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APRESENTAÇÃO
Organização do material:
A Genética Humana é uma disciplina que se ocupa em explorar os diversos aspectos associados
à manifestação das características humanas, sejam elas anatômicas, fisiológicas, bioquímicas,
comportamentais, dentre outras. Em outras palavras, a Genética Humana é uma ciência que procura
entender por que somos como somos.
Este material didático que apresentamos a você aborda, de maneira resumida, os principais tópicos
da disciplina. Incentivamos, no entanto, a consulta às indicações bibliográficas mencionadas em cada
tópico como prática complementar (e indispensável) de estudo.
Neste material, o conteúdo da disciplina foi distribuído em oito módulos. Os módulos 1 a 4 serão
avaliados na prova NP1, e os módulos 5 a 8 serão avaliados na NP2.
MÓDULO 1
Noções básicas de biologia molecular: estrutura e funcionamento do DNA e RNA. Síntese de proteínas.
Efeitos das mutações nesse processo.
MÓDULO 2
Relação genótipo-fenótipo: associação entre biologia molecular e conceitos básicos em genética: gene,
genótipo, fenótipo, dominância, recessividade, homozigose e heterozigose.
MÓDULO 3
Padrão de herança autossômico recessivo: efeitos da consanguinidade e descrição clínica de erros inatos
do metabolismo (albinismo, fenilcetonúria e galactosemia). Importância da triagem neonatal e implementação
de dieta específica como preventivo da manifestação de sintomas.
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MÓDULO 4
Herança multifatorial: interação entre fatores genéticos e ambientais na determinação de fenótipos normais
e de distúrbios físicos [lábio leporino e defeitos de tubo neural (anencefalia, espinha bífida e encefalocele).
Método dos gêmeos: definição de gêmeos monozigóticos e dizigóticos; interpretação de valores estimados
do grau de concordância entre gêmeos monozigóticos separados ao nascimento e da herdabilidade para traços
psicológicos normais e patológicos.
MÓDULO 5
Estudo dos cromossomos: caracterização estrutural dos cromossomos humanos. Cariótipo humano.
Estudo dos cromossomos e determinação sexual humana: Ação de genes e hormônios. Distúrbios da
diferenciação sexual: pseudo-hermafroditismo e hermafroditismo verdadeiro.
Aberrações cromossômicas numéricas: caracterização genética e clínica dos casos mais frequentes –
Aneuploidias autossômicas e sexuais: síndromes de Down, Turner e Klinefelter.
MÓDULO 6
MÓDULO 7
MÓDULO 8
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BIBLIOGRAFIA:
BÁSICA
MOTTA, P. A. Genética Humana: Aplicada à Psicologia, Nutrição, Enfermagem e Fonoaudiologia. São Paulo:
Guanabara Koogan, 1998.
NUSSBAUM, R. L.; MCINNES, R. R.; HUNTINGTON, F. W. Thompson & Thompson: Genética Médica. 7. ed.
São Paulo: Elsevier Editora, 2008.
OTTO, P. G.; NETTO, R. G. M.; OTTO, P. A. Genética Médica. São Paulo: Roca, 2013.
COMPLEMENTAR
JORDE, L. B.; CAREY, J. C.; BAMSHAD, M. J.; WHITE, R. L. Genética Médica. 2. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2000.
LEWIS, R. Genética Humana: Conceitos e Aplicações. 5. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2004.
MUSTACCHI, Z.; PERES, S. Genética Baseada em Evidências – Síndromes e Heranças. São Paulo: CID, 2000.
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GENÉTICA HUMANA
Unidade I
NOÇÕES DE BIOLOGIA MOLECULAR
As diversas expressões dos genes são estudadas pela genética. Embora nossos genes tenham sido
herdados de nossos genitores, eles podem sofrer mudanças ao longo de nossa vida. Logo, pode-se
concluir que tudo o que é hereditário é genético, mas nem sempre o que é genético é hereditário.
Mas, afinal de contas, o que é um gene? Uma definição mais moderna de gene é: segmento de DNA
que transcreve um RNA específico. Obviamente, para compreender de modo mais claro este conceito,
são necessárias algumas explicações sobre DNA, RNA e transcrição. Vamos a elas.
