! Os minutos se arrastariam em interminável martírio.
Já descobrira o motivo de ter se embrenhado em tamanha confusão. Estava pensando
no negócio que administrava e então... Nem queria pensar nisso, porque cada vez que o
fazia sua pressão ia às alturas.
Só tinha uma certeza: Nancy pagaria por isso.
Estava adiantado e isso não se devia às habituais razões que faziam um homem chegar
antes a um jantar. Queria que essa noite se encerrasse o mais brevemente possível.
Tentou não olhar para o relógio novamente, mas falhou. Passara-se um minuto. Ou toda
uma vida?
O nó da gravata parecia estrangulá-lo e o fez colocar o indicador para afrouxá-lo. Uma
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gravata! Mal acreditava que permitira que Nancy o tivesse convencido a se vestir assim.
Tirou uma carta do bolso.
Meg Remington.
Tinha um rosto interessante, decidiu. Nada espetacular. Não era exuberante, mas
chamava a atenção. Os olhos eram sua maior qualidade. Brilhantes. Expressivos. Tinha
uma boca bonitinha, também, cheia e sensual. Pedia um beijo.
O que devia dizer-lhe? Lera suas cartas dúzias de vezes, talvez até mais. Ela parecia,
odiava admitir, imatura. Como se quisesse impressioná-lo a todo custo.
Dissera correr diariamente e ter sido qualificada para o time olímpico. Podia imaginar
como seria o jantar com alguém tão a par do valor calórico de cada alimento. Chegou até
a se gabar da quantidade de calorias que ingeria diariamente. Ela nunca devia ter espiado
o cardápio do restaurante Chez Michelle. Não devia existir um só antepasto que engordasse
pouco.
Esse era outro problema. A mulher tinha um gosto bastante caro. Jantar no Chez
Michelle lhe custaria uns cem dólares, se tivesse sorte.
Involuntariamente, seu olhar pousou no relógio. Ele praguejou mais uma vez. A irmã lhe
pagaria por isso, repetiu.
— Eu me recuso ir ao encontro de um estranho para jantar!
— Meg protestou, indignada.
— Mas tem de ir! — Brenda implorou, os olhos suplicantes.
— Sinto muito, Sra. Remington, sinto-me de fato muito mal por ter agido assim, mas
Steve não fez nada de errado. Terá apenas de sair para jantar com um homem encantador.
Caso contrário, é possível que ele se decepcione para sempre com o sexo oposto.
— Steve?
— Steve Conlan, seu acompanhante — ajudou Lindsey. — Tudo teria funcionado
perfeitamente se... — fez uma pausa e olhou com impaciência para a melhor amiga — uma
de nós não tivesse confundido os dias e marcado o encontro para hoje por engano.
— Exatamente quando pretendem me contar o que estiveram escrevendo para um
estranho, em meu nome?
— Em breve — Lindsey falou com convicção. — Ele quis conhecê-la de imediato.
Fizemos todo o possível para mantê-lo distante. A propósito, se Steve perguntar sobre seu
apêndice, diga-lhe que já está plenamente recuperada.
Meg suspirou. A decepção das duas conspiradoras não a incomodava. Perdia tempo
buscando um jeito de se livrar da situação. Deixaria um recado para o Sr. Conlan no
restaurante, explicando que não iria. Mas essa parecia ser uma atitude covarde.
Infelizmente, não tinha um plano viável para safar-se dessa emergência. Brenda estava
certa. Não era culpa dele ter sido ludibriado por uma dupla de adolescentes.
— Steve é muito bem-apessoado — Brenda ressaltou. Aproximou-se de Meg e lhe
estendeu uma fotografia, retirada de um dos envelopes sobre a cama de Lindsey. — Veja
como temos razão. Tem lindos olhos castanhos e um sorriso maravilhoso.
Meg sucumbiu à curiosidade. Avaliou a fotografia. Steve Conlan era mesmo bastante
atraente. Tinha os cabelos um pouco longos, mas isso não chegava a desgostá-la. Usava
um chapéu de cowboy, botas e tinha os polegares apoiados nos bolsos frontais da calça
jeans, numa pose para a câmera.
— Ele é alto, moreno e meio solitário — Lindsey informou, ansiosa.
— Já foi casado?
— Não — foi a vez de Brenda responder. — Toca seu próprio negócio, assim como a
senhora. Tem uma loja de produtos de beleza. Ali aplica todas as economias e todo o seu
tempo.
— O que o fez colocar um anúncio no jornal? — Um pensamento assustador a tomou
ao fitá-las. — Foi ele quem pôs o classificado, não foi? — O olhar de ambas voltou-se para
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o chão, e o coração de Meg gelou. — Quer dizer que vocês duas colocaram um anúncio no
jornal em busca de uma marido para mim? — inquiriu, a voz trêmula de raiva.
— Recebemos muitas cartas — Brenda comentou orgulhosamente. — Fizemos uma
exaustiva seleção e chegamos a Steve Conlan.
— Não quer saber o motivo? — Lindsey animou-se a perguntar. Meg, muda, fez um
gesto indicando que nem se importava, atônita demais para reagir.
— Steve disse que decidiu responder ao anúncio porque um dia acordou e percebeu que
a vida estava passando, que perdia tempo. Todos os seus amigos estavam casados e ele
sabia que algo importante lhe faltava. Não uma coisa, mas uma pessoa.
— Que tal amigas mulheres? — Meg perguntou, pois Steve não parecia o tipo de homem
que precisava achar companhia nos classificados.
— Ele disse que... — Lindsey fez uma pausa e revirou as cartas, em busca de algo
específico. — Aqui está. Não tem muita oportunidade de conhecer mulheres solteiras, a
menos que seja em encontros acidentais. Quando está trabalhando, em geral fica ocupado
demais para enxergar um provável clima de romance. Parece bastante espirituoso, não
acha? Gosto disso.
— Disse também que a maior parte das mulheres da sua idade já estão casadas, ou
divorciadas, e com diversos filhos.
Isso não soou nada promissor para Meg.
— Você mencionou que sou divorciada, não é?
— É claro — garantiu-lhe a filha. — Nós nunca mentiríamos. Ela mordeu o lábio para
não falar o óbvio.
— Apenas pense, Sra. Remington, que dentre todas as mulheres para quem Steve
poderia ter escrito, ele a escolheu e nós o elegemos. É o destino. Posso afirmar com toda
clareza que isso é obra do destino.
— Certamente há uma pessoa mais jovem e bonita, sem crianças, que lhe chamou a
atenção.
As meninas trocaram sorrisos.
— Ele apreciou muito o fato de você se preocupar com as calorias de cada alimento —
Brenda comentou, exultante.
— Jura que lhe disse isso? — Meg fechou os olhos. A situação era mais grave do que
imaginara. — O que mais lhe contaram?
— Apenas que você é maravilhosa.
— Uma heroína. O que é a mais pura das verdades — elogiou Brenda.
Oh, é claro. Fizeram com que se parecesse uma heroína de histórias em quadrinhos.
— Vai se encontrar com ele, não vai? — Os olhos de Lindsey imploravam.
— O que eu deveria fazer era levar vocês duas até o restaurante, para que se
desculpassem pessoalmente. Merecem essa humilhação.
As faces juvenis empalideceram, como se a idéia não lhes tivesse ocorrido.
— Mas mamãe...
— Sra. Remington...
Meg levantou a mão, para impedi-las de continuar.
— Não as levarei até o Chez Michelle. Mas depois conversaremos sobre o pedido de
desculpas. — Dois pares de ombros relaxaram, visivelmente aliviados. — Mas não jantarei
com Steve Conlan. Irei até o restaurante, me apresentarei e explicarei tudo. Tenho certeza
de que ele concordará que o melhor a fazer será cancelar o jantar.
— Colocará o vestido, não é?
— Absolutamente não.
Recusava-se até mesmo a considerar essa hipótese.
— Mas não tem nenhuma roupa especial para ir ao Chez Michelle. Apenas experimente,
mamãe — pediu a garota, num tom que indicava ser esse o maior desejo de sua vida.
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A roupa caiu-lhe com perfeição, como se tivesse sido feita especialmente para ela.
Salientava as partes mais bonitas de sua figura e disfarçava outras. Ao menos foi o que as
garotas disseram.
Algum tempo mais tarde, lá estava Meg, entrando no restaurante.
— Olá! — O maitre a cumprimentou com um sorriso de propaganda de creme dental. —
Mesa para uma pessoa?
— Eu... vim me encontrar com alguém — respondeu ela, e olhou ao redor à procura de
um homem alto, moreno e igual ao da foto que trazia na bolsa.
Ninguém parecia se enquadrar na descrição. Nem havia um sujeito sozinho vestindo
chapéu de cowboy.
O único homem que vagamente se assemelhava ao que buscava estava a um canto do
amplo ambiente, encostado indolentemente contra a parede, como se tivesse todo o tempo
do mundo para divagar.
Ele endireitou o corpo e a fitou.
Meg sustentou o olhar.
Viu-o enfiar a mão no bolso e de lá tirar o que parecia ser uma fotografia. Abriu a bolsa
para fazer exatamente a mesma coisa. Ambos observaram o que tinham nas mãos. Depois
fitaram um ao outro.
— Meg Remington? — perguntou o sujeito, como se ainda lhe restassem dúvidas.
— Steve Conlan? — Viu-o assentir. — Meg Remington — confirmou ela, com um leve
gesto de cabeça.
Steve trajava terno e gravata. Arrumara-se para vê-la. Meg passou a mão pelo vestido,
sentindo-se desconfortável. A situação era constrangedora. Não poderia dizer "olá" e ir
direto ao assunto, revelando a tramóia de que fora vítima.
Falar que tudo não passava de um terrível engano e cancelar o jantar seria terrível. Em
especial porque era óbvio o trabalho que ele tivera em se vestir primorosamente para a
noite. Seria no mínimo indelicado dizer, segundos após terem se conhecido, que não era a
pessoa que ele achava que fosse.
— Acredito que nossa mesa ainda esteja reservada — Steve falou, estendendo-lhe o
braço. E, voltando-se para o maitre: — Gostaríamos de ocupar nossa mesa agora.
— Queiram me acompanhar.
Meg podia estar enganada, mas notou um quê de relutância na voz dele. Talvez o tivesse
desapontado. Apesar da roupa que Lindsey e Brenda lhe haviam comprado, sentia o peso
da idade.
O orgulho a fez aprumar-se. Não vinha assinando contratos para atuar como modelo
fotográfico, ironizou silenciosamente. O que ele esperava de uma mulher de trinta e quatro
anos? Se queria uma companheira por volta dos vinte, não devia ter respondido a suas
cartas. As de Lindsey, corrigiu-se. Foi o que a impediu de parar exatamente onde se
encontrava e contar a Steve Conlan a palhaçada em que se metera.
O vestido, a propósito, era divino. As garotas haviam feito uma escolha e tanto. A filha
teve razão em afirmar que ela não possuía nada à altura desse restaurante. Mas sabia ter
dado início a uma situação insustentável: as duas meninas estavam se sentindo es-
pecialistas em moda e nunca mais a deixariam em paz.
Foram conduzidos até uma mesa coberta por uma toalha de linho branco, próxima a uma
janela. Podia-se vislumbrar a baía Elliot e Puget Sound. O reflexo do luar na água em-
prestava romantismo ao clima sofisticado do Chez Michelle.
Meg forçou a vista, mal conseguindo ler o menu ante a parca luminosidade. Estaria Steve
tendo o mesmo problema?
— Já escolhi o prato — comentou ela, dizendo o nome da opção menos cara. — E, por
favor, insisto em pagar minha parte.
Seria imperdoável lesá-lo financeira e moralmente.
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— O jantar será por minha conta — Steve insistiu, pondo seu próprio menu de lado.
Sorriu pela primeira vez e a estudou, como se não soubesse o que fazer com ela mulher.
— Faço questão.
— Mas... — Meg baixou o olhar e fechou a boca. Não sabia por onde começar. E
ignorava por quanto tempo seria capaz de sustentar a farsa. — Aqui é... muito elegante —
foi a única coisa que conseguiu balbuciar.
— Sim — concordou ele, brincando com a taça de água.
— Você está muito diferente na fotografia.
Não sabia o motivo de ter achado pertinente fazer esse comentário. O que devia era
estar explicando a trapalhada armada por Lindsey e Brenda.
— Como assim?
— Cortou os cabelos.
— Sua foto também não lhe faz justiça.
Meg esquecera-se de perguntar à filha qual fora remetida a Steve.
— Posso vê-la?
— É claro.
Ele a tirou do bolso e a estendeu para Meg, que quase teve um ataque cardíaco. Não
podia acreditar que Lindsey tivesse enviado essa fotografia. Fora tirada pouco antes do
Natal, há um ano. Ela estava em pé, defronte ao pinheiro todo enfeitado. Usava um vestido
branco que lhe roubara toda a cor das faces. O flash da câmera fez seus olhos ficarem
vermelhos.
— É uma das piores fotografias que já tirei — comentou, impaciente. — Há uma bem
melhor, em que apareço em frente à livraria.
Steve franziu a testa.
— Então devia ter me enviado aquela.
Ela percebeu tarde demais o que havia feito.
— Tem razão... Mas que bobagem eu falei!
A garçonete veio e eles fizeram seus pedidos. Era incompreensível como a mulher
conseguia escrever, envolta em tamanha escuridão. Assim que foram deixados a sós, Meg
preparou-se para revelar toda a verdade.
— Escute, Steve...
— Meg...
Ambos pararam de falar.
— Você primeiro — disse ele com gentileza.
— Está bem. — Ela procurou desesperadamente palavras para se explicar. Em vão. —
Não é fácil...
— Quer dizer que foi um prazer ter me conhecido, mas a química não corresponde ao
que esperava e então gostaria de terminar tudo antes mesmo de começar. Acertei?