O DNA (ácido desoxirribonucleico) é uma grande molécula composta de dois filamentos (ou fitas)
que são mantidos emparelhados graças a ligações de hidrogênio ocorridas entre bases nitrogenadas
vizinhas. Estas ligações são específicas: adenina (A) se liga à timina (T) e citosina se liga à citosina
(C). Portanto, se uma das fitas é composta pela sequência ATTCGTCAT, a outra fita, que se mantém
emparelhada a esta, apresenta a sequência TAAGCAGTA.
O RNA (ácido ribonucleico) apresenta constituição química semelhante ao DNA. Duas diferenças importantes
são: o RNA apresenta a base nitrogenada uracila (U) ao invés de timina, e é composto de apenas um filamento.
O RNA é produzido pelo DNA, e este processo é denominado transcrição, em que um dos filamentos do DNA
serve de molde a partir do qual será transcrito o RNA. Se o filamento-molde de DNA tem a sequência de bases
ATTCGTCAT, o RNA transcrito terá a sequência UAAGCAGUA.
EXERCÍCIO RESOLVIDO
a) TGGCCACGTAAG
b) ACCGGUGCAUUC
c) ACCGGTGCATTC
d) UACUACCCGGCC
e) AAACCCGGGUUU
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Unidade I
Resposta do exercício:
A síntese de proteínas
Existem milhares de proteínas diferentes no corpo humano. Podemos citar, como exemplo, os
anticorpos (proteínas de defesa), a hemoglobina (proteína que transporta oxigênio no sangue) e a pepsina
(enzima digestória estomacal). Cada uma delas é produzida seguindo essa regra básica da tradução.
É importante lembrar que a informação para produzir cada proteína corresponde a uma sequência
de bases do RNA-m, e que essa sequência de bases do RNA-m foi produzida tendo como molde um
filamento específico de DNA. Logo, pode-se afirmar que a molécula de DNA contém as informações
necessárias para a produção de todas as proteínas que constituem o organismo. A este conjunto de
informações, damos o nome de genoma.
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GENÉTICA HUMANA
EXERCÍCIO RESOLVIDO
II – Consultando o código genético fornecido no texto, podemos afirmar que se uma proteína se
inicia com a sequência de aminoácidos LIS-FEN-MET, então o RNA-m usado na tradução terá a
seguinte sequência inicial de bases: AAGUUUAUG.
III – Existem aminoácidos formando tanto a estrutura das proteínas quanto a estrutura do RNA e do DNA.
a) I está correta.
b) II está correta.
e) I e II estão corretas.
Resposta do exercício:
Está correto apenas o que se afirma na afirmativa II, portanto, deve ser assinalada a alternativa B. A
seguir, descrevemos os erros existentes nas afirmativas I e III:
Afirmativa I – O código genético nada mais é do que uma tabela de equivalências entre as bases
nitrogenadas do RNA-m e os aminoácidos que serão incorporados à proteína. Aquilo que se afirma na
frase é o conceito de genoma.
Afirmativa III – Os aminoácidos são moléculas que compõem apenas as proteínas. Na estrutura do
RNA e do DNA não existem aminoácidos, e sim bases nitrogenadas.
O DNA fica armazenado no núcleo das células em uma estrutura denominada cromossomo. Há
apenas um DNA por cromossomo. Nas células humanas existem, ao todo, 46 cromossomos, com exceção
dos óvulos e espermatozoides, que possuem apenas 23 cromossomos.
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Unidade I
Estima-se que existam cerca de 35 mil genes distribuídos nos cromossomos humanos. A posição
cromossômica exata em que se situa cada um desses genes é denominada loco gênico. Sendo assim,
cada loco gênico é caracterizado por uma sequência de bases nitrogenadas.
Em diferentes pessoas, a sequência de bases nitrogenadas de certo loco pode conter pequenas
variações em sua composição, originadas por mutação gênica. Atribui-se o nome de alelos a essas
sequências de bases nitrogenadas ligeiramente diferentes umas das outras. Os geneticistas costumam
identificar essas variações gênicas por letras. Por exemplo, se identificarmos o alelo não mutante pela
letra maiúscula A, podemos identificar o alelo mutante pela letra minúscula a.
Uma pessoa pode herdar um cromossomo paterno contendo o alelo A e um cromossomo materno
contendo o alelo a. Neste caso, diríamos que a combinação de alelos, ou seu genótipo, seria Aa. Embora
pudesse ser também AA ou aa. O genótipo composto por dois alelos idênticos é denominado homozigoto,
ao passo que o genótipo composto por alelos diferentes entre si é heterozigoto.