— Oh, não!
— Não?
Meg não sabia por que ele parecia tão desapontado. E então compreendeu.
— Você... está decepcionado comigo e...
— De modo algum. Verdade seja dita, estou agradavelmente surpreso.
Ela engasgou.
— Gostaria que você não tivesse dito isso.
— Por que não?
— Porque... — Respirou profundamente. — Porque não sou a pessoa que pensa que
sou. Quero dizer... —A conversa estava se tornando mais complicada do que previra. —
Não escrevi aquelas cartas.
Os olhos de Steve se estreitaram.
;
— Então quem as escreveu?
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A sensação boa da mão máscula a tocar seu rosto retornou vivida, intensa. Sorriu ao se
lembrar dos lábios tentadores tão próximos aos seus. Tão cedo não se esqueceria nem do
encontro nem desse homem. Disso tinha a mais absoluta certeza.
— Bem, e como foi? — Nancy perguntou, ansiosa.
A irmã adolescente de Steve o aguardava à porta de entrada. Seus olhos estavam
abertos e expectantes enquanto o seguia para o interior da casa, sedenta por detalhes.
Steve olhou para o relógio e a repreendeu.
— O que faz acordada a essa hora?
— Pelo que me lembro, você pediu que o aguardasse para conversar.
— Pedi?
— Chegou bem mais tarde do que me disse.
Ele nada respondeu. Não desejava que a irmã soubesse quanto gostara da noite.
— Devia dar-se por feliz por eu não a esganar — falou, tentando mostrar uma irritação
que não sentia.
— Talvez.
— Não tem de fazer o dever de casa ou algo do gênero? — inquiriu, tirando a gravata.
— Gostou dela, não foi? E eu não tenho tarefas. Sabe muito bem que as aulas
terminaram há duas semanas.
— Então decidiu permanecer em Seattle e fazer da minha vida um inferno.
— Não, optei por ficar aqui e vê-lo casado. Ora, você está com trinta e cinco anos de
idade. Já não é mais nenhum moleque.
Nancy foi até o sofá e desabou, como se tivesse decidido plantar-se ali se ele não
aceitasse seu empenho.
O problema, concluiu Steve, era que a irmã era produto de pais que não esperavam ter
tido um segundo filho e a mimaram muito. Ele era parcialmente culpado, mas nunca
esperara que a garota viesse a fazer algo tão inusitado quanto lhe arrumar uma esposa.
— Você trabalha demais. Já é hora de relaxar um pouco e curtir a vida.
— Vai escrever à Sra. Remington uma carta pedindo desculpas.
— Está bem, está bem. Farei isso. — Pôs-se de pé num salto. — Quando irá vê-la
novamente?
— Não vou vê-la de novo. Nancy voltou a cair sobre o sofá.
— Por que não?
Steve não sabia. Meg e ele haviam decidido assim logo no início da conversa, e já nem
se lembrava o porquê.
— Deixe-me sozinho.
Nancy jogou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada.
— Você gostou dela. Você gostou dela de verdade!
Meg sentou-se no sofá da sala dos fundos da livraria e massageou os pés doloridos. Os
sapatos esmagavam seus dedos, mas era esse o preço de uma escrava da moda. Lindsey
sugerira que os usasse. Mesmo sabendo quanto sofreria, optara por aceitar a opinião da
filha.
Lois pôs a cabeça para dentro do aposento e sorriu ao vê-la.
— Acabou de chegar um lindo buquê de flores para você.
— Para mim?
— E o que está escrito no envelope.
— E quem as enviou?
— Não li o cartão, se é o que deseja saber, mas Lindsey está aqui, pegou-o antes que
eu pudesse fazer qualquer coisa e sorriu triunfante. Acho que são de Steve.
— Steve?
Com ou sem dor, Meg pôs-se de pé em um segundo. Foi para a frente da loja e viu o
rosto radiante da filha.
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— Steve Conlan lhe mandou flores! — A mão de Meg tremia ao tirar o cartão do pequeno
envelope. — Ele disse, e eu concordo: "Você é uma mulher especial, Meg Remington.
Amor, Steve".
O buquê era esplêndido, com pelo menos dez diferentes tipos de flores arrumadas com
esmero em uma cesta de vime branca.
— Nós combinamos... — murmurou, sem saber o que pensar.
— O quê? — Lindsey quis saber.
— ...Que não voltaríamos a nos encontrar.
— Aparentemente, ele mudou de idéia — disse a menina, como se tivesse descoberto
uma fortuna.
Achando improvável a conclusão a que a filha chegara, Meg contemplou sua melhor
amiga.
— Não olhe para mim — defendeu-se Lois.
— Tenho certeza de que está enganada — Meg disse a Lindsey. Passaram-se alguns
segundos até que as batidas de seu coração amansassem. Talvez as garotas tivessem
conseguido levá-la de volta à adolescência, já que reagia com tamanha comoção a um
simples buquê de flores.
— Por que outro motivo Steve lhe enviaria flores? — Lindsey perguntou em um tom
calmo e racional.
— Apenas para me dizer que foi um prazer ter me conhecido. Não devemos tirar
conclusões absurdas.
— Ligue para ele, mamãe.
— Acho que não.
— Será que não vê? Steve está sinalizando que gosta de você, mas não quer pressioná-
la, temendo que não tenha apreciado conhecê-lo.
— É mesmo?
Sua autoconfiança esmoreceu.
— O próximo movimento é seu.
— Lois?
— Não saberia aconselhá-la, sinto muito. Estou casada com o mesmo homem há vinte
e seis anos e perdi a noção de como se conduz um flerte.
— Concordo com sua filha — uma voz tímida disse do outro lado do balcão. — Deve
telefonar para o rapaz.
Era uma freguesa, a Sra. Wilson. Meg não sabia se era bom ouvir o conselho da senhora
de idade que comprava romances duas vezes por mês. A Sra. Wilson tinha um coração
mole e, portanto, tendia a ver mais no gesto de Steve do que ele realmente quisera
expressar.
— Viu? — Lindsey falou, excitada. — E sua vez de jogar. Steve fez o primeiro movimento
e aguarda o seu.
— Eu...
Meg já não sabia o que pensar.
— Já faz três dias — a filha a lembrou com voz musical. — Ele já teve tempo para
processar os acontecimentos, assim como você.
— Telefone — Lois a aconselhou por fim. — Apenas para agradecer as lindas flores.
— É o mínimo que terá de fazer.
— Está bem — Meg concordou, relutante.
As flores eram adoráveis e agradecer-lhe seria a atitude mais apropriada.
— Vou lhe dar o telefone da loja dele — Lindsey ofereceu-se, colocando a lista telefônica
sobre o balcão.
A garota achou o número com mais rapidez do que um computador faria, tal o receio de
que a mãe desistisse.
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CAPITULO III
— Está dizendo que nada sabe a respeito das flores? — Meg indagou, sentindo-se à
beira de um abismo.
Steve percebeu que agira sem muito tato ao lhe contar a novidade, mas sentia-se quase
tão chocado quanto ela.
— Isso mesmo.
— Se você não as mandou, então quem o fez?
Ele não precisava ser um detetive renomado para ter alguns palpites.
— Tenho um pressentimento — disse com sarcasmo. Passou os dedos pelos cabelos e
então olhou de relance para o relógio de parede. — Poderia encontrar-se comigo?
— Por quê?
A falta de entusiasmo o ofendeu. Irritou. Durante três dias nada mais fizera a não ser
pensar nessa mulher. Nancy estava certa, havia gostado muito de conhecer Meg
Remington.
Era um tanto excêntrica, mas isso não importava. Ao repassar mentalmente as horas
que passaram juntos, flagrou-se encantado com sua feminilidade, inteligência e
cordialidade.
Mais de uma vez desejou que tivessem encarado a situação de maneira mais
descontraída, e enxergado alguma possibilidade de futuro no encontro, podia-se dizer,
armado pelo destino. Sob essa ótica, nada teria sido mais natural do que continuar a ver-
se, para checar se haviam ou não sido feitos um para o outro.
Mas aparentemente Meg não nutria tais arrependimentos e ficou aliviada em se ver livre
dele.
— Por que gostaria que nos encontrássemos? — repetiu ela mais baixo, quase num
sussurro.
— Precisamos conversar.
— Onde?
— O que acha de um drinque? Conseguiria deixar a loja em uma hora?
Ela hesitou.
— Vou tentar.
Steve mencionou um bar bastante informal e marcaram o encontro para as cinco e meia.
O ânimo dele se elevou consideravelmente ante a certeza de voltar a vê-la. Devia estar
sorrindo porque seu assistente, Gary Wilcox, o fitou com estranheza.
— Não sabia que tinha uma nova amiga — ouviu-o dizer após desligar o telefone. —
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Quando pensara nela, durante os últimos três dias, não foram seus atributos físicos que
lhe vieram à lembrança. Recordara-se da conversa animada.
Naquela noite, em determinado momento, ela ficara tão envolvida que se inclinara para
a frente. Mas, ao dar-se conta de quanto o vasto decote revelava, baixara o olhar,
envergonhada.
Steve gostava do jeito como os olhos de Meg brilhavam quando falava da livraria e da
filha.
— Sua irmã... a moça que escreveu as cartas é a mesma que enviou as flores? — Meg
perguntou, interrompendo-lhe as divagações.
— Sim. Minha hóspede.
Ela enfiou a mão dentro da bolsa e pegou o pequeno cartão. Steve fez um gesto para o
garçom, pedindo para que trouxesse mais uma cerveja.
— Eu não deveria... Se minha filha perceber que bebi, saberá que não estive jogando
tênis.
— Mas, de acordo com o que acabou de me contar, ela já descobriu.
— E verdade.
Steve abriu o envelope que Meg lhe entregara.
— Foi Nancy mesmo. Eu jamais escreveria algo tão desprovido de charme. — O garçom
trouxe mais uma caneca de cerveja. — Gostaria de mais amendoins?
— Sim, por favor. — E então, em voz mais baixa, acrescentou: — Este tipo de situação
me deixa faminta. Minha filha entrou em contato com você?
— Não sei. Como poderia saber?
— Não entendi.
— Se Lindsey escreveu, quem está com a carta é Nancy. Meg olhou para os céus. Como
mesmo se metera nessa
trapalhada?
— Tem razão. Quem sabe o que essas meninas podem fazer com nossas vidas...
— Precisamos tomar a dianteira ou estaremos perdidos.
— Concordo plenamente.
Meg tomou um gole de cerveja e recolocou a caneca sobre a mesa.
— Eu não devia estar bebendo com o estômago vazio. O álcool irá direto para minha
cabeça.
— Os sanduíches daqui são deliciosos.
— Amendoins bastam, obrigada. — Só então deu-se conta de estar segurando o prato
de petisco. Imediatamente o depôs no centro da mesa. — Desculpe.
— Não há de quê. — Observou-a fazer uma careta e olhar para baixo. — Há algo errado
com seu pé?
— Os sapatos que usei para trabalhar estavam apertados.
— Pronto — disse ele, pegando-lhe as pernas e as ajeitando no colo.
— O que está fazendo?
— Vou massageá-los.
— Faria isso?
— Sim. — Steve odiava vê-la sentindo dor. — Além do mais, precisamos discutir como
lidar com os fatos. Tenho o pressentimento de que devemos estar calmos e atentos, para
vencer as espertinhas.
— Está certo mais uma vez.
Meg fechou os olhos e relaxou ao senti-lo tirar seus sapatos e cuidar de seus pés
doloridos.
— Sente-se melhor? — Steve perguntou após alguns momentos. Ela assentiu e
permaneceu com os olhos cerrados.
— Acho que você devia parar — murmurou, sem a menor convicção.
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— Jura?
— Pode acreditar. Mas confie em mim, não é nada do que está pensando.
Meg chegou à casa uma hora mais tarde. Lindsey aguardava ansiosamente a visita de
Steve. Limpara tudo, fizera cookies e usava sua melhor calça jeans. Um vestido já seria um
exagero.
— Olá, querida.
— Mamãe! — Lindsey falou, olhando para o relógio. — Faz idéia de que horas são?
— Sim.
— Não acha que devia tomar um banho e trocar de roupa? Steve estará aqui em uma
hora e meia!
— Sei disso.
Supunha que a filha esperasse maior entusiasmo de sua parte. Não ia fingir interesse
apenas para agradá-la. A visita fora sugestão de Steve e ela aceitara, mas, francamente,
não se sentia à vontade com essa situação.
— Seria bom você usar aquele vestido de verão que compramos no ano passado. E
sandálias brancas. Gostaria que tivesse um pequeno chapéu combinando. Ficaria lindo.
— Teremos de nos contentar com o sombrero que vovô comprou no México — provocou
ela.
— Mamãe! — Lindsey gritou, chocada. — Ficaria ridículo. Não tem nada a ver com o
vestido.
Meg suspirou dramaticamente, para causar efeito.
— Não sei como consegui me vestir todos esses anos sem você. Achou que a filha fosse
rir. Enganou-se.
— Pode ser exatamente esta a explicação de ainda estar solteira. Já pensou nisso? —
A criança não media palavras para defender o próprio orgulho. — Você é maravilhosa,
mamãe — redimiu-se Lindsey —, mas prometa-me que nunca mais comprará roupas sem
minha ajuda.
Inútil fazer juras que não seriam cumpridas. Meg apressou-se em subir a escada e se
meter sob a ducha forte e refrescante. A água, em temperatura perfeita, renovou-lhe o bom
humor. Mal podia esperar para ver a expressão de Lindsey ao ver Steve.
Com uma toalha ao redor do corpo, foi para o quarto e avaliou as roupas arrumadas
meticulosamente no armário. O vestido de verão era mesmo o mais adequado. Meg jurou
que sua escolha não se devia à quase imposição da filha, mas à sua mais genuína opinião.