EXERCÍCIO
I. A proteína fabricada por este alelo será diferente daquela produzida pelo alelo normal.
II. O RNA produzido por este alelo será diferente daquele produzido pelo alelo normal.
III. Este alelo foi originado pela adição de 4 aminoácidos à sequência normal do DNA.
IV. O alelo mutante apresenta uma sequência de bases nitrogenadas diferente do alelo normal.
V. Este alelo foi originado por um processo de mutação ocorrido no alelo normal.
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GENÉTICA HUMANA
a) I, II, III.
b) II, IV, V.
c) I, II, IV, V.
d) I, III, IV.
e) I, II, III, V.
RESPOSTA DO EXERCÍCIO
A afirmação III é errônea, por isso a alternativa a ser assinalada é a alternativa C. O alelo de Tay-Sachs
contém 4 bases nitrogenadas a mais que o alelo normal, e não 4 aminoácidos, como afirma a alternativa.
Pelo fato de conter mais bases nitrogenadas que o alelo normal, a proteína final produzida pelo alelo
de Tay-Sachs será diferente daquela produzida pelo alelo normal, ou seja, estas duas proteínas terão,
em suas constituições, aminoácidos diferentes. É importante ressaltar que a ocorrência de mutações
gênicas, como essa ilustrada na questão, é o que explica a origem de diversas doenças genéticas.
Um bom exemplo de como um loco e seus alelos determinam a expressão de uma característica
humana é o Rh sanguíneo. Essa característica é definida pela presença ou ausência de uma proteína
nos glóbulos vermelhos, o fator Rh ou antígeno D. A presença dessa proteína determina o Rh positivo,
e a ausência, o Rh negativo. Essas formas diferentes de expressão de uma mesma característica são
denominadas fenótipos. A definição dessa característica está a cargo dos alelos D e d, do loco D. O alelo
D determina a produção desta proteína, enquanto o alelo d está associado à ausência dessa proteína.
De acordo com as informações acima, podemos concluir que o genótipo dd determina o fenótipo Rh
negativo, e o genótipo DD determina Rh positivo. E o genótipo Dd? Este genótipo também determina
Rh positivo, apesar do alelo d presente em sua composição. Neste caso, dizemos que a informação do
alelo D é dominante sobre aquela do alelo d. Sendo assim, dizemos que o alelo D é dominante e o alelo
d é recessivo.
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Unidade I
Indivíduo do
Sexo Masculino Casamento
Indivíduo do Acasalamento
Sexo Feminino Extramarital
nº de filhos do Acasalamento
4 2 sexo indicado Consanguíneo
Gêmeos
Afetado Monozigóticos
O estudo do genoma humano permitiu estimar em 35 mil o número total de genes de nossa espécie.
Mutações que eventualmente ocorrem nesse conjunto gênico podem ocasionar o surgimento de
doenças hereditárias. Muitas dessas doenças se manifestam como consequência da alteração ocorrida
em apenas um gene, motivo pelo qual são designadas monogênicas. Estas doenças monogênicas podem
apresentar padrões de herança reconhecíveis. Vejamos alguns desses padrões mais clássicos.
Uma herança é dita autossômica quando o loco do gene mutante encontra-se em um cromossomo
do tipo autossomo. Cromossomos autossomos são aqueles indistinguíveis entre homens e mulheres, e
são, ao todo, 44 cromossomos (22 pares). Quando o alelo mutante do gene em questão é dominante,
classificamos a doença como dominante. Neste caso, o fenótipo normal é recessivo (aa) e o afetado é
dominante (genótipos AA ou Aa).
I
1 2
Aa aa
II
1 2 3 4 5 6 7
aa aa aa Aa aa Aa aa
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
aa aa aa aa Aa aa Aa aa aa aa Aa aa Aa
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GENÉTICA HUMANA
• Uma pessoa afetada tem pelo menos um dos genitores também afetado.
Alguns distúrbios genéticos humanos que seguem esse padrão de herança são:
a) Acondroplasia – os afetados apresentam falha no crescimento dos ossos longos e, por isso,
apresentam baixa estatura (nanismo acondroplásico).
Quando o alelo mutante que provoca uma doença genética é recessivo, dizemos que esta doença
é recessiva. Logo, o fenótipo afetado é recessivo (genótipo bb) e o normal é dominante (BB ou Bb). Um
padrão de herança tipicamente autossômico recessivo está representado no heredograma a seguir.