Lindsey a aguardava na sala de estar. As flores enviadas por Steve, ou melhor, por
Nancy, estavam em um vaso de prata, polido à exaustão pela garota, e enfeitavam a mesa
de café. A última vez em que Meg o usara fora quando da visita do pastor Delany, logo
após a morte de seu pai.
Quando a campainha soou, Lindsey olhou para a mãe e sorriu.
— Estamos prontas — disse a adolescente, fazendo um sinal afirmativo.
Meg se julgava preparada para recebê-lo, mas ficou de queixo caído ao abrir a porta.
— Steve? — sussurrou ao homem vestido com jaqueta de couro preta e calça jeans. A
camisa estava aberta até metade do peito e revelava alguns pêlos próximos ao pescoço.
Uma grossa e imensa corrente dourada completava a figura esquisita. — Steve, é você?
Ele lhe deu uma piscadela.
— Esperava outra pessoa?
— Nããão! — assegurou-lhe rapidamente.
— Então convide-me a entrar — sugeriu ele, maroto, e fechou-lhe a boca ainda aberta.
Parou um passo adiante. — Você deve ser Lindsey. Sou Steve.
— Você é Steve? — a garota balbuciou, incrédula, imediatamente fitando a mãe.
— Lindsey, este é Steve Conlan — Meg esclareceu e postou-se ao lado do homem que
a filha escolhera para padrasto.
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— Não se sinta mal. Sua mamãe pagou o jantar. Basta olhar para ela e amá-la.
Steve fez uma pausa para contemplar o objeto de seus elogios, mordendo os lábios na
clara indicação de ser essa a única forma de furtar-se a beijá-la longa e intensamente.
— Steve... — Meg o repreendeu, faceira.
— Eu sei, eu sei — disse ele. — De acordo com o conselho do oficial de polícia que me
vigia, não devo apressar os acontecimentos. Peço desculpas. Vejo seus lindos olhos e não
consigo me conter.
— Sim, bem...
— Esqueceu-se de me dizer quanto sua filha é bonita.
— Lindsey é meu grande orgulho — Meg elogiou, sorrindo.
— Tenho diversos amigos que adorariam conhecê-la. Piscou para a menina, como se a
única coisa que ela tivesse de fazer fosse autorizá-lo a arranjar tudo para um excelente
encontro.
— De jeito nenhum — Meg anunciou categoricamente, esquecendo-se por instantes de
que se tratava de uma encenação. — Não quero que apresente minha filha aos seus
amigos.
As sobrancelhas de Steve se levantaram, em sinal de espanto, e ele ergueu as mãos,
como se diante de alguma coisa sagrada.
— Desculpe-me, não quis ofendê-la. Se não quer que Lindsey namore um de meus
companheiros de cela, então tudo bem. Isso nunca vai acontecer.
— Ótimo.
Meg tinha de dar a mão à palmatória. Steve era um ator e tanto. Ela mesma quase
acreditava nessa história doida inventada para enganar sua filha.
— Tenho de confessar que, ao ver Margaret naquele vestido preto, meu coração se
acelerou. Estava diante da mulher mais linda que já vi desde que fui solto.
— Solto?
— Da cadeia — explicou-lhe, o olhar imediatamente voltado para o rosto de sua amada.
Como parecia sincero!
— Sim, bem... — Meg falou, levantando-se, mas, uma vez em pé, esqueceu-se do que
ia fazer.
— Suspeito que queira dar uma volta em minha motocicleta, conforme prometi — Steve
acrescentou, tomando o final do café.
— Mamãe vai andar de motocicleta com você? — Lindsey inquiriu, arfante.
— Vou trocar de roupa, querido — declarou Meg, para escapar da sala e deixá-los a sós.
— Não há necessidade. Poderá sentar-se de lado no banco, como aquelas senhoritas
daqueles filmes antigos. Terá de se segurar com força, benzinho, porque vamos correr um
bocado.
— Sim. — Ou a sala ficava cada vez mais quente ou Meg estava passando mal. — Acho
que prefiro vestir jeans. Não vou me demorar.
— Se prefere assim... — Steve aquiesceu e limpou a boca com as costas da mão. —
Só não me deixe esperando muito, está bem?
— Prometo que não.
Meg apressou-se em direção à escada, ansiosa por respirar em paz. Mas Steve a
alcançou, pôs as mãos em seus ombros e a puxou para si. O beijo ardente a tomou de
surpresa.
Tudo era apenas uma farsa, mas isso não impediu seu tolo coração de se animar.
Abraçou a cintura máscula e ele forçou-a a abrir mais a boca. Meg temeu que o evidente
desejo fosse apenas reflexo do seu. Quando finalmente se separaram, ambos estavam sem
fôlego, fitando-se em muda interrogação.
— Eu... voltarei logo — Meg conseguiu balbuciar, e fugiu para o andar superior como se
um bandido terrível a estivesse ameaçando.
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CAPÍTULO IV
Assim que Meg encontrou-se a sós com Steve, passou a lhe esmurrar o braço. Esforço
inútil, logo percebeu. Seu punho mal se fazia sentir na musculatura rija. Por fim, já com a
mão dolorida, cruzou os braços sobre os seios, pronta para voltar ao ataque ao mero sinal
de perigo.
— Por que a surra?
— Você exagerou — acusou-o, sem entender direito o próprio acesso de ira.
— Tinha de convencer sua filha de que não servia para padrasto, não é?
Meg passou a massagear a mão dolorida.
— Sim, mas foi muito além do planejado. Toda aquela baboseira sobre eu ser linda e o
deixar embasbacado... Convenhamos, você beirou as raias do ridículo! — criticou-o
enquanto caminhavam até o local onde estava estacionada a motocicleta Harley-Davidson.
— Pois acho que fiz um trabalho memorável — defendeu-se ele, um sorriso sensual
pairando nos lábios perfeitos.
— Isso já é outro assunto. E aquele beijo, foi mesmo necessário?
— Essencial, eu diria. Lindsey precisava me ver em ação.
— Você amedrontou minha filha.
Os olhos de Steve lançaram chamas, mas depois se suavizaram.
— Você gostou do beijo. E agora não sabe o que fazer.
— Não seja ridículo. Quase me matou de falta de ar. Foi... horrível.
— Não, não foi. — O expressão do rosto moreno era de clara descrença, e o tom grave
do riso, pura instigação. — Talvez eu deva lhe provar quanto está errada.
— Vamos passar por cima disso — ela falou, categórica — e ir direto ao que importa.
Você vai me levar para passear por uma hora e me deixar em casa. Certo? A propósito,
onde conseguiu a motocicleta?
— É minha.
— Sua?
Ele era exatamente a espécie de homem que deixaria sua mãe alarmada. E lá estava
Meg, flertando com o perigo. Afastou-se ante o movimento de aproximação de Steve.
— Pouco conhece sobre homens, não é?
— Fui casada por aproximadamente seis anos — informou-lhe. Estavam a pouca
distância um do outro, perto demais para ela sentir-se senhora de si. Procurou concentrar-
se em manter a espinha ereta e o olhar impassível. Se a motocicleta pertencia a Steve, era
razoável concluir que a jaqueta de couro também. O personagem que ele assumira diante
de Lindsey, a de um criminoso, poderia não estar longe da realidade.
— Desde então não esteve com um homem, não é? O rosto de Meg tingiu-se de púrpura.
— Eu me recuso a responder questões de natureza pessoal — golpeou, a voz ríspida.
— Não esteve — declarou ele, confiante. — Olhe para mim.
— Não. Vamos dar o bendito passeio de moto.
— Olhe para mim — insistiu.
Ela tentou resistir, mas o calor e o hipnotismo das palavras ã venceram.
— Sim? — murmurou, o coração batendo alto. Mãos imensas e másculas tomaram seu
rosto.
— Admita — sussurrou ele. — Sei que gostou do beijo. Diga isso.
Como era difícil resistir ao esplendor dos belos olhos castanhos!
— Como um homem pode dar tanta importância a um mero beijo?
Steve franziu a testa. Ela sentiu-se mais vulnerável ainda, perdida e ansiosa por
recuperar o autocontrole.
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— Para seu registro, ambos quisemos estar próximos, trocando um forte abraço e um
beijo intenso. Não há como negar os sinais enviados por nossos corpos.
— Está louco.
Ela baixou o olhar, mas logo percebeu ser esse gesto um erro tático. Antes que pudesse
reagir, lábios resolutos tomaram os seus para um longo beijo.
Meg queria protestar. Se lutasse, desse-lhe alguns murros, talvez fosse libertada.
Gostaria de pensar que sim, mas não tinha certeza. Sua única objeção, entretanto, foi um
leve gemido, mais indicado para encorajá-lo do que para afastá-lo.
Sem convite ou cerimônia, Steve voltou a beijá-la com intensidade, provocando-a,
seduzindo-a a ponto de fazer ruir todas as defesas que Meg a tanto custo procurava manter.
Foi então que, subitamente, passou a ser de extrema importância estarem tão perto um
do outro. Meg não soube exatamente como aconteceu, mas em segundos encontrou-se
sentada no banco de couro da motocicleta, com braços poderosos a prendê-la pela cintura.
Em seguida, as mãos de Steve acariciaram as curvas de seus quadris e a puxaram com
precisão.
Ela não precisou de outros incentivos para se aconchegar aos contornos masculinos que
a tentavam. Era bom sentir a musculatura firme das pernas e das costas de Steve.
Meg, lá no fundo de sua mente, sabia ser prudente afastar-se. Abriu os olhos com
determinação e fez força para se soltar. Steve resistiu a princípio,- mas em seguida relaxou
e permitiu que se separassem.
— Nossa! — exclamou, alterado.
Ela cuidava para voltar a respirar decentemente. Sentia-se como se tivesse ganhado o
primeiro beijo de sua vida. Parecia que nunca fora abraçada, quanto mais casada. Era como
se nunca houvesse partilhado de sua intimidade com um homem.
Piscou repetidas vezes, Steve deu-lhe as costas, como se não soubesse o que dizer.
Passava a mão pelos cabelos, revelando o nervosismo que o dominava, as emoções
perturbadoras que lhe roubavam o controle,
— Suponho que tenha feito isso para me ver admitir que apreciei seu contato — ela
murmurou, condescendente.
Não gostava de lidar com esses sentimentos. Era fácil justificar sua reação física. Era
uma mulher normal e ele, um homem atraente. Não havia, entretanto, um argumento plau-
sível para o abalo em seu equilíbrio emocional.
— Não tem de admitir nada — foi a resposta seca. Steve ligou o motor.
— Pare!
— O que há de errado agora?
— Nada. Apenas vá devagar, está bem?
— Não estou exatamente com um humor plácido.
— Foi o que pensei.
Meg ignorava o rumo que tomariam. Deu uma olhadela ao redor, imaginando quantos
vizinhos teriam presenciado o beijo cinematográfico seguido de um passeio de motocicleta.
Vendo sob essa ótica, a situação era bem engraçada.
— Segure firme — ouviu-o gritar.
Ante o aviso, enlaçou a cintura firme da maneira mais impessoal possível. Pelo menos
até a primeira curva. Daquele momento em diante, mandou a cautela às favas e tratou de
se proteger, atando-se ferreamente ao corpo de Steve.
Sentiu-se imensamente grata ao perceber que não iriam muito longe. Pararam a cerca
de um quilômetro de sua casa. O motor foi desligado, mas ambos permaneceram parados.
— Você está bem? — Steve perguntou após um momento.
— Ótima. Foi... divertido.
Meg surpreendeu-se com sua crescente habilidade em ser convincente em suas
mentiras. Suas emoções estavam à flor da pele e isso nada tinha a ver com o passeio de
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Bateu e aguardou, impaciente, durante alguns minutos. Uma mulher com as saias mais
curtas que já viu o atendeu, os cabelos armados formando um capacete.
— Vim falar com Meg Remington.
Meg fez tanta arruaça para que viesse ter com ela às escondidas e mandava outra
pessoa atender à porta? Mas que ousadia!
— Steve — sussurrou ela. — Sou eu.
— Mas... o que diabos faz metida nessas roupas? — Afastou-se e a observou mais
atentamente. — Vamos nos encontrar com minha irmã, e não ir a uma festa à fantasia.
— Posso tomá-lo como referência. Chegou aqui pronto para ver um anjo em forma de
mulher. O que esperava que eu fizesse?
Steve passou a mão pelo rosto. Já não sabia de mais nada. Só queria acabar para
sempre com essa situação constrangedora.
— Está bem. Vamos sair daqui.
— Espere só um momento. Preciso trocar de sapatos.
Voltou usando um modelo vermelho com saltos finos e imensos. Steve não acreditava
que alguém conseguisse andar suspensa em palitos, mas ficou calado.
Conduziu-a até o carro e abriu a porta. Percebeu um suspiro de alívio quando ela se
acomodou no assento.
— Não saberia o que fazer se você viesse de motocicleta. Encabulada, Meg tratou de
esticar a exígua saia.
— Normalmente saio de carro. Apenas lembre-se — acrescentou ele — Nancy é alguns
anos mais velha do que Lindsey. Não será tão facilmente enganada.
— Tomarei cuidado para não cometer excessos, como certa pessoa que conheço...
O trajeto levou uma eternidade e a culpa não foi do trânsito. De fato, quando Steve olhou
para o relógio, surpreendeu-se com a rapidez com que chegaram. O que fez o percurso se
tornar tão problemático foram as pernas de Meg. Ela as cruzara, expondo muito da pele
sedosa e firme.
Ele nunca se considerou um maníaco por essa parte da anatomia feminina. Admirava as
mulheres em seu todo, a umas mais que a outras. Era, entretanto, uma tortura estar lado a
lado com Meg no confinamento de um carro e manter o olhar distante das monumentais...
pernas. Droga, a mulher era sensacional.
Nancy estava aguardando no alpendre quando estacionaram defronte à casa.
— É aqui que mora sua irmã?
— Aqui é minha casa.
— Sua casa? É muito bonita.
— Obrigado. — Ele desligou o motor. — Nancy estuda na Universidade de Washington
durante nove meses por ano. Nossos pais moram em Montana há bastante tempo.
— Sei, sei. Nancy mora com você?
— Não exatamente, mas achou trabalho por aqui durante o verão e permiti que ficasse
comigo por uns meses — ele explicou, e saiu do automóvel. — Um erro que não pretendo
repetir.
Sem desprender os olhos na irmã, curioso por ver sua reação, e ajudou Meg a sair do
carro. A expressão da garota pouco revelava, mas ele a conhecia bem demais para saber
quanto estava perplexa com a aparência de sua acompanhante.
— Você deve ser Nancy — disse Meg com voz lenta e rouca.
— E você deve ser Meg — respondeu a jovem, descendo os degraus para cumprimentá-
la. — Estava louca para conhecê-la.
— Espero não a desapontar.
As últimas palavras foram dramatizadas, para indicar quanto ficaria arrasada se a
decepcionasse. Pôs dengosamente a mão no braço de Steve e se equilibrou melhor sobre
os sapatos. Só então ele notou as imensas unhas postiças vermelhas a cintilar nos dedos
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de Meg.
Aparentando tranqüilidade, Nancy abriu a porta e sorriu.
— Por favor, entre.
Os saltos dos sapatos de Meg se enrascaram no calçamento, mas logo se soltaram.
Subiram os degraus e entraram na sala. Steve olhou ao redor e ficou satisfeito em descobrir
que a irmã limpara a casa toda. Um verdadeiro milagre.
— Oh, benzinho —Meg falou, manhosa. — Nunca me contou como seu lar é lindo. —
Passou a mão com unhas enormes pelo rosto dele. — Na verdade, querido, ainda não
tivemos tempo de conversar sobre uma série de assuntos, não é?
— Sente-se.
Ela obedeceu e cruzou as pernas com pompa e cerimônia. Deu uma batidinha no
assento ao lado, sinalizando para que Steve se acomodasse ali. Após uma olhadela para
sua poltrona favorita, ele obedeceu.
Assim que o viu acomodado, Meg colocou uma das mãos sobre um joelho dele e passou
a brincar com as unhas na coxa. Para cima e para baixo. Suando frio pelo gesto provocativo,
o dono da casa agarrou a mão insinuante.
Meg fitou-o com ar inocente, mas Steve a conhecia bem o bastante para saber que a
atitude fora deliberada.
— Acho que deve estar com fome. Sei que meu irmão a levará para jantar. Por isso,
preparei apenas alguns aperitivos — Nancy disse, e se retirou.
— O que diabos estava fazendo? — Steve sussurrou assim que a garota deixou a sala.
— Fazendo? Como assim?
— Deixe para lá — murmurou ele entre os dentes, ao ver que Nancy retornava.
— Parecem deliciosos — Meg elogiou quando a bandeja de prata foi colocada na mesa
de centro. — Mas não posso comer nada.
Era a primeira vez que a menina cozinhava desde que se mudara para lá, e Steve não
queria desperdiçar a ocasião. Escolheu um pequeno enrolado de queijo.
— Não devia ter tido tanto trabalho — Meg disse a Nancy. A garota, sentada no sofá em
frente a eles, parecia não encontrar nada para falar. — Suspeito que esteja pensando em
todas as cartas que lhe escrevi — Meg tomou a dianteira da conversa. — Espero que tenha
gostado de mim pessoalmente.
— Oh, é claro.
— As pessoas comentam coisas a meu respeito, mas desde já eu lhe peço para não lhes
dar ouvidos.
Meg estendeu mão, limpou um canto da boca de Steve e lambeu o dedo. Droga! Apesar
do susto, o gesto lhe pareceu mais sensual que nunca. Estava com vontade de beijá-la.
— Há muito tempo aprendi o que os homens querem de uma mulher — Meg prosseguiu.
— Isso me ajudou muito quando trabalhava como atendente de uma linha de sexo por
telefone. A maioria dos rapazes era muito amável. Só procuravam por uma mulher que lhes
falasse algumas palavras mais picantes.
— Sei.
Nancy massacrava as próprias mãos, em um gesto nítido de embaraço e tensão.
— Uma vez, um rapaz desejou assustar uma garota. Tive um trabalhão para me mostrar
apavorada. Foi divertido.
Riu escandalosamente.
— Por que... por que alguém como você colocou um anúncio no correio amoroso do
jornal? — Nancy perguntou, e, nervosa, afastou uma mecha de cabelos.
— Bem... acho que é o único jeito de uma pessoa como eu encontrar alguém decente.
Mas não foi seu irmão quem respondeu ao anúncio, foi?
— Não, mas...
— Não que isso importe — Meg a interrompeu. — Estava cansada de meu trabalho e de
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todos aqueles homens a me falar toda sorte de obscenidades. Sabe, docinho, tive um pas-
sado, digamos, incomum, mas isso não quer dizer que eu seja uma má pessoa. Tenho um
coração transbordante de amor. Tudo de que necessito é do homem certo.
— Entendo.
Um olhar longa e meloso pousou em Steve.
— Muitos pensam que mulheres como eu não têm sentimentos, mas estão errados.
— Tenho certeza de que estão — Nancy balbuciou.
— Concluí ter feito uma escolha acertada ao saber que seu irmão tem seu próprio
negócio.
— Ele luta há anos para uma estabilização financeira — a menina apressou-se em
esclarecer. — Ainda está instável. Não é, Steve?
— Não mais. Já estou em uma situação bastante confortável — ele respondeu
calmamente, esforçando-se para conter o riso.
Ficou abismado em perceber como estava gostando desse jogo.
— Posso ver com meus próprios olhos como meu querido está se saindo bem. Basta
ver como me trata. Como você é maravilhoso, benzinho! — 0 olhar de adoração o deixou
embaraçado. — Precisa ganhar bastante dinheiro para manter o padrão de vida a que estou
habituada, não é, amorzão?
— Oh! — A pobre Nancy estava à beira de uma síncope.
— E claro que eu não seria capaz de tirar algo dele sem dar um retorno. E será bem
justo, pode acreditar. — Fez um carinho na perna de Steve e passou os olhos sensualmente
por todo o corpo masculino. — Há certas coisas que desejo ensinar a seu irmão, sabe? —
Meg falou com voz rouca ao passar a língua pelos lábios.
Parecia pronta para iniciar as aulas imediatamente. Para intensificar o desconforto
reinante, Steve não tirava os olhos dos seios fartos dela. Assumiu, pesaroso, nunca ter
prestado a merecida atenção a essa parte da anatomia de sua acompanhante. Como pôde
ignorar as formas voluptuosas que ameaçavam pular para fora da blusa?
Passou a respirar com dificuldade.
— Steve? — Nancy falou com rispidez.
Após alguns segundos, ele fitou a irmã, que já estava com as mãos na cintura.
— Sim?
— Não escutou o que Meg disse?
— Não.
Ele deu de ombros. Sabia que as duas haviam estado conversando, mas o tema lhe
escapara.
— Meg está falando sobre morar aqui com você.
— Não quero que se sinta pressionado, querido — ela comentou e inclinou-se para a
frente, tocando-lhe a orelha com a língua. Um fogo percorreu toda a espinha de Steve. Ela
gargalhou e disse a Nancy: — Tenho um talento todo especial com a língua.
A garota fechou os olhos, como se não pudesse suportar mais uma palavra. Steve
duvidava de quanto tempo mais poderia resistir e sugeriu:
— Já está na hora de ir para o restaurante.
Caso contrário, passaria a acreditar nas promessas que Meg fazia sem parar. Na
verdade, queria pôr fé em cada gesto. A dona de livraria era absolutamente diferente do
que pensara. Todos os traços de inocência haviam dado lugar a uma mulher felina, sensual
e capaz de fazer seu sangue ferver.
— Já quer ir embora? — Meg perguntou em voz chorosa.
— Talvez seja melhor — Nancy opinou. — Quero dizer, vocês dois não vão querer
desperdiçar a noite comigo, vão?
A última sentença foi pronunciada com vagar e dirigida ao irmão.
— Não.
Projeto Revisoras 33
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
— Infelizmente continuo trabalhando para a empresa de sexo por telefone. Então não o
reterei por muito tempo. Mas posso lhe garantir que ele estará exausto quando voltar para
casa.
Como se tivesse julgado as próprias palavras um primor de espirituosidade, Meg voltou
a gargalhar.
Somente quando estavam no carro Steve deu-se conta do quanto se sentia aborrecido.
Não fazia o menor sentido, mas era assim que se sentia.
— Por que está tão bravo? — Meg inquiriu no caminho para a livraria.
— E você que falava sobre excessos...
— Achei que tivesse feito um bom trabalho.
— Você se portou como uma...
— Eu sei. Era exatamente o que queria. Acredita que sua irmã vá incentivar nosso
relacionamento depois dessa encenação?
— Não.
— Posso lhe garantir que Lindsey não me quer mais a seu lado. Pensei ser este nosso
plano.
— Parecia uma boa idéia quando o elaboramos. O melhor modo de convencer sua filha
de que eu não era o homem certo para você.
— E à sua irmã de que eu não servia para estar a seu lado.
Um silêncio sepulcral reinou absoluto durante vários segundos. Nenhum dos dois
demonstrava disposição para conversar. Steve estacionou atrás do carro de Meg.
— Já não tenho mais certeza — ele murmurou cabisbaixo.
— A respeito de quê?
— Nós. Em algum momento desta confusão, passei a gostar de você. — Era difícil
admitir, mas fundamental para sua paz de espírito. Esperava que seu empenho em
suplantar o orgulho tivesse algum reconhecimento por parte de Meg. Respirou fundo e
preparou-se para continuar a falar. — Provavelmente eu nem teria percebido, não fosse a
farsa de hoje.
Gostaria que ela dissesse alguma coisa. Quando finalmente se manifestou, foi com um
tímido fio de voz:
— E então houve o beijo.
— Beijos — corrigiu-a. — Foram maravilhosos e ambos sabemos disso.
— Tem razão.
— Especialmente o da motocicleta — Steve comentou, para incentivá-la a falar.
— Especialmente aquele da motocicleta — repetiu ela. — Francamente, você já sabia
disso.
— Sim.
— Sou... péssima em disfarçar sentimentos. Não, mas era melhor aquiescer.
— Que tal jantarmos juntos? — sugeriu Steve.
Estava ansioso por ter a verdadeira Meg Remington de volta. Queria sentir o sabor da
boca macia, checar se os beijos faziam jus à lembrança que povoava seus pensamentos
incessantemente.
Para sua agonia, ela hesitou. Droga, seria mais um artifício para alimentar a renomada
vaidade feminina?
— Eu gostaria, mas não posso.
— Por quê?
— Prometi a Lindsey que estaria em casa por volta das sete horas e só faltam cinco
minutos.
— Ligue para sua filha e diga que vai jantar comigo. Meg respirou profundamente e
pareceu envergonhada.
— Também não posso fazer isso.
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O Casal Perfeito – Debbie Macomber
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CAPITULO V
Lindsey aguardava por Meg na sala de estar. Ouviu o carro estacionar e minutos depois
abriu a porta.
— Olá, querida — a mãe a cumprimentou.
— Já passa das sete horas! — a garota acusou, aproximando-se. — Esteve com Steve,
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não foi?
— Ah...
Não queria mentir. Meias verdades e insinuações só piorariam a situação. Lindsey
fechou os olhos e gesticulou, como se a ausência da resposta já tivesse explicado tudo.
— Deixe para lá. Não precisa falar nada.
— Querida, qual o problema? — Meg indagou do jeito mais calmo que pôde.
Infelizmente, as palavras não soaram tranqüilas. Despedira-se de Steve há poucos
instantes e estava com peso na consciência. Após inventar e encenar a farsa ridícula, ele
viera com aquela história de ter mudado de idéia, de desejar continuar a vê-la. Só podia
estar nervosa!
Ainda bem que dera um basta àquilo tudo. Só que, nesse momento, já não sabia se
havia tomado a decisão mais acertada.
— Mamãe — Lindsey falou, os imensos olhos a brilhar —, precisamos conversar.
— É claro — aquiesceu ela, caminhando para a cozinha e pegando um pacote de chá
no armário. — Mamãe sempre fazia um chá bem gostoso quando tínhamos de falar sobre
algo importante.
Por algum motivo misterioso, parecia que a bebida ajudaria a colocar os fatos em
perspectiva. Meg sentia falta desses momentos partilhados com a mãe.
Lindsey a ajudou a pegar as xícaras e a levar tudo para a sala. Serviram-se, as duas
separadas pela mesinha de centro. Meg esperou um pouco e, ao deduzir que a filha não
sabia por onde começar, resolveu ajudá-la.
— Quer falar a respeito de Steve, certo?
As mãos da menina apertaram a fina porcelana da xícara e ela baixou o olhar.
— Você gosta dele de verdade?
Como a pobrezinha parecia preocupada e insegura!
— Sim.
— Mas por quê? Quero dizer, ele não é nada daquilo que pensei. Acho que foi o castigo
que eu e Brenda merecemos por ter escrito todas aquelas cartas em seu nome. Se você
tivesse lido as correspondências, teria percebido o tipo de pessoa que Steve é, mas nós
nada notamos. Pelo menos foi o que Brenda disse.
— Na verdade, ele é uma pessoa de classe. Lindsey arriscou olhar de soslaio para a
mãe.
— Você me disse centena de vezes que não queria que eu julgasse os outros com
preconceito, mas às vezes é impossível.
— Está preocupada com meu namoro, não está?
Meg sentia-se angustiada. Não queria dar continuidade à armação, mas como sair dessa
rede tão complicada?