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Unidade I
• Uma pessoa afetada pode nascer de um casal normal. Dito de outra forma: o fenótipo afetado
pode saltar geração.
As mutações recessivas costumam passar silenciosas ao longo das gerações de uma família, e não se
manifestam justamente por serem recessivas. Quando um casal formado por duas pessoas aparentadas,
como primo e prima em primeiro grau, resolve ter filhos, pode promover o encontro de seus alelos
recessivos durante a fecundação e isso explica o risco aumentado desse tipo de doença em situação de
consanguinidade.
Alguns distúrbios genéticos humanos que seguem esse padrão de herança são:
a) Albinismo – é um distúrbio caracterizado pela total ausência do pigmento melanina na pele, nos
pelos e nos olhos. Pessoas albinas têm maior risco de desenvolver câncer de pele, dentre outros
problemas.
b) Fenilcetonúria (PKU) – é um distúrbio metabólico em que o afetado não produz a enzima PAH, e,
por conta disso, não converte o aminoácido fenilalanina em tirosina. O acúmulo de fenilalanina em
crianças fenilcetonúricas leva ao desenvolvimento de um quadro severo de retardo mental, motivo
pelo qual se deve restringir a presença desse aminoácido na alimentação. O diagnóstico da PKU é
feito poucos dias após o nascimento da criança, por meio do teste do pezinho (triagem neonatal).
c) Galactosemia – também é um distúrbio metabólico, uma vez que os afetados são incapazes
de produzir a enzima GALT, que converte a galactose em glicose. O acúmulo da galactose no
organismo da criança, ainda em fase de amamentação, promove uma série de transtornos, dentre
eles a catarata e o retardo metal.
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GENÉTICA HUMANA
• Um homem afetado não herda o distúrbio de seu pai, e sim de sua mãe normal heterozigota
(também chamada de “normal portadora”, representada no heredograma pelo círculo com um
ponto no centro).
Alguns distúrbios genéticos humanos que seguem esse padrão de herança são:
b) Daltonismo – é a incapacidade de a pessoa identificar com precisão as cores vermelha e verde, que
são ambas vistas como uma mesma tonalidade de cor (amarelada).
Muitas características humanas são construídas pela ação conjunta de vários genes. Neste caso, portanto,
a herança é poligênica. Além disso, o fenótipo final dessas características é influenciado, em maior ou menor
grau, pelo ambiente (pré-natal e/ou pós-natal). Como esse tipo de fenótipo está sujeito à influência de um
conjunto grande de fatores, genéticos e ambientais, dizemos que sua herança é multifatorial.
• Lábio leporino – distúrbio caracterizado pela presença de fissuras nos lábios superiores, que podem
ou não estar associadas a fendas palatinas. Este é um distúrbio que pode prejudicar a dentição, a
alimentação e a fonação. Pode ser corrigido cirurgicamente.
• Distúrbios de fechamento de tubo neural – o tubo neural é o nome dado à estrutura embrionária
que irá originar o encéfalo e a medula espinal. Quando esse tubo não se fecha na região da
cabeça, desenvolve-se uma condição conhecida com anencefalia. Se a falha no fechamento se dá
na parte posterior do tubo neural, o distúrbio é denominado espinha bífida.
Os distúrbios descritos acima dependem de um limiar multifatorial para se manifestarem. Este limiar
corresponde, resumidamente, a uma quantidade mínima de mutações presentes no genótipo poligênico
a partir da qual o indivíduo se torna predisposto a manifestar o distúrbio.
Genética do comportamento
a) Comparações comportamentais entre filhos adotivos e pais biológicos – a comparação feita entre
pessoas que foram adotadas quando recém-nascidas e seus pais biológicos (que não interferiram
na criação) muitas vezes revelam semelhanças comportamentais surpreendentes. Um exemplo é
o caso do alcoolismo, que é mais provável de ocorrer nas pessoas adotadas se os pais biológicos
forem alcoólatras, mesmo que tenham sido criadas por pessoas abstêmias.
que foram separados ao nascimento e criados por famílias diferentes revelam muitas semelhanças
e diferenças. Neste caso, as semelhanças normalmente são atribuídas à constituição genética
idêntica que compartilham, e as diferenças são atribuídas às diferentes influências ambientais a
que foram expostos ao longo da vida.
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