— Agora sei quanto eu e Brenda fomos idiotas. Acabamos por ligá-la a um sujeito que
teve passagem pela prisão. Foi fácil, para ele, enganar a nós duas. Temos apenas quinze
anos de idade!
— Mas saiba que gosto de Steve.
Precisava ser sincera. Lindsey parecia não ter contado com a possibilidade dessa
declaração.
— Temo que ele a machuque.
— Ele jamais faria isso, mas entendo sua preocupação. E prometo tomar bastante
cuidado.
Lindsey aprumou-se e falou, como se não mais pudesse conter as palavras engasgadas
em sua garganta:
— Não quero que o veja nunca mais.
— Mas...
— Falo sério, mamãe. Esse cara é encrencado. Quero que me prometa que não se
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— Já pensou?
Apoiando os cotovelos sobre a mesa, ela bebericou o café e evitou os olhos
perscrutadores a encará-la.
— Tomei a iniciativa de telefonar para você, não foi?
— Ainda não descobri o motivo. Esse era o problema. Nem ela.
— Se já o conheço o bastante, o próximo passo será me perguntar se gostei dos beijos.
Steve sorriu pela primeira vez.
— Não machucaria falar, não é?
— Está bem. Se significa tanto para você, eu admito. Nunca fui beijada daquela maneira.
Não sei o que pensar. Queria que parasse, porque meu corpo estava envolto em chamas,
mas também desejava que prosseguisse mais e mais.
— E...?
— Meu casamento foi tão insosso que passei a duvidar de que pudesse... experimentar
essa espécie de sensação. Temia... ser frígida. — O constrangimento a fez olhar para o
café e bebê-lo de um só gole.
Steve deu uma sonora gargalhada.
— Está brincando?
Meg levantou a cabeça com esforço.
— Por favor, não ria. Ele tomou-lhe as mãos.
— Estou diante de uma das mulheres mais sensuais que conheci. Acredite, querida.
— É mesmo?
Meg lhe ofereceu um frágil sorriso.
— Não acho uma boa idéia a senhorita me olhar dessa maneira.
— Como?
— Como se desejasse que eu a beijasse. Ela baixou as pálpebras.
— Talvez seu palpite esteja correto. E exatamente isso que torna tudo tão complicado.
Sinto-me extremamente atraída por você. Não foi assim com meu ex-marido e,
francamente, a ausência de desejo me assustava.
— Assustava?
Steve levantou-se e a puxou de leve, para que fizesse o mesmo.
— Aonde vamos?
— Para algum lugar onde possamos ter um pouco de privacidade.
Conduziu-a pela seção de comida congelada, passaram pela padaria e entraram no setor
de vinhos. Meg se apoiou no estoque de champanhe francês ao ser abraçada e beijada
com muita paixão.
A urgência tornou o abraço quase doloroso, mas ainda assim ela voltou ao mundo
encantado que a envolvia sempre que se encontrava com Steve.
Steve bocejou. Estava exausto. E por um bom motivo. Deitara-se por volta das três da
manhã e somente adormecera lá pelas quatro. O despertador o acordara às seis.
Chegou à loja e foi buscar uma enorme xícara de café. Apenas murmurou um
cumprimento a Gary.
— Espero que esteja com um humor melhor do que o de ontem — o assistente lhe falou.
Steve passeou os olhos sobre os pedidos.
— Problemas com uma mulher —justificou-se, como se isso explicasse tudo e
dispensasse um pedido de desculpas.
— Eu devia ter adivinhado. O que está acontecendo?
— Nem queira saber — ele murmurou, e dirigiu-se para a garagem.
— E claro que quero! — disse Gary, seguindo-o. — Suponho que tenha algo a ver com
Nancy. Estou certo?
— O que sabe a respeito de minha irmã?
— Pouco. Apenas me lembrei do que me contou sobre o esforço dela em uni-lo a uma
Projeto Revisoras 39
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mulher. Não tenho nada a ver com isso, mas parece que a tal Meg está mexendo com você.
Steve encarou o jovem.
— Como chegou a essa conclusão? Gary riu e cocou o queixo.
— Não o via tão entristecido há anos. Suspeito que esteja apaixonado. Por que não pára
de se torturar? Dê uma basta a essa situação angustiante. Arrisque-se. Tome uma atitude.
Steve grunhiu qualquer coisa e se afastou. O garoto era perspicaz e acabara de lhe dar a
solução ideal.
Steve entrou no escritório somente ao meio-dia. Certificou-se de que ninguém o
observava e foi direto para o telefone. Uma mulher chamada Lois atendeu, na livraria.
— A Sra. Remington, por favor — pediu ele em tom formal.
— Poderia lhe perguntar quem gostaria de falar com ela?
— Steve Conlan.
— Um minuto, por gentileza. Meg demorou a atender.
— Oi, Steve.
Parecia cansada, mas feliz em ouvi-lo. Bom sinal.
— Como vai? — perguntou ele, pondo a mão no fone para bocejar.
— Morta. Não sou tão jovem quanto imaginava.
— Lindsey soube que você escapuliu no meio da noite?
— Não, mas eu devia ter voltado mais cedo.
Steve nem entraria nesse mérito. Tinha algum arrependimento nesse sentido também,
estava cansado demais.
Haviam deixado a loja Albertson quando um repositor entrou na seção de vinhos e os
flagrou, deixando Meg roxa de vergonha. Ele, entretanto, adorou vê-la embaraçada, ficava
ainda mais bonita e desejável.
Sem outra idéia de onde levá-la àquela hora da noite, optara por Alki Point, onde se
sentaram e conversaram. Falaram sobre amenidades e descobriram muito em comum.
Acima de tudo, ele confirmou quanto gostava de Meg.
Voltaram a se beijar. Ambos sabiam que em breve esse carinho levaria a muito, muito
mais. Nem notaram o tempo passar,
— Quando voltarei a vê-la?
— Não sei...
— Prefere que não nos vejamos mais?
— Sabe que não é isso.
— Temos de tomar algumas decisões.
Haviam falado a respeito dos mais variados assuntos sob a luz da lua, mas não tinham
chegado a uma conclusão sobre como conduzir aquele relacionamento.
— Eu sei.
— Que tal hoje à noite? Ela hesitou e Steve cerrou os dentes.
— Está bem. Droga! Por que ficava sempre à mercê dessa mulher? Por que o sim lhe
soava como um bálsamo para o espírito?
— Ótimo. Eu a pegarei em frente à sua casa por volta das onze horas.
— Certo. Agora, preciso voltar ao trabalho.
— Eu também. Steve recolocou o fone no gancho e descobriu Nancy em pé junto à
porta, um olhar de franca desaprovação.
— Era Meg?
— Não é da sua conta — respondeu com rispidez, aborrecido com a petulância da
garota.
— Precisamos conversar a respeito dessa moça.
— Não pretendo discutir sobre Meg Remington.
— Como pode namorar com alguém como... aquela mulher?
— Devo lembrá-la de que foi você quem nos apresentou.
Projeto Revisoras 40
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quase primitivo.
— Meg...
— Eu sei, eu sei...
As mãos gigantescas, por dentro do suéter feminino, procuravam sem muito êxito abrir
o fecho do sutiã.
— Estou muito velho para fazer amor no banco de um carro
— falou sensualmente. Ela sorriu.
— E melhor pararmos...
— Eu sei. — Mas as mãos permaneceram onde estavam.
— Amanhã — disse ele, mal conseguindo respirar.
— Amanhã o quê? — inquiriu Meg. — Falaremos com Nancy e Lindsey.
— Boa idéia.
Quinze minutos mais tarde, Steve a deixava em casa. Somente quando o carro já partira
ela percebeu que esquecera a bolsa no banco de trás. Com a chave de casa dentro.
— Droga! — murmurou, e caminhou para os fundos, rezando para que a filha tivesse se
esquecido de trancar a porta da cozinha.
Em vão. Buscou então a chave extra, que há anos ficava escondida dentro de um vaso
de flores. Encontrou-a, felizmente. Entrou em casa o mais silenciosamente possível. Subiu
a escada na ponta dos pés, despiu-se no escuro e deitou-se.
O pastor alemão do vizinho latiu e Lindsey ergueu os olhos das unhas que pintava.
— Ele está latindo de novo.
— Acho que ouvi um barulho estranho — Brenda falou. Sempre curiosa, deu uma
olhadela pela janela e vislumbrou o quintal. — Há alguém em seu jardim — sussurrou, com
olhos arregalados.
— Não é uma boa hora para piadas.
— Não é piada. Há alguém lá.
— Quem?
— É um homem... Oh, meu Deus, é um homem! Venha ver. O pânico na voz da amiga
fez Lindsey correr até a janela.
O sangue pareceu congelar-se em suas veias ao reconhecer a figura masculina.
— É Steve Conlan!
— Oh, não! O que ele tem nas mãos?
Lindsey olhou melhor. Parecia ser uma bolsa. Engasgada, afastou-se da janela e
recostou-se à parede, pálida. Gesticulou em direção ao telefone.
— O que há com você? — indagou Brenda, preocupada.
— Ele... entrou aqui e... pegou a bolsa de minha mãe! — Brenda lhe estendeu o telefone
portátil e Lindsey discou para a polícia tão rapidamente quanto seus dedos permitiram. —
Há um homem em nosso quintal — balbuciou. — Ele pegou a bolsa da minha mãe.
O operador de emergências tinha dezenas de perguntas idiotas, e a menina Tez o que
pôde para responder a todas.
— Ele é um criminoso em liberdade condicional. Posso lhe dar o nome do policial que o
fiscaliza. Por favor, venham depressa! — implorou.
— Já enviei uma viatura.
— Depressa, por favor. Depressa.
Lindsey estava convencida de que, se a polícia não chegasse em um ou dois minutos,
Steve conseguiria escapar.
Steve se perguntava se devia ou não deixar a bolsa de Meg no quintal. Seria mais seguro
colocá-la dentro da caixa de leite, mas ela não pensaria em procurá-la ali.
Caminhou ao longo da casa, à procura de um local adequado. Não achou. A única coisa
que descobriu foi o cachorro do vizinho. Teria tocado a campainha, mas aparentemente ela
já fora para a cama.
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CAPITULO VI
— Posso explicar — disse Steve, apertando os olhos ante a luz da lanterna dos policiais.
Um cachorro latia ferozmente na casa vizinha.
— Costuma carregar uma bolsa feminina?
— Ela pertence a...
— Minha mãe.
Embora Steve não pudesse ver com precisão, reconheceu o tom de voz da filha de Meg.
Lindsey e outra menina estavam ao lado dos oficiais, e pareciam felizes por ter denunciado
um ladrão.
— Quieto, Lobo! — As palavras de Lindsey fizeram o pastor alemão se calar.
— Meu nome é Steve Conlan — apresentou-se ele com voz pausada e racional.
— Eu não acreditaria nele, se fosse vocês — Lindsey aconselhou os policiais. Então, em
tom mais baixo, acrescentou: — Trata-se de um criminoso. Por acaso sei que está em
liberdade condicional.
— Não é nada disso. Se me derem a chance de explicar...
— O oficial que o vigia chama-se Earl Markum — a menina o interrompeu, indignada. —
Ele próprio me disse.
— Conheço Earl Markum — o mais jovem dos policiais murmurou. — Realmente é fiscal
de presos em liberdade condicional.
— Também o conheço — Steve replicou. — Estudamos juntos.
— E a história mais improvável que já ouvi.
— Se permitir que eu me explique... — ele tentou novamente, esforçando-se para manter
a calma.
Não era nada fácil, já que dois sujeitos apontavam armas para sua cabeça e uma dupla
de adolescentes o acusava sabia-se lá de quê.
— Não lhe dê ouvidos — Brenda pediu. — Ele mente muito bem. Fez com que
acreditássemos em uma porção de coisas, e tudo porque achou que fôssemos a mãe de
Lindsey.
— Conhece bem este homem?
— Meu nome é Steve Conlan.
— Pode não ser o nome verdadeiro — disse a amiga da filha de Meg.
— Se permitirem que eu pegue minha carteira, provarei quem sou — Steve garantiu.
Vagarosamente, baixou as mãos e pôs uma delas na parte de trás da calça comprida.
— Mantenha as mãos onde eu possa vê-las!
— O que está acontecendo aqui? — uma voz de dentro da casa inquiriu. Doce, feminina,
meio grogue de sono.
Steve olhou para cima e, para seu grande alívio, viu o suave rosto de Meg na janela. A
lua iluminava aquela parte da casa.
— Meg! Por favor, diga a esses homens quem sou, para que abaixem as armas.
— Steve? O que faz em minha casa a essa hora da noite?
— Conhece este sujeito? — Ed perguntou.
— Senhora — o segundo oficial interveio —, importar-se-ia em vir até aqui?
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— Por acaso anda se esgueirando pelos arredores da casa para ver minha mãe? —
indagou Lindsey, furiosa.
— Não é cada disso — ele procurou esclarecer, sentindo uma pontada de culpa pela
maneira como enganara a menina.
Planejara conversar com a filha de Meg quanto antes, mas não tencionara fazê-lo diante
da polícia.
— Eu estaria mais interessada em saber como ele está com a bolsa de sua mãe —
sugeriu Brenda.
— Mas isso eu já sei. É mais do que óbvio que a roubou.
— Eu estava tentando devolvê-la, isso sim!
— Está com minha bolsa? — Meg perguntou.
— Você a esqueceu em meu carro.
— Ainda bem que a encontrou. Não fazia idéia de onde procurá-la.
Agora que a luz das lanternas não mais lhe ofuscava a visão, e que os policiais haviam
colocado as armas nos coldres, Steve olhou para Meg. Vestia uma camisola bem curta, de
algodão, que deixava as longas e sedosas coxas à mostra. Os seios, parcamente cobertos,
eram praticamente visíveis através do tecido meio transparente.
Ele temeu não ser o único a observar tais atributos. Ambos os policiais olhavam,
embasbacados, na mesma direção. Queria estapeá-los, mas sabia ser uma imprudência
ridícula agir assim.
— Lindsey, vá pegar um robe para sua mãe — pediu à garota.
— Não obedeço às suas ordens — rebateu a adolescente. Meg piscou e só então deu
mostras de notar que não estava vestida exatamente para um culto religioso. Abraçou o
próprio corpo, como se estivesse com frio, mas tudo o que conseguiu foi fazer os seios
saltarem ainda mais. Quase escaparam pelo decote. Em aparente esforço para escapar da
hipnótica visão, um dos oficiais fez mais algumas perguntas a Lindsey enquanto o outro
comandava uma conversa entre Steve e Meg.
— Conhece este homem? — dirigiu-se a Meg.
— Sim, é claro. O nome dele é Steve Conlan.
— Steve Conlan — repetiu Ed, fazendo anotações.
— Ele não roubou minha bolsa.
Steve deu ao rapaz um olhar dizendo "eu lhe disse", mas permaneceu convenientemente
calado.
— Saiu com esse homem às escondidas? — Lindsey gritou, o olhar descrente. — Não
acredito que tenha sido capaz de fazer uma coisa dessas!
Meg baixou as pálpebras, encabulada.
— Falaremos sobre isso mais tarde.
Era evidente que a menina não se daria por vencida com tanta facilidade.
— Se me dessem uma oportunidade de me explicar... — Steve pediu.
Estáticos, os dois policiais falaram qualquer coisa e pareceram ter tomado uma decisão.
— Está tudo sob controle por aqui? — um deles perguntou a Meg.
— Sim.
— Jovem?
— Tudo o que posso dizer é que minha mãe me decepcionou muito.
— Sinto não poder ajudá-la quanto a isso, senhorita.
— Não achei mesmo que pudesse — Lindsey defendeu-se.
— Pensei que ela se desse valor suficiente para não namorar um indivíduo com moral
tão baixa.
— Lindsey!
— Que tal entrar e trocar algumas palavras civilizadamente?
— Steve propôs.
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Sentia-se mais do que ridículo ali, em pé no meio do jardim, ansioso por aclarar os fatos
para uma adolescente furiosa.
— Nada tenho a falar a vocês dois — a menina exclamou com pompa e marchou para
dentro de casa, devidamente escoltada por Brenda.
Steve as observou ingressar na residência e suspirou, aliviado. Estava prestes a se
desculpar por ter causado tamanha confusão quando Meg o olhou nos olhos.
— Não posso acreditar!
— Peço desculpas.
— Por que diabos ousou pedir à minha filha que fosse buscar um robe para mim?
Steve, abismado, ergueu as sobrancelhas em muda interrogação.
— Quase fui preso, sua filha está louca da vida e você está aborrecida porque eu quis
impedir que a vizinhança a visse vestindo apenas um... pedaço milimétrico de roupa?
Meg abriu e fechou a boca diversas vezes.
— Como?
— Está bem, não é tão milimétrico assim. É quase. Aqueles dois camaradas não foram
capazes de desviar os olhos ávidos de seu corpo. Suponho que tenha apreciado uma
receptividade tão positiva.
— Não seja ridículo. Desci o mais rapidamente que pude para ajudá-lo.
— Acreditou que ficar parada praticamente nua em frente aos policiais me auxiliaria?
Bastava me identificar, e então eu poderia partir. Só isso.
Cada palavra era dita em um tom mais alto do que a anterior. Ele estava prestes a perder
o autocontrole e sabia disso.
— Acho melhor você ir embora — Meg murmurou, apontando a direção da rua.
— Irei mesmo. Você não compreendeu meu embaraço nem os problemas que enfrentei
por sua causa. O que é uma boa lição para mim.
— Acaso acha que também não fiquei envergonhada?
— Não teve duas armas apontadas para sua cabeça, nem ouviu duas adolescentes
gritando que você é uma ameaça para a sociedade.
— Lindsey apenas repetiu o que você lhe disse — justificou Meg, e afastou uma mecha
de cabelos do rosto. — Isso não está dando certo.
— Engana-se — corrigiu ele bruscamente. — Está indo bem demais. Você me deixa
louco e não gosto disso. Nem um pouco. Se devo ser preso, gostaria que fosse por alguém
que ao menos soubesse reconhecer meu empenho — protestou Steve. Então apressou-se
rumo ao carro e partiu.
Meg aprumou-se, vestiu imaginariamente seu manto de orgulho sobre os ombros e
caminhou para a entrada da casa. Estava brava. E muito confusa.
Ver Lindsey e Brenda sentadas na sala de estar às escuras, à sua espera, só piorou a
situação.
— As duas já deviam estar na cama.
-— Queremos falar com você primeiro — Lindsey anunciou, e abraçou as pernas.
— Agora não. Estou cansada e aborrecida.
— Brenda e eu estamos exaustas, mas isso nem importa. O que realmente vale é que
você quebrou sua palavra.
— Não prometi que deixaria de ver Steve.
Caminhou em direção à porta e olhou para fora, desejando que ele voltasse.
— O que fez? Esgueirou-se para sair com ele? Meg levantou a cabeça.
— Exatamente!
— Quando? Hoje à noite?
— Lindsey, Steve não é a pessoa que você julga que ele seja.
— Posso apostar. Ele veste máscaras, não é? Acredita em tudo o que Steve lhe diz
porque quer acreditar. Está tão louca por esse sujeito que não enxerga um palmo diante do
Projeto Revisoras 45
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nariz!
— Queremos conversar com você, filha. Steve e eu, juntos, explicaremos tudo.
— Nunca!
— Sra. Remington, não permita que ele a engane — Brenda dramatizou.
— Vamos deixar as preocupações para amanhã. Já é tarde e terei de acordar cedo para
trabalhar.
— Quero que jure que nunca mais voltará a se encontrar com ele.
— Lindsey, por favor!
— Se não fizer isso, mamãe, serei obrigada a vigiá-la o resto da vida.
— Já é hora de termos uma conversinha — disse Nancy, colocando um bule com café
sobre a mesa.
— Não, obrigado.
A garota o serviu e sentou-se.
— Algo o está perturbando.
— Pouco lhe escapa à percepção, não é?
— Pode me dizer o que há de errado?
— Não.
— Tem a ver com Meg, não é?
Mais uma vez Steve negou. O momento era inadequado para falar nesse assunto. Meg
o enlouquecia, e nenhuma mulher o deixara nesse estado. Para piorar, não sabia se voltaria
a vê-la. Droga! Seu corpo, sua alma, seu espírito pediam uma nova chance, rezavam pelo
recomeço.
— Ela não é a mulher ideal para você — afirmou Nancy, em solene julgamento.
— Não fale mais nada, está bem?
Ela entrelaçou os dedos e cerrou as pálpebras.
— Eu já sabia. Está apaixonado.
— Não estou. — Pegou a xícara com o líquido fumegante e quase queimou a língua.
— Pois saiba que faz-se necessário que eu tome a frente, nesse assunto. Não queria
fazer isto, mas é minha única alternativa. Alguém precisa cuidar dos seus interesses.
Steve baixou a xícara à mesa e encarou a irmã.
— O que você fez dessa vez?
— Nada ainda. Há uma mulher, uma viúva que conheci no campus da universidade.,.
Gostaria que a conhecesse.
— Não.
Steve nem prestava mais atenção. Na última vez que Nancy o envolvera em seus
esquemas, acabara conhecendo uma mulher incrível com uma filha endiabrada. Nunca
mais.
— Mas mano...
— Você me escutou. — A cadeira quase foi ao chão quando ele se levantou. — Não
estarei em casa para o jantar.
Nancy pôs-se em pé também.
— A que horas vai voltar?
— Não sei. Por quê?
— Porque o mínimo que poderia fazer seria estar aqui a tempo de ser apresentado a
Sandy.
— Convidou-a para vir à minha casa?
— Fique calmo, não mencionei você. Queria que fosse um encontro bem casual. Ela
está receosa, por enquanto apenas, em voltar a namorar. Achei melhor não a atemorizar e
preferi, por ora, não lhe falar sobre meu irmão enorme e mau.
— Já que faz tanta questão de administrar a vida amorosa de alguém, por que não
escolhe a si mesma?
Projeto Revisoras 46
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
— Está bem, está bem. Apenas afaste-se de Meg, então. Essa mulher significa
confusão.
Steve deu uma breve risada. O primeiro sinal de bom humor desde que acordara.
— Acho que fez a descoberta do século.
Uma semana se passou. Nem Steve nem Meg tomou a iniciativa de telefonar depois
daquela fatídica noite.
Ele detestava a idéia de pôr fim a tudo, mas jamais pediria desculpas. Também duvidava
que ela o fizesse. Só não sabia aonde isso tudo levaria.
Diabos, mas não queria perdê-la.
No início de certa tarde, Nancy apareceu na loja com uma amiga. Estavam a caminho
de uma partida de tênis, disse. Brindou-o com um sorriso e perguntou se ele poderia
fornecer o preço de diversos produtos que Sandy precisava comprar.
A moça era bonita, com seu ar frágil e traços delicados. Era ela que, segundo os desejos
fraternos, o livraria das gamas de Meg.
— Prazer em conhecê-la — cumprimentou. Nancy sorria inocentemente, muito satisfeita.
— Terei o orçamento que me pediu quando retornar da partida de tênis.
— Não terá de trabalhar até tarde hoje, não é? — a irmã perguntou, sem se importar
com a indiscrição.
— Tenho um compromisso para esta noite — esquivou-se ele.
— Oh, querido... Esperava que pudesse me levar, e a Sandy, para jantar fora.
— Sinto muito — murmurou ele. — Agora, se me dão licença...
— Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Conlan.
— O prazer foi todo meu — devolveu Steve, e lhes deu as costas. — Quando alguma
mulher vier perguntar por mim, diga que estou extremamente ocupado. Entendeu? — falou
a Nancy quando a outra se afastou.
— Eu só estava tentando ajudar.
— Obrigado, mas não quero.
Sentou-se à escrivaninha, emburrado, e começou a analisar a pilha de papéis que o
aguardava.
— Não voltará a ver Meg, não é? Steve apertou a caneta.
— Isso não é de sua maldita conta.
— Sim, é. Uma mulher como aquela poderia arruinar sua vida.
De certa forma, ela já fizera isso, mas Nancy jamais compreenderia. Perto de Meg, as
outras mulheres pareciam não ter a menor graça. Ele estava cada vez mais entristecido, e
fazia o impossível para tirá-la da cabeça. Em vão.
Nancy finalmente foi embora. Steve recostou-se na confortável cadeira e contemplou o
aparelho telefônico. Tudo o que tinha a fazer era uma ligação.
Nem mencionaria o incidente com a polícia. Ou poderia fazer alguma graça a esse
respeito e lhe comprar pijamas menos reveladores. Um modelo que apenas a cobrisse do
pescoço aos calcanhares. Ambos ririam, diriam quanto lamentavam a desavença e
colocariam um fim nessa bobagem.
E então poderia pegá-la nos braços, apertá-la de encontro ao peito e beijá-la com toda
a paixão que inundava seu peito. E essa seria a melhor parte.
— Steve? — Gary Wilcox meteu a cabeça pela porta entreaberta.
Ele despertou.
— Sim?
— Há alguém aqui para falar com você. Uma mulher. Tomado pela impaciência, ele se
preparou para mais uma inconveniência da irmã.
— O que eu lhe disse ontem? Dei-lhe instruções específicas para dizer a todas as
amigas de Nancy que estou ocupado.
— Mas chefe...
Projeto Revisoras 47
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
Incapaz de resistir por um só segundo, Steve a tomou nos braços e beijou-a vorazmente,
mais faminto do que nunca. Meg agarrou-lhe a camisa, como se precisasse de auxílio para
conter o desejo que a invadia com violência.
Mãos poderosas percorriam com avidez os quadris esbeltos. Ela gemeu, e por instantes
Steve não soube dizer se de prazer ou dor. Estudou-a, feliz em perceber que ela também
ofegava.
— Eu a feri?
— Não...
Como a desculpar-se pela agressividade com que a abraçara, percorreu a curva dos
lábios cheios com a ponta dos dedos, em lenta apreciação. Ante o gemido rouco que ouviu,
deixou de lado a tênue carícia e voltou a beijá-la com sofreguidão, amansando aos poucos
para sentir o sabor de cada momento.
— Eu ia telefonar — murmurou ele de encontro a pele sedosa do ombro nu. —
Aconselhei-me centenas de vezes a discar. Cada minuto longe de você foi uma tortura.
— Eu também quis entrar em contato, mas...
— Maldito orgulho.
— Você estava certo. Eu devia ter usado um robe.
— Fiquei com ciúme, pura e simplesmente. Notou o sorriso que ela tentava esconder e
riu.
— Eu também ficaria, se passasse por situação semelhante.
— Sabe de uma coisa, Meg? Não namorei nenhuma das mulheres que Nancy me
apresentou nesses últimos dias.
— Que mulheres?
— Ah... nada importante.
— Para mim é, e muito.
— Minha irmã julgou ser necessário me salvar das suas garras e então decidiu me
apresentar todas as moças que conhecia.
— E você as recusou. Meg parecia exultante.
— Quero falar com Lindsey para esclarecer tudo.
— Eu também, mas agora é impossível.
— E mesmo.
— Abrace-me. Quero que fique aqui bastante tempo. Steve deu-lhe dezenas de
beijinhos ao longo do pescoço, dos ombros e dos braços femininos antes de retornar aos
lábios convidativos. Então a ternura cedeu espaço à paixão e ele simulou, com o beijo, um
ato de amor. Queria tanto que Meg estivesse com pensamentos semelhantes aos seus...
— Por quanto tempo Lindsey estará fora?
— Passará a noite na casa de Brenda. Ele a apertou mais.
— Meg... — Já não conseguia ocultar o desejo que lhe inflamava cada célula. Não havia
como negar o que seu corpo evidenciava. — Quero fazer amor com você. Sei que há uma
série de assuntos que temos de aclarar antes de partilhar algo tão íntimo, mas não podemos
desperdiçar mais tempo. — Beijou-a possessivamente. — Ainda bem que você passou na
loja hoje. Isso me deu coragem para procurá-la.
Meg deu um passo para trás, intrigada.
— Sua loja? Mas eu nunca estive lá!
CAPÍTULO VII
Steve tomou um seio nas mãos com extremo cuidado, como se estivesse lidando com a
jóia mais preciosa do universo. Tomou com delicadeza o bico entre os lábios. Meg gemeu
quando os carinhos se intensificaram.
Queria lhe oferecer mais. Mais de si mesma. De seu coração.
— Steve... oh, por favor...
— Parece que não consigo manter minhas mãos longe de você... Quero falar sobre seu
casamento, mas mal posso fitá-la sem perder a cabeça.
— Foi um divórcio amigável — Meg falou com voz trêmula de desejo.
— Pelo pouco que domino deste assunto, sei que normalmente divórcios começam
assim.
— Foi diferente com Dave e comigo — insistiu, ela ainda ofegante.
— Como assim?
— Nós nos separamos sem grandes conflitos.
— O que causou o divórcio?
Meg fechou os olhos e suspirou profundamente.
— Havia... gente demais naquele casamento.
Durante anos mantivera em dolorosa privacidade a mágoa pela traição. No início agira
assim por Lindsey. Depois, temera encarar o próprio ódio, porque não sabia que mudanças
isso operaria em seu íntimo. Melhor manter-se anestesiada e distante, decidira.
— Pode explicar melhor?
— Dave já não me amava mais.
— E quanto a Lindsey?
— Eu tenho a guarda. Ele mora na Califórnia.
— Por quanto tempo ele escondeu a infidelidade?
— Não faço a menor idéia. Só sei que, quando Dave me contou tudo, a amante já estava
grávida.
— Em outras palavras, você não teve opção a não ser deixar o caminho livre para a
outra.
— Tomaria essa atitude de qualquer modo.
— Então vocês se divorciaram.
— Sim, e sem estardalhaços. Ele me deu o que eu queria.
— E o que você queria?
— Criar Lindsey. Se quer mesmo saber, o divórcio me traumatizou.
— Isso não é verdade. O casamento já havia feito isso. Meg afastou as lágrimas que
varriam seu rosto. Como Steve pudera compreender com tanta exatidão seus sentimentos?
— Sim...
— Seu ex-marido não se contentou em ter um caso. Quando a deixou, procurou
certificar-se de que você carregaria a culpa pelo fim do relacionamento e pela falta de
fidelidade dele, correto?
Meg voltou a cabeça para o lado, a fim de que Steve não lesse a verdade em seus olhos.
— Oh, isso foi há tanto tempo...
— Mas não está encerrado. Se fosse assim, estaríamos fazendo amor em vez de
conversar. Você nunca mais confiou em homem algum depois de Dave, não é mesmo?
— Acertou — admitiu ela, de cabeça baixa.
— Oh,' querida... — ele falou com ternura, envolvendo-a com braços protetores. — Não
a culpo.
Meg piscou várias vezes para conter as lágrimas.
— Confio em você — disse, sabendo instintivamente que ele jamais a trairia.
— Eu sei. Caso contrário, não permitiria que eu me aproximasse tanto. — Sorriu. — Foi
melhor mesmo ter essa conversa antes de fazer amor.
— Jura?
Projeto Revisoras 51
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Sabrina Férias nº 35.1
— Juro. Primeiro, quero esclarecer tudo com Lindsey. Steve tratou de fechar o sutiã,
mas teve dificuldade. Meg o ajudou. Provocou. Beijou-o.
Somente muito tempo depois seu vestido foi abotoado. Muito mais tarde...
— Exatamente para onde estamos indo? — Lindsey perguntou pela segunda vez,
olhando através da janela do carro.
— Já lhe disse.
Meg estava perdendo a paciência com a menina.
— Vamos ao trabalho de Steve?
— Sim.
— O trabalho determinado pela liberdade condicional, você quer dizer.
— Steve tem seu próprio negócio. Ambos temos esperança de que, se você o vir em
ação, convença-se da verdade. Ele não é ex-presidiário. Aquilo foi uma farsa.
A menina ficou quieta por algum tempo.
— Por quê?
— Queríamos que não gostasse dele.
Infelizmente, o plano de Steve funcionara bem demais. E, ao que tudo indicava, Meg
fizera um trabalho igualmente bom com Nancy, porque a garota também não aprovava a
continuidade do namoro. Mas que confusão!
— Por quê?
— É uma longa história, da qual não me sinto muito orgulhosa.
— Está aprontando mais encrenca, mamãe?
— Não. Trata-se apenas de uma situação embaraçosa, entendeu?
— Acho que sim.
Meg estacionou em frente à loja. O local destinado aos carros dos clientes era amplo e
servido por vários manobristas uniformizados.
— Todos parecem vindos do pátio da prisão — a garota murmurou, contrafeita.
— Lindsey! — Meg quase implorou, decidida a fazer de tudo para que o encontro fosse
bem-sucedido. — Jure que dará a Steve ao menos uma chance.
— Dei-lhe uma e, de acordo com você, ele mentiu. Mais uma vez Meg viu-se sem
argumentos.
— Apenas ouça-o, está bem?
— Sim, mas não estou lhe fazendo promessas.
A loja tinha cheiro de perfumes e cosméticos. Havia uma pequena sala de estar com chá
e café, e diversas revistas de moda e beleza.
— Olá — Meg falou ao rapaz do outro lado do balcão. — Sou Meg Remington. Steve
está esperando por mim.
O homem a estudou.
— Você é Meg Remington?
— Sim.
— Não se parece nada com a Meg Remington que esteve aqui na semana passada.
— Desculpe-me, não entendi.
— Estou aqui, Gary! — Steve interveio, saindo de uma sala. Sorriu calorosamente
quando a viu. Lindsey estava sentada na sala de espera e lia uma revista de moda. — Olá,
Lindsey.
— Olá — a adolescente respondeu em um tom apático.
— Você e sua mãe poderiam vir até meu escritório?
— Será seguro?
Um sorriso ameaçou se formar no canto dos lábios dele, mas foi contido a tempo.
— Não haverá problema algum. A menina largou a revista.
— Está bem.
Steve as conduziu para a sala extremamente limpa e orientou que se sentassem nas
Projeto Revisoras 52
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ridícula sobre ser um criminoso. Aprendi a lição e não voltarei a agir assim. Tudo o que lhe
peço é que me dê uma segunda chance.
— Não sei, não. Sabe o que mais me irrita? E você ter envolvido minha mãe em sua
tramóia. Foi muita sujeira.
— Não a culpo por estar com raiva de mim, mas não fique aborrecida com sua mãe. A
idéia foi minha, não dela.
— Minha mãe não se humilharia, participando de algo tão ardiloso. Só pode ter sido
ludibriada.
Meg pousou os olhos em Steve, frustrada.
— Tinha esperanças de que pudesse me perdoar — Steve tentou mais uma vez.
— Achei que fosse capaz — ela falou, magnânima. Ele quase sorriu ao perceber que
ganhara terreno.
— Gostaria que fôssemos amigos — acrescentou.
— Sim, mas isso não significa que eu aprove seu relacionamento com minha mãe.
— Mas Lindsey...
— Mamãe, não podemos confiar nesse homem. Já sabemos que mente. E o que me diz
do telefonema de alguns minutos atrás? Outra mulher liga e Steve mal agüenta para
retornar a ligação. Viu o brilho nos olhos tão bem quanto eu.
— Não seja tola! — Steve alterou-se. — Sou louco por sua mãe. Jamais a magoaria.
— É o que todos dizem.
— Acho melhor você me aguardar no carro — Meg sugeriu à filha. A menina
imediatamente se levantou e correu para fora, deixando-os a sós. — Sinto muito.
— Tentarei falar com ela novamente — disse Steve, aproximando-se para abraçá-la. —
Lindsey apenas precisa de um pouco de tempo. Um dia aprenderá a confiar em mim. Uma
coisa é certa, entretanto...
— O quê?
— Farei qualquer sacrifício para continuar a ver você. Vou levá-la para jantar hoje à noite
e tocarei a campainha de sua casa. Sua filha terá de aceitar o fato de estarmos namorando.
Eu a convidarei para nos acompanhar no passeio.
— Ela não aceitará.
— Mesmo assim, farei o convite. Pode não me aceitar agora, mas com o tempo hei de
ganhar seu coração.
As sete horas da noite Meg, passava perfume com esmero. Steve chegaria a qualquer
momento para levá-la para jantar.
O telefone tocou, mas ela não se incomodou em atender. Devia ser para Lindsey, e a
menina o atendia, invariavelmente, antes da segunda chamada.
— Mamãe?
— Já vou! Quem é?
— Steve — a filha falou, indiferente, ao passar por ela rumo à cozinha.
Meg olhou para o relógio e disparou escada abaixo. Tirando o brinco, atendeu.
— Alô!
— Ouça, querida, houve um pequeno imprevisto e me atrasarei um pouco.
— Que espécie de imprevisto?
Ela estava faminta. Normalmente, lanchava às seis e meia.
— Não tenho certeza ainda. Sandy Janick telefonou. O pneu de seu carro furou e ela
não tinha ninguém a quem recorrer e...
— Que tal cancelar o jantar desta noite?
— Mas...
— Para ser franca, estou morrendo de fome. Não há problema algum. Jantaremos juntos
em outra oportunidade.
Steve hesitou.
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— Então estou feliz com o fato de o pneu do carro de Sandy ter furado.
— Fique fora de minha vida, Nancy. E um aviso.
A garota deu de ombros e pareceu ter tomado uma decisão muito importante:
— Sinto não poder fazer isso, querido.
— O que pretende dizer com "não poder"?
— Como poderia ficar parada enquanto o irmão a quem sempre amei e admirei se mete
em tamanha enrascada? Especialmente por causa de uma mulher com aquela reputação?
— Oh...
A paciência de Steve se fora. Desaparecera. Devia pôr Nancy e Lindsey juntas em um
quarto e deixar que se entendessem.
— Não permitirei que faça isso — anunciou a garota, e se postou defronte à porta.
O telefone tocou nesse momento e Steve soube estar salvo. A irmã voou pela sala e o
atendeu antes do segundo toque.
Esperançoso em poder escapulir impunemente, abriu a porta e saiu, Como suspeitara,
Nancy veio ao seu encalço segundos depois.
— É para você.
Ele já estava dentro do carro. Não se deixaria enganar novamente.
— Diga que ligarei amanhã.
— É uma mulher. Steve hesitou.
— Qual seu nome?
— Lindsey.
CAPITULO VIII
Steve estranhou receber um telefonema da arredia filha de Meg. Ainda não eram amigos.
A ligação só podia sinalizar sérios problemas.
Saiu do carro apressado e subiu os degraus da varanda, dois de cada vez. Passou pela
irmã correndo e foi diretamente atender o telefone.
— Lindsey? O que houve?
— Está sozinho?
Steve percebeu que a voz dela soava consideravelmente mais baixa que o usual. Parecia
que Meg nada sabia a respeito da ligação.
— Minha irmã está aqui — esclareceu e olhou para Nancy, parada, os braços cruzados
em franca desaprovação.
— Alguém mais? Especialmente uma pessoa chamada Sandy?
Lindsey demonstrava possessividade, o que era ridículo. Afinal, devia sentir-se feliz por
ter uma desculpa para se livrar de sua presença ao menos por um dia.
— Não. Sandy partiu há alguns minutos. — Então você estava com ela!
Sentindo-se pressionado pelas duas adolescentes, ele perdeu de vez a paciência.
— Suponho haver um motivo para sua ligação.
— E claro. Quero saber o que você disse que tanto aborreceu minha mãe.
— O que eu disse? -Steve não sabia.
— Após seu telefonema, ela me orientou a pedir uma pizza e me deixou livre para
escolher o sabor. Sabe que adoro anchovas, mas as detesta. Então — acrescentou depois
de uma breve pausa — a pizza chegou e ela me olhou como se não fizesse a menor idéia
de onde a comida havia vindo. Algo está errado e quero saber o que é.
— Não faço a mínima idéia.
— Mamãe está esquisita. Acho melhor vir até aqui para conversar com ela.
O convite de um dragão devia ser considerado com cautela. Não esperara ouvir tal
proposta da boca da menina tão cedo, mas a vida reservava toda sorte de surpresas. Devia-
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Sabrina Férias nº 35.1
— Por que não? — devolveu ele. A garota pôs as mãos nos quadris.
— O que mamãe precisa é de segurança. Se você tiver algum pensamento romântico no
espaço vazio entre suas duas orelhas, irá tomá-la nos braços e a beijar.
Tudo o que Steve pôde fazer foi arregalar os olhos, arquear as sobrancelhas e tentar
conter o queixo caído. Algo havia mudado, e ele nem desconfiava do motivo.
— Lindsey?
Parecia que Meg estava igualmente pasma. Ambos permaneceram parados, olhando
para a menina.
— O que foi? Ah, querem saber a razão de minha abrupta mudança? Bem, estive
pensando... Se Steve realmente falou sério a respeito de tentarmos ser amigos, então farei
um esforço extra neste sentido. — As palavras foram ditas como se fossem fruto de um
extremo sacrifício pessoal. — Na verdade, não tenho alternativa. É óbvio que mamãe está
apaixonada por você.
— Lindsey!
Steve adorou o vermelho que coloriu as faces de Meg.
— Também está igualmente claro para mim que Steve deve nutrir um sentimento
semelhante por você, especialmente após ter decidido enfrentar minhas ofensas.
Francamente, eu não agüentaria mais lutar contra. Seria apenas um exercício de frustração.
E teria um trabalho fenomenal para manter olhos atentos sobre vocês dois. Seria inviável.
Tenho minha própria vida para administrar.
A boa nova era surpreendente. Maravilhosa. A pequena tinha a chave do coração de
Meg, ponderou Steve, e ele jamais ganharia o amor da mulher que amava se Lindsey
continuasse desaprovando o namoro.
— Não pensem que gosto — a garota fez questão de emendar —, mas aprenderei a
conviver com a situação.
— Ótimo! — exclamou Steve. — Então, vamos apertar as mãos. Lindsey estudou o caso,
como se não tivesse certeza de querer tocá-lo. Mas, uma vez decidida, seu cumprimento
foi firme e confiante.
— Você não é nada do que deveria ser — murmurou ela.
— Peço desculpas por desapontá-la.
— Não há mais remédio. Mamãe é louca por você.
— Acho que ela fez uma escolha e tanto.
— Até parece... — ironizou a menina.
— O que está havendo com vocês dois?
— Nada — a jovem respondeu, com a mais plácida inocência. Olhou para Steve e piscou.
Ele devolveu, feliz por terem, enfim, um contato positivo.
— Alguém falou em pizza?
— Eu falei — Meg exclamou. — Venha até a cozinha e aquecerei os pedaços que
restaram.
— Mamãe — Lindsey a pegou pelo braço, o rosto repleto de censura —, achei que
pudesse contar ao menos com você para dar mais romantismo a este relacionamento.
— O que eu fiz de errado agora?
— Por que não prepara algo para Steve comer? Meg pensou um pouco a esse respeito.
— Tenho um pouco de frango que sobrou de ontem e poderia fazer uma salada. Caso
ele não goste, pode-se sempre contar com um bom sanduíche de manteiga de amendoim
com geléia.
— Acho que prefiro a pizza — Steve declarou. E, antes que Lindsey pudesse protestar,
tratou de seguir Meg até a cozinha. — Sabe do que sua filha está falando?
Ela sorriu e abriu a porta do forno.
— Nem imagino.
Pegou a caixa de papelão com a pizza a colocou sobre a pia.
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CAPITULO IX
— Eu me dei mal.
— Mas havia me dito que estava apaixonada!
— E estou.
— Então por que o mandou embora?
Meg respirou profundamente e soltou o ar aos poucos.
— Porque sou uma idiota.
— Então detenha-o! — a menina falou em tom de urgência.
— Não posso. É... tarde demais.
— Não, não é — Lindsey exclamou, e disparou para a porta da frente.
Uma parte de Meg queria detê-la, seu amor-próprio já fora suficientemente golpeado nos
últimos dias. Mas seu coração lhe avisava que a batalha já havia sido perdida. Estava apai-
xonada por Steve Conlan. E palavras não tinham poder para mudar isso. Nada, aliás,
detinha essa força.
Um minuto mais tarde Lindsey irrompeu na sala, ofegante, a mão no peito. Disse, entre
gigantescas golfadas de ar:
— Steve falou... que se quer conversar... com ele... terá de ir... lá fora...
— Onde ele está?
— Sentado dentro da caminhonete. Depressa, mamãe. Acho... que ele não vai esperar
muito tempo.
Com o coração pulsando selvagemente, Meg alcançou a varanda e se apoiou na coluna.
Avistou a caminhonete parada mais adiante.
Steve virou a cabeça para outro lado quando a viu, mas houve tempo para ela notar o
olhar frio. Gelado. Pouco amistoso.
Meg precisou de toda a sua parca coragem para aproximar-se mais. Quando chegou
bem perto, Steve a fitou e abriu a janela.
— O que foi? Lindsey falou que você tinha algo a me dizer. Então fale!
— Eu... não sei se consigo.
— Ou você diz ou irei embora.
Ligou o motor para mostrar que a ameaça tinha fundamento.
— Mamãe, você vai perdê-lo! — Lindsey gritou da varanda. — Não o deixe partir... Ele é
a melhor chance que já teve em toda a sua vida!
— Eu... o amo — sussurrou. Steve desligou o carro.
— Por acaso disse alguma coisa?
— Eu o amo, Steve Conlan. Estou apavorada. Você acertou na mosca. Construí uma
muralha em torno do meu coração. Não quero perdê-lo. Apenas... estou com muito medo...
A última palavra quase não foi ouvida. Olharam-se em silêncio. Após instantes de agonia,
um sorriso iluminou o rosto moreno.
— Não foi tão difícil assim, foi?
— Sim, foi. E como.
— Vai casar-se comigo, Meg Remington.
— Provavelmente.
Ele desceu da caminhonete, bateu a porta e chegou muito perto da doce senhorita
amedrontada.
— Vai se casar comigo ou não?
— Vou — Meg afirmou, rindo e chorando ao mesmo tempo.
— Foi o que pensei.
Sem mais delongas, abraçou-a e a ergueu do chão, emocionado demais para falar.
Girou-a no ar num lúdico carrossel e só então a carregou de volta para casa.
Uma vez lá dentro, fechou a porta com o pé, prensou-a contra a parede e lhe deu um
beijo de tirar o fôlego. Quase a machucou, tal a força de sua paixão, mas se conteve ao
ouvir uma tossida. Lindsey. Novamente.
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— Detesto interrompê-los, mas tenho algumas perguntas que vocês dois precisam me
responder.
Steve mergulhou a cabeça entre os cabelos de sua amada e pronunciou algo
indecifrável.
— Está bem. O que quer desta vez?
— Vamos nos casar? — indagou a garota, e Meg ficou satisfeita em perceber que a filha
se incluíra no compromisso.
— Sim — afirmou ele, categórico. — Formaremos uma família. Lindsey deu um berro
capaz de ensurdecer três quarteirões de curiosos vizinhos.
— Onde vamos morar? Na sua casa ou na nossa? Steve olhou para Meg.
— Tem alguma preferência? — Ela fez um gesto negativo com a cabeça. — Vamos
viver onde você quiser — declarou ele à adolescente. — Imagino ser importante que fique
próxima a seus amigos. Então levaremos isso em consideração.
— Que tal aumentar a família? Mamãe quer, eu acho. Mais uma vez o casal trocou
olhares e acabou caindo na gargalhada.
— Oh, sim — esclareceu ele. — Haverá muitos outros componentes em nossa família.
Os olhos de Steve se escureceram e Meg soube estarem pensando na mesma coisa.
Queria os bebês dele, assim como ansiava pela presença constante desse homem
maravilhoso. Não sabia como chamar esse sentimento a não ser de o mais puro dos
amores.
— Só mais uma coisa — disse Lindsey.
— Sim, querida.
— Gostaria que me convidasse para ajudá-la a escolher seu vestido de noiva. Você é
boa em uma porção de assuntos mas, francamente, não tem o mínimo senso quando se
trata de moda.
Como era de esperar, Lindsey, Brenda e Nancy estiveram plenamente envolvidas na
escolha do vestido de noiva de Meg. Steve, naturalmente, não pôde sequer olhar de relance
a maravilha que só veria no dia da cerimônia.
O casamento ocorreu três meses depois, com a presença de amigos e familiares.
Lindsey foi a dama de honra.
O noivo fez questão de cuidar de todas as formalidades, porque sabia quanto isso era
importante para Meg e sua filha.
Quando viu a noiva aparecer à porta da majestosa igreja, foi tomado por tão intensa
emoção que temeu desmaiar diante de toda a platéia. Sabia que a amava, ou não teria se
metido em tantas loucuras. Mas tivera poucas pistas de quão profundamente esses
tentáculos haviam se enredado em seu coração até vê-la, solene e deslumbrante, caminhar
em sua direção. Rezou para não chorar.
A recepção foi envolta em uma nuvem de etérea felicidade. Cada vez que olhava para
Meg, tinha dificuldade em acreditar que essa mulher linda e vibrante era sua esposa. Seus
pensamentos vagavam em um reino encantado enquanto se obrigava a sorrir,
cumprimentar e agradecer às pessoas por terem comparecido ao enlace.
Pareceu ter se passado toda uma eternidade até poder ficar a sós com sua mulher.
Reservara a suíte de núpcias de um hotel nos arredores do aeroporto Sea-Tac. Na manhã
seguinte voariam ao Havaí, para uma estadia de duas semanas.
Steve tinha o sério pressentimento de que não precisaria ir até as areias tropicais para
descobrir o paraíso. Poderia encontrá-lo nos braços de sua amada.
— Marido... — Meg disse com timidez enquanto ele abria a porta da suíte no hotel. —
Gosto do som dessa palavra.
— Eu também, mas tanto quanto gosto da palavra esposa. Aberta a porta, ele a pegou
no colo e a carregou para dentro.
Não havia dado dois passos e começou a beijá-la. Pensara em criar um clima romântico
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O Casal Perfeito – Debbie Macomber
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antes de fazer amor, mas um beijo não tiraria pedaços. Era até... esperado.
Meg tinha gosto de amor. Envolveu o pescoço dele e o tentou com movimentos suaves.
Não foi preciso um novo convite.
Só depois de um esforço sobre-humano ele foi capaz de soltá-la. Precisava ser paciente
e gentil.
— Poderíamos pedir o jantar no quarto — sugeriu ela, sem entusiasmo.
— Sim. Ou poderíamos fazer amor da maneira mais intensa e apaixonada já provada
em todo o planeta. O que prefere?
Ante o indubitável desejo que leu nos olhos de Meg, Steve gemeu e a carregou para o
centro do quarto. Permitiu que seus pés tocassem o chão e a beijou mais uma vez.
— Qual opção você acha que eu deveria escolher? — perguntou ela sensualmente, ao
alcançar o zíper do vestido.
— Nunca fiz segredo de quanto desejo fazer amor com você.
— Isso é verdade. Eu sempre soube quão penosa foi a sua espera. A maioria dos
homens não se sujeitaria a aguardar tanto tempo.
— A maioria dos homens não tem uma enteada como Lindsey. Fizemos um acordo.
— Sei tudo sobre esse acordo. Foi muita delicadeza de sua parte jurar não fazer amor
comigo até estarmos casados.
Steve esmerou-se em revelar a nudez tão desejada com todo o vagar. Primeiro um
ombro perfeito, macio, depois outro, e finalmente, para seu deleite, o vestido escapou-lhe
das mãos e mostrou a seus olhos ansiosos o corpo feminino.
Sua mulher... nem acreditava que fosse verdade. O ar lhe faltou justamente quando
tencionava lhe dizer quanto era linda, esplendorosa. Incapaz de expressar em palavras a
paixão, concentrou-se em fazer uma doce trilha com seus beijos incessantes, na pele feita
de seda.
— Você fez meus joelhos fraquejarem — disse ela.
— Os meus também se parecem com geléia.
Passos trôpegos os conduziram à imensa cama. Entre beijos e afagos, Steve conseguiu
afrouxar o nó da gravata. Com os lábios unidos aos do marido, Meg tirou-lhe a camisa.
O sutiã foi para o chão. Livres, os seios pareceram se ajustar com perfeição às mãos,
que passaram a acariciá-los com urgência e só cederam espaço a lábios ainda mais afoitos.
Sabendo não mais ser capaz de resistir, ele rapidamente se livrou da roupa. Restou
apenas um diminuto traje, a calcinha de Meg, e Steve a tirou com a boca.
Ela então se recostou nos travesseiros e o contemplou.
— Algo a preocupa? — perguntou ele, ajoelhando-se sobre a esposa e lhe tomando o
rosto entre as mãos.
— Você me surpreende.
— Minha reputação deve ser fantástica — provocou, beijando-a. — Ainda nem fizemos
amor e já a ouço elogiar minhas... qualidades.
— Acho que vou morrer se não me possuir agora.
Ele tremia de desejo. Planejara conversar, oferecer-lhe segurança, garantir-lhe quanto a
amava e só depois tomá-la nos braços.
Mas tudo mudou quando viu as pernas esguias a convidá-lo, os quadris a se arquear em
sutil provocação.
Abraçaram-se com paixão e lentamente seus corpos se uniram em uma dança sensual.
Juntos descobriram um ritmo imediato. Os seios beijavam o peito coberto de pêlos negros.
Steve não agüentaria se conter por muito mais tempo, mas queria que o prazer fosse
intenso e febril para ambos. Então obrigou-se a se concentrar nos sinais enviados por sua
parceira.
Atingiriam o ápice juntos. Meg se contorcia e gemia. Steve logo se juntou ao seu prazer,
atingindo os portões do paraíso.
Projeto Revisoras 67
O Casal Perfeito – Debbie Macomber
Sabrina Férias nº 35.1
DEBBIE MACOMBER sempre adorou contar histórias. Primeiro para seus pequenos clientes quando
trabalhava como babá, depois para seus próprios filhos. Leitora ávida, queria partilhar de suas histórias
prediletas com uma audiência atenta.
O primeiro livro de Debbie foi publicado em 1983. Atualmente, mais de cinqüenta obras depois, seus livros
constam das listas dos mais vendidos e já lhe garantiram diversos prêmios literários. Questionada sobre o
que a levou a escrever esta obra, Debbie falou: — Sei o que estão pensando e estão enganados. Jamais
responderia a um anúncio amoroso publicado em jornal. Já me senti tentada, confesso. Não para meu
benefício, mas para o de minha filha solteira, Jody. Já encontrei o homem perfeito para ela cerca de doze
vezes ou mais, mas a garota é por demais independente e prefere ela mesma eleger seu marido. Então só
me restou divagar a respeito de como teria sido se eu tivesse arranjado "alguém" para Jody, assim como
Lindsey Remington fez para a mãe dela. Debbie adora saber a opinião das leitoras sobre seus livros e pode
ser contatada conforme abaixo: P.O. Box 1458, Port Orchard, WA 98366.
Projeto Revisoras 68